domingo, 5 de fevereiro de 2023

LPD CENTRAL GOSPEL MAX - Lição 07, Central Gospel, Advertência Contra a Apostasia

 


TEXTO BÍBLICO BÁSICO

 - Hebreus 5.12-14,6.1,2, 4-6, 11,12

12- Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite e não de sólido mantimento.

13- Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino.

14- Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal.

Hebreus 6.1,2,4-6,11,12

1 Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus,

2 e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno.

4 Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados,

5 e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro,

6 e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus e o expõem ao vitupério.

11 Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança;

12 para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que, pela fé e paciência, herdam as promessas.

TEXTO ÁUREO

Porque Deus não é injusto para se

esquecer da vossa obra e do

trabalho de amor que, para com o

seu nome, mostrastes, enquanto

servistes aos santos e ainda

servis.

Hebreus 6.10

RESUMO GERAL DA LIÇÃO

1-INFÂNCIA ESPIRITUAL

1-1- Negligência para ouvir

2- OS RUDIMENTOS DA DOUTRINA

2-1-Arrependimento e fé

2-2-Batismo e imposição de mãos

2-3- Ressurreição e juízo

3-OS PERIGOS ESPIRITUAIS DA

APOSTASIA

3-1- O que é apostasia?

3-1-1- Apostasia no Antigo Testamento

3-1-2-Apostasia no Novo Testamento

3-2- Advertências a não retroceder

3-3- A recaída no fosso da apostasia

COMENTÁRIO

 - Palavra introdutória

Partindo do argumento teológico da superioridade de CRISTO, o escritor da carta aos Hebreus alerta os judeus convertidos sobre a necessidade de evitarem a apostasia, caracterizada pela negação da fé e pela rejeição a CRISTO. Ao procurar entender a natureza da apostasia, o escritor sagrado fala das implicações de negligenciar-se a grande salvação, garantida por JESUS (Hb 2.3).

CONCLUSÃO

As palavras registradas em Hebreus 6.9-12 contêm o que, talvez, seja a passagem de advertência mais famosa da Escritura. O texto bíblico que melhor elucida a morte espiritual, no que tange à apostasia, está descrito nos versículos 4-8 desse capítulo.

Muitos apóstatas jamais voltarão para Deus; porém, o convite para que o pecador se arrependa e volte-se para Deus está posto diante de todos hoje mesmo, não importando os pecados e erros cometidos no passado.

Lição 07, Central Gospel, Advertência Contra a Apostasia, LPD CENTRAL GOSPEL MAX - Tema, A Epístola aos Hebreus A Suprema Revelação de DEUS em CRISTO  



   Apostasia – Uma Análise das Cartas de Timóteo

   A apostasia pode nos levar a um quadro irreversível de perda da salvação. “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;” 1 Timóteo 4:1

 Ouço/leio muitos textos sobre a doutrina da Perseverança dos Santos. São comuns perguntas do tipo:

 Uma vez salvo, salvo para sempre?

 Pode um eleito se perder?

 Um crente pode perder a salvação? Qual o significado da palavra “apostasia”, 2 Ts 2.3, e de tantas advertências a perseverança na fé, até o fim? Mt 10.33, 24.13, Mc 13.13, Hb 3.6, 3.14, 6.11

 Exemplos:

 “Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.” Mt 24.13 “E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.” Mc 13.13 “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” Hebreus 3:14

 Pretendemos ajudar a esclarecer estas dúvidas.

1.  Iniciaremos com o significado e a raiz da palavra “apostatarão” utilizada no texto de 1 Tm 4.1

 Segundo o Dicionário bíblico de Grego e Hebraico, James Strong, “aphistemi” (αφιστ ημι) Significa:

1) fazer retroceder, fazer afastar-se, remover, excitar à revolta;

2) retroceder, manter-se de lado, ir embora, deixar alguém, abandonar, afastar-se de alguém, abandonar, tornar-se infiel, afastar-se de, fugir de, parar de atormentar alguém, afastar-se de, abandonar, guardar-se de, ausentar-se de; A palavra “aphistemi” deriva de “apostasia” que significa: 1) separação, deserção, apostasia. E por sua vez αποσ τασιο ν apostasion, que representa

1) divórcio, repúdio

 2) uma carta de divórcio. Utilizando o dicionário Léxico Grego/Português, F. Wilbur Gingrich, αποστασία, ας, ή Significa: rebelião, abandono, apostasia At 21.21; 2 Ts 2.3.   Qualquer que seja o sentido escolhido como significado, o mais claro indicativo é de separação, apartar-se, divorcia-se, trazendo um sentido definitivo ou de estado de deserção, abandono. Voltando ao texto de 1 Tm 4.1 “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé…”

  Outro sentido não pode ser aplicado, a não ser o de deserção, abandono, divórcio com a fé. Por mais que alguém tente amenizar o significado do termo para indicar um esfriamento espiritual, isto não é compatível com nenhum dos sentidos e modos de uso das palavras acima descritas.     

 Por outro lado, só pode apartar-se quem esteve junto, divorciar-se, o casado, abandonar quem estava presente, quem era participante, então em qualquer sentido escolhido, trata-se de que antes a pessoa esteve unida a Cristo, a fé, junto, participando e deixou, se apartou, divorciou-se.

1.  Instruções a Timóteo

 O contexto da Carta de Paulo a Timóteo é o de instrução, de um líder mais experiente para um líder mais jovem, é o repartir experiências. Na 1ª Epístola uma Carta amorosa de um pai (na fé) para o filho, e um tom de despedida na 2ª Carta, isto porque o Apóstolo Paulo escreveu a segunda epístola já ciente da proximidade de sua morte. 2 Tm 4.6-7

  Os objetivos das Cartas são claros, fortalecer e transmitir experiências. Então vejamos alguns textos relacionados à apostasia. Himeneu e Alexandre “Este mandamento te dou, meu filho Timóteo, que, segundo as profecias que houve acerca de ti, milites por elas boa milícia; conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.” 1 Timóteo 1:18-20 Este primeiro texto mostra-nos muito claramente que Paulo encontrou dois irmãos que posteriormente “fizeram naufrágio na fé”, apostataram, se apartaram da fé, e a consequência é que o apóstolo diz que os entregou a Satanás, em um sentido de que os deixou a própria sorte.

   Na segunda Carta, novamente aparece uma citação sobre Himeneu, vejamos: “Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns.” 2 Timóteo 2:16-18

  Mais cristalino que isso, eu não faço ideia como seria possível, “os quais desviaram-se da verdade”, isto é, porque um dia estiveram nela, e “perverteram a fé de alguns”. Mas não é isto que foi dito em 1 Timóteo, que alguns apostarão da fé? E Paulo torna a destacar esta realidade observada na vida de Himeneu e Fileto. A orientação é para que se afaste de tais desertores.

 2. Conselho:

  “Tem cuidado de ti mesmo” Outra dica do apóstolo Paulo ao discípulo Timóteo diz respeito a sua vida pessoal, a perseverança pessoal. A conclusão do capítulo 4, da primeira epístola, que iniciou advertindo sobre a apostasia de alguns é: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” 1 Tm 4.16

  Percebemos que Paulo quer deixar muito claro que devemos tomar cuidado com os perigos espirituais e ser zelosos com a doutrina, para que nós mesmos não venhamos a ser vítimas da apostasia.

  A conclusão da 1ª Carta: “Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e profanos e às oposições da falsamente chamada ciência, a qual professando-a alguns, se desviaram da fé. A graça seja contigo. Amém.” 1 Tm 6.20-21 É uma clara advertência a perseverança, “guarda o depósito”, (2 Tm 1.12,14) “a qual professando-a alguns, se desviaram da fé”, ou seja, um dia estiveram nela, mas se desviaram, apostataram.

  Amados, “se desviar da fé!” Isto também foi mencionada pelo Apóstolo Tiago: “Irmãos, se algum DENTRE VÓS se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.”Tg 5:19-20.

 Algo semelhante ao relatado em At 13.8 “Mas resistia-lhes Elimas, o encantador (porque assim se interpreta o seu nome), procurando apartar da fé o procônsul.” “Tem cuidado de ti mesmo”.

  “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” 2 Tm 2.15 “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” 2 Tm 4.5 E novamente cita o infeliz do Alexandre, companheiro de Himeneu: “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, GUARDA-TE também dele, porque resistiu muito às nossas palavras.” 2 Tm 4.14-15

   Pois bem, eu não sei como você (irmão, leitor) vê (ou via) a questão da apostasia, mas ao que percebemos para Paulo era algo muito sério e verdadeiro, que Ele viu acontecer na Prática com Himeneu, Fileto e Alexandre, e advertiu ao jovem e amado pastor Timóteo a respeito, e a ter cuidado, vigiar, guardar o depósito, se afastar dos corruptores da fé, dos que naufragaram na fé, se afastar daqueles que se desviaram.

2.  Principais objeções – análise teológica do tema “apostasia”.

 A doutrina “Perseverança dos Santos”, popularmente conhecida como “uma vez salvo, salvo para sempre”, é erroneamente atribuída aos calvinistas, quando na verdade é (mais propriamente) uma doutrina dos Arminianos de 4 pontos, presente na teologia, por exemplo, de Norman Geisler, Edgar Young Mullins, e Henry C. Thiessen. No arminianismo clássico, aquele que afirma que o crente pode desertar da fé, como os textos acima nos deixaram claro, a segurança é “Em Cristo”, Nele, ou enquanto Nele estamos seguros. Apartados (aphistemi), só resta condenação.

   O Calvinista R. C. Sproul diz que a Perseverança dos Santos, ou seja, a doutrina que ensina que os santos de Deus hão de perseverar até o fim, na verdade, no âmbito da teologia calvinista, deveria ser denominada “Preservação dos Santos”, isto porque (para um calvinista) não é o santo/crente que persevera, como se algo de sua vontade estivesse envolvido no processo, mas Deus o livra da destruição conforme a eleição incondicional. Eu discordo diametralmente do calvinismo, mas concordo com o raciocínio do Sproul, é mais apropriado aos calvinistas denominar-se defensores da Preservação dos Santos e não da “Perseverança”, pois quem persevera é o crente. 4. Principais dúvidas e objeções a) Uma vez salvo, salvo para sempre?

  RESPOSTA

 A própria pergunta é confusa. É muito comum calvinistas fazerem trocadilhos e mal uso de palavras, acredito que involuntariamente o fazem, mas vejamos bem, “salvo de quê”? Paulo disse que Timóteo salvaria a ele mesmo e aos ouvintes se perseverassem na doutrina. 1 Tm 4.16. Salvaria de quê?

  Da apostasia.

 1 Tm 4.1 Na pergunta ocorre o mal uso da palavra “salvo”. Exemplo: Alguém pode estar a salvo agora em sua casa, bem guardado e amanhã ao andar pela rua, com tanta violência, não sentir-se (e nem encontrar[1]se) tão a salvo assim. Deus é nossa segurança, só Ele.

  No que diz respeito a fé, a nossa segurança e fortaleza é Cristo, longe dele não estamos a salvo, pessoas podem louvá-lo hoje e negá-lo amanhã, quantas vezes vimos isto?

  Como muito bem asseverado pelos remonstrantes arminianos e pelos metodistas posteriores a segurança está em Cristo, e não fora dele, e não em algo misterioso, mas na certeza que temos em Cristo. “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim.” Hb 3.6 “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mal e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; Porque nos tornamos participantes de Cristo, SE retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” Hb 3.12-14

  Se o “salvo” refere-se a estado final, é claro que estado final só pode ser verificado ao final, os que perseveraram, mas se “salvo” refere-se ao agora, seguros estamos somente em Cristo, se permanecermos até o fim. Hb 3.6, 3.14, 6.11.  Não nos firmamos em uma eleição incondicional, predestinação ou outra ideia humana, mas em Cristo, SE (condicional) Nele, então estamos seguros.

  E quanto ao Retroceder? A Bíblia é muito clara neste assunto, Deus não tem prazer naquele que retrocede.

  “Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma. Hb 10.38-39 “E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.” Lc 9.62 b)

   Pode um crente “perder a salvação”? Vemos aqui outro mal uso de termo, agora a palavra “perder” ou da expressão “perder a salvação”. Veja bem, isto não ocorre na Bíblia, ninguém perde a salvação, a salvação é para aquele que perseverar até o fim, se morremos em Cristo seremos salvos, esta é a promessa.

  Uma pessoa pode ser crente, nascer de novo, e vir a naufragar na fé, vide Himeneu e Alexandre. 1 Tm 1.19. Pode ser crente e se desviar. Tg 5.19-20, apartar-se, apostatar. “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.

 “ Hb 6.4-6 Um dos textos mais claros a respeito do tema é o capítulo 2 de II Pedro. “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” 2 Pedro 2.1

 “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama. 2 Pd 2.20-22

   Por que confusão de termos?

  O uso da expressão “perder a salvação” leva a um entendimento de algo volátil, frágil, de pouco valor, quando nós na realidade temos uma aliança feita no sangue puro de nosso Senhor Jesus Cristo, isto não é volátil, frágil, mas sim, forte. E por outro lado, ainda pior, sugere que é algo conquistado por um possuidor, detentor, sob o domínio e poder puramente humano. Nada disto, biblicamente, é verdadeiro, por isso considero o uso do termo inapropriado. “Salvo”, no que diz respeito a morador do céu, herdeiro das promessas, é somente aquele que persevera até o fim, mas o crente pode morrer e naufragar na fé, se não vigiar, se não tiver cuidado de si mesmo. Pode experimentar os dons espirituais, ser participante da mesa do Senhor e ainda assim vir a apostatar.

  C) Um eleito pode deixar de ser salvo? Mais uma vez, espero que já esteja ficando claro o fato, há uma confusão de termos. “Eleito” é condição final, Deus fala assim dos salvos, dos que Ele sabe que se salvarão, as vezes falamos assim de nós mesmos, pela fé, e ninguém sabe quem e quantos são, e isto não tem qualquer relação com a incondicionalidade defendida por calvinistas, mas apenas com o fato de Deus conhecer todas as coisas antes de que tudo tenha sido criado. At 15.18, I Pe 1.2.

  Reiteramos, um crente fervoroso, cheio do Espírito de Deus (Ex: Saul), pode vir a apostatar, mas “eleito” é condição final, é como “o salvo”, eleito é quem persevera em Cristo até o fim. Então, chegamos ao fim de mais uma meditação, espero que tenha sido uma benção e tenha ajudado a tirar algumas dúvidas, e fica o conselho de Paulo para nós:

   “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” 1 Tm 4.16

 Graça e Paz.

    Pastor Flávyo Henrique Santos

 

     Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério

  O salvo em Cristo Jesus deve estar atento à realidade da apostasia dos últimos dias e permanecer fiel e diligente no seu serviço ao Senhor.

  I – A APOSTASIA

 – A palavra “apostasia” é grega, composta de “apo”, preposição que dá a ideia de deslocamento de um ponto de partida, de afastamento e “stasis”, que significa “posição”. Assim, “apostasia” é o deslocamento de uma posição, a saída de um lugar, o distanciamento de um local. No Novo Testamento, encontramos esta palavra em At.21:21, em II Ts.2:3 e o verbo a ela correspondente em Hb.3:12. Na versão grega do Antigo Testamento (a Septuaginta), encontramos esta palavra em Js.22:22 e II Cr.29:19. Na Versão Almeida Revista e Corrigida e na Edição Contemporânea de Almeida, a palavra “apostasia” é encontrada em três versículos (Jr.8:5, Ez.23:21 e II Ts.2:3).

 – A.S. Wood, um dos colaboradores do Novo Dicionário da Bíblia de J.D. Douglas, afirmou que “…no grego clássico, o vocábulo grego apostasia é um termo técnico para revolta ou defecção política…” (Apostasia. In: op.cit., v.1, p.95), enquanto que, para os judeus, diz-nos Nathan Ausubel, a apostasia era tida “…como o mais grave de todos os pecados que o judeu ameaçado podia cometer…”, motivo pelo qual “…embora já fosse terrível como instrumento de excomunhão entre os judeus, nos dias dos Minim (as seitas heréticas da Judéia que provavelmente incluíam os primeiros cristãos), o cherem [a excomunhão, observação nossa] cresceu em severidade e em frequência de aplicação na Idade Média, quando a perseguição aos judeus e os esforços para convertê-los ao cristianismo tornaram-se mais intensos. O menor desvio das idéias tradicionais ou das práticas era imediatamente considerado pelos líderes religiosos e comunais como passível de levar à apostasia…” (AUSUBEL, Nathan. Excomunhão. In: JUDAICA, v.5, p.282). –

  Percebemos, portanto, que a apostasia está relacionada com uma atitude de mudança de comportamento, de afastamento de valores supremos, de crenças fundamentais que uma pessoa possuía e que a fazia viver numa determinada comunidade. Trata-se de uma considerável modificação de suas crenças e de seus princípios, uma alteração profunda no seu interior, em que a pessoa deixa as coisas mais caras e preciosas que tinha no seu universo de crenças, sentimentos e valores, para rejeitar tudo aquilo de forma voluntária e consciente. Assim, para os gregos, quando alguém se revoltava contra o governo de sua cidade, quando abandonava o grupo político a que pertencia, tinha-se a apostasia. Para os judeus, quando a pessoa abandonava a Torá, deixava de servir ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó, também praticava apostasia.

  – Ora, este gesto da apostasia representa, entre os cristãos, igualmente, a rejeição voluntária e deliberada da fé em Jesus Cristo. A apostasia é, como afirma a Bíblia de Estudo Pentecostal, a “…decaída, deserção, rebelião, abandono, retirada ou afastar-se daquilo a que antes se estava ligado. Apostatar significa cortar o relacionamento salvífico com Cristo, ou apartar-se da união vital com Ele e da verdadeira fé n’Ele(…). Sendo assim, a apostasia individual é possível somente para quem já experimentou a salvação, a regeneração e a renovação pelo Espírito Santo (cf. Lc.8.13; Hb.6:4,5); não é a simples negação das doutrinas do NT pelos inconversos dentro da igreja visível.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. A apostasia pessoal (estudo doutrinário), p.1903)

   É “…o abandono deliberado da crença na fé cristã (…) por alguém que dizia seguir essa fé…”(R.N. CHAMPLIN. Apostasia. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.237), ), “…o abandono total da fé ou da religião de uma pessoa; abandono do credo e renúncia das obrigações religiosas…” (Lewis Sperry CHAFER. Teologia sistemática. t.4, v.7, p.27).

  OBS: O Código de Direito Canônico da Igreja Romana define, no seu cânon 751 o que vem a ser apostasia, diferenciando-a da heresia e do cisma, definições que, por seu caráter apropriado, merecem ser aqui reproduzidas: “ Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou de comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos.” No mesmo sentido, o Corão, livro sagrado dos muçulmanos, afirma que “…Haverá alguém mais iníquo do que quem desmente e desdenha os versículos de Deus? Infligiremos o pior castigo àqueles que desdenharem os Nossos versículos, bem como àqueles que se tiverem afastado deles.…” (6:157), demonstrando, assim, que o apóstata é aquele que se afasta deliberadamente da crença anteriormente assumida.

  – Deste modo, pelo que podemos verificar, a apostasia é um fenômeno que atinge apenas os crentes sinceros e autênticos, ou seja, para que haja apostasia, é preciso que alguém que tenha alcançado a salvação, rejeite deliberada e voluntariamente a fé em Jesus Cristo a partir de um determinado instante de sua vida espiritual. Quando se fala em apostasia, portanto, não se está a falar de pessoas que nunca creram em Jesus, ainda que tenham “nome” de cristãos, mas de pessoas que, tendo crido em Jesus sinceramente e tenham aceitado a Jesus como seu Senhor e Salvador, passam a se distanciar paulatinamente do Caminho e, num determinado momento, de modo voluntário, consciente e deliberado, abandonam o “caminho estreito”, renegam o seu Senhor e passam a viver totalmente separados de Cristo.

  – A apostasia é a rejeição de Jesus por quem uma vez já alcançou a salvação por intermédio dEle. É o gesto de um salvo que, por diversas razões (e nós analisaremos as principais neste estudo), abandona Jesus em troca de coisas de somenos importância, deixando-se iludir pela sua própria concupiscência.

  Esta concupiscência faz nascer no crente apóstata um coração de incredulidade e infiel, que o faz se apartar do Deus vivo (cfr. Hb.3:12). São pessoas que endureceram os seus corações para Deus pelo engano do pecado (Hb.3:13).

  – Esta triste e lamentável realidade é apontada como uma das características que seriam vividas nos últimos tempos. No final da dispensação da graça, perto do arrebatamento da Igreja e da manifestação do Anticristo, haverá a apostasia. Paulo, ao escrever a segunda carta aos tessalonicenses, fala disto, ao dizer que Jesus não virá antes que ocorra a apostasia (II Ts.2:3). A apostasia dos últimos tempos é um sinal do término da nossa dispensação, é um prenúncio da volta de Cristo. Por isso, quando verificamos a situação de apostasia que grassa sobre a Igreja nos nossos dias, não devemos nos assustar, “…porque é necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim não será logo…” (Lc.21:9b).

  – É exatamente esta a realidade que o Espírito Santo revelou a Paulo e que o apóstolo dá a conhecer a seu filho na fé Timóteo. Depois de ter falado a respeito dos requisitos para a separação de obreiros e de ter lembrado que a Igreja tem como cabeça a Cristo Jesus, o apóstolo revela a Timóteo que, nos últimos tempos, alguns apostatariam da fé. – De pronto, vemos que a expressão do apóstolo mostra claramente que ele era guiado pelo Espírito Santo. O Espírito Santo revela as coisas futuras para que os salvos não sejam confundidos com os acontecimentos.

 Como afirma Tomás de Aquino: “…prediz o Espírito Santo algo futuro: porque a Ele pertence revelar os mistérios. ‘…[Ele] anunciará o que há de vir’ (Jo.16:13). Assim pois o Espírito prenuncia as coisas futuras que estavam secretas no coração do Pai.…” (Comentários da Primeira Carta de Paulo a Timóteo. Leitura 1 – I Tm.4:1-5. Cit. de I Tm.4:1-5. N.12. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

  – Após ter mencionado o “mistério da piedade”, que é o próprio Cristo, Paulo, como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry, fala do “…mistério da iniquidade resumido: O Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé; quer ele se refira ao Espírito do Antigo Testamento, ou ao Espírito nos profetas do Novo Testamento, ou a ambos As profecias referentes ao anticristo, bem como as profecias referentes a Cristo, vieram do Espírito.

  O Espírito nos dois falou expressamente de uma apostasia geral da fé em Cristo e da adoração pura em Deus. Isso deveria ocorrer nos últimos tempos, durante a dispensação cristã, porque esses são chamados de últimos dias; nas épocas seguintes da Igreja, porque o mistério da iniquidade agora começou a agir.…” (Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse obra completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.693) (destaques originais).

  – A revelação do Espírito Santo ao apóstolo Paulo é a de que, nos últimos tempos, haveria a apostasia, ou seja, alguns salvos em Cristo Jesus abandonariam a fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, a doutrinas de demônios.

 – Estes “espíritos enganadores” de que fala o apóstolo não são demônios que se encontram em locais onde o diabo é adorado ou onde haja invocação de espíritos malignos. Não, não e não! Estes “espíritos enganadores” manifestam[1]se entre os próprios cristãos, pois só nas igrejas locais é que existem verdadeiros servos de Cristo que poderão apostatar da fé. Aqueles que invocam demônios não podem apostatar da fé simplesmente porque nunca tiveram fé, são incrédulos. Desta maneira, portanto, vemos que os espíritos enganadores atuam entre os servos de Cristo, procurando fazê-los abandonar a fé.

  – Vemos a grande importância que tem o trabalho dos pastores em impedir que se ensine outra doutrina, a própria razão de ser da missão de Timóteo na igreja de Éfeso. Os pastores, ao impedir os falsos ensinos, cerceia a ação destes “espíritos enganadores” que levarão falsos mestres a ensinar “doutrinas de demônios”, que resultará na apostasia de alguns cristãos.

  – Vivemos estes “últimos tempos” previstos pelo Espírito Santo ao apóstolo Paulo, pois estes “últimos tempos” nada mais são que os dias finais da dispensação da graça, os dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja.

  – Neste tempo em que vivemos, “espíritos enganadores” estão agindo como nunca, usando de falsos mestres para que ensinem “doutrinas de demônios”, levando muitos a se afastarem da fé. Paulo já dissera a Timóteo a respeito do “mistério da piedade”, a respeito de Cristo Jesus, que é quem devemos anunciar nas igrejas locais Tudo quanto se desvie da pregação do Evangelho, da pregação de Cristo e Este crucificado (I Co.2:2), nada mais é do que “doutrina de demônios”, que tem por objetivo simplesmente fazer com as que as ovelhas de Cristo saiam do caminho que conduz à salvação e passem a trilhar novamente o caminho largo e espaçoso que conduz à perdição (Mt.7:13,14).

  – Não nos iludamos. Os “espíritos enganadores” estão atuando no meio das igrejas locais, utilizando-se de pessoas que têm aparência de cristãos, embora não o sejam, pois, como nos ensina o Senhor Jesus, os falsos profetas vêm até nós vestidos como ovelhas mas, interiormente, são lobos devoradores (Mt.7:15).

   – William Hendriksen afirma que “…tais doutrinas são [incorporadas] em [as] declarações hipócritas (literalmente, com hipocrisia) de quem fala mentiras. Assim como Satanás fez uso de uma serpente para enganar Eva, e isso por meio de uma declaração hipócrita (Gn.3:1-5; estava escondendo seu verdadeiro objetivo; porquanto pretendia levar Eva a um nível superior de glória, para que pudesse ser ‘como Deus’, seu verdadeiro propósito era destronar Deus e tomar ele mesmo o trono para si), assim esses espíritos sedutores ou demônios fazem uso de homens que falam mentiras, e que falam piedosa e fluentemente com o fim de esconder sua própria arrogância e imoralidade.…” (Comentário I Timóteo, II Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, p. 183) (destaques originais).

  – Vemos, portanto, que tais “doutrinas de demônios” podem ser identificadas por aqueles que são homens espirituais (pois estes, tendo a mente de Cristo, tudo discernem — I Co.2:14-16), mediante o confronto de seus ensinos com a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17). Somente a verdade pode desmascarar a mentira e, portanto, é imperioso que haja prioridade ao ensino da sã doutrina nas igrejas locais para que os falsos mestres sejam descobertos e reprovados, impedindo-se, deste modo, que a apostasia grasse em cada igreja local.

  – Os agentes dos “espíritos enganadores” são hipócritas, ou seja, aparentam ser o que não são, pois, como já dissemos supra, são lobos devoradores no interior e ovelhas no exterior, pessoas que não têm qualquer temor de Deus, pois suas consciências estão cauterizadas, ou seja, vivem em tal nível de engano que não mais ouvem a voz de Deus que foi posta no interior de cada pessoa.

  – Por isso, é imperioso que não nos deixemos levar pela aparência, mas devemos julgar segundo a reta justiça, ou seja, segundo a Palavra de Deus (Jo.7:24). Em nossos dias, onde a mídia exerce grande influência, somos levados a crer naquilo que vemos e ouvimos, sem que procedamos a uma investigação. Não podemos dizer que este ou aquele é um homem de Deus sem que convivemos com ele, pois, se apenas nos deixarmos levar pelo que aparece, poderemos estar sendo influenciados por um falso mestre, por um agente de um “espírito enganador”. Uma das características do verdadeiro e genuíno servo de Deus é a de ser um investigador, a de ser um pesquisador, alguém que procurará sempre saber a origem e a vida de quem prega a Palavra de Deus (Sl.10:4).

   – Além de investigar a própria vida daquele que está a pregar e ensinar a Palavra de Deus, o verdadeiro e genuíno servo de Deus fará um confronto entre o que é ensinado e a Bíblia Sagrada, agindo como os judeus de Bereia, num comportamento que as próprias Escrituras dizem ser excelente (At.17:11).

   – Paulo, em sua orientação a Timóteo, traz algumas dicas a respeito de tais “doutrinas de demônios”, características que não são exaustivas, mas exemplificativas, ou seja, o apóstolo dá exemplos de falsos ensinos, que não esgotam as hipóteses que poderiam surgir nos últimos tempos. – O primeiro ensino falso que o apóstolo menciona é o que proíbe o casamento e que ordena a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças.

   – Estes falsos ensinos mencionados por Paulo são os que procuram criar restrições e proibições que não foram, em absoluto, estabelecidas na Palavra de Deus. São ensinos que procuram fazer com as que as pessoas sejam “mais santas” do que o patamar de santidade estatuído pelo Senhor. São ensinos que querem que os homens sejam “mais realistas do que o rei”.

   – Hendriksen bem afirma que tais ensinos partem de um falso pressuposto, a saber: “…Tudo que é físico ou sensual contamina.” (op.cit., p.184). Tem-se aqui a ideia de que o corpo e o físico é algo mau, doutrina esta que nada tem que ver com a Bíblia Sagrada, porquanto o corpo foi criado por Deus, assim como todo o mundo material, de sorte que não tem cabimento achar-se que isto seja um mal, já que tudo o que Deus fez foi muito bom (Gn.1:31).

   – É sempre uma doutrina de demônio o ensino que proíbe fazer aquilo que Deus não proibiu, que procura privar alguém daquilo que Deus criou para que desfrutemos. Neste sentido, qualquer doutrina que proíba alguém de se casar, por ver no relacionamento conjugal um “pecado”, é, nitidamente, uma doutrina demoníaca, um falso ensino, que serve tão somente para afastar alguém da fé em Cristo. Não raras vezes, aliás, estas “privações”, este “excesso de santidade” acaba redundando na mais completa perversão, pois este é mesmo o objetivo do maligno.

   – Como diz o apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios, todas as coisas são lícitas aos servos de Cristo Jesus, desde que nenhuma destas coisas possa dominá-lo (I Co.6:12), de modo que querer proibir aquilo que o próprio Deus criou para deleite dos homens é uma doutrina de demônio cujo único objetivo é afastar o cristão da sua fé.

   – Aquilo que Deus criou para os homens para seu desfrute e deleite deve ser aproveitado pelos homens, que, entretanto, devem fazê-lo com ações de graças, ou seja, todo o desfrute deve ser feito de modo a que, através da sua utilização, estejamos sendo gratos a Deus. Tudo deve ser feito para glória e honra ao nome do Senhor. Sempre que desfrutarmos daquilo que Deus nos propicia de modo a que este desfrute seja um louvor a Deus, estaremos legitimamente usando daquilo que Deus nos proporcionou. Temos agido assim?

   – E como fazer uso legítimo daquilo que Deus nos deixa à disposição? Paulo nos diz claramente: pela Palavra de Deus e pela oração.

   Toda criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Se vivemos em santidade, e os principais meios de santificação são a Palavra de Deus e a oração, tudo que fizermos será para glória e honra ao nome do Senhor. Santifiquemo-nos e tudo quanto fizermos nesta peregrinação terrena será uma ação de graças a Deus e, vivendo assim, jamais cairemos nas armadilhas dos falsos mestres e não apostataremos da fé.

 

   Perseverança e Fé em Tempo de Apostasia

  A apostasia pode nos levar a um quadro irreversível de perda da salvação. Introdução – Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos a parte final do capítulo 5 e o capítulo 6. – Neste trecho, o autor aos hebreus mostra o risco da apostasia, que pode nos levar a um quadro irreversível de perda da salvação.

  I – A Imaturidade Espiritual dos Crentes Destinatários da Carta aos Hebreus

 – Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos a parte final da perícope iniciada em Hb.4:14 e que se estende até Hb.6:20, mais precisamente o trecho entre Hb.5:11 até o final do capítulo 6, onde o autor fala a respeito da apostasia espiritual.

 – Depois de ter demonstrado que Jesus é maior que Arão e Seu sacerdócio é superior ao sacerdócio levítico, o escritor aos hebreus afirma que Jesus é de uma ordem sacerdotal superior, a ordem de Melquisedeque, evocando o Sl.110:4, mas afirma que teria muito que dizer aos destinatários da carta a respeito de tal circunstância, mas que isto era de difícil interpretação e que os crentes judeus destinatários da carta não estavam em condições de entender isto, já que tinham se feito negligentes para ouvir (Hb.5:11).

  – Verdade é que, mais à frente, o autor irá explicar o que significa o “sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque”, mas não perde a oportunidade de apontar àqueles irmãos, que estavam titubeando em prosseguir na fé e pensavam abandonar Jesus Cristo para voltar ao judaísmo, o fator primordial pelo qual se encontravam naquela perigosa situação espiritual: a negligência em ouvir a Palavra de Deus.

  – Quando o Senhor Jesus foi tentado no deserto pelo diabo, logo após iniciar o Seu ministério público, repudiou a primeira tentação rememorando Dt.8:3, dizendo que não só de pão viveria o homem, mas de toda palavra que saísse da boca de Deus (Mt.4:4). Assim, não só Se utilizou da Palavra de Deus para afastar a tentação, mostrando ser a Palavra a arma de ataque contra o inimigo de nossas almas, a “espada do Espírito” (Ef.6:17), como também ser fundamental para a sobrevivência e saúde espirituais do salvo a alimentação pela Palavra de Deus.

 – Nosso Senhor, também, no sermão do monte, disse que somente pode ser Seu discípulo bem sucedido aquele que ouve e pratica as Suas palavras (Mt.7:24,25), de sorte que o ouvir a Palavra de Deus é condição “sine qua non” para que se possa ter êxito na vida espiritual, êxito este que nos levará à glorificação, o último estágio do processo da salvação, pois, como já havia dito o escritor, precisamos conservar firme a confiança e a glória da esperança até ao fim (Hb.3:6).

  – Ora, os crentes judeus tinham se feito negligentes para ouvir e, portanto, já não tinham a necessária robustez espiritual e, por isso mesmo, estavam sendo tentados a abandonar o Evangelho e voltar às práticas judaicas. Esta negligência em ouvir a Palavra criou um estado de “embrutecimento espiritual”, de forma que não tinham mais eles sequer condição de entender as Escrituras, de receber a devida revelação relativa a “difíceis interpretações”.

  – Neste passo, notamos que não se pode querer compreender a Bíblia Sagrada a não ser pelo Espírito Santo. As Escrituras foram redigidas por inspiração do Espírito Santo (II Pe.1:21) e o que foi redigido por tal inspiração somente pode ser discernido espiritualmente (I Co.2:9-16), sendo, pois, indispensável que tenhamos o Espírito de Deus, que Ele venha nos revelar o que está na Sua santa Palavra.

  – Eis o motivo por que pessoas que, secularmente, são consideradas doutíssimas, grandes intelectuais são incapazes de compreender o que dizem as Escrituras, enquanto que pessoas indoutas, de pouca ou nenhuma escolaridade, bem entendem o que foi revelado na Bíblia Sagrada. Tudo se discerne espiritualmente. Cristo mesmo afirmou que o Senhor havia ocultado as coisas aos sábios e entendidos para revelá-las aos pequeninos ((Mt.11:25).

  – Não se quer, em absoluto, fazer-se uma apologia do anti-intelectualismo, algo que, lamentável, vigorou por muito tempo em nossas igrejas locais. Não se está dizendo que não se deve aprimorar no estudo secular, mas, tão somente, que a compreensão das Escrituras não se faz com bases puramente intelectuais, mas por revelação do Espírito Santo.

 – Quando deixamos de ouvir a Palavra de Deus, quando negligenciamos o seu estudo e a sua meditação, passamos a agir com negligência e o resultado disto é o nosso inevitável enfraquecimento espiritual, a enfermidade, a doença, que poderá nos levar à morte por inanição. Este, aliás, é um quadro que se tem observado com muita frequência em nossos dias, que, não por caso, são dias de apostasia espiritual.

  – Esta negligência dos crentes judeus fez com que, mesmo diante do tempo decorrido desde a sua conversão, eles ainda fossem “meninos espirituais”, já que era necessário que o autor lhes ensinasse os primeiros rudimentos das palavras de Deus (Hb.5:12).

  – O Senhor Jesus disse que aqueles que creem n’Ele nascem de novo (Jo.3:3,5), ou seja, tornam-se novas criaturas (II Co.5:17; Gl.6:15) e, a exemplo do que ocorre na vida física, na vida espiritual o ser humano não nasce sabendo, é necessário que aprenda, tanto que, assim que criado, recebia o homem a visita do seu Criador diariamente, para que fosse instruído nas coisas de Deus.

  – Ora, este aprendizado, que proporciona o crescimento espiritual, diz claramente o escritor aos hebreus, dá pelo aprendizado das palavras de Deus, ou seja, pelo estudo metódico, contínuo e incessante da Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada precisa ser diuturnamente estudada por aquele que crê em Cristo, pois só assim haverá desenvolvimento, só assim o “recém-nascido espiritual” se tornará um “adulto espiritual”, alguém maduro espiritualmente falando.

   – No entanto, os destinatários da carta haviam negligenciado este estudo das Escrituras e, apesar do tempo que tinham de membresia na igreja, não passavam de “meninos espirituais”. É bom observar que a maturidade espiritual não decorre do tempo cronológico, mas do crescimento espiritual, motivo pelo qual não podemos confundir as coisas, pois há muitos crentes que, apesar de longo tempo de membresia, são, ainda, “recém-nascidos espirituais”.

   – Diante desta circunstância, diz o autor aos hebreus que a alimentação espiritual deve ser distinta entre os “recém-nascidos” e os “maduros”. Estes podem se alimentar de “alimento sólido”, o mesmo tipo de alimento que o apóstolo Paulo denomina de “manjar” (I Co.3:2), que é um estudo mais aprofundado da Bíblia Sagrada, uma meditação substanciosa e mais alentada, enquanto que os “meninos” devem ser alimentados com “leite”, mesma expressão utilizada por Paulo em I Co.3:2 e que Pedro denomina de “leite racional não falsificado” (I Pe.2:2)..

 OBS: “…Leite é o ensino elementar no qual o ignorante se inicia. Pedro o usa num sentido distinto [lPe 2.2], quando solicita que desejemos leite sem malícia. Existe uma dupla infância, a saber: a da maldade e a da razão. Daí Paulo, em outra passagem, dizer: “Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças” [1C0 14.20].

   Aqueles, pois, que são demasiadamente tenros em idade, que não podem receber um doutrinamento mais avançado, são chamados crianças, à guisa de censura. Consequentemente, o genuíno propósito da doutrina é adequar nossa união a fim de desenvolvermos o “homem perfeito”, à medida da plena maturidade, “para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” [Ef 4.14]. Devemos, naturalmente, revelar indulgência para com aqueles que ainda não experimentaram a Cristo, caso sejam eles incapazes de ingerir alimento sólido; mas se alguém ainda não cresceu com o passar do tempo, o tal é inescusável se permanecer perenemente no “jardim da infância”.…(CALVINO, João. Hebreus. Trad. de Válter Graciano Martins, pp.134-5)

  – O “leite” é um alimento menos aprofundado, é o ensino das doutrinas bíblicas fundamentais, o ensino apropriado para o chamado “discipulado”, que é o ensino que se dá ao novo convertido até o batismo nas águas, o aprendizado do que é ser cristão. Tal ensino, aliás, nos primeiros tempos da igreja, era de, no mínimo, um ano (At.11:26).

   – O “leite” é o alimento apropriado para os que ainda não estão experimentados na palavra da justiça, ou seja, para aqueles que ainda não têm familiaridade com as Escrituras, que não têm experiência ainda com o Senhor, que estão ainda dando os primeiros passos da fé, mesmo que já estejam na igreja há muito tempo, como era o caso dos crentes judeus que, em meio às adversidades que estavam a passar, numa prova de que não tinham conhecimento de Deus, estavam pensando em desistir, em voltar ao judaísmo.

  – Já o “alimento sólido” é apropriado para os crentes que são “perfeitos”. Mas pode um crente ser “perfeito”? A “perfeição” não vem com a glorificação, como nos mostra I Co.13:10 e I Jo.3:2? Sem dúvida alguma. Enquanto não ocorrer a glorificação, temos de nos aperfeiçoar a cada dia, pois, para isto, o Senhor Jesus pôs os dons ministeriais na Igreja, a fim de que se tenha o “aperfeiçoamento dos santos” (Ef.4:11,12).

   – Quando o escritor aos hebreus fala aqui de “perfeitos”, não está a indicar pessoas que já tenham alcançado a glorificação, mas, sim, aquelas que completaram o ensino do discipulado, que adquiriram experiência na palavra da justiça, ou seja, pessoas que já têm pleno conhecimento do que é ser cristão, de quais são os fundamentos doutrinários básicos e que têm já desenvolvido uma intimidade com o Senhor e, por ter já se adaptado à “nova vida em Cristo”, têm condições de discernir tanto o bem como o mal (Hb.5:14), ou seja, não se conformaram com o mundo mas se transformaram pela renovação do seu entendimento e, portanto, podem agora experimentar a vontade de Deus (Rm.12:2), pessoas que já conseguiram renunciar à impiedade e concupiscências mundanas e passaram a viver, neste presente século, sóbria, pia e justamente (Tt.2:12).

 OBS: “…Ele chama de perfeitos aqueles que são adultos, colocando-os em oposição a bebês, como em 1 Coríntios 2.6; 14.20 e Efésios 4.13. A idade média, a idade viril, é, por assim dizer, a idade plena da vida humana.

   Figurativamente, ele os chama de homens espirituais em Cristo. Ele deseja que todos os cristãos sejam como esses que, pela prática constante, têm formado o hábito de “discernir entre o bem e o mal”. Só seremos adequadamente instruídos na verdade, à medida que formos sendo guarnecidos por essa proteção contra as falsidades de Satanás. Isso é o que significa a “espada do Espírito”. Paulo está se referindo a esse benefício da sã doutrina, quando diz: “Para que não sejamos levados ao redor por todo vento de doutrina” [Ef 4.14]. Que gênero de fé é esse que oscila confusa entre a verdade e a falsidade? Fé que a todo instante está sujeita a ficar reduzida a nada?…” (CALVINO, João. op.cit., p.136).

   – Para que se atinja tal maturidade espiritual, o escritor aos hebreus diz que é preciso ter o aprendizado dos “rudimentos da doutrina de Cristo” e, então, lista como que um “currículo do discipulado”, ou seja, quais as doutrinas básicas que se deve conhecer para que se possa dizer que a pessoa é espiritualmente madura. São seis doutrinas, a saber: o fundamento do arrependimento de obras mortas, o fundamento da fé em Deus, doutrina dos batismos, doutrina da imposição de mãos, doutrina da ressurreição dos mortos e a doutrina do juízo eterno.

   – Quando observamos este pequeno “currículo de discipulado”, vemos como estamos distantes, em nossos dias, do cuidado e zelo que tinha a igreja primitiva no tocante ao ensino da Palavra de Deus aos crentes. Não é difícil encontrar pessoas que estão, inclusive, no ministério que não dominam estes seis assuntos tidos como básicos e fundamentais pelo escritor aos hebreus. – É lamentável, mas, na atualidade, pouquíssimos são os crentes que foram devidamente discipulados em suas igrejas locais. Soubemos, aliás, de um determinado campo de trabalho em que houve um verdadeiro levante de obreiros contra um sério programa de discipulado que se procurava implantar. Ou seja: além de não haver discipulado, hoje temos inimigos do discipulado! Um verdadeiro absurdo!

   – Os crentes judeus haviam negligenciado o estudo das Escrituras. Não havia uma dedicação no estudo das doutrinas básicas do Cristianismo, talvez porque se achava que o que aqueles crentes haviam aprendido nas sinagogas, quando ainda eram praticantes do judaísmo, fosse o suficiente, como se não fosse indispensável que se desse uma leitura cristocêntrica às Escrituras hebraicas .

  – O resultado disto era a imaturidade espiritual. Apesar do longo tempo de conversão, aqueles crentes eram verdadeiros “anões espirituais”, não haviam crescido, comportavam-se como “meninos espirituais” e, por isso mesmo, estavam em grande perigo espiritual, sendo tentados a abandonar a fé em Cristo Jesus e a voltar às práticas judaicas ante as perseguições e adversidades que estavam a enfrentar.

   – Na parábola do semeador, o Senhor Jesus bem mostrou o risco que corre a pessoa que não se alimenta da Palavra de Deus, que não se aprofunda no seu estudo, que não desenvolve suas “raízes” na Bíblia Sagrada. Ao falar do terreno pedregoso, onde a semente chegou a germinar mas a planta veio a morrer por falta de raiz, Cristo está a nos mostrar o que acontece com aquele que, tendo crido em Jesus, não busca desenvolver-se espiritualmente com o conhecimento de Deus pela Palavra. Quando vem a perseguição, simplesmente sobrevém a morte espiritual, a perda da salvação (Mt.13:20,21).

   – É esta a situação de muitos, mas muitos mesmos que recebem a Jesus Cristo como Senhor e Salvador na atualidade. Por falta do discipulado, pela inexistência de desenvolvimento espiritual, quando sobrevêm as perseguições e adversidades, que são cada vez mais intensas já que estamos nas vésperas do arrebatamento da Igreja, muitos abandonam a fé, ainda que se mantenham, por vezes, nominalmente pertencendo a alguma igreja local.

   – A imaturidade espiritual dos crentes hebreus era o principal motivo por que eles estavam sendo tentados a abandonar Cristo Jesus para tentarem, com isso, minorar o sofrimento e a tensão que estavam a passar naquele ambiente imediatamente anterior à eclosão da primeira guerra judaico-cristã. Nos dias de hoje, não é diferente: muitos estão a fracassar espiritualmente, precisamente porque não têm raízes suficientes na Palavra de Deus para poderem resistir às muitas lutas, cada vez mais crescentes, de nossos dias.

   – O escritor aos hebreus lança um desafio àqueles crentes, concitando-os a “deixar os rudimentos”, ou seja, a completar o estudo fundamental das doutrinas bíblicas e a se lançar num novo patamar, o da maturidade espiritual. “Isto faremos se Deus o permitir”. Tenhamos esta mesma disposição do autor da carta e nos disponhamos a mudar este quadro trágico em que se encontra a igreja em nossos dias.

   FRANCISCO, Caramuru Afonso.




Nenhum comentário:

Postar um comentário