segunda-feira, 11 de agosto de 2025

CPAD : A Igreja em Jerusalém — Lição 7: Uma Igreja que não teme a perseguição

 


TEXTO ÁUREO

Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.

(At 5.29).

VERDADE PRÁTICA

Em relação à verdadeira Igreja Cristã há duas verdades inegáveis: 1) a Igreja será perseguida; 2) Deus a protegerá.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 5.25-32; 12.1-5.

Atos 5

25 — E, chegando um, anunciou-lhes, dizendo: Eis que os homens que encerrastes na prisão estão no templo e ensinam ao povo.

26 — Então, foi o capitão com os servidores e os trouxe, não com violência (porque temiam ser apedrejados pelo povo).

27 — E, trazendo-os, os apresentaram ao conselho. E o sumo sacerdote os interrogou, dizendo:

28 — Não vos admoestamos nós expressamente que não ensinásseis nesse nome? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.

29 — Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.

30 — O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro.

31 — Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados.

32 — E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem.

Atos 12

1 — Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja para os maltratar;

2 — e matou à espada Tiago, irmão de João.

3 — E, vendo que isso agradara aos judeus, continuou, mandando prender também a Pedro. E eram os dias dos asmos.

4 — E, havendo-o prendido, o encerrou na prisão, entregando-o a quatro quaternos de soldados, para que o guardassem, querendo apresentá-lo ao povo depois da Páscoa.

5 — Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus.

 PLANO DE AULA

1. INTRODUÇÃO

Nesta lição, estudaremos como a Igreja Primitiva enfrentou essas oposições com coragem e fé, confiando na proteção divina. Através da ação de Deus, da intercessão da Igreja e da ousadia dos discípulos, aprendemos que o verdadeiro povo de Deus não teme a perseguição, pois sabe que o Senhor é seu refúgio e fortaleza.

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição: I) Explicar os motivos e as esferas da perseguição enfrentada pela Igreja Primitiva; II) Demonstrar como Deus protegeu sua Igreja através de livramentos e da intercessão; III) Encorajar os alunos a permanecerem firmes na fé, mesmo diante das adversidades.

B) Motivação: Ao estudarmos esta lição, devemos refletir sobre como a fé nos capacita a enfrentar as adversidades com coragem e nos inspira a testemunhar o Evangelho com ousadia e convicção, sabendo que não estamos sozinhos, pois o Senhor é o nosso refúgio e fortaleza.

C) Sugestão de Método: Para encerrar essa aula, sugerimos um momento de reflexão e aplicação prática dos principais ensinamentos da lição. Convide cada aluno a compartilhar um ensinamento que aprendeu hoje e como ele pode ser aplicado em seu dia a dia. Em seguida, ore junto com a classe, agradecendo a Deus pelo aprendizado e pedindo sabedoria para vivermos de acordo com os princípios bíblicos. Que a mensagem desta lição permaneça em nossos corações, guiando-nos em cada decisão e fortalecendo nossa fé.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: A coragem da Igreja primitiva nos inspira a permanecer firmes na fé, testemunhando de Cristo com ousadia.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 102, p.39, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto “A Perseguição Política”, localizado depois do primeiro tópico, aprofunda o tema da perseguição movida pelo poder temporal contra a Igreja; 2) No final do segundo tópico, o texto “Uma Ação Sobrenatural” analisa a ação milagrosa de Deus na vida dos apóstolos.

 COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Desde o seu início, a Igreja enfrenta oposição e perseguição. Por sua própria natureza, a fé cristã atrai sobre si a rejeição e a perseguição. Isso porque a fé cristã, por defender princípios exclusivos, muitas vezes se choca com os valores seculares e mundanos. Foi assim no primeiro século e é assim ainda hoje. Contudo, devemos destacar que a igreja não está sozinha nem abandonada no mundo. Deus é o seu dono e, portanto, o seu protetor. Vemos ao longo da história da Igreja o Senhor agindo de diferentes formas para dar livramento e vitória a seu povo. Assim, nesta lição, veremos como Deus faz isso capacitando e empoderando o seu povo para viver no meio de um mundo hostil.

Palavra-Chave:

PERSEGUIÇÃO

AUXÍLIO BÍBLICO—TEOLÓGICO

A PERSEGUIÇÃO POLÍTICA

 “A perseguição à Igreja teve início quase que imediatamente depois de Pentecostes. Pedro tinha curado um homem coxo junto à porta Formosa do Templo, e uma grande multidão tinha testemunhado os resultados. Quando aquele que tinha operado o milagre aproveitou a multidão reunida para pregar a respeito de Jesus, os sacerdotes do Templo o levaram preso (cap. 4). Libertado, em breve ele foi aprisionado novamente, com outros apóstolos (cap. 5). Estêvão foi a próxima vítima, só que desta vez houve uma morte (cap. 7). Este martírio deu início a uma onda violenta de perseguições aos crentes de Jerusalém (cap. 8). Saulo tentou levar a sua perseguição à igreja que estava em outros lugares, mas ele mesmo se tornou um prisioneiro do Senhor na estrada para Damasco.” (Comentário Bíblico Beacon: João e Atos. Volume 7. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.292).

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

 “CONTÍNUA ORAÇÃO.

Os crentes do Novo Testamento respondiam às oposições e às perseguições com intensas orações. A situação parecia impossível: Tiago já havia morrido, e Herodes tinha Pedro sob a custódia de dezesseis soldados. No entanto, a igreja vivia com a absoluta certeza de que ‘a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos’ (Tg 5.16), e eles oravam intensamente e persistentemente pela situação de Pedro. A oração deles logo foi respondida (vv.6-17; veja o artigo A ORAÇÃO EFICAZ, p.600).” Amplie mais o seu conhecimento, lendo Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global, edita pela CPAD, p.1964.

AUXÍLIO BÍBLICO—TEOLÓGICO

UMA AÇÃO SOBRENATURAL

 “Cedo de manhã, Caifás e seus companheiros convocam uma reunião geral do Sinédrio. Os guardas de templo são enviados para trazer os prisioneiros, mas eles encontram a prisão vazia (v.22); todos os doze desapareceram. Quando as autoridades ficam sabendo do desaparecimento dos apóstolos se afligem e se sentem indefesas, não sabendo ‘do que viria a ser aquilo’ (v.24); eles não sabem o que fazer ou dizer. Alguns, como Gamaliel (cf. At 5.34-40), pode ter considerado que o sobrenatural estava em ação, sobretudo visto que milagres tinham sido feitos pelas mãos dos apóstolos. Mais tarde, um mensageiro os informa que os apóstolos estão no templo. Como o anjo tinha instruído, eles estão falando ao povo ‘as palavras desta vida’ de salvação provida em Jesus Cristo.” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Volume 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.654).

   Prezado(o) professor(a), a paz do Senhor. A trajetória da igreja de Cristo neste mundo sempre foi marcada por oposições e perseguições. A pregação do Evangelho não encontra apenas desafios de ordem política ou religiosa, mas também espiritual. Não podemos nos esquecer que a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra as hostes espirituais, principados e potestades das trevas (Ef 6.12). É preciso ter em mente essa perspectiva a fim de que lutemos com as armas espirituais e não materiais. Desde o princípio da igreja, nossos irmãos fizeram uso dessas ferramentas. Eles se reuniam e faziam continuamente oração para o Espírito Santo os capacitar a pregar a Palavra e a vencer os desafios impostos pelas perseguições.

   Além da oração, a igreja perseverava em um testemunho dos valores bíblicos com poder e pronta disposição. Não havia incoerência entre o que pregavam e o que praticavam, pois para eles a prática do Evangelho foi adotada como um estilo de vida. Eles agiam, pensavam, se comunicavam e tomavam decisões de acordo com a direção do Espírito Santo. Como vemos em Atos, os primeiros crentes perseveravam unânimes todos os dias no templo, partindo o pão e louvando a Deus (At 2.46,47). Essa comunhão chamava a atenção da sociedade de modo que muitos criam no Evangelho e se convertiam à fé cristã.

  De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, editado pela CPAD, “a Bíblia não só apresenta a Igreja como sofredora como também desenvolve uma teologia da perseguição — sua origem, objetivo e efeitos. A origem da perseguição é o ódio do homem pecador contra Deus. Paulo chama os homens irreconciliados e ‘inimigos de Deus’ (Rm 5.10). O amor ao mundo é inimizade contra Deus. ‘Ninguém pode servir a dois senhores’ (Mt 6.24). ‘A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz’ (Jo 3.19). ‘Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser’ (Rm 8.7). O Senhor Jesus Cristo assegura aos seus seguidores que não é o servo maior do que o seu Senhor. ‘Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós’ (Jo 15.20). No mundo, os discípulos devem esperar tribulações, mas devem preocupar-se com o fato de serem bem-vistos por todos. Eles devem regozijar-se quando falarem mal deles (Mt 5.11,12). Os homens farão mais do que falar contra a reputação, eles matarão os discípulos julgando estar prestando um serviço a Deus (Jo 16.2).” (2006, p.1512).

  Além de vigiar, é precisa buscar continuamente a presença do Espírito Santo. Só com a capacitação do Espírito podemos suportar as adversidades que tentam impedir o progresso espiritual da igreja. Perseveremos (1Co 15.58).

CONCLUSÃO

Vimos como uma igreja capacitada pelo Espírito enfrenta perseguições. O cristão, portanto, não deve se assustar com elas. No contexto do Cristianismo Bíblico essa é a regra, não a exceção. Ninguém gosta de ser perseguido; contudo, as Escrituras nos previnem a respeito da realidade da perseguição na jornada cristã (Jo 16.33). Isso não significa que o sofrimento deve ser um alvo a ser alcançado, mas que devemos estar conscientes de que não podemos evitá-lo. Portanto, o nosso foco deve estar em Deus, pois Ele é quem pode nos guardar e capacitar no meio do sofrimento.

   CPAD : A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições

Comentarista: José Gonçalves

Lição 7: Uma Igreja que não teme a perseguição

 


 P

or sua própria natureza, a fé cristã é includente e excludente ao mesmo tempo. Includente quando convida todos a participarem dela (Mt 11.28); e excludente à medida que só reconhece Jesus Cristo como o único caminho, a verdade e a vida (At 4.12; Jo 14.6). Dessa forma, portanto, o cristianismo exclui todas as outras crenças como válidas para a salvação. Isso não significa dizer que não há elementos de verdade nas outras religiões, nem tampouco que elas são desprovidas de valor ético-moral. Não; não se trata disso. Sem dúvidas, é possível valores que são benéficos para o bem-estar e convívio social tanto nas religiões mundiais que possuem uma natureza mais teológica quanto em outras de natureza mais filosófica. Contudo, à luz da fé cristã, elas são insuficientes para a salvação da humanidade.

   Ao afirmar a sua fé unicamente na pessoa de Jesus Cristo como sendo o único caminho para a salvação, a fé cristã torna-se rejeitada e muitas vezes perseguida. Praticamente todas as tradições cristãs do protestantismo, tanto o histórico1 como o pente- costal, sofreram algum tipo de perseguição no Brasil quando aqui chegaram. O clero católico romano, mesmo havendo liberdade de culto, não tolerava a fé que achava ser concorrente. Gunnar Vingren, missionário sueco e fundador das Assembléias de Deus no Brasil, narra no seu livro 0 Diário do Pioneiro1 2 várias persegui ções que sofreu quando chegou aqui em 1910. Em 1914, Vingren enviou uma carta para o seu amigo, o pastor O. L. Bjórk, que morava na Suécia. Nessa carta, Vingren conta como a perseguição veio com força na implantação da Assembléia de Deus em Itapajé, no estado do Ceará. Naquela época, o missionário sueco contava com o apoio de Adriano Nobre, um convertido à fé pentecostal. Nobre foi preso por pregar o evangelho naquele estado.

   Vingren escreveu:

   Carta missionária. Pará, Brasil, 22 de agosto de 1914. Meu amado irmão... A paz de Deus! Muito obrigado por sua carta de 7 de julho e pelo cheque. Fico muito feliz com sua carta. É muito bom ouvir falar de Jesus e de suas obras maravilhosas. Fico feliz em ouvir sobre isso, pois vivo na mesma fonte que o senhor. Aleluia! Acho que mencionei em uma carta para o senhor que pretendia viajar para outro estado, chamado Ceará, mas o Senhor levou nosso evangelista a ir em meu lugar. Ele voltou depois de cerca de um mês e meio com a notícia de que havia batizado 50 pessoas na água e que Jesus havia batizado 24 crentes no Espírito Santo e no fogo. Glória a Jesus! O Ir. Adriano Nobre foi preso lá. Adriano Nobre estava preso ali em um dia, quando Jesus batizou mais de 10 pessoas no Espírito Santo e nosso irmão foi expulso do local pelos inimigos. Mas, louvado seja Deus, eles não conseguem afastar a obra do Senhor. Desde então, temos recebido cartas de lá, e os crentes estão firmes em Jesus. Adria no nomeou um irmão para liderar as reuniões antes de partir. Amanhã a irmã3 4 que estava lá antes de Adriano e preparou o caminho para ele está partindo; agora ela está viajando para lá pela vontade do Senhor para encorajar os amigos. Vamos orar muito por ela. Desde minha última carta, Jesus batizou 32 pessoas no Espírito Santo aqui no estado do Pará, e 39 foram batizadas nas águas. Glória a Deus! Uma delas foi batizada no Espírito no meio do sermão na quarta-feira à noite. Não se esqueçam de orar por mim, queridos amigos, para que o Senhor me fortaleça. No Senhor, Gunnar Vingren. P.S. Agora mesmo chegou um telegrama do Ceará informan do que o número de pessoas batizadas no Espírito já é de 33. Glória ajesus! Dessa forma, o Senhor está realizando sua obra maravilhosa. Aleluia! Agora estamos construindo uma casa pastoral aqui. O Ir. Berg envia suas saudações.45

   Daniel Berg, missionário sueco e companheiro de Gunnar Vingren aqui no Brasil, também narrou nas suas cartas muitas perseguições que teve que enfrentar. Em uma delas, publicada em 1915 no periódico batista sueco Brudgummms Rost, ele detalha sobre o trabalho de implantação da Assembléia de Deus no Pará e como em Capanema, uma das cidades desse estado, enfrentaram forte oposição.

    Assim escreveu Berg:

   Carta do Brasil. Bragança, Brasil, 4 fev. 1915. Meu amado irmão... Paz de Deus! 1 Ped. 1:3-7. O Senhor é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. E bom estar escondido em Jesus, onde há calma apesar das tempestades na terra, louvado seja Jesus eternamente! Obrigado, querido irmão, por sua carta e pelos jornais que recebi há alguns dias. Alegrou nosso coração ler o querido jornal The Bridegroom’s Voice,6 7 foi um bom alimento para a alma, graças a Deus! Esperamos recebê-lo no futuro, sempre que for publicado. O Senhor nos guiará em todas as coisas e nos preservará, para que estejamos prontos quando vier o chamado: Saia para encontrar o noivo. Lemos nos jornais diários sobre a grande e terrível guerra na Europa' e acreditamos que isso é um sinal de que a vinda de Jesus está próxima. Vemos como a palavra de Deus está sendo cumprida. Louvamos o Senhor por sua maravilhosa orientação para conosco, por ter nos sustentado até agora com saúde e força, e por nos abençoar no trabalho para Ele. Estive visitando nossos amigos em “Carattates” por alguns dias, e o Senhor estava conosco e nos abençoou. Uma irmã, a quem Jesus batizou no Espírito Santo lá, falou em línguas de forma tão bela. Sentimos como se os céus tivessem se aberto sobre nós enquanto estávamos de joelhos em oração. Graças a Deus que Ele está preparando Sua noiva para o encontro. O Senhor está conosco aqui em Bragança. Temos reuniões todas as noites, e muitas pessoas vêm e ouvem a palavra do Senhor, e creio que o Senhor está trabalhando em muitos corações. Alugamos uma casa em confiança no Senhor, pela qual temos que pagar 20 mil-réis por mês, o irmão Otto Nelson8 e sua esposa (missionários que vieram da América e  agora estão estudando a língua; alugaram conosco. Por favor, orem por nós e pela obra do Senhor nesta cidade. Somos a única missão crente aqui em Bragança. Há muitas pessoas nessa cidade, e queremos pedir ao Senhor que nos guie no futuro. O irmão Vingren está no Ceará há quase dois meses, e o Senhor esteve com ele e o abençoou. Agora há mais de 100 almas lá, louvando ao Senhor pelo perdão dos pecados, e muitas delas foram batizadas com o Espírito Santo. Graças a Deus, ele está trabalhando maravilhosamente nas várias missões aqui, que o Senhor abriu para nós. O inimigo pode estar zangado conosco e com o trabalho do Senhor, mas o Senhor prometeu que nenhum fio de cabelo de nossa cabeça cairá, a não ser por sua vontade, glória seja dada ao seu nome! Aprendi isso há uma semana, quando estava visitando nossos amigos em Capanema. Reunimo-nos lá por duas noites, e na última noite os inimigos se reuniram do lado de fora da casa onde estávamos nos reunindo. Havia mais de 100 deles, armados com paus, e eles evidentemente pensaram que conseguiríam acabar conosco e com nossas atividades. Quando estávamos reunidos para orar em uma casa, eles começaram a bater na porta com paus e a atirar pedras. Fomos até lá, abrimos a porta e falamos com eles sobre Jesus, mas eles disseram que não queriam ouvir nada sobre Jesus, mas pediram nossas Bíblias para queimá-las. Como não podíamos permitir isso, eles começaram a jogar pedras novamente. Então, entramos e fechamos a porta, dobramos os joelhos e clamamos ao Senhor, enquanto os inimigos estavam do lado de fora batendo na porta. O Senhor preservou a todos nós. Quando a porta começou a quebrar, peguei meu casaco e saí furtivamente pela porta dos fundos. Foi assim que consegui escapar dos inimigos, graças a Deus! Ore pelos amigos de Capanema, eles são muito perseguidos pelos católicos. Jesus está chegando em breve! Saudações dos fiéis daqui para todos vocês. Saudações de seu irmão no Senhor Daniel Berg Caixa 653, Pará, Brasil

   ES. Estou enviando uma foto junto com a carta. Uma das pessoas na foto é Adriano Nobre, e a outra você reconhece rá bem. Dê meus cumprimentos aos srs. Roberth e Pethrus e a todos os amigos tão queridos. O Ir. Vingren e Nelson também. Sl. 23.9

   Pois bem, como podemos observar, a obra evangélica que procura seguir as pisadas do cristianismo bíblico sempre enfrentará oposição. Ela será perseguida. De fato, o apóstolo Paulo escreveu que quem quer viver a fé com autenticidade enfrentará oposição: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3.12). A perseguição pode vir de várias frentes e de várias formas.

   No contexto do livro de Atos, podemos observar que a igreja quase sempre enfrentava oposição e perseguição. Os apóstolos tiveram que conviver com a perseguição em vários momentos. Em um primeiro momento, essa perseguição vem por parte do judaísmo, que enxergava a nova fé como sendo um movimento periférico. O texto lido de Atos 5.17-29 faz referência aos sacerdotes judeus, da seita dos saduceus, e o capitão do Templo como aqueles que comandaram aquela perseguição. Em um segundo momento, a perseguição vinha do poder estatal.

   O que podemos ver nesse primeiro momento da história da igreja de Jerusalém é uma perseguição que acontece mais na esfera religiosa, em que o impressionante crescimento da igreja despertou inveja por parte do judaísmo: “E, levantando-se o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele (e eram eles da seita dos saduceus), encheram-se de inveja, e lançaram mão dos apóstolos, e os puseram na prisão pública” (At 5.17,18). Garland destaca:

   O conluio dos sumos sacerdotes saduceus forma o núcleo da oposição aos cristãos em Jerusalém. Uma vez que ninguém tem inveja de uma pessoa inferior, a inveja dos líderes, por ironia, reconhece a superioridade dos apóstolos. Manter Pedro e João presos de um dia para o outro é uma tentativa de desacreditá-los diante do povo. Se esses líderes não houvessem tentado enganar o povo, ainda mais gente teria atendido ao evangelho. São cegos que guiam cegos para um abismo sem fundo (Lc 6.39).10 11

   Esse consórcio religioso para prender os apóstolos, evidentemente motivado por um zelo religioso cego, inveja e ciúmes, mostra o lado sombrio da perseguição a qual a primeira Igreja estava sujeita. Em Atos, observamos como esse ciclo repetia-se com regularidade. Os cristãos, especialmente o testemunho dos apóstolos nesse primeiro momento, reflete essas idas e vindas.

   Crisóstomo, comentando Atos 5.17, observa que:

   Desânimo e alegria estão interligados. Observe como toda a vida dos apóstolos é tecida a partir de coisas que são contrárias umas às outras. Assim, em primeiro lugar, o desânimo vem sobre eles por causa da separação do Senhor; depois, a alegria da descida do Espírito; novamente desânimo daqueles que os ridicularizaram; e depois a alegria pelos fiéis e pelo milagre. De novo o desânimo com a prisão e de novo a alegria com a defesa. De novo a tristeza e a alegria. Alegria, porque estavam radiantes e Deus se manifestava neles; tristeza, porque estavam matando os seus. De novo a alegria, por causa da magnificência; e de novo a tristeza, por causa dos príncipes dos sacerdotes. E isto vê-se no que se pode observar: quer se olhe para os antigos, quer para os atuais.11

   Destacamos que, em um primeiro momento, a perseguição à igreja dá-se na esfera religiosa, isto é, as autoridades do antigo judaísmo, motivados pela inveja, perseguem os apóstolos. Em um segundo momento, vemos a perseguição acontecendo na esfera esta tal, motivada pelo poder político. Nos primeiros capítulos de Atos, ainda não temos uma perseguição organizada sistematicamente pelo Estado, o que viria acontecer mais tarde. Já no capítulo 12 de Atos, contudo, vemos o braço do Estado estendendo-se para alcançar a igreja.

  “Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja para os maltratar; e matou à espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isso agradara aos judeus, continuou, mandando prender também a Pedro. E eram os dias dos asmos” (At 12.1-3). David Garland observa que o Herodes citado nessa passagem era Herodes Agripa I, que era neto de Herodes, o Grande, e filho de Aristóbulo IV e Berenice. Possuía muita influência política, visto ter sido criado em Roma e ter feito amigos influentes que posteriormente se tornaram imperadores, como Gaio Calígula (37~47 d.C.) e Cláudio (41-53 d.C.). Ele era irmão de Herodias e ganhou do imperador Cláudio o título de “rei”. Ele mandou decapitar Tiago, filho de Zebedeu. Querendo obter o apoio das autoridades judaicas, prendeu o apóstolo Pedro tencionando executá-lo.

   Garland observa que:

  Agripa I desejava cultivar o favor das autoridades judaicas, que provavelmente chamaram sua atenção para os apóstolos cristãos e o instigaram a persegui-los. Como elas receberam bem a decapitação de Tiago, Agripa I imaginou que houvesse encontrado um meio de aumentar seu apoio e planejou dar o mesmo fim a Pedro. Lucas não narra o que levou o povo a mudar sua atitude em relação aos discípulos em Jerusalém. É possível que o termo “judeus” (cf. 12.11) se refira à liderança religiosa e a seus partidários, e não ao povo de modo geral. Pode se supor que sua hostilidade nasceu de uma combinação da pregação revolucionária dos cristãos a respeito de Jesus como Senhor ressurreto e do fato de conquistarem convertidos, uma ameaça política à instituição religiosa.12

   Como podemos observar, Tiago foi executado, e Pedro estava preso aguardando a mesma sentença. Sabemos que Deus é soberano e, assim como libertou os apóstolos da prisão em Atos 4, também podería fazer novamente aqui com Tiago. Não há nada no texto bíblico que indique por que isso não aconteceu. O fato destacado na narrativa lucana é que a igreja, vendo um dos seus líderes ser executado, despertou para orar pelo outro que estava encarcerado esperando o mesmo fim. A expressão “a igreja fazia contínua oração por ele a Deus” tem um peso enorme no enredo dessa história. De outra forma, não teria sentido Lucas destacar esse detalhe. Ele queria chamar a atenção para o poder da oração da Igreja ao interceder pelo apóstolo Pedro. “Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus” (At 12.5). Lendo essa narrativa, é possível destacarmos alguns princípios que governam a oração em Atos 12.1-19.

  l . A oração libera o sobrenatural de Deus. “E eis que sobre veio o anjo do Senhor, e resplandeceu uma luz na prisão; e, tocando a Pedro no lado, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa! E caíram-lhe das mãos as cadeias” (At 12.7a). A primeira coisa que vemos nesse registro é a intervenção de um anjo no aprisionamento do apóstolo Pedro. Os anjos são seres espirituais e, portanto, sobrenaturais. De acordo com o registro bíblico, trabalham a serviço do povo de Deus (Hb 1.14). Na oração, não apenas temos a manifestação do sobrenatural, mas também o céu trabalhando a nosso favor! Quando oramos, pisamos em solo sagrado e abrimo-nos ao sobrenatural de Deus. Devemos pontuar — quer haja a aparição de um anjo, quer não — que a oração já é sobrenatural por sua própria natureza.

   2. A oração quebra os grilhões. “E caíram-lhe das mãos as cadeias” (At 12.7b). Aqui vemos as cadeias, grilhões, sendo quebra das das mãos de Pedro. Isso foi um fato. Não há dúvida de que um dos princípios que governam a oração é a sua capacidade de produzir livramento. A quebra de corrente pode acontecer de forma literal como aqui; contudo, o princípio da libertação engloba todo tipo de livramento e libertação. Deus liberta dos grilhões do álcool, do cativeiro das drogas, do vício sexual e de todo e qualquer tipo de vício e escravidão.

   3. A oração faz com que coisas que parecem difíceis e impossíveis tornem-se fáceis e possíveis. “[...] a qual se lhes abriu por si mesma” (At 12.10). Nenhuma porta fechada abre-se por si mesma! É assim que diz nossa mente racional. A oração desafia a lógica matemática e as leis da física. Nada é impossível para Deus (Lc 1.37). Se orarmos, veremos coisas que pareciam impossíveis de acontecer acontecendo. Quando acharmos que chegou o fim da linha, oremos! Na verdade, com a oração, o fim pode tornar-se um novo começo!

  4. A oração impede que nos tornemos trunfos do inimigo. “E Pedro, tornando a si, disse: [...] o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de tudo o que o povo dos judeus esperava” (At 12.11). Herodes e os judeus incrédulos esperavam que Pedro fosse executado. Havia uma grande expectativa para isso. Pedro era um dos apóstolos mais em evidência. Havia sido ele o primeiro pregador pentecostal a orar de uma só vez por quase três mil almas (At 2.41). Foi ele também quem orou pelo coxo de nascença, que foi curado (At 3.6-9). Até mesmo a sombra de Pedro curava (At 5.15). A morte de Pedro, sem dúvida, era um troféu para os seus inimigos e, com certeza, também para o Diabo. Deus, contudo, livrou-o pode rosamente ao ouvir a oração da igreja.

   5. A oração produz grande alegria. “E, conhecendo a voz de Pedro, de alegria não abriu a porta, mas, correndo para dentro, anunciou que Pedro estava à porta” (At 12.14). Uma criada de nome Rode ficou tão alegre quando riu Pedro que nem mesmo o deixou entrar! Ficou extasiada com a presença do apóstolo por quem ela e a igreja de Jerusalém oravam. A oração tem este mérito: enche nosso coração de alegria com as suas respostas.

   6. A oração pode dar um fim diferente à nossa história. “E, quando Herodes o procurou e o não achou, feita inquirição aos guardas, mandou-os justiçar. E, partindo da Judeia para Cesareia, ficou aü” (At 12.19). Os intérpretes dizem que a expressão “mando-os justiçar” tem o sentido de “mandou executá-los”. Herodes mandou matar os guardas responsáveis pela guarda de Pedro. Ele responsabi- lizou-os pela sua fuga. Na verdade, o que ele não sabia é que Pedro foi liberto por um anjo do Senhor (SI 34.7). O fato aqui é que, se a igreja não tivesse orado pela libertação de Pedro, ele fatalmente teria sido executado. Não teria sentido Lucas por ênfase na sua narrativa que a igreja orava por Pedro (At 12.5) se a oração não tivesse um papel crucial na sua libertação. Sem a oração da igreja, a história podería ter tido outro fim. A igreja orou, e Deus interveio! Quantas pessoas poderíam ter um fim diferente para as suas histórias se se dedicassem mais à oração.1

   A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições

José Gonçalves

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