As Marcas do Discípulo de
Cristo
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
João 17.7-17
7 - Agora,
[eles] já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti,
8 - porque lhes
dei as palavras que me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente
conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste.
9 - Eu rogo por
eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.
10 - E todas as
minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado.
11 - E eu já
não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo,
guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.
12 - Estando eu
com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me
deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura
se cumprisse.
13 - Mas,
agora, vou para ti e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria
completa em si mesmos.
14 - Dei-lhes a
tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou
do mundo.
15 - Não peço
que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
16 - Não são do
mundo, como eu do mundo não sou.
17 -
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
TEXTO ÁUREO
Desde
agora,
ninguém me
inquiete;
porque
trago no meu
corpo as marcas
do
Senhor Jesus.
Gálatas 6.17
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• entender as
implicações de ser um seguidor do Mestre;
• identificar
os distintivos de Cristo como um modelo de vida para si;
• discorrer
sobre as marcas dos seguidores de Cristo.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Segundo Sócrates — um dos maiores filósofos da
história o aluno deve aprender por si mesmo. Em suas aulas, por meio de
perguntas, Sócrates despertava seus discípulos a adquirir conhecimento como
fruto de sua reflexão pessoal. Ele chamou esse método de maiêutica. O sentido
dessa palavra grega expressa a ideia de uma parteira que ajudava as mães na
hora de trazer filhos à vida. O verbo significa, literalmente, parir. Assim, o
grande filósofo via-se como a parteira e, tanto quanto possível, ajudava seus
alunos a parir ideias que fossem pessoais, inovadoras, e que apresentassem
soluções para os problemas da vida (CHAVES, G. V. Educação Cristã - Uma Jornada
Para Toda Vida. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2012, p. 67,68).
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
O
verdadeiro discípulo de Cristo traz consigo as marcas do seu Mestre Essas
marcas são os distintivos sobre como viver neste mundo, marcadamente distante
dos ideais de vida do Senhor Jesus e Seu Reino.
A vida e
obra de Cristo são fontes inesgotáveis de princípios e ensinos que todo servo
de Deus deve observar para que seja um verdadeiro discípulo do Senhor Jesus.
Por isso, Paulo, o apóstolo, declarou: Sede meus imitadores, como também eu, de
Cristo (1 Co 11.1). E o próprio Jesus sentenciou: O discípulo não está acima do
seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre
(Lc 6.40 ARA).
Imitar a Jesus não é das tarefas mais fáceis
porque ninguém viveu como Ele. Sua vida foi perfeita em todos os sentidos e
totalmente isenta da prática de pecados (Hb 4.15).
Como
Paulo asseverou, o verdadeiro seguidor do Mestre deve trazer no seu corpo as
marcas do Senhor Jesus (G1 6.17). Esse é o assunto central dessa lição.
Deus abençoe
sua vida!
LPD 63 Discipulado
Cristão - Teologia e Prática
O Apóstolo Paulo
(Gl 6:17,18)
Houve um tempo em que Paulo orgulhava-se
de sua marca da circuncisão (Fp 3:4-6), mas depois de se tornar cristão, sua
marca de identificação mudou. O apóstolo passou a se gloriar nas cicatrizes
resultantes do sofrimento que havia suportado a serviço de Jesus Cristo.
O
contraste com o legalista é óbvio: "Os judaizantes desejam marcar a carne
de vocês e se gabar disso, mas eu trago em meu corpo as marcas do Senhor Jesus
Cristo - para a glória dele". Que repreensão! "Se as 'celebridades
religiosas' de vocês têm quaisquer cicatrizes do que sofreram para a glória de
Cristo, então que as mostrem. Do contrário, deixem-me em paz!"
Paulo
não está dizendo que tinha em seu corpo as cinco feridas do Calvário. Antes,
está afirmando que sofreu por amor a Cristo (algo que jamais havia acontecido
com os legalistas) e que tinha em seu corpo as cicatrizes para provar o que
estava dizendo. Ao ler 2 Coríntios 11:18-33, não é difícil entender essa
declaração, pois Paulo sofreu fisicamente por Cristo de várias maneiras e em
vários lugares.
No
tempo de Paulo, não era incomum o seguidor de alguma divindade pagã ter no
corpo uma marca desse ídolo. O adorador orgulhava-se de seu deus e desejava que
os outros soubessem disso. Da mesma forma, Paulo trazia no corpo a marca de
Jesus Cristo. Não era um sinal temporário que poderia ser removido, mas sim uma
marca permanente que levaria consigo até a morte. Também não recebeu essa marca
de maneira agradável; teve de sofrer repetidamente de modo a ser um homem
identificável com Cristo.
Naquele tempo, também era costume marcar os
escravos, de modo que todos soubessem quem era seu dono. Paulo era escravo de
Jesus Cristo e tinha as marcas para provar.2
É
importante observar que uma pessoa também pode ser marcada pelo pecado, em sua
mente, sua personalidade ou mesmo em seu corpo. Poucas pessoas orgulham-se das
marcas do pecado, e a conversão não muda essas marcas (graças a Deus, isso
acontecerá quando Jesus voltar!). É muito melhor amar a Cristo, viver para ele
e ser marcado para sua glória.
Os
cristãos de hoje precisam lembrar que o líder que sofreu por Cristo é que tem
algo a oferecer. Os judaizantes do tempo de Paulo não tinham ideia do que era o
sofrimento. Talvez tivessem sido perseguidos, em menor escala, por pertencer a
um grupo religioso, mas nada que se comparasse à "comunhão dos seus
sofrimentos [de Cristo]" (Fp 3:10).
E
preciso ter cuidado com líderes religiosos que vivem num mundo protegido e que
não têm experiência alguma de batalhas contra o mundo, a carne e o diabo, sem
as "marcas" de sua obediência a Cristo. Paulo não era um general que
dava ordens sentado em sua cadeira confortável; estava na linha de frente,
lutando contra o pecado e suportando sua parcela de sofrimento.
Assim, o apóstolo chega ao final de sua carta
e a encerra da mesma forma como a começou: GRAÇA! Não a "lei de
Moisés", mas A GRAÇA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! Não é preciso dizer
mais nada, pois isso diz tudo. Palavras-chave: Paulo; Cristo; marcas.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento.
Temos sua Palavra
(Jo 17:13-19)
Eu lhes tenho dado a tua palavra (Jo
17:14, ver também v, 8). A Palavra de Deus é a dádiva de Deus para nós. O Pai
deu as palavras ao Filho (Jo 17:8), e o Filho as entregou aos discípulos que,
por sua vez, as transmitiram a nós conforme a inspiração do Espírito (2 Tm
3:16; 2 Pe 1:20, 21). A Palavra é de origem divina, é uma dádiva preciosa do
céu. Devemos sempre dar à Palavra de Deus o devido valor, pois os cristãos
vitoriosos conhecem a Palavra e sabem como usá-la na vida diária.
De que
maneira a Palavra de Deus nos permite vencer o mundo? Em primeiro lugar, ela
nos dá alegria (Jo 17:13), e essa alegria interior nos dá forças para vencer
(Ne 8:10). Costumamos pensar em Jesus Cristo como um homem de dores (Is 53:3),
o que de fato ele foi; mas também foi uma pessoa de profunda e constante
alegria. João 17:13 é o cerne dessa oração, e seu tema é a alegria!
Jesus já havia se referido a sua alegria (Jo
15:11) e explicado que a alegria é decorrente de transformação, não de
substituição (Jo 16:20-22). A alegria também vem das orações respondidas (Jo
16:23,24). Aqui, deixa claro que a Palavra também dá alegria. O cristão não
encontra alegria no mundo, mas sim na Palavra. Como João Batista, devemos nos
regozijar grandemente ao ouvir a voz do Noivo (Jo 3:29). Não dá para imaginar
Jesus andando pela Terra com rosto triste e ar de melancolia. Jesus foi um
homem alegre e revelou essa alegria a outros. Sua alegria não era a leviandade
passageira do mundo pecaminoso, mas sim o gozo permanente do Pai e da Palavra.
Não
dependia de circunstâncias exteriores, mas dos recursos espirituais interiores
que o mundo não era capaz de ver. É esse tipo de alegria que deseja ver em
nossa vida, e só podemos obtê-la pela sua Palavra. As tuas palavras me foram
gozo e alegria para o coração (Jr 15:16).
Mais me regozijo com o caminho dos teus
testemunhos do que com todas as riquezas (SI 119:14). Alegro-me nas tuas
promessas, como quem acha grandes despojos (SI 119:162). A Palavra não apenas
concede a alegria do Senhor, mas também dá a certeza de seu amor (Jo 17:14). O
mundo nos odeia, mas podemos confrontar esse ódio com o amor de Deus,
transmitido a nós pelo Espírito por meio da Palavra. O mundo nos odeia porque
não pertencemos a seu sistema (Jo 15:18, 19) e nos recusamos a nos conformar
com suas práticas e padrões (Rm 12:2).
A
Palavra revela a verdadeira natureza do mundo e mostra suas ilusões e seus
artifícios cheios de perigo.
O
mundo deseja tomar o lugar do amor do Pai em nossa vida (1 Jo 2:15- 17), mas a
Palavra de Deus nos permite desfrutar esse amor. Um dos primeiros passos para
uma vida mundana é colocar de lado a Palavra. D. L. Moody escreveu na
contracapa de sua Bíblia: "Ou este livro o afastará do pecado ou o pecado
o afastará deste livro". Assim como a coluna de fogo era escuridão para os
egípcios, mas luz para Israel, também a Palavra de Deus é luz neste mundo escuro,
incapaz de compreender as coisas de Deus (Êx 14:20; 1 Co 2:12-16).
A
Palavra de Deus não apenas traz a alegria e o amor de Deus, mas também
transmite o poder de Deus para vivermos em santidade (Jo 17:15-17). A tônica da
oração de Jesus em João 17:6-12 foi a segurança, mas aqui sua ênfase muda para
a santidade – uma vida santa prática que glorifica Deus. Estamos no mundo, mas
não somos do mundo e não devemos viver como o mundo. Por vezes, achamos que
seria mais fácil vivermos fora do mundo, mas isso não é verdade. Para qualquer
lugar que vamos, carregamos conosco nosso ser interior pecaminoso e somos
seguidos por poderes das trevas. Encontrei gente que se impôs um “isolamento
espiritual”, a fim de buscar mais santidade, só para descobrir mais tarde que isso
nem sempre funciona.
A
verdadeira santificação (ser separado para Deus) se dá pelo ministério da
Palavra de Deus. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado (Jo
15:3). Ao ser salvos, somos separados para Deus. Ao crescer na fé,
experimentamos cada vez mais a santificação. Nosso amor pelo pecado é cada vez
menor e nosso amor por Deus é cada vez maior. Desejamos lhe servir e ser bênção
a outros. Tudo isso se dá por meio da Palavra.
A verdade de Deus foi dada em três
"edições"; sua Palavra é a verdade (Jo 17:17); seu Filho é a verdade
(Jo 14:6); e seu Espírito é a verdade (1 Jo 5:6). Precisamos desses três
elementos, a fim de experimentar a verdadeira santificação que toca todas as
partes de nosso ser interior. Com a mente, aprendemos a verdade de Deus pela
Palavra. Com o coração, amamos a verdade de Deus, seu Filho. Com a volição, nos
entregamos ao Espírito e vivemos a verdade de Deus cada dia. É preciso que os
três estejam presentes para que a santificação seja equilibrada.
Não
basta apenas estudar a Bíblia e aprender uma porção de verdades doutrinárias.
Também é preciso amar a Jesus Cristo cada vez mais ao se descobrir tudo o que
ele é e tudo o que fez por nós. O aprendizado e o amor devem conduzir à vida
prática, permitindo que o Espírito de Deus nos capacite a obedecer à sua
Palavra. É assim que glorificamos a Deus neste mundo perverso.
A
Palavra dá alegria, amor e poder para viver em santidade. Também dá o que é
preciso para servir a Deus como testemunhas neste mundo (Jo 17:18, 19). A
santificação não tem por objetivo o prazer egoísta e a vanglória; antes, serve
para que representemos Cristo neste mundo e ganhemos outros para ele. Jesus se
separou para nós e, agora, devemos nos separar para ele. O Pai enviou-o ao
mundo e, agora, ele nos envia ao mundo. Recebemos ordens e devemos cumpri-las!
Jesus encontra-se "separado" no céu, orando por nós, para que nosso
testemunho dê frutos, levando muitos ao arrependimento e ao Senhor.
Como
ser vencidos pelo mundo quando temos a Palavra de Deus para nos iluminar,
capacitar e encorajar?
Palavras-chave: Cristo; discípulo; Palavra;
Espírito.
WIERSBE,
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento.
O discípulo, a grande comissão e o Espírito Santo
(Mt 28.16-20)
O discípulo e o Espírito Santo Nenhum
discípulo de Jesus vive sozinho neste mundo, mesmo estando isolado ou
confinado. O Consolador é o fiel companheiro daqueles que servem a Deus. A
tarefa de propagação do evangelho é uma ação humana; a conversão, no entanto, é
obra do Espírito Santo. Jesus disse: que vos convém que eu vá, porque, se eu
não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo[1]ei.
E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça, e do juízo: do
pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me
vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo já está julgado (Jo
16.7-11).
A
confirmação dessa promessa pode ser percebida em toda a história da Igreja.
Quase dois mil anos após ser assunto aos céus, na presença de Seus discípulos e
de anjos, Ele escreve, está e estará sempre com o Seu povo.
O
Espírito Santo no livro de Atos
No
livro de Atos dos Apóstolos, lemos: Mas recebereis a virtude do Espírito Santo,
que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra (At 1.8).
Ao
analisar Atos dos Apóstolos, percebe-se claramente que o Espírito Santo foi o
grande agente na tarefa de pregar o evangelho. Esse livro, inclusive, poderia
chamar-se Atos do Espírito Sano, pois seus textos descrevem a forma singular
como o Espírito impulsionou os discípulos da Igreja Primitiva. A vida da Igreja
era alimentada, controlada e guiada pela terceira pessoa da Trindade .
O
livro de Atos fornece uma história condensada da Igreja primitiva. Um
testemunho da maravilhosa expansão do evangelho de Jerusalém a Roma. Esse livro
esclarece como o Espírito Santo impeliu irmãos em Cristo do passado a darem
prosseguimento à ordem de Jesus de serem Suas testemunhas em todo o mundo. Seus
relatos são exemplos encorajadores; entretanto, o tema recorrente no livro diz
respeito àqueles que foram testemunhas porque estavam revestidos do Espírito
Santo. Aquele mesmo poder que os movia está disponível a nós, pois Deus não nos
deixou à mercê de nossas próprias fraquezas. Ele enviou o Espírito Santo para
nos auxiliar a seguir os exemplos dos primeiros cristãos (RADMACHER; ALLEN;
HOUSE, Central Gospel, 2020b, p. 286).
Os
cristãos do primeiro século tinham a presença do Espírito de forma abundante e
diária. Os dez primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos – o único livro
histórico do Novo Testamento – registram a amplitude dessa divina presença: o
Espírito como Promessa (At 1.5,8); o Espírito como cumprimento da promessa (At
2.4); o Espírito na pregação da Igreja (At 3.18); o Espírito na oração dos
fiéis (At 4.31); o Espírito no testemunho da ressureição (At 5.30-32); o
Espírito como característica fundamental (At 6.3); o Espírito presente na vida
do primeiro Mártir (At 7.55); o Espírito sendo derramado na imposição de mãos
(At 8.17); o Espírito Santo enchendo Paulo (At 9.17); e o Espírito descendo
sobre a cada de Cornélio (At 10.44,45). Assim, as aparições do Espírito Santo
ao longo desse magnífico livro são notórias; contudo, nos dez primeiros
capítulos, elas ocorrem de forma bem mais intensa, acentuada e significativa.
Portanto, sem a presença contínua do Espírito,
os primeiros seguidores de Jesus não sobreviveriam às perseguições, tampouco
teriam êxito na tarefa da evangelização. O poder do Espírito Santo por meio da
igreja é a característica fundamental para o surgimento, a preservação e a
consolidação da igreja de Cristo na terra.
Palavras-chave: Cristo; discípulo; Espírito
Santo; Atos dos Apóstolo
Sobre o autor Pastor, educador,
psicanalista, teólogo, conferencista internacional.
CHAVES, Gilmar Vieira. O que todo discípulo de Cristo
precisa saber
Já ganhaste uma alma para CRISTO? Já
experimentaste? Conheces alguém atualmente na glória, com CRISTO, levado por ti
a Ele? Ou conheces alguém que está no caminho para o céu, porque o informaste
do Salvador?
Se fossem desvendados os teus olhos, neste
momento, para contemplar a eternidade, e se te fosse revelado que tens de
passar para lá, neste ano não desejarias depositar aos pés do Salvador algum
presente como prova de teu amor? Pode haver um presente tão precioso ou
aceitável ao Mestre, como uma alma ganha para Ele, durante um ano?
As
palavras dos maiores, na história da Igreja de CRISTO, revelam como o coração os
abrasava com este desejo; vamos citar algumas expressões:
Knox,
assim rogava a DEUS: “Dá-me a Escócia ou eu morro!”
Whitefield,
implorava: “Se não queres dar-me almas, retira a minha!”
Diz-se de Aleine: “Era insaciavelmente
desejoso de conversão de almas, e para este fim derramava seu coração em oração
e pregação”
João
Bunyan, disse: “Na pregação não podia contentar-me sem ver o fruto do meu
trabalho”.
Assim dizia Mateus Henry: “Sinto maior gozo
em ganhar uma alma para CRISTO, do que em ganhar montanhas de ouro e prata,
para mim mesmo”.
D. L. Moody: “Usa-me, então, meu Salvador,
para qualquer alvo e em qualquer maneira que precisares. Aqui está meu pobre
coração, uma vasilha vazia, enche-me com a Tua graça”.
Henrique Martyn, ajoelhado na praia da
Índia, onde fora como missionário, dizia: “Aqui quero ser inteiramente gasto
por DEUS”.
João
Hunt, missionário entre os antropófagos, nas ilhas de Fidji, no leito de morte,
orava: “Senhor, salva Fidji, salva Fidji, salva este povo. Ó Senhor, tem
misericórdia de Fidji, salva Fidji!”
João
McKenzie, ajoelhado à beira do Lossie, clamava: “Ó Senhor, manda-me para o
lugar mais escuro da terra!”
Praying
Hyde, missionário na Índia, suplicava: “Ó DEUS, dá-me almas ou morrerei!”
Quando aqueles que assistiam a morte de
Davi Stoner, pensavam que seu espírito já tivesse voado, ele se levantou na
cama, e clamou: “Ó Senhor, salva pecadores! Salva-os as centenas e salva-os aos
milhares!”, e findou a sua obra na terra. O desejo ardente da sua vida,
dominava-o até a morte.
Davi Brainerd falava: “Eis-me aqui,
Senhor. Envia-me a mim! Envia-me até os confins da terra: envia-me aos bárbaros
habitantes das selvas; envia-me para longe de tudo que tem o nome de conforto,
na terra; envia-me mesmo para a morte, se for no Teu serviço e para o progresso
do Teu reino”.
Ele escreveu: “Lutei pela colheita de
almas, multidões de pobres almas. Lutei para ganhar cada alma, e isto em muitos
lugares. Sentia tanta agonia, desde o nascer do sol até anoitecer, que ficava
molhado de suor por todo o corpo. Mas, oh! Meu querido Senhor suou sangue pelas
pobres almas. Com grande ânsia eu desejava ter mais compaixão”.
Brainerd
podia dizer de si: “Não me importava o lugar ou a maneira que tivesse de morar,
nem por qual sofrimento tivesse de passar, contanto que pudesse ganhar almas
para CRISTO. Quando dormia, sonhava com essas coisas, e ao acordar, a primeira
coisa em que me ocupava essa era grande obra; não tinha outro desejo a não ser
a conversão dos perdidos”.
Encontrava-se
João Welsh, nas noites mais frias prostrado no chão, chorando e lutando com o
Senhor, por seu povo. Quando sua esposa implorava que explicasse a razão de sua
ânsia, respondia: “Tenho que dar conta de três mil almas e não sei como estão”.
O profeta Jeremias: “Se eu disser: Não
farei menção dele, nem falarei mais em Seu nome, há no meu coração como fogo
ardente, encerrado nos meus ossos, e estou cansado de sofrer, e não posso
conter-me”. (Jer 20.9)
O apóstolo Paulo: “Tornei-me tudo para
todos, para de todo e qualquer modo salvar alguns”. (1 Cor 9.22)
O sentimento do Filho de DEUS: “CRISTO JESUS
veio ao mundo para salvar os pecadores”. (2 Tim 1.15)
O desejo do Pai celestial: “Pois assim amou
DEUS ao mundo, que deu Seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê, não
pereça, mas tenha a vida eterna”. (João 3.16)
D.
L. Moody conta o seguinte, explicando como DEUS o dirigiu a deixar tudo para
passar o resto da vida no serviço de ganhar almas: “Não perdi a visão de JESUS
CRISTO, desde o primeiro dia que O encontrei, na loja em Boston, onde era
caixeiro. Porém durante alguns anos achava que não podia trabalhar para DEUS.
Ninguém me pediu para que fizesse alguma coisa em favor do Evangelho.
Quando fui a Chicago, aluguei cinco
assentos na Igreja, e saía e me esforçava para encher os bancos, com moços que
encontrava nas ruas. Não falava a estes acerca das suas almas; julgava eu que
falar aos pecadores era trabalho dos anciãos. Depois de algum tempo de assim
trabalhar, abri uma Escola Dominical, em outra parte da cidade. Para mim, a
única coisa era ter o maior número na Escola, e trabalhava com este alvo.
Quando a assistência era de menos de mil pessoas, eu ficava perturbado; e
quando subia a mil e duzentas ou a mil e quinhentas então me alegrava. Até
então ninguém fora convertido; não houvera colheita. Então, DEUS me iluminou.
Havia na escola uma classe de moças que
eram, sem dúvida, as mais vaidosas que eu jamais encontrara. Num domingo o
professor estava doente, e eu ensinei a classe. Zombaram de mim na minha
presença e eu fui tentado a expulsá-las, para nunca mais voltarem. Durante a
semana, o professor entrou na loja onde eu trabalhava. Vi que ele estava pálido
e muito doente. “Que tens?” perguntei-lhe. – “Tive outra hemorragia nos
pulmões. O médico diz que não posso ficar em Lake Michigan, e vou para o Estado
de Nova Iorque. Por mim, vou para casa para morrer”. Ele parecia muito
perturbado e quando perguntei a razão, respondeu: “Ora, nunca dirigi uma moça da
minha classe para CRISTO. Acho que realmente tenho feito mais mal do que bem,
às moças”.
Nunca
tinha ouvido alguém falar nisso, e fiquei meditando.
Depois
de um pouco, eu disse: “Não achas bom ir dizer-lhes o que sentes? Irei, também,
numa carruagem, se queres ir”. Ele concordou e saímos juntos. Foi uma das
melhores viagens que jamais fiz na terra. Fomos à casa de uma das moças e o
professor falou pra ela acerca da alma. Então, não se ria mais. Lágrimas
apareceram-lhe nos olhos. O professor depois de explicar o caminho da salvação,
sugeriu que orássemos. Pediu que eu orasse. Em verdade, nunca fizera tal coisa,
nunca orara a DEUS que convertesse a uma moça, e na mesma ocasião, porém,
oramos, e DEUS respondeu à oração.
Fomos à casa das outras moças. Quando ele
subia a escada, faltava-lhe o fôlego, mas explicava às moças o propósito de
nossa visita. E, sem muita demora, ficaram quebrantadas e começaram a buscar
salvação.
Quando
ele não podia mais andar, levei-o de novo para sua casa. No dia seguinte saímos
outra vez. Passara-se dez dias, e chegou de novo à loja, com o rosto brilhando.
“Sr Moody”, disse ele, “a ultima já se entregou a CRISTO”. Como foi grande o
nosso regozijo! Ele tinha de partir na noite do dia seguinte; chamei sua classe
para uma reunião de oração, e lá, DEUS acendeu um fogo na minha alma, que nunca
mais se apagou. O maior alvo da minha vida era ser comerciante próspero; se
tivesse sabido que estava para perder este alvo, é provável que não teria ido.
Mas quantas vezes agradeço a DEUS, depois daquele culto!
O professor que estava para morrer,
sentou-se no centro da classe e falava-lhes, lendo o capitulo catorze de João.
Experimentamos cantar o hino: “Benditos laços são, os do fraterno amor”, e
depois ajoelhamo-nos para orar. Quando eu queria levantar-me da oração, uma das
moças da classe começou a orar por seu professor, já moribundo, outra orou e,
depois outra; e antes de nos levantarmos, a classe inteira tinha orado. Quando
saímos, disse pra mim mesmo: “Ó DEUS, deixa-me morrer antes de perder a benção
que recebi aqui, esta noite!”
No
dia seguinte, fui à estação despedir-me do professor. Antes de sair o trem,
chegaram, uma a uma, todas as moças da classe sem haver qualquer combinação.
Que culto! Experimentamos cantar, mas só podíamos chorar. A última coisa que
vimos do professor, na plataforma do último carro, com o dedo apontado para
cima, implorava que a classe o encontrasse no céu.
Eu não sabia o preço que tinha de pagar por
causa desta experiência. Não tinha mais habilidade para o comércio, tinha
perdido o gosto de negociar. Tinha provado algo de um outro mundo, e não queria
mais ganhar dinheiro. Durante alguns dias depois, tive a maior luta da minha
vida. Devia deixar o comércio e entregar-me inteiramente à Obra de CRISTO, ou
não? Nunca me arrependi da minha escolha. Oh, a delícia de dirigir alguém das
trevas, à luz gloriosa do Evangelho!
Na
primeira guerra mundial, um moço foi levado ao hospital, sofrendo ferimentos em
quase todo o corpo. Em grande agonia, suplicava à enfermeira que lhe desse algo
para dormir, para jamais acordar. Ela recusou e ele começou a implorar ao
médico: “Tenha compaixão de mim. Faça com que eu durma. Por que devo viver?
Estou completamente inutilizado. Não posso mais servir à pátria nem ao próximo.
Dê-me um alívio”. Quando o médico também recusou, rogou que escrevessem ao rei,
pedindo licença para que findassem com seus sofrimentos. Para apaziguá-lo, o
médico escreveu ao rei Jorge, contando o caso do soldado valente que fora
vencido pela dor. Chegou um telegrama para o soldado: “Teu rei precisa de ti.
(a) Jorge”. O soldado, logo corou ânimo e ficou bom.
A
mensagem direta para todo crente, é a mesma: “Teu Rei precisa de ti, ara
proclamar a mensagem a todas as criaturas”.
DESEJO ARDENTE DE GANHAR ALMAS - ESFORÇA-TE PARA GANHAR ALMAS - Orlando Boyer
Introdução
O evangelista é um precioso dom de Cristo à
sua Igreja. Sem o ministério da proclamação, o evangelho teria morrido em
Jerusalém. Mas, por intermédio de obreiros como Filipe, a mensagem da cruz,
ultrapassando as fronteiras da Judeia, chegou a Samaria. E, desse recanto
gentio tão desprezado, as Boas-Novas não demoraram a chegar aos confins da
Terra. O evangelista assemelha-se ao bandeirante que, jamais temendo o
desconhecido, sai a falar de Cristo aos povoados mais remotos e estressantes. O
seu retorno, porém, é jubiloso. De maneira sacrifical, apresenta preciosas
almas ao Senhor. Seja falando a uma única pessoa, seja pregando às multidões, o
seu amor pelos que perecem é o mesmo. Proclamar o evangelho é a sua missão.
Neste capítulo, enfocaremos o evangelista
como o agente das Boas- Novas. Veremos que ele é essencial à expansão do Reino
de Deus. Paulo destaca o seu ministério como um dos mais importantes da Igreja.
Ele é o semeador que saiu a semear.
I. Evangelista, um
Dom de Deus
Leighton Ford, ao descrever a chamada do
evangelista, afirmou: “Devemos evangelizar não porque seja agradável, fácil, ou
porque podemos ter sucesso, mas porque Cristo nos chamou. Ele é o nosso Senhor.
Não temos outra escolha senão obedecer”. O ministério evangelístico não se
limita a uma opção pessoal; firma-se numa intimação do próprio Cristo.
1. Evangelista, uma feliz definição.
A palavra “evangelista” provém do vocábulo grego euaggelistes , e
significa aquele que traz boas-novas. Trata-se de um termo que, usado na Grécia
Clássica, designava o que portava uma notícia agradável. Em suma, era o
mensageiro do bem. A partir da fundação da Igreja de Cristo, no Pentecostes, a
palavra passou a designar aquele que proclama o evangelho. A palavra
“evangelista” é constituída por dois vocábulos gregos: eu , bom,
e ággelos , anjo ou mensageiro. Se considerarmos a sua
etimologia, concluiremos que o evangelista, sendo o “anjo” do bem, tem de estar
sempre a postos a transmitir a Palavra de Deus. Eis porque, no Apocalipse, os
responsáveis pelas igrejas da Ásia Menor foram assim nomeados pelo Senhor.
Enquanto pastores, eram compelidos pelo Espírito Santo a fazer o trabalho de um
evangelista.
2. Evolução do
ministério evangelista. Se o
ministério diaconal foi constituído formalmente por um concílio, o
evangelístico não precisou de formalidade alguma para sobressair. Os dois
primeiros evangelistas da Igreja Primitiva, a propósito, surgiram dentre os
sete diáconos. Logo após ser consagrado ao diaconato, Estêvão começou a
destacar-se como evangelista. Sua palavra fez-se tão irresistível, que levou o
clero judaico a condená-lo à morte traiçoeiramente (At 8.1,2).
Estêvão morreu, mas a
evangelização reavivou-se com as incursões de Filipe. Ao deixar Jerusalém,
proclamou, entre os gentios de Samaria, um evangelho autenticamente
pentecostal. Sua palavra era acompanhada de milagres, sinais e maravilhas; era
simplesmente irresistível. Lucas bem que poderia ter cognominado o capítulo 8
de seu segundo livro como “Atos de Filipe”.
Mais tarde, quando da conclusão da terceira
viagem missionária de Paulo, encontraremos novamente Filipe, dessa vez em
Cesareia. Lucas, que fazia parte da equipe do apóstolo, reconhece-lhe o
ministério, tratando-o como evangelista. Era a primeira vez na História da
Igreja Cristã que um obreiro recebia semelhante distinção.
3. Mais que um título,
um dom. Em algumas igrejas, o
evangelista é visto mais como investidura eclesiástica do que, propriamente,
como dom ministerial. Vejamos, porém, o que diz Paulo acerca desse tão
importante ofício sagrado:
E ele mesmo deu uns para
apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à
unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da
estatura completa de Cristo. (Ef 4.11-13
Conclui-se que somente deve ser
reconhecido como evangelista o que foi agraciado com semelhante dom. Doutra
forma, teremos um clero inflado de evangelistas que, em vez de ganhar almas
para Cristo, desgastam-se emocional e espiritualmente, aguardando uma eventual
promoção ao pastorado. A hierarquização eclesiástica, nesse sentido, é mais do
que nociva ao crescimento saudável do corpo de Cristo; é deletéria e mortal.
Que sejamos criteriosos na escolha daqueles que sairão pelo mundo a proclamar a
mensagem do evangelho.
II. O Evangelista no
Antigo Testamento
Embora constituído para apregoar o
conhecimento de Deus entre os gentios, Israel recolheu-se em seu legado
sacerdotal e real, descumprindo a sua missão evangelística.
1. Os patriarcas
evangelizam. Abraão foi o
primeiro santo do Antigo Testamento a ser agraciado com o título de profeta (Gn
20.7). Apesar de não possuir o encargo de Isaías, nem a missão de Ezequiel, o
patriarca, por meio de um testemunho corajoso e monoteísta, mostrou aos
cananeus a realidade do Deus Único e Verdadeiro.
Em suas peregrinações, quer
entre os egípcios, quer entre os filisteus, o pai de Israel evidenciava a todos
que, longe de ser um nômade aventureiro, era o amigo de Deus. Informalmente,
esse mensageiro do Senhor espalhou a esperança messiânica entre os antigos.
Somente a eternidade para revelar quantas almas o crente Abraão conduziu ao
Reino dos céus. O mesmo diremos de Isaque e de Jacó. Quanto a José, o que
acrescentar? Administrando uma das crises mais agudas de todos os tempos,
mostrou a todo o Oriente que o Deus de seus pais sabe como intervir tanto na
História Universal quanto na biogra a de cada uma de suas criaturas morais.
2. Os profetas
evangelizam. Ainda que
Isaías seja cognominado o evangelista do Antigo Testamento, quem mais se
aproximou do exercício desse ministério foi Jonas. Intimado por Deus a
proclamar um severíssimo juízo contra Nínive, o profeta, apesar de sua
relutância inicial, fez-se evangelista e missionário. Ao chegar à grande
cidade, percorreu-a durante todo um dia, com uma mensagem simples, mas eficaz:
“Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4). O sermão de Jonas não
parece teológico, nem profético. Isolado, é matemático, geográfico e
meteorológico. Evoca um número, uma cidade e uma situação. Mas, no contexto do
juízo divino, é mais do que teológico; é intensamente profético. Em sete
palavras, descreve rigorosamente a justiça divina. Apesar de não mencionar o arrependimento,
leva o Império da Assíria a curvar-se diante do Deus de Israel. Em nenhum
momento, exorta aqueles impenitentes a jejuar. Mas, diante da urgência e da
gravidade de sua proclamação, todos, do rei ao mais humilhado dos súditos,
abstêm-se de pão e de água.
Se Jonas saiu a evangelizar, Isaías
evangelizou sem sair. De sua amada Jerusalém, o profeta descreveu o Messias com
detalhes surpreendentes e impressionantes. Ele falou de sua concepção virginal,
de sua morte vicária e de seu Reino glorioso. Se alguém pretende fazer o
retrato falado de Jesus, basta ler em voz alta o capítulo 53 de Isaías. Ali, em
cores fortes, está o Cristo de Deus, entregando-se por mim e por você.
3. Os reis evangelizam. Apesar de nem todos os reis de Israel serem
recomendáveis, alguns deles, como Davi, Salomão e Ezequias, muito zeram pelo
anúncio da Palavra de Deus entre os gentios. Nos dias de Salomão, muitos
potentados estrangeiros deixavam suas terras para ouvir o sapientíssimo rei de
Israel. E, ali, na corte hebreia, glorificavam o Poderoso de Jacó. Haja vista a
rainha de Sabá, que, do extremo sul do continente, veio constatar não só a
glória de Salomão, mas a presença divina na terra que manava leite, mel e a
sabedoria divina.
Salomão, porém, não demorou a desprezar a glória do Senhor. Em vez de comissionar sacerdotes a apregoar a verdadeira fé entre os gentios, envia sua frota mercante a trazer, de Társis, pavões e macacos (1 Rs 10.22). Apesar de tantos desencontros com a sua real vocação, Israel logrou cumprir a parte essencial de sua missão, pois legou-nos os profetas, as alianças, as Sagradas Escrituras e o Salvador do mundo.
III. A Missão do Evangelista
O evangelista George Sweazey afirmou com
muito acerto: “A evangelização é uma tarefa sempre perigosa, embora não seja
tão perigosa como a falta de evangelização”. O que teria levado o irmão
Sweazey a chegar a tal conclusão? Provavelmente, referia-se à tarefa do
evangelista que, ao contrário do que muita gente supõe, é desafiadora e
complexa, mas sempre gloriosa.
1. Proclamar o
evangelho. Para se proclamar o
evangelho de Cristo com eficácia, requer-se, antes de tudo, uma experiência
real e marcante com o Cristo do evangelho. Além disso, deve o evangelista
aprofundar-se no conhecimento de Deus, a fim de apresentar em sua inteireza,
tanto ao mundo quanto à Igreja, todos os desígnios divinos. Foi o que Paulo
declarou ao presbitério de Éfeso: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que
estou limpo do sangue de todos; porque nunca deixei de vos anunciar todo o
conselho de Deus” (At 20.26,27).
O evangelista, embora proclame uma mensagem
simples e direta, não há de conformar-se com uma teologia rasa. Antes,
aprofundar-se-á na Palavra da Verdade, para que venha a manuseá-la com destreza
e oportunidade. Ao jovem Timóteo, recomenda Paulo: “Procura apresentar- te a
Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Sua mensagem, portanto, será simples, mas
jamais simplória, porquanto Deus o chamou a falar a judeus e a gregos, a sábios
e a ignorantes, a servos e a livres.
Quem ouve Billy Graham, observa duas coisas em seus sermões: simplicidade e profundidade. Munido dessa fórmula, saiu ele a pregar nos países mais distantes e escondidos, mostrando a todos a eficácia da mensagem da cruz. Em seus livros, porém, deparamo-nos com um teólogo que nada fica a dever à academia mais exigente. À semelhança de Paulo, o evangelista americano nada se propunha saber, a não ser Cristo e este crucificado.
Então, que o evangelista se empenhe por
manusear, destramente, a Palavra da Verdade, pois quem ganha almas sábio é. Não
é nada fácil desconstruir as mentiras de Satanás, no coração do pecador. Mas o
verdadeiro evangelista, com sabedoria e paciência, reconstrói na alma
impenitente a verdade que liberta, salva e leva para o céu. O que o mensageiro
de Deus obtém, nenhum filósofo, pedagogo ou psicólogo logra conseguir. Estes
falam apenas à razão, mas aquele brada ao coração, à alma e até mesmo à mente
menos razoável.
2. Fortalecer a Igreja. O evangelho não deve ser pregado apenas ao
mundo. Às vezes, temos de anunciá-lo também à Igreja. Era o que Paulo pretendia
fazer, ao anunciar a sua visita aos romanos: “E assim, quanto está em mim,
estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma”
(Rm 1.15). Depreende-se que os irmãos de Roma, apesar de sua sinceridade, ainda
não haviam compreendido, plenamente, a origem, o processo e a efetivação da fé
salvadora em Jesus Cristo. Por isso, era urgente que o apóstolo descesse aos
alicerces do Plano da Salvação, para que eles viessem a subir aos andares mais
elevados do conhecimento divino.
Assim como o pastor tem de fazer o trabalho
de um evangelista, deve o evangelista, por seu turno, empenhar-se pastoralmente
na edificação doutrinária das ovelhas. Hoje, mais do que ontem, os evangélicos,
até mesmo os de igrejas tradicionais e históricas, carecem de fundamentos
doutrinários. Ora, que firmeza terão os crentes se boa parte dos pastores
acham-se firmados em teologias movediças?
É chegado o momento de evangelizarmos também
os que, presumindo- se evangélicos, acham-se tão distantes do evangelho quanto
os católicos. Se estes têm ídolos, aqueles possuem deuses. Não raro, nossos
deuses são mais deletérios do que os ídolos. Pelo menos, os ídolos católicos têm
boca, mas nada falam, ao passo que os deuses evangélicos abrem a bocarra para
dizer o que Deus jamais diria. Se os ídolos romanos levam para o inferno, os
deuses do evangelho midiático a ninguém conduz para o céu. Que todos saibam que
somente o Senhor Jesus salva.
3. Fazer discípulos de
Cristo. O trabalho de um evangelista
não se resume em trazer alguém à luz de Cristo, mas também acompanhar o novo
crente, até que este venha a iluminar o mundo com o seu testemunho. Se, num
primeiro momento, o evangelista é o amoroso obstetra, no seguinte, ele haverá
de ser o pediatra atento à evolução do convertido.
O objetivo principal do discipulado é formar
autênticos seguidores de Cristo. A partir daí, teremos cristãos testemunhais e
exemplares. Mas, se não dermos importância à formação espiritual dos que recebem
a Cristo, encheremos a igreja de crentes vazios, de cientes e rasos na fé. É o
que vem ocorrendo em muitos arraiais que, tidos como evangélicos, das ovelhas
querem apenas a gordura e a lã.
A essa altura, uma pergunta ganha
pertinência: “Até quando deve durar o discipulado?” Se levarmos em conta as
reivindicações apostólicas, o discipulado, na vida de um crente, inicia-se com
a sua conversão, e há de perdurar até que seja ele recolhido pelo Senhor.
Quanto ao discipulado do novo convertido, em si, que persista até que ele venha
a parecer-se em tudo com Jesus Cristo. Somente um discipulado genuinamente
bíblico fará a diferença entre o cristão e o não cristão.
4. Defender o
conhecimento divino. Escrevendo
aos Filipenses, Paulo abre-lhes o coração, e mostra-lhes ter sido chamado não
somente a proclamar o evangelho, como também a defendê-lo: “Como tenho por
justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos
vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha
defesa e confirmação do evangelho” (Fp 1.7). De que forma, porém, o apóstolo
saiu a defender as Boas-Novas no mundo greco- romano?
A apologia de Paulo era diferente da nossa;
era viva, dinâmica e relevante. Ele não se afadigava a provar a existência de
Deus, pois todos, de uma forma ou de outra, sabiam que o Criador existia, pois
a sua presença na criação é inegável. Antes, mostrando a relevância da mensagem
da cruz aos gregos e romanos, o apóstolo deixava-lhes bem patente que Deus não
somente existe, mas intervém na História do universo e na biografia de cada ser
humano.
Paulo também não se estressava em mostrar o
Jesus Histórico, porquanto a existência do Filho de Deus já se achava, àquela
altura, subscrita nas crônicas romanas. Mas, aproveitando cada oportunidade, o
apóstolo realçava o Cristo Kerigmático que, ao vencer a morte, recebera do Pai
todo o poder nos céus e na terra. A História a ninguém traz à vida, mas a
mensagem da cruz de Cristo é suficiente para levar multidões ao novo nascimento.
Em suas cruzadas pelo Mediterrâneo, o
apóstolo não se afadigou em mostrar a este sábio, ou àquele filósofo, que
as Sagradas Escrituras são, de fato, a Palavra de Deus. Todavia, ao pregar na
unção do Espírito Santo, convencia o incrédulo mais convicto de que havia, por
exemplo, uma agravante diferença entre Moisés e Aristóteles. O primeiro falou
em nome de Deus e por Deus, trazendo esperança a Israel e ao mundo. Quanto ao
segundo, não foi além de uma descoberta óbvia e esperada. Em sua ignorância, o
sábio grego limitou-se a dizer que Deus é o motor imóvel que move o mundo. Mas
o apóstolo demonstra que Deus, além de mover o mundo, move-se entre os seus
filhos, operando o impossível.
O apóstolo não se agastou em convencer a
Grécia de que o pecado é uma ofensa ao Santo de Israel, pois os gregos, mesmo
não conhecendo os Dez Mandamentos, sabiam estar a violar cada uma das
ordenanças divinas. Eles viviam para pecar e pecavam para viver. Por essa
razão, Paulo não se limitou a denunciar-lhes o pecado; em Jesus Cristo,
apontou-lhes o caminho da pureza e da justificação pela fé.
Em sua apologia, Paulo
perfazia um caminho inverso do nosso. Nós defendemos o evangelho de modo raso e
periférico. Ele, porém, advogava-o de forma essencial, mostrando-lhe o poder e
a graça transformadora.
5. Fazer teologia. O evangelista, à semelhança do apóstolo, também foi
constituído a fazer teologia, pois sem teologia a evangelização é impossível.
Em sua primeira carta ao jovem Timóteo, faz-lhe Paulo um resumo de seu
currículo: “Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído
pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios, na fé e na verdade” (1 Tm 2.7).
Uma coisa é fazer teologia entre os
teólogos. Outra, é teologizar entre os inimigos de Deus. Mas é justamente nesse
ambiente hostil, e cercado de falsos silogismos e lógicas aparentes, que o
evangelista é intimado a expor o tema prioritário da verdadeira teologia: Jesus
Cristo e este crucificado. Foi o que Paulo fez ao evangelizar os gregos.
No Areópago, os filósofos
epicureus e estoicos consideraram o discurso do apóstolo um raro despropósito.
Àqueles varões intelectualmente orgulhosos, só um louco ousaria afirmar que um
homem teve de morrer, numa cruz, para que os demais viessem a cruzar os portais
da vida eterna. Enfim, àquele seleto
grupo, o evangelho era uma loucura. Mas foi ali, entre os gregos, e, mais
tarde, entre os romanos, que Paulo lavrou a mais sublime teologia do Novo
Testamento. O evangelista é o teólogo ambulante, cuja missão é proclamar o
evangelho completo de Cristo. Isso significa fazer a mais alta, a mais profunda
e a mais bela teologia, pois a mensagem da cruz possui todas essas
características.
IV. O Preparo do
Evangelista
Paulo foi um dos homens mais cultos de seu
tempo. Ele transitava com desenvoltura por três ambientes culturais: o judaico,
o grego e o romano. Aliás, até mesmo entre os bárbaros foi ele bem-sucedido,
pois a todos se achava devedor. Tendo em vista o seu preparo singular, o
apóstolo veio a realizar um trabalho igualmente singular.
1.
Bíblico-Teológico. Antes mesmo de
converter-se, Paulo já era um erudito nas Sagradas Escrituras, pois fora
instruído aos pés do rabino mais sábio de seu tempo. Em sua defesa perante os
judeus de Jerusalém, o apóstolo fala, em língua hebreia, de sua herança judaica
e de seu aprendizado na Cidade Santa: “Quanto a mim, sou varão judeu, nascido
em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade aos pés de Gamaliel, instruído
conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso para com Deus, como todos vós
hoje sois” (At 22.3).
É claro que, antes de sua
conversão, Paulo estava mais preso à letra do que ao espírito do texto sagrado.
Era mais erudito que teólogo; mais acadêmico que espiritual. O seu aprendizado,
porém, não foi inútil. Quando do seu encontro com o Senhor Jesus, eis que o véu
é retirado de seus olhos, possibilitando-lhe contemplar a glória divina no
Crucificado (2 Co 3.15,16).
2. Hermenêutico e
homilético. Sem Gamaliel, não
teria Paulo a mínima condição de expor o evangelho com tanta maestria e
profundidade aos crentes de Roma. E, assim, trazendo o Antigo Testamento ao
Novo, veio a produzir a epístola mais teológica da Igreja Cristã. Afinal, tinha
o alicerce hermenêutico necessário para mostrar, à luz da Lei, dos Profetas e
dos Escritos, o messiado de Jesus Cristo e a sua obra vicária no Calvário.
O apóstolo não sabia apenas
interpretar as Escrituras; sabia, de igual modo, aplicá-las às mais diferentes
situações da Igreja. Ele demonstrava, na prática, que a Palavra de Deus era, de
fato, a regra áurea e infalível do cristão.
Que o evangelista se prepare com amoroso
esmero, pois a sua missão requer teologia, hermenêutica e homilética. Todas
essas demandas podem ser resumidas nesta recomendação que o apóstolo encaminha
a um jovem pastor, que se refinava no trabalho evangelístico: “Procura
apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar,
que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Eu gostaria que os seminários
e institutos bíblicos tivessem, como divisa, essa querida exortação paulina. Se
levada a sério, haverá de produzir evangelistas de comprovada excelência.
3. Cultural e
linguístico. Paulo, conforme já
adiantamos, podia transitar com desenvoltura por três culturas distintas: a
hebraica, a grega e a latina. Providencialmente, ele nascera e fora criado numa
cidade que, embora romana, era dominada pela cultura helena. Naquela metrópole
universitária, aprendera o grego e, mui provavelmente, o latim. Afinal, estamos
falando de um cidadão romano
ciente de seus direitos e
consciente de seus deveres.
No livro de Atos, vemos o apóstolo
comunicando-se tanto em hebraico quanto na língua grega. Ao pedir autorização
ao centurião para falar aos judeus de Jerusalém, ouviu do oficial romano uma
indagação que lhe questionava o preparo cultural: “Sabes o grego?” (At 21.37).
Em seguida, ante os seus acusadores, pôs-se a falar no idioma sagrado dos
judeus: “E, quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio
guardaram” (At 22.2).
Hoje, com a cosmopolização de nossas
cidades, sugere-se que o evangelista, além de expressar-se com e ciência e
correção em português, que também se comunique em, pelo menos, mais duas
línguas: inglês e espanhol. Afinal, de vez em quando, recebemos eventos e
certames internacionais. Eis uma excelente oportunidade para se falar de Cristo
a um campo missionário que, mesmo sem ser convocado, vem até nós. Nem sempre a
seara vem ao ceifeiro. Então, que essas oportunidades não sejam desperdiçadas.
O preparo cultural do evangelista contempla
dois campos interligados: a informação acerca de outros povos e a habilidade
linguística para se falar a todos, em todo o tempo e lugar, por todos os meios
possíveis.
4. Psicológico e
sociológico. O evangelista não
precisa ser psicólogo, nem sociólogo, para anunciar Jesus Cristo. Todavia, é
imprescindível que conheça o ser humano e a sociedade que o cerca. Doutra
forma, será um estranho entre estranhos. O apóstolo Paulo sentia-se à vontade
nos mais estranhos e variados ambientes. Entre os judeus, judeu. Falando aos
gregos, grego. Doutrinando os romanos, romano. Acolhido pelos bárbaros,
bárbaro. Se entre os sábios, sábio. Expondo Cristo aos ignorantes, ignorante,
ainda que, em Cristo, tudo soubesse.
Na proclamação do evangelho,
o apóstolo agia como amoroso psicólogo, aconselhando; e, como gentil e
compreensivo sociólogo, visitando as nações mais distantes e desconhecidas. Que
o evangelista conheça e ame o povo a que almeja alcançar.
V. A Ética do Evangelista
Acabo de ler o testamento espiritual de Billy
Graham. Pelo menos, foi a impressão que me passou o seu derradeiro livro. Em ,
o evangelista americano faz um balanço de sua vida e confessa estar ansioso (e
preparado) por encontrar-se com o Pai Celeste. Apesar de seus 98 anos,
demonstra ele uma lucidez e discernimento singulares, e ainda reúne forças para
exercer os ofícios de um amoroso pastor: aconselha os jovens, orienta os
anciãos e não deixa de fazer o que sempre fez desde que o Senhor o chamou à sua
Obra: evangelizar.
Ao repassar aquelas páginas, não pude ignorar
a elevada ética que sempre o caracterizou. Ele conclui um ministério de quase
sete décadas sem qualquer pecha moral. Por isso, a pergunta faz-se inevitável:
Qual o segredo de Billy Graham?
Na verdade, não há segredo algum. O que
existe é um forte comprometimento com a Palavra de Deus e um fundamento ético e
moral bem sólido. Já no início de sua carreira, em 1948, ele e sua equipe,
reunidos na cidade de Modesto, no Estado americano da Flórida, redigiriam um
compromisso de quatro pontos, que haveria de nortear-lhes o ministério evangelístico.
O documento, que caria conhecido como a Declaração de Modesto, trata dos
seguintes assuntos: informações, dinheiro, sexo e relacionamento eclesiástico.
O protocolo, hoje, serve de modelo aos que
buscam desenvolver um ministério itinerante que glorifique a Deus por sua ética
e compromisso com a Bíblia Sagrada. De acordo com o referido documento, o
primeiro ponto a ser observado por um pregador é a fidelidade aos relatos e
informações.
1. Ética na informação. Reza o ditado velho e matreiro: “Quem conta um
conto, aumenta um ponto”. Na arena evangelística, até que poderia haver um
provérbio semelhante: “Quem ganha algumas ovelhas, sempre acaba se ufanando de
haver conquistado um rebanho”. Buscando evitar exageros nos relatos de suas
campanhas, a Associação Evangelística Billy Graham é enérgica. A primeira
cláusula da Declaração de Modesto estabelece uma ética rígida sobre as
informações a serem transmitidas aos órgãos eclesiásticos e à imprensa:
Fica decidido que nenhuma comunicação à
mídia e à igreja será exagerada ou presunçosa. A dimensão da assistência e o
número de conversões não serão alterados, a fim de nos promover.
Nos Estados Unidos, quando se quer
exagerar algum fato, usa-se como exórdio este advérbio: “Evangelisticamente
falando”. Em seguida, descarrega-se o exagero. Já no Brasil, utiliza-se outra
expressão para alcunhar o pregador que se dá às hipérboles e às grandezas:
evangelástico. Ora, por que redimensionar os resultados de uma campanha se
basta a conquista de uma única alma para pôr os céus em festa? Consideremos,
ainda, que a missão primordial de um evangelista não é a conversão de
pecadores, mas a proclamação do evangelho. Se esta for efetuada a tempo e a
fora de tempo, as colheitas não faltarão.
Quando um pregador maquia os resultados de
seu trabalho, busca entre outras coisas o incremento do marketing pessoal, a
seletividade da agenda e a valorização dos honorários. Esquece-se ele, porém,
que a verdade aumentada jamais será verdade; será sempre mentira. O sábio
americano Benjamin Franklin (1706-1790) é incisivo quanto à veracidade dos
fatos: “A meia-verdade é frequentemente uma grande mentira”. Por
conseguinte, como pode um pregoeiro da justiça comprometer-se com a falsidade?
Se avaliarmos superficialmente os resultados do semeador da parábola,
constataremos não terem sido muito bons. Apenas um quinto de suas sementes
logrou germinar. Todavia, foi o suficiente para que o Reino de Deus
frutificasse em toda a terra.
Em Atos dos Apóstolos, Lucas busca a
precisão e a de dignidade em todas as informações que transmite a Teófilo (At
1.1-3). No Dia de Pentecostes, por exemplo, lemos que, como resultado do sermão
de Pedro, quase três mil pessoas se converteram (At 2.41). Mas, na casa de
Cornélio, as conversões talvez não chegassem a uma dezena, e nem por isso o
número deixou de ser expressivo ao Reino de Deus.
Não exageremos os resultados de nosso
trabalho. Na exposição dos fatos, nada de retórica; a verdade basta. Então, por
que inventar milagres para glorificar a Deus? Sua glória é incompatível com a
mentira. Sejamos fiéis e verdadeiros nos relatórios e informações. Se
fantasiarmos nossos feitos e façanhas, mais adiante seremos desmascarados. Quem
ganha almas não é somente sábio; é verdadeiro e modesto.
2. Ética
financeira. Se, por um lado, temos muitos pregadores que primam pela
excelência do ministério, por outro, há não poucos que só demonstram uma única
preocupação — o sucesso pessoal e o recebimento de seus honorários. Por isso, a
Associação Evangelística Billy Graham foi objetiva e clara no segundo artigo da
Declaração de Modesto:
Fica decidido que questões financeiras serão
submetidas a uma comissão de diretores para revisão e simplificação dos gastos.
Toda cruzada local manterá uma política de ‘livros abertos’ e publicará um
registro de onde e como o dinheiro é gasto.
Nessa questão, temos de ser equilibrados e
justos. De uma parte, somos obrigados a criticar os pregadores que fazem da fé
um mero negócio. Mas, de outra, não podemos louvar as igrejas que não
reconhecem o labor de quem lhes expõe a Palavra de Deus. Ao falar sobre o
trabalho dos mestres e doutores da Igreja, recomenda Paulo a Timóteo: “Devem
ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem
bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Tm 5.17,
ARA). O texto é claro e não demanda maiores exegeses: o expositor da Palavra de
Deus deve ser honrado não apenas com menções elogiosas, mas com um digno reconhecimento
financeiro.
O pregador, por seu turno, contentando-se
com o combinado, jamais fará apelos emocionais, visando angariar maiores
recursos. As ofertas e dízimos são da igreja local. Se ele for realmente ético,
nem falará em dinheiro durante as suas prédicas. E que não haja negociata entre
o pastor e o evangelista, com vistas à divisão de oferendas especiais
arrecadadas no calor das emoções e sob um clima de promessas irrealizáveis e
ameaças aterrorizantes. Não espoliemos os santos; respeitemos o povo de Deus.
Sejamos éticos e transparentes em todas as transações financeiras.
Evangelista, além de ético,
seja precavido. Não deixe de pagar a previdência e, se possível, faça um plano
de aposentadoria. O tempo passa e a velhice não demora a chegar. Aja com
sabedoria e temor a
Deus.
3. Ética sexual. Já na década de 1940, não eram poucos os pregadores
americanos que escandalizavam a igreja devido às suas incursões sexuais. Para
que isso não viesse a ocorrer com os seus membros, a Associação Evangelística
Billy Graham, na Declaração de Modesto é particularmente severa:
Fica decidido que os membros da equipe
agirão com toda prudência, a m de se resguardarem de tentações na área sexual.
Por isso, jamais carão sozinhos com uma mulher. E, mutuamente, responsabilizar-se-ão
uns pelos outros. Eles também informarão suas esposas acerca de suas atividades
ao longo das viagens, para que elas sintam-se participantes das cruzadas.
O ideal seria que os pregadores itinerantes
viajassem acompanhados de suas esposas. Infelizmente, não são muitas as igrejas
que concordam em arcar com mais essa despesa. A maioria acha que só deve
ressarcir os gastos do obreiro consigo mesmo. E se este quiser levar a esposa,
que pague do próprio bolso. Tal postura é contraproducente, pois fragiliza o
obreiro, expondo-o a riscos espirituais e morais. Não disse o próprio Deus que
não é bom que o homem esteja só?
Caso o pregador viaje desacompanhado, deve
tomar uma série de cuidados para não cair em armadilha alguma.
• Evite dar aconselhamentos
a pessoas do sexo oposto. Isso é competência (e dever) do pastor local. Sua
função é ministrar à congregação, e não dar clínicas pastorais. Se o fizer, que
esteja acompanhado de outro obreiro.
• Não receba nenhuma
mulher no saguão do hotel e muito menos no quarto. Diante do pecado, não há
super-homens. A recomendação do apóstolo é taxativa: “Fugi da prostituição.
Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca
contra o seu próprio corpo” (1 Co 6.18). Lembre-se: homens mais fortes e mais
santos do que nós caíram; portanto, tomemos muito cuidado.
• Não saia para almoçar com
pessoas do sexto oposto. Como homens de Deus, devemos evitar a aparência do
mal.
• Exija ser hospedado em
lugares que não lhe comprometam a reputação. Recuse motéis e hotéis de alta
rotatividade.
Tais cuidados são
necessários, pois é muito fácil ao pregador cair nas astutas ciladas do Diabo.
Por esse motivo, que a igreja zele por sua segurança espiritual e moral. E,
sempre que possível, financie também a vinda da esposa do pregador. Afinal,
quem ministra precisa ser devida e duplamente honrado.
4. Ética no
relacionamento eclesiástico. A
Declaração de Modesto também instrui os membros da Associação Evangelística
Billy Graham a agirem com ética no relacionamento com pastores e igrejas:
Fica decidido que os membros de nossa equipe
jamais proferirão palavras negativas a respeito de outros líderes e pregadores,
independentemente de suas denominações e posições teológicas, pois a missão do
evangelismo inclui fortalecer o corpo de Cristo bem como edificá-lo na Palavra
de Deus. Que jamais usemos o púlpito a m de caluniar outros pregadores, denegrir
rebanhos ou agir com indiscrição acerca de faltas alheias. Se estamos de pé,
agradeçamos a Deus por sua in nita misericórdia.
Quanto às igrejas de outras persuasões, por
que denegri-las? Nossa igreja acha-se também num contínuo processo de
aperfeiçoamento. E, até a volta de Cristo, constataremos haver muitas
imperfeições em nosso rebanho. Imperfeições estas, aliás, que revelam o quanto
dependemos do perfeitíssimo Deus.
Por conseguinte, que esta seja a nossa
linha de conduta no púlpito:
• Que jamais venhamos a
aviltar nossos líderes. No púlpito, mesmo que oficiosamente, somos os seus
representantes.
• Não nos imiscuamos em política,
quer eclesiástica, quer partidária. Não fomos chamados para ser homens do povo,
mas homens de Deus.
• Jamais incitemos a igreja
contra o seu pastor, nem busquemos seduzir rebanhos alheios. Nossa missão é
transmitir com fidelidade todo o conselho divino.
• Condenemos energicamente o
pecado, mas sejamos amáveis para com o pecador. O que nos teria acontecido se o
Pai não nos tivesse tratado tão amorosamente?
• Não falemos mal das outras
religiões, mas exponhamos com autoridade as virtudes do evangelho de Cristo.
Enfim, ajamos corretamente no
púlpito. O que todos esperam de nós é uma conduta digna de um verdadeiro homem
de Deus.
Não há honra tão elevada
quanto proclamar o evangelho de Cristo. Todavia, grande é nossa
responsabilidade. Por isso, roguemos a Deus que jamais venhamos a
escandalizar lhe o nome. Que a nossa conduta seja sempre digna do Rei dos reis.
E que o exemplo de Billy Graham cale profundamente em nossa alma. A Declaração
de Modesto, posto que simples, é objetiva e prática. Se lhe seguirmos as
diretrizes, poderemos concluir o nosso ministério com honra tanto diante de
Deus quanto diante dos homens. Que o senhor nos guarde de tropeçar.
Conclusão
Não sei quantas almas já ganhei. Mas uma
coisa não deixo de fazer: evangelizar pessoalmente. Às vezes, falo de Cristo
numa fila de banco; outras, num táxi; e, ainda outras, num leito hospitalar.
Nem sempre tenho condições de explanar todo o Plano da Salvação. Todavia, deixo
bem claro, ao meu interlocutor, que Jesus Cristo é a única esperança para esta
geração confusa, deprimida e sem horizontes. Com poucas palavras, você pode
livrar alguém do lago de fogo. Então, esmere-se no exercício do ministério
evangelístico, pois quem ganha almas sábio é.
Livro - O Desafio da Evangelização - Andrade de Claudionor 2016
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