domingo, 20 de outubro de 2019

4- A degeneração da liderança sacerdotal




I.                    A DEGENERAÇÃO DOS FILHOS DE ELI

 Não Valorizando a Posição Dada por Deus

      A degeneração é entendida como a alteração de algo. É mudar para uma condição ou estado de inferioridade. Lendo Jeremias 2.21, o texto usa a palavra degenerado em relação a Israel como povo de Deus, pois de uma vide excelente vieram a ser uma planta amarga. Esse é o sentido de pikrían que aparece na Septuaginta.

     Na Bíblia Sacra Vulgata, referindo-se ao texto de Jeremias 2.21, aparece como adjetivo da segunda declinação latina a palavra právus para referir-se a algo defeituoso, vicioso, depravado, mas, em destaque, gosto da definição membros disformes, maus conselheiros. No seu Comentário Bíblico, Jeremias e Lamentações, R. K. Harrison, falando sobre esse versículo, diz:
Como caíram os poderosos! Falando como Isaías em 5.1-7 Jeremias mostra como a nação prometedora tinha se deteriorado, apesar de todos os esforços para prevenir isto. O ramo enxertado tinha se adaptado à variedade de brava original, e por esta razão, o Marido Celestial não teve outra opção senão arrancá-la. A vide excelente literalmente é vinho Soreque, de uva vermelha de alta qualidade que cresce no Uadi Al-Sarar, entre Jerusalém e o Mediterrâneo. 44

      Israel, ao longo do tempo, foi deteriorado pelo pecado, é claro que não por vontade divina, mas por uma deliberação própria de cada um que foi tomando o caminho do pecado, de modo que todo o investimento de Deus não valeu a pena. Esperando que fosse uma vinha excelente, passou a produzir uvas bravas.

       Neste ponto, é disso que iremos falar em relação aos dois filhos de Eli, que tornaram-se maus conselheiros, pois não poderia ser de outra forma, visto que foram alterados pelo pecado, não sendo mais vide excelente, mas, sim, seres disformes, pessoas más, que contrariaram os ditames divinos.

        A primeira coisa a ser dita sobre os dois filhos de Eli — Hofni, cujo nome quer dizer “pugilista”, e Fineias, que quer dizer “negro” — é que os dois são descritos como filhos de Belial (1 Sm 2.12). Por meio do uso da palavra belliyya´al, “satanás”, pode-se concluir claramente a natureza desses dois filhos de Eli, os quais eram sacerdotes. Isso mostra o quanto a situação era grave, pois ambos estavam à frente da obra de Deus.

       Esses dois jovens tiveram o privilégio que muitos queriam ter, pois está escrito que ninguém toma essa honra se Deus não chamar (Hb 5.4). Receberam essa bênção, mas não valorizaram a posição dada por Deus. O ofício de sacerdote não era algo que vinha por causa de uma capacidade humana, inteligência, ou para quem o procurasse ou merecesse. Observe que Arão não procurou essa função, mas Deus o chamou (2 Cr 26.18; Jo 3.27). Hofni e Fineias receberam tamanha honra; observe que quem quisesse tomar essa honra sem ser chamado pagaria um alto preço, como aconteceu com Coré (Nm 16.40), mas coube a esses dois filhos tal missão gloriosa, a qual desprezaram.

       Alguém que recebe uma posição honrosa da parte de Deus deve procurar desenvolvê-la bem, pois, se assim não for, pagará um alto preço. Um exemplo bem clássico que podemos pontuar é o de Nadabe e Abiú. Os dois passaram a desenvolver um culto por vontade própria, voluntário, que do grego é ethelo-threskeia, que dele fala Paulo em Colossenses 2.23.

      Esses dois jovens, conforme a narrativa textual, pautaram seus ofícios apenas sob suas próprias normas, desprezando a Santa Palavra de Deus, sem a direção certa do Espírito Santo; ademais, supõe-se que estavam completamente embriagados. Paga um preço altíssimo quem não valoriza a posição dada por Deus, o que aconteceu com Nadabe e Abiú. As Escrituras Sagradas estão cheias de exemplos de líderes que foram rejeitados por Deus por não valorizarem tal honra. É isso o que se pode ver na pessoa de Eli e seus filhos. Para nós que trabalhamos na obra de Deus fica uma alerta: precisamos honrar aquEle que nos chamou, jamais nos envolvendo com negócios desta vida (2 Tm 2.4).

Fazendo uma Troca

       Devido à idade avançada — pode-se crer que chegou aos 98 anos de idade (1 Sm 4.15) — Eli ficou impossibilitado de desempenhar bem seu ministério como sacerdote, pois não tinha mais tanta força. Seus filhos deveriam continuar o trabalho do pai com sinceridade e verdade, sabendo que estavam à frente de algo dado por Deus, mas não foi o que aconteceu. Antes, fizeram uma troca: transformaram o lugar de adoração a Deus em antro de devassidão.

      Lendo os versículos 12-17, vemos que o texto descreve os diversos pecados que esses rapazes cometeram. Apesar de todo o conhecimento que tinham de Deus e suas leis, não fizeram caso, não procuraram desenvolver com Ele um relacionamento de comunhão e santidade. O que se nota é o desprezo para com as ofertas dedicadas ao Senhor para o sustento dos sacerdotes (Lv 7.28-34). Eles tinham suas exigências próprias e não respeitavam as normas dos sacrifícios, mas recebiam as porções antes de o sacrifício ser formalmente dedicado ao Senhor.

       Além desses pecados, destacam-se os sexuais. Hofni e Fineias não somente mantinham relações sexuais com as mulheres, como, pela posição que exerciam, forçavam-nas a se deitarem com eles, seduzindo-as. Entendemos que naqueles dias as coisas iam piorando cada vez mais, pois muitos seguiram esse procedimento pecaminoso dos filhos de Eli, de modo que o sacerdócio e o culto a Deus ficaram comprometidos. Eli, claro, cumpriu bem sua missão como sacerdote, porém, agora velho e cansado, sem forças, não tinha mais autoridade sobre seus filhos adultos.

       A troca que Hofni e Fineias fizeram foi a de preferirem seguir o caminho do pecado, dos prazeres sexuais, imorais, a valorizar o culto ao Senhor, a posição de sacerdote que tinham. Temos que entender que Eli, ao ouvir os rumores sobre seus filhos, fazia suas reprimendas, alertando-os principalmente sobre o lugar santo, mas eles não queriam ouvir mais seu pai. Sua autoridade não tinha poder sobre eles.

     Alguns estudiosos assinalam que as reprimendas de Eli para com os filhos eram por demais brandas, suaves, frente aos grandes pecados cometidos. Sendo assim, somente uma ação divina poderia erradicar de vez aqueles sacerdotes pecaminosos.

       Nessa situação agravante na qual se encontravam Hofni e Fineias, e, devido ao seu comportamento, influenciavam o povo de Deus, levando-o também a pecar, pois eram homens que exerciam uma grande posição. Só mesmo uma ação direta da parte de Deus para bani-los de uma vez por todas, o que irá acontecer por meio dos filisteus (1 Sm 4.10,11).

        Havia uma violação tremenda da parte dos filhos de Eli. Eles estavam quebrando os mandamentos divinos, tudo em nome dos prazeres sexuais, contaminando o lugar sagrado, de maneira que teriam que ser punidos com a morte.

      Nós, obreiros do Senhor, jamais devemos trocar nossa honrosa posição por meros prazeres aparentes deste mundo vil, que passa com suas concupiscências (1 Jo 2.15,16,17), antes, procuremos ser exemplo em tudo, como salienta Paulo: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm 4.12), desempenhando nossas funções pastorais com zelo, verdade e sinceridade, jamais trocando nosso ministério por barganhas políticas, relações sexuais ilícitas, pois, se assim for, pagaremos um alto preço, visto que estamos causando escândalos — e ai daquele por quem eles vêm (Mt 18.7).

 As Consequências para quem Peca contra Deus

     Não se pode eclipsar os grandes males advindos ao homem ao pecar contra Deus. Além disso, as Escrituras Sagradas revelam com nitidez os males que esse grande vilão trouxe ao homem, que bosquejamos aqui: (1) quebra da comunhão com Deus; (2) separação do seu Criador; e (3) morte como sentença.

         Na Teologia Sistemática Pentecostal, em matéria que trata sobre hamartiologia (doutrina do pecado), magistralmente o pastor Elienai Cabral, falando do castigo sobre o pecado, ou seja, de suas consequências, escreve:
Já dissemos que o pecado é tanto um ato como um estado. É um ato porque o homem mesmo preferiu, de seu livre-arbítrio, desobedecer à Lei de Deus, rebelando-se contra Ele. Porém, o pecado implica um estado pecaminoso porque o homem quebrou a comunhão e a relação com o Seu Criador, separando-se Dele. Inevitavelmente, segue-se a prática do pecado o juízo, ou seja, o castigo positivo (Gn 2.17; Rm 6.23). 45

        O homem é um ser tendente ao pecado, posto que nasce em pecado (Sl 51.5), mas sua concretização se dá pela ação própria do indivíduo ou quando usa de sua liberdade para tal prática. Todavia, é certo que as consequências para os que pecam contra Deus é gravíssima.

        O texto de Samuel descreve duas coisas em se tratando dos filhos de Eli: em primeiro lugar, a fama deles não era boa; em segundo, por causa de seu procedimento comprometedor, eles faziam o povo de Deus pecar por transgressão. Eli tinha conhecimento de que seus filhos estavam pecando diretamente contra Deus, pois conhecia, e bem, as leis divinas.

       Assinalamos que a lei divina deixava que os juízes arbitrassem em questões envolvendo o próximo, no caso de um haver cometido alguma coisa contra outro, quer fosse algum tipo de questão de maus tratos, quer em relação a bens, punindo quem de fato merecia ser punido e repreendendo aquele que precisava ser repreendido. Esse tipo de julgamento se daria no campo humano, pois não ofendia a santidade e a autoridade de Deus.

      Hofni e Fineias estavam pecando contra a santidade e autoridade de Deus de modo atrevido. Isso seu pai deixa bem claro e, pelo texto da Palavra de Deus, deveriam morrer: “Mas a alma que fizer alguma coisa à mão levantada, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao Senhor; e tal alma será extirpada do meio do seu povo” (Nm 15.30). Observe que a palavra injuria no hebraico é gadaph, que quer dizer “blasfemar contra Deus”. Nesse particular, não havia qualquer tribunal humano que fosse capaz de arbitrar tal questão, assim, a punição com morte era a medida certa para isso.

        O sacerdote Eli tinha consciência de que o pecado de seus filhos não ficaria impune, por isso os aconselhava constantemente, mas, já sem força, seus filhos adultos não se renderam aos seus rogos. Além do mais, eles não iriam mudar de atitude, evidenciando um arrependimento sincero, genuíno, pois já estavam destinados à sentença.

        Lendo 1 Samuel 2.12, o texto diz que esses dois sacerdotes filhos de Eli eram indignos e não se importavam com Deus. Diz a versão Almeida Revista e Corrigida que eles não conheciam ao Senhor; já na Revista e Atualizada se afirma que eles não se importavam; o verbo no hebraico é yadá, que quer dizer “conhecer”, aponta para admitir, considerar. É claro, eles sabiam quem era o Senhor, mas não fizeram caso de sua Pessoa, dos seus mandamentos.

       Os dois filhos de Eli tinham conhecimento de Deus, de sua santidade, das suas leis divinas, e que Ele deveria ser honrado e adorado, mantendo com Ele um relacionamento pessoal, o que não fizeram. Antes, trataram com banalidade as coisas de Deus, procedimento que custará suas vidas. Pense como era triste para Israel ter esses dois homens à frente da liderança. Apesar de todo conhecimento que tinham de Deus, de saberem do trabalho feito por seu pai, nada levavam em consideração. Na verdade, eles sabiam dos ensinos e exigências divinas, da santidade e do poder de Deus, mas não faziam caso. São oportunas as palavras de Richard D. Phillips aqui:
A apresentação dos filhos de Eli deixa pouco à imaginação: Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o Senhor (1Sm 2.12). Essa apresentação é a mais condenatória que alguém pode receber, especialmente um ministro. Dizer que eles eram filhos de Belial (homens indignos) é dizer que eram agentes de destruição. E depois de dizer que eles não se importavam com o Senhor é dizer que, apesar de todo o acesso que tinham à religião divina e de todo o seu conhecimento de teologia e de adoração, esses homens não eram convertidos, mas sim espiritualmente ignorantes da graça salvadora de Deus e não se importavam com as exigências de Sua santidade. 46

      É lamentável, mas muitos que exercem a liderança na casa de Deus por vezes agem dessa maneira, não fazendo caso da graça divina; têm muito conhecimento, ciência, mas não têm santidade e amor. Paulo disse que a ciência incha, mas o amor edifica (1 Co 10.2). Conhecimento que visa a apenas evidenciar cultura, menosprezar os outros, desprezar instituições, atacar alguém, não tem valor algum, mas o conhecimento que vale é aquele que visa glorificar a Deus, prioriza a santidade. É triste dizer, mas muitos são mestres e doutores dominados pelas paixões carnais, que os levam a praticar atos que são reprováveis por Deus, conforme escreveu Pedro (2 Pe 2.10).

      Não havia expiação para o pecado dos filhos de Eli, posto que eles feriam a autoridade e a santidade de Deus, não somente o seu poder. Esses dois filhos foram longe demais, sendo que, ainda que se arrependessem, caso fosse possível, poderiam apenas salvar a alma, mas morreriam, pois iriam colher o que plantaram.

II.                  A VINDA DA SENTENÇA DIVINA

 Samuel Crescendo na Experiência com Deus

      Logo que lemos o capítulo 2, em dois momentos é destacada a pessoa de Samuel para fazer contraste com os filhos pecaminosos de Eli. No versículo 11 é dito que Samuel ficou servindo ao Senhor perante Eli. Quando os pais de Samuel retornam para Ramá, Samuel fica com Eli e isso declara que, a partir daquele momento, ele irá receber orientações e treinamento do sacerdote. É claro que esse servir incluía outros serviços do dia a dia, assim, logicamente, era naquele ambiente que ele iria aprender algumas coisas, inclusive seu desenvolvimento espiritual e moral.

      Com uma boa aprendizagem, Samuel vai crescer em estatura e graça, como aconteceu com Jesus (Lc 2.52). O crescimento desse profeta não foi somente horizontal, mas vertical. Para alguns estudiosos, Samuel foi um homem que desempenhou diversos ofícios: ele aprendeu a tocar, desempenhava atividades servis, na casa de Deus ocupava-se de cânticos e oração, e, ainda bem cedo, aprendeu a interpretar a lei, de modo que virá a ser o que foi porque desde tenra idade avançou em tudo.

        Não há crescimento em qualquer área se não houver dedicação. Exemplo grandioso que temos é o de Esdras, que dispôs seu coração, ou seja, decidiu estar firme, preparado, pronto para buscar, cumprir e ensinar a Lei do Senhor (Ed 7.10), por isso ficou conhecido como o homem das letras. Paulo reforçava a importância de se dedicar ao ensino quem deseja ensinar (Rm 12.7). A Timóteo ele reforçou a ênfase de dedicar-se ao ensino, tanto para os outros como para si mesmo (1 Tm 4.13).

       No versículo 18, fala-se da visita anual que Elcana fazia com sua família a Siló, mas agora com um diferencial: antes, como de costume, eles iam para sacrificar e adorar ao Senhor, mas, doravante, a visita incluía outro objetivo, o de visitar Samuel, o qual fora dedicado, consagrado à obra de Deus, estando a residir com o sacerdote Eli.

       Desde cedo havia uma preocupação de Ana com o seu filho. O desejo dela era que ele viesse a ser um homem a serviço da nação de Deus; para isso orou e também criou condições para que esse desejo se intensificasse cada vez mais no coração do menino. Bem cedo ela fez um traje religioso, o qual era usado nas cerimônias ou para quem servia em lugares sagrados, para o jovem Samuel, o éfode de linho. Crê-se que esse éfode cobria a parte frontal do corpo, essa mulher trazia também túnica ao seu filho.

       É claro, havia outras concepções para o ato dessa túnica feita por Ana, como, por exemplo, para protegê-lo do frio. Todavia, é preferível entender que a mãe busca imprimir na mente e no coração de seu filho a importância de ser um servo do Senhor. A piedade e dedicação de Ana nas coisas de Deus lhe resultaram em muitas outras bênçãos, especialmente a vinda de mais três filhos e duas filhas.

     Em se tratando dos filhos de Ana, ao lermos 1 Samuel 2.5, fala-se em sete. Na verdade, creem alguns judeus que ela teve mesmo sete filhos, mas, pelo texto bíblico, é dito que ela teve apenas seis. A vida da família de Elcana era abençoada por Eli, isso porque ele via a devoção, a piedade presente nela. Supõe-se que Eli, percebendo que não tinha mais qualquer poder sobre seus filhos, dedicou-se a criar Samuel com todo carinho, pois via nele a grandiosa mão de Deus e a esperança para um novo começo na vida da nação israelita. Também ele orava para que Ana tivesse outros filhos.

       Enquanto os filhos de Eli estavam soltos, praticando todo tipo de pecado, dominados pela apostasia, no Tabernáculo havia um rapaz que estava procurando servir a Deus, cumprindo o que a lei determinava. Vale dizer que, pelo uso da estola de linho, a qual só era usada por sacerdote (Êx 28.4), mas não pelos levitas, Samuel estava vestido nela, o que já se evidenciava ser ele um sacerdote, não apenas um levita.

       Enquanto chegava o momento de ser usado por Deus, Samuel crescia e ministrava perante o Senhor. Já tinha certa consciência de que Deus o estava preparando para uma grande e nobre missão, por isso aproveitava todas as oportunidades.

Sentença Pronunciada

        É forte a expressão “O Senhor os queria matar” (1 Sm 2.25). Lendo os textos de Números 15.30, Josué 11.20, Provérbios 15.10, logo se entende claramente o porquê de Deus querer matar esses dois filhos de Eli. O texto esclarece que eles se colocaram em rebeldia, oposição a Deus, visto que esse é literalmente o sentido da expressão “filhos de Belial”. É como se estivessem sendo usados por Satanás.

      Podemos afirmar que Hofni e Fineias estavam sendo usados por Satanás para não fazer caso das coisas de Deus. Ainda que se fale em homens indignos, como notifica a Revised Standard Version, o certo é que eles se opunham a Deus e só existe um que não quer fazer caso das coisas de Deus: Satanás.

       Jamais podemos dizer que Eli trabalhou para que seus filhos viessem a ser o que foram. Na verdade, cremos que ele aplicou os ensinos; todavia, o procedimento pecaminoso, imoral, corrupto, incluindo o sacrilégio, resultou de uma deliberação própria dos filhos, procurando trilhar o caminho do pecado, rejeitando os ensinos verdadeiros e divinos. É claro que esses dois filhos tinham muita teoria e conhecimento das coisas de Deus, mas não conheciam a Deus de verdade, ou seja, não desenvolviam um relacionamento perfeito com Ele. Também não podemos nos esquecer de que esses filhos seguiram o comportamento da época dos juízes, em que cada um fazia o que bem queria, o que, nesse caso, foi influência do meio (Jz 21.25).

       O cenário do pecado era forte. Todos estavam comprometidos com o pecado. Isso incluía também o sacerdócio, mas a cena iria mudar com a chegada de Samuel, que vinha de uma família que procurava manter sua comunhão com Deus. Ele seria o profeta, o juiz, o homem de Deus que mudaria esse quadro.

        Os versículos 12 a 17 deixam bastante claros os crimes dos filhos de Eli. Eles não se importavam com nada que tratasse de Deus, de suas normas, antes, procuravam fazer tudo segundo seus entendimentos. Na oferta de holocausto, o animal era queimado por completo em honra a Deus; dele nada era dado ao ofertante ou sacerdote.

        Em outros tipos de sacrifício se permitia tanto o sacerdote como o ofertante participarem deles, sendo que o sangue do animal era derramado, e a gordura, queimada para o Senhor (Lv 1.9; 29.18; Nm 18.8; Dt 12.17,18). Em se tratando das ofertas pacíficas, o sacerdote tinha direito ao ombro direito e ao peito, mas o sangue era derramado, e a gordura, queimada. Os filhos de Eli não somente queriam a parte que pertencia a eles, como exigiam qualquer outra parte, em atitude de total desrespeito.

       Antes, enquanto não havia especificações quanto às porções pertencentes aos sacerdotes, eram usados garfos de três dentes; depois que a gordura fosse queimada e o sangue, derramado, enquanto o alimento estivesse sendo cozido, eles poderiam pegar um pedaço para sua alimentação. O que se entende é que havia leis estabelecidas tanto para o sacerdote quanto para os ofertantes, as quais deveriam ser cumpridas, pois, dessa forma, se honraria a Deus, o que não acontecia com os filhos de Eli.

       Hofni e Fineias eram atrevidos, irreverentes, desobedientes. Não faziam caso de Deus nem de sua lei; antes, estabeleciam suas próprias normas e queriam ser privilegiados, ainda mais que o Senhor. Caso alguém se opusesse a eles afirmando que deveriam primeiramente dedicar ao Senhor, eles abusavam do poder que tinham, assegurando que tomariam à força. Essa situação declarava os pecados de Hofni e Fineias, e o que dominava seus corações era o desejo por sexo, comida e bebida, não fazendo caso de Deus. Outra sentença não mereciam, a não ser a morte.

        Não se podia mensurar o estrago que esses dois filhos de Eli faziam, mas o texto afirma que eram muito grandes os pecados por eles cometidos. Pelo mau exemplo, o sacerdócio caiu em descrédito. Muitos zombavam e já ninguém mais queria saber do culto a Javé. Era necessário um novo homem, que fosse usado por Deus e resgatasse o que havia sido perdido, especialmente a credibilidade na Palavra de Deus, no sacerdócio e no culto.

A Desgraça da Família de Eli

        Nos versículos 10-14 do capítulo 3 de 1 Samuel, a cena é boa e ruim. É boa porque apresenta Deus fazendo Samuel sentir sua presença e ouvir sua voz. É ruim porque denunciará a sentença sobre a casa de Eli. Na quarta vez que Deus chamou Samuel, por orientação de Eli, ele passa a ouvir a voz de Deus. É maravilhoso entender que nesse acontecimento se percebe o crescimento do menino pela experiência que vai tendo com Deus. A princípio ele ouvia a voz, mas não tinha, ainda, consciência da presença divina.

      Ao quarto chamado, Samuel responde da maneira certa, pois segue à risca as orientações de Eli. Assim, o Deus transcendente, soberano, imortal, cheio de glória, manifestou-se a uma criança, um ser pequeno, mortal e finito.

       Na exposição acima, percebe-se que o autor procura declarar que o falar de Deus com Samuel seria ultrapassado pelo falar direito de Cristo, o qual assumiria nossa humanidade, ou seja, pelo ato próprio Ele assentiu, isto é, se permitiu colocar no nosso lugar, assumindo os nossos pecados para nos conceder acesso ao Pai.

F. F. Bruce explica isso muito bem da seguinte maneira:
A humanidade, a carne que o Verbo divino assumiu naquele ponto no tempo era e permanece tão perfeita com sua natureza divina; todavia foi nossa natureza humana (sem pecado) que ele assumiu, e não alguma humanidade celestial de outra ordem. (Humanidade celestial é uma expressão apropriada para a vida ressurreta de nosso Senhor e seu povo, à luz de 1Co 15.44-53, mas não para a sua vida terrena). Expandir as implicações da encarnação do Verbo em termos de teologia sistemática ou histórica levar-nos-ia mais longe que pretenderia o evangelista. Ele está preocupado em enfatizar que Deus, que se revelou ou expressou, enviou seu Verbo, de muitas maneiras desde o princípio e, afinal, mostrou-se em uma pessoa humana histórica e real: quando o Verbo se fez carne, Deus se fez homem. 47

        O ato de Deus falar com Samuel resultou de sua sinceridade e compromisso com o Senhor. Por isso é que, por duas vezes, o capítulo 2 faz referência à vida desse rapaz. Primeiramente é dito que ele ficou servindo ao Senhor (2.11), ainda menino já ministrava perante o Senhor (2.18) e crescia no aspecto físico e na graça de Deus perante todos (2.26). Deus fala com Samuel ainda um adolescente, o que prova que Ele fala com quem quer, quando quer, mas, para isso, é preciso santidade, sinceridade, verdade. Fica aqui um alerta para o jovem: Deus pode usar você em sua juventude, mas Ele quer ver em cada um santidade perfeita, daí a importância de seguir a recomendação do salmista: “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra” (Sl 119.9).

       Samuel vai transmitir a mesma mensagem que um profeta desconhecido já havia dito (1 Sm 2.27). Será triste para Eli receber tal mensagem, todavia, ele tinha consciência de que não poderia mais mudar seus filhos, razão pela qual disse que o Senhor poderia fazer o que quisesse, pois era Deus. O recado era muito pesado. A todos que ouvissem tiniriam os ouvidos, devido ao juízo severo. Essa sentença se daria nos seguintes passos: (1) morte de Hofni e Fineias por meio dos filisteus; (2) captura da Arca de Deus; e (3) morte de Eli e de sua nora.

        Essas notícias iriam impactar todo o povo judeu, o que provocaria medo, temor. Cada israelita iria ficar sem qualquer reação, posto que o nome do filho da nora de Eli explicaria toda aquela situação: Icabode — a glória de Israel se foi.

      No caso da segunda sentença, que veio da parte de Samuel, posto que um profeta desconhecido já havia falado (1 Sm 2.27-36), estudiosos pontuam que Eli poderia ter mudado a situação, mas podemos dizer que não, porque seus filhos eram grandes, eram filhos de Belial e não se sujeitavam a ninguém. Não havia remédio para as suas feridas, então a ênfase da segunda sentença era apenas para deixar claro ao sacerdote que a ação divina já estava às portas.

        A sentença contra a casa de Eli será lenta. Envolverá um processo contínuo, que terá seu começo com a morte de Hofni e Fineias, e prosseguirá da seguinte maneira: a morte dos oitentas sacerdotes por ordem de Saul, a expulsão de Abiatar do sacerdócio no reinado de Salomão, o que assim se nota é que a casa de Eli enfrentará sérias consequências, dentre elas a miséria, a pobreza, a vergonha (Is 40.5; 1 Rs 1.7,8; 2.7-35).

        A casa de Eli foi substituída pela de Zadoque, descendente de Eleazar, o qual era filho de Arão, que permanecerá, desse modo, a casa de Itamar. Eli iria atuar apenas com os levitas ajudadores, não mais como sacerdote. Essa desgraça é esclarecida também no capítulo 2.36, sendo que agora os da casa de Eli seriam apenas levitas comuns, viveriam em necessidade constante, de modo que passariam a desejar qualquer trabalho no oficio sacerdotal que lhes permitisse tirar um sustento. A casa de Eli iria se render perante outros e pedir pão para comer, tudo isso porque procedeu loucamente contra o Senhor, desobedecendo Sua lei em tudo.

       A sentença, para seu cumprimento cabal, levará tempo; aproximadamente 130 anos. Ela, porém, teria seu começo e fim, para cumprir-se completamente o que o profeta desconhecido e Samuel falaram. Essa sentença veio por causa do pecado, da parte de Eli, que não teve pecado em sua missão, mas pecou como pai, por não disciplinar seus filhos quando necessário, mas se deixou dominar por um sentimento ou um amor mais forte pelos filhos, em detrimento do amor a Deus e sua obra. Muitos estudiosos dizem que o amor de Eli era mal orientado, pois, é claro, os pais não podem deixar de amar os filhos, mas esse amor de Eli, sem aplicar as devidas penas, resultou em sua morte e estrago na nação de Israel.

          O texto é bem enfático em dizer que Eli não repreendeu seus filhos, razão pela qual eles vieram a ser filhos de Belial (1 Sm 2.12-17,25). A miséria entraria na casa de Eli porque houve brecha para o pecado; ainda que sua família fosse perdurar por três gerações, o castigo viria.

     O pecado da família de Eli feriu seriamente a Deus, de modo que está claro que não haveria expiação para as iniquidades cometidas. O Senhor revoltou- se terminantemente contra essa família, de modo que nenhum tipo de sacrifício ou oração, poderia expiar seus pecados, porque pecou voluntariamente, conscientemente, pois eram sacerdotes e tinham conhecimento de toda a Lei de Deus.

       É importante destacar que nas páginas do Antigo Testamento está declarado que não há perdão para quem peca voluntariamente (Nm 15.24- 31). Hofni e Fineias não cometeram pecados de ignorância, os quais podiam ser expiados pelos holocaustos, mas foram atrevidos, irreverentes. A ideia do não perdão para os pecados voluntários está presente também no Novo Testamento (Hb 10.26).

III.                AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

O Preço do Pecado

       Basta abrir o primeiro livro da Bíblia, Gênesis, que logo se verá que Deus criou o primeiro casal bom e em perfeito estado, colocou-o em um jardim idílico, desfrutando da presença de Deus (Gn 1.26; 2.25), mas ele foi enganado pela serpente, se entregando aos prazeres. Da parte de Eva, o engano veio porque ela foi seduzida pelas palavras da serpente; quanto a Adão, seu pecado já é mais consciente (2 Co 11.3; 1 Tm 2.14).

        Estudiosos afirmam, no caso da Teologia Sistemática organizada por Stanley Horton, que Eva não recebeu a ordem que Deus deu a Adão diretamente para que não comesse do fruto da árvore, mas que, para ela, a ordem foi transmitida pelo marido (Gn 2.17). Devemos levar em consideração que tanto Adão quanto Eva irão pecar livre e moralmente. É claro, da parte da serpente veio a tentação, mas quem decidiu escolher o fruto proibido e comer foi o casal (1 Co 10.13; Tg 4.7).

       No momento em que Adão e Eva pecam, prontamente se nota o preço que eles pagaram por causa dessa desobediência. Não se pode determinar na íntegra as grandes consequências que vieram a toda a humanidade por causa desse ato desobediente, mas atentando a Gênesis 1.26–3.24 e a Romanos 1.16-32, logo se tem uma noção geral desse preço. Rejeição, quebra da comunhão com Deus, isolamento, vergonha, morte física e eterna, culpa, acusação — tudo isso foi o que receberam Adão e Eva por terem pecado contra Deus, desobedecendo à sua ordem. Entendemos então, segundo a Bíblia e no aspecto teológico, que pecar é sempre trágico, posto que seus resultados são funestos. Aliás, Paulo fala que o salário, ou seja, a mesada, o saldo do pecado é a morte; é este o sentido da palavra grega opisonion (Rm 6.23). Todo pecado tem seu preço, por isso o cristão deve fugir dele constantemente, pedindo o auxílio divino.

       O livro de Samuel mostra que, por causa dos pecados cometidos pela casa de Eli, o preço viria a ser horrível. Morreriam ele e seus filhos, a Arca seria tomada e ele perderia o privilégio de servir ao sacerdócio. O povo peca por seguir a conduta dos filhos de Eli e também por querer imitar as outras nações ao pedir um rei para si. O rei Saul chegou a um nível de espiritualidade muito baixo, pois rejeitou a Palavra do Senhor e consultou espíritos adivinhadores.

        Por causa desses pecados, ele pagará com a sua vida (1 Cr 10.13). Davi, o homem segundo o coração de Deus, também trilhará o caminho do pecado; ele cometerá um pecado duplo, adultério e homicídio, mas, como consequência, a espada não sairá de sua casa (2 Sm 12.10). Absalão, por causa do pecado da rebeldia de se levantar contra seu pai, também pagará com a própria vida.

        Quem passa a viver no pecado é porque sua alma não está bem com Deus, por isso procura desobedecer aos mandamentos divinos, à Palavra do Senhor, não andar em santidade, praticando atos pecaminosos, que não darão outro resultado a não ser a morte, conforme preconiza o apóstolo Tiago: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15).

       Quando uma pessoa está dominada pelo pecado, logo as obras dessa árvore aparecem como frutos de morte, pois ela não está vivendo em Deus, mas separada dele, extirpando a vida por completo, alienando-a da fonte da vida eterna. É bom ter em mente que o pecado não pode oferecer nada de bom, nem transformar alguma coisa em algo agradável. A. B. Langston está certíssimo quando, tratando do pecado, afirma:

O pecado converte a luz em trevas, o gozo, em tristeza, o céu, em inferno, a vida, em morte. O pecado é o maior e o mais terrível inimigo da alma humana. Ele destrói as promessas, mata as esperanças, dá-nos serpentes, em vez de peixes, pedra, em lugar de pão, tormento, em lugar de prazer. O pecado sempre destrói e nunca edifica. Promete, mas nunca cumpre a promessa. É como diz a Bíblia: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). 48

        É isso que o pecado é. Sendo assim, evitemos a qualquer custo para não pagarmos um preço alto, inclusive com a nossa vida.

Os Males da Falta de Repreensão

      O verbo repreender do hebraico é yakach; fala de provar, decidir, repreender, reprovar, corrigir. É uma ação que se dá de modo enérgico. Lendo o texto de 1 Samuel 3.13, percebe-se, pela própria voz divina, os males que a falta de repreensão trouxe para a casa de Eli, que perdeu para sempre os direitos sacerdotais.

      Eli, como pai, poderia ter corrigido, disciplinado seus filhos por meio de sua autoridade tanto paternal como judicial, o que não fez; se tivesse agido no momento certo, não sendo dominado por um amor mal estruturado, teria evitado que seus filhos trilhassem caminhos extremamente comprometedores, que os tornaram homens vis, execráveis diante de Deus.

      Gosto do modo que o doutor Lawrence Richards diz como era que Eli repreendia seus filhos, de modo suave, sem qualquer ação enérgica, que era o que mereciam, pois, além dos pecados cometidos, eram péssimos exemplos para a nação de Israel.

Eles são descritos em hebraico pela expressão filhos de Belial, que está associado tanto à idolatria quanto à imoralidade (Dt 13.13; Jz 19.22). Seu desprezo pelo Senhor foi mostrado na declarada violação do ritual da Lei (1Sm 2.17; Lv 7.14) e nas condições morais (1Sm 2.22). A repreensão de Eli era somente uma pequena palmada, quando o comportamento dos dois clamava por execução. 49

      Nos nossos dias, alguns especialistas do campo do comportamento humano, especialmente no tratamento com crianças, desprezam a repreensão, todavia, é bom entender que a repreensão não se trata de uma censura irracional, de um ato de violência. No latim, a palavra “repreensão” é monitio, que trata de um conselho sereno, amigável, uma admoestação; dependendo da situação, essa admoestação pode ser branda ou severa, mas que é preciso fazê-la é, sim, pois pode evitar grandes males.

      Somente uma pessoa tola, que não quer crescer na vida, é que despreza a repreensão (Pv 23.9), pois quem a recebe poderá ter uma vida abençoada. A repreensão, quando aceita, gera correção, tornando a pessoa mais sábia para a vida. Lendo Hebreus 12.11, o autor destaca a importância da disciplina ou correção, que do grego é todo o treino e educação infantil, que diz respeito ao cultivo de mente e moralidade, e emprega para esse propósito ora ordens e admoestações, ora repreensão e punição. Também inclui o treino e o cuidado do corpo, tudo o que em adultos também cultiva a alma, especialmente pela correção de erros e contenção das paixões. Instrução que aponta para o crescimento em virtude, castigo, punição, dos males com os quais Deus visita homens para sua correção.

        Não se pode negar a importância da repreensão, da correção. Por vezes ela pode parecer ríspida e dói em quem a pratica, porém seus frutos são maravilhosos. Crianças que são bem educadas, disciplinadas, corrigidas nos momentos exatos irão se tornar bons filhos, bons cidadãos, bons servos de Deus. Jamais devemos ceder aos apelos das ideologias modernas, especialmente daquelas que vêm recheadas de erudição e sentimento humano, afirmando que não é bom aplicar correções nos filhos, pois podem gerar neles sentimentos de ódio, dor, etc.

     Donald Guthrie, falando sobre a correção, diz que ela tem, sim, seus aspectos doloridos no momento de sua aplicação e seu propósito não pode ser avaliado no instante em que é dito, mas não demorará em ver cada coisa se encaixando no seu devido lugar. Observe:

Todos concordariam quanto ao caráter doloroso da disciplina. Pelo menos é assim que parece no momento. É difícil apreciar o propósito da ação disciplinar na hora do impacto. A ideia de ser motivo de alegria parece totalmente estranha. Mas, depois, as coisas se encaixam nos seus devidos lugares. O verdadeiro propósito fica sendo mais claro. Aquilo que parecia doloroso ainda é reconhecido como tal, mas é temperado pela eficácia do resultado. A linguagem figurada é tirada do campo da horticultura, onde um princípio aceito é que a disciplina da poda produz maior frutificação. 50

       Quem não está em paz com Deus não pode produzir coisas boas, posto que o coração é dominado pela rebeldia, pecado, inveja, ódio, ações maléficas que contrariam a vontade de Deus, porém, quando alguém que vive assim aceita a correção, logo passará a estar em paz consigo mesmo, pois já entrou em comunhão com Deus. Paulo falou que, no momento em que o homem é justificado pela fé através de Jesus Cristo, passa a estar em paz com Deus (Rm 5.1). Uma correção aplicada no momento certo, sem discurso de um moralismo farisaico, pode resultar em uma vida de produtividade marcada por excelentes frutos.

       Jamais podemos ver a repreensão como algo desnecessário. Ela é útil porque nos ajuda a voltar para o caminho certo, ou seja, traz a correção quando estamos errados. Quando somos corrigidos por Deus, pelos nossos pais, pelos nossos pastores, na verdade é porque eles desejam o nosso bem, dando-nos oportunidade para crescermos na vida mais e mais, pois quem despreza a repreensão não terá sucesso algum.

      Aqueles que não aceitam a repreensão estão dominados por seu espírito de egoísmo, de justificativas pessoais, e sempre se acham superiores aos demais. Tal postura resultará em graves consequências. A repreensão visa nos ajustar e nos colocar no ponto certo. Ela provoca dor no ato de sua aplicação, mas é uma dor passageira, que pode livrar de graves consequências para toda a vida.

       Para todos os setores da vida, a repreensão se faz necessária e, no aspecto espiritual, ela pode acontecer por meio das ordens divinas (Sl 19.11), como os mensageiros de Deus (Jr 6.10) e apóstolos (At 20.31; Cl 1.28; 1 Co 4.14). Deus, querendo o bem do seu povo, aplica a repreensão, por isso se deve amá-la, pois ela gera prudência (Pv 15.5).

        É sempre bom estar perto de pessoas que buscam nos corrigir para o bem, o que pode se dar por meio dos líderes escolhidos por Deus, nossos pais, amigos. Por vezes não queremos estar perto daqueles que buscam nos repreender, porém são eles que visam ao nosso bem, nos purificando de certos comportamentos comprometedores, fazendo assim para que possamos ser como ouro reluzente.

        Não podemos jamais deixar de praticar a repreensão. É claro, ela deve ser feita no espírito de amor, ternura e brandura, sem arrogância ou moralismo falso, ou para constranger alguém. A falta de repreensão não somente traz grandes consequências, mas sua ausência faz com que o mal se torne algo natural. Corremos o risco de estar sendo coniventes com aquilo que Deus não aprova.

       Caso tivesse repreendido seus filhos, Eli teria não somente poupado o mal, como não seriam os seus filhos vis nem modelo péssimo para o povo de Deus. A repreensão é útil para tudo e, por meio dela, através das Escrituras Sagradas, é que poderemos ser perfeitos e habilitados para a obra de Deus (2 Tm 3.16,17).

      Por nos amar é que Deus nos repreende (Pv 3.12). Ele deseja o nosso bem e quer assegurar o nosso futuro. Jesus queria o melhor para os seus discípulos, por isso não deixou de repreendê-los quando necessário (Mc 8.33; Lc 9.55). Portanto, para evitarmos o mal e comportamentos que não estão de acordo com a Palavra de Deus, pratiquemos a repreensão para um fim útil.

        Muitos estão perdendo posições gloriosas, boas amizades, inclusive direitos espirituais, porque desprezam a correção, sempre se achando superiores aos demais e perfeitos segundo sua própria visão, o que poderá custar suas vidas, como aconteceu com Hofni e Fineias.

Pecados que não Têm Perdão

        Já dissemos que para os pecados cometidos pelos filhos de Eli não havia perdão ou sacrifícios que os removessem, isso porque eles pecavam consciente e deliberadamente, se opondo a Deus. É isso o que diz o texto de Números 15.24-31. Podemos crer que a ideia de pecados que não têm perdão está presente no Novo Testamento, seguindo a linha velhotestamentária. No tocante a pecados que não têm perdão, podemos recorrer a três textos bíblicos: Mateus 12.22-39, 1 João 5.16 e Hebreus 10.26. No primeiro caso, atentando para Mateus, os fariseus cometeram pecados voluntários. Vamos analisar o texto para um entendimento claro.

       A cura de Cristo feita em um homem que era cego e mudo, dominado por um espírito demoníaco, fez levantar a esperança no povo de que Ele seria o Messias esperado, o Filho de Davi. Por causa dessa atitude do povo, logo os fariseus tentaram frustrar isso, afirmando que as obras que realizavam tinham a eficácia do poder de Satanás. Jesus deixa claro que, por meio de sua ação, estava atuando contra o reino das trevas e seu chefe, e que Ele estava trabalhando para Deus, promovendo seu reino. Quem se aliasse a Cristo estaria promovendo o Reino de Deus, mas quem fosse contra Ele e o Reino estaria do lado de Satanás.

        O pecado inconsistente, incoerente, instável, Deus perdoa. Isso aconteceu na vida de Pedro que, por três vezes, negou Jesus (Mt 26.70) e até Satanás falou pela sua boca (Mt 16.13), mas não fez isso voluntariamente, nem considerando as obras de Jesus como sendo elas más; ele de fato amava a Cristo no seu coração (Jo 21.17). Note que Judas foi escolhido. Ele estava entre os discípulos. Sua natureza sempre foi má, mas podemos notar a diferença entre Pedro e Judas. Pedro tinha suas falhas, mas sabia que Jesus era perfeito, ao passo que Judas era cheio de pecado, mesmo tendo conhecimento da bondade de Jesus, pois nos versículos seguintes se evidenciam que pelos frutos se conhecem as árvores (Mt 12.31,32).

     Os fariseus sabiam que as obras de Jesus eram boas, mas, para não perderem a popularidade, passaram a dizer que elas eram más. Nesse caso, cometiam um pecado voluntário. Ademais, não teriam perdão, porque estavam rejeitando o que era bom e verdadeiro (Is 5.20), o que seus próprios olhos tinham visto; isso prova que eles eram maus por natureza e que agora estavam falando aquilo que tinham no coração e na mente.

       Lendo 1 João 5.16, falando de pecado que não é para morte e do que é para morte, ele diz: “Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore”. A explicação para esse seu texto é que o cristão que tem amor ora por aquele que está em pecado, desejando que retorne para Deus e o sirva com sinceridade de coração. O cristão não deve ser crítico do seu irmão, falar da sua vida, e, quando ele se encontrar em pecado, antes deve amá-lo. Atente bem, no entanto, para um detalhe: João está falando do pecado que não é para a morte, pois nesses versículos ele fala do pecado que não é para morte e do pecado que é para a morte.

      O pecado que não é para a morte é aquele que a pessoa comete e logo se arrepende de coração; procura voltar-se para Deus com sinceridade, com lágrimas e em total arrependimento. Já o pecado que é para a morte é aquele que a pessoa teima em praticar, que não se arrepende, que não confessa; é quando já se tornou um obstinado.

      No texto, João não está proibindo o crente de orar por essas pessoas, mas também está deixando bem claro que não somos obrigados a interceder por elas, ou seja, não é um mandamento. É nosso dever orarmos por aqueles que estão em pecado, visto que não sabemos quem está com pecado que é para a morte e pecado que não é para a morte. Só quem sabe disso realmente é o Espírito Santo de Deus, mas se de fato alguém se mostrar a nós como sendo um pecador contumaz, teimoso, irredutível, não adianta orar, pois é ele que tem que reconhecer o seu lastimável estado, arrepender-se e voltar-se para Deus. Se ele não faz isso, a minha oração não irá mudá-lo.

        Lendo Hebreus 10.26, o texto trata do pecado deliberado, da apostasia, daquele em que a pessoa entra conscientemente, tendo conhecimento de toda verdade da Palavra de Deus, mas o faz porque quer, rejeitando assim a mensagem divina. Novamente podemos fazer uso do comentário de Donald Guthrie, o qual com muita precisão fala sobre o pecado deliberado:

        Se vivermos deliberadamente (hekousios) como a primeira palavra na frase reforça essa ideia. O culto ritual levítico oferecia providências para os pecados inadvertidos, mas não para os pecados voluntários. A esta altura o uso que o escritor faz da primeira pessoa do plural (nós, oculto, hemon), identifica-se com aqueles que recebem a advertência. O pleno conhecimento da verdade é aludido com uma coisa recebida, o que surge que tem uma forma reconhecida. Ademais, o artigo com a palavra verdade (tes aletheias) torna claro que já existe um corpo de doutrina definível, que todos os cristãos devem conhecer. É o equivalente à totalidade da revelação cristã. 51

        O “deliberadamente”, do grego hekousios, fala de pecar de boa vontade, de acordo consigo mesmo, pecar de propósito, não apenas como uma mera fraqueza. Os filhos de Eli assim procediam. Eles tinham todo o conhecimento das leis do Senhor, sabiam como deveriam proceder, mas eram insolentes, atrevidos e não respeitavam a Deus. Por isso, pagariam seus pecados com a vida. Os que procedem como eles não têm perdão. É isso o que assegura a Santa Palavra de Deus.

       Assim, entendemos que os pecados que não têm perdão são aqueles praticados com plena consciência das verdades divinas, tratando-as como nada, relegando-as a qualquer coisa, sem valor algum, praticando assim a apostasia, que, nesse sentido, pode ser a negação da verdade recebida. Isaías falou daqueles que transformam o que é bom e verdadeiro em coisas perversas, e que os tais sofrerão o castigo divino. Daí a razão de ele usar a expressão “ai” (Is 5.20). Evitemos então esse tipo de comportamento, pois, se assim procedermos, sofreremos a punição divina.


                                                                                                 OSIEL GOMES


                                       
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              I e II Samuel introdução e comentário


Em seu contexto, o cântico de Ana incentiva uma interpretação específica:  na  providência  do  Senhor,  pessoas  de  origem  humilde chegam a ser líderes importantes. Questiona-se então se o cântico tinha alguma nuança política para o povo de Deus. Eles tinham vindo para a terra de Canaã, com poucos bens, a fim de encontrar cidades relati­vamente  ricas  que,  sob  a  boa  mão  de  seu  Deus,  haviam  tomado. “Aquelas  pessoas  anteriormente  dominadas  por  outros,  experimen­tando privações em todos os aspectos básicos de sua existência, agora são donas de sua própria vida, têm abundância de provisões, repro­duzem-se com toda fertilidade e estão socialmente satisfeitas”.1 Desse modo, a palavra divina tinha credibilidade diante de Israel porque o povo de Deus podia ver que ela operava de forma concreta, quer para indivíduos, quer para toda a comunidade. A manifestação do juízo de Deus, era tão imparcial quanto o derramamento de Sua bênção, e logo o juízo cairia sobre aqueles que desprezavam a lei de Deus bem ali no santuário aonde Ana havia levado seu filho.

    Samuel enfrenta a corrupção em Silo (2.11-36).
 11.0  meninoficou servindo o Senhor, o verbo “servir” (sãrat) ocorre em contextos domésticos e políticos,  mas  seu uso mais  freqüente diz respeito ao serviço  no  santuário.  Samuel  servia  como  sacerdote,  até  onde  sua idade permitia, sob a direção de Eli.
12. Os filhos de Eli, que até este ponto haviam sido apenas ci­tados pelo nome (1 Sm 1.3), agora se tomam o centro da atenção. Em suma, eram uma corja, “homens ímpios” (“homens sem valor”, RSV), que não se importavam com (lit. “não conheciam”) o Senhor.

13-17. Esta rara descrição da adoração em Canaã antes da monar­quia revela alguma familiaridade com as regras levíticas. Os adora­dores  sabiam que a gordura do sacrifício devia ser queimada como oferta ao Senhor (v. 16; cf. Lv 17.6; Nm 18.17). Provavelmente, eles também sabiam que certas partes do animal eram designadas para os sacerdotes a fim de lhes servir de alimento (Lv 7.28-36; Dt 18.3). In­satisfeitos com o que devia ser uma provisão adequada, esses homens intimidavam os adoradores a permitir que apanhassem, ao acaso, bons pedaços de carne, tivessem ou não direito a isso. Os protestos eram inúteis, e a falta de cumprimento disso era enfrentada à força (cf. v. 9c). Em religiões étnicas, o ritual tem de ser executado exatamente de acordo com o costume, a fim de ser eficaz; na adoração do Deus vivo, que perdoa o pecado e é  misericordioso, as pessoas tomavam certas liberdades e desprezavam a oferta do Senhor. Isso era indesculpável.

18-21. Em contraste,  Samuel crescia e tornou-se um rapaz total­mente íntegro, sem ser corrompido pela influência deles. As referên­cias feitas a ele, no meio de descrições do comportamento escandaloso dos filhos de Eli, são um testemunho do poder de preservação do Se­nhor, para cujo serviço Samuel havia sido consagrado (cf. vv. 21, 26). As Escrituras levam a sério a consagração de filhos ao serviço do Se­nhor, e Jesus iria advertir contra a corrupção de crianças devido a mau comportamento (Mt 18.2-5,10; 19.14). O exemplo de Samuel colocou à mostra, por simples contraste, a perversidade de seus superiores.

Uma estola... de linho era uma veste caracteristicamente sacerdo- lal (1 Sm 22.18), mas não se sabe como ela era. Uma forma sofisticada de estola era reservada para o sumo sacerdote (Ex 28.6-14; 39.2-7). A túnica que Ana dava a Samuel era o me 11, uma capa usada pelo sumo sacerdote sobre a estola (Ex 28.31), mas também por outras pessoas de certa  importância (1  Sm  15.27;  18.4;  24.4).  A  vestimenta  exterior comum, chamada simlâ, era quadrada e feita de material semelhante ao do cobertor, sendo usada à noite para cobrir (Ex 22.25-27). O cuidado amoroso de Ana garantia que ela providenciasse uma veste suficiente­mente grande para suportar o crescimento do filho ao longo de um ano. A  oração de Eli, pedindo bênção sobre o casal, foi respondida com abundância, de forma que, em troca do único filho que deram ao Se­nhor no santuário, eles receberam cinco outros. De fato, Deus não fica devendo nada a ninguém (cf. Mt 5.3-12).

22-25. Presume-se que as mulheres que serviam à porta da tendada congregação, também  mencionadas em  Êxodo 38.8,  serviam  de forma semelhante aos levitas, acerca dos quais o mesmo verbo, sãbjã ’,é empregado (e.g., Nm 4.23; 8.24). É a palavra também designada para o serviço militar, sugerindo recrutamento, e dá o nome “Senhor dos Exércitos” (sebã’ôt_; cf. o comentário sobre 1 Sm 1.3-8). A imoralidade era parte integral da adoração cananéia, mas estava em total desacordo com o culto de Israel ao Senhor; de fato, era um pecado contra o Senhor.

Pecando o homem contra o próximo,  Deus  lhe será o árbitro:esta última oração poderia ser traduzida assim: “os juizes poderão de­fendê-lo” (cf.ARC), pois a palavra ’elohim tem esse sentido em deter­minados contextos (cf.  Êx 21.6; 22.8-9) onde os juizes agem  como representantes de Deus na administração da justiça (Êx 18.19-22). Em contraste, o pecado deliberado contra o Senhor enquadrava-se numa categoria totalmente diferente. Os filhos de Eli não poderiam alegar ig­norância; sua soberba ditatorial clamava por uma queda (cf. vv. 2, 9, 10a).

O Senhor os queria matar: em vista dos acontecimentos de 1 Sa­muel 4.11, essa afirmação não é uma mera hipótese. A semelhança do Faraó de Êxodo 5.2, o qual disse que não tinha qualquer intenção de dar ouvidos à voz do Senhor, tomando-se assim cada vez mais obsti­nado, até que o “Senhor endureceu o [seu] coração”, Hofni e Finéias selaram seu próprio destino com sua recusa em aceitar a advertência (c/Rm 1.18).

26. Essa observação sobre o crescimento de Samuel no favor doSenhor e dos homens serviu como descrição do desenvolvimento do menino Jesus (Lc 2.52), que, tal como Samuel, teve de reconhecer o caminho de Deus num mundo ímpio e resistir à tentação.

27-29. O homem de Deus, cujo nome não é mencionado, foi o primeiro a anunciar a Eli o destino de toda sua família à luz da de­pravação de seus filhos. O oráculo profético começa com uma menção ao chamado original do Senhor feito ao ancestral de Eli no Egito. Embora Eli tivesse sido chamado efraimita em 1 Samuel 1.1, por viver no território de Efraim (cf.  1 Cr 6.66), sua ascendência levítica fica agora implícita na afirmação  de que seu  “pai” fora escolhido para servir como sacerdote. 1 Reis 2.27 sugere que Abiatar, sacerdote nos dias de Davi, era aparentado com Eli (cf. 1 Sm 22.20 e 1 Sm 14.3), e 2 Samuel 8.17 mostra a ligação com Zadoque, que descendia de Arão (1 Cr 24.1­4). A luz das estipulações feitas quanto à remuneração dos sacerdotes, não havia qualquer desculpa para a cobiça que levou à extorsão dasmelhores de todas as ofertas. Eli também está envolvido no pecado: “Por que é que vocês olham com tanta ganância?” (BLH). A BLH segue a LXX (agora apoiada por 4QSama), enquanto a ARA, seguindo o TM, traz pisais aos pés (cf.ARC; “E, engordando-se Jesurum, deu coices” [ARC], Dt 32.15), uma metáfora notável; contudo, as duas traduções entram em dificuldades no final do período.1 Eli é acusado de honrar seus filhos antes de Deus, pois permitiu que os abusos continuassem.

30-34.  O  castigo  é  agora proclamado  num  anúncio  solene  da palavra divina (diz o Senhor) ou “oráculo do Senhor” (rf’um Yahweh) repetido. A promessa de serviço sacerdotal perpetuamente estava con­dicionada à fidelidade por parte da família, um requisito que se aplica às promessas de Deus mesmo quando não explicitado. O princípio re­sume-se num provérbio memorável (apenas quatro palavras no original hebraico): aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam,serão desmerecidos. A verdade disso pode ser verificada a partir dos acontecimentos do livro.  Seu cumprimento na família de Eli aconte­cerá em  1 Samuel 4 (mas veja também 1  Sm 22.11-23;  1 Rs 2.27), e Eli verá o sinal dado (v. 34) realizado antes de sua própria morte.

35.    O Senhor fará para Si um sacerdote fiel...  e edificar-lhe-[á\uma  casa  estável.  As  palavras  “fiel”  e  “estável”  representam  o mesmo adjetivo hebraico, ne ’emãn, e criam um equilíbrio correspon­dente ao princípio que acabou de ser estabelecido. O duplo significado dessa palavra, cuja raiz nos dá o conhecido vocábulo “amém”, ressalta a ligação entre fidelidade (à aliança, claro) e segurança (cf. Is 7.9b para uma declaração negativa da mesma questão). Esse sacerdote fiel não apenas guardará a lei, mas terá discernimento da mente do Senhor e agirá de conformidade com ela; de igual modo, os cristãos devem ser “filhos do vosso Pai celeste” (Mt 5.45) e também aqueles que têm “a mente de Cristo” (1  Co 2.16). Há uma segunda menção ao ungido, “meu messias” (cf. v. 10), o rei a quem o sacerdote servirá. É indicado um contemporâneo de Samuel; criou-se a palavra “messias”, mas ela ainda  não  alcançou  o status de  título.  Se  a  referência era  a Davi, provavelmente o sacerdote devia ser Zadoque (1 Rs 2.35).

36.   A pobreza será o destino dos sobreviventes da família de Eli, pois foram rebaixados de cargo; a fome os levará a implorar até traba­lhos servis no santuário. Desse modo, a inversão dos fatos, acerca da qual Ana cantou, veio a ocorrer diante de seus próprios olhos.iv.

 O Senhor chama Samuel (3.1-4.la). Por mais que se escrevam livros  sobre  o chamado divino,  para cada  indivíduo  que recebe tal chamado permanece um mistério: será que essa mensagem é autêntica da parte de Deus e, em caso afirmativo, como posso sabê-lo? Samuel recebeu esse chamado por meio de uma voz audível, mas a princípio ele não identificou corretamente a fonte da voz. A mensagem recebida tinha toda a força da verdade, mas a comprovação final de que ouviria a voz de Deus só veio mais tarde, quando os acontecimentos confirma­ram a palavra de Deus. Foi uma palavra que ele podia muito bem não ter desejado ouvir, a qual testou seu caráter e sua força de vontade.

1.    Samuel ainda era um jovem aprendiz, sendo ensinado por Eli e sujeito a ele. Nada indicava que o Senhor estava para dar início a uma nova era; de fato, a palavra do Senhor era mui rara (yãqãr, “tida em alta estima”); evidentemente, sabia-se que houvera tempos de maiores bênçãos, quando o povo recebera com mais presteza a orientação do Senhor. Até aquele momento, Samuel não tivera a oportunidade de ex­perimentar o recebimento de um oráculo ou de uma visão.

2-4. Certo dia...  o Senhor chamou é a oração principal; a des­crição intermediária prepara o cenário, deixando-o mais completo. A vista fraca de Eli significava que Samuel cumpria seu dever dormindo no templo', antes que a lâmpada de Deus se apagasse, lâmpada esta que era mantida acesa desde o entardecer até de manhã (Êx 27.21), significa que provavelmente a hora do ocorrido foi de madrugada

5-9. A autodisciplina de Samuel fica bastante clara pelo fato de ele se levantar três vezes de madrugada em resposta ao que pensava ser um chamado de Eli.  Sua obediência cheia de disposição era um atributo necessário para receber a palavra de Deus.Samuel ainda não conhecia o Senhor: ele ainda não tivera uma experiência pessoal mediante a qual poderia reconhecer o chamado do Senhor (cf. v. 1).

10. Veio  o  Senhor,  e  ali  esteve,  tornando-se  assim  visível  e audível. Samuel recebia agora uma palavra e também uma visão.

11. A frase lhe tinirão ambos os ouvidos é empregada quando se pronuncia um juízo especialmente severo (2 Rs 21.12; Jr 19.3).

12-14. Uma vez mais Eli carrega o peso do castigo, porque, na qualidade de chefe da casa, era responsável por verificar que a blas­fêmia fosse contida. A história da insubordinação de seus filhos sem dúvida alguma remontava à juventude deles, quando teria sido possível discipliná-los. Diante dessa situação, a família toda será condenada, e nunca mais lhe será expiada a iniqüidade nem com sacrifício nem comoferta de manjares. Fizeram-se provisões nos rituais para o sacrifício pelo pecado dos sacerdotes, mas tal sacrifício só cobria o pecado não- intencional  (Lv 4.2; cf.  Lv 4.13,  22,  27).  O  pecado  cometido  com “abuso de poder”, num desrespeito intencional diante da lei de Deus, tal como o que os filhos de Eli cometeram, não podia ser resolvido por sacrifício algum. O próprio Eli havia previsto um juízo calamitoso (1  Sm 2.25),  e um profeta já havia anunciado a decadência de  sua família (1  Sm 2.31); agora, o próprio Senhor anuncia o destino ines- capável da casa de Eli.

15-18. Sob o peso de uma mensagem tão severa, Samuel ficou...deitado até pela manhã. Como introduziria tal assunto perante o vene­rável idoso a quem estava subordinado? Ele não precisava ter receado, pois Eli tomou a iniciativa e solenemente incumbiu Samuel de lhe con­tar toda a mensagem. Ademais, ele aceitou com humildade tudo o que ouviu, embora o pronunciamento adicional do juízo de Deus só possa ter trazido, em sua velhice, grande tristeza e apreensão quanto ao fu­turo. No entanto, o que o Senhor faz, é bem feito; Eli não resiste à von­tade divina.

Tal foi a introdução de Samuel no chamado profético. Embora ele tivesse  sido  consagrado  ao  serviço  sacerdotal  desde  seus  primeiros dias, existe agora uma nova dimensão em seu ministério, pois recebeu a palavra do Senhor e une à sua função sacerdotal uma tarefa profética. Isso lhe trará destaque na terra, numa época em que as pessoas preci­savam  conhecer a  palavra do  Senhor dirigida a elas,  pois  estavam enfrentando inimigos poderosos. Samuel já está aprendendo que suas palavras nem  sempre  serão proferidas ou ouvidas sem dificuldades, mas ele continuará a pronunciar a mensagem de Deus sem receio das conseqüências e, desse modo, estabelecerá o domínio de Deus na terra.

19-4. la.  O  crescimento  de  Samuel  até  sua  maturidade  carac­terizou-se por um contínuo reconhecimento público: o Senhor era comele, confirmando seu ministério pelo fato de que o que Samuel dizia revelava-se correto. Assim, todo o Israel, desde Dã até Berseba, isto é, desde a fronteira ao norte até a fronteira ao sul, era unânime em reco­nhecer a autoridade divina que Samuel recebera. Ele era, de fato, um profeta do Senhor, que continou a receber a revelação de Sua palavra; era um nãbV, alguém chamado por Deus para o serviço especial de declarar Sua palavra. A derivação e o significado da palavra hebraica têm sido muito discutidos, mas a origem mais provável de nãbV é o verbo acadiano nabü, “chamar ao dever”, especialmente o chamado de um homem pelos deuses.1 A experiência de Samuel neste capítulo e ao longo de toda sua vida certamente confirma essa origem, pois toda a ênfase repousa na iniciativa do Senhor. O Senhor fala, Seu servo ouve e obedece. Samuel não tem escolha; sua vontade própria é submetida à ordem de Deus. De Sua parte, o Senhor honra Sua palavra e Seu servo, que se sente seguro em Deus e, por isso, pode se colocar sem receio diante dos grandes da terra. A função de Samuel é totalmente diferente daquela exercida pelo praticante de alguma religião, que busca adular a divindade a fim de que esta se conforme a seus desejos. A recíproca é verdadeira: Samuel se coloca inequivocamente ao lado das exigências do Senhor sobre Seu povo. O resultado deverá ser arrependimento e mudanças ou, então, castigo certo.

Samuel, à semelhança de Moisés, será o líder por excelência de Israel, cumprindo em si mesmo os papéis de juiz, sacerdote e profeta. No  entanto, vê-se mais claramente  sua grandeza ao nomear outros, Saul e Davi, como reis na terra. Assim ele apontou, não para si mesmo, mas para o ungido do Senhor, por meio de quem “o Senhor julgará as extremidades da terra” (1 Sm 2.10, IBB).

b. Calamidade, arrependimento e livramento (4.1b-7.17)i.    Derrota eperda da arca da aliança (4. lb-22). As reiteradas ad­vertências do Senhor a Israel foram ignoradas, e as relações com os vizinhos filisteus, a oeste, tomaram-se tensas. Já à época dos juizes, os filisteus haviam feito  incursões no território  israelita, obtendo tanto sucesso na ocupação de parte dele que a tribo de Dã tinha migrado para o norte (Jz  18). A agressão desse povo domina o contexto e os acontecimentos militares durante a época de Samuel e Saul.

lb. O hebraico (e, portanto, a maioria de nossas versões do texto) sugere que Israel foi o agressor na batalha; contudo, a Septuaginta pre­serva um texto mais longo, aparentemente omitido de modo acidental no TM, que está em hebraico, mas impresso na BJ. Parte disso inclui o seguinte texto: “Aconteceu, naquele tempo, que os filisteus se uniram para fazer guerra a Israel. Israel saiu...”.1 De acordo com essa infor­mação extra, Israel foi forçado a combater devido ao ataque filisteu.

Afeque ficava a mais de 30 km ao norte de Ecrom, a mais seten­trional  das cinco cidades dos filisteus (as outras eram Asdode,  As- calom, Gaza e Gate), e nos contrafortes a oeste de Silo. A ameaça era obviamente contra o santuário central dali. Ebenézer iria receber esse nome numa vitória que ocorreu pouco depois (1  Sm 7.12); se as duas batalhas transcorreram no mesmo local, este ficava entre duas cidades e, provavelmente, não era habitado à época em que Israel acampou ali.

2. Cerca de quatro mil homens: o hebraico ’eleg, “mil”, pode ter sido usado aqui para indicar uma unidade de soldados de determinado tamanho, agora desconhecido, mas somando um número consideravel­mente menor do que mil soldados.1 Em geral, aceita-se que os “trinta mil” do versículo 10 constituem um número grande demais, devido à estratégia militar do período,  em  que  um  simples  grupo  de  alguns homens alcançava a vitória em certas ocasiões (por exemplo, as faça­nhas de Jônatas em  1  Sm  14.6-15). Qualquer que seja o número de baixas, é evidente que a derrota em Afeque foi decisiva.

3. Evidentemente, a derrota havia sido impensável, e logo inda­gações quanto ao motivo disso foram feitas pelos anciãos que haviam acompanhado as tropas. Se eles tivessem dado ouvidos às palavras de Samuel, não teriam sido surpreendidos. Estavam certos em presumir que o Senhor era responsável por sua derrota, mas errados em pensar que um desfile com a arca da aliança compensaria sua negligência para com os requisitos éticos do Senhor. A “arca” ou “baú” continha a própria lei de Deus, à qual Israel fora consagrado sob a aliança, cuja iniciativa partira do Senhor. Pensar que a presença da arca entre eles iria  reverter seu destino,  sem  haver qualquer mudança  interior  nos líderes de Israel, era algo que revelava a medida de sua insensibilidade diante das coisas espirituais.

4. O Senhor dos Exércitos, entronizado entre os querubins: além de  conter o ensinamento  do  Senhor,  a arca era  o  “estrado  de  Seu trono” (cf.  1 Cr 28.2). Os querubins de ouro batido em cada extremidade da caixa revestida de ouro ladeavam Seu estrado (Êx 25.10-22). No  entanto,  o  mais  importante  de  tudo  é  que  esse  era  o  “propi­ciatório”, onde o Senhor Se encontraria com Seu povo e lhe daria Sua palavra (Êx 25.22); era a presença do Senhor que fazia disso um sím­bolo poderoso, a ser visto com todo temor. Neste ponto da narrativa, os nomes Hojhi e Finéias têm um caráter sinistro, após o duplo anúncio de condenação contra eles por meio da palavra profética.

5-9.  Os grandes  brados que ressoaram pelos montes eram um grito  por  vitória  no  combate  que  se  aproximava,  mas  os  filisteus tiveram a curiosidade de saber o que havia provocado tal confiança. O discurso direto coloca o leitor em contato com os próprios pensamen­tos dos adversários.Os deuses  vieram  ao arraial...  São  os deuses que feriram  aos egípcios', os filisteus presumiam que a religião de Israel fosse igual à deles — politeísta. Contudo, eles sabiam um pouco dos acontecimen­tos do êxodo, embora tal relato estivesse distorcido, e por bons mo­tivos sentiam certo temor (1  Sm 6.4). Estando em posição de força e tendo escravizado os israelitas, assim como os egípcios haviam feito, eles não estavam preparados para se tomar escravos dos hebreus. Ou­tros se referiam aos israelitas como hebreus (cf. v. 6), mas os israelitas preferiam o nome que os distinguia, com sua menção a Jacó/Israel e ao chamado de Deus. “Hebreu” (‘ibrim) tinha evidentemente uma cono­tação mais ampla, talvez racial, indicando a linhagem da qual o povo de Deus saíra, ou talvez social, indicando grupos que viviam de invadir o território de outros ou que serviam como escravos ou mercenários.1

10-11. Embora o  leitor tenha sido preparado para o resultado, essa vitória decisiva dos inimigos do Senhor ainda é um choque para o exército de Israel,  porque reverte suas expectativas. Cada um fugiupara a sua tenda significa que o exército entrou em colapso e se des­fez. Desapareceu, não devido a uma ordem, mas voluntariamente. E foitomada a arca de Deus, palavras que se tomam um solene refrão nos versículos seguintes e que ressaltam a imensidão da catástrofe. No An­tigo Testamento, esse acontecimento é equiparado apenas à queda de Jerusalém em 587 a.C. Os próprios alicerces do mundo foram abala­dos. Em comparação, a morte de Hofni e Finéias foi justa e esperada, mas não impediu a tragédia que sua impiedade trouxe ao país inteiro.

12.    Havia cerca de 34 quilômetros de Afeque  até  Silo;  consi­derando-se  que  o  trajeto  era  predominantemente  ascendente  até  a região montanhosa, o corredor precisava estar em boa forma para co­brir a distância no mesmo dia. Sua aparência desalinhada indicava que ele estava pranteando; as pessoas o veriam como portador de notícias ruins.

13-15. Eli estava assentado numa cadeira, ao pé do caminho, olhando como quem espera: a LXX (e o v. 18) lêem “ao lado da porta”, onde certamente ele não perderia a chegada de qualquer mensageiro.1 A despeito de sua cegueira, Eli é descrito como olhando como quemespera, fazendo um esforço sobre-humano.Porque o seu coração estava tremendo pela arca de Deus: em­bora seu coração de pai deva ter estado apreensivo pelos filhos, Eli tinha suas prioridades. Apesar de seu esforço para não perder o men­sageiro, a primeira coisa que Eli soube acerca de sua chegada foi o barulho alarmante de vozes vindas da cidade (v. 14).16.    Percebendo  que  Eli  está  cego,  o  mensageiro  identifica-se como tendo vindo do campo de batalha.

17-18. Embora Eli estivesse preparado para a notícia catastrófica, considerando-se sua idade, isso bastou para provocar sua morte, talvez devido a um ataque cardíaco, que o fez cair de costas de onde estava sentado junto à porta. A notícia, em quatro itens, foi ficando cada vez mais alarmante, até chegar ao clímax, com a informação sobre a cap­tura da arca de Deus. Foi essa última calamidade que encerrou a longa vida de Eli.
1.  McCarter reconstrói  o  hebraico com base na lx x , e  lê:  “Ora,  Eli estava numa cadeira em cima do portão, vigiando a estrada” e, no versículo 18, “[Eli] caiu para trás, de sua cadeira, sobre a torre do portão” (McCarter 1980, p.  111; uma página inteira é dedicada às variantes textuais). Apenas com base no bom senso, parece improvável que essa leitura esteja certa. O fato de que não podia ver (v. 15) tiraria dele qualquer proveito em subir à torre, enquanto sua idade e obesidade (v.  18) tornariam improvável que ele se lançasse a esse exercício!


Havia ele julgado a Israel quarenta anos: a LXX, talvez por in­fluência de 1 Samuel 7.2, traz “vinte anos”. À semelhança dos juizes que o antecederam, Eli havia sido o único líder, o governante em Israel nomeado por Deus. Com seus 98 anos de idade, ele podia muito bem ter estado no controle  durante  40  anos.1  Como  sacerdote, Eli  seria sucedido por seus filhos, mas parece que é a possibilidade de que eles assumiriam seu papel mais abrangente de líder o que se tem em mente. O  fracasso  de  Eli  em  discipliná-los,  portanto,  é  uma decepção na­cional, mesmo antes de isso se tornar uma catástrofe nacional. Tal fato levanta toda a questão da liderança hereditária. Como uma sucessão de homens piedosos pode ser garantida se um líder como Eli é incapaz de criar filhos confiáveis?

19-22.  A  seqüência  de  acontecimentos  ainda  não  terminou. Ocorre mais uma morte na família de Eli. A mulher de Finéias, com dores de parto provocadas pelo choque que recebera, morreu depois de dar à luz um menino. Embora esse nascimento fosse uma boa notícia, ela... não respondeu, nem fez caso. Ela estava preocupada com o juízo divino  que  se  abatera  sobre  Israel,  expresso  no  nome Icabode(7 kãbôd, “ai da Glória [de Israel]”). A glória de Israel era o Senhor, de quem o estrado do trono fora capturado por pessoas que não Lhe davam honra, para quem Ele não era resplandecente em glória. Foi-sea glória indica que,  embora os filisteus possuíssem o  “estrado” de Deus, eles não haviam capturado o Deus de Israel. O Senhor está no controle da situação. Ele Se afastou da arca. Mas o que pode, então, acontecer a Israel?

O fato de que a criança viveu é um lembrete de que a família de Eli não foi totalmente eliminada nessa ocasião (cf.  1 Sm 2.31-33, 36). Há outras referências à família de Eli, em  1  Samuel  14.3 (cf  1  Sm 22.9; 2 Sm  19.11;  1 Rs 2.27). Conforme essas passagens mostram, a família deixou de prosperar.

Quanto a Silo, a partir daí deixou de ter importância como centro de adoração, embora seja por vezes mencionada, como, por exemplo, em 1 Reis 11.29 e 15.29, em relação ao silonita Aias. Ainda era habi­tada na época de Jeremias (Jr 41.5), mas para Jeremias a destruição do “lugar” foi uma lição concreta para seus contemporâneos, que consi­deravam o templo de Jerusalém indestrutível. Eles deviam ir e ver o que o Senhor havia feito “ao lugar, que estava em Silo” (Jr 7.2,  14; 26.6, 9). Em lugar algum encontra-se registrada a destruição implícita do templo em Silo, mas em geral acredita-se que os filisteus arrasa­ram-no  após a captura da arca.  Para aqueles  que  escreveram  esses capítulos, a arca de Deus era bem mais importante do que a estrutura de um prédio que ficara de pé depois que a arca fora levada embora. Quando a arca finalmente voltou para Israel, foi posta em Nobe, entre as colinas a nordeste de Jerusalém e de onde podia ser avistada (Is 10.32).


                                        I e II Samuel introdução e comentário 
                                                                           Joyce G. Baldwin 





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