domingo, 6 de agosto de 2023

CPAD – A igreja de Cristo e o Império do Mal : Lição 7 A Desconstrução da Feminilidade Bíblica

 


TEXTO ÁUREO

“Enganosa  é  a graça, e vaidade, a formosura,  mas  a mulher que teme ao  Senhor, essa será louvada.”

(Pv 31.30)

  VERDADE PRÁTICA

A mulher foi criada para cooperar com o homem. Deus lhe confiou a dádiva da maternidade e função de ser esposa e auxiliadora.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

PROVÉRBIOS 31.10-31

10 - Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de rubins.

11 - O coração do seu marido está nela confiado, e a ela nenhuma fazenda faltará.

12 - Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida.

13 - Busca lã e linho e trabalha de boa vontade com as suas mãos.

14 - É como o navio mercante: de longe traz o seu pão.

15 - Ainda de noite,  se levanta e dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas.

16 - Examina  uma  herdade e adquire-a; planta  uma  vinha com o fruto de suas mãos.

17 - Cinge os lombos de força e fortalece os braços.

18 - Prova  e vê  que  é  boa sua mercadoria;  e  a sua lâmpada não se apaga de noite.

19 - Estende as mãos ao fuso, e as palmas das suas mãos pegam na roca.

20 - Abre a mão ao aflito; e ao necessitado estende as mãos.

21 - Não temerá, por causa da neve, porque toda a sua casa anda forrada de roupa dobrada.

22 - Faz para si tapeçaria; de linho fino e de púrpura é a sua veste.

23 - Conhece-se o seu marido nas portas, quando se assenta com os anciãos da terra.

24 - Faz panos de linho fino, e vende-os, e dá cintas aos mercadores.

25 - A força e a glória são as suas vestes, e ri-se do dia futuro.

26 - Abre a boca com sabedoria, e a lei da beneficência  está  na sua língua.

27 - Olha pelo governo de sua casa e não come o pão da preguiça.

28 - Levantam-se seus filhos, e chamam-na bem-aventurada;  como também  seu marido, que a louva,  dizendo:

29 - Muitas filhas agiram virtuosamente, mas tu a todas és superior.

30 - Enganosa  é  a graça, e vaidade, a formosura,  mas  a mulher que teme ao  Senhor, essa será louvada.

31 - Dai-lhe do fruto das suas mãos, e louvem-na nas portas as suas obras.

PLANO DE AULA

1. INTRODUÇÃO

A existência da mulher cristã, por natureza, é uma resistência à agenda feminista, que busca desconstruir o papel delineado por Deus. Militantes feministas não aceitam assistir uma mulher bem-sucedida, profissionalmente independente, que assume voluntariamente a bênção da maternidade, o papel de esposa e, sobretudo, se revela cristã. Graças a Deus, temos visto o Espírito Santo trabalhar poderosamente na vida das mulheres da Igreja de Cristo!

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição:

I) Explicar a feminilidade bíblica;

II) Destacar a erosão da feminilidade a partir do ativismo feminista e da suposta "liberdade sexual";

III) Focar a imagem da mulher virtuosa de Provérbios 31 como um símbolo de feminilidade bíblica equilibrada.

B) Motivação: "Não se nasce mulher, se torna mulher". Essa frase traz uma carga ideológica ao afirmar que a identidade feminina é uma construção de uma sociedade machista e patriarcal. Geralmente, essa é a acusação leviana que fazem aos que ponderam que a identidade feminina tem a ver com biologia. Para quem é movido por uma ideologia, a menção de um fato óbvio é uma afronta.   

C) Sugestão de Método: O segundo tópico traz uma explicação a respeito da erosão da feminilidade. Sugerimos que você apresente uma tabela em que constem as seguintes informações em relação ao assunto: o ativismo feminista; a liberdade sexual; ataques à família tradicional. Em seguida, dê tempo para que a classe exponha o que pensa, gerando uma tempestade de ideias. Depois, exponha o conteúdo do segundo tópico de acordo com a estrutura do tópico da lição.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: A presente lição estimula as mulheres cristãs a serem bem-sucedidas profissionalmente e, ao mesmo tempo, se realizando como esposas e mães, desempenhando o papel que glorifica a Deus e traz o equilíbrio ao lar.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 94, p.39, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula:

1) O texto "[Ser Mãe] Um Princípio Invariável em Tempos Variáveis", localizado ao final do primeiro tópico, expande a reflexão a respeito do significado da maternidade para a mulher cristã; 

2) O texto "Quando uma virtude cristã se torna ofensiva'", localizado ao final do segundo tópico, aprofunda a reflexão da mulher cristã diante da erosão da feminilidade bíblica.

INTRODUÇÃO

As Escrituras apresentam a mulher virtuosa como símbolo da feminilidade (Pv 31.10-31). Essa mulher é retratada como modelo de esposa fiel, mãe amorosa, administradora e empreendedora exemplar. Porém, em tempos pós-modernos, a feminilidade bíblica vem sendo desconstruída. Nesta lição, apresentamos o mandado divino para a mulher, as investidas do ativismo feminista e o exemplo bíblico de feminilidade. Assim, o nosso propósito é mostrar que Deus requer da mulher cristã que se porte conforme a revelação da Palavra de Deus.

PALAVRA-CHAVE

Feminilidade

AUXÍLIO DE VIDA CRISTÃ

“[SER MÃE]: UM PRINCÍPIO INVARIÁVEL EM TEMPOS VARIÁVEIS

Lembro-me perfeitamente, por exemplo, de uma jovem mãe tentando entender e vivenciar o que a Bíblia dizia sobre o valor de ser mãe em comparação ao novo pensamento radical que varria o mundo. Eram os anos sessenta. Kent estava no seminário e, para prover a subsistência de nossa jovem família, trabalhava no turno da tarde em uma fábrica na zona leste de Los Angeles. Lá, conheceu um estudante de direito que trabalhava para terminar seu curso e realçar a já próspera carreira de sua esposa. As ambições de ambos impediam pensamentos de paternidade ou questões espirituais. Preocupados, fomos até eles, mas recebemos só desculpas e contestações. Que contraste de valores!

  O dia da formatura chegou, e tomamos caminhos separados. Enquanto criávamos nossa família, eles cultivavam sua fortuna. Os jornais informaram que a mulher, agora mundialmente famosa, fizera um aborto, de forma que podia buscar suas metas sem impedimento. Algum tempo mais tarde, o noticiário nacional reportou que eles tinham se divorciado e que ela estava com um novo companheiro — uma amante lésbica. Claro que a história foi relatada sem comentário crítico, porque ela estava vivenciando os valores da cultura dos dias atuais. Tragicamente, ela não só tinha rejeitado o âmbito da maternidade, mas também o âmbito da salvação.

  Mulheres, temos de cultivar a lealdade de criar quer sejamos solteiras quer casadas. Isto não tem nada a ver com ser mãe ou não. Servir de mãe é minha responsabilidade diante de Deus como ser humano e, em particular, porque sou mulher. O contexto de onde e como cuidarei dos outros será ditado por onde Deus me colocar — em uma casa, escola, hospital, favela, onde for. Um dia responderei a Deus pelo modo em que gerei vida neste planeta” (HUGHES, Barbara. Disciplinas da Mulher Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.156).

Auxílio VIDA CRISTÃ

QUANDO UMA VIRTUDE CRISTÃ SE TORNA OFENSIVA

“Quando o feminismo começou a infiltrar-se no meio evangélico, a ideia de submissão ficou ofensiva às mulheres cristãs, em vez de ser a parte central de sua identidade como filhas de Deus. Esta realidade apresenta um problema sério para as mulheres que desejam viver vidas piedosas. A ideologia feminista não pode manter o lugar central em nossa vida. As razões disso são apresentadas pela Dra. Kirsten Birkett, em seu livro The Essence of Feminism (A Essência do Feminismo): ‘O feminismo é um movimento interesseiro, sem filosofia sustentável, uma história engendrada e uma moralidade incoerente. Não traz liberdade e satisfação para as mulheres e não corrigirá as injustiças’.  Todos os crentes, homens e mulheres, são chamados a submeterem-se de boa vontade e com alegria ao que sabemos e confiamos acerca de Deus — que Ele deseja que tenhamos uma vida de bênção. Essa vida de bênção é encontrada submetendo-se à amorosa soberania de Deus e à ordem de Deus neste mundo. A submissão é o caminho da bênção” (HUGHES, Barbara. Disciplinas da Mulher Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, pp.33-34).

CONCLUSÃO

A Bíblia revela que homens e mulheres se complementam (Gn 2.24). Dessa forma, marido e esposa são iguais como pessoas, mas diferentes nas funções divinamente estabelecidas. Dentre outros papéis, Deus confiou às mulheres a dádiva da maternidade e a tarefa de ser auxiliadora. Essas características enobrecem e não estigmatizam as mulheres. Contudo, a desconstrução da feminilidade as coloca em rota de colisão com a vontade divina. Por isso, a mulher cristã é instruída a honrar a sua feminilidade e assim glorificar a Deus em sua soberania (Lc 1.38,46-48).

   Lição 7 A Desconstrução da Feminilidade Bíblica

CPAD – A igreja de Cristo e o Império do Mal: como viver neste mundo dominado pelo Espirito da Babilônia

COMENTARISTA: Pr. Douglas Baptista

 


Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa sim será louvada (Pv 31.30, ACF)

A

s Escrituras apresentam a mulher virtuosa como símbolo da feminilidade (Pv 31.10-31). Essa mulher é retratada como modelo de esposa fiel, mãe amorosa e administradora exemplar. Porém, a feminilidade bíblica vem sendo desconstruída em tempos pós-modernos. Neste capítulo, apresentamos o mandado divino para a mulher, as investidas do ativismo feminista e o exemplo bíblico de feminilidade. O propósito é mostrar que Deus requer da mulher cristã que esta se comporte conforme a revelação da Palavra de Deus.

  I. FEMINILIDADE BÍBLICA

  1. A Criação Divina da Mulher

 Ratifica-se que homens e mulheres foram criados à imagem de Deus (Gn 1.27). Na ordem da criação, Adão foi formado antes da mulher (Gn 2.7,15). Em seguida, o Criador concluiu: “[...] Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18,20). Assim, o Senhor criou a mulher da carne e dos ossos do homem (Gn 2.21,22), e este a identificou: “[...] Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada” (Gn 2.23, NVI).

  Stanley Horton (1997, p. 244) descreve que:

  Num trecho curioso, Gênesis registra a criação especial da mulher: “E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão” (2.22). A palavra original traduzida por “costela” é tsela, termo este que não é usado em outra parte do Antigo Testamento nesse sentido. [...] A mulher foi feita “da mesma matéria” que o homem, compartilhava da mesma essência. Além disso, esse e outros textos deixam claro que a mulher foi alvo direto da atividade criadora de Deus, da mesma maneira que o homem.

  Wayne Grudem (1999, p. 375) arrazoa que:

 O homem e a mulher foram feitos igualmente à imagem de Deus, e tanto homens como mulheres refletem o caráter divino. Isso significa que devemos enxergar os aspectos do caráter de Deus uns nos outros. [...] Mas se somos igualmente à imagem de Deus, então certamente homens e mulheres são igualmente importantes para Deus e igualmente valiosos para ele. Temos igual valor perante ele por toda a eternidade. O fato de as Escrituras dizerem que homens e mulheres são “à imagem de Deus” deve excluir todo sentimento de orgulho ou inferioridade, e qualquer ideia de que um sexo é “melhor” ou “pior” do que o outro. Em especial, ao contrário de muitas culturas e religiões não cristãs, ninguém deve se sentir orgulhoso ou superior por ser homem, e pessoa nenhuma deve se sentir frustrada ou inferior por ser mulher.

  Assim sendo, no ato criativo, a imagem divina foi distribuída sem distinção entre homens e mulheres, fazendo-os iguais diante de Deus. Adão e Eva foram criados iguais em pessoalidade, valor, honra e respeito. Essa igualdade, porém, não significa uniformidade de papéis (Gn 1.26-28; 3.16-19). A Bíblia ensina a igualdade de importância de ambos, mas com funções e autoridades diferentes (1 Co 11.11,12).

  2. A Bênção da Maternidade

  No mandado criacional, Deus ordenou ao homem frutificar, multiplicar e encher a terra (Gn 1.28) — obviamente, uma tarefa impossível para Adão realizar sozinho. Assim, a mulher foi criada com a bênção da maternidade e o privilégio de ser esposa e mãe. Adão chamou-a de Eva, “porquanto ela era a mãe de todos os viventes” (Gn 3.20).

  Quanto ao privilégio da gestação, Renato Vargens (2022, p. 87) ratifica que:

  O Antigo Testamento mostra que, se estéril, a mulher sofria muito. Veja, por exemplo, a história de Sara, esposa de Abraão. A Bíblia registra que, por números anos, ela, com o coração angustiado e ansioso, esperou o cumprimento da promessa do Senhor. Veja Rebeca (Gn 25.21-26) e a esposa de Manoá (Jz 13.1-7,24). Com isso, perceba que boa parte das histórias bíblicas se desenrolam em torno das gestações. Eva, a primeira mãe, foi quem disse que o Senhor a havia ajudado a ter seu filho (Gn 4.1). [...] Ana, mãe do profeta Samuel desejou muito ter um filho, tanto que compôs uma oração em gratidão a Deus quando engravidou (1Sm 1.1-28; 2.1-10); Isabel esperou com fé o nascimento de João Batista (Lc 1.24); Maria foi a mãe do Salvador (Mt 1.18-25). [...] Por meio da mulher, Deus, o autor da família e da maternidade, planejou manifestar sua graça de geração em geração, fazendo dela coparticipe da construção nos rumos do seu povo no decorrer da história.

 Luise Schottroff (2008, apud Schroer, p. 156) reconhece que:

 De acordo com as ideias e a fé de Israel, o ventre da mulher, o útero pertencia a Deus, Deus não somente o criou, como também tem o poder de fechar ou abrir o útero. [...] Nos salmos, essa criação misteriosa do ser humano no útero é um milagre que evoca admiração e gratidão (Sl 139.15). Em última instância, é o próprio Deus que recebe, como uma parteira na hora do parto, o ser humano ao sair do útero (Sl 22.10). Em Israel, o útero fértil e os seios, fontes de leite materno, eram uma imagem da benção (Gn 49.25) que não foi feita por seres humanos, mas somente podia ser recebida de Deus como presente.

  Desse modo, o papel natural da mulher inclui a dádiva da procriação, de cuidadora do lar e dos filhos (1 Tm 5.14). As feministas, no entanto, consideram esses papéis um ultraje que limitam a função social da mulher e, por isso, lutam por emancipação dos afazeres do lar e da maternidade. Conquanto, diante da miraculosa concepção no seu ventre, a virgem Maria irrompeu em cânticos de gratidão ao Altíssimo pela bênção da maternidade (Lc 1.46-48).

  3. A Mulher como Auxiliadora

  A mulher foi criada para ser auxiliadora do homem (1 Co 11.9). O termo “auxiliador” também é empregado para referir-se ao Senhor (Sl 33.20; 121.2). Portanto, ser auxiliar não é algo depreciativo, e sim uma nobre função de ajuda e socorro. O fato de Deus chamar a si mesmo de nosso “auxiliador” confere dignidade e honra a esse papel e título. 108

  Entretanto, Rebekah Merkle (2020, p. 122-124) arrazoa que:

   O verdadeiro problema surge quando lemos “auxiliadora” e dizemos mentalmente “inferior”. [...] Algumas pessoas leem a Bíblia dessa maneira e, então, iram-se e tentam minimizá-la (feministas), outras a leem, dizendo “amém” ao que é, na verdade, um conceito errado propriamente seu (chauvinistas), mas, entranhadamente, ambas estão cometendo o mesmo erro. [...] Em 1Coríntios 11, Paulo está claramente apontando diferenças entre homens e mulheres e nossos papéis criacionais. [...] Observar que algo é fundamentalmente diferente de outro não é a mesma coisa que insinuar que um é melhor que o outro. [...] O feminismo se ressente da mera sugestão de que as mulheres tenham um papel diferente do papel dos homens.

  Nesse aspecto, Wayne Grudem (2009, p. 65) leciona que:

  A mulher não auxiliará o homem como alguém inferior a ele. Antes, será “uma auxiliadora apropriada para ele”, e aqui a palavra hebraica kenegdô significa uma auxiliadora que corresponda a ele, isto é, adequada, apropriada, que convém perfeitamente a ele. Eva, portanto, foi criada para ser uma auxiliadora, mas uma auxiliadora igual a Adão e diferente dele; diferente dele naquilo que complementaria exatamente quem Adão era.

 Nessa perspectiva, a Bíblia enfatiza que o Senhor criou a mulher para ser uma “ajudadora idônea” (ver Gn 2.18). Adão convivia com todos os seres criados, mas não se achava auxiliar semelhante a ele (Gn 2.19,20). Refere-se à pessoa igual e adequada, alguém capaz de suprir essa necessidade. Então, Deus fez a mulher para cooperar com o homem, não como alguém inferior, mas como complemento com as suas igualdades e diferenças. Essa complementaridade mútua é necessária à formação do casal, à procriação, à satisfação sexual e à vivência afetuosa e prazerosa (Pv 5.18).

  II. EROSÃO DA FEMINILIDADE

1.  O Ativismo Feminista

O protofeminismo remonta ao século XVIII na Grã-Bretanha. Nesse horizonte, destaca-se Mary Wollstonecraft (1759–1797), que viveu no auge do Iluminismo. Ela mantivera um caso extraconjugal com um colega apoiador da Revolução Francesa. Após a publicação de Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher (1792), Mary mudou-se para a França, onde teve um caso com um americano. Rejeitada pelo amante, retornou para a Inglaterra com uma filha ilegítima e várias vezes tentou o suicídio. 109

  Mais tarde, casou-se com o radical William Godwin (1756–1836). O casal morava em casas separadas e teve uma filha, Mary Godwin. As suas ideias incluíam o amor livre e a rejeição da sexualidade tradicional. Aos dezesseis anos, a filha do casal, Mary Godwin (1797–1851), tornou-se amante do poeta Percy Shelley (1792–1822), de quem ficou grávida. Diante da situação, a esposa de Shelley cometeu suicídio, e Mary Godwin casou-se com o marido dela três semanas depois. Foi nesse tempo que, agora com o nome de casada, Mary Shelley, começou a escrever o romance Frankenstein. 110

  No século XIX, acontece na Europa e nos EUA a primeira onda do ativismo feminista. As mulheres reivindicam direitos iguais aos dos homens. Nos Estados Unidos, destacam-se as americanas Elizabeth C. Stanton e Susan B. Anthony. Essas mulheres lutaram pela proibição da escravatura, pela criminalização do álcool e pelo direito feminino ao voto.

  Não obstante, Rebekah Merkle (2020, p. 56-61) pontua que “não demorou muito para que as feministas nos Estados Unidos começassem a falar sobre sexo também” e que embarcassem na “cruzada para trazer controle de natalidade e abortos ‘seguros’ às mulheres americanas [...] emancipação essencialmente de seus próprios corpos [...] e a defesa da eugenia e da esterilização compulsória dos inadequados”.

  No século XX, a segunda onda do feminismo passa a lutar pela emancipação da “domesticidade”, pelos direitos reprodutivos e por liberdade sexual. A Mística Feminina (1963), obra publicada pela americana Betty Friedan (1921–2006), é o estopim para essa fase do movimento. As mulheres são incentivadas a abandonar os deveres do lar e a seguir uma carreira profissional fora do ambiente doméstico.

  A identidade de uma mulher não deveria ser o papel de procriadora e administradora da casa. Ela deveria buscar a autorrealização e libertar-se dos afazeres domésticos. 111 Entre as pautas ideológicas, defendem-se a libertação da maternidade e a legalização do divórcio. Nesse contexto, a ativista e marxista francesa Simone de Beauvoir (1908–1986) (2012, p. 11), na sua obra O Segundo Sexo (1949), estabelece uma das máximas do feminismo: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.

  Esse ativismo avança e incendeia a discussão de gênero e transgeneridade. Alguns consideram a inserção dessa pauta como a terceira onda do feminismo. Atualmente, a filósofa norte-americana Judith Butler, militante LGBTQI+ (ou LGBTQIA), apresenta-se como uma das maiores defensoras do feminismo e da Teoria Queer (contrário a heterocisnormatividade). Autora da obra Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade (1990), Butler afirma que o gênero é socialmente construído.

  Em 2011, em nome da autonomia irrestrita sobre o próprio corpo, a partir de Toronto, introduz-se o slogan “Meu corpo, minhas regras”. Nesse diapasão, o movimento toma conotações de “empoderamento” da mulher, desconstrução de identidades e notável aversão à fé cristã. 112 Destaca-se que a fé cristã reconhece a importância do movimento em prol dos direitos das mulheres e no combate à discriminação. Porém, o feminismo erra quando se posiciona contrário aos valores bíblicos.

  2. A Liberdade Sexual

  A Bíblia refere-se ao sexo como algo prazeroso entre um marido e a sua mulher (Pv 5.18,19). A satisfação sexual deve ocorrer dentro do matrimônio e ser precedida de amor mútuo entre macho e fêmea (1 Co 7.3-5). Todavia, para o filósofo francês Michel Foucault (1926– 1984), um dos teóricos seguidos pelas feministas, esse modelo bíblico é repressivo e deve ser combatido em busca de “libertação” sexual. Foucault não prega meramente a “liberação” dos desejos e práticas sexuais consideradas moralmente ilícitas e nem apenas a “libertação” dos grilhões sexuais opressores da moral, da religião e do conservadorismo. 113 Isso não é suficiente para ele e nem para as feministas, por isso alegam que uma pessoa pode viver relações sexuais livres sem restrições às regras morais e, mesmo assim, não desfrutar de “liberdade sexual”.

  Michel Foucault (2017, p. 260) arrazoa que:

  O problema não seria antes tentar definir as práticas de liberdade através das quais seria possível definir o prazer sexual, as relações eróticas, amorosas e passionais com os outros? O problema ético da definição das práticas de liberdade é, para mim, muito mais importante do que a afirmação, um pouco repetitiva, de que é preciso liberar a sexualidade ou o desejo.

  Em outras palavras, nessa teoria, considera-se a liberação sexual necessária, como, por exemplo, a liberação da sexualidade da mulher em relação à dominação do marido e da moral opressora e heteronormativa.114 Contudo, Foucault (2017, p. 260-261) apregoa que a

  liberação não faz surgir o ser feliz e pleno de uma sexualidade na qual o sujeito tivesse atingido uma relação completa e satisfatória. A liberação abre um campo para novas relações de poder, que devem ser controladas por práticas de liberdade.

  Não obstante, na prática, o movimento feminista extremado atua na imposição da “liberdade sexual” controlando as esferas de poder para direcionar a ação do outro. Na defesa dessa ideologia, as feministas pretendem dominar o comportamento sexual, requerem que nenhum modo de relação sexual deva ser considerado certo ou errado. Aqui são incluídos a iniciação sexual precoce das crianças, a prática da homossexualidade, a fornicação, o adultério e a prostituição (1 Co 6.10). Nessa esteira, temas como aborto de gravidez indesejada e desconstrução da família patriarcal são radicalizados pelo ativismo ideológico do movimento.

  3. A Família Patriarcal

  As Escrituras ensinam que o casamento é monogâmico, heterossexual e indissolúvel (Mt 19.5,6), tendo o homem como líder da família (Ef 5.23). Porém, para Karl Marx (1818–1883), outro teórico seguido pelas feministas, essa forma bíblica de matrimônio escraviza a mulher, obriga o casal a ter relações sexuais apenas com o seu próprio cônjuge e tiraniza os laços conjugais que não podem ser rompidos.

  Nos escritos de Marx, a propagação de ideias por parte de quem detém o poder produz uma “falsa consciência” que leva à aceitação de padrões de comportamento que são impostos ao cidadão. O conceito de ideologia deixa de ser apenas “o conhecimento das ideias” e passa a ser um “instrumento” que serve para assegurar o domínio de uma classe ou grupo social que impõe aos outros os seus ideais de comportamento. 115

  Assim, do contexto social marxista que deu origem à “luta de classes” (burguesia versus proletariado), surgiu na pós-modernidade a ideologia culturalista como sendo “luta de gêneros”, ou seja, uma luta de classes ou de poder “entre homens e mulheres”. Desse modo, o marxismo exerce forte influência no feminismo, especialmente o livro A Origem da Família, a Propriedade Privada e o Estado (1884), em que o modelo bíblico de família é tratado como sistema opressor do homem para com a mulher.

  Nesse sentido, a visão marxista adotada pelo movimento feminista é de desconstrução da família patriarcal, promoção da liberdade sexual e dissolução do matrimônio. Dessa maneira, ratifica-se que o ativismo radical rejeita a maternidade, faz apologia ao aborto, banaliza o divórcio, considera ofensivo o papel da mulher como auxiliadora do homem, enaltece a lascívia e engaja-se numa luta de gênero contra os homens.

 III. MULHER VIRTUOSA: SÍMBOLO DE FEMINILIDADE

  1. Modelo de Esposa Fiel

Conforme as Escrituras, a mulher virtuosa é de inestimável valor: “[...] muito excede o de rubins” (Pv 31.10). A Bíblia declara que “o coração do seu marido está nela confiado” (Pv 31.11a). O texto revela total confiança do esposo nas ações e na conduta moral da sua mulher. A atitude dessa esposa é ilibada em todas as áreas do relacionamento a dois, tais como: lealdade conjugal, pureza sexual, administração do lar e das finanças, bem como o cuidado com as refeições da família e a educação dos filhos.

  O excelente gerenciamento dessa mulher não coloca a família em necessidade; por isso, nessa casa “não haverá falta de ganho” (Pv 31.11b, NAA). A gestão dessa esposa não provoca endividamento financeiro; pelo contrário, promove prosperidade. O Comentário Beacon (2005, vol. 3, p. 418-419) avalia que essa mulher é tão infalível na sua dedicação ao seu marido que lhe “não faltam riquezas” (Pv 31.11; versão BJ; “não há falta de ganho honesto, nem necessidade de saque desonesto”, AT Amplificado).

  A Escritura diz que ao marido “ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida” (Pv 31.12). O Comentário de Estudos da Bíblia de Genebra (1999, p. 767) arrazoa que “tal esposa não é um sonho impossível, mas pode ser difícil de encontrar”. O Comentário Bíblico Expositivo Wiersbe (2008, p. 524-525) considera que “o marido e a esposa são felizes e abençoados quando confiam no Senhor e um no outro. Os votos do casamento são promessas que devem ser levadas a sério. A quebra desses votos é pecado diante de Deus e diante um do outro”.

 A esposa fiel proporciona contínuo bem-estar ao seu marido. Ela é uma mulher confiável, não é instável ou temperamental. As suas ações inspiram a indispensável confiança que faz do seu marido um homem bem-sucedido. Ele é estimado entre os juízes, e ela é conhecida pela fidelidade à família (Pv 31.23). 116 Nesse sentido, a Palavra de Deus assevera que uma mulher sábia é capaz de edificar a sua casa tanto quanto uma mulher insensata é capaz de destruir um lar (Pv 14.1).

 2. Padrão de Mãe Amorosa

  De acordo com as Escrituras, a mulher virtuosa é também uma mãe dedicada: “Ainda de noite, se levanta e dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas” (Pv 31.15a). Ela acorda quando ainda está escuro e providencia a refeição para a família. Pelo bem-estar do seu marido e filhos, ela gerencia as diversas tarefas do lar (Pv 31.15b). Ela é uma mãe protetora, e os seus filhos estão adequadamente vestidos tanto no calor como no frio: “Não receia a neve por seus familiares, pois todos eles vestem agasalhos” (Pv 31.21, NVI).

  Entretanto, apesar de o texto bíblico enaltecer as virtudes de uma boa mãe, o radicalismo feminista avança para cercear das mulheres a experiência da maternidade. Argumentam que, desde a revolução feminista e a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a gestação está sempre associada ao sentimento de culpa em ter que interromper a carreira profissional.

  Reclamam que o papel familiar e social da mulher é reorganizado com a maternidade, sendo necessário fazer inúmeras adaptações; que o estereótipo de mãe perfeita e profissional bem-sucedida traduz-se em sobrecarga emocional e adoecimento mental.117 Como resultado da desconstrução da maternidade, cresce no Brasil e no mundo o número de mulheres que fazem opção de não ser mãe.  Renato Vargens (2022, p. 49-50) alerta que:

  Em recente pesquisa realizada pela Farmacêutica Bayer, com apoio da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). [...] as mulheres estão optando passar pela vida sem experimentar a benção de ser mãe. Por mais alarmante que isso seja, esse comportamento, comum a milhões de mulheres, recebeu até nome: “Geração NoMo” (abreviação da expressão em inglês No Mother, no sentido de não se tornar mãe), a saber, mulheres que, lutando contra aquilo que consideram uma pressão social, decidem não ser mãe. Esse mesmo grupo combate a crença absurda (segundo elas) de que a mulher deve dar à luz ao menos uma vez. Boa parte dessas mulheres prefere ser “mãe de pet” a gerar uma vida dentro do próprio útero.

  A despeito do desmantelamento da gestação e da dádiva de ser mãe apregoado pelas feministas, o texto bíblico enfatiza que uma mãe virtuosa dedica-se na educação da sua prole com sabedoria e bondade (Pv 31.26), antecipa-se às dificuldades domésticas e “não come o pão da preguiça” (Pv 31.27). Essa mulher é recompensada quando os seus filhos reconhecem o seu incalculável valor, quando a elogiam, agradecem e retribuem o amor recebido dessa mãe altruísta (Pv 31.28a).

  3. Exemplo de Administradora

  O texto bíblico destaca que a mulher virtuosa também é uma notável administradora. Como comerciante, ela adquire tecidos, confecciona roupas, lençóis e colchas de boa qualidade (Pv 31.15,22), negocia bens importados e de elevado padrão para a sua casa (Pv 31.14), compra propriedades e gerencia negócios lucrativos (Pv 31.16) e administra a produção e as vendas do seu comércio (Pv 31.18,24).

  Nesse contexto, Rebekah Merkle (2020, p. 122-124) pondera que:

  Administrar uma família e ser uma esposa e mãe piedosa é uma habilidade que requer prática, ensino e experiência. [...] Somos uma geração que precisa recuperar o senso da importância do lar e da importância de esposas e mães [...] Em Provérbios 31, podemos ver pela maneira como a família dessa mulher lhe responde, que todo o seu trabalho, todas as suas compras, vendas e trocas era uma benção direta para eles. Seus filhos se levantam e a chamam ditosa, o coração de seu marido confia nela [...]. Eles estão vestidos de escarlate por meio do trabalho diligente dessa mulher [...] É uma mulher impressionante, trabalhadora, bem-sucedida e de alta renda.

  De fato, biblicamente, essa mulher é aguerrida e próspera, mas também é generosa e sensível na ajuda aos pobres e necessitados (Pv 31.20). Ela é cheia de energia e de bom caráter e é autoconfiante em relação ao futuro (Pv 31.25). Essa mulher, esposa, mãe e empreendedora é louvada pela sua família (Pv 31.28,29). O seu valor imensurável não reside na aparência física, mas num coração temente a Deus, o Senhor (Pv 31.30). O exemplo e as virtudes dessa mulher serão publicamente reconhecidos (Pv 31.31).

 CONCLUSÃO

 A Bíblia revela que homens e mulheres complementam-se (Gn 2.24). Dessa forma, marido e esposa são iguais como pessoas, mas diferentes nas funções divinamente estabelecidas. Dentre outros papéis, Deus confiou às mulheres a dádiva da maternidade e o privilégio de serem auxiliadoras. Essas características enobrecem, e não estigmatizam as mulheres. Contudo, a desconstrução da feminilidade coloca-as em rota de colisão com a vontade divina. Por isso, a mulher cristã é instruída a honrar a sua feminilidade e, assim, glorificar a Deus na sua soberania (Lc 1.38,46-48).

 

108 GRUDEM, Wayne. Confrontando o Feminismo Evangélico. São Paulo:

Cultura Cristã, 2009, p. 64.

109 MERKLE, Rebekah. Eva no Exílio: a restauração da feminilidade. São Paulo:

Trinitas, 2020, p. 50.

110 MERKLE, 2020, p. 51.

111 MERKLE, 2020, p. 69.

112 CAMPAGNOLO, Ana Caroline. Feminismo: perversão e subversão.

Campinas: Vide Editorial, 2019, p. 234.

113 BUTLER, Judith. A Vida Psíquica do Poder: teorias da sujeição. Belo

Horizonte: Editora Autêntica, 2017, p. 109.

114 FOUCAULT, Michel. A Ética do Cuidado de si como Prática da Liberdade

(1984): In: Motta, M. (org.) Ditos e escritos V. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2017, p. 261.

115 SILVA, Afrânio et al. Sociologia em Movimento. São Paulo: Editora Moderna,

2013, p. 67,68.

116 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Wiersbe Antigo Testamento.

Santo André: Geográfica, 2008. p. 524.

117 ESTRELA, Jadne Meder; MACHADO, Maiara da Silva; CASTRO, Amanda. O

“Ser Mãe”: representações sociais do papel materno de gestantes e puérperas.

Id on Line Rev. Mult. Psic., 2018, vol.12, n.42, Supl. 1, p. 569-578

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Pr. Douglas Baptista



 

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