TEXTO
ÁUREO
“Não pelas obras de justiça
que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem
da regeneração e da renovação do Espírito Santo.”
(Tt 3.5).
VERDADE
PRÁTICA
A salvação é um ato da graça soberana de Deus pelo mérito de Jesus
Cristo e não vem das obras humanas.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Efésios 2.1-10.
1 — E
vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,
2 — em
que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe
das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da
desobediência;
3 — entre
os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo
a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como
os outros também.
4 — Mas
Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
5 — estando
nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela
graça sois salvos),
6 — e
nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais,
em Cristo Jesus;
7 — para
mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua
benignidade para conosco em Cristo Jesus.
8 — Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.
9 — Não
vem das obras, para que ninguém se glorie.
10 — Porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus
preparou para que andássemos nelas.
1. INTRODUÇÃO
A lição desta semana traz o ensino bíblico a
respeito da salvação. Nela, reafirmamos a afirmação bíblica da salvação pela
graça mediante a fé em Cristo. Isso significa que a salvação se revela por meio
da graça de Deus manifestada em Cristo Jesus, nosso Senhor. Ao mesmo tempo,
também analisaremos algumas visões a respeito da salvação que contradizem o
ensino bíblico. Veremos o quanto essas visões soteriológicas distorcidas são
prejudiciais à vida cristã e que, por isso, podem trazer muitos prejuízos espirituais.
2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição: I) Ensinar a respeito da doutrina da salvação sob a graça de
Deus; II) Elencar ensinos inadequados sobre a salvação na antiguidade; III)
Correlacioná-los aos ensinos inadequados sobre a salvação na atualidade.
B) Motivação: Há ensinos a respeito da salvação que defendem uma ideia de
redenção como um processo evolutivo da vida em que a ênfase recai no esforço
próprio. Vemos isso nas religiões reencarnacionistas. Há também os legalistas,
que atribuem a salvação à observação rigorosa da lei, também mediante ao
esforço próprio, como nos judaizantes. O fato é que a Bíblia nos mostra que a
salvação é pura graça de Deus comunicada a nós por intermédio do Espírito
Santo, que nos convence do pecado, da justiça e do juízo.
C) Sugestão de Método: Para introduzir o último tópico da presente lição, sugerimos que
você crie uma tabela com a presença das três visões sobre salvação conforme
descritas na lição: Islamismo, Testemunhas de Jeová e Mormonismo. Apresente essa
tabela no projetor ou diretamente na lousa. À medida que você for apresentando
as visões inadequadas da salvação, apresente o contraponto bíblico conforme
explicado no primeiro tópico. Afirme a relevância do ensino bíblico preservar a
iniciativa amorosa de Deus em salvar o ser humano (Jo 3.16).
3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: Somente pela graça de Deus é possível nos aproximar dEle, amá-lo
e viver segundo a sua vontade. Para esse processo se tornar real em nossas
vidas, temos o auxílio do Espírito Santo para nos conduzir de acordo com os
propósitos de Deus.
4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos,
entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na
edição 100, p.41, você encontrará um subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na
preparação de sua aula: 1) O texto “Como a Morte de Jesus Pode Trazer o
Perdão?”, logo após o primeiro tópico, aprofunda a obra salvífica de Cristo
mediante a graça de Deus; 2) O texto “Alá É Idêntico ao Deus Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo?”, ao final do terceiro tópico, aprofunda a distinção entre
Islamismo e Cristianismo.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O apóstolo Paulo mostra nessa Leitura
Bíblica em Classe o contraste entre o estado espiritual da miséria
humana e a restauração à comunhão com Deus. Além disso, deixa claro a
impossibilidade de qualquer pessoa angariar a salvação por meio de seu próprio
esforço, e até mesmo, de desejar a salvação ou sentir a necessidade de Deus,
senão por intervenção divina direta, por meio do Espírito Santo.
Palavra-Chave:
SALVAÇÃO
“COMO A MORTE DE JESUS PODE TRAZER O PERDÃO?
As Escrituras
ensinam que toda a humanidade está manchada e corrompida pelo pecado, tanto por
causa do pecado de nosso antepassado, Adão (Rm 5.12-21), como porque nós mesmos
somos todos pecadores (Ef 2.1-3). Deus, como o justo Juiz, não pode ignorar o
pecado, e não o fará, uma vez que o pecado viola a sua natureza e traz destruição
para o mundo perfeito que Ele criou. [...] O Novo Testamento nos fala que a
morte de Jesus propiciou o perdão, pelo menos de três maneiras. Em primeiro
lugar, a morte de Jesus foi um sacrifício pelos nossos pecados. Cristo cumpre o
sistema de sacrifícios do Antigo Testamento, sendo, ao mesmo tempo, sumo
sacerdote e sacrifício (Hb 5.10). [...]
Em segundo lugar, o
Novo Testamento fala sobre a morte de Cristo como uma ‘propiciação’ pelos
nossos pecados (Rm 3.21-26). Esta palavra, hilasmos, tem o
significado de ‘uma oferta que satisfaz a ira de Deus pelo pecado’, todavia,
notavelmente, o próprio Deus fornece esta oferta. Quando Jesus morreu na cruz,
clamou: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ (Mt 27.46).
[...] Em terceiro
lugar, e relacionado aos dois aspectos já mencionados, a Bíblia fala sobre a
morte de Cristo como uma substituição. Jesus não veio para ser servido, mas
para servir e ‘dar a sua vida em resgate de muitos’ (Mc 10.45). Jesus ‘se deu a
si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau’ (Gl 1.4)”
(Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD,
2017, p.1878).
“ALÁ É
IDÊNTICO AO DEUS PAI DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO?
AUXÍLIO
BIBLIOLÓGICO
Esta é uma pergunta
difícil, especialmente na língua inglesa. Linguisticamente, quem quer que use o
termo ‘Deus’ está basicamente dizendo a mesma coisa: estará se referindo ao
Criador não criado do universo. Assim, muçulmanos, judeus, cristãos, hindus e
todos os demais estão se referindo ao Senhor do universo quando usam a palavra
‘Deus’.
Com relação ao
Islamismo, as similaridades entre Alá e Jeová são maiores, por dois motivos:
(1) O islamismo é adepto do monoteísmo, que significa ‘um só Deus’, exatamente
como o Cristianismo e o Judaísmo, e (2) Maomé usou muitas das pessoas citadas
na Bíblia, quando criou o Corão, como Noé (Surah 6.84), Jacó (Surah 2.132) e
Jesus (Surah 3.45-47). As similaridades, todavia, terminam aqui. Pense no
Islamismo como uma forma de ‘mormonismo medieval’. Como o mormonismo, o
Islamismo está baseado na premissa equivocada de que a descrição que a Bíblia
apresenta de Deus e de Jesus Cristo é incorreta. Como o mormonismo, o Islamismo
ensina que tanto o Cristianismo como o Judaísmo são falsas religiões, e que o
Islamismo, por meio do Corão, é a única fé verdadeira.
[...] Em resumo,
podemos afirmar o seguinte: o Islamismo rejeita a paternidade de Deus, a
divindade do Filho e a pessoa do Espírito Santo. Não podemos modificar a
natureza do Deus da Bíblia sem modificar o ‘deus’ que estamos apresentando. Não
é o mesmo Deus” (Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p.1866).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
A SALVAÇÃO
NÃO É OBRA HUMANA
A salvação é um ato
da graça de Deus manifestada ao mundo por intermédio de Jesus Cristo. Por meio
da fé, somos aceitos por Deus e alcançamos o poder de nos tornarmos seus filhos
(Rm 5.1; Jo 1.12). Compreender esta doutrina é fundamental para o exercício
pleno da fé. Assim como no passado primitivo da Igreja, há muitos atualmente
que não aceitam a suficiência da fé em Jesus como meio para alcançar a salvação
e sobrecarregam a igreja com ensinamentos que distorcem a compreensão da graça
divina. Em seus discursos, alegam ser as obras um requisito para desfrutar da
salvação. Nesta lição, veremos que a graça e a verdade são o resultado da morte
de Cristo na cruz do Calvário. Isso não vem das nossas obras, mas é fruto da
bondade de Deus para conosco como descreve o apóstolo Paulo aos efésios (Ef
2.8-10).
No Comentário
Devocional da Bíblia (CPAD), Lawrence O. Richards discorre que “as
boas obras não podem contribuir para a nossa salvação. Mas as boas obras são um
resultado da salvação. Recebemos a vida para glorificarmos a Deus. E uma
maneira de glorificarmos a Deus é praticando boas obras. O que são as ‘boas
obras’? A palavra grega aqui é agathois, que significa ‘útil,
proveitoso’. Deus nos salvou e nos colocou em um caminho cheio de oportunidades
para sermos úteis aos outros, e profícuos para realizar os seus propósitos.
Outra vez sentimos o contraste entre o que éramos, e o que somos. Corrompidos
pelo pecado, não podíamos fazer nada por Deus, por nós mesmos, ou pelos outros.
Vivificados por Deus em Cristo, somos diferentes. E fazemos a diferença!”
(2012, p.855).
Há muitos que alegam
haver certa discordância entre a perspectiva de Paulo e Tiago acerca da
salvação. No entanto, não há divergência alguma, pois enquanto o apóstolo Paulo
cuida de esclarecer em suas Cartas a respeito da fé para salvação (Rm 3.22-26;
Ef 2.8-10), Tiago argumenta que quem tem a fé verdadeira e já alcançou a
salvação produz boas obras (Tg 2.17,26). Como pode alguém dizer que é um
verdadeiro cristão e tem fé em Jesus Cristo, porém não demonstrar por meio de
suas obras a fé que alega ter (vv.14,20)? Nesse caso, há uma incoerência, pois
aquele que é sincero para com Deus, obediente às Sagradas Escrituras, demonstra
por meio de sua conduta e estilo de vida o desejo de agradar a Cristo. Que Deus
nos ajude a demonstrar a verdadeira fé e comunhão que temos com o nosso Deus,
não apenas com palavras, mas, sobretudo, com obras sinceras de amor ao próximo
e santidade perante Deus.
CONCLUSÃO
Entendemos que
somente pela graça é possível chegar-se a Deus, e isso é um ato soberano de sua
graça e bondade. É a misericórdia divina que leva as pessoas ao arrependimento
(Rm 2.4). Graça não é mérito, e nem o ato de o pecador receber a dádiva divina
se constitui mérito pessoal. Mas Deus disponibilizou a sua graça para todos os
seres humanos e não para uns poucos escolhidos. A Bíblia ensina que a salvação
é para todos.
Lição 11: A Salvação não é obra humana
Em defesa da Fé Cristã — Combatendo as antigas
heresias que se apresentam com nova aparência
Comentarista: Esequias Soares
S |
oteriologia é a
doutrina da salvação, esse termo teológico vem do grego sotêria, “salvação”, e,
logos, “palavra, estudo, tratado”, que no contexto teológico diz respeito ao
livramento do poder da maldição do pecado e à restituição do ser humano à
comunhão com Deus. A salvação é um ato da graça soberana de Deus pelo mérito de
Jesus Cristo, não vem das obras humanas, e a restauração do relacionamento do
ser humano com Deus se dá por meio de Jesus Cristo. E esse o sentido da palavra
“salvação” quando dizemos a alguém que Jesus salva.
A SALVAÇÃO SOB A GRAÇA DE DEUS
Esse
livramento espiritual é um ato da soberana vontade de Deus e não vem de nossa
própria justiça, a salvação é pela graça de Deus: “Porque pela graça vocês são
salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras,
para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9); “ele nos salvou, não por obras de
justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia. Ele nos salvou
mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5).
A incapacidade humana para salvar-se
Assim
como acontece em Romanos que, antes de apresentar uma ex posição da provisão
divina para a redenção humana, ou seja, desenvolver o tema da justiça de Deus
pela fé em Jesus previamente anunciada (Rm 1.17), o apóstolo apresenta primeiro
a corrupção geral do gênero humano (1.18- 32); da mesma maneira, ele procede em
Efésios 2.1-10. O apóstolo mostra primeiro 0 estado de miséria em que viviam os
efésios, revela a fotografia espiritual de todos os seres humanos (w. 1-3), uma
maneira de descrever a situação espiritual de todos os seres humanos. Em
seguida, apresenta a graça de Deus como fonte da salvação. A descrição dessa
condição peca minosa da natureza humana confirma a extensão da corrupção do
gênero humano, estudado no capítulo anterior. “Ele lhes deu vida, quando vocês
estavam mortos em suas transgres sões e pecados” (v. 1). Mesmo apresentando uma
expressão contunden te que serve para reforçar a dura realidade do pecado:
“mortos em suas transgressões e pecados” (v. 1), o apóstolo Paulo mostra o que
pretende anunciar mais adiante, a graça de Deus, com as palavras introdutórias,
“Ele
lhes deu vida, quando vocês...” Isso ele retoma mais adiante no v. 5: “estando
nós mortos em nossas transgressões”, mas, dessa vez, nessa passagem, o apóstolo
se inclui como o faz no v. 3a, “entre eles também nós todos andamos no
passado”. Sendo ele um judeu, nesse caso, se iden tifica também com esses
“mortos”, usando a construção grega kai ontas hêmas;13S com isso, ele reafirma
o que revela em Romanos: “Temos nós alguma vantagem? Não, de forma nenhuma.
Pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do
pecado” (Rm 3.9). A morte aparece como metáfora para tornar mais vivida e
pitoresca a gravi dade da pecaminosidade humana. O apóstolo usa mais duas
expressões para mostrar a triste realidade de toda a raça humana, que os
pecadores andam, “segundo o curso deste mundo [katá ton aiõna tou kosmou],
segundo 0 príncipe dapotestade do ar” (v.2).
O
apóstolo emprega fraseologia similar da segunda parte desse versículo mais
adiante, em Efésios 6.12, “principados e potestades”. Esses dois termos em
“contra os principados, contra as potestades” aparecem juntos, pelo menos, dez
vezes no Novo Testamento. Os “principados”, archai, em grego, cuja ideia é
primazia e poder; as “potestades”, exousíai, denotam li berdade para agir.
Paulo emprega 0 termo tanto para os anjos (Rm 8.38; Cl 1.16) como para os
demônios investidos de poder (1 Co 15.24; Cl 2.15). Desse modo, a expressão se
refere a governos ou autoridades tanto na esfera terrestre como na esfera
espiritual, mas, na segunda parte do v. 2 é uma referência ao estado espiritual
do mundo.
A
terceira parte que afirma, “do espírito que, agora, opera nos filhos da
desobediência” (v. 2c); mostra que os pecadores são guiados pelo espírito das
trevas e são identifcados por mais uma expressão, “filhos da desobediência”,
que revela o grave estado espiritual dos pecadores. Trata-se do es pírito do
deus deste sistema de coisas: “nos quais o deus deste mundo [aiõn] cegou o
entendimento dos descrentes” (2 Co 4.4); “deste século” (ARC); em outras
palavras, o próprio Satanás.
No v.
3, depois de esclarecer a influência maligna atuante nos seres humanos, Paulo
revela a inclinação da carne que leva aos desejos ilícitos, e conclui afirmando
que os pecadores são “por natureza filhos da ira” (v. 3). Essa perícope
introdutória de Efésios 2.1-10 resume todo 0 pensamento bíblico soteriológico,
no que diz respeito à salvação pela graça de Deus e sobre a impossibilidade de
alguém angariar a vida eterna por seus próprios meios e esforços.
A salvação somente pela graça
O
apóstolo Paulo mostra o contraste entre o estado espiritual da miséria humana e
como é possível a restauração à comunhão com Deus. Além disso, deixa claro a
impossibilidade de qualquer pessoa por si mesma anga riar a salvação por meio
de seu próprio esforço, e até mesmo, de desejar a salvação ou sentir a
necessidade de Deus, senão por intervenção direta de Deus por meio do Espírito
Santo.
Os três primeiros versículos de Efésios
2.1-10 podem ser considerados um breve compêndio de expressões teológicas para
descrever a pecami- nosidade humana e o propósito é mostrar a impossibilidade
de alguém se chegar a Deus por seu próprio esforço, isso porque nem mesmo
deseja a salvação, pois seu pensamento é norteado pelos desejos da carne. Mas,
a partir do v. 4, Paulo começa a falar da graça de Deus e de sua iniciativa
para salvar os pecadores, mostrando que nada podemos fazer em favor de nós
mesmos para a salvação:
“Mas
Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e
estando nós mortos em nossas transgressões, nos deu vida juntamente com Cristo
— pela graça vocês são salvos” (w. 4,5). As expressões “Ele lhes deu vida”
(v.i); ou: “vos vivificou” (ARC); ou ainda: “nos deu vida juntamente com
Cristo” (v. 5) revelam a ação do Espírito Santo em favor dos pecadores, que a
salvação só é possível mediante a graça de Deus, sem ela ninguém pode ser
salvo.
Essa
passagem bíblica elimina qualquer pensamento pelagiano e semi- pelagiano,
tentativa de salvação com ajuda humana ou de qualquer esforço adicional para
completar a obra de Cristo. O termo “graça” significa literal mente “favor
imerecido”, o favor divino. O apóstolo Paulo mostra primeiro o estado de
miséria dos seres humanos (w. 1-3). Em seguida, apresenta a graça de Deus, a
fonte da salvação. A descrição do estado espiritual humano mostra a condição
pecaminosa da natureza humana e confirma a extensão da corrupção do gênero
humano. O apóstolo emprega algumas expressões para reforçar a dura realidade
humana de que não somos merecedores.
“Porque
pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de
Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (w. 8,9). A exegese do texto
significa que a expressão “isto não vem de vocês, é dom de Deus” não se refere
à fé, mas à salvação, que é pela graça. Isso fica claro porque o apóstolo
emprega 0 pronome demonstrativo no gênero neutro na forma, touto, que concorda
com 0 substantivo neutro, dõron, “dom, dádiva”; no entanto, a cláusula “isto é
dom de Deus” diz respeito à salvação pela graça, pois as palavras “fé” e
“graça”, pistis e charis, são femininas. Se essa expressão em tela se referisse
à fé, o demonstrativo estaria no feminino, tautê. Assim, a fé não está incluída
no “dom de Deus”. Como afirma o res peitado erudito da língua grega A. T.
Robertson: “a graça é a parte de Deus e a fé, é a nossa”.136 De modo, como
dizia Norman Geisler, “a fé é o meio e a salvação é o fim. O meio vem antes do
fim”.137 Então, o dom de Deus é a graça, de modo que a fé vem antes da graça,
antes da regeneração (Jo 3.16; At 16.31; Rm 5.1). A salvação, sim, é pela graça
de Deus mediante a fé em Jesus, e esse dom não vem das obras, pois não se trata
de uma recompensa: “não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.9).
Mas, há
algo mais que precisa ser esclarecido. As expressões “mortos em ofensas e
pecados” (v. 1) e “mortos em nossas ofensas” (v. 5) não de vem ser entendidas
literalmente por se tratar de uma metáfora, uma das figuras de linguagem para
descrever o estado da queda espiritual dos seres humanos. Entendemos que “morte
espiritual” na Bíblia mostra que a humanidade caída está separada de Deus (Is
sg.2) e não significa aniquilação espiritual total. Como que a humanidade morta
espiritualmente pode re conhecer os atributos de Deus? A Bíblia mostra que isso
é possível, veja Romanos 1.19, 20. Como pôde Adão, já em estado de pecado,
morto espiri tual, ouvir a voz de Deus soar no jardim (Gn 3.10)? Apesar de a
imagem de Deus no ser humano estar desfigurada, todos os seres humanos ainda
são imagem de Deus (Gn 9.6; Tg 3.9). Aceitar 0 convite do Espírito Santo para a
salvação não é 0 mesmo que um esforço para angariar a vida eterna, não é de
capacidade humana. Deus disponibilizou salvação para quem quiser ser salvo (Ap
22.17).
A salvação Deus propôs para todos os povos,
tribos e nações, de manei ra simples para que tanto os sábios como os indoutos
pudessem alcançá-la. A receita é a fé em Jesus: “Creia no Senhor Jesus e você
será salvo — você e toda a sua casa” (At 16.31). O ato de crer no Unigênito
Filho de Deus confor me as Escrituras significa ter a vida eterna.
“Porque
a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11);
ou: “trazendo salvação a todos os homens” (TB, ARC); ou: “se manifestou
salvadora a todos os homens” (ARA, NVI). Trata-se de uma exegese ruim
interpretar que essa graça salvadora se refere apenas à igreja, ou somente aos
crentes ou ainda só aos escolhidos, pois a parte final do texto grego afirma,
pasinanthõpois, “a todos os homens”, ou seja, a todas as pessoas. Na verdade,
essa é a intenção do Espírito Santo; a vontade de Deus é que todos os seres
humanos sejam salvos: “que deseja que todos os homens sejam salvos, e que
cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4 - TB); “que quer que todos
os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (ARC); “o qual deseja
que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”
(ARA). O texto grego é claro ao mostrar que essa salvação se refere a todas as
pessoas. O que essas duas passagens bíblicas revelam, além de muitas outras, é
que todos os se res humanos são salváveis, a salvação está à disposição de
todas as pessoas, é a graça de Deus.
A
salvação não é algo para o futuro (Jo 5.24). O pecador recebe a vida eterna a
partir do momento em que aceita a Jesus Cristo em sua vida como seu Salvador
pessoal, ou seja, quando passa a crer em Jesus. A receita é simples: crer no
coração que Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos e confessar publicamente
o nome de Jesus. É 0 que afirma a Bíblia em Romanos 10.9,10.
Entendendo
a dinâmica da salvação
Das
cinco solae -fide, Scriptura, Christus, gratia e Deo gloria - a gratia é o tema
mais controvertido. Os grandes teólogos da Igreja como Agostinho de Hipona,
Lutero, Zuínglio, Calvino, Armínio, Wesley e os seguidores das respectivas
linhas teológicas estão de acordo no que diz respeito à salvação somente pela
graça divina, conforme a soteriologia paulina. O termo “gra ça” significa,
literalmente, “favor imerecido”, o favor divino do qual não somos merecedores.
Graça não é mérito e nem o ato de o pecador receber a dádiva divina também é
mérito. A diferença está na compreensão de cada um sobre o modus operandi
divino no processo salvífico.
Agostinho de Hipona mudou o seu pensamento
sobre a doutrina da gra ça de Deus durante do seu confronto contra o
pelagianismo. Antes da contro vérsia pelagiana, ele acreditava que Deus quer
que todos sejam salvos, que Deus nunca viola o livre-arbítrio. Depois da
discussão, Agostinho limitou a graça de Deus apenas para alguns escolhidos. É a
doutrina da predestinação.
O que
Agostinho chama de graça operativa é o monergismo, termo teo lógico do grego
monos, “único”, e ergon, “ação, obra”, ou seja, uma única ação divina. Seria o
modo como Deus opera na conversão do pecador sem qualquer participação humana, trata-se
de um processo puramente divino. Nesse ensino, a regeneração é obra exclusiva
de Deus, uma operação do Espírito Santo, sendo o ser humano completamente
passivo, a vontade humana é zero.
Mas,
essa doutrina não se sustenta biblicamente, pois está claro na Bíblia que
existe a cooperação do divino e do humano para a salvação e para a construção
do caráter humano. Essa doutrina é conhecida, teologicamente, como
“sinergismo”, que literalmente significa “trabalhar juntos”, vem da preposição
grega syn, “com, junto”, e de ergon, “ação, obra”. Isso foi bem explicado na
Segunda Edição do Fórum de Teologia Pentecostal realizada em Teresina, PI, nos
dias 25 a 28 de junho de 2024, sinergismo: “Estabelece a doutrina da cooperação
da vontade humana com a graça divina, e vê a fé como uma resposta pessoal ao
ato anterior, que nos chama à salvação, a quem deseja responder”.
Esse
conceito está de acordo com a Bíblia, pois cada pessoa pode aceitar ou recusar
o chamado divino: “O Espírito e a noiva dizem: — Vem! Aquele que ouve, diga: —
Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”
(Ap 22.17). Não há mérito algum alguém aceitar 0 convite para a salvação, essa
decisão vem da infusão do Espírito na vida humana, que o capacita para tomar a decisão,
mas tudo vem de Deus (Ef 2.1-10). Sinergismo não é semipelagianismo, são
posições diferentes. Essa dinâmica sinergista é clara e frequente na Bíblia.138
SOTERIOLOGIAS INADEQUADAS NO PASSADO
A
doutrina que ensina a salvação como resultado de esforço pessoal ou como
recompensa humana ou por seus proprios méritos existe desde 0 tempo dos
primeiros cristãos. Os principais e mais conhecidos grupos antigos que defendem
um pensamento soteriológico similar são os galacio- nistas, identificados como
judaizantes, conforme estudado no capitulo 2, e os gnósticos, no capítulo 3. Os
membros desse movimento ensinavam a salvação através de um conhecimento
místico, e não pela fé em Jesus.
A outra
soteriologia inadequada antiga e, ao mesmo tempo, atual é 0 reencarnacionismo.
O registro mais antigo da crença reencarnacionista aparece nos Upanishadas, a
parte mais importante dos Vedas, escritos sa grados do hinduísmo, datado de
2000 a.C. A maior parte dessas crenças é derivada do hinduísmo, e, na
atualidade, 0 mais conhecido no Brasil é 0 sistema kardecista.
Reencarnação não é o mesmo que encarnação. A
Bíblia fala da encar nação do Verbo como outra maneira de dizer que Deus se fez
homem, Je sus Cristo, pois Jesus veio em carne (Jo 1.14; 1 Jo 4.1; 1 Tm 3.16).
O termo “reencarnação” significa “voltar na carne”, pois seus adeptos acreditam
que, na morte física, a alma não entra num estágio final, mas volta ao ciclo de
renascimentos, evoluindo ou regredindo; outros creem que a alma pode se
transmigrar para seres inferiores, como animais, e até mesmo insetos, como o
movimento Hare Krishna na atualidade.
No
hinduísmo, essa doutrina é chamada em sânscrito, língua sagrada dos Vedas, de
samsara, que significa “passagem por estágios sucessivos”139 ou ainda,
“vagueação interminável da alma”.140 O reencarnacionismo é uma crença defendida
por quase todas as religiões derivadas do hinduísmo. Mas, era também defendido
no Ocidente na antiguidade, na Grécia e em Roma, entre eles estão o matemático
grego Pitágoras141 e o principal expoente es- toico, Sêneca, orador e poeta,
filósofo e político, senador romano.142 Todos os ramos reencarnacionistas
defendem a imortalidade da alma, acrescida de invenções. Os antigos hindus, os
gregos, os gnósticos e os kardecistas tem em comum a busca da perfeição por
meio de um progresso evolu tivo até que esses ciclos da roda de renascimento
parem de girar.
A
doutrina da reencarnação é colocada como “única que corresponde à ideia da
justiça de Deus” no sentido de aperfeiçoar moralmente o ser humano. Trata-se de
uma crença em que o Senhor Jesus não faz parte. Alan Kardec escreveu:
A doutrina da reencarnação, que consiste em
admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à
ideia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral inferior, a
única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois
oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A
razão assim nos diz, e é o que os Espíritos nos ensinam.143
Essas
crenças são contrárias à teologia bíblica, pois nelas não há espaço para a
doutrina da ressurreição dos mortos, da redenção pela fé no sacrifício de Jesus
no Calvário, do julgamento divino sobre os infiéis e do inferno ardente.
Trata-se de uma oposição à fé cristã, é a doutrina da salvação pelo esforço
humano, pregada também pelos muçulmanos, mórmons, testemunhas de Jeová,
kardecistas e por diversos ramos do espiritismo. Além disso, trata-se ainda da
doutrina da segunda oportunidade, defendida, geralmente, pelos grupos
religiosos heterodoxos.
A
Bíblia ensina ser a morte um caminho sem retorno e que ao ser humano está
ordenado morrer só uma vez (2 Sm 2.22; SI 78.39; Hb 9.27). Essas passagens
mostram 0 quão antibíblica é a doutrina da reencarnação. O Senhor Jesus Cristo
morreu pelos nossos pecados na cruz do Calvário, nada há mais que possa salvar
o ser humano, só Jesus, ele é o único Salvador! Ele mesmo há de julgar o mundo,
os vivos e os mortos (At 17.31; 2 Tm 4.1).
Em defesa da Fé Cristã — Esequias
Soares
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