TEXTO ÁUREO
E
percorria Jesus toda a Galileia,
ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas
as enfermidades e moléstias entre o povo.”
(Mt
4.23)
VERDADE PRÁTICA
O
Senhor Jesus Cristo teve vida social — amigos, parentes —, interagia com as
pessoas, e era conhecido dos vizinhos e moradores de Nazaré, onde fora criado.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
João
1.43-51; Mateus 26.37,38,42
João
1
43 - No dia seguinte, quis Jesus
ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me.
44 - E Filipe era de Betsaida,
cidade de André e de Pedro.
45 - Filipe achou Natanael e
disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem
escreveram os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
46 - Disse-lhe Natanael: Pode vir
alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem e vê.
47 - Jesus viu Natanael vir ter
com ele e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo.
48 - Disse-lhe Natanael: De onde
me conheces tu? Jesus respondeu e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te
vi eu estando tu debaixo da figueira.
49 - Natanael respondeu e
disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel.
50 - Jesus respondeu e disse-lhe:
Porque te disse: vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas
verás.
51 - E disse-lhe: Na verdade, na
verdade vos digo que, daqui em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus
subirem e descerem sobre o Filho do Homem.
Mateus
26
37 - E, levando consigo Pedro e os
dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.
38 - Então, lhes disse: A minha
alma está cheia de tristeza até à morte; ficai aqui e vigiai comigo.
42 - E, indo segunda vez, orou,
dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se
a tua vontade.
PLANO
DE AULA (DO PROFESSOR)
1. INTRODUÇÃO
A
presente lição aborda a perspectiva da experiência humana da pessoa de Jesus
Cristo. Nosso Senhor teve uma vida social em que Ele interagia com pessoas de
toda sorte, iniciando em Nazaré, chegando a Jerusalém. Além da vida social,
nosso Senhor tinha uma vida religiosa, pois Ele era judeu. Com isso, muitas das
características humanas podem ser atestadas nas histórias de Jesus conforme
reveladas na Bíblia.
2.
APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A)
Objetivos da Lição:
I)
Identificar a experiência humana no ministério de Jesus; II)
Explicar as heresias que negam a humanidade de Jesus; III) Reconhecer
como essas heresias se apresentam atualmente.
B)
Motivação: A experiência humana de Jesus marca uma referência para o
desenvolvimento de nossos relacionamentos com outras pessoas.
C)
Sugestão de Método: Na presente lição há duas palavras importantes na Teologia,
que também fazem parte de um vocabulário técnico em Teologia: Apolinarismo;
Monotelismo. Por isso, sugerimos que providencie um Dicionário Teológico,
editado pela CPAD. Após destacar essas palavras, leia com sua classe antes de
tratá-las diretamente no tópico respectivo. É muito importante que os alunos se
familiarizem com termos técnicos que é bem provável que muitos nunca ouviram
falar.
3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A)
Aplicação: A Bíblia revela que o nosso Senhor teve uma vida social e religiosa,
ou seja, Ele viveu a experiência humana. Essa experiência de Jesus torna-se um
grande parâmetro para o nosso relacionamento com as pessoas, quer do ponto de
vista do Corpo de Cristo quer fora do Corpo de Cristo.
4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A)
Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz
reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas
Adultos. Na edição 100, p.40, você encontrará um subsídio especial para esta
lição.
B)
Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão
suporte na preparação de sua aula: 1) O texto "A Humanidade de
Cristo", logo após o primeiro tópico, aprofunda o tema da experiência
humana de Jesus; 2) O texto "Jesus Cristo Homem", ao final do segundo
tópico, aprofunda uma resposta bíblica aos que negam a humanidade de Jesus.
INTRODUÇÃO
O
Senhor Jesus não viveu como anacoreta, ou seja, como monge ou eremita em retiro
solitariamente, isolado da sociedade, e nem ensinou essa prática aos seus
discípulos. Pelo contrário, a narrativa bíblica descreve que Ele teve vida
social e religiosa. A presente lição pretende mostrar alguns aspectos da
experiência humana de Cristo.
PALAVRA-CHAVE:
EXPERIÊNCIA
AMPLIANDO
O CONHECIMENTO
“A
ENCARNAÇÃO: DEUS PÔDE SE TORNAR HOMEM, SEM DEIXAR DE SER DEUS?
A
resposta a esta pergunta é ‘sim’. Não apenas é possível, como aconteceu, no
tempo e no espaço. Teólogos neo-ortodoxos (pensadores do século XX, fortemente
influenciados por Karl Barth) disseram que a pergunta é impossível de responder
logicamente, porque a fé é um paradoxo ilógico e pode ser vista somente pelos
olhos da fé. Em anos recentes, teólogos liberais negaram a realidade da
encarnação, alegando que é um mito e não é verdadeira, em nenhum sentido
objetivo. [...] Deste modo, eles consideraram um absurdo a declaração de que
Jesus Cristo era plenamente Deus e plenamente humano (como tanto a Bíblia como
confissões históricas de cristãos afirmaram).” Amplie mais o seu conhecimento,
lendo a Bíblia de Estudo Apologética Cristã, editada pela CPAD, p.1892.
AUXÍLIO
DOUTRINÁRIO
“A
HUMANIDADE DE CRISTO
As
Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em Jesus. O
relato de sua infância enfoca o seu desenvolvimento físico, intelectual e
espiritual: ‘E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com
Deus e os homens [...]. E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio
de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele’ (Lc 2.40,52). O profeta
Isaías anunciou de antemão sobre Emanuel: ‘manteiga e mel comerá, até que ele
saiba rejeitar o mal e escolher o bem’ (Is 7.15). Ele tornou-se homem para
suprir a necessidade de salvação da humanidade” (Declaração de Fé das
Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.50-51).
AUXÍLIO
TEOLÓGICO
“JESUS
CRISTO HOMEM
A
Bíblia ensina tanto a divindade como a humanidade de Cristo: ‘E todo o espírito
que confessa que Jesus não veio em carne não é de Deus...’ (1 Jo 4.3). O ensino
da humanidade de Cristo, no entanto, não neutraliza a sua divindade, pois os
Evangelhos revelam as duas naturezas: a humana e a divina. Os Evangelhos
revelam atributos característicos do ser humano em Jesus, Ele nasceu de uma
mulher, embora gerado pela ação sobrenatural do Espírito Santo, o ato do
nascimento em si foi normal e comum como o de qualquer ser humano. Diz a
Palavra de Deus: ‘E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em
que ela havia de dar à luz. E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o
em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem’
(Lc 2.6,7)” (SOARES, Esequias. Manual de Apologética Cristã. Rio de Janeiro:
CPAD, 2002, pp. 85-6).
CONCLUSÃO
É
nosso compromisso seguir o exemplo de Jesus no relacionamento com as pessoas. É
importante que nunca nos esqueçamos os pontos essenciais da presente lição
sobre a verdadeira identidade do Senhor Jesus. Ele é o Deus verdadeiro em toda
a sua plenitude igual ao Pai. E como homem, em toda a sua plenitude, viveu e
andou entre nós, seres humanos.
Em defesa da Fé Cristã —
Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência
Esequias
Soares
Lição 8: Jesus viveu a
experiência humana
A |
lém do seu modo de viver
entre as pessoas, os evangelhos mostram que na Pessoa de Jesus havia os elementos
constitutivos nos seres humanos, corpo, alma e espírito. Os evangelhos revelam
a dependência humana da oração e do Espírito Santo, além de sua identidade com
a raça humana. Jesus teve vida social, amigos, pa[1]rentes,
interagia com as pessoas e era conhecido dos vizinhos e moradores de Nazaré,
onde vivia (Mc 6.1-6).
A EXPERIÊNCIA HUMANA NO MINISTÉRIO DE JESUS
O
Senhor Jesus não viveu como anacoreta, ou seja, como monge ou ere[1]mita em retiro,
solitariamente, isolado da sociedade e nem ensinou essa prática aos seus
discípulos. Ele teve vida social e religiosa junto de outras pessoas de sua
comunidade. Nada ha na Bíblia que de sustentação a uma vida de ermitão. As
experiências de Jesus como homem são manifestas nos evangelhos, nos diálogos e
debates com as pessoas e autoridades religiosas, e tudo isso mostra com clareza
que Ele teve vida social e religiosa.
Jesus Cristo, homem
“Porque
há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade, Cristo Jesus, homem”
(1 Tm 2.5). Jesus Cristo é o eterno e verdadeiro Deus e, ao mesmo tempo, homem.
Tornou-se homem para suprir a necessidade da humanidade. O nome “Emanuel”, que
o próprio escritor sagrado traduziu por “Deus conosco” (Mt 1.23), mostra Deus
como homem e entre os seres humanos. Isso já foi estudado no capítulo 3.
Houve, nos primeiros séculos da história do
cristianismo muitas heresias (algumas delas já vimos no capítulo 3) que negavam
ter Jesus Cristo vindo em carne. Apolinário entendia que Jesus era só Deus e
que nada havia nele de humano. Da mesma forma, os gnósticos ensinavam que Jesus
não teve um corpo humano, mas um corpo docético, isto é, um corpo como um
fantasma. Tanto os apolinarianistas como os gnósticos estavam sobremaneira
errados. A Bíblia ensina tanto a divindade como a humanidade de Cristo. O
ensino da humanidade de Jesus, no entanto, não neutraliza a sua divindade, pois
ele possui duas naturezas. Jesus foi revestido do corpo humano porque o pecado
entrou na humanidade por um homem, Adão (Rm 5.12,18,19) e, pela justiça de Deus
tinha de ser vencido por um homem.
Jesus
se fez carne, fez-se homem sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado, e
venceu 0 pecado como homem (Rm 8.3). A Bíblia mostra que todo o gênero humano
está condenado, o homem está perdido e debaixo da maldição do pecado (SI
14.2,3; Rm 3.23). Todos são devedores, e, por isso, ninguém pode pagar a dívida
do outro; somente Deus pode salvar (Is 43.11). Então, esse mesmo DEUS tornou-se
homem, trazendo-nos 0 perdão de nossos pecados e cumprindo Ele mesmo a lei que
promulgara (At 4.12; 1 Tm 3.16; Cl 2.14).
Quando
Jesus estava na terra, não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer
0 diabo, mas aniquilou-se a si mesmo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp
2.5-8). Como homem, tinha certa limitação em tempo e espaço e, portanto,
submisso ao Pai. Eis a razão de Ele ter dito em João 14.28: “O Pai é maior do
que eu”.
Os
evangelhos revelam atributos característicos do ser humano em Jesus, como por
exemplo:
• Ele nasceu de uma mulher, embora gerado pela
ação sobrenatural do Espirito Santo. Seu nascimento, contudo, ou seja, o parto,
foi normal e comum como o de qualquer ser humano (Lc 2.6-7).
• Ele cresceu em estatura e em sabedoria (Lc
2.52); • Ele sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt 8.24; Jo 19.28; 4.6);
• Ele sofreu, chorou e sentiu angústia (Hb
13.12; Lc 19.41; Mt 26.37);
• Ele teve mãe humana, além de irmãos e irmãs
(Mt 12.47; 13-S5-S6);
• Ele morreu, embora ressuscitasse ao terceiro
dia, passando pelo ardor da morte (1 Co 15.3-4);
• Ele deu provas materiais de ter corpo humano
(1 Jo 1.1; Lc 24.39-41);
• Ele foi feito semelhante aos homens, mas sem
pecado (Hb 2.17; 4.15).
Assim,
como é pecado negar a humanidade de Cristo (1 Jo 4.2-3; 2 Jo 7), da mesma forma
é pecado negar também a sua divindade (Rm 10.9), pois Jesus é tanto homem como
Deus. Como homem, sentia as dores do ser humano e, como Deus, hoje supre a
necessidade da humanidade.
Sua infância
São
poucos os relatos inspirados da infância de Jesus, por isso, devemos extrair
deles tudo o que pudermos para uma melhor compreensão da mais bela história já
registrada. Nada está nas Escrituras da vida de Jesus depois do relato de seu
nascimento até a sua manifestação pública a Israel, exceto o que Lucas
escreveu. O relato de Lucas 2.40-S2 quebra 0 silêncio desse período. Essa
lacuna tem sido, ao longo da história do cristianismo, motivo de especulações,
muitas vezes, nocivas à fé cristã. O silêncio que precedeu o início da
apresentação pública de Jesus é natural e não deve surpreender os cristãos,
porque os Evangelhos se concentram no seu ministério, mesmo assim, dão atenção
especial à última semana da vida terrena de Cristo, se[1]mana
da Páscoa, em que foi realizada a redenção. Lucas apresenta, ainda que apenas
num lampejo, o desenvolvimento físico “em estatura” (2.52), espiritual e
intelectual de Jesus “e o menino cres[1]cia e se fortalecia em
espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (2.40). Lucas
é extremamente meticuloso ao relatar a vida de nosso Salvador, pois os pagãos
criam na metamorfose de algumas de suas divindades. Esse “fenômeno” mitológico
era, segundo acreditavam, a capacidade de suas divindades assumirem formas
diferentes. Lucas, porém, não queria que 0 Mestre divino fosse associado e nem
confundido com elas.
Lucas estava tratando de um evento singular da
história, algo milagroso, pois. 0 Deus verdadeiro, Criador do Céu e da Terra,
assumiu a forma huma[1]na vindo como homem de maneira
que o curto relato afasta toda e qualquer possibilidade de associação com a
mitologia pagã ou com a magia. Era um desenvolvimento gradual físico e mental,
crescimento espiritual na adolescência, ou seja, é mais uma prova de sua
natureza humana.
Assim, temos autoridade para falar que Jesus
foi criança e precisava da proteção divina e dos cuidados matemos; Ele precisou
aprender a comer, andar e falar dentre outras coisas comuns aos humanos. Ele
viveu entre nós com todas as características dos seres humanos, mas sem pecado,
pois deu testemunho de uma vida impecável. Essas informações, portanto, forneci[1]das por Lucas, estão de
acordo com todo o contexto bíblico e ajudam-nos a compreender a natureza humana
de Cristo.
Jesus
foi levado a Jerusalém para a cerimônia de purificação (Lc 2.22). Depois disso,
parece ser a sua primeira visita à Cidade Santa e ao Templo, mas não podemos
ter certeza, o menino Jesus estava, provavelmente, com doze anos (Lc 2.42). Sua
ida a Jerusalém nessa idade foi um evento significativo. José e Maria eram
religiosos dedicados e, como todo judeu devoto, por residirem na Galileia, mais
de cem quilômetros de Jerusalém, não tinham essa obrigação, contudo, todos os
anos iam à Festa da Páscoa: “Todos os anos os pais de Jesus iam a Jerusalém,
para a Festa da Páscoa” (Lc 2.41). Embora não procedessem de família rica, pois
levaram uma pomba para o sacrifício, e mesmo com escassos recursos financeiros,
não deixavam de ir aos cultos para adoração. Um exemplo de dedicação e amor a
Deus que deve ser seguido por todos os cristãos.
A Festa da Páscoa durava sete dias (Êx 13.6),
ao final desse período, a caravana das mulheres partia de volta para suas casas
com bastante antecedência, os homens seguiam posteriormente para se encontrarem
com elas na parada seguinte para 0 pouso, à noite. “Terminados os dias da
festa, ao regressarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que os pais dele
o soubessem” (Lc 2.43). É provável ter Maria pensado que o menino esti[1]vesse com José e
vice-versa, quando descobriram que Jesus não estava na companhia deles,
retornaram a Jerusalém (w. 44,45). Lá encontraram-no “Três dias depois, o
acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e fazendo-lhes
perguntas” (v. 46).
Os doutores
eram as autoridades religiosas de Israel, mestres da lei de Moisés, que
conheciam com profundidade as Escrituras Sagradas. Nessa ocasião, 0 menino
tinha a oportunidade de dialogar sobre as coisas de Deus com os mestres do
templo, com perguntas e respostas. Não é possível saber pontos específicos, mas
o assunto era com respeito às coisas de Deus, pelo que se infere de sua
resposta a José e Maria: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu
Pai?” (Lc 2.49). O que chamava a atenção desses doutores e dos que presenciavam
a cena era seu interesse pelas coisas de Deus em tão tenra idade, também a sua
inteligência e respostas. Tudo isso revelava tratar-se não de uma criança
precoce, mas um menino como nenhum outro. Os grandes homens de Deus tiveram
consciência de sua vocação divina nessa fase da vida. Há entre os judeus um
ritual, celebrado ainda hoje, chamado Bar Mitz[1]vah,
cerimônia de maioridade espiritual no judaísmo, ou de passagem, em que o menino
faz, pela primeira vez, a leitura pública da Torah — Lei de Moisés, depois que
completa doze anos de vida, segundo o Talmude (Aboth 5.21; Niddar 5.6). A
expressão aramaica bar mitzvah significa “filho do mandamento”, mas 0 que
aconteceu com Jesus no templo em Jerusalém foi uma celebração semelhante, pois
“0 bar mitzvah não se tornou um evento cerimonial comum na vida judaica até a
Idade Média, e somente nos tempos modernos tornou-se foco de celebrações
grandiosas. Além disso, a idade para o bar mitzvah não é doze anos, mas treze
anos”, diz David H. Stern, um erudito judeu messiânico.106
A vida social de Jesus
O
Senhor Jesus é apresentado nos evangelhos como alguém que era natural na
comunidade de seu povo, e não como um estrangeiro. Sua maneira de viver e os
seus ensinos refletem a cultura judaica (Lc 4.22-24). Os moradores de Nazaré,
admirados com o que viam, perguntaram logo: “Não é este 0 carpinteiro, filho de
Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui
conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele” (Mc 6.3). Ora, tal atitude do
povo não se justificaria se Jesus fosse uma metamorfose de alguma divindade,
como era comum na mitologia greco-romana. Os três países, fora de Israel, que o
Senhor Jesus visitou foram Egito (Mt 2.14,15), Líbano, as antigas cidades de
Tiro e Sidom, na Fenícia (Mt 15.21) e Jordânia (Jo 1.28).
As
experiências de Jesus como homem são manifestas nos evangelhos pela interação
com as pessoas e autoridades religiosas, como sua participação das reuniões nas
sinagogas e no templo (Jo 18.20). Marcos dá a entender que Jesus pregou em
todas as sinagogas da Galileia (Mc 1.39). Os evangelhos mostram Jesus ensinando
na sinagoga de Nazaré (Lc 4.16-20) e de Cafarnaum (Jo 6.59) e no templo de
Jerusalém (Jo 7.14).
Viveu como judeu (G1 4.4) e cumpriu a lei (Mt
5.17,18), reconhecia a au[1]toridade de Moisés (Mt 8.4)
e participava das festividades judaicas (Mt 26.17-19; Jo 7.37,38; 10.22).
A
mulher que foi curada de uma hemorragia tocou “na borda da capa” de Jesus (Mt
9.20; Lc 8.44); “na orla da veste” (ARA). O termo grego para “borda” ou “orla”
é kráspedon, “extremo inferior de um vestido, borda, orla”, que a Septuaginta
usa para traduzir a palavra hebraica tsitsit, “borla, franja”, de Números
15.38: “Fale aos filhos de Israel e diga-lhes que ao longo das suas gerações
coloquem franjas nas extremidades das suas capas e ponham um cordão azul em
cada franja”. Fica claro que, como judeu, Jesus usava a vestimenta típica. É
comum entre os judeus religiosos hoje 0 uso desse manto com os 613 fios na
borda que representam os 613 preceitos da lei de Moisés.
Jesus esteve no casamento em Caná da Galileia
(Jo 2.1-11). Ele, sua mãe e seus discípulos estavam na festa porque todos foram
convidados, 0 que deve, no mínimo, ter sido o casamento de um parente ou amigo.
Lembrando que a celebração de casamento durava até uma semana, não como
acontece na nossa cultura. João e Tiago, seu irmão, eram primos de Jesus. Como
sabemos disso? Ambos eram filhos de Zebedeu (Mt 4.21) e a “mulher de Zebedeu”,
que estava entre as mulheres por ocasião da crucificação de Jesus (Mt 27.56),
“junto da cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã dela” (Jo 19.25) e 0 nome da irmã
de Maria, mãe de Jesus, é Salomé (Mc 15.40). Salomé, irmã de Maria, mãe de
Jesus, é a mãe de João e Tiago. Jesus convivia com amigos e parentes.
O
diálogo de Jesus com a mulher samaritana, sua visita e interação com os
samaritanos é mais uma amostra de que viveu a experiência humana. Jesus rompeu
barreiras geográficas, culturais, étnicas e religiosas (Mc 7.24-27; Jo
4.9,40-42). Ele participou de um banquete promovido por um publicano chamado
Mateus (Mt 9.9-12), que é o mesmo Levi nas passagens paralelas em Marcos
2.13-17 e em Lucas 5.27-31, que veio a ser um dos doze apóstolos (Lc 6.1). Não
era incomum na tradição judaica os judeus terem dois nomes, isso não nos
surpreende. Jesus disse que até mesmo os publicanos têm amigos (Mt 5.46).
Mateus ofereceu a Jesus em sua casa um grande banquete onde compareceu grande
número de publicanos e pecado[1]res. Jesus esteve com eles
juntamente com os seus discípulos (Lc 5.29,30). O Senhor Jesus procurava se
integrar com as pessoas, Ele comeu e bebeu com elas e participou das dores e
dos sofrimentos humanos.
Há no capítulo 7 de Lucas quatro encontros
interpessoais de Jesus: na cura do servo do centurião em Cafarnaum (w. 11-10),
na ressurreição do filho da viúva de Naim (w. 11-17), no encontro com os
mensageiros envia[1]dos por João Batista (w.
18-33) e num banquete na casa de um fariseu de nome Simão, ocasião em que uma
mulher pecadora ungiu os pés de Jesus (w. 36-50). Jesus se hospedou na casa de
Maria e sua irmã Marta, numa aldeia a caminho de Jerusalém (Lc 10.38-41) e
também participou de uma ceia preparada pelas irmãs de Lázaro (Jo 12.1-6), a
quem Jesus chamou de “nosso amigo” (Jo 11.11).
Diversas vezes Jesus aparece nos seus ensinos
e pregações dialogan[1]do, respondendo questões,
censurando e consolando as pessoas, trazendo advertências e, outras vezes,
esperança. Seus principais opositores foram os fariseus, os saduceus e os
herodianos. Esses contatos revelam o ensino de Jesus sobre a ética, os
princípios morais e as responsabilidades civis que temos.
Jesus
não excluiu os zelotes. Eles eram patriotas radicais da Judeia que atribuíam as
mazelas do seu país à presença romana em Israel. Eram chamados, em hebraico,
cananim, “devotos, zelosos”. Segundo Flávio Josefo, eles surgiram durante 0
reinado de Herodes, o Grande (Guerra dos Judeus contra os Romanos, livro
quarto, capítulo 12). Eles eram favoráveis à guerra imediata contra os romanos
e os provocavam continuamente. Os sicários (do latim, sicca, “punhal”) eram
assim chamados porque portavam sempre um punhal para usar contra os romanos em
caso de necessidade, eram os mais fanáticos. O Senhor Jesus trouxe um dos
zelotes para 0 seu colégio apostólico, Simão cananeu (Mt 10.4; Mc 3.18) também
conhecido como “Simão, chamado Zelote” (Lc 6.15; At 1.13).
HERESIAS QUE NEGAM A
HUMANIDADE DE JESUS
As
doutrinas que negam as duas naturezas de Cristo, a divina e a humana,
rejeitando o Credo de Calcedônia, comprometem, de maneira direta ou indireta, a
verdadeira identidade de Jesus, não somente como 0 verdadeiro Deus, como também
como o verdadeiro homem. Estamos falando do apolinarianismo que, juntamente com
o nestorianismo e o monofisismo, movimentos já estudados no capítulo anterior,
foi tema do Concilio de Cal[1]cedônia em 451; e também do
monotelismo, que veio cerca de trezentos anos depois da formulação da
Calcedônia.
Apolinarianismo
Apolinário foi bispo de Laodiceia, nascido,
provavelmente, em 310 d.C. e morreu em 392. Foi o primeiro teólogo a abordar a
questão das duas natu[1]rezas de Cristo: a humana e
a divina. Uma vez definida a divindade do Logos e resolvida a questão
arianista, a controvérsia girava, agora, em torno das duas naturezas de Cristo.
Apolinário defendia a salvação pela fé em Jesus; como Atanásio, defendia também
a deidade de Cristo e foi diametralmente oposto ao arianismo. No entanto,
combateu uma heresia desenvolvendo ou[1]tra tão grave quanto a que
combatia: deu muita ênfase à divindade de Cristo e sacrificou a sua genuína
humanidade. O apolinarianismo é a doutrina que nega ter tido Jesus como homem
espírito humano.
Segundo
Apolinário, o Logos (Jo 1.1,14) teria ocupado o lugar da alma na encarnação,
com isso negou que Jesus tivesse espírito humano.107 Dizia que, se alguém põe
em Cristo a sua confiança como sendo homem, está destituído de racionalidade e
indigno de salvação. Usando a linguagem teológica de Apolinário, os elementos
constitutivos do ser humano são sõma, “carne ou corpo”, psychê, “alma animal”,
a sede dos desejos, paixões, apetites, e pneuma, “alma racional”. Em relação a
Jesus, dizia que Ele possuía um sõma humano e uma psychê humana, mas não um
pneuma humano.
Essa
doutrina contraria a ortodoxia cristã, pois a Bíblia afirma que o Senhor Jesus
é o verdadeiro homem (1 Tm 2.5) e o texto de Hebreus 2.14, 17,18 declara que a
humanidade de Jesus é igual à nossa, a diferença é a sua impecabilidade. A
humanidade plena de Jesus está clara no Novo Testamento, que fala do corpo
físico de Cristo (Lc 24.36-40; Jo 2.21; Hb 10.10) e também da alma e espírito
(Mt 26.38; Lc 23.46). O apolinarianismo foi condenado pelo Sínodo de Alexandria
em 378, depois rejeitado pelo Concilio de Constantinopla em 381108 e,
finalmente, declarado heresia no Concilio da Calcedônia em 451.
Monotelismo
Não
confundir com 0 termo teológico “monoteísmo”. É a doutrina cristológica do
patriarca Sérgio de Constantinopla, que ensinava que Cristo possuía uma só
vontade, essa doutrina se chama “monotelismo”. Pode-se dizer que se trata da
fase final dos debates no que diz respeito às duas natu[1]rezas
de Cristo. O termo provém de duas palavras gregas monos, único”, e thelêma,
“vontade, desejo”. Era uma tentativa de conciliar a teologia mono[1]f sita com o credo de
Calcedonia, que reafirmava as duas naturezas intac[1]tas,
separadas e inconfundíveis em uma só pessoa, em Jesus.
O
Terceiro Concilio de Constantinopla em 681 considerou o monotelismo heresia,
pois era visto como “uma ameaça à crença na humanidade completa do Deus-Homem,
uma verdade apreciada e essencial”. Reconhecemos as vontades de Cristo (Mc
14.36); é evidente que as ações de Cristo como caminhar, comer, beber e
interagir com as pessoas são puramente humanas, mas são produzidas pela
natureza humana sob a direção divina. Ao perdoar pecados, era a manifestação da
vontade de Cristo na natureza divina (Lc 5.20-22). Sofrônio, patriarca de
Jerusalém, em 633, refutou o monotelismo dizendo que existe em Jesus duas
vontades, sendo a humana submissa à divina.
Os
grupos religiosos heterodoxos são mais propensos em negar a divindade de Cristo
do que a sua humanidade, como as religiões e grupos orientais, as testemunhas
de Jeová, os muçulmanos, os cristadelfianos, os grupos espíritas, a Igreja da
Unificação do reverendo Moon entre outros. Eles reconhecem o Jesus homem, mas
negam a sua divindade. Já foi estudado nos capítulos 3 e 5 que é pecado negar
qualquer uma dessas naturezas.
EM DEFESA DA FÉ
CRISTÃ
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