TEXTO BÍBLICO BÁSICO
- Hebreus 5.12-14,6.1,2, 4-6, 11,12
12- Porque, devendo já
ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais
sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que
necessitais de leite e não de sólido mantimento.
13- Porque qualquer que
ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque
é menino.
14- Mas o mantimento
sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos
exercitados para discernir tanto o bem como o mal.
Hebreus 6.1,2,4-6,11,12
1 Pelo que, deixando os
rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de
novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus,
2 e da doutrina dos
batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo
eterno.
4 Porque é impossível
que os que já uma vez foram iluminados,
5 e provaram o dom
celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa
palavra de Deus e as virtudes do século futuro,
6 e recaíram sejam outra
vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo
crucificam o Filho de Deus e o expõem ao vitupério.
11 Mas desejamos que
cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da
esperança;
12 para que vos não
façais negligentes, mas sejais imitadores dos que, pela fé e paciência, herdam
as promessas.
TEXTO ÁUREO
Porque Deus não é
injusto para se
esquecer da vossa obra e
do
trabalho de amor que,
para com o
seu nome, mostrastes,
enquanto
servistes aos santos e
ainda
servis.
Hebreus 6.10
RESUMO GERAL DA LIÇÃO
1-INFÂNCIA ESPIRITUAL
1-1- Negligência para ouvir
2- OS RUDIMENTOS DA DOUTRINA
2-1-Arrependimento e fé
2-2-Batismo e imposição de mãos
2-3- Ressurreição e juízo
3-OS PERIGOS ESPIRITUAIS DA
APOSTASIA
3-1- O que é apostasia?
3-1-1- Apostasia no Antigo Testamento
3-1-2-Apostasia no Novo Testamento
3-2- Advertências a não retroceder
3-3- A recaída no fosso da apostasia
COMENTÁRIO
- Palavra introdutória
Partindo do argumento teológico da superioridade de
CRISTO, o escritor da carta aos Hebreus alerta os judeus convertidos sobre a
necessidade de evitarem a apostasia, caracterizada pela negação da fé e pela
rejeição a CRISTO. Ao procurar entender a natureza da apostasia, o escritor
sagrado fala das implicações de negligenciar-se a grande salvação, garantida
por JESUS (Hb 2.3).
CONCLUSÃO
As palavras registradas em Hebreus 6.9-12 contêm o
que, talvez, seja a passagem de advertência mais famosa da Escritura. O texto
bíblico que melhor elucida a morte espiritual, no que tange à apostasia, está
descrito nos versículos 4-8 desse capítulo.
Muitos apóstatas jamais voltarão para Deus; porém,
o convite para que o pecador se arrependa e volte-se para Deus está posto
diante de todos hoje mesmo, não importando os pecados e erros cometidos no
passado.
Lição 07, Central Gospel, Advertência Contra a Apostasia, LPD CENTRAL GOSPEL MAX - Tema, A Epístola aos Hebreus A Suprema Revelação de DEUS em CRISTO
Apostasia – Uma Análise das Cartas de Timóteo
A
apostasia pode nos levar a um quadro irreversível de perda da salvação. “Mas
o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;” 1
Timóteo 4:1
Ouço/leio muitos textos sobre a doutrina da
Perseverança dos Santos. São comuns perguntas do tipo:
Uma vez salvo, salvo para sempre?
Pode um eleito se perder?
Um crente pode perder a salvação? Qual o
significado da palavra “apostasia”, 2 Ts 2.3, e de tantas advertências a
perseverança na fé, até o fim? Mt 10.33, 24.13, Mc 13.13, Hb 3.6, 3.14, 6.11
Exemplos:
“Mas aquele que perseverar até ao fim, esse
será salvo.” Mt 24.13 “E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas
quem perseverar até ao fim, esse será salvo.” Mc 13.13 “Porque nos tornamos
participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa
confiança até ao fim.” Hebreus 3:14
Pretendemos ajudar a esclarecer estas dúvidas.
1. Iniciaremos
com o significado e a raiz da palavra “apostatarão” utilizada no texto de 1 Tm
4.1
Segundo o Dicionário bíblico de Grego e
Hebraico, James Strong, “aphistemi” (αφιστ ημι) Significa:
1) fazer
retroceder, fazer afastar-se, remover, excitar à revolta;
2)
retroceder, manter-se de lado, ir embora, deixar alguém, abandonar, afastar-se
de alguém, abandonar, tornar-se infiel, afastar-se de, fugir de, parar de
atormentar alguém, afastar-se de, abandonar, guardar-se de, ausentar-se de; A
palavra “aphistemi” deriva de “apostasia” que significa: 1) separação,
deserção, apostasia. E por sua vez αποσ τασιο ν apostasion, que representa
1)
divórcio, repúdio
2) uma carta de divórcio. Utilizando o
dicionário Léxico Grego/Português, F. Wilbur Gingrich, αποστασία, ας, ή
Significa: rebelião, abandono, apostasia At 21.21; 2 Ts 2.3. Qualquer que seja o sentido escolhido como
significado, o mais claro indicativo é de separação, apartar-se, divorcia-se,
trazendo um sentido definitivo ou de estado de deserção, abandono. Voltando ao
texto de 1 Tm 4.1 “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos
apostatarão alguns da fé…”
Outro sentido não pode ser aplicado, a não
ser o de deserção, abandono, divórcio com a fé. Por mais que alguém tente
amenizar o significado do termo para indicar um esfriamento espiritual, isto
não é compatível com nenhum dos sentidos e modos de uso das palavras acima
descritas.
Por outro lado, só pode apartar-se quem esteve
junto, divorciar-se, o casado, abandonar quem estava presente, quem era participante,
então em qualquer sentido escolhido, trata-se de que antes a pessoa esteve
unida a Cristo, a fé, junto, participando e deixou, se apartou, divorciou-se.
1. Instruções a Timóteo
O contexto da Carta de Paulo a Timóteo é o de
instrução, de um líder mais experiente para um líder mais jovem, é o repartir
experiências. Na 1ª Epístola uma Carta amorosa de um pai (na fé) para o filho,
e um tom de despedida na 2ª Carta, isto porque o Apóstolo Paulo escreveu a
segunda epístola já ciente da proximidade de sua morte. 2 Tm 4.6-7
Os objetivos das Cartas são claros,
fortalecer e transmitir experiências. Então vejamos alguns textos relacionados
à apostasia. Himeneu e Alexandre “Este mandamento te dou, meu filho Timóteo,
que, segundo as profecias que houve acerca de ti, milites por elas boa milícia;
conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram
naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a
Satanás, para que aprendam a não blasfemar.” 1 Timóteo 1:18-20 Este primeiro
texto mostra-nos muito claramente que Paulo encontrou dois irmãos que
posteriormente “fizeram naufrágio na fé”, apostataram, se apartaram da fé, e a
consequência é que o apóstolo diz que os entregou a Satanás, em um sentido de
que os deixou a própria sorte.
Na
segunda Carta, novamente aparece uma citação sobre Himeneu, vejamos: “Mas evita
os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses
roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram
da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de
alguns.” 2 Timóteo 2:16-18
Mais
cristalino que isso, eu não faço ideia como seria possível, “os quais
desviaram-se da verdade”, isto é, porque um dia estiveram nela, e “perverteram
a fé de alguns”. Mas não é isto que foi dito em 1 Timóteo, que alguns apostarão
da fé? E Paulo torna a destacar esta realidade observada na vida de Himeneu e
Fileto. A orientação é para que se afaste de tais desertores.
2. Conselho:
“Tem
cuidado de ti mesmo” Outra dica do apóstolo Paulo ao discípulo Timóteo diz
respeito a sua vida pessoal, a perseverança pessoal. A conclusão do capítulo 4,
da primeira epístola, que iniciou advertindo sobre a apostasia de alguns é:
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque,
fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” 1 Tm 4.16
Percebemos que Paulo quer deixar muito claro
que devemos tomar cuidado com os perigos espirituais e ser zelosos com a
doutrina, para que nós mesmos não venhamos a ser vítimas da apostasia.
A conclusão da 1ª Carta: “Ó Timóteo, guarda o
depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e profanos e às
oposições da falsamente chamada ciência, a qual professando-a alguns, se
desviaram da fé. A graça seja contigo. Amém.” 1 Tm 6.20-21 É uma clara
advertência a perseverança, “guarda o depósito”, (2 Tm 1.12,14) “a qual
professando-a alguns, se desviaram da fé”, ou seja, um dia estiveram nela, mas
se desviaram, apostataram.
Amados,
“se desviar da fé!” Isto também foi mencionada pelo Apóstolo Tiago: “Irmãos, se
algum DENTRE VÓS se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que
aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte
uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.”Tg 5:19-20.
Algo semelhante ao relatado em At 13.8 “Mas
resistia-lhes Elimas, o encantador (porque assim se interpreta o seu nome),
procurando apartar da fé o procônsul.” “Tem cuidado de ti mesmo”.
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade.” 2 Tm 2.15 “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra
de um evangelista, cumpre o teu ministério.” 2 Tm 4.5 E novamente cita o
infeliz do Alexandre, companheiro de Himeneu: “Alexandre, o latoeiro, causou-me
muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, GUARDA-TE também
dele, porque resistiu muito às nossas palavras.” 2 Tm 4.14-15
Pois
bem, eu não sei como você (irmão, leitor) vê (ou via) a questão da apostasia,
mas ao que percebemos para Paulo era algo muito sério e verdadeiro, que Ele viu
acontecer na Prática com Himeneu, Fileto e Alexandre, e advertiu ao jovem e
amado pastor Timóteo a respeito, e a ter cuidado, vigiar, guardar o depósito,
se afastar dos corruptores da fé, dos que naufragaram na fé, se afastar
daqueles que se desviaram.
2. Principais objeções – análise
teológica do tema “apostasia”.
A doutrina “Perseverança dos Santos”,
popularmente conhecida como “uma vez salvo, salvo para sempre”, é erroneamente
atribuída aos calvinistas, quando na verdade é (mais propriamente) uma doutrina
dos Arminianos de 4 pontos, presente na teologia, por exemplo, de Norman
Geisler, Edgar Young Mullins, e Henry C. Thiessen. No arminianismo clássico,
aquele que afirma que o crente pode desertar da fé, como os textos acima nos
deixaram claro, a segurança é “Em Cristo”, Nele, ou enquanto Nele estamos
seguros. Apartados (aphistemi), só resta condenação.
O
Calvinista R. C. Sproul diz que a Perseverança dos Santos, ou seja, a doutrina
que ensina que os santos de Deus hão de perseverar até o fim, na verdade, no
âmbito da teologia calvinista, deveria ser denominada “Preservação dos Santos”,
isto porque (para um calvinista) não é o santo/crente que persevera, como se
algo de sua vontade estivesse envolvido no processo, mas Deus o livra da
destruição conforme a eleição incondicional. Eu discordo diametralmente do
calvinismo, mas concordo com o raciocínio do Sproul, é mais apropriado aos
calvinistas denominar-se defensores da Preservação dos Santos e não da
“Perseverança”, pois quem persevera é o crente. 4. Principais dúvidas e
objeções a) Uma vez salvo, salvo para sempre?
RESPOSTA
A própria pergunta é confusa. É muito comum
calvinistas fazerem trocadilhos e mal uso de palavras, acredito que
involuntariamente o fazem, mas vejamos bem, “salvo de quê”? Paulo disse que
Timóteo salvaria a ele mesmo e aos ouvintes se perseverassem na doutrina. 1 Tm
4.16. Salvaria de quê?
Da
apostasia.
1 Tm 4.1 Na pergunta ocorre o mal uso da
palavra “salvo”. Exemplo: Alguém pode estar a salvo agora em sua casa, bem
guardado e amanhã ao andar pela rua, com tanta violência, não sentir-se (e nem
encontrar[1]se)
tão a salvo assim. Deus é nossa segurança, só Ele.
No que
diz respeito a fé, a nossa segurança e fortaleza é Cristo, longe dele não
estamos a salvo, pessoas podem louvá-lo hoje e negá-lo amanhã, quantas vezes
vimos isto?
Como muito bem asseverado pelos remonstrantes
arminianos e pelos metodistas posteriores a segurança está em Cristo, e não
fora dele, e não em algo misterioso, mas na certeza que temos em Cristo. “Mas
Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão
somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim.” Hb
3.6 “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mal e infiel,
para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias,
durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo
engano do pecado; Porque nos tornamos participantes de Cristo, SE retivermos
firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” Hb 3.12-14
Se o
“salvo” refere-se a estado final, é claro que estado final só pode ser
verificado ao final, os que perseveraram, mas se “salvo” refere-se ao agora,
seguros estamos somente em Cristo, se permanecermos até o fim. Hb 3.6, 3.14,
6.11. Não nos firmamos em uma eleição
incondicional, predestinação ou outra ideia humana, mas em Cristo, SE
(condicional) Nele, então estamos seguros.
E
quanto ao Retroceder? A Bíblia é muito clara neste assunto, Deus não tem prazer
naquele que retrocede.
“Mas o
justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós,
porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que
crêem para a conservação da alma. Hb 10.38-39 “E Jesus lhe disse: Ninguém, que
lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.” Lc 9.62 b)
Pode
um crente “perder a salvação”? Vemos aqui outro mal uso de termo, agora a
palavra “perder” ou da expressão “perder a salvação”. Veja bem, isto não ocorre
na Bíblia, ninguém perde a salvação, a salvação é para aquele que perseverar
até o fim, se morremos em Cristo seremos salvos, esta é a promessa.
Uma pessoa pode ser crente, nascer de novo, e
vir a naufragar na fé, vide Himeneu e Alexandre. 1 Tm 1.19. Pode ser crente e
se desviar. Tg 5.19-20, apartar-se, apostatar. “Porque é impossível que os que
já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram
participantes do Espírito Santo, E provaram a boa palavra de Deus, e as
virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para
arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus,
e o expõem ao vitupério.
“ Hb 6.4-6 Um dos textos mais claros a
respeito do tema é o capítulo 2 de II Pedro. “E também houve entre o povo
falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão
encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou,
trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” 2 Pedro 2.1
“Porquanto se, depois de terem escapado das
corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem
outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do
que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do
que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; Deste
modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao
seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama. 2 Pd 2.20-22
Por
que confusão de termos?
O uso
da expressão “perder a salvação” leva a um entendimento de algo volátil,
frágil, de pouco valor, quando nós na realidade temos uma aliança feita no
sangue puro de nosso Senhor Jesus Cristo, isto não é volátil, frágil, mas sim,
forte. E por outro lado, ainda pior, sugere que é algo conquistado por um
possuidor, detentor, sob o domínio e poder puramente humano. Nada disto,
biblicamente, é verdadeiro, por isso considero o uso do termo inapropriado.
“Salvo”, no que diz respeito a morador do céu, herdeiro das promessas, é
somente aquele que persevera até o fim, mas o crente pode morrer e naufragar na
fé, se não vigiar, se não tiver cuidado de si mesmo. Pode experimentar os dons
espirituais, ser participante da mesa do Senhor e ainda assim vir a apostatar.
C) Um eleito pode deixar de ser salvo? Mais
uma vez, espero que já esteja ficando claro o fato, há uma confusão de termos.
“Eleito” é condição final, Deus fala assim dos salvos, dos que Ele sabe que se
salvarão, as vezes falamos assim de nós mesmos, pela fé, e ninguém sabe quem e
quantos são, e isto não tem qualquer relação com a incondicionalidade defendida
por calvinistas, mas apenas com o fato de Deus conhecer todas as coisas antes
de que tudo tenha sido criado. At 15.18, I Pe 1.2.
Reiteramos, um crente fervoroso, cheio do
Espírito de Deus (Ex: Saul), pode vir a apostatar, mas “eleito” é condição
final, é como “o salvo”, eleito é quem persevera em Cristo até o fim. Então,
chegamos ao fim de mais uma meditação, espero que tenha sido uma benção e tenha
ajudado a tirar algumas dúvidas, e fica o conselho de Paulo para nós:
“Tem
cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo
isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” 1 Tm 4.16
Graça e Paz.
Pastor Flávyo Henrique Santos
Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério
O salvo
em Cristo Jesus deve estar atento à realidade da apostasia dos últimos dias e
permanecer fiel e diligente no seu serviço ao Senhor.
I – A
APOSTASIA
– A palavra “apostasia” é grega, composta de
“apo”, preposição que dá a ideia de deslocamento de um ponto de partida, de
afastamento e “stasis”, que significa “posição”. Assim, “apostasia” é o
deslocamento de uma posição, a saída de um lugar, o distanciamento de um local.
No Novo Testamento, encontramos esta palavra em At.21:21, em II Ts.2:3 e o
verbo a ela correspondente em Hb.3:12. Na versão grega do Antigo Testamento (a
Septuaginta), encontramos esta palavra em Js.22:22 e II Cr.29:19. Na Versão
Almeida Revista e Corrigida e na Edição Contemporânea de Almeida, a palavra
“apostasia” é encontrada em três versículos (Jr.8:5, Ez.23:21 e II Ts.2:3).
– A.S. Wood, um dos colaboradores do Novo
Dicionário da Bíblia de J.D. Douglas, afirmou que “…no grego clássico, o
vocábulo grego apostasia é um termo técnico para revolta ou defecção política…”
(Apostasia. In: op.cit., v.1, p.95), enquanto que, para os judeus, diz-nos
Nathan Ausubel, a apostasia era tida “…como o mais grave de todos os pecados
que o judeu ameaçado podia cometer…”, motivo pelo qual “…embora já fosse
terrível como instrumento de excomunhão entre os judeus, nos dias dos Minim (as
seitas heréticas da Judéia que provavelmente incluíam os primeiros cristãos), o
cherem [a excomunhão, observação nossa] cresceu em severidade e em frequência
de aplicação na Idade Média, quando a perseguição aos judeus e os esforços para
convertê-los ao cristianismo tornaram-se mais intensos. O menor desvio das
idéias tradicionais ou das práticas era imediatamente considerado pelos líderes
religiosos e comunais como passível de levar à apostasia…” (AUSUBEL, Nathan.
Excomunhão. In: JUDAICA, v.5, p.282). –
Percebemos, portanto, que a apostasia está
relacionada com uma atitude de mudança de comportamento, de afastamento de
valores supremos, de crenças fundamentais que uma pessoa possuía e que a fazia
viver numa determinada comunidade. Trata-se de uma considerável modificação de
suas crenças e de seus princípios, uma alteração profunda no seu interior, em
que a pessoa deixa as coisas mais caras e preciosas que tinha no seu universo
de crenças, sentimentos e valores, para rejeitar tudo aquilo de forma
voluntária e consciente. Assim, para os gregos, quando alguém se revoltava
contra o governo de sua cidade, quando abandonava o grupo político a que
pertencia, tinha-se a apostasia. Para os judeus, quando a pessoa abandonava a
Torá, deixava de servir ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó, também praticava
apostasia.
– Ora, este gesto da apostasia representa,
entre os cristãos, igualmente, a rejeição voluntária e deliberada da fé em
Jesus Cristo. A apostasia é, como afirma a Bíblia de Estudo Pentecostal, a
“…decaída, deserção, rebelião, abandono, retirada ou afastar-se daquilo a que
antes se estava ligado. Apostatar significa cortar o relacionamento salvífico
com Cristo, ou apartar-se da união vital com Ele e da verdadeira fé n’Ele(…).
Sendo assim, a apostasia individual é possível somente para quem já
experimentou a salvação, a regeneração e a renovação pelo Espírito Santo (cf.
Lc.8.13; Hb.6:4,5); não é a simples negação das doutrinas do NT pelos
inconversos dentro da igreja visível.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. A
apostasia pessoal (estudo doutrinário), p.1903)
É “…o abandono deliberado da crença na fé
cristã (…) por alguém que dizia seguir essa fé…”(R.N. CHAMPLIN. Apostasia. In:
Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.237), ), “…o abandono total
da fé ou da religião de uma pessoa; abandono do credo e renúncia das obrigações
religiosas…” (Lewis Sperry CHAFER. Teologia sistemática. t.4, v.7, p.27).
OBS: O
Código de Direito Canônico da Igreja Romana define, no seu cânon 751 o que vem
a ser apostasia, diferenciando-a da heresia e do cisma, definições que, por seu
caráter apropriado, merecem ser aqui reproduzidas: “ Chama-se heresia a negação
pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que se deva crer com
fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela; apostasia, o
repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou de
comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos.” No mesmo sentido, o Corão,
livro sagrado dos muçulmanos, afirma que “…Haverá alguém mais iníquo do que
quem desmente e desdenha os versículos de Deus? Infligiremos o pior castigo
àqueles que desdenharem os Nossos versículos, bem como àqueles que se tiverem
afastado deles.…” (6:157), demonstrando, assim, que o apóstata é aquele que se
afasta deliberadamente da crença anteriormente assumida.
– Deste
modo, pelo que podemos verificar, a apostasia é um fenômeno que atinge apenas
os crentes sinceros e autênticos, ou seja, para que haja apostasia, é preciso
que alguém que tenha alcançado a salvação, rejeite deliberada e voluntariamente
a fé em Jesus Cristo a partir de um determinado instante de sua vida
espiritual. Quando se fala em apostasia, portanto, não se está a falar de
pessoas que nunca creram em Jesus, ainda que tenham “nome” de cristãos, mas de
pessoas que, tendo crido em Jesus sinceramente e tenham aceitado a Jesus como
seu Senhor e Salvador, passam a se distanciar paulatinamente do Caminho e, num
determinado momento, de modo voluntário, consciente e deliberado, abandonam o
“caminho estreito”, renegam o seu Senhor e passam a viver totalmente separados
de Cristo.
– A apostasia é a rejeição de Jesus por quem
uma vez já alcançou a salvação por intermédio dEle. É o gesto de um salvo que,
por diversas razões (e nós analisaremos as principais neste estudo), abandona
Jesus em troca de coisas de somenos importância, deixando-se iludir pela sua
própria concupiscência.
Esta concupiscência faz nascer no crente
apóstata um coração de incredulidade e infiel, que o faz se apartar do Deus
vivo (cfr. Hb.3:12). São pessoas que endureceram os seus corações para Deus
pelo engano do pecado (Hb.3:13).
– Esta
triste e lamentável realidade é apontada como uma das características que
seriam vividas nos últimos tempos. No final da dispensação da graça, perto do
arrebatamento da Igreja e da manifestação do Anticristo, haverá a apostasia.
Paulo, ao escrever a segunda carta aos tessalonicenses, fala disto, ao dizer
que Jesus não virá antes que ocorra a apostasia (II Ts.2:3). A apostasia dos
últimos tempos é um sinal do término da nossa dispensação, é um prenúncio da
volta de Cristo. Por isso, quando verificamos a situação de apostasia que
grassa sobre a Igreja nos nossos dias, não devemos nos assustar, “…porque é
necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim não será logo…” (Lc.21:9b).
– É exatamente esta a realidade que o
Espírito Santo revelou a Paulo e que o apóstolo dá a conhecer a seu filho na fé
Timóteo. Depois de ter falado a respeito dos requisitos para a separação de
obreiros e de ter lembrado que a Igreja tem como cabeça a Cristo Jesus, o
apóstolo revela a Timóteo que, nos últimos tempos, alguns apostatariam da fé. –
De pronto, vemos que a expressão do apóstolo mostra claramente que ele era
guiado pelo Espírito Santo. O Espírito Santo revela as coisas futuras para que
os salvos não sejam confundidos com os acontecimentos.
Como afirma Tomás de Aquino: “…prediz o
Espírito Santo algo futuro: porque a Ele pertence revelar os mistérios. ‘…[Ele]
anunciará o que há de vir’ (Jo.16:13). Assim pois o Espírito prenuncia as
coisas futuras que estavam secretas no coração do Pai.…” (Comentários da
Primeira Carta de Paulo a Timóteo. Leitura 1 – I Tm.4:1-5. Cit. de I Tm.4:1-5.
N.12. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm
Acesso em 18 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Após ter mencionado o “mistério da
piedade”, que é o próprio Cristo, Paulo, como afirma o comentarista bíblico
Matthew Henry, fala do “…mistério da iniquidade resumido: O Espírito
expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé; quer ele
se refira ao Espírito do Antigo Testamento, ou ao Espírito nos profetas do Novo
Testamento, ou a ambos As profecias referentes ao anticristo, bem como as
profecias referentes a Cristo, vieram do Espírito.
O
Espírito nos dois falou expressamente de uma apostasia geral da fé em Cristo e
da adoração pura em Deus. Isso deveria ocorrer nos últimos tempos, durante a
dispensação cristã, porque esses são chamados de últimos dias; nas épocas
seguintes da Igreja, porque o mistério da iniquidade agora começou a agir.…”
(Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse obra completa. Trad. de Degmar Ribas
Júnior, p.693) (destaques originais).
– A
revelação do Espírito Santo ao apóstolo Paulo é a de que, nos últimos tempos,
haveria a apostasia, ou seja, alguns salvos em Cristo Jesus abandonariam a fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores, a doutrinas de demônios.
– Estes “espíritos enganadores” de que fala o
apóstolo não são demônios que se encontram em locais onde o diabo é adorado ou
onde haja invocação de espíritos malignos. Não, não e não! Estes “espíritos
enganadores” manifestam[1]se
entre os próprios cristãos, pois só nas igrejas locais é que existem
verdadeiros servos de Cristo que poderão apostatar da fé. Aqueles que invocam
demônios não podem apostatar da fé simplesmente porque nunca tiveram fé, são
incrédulos. Desta maneira, portanto, vemos que os espíritos enganadores atuam
entre os servos de Cristo, procurando fazê-los abandonar a fé.
– Vemos
a grande importância que tem o trabalho dos pastores em impedir que se ensine
outra doutrina, a própria razão de ser da missão de Timóteo na igreja de Éfeso.
Os pastores, ao impedir os falsos ensinos, cerceia a ação destes “espíritos
enganadores” que levarão falsos mestres a ensinar “doutrinas de demônios”, que
resultará na apostasia de alguns cristãos.
–
Vivemos estes “últimos tempos” previstos pelo Espírito Santo ao apóstolo Paulo,
pois estes “últimos tempos” nada mais são que os dias finais da dispensação da
graça, os dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja.
– Neste
tempo em que vivemos, “espíritos enganadores” estão agindo como nunca, usando
de falsos mestres para que ensinem “doutrinas de demônios”, levando muitos a se
afastarem da fé. Paulo já dissera a Timóteo a respeito do “mistério da
piedade”, a respeito de Cristo Jesus, que é quem devemos anunciar nas igrejas
locais Tudo quanto se desvie da pregação do Evangelho, da pregação de Cristo e
Este crucificado (I Co.2:2), nada mais é do que “doutrina de demônios”, que tem
por objetivo simplesmente fazer com as que as ovelhas de Cristo saiam do
caminho que conduz à salvação e passem a trilhar novamente o caminho largo e
espaçoso que conduz à perdição (Mt.7:13,14).
– Não nos iludamos. Os “espíritos
enganadores” estão atuando no meio das igrejas locais, utilizando-se de pessoas
que têm aparência de cristãos, embora não o sejam, pois, como nos ensina o
Senhor Jesus, os falsos profetas vêm até nós vestidos como ovelhas mas,
interiormente, são lobos devoradores (Mt.7:15).
–
William Hendriksen afirma que “…tais doutrinas são [incorporadas] em [as]
declarações hipócritas (literalmente, com hipocrisia) de quem fala mentiras.
Assim como Satanás fez uso de uma serpente para enganar Eva, e isso por meio de
uma declaração hipócrita (Gn.3:1-5; estava escondendo seu verdadeiro objetivo;
porquanto pretendia levar Eva a um nível superior de glória, para que pudesse
ser ‘como Deus’, seu verdadeiro propósito era destronar Deus e tomar ele mesmo
o trono para si), assim esses espíritos sedutores ou demônios fazem uso de
homens que falam mentiras, e que falam piedosa e fluentemente com o fim de
esconder sua própria arrogância e imoralidade.…” (Comentário I Timóteo, II
Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, p. 183) (destaques
originais).
–
Vemos, portanto, que tais “doutrinas de demônios” podem ser identificadas por
aqueles que são homens espirituais (pois estes, tendo a mente de Cristo, tudo
discernem — I Co.2:14-16), mediante o confronto de seus ensinos com a Palavra
de Deus, que é a verdade (Jo.17:17). Somente a verdade pode desmascarar a
mentira e, portanto, é imperioso que haja prioridade ao ensino da sã doutrina
nas igrejas locais para que os falsos mestres sejam descobertos e reprovados,
impedindo-se, deste modo, que a apostasia grasse em cada igreja local.
– Os
agentes dos “espíritos enganadores” são hipócritas, ou seja, aparentam ser o
que não são, pois, como já dissemos supra, são lobos devoradores no interior e
ovelhas no exterior, pessoas que não têm qualquer temor de Deus, pois suas
consciências estão cauterizadas, ou seja, vivem em tal nível de engano que não
mais ouvem a voz de Deus que foi posta no interior de cada pessoa.
– Por
isso, é imperioso que não nos deixemos levar pela aparência, mas devemos julgar
segundo a reta justiça, ou seja, segundo a Palavra de Deus (Jo.7:24). Em nossos
dias, onde a mídia exerce grande influência, somos levados a crer naquilo que
vemos e ouvimos, sem que procedamos a uma investigação. Não podemos dizer que
este ou aquele é um homem de Deus sem que convivemos com ele, pois, se apenas
nos deixarmos levar pelo que aparece, poderemos estar sendo influenciados por
um falso mestre, por um agente de um “espírito enganador”. Uma das
características do verdadeiro e genuíno servo de Deus é a de ser um
investigador, a de ser um pesquisador, alguém que procurará sempre saber a
origem e a vida de quem prega a Palavra de Deus (Sl.10:4).
– Além
de investigar a própria vida daquele que está a pregar e ensinar a Palavra de
Deus, o verdadeiro e genuíno servo de Deus fará um confronto entre o que é
ensinado e a Bíblia Sagrada, agindo como os judeus de Bereia, num comportamento
que as próprias Escrituras dizem ser excelente (At.17:11).
–
Paulo, em sua orientação a Timóteo, traz algumas dicas a respeito de tais
“doutrinas de demônios”, características que não são exaustivas, mas
exemplificativas, ou seja, o apóstolo dá exemplos de falsos ensinos, que não
esgotam as hipóteses que poderiam surgir nos últimos tempos. – O primeiro
ensino falso que o apóstolo menciona é o que proíbe o casamento e que ordena a
abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a
verdade, a fim de usarem deles com ações de graças.
–
Estes falsos ensinos mencionados por Paulo são os que procuram criar restrições
e proibições que não foram, em absoluto, estabelecidas na Palavra de Deus. São
ensinos que procuram fazer com as que as pessoas sejam “mais santas” do que o
patamar de santidade estatuído pelo Senhor. São ensinos que querem que os
homens sejam “mais realistas do que o rei”.
–
Hendriksen bem afirma que tais ensinos partem de um falso pressuposto, a saber:
“…Tudo que é físico ou sensual contamina.” (op.cit., p.184). Tem-se aqui a
ideia de que o corpo e o físico é algo mau, doutrina esta que nada tem que ver
com a Bíblia Sagrada, porquanto o corpo foi criado por Deus, assim como todo o
mundo material, de sorte que não tem cabimento achar-se que isto seja um mal,
já que tudo o que Deus fez foi muito bom (Gn.1:31).
– É
sempre uma doutrina de demônio o ensino que proíbe fazer aquilo que Deus não
proibiu, que procura privar alguém daquilo que Deus criou para que desfrutemos.
Neste sentido, qualquer doutrina que proíba alguém de se casar, por ver no
relacionamento conjugal um “pecado”, é, nitidamente, uma doutrina demoníaca, um
falso ensino, que serve tão somente para afastar alguém da fé em Cristo. Não
raras vezes, aliás, estas “privações”, este “excesso de santidade” acaba
redundando na mais completa perversão, pois este é mesmo o objetivo do maligno.
– Como
diz o apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios, todas as coisas são
lícitas aos servos de Cristo Jesus, desde que nenhuma destas coisas possa
dominá-lo (I Co.6:12), de modo que querer proibir aquilo que o próprio Deus
criou para deleite dos homens é uma doutrina de demônio cujo único objetivo é
afastar o cristão da sua fé.
–
Aquilo que Deus criou para os homens para seu desfrute e deleite deve ser
aproveitado pelos homens, que, entretanto, devem fazê-lo com ações de graças,
ou seja, todo o desfrute deve ser feito de modo a que, através da sua
utilização, estejamos sendo gratos a Deus. Tudo deve ser feito para glória e
honra ao nome do Senhor. Sempre que desfrutarmos daquilo que Deus nos propicia
de modo a que este desfrute seja um louvor a Deus, estaremos legitimamente
usando daquilo que Deus nos proporcionou. Temos agido assim?
– E
como fazer uso legítimo daquilo que Deus nos deixa à disposição? Paulo nos diz
claramente: pela Palavra de Deus e pela oração.
Toda
criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de
graças. Se vivemos em santidade, e os principais meios de santificação são a
Palavra de Deus e a oração, tudo que fizermos será para glória e honra ao nome
do Senhor. Santifiquemo-nos e tudo quanto fizermos nesta peregrinação terrena
será uma ação de graças a Deus e, vivendo assim, jamais cairemos nas armadilhas
dos falsos mestres e não apostataremos da fé.
Perseverança e Fé em Tempo de Apostasia
A
apostasia pode nos levar a um quadro irreversível de perda da salvação.
Introdução – Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos a parte
final do capítulo 5 e o capítulo 6. – Neste trecho, o autor aos hebreus mostra
o risco da apostasia, que pode nos levar a um quadro irreversível de perda da
salvação.
I – A
Imaturidade Espiritual dos Crentes Destinatários da Carta aos Hebreus
– Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus,
analisaremos a parte final da perícope iniciada em Hb.4:14 e que se estende até
Hb.6:20, mais precisamente o trecho entre Hb.5:11 até o final do capítulo 6,
onde o autor fala a respeito da apostasia espiritual.
– Depois de ter demonstrado que Jesus é maior
que Arão e Seu sacerdócio é superior ao sacerdócio levítico, o escritor aos
hebreus afirma que Jesus é de uma ordem sacerdotal superior, a ordem de
Melquisedeque, evocando o Sl.110:4, mas afirma que teria muito que dizer aos
destinatários da carta a respeito de tal circunstância, mas que isto era de
difícil interpretação e que os crentes judeus destinatários da carta não
estavam em condições de entender isto, já que tinham se feito negligentes para
ouvir (Hb.5:11).
– Verdade é que, mais à frente, o autor irá
explicar o que significa o “sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque”, mas
não perde a oportunidade de apontar àqueles irmãos, que estavam titubeando em
prosseguir na fé e pensavam abandonar Jesus Cristo para voltar ao judaísmo, o
fator primordial pelo qual se encontravam naquela perigosa situação espiritual:
a negligência em ouvir a Palavra de Deus.
–
Quando o Senhor Jesus foi tentado no deserto pelo diabo, logo após iniciar o
Seu ministério público, repudiou a primeira tentação rememorando Dt.8:3,
dizendo que não só de pão viveria o homem, mas de toda palavra que saísse da boca
de Deus (Mt.4:4). Assim, não só Se utilizou da Palavra de Deus para afastar a
tentação, mostrando ser a Palavra a arma de ataque contra o inimigo de nossas
almas, a “espada do Espírito” (Ef.6:17), como também ser fundamental para a
sobrevivência e saúde espirituais do salvo a alimentação pela Palavra de Deus.
– Nosso Senhor, também, no sermão do monte,
disse que somente pode ser Seu discípulo bem sucedido aquele que ouve e pratica
as Suas palavras (Mt.7:24,25), de sorte que o ouvir a Palavra de Deus é condição
“sine qua non” para que se possa ter êxito na vida espiritual, êxito este que
nos levará à glorificação, o último estágio do processo da salvação, pois, como
já havia dito o escritor, precisamos conservar firme a confiança e a glória da
esperança até ao fim (Hb.3:6).
– Ora,
os crentes judeus tinham se feito negligentes para ouvir e, portanto, já não
tinham a necessária robustez espiritual e, por isso mesmo, estavam sendo
tentados a abandonar o Evangelho e voltar às práticas judaicas. Esta negligência
em ouvir a Palavra criou um estado de “embrutecimento espiritual”, de forma que
não tinham mais eles sequer condição de entender as Escrituras, de receber a
devida revelação relativa a “difíceis interpretações”.
– Neste
passo, notamos que não se pode querer compreender a Bíblia Sagrada a não ser
pelo Espírito Santo. As Escrituras foram redigidas por inspiração do Espírito
Santo (II Pe.1:21) e o que foi redigido por tal inspiração somente pode ser discernido
espiritualmente (I Co.2:9-16), sendo, pois, indispensável que tenhamos o
Espírito de Deus, que Ele venha nos revelar o que está na Sua santa Palavra.
– Eis o
motivo por que pessoas que, secularmente, são consideradas doutíssimas, grandes
intelectuais são incapazes de compreender o que dizem as Escrituras, enquanto
que pessoas indoutas, de pouca ou nenhuma escolaridade, bem entendem o que foi
revelado na Bíblia Sagrada. Tudo se discerne espiritualmente. Cristo mesmo
afirmou que o Senhor havia ocultado as coisas aos sábios e entendidos para
revelá-las aos pequeninos ((Mt.11:25).
– Não
se quer, em absoluto, fazer-se uma apologia do anti-intelectualismo, algo que,
lamentável, vigorou por muito tempo em nossas igrejas locais. Não se está
dizendo que não se deve aprimorar no estudo secular, mas, tão somente, que a
compreensão das Escrituras não se faz com bases puramente intelectuais, mas por
revelação do Espírito Santo.
– Quando deixamos de ouvir a Palavra de Deus,
quando negligenciamos o seu estudo e a sua meditação, passamos a agir com
negligência e o resultado disto é o nosso inevitável enfraquecimento
espiritual, a enfermidade, a doença, que poderá nos levar à morte por inanição.
Este, aliás, é um quadro que se tem observado com muita frequência em nossos
dias, que, não por caso, são dias de apostasia espiritual.
– Esta
negligência dos crentes judeus fez com que, mesmo diante do tempo decorrido
desde a sua conversão, eles ainda fossem “meninos espirituais”, já que era
necessário que o autor lhes ensinasse os primeiros rudimentos das palavras de
Deus (Hb.5:12).
– O Senhor Jesus disse que aqueles que creem
n’Ele nascem de novo (Jo.3:3,5), ou seja, tornam-se novas criaturas (II
Co.5:17; Gl.6:15) e, a exemplo do que ocorre na vida física, na vida espiritual
o ser humano não nasce sabendo, é necessário que aprenda, tanto que, assim que
criado, recebia o homem a visita do seu Criador diariamente, para que fosse
instruído nas coisas de Deus.
– Ora,
este aprendizado, que proporciona o crescimento espiritual, diz claramente o
escritor aos hebreus, dá pelo aprendizado das palavras de Deus, ou seja, pelo
estudo metódico, contínuo e incessante da Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada
precisa ser diuturnamente estudada por aquele que crê em Cristo, pois só assim
haverá desenvolvimento, só assim o “recém-nascido espiritual” se tornará um
“adulto espiritual”, alguém maduro espiritualmente falando.
– No
entanto, os destinatários da carta haviam negligenciado este estudo das
Escrituras e, apesar do tempo que tinham de membresia na igreja, não passavam
de “meninos espirituais”. É bom observar que a maturidade espiritual não
decorre do tempo cronológico, mas do crescimento espiritual, motivo pelo qual
não podemos confundir as coisas, pois há muitos crentes que, apesar de longo
tempo de membresia, são, ainda, “recém-nascidos espirituais”.
–
Diante desta circunstância, diz o autor aos hebreus que a alimentação
espiritual deve ser distinta entre os “recém-nascidos” e os “maduros”. Estes
podem se alimentar de “alimento sólido”, o mesmo tipo de alimento que o
apóstolo Paulo denomina de “manjar” (I Co.3:2), que é um estudo mais
aprofundado da Bíblia Sagrada, uma meditação substanciosa e mais alentada,
enquanto que os “meninos” devem ser alimentados com “leite”, mesma expressão
utilizada por Paulo em I Co.3:2 e que Pedro denomina de “leite racional não
falsificado” (I Pe.2:2)..
OBS: “…Leite é o ensino elementar no qual o
ignorante se inicia. Pedro o usa num sentido distinto [lPe 2.2], quando
solicita que desejemos leite sem malícia. Existe uma dupla infância, a saber: a
da maldade e a da razão. Daí Paulo, em outra passagem, dizer: “Irmãos, não
sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças” [1C0 14.20].
Aqueles, pois, que são demasiadamente tenros
em idade, que não podem receber um doutrinamento mais avançado, são chamados
crianças, à guisa de censura. Consequentemente, o genuíno propósito da doutrina
é adequar nossa união a fim de desenvolvermos o “homem perfeito”, à medida da
plena maturidade, “para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado
para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos
homens, pela astúcia com que induzem ao erro” [Ef 4.14]. Devemos, naturalmente,
revelar indulgência para com aqueles que ainda não experimentaram a Cristo,
caso sejam eles incapazes de ingerir alimento sólido; mas se alguém ainda não
cresceu com o passar do tempo, o tal é inescusável se permanecer perenemente no
“jardim da infância”.…(CALVINO, João. Hebreus. Trad. de Válter Graciano
Martins, pp.134-5)
– O “leite” é um alimento menos aprofundado,
é o ensino das doutrinas bíblicas fundamentais, o ensino apropriado para o
chamado “discipulado”, que é o ensino que se dá ao novo convertido até o
batismo nas águas, o aprendizado do que é ser cristão. Tal ensino, aliás, nos
primeiros tempos da igreja, era de, no mínimo, um ano (At.11:26).
– O
“leite” é o alimento apropriado para os que ainda não estão experimentados na
palavra da justiça, ou seja, para aqueles que ainda não têm familiaridade com
as Escrituras, que não têm experiência ainda com o Senhor, que estão ainda
dando os primeiros passos da fé, mesmo que já estejam na igreja há muito tempo,
como era o caso dos crentes judeus que, em meio às adversidades que estavam a
passar, numa prova de que não tinham conhecimento de Deus, estavam pensando em
desistir, em voltar ao judaísmo.
– Já o “alimento sólido” é apropriado para os
crentes que são “perfeitos”. Mas pode um crente ser “perfeito”? A “perfeição”
não vem com a glorificação, como nos mostra I Co.13:10 e I Jo.3:2? Sem dúvida
alguma. Enquanto não ocorrer a glorificação, temos de nos aperfeiçoar a cada
dia, pois, para isto, o Senhor Jesus pôs os dons ministeriais na Igreja, a fim
de que se tenha o “aperfeiçoamento dos santos” (Ef.4:11,12).
–
Quando o escritor aos hebreus fala aqui de “perfeitos”, não está a indicar
pessoas que já tenham alcançado a glorificação, mas, sim, aquelas que
completaram o ensino do discipulado, que adquiriram experiência na palavra da
justiça, ou seja, pessoas que já têm pleno conhecimento do que é ser cristão,
de quais são os fundamentos doutrinários básicos e que têm já desenvolvido uma
intimidade com o Senhor e, por ter já se adaptado à “nova vida em Cristo”, têm
condições de discernir tanto o bem como o mal (Hb.5:14), ou seja, não se
conformaram com o mundo mas se transformaram pela renovação do seu entendimento
e, portanto, podem agora experimentar a vontade de Deus (Rm.12:2), pessoas que
já conseguiram renunciar à impiedade e concupiscências mundanas e passaram a
viver, neste presente século, sóbria, pia e justamente (Tt.2:12).
OBS: “…Ele chama de perfeitos aqueles que são
adultos, colocando-os em oposição a bebês, como em 1 Coríntios 2.6; 14.20 e
Efésios 4.13. A idade média, a idade viril, é, por assim dizer, a idade plena
da vida humana.
Figurativamente, ele os chama de homens
espirituais em Cristo. Ele deseja que todos os cristãos sejam como esses que,
pela prática constante, têm formado o hábito de “discernir entre o bem e o
mal”. Só seremos adequadamente instruídos na verdade, à medida que formos sendo
guarnecidos por essa proteção contra as falsidades de Satanás. Isso é o que
significa a “espada do Espírito”. Paulo está se referindo a esse benefício da
sã doutrina, quando diz: “Para que não sejamos levados ao redor por todo vento
de doutrina” [Ef 4.14]. Que gênero de fé é esse que oscila confusa entre a
verdade e a falsidade? Fé que a todo instante está sujeita a ficar reduzida a
nada?…” (CALVINO, João. op.cit., p.136).
– Para
que se atinja tal maturidade espiritual, o escritor aos hebreus diz que é
preciso ter o aprendizado dos “rudimentos da doutrina de Cristo” e, então,
lista como que um “currículo do discipulado”, ou seja, quais as doutrinas
básicas que se deve conhecer para que se possa dizer que a pessoa é
espiritualmente madura. São seis doutrinas, a saber: o fundamento do
arrependimento de obras mortas, o fundamento da fé em Deus, doutrina dos
batismos, doutrina da imposição de mãos, doutrina da ressurreição dos mortos e
a doutrina do juízo eterno.
–
Quando observamos este pequeno “currículo de discipulado”, vemos como estamos
distantes, em nossos dias, do cuidado e zelo que tinha a igreja primitiva no tocante
ao ensino da Palavra de Deus aos crentes. Não é difícil encontrar pessoas que
estão, inclusive, no ministério que não dominam estes seis assuntos tidos como
básicos e fundamentais pelo escritor aos hebreus. – É lamentável, mas, na
atualidade, pouquíssimos são os crentes que foram devidamente discipulados em
suas igrejas locais. Soubemos, aliás, de um determinado campo de trabalho em
que houve um verdadeiro levante de obreiros contra um sério programa de
discipulado que se procurava implantar. Ou seja: além de não haver discipulado,
hoje temos inimigos do discipulado! Um verdadeiro absurdo!
– Os
crentes judeus haviam negligenciado o estudo das Escrituras. Não havia uma
dedicação no estudo das doutrinas básicas do Cristianismo, talvez porque se
achava que o que aqueles crentes haviam aprendido nas sinagogas, quando ainda
eram praticantes do judaísmo, fosse o suficiente, como se não fosse
indispensável que se desse uma leitura cristocêntrica às Escrituras hebraicas .
– O resultado disto era a imaturidade
espiritual. Apesar do longo tempo de conversão, aqueles crentes eram
verdadeiros “anões espirituais”, não haviam crescido, comportavam-se como
“meninos espirituais” e, por isso mesmo, estavam em grande perigo espiritual,
sendo tentados a abandonar a fé em Cristo Jesus e a voltar às práticas judaicas
ante as perseguições e adversidades que estavam a enfrentar.
– Na
parábola do semeador, o Senhor Jesus bem mostrou o risco que corre a pessoa que
não se alimenta da Palavra de Deus, que não se aprofunda no seu estudo, que não
desenvolve suas “raízes” na Bíblia Sagrada. Ao falar do terreno pedregoso, onde
a semente chegou a germinar mas a planta veio a morrer por falta de raiz,
Cristo está a nos mostrar o que acontece com aquele que, tendo crido em Jesus,
não busca desenvolver-se espiritualmente com o conhecimento de Deus pela
Palavra. Quando vem a perseguição, simplesmente sobrevém a morte espiritual, a
perda da salvação (Mt.13:20,21).
– É
esta a situação de muitos, mas muitos mesmos que recebem a Jesus Cristo como
Senhor e Salvador na atualidade. Por falta do discipulado, pela inexistência de
desenvolvimento espiritual, quando sobrevêm as perseguições e adversidades, que
são cada vez mais intensas já que estamos nas vésperas do arrebatamento da
Igreja, muitos abandonam a fé, ainda que se mantenham, por vezes, nominalmente
pertencendo a alguma igreja local.
– A
imaturidade espiritual dos crentes hebreus era o principal motivo por que eles
estavam sendo tentados a abandonar Cristo Jesus para tentarem, com isso,
minorar o sofrimento e a tensão que estavam a passar naquele ambiente
imediatamente anterior à eclosão da primeira guerra judaico-cristã. Nos dias de
hoje, não é diferente: muitos estão a fracassar espiritualmente, precisamente
porque não têm raízes suficientes na Palavra de Deus para poderem resistir às
muitas lutas, cada vez mais crescentes, de nossos dias.
– O
escritor aos hebreus lança um desafio àqueles crentes, concitando-os a “deixar
os rudimentos”, ou seja, a completar o estudo fundamental das doutrinas
bíblicas e a se lançar num novo patamar, o da maturidade espiritual. “Isto
faremos se Deus o permitir”. Tenhamos esta mesma disposição do autor da carta e
nos disponhamos a mudar este quadro trágico em que se encontra a igreja em nossos
dias.
FRANCISCO, Caramuru Afonso.

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