sexta-feira, 28 de julho de 2023

CPAD – A IGREJA DE CRISTO E O ÍMPERIO DO MAL | Lição 06: A Desconstrução da Masculinidade Bíblica

 


TEXTO ÁUREO

“E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.”

(Gn 2.15)

VERDADE PRÁTICA

O homem foi criado com qualidades que expressam virilidade, responsabilidade e liderança.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Rute 4.7-12

7 – Havia, pois, já de muito tempo este costume em Israel, quanto à remissão e contrato, para confirmar todo negócio, que o homem descalçava o sapato e o dava ao seu próximo; e isto era por testemunho em Israel.
8 – Disse, pois, o remidor a Boaz: Toma-a para ti. E descalçou o sapato.
9 – Então, Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois, hoje, testemunhas de que tomei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom da mão de Noemi;
10 -e de que também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade, para que o nome do falecido não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar; disto sois hoje testemunhas.
11 – E todo o povo que estava na porta e os anciãos disseram: Somos testemunhas; O Senhor faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e como a Leia, que ambas edificaram a casa de Israel; e há-te já valorosamente em Efrata e faze-te nome afamado em Belém.
12 E seja a tua casa como a casa de Perez (que Tamar teve de Judá), da semente que o Senhor te der desta moça.

PLANO DE AULA

1- INTRODUÇÃO
 É preciso refletir a respeito do conceito e do papel da masculinidade do ponto de vista bíblico. Nesse sentido, a lição desta semana chama a atenção para um processo presente na sociedade de desconstrução da masculinidade tal como é apresentado na Bíblia e o impacto que isso pode ter na funcionalidade da família cristã. Por isso, chamamos a atenção que, de acordo com a Palavra de Deus, a masculinidade bíblica leva em conta a criação divina, a constituição biológica e o papel estabelecido por Deus para o homem cristão.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Mostrar
que a masculinidade bíblica provém da criação divina e que suas características passam pela provisão e proteção da família;
II) Destacar que a erosão da masculinidade tem a ver com a apologia à homossexualidade e com a negligência da responsabilidade masculina;
III) Enfatizar a imagem de Boaz como símbolo de uma masculinidade bíblica e equilibrada.
B) Motivação: Há uma clara relativização quanto à imagem bíblica do homem. O movimento progressista procura romper com os padrões bíblicos e desconstruir a masculinidade como a encontramos na Bíblia e na constituição biológica do homem. Por isso, é importante refletir a respeito dos impactos que essa agenda pode causar no exercício do papel masculino tal qual revelado nas Escrituras Sagradas.
C) Sugestão de Método: O segundo tópico traz uma explicação a respeito da erosão da masculinidade. Sugerimos que você apresente uma tabela em que conste a s seguintes informações em relação ao assunto: Apologia midiática da homossexualidade contra a heteronormatividade; responsabilidades de proteção, trabalho e liderança negligenciadas; incapacidade de o s hom ens cum prirem o seu papel. A ideia é que você apresente uma tabela com essas informações para introduzir o assunto. Em seguida, dê tempo para que a classe exponha o que pensa, gerando uma tempestade de ideias. Depois, exponha o conteúdo do segundo tópico conforme a lição.


3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO
 A) Aplicação: A presente lição estimula que os homens cristãos sejam generosos conforme o modelo bíblico representado por Boaz, que assumam o papel que se espera deles em sua família como marido, pai e líder. É preciso que trabalhemos o aspecto positivo do papel do homem na família e na sociedade conforme as diretrizes da Palavra de Deus.
4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 94, p.39, você encontrará u m subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “A Qualidade da Paternidade” expande a reflexão das funções naturais do homem de prover e proteger. Aqui tomamos o exemplo concreto da paternidade.
2) O texto “A Liderança Masculina” , localizado no terceiro tópico, aprofunda as características de liderança masculina apresentadas à luz da vida de Boaz.

INTRODUÇÃO

 O conceito progressista de ruptura dos padrões bíblicos atua na desconstrução da masculinidade. Assim, os marcos judaico-cristãos do papel do homem são questionados. Nesse contexto, a masculinidade e relativi­zada e o modelo bíblico de homem, desconstruído. Nesta lição, apresentaremos o mandato divino para o homem, as ofensivas de desmasculinização e o exemplo de masculinidade bíblica que Deus requer do homem cristão.

PALAVRA-CHAVE:

 MASCULINIDADE

I -A MASCULINIDADE BÍBLICA

1-  A criação divina do ser humano. 

Deus é o Criador de todas as coisas nos céus, na terra e no mar (Gn 1.1; At 4.24). A Escritura registra que Ele criou o ser humano e o definiu pelo sexo: macho e fêmea, homem e mulher (Gn 1.27). Essa diferenciação visa ao complemento mútuo na união conjugal e ao desempenho dos papéis divinamente designados a cada um (1 Co 11.11,12). Desse modo, pode-se afirmar que nenhuma outra criatura foi feita como o ser humano. Os peixes, as aves e todos o s outros animais foram produzidos “segundo a sua espécie” (Gn 1.21,24,25). Entretanto, ao criar o ser humano, Deus o fez olhando para si mesmo, isto é, sua própria imagem e semelhança (Gn 1.26). Por conseguinte, o ser humano é considerado a coroa da Criação.

2- Características da masculinidade.

  As Escrituras revelam um conjunto de características do papel do homem na história, bem como segundo a sua constituição biológica. Ao criar o homem, Deus lhe confiou duas tarefas primárias e essenciais: cultivar e guardar (Gn 2.15). Esses dois termos resumem o mandado divino para o comportamento masculino. Significa que as funções de provedor e protetor são próprias da natureza do homem. Nesse sentido, Paulo ratifica que cabe ao homem proteger sua esposa e família, bem como prover-lhes uma vida digna (Ef 5.28-30). Ressalta-se que a “masculinidade bíblica” enaltece o amor e o cuidado em relação à mulher e que “o machismo” a inferioriza e a desonra. Nesse aspecto, a Bíblia ensina ao homem a honrar a mulher com toda a dignidade (1 Pe 3.7).

3- A liderança masculina.

 Deus confiou ao homem a responsabilidade da liderança (Gn 1.26; 3.16). Na Bíblia, Deus é a cabeça de Cristo; Cristo é a cabeça do homem; e o homem é a cabeça da mulher (1 Co 11.3). O movimento feminista, de viés neomarxista, considera esse modelo como um sistema machista opressor para com a m mulher. Ao contrário dessa falácia, o apóstolo Paulo revela que o homem deve liderar a sua casa do mesmo modo que Cristo lidera a Igreja (Ef 5.29). Uma vez que Cristo se entregou pelo bem-estar da Igreja, a liderança masculina requer a prática de algum tipo de sacrifício pela mulher (Ef 5.25b). Nesse sentido, no exercício da liderança, o homem deve evidenciar virtudes, tais como: fortaleza, sabedoria, coragem , amor e respeito (Jz 6.14; 2 Cr 1.10; Ne 6.11; Jo 15.12,13).

SINOPSE I

Deus criou o homem com funções de prover e proteger a sua família, trazendo assim segurança a sua casa.

AUXÍLIO DE VIDA CRISTÃ

A QUALIDADE DA PATERNIDADE
 “RECORDO-ME CLARAMENTE do dia em que meu primeiro filho nasceu – 10 de agosto de 1963 -, uma noite de calor sufocante, no sul da Califórnia. Fazia tanto calor que levei minha mulher para um passeio na praia de Huntington. Tomamos a direção de volta para casa, a encalorada e poluída Los Angeles, já no meio da tarde. Após o jantar, enquanto nos acomodamos em nossos finos lençóis, o trabalho de parto começou. E isto é tudo de que nos lembramos do ardor do sol. Minha esposa estava ocupada com outro tipo de dor, e eu estava tão nervoso que esqueci da minha. Aquela noite trouxe um dos maiores acontecimentos de nossas vidas. Deus nos dava nosso primogênito, uma bela menininha a quem demos o nome de Holly. Eu m e lembro de tudo, até das cores da parede do hospital. Parece que foi ontem. Hoje, como avô de seis crianças, é natural que meu verdadeiro tesouro, depois da minha conversão a Cristo, sejam os membros da minha família. Admito a ideia de que, se houvesse um incêndio, voltaria para pegar as fotos, o álbum de recortes, os cartões de aniversário e as notas. Sim , pelo amor que sinto por eles” (HUGHES, Kent R. Disciplina do Homem Cristão. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.37).

CPAD – A IGREJA DE CRISTO E O ÍMPERIO DO MAL –Como viver neste mundo dominado pelo Espirito da

| Lição 06: A Desconstrução da Masculinidade Bíblica

 


  E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar (Gn 2.15)

  O conceito progressista de ruptura de padrões bíblicos atua até na desconstrução da masculinidade. Os marcos judaico-cristãos de concepção do papel do homem são questionados. Nesse contexto, a masculinidade é relativizada, e o modelo de homem é modificado. Neste capítulo, apresentamos o mandado divino para o homem, as ofensivas de desmasculinização e um exemplo de masculinidade bíblica. A finalidade é mostrar que Deus requer do homem cristão que este se comporte conforme a norma bíblica.

  I. MASCULINIDADE BÍBLICA

  1. A Criação Divina do Homem

  Deus é o criador de todas as coisas nos céus, na terra e no mar (Gn 1.1; At 4.24). As Escrituras registram que Ele criou o ser humano e definiu-o pelo sexo: macho e fêmea, homem e mulher (Gn 1.27). Essa diferenciação visa ao complemento mútuo na união conjugal e ao desempenho dos papéis divinamente designados a cada um (1 Co 11.11,12). Desse modo, pode-se afirmar que nenhuma outra criatura foi feita como o ser humano.

  A Teologia Sistemática na Perspectiva Pentecostal (HORTON, 2001, p. 244), ao descrever a origem da raça humana, enfatiza:

  Os textos bíblicos mais precisos indicam que Deus criou o primeiro homem diretamente do pó (úmido) da terra. Não há lugar aqui para o desenvolvimento paulatino de formas mais singelas de vida em outras mais complexas, tendo o ser humano como ponto culminante. Em Marcos 10.6, o próprio Jesus declara: “desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea”. Não pode haver dúvida quanto ao desacordo do evolucionismo com o registro bíblico.

  Nessa direção, a teologia pentecostal enfatiza que “a teoria da evolução não passa de um arranjo teórico para explicar cientificamente a origem do homem e de todas as coisas, visando desacreditar a Deus e afastar o homem do seu Criador”. 89 Nossa Declaração de Fé ratifica que Deus é o “Criador do Universo, de todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29; Gn 1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11)”. 90

  No relato de Gênesis, destaca-se o uso da expressão “conforme a sua espécie” no ato da criação de toda erva do campo e das árvores (Gn 1.11,12) e na criação de todos os animais irracionais (Gn 1.20,21,24,25). O destaque está na segurança observável da natureza: trevo produz trevo, trigo produz trigo, etc. E assim foi, diz o texto bíblico (Gn 1.11) — e até hoje continua sendo assim. 91

  Uma vez que as coisas criadas não seguiram um molde, ratifica-se que a erva do campo, os peixes, as aves e todos os outros animais foram produzidos “segundo a sua espécie”. Porém, ao criar o homem, Deus poderosamente o fez olhando para si mesmo, isto é, para a sua própria imagem e semelhança (Gn 1.26). O ser humano não é meramente um animal racional, mas um ser espiritual. Por conseguinte, o ser humano é considerado a coroa da criação.

  2. Características da Masculinidade

  As ciências sociais apresentam a masculinidade como uma construção cultural. Afirma-se que tanto a masculinidade como a feminilidade são socialmente construídas. Que os papéis dos homens e das mulheres são o resultado de valores e costumes transmitidos e impostos por meio de um longo processo de doutrinação e socialização. Desse modo, alegam ser necessário rever e alterar a função do homem como ser social.

  Em vista disso, Stuart Scott (2014, p. 22) avalia:

  Na história ocidental mais recente, o relativismo crescente (a crença de que não existe um padrão absoluto) e o individualismo resultante (“só eu sei o que é certo para mim”) têm exercido forte impacto no conceito dos gêneros. Tal mentalidade “sem absolutos” significa que cada pessoa vive por conta de sua própria sabedoria em relação à masculinidade. [...] Em consequência disso, há grande relutância em se fazer qualquer afirmação a respeito do que é a verdadeira masculinidade.

  De outro lado, as Escrituras revelam um conjunto bem definido de características do papel do homem na história. Ao criar o homem, Deus confiou duas tarefas primárias e essenciais a ele: “E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn 2.15). Esses dois termos, “cultivar e guardar”, resumem o encargo divino para o comportamento masculino.

  Aqui o decreto do Senhor era que o homem fosse o provedor da sua família e o protetor da criação. 92 Scott enfatiza que, para cumprir o papel de provedor, o homem deve evidenciar características como, por exemplo, diligência, envolvimento pessoal e atitude de servo. Ele ainda acrescenta que as qualidades de um bom protetor são: coragem, ousadia, força física e espiritual e vigilância. 93

  Desse modo, a função de provedor e protetor é própria da natureza do homem. Assim sendo, Paulo ratifica que cabe ao homem proteger a sua esposa e a sua família, bem como lhes prover uma vida digna (Ef 5.28-30). Ressalta-se que a “masculinidade” ama e cuida da mulher e que “o machismo” inferioriza-a e desonra-a. Nesse aspecto, a Bíblia ensina ao homem tratar a mulher com dignidade (1 Pe 3.7).

  3. A Liderança Masculina

  Deus confiou ao homem a responsabilidade da liderança (Gn 1.26; 3.16). A aptidão para liderar implica em capacidade intelectual adequada para argumentar, organizar, planejar, avaliar e fazer escolhas certas em todo o tempo. 94 Na Bíblia, o princípio da liderança é apresentado na seguinte ordem: Deus é a cabeça de Cristo; Cristo é a cabeça do homem; e o homem é a cabeça da mulher (1 Co 11.3). Stuart Scott (2014, p. 22) argumenta:

  Cristo é o retrato perfeito de liderança. Aquele que O segue precisa saber quando e como tomar decisões piedosas e sábias. Isso só acontece quando há liderança! O homem e o marido, segundo os critérios de Deus, não podem fugir de decisões, abusar do privilégio de tomar decisões ou tomá-las de maneira mística.

  Não obstante, o movimento feminista de viés neomarxista considera esse modelo como um sistema opressor do homem para com a mulher. Argumenta-se que o texto bíblico promove profunda doutrinação de inferioridade da mulher e que o modelo de família patriarcal (liderança confiada aos homens) adotado nas Escrituras é essencialmente machista.

 Gerda Lerner (2019, p. 252) questiona o relato bíblico do seguinte modo:

  As metáforas de gênero mais fortes da Bíblia foram as da Mulher, criada a partir da costela do Homem, e de Eva, a sedutora, fazendo com que a humanidade caísse em desgraça. Por mais de dois mil anos, isso é citado como prova da subordinação da mulher como castigo divino. Como tal, tem exercido um poderoso efeito ao definir valores e práticas relativos às relações de gênero. Embora se espere que as interpretações de um composto poético, mítico e folclórico, como o Livro do Gênesis, variem para se ajustar às necessidades do intérprete, deve-se notar que a tradição da interpretação é predominantemente patriarcal.

  Apesar desse falacioso argumento, Paulo revela que o homem deve liderar a sua família do mesmo modo como Cristo lidera a Igreja (Ef 5.29). Uma vez que Cristo entregou-se pelo bem-estar da Igreja, a liderança masculina requer até a prática de algum tipo de sacrifício (Ef 5.25b). Nesse sentido, no exercício da liderança, o homem deve evidenciar atributos, tais como força, sabedoria, coragem, amor e respeito mútuo (Jz 6.14; 2 Cr 1.10; Ne 6.11; Jo 15.13-15). Ratifica-se que homens e mulheres são iguais perante Deus, mas que lhes foram confiadas funções distintas.

  II. A EROSÃO DA MASCULINIDADE

  1. Apologia à Homossexualidade

  Em tempos pós-modernos, a “ideologia de gênero” faz contínua investida de legitimação da prática da homossexualidade. Esse conceito ignora as características físicas e biológicas e alega que o ser humano nasce sexualmente neutro. Essa ideologia também é conhecida como “ausência de sexo”. Nessa concepção, invalidam a criação divina da raça humana como ser binário “masculino” e “feminino” (Gn 1.27). Ensinam que a identidade de gênero e a orientação sexual independem da anatomia do corpo, isto é, que a genitália masculina ou feminina não é um fator determinante. Assim, não aceitam que os órgãos do sistema reprodutor humano sirvam de parâmetro para a sexualidade. Em consequência, a sexualidade antinatural, ou seja, “contrário à natureza”, é ideologicamente incentivada (Rm 1.26,27).

  Contrapondo essa ideia, Robert Gagnon (2021, p. 258-260) esclarece:

  Tendo em vista o significado de “contrário a natureza” (para physin) e de expressões comparáveis usadas por escritores judeus do período para designar o intercurso homossexual, o sentido da expressão em Paulo é claro. [...] Em um linguajar mais direto, Paulo, na prática, defende que até mesmo os pagãos que não têm acesso algum ao livro de Levítico deveriam saber que o erotismo homossexual é “contrário a natureza”, porque os órgãos sexuais básicos do homem e da mulher se encaixam, o que não acontece com os de duas mulheres ou dois homens. [...] Para Paulo, era uma simples questão de, com base no senso comum, observar a anatomia humana, e a função procriadora, e concluir que até mesmo pagãos, que desconheciam a revelação direta de Deus na Bíblia, não tinham desculpa para não saber.

  Não obstante, os defensores e praticantes da sexualidade “contrária à natureza”, em busca de aceitação popular, investem na normalização dessa conduta. Daí decorre crise de masculinidade por meio de comportamentos efeminados e devassidão em clara afronta às Escrituras (1 Co 6.10). Nessa perspectiva, a masculinidade foi relativizada, e “a postura, outrora máscula, foi distorcida, proporcionando, com isso, uma grave crise comportamental na sociedade, além de uma nítida inversão de papéis”. 95

  2. Responsabilidade Negligenciada

  Em virtude da relativização da masculinidade, o modelo bíblico vem sendo abandonado e depreciado. A identidade masculina, que deveria estar associada à responsabilidade, à virilidade, à capacidade de prover, de proteger e de liderar uma família vem sendo substituída por indivíduos de duplo ânimo, vacilantes e inconsequentes (Tg 1.8).

  Essa situação é resultante da inexistência de “uma compreensão clara da masculinidade, pois nossa sociedade abandonou a única fonte absolutamente confiável que existe; a Palavra de Deus”. 96 Desse modo, a rejeição ao padrão bíblico arrasta o homem para o abismo moral, mantém-no prisioneiro de ideologias anticristãs e impede o seu pleno amadurecimento. Infelizmente, constata-se sob a ótica humana que essa deplorável conduta tende a aumentar.

  Nesse contexto, Renato Vargens (2020, p. 39) apresenta um quadro caótico:

  Do ponto de vista comportamental, maturidade é sinônimo de responsabilidade, ou seja, se você é uma pessoa madura, isso é sinal de que você é responsável o suficiente para assumir algo – um casamento, um trabalho, ou outra coisa do tipo. No entanto, vivemos em uma época em que um número incontável de homens não amadureceu. [...] Na verdade, esse tipo de homem, por motivos diversos, costuma desenvolver, no cotidiano, uma espécie de comportamento adolescente, desprovido de responsabilidade e maturidade emocional.

  Nesse cenário, uma parcela é incapaz de sustentar a sua própria casa — não pelo desemprego, mas pela aversão ao trabalho (Pv 21.25). Outros são desprovidos de maturidade para assumir a vida conjugal e os compromissos da paternidade (1 Tm 4.2,3). Alguns de caráter dúbio produzem insegurança na prole (Pv 24.10), e muitos são omissos na liderança e formação espiritual do seu respectivo lar (Ef 6.4). Os efeitos desse comportamento resultam em inúmeros casos de desajustes familiares e divórcio.

  Na contramão dessas atitudes desprezíveis, a masculinidade bíblica requer do homem alto padrão de responsabilidade. Paulo escreveu “portai-vos varonilmente” (1 Co 16.13), que significa “ajam como homens, não como crianças. Era um chamado a mostrarem[1]se homens valentes em um momento em que era necessário liderar com maturidade”. 97 Esse tipo de postura sinaliza que, “no coração de uma masculinidade madura, está um sentido de responsabilidade benevolente para liderar, prover e proteger”. 98

  3. Crise de Liderança

  A crise de masculinidade tem gerado homens incapacitados de cumprir o seu papel de líder. Em consequência, a sociedade e a Igreja hodierna experimentam uma grave crise de liderança. Uma sociedade sem liderança eficaz transforma-se em anarquia. Desse modo, tanto o mundo quanto a Igreja clamam e almejam por líderes eficientes.

  Como já observado, em tempos pós-modernos, multiplicam-se os desafios para uma liderança nos moldes bíblicos. Entre os obstáculos a serem vencidos, destacam-se: o relativismo cultural, que despreza as leis divinas e condiciona à verdade a consciência humana, que considera tudo igualmente válido e despreza os valores absolutos; o patrulhamento ideológico, que desqualifica quem pensa diferente; e o cerceamento da liberdade de expressão por meio das grades do “politicamente correto”.

  Somado a tudo isso, muitos homens estão acovardados e negligenciam o seu papel de líder pelo temor de serem mal compreendidos ou de serem alvos da “cultura do cancelamento”. Contudo, um líder autêntico não vacila por causa da opinião popular. Se determinada posição é bíblica, um bom líder não pode hesitar simplesmente porque outros não aprovam. 99

  No período do profeta Ezequiel (593–571 a.C.), o Oriente Médio passava por uma crise internacional. Israel e Judá encontravam-se no exílio. Tinham sido conquistados pelos seus opressores como punição dos seus pecados contra o Senhor Deus. As nações estavam sendo massacradas pela corrupção desenfreada, pela usura contumaz, pelo suborno insolente, pelas predições mentirosas, pela opressão implacável, pela avareza injustificada e pela violência reinante (Ez 22.2-13).

  Ao revelar-se para o profeta, o Senhor descreveu que uma das causas da destruição iminente era a crise de liderança. Deus procurava alguém entre os líderes para trazer suspensão do julgamento contra o pecado, alguém para reverter a situação: “[...] um homem que estivesse tapando o muro e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei” (Ez 22.30).

  Nesse caso, a busca divina foi em vão, e o juízo tornou-se inevitável. Por isso, e apesar disso, “Deus ainda procura esse tipo de homem para destacar no horizonte da história humama”. 100 Homens de verdade, que possam liderar pelo paradigma da masculinidade, isto é, segundo o modelo preconizado nas Escrituras (1 Rs 2.2).

 III. BOAZ, SÍMBOLO DE MASCULINIDADE

  1. Modelo de Generosidade

  A generosidade relaciona-se com a benignidade e a bondade. A benignidade é considerada como “uma virtude que nos dá condições de tratar os outros com carinho e meiguice [...] A Bíblia fala da benignidade de Jesus (2 Co 10.1). É dessa fonte que o Espírito Santo transmite a benignidade como fruto”. 101 A benignidade, de igual forma, indica “agir com delicadeza, com benevolência com relação aos outros como Deus fez conosco”. 102

  A bondade descreve aquele que é “bom” em caráter, moralmente honesto e agradável a Deus, e ainda representa generosidade de coração. 103 Retrata as obras e atos de bondade em favor do próximo. Refere-se à bondade em ação, que se expressa em atitudes de ternura e compaixão com o outro.

  A bondade identifica “aquele compromisso firme para o benefício dos outros [...]. Reflete o caráter de seu Criador e deste modo é santo, justo e bom (Rm 7.12)”. 104

  Por evidenciar essas virtudes, apresentamos Boaz como modelo de homem generoso. Boaz era parente de Elimeleque, o falecido esposo de Noemi (Rt 2.1). Num período de quase dez anos, Noemi perdera o marido e os filhos (Rt 1.3-5). Ao retornar para Judá, ela estava acompanhada apenas por Rute, uma das suas noras moabitas, que também ficara viúva e sem filhos (Rt 1.16). Para sobreviver e sustentar a sogra, Rute foi trabalhar no campo de Boaz (Rt 2.3,5,6).

  Ao saber que Rute deixara a sua terra para apoiar a sogra, Boaz tratou-a com brandura e generosidade (Rt 2.11,12). Dirigiu-se a Rute com ternura e benevolência (Rt 2.8); protegeu-a para não ser molestada ou assediada pelos trabalhadores do campo (Rt 2.9); alimentou-a com fartura (Rt 2.14); e ordenou que fosse favorecida na colheita e que não fosse censurada ou reprendida no seu labor (Rt 2.15,16).

  Todavia, apesar de todo o cuidado dispensado por Boaz, pela Lei uma viúva sem filhos só poderia ser resgatada pelo casamento com um parente próximo do falecido (Dt 25.5,6; Rt 4.9,10). Não obstante, embora toda a compaixão demonstrada por Boaz, Noemi e Rute ainda estavam em grandes dificuldades. A solução para aquelas mulheres repousava na esperança de um Resgatador.

 2. Padrão de Virilidade

 Virilidade é uma característica masculina, do homem, e é somente ele que a possui. Ao contrário do que se apregoa, a virilidade na concepção cristã não está relacionada com corpo atlético ou musculoso, nem tampouco se correlaciona com truculência, ignorância, desleixo ou insensibilidade.

  Virilidade é definida como a capacidade que o homem tem de realizar o ato sexual, mas também é sinônimo de vigor físico e de força moral. Salomão, antes de assumir a responsabilidade de reinar sobre Israel, foi advertido pelo rei Davi com as seguintes palavras: “Esforça-te, pois, e sê homem” (1 Rs 2.2). Essa exortação é similar à de Moisés quando admoestou Josué a “ser homem” e encarar a sua responsabilidade de liderança com coragem (Dt 31.7,8). O próprio Deus disse a Josué no início do seu ministério: “Seja forte e corajoso” (Js 1.6, NTLH). 105

  Entretanto, a questão de gênero deturpa o conceito de virilidade. A ideologia ignora o fato fisiológico e alega que a masculinidade é socio-culturalmente construída. Ela avalia que inexiste um modelo de masculinidade e alega que a virilidade é uma equivocada atribuição do sexo masculino. Na esteira dessa desconstrução, “o homem moderno trocou a aparência viril por uma estética mais delicada, quase beirando a imagem feminina”. 106

  Entretanto, destaca-se que, nas Escrituras, a virilidade é demonstrada por atos de coragem, mas também de autocontrole (Pv 16.32). Nesse aspecto, Boaz é visto como um homem viril “valente e poderoso” (Rt 2.1). A Bíblia registra que Rute, durante a noite, deitara-se ao lado de Boaz para pedir-lhe que a resgatasse (Rt 3.4,9). Ao notar a presença da bela moabita, Boaz subjugou os seus instintos sexuais e não a tocou (Rt 3.8).

  Ele simplesmente a respeitou, entendeu a sua petição, reconheceu-a como mulher virtuosa e prometeu fazer o possível para casar-se com ela (Rt 3.10-13). A robustez moral de Boaz assemelha-se a de José, quando este resistiu ao assédio da esposa de Potifar (Gn 39.7-10). Virilidade, portanto, não significa apetite sexual desordenado ou desrespeito para com as mulheres. A virilidade bíblica é demonstração de coragem, firmeza de caráter e conduta ilibada.

  3. Exemplo de Responsabilidade

 Etimologicamente, o termo “responsabilidade” tem origem no latim responsabilitatis e significa “caráter ou estado de responsável. Obrigação geral de responder pelas consequências dos próprios atos ou pelos dos outros [...] que deve prestar contas de suas ações”. 107 Nessa concepção, a ética cristã estabelece uma estreita ligação entre o caráter virtuoso e a responsabilidade moral. Carl Henry (2007, p. 519) apresenta a seguinte definição:

  Responsabilidade e moralidade são inseparáveis. Uma não pode existir sem a outra. Uma filosofia mecanicista ou comportamentista não admite nenhuma delas. Outros filósofos fazem diferença entre elas com respeito às bases ou naturezas de obrigação. [...] O cristianismo, é claro, baseia a responsabilidade na imposição dos mandamentos do criador.

  Nesse aspecto, Boaz encontrava-se diante de um impasse moral com a legislação vigente, isto é, o casamento do levirato determinado por Moisés. Boaz comprometeu-se em resgatar Rute e a herança de Elimeleque; contudo, ele estava ciente de que a responsabilidade de casar-se com a moabita era de um parente mais próximo que ele (Rt 3.12,13).

  O Dicionário Wycliffe (2006, p. 390) arrazoa:

 O casamento de uma viúva sem filhos com o irmão de seu marido era um costume antigo praticado na época dos Patriarcas (Gn 38.8) que mais tarde foi incorporado à lei de Moisés (Dt 25.5-10). [...] Era preciso que um irmão ou parente próximo do sexo masculino gerasse uma semente em nome do falecido. Se essa obrigação era negada, a viúva poderia expor essa pessoa à execração pública.

  Mercê da norma em vigor e movido pelo senso de responsabilidade e honra, Boaz levou o caso aos anciãos (Rt 4.1,2). Na audiência, explicou que as terras de Elimeleque estavam à venda e que aquele que as comprasse deveria casar-se com Rute (Rt 4.4,5). O parente que tinha a primazia renunciou ao seu direito e dever e autorizou Boaz a comprar as terras e a casar-se com a moabita (Rt 4.6,9,10).

  Ao adquirir a propriedade e tomar Rute por mulher, Boaz tornou-se o líder, o provedor e o protetor daquela família (Rt 4.13-16). O casal gerou Obede, avô do rei Davi, de cuja linhagem nasceu o Cristo (Rt 4.22; Mt 1.5,6,16). Por conseguinte, Boaz é símbolo de masculinidade enquanto cidadão, marido, pai e líder exemplar.

  CONCLUSÃO

  Deus criou o ser humano com dois gêneros: masculino e feminino (Gn 1.27). A diferenciação dos sexos é um princípio determinado pela criação divina (Gn 2.23). A masculinidade é um conjunto de atributos e funções inerentes ao homem. A desmasculinização decorre da inversão dos papéis do homem na sexualidade, na liderança e na prática dos seus deveres. A masculinidade bíblica exige o autocontrole, o sacrifício e a firmeza de caráter no encargo das suas tarefas. Nesse sentido, a sociedade, a família e a igreja anseiam por homens que honrem a sua masculinidade.

 


 

 

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