quinta-feira, 22 de maio de 2025

CPAD : E o Verbo se fez carne — Lição 8: Uma lição de humildade

 


TEXTO ÁUREO

Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.

(Jo 13.15).

VERDADE PRÁTICA

A submissão e o serviço são características de maturidade e grandeza no percurso do crescimento espiritual do cristão.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

João 13.1-10.

1 — Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.

2 — E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse,

3 — Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus, e que ia para Deus,

4 — levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se.

5 — Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.

6 — Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?

7 — Respondeu Jesus e disse-lhe: O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois.

8 — Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.

9 — Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.

10 — Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos.

PLANO DE AULA

1. INTRODUÇÃO

O tema do nosso estudo é a humildade. Meditaremos sobre um texto bíblico que narra um momento profundo e impactante do ministério de Jesus: ao lavar os pés dos discípulos. Ele nos ensina que a verdadeira grandeza do cristão está no serviço humilde. Os três tópicos desta lição abordarão 1) o exemplo prático e histórico de humildade dado por Cristo; 2) fará a relação entre humildade e autoconhecimento, reconhecendo os próprios limites; 3) promoverá um contraste entre humildade e ostentação. Essa lição nos encoraja a refletir sobre como essa mensagem desafia nossa postura diante de Deus e do próximo, preparando os nossos corações para aprender e aplicar esse exemplo em nossas próprias vidas.

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição: I) Abordar o exemplo prático e histórico de humildade dado por Cristo; II) Correlacionar a humildade com o autoconhecimento; III) Promover contraste entre humildade e ostentação.

B) Motivação: A ação de Jesus ao lavar os pés dos discípulos demonstra que a humildade não é sinal de fraqueza, mas sim uma virtude capaz de transformar vidas. Este ensinamento questiona os padrões de orgulho e ostentação da sociedade contemporânea, convidando-nos a reconhecer os nossos próprios limites enquanto valorizamos o serviço altruísta. Devemos perceber a humildade como um traço fundamental do caráter cristão, espelhando o exemplo de Cristo nas suas interações diárias.

C) Sugestão de Método: Para finalizar a aula e consolidar o aprendizado sobre “Uma Lição de Humildade”, proponha a seguinte atividade: distribua um pedaço de papel a cada aluno e solicite que escrevam acerca de uma atitude humilde que tenham observado ou praticado recentemente. Recolha e leia algumas de forma anônima, relacionando-as com a atitude de Jesus ao lavar os pés dos seus discípulos em João 13.1-10. Aproveite este momento para exemplificar os temas da lição, ressaltando o caso histórico de humildade (Tópico I), a influência do autoconhecimento na construção de um caráter humilde (Tópico II) e a comparação da humildade com a ostentação (Tópico III). Conclua a aula estimulando que eles integrem a humildade nas suas rotinas diárias, favorecendo uma aplicação prática da mensagem assimilada.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: O exemplo de Jesus é um chamado para demonstrarmos humildade em nossas atitudes diárias, seja servindo ao próximo, seja renunciando ao orgulho. Ele nos ensina que a verdadeira grandeza está em viver para servir, refletindo o caráter de Cristo em todos os nossos relacionamentos. Essa prática reforça o testemunho cristão e aumenta a influência da igreja na sociedade.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 101, p.40, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto “Lavar os Pés aos Discípulos”, localizado após o primeiro tópico, apresenta uma contextualização do episódio do Lava-Pés; 2) No final do terceiro tópico, o texto “O Serviço Amoroso” mostra uma reflexão significativa a respeito da perspectiva do serviço humilde.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Nesta lição, iremos analisar a narrativa do capítulo 13 do Evangelho de João. Este episódio bíblico retrata o ato de Jesus conhecido como “Lava-Pés”, onde Ele ensina, através do seu exemplo, a relevância da humildade para aqueles que o seguem. Este capítulo oferece-nos uma valiosa lição sobre a humildade na vida cristã. A partir do exemplo de Jesus, somos convidados a servir o próximo de forma humilde.

Palavra-Chave:

HUMILDADE

AUXÍLIO TEOLÓGICO

 “LAVAR OS PÉS AOS DISCÍPULOS

Esse ato dramático de lavar pés, geralmente realizado por servos, ocorreu na última noite da vida de Jesus na terra. Jesus fez isso (1) para demonstrar aos seus discípulos o quanto Ele os amava; (2) para prenunciar (isto é, prever simbolicamente) o seu sacrifício voluntário na cruz; e (3) para transmitir a verdade de que aqueles que o seguem devem servir, humildemente, uns aos outros. O desejo de ser grande atormentava continuamente os discípulos (Mt 18.1-4; 20.20-27; Mc 9.33-37; Lc 9.46-48). Cristo queria que eles percebessem que o desejo de ser o primeiro — ser superior e honrado acima dos outros — é exatamente o oposto da atitude dele. Jesus desejava que seus discípulos imitassem sua maneira (veja Lc 22.24-30, nota; Jo 13.12-17; 1Pe 5.5).

   [...] A igreja primitiva parece ter seguido o exemplo de Jesus e, literalmente, obedecido seu mandamento de humildemente lavar os pés uns dos outros. Por exemplo, em 1Tm 5.10, Paulo declara que as viúvas só poderiam receber um cuidado especial por parte da igreja caso se qualificassem de acordo com determinados padrões e ações. Um desses atos era ‘lavar os pés dos santos’. As bênçãos de Deus sempre dependem de colocarmos a sua Palavra em prática (v.17)” (Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp.1880,1881).

AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

 “Tendo lavado os pés dos discípulos e vestido a sua túnica, Jesus, estando à mesa, outra vez perguntou aos discípulos: Entendeis o que vos tenho feito? (12) MacGregor comenta: ‘Quando ‘veste a sua túnica’, Jesus assume a sua vida novamente (10.17ss.) no poder do Espírito, e assim esclarece todas as coisas’ (7). Sem esperar por uma resposta, Jesus explicou que isto tinha sido um exemplo (15), ou modelo, ‘que estimula ou deve estimular alguém a imitá-lo’. Da mesma forma que Ele, seu Mestre (literalmente, ‘Ensinador’) e Senhor, lhes tinha feito, assim deveriam fazer uns aos outros (13,14; cf. 34). Hoskyns diz: ‘Seu ato de lavar os pés dos discípulos expressa a própria essência da autoridade cristã’. Não parece haver qualquer evidência de que Jesus quisesse que a lavagem dos pés fosse instituída como um sacramento. Mas fica claro que Ele estava ensinando, pelo exemplo básico e axiomático, embora paradoxal, que a única maneira de ser ‘o maior’ (Lc 22.24) ou de ser bem-aventurado (17) é tomar a estrada do serviço amoroso (13.34) e do sacrifício (10.15), baseado no conhecimento da vontade de Deus para nós. A palavra traduzida como bem-aventurado no texto das Beatitudes é makarioi (Mt 5.3-12)” (Comentário Bíblico Beacon. Volume 7. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.117).

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

UMA LIÇÃO DE HUMILDADE

Nesta lição, veremos que o Senhor Jesus é o nosso maior exemplo de humildade e mansidão. Na ocasião em que reuniu Seus discípulos para última Ceia antes da Sua prisão, Jesus se despiu e realizou um ato de serviço semelhante ao realizado pelos escravos na casa de seus senhores: o ato de levar os pés (Jo 13.1-10). O Mestre quis ensinar de modo prático a Seus discípulos que a atitude de humildade deve ser um comportamento marcante na vida daquele que serve a Deus.

  Este ensino de Cristo contrasta com a ideia humana e secularizada de que os maiores são aqueles que dominam e subjugam os que são desprovidos de poder. O objetivo do Mestre não era desqualificar as autoridades constituídas, mas revelar a natureza do Reino de Deus, a saber: um Reino em que prevalece a justiça, a misericórdia e o amor (Sl 11.7; 89.14; 1Co 13.13). Diferente do governo humano, o Reino de Deus destaca que aqueles que querem se fazer grandes devem ser humildes e demonstrar continuamente um espírito de serviço. O apóstolo Paulo endossa esse ensinamento aos filipenses e exorta para que haja nos crentes o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2.5-10).

  Na obra Comentário Devocional da Bíblia (CPAD), o autor discorre que “a nossa fé cristã está cheia de paradoxos. Este é o mais poderoso. Como Cristo se humilhou, Deus o exaltou. O caminho para o alto é, na realidade, para baixo. A chave para a liderança é servir. Os maiores entre nós são os servos de todos. Este é um paradoxo, mas também é uma realidade. Nós, que escolhemos a humildade agora, seremos exaltados, e estaremos acima dos orgulhosos. Nós, que nos entregamos aos outros, vamos lucrar. Nós, que perdemos a nossa vida, a encontraremos melhorada e verdadeira. Não há outra maneira de ser bem-sucedido na vida cristã que não seja andar pelo caminho que Jesus andou” (2012, p.869).

Nesse sentido, o exemplo de Cristo nos aponta qual deve ser a nossa postura diante da arrogância, da soberba e da vaidade. Como servos de Deus, chamados para pregar o genuíno Evangelho da graça, praticar a humildade e o altruísmo não se trata de uma performance que devemos adotar para mostrar uma religiosidade aparente. Antes, devemos pedir a Cristo que transforme nosso coração de tal maneira que servir seja um ato prazeroso. A nossa motivação deve ser ver o nome do Senhor engrandecido (1Pe 4.11). Que nossa postura seja a mesma de João Batista: “Que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).

CONCLUSÃO

Nesta lição, abordamos a relevância da virtude da humildade para um melhor autoconhecimento. Deste modo, começamos a perceber os nossos limites e aquilo que nos diz respeito ou não. Compreendemos que a humildade se opõe a uma cultura de ostentação, à busca desenfreada pela fama e a outros objetivos que nada têm a ver com a simplicidade do Evangelho. Dessa forma, podemos seguir o caminho humilde do nosso Senhor.

CPAD : E o Verbo se fez carne — Jesus sob o olhar do Apóstolo do amor

Comentarista: Elienai Cabral

Lição 8: Uma lição de humildade

 


Capítulo 8

Uma Lição de Humildade

"Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vés também."

João 13.15

João 13.1-10

1-Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.

2- E acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traisse,

3- Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saldo de Deus, e que ia para Deus,

4- levantou-se da ceva, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se.

5- Depois, pós água numa bacia e começou a lavar os pés aos

discipulos e enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido

6- Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que the disse: Senhor, t lavas-me os pés a mim?

7- Respondeu-lhe e disse-lhe: O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois.

8-Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-the Jesus: Se eu te não lavar , não tens parte comigo

9- Disse-lhe Pedro : Senhor, não só os meus pés, mas também as

mãos e a cabeça,

10- Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos.

   Introdução

P

ara que entendamos os ensinamentos de Jesus no capítulo 13 do Evangelho de João, precisamos fazer uma retros pectiva dos capítulos 11 e 12.

   1. A prévia de preparação para o enfrentamento da sua missão redentora

  Ainda no capitulo 11.55,56 do Evangelho de João, a Festa da Páscoa aproximava-se. Então, Jesus vai a Betânia, à casa de seu amigo Lázaro, agora ressurreto. No capítulo 11, o Sinédrio dos judeus se reuniu para decidir o que fazer com Jesus de Nazaré (11.47). Os membros do Sinedrio, constituido por sacerdotes, escribas e outros religiosos da elite, perguntavam-se: "O que faremos?". No versículo 48, a preocupação daqueles religiosos fez com que chegassem ao consenso que "Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação". Então, decidiram encontrá-lo, prende-lo e matá-lo (11.57). Mas Jesus, cuidadosamente, retirou-se para Betania e continuou operando milagres e curas no meio daquele povo

  2. A unção que precedeu a morte de Jesus

  No capitulo 12. Jesus aceitou um jantar oferecido na casa de Maria, Marta e Lázaro. Na casa de seus amigos aconteceu algo inusitado: Maria tinha guardado um alabastro de nardo puro equivalente a "uma libra", que era o peso de 327 gramas. Era um perfume caríssimo derivado de uma erva aromática que crescia nos campos do Himalaia, entre o

  Tibete e a India. Maria amava Jesus como o seu salvador e Senhor, por isso tomou esse vaso de alabastro e o derramou sobre os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos. O cheiro desse perfume encheu a casa inteira (Jo 12.3). Não devemos confundir Maria, irmă de Lázaro, com a mulher pecadora, em outra ceia acontecida na casa de Simão, que era leproso. Nessa ceia da casa do publicano, a pecadora derramava lágrimas sobre os pés de Jesus e, com devoção, enxugava os pés do Filho de Deus com os seus cabelos.

  3. Jesus é declarado Rei andando sobre um jumentinho em Jerusalém

  Após a cela na casa de Lázaro, no dia seguinte Jo 12.12-19). Jesus resolve voltar para Jerusalém, mas foi surpreendido com uma multidão que queria ouvi-lo e presenciar outros milagres. Deparou-se com uma multidão de admiradores e curiosos, que tomaram folhas de palmeiras e lançaram diante dEle clamando: "Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor!" (12.13). Jesus encontrou um jumentinho e assentou-se sobre ele, conforme a profecia de Zacarias 9.9, que diz: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, pobre e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta". Ao entrar desse modo em Jerusalém, Jesus declarou ser o Messias e o Salvador que estava pronto para enfrentar os seus. No Evangelho de João 12.28, enquanto Jesus orava ao Pai Celestial, "veio do céu uma voz que dizia: Já o tenho glorificado e outra vez o glorificarei". A multidão ouviu a voz, mas não a compreendeu. Então, Jesus disse a todos "Porque eu não tenho falado de mim mesmo, mas o Pai que me enviou" (Jo 12.49).

  4. Jesus Resolve Fazer uma Ceia Especial com os Discipulos

  Depois desses acontecimentos, Jesus sabía que a Festa da Páscoa estava se aproximando, então resolveu antecipá-la fazendo uma ceia com os seus discipulos no capítulo 13, do Evangelho de João.

  Jesus reúne seus discípulos na cria e exemplifica sua humildade fazendo o trabalho de um serviçal da casa onde estavam reunidos. Quando Jesus fez a última ceia pascal com seus discípulos, a narrativa indica que a Festa da Páscoa estava próxima (Jo 13.1). Foi nessa ceia que Jesus instituiu um novo ensinamento para a Santa Ceia ou a Ceia do Senhor, que a igreja realiza até os dias de hoje. Jesus quebra o protocolo daquela ceia, dando-lhe um significado particular. Para instruir sobre a humildade, o Filho de Deus, não apenas emite conceitos morais e filosóficos, mas torna-se um exemplo vivo e prático de humildade com uma atitude. Ele aproveita um costume tradicional das pessoas do seu tempo e demonstra como aqueles homens deveriam agir na expansão da igreja no mundo.

  I- Jesus, o Mestre Cria uma História Real

  1. O enredo da história (Jo 13.1-4)

  Antes de tudo, Jesus tinha interesse em fazer uma ceia com seus discipulos para terem momentos de comunhão e companheirismo. Os discípulos sabiam que alguma coisa aconteceria no futuro do seu Mestre. Jesus sabia, também, que já era chegada a sua hora de fazer o grande sacrificio por toda a humanidade. Aquela ceia era a oportunidade que Jesus tinha, não só para comungar com seus discipulos, mas de, essencialmente, ensinar-lhes algo novo e indispensável antes da Paixão.

  Depois da mesa posta para todos e todos os discípulos se assentarem para comer, de repente, Jesus, o Mestre dos mestres, tomou uma bacia com água e uma toalha, alçou as pontas de sua túnica e amarrou-as na cintura. Tomou as mangas compridas e largas, típicas das túnicas daqueles tempos, amarrou-as por trás do pescoço, esse era o modo de um servo da casa "cingir-se" para trabalhar, tendo mãos e pernas livres para os afazeres, e lavou os pés dos discípulos. O costume do "lava-pés", nos tempos bíblicos, fazia parte do tratamento dispensado aos convidados do senhor de uma casa. Ao chegar à casa onde fariam a ceía da Páscoa, Jesus não encontrou nenhum servo daquela casa para lavar os pés dos convidados. Toda ação pública de Jesus era feita de modo inteligente para transmitir alguma lição de vida. Outrossim, o dono daquela casa a cedeu apenas para que Jesus fizesse a cela desejada, visto que era o epicentro daquele momento, Ele reuniu apenas seus discipulos para cearem juntos. Nesse episódio, Jesus aproveita para dar o maior exemplo de humildade ao lavar os pés dos seus discipulos, que estavam pasmados sem entender aquela atitude do seu Mestre.

  2. Jesus quebra o paradigma de uma tradição judaica (Jo 13.4,5)

   Jesus sai do cenário público das multidões se aglomerando em torno dEle, sempre querendo mais algum milagre, e olha para os seus discipulos e dedica algum tempo a mais preparando-os para o que viria à frente. Depois de uma caminhada a pé pelas estradas poeirentas entre Betânia e Jerusalém, que eram aproximadamente 15 quilómetros com subidas e descidas, Jesus chega à casa em que realizaria a ceia com seus discipulos. Naturalmente, as sandálias de couro usadas propiciavam a sujeira, o ressecamento e as calosidades nos pés. Em determinado momento, Jesus interrompe a ceia para espanto de todos, a fim de en-sinar-lhes que o caminho da conquista do Reino de Deus é palmilhado com humildade (Jo 13.5). Ele ensinou que a humildade é a verdadeira expressão da grandeza de espírito de uma pessoa. Jesus exemplificou a atitude humilde em seu cotidiano. O cristianismo só teria sucesso e alcançaria o seu objetivo se os valores deixados por Jesus fossem vividos por seus seguidores. Por isso, a humildade não pode ser mera demonstração exterior, mas precisa ser interiorizada no coração e na mente dos verdadeiros servos de Deus.

  II - A Humildade Implica Assumir um Estado de Ser (Jo 13.3)

  "Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus, e que ia para Deus." (Jo 13.3).

   1. Jesus conhecia a própria natureza

  Jesus tinha consciência do seu papel e da sua importância como Senhor e Mestre. Ele inverteu o seu papel de Senhor para agir como simples serviçal, a fim de ensinar a lição aos seus discípulos. Ele sabia o que queria e o que estava fazendo. Para que aqueles homens entendessem a filosofia do Reino de Deus, Jesus sabia que precisariam mudar os seus valores pessoais. Nossa natureza humana tem o estigma do pecado da presunção, e, por isso, temos dificuldades em abaixar a cabeça e nos humilhar. Preferimos nos impor para provar que temos poder. Preferimos olhar de cima para baixo, nunca de baixo para cima. Preferimos as coisas altas.  Preferimos os picos mais altos da vida porque é próprio do ego humano. Jesus ensina, no ato de "lavar os pés" dos seus discipulos, que Ele, sendo Mestre e Senhor, sabia se humilhar como homem, mesmo não precisando provar que era humilde. Os discipulos não teriam dificuldade alguma para lavar os pés do seu Mestre, mas teriam problemas para lavar os pés uns dos outros, Jesus, com uma atitude não só humilde, mas também decisiva, prosseguiu em lavar os pés dos discípulos. Os discipulos ficaram em choque porque não conseguíam entender o que Jesus queria ensinar. Por essa razão, Ele declarou: "O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois" Jo 13.7). A lição a ser aprendida era do serviço desinteressado que foi visto na morte de Jesus na cruz. Naquela casa, com uma bacia de água em sua frente, Jesus apenas dá o exemplo (Jo 13.15).

  2. Jesus simplesmente deu o exemplo (Jo 13.15)

  Jesus não precisava provar que era humilde, mas Ele deu o exemplo. O ato de lavar os pés dos discipulos deixou-os envergonhados. Alguns ficaram em silêncio, sem entender, Pedro, um dos mais temperamentais, ficou indignado com o fato de Jesus humilhar-se para lavar os seus pés Jo 13.6). Pedro reagiu porque entendia que o Senhor Jesus não podia estar disposto a fazer o trabalho de um servo. Pedro disse ao Senhor, quando chegou a sua vez, que Ele nunca lavaria os seus pés. Jesus respondeu-lhe: "O eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois (Jo 13.7). Pedro disse ao Senhor: "Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça" (13.9). O que Jesus queria que Pedro e os demais discipulos soubessem era que Ele havia assumido o papel de "servo" para fazer a vontade do Pai. Jesus disse em outra ocasião: "não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou" (5.30). Pedro precisava entender que, sem uma obra completa de limpeza e humilhação, aqueles discipulos não conseguiriam fazer a obra de Deus. Sendo Jesus o Verbo Divino, Ele se fez carne para identificar-se conosco. Temos dificuldades para servir e nos sujeitar aos outros porque temos medo da rejeição. Por nossa indole pecaminosa, temos receio de que as pessoas se tornem superiores a nós. A insubmissão tem a ver com o medo e a insegurança. O nosso ego é insubmisso e rebelde, não se submete a nada e ninguém. Às vezes, quando dominados por um sentimento de inferioridade, fazemos de tudo para não nos sentirmos rebaixados. Mas Jesus sabia de onde vinha; Ele conhecia sua procedência e o que realmente importava.

  3. O caminho da vitória da vida é ser livre e humilde

  Em certa ocasião, Jesus percebeu entre os discipulos uma discussão sobre quem era o maior entre eles e disse aqueles homens:

  E Ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vös assim; antes, o maior entre vós seja como o menor, e quem governa, como quem serve. Pois qual é maior quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve. (Le 22.25-27)

  O princípio básico contra a arrogância do espirito humano é assimilar a ideia de que o maior deve ser o primeiro a servir. A pessoa humilde nunca se sobrepõe porque, antes de tudo, a humildade é um estado de ser.

   III - A Humildade Vem Despida de Ostentação (Jo 13.4)

  1. "Levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se" (v. 4)

  A palavra cingiu-se não é um termo moderno. Na Biblia versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) encontramos a palavra "cingiu-se". Na Biblia Nova Versão Internacional NVI está escrito que Cristo "levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura", que é o equivalente ao ato de cingir-se. Na Biblia Almeida Revista e Atualizada (ARA) está escrito que "levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela". O ato de tirar "as vestes de cima do corpo" significava dispor-se para trabalhar. Porém, subentende-se melhor que o ato de cingir-se com uma toalha implicava estar com as pernas e braços livres para fazer o trabalho. Era o exemplo que Jesus queria dar aos seus discípulos e o fez de modo nítido. Ele não teve qualquer constrangimento em estar com as pernas e com os braços livres para abaixar-se e lavar os pés dos discípulos. Era, de fato, um gesto pessoal de humildade, feito pelo Reis dos reis e Senhor dos senhores.

  2. Uma disputa calada de poder da parte dos discipulos (Jo 13.15-17)

  Jesus havia percebido que estava havendo entre os discipulos uma disputa de poder, de proeminência, de liderança, de chefia, como Marcos narrou em seu Evangelho (9.34). Aqueles discípulos já se preocupavam sobre quem assumiria o comando do grupo depois da morte de Jesus. Nesse estado de espírito, cada discipulo esperava que o outro fizesse o serviço menor e, por isso mesmo, nenhum deles se dispós a fazer o serviço de lavar os pés dos outros. Como futuros lideres da igreja não podiam começar erradamente. A igreja seria dinamizada não pela ostentação. de alguns e a presunção de outros, mas, sim, pelos comportamentos contrários ao sistema mundano. A igreja teria que ser cimentada na humildade, no serviço, no amor ao próximo e no respeito ás pessoas.

  Na verdade, Jesus interrompeu aquela disputa de poder dos discipulos e assumiu a postura de inferioridade de um serviçal da casa. Foi uma ação na mudez de palavras que significou um grito na consciência dos discípulos. Depois disso tudo, Jesus lhes disse: "Vos me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros" (Jo 13.13,14).

  3. A humildade se apresenta cingida (Jo 13.4)

  Mais uma vez, voltamos à palavra "cingir", que significa, primordialmente, "estar à volta"; circundar, prender ou ligar em volta. Neste ponto, aprendemos que a humildade rejeita a presunção humana. O paradigma do Reino que Cristo deixou como sinal não é a imponência, mas a humildade; não é a supremacia, mas a submissão; não é a conquista de posição, mas o serviço; não é a exaltação, mas a humilhação; não é a sofisticação, mas a simplicidade; não é a superação do outro, mas o amor ao próximo.   A igreja não pode entrar no jogo de competição para ver quem é mais, quem tem mais, quem faz mais. A dignidade não está em quem oferta mais, e sim em quem "serve mais", sem ter o foco em quem foi abençoado. O verdadeiro crente é alguém pronto para servir a Deus e à igreja do Senhor. O que Jesus quis ensinar quando lavou os pés dos discipulos é que a exaltação maior no Reino de Deus está no servir e nunca esperar pelo outro para servir, e servir com alegria.

  4. A humildade não tem preconceitos (Jo 13.13,14)

  Na experiência humana, a humildade é interpretada como uma virtude frágil que diminui o ser humano, que tira o brilho das pessoas, ou que reduz uma pessoa a ter um sentimento de fraqueza e de inferioridade. A Biblia declara que Jesus veio a este mundo para desfazer as obras do Diabo e resgatar os valores morais perdidos. Para esse resgate, foi a humildade de Jesus que tornou possivel a manifestação da graça de Deus, sem fazer distinção de classe social, de raça ou de lingua. Ele submeteu-se ao vitupério do Calvário. Foi cuspido e ferido, mas foi capaz de suportar a afronta da cruz para conquistar a glória da liber tação dos filhos de Deus.

  Os verdadeiros discípulos de Jesus não podem evitar o caminho da resignação. O nosso ego precisa ser subjugado ao Espirito Santo; o orgulho precisa ser desmascarado; a soberba precisa perder a pose e a presunção deve cair por terra e dar lugar ao espírito humilde. A humildade nunca se assenta; está sempre de pé. A humildade crista é aquela que leva as cargas dos outros, como Paulo ensinou em Gálatas 6.2: "Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo".

  Conclusão

  O apóstolo Paulo escreveu aos Filipenses (2.5-8) e disse o seguinte: "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz". Na verdade, Jesus redefiniu o padrão de grandeza no Reino de Deus, dizendo: O maior é o que primeiro serve (Lc 22.24-27).

  "Serviço e submissão são atributos de maturidade e grandeza no discipulado cristão."

  E O VERBO SE FEZ CARNE






















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