domingo, 20 de agosto de 2023

CPAD - A Igreja de Cristo e o Império do Mal - LIÇÃO 9 : UMA VISÃO BÍBLICA DO CORPO

 


TEXTO ÁUREO

“Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo.”

(1 Co 6.13b)

VERDADE PRÁTICA

O corpo é o templo do Espírito Santo e, por isso, deve ser conservado em santificação até a volta de Cristo.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

1 Coríntios 6.12-20

12 - Todas  as coisas  me são  lícitas, mas nem todas  as coisas convêm;  todas  as coisas  me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. 

13 Os manjares são para o ventre, e o ventre, para os manjares; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não  é  para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo. 

14 - Ora, Deus, que também ressuscitou  o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder. 

15 - Não sabeis vós que os  vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo. 

16 - Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. 

17 - Mas o que se ajunta com o Senhor é um  mesmo espírito. 

18 - Fugi da prostituição.  Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. 

19 - Ou não sabeis  que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo,  que habita  em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? 

20 - Porque fostes  comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

 PLANO DE AULA


1. INTRODUÇÃO

Uma visão materialista do corpo despreza a perspectiva bíblica que eleve o corpo ao propósito da vontade de Deus. Na Bíblia, a doutrina bíblica da glorificação final do corpo do crente tem muito a nos dizer a respeito do corpo terreno. Há um propósito divino no corpo para vivermos de acordo com a Palavra de Deus diante de uma cultura que tende a descartá-lo e desvalorizá-lo. Que o Senhor nos ensine a como servi-Lo por meio do nosso corpo.

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

                                                 A) Objetivos da Lição:


I) Ensinar a criação do ser humano;

II) Expor a visão bíblica do corpo;

III) Contrapor a visão secular do corpo.

B) Motivação: A Bíblia usa a imagem do templo para se referir ao corpo como uma habitação do Espírito Santo. Essa imagem revela o propósito de Deus para o corpo do cristão e o quanto se deve levar em conta o cuidado com ele. Esta lição nos estimula a cultivar uma visão bíblica e elevada a respeito do nosso corpo. 

C) Sugestão de Método: Introduza o segundo tópico com a seguinte pergunta: O que é glorificação final do corpo? Deixe que os alunos respondam. Ouça-os com atenção. Em seguida exponha o segundo tópico, enfatizando o subtópico que trata o assunto da ressurreição, trabalhando a imagem do corpo que o nosso Senhor apareceu aos discípulos por ocasião da sua ressurreição. É uma imagem muito poderosa para consolidar o entendimento da glorificação final do corpo.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: Há uma doutrina bíblica a respeito do corpo. Essa doutrina tem a ver com a esperança que cultivamos para o dia de nossa completa redenção. O corpo que temos hoje será transformado. Por isso, o apóstolo Paulo nos exorta: "todo vosso espírito, alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5.23). 

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 94, p.40, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto "A Cura da Alienação" amplia o primeiro tópico com uma reflexão a respeito de uma perspectiva não alienante das coisas; 2) O texto "Glorificando a Deus no Corpo" amplia o segundo tópico com uma reflexão a respeito de como a Bíblia se refere ao corpo.

INTRODUÇÃO

Deus criou o ser humano para o louvor da sua glória (1 Co 6.20). Em vista disso, Ele espera do homem regenerado uma vida de santidade (1 Pe 1.15). Contudo, os conceitos secularistas propagam uma forma de vida independente dos preceitos divinos. Nesta lição, vamos estudar a criação do homem e as características do corpo humano nas Escrituras e correlacionar esse tema com a visão secular do corpo hoje. Nossa finalidade é apresentar a visão bíblica do corpo, seu propósito e sua glorificação final.

PALAVRA-CHAVE

Corpo

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

 “A POSITIVIDADE DO CORPO

   [...] Paulo não fala também do ‘corpo do pecado’ (Rm 6.6)? E isso não significa que o corpo é a fonte do mal? Não. O contexto deixa claro que Paulo está falando que o corpo pode tornar-se um instrumento do pecado – mas pode também se tornar um instrumento de justiça: ‘Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?’ (v.16). O problema não é o corpo, mas o pecado. O corpo é apenas o lugar onde a batalha entre o bem e o mal é encarnada.” Amplie mais o seu conhecimento, lendo a obra Ama Teu Corpo, Editora CPAD, p.45.

AUXÍLIO APOLOGÉTICO

 “A CURA DA ALIENAÇÃO

  Devemos, portanto, responder com uma defesa bíblica do corpo. Devemos encontrar maneiras de curar a alienação entre corpo e pessoa. O ponto de partida é uma filosofia bíblica da natureza. A Bíblia proclama o profundo valor e dignidade do mundo material — incluindo o corpo humano — como obra das mãos de um Deus amoroso. É por isso que a moralidade bíblica coloca grande ênfase no fato da encarnação humana. O respeito pela pessoa é inseparável do respeito pelo corpo. Afinal de contas, Deus poderia ter escolhido fazer-nos como os anjos — espíritos sem corpo. Ele poderia ter criado um mundo espiritual onde flutuássemos por aí. Pelo contrário, Ele criou cada um de nós com corpos materiais e em um universo material.

  Por quê? Claramente, Deus valoriza a dimensão material e quer que a valorizemos também. A Bíblia trata corpo e alma como dois lados de uma mesma moeda. A vida interior da alma é expressa por intermédio da vida exterior do corpo. Isso é destacado pelo paralelismo característico da poesia hebraica: ‘A minha alma tem sede de ti; a minha carne te deseja muito’ (Sl 63.1); ‘Pois a nossa alma está abatida até ao pó; o nosso corpo, curvado até ao chão” (Sl 44.25); ‘Guarda [as minhas palavras] no meio do teu coração. Porque são vida para os que as acham e saúde, para o seu corpo’ (Pv 4.21,22); ‘Enquanto eu me calei [me recusei a me arrepender], envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia” (Sl 32.3).

  Em certo sentido, o nosso corpo tem primazia diante de nosso espírito. Afinal de contas, o corpo é a única maneira que temos para expressar a nossa vida interior ou para conhecer a vida interior de outra pessoa. O corpo é o meio pelo qual o invisível é feito visível” (PEARCEY, Nancy. Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p.36).

AUXÍLIO APOLOGÉTICO

GLORIFICANDO A DEUS NO CORPO

“É possível quebrar o poder da escravidão do pecado: ‘Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências’ (Rm 6.12). A única resposta apropriada a tal graça libertadora é: ‘glorificai, pois, a Deus no vosso corpo’ (1 Co 6.20), ou, de maneira mais completa: ‘apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional’ (Rm 12.1). É emocionante pensar que Deus quer mesmo se relacionar conosco em nosso corpo, amando o nosso formato e tamanho específico, as nossas peculiaridades corporais, a nossa aparência física. Deus quer amar-nos e interagir conosco não apenas espiritualmente, mas também em nosso ser integral” (PEARCEY, Nancy. Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, pp.45-46).

CONCLUSÃO

Vimos que a família do rei Davi era disfuncional, o que trouxe problemas de longo prazo para toda a família. Por isso, é preciso cultivar os valores da Palavra em nossos lares, que os pais exerçam seus papéis em casa, transmitindo esses valores e acompanhando de perto os seus filhos; que os cônjuges tenham um relacionamento que traga equilíbrio e segurança aos filhos. A vida cristã em família é a maior prevenção contra os desajustes da atualidade.

  CPAD - A Igreja de Cristo e o Império do Mal

 Como viver neste mundo dominado pelo espírito da Babilônia

 COMENTARISTA: Pr. Douglas Baptista

 


Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo (1 Co 6.13b)  

D

eus criou o ser humano para o louvor da sua glória (1 Co 6.20). Em vista disso, o homem deve viver em santidade (1 Pe 1.15). Contudo, os conceitos secularistas propagam uma forma de vida independente dos preceitos divinos. Neste capítulo, estudaremos a criação do homem do pó da terra e as características do corpo humano nas Escrituras, além de correlacionar esse tema com a visão secular na atualidade. O objetivo é apresentar a visão bíblica a respeito do corpo, o seu propósito e a sua glorificação final.

 I. A CRIAÇÃO DO SER HUMANO

 1. A Origem da Raça Humana

  O homem é o único ser vivo criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26,27). Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 21) ensina que o Deus Trino criou todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29; Gn 1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11).

 A Teologia Sistemática Pentecostal (2008, p. 87-88) corrobora que:

  A raça humana teve a sua origem em Deus, através de Adão: “o primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente” (I Co 15.45); “de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra” (At 17.26). [...] O ser humano não é meramente um animal racional, mas um ser espiritual, criado à imagem e semelhança de Deus. O homem recebeu diretamente de Deus o sopro de vida em suas narinas (Gn 2.7). [...] Portanto, não há, nas Escrituras Sagradas, nada que apoie o darwinismo e as suas várias interpretações inverídicas. O homem e os animais surgiram na Terra da mesma forma como eles são hoje.

  Salienta-se que temos duas narrativas a respeito da criação da humanidade no livro de Gênesis. Ressalta-se que não existe contradição entre elas; ao contrário, uma passagem complementa a outra. 136 Dessa forma, a primeira narrativa declara resumidamente a intenção de Deus em criar a sua obra-prima, os seres-humanos e o propósito deles em governar as demais criaturas (Gn 1.26,27). Logo após, o escritor bíblico ortografa em detalhes a criação do homem (Gn 2.7) e da mulher (Gn 2.21,22).

  Nessa compreensão, ratifica-se que Adão foi o primeiro homem a ser criado (Gn 2.15,19,20). A primeira mulher, Eva, foi formada do corpo de Adão (Gn 2.22; 3.20). O homem (adham) foi formado do pó úmido da terra (Gn 2.7). O uso do hebraico adham denota nome próprio, mas também é genérico, significando “homens” e “humanidade” (Sl 73.5; Is 31.3). Assim, homens e mulheres são descritos como criaturas da terra, porém Deus “soprou em seus narizes o fôlego da vida” (Gn 2.7b). O Senhor não fez isso com os animais. O sopro dEle foi a outorga do espírito, e isso distingue a humanidade dos demais seres criados.

  2. A Constituição do Ser Humano

  Elinaldo Renovado (apud GILBERTO, 2008, p. 289) reitera que Deus fez todas as coisas do nada e, no caso do ser humano, tomando a matéria inanimada, “do pó da terra”, ou das substâncias químicas existentes na argila, pelo seu poder fez o homem, com a sua extraordinária complexidade espiritual, mental, moral e biológica. E assim o fez composto de espírito, alma e corpo.

  Esequias Soares (2017, p. 78) corrobora que a natureza humana consiste numa parte externa, o corpo ou a carne (Gn 6.3; Sl 78.39) chamada “homem exterior”, e uma parte interna, denominada “homem interior”, composta do espírito e da alma (2 Co 4.16; 1 Ts 5.23). Essa constituição humana é denominada de tricotomia, isto é, três substâncias: espírito, alma e corpo (Hb 4.12).

  A parte “exterior” do ser humano veremos de modo específico, a seguir, no ponto II deste capítulo, com o subtítulo “O Corpo Humano na Bíblia”. Quanto à parte “interior”, nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 78) leciona que:

  Praticamente tudo o que a Bíblia diz a respeito da alma fala também do espírito, pois ambos deixam o corpo por ocasião da morte e sobrevivem a ela (Ec 12.7; Ap 6.9). Às vezes, o ser humano é tido como “corpo e alma” (Mt 10.28) e, outras vezes, “corpo e espírito” (Tg 2.26). Deus é revelado como espírito (Jo 4.24) e alma (Is 42.1). Essa interligação, às vezes, confunde os termos alma e espírito (Lc 1.46,47). Entretanto, eles são distintos entre si. O Espírito Santo opera por meio do espírito humano (Rm 8.16); mas isso nunca se diz com respeito à alma humana. A Bíblia fala sobre o homem perder a sua alma (Mt 16.26); essa linguagem, todavia, nunca é usada a respeito do espírito. A alma e o espírito são substâncias espirituais incorpóreas e invisíveis. Apesar dessas características comuns, são entidades distintas, porém inseparáveis; são os dois lados da substância não física do ser humano, o “homem interior” (Ef 3.16).

  Com essa assertiva, a tricotomia honra as Escrituras e harmoniza[1]se com elas, pois, de acordo com a Bíblia, o homem tem uma constituição tríplice. 137 A Bíblia de Estudo Pentecostal (1995, p. 979- 980) ratifica que o espírito é o componente pelo qual se tem comunhão com o Espírito de Deus. A alma é definida pelos aspectos da mente, das emoções e da vontade. O corpo é a parte que volta ao pó e que, no caso dos salvos, será transformado no dia da ressurreição (1 Co 15.42).

  3. Queda e Restauração Humana

  A Bíblia revela que todas as áreas de nosso ser foram afetadas pelo pecado (Rm 7.20-23). Essa verdade assinala que todos “somos pessoas decaídas, e isso inclui a nossa mente, as nossas emoções, a nossa vontade e o nosso corpo”, mas esse fato não sinaliza que “todos os seres humanos sejam potencial e extremamente maus”, e sim que todos os seres humanos “não são tão bons quanto precisariam ser”. 138 Isso acontece pelo fato de a corrupção do gênero humano atingir o homem em toda a sua composição: espírito, alma e corpo (Rm 2.9; 8.10; 2 Co 7.1)

  Nesse aspecto, Timothy Munyon (apud HORTON, 1996, p. 252) arrazoa que, embora constituído de três substâncias, aquilo que afeta um elemento do ser humano afeta a pessoa inteira; o que toca numa parte afeta a totalidade. Nessa perspectiva, o “interior” do homem não pode estar à parte do seu “exterior”. A vida espiritual não pode estar desassociada do corpo: “[...] glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6.20).

Não obstante, a natureza humana, por si própria, é incapaz de viver esse padrão de santidade exigido por Deus.

  Desse modo, o homem não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da graça divina (Jo 6.44). O ser humano não possui fé salvadora em si mesmo, nem no poder do seu livre-arbítrio. 139 Assim sendo,

  neste estado [caído], o livre-arbítrio do homem para o que é bom não somente está ferido, aleijado, enfermo, distorcido e enfraquecido; ele também está aprisionado, destruído e perdido. 140

  Apesar de tudo, a imagem de Deus no homem não foi aniquilada (Gn 9.6); foi, no entanto, desfigurada a tal ponto que a sua restauração só é possível em Cristo (Ef 2.10). 141

  Não obstante, com a vida escondida em Cristo (Cl 3.3), uma conduta irrepreensível é requerida ao cristão tanto no espírito, como na alma e no corpo (1 Ts 5.23). Significa que a santificação deve atingir a parte material e imaterial do homem. A santificação é uma “obra progressiva da parte de Deus e do homem que nos torna cada vez mais livres do pecado e semelhantes a Cristo em nossa vida presente”. 142 Contudo, em nossa trajetória cristã, continuamos sendo santificados, mas nunca chegaremos à santificação total até chegarmos ao Céu. Quer dizer que, somente no fim do processo da salvação, a glória perdida no Éden pelo primeiro Adão será finalmente restaurada (1 Co 15.45).

  II. O CORPO HUMANO NA BÍBLIA

  1. Parte Exterior do Homem

  No Antigo Testamento, a palavra hebraica nephesh é traduzida como corpo quatro vezes; contudo, a sua tradução mais comum é alma (428 vezes) e vida (119 vezes). Talvez a palavra basar, carne, seja a que mais se aproxima da distinção entre corpo e espírito. 143 No Novo Testamento, o termo “corpo” (gr. soma) normalmente identifica a parte exterior do ser humano (Mt 10.28; 1 Co 15.38). A palavra carne (gr. sarx), quando se refere ao homem físico, inclui a sua dimensão exterior (Lc 24.39; At 2.31). Ambos indicam a parte visível e material da natureza humana.

  Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 78) traz a seguinte definição:

  O corpo é o invólucro do espírito e da alma [Gn 35.18; Dn 7.15]. É a parte física, o homem exterior, que se corrompe, ou seja, envelhece e é mortal. O homem é carne como criatura perecível: “porque toda a carne é como erva” (1 Pe 1.24). Rejeitamos a ideia de ser o corpo a prisão da alma e do espírito ou de ser inerentemente mau e insignificante, pois ele é templo do Espírito Santo e templo de Deus, uma vez que o Espírito Santo habita em nós [1 Co 3.16,17; 6.19]. O corpo é importante, pois Deus o ressuscitará [...] (1 Co 15.42).

  Myer Pearlman (1898–1943) (2006, p. 108) descreve o corpo com três características:

  (i) Casa, ou tabernáculo, (2 Co 5.1). É a tenda na qual a alma do homem, qual peregrina, mora durante sua viagem do tempo para a eternidade. À morte, desarma-se a barraca e a alma parte; (ii) Invólucro, (Dn 7.15). O corpo é a “bainha” da alma. A morte é o desembainhar da espada. (iii) Templo. O templo é um lugar consagrado pela presença de Deus, um lugar onde a onipresença de Deus é localizada. Quando Deus entra em relação espiritual com uma pessoa, o corpo dessa pessoa torna-se um templo do Espírito Santo (1 Co. 6.19).

  Esses conceitos não reduzem o corpo humano a um simples “tabernáculo”, e nem tampouco o corpo é “coisificado”, como argumentam alguns. Reitera-se que o credo oficial das Assembleias de Deus “rejeita a ideia de ser o corpo a prisão da alma e do espírito ou de ser inerentemente mau e insignificante”. Quando a Escritura descreve a carne (corpo) em sentido negativo: “na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7.18), esse tom depreciativo diz respeito à natureza pecaminosa do homem, e não especificamente do corpo físico. Reitera-se que o corpo dos salvos será transformado no dia da ressurreição, quando, então, a sua redenção estará completa. 144

  2. Templo do Espírito Santo

   A Escritura declara que “o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor” (1 Co 6.13b). Não por acaso, Paulo enfatiza que as obras da carne manifestam-se com pujança na área sexual, as quais são: “[...] prostituição, impureza, lascívia” (Gl 5.19). Deus, porém, planejou o corpo humano para ser dedicado a Ele, e não à imoralidade sexual. 145 O corpo é para Deus, está destinado à ressurreição e será transformado na vinda do Senhor (1 Co 6.14). O corpo pertence ao Criador e a Ele deve estar unido, e não em depravação sexual: “[...] o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito” (1 Co 6.17). A passagem sinaliza que é inconcebível alguém em uma união tão próxima com Cristo viver ao mesmo tempo unido à luxúria e à licenciosidade.

  O Comentário de Aplicação Pessoal (2009, vol. 2, p. 131) avalia que:

  Paulo queria que os seus leitores enxergassem a perversão que seria usar um corpo dado por Deus para cometer o pecado sexual com uma prostituta (talvez até uma prostituta do templo pagão, o que tornaria o pecado sexual uma forma de idolatria). Estes pecados não são meramente físicos; eles têm um forte efeito sobre a vida espiritual da pessoa que os comete. Eles são profundamente emocionais e até místicos, no caso da união criada entre os parceiros sexuais. As consequências de tais pecados são profundas.

  Nessa compreensão, aquele que comete o pecado da imoralidade sexual junta-se ou “une-se” em conjunção carnal com um(a) parceiro(a) que não seja o seu cônjuge (1 Co 6.16). Em contraste, o cristão está unido ao Senhor em união com Cristo, sendo feito participante do seu Espírito pela fé (1 Co 6.17). 146 A dádiva e o prazer da relação sexual possuem aprovação divina somente na união matrimonial (Gn 2.24). Nesse sentido, o cristão é exortado  a não pecar contra o próprio corpo (1 Co 6.18). Literalmente significa proibido de práticas imorais (Rm 6.13,19; 1 Co 6.15,16).

  O texto bíblico enfatiza que os corpos dos salvos são metaforicamente membros do corpo de Cristo (1 Co 6.15; cf. Rm 12.4,5).

  Assim, o pecado sexual torna-se uma violação contra o próprio corpo, que pertence a Cristo (1 Co 6.18). Nesse diapasão, Paulo ratifica o que já havia ensinado, isto é, que os cristãos tornaram-se o templo onde o Espírito de Deus habita: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16; 6.19; cf. Ef 2.22). Assim sendo, o apóstolo reitera que o corpo não nos pertence, mas pertence a Deus: “[...] não sois de vós mesmos” (1 Co 6.19b). Isso porque um resgate de alto preço foi pago por Cristo (1 Co 6.20a; 7.23; cf. 1 Pe 1.18,19). Desse modo, o corpo deve ser santo e usado para glorificar a Deus (1 Co 6.20b). Por conseguinte, o corpo como santuário nunca deve ser profanado ou aviltado por impureza alguma.

  3. Glorificado na Ressurreição

 A ressurreição de Cristo aniquilou o império da morte (Hb 2.14,15). O império da morte sob o comando de Satanás relaciona-se ao seu nefasto estratagema de introduzir o pecado no mundo, uma vez que “o pecado reinou pela morte” (Rm 5.21), e a morte provém do pecado (Tg 1.15). 147 Não obstante, a vitória de nosso Salvador Jesus Cristo “aboliu a morte” (٢ Tm ١.١٠) e garantiu nossa ressurreição (١ Co ٢ ;٦.١٤ Co ٤.١٤).

  No entanto, apesar de o Diabo e da morte terem sido derrotados por Cristo na obra da cruz (Jo 10.10; 1 Jo 3.8), tanto o Diabo como a morte permanecem atuando na humanidade (Rm 6.12; 2 Co 4.4; 1 Pe 5.8). Os efeitos totais da vitória de Cristo serão plenamente percebidos por ocasião do retorno do Senhor, quando “os mortos ressuscitarão incorruptíveis [...] e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória” (1 Co 15.52,54).

  Não obstante, há um estado intermediário entre a morte e a ressurreição do corpo, onde o imaterial (espírito e alma) subsiste de modo consciente e onde o corpo volta ao pó da terra (Lc 9.28-31; 16.22-31). Contudo, nosso corpo carnal não pode herdar o Reino de Deus (1 Co 15.50). Por isso, a derradeira etapa de nossa salvação é a glorificação (Rm 8.30). Nela estão inclusas a redenção e a transformação de nosso corpo mortal conforme o corpo glorioso de Cristo (Rm 8.23; Fp 3.21).

  O Comentário Bíblico Pentecostal do N.T. (2003, p. 1.056-1.057) leciona que:

 A mudança que acontece é mais do que uma reanimação ou ressurreição de um corpo morto. É a transformação pela qual o corpo é ressuscitado em incorrupção, isto é, não é mais sujeito a morte e a deterioração. [...] Paulo estaria então exortando os crentes a se amoldarem a imagem de Cristo, aconselhando-os a se prepararem para o futuro. A conformidade completa à imagem de Cristo, porém, não pode ser alcançada nesta vida. Acontecerá na parousia. O apóstolo João disse que “quando Ele se manifestar seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3.2)

   A salvação, portanto, começa com um ato jurídico (justificação), prossegue em processo vitalício de afastar-se do pecado (santificação) e culmina com nosso corpo transformado num corpo incorruptível e imortal (glorificação). 148 Ratifica-se que a glorificação ocorrerá quando o Senhor Jesus voltar (1 Ts 4.13-17). Na ressurreição, a parte imaterial será reunida em um corpo incorruptível, glorificado, espiritual e imortal (1 Co 15.42-44,52-54). Assim, a morte é o último inimigo a ser vencido (1 Co 15.26).

  III. A VISÃO SECULAR DO CORPO

  1. Hedonismo e Narcisismo

  O hedonismo alega que o objetivo da vida é a obtenção do prazer e a fuga do sofrimento. Essa mentalidade foi desenvolvida por Aristipo de Cirene (435 a.C.–356 a.C.), fundador da escola cirenaica. Na ética hedonista cirenaica, cabem todos os excessos, visto que o fim da ação proposta é todo e qualquer prazer que resulta das sensações. 149 Nesse aspecto, tudo é permitido, tais como a prática da imoralidade e dos vícios em geral.

  O narcisismo reflete o mito grego de Narciso. Relata a mitologia que, um dia, ao debruçar-se sobre um lago, Narciso viu o seu próprio rosto refletido na água. Sem saber que o reflexo era do seu próprio rosto, ele imediatamente se apaixonou pela imagem. Narciso ficou naquele lugar, hipnotizado, dias e dias sem comer nem beber, ficando cada vez mais fraco. Assim, acabou morrendo ali mesmo, com o rosto pálido voltado para as águas. Esse foi o castigo de Narciso, cujo destino foi amar a si próprio. 150

  Desse modo, narcisismo é a alusão à pessoa que tem amor excessivo por si mesma. Extremamente vaidosa e egocêntrica, tal conduta prima pela autoexaltação e sentimento de superioridade. No contexto dessa abordagem, refere-se ao indivíduo que persegue insensatamente o corpo ideal por meio da boa estética a qualquer custo e que se porta com ostentação em busca da autorrealização de ser admirado.

  Em oposição a essa cultura, Paulo ensina que “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm” (1 Co 6.12a). Indica que os crentes não devem cometer certos atos para que não estejam escravizados àquilo que não convém. 151 Zelar, cuidar e manter o corpo saudável são formas de glorificar a Deus (Ef 5.29). Contudo, na busca da felicidade, o hedonismo e o narcisismo — que, juntos, resultam no “culto ao corpo” — são incutidos na sociedade como modelo de bem-estar.

  2. Erotização e Libertinagem

  Ao formar o ser humano, Deus também criou a sexualidade (Gn 1.27,28). Não se trata, portanto, de algo impuro. O pecado não está no sexo, mas na perversão do seu propósito. Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, 204) leciona que a relação sexual não é só para procriar, mas também para o prazer, dentro dos limites do matrimônio e do uso natural do corpo (Rm 1.26,27; Hb 13.4).

  Todavia, em nossos dias, tem-se percebido o abuso da grande mídia em veicular e induzir cada vez mais a erotização e a libertinagem. A sensualidade do corpo humano é explorada nos filmes, novelas, artes, músicas e literaturas, dentre outros meios. O objetivo é de sedução e estímulo da sexualidade e das suas práticas sexuais ilícitas. Como resultado, a licenciosidade — a conduta sexual desregrada e imoral — prolifera assustadoramente (1 Co 6.10).

  Os desafios de nosso tempo são cada vez maiores; o casamento e o divórcio estão banalizados e deturpados (Mt 19.7,8). Muitos estão chafurdados no pecado de adultério e escravizados pela pornografia (Mt 5. 28; 19.9). Na sociedade depravada, o sexo grupal e o swing (troca de casais) são praticados e estimulados. O vocabulário é permeado de palavras de lascívia e expressões maliciosas (Cl 3.8). As crianças estão sendo submetidas à erotização precoce no ambiente escolar por meio da imposição da ideologia de gênero.

  Diante disso, Paulo adverte os cristãos para que “fujam da imoralidade sexual” (1 Co 6.18a, NVI) e orienta o crente salvo dizendo que “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Co 6.12b, NAA). Isso significa que todas as coisas estão em nosso poder, mas não podemos ser colocados sob o poder de nenhuma delas. Assim, devemos estar alerta quanto aos desejos que podem ter domínio sobre nós. 152

 3. Liberdade e Autonomia

  A Bíblia atesta que o homem é dotado de livre-arbítrio (Gn 2.16,17). Isso indica autonomia para tomar as próprias decisões e autogovernar-se. Sim, somos livres, porém qualquer ato nosso será alvo do juízo divino (Ec 12.14).

 O Comentário Beacon (2005, vol. 3, p. 467) discorre:

  Deus é um Deus santo, e Ele está preocupado com a santidade ética dos homens. Ele vai trazer a juízo toda obra — até mesmo tudo o que está encoberto. Cada ato e cada pensamento do homem, tudo vai ser julgado tendo como base se foi bom ou mau.

 A igreja em Corinto estava fazendo mau uso da sua liberdade em Cristo. Alguns dos seus membros colocaram-se acima das limitações morais e sentiam-se no direito de fazer o que quisessem com os seus próprios corpos (1 Co 5.1,6.13). O apóstolo já havia tratado desse problema na igreja da Galácia: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5.13). Nos seus ensinos, Paulo orientava[1]os a controlar os apetites carnais (2 Co 7.1). Não obstante, no atual cenário, ideias secularistas promovem a banalização do corpo. O existencialismo ateu, por exemplo, afirma que o homem deve usufruir de liberdade incondicional para descobrir o sentido da vida. Nesse aspecto, livre de qualquer moral divina, o indivíduo passa a exercer total controle sobre o corpo. Desse modo, os seus adeptos atuam contra o corpo na legalização do aborto, prostituição, drogas, suicídio assistido, entre outros. Contrário a essa falsa ideia de liberdade, a Palavra de Deus assevera que “[...] todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). O Comentário Bíblico Moody (2010, vol. 2, p. 442) arrazoa que “a indulgência em um hábito que se apossa de alguém não é liberdade, mas escravidão”. French Arrington (2003, p. 967) assegura que “aquele que exercita a liberdade desenfreada torna-se realmente um escravo dessa liberdade, que não é outra coisa senão libertinagem”.

  CONCLUSÃO

  Criado da terra à imagem e semelhança divina, o homem é constituído de três substâncias: espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23). Nessa concepção, não podemos cometer pecado com o corpo sem afetar o espírito e a alma (1 Co 6.15-17). O corpo é a morada do Espírito, que não habita em santuário impuro (1 Co 6.18,19). O corpo dos santos será glorificado na vinda de Cristo (1 Co 15.52). Assim, o corpo não deve ser tratado como algo pejorativo. O princípio de cuidado e santidade do corpo deve ser observado por aqueles que pertencem a Deus (1 Co 6.20).


136 HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 21.

 137 GILBERTO, Antonio (Ed.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 270.

 138 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, vol. 2, p. 128-129.

 139 MARIANO, W. O que É Teologia Arminiana? São Paulo: Reflexão, 2015, p. 19.

 140 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, vol. 1, p. 473.

141 SOARES, E. (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 58.

 142 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 622. 143 PFEIFFER, Charles J. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 465.

144 STAMPS, Donald (ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 980.

 145 ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 966. 146 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Novo Testamento. Vol. 1-2. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 453.

147 HAGNER, Donald A. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Hebreus. São Paulo: Vida, 1997, p. 65.

 148 BAPTISTA, Douglas. A Igreja Eleita. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p. 75.

 149 SANTOS, Rogério Lopes. O Prazer (Hedoné) como Fim (télos) da Ação e como Fonte de Perturbação da Mente Segundo Epicuro. Revista Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 31, n. 61, p. 475-490, jan./abr. 2017.

150 VASCONCELLOS, Paulo Sérgio de. Mitos Gregos. São Paulo: Objetivo, ١٩٩٨, p. ١٨ ,١٧.

 151 RIBAS, Degmar (Trad.). Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, vol. 2, p. 130.

152 RIBAS, 2009, vol. 2, p. 130.

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