TEXTO ÁUREO
“Por isso não
desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo,
se renova de dia em dia.” (2 Co 4.16)
VERDADE
PRÁTICA
Por instrumentalidade do
Espírito Santo, os salvos experimentam a renovação interior em meio as
adversidades externas.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
2 Coríntios 4.11-18
11 - E
assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de
Jesus se manifeste também em nossa carne mortal.
12 - De
maneira que em nós opera a morte, mas em vós, a vida.
13 - E
temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri; por isso,
falei. Nós cremos também; por isso, também falamos,
14 -
sabendo que o que ressuscitou o Senhor
Jesus nos ressuscitará também por Jesus e nos apresentará convosco.
15 -
Porque tudo isso é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundante a ação de graças,
para glória de Deus.
16 -
Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa,
o interior, contudo, se renova de dia em dia.
17 -
Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente,
18 -
não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são
temporais, e as que se não veem são eternas.
PLANO DE AULA
1. INTRODUÇÃO
As adversidades são comuns à
nossa vida terrena. Por isso, nosso Senhor alertou: "no mundo tereis
aflições" (Jo 16.33). Fica claro que as aflições são uma realidade.
Entretanto, o nosso desafio é não deixar que a fé seja enfraquecida por elas.
Precisamos lembrar de que Jesus já venceu o mundo. Assim, a lição desta semana
traz uma exortação para que a nossa vida interior, isto é, a vida espiritual, persevere
diante das muitas dificuldades externas.
2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Refletir sobre as adversidades
enfrentadas pelo homem interior;
II) Compreender que essas
dificuldades na vida não podem ser comparadas à glória futura reservada aos
cristãos;
III) Despertar os alunos para
buscar o renovo espiritual e o fortalecimento do homem interior.
B) Motivação: A vida do apóstolo
Paulo nos mostra que os crentes fiéis e obedientes ao Senhor também passam por
muitas provações e aflições. Ele nos deixou um grande exemplo de como
permanecer firme em Cristo, mesmo diante do sofrimento. Como cristão precisamos
amadurecer na fé. Para isso, Deus usa as adversidades para nos conduzir ao
caminho do crescimento espiritual.
C) Sugestão de Método: Essa lição
precisa ser desenvolvida à luz das experiências pessoais dos seus alunos. Ao
apresentar o primeiro e o segundo tópico, compartilhe um testemunho pessoal que
mostre o quanto uma adversidade pode nos fazer crescer na fé. Em seguida,
convide seus alunos a compartilharem também. Exemplos reais irão enriquecer sua
aula e edificar a fé dos ouvintes.
3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: Esta lição traz uma
mensagem de despertamento espiritual. Convide sua classe a refletir sobre a
saúde e a firmeza da fé em Cristo. Na lição foi citado dois tipos de ataques
contra a fé cristã (o secularismo e o relativismo doutrinário). Entretanto, é
possível que seus alunos estejam enfrentando outros tipos de provações.
Ressalte que o Espírito Santo é nossa fonte de força e renovo. Encerre a aula
motivando seus alunos a buscarem mais da intimidade com Deus por meio de uma
vida de oração.
4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão.
Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e
subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 94, p.41, você
encontrará um subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do
tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula:
1) O texto "O paradoxo dos
sofrimentos de Paulo", que ajudará aprofundar o primeiro tópico;
2) O texto "Batalha
Espiritual" deve ser usado na ministração do segundo tópico, pois traz
aplicações devocionais sobre o tema.
PALAVRA-CHAVE
Renovação
AUXÍLIO TEOLÓGICO
“O PARADOXO DOS SOFRIMENTOS DE
PAULO
[Em 2
Coríntios 4.7-11] Parece que Paulo foi atingido pelo paradoxo que acabou de
descrever. O ‘tesouro’ (v. 7) faz referência à ‘luz [ou iluminação] do
conhecimento da glória de Deus na face de Cristo’ (v. 6), conhecido e
experimentado por Paulo e seus companheiros. Isto abrange a completa realidade
que pertence ao novo ministério da aliança do Espírito (3.3-18). Paulo é
dominado pelo contraste entre o valor insondável e duradouro deste ‘tesouro do
evangelho’ e a indignidade e fragilidade humana (‘vasos de barro’) daqueles que
agora levam-no ao mundo. Ele também percebe que este paradoxo é necessário.
Deus escolheu trazer o evangelho ao mundo através da fraqueza humana [5] para
que a grandeza extraordinária de seu poder de salvação possa ser vista como sua
obra e não como uma ação humana.
Os versículos 8,9 contêm quatro
conjuntos de contrastes que ilustram tanto a fraqueza de Paulo em executar sua
chamada apostólica, como o poder de Deus para superar esta fraqueza e
libertá-lo: Paulo conheceu aflições que pressionavam-no de todos os lados, porém
nunca foi cercado a ponto de ser esmagado. Encontrou circunstâncias
desnorteantes, mas nunca chegou a ponto de se desesperar. Seus inimigos haviam
perseguido seus passos, mas Deus nunca o deixou cair em suas garras.
Abateram-no até o chão, porém foram impedidos de dar o golpe fatal. Em
resumo, Paulo descreve estas experiências em termos físicos, identificando-as
com a “morte de Jesus” ou até mesmo como que participando desta (v. 10), de
forma que Deus poderia revelar seu poder de ressurreição. Este poder infunde ao
corpo mortal de Paulo a vida de Jesus, e preservou-o apesar das tribulações e
das ameaças contra sua vida (vv. 10-11). Estas não são somente as consequências
destas tribulações, mas também o propósito de Deus” (ARRINGTON, F. L. STRONSTAD,
R. Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro:
CPAD, 2009, p. 287).
AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO
BATALHA ESPIRITUAL
“A guerra é aplicada de forma figurada à vida
espiritual, particularmente pelo apóstolo Paulo. O seguidor de Cristo, como um
bom soldado, suporta as dificuldades e não se envolve de forma exagerada com os
assuntos desta vida (2 Tm 2.3,4). Aquele que é temente e obediente veste ‘toda
a armadura de Deus’ para que possa estar firme e resistir às forças espirituais
opostas que, de outro modo, o derrotariam (Ef 6.10-20).
O cristão não trava uma guerra contra a carne e o sangue; portanto, as
armas de sua luta não são materiais ou humanas, e sim divinamente poderosas
para destruir fortalezas de especulações e sofismas, e tudo aquilo que se
levanta de forma orgulhosa contra o conhecimento de Deus (2 Co 10.4,5). A
Igreja de Jesus Cristo deve lutar contra as portas do inferno, pois estas não
serão capazes de resistir (Mt 16.18)” (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006, p.887).
CONCLUSÃO
Durante a existência do corpo mortal,
nosso homem exterior estará sujeito às tribulações desta vida (2 Co 4.11).
Apesar do padecimento e das aflições, o nosso homem interior não deve
desfalecer, mas se renovar por meio do poder do Espírito (2 Co 4.16). Assim, os
sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com o peso de glória
eterna reservado para os fiéis (2 Co 4.17). Por isso, no tempo presente de
ataques e desconstrução da fé cristã, necessitamos de renovação do nosso
interior, dia a dia, para enfrentar o poder do pecado e do mal.
Lição 10 A renovação Cotidiana do Homem Interior
CPAD - Revista: A igreja de
Cristo e o Império do Mal: como viver neste mundo dominado pelo Espirito da
Babilônia
COMENTARISTA: Pr. Douglas Baptista
Por isso não
desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo,
se renova de dia em dia (2 Co 4.16)
As adversidades do ser humano são uma incontestável
realidade (Rm 8.22,23). Apesar disso, os salvos experimentam renovação interior
por meio do Espírito Santo (2 Co 4.16). Não obstante, durante nossa existência,
o corpo mortal permanecerá sujeito às vicissitudes da vida (2 Co 5.2-4). Neste
capítulo, veremos o sofrimento do homem exterior, o fortalecimento do homem
interior e os desafios a enfrentar diante da agenda anticristã na
pós-modernidade. A finalidade é mostrar que o crente espiritualmente renovado
pode resistir a qualquer ataque das trevas.
I. O SOFRIMENTO EXTERIOR
1. A Experiência de Paulo
A
Bíblia ensina que o tesouro do Evangelho está guardado em vasos de barro (2 Co
4.6,7). O Comentário de Aplicação Pessoal (2009, vol. 2, p. 208) discorre que
“as pessoas guardam seus tesouros em cofres e caixas-fortes. Mas Deus coloca
seu precioso tesouro — a mensagem que liberta as pessoas do pecado — em vasos
de barro, isto é, nos seres humanos”. Temos aqui uma menção à natureza do homem
feito do pó, a mortalidade do corpo e a fragilidade da pessoa humana (2 Co
7.5).
Nesse
aspecto, o homem exterior padece e sofre ataques por causa da cruz de Cristo (2
Tm 2.9,10). Os aborrecimentos, as oposições e as prisões que Paulo experimentou
brotaram diretamente do seu testemunho firme sobre a ressurreição de Cristo.
153 Paulo declara que fora de sobremodo agravado, com uma intensidade
extraordinária, acima de qualquer força comum do homem, ou de cristãos normais.
154 Por causa do evangelho, o apóstolo relata tribulação a tal ponto de perder
a esperança da própria vida (2 Co 1.8). Ele ainda relaciona prisões, açoites,
apedrejamentos, perseguições, fadiga, fome, sede, frio e nudez (2 Co 11.23-27).
O
Comentário Bíblico Pentecostal (2003, p. 1.114) descreve que:
Paulo
começa a catalogar as tribulações e os sofrimentos suportados em seu serviço a
Cristo. [...] A lista é longa e inclui perseguições (2 Co 11.24- 25b, 32-33),
risco de perder a vida (2 Co 11. 25c-26), dificuldades físicas (2 Co 11.27) e
fardos psicológicos advindos de uma preocupação pastoral pelas igrejas (2 Co
11.28). Paradoxalmente, ele não se gloria nos sucessos, mas naquilo que
normalmente seria visto como um fracasso (2 Co 11.24-27), não em obras
poderosas, mas em fraqueza (2 Co 11.29,30).
Nesse
contexto, o apóstolo dos gentios ratifica o rigor dessa jornada quando disse:
“Na verdade, todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos” (2 Tm 3.12, NAA). O Comentário Bíblico de Beacon (2005, vol. 9, p.
529) assevera que
podemos ser cristãos nominais sem sofrer
muitos inconvenientes. Mas os que querem ser cristãos genuínos têm de pagar o
preço inevitável do sofrimento, embora tenham a garantia do poder libertador de
Deus.
Nessa assertiva, o crente falso não sofre por
causa da fé, mas o fiel é alvo de desmedida importunação (Jo 15.20).
2. O
Exemplo do Apóstolo
Mesmo
diante do sofrimento, Paulo não retrocede e tampouco nega a fé (2 Tm 4.7; Hb
10.39). As provações forjaram a sua total confiança em Deus (2 Co 1.9,10; Fp
4.12,13). Ele reconhece que as suas fraquezas são instrumentos do poder de Deus
(2 Co 2.4; 4.11; 12.9,10). A sua vida está a serviço do Mestre, em favor dos
escolhidos e para a glória de Deus (2 Co 1.12-14; 4.11,12-15).
O Dicionário de Paulo e suas Cartas (2017,
p. 1.181) leciona que: Para Paulo, toda vez que os cristãos sofrem
realmente, também eles devem enfrentar o sofrimento com alegria, sabendo que a
tribulação não é sem sentido, mas é o meio divinamente orquestrado pelo qual
Deus fortalece sua resignação e sua esperança fiéis, derramando seu amor e seu
Espírito para sustentá-los ou livrá-los no infortúnio (Rm 5.3-5; 8.12-39; 2Co
1.6). Em resultado, eles também vêm a personificar em suas vidas a cruz e a
ressurreição, como testemunho para outros da verdade de Cristo, em especial
quando isso se reflete na capacidade de amar os outros mesmo quando passam por
tribulações (2Co 8.1-2; 1Ts 1.2-7; 2Ts 1.3-5). Por conseguinte, Paulo exorta os
leitores a ser pacientes e perseverantes na adversidade, que é a defesa de sua
fé (Rm 12.12; 2Tm 4.5), pois ele sabe que só os que sofrem com Cristo na
resignação da fé também serão glorificados com Cristo (Rm 8.17).
Nessa
compreensão, o apóstolo enxerga propósitos positivos no sofrimento. É nas
tribulações que o cristão aprende a confiar inteiramente em Deus e na sua
soberania e ainda se habilita a consolar os que padecem das mesmas aflições (2
Co 1.4-6). Na adversidade, o crente liberta-se da sua independência e autoconfiança
e, assim, é forçado a olhar além de si mesmo para o “Pai das misericórdias e o
Deus de toda a consolação” (2 Co 1.3b). 155
Cônscio
da sua vocação, Paulo declara: “Por isso, não desfalecemos[...] ainda que o
nosso homem exterior se corrompa” (2 Co 4.16a). A confiança no poder de Cristo,
o zelo pelo evangelho e o amor pelas almas (2 Co 4.13-15) serviam como “base de
coragem para enfrentar o esgotamento de seus recursos físicos e mentais”. 156 O
legado do apóstolo é de perseverança. Embora o homem exterior seja consumido
pelas tribulações, o crente salvo não pode desanimar e nem recuar. Acerca
disso, Cristo assegurou: “[...] no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo;
eu venci o mundo” (Jo 16.33).
3. A Esperança do Crente
As Escrituras asseveram que a fraqueza humana
serve para engrandecer a mensagem do poder de Cristo (2 Co 12.9). A debilidade
do vaso humano requer e prova que “a excelência do poder é de Deus e não de
nós” (2 Co 4.7b). Nossas fragilidades auxiliam na formação de nosso caráter
cristão, amadurecem nossa espiritualidade e aprofundam nossa confiança e
adoração (2 Co 4.17). Ao reconhecer nossas fraquezas, reconhecemos o poder de
Deus (2 Co 12.9).
Esse
paradigma ensina que, embora nosso corpo esteja sujeito ao pecado e ao
sofrimento, Deus sempre provê um meio de escape (1 Co 10.13). Como Cristo
obteve êxito sobre a morte, do mesmo modo temos esperança de plena vitória e de
vida eterna (2 Co 4.14). Nosso corpo debilitado pelas aflições não é esquecido
por Deus. Todas as nossas lutas, dores, angústias e tribulações são
experiências de crescimento e demonstração do poder de Cristo: “[...] a
tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a
esperança. E a esperança não traz confusão” (Rm 5.3,4).
Com
esse entendimento, Matthew Henry (2008, vol. 2, p. 514) enfatiza que:
Deus muitas vezes leva seu povo a enfrentar
grandes dificuldades, para que possam perceber sua própria insuficiência em se
ajudar, e sejam persuadidos a colocar sua confiança e esperança no Deus
Todo-Poderoso. Nosso limite é a oportunidade de Deus. [...] Experiências
passadas são grande alento para a fé e a esperança, e ajudam para confiarmos em
Deus para o futuro. Nós menosprezaremos as nossas experiências se desconfiarmos
de Deus em futuras dificuldades, que continuará a nos livrar como em
tribulações passadas.
Nesse contexto, Paulo estabelece o contraste
entre as aflições do homem e o poder de Deus. De um lado, a investida maligna e
mortífera contra a fragilidade humana, que atinge o cristão com ímpeto e fúria
a fim de derrotá-lo. E, de outro lado, a manifestação graciosa da grandeza e da
providência divina em propiciar ao crente fiel força suficiente para obter livramento
e vitória.
Desse modo, Paulo assegura que somos: (a)
“atribulados, mas não angustiados” (2 Co 4.8a). Significa que, mesmo
pressionado pelo mal, o crente não é esmagado; (b) “perplexos, mas não
desanimados” (2 Co 4.8b). Indica que, mesmo confuso, o crente não se desespera; (c) “perseguidos, mas não
desamparados” (2 Co 4.9a). Sinaliza que, mesmo ameaçado, o crente não é
abandonado por Deus; e (d) “abatidos, mas não destruídos” (2 Co 4.9b). Mostra
que, mesmo derrubado, o crente não perde as suas forças. Por conseguinte,
gloriamo-nos na esperança da glória de Deus (Rm 5.2).
II. A RENOVAÇÃO INTERIOR
1. O
Fortalecimento Diário
A
Bíblia enfatiza que o Espírito Santo é a única força que habilita o cristão a
manter-se firme na adversidade (Jo 14.16,17). Esse poder atua no homem interior
e capacita o crente a perseverar e a viver afastado do pecado (1 Co 2.12-16).
Paulo ressalta que, apesar da fraqueza e sofrimento exterior, nosso “interior,
contudo, se renova de dia em dia” (2 Co 4.16b). Ele refere-se à operação do
Espírito, que qualifica o salvo a não desfalecer. O Comentário Bíblico Beacon
(2005, vol. 8, p. 428) esclarece que:
Paulo
não “desanima” (RSV), apesar do processo mortal que está operando no seu “homem
exterior”. Mesmo que a sua “humanidade exterior” (NES) esteja “decaindo”
constantemente (ASV), o homem “interior, contudo, se renova de dia em dia” (Rm
7.22; Ef 3.16). Os dois verbos estão no presente, indicando um processo
contínuo. Paulo é extremamente otimista. A sua vida, na relação com Cristo,
consiste na recepção diária dos recursos espirituais que são renovados
diariamente (Rm 12.2; Tt 3.5). Ela está constantemente aumentando. Embora um
processo inevitavelmente deva terminar com a morte, o outro irá, com a mesma
certeza, resultar na vida que é eterna.
Nesse
diapasão, Lloyd-Jones (1992, vol. 3, p. 122, 124) avalia que:
Primeiramente, a mente precisa ser fortalecida
num sentido espiritual. Isso porque somos assaltados por dúvidas. [...] Ou
podemos ser perturbados por maus pensamentos que invadem a mente. [...] Outro
problema é o de pensamentos dispersos. [...] Quantas vezes vacilamos e
fracassamos em nossa mente, em nosso coração ou em nossa vontade! Se fossemos
deixados entregues a nós mesmos, não haveria esperança para nós, e não haveria
ninguém para recomendar o Evangelho. [...] Não posso fazer-me forte: não posso
introduzir este ferro nas muralhas da minha alma; faça o que fizer,
fracassarei. Mas eis aí a força que vem de Deus. Ele é totalmente suficiente!
Esse
renovo ocorre por meio da santificação pessoal, fidelidade, reverência, oração,
leitura bíblica, jejum e temor a Deus (1 Co 7.5; Ef 5.18; Hb 12.14,28).
Contudo, não podemos alcançar ou merecer o favor e a justiça do Reino de Deus
meramente observando as disciplinas cristãs. A disciplina cristã é um meio de
aproximarmo-nos de Deus, um meio de semear para o Espírito (Gl 6.8). 157
Portanto, não permita que a aflição venha desanimá-lo. Renove seu compromisso
de servir a Cristo e permita que o poder do Espírito de Deus fortaleça-o a cada
dia (1 Co 16.13).
2. O Eterno
Peso de Glória
Paulo
declara que “[...] a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso
eterno de glória mui excelente” (2 Co 4.17). No texto, o apóstolo faz um
contraste entre o sofrimento presente e o futuro glorioso. A menção da glória
de Deus é referência à promessa e à esperança que sustenta a fé do crente em
meio ao sofrimento, isto é, Cristo em nós, que é “a esperança da glória” (Cl
1.27).
Ela
ensina que as provações desse tempo presente são ferramentas divinas no
contínuo processo de aperfeiçoamento do crente, até alcançar “à medida da
estatura completa de Cristo” (Ef 4.13). Paulo afirma que a tribulação é leve se
comparada ao peso da glória; que a aflição é passageira, enquanto a glória é
eterna. Essa glória supera tanto o sofrimento — em intensidade e em duração —
que realmente não pode haver comparação (Rm 8.18). 158
O Comentário Bíblico Pentecostal (2003, p.
1.092) assevera que: Deus está produzindo “para” (ou, talvez melhor “em”)
nós uma glória eterna que excede em muito todas as dificuldades temporais (2 Co
3.17; 4.17; Rm 8.17,18,29,30,37,39). Essa transformação ocorre à medida que
suportamos as tribulações, aguardando ansiosamente a realidade eterna que nos
espera e que mesmo agora está sendo operada em nós.
Não
obstante, Warren Wiersbe (2019, vol. 5, p. 842) alerta que:
Não
devemos interpretar esse princípio equivocadamente e pensar que o cristão pode
viver como bem entender e esperar que, no final, tudo se transforma em glória.
Paulo escreve sobre tribulações que sofria dentro da vontade de Deus e enquanto
realizava a Obra do Senhor. Deus pode transformar o sofrimento em glória, e é
exatamente o que Ele faz; mas Deus não pode transformar pecado em glória. O
pecado deve ser julgado, pois não possui glória alguma. [...] Em si mesmo, o
sofrimento não tem poder para nos tornar homens e mulheres mais santos. A menos
que nos entreguemos ao Senhor, busquemos sua Palavra e confiemos que Ele irá
operar, o sofrimento só servirá para prejudicar a nossa vida cristã.
Assim, a adversidade sofrida por causa da
consciência para com Deus (1 Pe 2.19) é que serve de instrumento que encoraja o
homem interior e impulsiona-o a prosseguir (Fp 3.13,14). Ela mostra que a fé
renova-se à medida que o crente é capaz de suportar as tribulações (Jó 42.5; Sl
119.67). Portanto, faz-se necessário fugir da murmuração e aceitar as lutas
segundo o critério de Deus. A Palavra de Deus ratifica que as aflições deste
tempo não podem ser comparadas com a glória do porvir (Rm 8.18).
3. A
Visão da Eternidade
Paulo
exorta o cristão a não atentar “nas coisas que se veem, mas nas que se não
veem; por que as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”
(2 Co 4.18). Aqui, o apóstolo apresenta o contraste entre as coisas visíveis e
as invisíveis, as coisas temporárias e as que são eternas. O autor do livro de
Hebreus também faz um apelo veemente para o exercício da fé bíblica: “Ora, a fé
é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não
veem” (Hb 11.1).
Quanto
ao conceito de fé, Fritz Laubach (2000, p. 182) esclarece que:
Em Hebreus 11.1 ressalta-se que a pessoa
que crê foi presenteada com uma certeza, com uma nova perspectiva da realidade
invisível de Deus. Justamente o que parece contraditório e até impossível para
a capacidade de raciocínio natural do ser humano não redimido, realiza-se na
vida do fiel: “não atentando nós nas coisas que se veem, mas que não se vem”
(2Co 4.18). Pela fé, de fato descerra-se para nós um mundo inteiramente novo.
Obtemos acesso à gloria de Deus. Justamente naquilo que para o ser humano
natural é inconcebível, enquanto ainda estiver fora da vida com Deus, torna-se
realidade máxima para os fiéis. O mundo eterno de Deus torna-se realidade para
nós, de maneira bem diferente de tudo o que constatamos neste mundo objetivo.
Assim sendo, a orientação paulina ratifica
que o crente deve estar sempre de bom ânimo, “porque andamos por fé e não por
vista” (2 Co 5.7). Somado à renovação diária, o salvo deve viver sustentado
pela fé bíblica, esperança e visão da eternidade. Refere-se a uma importante
motivação para o não desfalecimento nas tribulações. Se o cristão perder o foco
do que é celestial, estará fadado à derrota. Ló, por exemplo, vivia segundo o
que podia ver e, por causa disso, acabou escolhendo o que era errado, o que
prejudicou a sua família (Gn 13; Hb 11.10). Nossos esforços devem buscar as
coisas que são de cima (Cl 3.1).
Na
marcante comparação anotada por Paulo, duas diferentes visões estão envolvidas:
(1) o que pode ser visto pelo olho humano e (2) o que pode ser visto somente
pelos olhos espirituais — aquilo que é efêmero e aquilo que é permanente; as
coisas terrenas como um processo de dor inevitável, e a celestial como suprema
esperança de vida eterna isenta de aflições (Is 25.8). Acerca dessa
expectativa, o apóstolo acrescenta: “Pensai nas coisas que são de cima e não
nas que são da terra” (Cl 3.2). Desse modo, devemos desenvolver uma visão
“espiritual” que mantenha um foco firme não no mundo visível desta vida
temporal, mas no invisível mundo eterno. 159
III. OS
DESAFIOS DE HOJE
1.
Cultura Secularista
O termo
“secular” e as palavras derivadas “secularismo”, “secularidade” e
“secularização” adquirem um significado moderno a partir da distinção medieval
entre a jurisdição eclesiástica (igreja) e a jurisdição secular (mundo). 160 A
secularização em si mesma não é propriamente maléfica; só que, quando colocada
contra a religião, se torna numa hostil opositora da fé.
Acerca
do tema, Carl Henry (2007, p. 541) argumenta que:
Até
o século dezenove o termo secularismo, geralmente, se referia à separação entre
a autoridade civil e a autoridade eclesiástica. [...] Hoje o “secular” é posto,
geralmente, em contraste ao “sagrado”, substituindo o contraste anteriormente
feito entre o sagrado e o profano. Igualmente, secularização é o nome dado ao
processo mediante o qual um entendimento sobrenaturalista do mundo é
substituído por um entendimento naturalista, e a religião deixa de ser uma
influência social ou cultural efetiva. [...] A centelha que provocou essa
explosão foi desprendida pelas cartas de Dietrich Bonhoeffer, escritas da
prisão. Essas cartas foram publicadas por seu amigo Eberhart Bethge, em 1951.
[...] O livro de Paul Van Buren [...] foi um dos primeiros livros dos anos
sessenta a dar prestígio ao secular [...]. Muitos outros escritores tomaram o
mesmo tema, advogando um cristianismo secular, com um Cristo secular, uma
salvação secular, uma conversão secular, uma missão secular e um futuro secular.
Assim, a teologia secular estava pronta para se fundir à teologia “da morte de
Deus” da última metade dos anos sessenta e com as teologias da esperança e do
futuro, às quais se alinhava, e que fundiam a escatologia do NT com a doutrina
marxista do progresso histórico-social.
Nesse arcabouço, por meio do “espírito” da
Babilônia, a cultura secularista opõe-se aos valores cristãos (Ap 17.5). Por
conseguinte, o sistema iníquo prepara o mundo para o advento do Anticristo (2
Ts 2.4). O materialismo nega a realidade espiritual; o ateísmo nega a
existência de Deus; o relativismo nega a verdade bíblica; o humanismo cultua o
homem; o sincretismo profana o sagrado; e o ecumenismo corrói a ortodoxia.
Essas
ideologias, corrompidas pelo pecado, promovem estratégica perseguição à Igreja
de Cristo. Leis são promulgadas, e sentenças são prolatadas em desconstrução da
religião e da liberdade de culto. O patrulhamento ideológico amordaça a voz da
Igreja e aprisiona a fé no espaço privado. Nesse cenário, o Espírito de Deus
busca crentes renovados e capazes de tomar posição contra as forças do mal (Ez
22.30).
2.
Relativismo Doutrinário
Na
Antropologia, o combate à ideia de homogeneidade cultural é chamado de
multiculturalismo. Esse termo também designa um movimento teórico e político em
defesa da pluralidade e da diversidade cultural que reivindica o reconhecimento
e a valorização da cultura das chamadas minorias. 161
Como movimento, o multiculturalismo é
legítimo e um importante instrumento de luta contra o racismo, a discriminação
e o preconceito contra determinados grupos percebidos como diferentes e
marginalizados.
O problema do multiculturalismo está no ranço
ideológico contrário à cultura judaico-cristã. Por vezes, extremistas e
críticos exacerbados colocam as mazelas sociais de grupos minoritários como
sendo culpa da supremacia da religião cristã. Desse modo, o movimento
multiculturalista faz empenho em questionar, culpar e desconstruir a cultura
cristã. Uma das ferramentas utilizadas com esse propósito é a propagação do
“relativismo cultural”.
Na língua portuguesa, a palavra “relativismo”
tem origem no latim relatus, que significa “aquilo que é relativo”, que depende
de alguma coisa. A ideia central dessa teoria é de que não existe verdade
absoluta. O filósofo grego Pirro de Élis (360–270 a.C.) desenvolveu a ideia de
que coisa alguma pode ser afirmada com absoluta certeza, e Protágoras (490–410
a.C.) tornou-se famoso pela citação “O homem é a medida de todas as coisas”. O
conceito afirma que a verdade não é algo fixo, que sofre modificações e está
condicionada a cada sociedade conforme a sua época e cultura.
Nesse
cenário, destaca-se que, entre os sinais que antecedem a volta de Cristo, estão
o surgimento de falsos cristos, falsos profetas e a apostasia (Mt 24.5,11,24).
Desse modo, na pós-modernidade, mercê do liberalismo teológico de desconstrução
da fé ortodoxa, a autoridade bíblica é contestada, e o relativismo doutrinário
é instalado. Faz-se uma releitura seletiva da Bíblia para agregar à igreja os
que não aceitam a sã doutrina (2 Tm 4.3).
Alega-se que a ética e a moral cristã não
podem ser parâmetro para o modo de vida e visão de mundo das pessoas e que a fé
cristã, por ser o construto da sociedade, deve ser modificada e adequada aos
tempos modernos. O relativismo doutrinário, aliado à ideologia secularista,
impõe o que deve ser considerado como ideal. Assim, o pecado é aceito e
tolerado. O crente renovado, todavia, deve reagir contra essa inversão de
valores e “[...] batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd v. 3).
3.
Batalha Espiritual
As
Escrituras dizem que Satanás é o “deus deste século” e que o mundo jaz no
Maligno (2 Co 4.4; 1 Jo 5.19). Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 90)
realça que o modus operandi dos demônios e do seu Maioral é a mentira, o erro e
o engano. A mentira é uma das características da natureza satânica. Jesus disse
que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Com o engano, ele começou as suas
atividades contra o ser humano (Gn 3.13; 2 Co 11.3). É com essa arma que ele e
os seus agentes ainda seduzem as pessoas (Ap 12.9).
Diante
dessa realidade, Esequias Soares (2018, p. 34, 35) traz o seguinte alerta:
A
cegueira espiritual e a falta de discernimento são desafios para os servos de
Deus. No contexto da culta brasileira, em que as manifestações de espíritos
acontecem em diversos cultos religiosos, o assunto de batalha espiritual não
parece estranho às pessoas porque é algo que se vê. Assim, os crentes
identificam com facilidade quando há uma atuação demoníaca. Mais difícil,
entretanto, é perceber a atuação do inimigo no sistema de ideias e nas
estruturas que estão fundamentadas na injustiça e no pecado.
De fato, as artimanhas malignas não ocorrem
de forma perceptível a todos. Os espíritos malignos têm capacidade de
influenciar os que vivem na desobediência (Ef 2.2). Refere-se a uma ação
demoníaca que manipula e aprisiona pessoas, colocando-as contra Deus. Somente
os espirituais e amadurecidos na fé recebem capacidade para discernir os ardis
de Satanás (Hb 5.13,14). A sabedoria humana não é eficaz na batalha espiritual
(1 Co 2.13,14). 162
Por
conseguinte, a Bíblia alerta que nossa luta não é contra o homem, mas contra os
demônios (Ef 6.12). Deus, contudo, não deixou a sua Igreja vulnerável diante
das hostes do mal. Ao contrário, uma poderosa armadura espiritual está
disponível a todos os cristãos (Ef 6.11,13). Assim, o crente renovado, de posse
da armadura de Deus, deve posicionar-se “contra as astutas ciladas do Diabo
[...], orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito” (Ef
6.11,18).
CONCLUSÃO
Durante a existência do corpo mortal, nosso
homem exterior estará sujeito às tribulações (2 Co 4.11). Apesar do padecimento
e das aflições, nosso homem interior não deve desfalecer, mas ser renovado por
meio do poder do Espírito Santo (2 Co 4.16). Os sofrimentos do tempo presente
não podem ser comparados com o peso de glória eterna reservada aos fiéis (2 Co
4.17). Em tempos pós-modernos, de ataques e desconstrução da fé cristã,
necessitamos a cada dia de renovação interior para o enfrentamento do poder do
pecado e do mal.
153 HARRISON, Everett (Ed.). Comentário Bíblico
Moody. São Paulo: Editora Batista Regular, 2010, vol. 2, p. 649.
154 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo
Testamento – Atos a Apocalipse. Rio: CPAD, 2008, p. 514.
155 ARRINGTON, French (Ed.). Comentário Bíblico
Pentecostal do N.T. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.077.
156 HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon.
Rio de Janeiro: CPAD, 2006, vol. 8, p. 428.
157 BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das
Escrituras. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p. 152.
158 HARPER, 2006, vol. 8, p. 428.
159 ARRINGTON, 2003, p. 1.092.
160
HENRY, Carl (org.). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2007, p. 541.
161
SILVA, Afrânio et al. Sociologia em Movimento. São Paulo: Editora Moderna,
2013, p. 121.
162 BAPTISTA, Douglas. Igreja Eleita. Rio de
Janeiro: CPAD, 2020, p. 175.
A igreja de Cristo e o Império do Mal: como viver neste
mundo dominado pelo Espirito da Babilônia
Pr. Douglas Baptista
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