I.                   
A
DEGENERAÇÃO DOS FILHOS DE ELI
 Não Valorizando a Posição Dada por Deus 
      A degeneração é entendida como a
alteração de algo. É mudar para uma condição ou estado de inferioridade. Lendo
Jeremias 2.21, o texto usa a palavra degenerado em relação a Israel como povo
de Deus, pois de uma vide excelente vieram a ser uma planta amarga. Esse é o
sentido de pikrían que aparece na Septuaginta. 
     Na Bíblia Sacra Vulgata, referindo-se ao
texto de Jeremias 2.21, aparece como adjetivo da segunda declinação latina a
palavra právus para referir-se a algo defeituoso, vicioso, depravado, mas, em
destaque, gosto da definição membros disformes, maus conselheiros. No seu
Comentário Bíblico, Jeremias e Lamentações, R. K. Harrison, falando sobre esse
versículo, diz: 
Como caíram os poderosos! Falando como
Isaías em 5.1-7 Jeremias mostra como a nação prometedora tinha se deteriorado,
apesar de todos os esforços para prevenir isto. O ramo enxertado tinha se
adaptado à variedade de brava original, e por esta razão, o Marido Celestial não
teve outra opção senão arrancá-la. A vide excelente literalmente é vinho
Soreque, de uva vermelha de alta qualidade que cresce no Uadi Al-Sarar, entre
Jerusalém e o Mediterrâneo. 44
      Israel, ao longo do tempo, foi
deteriorado pelo pecado, é claro que não por vontade divina, mas por uma
deliberação própria de cada um que foi tomando o caminho do pecado, de modo que
todo o investimento de Deus não valeu a pena. Esperando que fosse uma vinha
excelente, passou a produzir uvas bravas. 
       Neste ponto, é disso que iremos falar em
relação aos dois filhos de Eli, que tornaram-se maus conselheiros, pois não
poderia ser de outra forma, visto que foram alterados pelo pecado, não sendo
mais vide excelente, mas, sim, seres disformes, pessoas más, que contrariaram
os ditames divinos. 
        A primeira coisa a ser dita sobre os
dois filhos de Eli — Hofni, cujo nome quer dizer “pugilista”, e Fineias, que
quer dizer “negro” — é que os dois são descritos como filhos de Belial (1 Sm
2.12). Por meio do uso da palavra belliyya´al, “satanás”, pode-se concluir
claramente a natureza desses dois filhos de Eli, os quais eram sacerdotes. Isso
mostra o quanto a situação era grave, pois ambos estavam à frente da obra de
Deus. 
       Esses dois jovens tiveram o privilégio
que muitos queriam ter, pois está escrito que ninguém toma essa honra se Deus
não chamar (Hb 5.4). Receberam essa bênção, mas não valorizaram a posição dada
por Deus. O ofício de sacerdote não era algo que vinha por causa de uma
capacidade humana, inteligência, ou para quem o procurasse ou merecesse.
Observe que Arão não procurou essa função, mas Deus o chamou (2 Cr 26.18; Jo
3.27). Hofni e Fineias receberam tamanha honra; observe que quem quisesse tomar
essa honra sem ser chamado pagaria um alto preço, como aconteceu com Coré (Nm
16.40), mas coube a esses dois filhos tal missão gloriosa, a qual desprezaram. 
       Alguém que recebe uma posição honrosa da
parte de Deus deve procurar desenvolvê-la bem, pois, se assim não for, pagará
um alto preço. Um exemplo bem clássico que podemos pontuar é o de Nadabe e
Abiú. Os dois passaram a desenvolver um culto por vontade própria, voluntário,
que do grego é ethelo-threskeia, que dele fala Paulo em Colossenses 2.23.
      Esses dois jovens, conforme a narrativa
textual, pautaram seus ofícios apenas sob suas próprias normas, desprezando a
Santa Palavra de Deus, sem a direção certa do Espírito Santo; ademais, supõe-se
que estavam completamente embriagados. Paga um preço altíssimo quem não
valoriza a posição dada por Deus, o que aconteceu com Nadabe e Abiú. As
Escrituras Sagradas estão cheias de exemplos de líderes que foram rejeitados
por Deus por não valorizarem tal honra. É isso o que se pode ver na pessoa de
Eli e seus filhos. Para nós que trabalhamos na obra de Deus fica uma alerta:
precisamos honrar aquEle que nos chamou, jamais nos envolvendo com negócios
desta vida (2 Tm 2.4). 
Fazendo
uma Troca
       Devido à idade avançada — pode-se crer que
chegou aos 98 anos de idade (1 Sm 4.15) — Eli ficou impossibilitado de
desempenhar bem seu ministério como sacerdote, pois não tinha mais tanta força.
Seus filhos deveriam continuar o trabalho do pai com sinceridade e verdade,
sabendo que estavam à frente de algo dado por Deus, mas não foi o que
aconteceu. Antes, fizeram uma troca: transformaram o lugar de adoração a Deus
em antro de devassidão. 
      Lendo os versículos 12-17, vemos que o
texto descreve os diversos pecados que esses rapazes cometeram. Apesar de todo
o conhecimento que tinham de Deus e suas leis, não fizeram caso, não procuraram
desenvolver com Ele um relacionamento de comunhão e santidade. O que se nota é
o desprezo para com as ofertas dedicadas ao Senhor para o sustento dos
sacerdotes (Lv 7.28-34). Eles tinham suas exigências próprias e não respeitavam
as normas dos sacrifícios, mas recebiam as porções antes de o sacrifício ser
formalmente dedicado ao Senhor.
       Além desses pecados, destacam-se os sexuais.
Hofni e Fineias não somente mantinham relações sexuais com as mulheres, como,
pela posição que exerciam, forçavam-nas a se deitarem com eles, seduzindo-as.
Entendemos que naqueles dias as coisas iam piorando cada vez mais, pois muitos
seguiram esse procedimento pecaminoso dos filhos de Eli, de modo que o
sacerdócio e o culto a Deus ficaram comprometidos. Eli, claro, cumpriu bem sua
missão como sacerdote, porém, agora velho e cansado, sem forças, não tinha mais
autoridade sobre seus filhos adultos.
       A troca
que Hofni e Fineias fizeram foi a de preferirem seguir o caminho do pecado, dos
prazeres sexuais, imorais, a valorizar o culto ao Senhor, a posição de
sacerdote que tinham. Temos que entender que Eli, ao ouvir os rumores sobre
seus filhos, fazia suas reprimendas, alertando-os principalmente sobre o lugar
santo, mas eles não queriam ouvir mais seu pai. Sua autoridade não tinha poder
sobre eles. 
     Alguns estudiosos assinalam que as
reprimendas de Eli para com os filhos eram por demais brandas, suaves, frente
aos grandes pecados cometidos. Sendo assim, somente uma ação divina poderia
erradicar de vez aqueles sacerdotes pecaminosos. 
       Nessa situação agravante na qual se
encontravam Hofni e Fineias, e, devido ao seu comportamento, influenciavam o
povo de Deus, levando-o também a pecar, pois eram homens que exerciam uma
grande posição. Só mesmo uma ação direta da parte de Deus para bani-los de uma
vez por todas, o que irá acontecer por meio dos filisteus (1 Sm 4.10,11).
        Havia uma violação tremenda da parte dos filhos
de Eli. Eles estavam quebrando os mandamentos divinos, tudo em nome dos
prazeres sexuais, contaminando o lugar sagrado, de maneira que teriam que ser
punidos com a morte. 
      Nós, obreiros do Senhor, jamais devemos
trocar nossa honrosa posição por meros prazeres aparentes deste mundo vil, que
passa com suas concupiscências (1 Jo 2.15,16,17), antes, procuremos ser exemplo
em tudo, como salienta Paulo: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o
exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na
pureza” (1 Tm 4.12), desempenhando nossas funções pastorais com zelo, verdade e
sinceridade, jamais trocando nosso ministério por barganhas políticas, relações
sexuais ilícitas, pois, se assim for, pagaremos um alto preço, visto que
estamos causando escândalos — e ai daquele por quem eles vêm (Mt 18.7).
 As Consequências para quem Peca contra Deus 
     Não se pode eclipsar os grandes males
advindos ao homem ao pecar contra Deus. Além disso, as Escrituras Sagradas
revelam com nitidez os males que esse grande vilão trouxe ao homem, que
bosquejamos aqui: (1) quebra da comunhão com Deus; (2) separação do seu
Criador; e (3) morte como sentença.
         Na Teologia Sistemática Pentecostal, em
matéria que trata sobre hamartiologia (doutrina do pecado), magistralmente o
pastor Elienai Cabral, falando do castigo sobre o pecado, ou seja, de suas
consequências, escreve: 
Já dissemos que o pecado é tanto um
ato como um estado. É um ato porque o homem mesmo preferiu, de seu
livre-arbítrio, desobedecer à Lei de Deus, rebelando-se contra Ele. Porém, o
pecado implica um estado pecaminoso porque o homem quebrou a comunhão e a
relação com o Seu Criador, separando-se Dele. Inevitavelmente, segue-se a
prática do pecado o juízo, ou seja, o castigo positivo (Gn 2.17; Rm 6.23). 45
        O
homem é um ser tendente ao pecado, posto que nasce em pecado (Sl 51.5), mas sua
concretização se dá pela ação própria do indivíduo ou quando usa de sua
liberdade para tal prática. Todavia, é certo que as consequências para os que
pecam contra Deus é gravíssima.
        O
texto de Samuel descreve duas coisas em se tratando dos filhos de Eli: em
primeiro lugar, a fama deles não era boa; em segundo, por causa de seu
procedimento comprometedor, eles faziam o povo de Deus pecar por transgressão.
Eli tinha conhecimento de que seus filhos estavam pecando diretamente contra
Deus, pois conhecia, e bem, as leis divinas. 
       Assinalamos que a lei divina deixava que
os juízes arbitrassem em questões envolvendo o próximo, no caso de um haver
cometido alguma coisa contra outro, quer fosse algum tipo de questão de maus
tratos, quer em relação a bens, punindo quem de fato merecia ser punido e
repreendendo aquele que precisava ser repreendido. Esse tipo de julgamento se
daria no campo humano, pois não ofendia a santidade e a autoridade de Deus. 
      Hofni e Fineias estavam pecando contra a
santidade e autoridade de Deus de modo atrevido. Isso seu pai deixa bem claro
e, pelo texto da Palavra de Deus, deveriam morrer: “Mas a alma que fizer alguma
coisa à mão levantada, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao
Senhor; e tal alma será extirpada do meio do seu povo” (Nm 15.30). Observe que
a palavra injuria no hebraico é gadaph, que quer dizer “blasfemar contra Deus”.
Nesse particular, não havia qualquer tribunal humano que fosse capaz de
arbitrar tal questão, assim, a punição com morte era a medida certa para isso.
        O
sacerdote Eli tinha consciência de que o pecado de seus filhos não ficaria
impune, por isso os aconselhava constantemente, mas, já sem força, seus filhos
adultos não se renderam aos seus rogos. Além do mais, eles não iriam mudar de
atitude, evidenciando um arrependimento sincero, genuíno, pois já estavam
destinados à sentença.
        Lendo 1 Samuel 2.12, o texto diz que esses
dois sacerdotes filhos de Eli eram indignos e não se importavam com Deus. Diz a
versão Almeida Revista e Corrigida que eles não conheciam ao Senhor; já na
Revista e Atualizada se afirma que eles não se importavam; o verbo no hebraico
é yadá, que quer dizer “conhecer”, aponta para admitir, considerar. É claro, eles
sabiam quem era o Senhor, mas não fizeram caso de sua Pessoa, dos seus
mandamentos. 
       Os dois filhos de Eli tinham
conhecimento de Deus, de sua santidade, das suas leis divinas, e que Ele
deveria ser honrado e adorado, mantendo com Ele um relacionamento pessoal, o
que não fizeram. Antes, trataram com banalidade as coisas de Deus, procedimento
que custará suas vidas. Pense como era triste para Israel ter esses dois homens
à frente da liderança. Apesar de todo conhecimento que tinham de Deus, de
saberem do trabalho feito por seu pai, nada levavam em consideração. Na
verdade, eles sabiam dos ensinos e exigências divinas, da santidade e do poder
de Deus, mas não faziam caso. São oportunas as palavras de Richard D. Phillips
aqui: 
A apresentação dos filhos de Eli deixa
pouco à imaginação: Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se
importavam com o Senhor (1Sm 2.12). Essa apresentação é a mais condenatória que
alguém pode receber, especialmente um ministro. Dizer que eles eram filhos de
Belial (homens indignos) é dizer que eram agentes de destruição. E depois de
dizer que eles não se importavam com o Senhor é dizer que, apesar de todo o
acesso que tinham à religião divina e de todo o seu conhecimento de teologia e
de adoração, esses homens não eram convertidos, mas sim espiritualmente
ignorantes da graça salvadora de Deus e não se importavam com as exigências de
Sua santidade. 46
      É lamentável, mas muitos que exercem a
liderança na casa de Deus por vezes agem dessa maneira, não fazendo caso da
graça divina; têm muito conhecimento, ciência, mas não têm santidade e amor.
Paulo disse que a ciência incha, mas o amor edifica (1 Co 10.2). Conhecimento
que visa a apenas evidenciar cultura, menosprezar os outros, desprezar
instituições, atacar alguém, não tem valor algum, mas o conhecimento que vale é
aquele que visa glorificar a Deus, prioriza a santidade. É triste dizer, mas
muitos são mestres e doutores dominados pelas paixões carnais, que os levam a
praticar atos que são reprováveis por Deus, conforme escreveu Pedro (2 Pe
2.10). 
      Não havia expiação para o pecado dos
filhos de Eli, posto que eles feriam a autoridade e a santidade de Deus, não
somente o seu poder. Esses dois filhos foram longe demais, sendo que, ainda que
se arrependessem, caso fosse possível, poderiam apenas salvar a alma, mas
morreriam, pois iriam colher o que plantaram.
II.                 
A
VINDA DA SENTENÇA DIVINA
 Samuel Crescendo na Experiência com Deus 
      Logo
que lemos o capítulo 2, em dois momentos é destacada a pessoa de Samuel para
fazer contraste com os filhos pecaminosos de Eli. No versículo 11 é dito que
Samuel ficou servindo ao Senhor perante Eli. Quando os pais de Samuel retornam
para Ramá, Samuel fica com Eli e isso declara que, a partir daquele momento,
ele irá receber orientações e treinamento do sacerdote. É claro que esse servir
incluía outros serviços do dia a dia, assim, logicamente, era naquele ambiente
que ele iria aprender algumas coisas, inclusive seu desenvolvimento espiritual
e moral. 
      Com
uma boa aprendizagem, Samuel vai crescer em estatura e graça, como aconteceu
com Jesus (Lc 2.52). O crescimento desse profeta não foi somente horizontal,
mas vertical. Para alguns estudiosos, Samuel foi um homem que desempenhou
diversos ofícios: ele aprendeu a tocar, desempenhava atividades servis, na casa
de Deus ocupava-se de cânticos e oração, e, ainda bem cedo, aprendeu a
interpretar a lei, de modo que virá a ser o que foi porque desde tenra idade
avançou em tudo.
        Não há crescimento em qualquer área se não
houver dedicação. Exemplo grandioso que temos é o de Esdras, que dispôs seu
coração, ou seja, decidiu estar firme, preparado, pronto para buscar, cumprir e
ensinar a Lei do Senhor (Ed 7.10), por isso ficou conhecido como o homem das
letras. Paulo reforçava a importância de se dedicar ao ensino quem deseja
ensinar (Rm 12.7). A Timóteo ele reforçou a ênfase de dedicar-se ao ensino,
tanto para os outros como para si mesmo (1 Tm 4.13). 
       No
versículo 18, fala-se da visita anual que Elcana fazia com sua família a Siló,
mas agora com um diferencial: antes, como de costume, eles iam para sacrificar
e adorar ao Senhor, mas, doravante, a visita incluía outro objetivo, o de
visitar Samuel, o qual fora dedicado, consagrado à obra de Deus, estando a
residir com o sacerdote Eli.
       Desde cedo havia uma preocupação de Ana com o
seu filho. O desejo dela era que ele viesse a ser um homem a serviço da nação
de Deus; para isso orou e também criou condições para que esse desejo se
intensificasse cada vez mais no coração do menino. Bem cedo ela fez um traje
religioso, o qual era usado nas cerimônias ou para quem servia em lugares
sagrados, para o jovem Samuel, o éfode de linho. Crê-se que esse éfode cobria a
parte frontal do corpo, essa mulher trazia também túnica ao seu filho. 
       É
claro, havia outras concepções para o ato dessa túnica feita por Ana, como, por
exemplo, para protegê-lo do frio. Todavia, é preferível entender que a mãe
busca imprimir na mente e no coração de seu filho a importância de ser um servo
do Senhor. A piedade e dedicação de Ana nas coisas de Deus lhe resultaram em
muitas outras bênçãos, especialmente a vinda de mais três filhos e duas filhas.
     Em se
tratando dos filhos de Ana, ao lermos 1 Samuel 2.5, fala-se em sete. Na
verdade, creem alguns judeus que ela teve mesmo sete filhos, mas, pelo texto
bíblico, é dito que ela teve apenas seis. A vida da família de Elcana era
abençoada por Eli, isso porque ele via a devoção, a piedade presente nela.
Supõe-se que Eli, percebendo que não tinha mais qualquer poder sobre seus
filhos, dedicou-se a criar Samuel com todo carinho, pois via nele a grandiosa
mão de Deus e a esperança para um novo começo na vida da nação israelita.
Também ele orava para que Ana tivesse outros filhos. 
       Enquanto
os filhos de Eli estavam soltos, praticando todo tipo de pecado, dominados pela
apostasia, no Tabernáculo havia um rapaz que estava procurando servir a Deus,
cumprindo o que a lei determinava. Vale dizer que, pelo uso da estola de linho,
a qual só era usada por sacerdote (Êx 28.4), mas não pelos levitas, Samuel
estava vestido nela, o que já se evidenciava ser ele um sacerdote, não apenas
um levita. 
       Enquanto
chegava o momento de ser usado por Deus, Samuel crescia e ministrava perante o
Senhor. Já tinha certa consciência de que Deus o estava preparando para uma
grande e nobre missão, por isso aproveitava todas as oportunidades.
Sentença
Pronunciada
        É forte a expressão “O Senhor os queria matar”
(1 Sm 2.25). Lendo os textos de Números 15.30, Josué 11.20, Provérbios 15.10,
logo se entende claramente o porquê de Deus querer matar esses dois filhos de
Eli. O texto esclarece que eles se colocaram em rebeldia, oposição a Deus,
visto que esse é literalmente o sentido da expressão “filhos de Belial”. É como
se estivessem sendo usados por Satanás. 
      Podemos
afirmar que Hofni e Fineias estavam sendo usados por Satanás para não fazer
caso das coisas de Deus. Ainda que se fale em homens indignos, como notifica a
Revised Standard Version, o certo é que eles se opunham a Deus e só existe um
que não quer fazer caso das coisas de Deus: Satanás. 
       Jamais
podemos dizer que Eli trabalhou para que seus filhos viessem a ser o que foram.
Na verdade, cremos que ele aplicou os ensinos; todavia, o procedimento
pecaminoso, imoral, corrupto, incluindo o sacrilégio, resultou de uma
deliberação própria dos filhos, procurando trilhar o caminho do pecado,
rejeitando os ensinos verdadeiros e divinos. É claro que esses dois filhos
tinham muita teoria e conhecimento das coisas de Deus, mas não conheciam a Deus
de verdade, ou seja, não desenvolviam um relacionamento perfeito com Ele. Também
não podemos nos esquecer de que esses filhos seguiram o comportamento da época
dos juízes, em que cada um fazia o que bem queria, o que, nesse caso, foi
influência do meio (Jz 21.25). 
       O
cenário do pecado era forte. Todos estavam comprometidos com o pecado. Isso
incluía também o sacerdócio, mas a cena iria mudar com a chegada de Samuel, que
vinha de uma família que procurava manter sua comunhão com Deus. Ele seria o
profeta, o juiz, o homem de Deus que mudaria esse quadro. 
        Os
versículos 12 a 17 deixam bastante claros os crimes dos filhos de Eli. Eles não
se importavam com nada que tratasse de Deus, de suas normas, antes, procuravam
fazer tudo segundo seus entendimentos. Na oferta de holocausto, o animal era
queimado por completo em honra a Deus; dele nada era dado ao ofertante ou
sacerdote. 
        Em
outros tipos de sacrifício se permitia tanto o sacerdote como o ofertante
participarem deles, sendo que o sangue do animal era derramado, e a gordura,
queimada para o Senhor (Lv 1.9; 29.18; Nm 18.8; Dt 12.17,18). Em se tratando
das ofertas pacíficas, o sacerdote tinha direito ao ombro direito e ao peito,
mas o sangue era derramado, e a gordura, queimada. Os filhos de Eli não somente
queriam a parte que pertencia a eles, como exigiam qualquer outra parte, em
atitude de total desrespeito. 
       Antes,
enquanto não havia especificações quanto às porções pertencentes aos
sacerdotes, eram usados garfos de três dentes; depois que a gordura fosse
queimada e o sangue, derramado, enquanto o alimento estivesse sendo cozido,
eles poderiam pegar um pedaço para sua alimentação. O que se entende é que
havia leis estabelecidas tanto para o sacerdote quanto para os ofertantes, as
quais deveriam ser cumpridas, pois, dessa forma, se honraria a Deus, o que não
acontecia com os filhos de Eli.
       Hofni e Fineias eram atrevidos, irreverentes,
desobedientes. Não faziam caso de Deus nem de sua lei; antes, estabeleciam suas
próprias normas e queriam ser privilegiados, ainda mais que o Senhor. Caso
alguém se opusesse a eles afirmando que deveriam primeiramente dedicar ao
Senhor, eles abusavam do poder que tinham, assegurando que tomariam à força.
Essa situação declarava os pecados de Hofni e Fineias, e o que dominava seus
corações era o desejo por sexo, comida e bebida, não fazendo caso de Deus.
Outra sentença não mereciam, a não ser a morte.
        Não se podia mensurar o estrago que esses dois
filhos de Eli faziam, mas o texto afirma que eram muito grandes os pecados por
eles cometidos. Pelo mau exemplo, o sacerdócio caiu em descrédito. Muitos
zombavam e já ninguém mais queria saber do culto a Javé. Era necessário um novo
homem, que fosse usado por Deus e resgatasse o que havia sido perdido,
especialmente a credibilidade na Palavra de Deus, no sacerdócio e no culto. 
A
Desgraça da Família de Eli 
        Nos
versículos 10-14 do capítulo 3 de 1 Samuel, a cena é boa e ruim. É boa porque
apresenta Deus fazendo Samuel sentir sua presença e ouvir sua voz. É ruim
porque denunciará a sentença sobre a casa de Eli. Na quarta vez que Deus chamou
Samuel, por orientação de Eli, ele passa a ouvir a voz de Deus. É maravilhoso
entender que nesse acontecimento se percebe o crescimento do menino pela
experiência que vai tendo com Deus. A princípio ele ouvia a voz, mas não tinha,
ainda, consciência da presença divina. 
      Ao
quarto chamado, Samuel responde da maneira certa, pois segue à risca as
orientações de Eli. Assim, o Deus transcendente, soberano, imortal, cheio de
glória, manifestou-se a uma criança, um ser pequeno, mortal e finito.
       Na exposição acima, percebe-se que o autor
procura declarar que o falar de Deus com Samuel seria ultrapassado pelo falar
direito de Cristo, o qual assumiria nossa humanidade, ou seja, pelo ato próprio
Ele assentiu, isto é, se permitiu colocar no nosso lugar, assumindo os nossos
pecados para nos conceder acesso ao Pai. 
F. F. Bruce explica isso muito bem da seguinte
maneira:
A humanidade, a carne que o Verbo
divino assumiu naquele ponto no tempo era e permanece tão perfeita com sua
natureza divina; todavia foi nossa natureza humana (sem pecado) que ele
assumiu, e não alguma humanidade celestial de outra ordem. (Humanidade
celestial é uma expressão apropriada para a vida ressurreta de nosso Senhor e
seu povo, à luz de 1Co 15.44-53, mas não para a sua vida terrena). Expandir as
implicações da encarnação do Verbo em termos de teologia sistemática ou
histórica levar-nos-ia mais longe que pretenderia o evangelista. Ele está
preocupado em enfatizar que Deus, que se revelou ou expressou, enviou seu
Verbo, de muitas maneiras desde o princípio e, afinal, mostrou-se em uma pessoa
humana histórica e real: quando o Verbo se fez carne, Deus se fez homem. 47 
        O
ato de Deus falar com Samuel resultou de sua sinceridade e compromisso com o
Senhor. Por isso é que, por duas vezes, o capítulo 2 faz referência à vida
desse rapaz. Primeiramente é dito que ele ficou servindo ao Senhor (2.11),
ainda menino já ministrava perante o Senhor (2.18) e crescia no aspecto físico
e na graça de Deus perante todos (2.26). Deus fala com Samuel ainda um
adolescente, o que prova que Ele fala com quem quer, quando quer, mas, para
isso, é preciso santidade, sinceridade, verdade. Fica aqui um alerta para o
jovem: Deus pode usar você em sua juventude, mas Ele quer ver em cada um
santidade perfeita, daí a importância de seguir a recomendação do salmista: “Como
purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra” (Sl
119.9).
       Samuel vai transmitir a mesma mensagem que um
profeta desconhecido já havia dito (1 Sm 2.27). Será triste para Eli receber
tal mensagem, todavia, ele tinha consciência de que não poderia mais mudar seus
filhos, razão pela qual disse que o Senhor poderia fazer o que quisesse, pois
era Deus. O recado era muito pesado. A todos que ouvissem tiniriam os ouvidos,
devido ao juízo severo. Essa sentença se daria nos seguintes passos: (1) morte
de Hofni e Fineias por meio dos filisteus; (2) captura da Arca de Deus; e (3)
morte de Eli e de sua nora. 
        Essas
notícias iriam impactar todo o povo judeu, o que provocaria medo, temor. Cada
israelita iria ficar sem qualquer reação, posto que o nome do filho da nora de
Eli explicaria toda aquela situação: Icabode — a glória de Israel se foi. 
      No
caso da segunda sentença, que veio da parte de Samuel, posto que um profeta
desconhecido já havia falado (1 Sm 2.27-36), estudiosos pontuam que Eli poderia
ter mudado a situação, mas podemos dizer que não, porque seus filhos eram
grandes, eram filhos de Belial e não se sujeitavam a ninguém. Não havia remédio
para as suas feridas, então a ênfase da segunda sentença era apenas para deixar
claro ao sacerdote que a ação divina já estava às portas.
        A sentença contra a casa de Eli será lenta.
Envolverá um processo contínuo, que terá seu começo com a morte de Hofni e
Fineias, e prosseguirá da seguinte maneira: a morte dos oitentas sacerdotes por
ordem de Saul, a expulsão de Abiatar do sacerdócio no reinado de Salomão, o que
assim se nota é que a casa de Eli enfrentará sérias consequências, dentre elas
a miséria, a pobreza, a vergonha (Is 40.5; 1 Rs 1.7,8; 2.7-35).
        A casa de Eli foi substituída pela de Zadoque,
descendente de Eleazar, o qual era filho de Arão, que permanecerá, desse modo,
a casa de Itamar. Eli iria atuar apenas com os levitas ajudadores, não mais
como sacerdote. Essa desgraça é esclarecida também no capítulo 2.36, sendo que
agora os da casa de Eli seriam apenas levitas comuns, viveriam em necessidade
constante, de modo que passariam a desejar qualquer trabalho no oficio
sacerdotal que lhes permitisse tirar um sustento. A casa de Eli iria se render
perante outros e pedir pão para comer, tudo isso porque procedeu loucamente
contra o Senhor, desobedecendo Sua lei em tudo. 
       A
sentença, para seu cumprimento cabal, levará tempo; aproximadamente 130 anos.
Ela, porém, teria seu começo e fim, para cumprir-se completamente o que o
profeta desconhecido e Samuel falaram. Essa sentença veio por causa do pecado,
da parte de Eli, que não teve pecado em sua missão, mas pecou como pai, por não
disciplinar seus filhos quando necessário, mas se deixou dominar por um
sentimento ou um amor mais forte pelos filhos, em detrimento do amor a Deus e
sua obra. Muitos estudiosos dizem que o amor de Eli era mal orientado, pois, é
claro, os pais não podem deixar de amar os filhos, mas esse amor de Eli, sem
aplicar as devidas penas, resultou em sua morte e estrago na nação de Israel.
          O texto é bem enfático em dizer que Eli não
repreendeu seus filhos, razão pela qual eles vieram a ser filhos de Belial (1
Sm 2.12-17,25). A miséria entraria na casa de Eli porque houve brecha para o
pecado; ainda que sua família fosse perdurar por três gerações, o castigo
viria. 
     O
pecado da família de Eli feriu seriamente a Deus, de modo que está claro que
não haveria expiação para as iniquidades cometidas. O Senhor revoltou- se
terminantemente contra essa família, de modo que nenhum tipo de sacrifício ou
oração, poderia expiar seus pecados, porque pecou voluntariamente,
conscientemente, pois eram sacerdotes e tinham conhecimento de toda a Lei de
Deus.
       É importante destacar que nas páginas do
Antigo Testamento está declarado que não há perdão para quem peca voluntariamente
(Nm 15.24- 31). Hofni e Fineias não cometeram pecados de ignorância, os quais
podiam ser expiados pelos holocaustos, mas foram atrevidos, irreverentes. A
ideia do não perdão para os pecados voluntários está presente também no Novo
Testamento (Hb 10.26).
III.               
AS
CONSEQUÊNCIAS DO PECADO 
O Preço do Pecado
       Basta abrir o primeiro livro da Bíblia,
Gênesis, que logo se verá que Deus criou o primeiro casal bom e em perfeito
estado, colocou-o em um jardim idílico, desfrutando da presença de Deus (Gn 1.26;
2.25), mas ele foi enganado pela serpente, se entregando aos prazeres. Da parte
de Eva, o engano veio porque ela foi seduzida pelas palavras da serpente;
quanto a Adão, seu pecado já é mais consciente (2 Co 11.3; 1 Tm 2.14). 
        Estudiosos afirmam, no caso da Teologia
Sistemática organizada por Stanley Horton, que Eva não recebeu a ordem que Deus
deu a Adão diretamente para que não comesse do fruto da árvore, mas que, para
ela, a ordem foi transmitida pelo marido (Gn 2.17). Devemos levar em
consideração que tanto Adão quanto Eva irão pecar livre e moralmente. É claro,
da parte da serpente veio a tentação, mas quem decidiu escolher o fruto
proibido e comer foi o casal (1 Co 10.13; Tg 4.7). 
       No momento em que Adão e Eva pecam,
prontamente se nota o preço que eles pagaram por causa dessa desobediência. Não
se pode determinar na íntegra as grandes consequências que vieram a toda a
humanidade por causa desse ato desobediente, mas atentando a Gênesis 1.26–3.24
e a Romanos 1.16-32, logo se tem uma noção geral desse preço. Rejeição, quebra
da comunhão com Deus, isolamento, vergonha, morte física e eterna, culpa,
acusação — tudo isso foi o que receberam Adão e Eva por terem pecado contra
Deus, desobedecendo à sua ordem. Entendemos então, segundo a Bíblia e no aspecto
teológico, que pecar é sempre trágico, posto que seus resultados são funestos.
Aliás, Paulo fala que o salário, ou seja, a mesada, o saldo do pecado é a
morte; é este o sentido da palavra grega opisonion (Rm 6.23). Todo pecado tem
seu preço, por isso o cristão deve fugir dele constantemente, pedindo o auxílio
divino.
       O
livro de Samuel mostra que, por causa dos pecados cometidos pela casa de Eli, o
preço viria a ser horrível. Morreriam ele e seus filhos, a Arca seria tomada e
ele perderia o privilégio de servir ao sacerdócio. O povo peca por seguir a
conduta dos filhos de Eli e também por querer imitar as outras nações ao pedir
um rei para si. O rei Saul chegou a um nível de espiritualidade muito baixo,
pois rejeitou a Palavra do Senhor e consultou espíritos adivinhadores. 
        Por causa desses pecados, ele pagará
com a sua vida (1 Cr 10.13). Davi, o homem segundo o coração de Deus, também
trilhará o caminho do pecado; ele cometerá um pecado duplo, adultério e
homicídio, mas, como consequência, a espada não sairá de sua casa (2 Sm 12.10).
Absalão, por causa do pecado da rebeldia de se levantar contra seu pai, também
pagará com a própria vida. 
        Quem passa a viver no pecado é porque
sua alma não está bem com Deus, por isso procura desobedecer aos mandamentos
divinos, à Palavra do Senhor, não andar em santidade, praticando atos
pecaminosos, que não darão outro resultado a não ser a morte, conforme
preconiza o apóstolo Tiago: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à
luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15). 
       Quando uma pessoa está dominada pelo
pecado, logo as obras dessa árvore aparecem como frutos de morte, pois ela não
está vivendo em Deus, mas separada dele, extirpando a vida por completo,
alienando-a da fonte da vida eterna. É bom ter em mente que o pecado não pode
oferecer nada de bom, nem transformar alguma coisa em algo agradável. A. B.
Langston está certíssimo quando, tratando do pecado, afirma: 
O pecado converte a luz em trevas, o
gozo, em tristeza, o céu, em inferno, a vida, em morte. O pecado é o maior e o
mais terrível inimigo da alma humana. Ele destrói as promessas, mata as
esperanças, dá-nos serpentes, em vez de peixes, pedra, em lugar de pão,
tormento, em lugar de prazer. O pecado sempre destrói e nunca edifica. Promete,
mas nunca cumpre a promessa. É como diz a Bíblia: “O salário do pecado é a
morte” (Rm 6.23). 48 
        É isso que o pecado é. Sendo assim,
evitemos a qualquer custo para não pagarmos um preço alto, inclusive com a
nossa vida. 
Os
Males da Falta de Repreensão
      O verbo repreender do hebraico é yakach;
fala de provar, decidir, repreender, reprovar, corrigir. É uma ação que se dá
de modo enérgico. Lendo o texto de 1 Samuel 3.13, percebe-se, pela própria voz
divina, os males que a falta de repreensão trouxe para a casa de Eli, que
perdeu para sempre os direitos sacerdotais. 
      Eli, como pai, poderia ter corrigido,
disciplinado seus filhos por meio de sua autoridade tanto paternal como
judicial, o que não fez; se tivesse agido no momento certo, não sendo dominado
por um amor mal estruturado, teria evitado que seus filhos trilhassem caminhos
extremamente comprometedores, que os tornaram homens vis, execráveis diante de
Deus. 
      Gosto do modo que o doutor Lawrence
Richards diz como era que Eli repreendia seus filhos, de modo suave, sem
qualquer ação enérgica, que era o que mereciam, pois, além dos pecados
cometidos, eram péssimos exemplos para a nação de Israel. 
Eles são descritos em hebraico pela
expressão filhos de Belial, que está associado tanto à idolatria quanto à
imoralidade (Dt 13.13; Jz 19.22). Seu desprezo pelo Senhor foi mostrado na
declarada violação do ritual da Lei (1Sm 2.17; Lv 7.14) e nas condições morais
(1Sm 2.22). A repreensão de Eli era somente uma pequena palmada, quando o
comportamento dos dois clamava por execução. 49
      Nos nossos dias, alguns especialistas do
campo do comportamento humano, especialmente no tratamento com crianças,
desprezam a repreensão, todavia, é bom entender que a repreensão não se trata
de uma censura irracional, de um ato de violência. No latim, a palavra
“repreensão” é monitio, que trata de um conselho sereno, amigável, uma
admoestação; dependendo da situação, essa admoestação pode ser branda ou
severa, mas que é preciso fazê-la é, sim, pois pode evitar grandes males. 
      Somente uma pessoa tola, que não quer
crescer na vida, é que despreza a repreensão (Pv 23.9), pois quem a recebe
poderá ter uma vida abençoada. A repreensão, quando aceita, gera correção,
tornando a pessoa mais sábia para a vida. Lendo Hebreus 12.11, o autor destaca
a importância da disciplina ou correção, que do grego é todo o treino e
educação infantil, que diz respeito ao cultivo de mente e moralidade, e emprega
para esse propósito ora ordens e admoestações, ora repreensão e punição. Também
inclui o treino e o cuidado do corpo, tudo o que em adultos também cultiva a
alma, especialmente pela correção de erros e contenção das paixões. Instrução
que aponta para o crescimento em virtude, castigo, punição, dos males com os
quais Deus visita homens para sua correção. 
        Não se pode negar a importância da
repreensão, da correção. Por vezes ela pode parecer ríspida e dói em quem a
pratica, porém seus frutos são maravilhosos. Crianças que são bem educadas,
disciplinadas, corrigidas nos momentos exatos irão se tornar bons filhos, bons
cidadãos, bons servos de Deus. Jamais devemos ceder aos apelos das ideologias
modernas, especialmente daquelas que vêm recheadas de erudição e sentimento
humano, afirmando que não é bom aplicar correções nos filhos, pois podem gerar
neles sentimentos de ódio, dor, etc. 
     Donald Guthrie, falando sobre a correção,
diz que ela tem, sim, seus aspectos doloridos no momento de sua aplicação e seu
propósito não pode ser avaliado no instante em que é dito, mas não demorará em
ver cada coisa se encaixando no seu devido lugar. Observe: 
Todos concordariam quanto ao caráter
doloroso da disciplina. Pelo menos é assim que parece no momento. É difícil
apreciar o propósito da ação disciplinar na hora do impacto. A ideia de ser
motivo de alegria parece totalmente estranha. Mas, depois, as coisas se
encaixam nos seus devidos lugares. O verdadeiro propósito fica sendo mais
claro. Aquilo que parecia doloroso ainda é reconhecido como tal, mas é
temperado pela eficácia do resultado. A linguagem figurada é tirada do campo da
horticultura, onde um princípio aceito é que a disciplina da poda produz maior
frutificação. 50
       Quem não está em paz com Deus não pode
produzir coisas boas, posto que o coração é dominado pela rebeldia, pecado,
inveja, ódio, ações maléficas que contrariam a vontade de Deus, porém, quando
alguém que vive assim aceita a correção, logo passará a estar em paz consigo
mesmo, pois já entrou em comunhão com Deus. Paulo falou que, no momento em que
o homem é justificado pela fé através de Jesus Cristo, passa a estar em paz com
Deus (Rm 5.1). Uma correção aplicada no momento certo, sem discurso de um
moralismo farisaico, pode resultar em uma vida de produtividade marcada por
excelentes frutos. 
       Jamais podemos ver a repreensão como
algo desnecessário. Ela é útil porque nos ajuda a voltar para o caminho certo,
ou seja, traz a correção quando estamos errados. Quando somos corrigidos por
Deus, pelos nossos pais, pelos nossos pastores, na verdade é porque eles
desejam o nosso bem, dando-nos oportunidade para crescermos na vida mais e
mais, pois quem despreza a repreensão não terá sucesso algum.
      Aqueles que não aceitam a repreensão
estão dominados por seu espírito de egoísmo, de justificativas pessoais, e
sempre se acham superiores aos demais. Tal postura resultará em graves consequências.
A repreensão visa nos ajustar e nos colocar no ponto certo. Ela provoca dor no
ato de sua aplicação, mas é uma dor passageira, que pode livrar de graves
consequências para toda a vida. 
       Para todos os setores da vida, a
repreensão se faz necessária e, no aspecto espiritual, ela pode acontecer por
meio das ordens divinas (Sl 19.11), como os mensageiros de Deus (Jr 6.10) e
apóstolos (At 20.31; Cl 1.28; 1 Co 4.14). Deus, querendo o bem do seu povo,
aplica a repreensão, por isso se deve amá-la, pois ela gera prudência (Pv
15.5).
        É
sempre bom estar perto de pessoas que buscam nos corrigir para o bem, o que
pode se dar por meio dos líderes escolhidos por Deus, nossos pais, amigos. Por
vezes não queremos estar perto daqueles que buscam nos repreender, porém são
eles que visam ao nosso bem, nos purificando de certos comportamentos
comprometedores, fazendo assim para que possamos ser como ouro reluzente. 
        Não podemos jamais deixar de praticar a
repreensão. É claro, ela deve ser feita no espírito de amor, ternura e
brandura, sem arrogância ou moralismo falso, ou para constranger alguém. A
falta de repreensão não somente traz grandes consequências, mas sua ausência
faz com que o mal se torne algo natural. Corremos o risco de estar sendo
coniventes com aquilo que Deus não aprova. 
       Caso tivesse repreendido seus filhos,
Eli teria não somente poupado o mal, como não seriam os seus filhos vis nem
modelo péssimo para o povo de Deus. A repreensão é útil para tudo e, por meio
dela, através das Escrituras Sagradas, é que poderemos ser perfeitos e
habilitados para a obra de Deus (2 Tm 3.16,17). 
      Por nos amar é que Deus nos repreende (Pv
3.12). Ele deseja o nosso bem e quer assegurar o nosso futuro. Jesus queria o
melhor para os seus discípulos, por isso não deixou de repreendê-los quando
necessário (Mc 8.33; Lc 9.55). Portanto, para evitarmos o mal e comportamentos
que não estão de acordo com a Palavra de Deus, pratiquemos a repreensão para um
fim útil. 
        Muitos estão perdendo posições
gloriosas, boas amizades, inclusive direitos espirituais, porque desprezam a
correção, sempre se achando superiores aos demais e perfeitos segundo sua
própria visão, o que poderá custar suas vidas, como aconteceu com Hofni e
Fineias. 
Pecados
que não Têm Perdão
        Já dissemos que para os pecados
cometidos pelos filhos de Eli não havia perdão ou sacrifícios que os
removessem, isso porque eles pecavam consciente e deliberadamente, se opondo a
Deus. É isso o que diz o texto de Números 15.24-31. Podemos crer que a ideia de
pecados que não têm perdão está presente no Novo Testamento, seguindo a linha
velhotestamentária. No tocante a pecados que não têm perdão, podemos recorrer a
três textos bíblicos: Mateus 12.22-39, 1 João 5.16 e Hebreus 10.26. No primeiro
caso, atentando para Mateus, os fariseus cometeram pecados voluntários. Vamos
analisar o texto para um entendimento claro. 
       A cura de Cristo feita em um homem que
era cego e mudo, dominado por um espírito demoníaco, fez levantar a esperança
no povo de que Ele seria o Messias esperado, o Filho de Davi. Por causa dessa
atitude do povo, logo os fariseus tentaram frustrar isso, afirmando que as
obras que realizavam tinham a eficácia do poder de Satanás. Jesus deixa claro
que, por meio de sua ação, estava atuando contra o reino das trevas e seu
chefe, e que Ele estava trabalhando para Deus, promovendo seu reino. Quem se
aliasse a Cristo estaria promovendo o Reino de Deus, mas quem fosse contra Ele
e o Reino estaria do lado de Satanás. 
        O pecado inconsistente, incoerente,
instável, Deus perdoa. Isso aconteceu na vida de Pedro que, por três vezes,
negou Jesus (Mt 26.70) e até Satanás falou pela sua boca (Mt 16.13), mas não
fez isso voluntariamente, nem considerando as obras de Jesus como sendo elas
más; ele de fato amava a Cristo no seu coração (Jo 21.17). Note que Judas foi
escolhido. Ele estava entre os discípulos. Sua natureza sempre foi má, mas
podemos notar a diferença entre Pedro e Judas. Pedro tinha suas falhas, mas
sabia que Jesus era perfeito, ao passo que Judas era cheio de pecado, mesmo
tendo conhecimento da bondade de Jesus, pois nos versículos seguintes se
evidenciam que pelos frutos se conhecem as árvores (Mt 12.31,32). 
     Os fariseus sabiam que as obras de Jesus
eram boas, mas, para não perderem a popularidade, passaram a dizer que elas
eram más. Nesse caso, cometiam um pecado voluntário. Ademais, não teriam
perdão, porque estavam rejeitando o que era bom e verdadeiro (Is 5.20), o que
seus próprios olhos tinham visto; isso prova que eles eram maus por natureza e
que agora estavam falando aquilo que tinham no coração e na mente. 
       Lendo 1 João 5.16, falando de pecado que
não é para morte e do que é para morte, ele diz: “Se alguém vir seu irmão
cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não
pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore”. A
explicação para esse seu texto é que o cristão que tem amor ora por aquele que
está em pecado, desejando que retorne para Deus e o sirva com sinceridade de
coração. O cristão não deve ser crítico do seu irmão, falar da sua vida, e,
quando ele se encontrar em pecado, antes deve amá-lo. Atente bem, no entanto,
para um detalhe: João está falando do pecado que não é para a morte, pois
nesses versículos ele fala do pecado que não é para morte e do pecado que é
para a morte.
      O pecado que não é para a morte é aquele
que a pessoa comete e logo se arrepende de coração; procura voltar-se para Deus
com sinceridade, com lágrimas e em total arrependimento. Já o pecado que é para
a morte é aquele que a pessoa teima em praticar, que não se arrepende, que não
confessa; é quando já se tornou um obstinado.
      No texto, João não está proibindo o
crente de orar por essas pessoas, mas também está deixando bem claro que não
somos obrigados a interceder por elas, ou seja, não é um mandamento. É nosso
dever orarmos por aqueles que estão em pecado, visto que não sabemos quem está
com pecado que é para a morte e pecado que não é para a morte. Só quem sabe
disso realmente é o Espírito Santo de Deus, mas se de fato alguém se mostrar a
nós como sendo um pecador contumaz, teimoso, irredutível, não adianta orar,
pois é ele que tem que reconhecer o seu lastimável estado, arrepender-se e
voltar-se para Deus. Se ele não faz isso, a minha oração não irá mudá-lo. 
        Lendo Hebreus 10.26, o texto trata do
pecado deliberado, da apostasia, daquele em que a pessoa entra conscientemente,
tendo conhecimento de toda verdade da Palavra de Deus, mas o faz porque quer,
rejeitando assim a mensagem divina. Novamente podemos fazer uso do comentário
de Donald Guthrie, o qual com muita precisão fala sobre o pecado deliberado:
        Se vivermos deliberadamente (hekousios) como a
primeira palavra na frase reforça essa ideia. O culto ritual levítico oferecia
providências para os pecados inadvertidos, mas não para os pecados voluntários.
A esta altura o uso que o escritor faz da primeira pessoa do plural (nós,
oculto, hemon), identifica-se com aqueles que recebem a advertência. O pleno
conhecimento da verdade é aludido com uma coisa recebida, o que surge que tem
uma forma reconhecida. Ademais, o artigo com a palavra verdade (tes aletheias)
torna claro que já existe um corpo de doutrina definível, que todos os cristãos
devem conhecer. É o equivalente à totalidade da revelação cristã. 51
        O
“deliberadamente”, do grego hekousios, fala de pecar de boa vontade, de acordo
consigo mesmo, pecar de propósito, não apenas como uma mera fraqueza. Os filhos
de Eli assim procediam. Eles tinham todo o conhecimento das leis do Senhor,
sabiam como deveriam proceder, mas eram insolentes, atrevidos e não respeitavam
a Deus. Por isso, pagariam seus pecados com a vida. Os que procedem como eles
não têm perdão. É isso o que assegura a Santa Palavra de Deus.
       Assim, entendemos que os pecados que não
têm perdão são aqueles praticados com plena consciência das verdades divinas,
tratando-as como nada, relegando-as a qualquer coisa, sem valor algum,
praticando assim a apostasia, que, nesse sentido, pode ser a negação da verdade
recebida. Isaías falou daqueles que transformam o que é bom e verdadeiro em
coisas perversas, e que os tais sofrerão o castigo divino. Daí a razão de ele
usar a expressão “ai” (Is 5.20). Evitemos então esse tipo de comportamento,
pois, se assim procedermos, sofreremos a punição divina.
OSIEL GOMES
                                       
                                 
OSIEL GOMES

I e II Samuel introdução e comentário
Em seu contexto, o cântico de Ana incentiva uma
interpretação específica:  na  providência 
do  Senhor,  pessoas 
de  origem  humilde chegam a ser líderes importantes.
Questiona-se então se o cântico tinha alguma nuança política para o povo de
Deus. Eles tinham vindo para a terra de Canaã, com poucos bens, a fim de
encontrar cidades relativamente 
ricas  que,  sob 
a  boa  mão 
de  seu  Deus, 
haviam  tomado. “Aquelas  pessoas 
anteriormente  dominadas  por 
outros,  experimentando privações
em todos os aspectos básicos de sua existência, agora são donas de sua própria
vida, têm abundância de provisões, reproduzem-se com toda fertilidade e estão
socialmente satisfeitas”.1 Desse modo, a palavra divina tinha credibilidade
diante de Israel porque o povo de Deus podia ver que ela operava de forma
concreta, quer para indivíduos, quer para toda a comunidade. A manifestação do
juízo de Deus, era tão imparcial quanto o derramamento de Sua bênção, e logo o
juízo cairia sobre aqueles que desprezavam a lei de Deus bem ali no santuário
aonde Ana havia levado seu filho.
    Samuel enfrenta
a corrupção em Silo (2.11-36).
 11.0  meninoficou servindo o Senhor, o verbo
“servir” (sãrat) ocorre em contextos domésticos e políticos,  mas 
seu uso mais  freqüente diz
respeito ao serviço  no  santuário. 
Samuel  servia  como 
sacerdote,  até  onde 
sua idade permitia, sob a direção de Eli.
12. Os filhos de Eli, que até este ponto haviam sido
apenas citados pelo nome (1 Sm 1.3), agora se tomam o centro da atenção. Em suma,
eram uma corja, “homens ímpios” (“homens sem valor”, RSV), que não se
importavam com (lit. “não conheciam”) o Senhor.
13-17. Esta rara descrição da adoração em Canaã antes da
monarquia revela alguma familiaridade com as regras levíticas. Os adoradores  sabiam que a gordura do sacrifício devia ser
queimada como oferta ao Senhor (v. 16; cf. Lv 17.6; Nm 18.17). Provavelmente,
eles também sabiam que certas partes do animal eram designadas para os
sacerdotes a fim de lhes servir de alimento (Lv 7.28-36; Dt 18.3).
Insatisfeitos com o que devia ser uma provisão adequada, esses homens
intimidavam os adoradores a permitir que apanhassem, ao acaso, bons pedaços de
carne, tivessem ou não direito a isso. Os protestos eram inúteis, e a falta de
cumprimento disso era enfrentada à força (cf. v. 9c). Em religiões étnicas, o
ritual tem de ser executado exatamente de acordo com o costume, a fim de ser
eficaz; na adoração do Deus vivo, que perdoa o pecado e é  misericordioso, as pessoas tomavam certas
liberdades e desprezavam a oferta do Senhor. Isso era indesculpável.
18-21. Em contraste, 
Samuel crescia e tornou-se um rapaz totalmente íntegro, sem ser
corrompido pela influência deles. As referências feitas a ele, no meio de
descrições do comportamento escandaloso dos filhos de Eli, são um testemunho do
poder de preservação do Senhor, para cujo serviço Samuel havia sido consagrado
(cf. vv. 21, 26). As Escrituras levam a sério a consagração de filhos ao
serviço do Senhor, e Jesus iria advertir contra a corrupção de crianças devido
a mau comportamento (Mt 18.2-5,10; 19.14). O exemplo de Samuel colocou à
mostra, por simples contraste, a perversidade de seus superiores.
Uma
estola... de linho era uma veste caracteristicamente sacerdo-
lal (1 Sm 22.18), mas não se sabe como ela era. Uma forma sofisticada de estola
era reservada para o sumo sacerdote (Ex 28.6-14; 39.2-7). A túnica que Ana dava
a Samuel era o me 11, uma capa usada pelo sumo sacerdote sobre a estola (Ex
28.31), mas também por outras pessoas de certa 
importância (1  Sm  15.27; 
18.4;  24.4).  A 
vestimenta  exterior comum,
chamada simlâ, era quadrada e feita de material semelhante ao do cobertor,
sendo usada à noite para cobrir (Ex 22.25-27). O cuidado amoroso de Ana garantia
que ela providenciasse uma veste suficientemente grande para suportar o
crescimento do filho ao longo de um ano. A 
oração de Eli, pedindo bênção sobre o casal, foi respondida com abundância,
de forma que, em troca do único filho que deram ao Senhor no santuário, eles
receberam cinco outros. De fato, Deus não fica devendo nada a ninguém (cf. Mt
5.3-12).
22-25. Presume-se que as mulheres que serviam à porta da
tendada congregação, também  mencionadas
em  Êxodo 38.8,  serviam 
de forma semelhante aos levitas, acerca dos quais o mesmo verbo, sãbjã
’,é empregado (e.g., Nm 4.23; 8.24). É a palavra também designada para o
serviço militar, sugerindo recrutamento, e dá o nome “Senhor dos Exércitos”
(sebã’ôt_; cf. o comentário sobre 1 Sm 1.3-8). A imoralidade era parte integral
da adoração cananéia, mas estava em total desacordo com o culto de Israel ao
Senhor; de fato, era um pecado contra o Senhor.
Pecando
o homem contra o próximo, 
Deus  lhe será o árbitro:esta
última oração poderia ser traduzida assim: “os juizes poderão defendê-lo”
(cf.ARC), pois a palavra ’elohim tem esse sentido em determinados contextos
(cf.  Êx 21.6; 22.8-9) onde os juizes
agem  como representantes de Deus na
administração da justiça (Êx 18.19-22). Em contraste, o pecado deliberado
contra o Senhor enquadrava-se numa categoria totalmente diferente. Os filhos de
Eli não poderiam alegar ignorância; sua soberba ditatorial clamava por uma
queda (cf. vv. 2, 9, 10a).
O
Senhor os queria matar: em vista dos acontecimentos de 1
Samuel 4.11, essa afirmação não é uma mera hipótese. A semelhança do Faraó de
Êxodo 5.2, o qual disse que não tinha qualquer intenção de dar ouvidos à voz do
Senhor, tomando-se assim cada vez mais obstinado, até que o “Senhor endureceu
o [seu] coração”, Hofni e Finéias selaram seu próprio destino com sua recusa em
aceitar a advertência (c/Rm 1.18).
26. Essa observação sobre o crescimento de Samuel no
favor doSenhor e dos homens serviu como descrição do desenvolvimento do menino
Jesus (Lc 2.52), que, tal como Samuel, teve de reconhecer o caminho de Deus num
mundo ímpio e resistir à tentação.
27-29. O homem de Deus, cujo nome não é mencionado, foi o
primeiro a anunciar a Eli o destino de toda sua família à luz da depravação de
seus filhos. O oráculo profético começa com uma menção ao chamado original do
Senhor feito ao ancestral de Eli no Egito. Embora Eli tivesse sido chamado
efraimita em 1 Samuel 1.1, por viver no território de Efraim (cf.  1 Cr 6.66), sua ascendência levítica fica
agora implícita na afirmação  de que seu  “pai” fora escolhido para servir como
sacerdote. 1 Reis 2.27 sugere que Abiatar, sacerdote nos dias de Davi, era
aparentado com Eli (cf. 1 Sm 22.20 e 1 Sm 14.3), e 2 Samuel 8.17 mostra a
ligação com Zadoque, que descendia de Arão (1 Cr 24.14). A luz das
estipulações feitas quanto à remuneração dos sacerdotes, não havia qualquer
desculpa para a cobiça que levou à extorsão dasmelhores de todas as ofertas.
Eli também está envolvido no pecado: “Por que é que vocês olham com tanta
ganância?” (BLH). A BLH segue a LXX (agora apoiada por 4QSama), enquanto a ARA,
seguindo o TM, traz pisais aos pés (cf.ARC; “E, engordando-se Jesurum, deu
coices” [ARC], Dt 32.15), uma metáfora notável; contudo, as duas traduções
entram em dificuldades no final do período.1 Eli é acusado de honrar seus
filhos antes de Deus, pois permitiu que os abusos continuassem.
30-34.  O  castigo 
é  agora proclamado  num 
anúncio  solene  da palavra divina (diz o Senhor) ou “oráculo
do Senhor” (rf’um Yahweh) repetido. A promessa de serviço sacerdotal perpetuamente
estava condicionada à fidelidade por parte da família, um requisito que se
aplica às promessas de Deus mesmo quando não explicitado. O princípio
resume-se num provérbio memorável (apenas quatro palavras no original
hebraico): aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam,serão desmerecidos.
A verdade disso pode ser verificada a partir dos acontecimentos do livro.  Seu cumprimento na família de Eli acontecerá
em  1 Samuel 4 (mas veja também 1  Sm 22.11-23; 
1 Rs 2.27), e Eli verá o sinal dado (v. 34) realizado antes de sua
própria morte.
35.    O Senhor
fará para Si um sacerdote fiel...  e
edificar-lhe-[á\uma  casa  estável. 
As  palavras  “fiel” 
e  “estável”  representam 
o mesmo adjetivo hebraico, ne ’emãn, e criam um equilíbrio
correspondente ao princípio que acabou de ser estabelecido. O duplo
significado dessa palavra, cuja raiz nos dá o conhecido vocábulo “amém”,
ressalta a ligação entre fidelidade (à aliança, claro) e segurança (cf. Is 7.9b
para uma declaração negativa da mesma questão). Esse sacerdote fiel não apenas
guardará a lei, mas terá discernimento da mente do Senhor e agirá de
conformidade com ela; de igual modo, os cristãos devem ser “filhos do vosso Pai
celeste” (Mt 5.45) e também aqueles que têm “a mente de Cristo” (1  Co 2.16). Há uma segunda menção ao ungido,
“meu messias” (cf. v. 10), o rei a quem o sacerdote servirá. É indicado um
contemporâneo de Samuel; criou-se a palavra “messias”, mas ela ainda  não 
alcançou  o status de  título. 
Se  a  referência era  a Davi, provavelmente o sacerdote devia ser
Zadoque (1 Rs 2.35).
36.   A pobreza
será o destino dos sobreviventes da família de Eli, pois foram rebaixados de
cargo; a fome os levará a implorar até trabalhos servis no santuário. Desse
modo, a inversão dos fatos, acerca da qual Ana cantou, veio a ocorrer diante de
seus próprios olhos.iv.
 O Senhor chama Samuel (3.1-4.la). Por
mais que se escrevam livros  sobre  o chamado divino,  para cada 
indivíduo  que recebe tal chamado
permanece um mistério: será que essa mensagem é autêntica da parte de Deus e,
em caso afirmativo, como posso sabê-lo? Samuel recebeu esse chamado por meio de
uma voz audível, mas a princípio ele não identificou corretamente a fonte da
voz. A mensagem recebida tinha toda a força da verdade, mas a comprovação final
de que ouviria a voz de Deus só veio mais tarde, quando os acontecimentos
confirmaram a palavra de Deus. Foi uma palavra que ele podia muito bem não ter
desejado ouvir, a qual testou seu caráter e sua força de vontade.
1.    Samuel
ainda era um jovem aprendiz, sendo ensinado por Eli e sujeito a ele. Nada
indicava que o Senhor estava para dar início a uma nova era; de fato, a palavra
do Senhor era mui rara (yãqãr, “tida em alta estima”); evidentemente, sabia-se
que houvera tempos de maiores bênçãos, quando o povo recebera com mais presteza
a orientação do Senhor. Até aquele momento, Samuel não tivera a oportunidade de
experimentar o recebimento de um oráculo ou de uma visão.
2-4. Certo dia... 
o Senhor chamou é a oração principal; a descrição intermediária prepara
o cenário, deixando-o mais completo. A vista fraca de Eli significava que
Samuel cumpria seu dever dormindo no templo', antes que a lâmpada de Deus se
apagasse, lâmpada esta que era mantida acesa desde o entardecer até de manhã
(Êx 27.21), significa que provavelmente a hora do ocorrido foi de madrugada 
5-9. A autodisciplina de Samuel fica bastante clara pelo
fato de ele se levantar três vezes de madrugada em resposta ao que pensava ser
um chamado de Eli.  Sua obediência cheia
de disposição era um atributo necessário para receber a palavra de Deus.Samuel ainda
não conhecia o Senhor: ele ainda não tivera uma experiência pessoal mediante a
qual poderia reconhecer o chamado do Senhor (cf. v. 1).
10. Veio  o  Senhor, 
e  ali  esteve, 
tornando-se  assim  visível 
e audível. Samuel recebia agora uma palavra e também uma visão.
11. A frase lhe tinirão ambos os ouvidos é empregada
quando se pronuncia um juízo especialmente severo (2 Rs 21.12; Jr 19.3).
12-14. Uma vez mais Eli carrega o peso do castigo,
porque, na qualidade de chefe da casa, era responsável por verificar que a
blasfêmia fosse contida. A história da insubordinação de seus filhos sem
dúvida alguma remontava à juventude deles, quando teria sido possível
discipliná-los. Diante dessa situação, a família toda será condenada, e nunca
mais lhe será expiada a iniqüidade nem com sacrifício nem comoferta de
manjares. Fizeram-se provisões nos rituais para o sacrifício pelo pecado dos
sacerdotes, mas tal sacrifício só cobria o pecado não- intencional  (Lv 4.2; cf. 
Lv 4.13,  22,  27). 
O  pecado  cometido 
com “abuso de poder”, num desrespeito intencional diante da lei de Deus,
tal como o que os filhos de Eli cometeram, não podia ser resolvido por
sacrifício algum. O próprio Eli havia previsto um juízo calamitoso (1  Sm 2.25), 
e um profeta já havia anunciado a decadência de  sua família (1  Sm 2.31); agora, o próprio Senhor anuncia o
destino ines- capável da casa de Eli.
15-18. Sob o peso de uma mensagem tão severa, Samuel
ficou...deitado até pela manhã. Como introduziria tal assunto perante o
venerável idoso a quem estava subordinado? Ele não precisava ter receado, pois
Eli tomou a iniciativa e solenemente incumbiu Samuel de lhe contar toda a
mensagem. Ademais, ele aceitou com humildade tudo o que ouviu, embora o
pronunciamento adicional do juízo de Deus só possa ter trazido, em sua velhice,
grande tristeza e apreensão quanto ao futuro. No entanto, o que o Senhor faz,
é bem feito; Eli não resiste à vontade divina.
Tal foi a introdução de Samuel no chamado profético.
Embora ele tivesse  sido  consagrado 
ao  serviço  sacerdotal 
desde  seus  primeiros dias, existe agora uma nova
dimensão em seu ministério, pois recebeu a palavra do Senhor e une à sua função
sacerdotal uma tarefa profética. Isso lhe trará destaque na terra, numa época
em que as pessoas precisavam  conhecer
a  palavra do  Senhor dirigida a elas,  pois 
estavam enfrentando inimigos poderosos. Samuel já está aprendendo que
suas palavras nem  sempre  serão proferidas ou ouvidas sem dificuldades,
mas ele continuará a pronunciar a mensagem de Deus sem receio das conseqüências
e, desse modo, estabelecerá o domínio de Deus na terra.
19-4. la.  O  crescimento 
de  Samuel  até 
sua  maturidade  caracterizou-se por um contínuo
reconhecimento público: o Senhor era comele, confirmando seu ministério pelo
fato de que o que Samuel dizia revelava-se correto. Assim, todo o Israel, desde
Dã até Berseba, isto é, desde a fronteira ao norte até a fronteira ao sul, era
unânime em reconhecer a autoridade divina que Samuel recebera. Ele era, de
fato, um profeta do Senhor, que continou a receber a revelação de Sua palavra;
era um nãbV, alguém chamado por Deus para o serviço especial de declarar Sua
palavra. A derivação e o significado da palavra hebraica têm sido muito
discutidos, mas a origem mais provável de nãbV é o verbo acadiano nabü, “chamar
ao dever”, especialmente o chamado de um homem pelos deuses.1 A experiência de
Samuel neste capítulo e ao longo de toda sua vida certamente confirma essa
origem, pois toda a ênfase repousa na iniciativa do Senhor. O Senhor fala, Seu
servo ouve e obedece. Samuel não tem escolha; sua vontade própria é submetida à
ordem de Deus. De Sua parte, o Senhor honra Sua palavra e Seu servo, que se
sente seguro em Deus e, por isso, pode se colocar sem receio diante dos grandes
da terra. A função de Samuel é totalmente diferente daquela exercida pelo
praticante de alguma religião, que busca adular a divindade a fim de que esta
se conforme a seus desejos. A recíproca é verdadeira: Samuel se coloca
inequivocamente ao lado das exigências do Senhor sobre Seu povo. O resultado
deverá ser arrependimento e mudanças ou, então, castigo certo.
Samuel, à semelhança de Moisés, será o líder por
excelência de Israel, cumprindo em si mesmo os papéis de juiz, sacerdote e
profeta. No  entanto, vê-se mais
claramente  sua grandeza ao nomear
outros, Saul e Davi, como reis na terra. Assim ele apontou, não para si mesmo,
mas para o ungido do Senhor, por meio de quem “o Senhor julgará as extremidades
da terra” (1 Sm 2.10, IBB).
b. Calamidade, arrependimento e livramento
(4.1b-7.17)i.    Derrota eperda da arca
da aliança (4. lb-22). As reiteradas advertências do Senhor a Israel foram
ignoradas, e as relações com os vizinhos filisteus, a oeste, tomaram-se tensas.
Já à época dos juizes, os filisteus haviam feito  incursões no território  israelita, obtendo tanto sucesso na ocupação
de parte dele que a tribo de Dã tinha migrado para o norte (Jz  18). A agressão desse povo domina o contexto
e os acontecimentos militares durante a época de Samuel e Saul.
lb. O hebraico (e, portanto, a maioria de nossas versões
do texto) sugere que Israel foi o agressor na batalha; contudo, a Septuaginta
preserva um texto mais longo, aparentemente omitido de modo acidental no TM,
que está em hebraico, mas impresso na BJ. Parte disso inclui o seguinte texto:
“Aconteceu, naquele tempo, que os filisteus se uniram para fazer guerra a
Israel. Israel saiu...”.1 De acordo com essa informação extra, Israel foi
forçado a combater devido ao ataque filisteu.
Afeque ficava a mais de 30 km ao norte de Ecrom, a mais
setentrional  das cinco cidades dos
filisteus (as outras eram Asdode,  As-
calom, Gaza e Gate), e nos contrafortes a oeste de Silo. A ameaça era
obviamente contra o santuário central dali. Ebenézer iria receber esse nome
numa vitória que ocorreu pouco depois (1 
Sm 7.12); se as duas batalhas transcorreram no mesmo local, este ficava
entre duas cidades e, provavelmente, não era habitado à época em que Israel
acampou ali.
2. Cerca de quatro mil homens: o hebraico ’eleg, “mil”,
pode ter sido usado aqui para indicar uma unidade de soldados de determinado
tamanho, agora desconhecido, mas somando um número consideravelmente menor do
que mil soldados.1 Em geral, aceita-se que os “trinta mil” do versículo 10
constituem um número grande demais, devido à estratégia militar do
período,  em  que 
um  simples  grupo 
de  alguns homens alcançava a
vitória em certas ocasiões (por exemplo, as façanhas de Jônatas em  1 
Sm  14.6-15). Qualquer que seja o
número de baixas, é evidente que a derrota em Afeque foi decisiva.
3. Evidentemente, a derrota havia sido impensável, e logo
indagações quanto ao motivo disso foram feitas pelos anciãos que haviam
acompanhado as tropas. Se eles tivessem dado ouvidos às palavras de Samuel, não
teriam sido surpreendidos. Estavam certos em presumir que o Senhor era
responsável por sua derrota, mas errados em pensar que um desfile com a arca da
aliança compensaria sua negligência para com os requisitos éticos do Senhor. A
“arca” ou “baú” continha a própria lei de Deus, à qual Israel fora consagrado
sob a aliança, cuja iniciativa partira do Senhor. Pensar que a presença da arca
entre eles iria  reverter seu
destino,  sem  haver qualquer mudança  interior 
nos líderes de Israel, era algo que revelava a medida de sua
insensibilidade diante das coisas espirituais.
4. O Senhor dos Exércitos, entronizado entre os
querubins: além de  conter o
ensinamento  do  Senhor, 
a arca era  o  “estrado 
de  Seu trono” (cf.  1 Cr 28.2). Os querubins de ouro batido em
cada extremidade da caixa revestida de ouro ladeavam Seu estrado (Êx 25.10-22).
No  entanto,  o 
mais  importante  de 
tudo  é  que 
esse  era  o 
“propiciatório”, onde o Senhor Se encontraria com Seu povo e lhe daria
Sua palavra (Êx 25.22); era a presença do Senhor que fazia disso um símbolo
poderoso, a ser visto com todo temor. Neste ponto da narrativa, os nomes Hojhi
e Finéias têm um caráter sinistro, após o duplo anúncio de condenação contra
eles por meio da palavra profética.
5-9.  Os
grandes  brados que ressoaram pelos
montes eram um grito  por  vitória 
no  combate  que 
se  aproximava,  mas 
os  filisteus tiveram a
curiosidade de saber o que havia provocado tal confiança. O discurso direto
coloca o leitor em contato com os próprios pensamentos dos adversários.Os
deuses  vieram  ao arraial... 
São  os deuses que feriram  aos egípcios', os filisteus presumiam que a
religião de Israel fosse igual à deles — politeísta. Contudo, eles sabiam um
pouco dos acontecimentos do êxodo, embora tal relato estivesse distorcido, e
por bons motivos sentiam certo temor (1 
Sm 6.4). Estando em posição de força e tendo escravizado os israelitas,
assim como os egípcios haviam feito, eles não estavam preparados para se tomar
escravos dos hebreus. Outros se referiam aos israelitas como hebreus (cf. v.
6), mas os israelitas preferiam o nome que os distinguia, com sua menção a
Jacó/Israel e ao chamado de Deus. “Hebreu” (‘ibrim) tinha evidentemente uma
conotação mais ampla, talvez racial, indicando a linhagem da qual o povo de
Deus saíra, ou talvez social, indicando grupos que viviam de invadir o
território de outros ou que serviam como escravos ou mercenários.1
10-11. Embora o 
leitor tenha sido preparado para o resultado, essa vitória decisiva dos
inimigos do Senhor ainda é um choque para o exército de Israel,  porque reverte suas expectativas. Cada um
fugiupara a sua tenda significa que o exército entrou em colapso e se desfez.
Desapareceu, não devido a uma ordem, mas voluntariamente. E foitomada a arca de
Deus, palavras que se tomam um solene refrão nos versículos seguintes e que
ressaltam a imensidão da catástrofe. No Antigo Testamento, esse acontecimento
é equiparado apenas à queda de Jerusalém em 587 a.C. Os próprios alicerces do
mundo foram abalados. Em comparação, a morte de Hofni e Finéias foi justa e
esperada, mas não impediu a tragédia que sua impiedade trouxe ao país inteiro.
12.    Havia cerca
de 34 quilômetros de Afeque  até  Silo; 
considerando-se  que  o 
trajeto  era  predominantemente  ascendente 
até  a região montanhosa, o
corredor precisava estar em boa forma para cobrir a distância no mesmo dia.
Sua aparência desalinhada indicava que ele estava pranteando; as pessoas o
veriam como portador de notícias ruins.
13-15. Eli estava assentado numa cadeira, ao pé do
caminho, olhando como quem espera: a LXX (e o v. 18) lêem “ao lado da porta”,
onde certamente ele não perderia a chegada de qualquer mensageiro.1 A despeito
de sua cegueira, Eli é descrito como olhando como quemespera, fazendo um
esforço sobre-humano.Porque o seu coração estava tremendo pela arca de Deus:
embora seu coração de pai deva ter estado apreensivo pelos filhos, Eli tinha
suas prioridades. Apesar de seu esforço para não perder o mensageiro, a
primeira coisa que Eli soube acerca de sua chegada foi o barulho alarmante de vozes
vindas da cidade (v. 14).16.   
Percebendo  que  Eli 
está  cego,  o 
mensageiro  identifica-se como
tendo vindo do campo de batalha.
17-18. Embora Eli estivesse preparado para a notícia
catastrófica, considerando-se sua idade, isso bastou para provocar sua morte,
talvez devido a um ataque cardíaco, que o fez cair de costas de onde estava
sentado junto à porta. A notícia, em quatro itens, foi ficando cada vez mais
alarmante, até chegar ao clímax, com a informação sobre a captura da arca de
Deus. Foi essa última calamidade que encerrou a longa vida de Eli.
1.  McCarter reconstrói  o 
hebraico com base na lx x , e 
lê:  “Ora,  Eli estava numa cadeira em cima do portão,
vigiando a estrada” e, no versículo 18, “[Eli] caiu para trás, de sua cadeira,
sobre a torre do portão” (McCarter 1980, p. 
111; uma página inteira é dedicada às variantes textuais). Apenas com
base no bom senso, parece improvável que essa leitura esteja certa. O fato de
que não podia ver (v. 15) tiraria dele qualquer proveito em subir à torre,
enquanto sua idade e obesidade (v.  18)
tornariam improvável que ele se lançasse a esse exercício!
Havia
ele julgado a Israel quarenta anos: a LXX, talvez por
influência de 1 Samuel 7.2, traz “vinte anos”. À semelhança dos juizes que o
antecederam, Eli havia sido o único líder, o governante em Israel nomeado por
Deus. Com seus 98 anos de idade, ele podia muito bem ter estado no
controle  durante  40 
anos.1  Como  sacerdote, Eli  seria sucedido por seus filhos, mas parece
que é a possibilidade de que eles assumiriam seu papel mais abrangente de líder
o que se tem em mente. O  fracasso  de  Eli  em 
discipliná-los,  portanto,  é  uma
decepção nacional, mesmo antes de isso se tornar uma catástrofe nacional. Tal
fato levanta toda a questão da liderança hereditária. Como uma sucessão de
homens piedosos pode ser garantida se um líder como Eli é incapaz de criar
filhos confiáveis?
19-22.  A  seqüência 
de  acontecimentos  ainda 
não  terminou. Ocorre mais uma
morte na família de Eli. A mulher de Finéias, com dores de parto provocadas
pelo choque que recebera, morreu depois de dar à luz um menino. Embora esse
nascimento fosse uma boa notícia, ela... não respondeu, nem fez caso. Ela
estava preocupada com o juízo divino  que 
se  abatera  sobre 
Israel,  expresso  no 
nome Icabode(7 kãbôd, “ai da Glória [de Israel]”). A glória de Israel
era o Senhor, de quem o estrado do trono fora capturado por pessoas que não Lhe
davam honra, para quem Ele não era resplandecente em glória. Foi-sea glória
indica que,  embora os filisteus
possuíssem o  “estrado” de Deus, eles não
haviam capturado o Deus de Israel. O Senhor está no controle da situação. Ele
Se afastou da arca. Mas o que pode, então, acontecer a Israel?
O fato de que a criança viveu é um lembrete de que a
família de Eli não foi totalmente eliminada nessa ocasião (cf.  1 Sm 2.31-33, 36). Há outras referências à
família de Eli, em  1  Samuel 
14.3 (cf  1  Sm 22.9; 2 Sm 
19.11;  1 Rs 2.27). Conforme essas
passagens mostram, a família deixou de prosperar.
Quanto a Silo, a partir daí deixou de ter importância
como centro de adoração, embora seja por vezes mencionada, como, por exemplo,
em 1 Reis 11.29 e 15.29, em relação ao silonita Aias. Ainda era habitada na
época de Jeremias (Jr 41.5), mas para Jeremias a destruição do “lugar” foi uma
lição concreta para seus contemporâneos, que consideravam o templo de
Jerusalém indestrutível. Eles deviam ir e ver o que o Senhor havia feito “ao
lugar, que estava em Silo” (Jr 7.2,  14;
26.6, 9). Em lugar algum encontra-se registrada a destruição implícita do
templo em Silo, mas em geral acredita-se que os filisteus arrasaram-no  após a captura da arca.  Para aqueles 
que  escreveram  esses capítulos, a arca de Deus era bem mais
importante do que a estrutura de um prédio que ficara de pé depois que a arca
fora levada embora. Quando a arca finalmente voltou para Israel, foi posta em
Nobe, entre as colinas a nordeste de Jerusalém e de onde podia ser avistada (Is
10.32).
                                        I e II Samuel introdução e comentário 
                                                                           Joyce G. Baldwin 

Muito edificante. Parabéns.
ResponderExcluirGrata, é verdade
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