domingo, 16 de fevereiro de 2025

Em defesa da Fé Cristã — Lição 8: Jesus viveu a experiência humana

 

TEXTO ÁUREO

E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.”

(Mt 4.23)

VERDADE PRÁTICA

O Senhor Jesus Cristo teve vida social — amigos, parentes —, interagia com as pessoas, e era conhecido dos vizinhos e moradores de Nazaré, onde fora criado.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

João 1.43-51; Mateus 26.37,38,42

João 1

43 - No dia seguinte, quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me.

44 - E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.

45 - Filipe achou Natanael e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.

46 - Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem e vê.

47 - Jesus viu Natanael vir ter com ele e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo.

48 - Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu estando tu debaixo da figueira.

49 - Natanael respondeu e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel.

50 - Jesus respondeu e disse-lhe: Porque te disse: vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás.

51 - E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que, daqui em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem.

Mateus 26

37 - E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.

38 - Então, lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até à morte; ficai aqui e vigiai comigo.

42 - E, indo segunda vez, orou, dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.

PLANO DE AULA (DO PROFESSOR)

1. INTRODUÇÃO

A presente lição aborda a perspectiva da experiência humana da pessoa de Jesus Cristo. Nosso Senhor teve uma vida social em que Ele interagia com pessoas de toda sorte, iniciando em Nazaré, chegando a Jerusalém. Além da vida social, nosso Senhor tinha uma vida religiosa, pois Ele era judeu. Com isso, muitas das características humanas podem ser atestadas nas histórias de Jesus conforme reveladas na Bíblia. 

 

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição:

I) Identificar a experiência humana no ministério de Jesus; II) Explicar as heresias que negam a humanidade de Jesus; III) Reconhecer como essas heresias se apresentam atualmente.

B) Motivação: A experiência humana de Jesus marca uma referência  para o desenvolvimento de nossos relacionamentos com outras pessoas. 

C) Sugestão de Método: Na presente lição há duas palavras importantes na Teologia, que também fazem parte de um vocabulário técnico em Teologia: Apolinarismo; Monotelismo. Por isso, sugerimos que providencie um Dicionário Teológico, editado pela CPAD. Após destacar essas palavras, leia com sua classe antes de tratá-las diretamente no tópico respectivo. É muito importante que os alunos se familiarizem com termos técnicos que é bem provável que muitos nunca ouviram falar.

 3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: A Bíblia revela que o nosso Senhor teve uma vida social e religiosa, ou seja, Ele viveu a experiência humana. Essa experiência de Jesus torna-se um grande parâmetro para o nosso relacionamento com as pessoas, quer do ponto de vista do Corpo de Cristo quer fora do Corpo de Cristo.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 100, p.40, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto "A Humanidade de Cristo", logo após o primeiro tópico, aprofunda o tema da experiência humana de Jesus; 2) O texto "Jesus Cristo Homem", ao final do segundo tópico, aprofunda uma resposta bíblica aos que negam a humanidade de Jesus.

INTRODUÇÃO

O Senhor Jesus não viveu como anacoreta, ou seja, como monge ou eremita em retiro solitariamente, isolado da sociedade, e nem ensinou essa prática aos seus discípulos. Pelo contrário, a narrativa bíblica descreve que Ele teve vida social e religiosa. A presente lição pretende mostrar alguns aspectos da experiência humana de Cristo.

PALAVRA-CHAVE:

EXPERIÊNCIA

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

“A ENCARNAÇÃO: DEUS PÔDE SE TORNAR HOMEM, SEM DEIXAR DE SER DEUS?

A resposta a esta pergunta é ‘sim’. Não apenas é possível, como aconteceu, no tempo e no espaço. Teólogos neo-ortodoxos (pensadores do século XX, fortemente influenciados por Karl Barth) disseram que a pergunta é impossível de responder logicamente, porque a fé é um paradoxo ilógico e pode ser vista somente pelos olhos da fé. Em anos recentes, teólogos liberais negaram a realidade da encarnação, alegando que é um mito e não é verdadeira, em nenhum sentido objetivo. [...] Deste modo, eles consideraram um absurdo a declaração de que Jesus Cristo era plenamente Deus e plenamente humano (como tanto a Bíblia como confissões históricas de cristãos afirmaram).” Amplie mais o seu conhecimento, lendo a Bíblia de Estudo Apologética Cristã, editada pela CPAD, p.1892.

AUXÍLIO DOUTRINÁRIO

“A HUMANIDADE DE CRISTO

As Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em Jesus. O relato de sua infância enfoca o seu desenvolvimento físico, intelectual e espiritual: ‘E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens [...]. E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele’ (Lc 2.40,52). O profeta Isaías anunciou de antemão sobre Emanuel: ‘manteiga e mel comerá, até que ele saiba rejeitar o mal e escolher o bem’ (Is 7.15). Ele tornou-se homem para suprir a necessidade de salvação da humanidade” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.50-51).

AUXÍLIO TEOLÓGICO

“JESUS CRISTO HOMEM

A Bíblia ensina tanto a divindade como a humanidade de Cristo: ‘E todo o espírito que confessa que Jesus não veio em carne não é de Deus...’ (1 Jo 4.3). O ensino da humanidade de Cristo, no entanto, não neutraliza a sua divindade, pois os Evangelhos revelam as duas naturezas: a humana e a divina. Os Evangelhos revelam atributos característicos do ser humano em Jesus, Ele nasceu de uma mulher, embora gerado pela ação sobrenatural do Espírito Santo, o ato do nascimento em si foi normal e comum como o de qualquer ser humano. Diz a Palavra de Deus: ‘E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem’ (Lc 2.6,7)” (SOARES, Esequias. Manual de Apologética Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, pp. 85-6).

CONCLUSÃO

É nosso compromisso seguir o exemplo de Jesus no relacionamento com as pessoas. É importante que nunca nos esqueçamos os pontos essenciais da presente lição sobre a verdadeira identidade do Senhor Jesus. Ele é o Deus verdadeiro em toda a sua plenitude igual ao Pai. E como homem, em toda a sua plenitude, viveu e andou entre nós, seres humanos.

Em defesa da Fé Cristã — Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência

Esequias Soares

Lição 8: Jesus viveu a experiência humana

 


A

lém do seu modo de viver entre as pessoas, os evangelhos mostram que na Pessoa de Jesus havia os elementos constitutivos nos seres humanos, corpo, alma e espírito. Os evangelhos revelam a dependência humana da oração e do Espírito Santo, além de sua identidade com a raça humana. Jesus teve vida social, amigos, pa[1]rentes, interagia com as pessoas e era conhecido dos vizinhos e moradores de Nazaré, onde vivia (Mc 6.1-6).

  A EXPERIÊNCIA HUMANA NO MINISTÉRIO DE JESUS

  O Senhor Jesus não viveu como anacoreta, ou seja, como monge ou ere[1]mita em retiro, solitariamente, isolado da sociedade e nem ensinou essa prática aos seus discípulos. Ele teve vida social e religiosa junto de outras pessoas de sua comunidade. Nada ha na Bíblia que de sustentação a uma vida de ermitão. As experiências de Jesus como homem são manifestas nos evangelhos, nos diálogos e debates com as pessoas e autoridades religiosas, e tudo isso mostra com clareza que Ele teve vida social e religiosa.

  Jesus Cristo, homem

  “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2.5). Jesus Cristo é o eterno e verdadeiro Deus e, ao mesmo tempo, homem. Tornou-se homem para suprir a necessidade da humanidade. O nome “Emanuel”, que o próprio escritor sagrado traduziu por “Deus conosco” (Mt 1.23), mostra Deus como homem e entre os seres humanos. Isso já foi estudado no capítulo 3.

 Houve, nos primeiros séculos da história do cristianismo muitas heresias (algumas delas já vimos no capítulo 3) que negavam ter Jesus Cristo vindo em carne. Apolinário entendia que Jesus era só Deus e que nada havia nele de humano. Da mesma forma, os gnósticos ensinavam que Jesus não teve um corpo humano, mas um corpo docético, isto é, um corpo como um fantasma. Tanto os apolinarianistas como os gnósticos estavam sobremaneira errados. A Bíblia ensina tanto a divindade como a humanidade de Cristo. O ensino da humanidade de Jesus, no entanto, não neutraliza a sua divindade, pois ele possui duas naturezas. Jesus foi revestido do corpo humano porque o pecado entrou na humanidade por um homem, Adão (Rm 5.12,18,19) e, pela justiça de Deus tinha de ser vencido por um homem.

  Jesus se fez carne, fez-se homem sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado, e venceu 0 pecado como homem (Rm 8.3). A Bíblia mostra que todo o gênero humano está condenado, o homem está perdido e debaixo da maldição do pecado (SI 14.2,3; Rm 3.23). Todos são devedores, e, por isso, ninguém pode pagar a dívida do outro; somente Deus pode salvar (Is 43.11). Então, esse mesmo DEUS tornou-se homem, trazendo-nos 0 perdão de nossos pecados e cumprindo Ele mesmo a lei que promulgara (At 4.12; 1 Tm 3.16; Cl 2.14).

  Quando Jesus estava na terra, não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer 0 diabo, mas aniquilou-se a si mesmo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2.5-8). Como homem, tinha certa limitação em tempo e espaço e, portanto, submisso ao Pai. Eis a razão de Ele ter dito em João 14.28: “O Pai é maior do que eu”.

  Os evangelhos revelam atributos característicos do ser humano em Jesus, como por exemplo:

 • Ele nasceu de uma mulher, embora gerado pela ação sobrenatural do Espirito Santo. Seu nascimento, contudo, ou seja, o parto, foi normal e comum como o de qualquer ser humano (Lc 2.6-7).

 • Ele cresceu em estatura e em sabedoria (Lc 2.52); • Ele sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt 8.24; Jo 19.28; 4.6);

 • Ele sofreu, chorou e sentiu angústia (Hb 13.12; Lc 19.41; Mt 26.37);

 • Ele teve mãe humana, além de irmãos e irmãs (Mt 12.47; 13-S5-S6);

 • Ele morreu, embora ressuscitasse ao terceiro dia, passando pelo ardor da morte (1 Co 15.3-4);

 • Ele deu provas materiais de ter corpo humano (1 Jo 1.1; Lc 24.39-41);

 • Ele foi feito semelhante aos homens, mas sem pecado (Hb 2.17; 4.15).

  Assim, como é pecado negar a humanidade de Cristo (1 Jo 4.2-3; 2 Jo 7), da mesma forma é pecado negar também a sua divindade (Rm 10.9), pois Jesus é tanto homem como Deus. Como homem, sentia as dores do ser humano e, como Deus, hoje supre a necessidade da humanidade.

  Sua infância

  São poucos os relatos inspirados da infância de Jesus, por isso, devemos extrair deles tudo o que pudermos para uma melhor compreensão da mais bela história já registrada. Nada está nas Escrituras da vida de Jesus depois do relato de seu nascimento até a sua manifestação pública a Israel, exceto o que Lucas escreveu. O relato de Lucas 2.40-S2 quebra 0 silêncio desse período. Essa lacuna tem sido, ao longo da história do cristianismo, motivo de especulações, muitas vezes, nocivas à fé cristã. O silêncio que precedeu o início da apresentação pública de Jesus é natural e não deve surpreender os cristãos, porque os Evangelhos se concentram no seu ministério, mesmo assim, dão atenção especial à última semana da vida terrena de Cristo, se[1]mana da Páscoa, em que foi realizada a redenção. Lucas apresenta, ainda que apenas num lampejo, o desenvolvimento físico “em estatura” (2.52), espiritual e intelectual de Jesus “e o menino cres[1]cia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (2.40). Lucas é extremamente meticuloso ao relatar a vida de nosso Salvador, pois os pagãos criam na metamorfose de algumas de suas divindades. Esse “fenômeno” mitológico era, segundo acreditavam, a capacidade de suas divindades assumirem formas diferentes. Lucas, porém, não queria que 0 Mestre divino fosse associado e nem confundido com elas.

 Lucas estava tratando de um evento singular da história, algo milagroso, pois. 0 Deus verdadeiro, Criador do Céu e da Terra, assumiu a forma huma[1]na vindo como homem de maneira que o curto relato afasta toda e qualquer possibilidade de associação com a mitologia pagã ou com a magia. Era um desenvolvimento gradual físico e mental, crescimento espiritual na adolescência, ou seja, é mais uma prova de sua natureza humana.

  Assim, temos autoridade para falar que Jesus foi criança e precisava da proteção divina e dos cuidados matemos; Ele precisou aprender a comer, andar e falar dentre outras coisas comuns aos humanos. Ele viveu entre nós com todas as características dos seres humanos, mas sem pecado, pois deu testemunho de uma vida impecável. Essas informações, portanto, forneci[1]das por Lucas, estão de acordo com todo o contexto bíblico e ajudam-nos a compreender a natureza humana de Cristo.

  Jesus foi levado a Jerusalém para a cerimônia de purificação (Lc 2.22). Depois disso, parece ser a sua primeira visita à Cidade Santa e ao Templo, mas não podemos ter certeza, o menino Jesus estava, provavelmente, com doze anos (Lc 2.42). Sua ida a Jerusalém nessa idade foi um evento significativo. José e Maria eram religiosos dedicados e, como todo judeu devoto, por residirem na Galileia, mais de cem quilômetros de Jerusalém, não tinham essa obrigação, contudo, todos os anos iam à Festa da Páscoa: “Todos os anos os pais de Jesus iam a Jerusalém, para a Festa da Páscoa” (Lc 2.41). Embora não procedessem de família rica, pois levaram uma pomba para o sacrifício, e mesmo com escassos recursos financeiros, não deixavam de ir aos cultos para adoração. Um exemplo de dedicação e amor a Deus que deve ser seguido por todos os cristãos.

  A Festa da Páscoa durava sete dias (Êx 13.6), ao final desse período, a caravana das mulheres partia de volta para suas casas com bastante antecedência, os homens seguiam posteriormente para se encontrarem com elas na parada seguinte para 0 pouso, à noite. “Terminados os dias da festa, ao regressarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que os pais dele o soubessem” (Lc 2.43). É provável ter Maria pensado que o menino esti[1]vesse com José e vice-versa, quando descobriram que Jesus não estava na companhia deles, retornaram a Jerusalém (w. 44,45). Lá encontraram-no “Três dias depois, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas” (v. 46).

  Os doutores eram as autoridades religiosas de Israel, mestres da lei de Moisés, que conheciam com profundidade as Escrituras Sagradas. Nessa ocasião, 0 menino tinha a oportunidade de dialogar sobre as coisas de Deus com os mestres do templo, com perguntas e respostas. Não é possível saber pontos específicos, mas o assunto era com respeito às coisas de Deus, pelo que se infere de sua resposta a José e Maria: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2.49). O que chamava a atenção desses doutores e dos que presenciavam a cena era seu interesse pelas coisas de Deus em tão tenra idade, também a sua inteligência e respostas. Tudo isso revelava tratar-se não de uma criança precoce, mas um menino como nenhum outro. Os grandes homens de Deus tiveram consciência de sua vocação divina nessa fase da vida. Há entre os judeus um ritual, celebrado ainda hoje, chamado Bar Mitz[1]vah, cerimônia de maioridade espiritual no judaísmo, ou de passagem, em que o menino faz, pela primeira vez, a leitura pública da Torah — Lei de Moisés, depois que completa doze anos de vida, segundo o Talmude (Aboth 5.21; Niddar 5.6). A expressão aramaica bar mitzvah significa “filho do mandamento”, mas 0 que aconteceu com Jesus no templo em Jerusalém foi uma celebração semelhante, pois “0 bar mitzvah não se tornou um evento cerimonial comum na vida judaica até a Idade Média, e somente nos tempos modernos tornou-se foco de celebrações grandiosas. Além disso, a idade para o bar mitzvah não é doze anos, mas treze anos”, diz David H. Stern, um erudito judeu messiânico.106

  A vida social de Jesus

  O Senhor Jesus é apresentado nos evangelhos como alguém que era natural na comunidade de seu povo, e não como um estrangeiro. Sua maneira de viver e os seus ensinos refletem a cultura judaica (Lc 4.22-24). Os moradores de Nazaré, admirados com o que viam, perguntaram logo: “Não é este 0 carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele” (Mc 6.3). Ora, tal atitude do povo não se justificaria se Jesus fosse uma metamorfose de alguma divindade, como era comum na mitologia greco-romana. Os três países, fora de Israel, que o Senhor Jesus visitou foram Egito (Mt 2.14,15), Líbano, as antigas cidades de Tiro e Sidom, na Fenícia (Mt 15.21) e Jordânia (Jo 1.28).

  As experiências de Jesus como homem são manifestas nos evangelhos pela interação com as pessoas e autoridades religiosas, como sua participação das reuniões nas sinagogas e no templo (Jo 18.20). Marcos dá a entender que Jesus pregou em todas as sinagogas da Galileia (Mc 1.39). Os evangelhos mostram Jesus ensinando na sinagoga de Nazaré (Lc 4.16-20) e de Cafarnaum (Jo 6.59) e no templo de Jerusalém (Jo 7.14).

  Viveu como judeu (G1 4.4) e cumpriu a lei (Mt 5.17,18), reconhecia a au[1]toridade de Moisés (Mt 8.4) e participava das festividades judaicas (Mt 26.17-19; Jo 7.37,38; 10.22).

  A mulher que foi curada de uma hemorragia tocou “na borda da capa” de Jesus (Mt 9.20; Lc 8.44); “na orla da veste” (ARA). O termo grego para “borda” ou “orla” é kráspedon, “extremo inferior de um vestido, borda, orla”, que a Septuaginta usa para traduzir a palavra hebraica tsitsit, “borla, franja”, de Números 15.38: “Fale aos filhos de Israel e diga-lhes que ao longo das suas gerações coloquem franjas nas extremidades das suas capas e ponham um cordão azul em cada franja”. Fica claro que, como judeu, Jesus usava a vestimenta típica. É comum entre os judeus religiosos hoje 0 uso desse manto com os 613 fios na borda que representam os 613 preceitos da lei de Moisés.

  Jesus esteve no casamento em Caná da Galileia (Jo 2.1-11). Ele, sua mãe e seus discípulos estavam na festa porque todos foram convidados, 0 que deve, no mínimo, ter sido o casamento de um parente ou amigo. Lembrando que a celebração de casamento durava até uma semana, não como acontece na nossa cultura. João e Tiago, seu irmão, eram primos de Jesus. Como sabemos disso? Ambos eram filhos de Zebedeu (Mt 4.21) e a “mulher de Zebedeu”, que estava entre as mulheres por ocasião da crucificação de Jesus (Mt 27.56), “junto da cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã dela” (Jo 19.25) e 0 nome da irmã de Maria, mãe de Jesus, é Salomé (Mc 15.40). Salomé, irmã de Maria, mãe de Jesus, é a mãe de João e Tiago. Jesus convivia com amigos e parentes.

  O diálogo de Jesus com a mulher samaritana, sua visita e interação com os samaritanos é mais uma amostra de que viveu a experiência humana. Jesus rompeu barreiras geográficas, culturais, étnicas e religiosas (Mc 7.24-27; Jo 4.9,40-42). Ele participou de um banquete promovido por um publicano chamado Mateus (Mt 9.9-12), que é o mesmo Levi nas passagens paralelas em Marcos 2.13-17 e em Lucas 5.27-31, que veio a ser um dos doze apóstolos (Lc 6.1). Não era incomum na tradição judaica os judeus terem dois nomes, isso não nos surpreende. Jesus disse que até mesmo os publicanos têm amigos (Mt 5.46). Mateus ofereceu a Jesus em sua casa um grande banquete onde compareceu grande número de publicanos e pecado[1]res. Jesus esteve com eles juntamente com os seus discípulos (Lc 5.29,30). O Senhor Jesus procurava se integrar com as pessoas, Ele comeu e bebeu com elas e participou das dores e dos sofrimentos humanos.

  Há no capítulo 7 de Lucas quatro encontros interpessoais de Jesus: na cura do servo do centurião em Cafarnaum (w. 11-10), na ressurreição do filho da viúva de Naim (w. 11-17), no encontro com os mensageiros envia[1]dos por João Batista (w. 18-33) e num banquete na casa de um fariseu de nome Simão, ocasião em que uma mulher pecadora ungiu os pés de Jesus (w. 36-50). Jesus se hospedou na casa de Maria e sua irmã Marta, numa aldeia a caminho de Jerusalém (Lc 10.38-41) e também participou de uma ceia preparada pelas irmãs de Lázaro (Jo 12.1-6), a quem Jesus chamou de “nosso amigo” (Jo 11.11).

  Diversas vezes Jesus aparece nos seus ensinos e pregações dialogan[1]do, respondendo questões, censurando e consolando as pessoas, trazendo advertências e, outras vezes, esperança. Seus principais opositores foram os fariseus, os saduceus e os herodianos. Esses contatos revelam o ensino de Jesus sobre a ética, os princípios morais e as responsabilidades civis que temos.

  Jesus não excluiu os zelotes. Eles eram patriotas radicais da Judeia que atribuíam as mazelas do seu país à presença romana em Israel. Eram chamados, em hebraico, cananim, “devotos, zelosos”. Segundo Flávio Josefo, eles surgiram durante 0 reinado de Herodes, o Grande (Guerra dos Judeus contra os Romanos, livro quarto, capítulo 12). Eles eram favoráveis à guerra imediata contra os romanos e os provocavam continuamente. Os sicários (do latim, sicca, “punhal”) eram assim chamados porque portavam sempre um punhal para usar contra os romanos em caso de necessidade, eram os mais fanáticos. O Senhor Jesus trouxe um dos zelotes para 0 seu colégio apostólico, Simão cananeu (Mt 10.4; Mc 3.18) também conhecido como “Simão, chamado Zelote” (Lc 6.15; At 1.13).

 HERESIAS QUE NEGAM A HUMANIDADE DE JESUS

  As doutrinas que negam as duas naturezas de Cristo, a divina e a humana, rejeitando o Credo de Calcedônia, comprometem, de maneira direta ou indireta, a verdadeira identidade de Jesus, não somente como 0 verdadeiro Deus, como também como o verdadeiro homem. Estamos falando do apolinarianismo que, juntamente com o nestorianismo e o monofisismo, movimentos já estudados no capítulo anterior, foi tema do Concilio de Cal[1]cedônia em 451; e também do monotelismo, que veio cerca de trezentos anos depois da formulação da Calcedônia.

  Apolinarianismo

  Apolinário foi bispo de Laodiceia, nascido, provavelmente, em 310 d.C. e morreu em 392. Foi o primeiro teólogo a abordar a questão das duas natu[1]rezas de Cristo: a humana e a divina. Uma vez definida a divindade do Logos e resolvida a questão arianista, a controvérsia girava, agora, em torno das duas naturezas de Cristo. Apolinário defendia a salvação pela fé em Jesus; como Atanásio, defendia também a deidade de Cristo e foi diametralmente oposto ao arianismo. No entanto, combateu uma heresia desenvolvendo ou[1]tra tão grave quanto a que combatia: deu muita ênfase à divindade de Cristo e sacrificou a sua genuína humanidade. O apolinarianismo é a doutrina que nega ter tido Jesus como homem espírito humano.

  Segundo Apolinário, o Logos (Jo 1.1,14) teria ocupado o lugar da alma na encarnação, com isso negou que Jesus tivesse espírito humano.107 Dizia que, se alguém põe em Cristo a sua confiança como sendo homem, está destituído de racionalidade e indigno de salvação. Usando a linguagem teológica de Apolinário, os elementos constitutivos do ser humano são sõma, “carne ou corpo”, psychê, “alma animal”, a sede dos desejos, paixões, apetites, e pneuma, “alma racional”. Em relação a Jesus, dizia que Ele possuía um sõma humano e uma psychê humana, mas não um pneuma humano.

  Essa doutrina contraria a ortodoxia cristã, pois a Bíblia afirma que o Senhor Jesus é o verdadeiro homem (1 Tm 2.5) e o texto de Hebreus 2.14, 17,18 declara que a humanidade de Jesus é igual à nossa, a diferença é a sua impecabilidade. A humanidade plena de Jesus está clara no Novo Testamento, que fala do corpo físico de Cristo (Lc 24.36-40; Jo 2.21; Hb 10.10) e também da alma e espírito (Mt 26.38; Lc 23.46). O apolinarianismo foi condenado pelo Sínodo de Alexandria em 378, depois rejeitado pelo Concilio de Constantinopla em 381108 e, finalmente, declarado heresia no Concilio da Calcedônia em 451.

  Monotelismo

  Não confundir com 0 termo teológico “monoteísmo”. É a doutrina cristológica do patriarca Sérgio de Constantinopla, que ensinava que Cristo possuía uma só vontade, essa doutrina se chama “monotelismo”. Pode-se dizer que se trata da fase final dos debates no que diz respeito às duas natu[1]rezas de Cristo. O termo provém de duas palavras gregas monos, único”, e thelêma, “vontade, desejo”. Era uma tentativa de conciliar a teologia mono[1]f sita com o credo de Calcedonia, que reafirmava as duas naturezas intac[1]tas, separadas e inconfundíveis em uma só pessoa, em Jesus.

  O Terceiro Concilio de Constantinopla em 681 considerou o monotelismo heresia, pois era visto como “uma ameaça à crença na humanidade completa do Deus-Homem, uma verdade apreciada e essencial”. Reconhecemos as vontades de Cristo (Mc 14.36); é evidente que as ações de Cristo como caminhar, comer, beber e interagir com as pessoas são puramente humanas, mas são produzidas pela natureza humana sob a direção divina. Ao perdoar pecados, era a manifestação da vontade de Cristo na natureza divina (Lc 5.20-22). Sofrônio, patriarca de Jerusalém, em 633, refutou o monotelismo dizendo que existe em Jesus duas vontades, sendo a humana submissa à divina.

  Os grupos religiosos heterodoxos são mais propensos em negar a divindade de Cristo do que a sua humanidade, como as religiões e grupos orientais, as testemunhas de Jeová, os muçulmanos, os cristadelfianos, os grupos espíritas, a Igreja da Unificação do reverendo Moon entre outros. Eles reconhecem o Jesus homem, mas negam a sua divindade. Já foi estudado nos capítulos 3 e 5 que é pecado negar qualquer uma dessas naturezas.

   EM DEFESA DA FÉ CRISTÃ

 

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