TEXTO ÁUREO
“E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no
jardim do Éden para o lavrar e o guardar.”
(Gn 2.15)
VERDADE
PRÁTICA
O homem foi criado com qualidades que
expressam virilidade, responsabilidade e liderança.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Rute 4.7-12
7
– Havia, pois, já de muito tempo este costume em Israel, quanto à remissão e
contrato, para confirmar todo negócio, que o homem descalçava o sapato e o dava
ao seu próximo; e isto era por testemunho em Israel.
8 – Disse, pois, o remidor a Boaz: Toma-a para ti. E descalçou o sapato.
9 – Então, Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois, hoje, testemunhas de
que tomei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom da mão de
Noemi;
10 -e de que também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom,
para suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade, para que o nome do
falecido não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar;
disto sois hoje testemunhas.
11 – E todo o povo que estava na porta e os anciãos disseram: Somos
testemunhas; O Senhor faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel
e como a Leia, que ambas edificaram a casa de Israel; e há-te já valorosamente
em Efrata e faze-te nome afamado em Belém.
12 E seja a tua casa como a casa de Perez (que Tamar teve de Judá), da semente
que o Senhor te der desta moça.
PLANO DE AULA
1- INTRODUÇÃO
É
preciso refletir a respeito do conceito e do papel da masculinidade do ponto de
vista bíblico. Nesse sentido, a lição desta semana chama a atenção para um
processo presente na sociedade de desconstrução da masculinidade tal como é
apresentado na Bíblia e o impacto que isso pode ter na funcionalidade da
família cristã. Por isso, chamamos a atenção que, de acordo com a Palavra de
Deus, a masculinidade bíblica leva em conta a criação divina, a constituição
biológica e o papel estabelecido por Deus para o homem cristão.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Mostrar que a masculinidade bíblica provém da criação divina e que suas
características passam pela provisão e proteção da família;
II) Destacar que a erosão da
masculinidade tem a ver com a apologia à homossexualidade e com a negligência
da responsabilidade masculina;
III) Enfatizar a imagem de Boaz como símbolo de uma masculinidade bíblica e
equilibrada.
B) Motivação: Há uma clara
relativização quanto à imagem bíblica do homem. O movimento progressista
procura romper com os padrões bíblicos e desconstruir a masculinidade como a
encontramos na Bíblia e na constituição biológica do homem. Por isso, é
importante refletir a respeito dos impactos que essa agenda pode causar no
exercício do papel masculino tal qual revelado nas Escrituras Sagradas.
C) Sugestão de Método: O segundo
tópico traz uma explicação a respeito da erosão da masculinidade. Sugerimos que
você apresente uma tabela em que conste a s seguintes informações em relação ao
assunto: Apologia midiática da homossexualidade contra a heteronormatividade;
responsabilidades de proteção, trabalho e liderança negligenciadas;
incapacidade de o s hom ens cum prirem o seu papel. A ideia é que você
apresente uma tabela com essas informações para introduzir o assunto. Em
seguida, dê tempo para que a classe exponha o que pensa, gerando uma tempestade
de ideias. Depois, exponha o conteúdo do segundo tópico conforme a lição.
3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: A presente lição estimula
que os homens cristãos sejam generosos conforme o modelo bíblico representado
por Boaz, que assumam o papel que se espera deles em sua família como marido,
pai e líder. É preciso que trabalhemos o aspecto positivo do papel do homem na
família e na sociedade conforme as diretrizes da Palavra de Deus.
4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa
revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 94, p.39, você
encontrará u m subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão
suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “A Qualidade da Paternidade” expande a reflexão das funções naturais
do homem de prover e proteger. Aqui tomamos o exemplo concreto da paternidade.
2) O texto “A Liderança Masculina” , localizado no terceiro tópico, aprofunda
as características de liderança masculina apresentadas à luz da vida de Boaz.
INTRODUÇÃO
O
conceito progressista de ruptura dos padrões bíblicos atua na desconstrução da
masculinidade. Assim, os marcos judaico-cristãos do papel do homem são
questionados. Nesse contexto, a masculinidade e relativizada e o modelo
bíblico de homem, desconstruído. Nesta lição, apresentaremos o mandato divino
para o homem, as ofensivas de desmasculinização e o exemplo de masculinidade
bíblica que Deus requer do homem cristão.
PALAVRA-CHAVE:
MASCULINIDADE
I -A MASCULINIDADE BÍBLICA
1- A criação divina do ser humano.
Deus é o Criador de todas as coisas nos
céus, na terra e no mar (Gn 1.1; At 4.24). A Escritura registra que Ele criou o
ser humano e o definiu pelo sexo: macho e fêmea, homem e mulher (Gn 1.27). Essa
diferenciação visa ao complemento mútuo na união conjugal e ao desempenho dos
papéis divinamente designados a cada um (1 Co 11.11,12). Desse modo, pode-se
afirmar que nenhuma outra criatura foi feita como o ser humano. Os peixes, as
aves e todos o s outros animais foram produzidos “segundo a sua espécie” (Gn 1.21,24,25).
Entretanto, ao criar o ser humano, Deus o fez olhando para si mesmo, isto é,
sua própria imagem e semelhança (Gn 1.26). Por conseguinte, o ser humano é
considerado a coroa da Criação.
2- Características da masculinidade.
As Escrituras revelam um conjunto de
características do papel do homem na história, bem como segundo a sua
constituição biológica. Ao criar o homem, Deus lhe confiou duas tarefas
primárias e essenciais: cultivar e guardar (Gn 2.15). Esses dois termos resumem
o mandado divino para o comportamento masculino. Significa que as funções de
provedor e protetor são próprias da natureza do homem. Nesse sentido, Paulo
ratifica que cabe ao homem proteger sua esposa e família, bem como prover-lhes
uma vida digna (Ef 5.28-30). Ressalta-se que a “masculinidade bíblica” enaltece
o amor e o cuidado em relação à mulher e que “o machismo” a inferioriza e a
desonra. Nesse aspecto, a Bíblia ensina ao homem a honrar a mulher com toda a
dignidade (1 Pe 3.7).
3- A liderança masculina.
Deus
confiou ao homem a responsabilidade da liderança (Gn 1.26; 3.16). Na Bíblia,
Deus é a cabeça de Cristo; Cristo é a cabeça do homem; e o homem é a cabeça da
mulher (1 Co 11.3). O movimento feminista, de viés neomarxista, considera esse
modelo como um sistema machista opressor para com a m mulher. Ao contrário
dessa falácia, o apóstolo Paulo revela que o homem deve liderar a sua
casa do mesmo modo que Cristo lidera a Igreja (Ef 5.29). Uma vez que Cristo se
entregou pelo bem-estar da Igreja, a liderança masculina requer a prática de
algum tipo de sacrifício pela mulher (Ef 5.25b). Nesse sentido, no exercício da
liderança, o homem deve evidenciar virtudes, tais como: fortaleza, sabedoria,
coragem , amor e respeito (Jz 6.14; 2 Cr 1.10; Ne 6.11; Jo 15.12,13).
SINOPSE I
Deus criou o homem com funções de prover e
proteger a sua família, trazendo assim segurança a sua casa.
AUXÍLIO DE VIDA CRISTÃ
A QUALIDADE DA PATERNIDADE
“RECORDO-ME
CLARAMENTE do dia em que meu primeiro filho nasceu – 10 de agosto de 1963 -,
uma noite de calor sufocante, no sul da Califórnia. Fazia tanto calor que levei
minha mulher para um passeio na praia de Huntington. Tomamos a direção de volta
para casa, a encalorada e poluída Los Angeles, já no meio da tarde. Após o
jantar, enquanto nos acomodamos em nossos finos lençóis, o trabalho de parto
começou. E isto é tudo de que nos lembramos do ardor do sol. Minha esposa
estava ocupada com outro tipo de dor, e eu estava tão nervoso que esqueci da
minha. Aquela noite trouxe um dos maiores acontecimentos de nossas vidas. Deus
nos dava nosso primogênito, uma bela menininha a quem demos o nome de Holly. Eu
m e lembro de tudo, até das cores da parede do hospital. Parece que foi ontem.
Hoje, como avô de seis crianças, é natural que meu verdadeiro tesouro, depois
da minha conversão a Cristo, sejam os membros da minha família. Admito a ideia
de que, se houvesse um incêndio, voltaria para pegar as fotos, o álbum de recortes,
os cartões de aniversário e as notas. Sim , pelo amor que sinto por eles”
(HUGHES, Kent R. Disciplina do Homem Cristão. Rio de Janeiro: CPAD, 2004,
p.37).
CPAD – A IGREJA DE CRISTO E O ÍMPERIO DO
MAL –Como viver neste mundo dominado pelo Espirito da
| Lição 06: A Desconstrução da
Masculinidade Bíblica
E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no
jardim do Éden para o lavrar e o guardar (Gn 2.15)
O conceito progressista de ruptura de padrões bíblicos
atua até na desconstrução da masculinidade. Os marcos judaico-cristãos de
concepção do papel do homem são questionados. Nesse contexto, a masculinidade é
relativizada, e o modelo de homem é modificado. Neste capítulo, apresentamos o
mandado divino para o homem, as ofensivas de desmasculinização e um exemplo de
masculinidade bíblica. A finalidade é mostrar que Deus requer do homem cristão
que este se comporte conforme a norma bíblica.
I.
MASCULINIDADE BÍBLICA
1. A
Criação Divina do Homem
Deus é o criador de todas as coisas nos céus,
na terra e no mar (Gn 1.1; At 4.24). As Escrituras registram que Ele criou o
ser humano e definiu-o pelo sexo: macho e fêmea, homem e mulher (Gn 1.27). Essa
diferenciação visa ao complemento mútuo na união conjugal e ao desempenho dos
papéis divinamente designados a cada um (1 Co 11.11,12). Desse modo, pode-se
afirmar que nenhuma outra criatura foi feita como o ser humano.
A Teologia Sistemática na Perspectiva
Pentecostal (HORTON, 2001, p. 244), ao descrever a origem da raça humana,
enfatiza:
Os
textos bíblicos mais precisos indicam que Deus criou o primeiro homem
diretamente do pó (úmido) da terra. Não há lugar aqui para o desenvolvimento
paulatino de formas mais singelas de vida em outras mais complexas, tendo o ser
humano como ponto culminante. Em Marcos 10.6, o próprio Jesus declara: “desde o
princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea”. Não pode haver dúvida quanto
ao desacordo do evolucionismo com o registro bíblico.
Nessa direção, a teologia pentecostal enfatiza
que “a teoria da evolução não passa de um arranjo teórico para explicar
cientificamente a origem do homem e de todas as coisas, visando desacreditar a
Deus e afastar o homem do seu Criador”. 89 Nossa Declaração de Fé ratifica que
Deus é o “Criador do Universo, de todas as coisas que há nos céus e na terra,
visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural
e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29; Gn
1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11)”. 90
No relato de Gênesis, destaca-se o uso da
expressão “conforme a sua espécie” no ato da criação de toda erva do campo e
das árvores (Gn 1.11,12) e na criação de todos os animais irracionais (Gn
1.20,21,24,25). O destaque está na segurança observável da natureza: trevo
produz trevo, trigo produz trigo, etc. E assim foi, diz o texto bíblico (Gn
1.11) — e até hoje continua sendo assim. 91
Uma vez que as coisas criadas não seguiram um
molde, ratifica-se que a erva do campo, os peixes, as aves e todos os outros
animais foram produzidos “segundo a sua espécie”. Porém, ao criar o homem, Deus
poderosamente o fez olhando para si mesmo, isto é, para a sua própria imagem e
semelhança (Gn 1.26). O ser humano não é meramente um animal racional, mas um
ser espiritual. Por conseguinte, o ser humano é considerado a coroa da criação.
2.
Características da Masculinidade
As ciências sociais apresentam a masculinidade
como uma construção cultural. Afirma-se que tanto a masculinidade como a
feminilidade são socialmente construídas. Que os papéis dos homens e das
mulheres são o resultado de valores e costumes transmitidos e impostos por meio
de um longo processo de doutrinação e socialização. Desse modo, alegam ser
necessário rever e alterar a função do homem como ser social.
Em vista disso, Stuart Scott (2014, p. 22)
avalia:
Na
história ocidental mais recente, o relativismo crescente (a crença de que não
existe um padrão absoluto) e o individualismo resultante (“só eu sei o que é
certo para mim”) têm exercido forte impacto no conceito dos gêneros. Tal
mentalidade “sem absolutos” significa que cada pessoa vive por conta de sua
própria sabedoria em relação à masculinidade. [...] Em consequência disso, há
grande relutância em se fazer qualquer afirmação a respeito do que é a
verdadeira masculinidade.
De outro lado, as Escrituras revelam um
conjunto bem definido de características do papel do homem na história. Ao
criar o homem, Deus confiou duas tarefas primárias e essenciais a ele: “E tomou
o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn
2.15). Esses dois termos, “cultivar e guardar”, resumem o encargo divino para o
comportamento masculino.
Aqui o decreto do Senhor era que o homem fosse
o provedor da sua família e o protetor da criação. 92 Scott enfatiza que, para
cumprir o papel de provedor, o homem deve evidenciar características como, por
exemplo, diligência, envolvimento pessoal e atitude de servo. Ele ainda
acrescenta que as qualidades de um bom protetor são: coragem, ousadia, força
física e espiritual e vigilância. 93
Desse
modo, a função de provedor e protetor é própria da natureza do homem. Assim
sendo, Paulo ratifica que cabe ao homem proteger a sua esposa e a sua família,
bem como lhes prover uma vida digna (Ef 5.28-30). Ressalta-se que a
“masculinidade” ama e cuida da mulher e que “o machismo” inferioriza-a e
desonra-a. Nesse aspecto, a Bíblia ensina ao homem tratar a mulher com dignidade
(1 Pe 3.7).
3. A
Liderança Masculina
Deus confiou ao homem a responsabilidade da
liderança (Gn 1.26; 3.16). A aptidão para liderar implica em capacidade
intelectual adequada para argumentar, organizar, planejar, avaliar e fazer
escolhas certas em todo o tempo. 94 Na Bíblia, o princípio da liderança é
apresentado na seguinte ordem: Deus é a cabeça de Cristo; Cristo é a cabeça do
homem; e o homem é a cabeça da mulher (1 Co 11.3). Stuart Scott (2014, p. 22)
argumenta:
Cristo é
o retrato perfeito de liderança. Aquele que O segue precisa saber quando e como
tomar decisões piedosas e sábias. Isso só acontece quando há liderança! O homem
e o marido, segundo os critérios de Deus, não podem fugir de decisões, abusar
do privilégio de tomar decisões ou tomá-las de maneira mística.
Não obstante, o movimento feminista de viés
neomarxista considera esse modelo como um sistema opressor do homem para com a
mulher. Argumenta-se que o texto bíblico promove profunda doutrinação de
inferioridade da mulher e que o modelo de família patriarcal (liderança
confiada aos homens) adotado nas Escrituras é essencialmente machista.
Gerda
Lerner (2019, p. 252) questiona o relato bíblico do seguinte modo:
As
metáforas de gênero mais fortes da Bíblia foram as da Mulher, criada a partir
da costela do Homem, e de Eva, a sedutora, fazendo com que a humanidade caísse
em desgraça. Por mais de dois mil anos, isso é citado como prova da
subordinação da mulher como castigo divino. Como tal, tem exercido um poderoso
efeito ao definir valores e práticas relativos às relações de gênero. Embora se
espere que as interpretações de um composto poético, mítico e folclórico, como
o Livro do Gênesis, variem para se ajustar às necessidades do intérprete,
deve-se notar que a tradição da interpretação é predominantemente patriarcal.
Apesar desse falacioso argumento, Paulo revela
que o homem deve liderar a sua família do mesmo modo como Cristo lidera a
Igreja (Ef 5.29). Uma vez que Cristo entregou-se pelo bem-estar da Igreja, a
liderança masculina requer até a prática de algum tipo de sacrifício (Ef
5.25b). Nesse sentido, no exercício da liderança, o homem deve evidenciar
atributos, tais como força, sabedoria, coragem, amor e respeito mútuo (Jz 6.14;
2 Cr 1.10; Ne 6.11; Jo 15.13-15). Ratifica-se que homens e mulheres são iguais
perante Deus, mas que lhes foram confiadas funções distintas.
II. A
EROSÃO DA MASCULINIDADE
1.
Apologia à Homossexualidade
Em tempos pós-modernos, a “ideologia de
gênero” faz contínua investida de legitimação da prática da homossexualidade.
Esse conceito ignora as características físicas e biológicas e alega que o ser
humano nasce sexualmente neutro. Essa ideologia também é conhecida como
“ausência de sexo”. Nessa concepção, invalidam a criação divina da raça humana
como ser binário “masculino” e “feminino” (Gn 1.27). Ensinam que a identidade
de gênero e a orientação sexual independem da anatomia do corpo, isto é, que a
genitália masculina ou feminina não é um fator determinante. Assim, não aceitam
que os órgãos do sistema reprodutor humano sirvam de parâmetro para a
sexualidade. Em consequência, a sexualidade antinatural, ou seja, “contrário à
natureza”, é ideologicamente incentivada (Rm 1.26,27).
Contrapondo essa ideia, Robert Gagnon (2021,
p. 258-260) esclarece:
Tendo
em vista o significado de “contrário a natureza” (para physin) e de expressões
comparáveis usadas por escritores judeus do período para designar o intercurso
homossexual, o sentido da expressão em Paulo é claro. [...] Em um linguajar
mais direto, Paulo, na prática, defende que até mesmo os pagãos que não têm
acesso algum ao livro de Levítico deveriam saber que o erotismo homossexual é
“contrário a natureza”, porque os órgãos sexuais básicos do homem e da mulher
se encaixam, o que não acontece com os de duas mulheres ou dois homens. [...]
Para Paulo, era uma simples questão de, com base no senso comum, observar a
anatomia humana, e a função procriadora, e concluir que até mesmo pagãos, que
desconheciam a revelação direta de Deus na Bíblia, não tinham desculpa para não
saber.
Não obstante, os defensores e praticantes da
sexualidade “contrária à natureza”, em busca de aceitação popular, investem na
normalização dessa conduta. Daí decorre crise de masculinidade por meio de
comportamentos efeminados e devassidão em clara afronta às Escrituras (1 Co
6.10). Nessa perspectiva, a masculinidade foi relativizada, e “a postura,
outrora máscula, foi distorcida, proporcionando, com isso, uma grave crise
comportamental na sociedade, além de uma nítida inversão de papéis”. 95
2.
Responsabilidade Negligenciada
Em virtude da relativização da masculinidade,
o modelo bíblico vem sendo abandonado e depreciado. A identidade masculina, que
deveria estar associada à responsabilidade, à virilidade, à capacidade de
prover, de proteger e de liderar uma família vem sendo substituída por
indivíduos de duplo ânimo, vacilantes e inconsequentes (Tg 1.8).
Essa situação é resultante da inexistência de
“uma compreensão clara da masculinidade, pois nossa sociedade abandonou a única
fonte absolutamente confiável que existe; a Palavra de Deus”. 96 Desse modo, a
rejeição ao padrão bíblico arrasta o homem para o abismo moral, mantém-no
prisioneiro de ideologias anticristãs e impede o seu pleno amadurecimento.
Infelizmente, constata-se sob a ótica humana que essa deplorável conduta tende
a aumentar.
Nesse contexto, Renato Vargens (2020, p. 39)
apresenta um quadro caótico:
Do ponto
de vista comportamental, maturidade é sinônimo de responsabilidade, ou seja, se
você é uma pessoa madura, isso é sinal de que você é responsável o suficiente
para assumir algo – um casamento, um trabalho, ou outra coisa do tipo. No
entanto, vivemos em uma época em que um número incontável de homens não
amadureceu. [...] Na verdade, esse tipo de homem, por motivos diversos, costuma
desenvolver, no cotidiano, uma espécie de comportamento adolescente, desprovido
de responsabilidade e maturidade emocional.
Nesse
cenário, uma parcela é incapaz de sustentar a sua própria casa — não pelo
desemprego, mas pela aversão ao trabalho (Pv 21.25). Outros são desprovidos de
maturidade para assumir a vida conjugal e os compromissos da paternidade (1 Tm
4.2,3). Alguns de caráter dúbio produzem insegurança na prole (Pv 24.10), e
muitos são omissos na liderança e formação espiritual do seu respectivo lar (Ef
6.4). Os efeitos desse comportamento resultam em inúmeros casos de desajustes
familiares e divórcio.
Na contramão dessas atitudes desprezíveis, a
masculinidade bíblica requer do homem alto padrão de responsabilidade. Paulo
escreveu “portai-vos varonilmente” (1 Co 16.13), que significa “ajam como
homens, não como crianças. Era um chamado a mostrarem[1]se
homens valentes em um momento em que era necessário liderar com maturidade”. 97
Esse tipo de postura sinaliza que, “no coração de uma masculinidade madura,
está um sentido de responsabilidade benevolente para liderar, prover e
proteger”. 98
3.
Crise de Liderança
A crise de masculinidade tem gerado homens
incapacitados de cumprir o seu papel de líder. Em consequência, a sociedade e a
Igreja hodierna experimentam uma grave crise de liderança. Uma sociedade sem
liderança eficaz transforma-se em anarquia. Desse modo, tanto o mundo quanto a
Igreja clamam e almejam por líderes eficientes.
Como já observado, em tempos pós-modernos,
multiplicam-se os desafios para uma liderança nos moldes bíblicos. Entre os
obstáculos a serem vencidos, destacam-se: o relativismo cultural, que despreza
as leis divinas e condiciona à verdade a consciência humana, que considera tudo
igualmente válido e despreza os valores absolutos; o patrulhamento ideológico,
que desqualifica quem pensa diferente; e o cerceamento da liberdade de
expressão por meio das grades do “politicamente correto”.
Somado a tudo isso, muitos homens estão
acovardados e negligenciam o seu papel de líder pelo temor de serem mal compreendidos
ou de serem alvos da “cultura do cancelamento”. Contudo, um líder autêntico não
vacila por causa da opinião popular. Se determinada posição é bíblica, um bom
líder não pode hesitar simplesmente porque outros não aprovam. 99
No período do profeta Ezequiel (593–571 a.C.),
o Oriente Médio passava por uma crise internacional. Israel e Judá
encontravam-se no exílio. Tinham sido conquistados pelos seus opressores como
punição dos seus pecados contra o Senhor Deus. As nações estavam sendo
massacradas pela corrupção desenfreada, pela usura contumaz, pelo suborno
insolente, pelas predições mentirosas, pela opressão implacável, pela avareza
injustificada e pela violência reinante (Ez 22.2-13).
Ao revelar-se para o profeta, o Senhor
descreveu que uma das causas da destruição iminente era a crise de liderança.
Deus procurava alguém entre os líderes para trazer suspensão do julgamento
contra o pecado, alguém para reverter a situação: “[...] um homem que estivesse
tapando o muro e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu
não a destruísse; mas a ninguém achei” (Ez 22.30).
Nesse caso, a busca divina foi em vão, e o
juízo tornou-se inevitável. Por isso, e apesar disso, “Deus ainda procura esse
tipo de homem para destacar no horizonte da história humama”. 100 Homens de
verdade, que possam liderar pelo paradigma da masculinidade, isto é, segundo o
modelo preconizado nas Escrituras (1 Rs 2.2).
III. BOAZ, SÍMBOLO DE MASCULINIDADE
1.
Modelo de Generosidade
A generosidade relaciona-se com a benignidade
e a bondade. A benignidade é considerada como “uma virtude que nos dá condições
de tratar os outros com carinho e meiguice [...] A Bíblia fala da benignidade
de Jesus (2 Co 10.1). É dessa fonte que o Espírito Santo transmite a
benignidade como fruto”. 101 A benignidade, de igual forma, indica “agir com
delicadeza, com benevolência com relação aos outros como Deus fez conosco”. 102
A bondade descreve aquele que é “bom” em
caráter, moralmente honesto e agradável a Deus, e ainda representa generosidade
de coração. 103 Retrata as obras e atos de bondade em favor do próximo.
Refere-se à bondade em ação, que se expressa em atitudes de ternura e compaixão
com o outro.
A bondade identifica “aquele compromisso firme
para o benefício dos outros [...]. Reflete o caráter de seu Criador e deste
modo é santo, justo e bom (Rm 7.12)”. 104
Por evidenciar essas virtudes, apresentamos
Boaz como modelo de homem generoso. Boaz era parente de Elimeleque, o falecido
esposo de Noemi (Rt 2.1). Num período de quase dez anos, Noemi perdera o marido
e os filhos (Rt 1.3-5). Ao retornar para Judá, ela estava acompanhada apenas
por Rute, uma das suas noras moabitas, que também ficara viúva e sem filhos (Rt
1.16). Para sobreviver e sustentar a sogra, Rute foi trabalhar no campo de Boaz
(Rt 2.3,5,6).
Ao saber que Rute deixara a sua terra para
apoiar a sogra, Boaz tratou-a com brandura e generosidade (Rt 2.11,12).
Dirigiu-se a Rute com ternura e benevolência (Rt 2.8); protegeu-a para não ser
molestada ou assediada pelos trabalhadores do campo (Rt 2.9); alimentou-a com
fartura (Rt 2.14); e ordenou que fosse favorecida na colheita e que não fosse
censurada ou reprendida no seu labor (Rt 2.15,16).
Todavia, apesar de todo o cuidado dispensado
por Boaz, pela Lei uma viúva sem filhos só poderia ser resgatada pelo casamento
com um parente próximo do falecido (Dt 25.5,6; Rt 4.9,10). Não obstante, embora
toda a compaixão demonstrada por Boaz, Noemi e Rute ainda estavam em grandes
dificuldades. A solução para aquelas mulheres repousava na esperança de um Resgatador.
2. Padrão de Virilidade
Virilidade
é uma característica masculina, do homem, e é somente ele que a possui. Ao
contrário do que se apregoa, a virilidade na concepção cristã não está
relacionada com corpo atlético ou musculoso, nem tampouco se correlaciona com
truculência, ignorância, desleixo ou insensibilidade.
Virilidade é definida como a capacidade que o
homem tem de realizar o ato sexual, mas também é sinônimo de vigor físico e de
força moral. Salomão, antes de assumir a responsabilidade de reinar sobre
Israel, foi advertido pelo rei Davi com as seguintes palavras: “Esforça-te,
pois, e sê homem” (1 Rs 2.2). Essa exortação é similar à de Moisés quando
admoestou Josué a “ser homem” e encarar a sua responsabilidade de liderança com
coragem (Dt 31.7,8). O próprio Deus disse a Josué no início do seu ministério:
“Seja forte e corajoso” (Js 1.6, NTLH). 105
Entretanto,
a questão de gênero deturpa o conceito de virilidade. A ideologia ignora o fato
fisiológico e alega que a masculinidade é socio-culturalmente construída. Ela
avalia que inexiste um modelo de masculinidade e alega que a virilidade é uma
equivocada atribuição do sexo masculino. Na esteira dessa desconstrução, “o
homem moderno trocou a aparência viril por uma estética mais delicada, quase beirando
a imagem feminina”. 106
Entretanto, destaca-se que, nas Escrituras, a
virilidade é demonstrada por atos de coragem, mas também de autocontrole (Pv
16.32). Nesse aspecto, Boaz é visto como um homem viril “valente e poderoso”
(Rt 2.1). A Bíblia registra que Rute, durante a noite, deitara-se ao lado de
Boaz para pedir-lhe que a resgatasse (Rt 3.4,9). Ao notar a presença da bela
moabita, Boaz subjugou os seus instintos sexuais e não a tocou (Rt 3.8).
Ele simplesmente a respeitou, entendeu a sua
petição, reconheceu-a como mulher virtuosa e prometeu fazer o possível para
casar-se com ela (Rt 3.10-13). A robustez moral de Boaz assemelha-se a de José,
quando este resistiu ao assédio da esposa de Potifar (Gn 39.7-10). Virilidade,
portanto, não significa apetite sexual desordenado ou desrespeito para com as
mulheres. A virilidade bíblica é demonstração de coragem, firmeza de caráter e
conduta ilibada.
3.
Exemplo de Responsabilidade
Etimologicamente,
o termo “responsabilidade” tem origem no latim responsabilitatis e significa
“caráter ou estado de responsável. Obrigação geral de responder pelas
consequências dos próprios atos ou pelos dos outros [...] que deve prestar
contas de suas ações”. 107 Nessa concepção, a ética cristã estabelece uma
estreita ligação entre o caráter virtuoso e a responsabilidade moral. Carl
Henry (2007, p. 519) apresenta a seguinte definição:
Responsabilidade
e moralidade são inseparáveis. Uma não pode existir sem a outra. Uma filosofia
mecanicista ou comportamentista não admite nenhuma delas. Outros filósofos
fazem diferença entre elas com respeito às bases ou naturezas de obrigação.
[...] O cristianismo, é claro, baseia a responsabilidade na imposição dos
mandamentos do criador.
Nesse aspecto, Boaz encontrava-se diante de um
impasse moral com a legislação vigente, isto é, o casamento do levirato
determinado por Moisés. Boaz comprometeu-se em resgatar Rute e a herança de
Elimeleque; contudo, ele estava ciente de que a responsabilidade de casar-se
com a moabita era de um parente mais próximo que ele (Rt 3.12,13).
O Dicionário Wycliffe (2006, p. 390) arrazoa:
O casamento de uma viúva sem filhos com o
irmão de seu marido era um costume antigo praticado na época dos Patriarcas (Gn
38.8) que mais tarde foi incorporado à lei de Moisés (Dt 25.5-10). [...] Era
preciso que um irmão ou parente próximo do sexo masculino gerasse uma semente
em nome do falecido. Se essa obrigação era negada, a viúva poderia expor essa
pessoa à execração pública.
Mercê
da norma em vigor e movido pelo senso de responsabilidade e honra, Boaz levou o
caso aos anciãos (Rt 4.1,2). Na audiência, explicou que as terras de Elimeleque
estavam à venda e que aquele que as comprasse deveria casar-se com Rute (Rt
4.4,5). O parente que tinha a primazia renunciou ao seu direito e dever e autorizou
Boaz a comprar as terras e a casar-se com a moabita (Rt 4.6,9,10).
Ao adquirir a propriedade e tomar Rute por
mulher, Boaz tornou-se o líder, o provedor e o protetor daquela família (Rt
4.13-16). O casal gerou Obede, avô do rei Davi, de cuja linhagem nasceu o
Cristo (Rt 4.22; Mt 1.5,6,16). Por conseguinte, Boaz é símbolo de masculinidade
enquanto cidadão, marido, pai e líder exemplar.
CONCLUSÃO
Deus criou o ser humano com dois gêneros:
masculino e feminino (Gn 1.27). A diferenciação dos sexos é um princípio
determinado pela criação divina (Gn 2.23). A masculinidade é um conjunto de
atributos e funções inerentes ao homem. A desmasculinização decorre da inversão
dos papéis do homem na sexualidade, na liderança e na prática dos seus deveres.
A masculinidade bíblica exige o autocontrole, o sacrifício e a firmeza de
caráter no encargo das suas tarefas. Nesse sentido, a sociedade, a família e a
igreja anseiam por homens que honrem a sua masculinidade.
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