segunda-feira, 10 de março de 2025

CPAD : Em defesa da Fé Cristã — Lição 12: A Igreja tem uma natureza organizacional



TEXTO ÁUREO

Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei.

(Tt 1.5).

VERDADE PRÁTICA

A Igreja é um organismo vivo de natureza espiritual e, ao mesmo tempo, uma organização.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Tito 1.1-9.

1 — Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus e o conhecimento da verdade, que é segundo a piedade,

2 — em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos,

3 — mas, a seu tempo, manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador,

4 — a Tito, meu verdadeiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador.

5 — Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei:

6 — aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes.

7 — Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância;

8 — mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante,

9 — retendo firme afiei palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contradizentes.

PLANO DE AULA

1. INTRODUÇÃO

Nesta lição, estudaremos a perspectiva bíblica a respeito da natureza orgânica e organizacional da Igreja de Cristo. Esta é, ao mesmo tempo, um organismo vivo e uma organização constituída de múltiplos ministérios a fim de que a causa do Reino de Deus seja atendida. Por isso, a partir do ensino bíblico a respeito da natureza da Igreja, teremos a oportunidade de refletir sobre o contexto atual que muitos procuram negar a natureza organizacional do Corpo de Cristo como se houvesse uma impossibilidade de conjugar organismo e organização.

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição: I) Analisar a atuação pastoral de Tito na Ilha de Creta; II) Reconhecer a institucionalidade bíblica da Igreja; III) Dialogar com a realidade atual a partir do texto bíblico.

B) Motivação: A Igreja é uma instituição divina, criada por Deus e edificada por Cristo para ser um testemunho vivo do Reino de Deus dentro deste mundo. Por isso, essa instituição torna-se tanto orgânica quanto organizacional. Sua origem não é deste mundo, mas sua atuação se encontra exatamente neste mundo.

C) Sugestão de Método: Para introduzir a aula desta semana, inicie perguntando o que a classe entende sobre organismo e organização. Ouça as respostas com atenção e, em seguida, pergunte se é possível haver conciliação entre organismo e organização. Pergunte também se o organismo anula a organização ou se a organização anula o organismo. Após consolidar essa pequena atividade reflexiva, anuncie que a lição desta semana tem como propósito correlacionar, do ponto de vista bíblico, o equilíbrio entre organismo e organização na Igreja de Cristo.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: Organismo e organização não são excludentes em si. Como membros da Igreja de Cristo, devemos o equilíbrio bíblico de ser uma igreja orgânica e viva de modo que a sua organização honre a Bíblia e a natureza do Reino de Deus.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 100, p.42, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto “Ordem na igreja em Creta”, logo após o primeiro tópico, destaca a importância da organização e da disciplina na Igreja; 2) O texto “A Ida de Tito para Creta”, ao final do segundo tópico, aborda a importância de uma boa liderança.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

A Bíblia apresenta a Igreja como corpo espiritual de Cristo, um organismo vivo com suas reuniões em torno do Senhor Jesus e suas ordenanças. Por outro lado, é também uma organização, congregação ou assembleia, com sua forma de governo. A presente lição pretende mostrar a natureza organizacional da Igreja.

Palavra-Chave:

ORGANIZAÇÃO

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

ORDEM NA IGREJA EM CRETA

 A carta de Paulo a Tito é breve, porém é um vínculo importante no processo de discipulado, ajudando um jovem a tornar-se um líder da igreja. Ao ler esta carta pastoral, você aumentará seu conhecimento em relação à organização e à vida da Igreja Primitiva, e encontrará princípios para estruturar as igrejas contemporâneas. Mas aprenderá também como ser um líder cristão responsável. [...]

 

Paulo exige ordem na igreja e um viver correto em uma ilha conhecida pela preguiça, glutonaria, mentira e maldade. Os cristãos devem ser autodisciplinados como indivíduos e devem ser ordeiros como pessoas que formam um corpo, a Igreja. Precisamos obedecer a esta mensagem em nossos dias, quando a disciplina não é respeitada ou recompensada pela nossa sociedade. Embora outros possam não apreciar nossos esforços, devemos viver uma vida íntegra, obedecer ao governo e falar com prudência. Devemos viver unidos e pacificamente na igreja e sermos exemplos vivos de nossa fé para a sociedade contemporânea” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp.1718,1719).

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

 “CONTEXTO HISTÓRICO

[...] Em sua viagem a Roma, Paulo havia visitado originalmente a ilha de Creta (a sudoeste da Ásia Menor, no Mar Mediterrâneo) como prisioneiro (At 27.7,8). Posteriormente, depois de ser libertado de seu primeiro período de aprisionamento em Roma, Paulo voltou a Creta com Tito e trabalhou durante um breve período em seu ministério ali [...]. A seguir, Paulo incumbiu Tito de continuar trabalhando com os cretenses para organizar igrejas (1.5) enquanto ele continuava a viagem à Macedônia (cf. 1Tm 1.3). Alguns tempos depois, Paulo escreveu esta carta a Tito, instruindo-o a concluir a tarefa que ambos haviam iniciado. Paulo provavelmente enviou a carta por meio de Zenas e Apoio, que estavam viajando por Creta (3.13).” Amplie mais o seu conhecimento, lendo a Bíblia de Estudo Pentecostal: Edição Global, editada pela CPAD, p.2280.

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

A IDA DE TITO PARA CRETA

“Tito, um grego, era um dos cooperadores mais confiáveis de Paulo. O apóstolo Paulo enviou Tito a Corinto em várias missões especiais para ajudar a igreja em suas dificuldades (2Co 7 — 8). Paulo e Tito também viajaram juntos para Jerusalém (Gl 2.3) e Creta (1.5). Paulo deixou Tito em Creta para liderar as novas igrejas que surgiram na ilha. A última vez que Tito é mencionado por Paulo é em 2 Timóteo 4.10, a derradeira carta registrada de Paulo. Tito tinha habilidade de liderança, então Paulo deu-lhe a responsabilidade de liderar, exortando-o a usar bem sua habilidade. [...] Paulo havia designado presbíteros em várias igrejas durante suas viagens (At 14.23). Ele não poderia permanecer em cada igreja, mas sabia que estas novas igrejas precisavam de uma forte liderança espiritual. Os homens escolhidos deveriam liderar as igrejas ensinando a sã doutrina, ajudando os crentes a amadurecer espiritualmente, e equipando-os para viver para Jesus Cristo apesar da oposição” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp.1720,1721).

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

A IGREJA TEM UMA NATUREZA ORGANIZACIONAL

A Igreja de Cristo é um organismo vivo com propósito espiritual neste mundo, mas que requer organização. Há grupos que argumentam que a igreja não deve se institucionalizar, pois isso retira dela sua identidade espiritual. Entretanto, essa é uma afirmação equivocada. Jesus ensinou Seus discípulos acerca da necessidade de organização para pregação do Evangelho. Foi assim quando os enviou de dois em dois ou mesmo quando ordenou que a multidão se assentasse sobre a relva antes de operar a multiplicação de pães e peixes (Mt 10; 14.13-21). Com o surgimento da igreja, não fazia sentido que os discípulos pregassem o Evangelho sem organização. Naquele contexto, os irmãos se reuniam nas casas e em cada lugar havia líderes responsáveis pela instrução da Palavra de Deus às congregações.

  A formalidade institucional sempre existiu, mesmo que de forma menos robusta como é notório atualmente. Stanley M. Horton, na obra Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal (CPAD), discorre sobre os três tipos de governo eclesiásticos: “A forma episcopal de governo eclesiástico é normalmente considerada a mais antiga. O próprio título é derivado da palavra grega episkopos, que significa ‘supervisor’. A tradução mais frequente desse termo é ‘bispo’ ou ‘superintendente’. Os que apoiam essa forma de constituição eclesiástica acreditam que Cristo, como Cabeça da Igreja, tenha confiado o controle de sua Igreja na terra a uma ordem de oficiais chamados bispos, que seriam sucessores dos apóstolos. [...] A forma presbiteriana de constituição eclesiástica deriva seu nome do cargo e funções bíblicos do presbuteros (‘presbítero’ ou ‘ancião’). Este sistema de governo tem um controle menos centralizado que o modelo episcopal: confia na liderança de representação. [...] A terceira forma de governo eclesiástico é o sistema congregacional. Conforme sugere o nome, seu enfoque de autoridade recai sobre o corpo local de crentes. Entre os três tipos principais de constituição eclesiástica, é o sistema congregacional que mais controle coloca nas mãos dos leigos e mais se aproxima da pura democracia” (1996, pp.558-560).

  Deus é organizado e estabeleceu a disciplina, a prudência e a organização desde o princípio da Sua criação. Foi assim no Jardim do Éden (Gn 1 — 2), na saída dos hebreus do Egito (Êx 14), na peregrinação e entrada dos hebreus na Terra Santa (Dt 31), bem como na organização do Reino de Israel (1Sm 8). Logo, era apropriado que na organização da Igreja Primitiva esses mesmos princípios fossem aplicados. Importa que a igreja atual preserve o mesmo compromisso com a organização para a realização de um trabalho com excelência.

CONCLUSÃO

É importante entender que organização e organismo não são elementos excludentes em si mesmos, mas o contrário, pois isso ajuda no arranjo entre muitos organismos individuais num sistema geral. A Igreja é o povo de Deus do Novo Concerto, é uma comunidade internacional, uma congregação supranacional de estrangeiros e peregrinos (1Pe 2.11). Seria humanamente impossível ela cumprir a sua agenda missionária, evangelizadora, ensino da Palavra e serviço social em nosso país e no mundo sem uma estrutura organizacional.

Em defesa da Fé Cristã — Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência

Lição 12: A Igreja tem uma natureza organizacional

Comentarista: Esequias Soares

 


 

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estudo sobre a igreja é vasto e envolve vários aspectos, origem, eleição, natureza, adoração, forma de governo, ordenanças, mis[1]são, destino, relação com o estado, entre outros. É muito comum falar entre os crentes sobre a igreja como universal, bem como a igreja local ou igrejas locais. Esses dois conceitos estão no Novo Testamento, universal (Mt 16.18; 1 Co 12.28; E f 3.21) e local ou locais (Rm 16.5; 1 Co 1.2; 2 Co 1.1; G11.2).

  TITO E AS IGREJAS NA ILHA DE CRETA

  A ilha de Creta foi anexada ao império romano em 67 a.C., unindo-a a Cirene, no Norte da África, nos termos da Líbia, como uma só província. A situação espiritual de Creta era desanimadora. As igrejas estavam desorganizadas, e o grande descuido no comportamento daqueles crentes é denunciado no capítulo 2 de Tito. Parece que o relaxamento espiritual era consequência de um desleixo natural, que era característico dos cretenses (1.12,13). Não se chega a um estado tão deplorável como esse em pouco tempo. Outro problema ali é que havia judaizantes rebeldes, mercenários e provocadores de divisão (1.10-16).

  A carta a Tito é uma das chamadas epístolas pastorais, das quais três são pessoais que somam-se às duas que Paulo enviou a Timóteo. O termo “epístolas pastorais” é uma classificação didática e externa, atribuído em época mais recente, por D. N. Berdot, em 1703, e isso foi seguido por Paul Anton, em 1726. Embora não mencionem a palavra “pastor”, essas cartas dão importantes diretrizes para os líderes das igrejas.

  Tudo indica que Paulo escreveu a Tito estando ele em Nicópolis, na costa oeste da Grécia, ou mais provavelmente, a caminho dessa região: “Estou resolvido a passar 0 inverno ali” (Tt 3.12); pois ele diz, “ali”; e, não, “aqui”. Como as epístolas a Timóteo, Tito dá importantes diretrizes para os pasto[1]res em todos os lugares e em todas as épocas.

  Tito é chamado de “verdadeiro filho” do apóstolo Paulo (1.4), expressão que o apóstolo Paulo também dedica a Timóteo (1 Tm 1.2). Tito era grego (G1 2.3), convertido, provavelmente, em Antioquia. Seu nome não é mencionado em Atos dos Apóstolos, mas aparece nove vezes no Novo Testamento, além da epístola que lhe fora destinada e traz 0 seu nome, em 2 Coríntios, como ajudante de confiança do apóstolo,144 duas em Gaiatas (2.1,3) e uma em 2 Timóteo 4.10, em que afirma que ele estava em missão em Dalmácia. Foi companheiro do apóstolo Paulo em suas viagens missionárias, ajudou o apóstolo em Roma e Nicópolis (3.12).

  Não se sabe como ele foi constituído pastor da ilha de Creta pelo apóstolo Paulo para colocar “em ordem as coisas restantes”, bem como em cada ci[1]dade “constituísse presbíteros, conforme prescreví a você” (Tt 1.5). Os relatos de Atos omitem esse trecho do itinerário de Paulo. O apóstolo passou por Creta durante a sua quarta viagem, na condição de prisioneiro com destino a Roma, num local chamado “bons portos” (At 27.8), pelo que parece, não foi nessa ocasião que ele deixou Tito em Creta. É possível que os peregrinos cretenses que estavam em Jerusalém no dia de Pentecostes (At 2.11) sejam os fundadores das igrejas na ilha.

  O livro de Atos se encerra deixando o apóstolo em prisão domiciliar em Roma (At 28.30,31). Depois da liberdade de sua primeira prisão, muito pouco ou quase nada se sabe das atividades de Paulo, mas se tem conhe[1]cimento de que ele continuou em plena atividade. Foi nessa ocasião que visitou Creta, e esteve também em outras localidades do império romano entre 62 e 67, pois ele diz que foi absolvido na sua primeira audiência (2 Tm 4.16,17).

  0 QUE É A IGREJA?

  A resposta a essa pergunta deve ter seus fundamentos nas Escrituras e isso porque o conceito de igreja para os católicos romanos não se sustenta no Novo Testamento, é completamente diferente do pensamento das igre[1]jas evangélicas. A igreja é o corpo místico de Cristo, una, santa e universal assembléia dos fiéis remidos de todas as eras e em todos os lugares, chama[1]dos do mundo pelo Espírito Santo para seguir a Cristo e adorar a Deus. Esse conceito está nosso 8o. artigo de fé do nosso Cremos, parte de uma síntese da Declaração de Fé das Assembléias de Deus, e respaldado pelas seguintes passagens bíblicas (í Co 12.27; J° 4-23>1 Tm 3.15; Hb 12.23; Ap 22.17). Nesse sentido, a igreja é universal e um organismo. Podemos definir organismo como forma individual de vida, um ser ou algo vivente. Isso na eclesiologia significa ser a igreja um organismo porque é um corpo espiritual e vivo, cuja vida espiritual é gerada pelo Espirito Santo (1 Co 3.16,17; 6.19; E f 2.21). A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes marcou o início da jornada da Igreja e vemos o seu final glorioso no epílogo da história humana, em Apocalipse. Todos nós fazemos parte dessa história.

  A natureza da igreja de Cristo

  A igreja, quanto à sua natureza, é universal e local; às vezes, essas duas naturezas estão presentes. Saulo de Tarso “queria destruir a igreja” (At 8.3), ou: “assolava a igreja” (ARC, ARA). Ele ia de casa em casa, sua perseguição era contra os discípulos de Jesus, contra as comunidades que se reuniam nas casas em nome de Jesus (At 12.12). Quando Jesus se revelou a Saulo no caminho de Damasco, lhe perguntou: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (At 9-4)) quando Saulo pergunta quem esta falando com ele, Jesus responde: “Eu sou Jesus, a quem você persegue” (v. 5). Isso indica que Saulo estava perseguindo a igreja como corpo espiritual de Cristo, de modo que a igreja local é ao mesmo tempo reconhecida também como igreja universal. A verdade é que as igrejas locais integram a igreja universal.

  A doutrina que estuda a Igreja se chama eclesiologia, de eklesia, lite[1]ralmente “chamado para fora”, de um verbo grego ekkaleo, “chamar, convocar”, que não aparece no Novo Testamento grego e só aparece duas ve[1]zes na Septuaginta, “e chamaram Ló” (Gn 19.5); “chamarás pacificamente” (Dt 20.10, LXX). O substantivo ekklesía aparece cento e quinze vezes no Novo Testamento e apenas cinco vezes não se traduz por “igreja”, em Atos t9-32,39 e 41, cuja ideia nessas passagens é de “ajuntamento” ou “assem[1]bléia”. As outras duas vezes, em Atos 7.38 e Hebreus 2.12, o termo se refere à congregação de Israel.

  Como corpo de Cristo podemos afirmar que a igreja é um organismo vivo que gera vida, considerando a sua natureza espiritual, e, ao mesmo tempo, como igreja local uma organização. Nesse sentido, pode-se dizer que a Igreja é toda congregação ou assembléia que se reúne em torno do nome de Jesus Cristo como Senhor e Salvador professando fé nele publicamente e de forma diversificada, incluindo o batismo e a Ceia do Senhor (nas reuniões específicas) aberto a todas as pessoas. É igreja no sentido completo da palavra como Jesus mesmo prometeu estar presente nela por meio do Espírito Santo até à consumação dos séculos (Mt 18.20; 28.20). Encontramos na epístola de Paulo a Tito alguns lampejos dessa natureza organizacional.

 A INSTITUCIONALIDADE BÍBLICA DA IGREJA

  O que significa a institucionalidade bíblica da igreja? Significa dizer que a organização da igreja é bíblica, principalmente no que diz respeito às igrejas locais. A organização eclesiástica a que o apóstolo Paulo instrui a Tito não se restringe a uma única estruturação ministerial. Estabelecer presbíteros de cidade em cidade: “Foi por esta causa que deixei você em Creta: para que pusesse em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísse presbíteros, conforme prescreví a você” (Tt 1.5).

  O apostolo já vinha fazendo e ou instruindo os líderes durante a sua carreira apostólica: “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor, em quem haviam crido” (At 14.23). Essa eleição é por aclamação, 0 termo grego é cheirotonêsantes, “tendo estendido a mão”, do verbo cheirotoneõ, “fazer eleger, promover a eleição, escolher, designar, eleger”; de cheir, “mão” e tonos, “tensão, elevação”, que indica “votar com mão levantada”. Esse verbo aparece mais uma vez no Novo Testamento, quando diz que um irmão anônimo foi “eleito pelas igrejas” para acompanhar Tito numa mis[1]são (2 Co 8.19). A eleição, escolha ou designação de presbíteros na região de Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia e do companheiro de Tito pelas igrejas, foi por aclamação.

  0 governo espiritual da igreja de Cristo São três os principais sistemas de governo espiritual da igreja: episcopal, presbiteriano e congregacional. No sistema episcopal, a autoridade espiritual é delegada por Deus ao bispo, ou a uma ordem de bispos, como o modelo papal; no sistema presbiteriano, a autoridade regional é conferida aos presbitérios, e a autoridade nacional, aos concílios; e, no sistema congregacional, a autoridade é local, não existindo uma autoridade oficial externa. Todas essas formas de governo têm suas variações.

  Os defensores de cada um desses sistemas acreditam ter fundamentação bíblica. Os episcopais acreditam que Tiago exercia a autoridade de bispo, pois parece ter presidido a assembléia de Jerusalém: “Depois que eles terminaram, Tiago tomou a palavra e disse: — Irmãos, ouçam o que tenho a dizer” (At 15.13). Mas, no modelo presbiteriano Tiago é interpretado como moderador, pois afirma na carta enviada às igrejas depois do concilio: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15.28), e não “Pareceu bem a mim, Tiago”, ou algo similar. Mas, outros veem em Tiago um modelo congregacional, pois ele aparece como pastor de uma igreja local, de Jerusalém: “Ele, porém, fazendo-lhes sinal com a mão para que se calassem, contou- -lhes como o Senhor o tinha tirado da prisão. E acrescentou: — Anunciem isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, foi para outro lugar” (At 12.17), um modelo eclesiástico que parece se identificar com 0 aplicado por Paulo e Barnabé (At 14.23). Temos nessas passagens um exemplo das diversas interpretações sobre 0 governo espiritual da igreja. Nenhum desses sistemas é definitivo e, além disso, há pontos de intersecção em todos eles. Não há no Novo Testamento uma forma dogmática de governo da igreja que sirva como regra fixa de governo eclesiástico.

  A instrução paulina

  A organização eclesiástica a que o apostolo Paulo instrui a Tito não se restringe a uma estruturação ministerial. O Novo Testamento revela a origem e o desenvolvimento desse governo. O apóstolo menciona “os bispos e diáconos” (Fp 1.1). O contexto da epístola a Tito dá a entender que o relaxo e o descuido que estava levando as comunidades cristãs da ilha de Creta era reflexo de uma cultura da região (Tt 1.12). Isso está além de um problema meramente ministerial. O apóstolo tinha em mente uma organização da igreja. Quando se fala em institucionalizar, dar caráter institucional ou de tornar institucional significa estabelecer organização 0 Novo Testamento mostra que havia certo tipo de organização nas igrejas, mas não um mesmo padrão para todas as províncias do império onde havia igrejas. Por exemplo: havia local e horário e ordem no culto (1 Co 14.26,40), reunião de ministério para consagração de presbíteros, segundo 0 contexto da época de uma igreja emergente (At 24.23), foi realizado um concilio para tratar de assuntos doutrinários (At 15.6). As igrejas dispunham de pessoas nos serviços sociais para atender as famílias eco[1]nomicamente fragilizadas, os capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios tratam do as[1]sunto (Rm 15.25-27), havia na igreja de Corinto 0 que, hoje, chamaríamos de comissão de ética (1 Co 5.2-5) e também tesouraria (1 Co 16.1-3).

  A QUESTÃO ATUAL

  Havia no século 19 e no início do século 20 uma reação da população americana contra o formalismo e a liturgia das igrejas protestantes. Isso re[1]sultou em duas frentes religiosas distintivas. Por um lado, o surgimento dos movimentos heterodoxos; o unitarismo foi revitalizado, surgem 0 mormonismo, o Novo Pensamento, a Ciência Cristã, a Escola da União do Cristia[1]nismo, a Teosofia, o Espiritismo Moderno e as testemunhas de Jeová.145 Por outro lado, aparece o Movimento de Santidade, Holiness, que seguiu uma posição oposta, trazendo um grande avivamento que serviu como 0 berço do pentecostalismo moderno, do qual vieram os pioneiros como Charles Fox Pahram e William Joseph Seymour entre outros. Charles Fox Pahram, aos vinte anos de idade, assumiu o pastorado de uma igreja, em Eudora, Kansas, mas, em 1895, ele entregou a licença de pregador local, deixando o denominacionismo para sempre. De modo que se tornou itinerante independente até o fim da vida.146

  O movimento pentecostal moderno surgiu num contexto antidenominacionalista nos Estados Unidos e isso teve alguns reflexos no Brasil, principalmente entre os pioneiros, mas 0 impacto não foi tão radical como a liderança dos precursores do movimento da Rua Azusa, em Los Angeles (1906-19x0).

  A data inicial do moderno Movimento Pentecostal é primeiro de ja[1]neiro de 1901, em Topeka, Kansas, EUA, numa Escola Bíblica liderada por Pahram. Mas, as comunidades pentecostais dos primeiros vinte e cinco anos desse século eram vistas pela sua liderança como movimentos e não como denominação. Interessante que Pahram faleceu em 1926 e Seymour em 1922, mas nenhum deles esteve presente na primeira Assembléia Geral que criou as Assembléias de Deus em abril de 1914, nos Estados Unidos da América. Até essa data, havia entre os pioneiros aqueles que entenderam que era chegada a hora de rever o sentimento antidenominacionalista de Parham e de outros líderes que havia entre os pentecostais da santidade, isso para evitar um crescimento desordenado. Nesse con[1]texto, então, foi criado o Concilio das Assembléias de Deus nos Estados Unidos, a partir do qual essas comunidades pentecostais passaram a ser chamadas “Assembléias de Deus”.

  No Brasil, não foi diferente. O movimento iniciado pelos missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren era conhecido como “Missão de Fé Apostólica”, 0 mesmo nome dos movimentos de Pahram e Seymour e outros na época. Quando Gunnar Vingren registrou a igreja em 4 de janeiro de 1918, ado[1]tou o nome “Assembléia de Deus”.147 Diante do avanço da obra no Brasil, era necessário estruturar o movimento pentecostal e criar um órgão máximo para manter a identidade e a unidade doutrinária das Assembléias de Deus no país e, dessa forma, trazer solução para as questões de ordem doméstica, interna e externa. Foi com base nesses ideais que os pioneiros brasileiros e suecos criaram a Convenção Geral das Assembléias de Deus em 1930.

  Não é difícil entender que organização e organismo não são elementos excludentes em si mesmos, mas 0 contrário, se complementam, pois a organização ajuda no arranjo entre muitos organismos individuais num sistema geral. A igreja é 0 povo de Deus do novo concerto, é uma comunidade internacional, uma congregação supranacional de estrangeiros e peregrinos (1 Pe 2.11). Seria humanamente impossível ela cumprir a sua agenda missionária, evangelização, ensino da Palavra e serviço social em nosso país e no mundo sem uma estrutura organizacional.

 Em defesa da Fé Cristã —

 Esequias Soares

 

 

 

 

 

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