domingo, 2 de maio de 2021

Lição 6: O Ministério de Apóstolo

 

TEXTO ÁUREO

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores

( Ef 4.11).

VERDADE PRÁTICA

O dom do apostolado foi concedido por Deus a Igreja com o propósito de expandir o evangelho de Cristo.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Efésios 4.7-16.

7 – Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.

8 – Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens.

9 – Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra?

10 – Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.

11 – E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,

12 – querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;

13 – até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.

14 – Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.

15 – Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.

16 – Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.

OBJETIVO GERAL

Mostrar a importância do ministério apostólico no Novo Testamento.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos

1 Investigar biblicamente o colégio apostólico.

2 Explicar o ministério apostólico de Paulo.

3 Avaliar a respeito da apostolicidade atual.

INTERAÇÃO

Prezado professor, já estudamos nas lições anteriores os dons espirituais de poder, de elocução e de revelação. A partir da lição desta semana você terá a oportunidade ímpar de estudar e ensinar a respeito dos dons ministeriais. Estes dons se encontram relacionados em Efésios 4.11. Estas dádivas divinas são igualmente importantes e necessárias para que a igreja cumpra a sua missão neste mundo e os crentes cresçam “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Sabemos que o ministério apostólico, segundo os moldes do colégio dos doze, não existe mais, todavia o dom ministerial descrito em Efésios 4.11 continua em plena vigência. Por isso precisamos orar para que Deus levante apóstolos a fim de que o Evangelho seja pregado a todas as nações.

INTRODUÇÃO

A partir da lição desta semana estudaremos os Dons Ministeriais distribuídos por Deus à sua Igreja, objetivando desenvolver o caráter cristão da comunidade dos santos, tornando-o semelhante ao de Cristo (Ef 4.13). De acordo com as epístolas aos Efésios e aos Coríntios, são cinco os dons ministeriais concedidos por Deus à Igreja: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores (1Co 12.27-29). Veremos o quanto esses ministérios são necessários à vida da igreja local para cumprir a missão ordenada pelo Senhor ante o mundo e, simultaneamente, crescer “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Mostrando a sequência de Efésios 4.11, iniciaremos o estudo pelo dom ministerial de apóstolo.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Professor, para introduzir a lição de forma dinâmica, faça a seguinte indagação: “Quais são os dons ministeriais?” Ouça os alunos com atenção e em seguida leia a relação descrita em Efésios 4.11. Depois, utilizando o quadro abaixo, explique a respeito do termo apóstolo e faça um pequeno resumo a respeito deste dom. Enfatize que Deus continua levantando apóstolos em nosso tempo. Conclua orando para que o Senhor distribua este dom entre os seus alunos.

                        SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“APÓSTOLO

Os apóstolos foram testemunhas oculares das atividades de Jesus na terra e consequentemente testificaram que Jesus era o Senhor ressurreto (Lc24.45-48; 1 Jo 1.1-3). Os pré-requisitos para a substituição apostólica nesta função única são dados em At 1.21,22. A lista de apóstolos de Lucas (Lc 6.14- 16; At 1.13) corresponde à lista dos doze dadas em Mateus 10.2-4 e Marcos 3.16-19. Mateus lista os discípulos aos pares, supostamente como enviados por Jesus. Tadeu (em Mateus e Marcos) era idêntico a Judas o filho de Tiago (em Lucas). Pedro, Tiago e João formavam um círculo íntimo dentre os doze, e estavam presentes no episódio da transfiguração (Mt 17.1-9; Mc 9.2-10; Lc 9.28-36) e no Getsêmani (Mt 26.36- 46; Mc 14.32-42; Lc 22.39-46). Os doze foram selecionados para ser os companheiros de Jesus e proclamar o Evangelho (Mc 3.14). Durante o ministério de Jesus, os doze serviram como seus representantes, uma função compartilhada por outros (Lc 10.1)” (PFEIFFER, Charles F.; REA, John; VOS, Howard F. (Eds.). Dicionário Bíblico Wycliffe. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 162).

CONCLUSÃO

Nos moldes do colégio dos doze, o ministério apostólico não existe atualmente. Entretanto, o dom ministerial de apóstolo citado por Paulo em Efésios 4.11 está em plena vigência. Pastores experimentados, evangelistas e missionários que desbravaram os rincões do nosso país ou em países inimigos do Evangelho, são pessoas portadoras desse dom ministerial. São os verdadeiros apóstolos da Igreja de Cristo hoje.

 



5

O APÓSTOLO

 “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”

(Ef 4.11).

   A partir deste capítulo, estudaremos acerca dos dons ministeriais, que identificam uma diversidade enorme de funções, ofícios e atividades, de homens, chamados por Deus, e designados pela igreja local, para exercerem a operacionalidade de serviços ou ministérios. Os dons ministeriais são indispensáveis ao “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12). Neste estudo, o texto básico para referência é o capítulo 4, da epístola de Paulo aos efésios.

  Os dons espirituais são voltados para a igreja em seu ambiente interno, congregacional, com manifestações sobrenaturais, no falar línguas estranhas, profecia, interpretação, dons de curar e outros carismas, os dons ministeriais ampliam a ação do Espírito Santo, com sua ação poderosa e sobrenatural, tanto no âmbito interno como externo, da missão da Igreja, na Terra.

   Os dons ministeriais confundem-se com aqueles a quem Deus lhes concede. Se alguém é chamado para ser evangelista, ele mesmo é um “dom”, assim como sua função de evangelizar. E Deus que concede os que podem ser chamados de “homens-dons” à igreja. Por isso, o apóstolo Paulo diz “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros evangelistas, e outros para pastores e doutores” (Ef 4.11). A expressão “ele mesmo deu” indica que o dom precede o ofício.

  Diz Donald Gee: “Se ‘Ele concedeu, está fora de dúvida não poder haver ministério divinamente ordenado sem o Seu dom”.1

    O primeiro dom ministerial que estudaremos é o de apóstolo.

  Há uma controvérsia que atravessa séculos acerca da atualidade do ministé­rio de apóstolo. Há uma corrente de estudiosos da Bíblia, que podemos chamar de “cessacionista”, a exemplo do que ocorre com a atualida­ de dos espirituais, que também entende que o ministério apostólico “cessou” com os primeiros discípulos de Cristo. Outros entendem que ainda existem apóstolos, hoje, ainda que numa conotação um tanto diferente dos primeiros doze apóstolos de Cristo.

  A Igreja Católica tem como patrimônio de fé a chamada “sucessão apostólica”, concedendo aos papas o título de “sucessores de Pedro”, considerado o primeiro papa. Além dos 12 apóstolos de Cristo, que integraram o chamado “Co­légio Apostólico”, vemos, no Novo Testamento, que outros apóstolos foram levantados por Deus, sem que nenhum se considerasse sucessor de outro. Paulo e Barnabé não pertenciam ao “grupo dos 12”; mas eram apóstolos, credenciados por Deus para realizar a missão que lhes foi confiada (1 Co 1.1; Cl 1.1; At13.46); Tiago, “irmão do Senhor”, também recebia a qualificação de apóstolo (Gl 1.19).

 Um apóstolo de Cristo, como Pedro, Tiago ou João, reunia em si diversas funções ministeriais, além da missão de evangelizar, ou de proclamar as Boas-Novas de salvação. Ele tinha que ser, além de evangelista, profeta e mestre. Podemos dizer que um apóstolo, nos primórdios da Igreja, era um homem polivalente. Nos dias atuais, após a expansão da Igreja, percebemos que o Espírito Santo quis distribuir, não só os “dons espirituais”, “repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11), mas, também, concedendo diversas operações e ministérios à igreja, através de homens, chamados por Deus com variadas missões, concedidas a cada um.

  Um dos maiores equívocos, cometidos por muitos líderes de igrejas, nos dias presentes, é o de entender que o título de “Apóstolo” lhes confere posição hierárquica superior ao de pastor, evangelista, bispo ou presbítero. Já são conhecidos exemplos diversos de obreiros, que eram detentores do título de “pastor”, devidamente ordenados por seus ministérios ou convenções, os quais arrogaram para si o título de “apóstolo”, com o objetivo de se colocarem em posição ministerial “superior” . Procedimento totalmente fora de propósito ou de fundamento escriturístico. Esquecem-se tais “apóstolos”, que a maior função, no ministério de Cristo, é o de “servo fiel” (Nm 12.7; Hb 3.5; M t 25.21-23).

I - O Colégio Apostólico

 1. O TERMO APÓSTOLO

 Na língua grega, em que foi escrito o Novo Testamento, a palavra apóstolo tem o significado de um enviado, um mensageiro ou um delegado.

  “Apóstolos. Um delegado; especialmente um embaixador do evangelho; oficialmente, uma pessoa comissionada por Cristo [um apóstolo’] (com poderes miraculosos): — apóstolo, mensageiro, aquele que é enviado” .2

  Essa é a conceituação de apóstolo, em seu sentido original. Apóstolo não é qualquer pessoa que “vai” ou que é mandada por alguém, numa visão humana. “O apóstolo é enviado por Cristo do mesmo modo pelo qual foi Ele enviado pelo Pai; e pelo menos com algo quanto de tudo implica autoridade e poder, e graça e amor”.3

 2. O COLÉGIO APOSTÓLICO

  Entende-se por “Colégio apostólico” o grupo dos 12 primeiros dis­cípulos de Jesus, que foram convidados por Ele para dar início ao seu ministério terreno.

 Primeiramente, Ele os fez discípulos ou seguidores. Jesus foi o Apóstolo Líder do Grupo dos Doze. Ele foi enviado pelo Pai (Jo 20.21). Foram três anos aproximadamente, em que eles aprenderam as verdades de Deus com o maior Mestre da História.

  Após o seu discipulado, aos pés de Cristo, e o recebimento do batismo com o Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8), aqueles 12 foram enviados para proclamar o evangelho, ou as Boas-Novas de salvação (Lc 6.13). Eles constituíram a base ministerial para o crescimento, o desenvolvimento e a expansão do Reino de Deus e da Igreja de Cristo, por todo o mundo. 3. CARACTERÍSTICA DOS APÓSTOLOS DE CRISTO

 A característica fundamental do apóstolo é ser alguém que tem uma missão a cumprir, enviado por quem tem autoridade espiritual para fazê-lo. Em seu discipulado, os doze apóstolos foram preparados para o cumprimento da missão mais importante que um mortal poderia rece­ber. Serem embaixadores do Reino de Deus. Não poderiam ser pessoas desprovidas de qualificações especiais. Eram homens comuns, humana­ mente detentores de virtudes e defeitos, mas tiveram um treinamento aos pés do Mestre dos mestres. E demonstraram possuir algumas qua­lidades especiais.

1) Foram chamados por Jesus

 Em seu ministério, Jesus teve muitos discípulos (Mt 8.21; 9.57-62). Mas, para cumprir a grande missão, Jesus selecionou apenas 12, e lhes deu credenciais e poder para se tornarem apóstolos. “E, chamando a si os seus doze discípulos...” (Mt 10.1a). Lucas anotou a eleição dos 12 dentre muitos outros. Após passar uma noite inteira em oração a Deus, “chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles a quem deu nome de apóstolos” (Lc 6.12 — grifo nosso).

2 ) Receberam autoridade espiritual

 Jesus “deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsa­rem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 10.1; Mc 3.15). Inicialmente, essa autoridade foi concedida aos doze. E, na Grande Comissão, além de mandar que seus discípulos pregassem o evangelho por todo o mundo, a toda a criatura, disse que os sinais e maravilhas haveriam de seguir a todos os que nEle cressem. Não apenas aos doze, mas “aos que crerem”, ou seja, a todos os seus discípulos (Mc 16.17, 18). E importante destacar que os doze receberam dons sobre­ naturais, antes que o Espírito Santo os colocasse à disposição da Igreja.

  3 ) Tinham delegação de Cristo

  Os 12 apóstolos não foram apenas “enviados”, mas tiveram um mandato especial. Jesus lhes disse; “Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes:Recebei o Espírito Santo. A autoridade delegada aos apóstolos foi tão grande, que eles ti­nham poder para perdoar pecados ou retê-los. Jesus os enviou, do mesmo modo como Ele fora enviado pelo Pai (Jo 20.21-23).

  Podemos imaginar o que os doze sentiram, ao ouvir aquelas pa­ lavras! Serem enviados por Cristo, e como Cristo o fora por seu Pai! Os que entenderam bem a missão devem ter sentido o grande peso de sua responsabilidade. Os que haviam sido pescadores, antes, podiam guardar as redes e suspender a pescaria. Mas, uma vez feitos “pesca­ dores de homens” (Mt 4.19; Mc 1.17), não poderiam suspender a missão. O s que outrora tinham outras atividades não tinham como voltar atrás. O mundo nunca mais foi o mesmo depois de Cristo, e depois que seus apóstolos começaram a cumprir a Grande Comissão (Mc 16.15).

II - APÓSTOLO PAULO

1.  O MENOR DOS APÓSTOLOS

  O apóstolo Paulo não pertenceu ao Colégio Apostólico. Ele próprio, humildemente, tendo sido perseguidor dos cristãos, reconheceu que não merecia ser chamado de apóstolo (1 C o 15.8,9). Sua conver­são dramática, no caminho de Damasco, revela quão é imensurável e incompreensível, à lógica humana, a misericórdia e o amor de Deus.

 2. MAIOR DOS TEÓLOGOS

  Mesmo considerando-se “o menor dos apóstolos”, Paulo revelou-se um grande servo de Deus. Algumas qualidades e atividades podem ser destacadas na vida do apóstolo, podendo ser chamado de o maior dos teólogos do cristianismo. 74

1)  Chamado por Deus

 “Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes (1 Co 1.1; 2 Co 1.1; G1 1.1).

 Os Doze foram chamados por Jesus de maneira bem natural e espontânea. Ao passar pelas margens do Mar da Galileia, Jesus simplesmente olhou para os irmãos Pedro e André, e os chamou para serem pescadores de homens (Mt 4.18,19); aos irmãos Tiago e João, os chamou da mesma forma (Mt 4.21,22). E eles o seguiram também de maneira espontânea. O chamado de Paulo foi bem diferente. A caminho de Damasco, com ordens dos sacerdotes para prender os cristãos, foi interrompido por Jesus, de maneira sobrenatural e impactante. Derrubado ao chão, Paulo teve o chamado de Deus de forma tão dramática, que caiu, ouvindo a potente voz do Senhor, que o abatera em seu orgulho e presunção, quando julgava estar fazendo a vontade de Deus no zelo do judaísmo (At 9.4; 22.7; At 9.10-19).

  Deus tem seus caminhos e suas maneiras de agir, às vezes muito estranhas (cf. Is 28.21). Diante de um chamado tão singular e diferente dos demais apóstolos, Paulo tinha razão em dizer que era chamado pela vontade de Deus e não dos homens. Até seu nome foi mudado, de Saulo (hb. Sha 'ul, o que fo i pedido) para Paulo (gr. Paulus, baixo, pequeno, humilde), após ser convocado pelo Espírito Santo para ser enviado para a missão (At 13.8).

2 ) Paulo teve experiências com Deus

  Um verdadeiro apóstolo é homem que deve ter comunhão e expe­ riência com Deus. Paulo, não obstante não ter convivido com Jesus como os demais apóstolos, teve experiências espirituais que os outros não tiveram. E essas experiências fortaleceram sua vida espiritual e so­lidificaram o seu relacionamento com Cristo. Ele diz que teve “visões e revelações do Senhor” (1 Co 12.1); com bastante modéstia, falando na terceira pessoa, diz que “foi arrebatado ao terceiro céu” ... “e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar” (1 Co 12.2,4). Que palavras foram essas, só Deus e Paulo sabem.

3 ) Paulo era um homem de grande cultura

  Desmistificando a crença ou “doutrina” de que Deus só usa pessoas de pouca instrução, o exemplo de Paulo é bem marcante. Era homem de alto conhecimento bíblico e teológico, discípulo de Gamaliel, um dos mestres do judaísmo (At 22.3). Paulo era um intelectual poliglota. Falava hebraico, por ser judeu e fariseu (At 22.2); por ser cidadão romano (At 22.25), falava latim; suas epístolas foram escritas em grego, o que dá a entender que, sendo um homem culto de sua época, falava a língua helénica; e, como judeu zeloso, certamente, falava o aramaico, que era língua usual, nos meios intelectuais de sua época.

  Em sua soberania, e segundo seus propósitos divinos, Jesus resolveu contrariar a lógica humana, e chamar um per­ seguidor do evangelho para ser salvo e fazer dele um apóstolo dos mais destacados entre os que quis escolher. Enquanto alguns de seus primeiros discípulos, do grupo dos Doze, eram humildes pescadores, de menor grau de instrução, Paulo era um homem intelectual, que haveria de levar o evangelho aos gentios, ou gentes de todas as nações, fora de Israel, inclusive aos “reis” ou gover­nantes de povos estrangeiros. Além dessa característica marcante, em seu ministério, Paulo foi o grande teólogo e intérprete dos evangelhos de Cristo.

  Dos 27 livros do Novo Testamento, 13 foram escritos por ele. E ainda resta dúvida se a epístola aos hebreus também foi de sua autoria. Não foi por acaso que Paulo foi o primeiro apóstolo a levar o evan­gelho de Cristo à Europa. Ele foi o grande evangelizador do Império Romano (Rm 15.24,28). Em suas viagens missionárias, levou o evange­lho de Cristo a cidades de Israel, passou pela Turquia, pela Ásia Menor; pregou na Macedônia, na Acaia, na Grécia, centro cultural da Europa, à época; e, em sua última viagem missionária, reviu discípulos nas igre­jas que fundara, e terminou em Roma, para onde foi levado preso, e pregou na capital do Império mundial da época. Concluiu sua extra­ ordinária missão, declarando solenemente: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).

III - APOSTOCIDADE ATUAL (EF 4.11)

  Esse tópico pode partir de perguntas que são feitas por muitos: Ain­da há apóstolos nos dias atuais? O ministério apostólico, nos moldes dos Doze, continua hoje? Existe uma “sucessão apostólica”? Há inter­pretações diversas. Preferimos analisar o tema com humildade e respei­ to ao que nos revela a Palavra de Deus. E, para efeito de compreensão do assunto, categorizamos o ministério apostólico em dois aspectos:

 1. NO SENTIDO ESPECIAL

  Aplicamos este termo ao que já vimos no item 1.1, ao “Colégio Apostólico”, ou aos Doze discípulos que foram selecionados por Jesus, e enviados como apóstolos para dar início à Grande Comissão (Mc 16.15). Apóstolos como eles não existem mais. Eles eram apóstolos no sentido estrito da palavra, e nas circunstâncias em que foram chamados e enviados por Jesus.

1) Estiveram com Cristo, durante todo o seu ministério terreno Enquanto Paulo aprendeu “aos pés de Gamaliel”, os Doze aprende­ram aos pés de Jesus, o Mestre dos mestres, no mais perfeito curso de evangelização e discipulado que alguém poderia realizar.

  Próximo à sua morte, Jesus lhes disse: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações” (Lc 22.28). O fato de ter visto a Cristo não é condição exclusiva, pois Paulo também o viu (1 Co 9.1,2). Mas o terem aceito seu chamado diretamente de sua parte; de terem caminhado du­rante cerca de três anos, ao seu lado, ouvindo sua palavra, e vendo seus milagres; de terem comido e dormido ao seu lado, muitas vezes sem ter “onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20); só os Doze compartilharam momen­tos tão expressivos da humanidade, bem como da divindade de Cristo.

2 ) Eles estiveram com Jesus, após a sua ressurreição

  Outros discípulos também estiveram com Jesus, como os do Caminho de Emaús (Lc 24.13-31). Mas os que compartilharam da companhia do Senhor, de modo privado e especial, foram os 11, visto que Judas traiu o Mestre e foi para o seu destino trágico.

 “ Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes:

 Paz seja convosco! E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20.19-21).

3 ) Receberam a Grande Comissão

  O mandato para evangelizar o mundo é destinado a todos os crentes em Jesus, a toda a Igreja do Senhor. Mas os Doze receberam a ordem missionária, diretamente da boca de Jesus (Mc 16.15). Jesus não disse aos Doze que eles fizessem apóstolos, mas sim, discípulos em todas as nações (Mt 28.18-20).

4 ) Os Doze terão seus nomes nos fundamentos da Nova Jerusalém

 Esse importante detalhe, registrado no Apocalipse, certamente, constitui argumento mais que suficiente para se entender, que o apostolado especial dos Doze, que constituíam o Colégio Apostólico, não é repetido em nenhuma fase da História da Igreja. João viu esse singular privilégio, concedido unicamente aos que seguiram Jesus, durante o seu ministério terreno (Ap 21.12-14).

 2. NO SENTIDO GERAL

  Já ressaltamos o envio dos “setenta” discípulos, que, sendo enviados, de dois em dois, cumpriram o papel de apóstolos. Mas, além deles, o Novo Testamento também cita outros exemplos de apóstolos, como Paulo, que se considerou a si mesmo “o menor dos apóstolos” por ter perseguido “a igreja de Deus” (1 Co.15.9; Rm 1.1; 2 Co 1.1); ele viu a Jesus Cristo (1 Co 9.1). Barnabé também foi reconhecido como apóstolo (At 14.14). Havia “outros apóstolos”, a que Paulo se referia em sua carta aos romanos (Rm 16.7) e em outras epístolas (G1 1.19; 1 Ts 2.6,7).

1) A liderança dos apóstolos

  Segundo o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal, os apóstolos “Eram homens de reconhecida e destacada liderança espiritual, ungidos com poder para defrontar-se com os poderes das trevas e confirmar o Evangelho com milagres. Cuidavam do estabelecimento de igrejas, segundo a verdade e pureza apostólicas”. Eles tinham a mensagem “original” de Cristo, e náo eram apóstolos, com alguns, hoje, que apresentam um “evangelho genérico”, antropocêntrico e deturpado, com ensinos que não têm fundamento bíblico, como a falsa “teologia da prosperidade”, a absurda “confissão positiva”, o “teísmo aberto” e outros da mesma natureza.

2 ) A itinerância dos apóstolos

  Diz, ainda, a Bíblia de Estudo Pentecostal que os apóstolos “Eram servos itinerantes que arriscavam suas vidas em favor do nome de nos­ so Senhor Jesus Cristo e da propagação do evangelho (At 11.21-26; 13.50; 14.19-22; 15;25,26).

  No presente, vemos “apóstolos”, que nun­ca foram além dos limites da cidade onde vivem e assumiram a direção de uma igreja. São “presidentes” de igrejas, radicados e estabelecidos em domínios eclesiásticos bem característicos.

  Os que se consideram “apóstolos”, hoje, em geral, adquiriram tal “posição”, após terem sido ordenados a evangelista ou pastor, ou bispo, o que lhes confere a ideia de que estão em posição hierárquica superior. Nada mais inadequado para um verdadeiro apóstolo de Cristo, que deve ser, antes de tudo, um servo ou um servidor e não alguém em grau de superioridade.

3 ) A ordem de fazer discípulos

 A expressão “ensinai todas as nações”, no texto bíblico original (Mt 28.19), escrito em grego, tem o sentido de fazer discípulos. A tradução mais aproximada seria “ide, fazei discípulos em todas as nações”.

 “ O propósito da Grande Comissão é fazer discípulos que observarão os mandamentos de Cristo.

  Este é o único imperativo direto no texto original deste versículo” . De modo mais didático e direto, lemos, na Bíblia de Estudo Palavras-Chave sobre o versículo de M t 28.19: “3.100 ( mathêteuo), intransitivo, tornar-se um aluno-, transitivo, ser discípulo, i.e., inscrever-se como estudante: — ser discípulo, instruir, ensinar. O termo correlato, mathetês (3101), “discípulo. Ser discípulo de alguém (M t 27.57); treinar como discípulo, ensinar, instruir; por exemplo, a Grande Comissão (Mt 28.19). Também Mateus 13.52; Atos 14.21” .5 (grifos nossos).

3. O MINISTÉRIO DE CARÁTER APOSTÓLICO ATUAL

  Como demonstrado, o ministério dos Doze, ou do colégio apostóli­co, não se repete. Nenhum dos Setenta, nem qualquer dos apóstolos da Igreja Primitiva; ou dos tempos antigos, modernos, atuais, ou futuros, jamais terá seu nome nos fundamentos da Nova Jerusalém. Aqueles Doze foram únicos. Não há sucessão apostólica, como entende a Igreja Católica.

 Referindo-se aos apóstolos de Jesus, no sentido especial, a Bíblia de Estudo Pentecostal diz: “O ministério de apóstolo nesse sentido restrito é exclusivo, e dele não há repetição.

  Os apóstolos originais do Novo Testamento não têm sucessores”.6 Atualmente, o que podemos ver como ministério de caráter apostó­lico, é o trabalho dos missionários, quando são enviados para desbravar campos, em países de povos não alcançados pelo evangelho de Cristo. Se um missionário vai assumir um trabalho que já está estabelecido, cujas bases e desenvolvimento deveram-se ao esforço de outros companheiros, não pode dizer que faz um trabalho de apóstolo, e sim, de pastor ou evangelista. Paulo ensina que Jesus, depois de subir ao alto e levar “cativo o cati­veiro”, “deu dons aos homens” .

  Observando o texto bíblico, de Efésios 4.11, lemos: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (E f 4.11,12). Esses “homens-dons”, concedidos por Deus e seus ofícios ou ministérios, têm por finalidade alcançar a “unidade do Espírito” (E f 4.3), visando “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” e a “edificação do corpo de Cristo”. Dessa forma, se existe atualidade para os ofícios de “profetas”, “evangelistas” e “doutores” ou “mestres”, por que não deveria haver atualidade do ofício do apóstolo? Sem dúvida alguma, o ministério de caráter apostólico deve ser de­ senvolvido, na atualidade, ao lado dos demais ministérios, indispensáveis à unidade e à edificação do corpo de Cristo.

  Homens como John Wesley, William Carey, cognominado “pai das missões modernas” ; Adoniran Judson, Hudson Taylor, D . L. Moody, Jorge Müller, Smith Wigglesworth, Gunnar Vingren, Daniel Berg, Richard Wurmbrand, e tantos outros, em tempos mais recentes, podem ser considerados ver­ dadeiros apóstolos de Jesus. São homens que expuseram suas vidas para levar a mensagem do evangelho aos mais longínquos lugares do mundo.

  Patzia afirma: “Visto que a Igreja de hoje não tem lugar para o cargo de apóstolo, por exemplo, a tentação é encontrar-se uma contrapartida contemporânea nos líderes eclesiásticos, como superintendentes ou supervisores”.7 H á realmente, essa “tentação”, de se buscar aplicação para o termo “apóstolo”, a funções que pouco ou nada têm de apostólicas.

Conclusão

  Concluindo, podemos afirmar com bastante fundamento escriturístico, que o ministério apostólico, nos moldes do Colégio Apostólico, não existe mais. Porém, o ministério de caráter apostólico, desenvolvido por missionários e evangelizadores, com a finalidade de estabelecer igrejas, em diversos lugares, é perfeitamente atual.

  Velhos pastores, que, nos primórdios da evangelização do País, andaram a pé, no lombo de jumentos ou de cavalos, de canoa, de jangadas ou barcos, muitas vezes não tendo lugar certo para pousar, também podem ser considerados apóstolos modernos, ainda que seus cargos fossem de pastores ou de evangelistas. Nos dias atuais, também há homens e mulheres de Deus, arriscando suas vidas, em países inimigos do evangelho. São verdadeiros apóstolos da Igreja de Jesus Cristo.

Dons Espirituais e Ministeriais

Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário

- Elinaldo Renovato de Lima

 


Os dons ministeriais (2ª Parte)

por Antonio Gilberto

Como havíamos prometido, vejamos nesta semana o dom ministerial de apóstolo.

O termo apóstolo significa literalmente enviado. No original, o verbo e o substantivo aparecem em passagens como Hebreus 3.1, João 20.21, Mateus 10.15, Lucas 6.13, Atos 13.4 e 14.14, Gálatas 1.1,19, Romanos 16.7, 2 Coríntios 8.23 e Filipenses 2.25. Nos dois últimos textos, o termo não aparece no sentido ministerial.

O apóstolo é a mais alta ordem na escala de ofícios do ministério no Novo Testamento (1Co 12.28; Ef 3.5 e 4.11). A diferença de ministério entre o apóstolo e o evangelista está bem definida em Atos 8, na evangelização de Samaria. No ministério de Felipe como evangelista, destaca-se a pregação e a conversão dos pecadores (At 8.5-13). No ministério de Pedro e João como apóstolos, destacam-se o estabelecimento firme da obra e a consolidação dos resultados da evangelização (At 8.14,25). De fato, em Gálatas 2.9, Pedro e João (apóstolos) são tidos como colunas.

Os apóstolos têm sua liderança espiritual confirmada por provas e sinais (2 Co 12.12). Eles lançam os fundamentos iniciais de uma obra através da doutrina e da liderança (1Co 3.10; Ef 2.20). São eles que estabelecem, no início do trabalho, os fundamentos da doutrina (At 2.42) e provê em a adequada liderança espiritual.

O apóstolo vela com cuidado pela obra, no sentido geral e coletivo (2Co 11.28 e At 15.16). Esse cuidado geral e coletivo inclui viagens e comunicação constante com a obra. Vemos isso no livro de Atos, nas epístolas e através da História da Igreja. Os apóstolos, em virtude de sua missão, eram móveis. Não se fixavam em um lugar. Eram embaixadores de Deus.

O ministério apostólico também é caracterizado pela elevada autoridade conferida pelo Senhor (At 1.2 e 2Pe 3.2). A autoridade apostólica está sobre todos os demais ministérios (1Co 12.28). Nesse sentido, os apóstolos são "livres" para executarem serviços especiais de grande importância na igreja (1Co 9.11).

Os doze apóstolos do Cordeiro formam um grupo distinto (Jd 17). Eles colocaram o alicerce da Igreja (Ef 2.20 e Ap 21.14). São apóstolos num sentido único. Alguns exemplos de apóstolos da Igreja independentes do grupo dos doze chamados apóstolos do Senhor são Paulo e Barnabé (At 14.14), Andrônico e Júnias (Rm 16.7), e Tiago, irmão do Senhor (Gl 1.19). O próprio Paulo se declara apóstolo em Romanos 1.1 e 1 Coríntios 1.1.

   por Antonio Gilberto

 


               NOTAS:

A escolha que JESUS fez dos doze discípulos que gradualmente se reuniram ao seu redor é uma importante referência na história do evangelho.

Tal ato divide o ministério do nosso Senhor em duas partes provavelmente muito semelhantes quanto à duração, mas diferentes quanto à extensão e a importância do trabalho realizado em cada uma. No período inicial JESUS trabalhou sozinho; suas obras milagrosas estavam confinadas a uma área limitada, e seu ensino era, em sua maior parte, de caráter elementar. Mas na ocasião em que os doze foram escolhidos, a obra do reino "assumiu dimensões que requeriam organização e divisão de trabalho. O ensino de JESUS estava começando a ser de natureza mais profunda e elaborada, e suas atividades beneficentes estavam crescendo muito.

  E provável que a escolha de um número limitado de discípulos para ser seus companheiros íntimos e constantes tenha se tornado uma necessidade para CRISTO, em conseqüência de seu próprio sucesso ao fazer discípulos. Seus seguidores eram tão numerosos a ponto de serem um impedimento aos seus movimentos, especialmente nas longas jornadas que marcam a parte posterior de seu ministério. Era impossível que todos os que criam pudessem então continuar a segui-lo de modo literal, para onde quer que Ele fosse: o grande número de pessoas agora poderia ser apenas de seguidores ocasionais. Mas era seu desejo que alguns homens escolhidos estivessem consigo em todos os momentos e em todos os lugares — seus companheiros de viagem em todas as suas jornadas, testemunhando toda a sua obra e ministrando às suas necessidades diárias. E assim, nas palavras singulares de Marcos: “E subiu ao monte e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele. E nomeou doze para que estivessem com ele...”.

  Estes doze, contudo, como sabemos, deveriam ser mais que meros companheiros de viagem ou servos comuns do Senhor JESUS CRISTO. Eles deveriam ser, então, aprendizes da doutrina cristã, e ocasionais cooperadores das obras do reino, e mais tarde agentes treinados, escolhidos por CRISTO para propagar a fé depois que Ele deixasse a terra. A partir do momento em que foram escolhidos, de fato, os doze iniciaram um aprendizado regular para o grande ofício do apostolado, no curso do qual deveriam aprender, na privacidade de um relacionamento íntimo diário com seu Mestre, como deveriam ser, agir, crer, e ensinar como suas testemunhas e seus embaixadores no mundo. Doravante o treinamento desses homens deveria ser uma parte constante e proeminente da obra pessoal de CRISTO. Ele os orientava à noite a respeito do que deveriam falar de dia, e falava aos seus ouvidos o que nos anos posteriores anunciariam publicamente.

   A ocasião em que ocorreu essa eleição (embora não se conheça tal data com precisão) é fixa em relação a certos eventos-chave da história do evangelho. João se refere aos doze como uma companhia organizada na ocasião em que o Senhor realizou o milagre de alimentar mais de cinco mil pessoas, e do discurso sobre o Pão da vida na sinagoga de Cafarnaum, proferido pouco tempo após aquele milagre. Desse fato aprendemos que os doze foram escolhidos pelo menos um ano antes da crucificação; pois o milagre da multiplicação dos alimentos ocorreu, de acordo com o quarto evangelista, logo após a festa da Páscoa. A partir das palavras ditas por JESUS aos homens que havia escolhido, transmitindo a sua pergunta em relação à fidelidade devida a ele depois da multidão tê-lo abandonado: “Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo”, concluímos que a escolha não era tão recente. Os doze haviam estado juntos durante tempo suficiente para dar ao falso discípulo a oportunidade de mostrar o seu verdadeiro caráter.

  Voltando agora aos evangelistas sinópticos, encontramo-los tentando estabelecer a posição da eleição em referência a dois outros eventos ainda mais importantes. Mateus fala pela primeira vez dos doze como um corpo distinto em relação à sua missão na Galiléia. Ele não diz, contudo, que foram escolhidos imediatamente antes e com referência direta a tal missão. Antes, fala como se a fraternidade apostólica já existisse anteriormente, sendo estas as suas palavras: “E, chamando os seus doze discípulos...”

  Lucas, por outro lado, faz um relato formal da eleição, como um prefácio de seu relatório do Sermão da Montanha, dando a impressão de que um evento ocorreu logo após o outro.

  Finalmente, a narrativa de Marcos confirma o ponto de vista sugerido por essas observações de Mateus e Lucas, isto é, os doze foram chamados pouco antes da realização do Sermão da Montanha, e um tempo considerável antes de terem sido enviados em missão para pregar e curar. Está escrito: “E subiu ao monte e chamou para si os que ele quis” — a subida obviamente se refere à ocasião em que JESUS subiu antes de pregar seu grande discurso. Marcos continua: “E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar e para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios”. Aqui há uma alusão feita a uma intenção da parte de CRISTO de enviar seus discípulos em uma missão, mas a intenção não é representada e imediatamente executada. Nem pode ser dito que a execução imediata esteja implícita, embora não tenha sido expressa; o evangelista faz um relato da missão como consta em vários capítulos seguintes em seu Evangelho, iniciando com estas palavras: “Chamou a si os doze, e começou a enviá-los de dois a dois...”.

  Deve ser considerado, então, como toleravelmente certo, que o chamado dos doze tenha sido um prelúdio à pregação do grande sermão sobre o reino, em cuja fundação eles teriam, posteriormente, uma participação ainda mais distinta. Não podemos determinar com exatidão em que período do ministério de nosso Senhor o sermão em si deve ser precisamente alocado. Nossa opinião, contudo, é que o Sermão da Montanha foi proferido próximo ao primeiro ministério prolongado de CRISTO na Galiléia, durante o tempo passado entre as duas visitas a Jerusalém em ocasiões de festas mencionadas no segundo e no quinto capítulo do Evangelho de João.

  O número da companhia apostólica é significativo e, sem dúvida, uma questão de escolha, assim como a composição daquele grupo seleto. Um número maior de homens elegíveis poderia ser facilmente encontrado no círculo de discípulos que, mais tarde, não se tornou menor que setenta auxiliares na obra evangelística; e um número menor pode ter servido a todos os propósitos presentes ou futuros do apostolado. O número doze foi recomendado por óbvias razões simbólicas. Expressava de uma forma feliz e figurada o que JESUS reivindicava ser e o que veio fazer e, deste modo, fornecia apoio à fé e estímulo à devoção de seus seguidores. Isto sugeriu de forma significativa que JESUS era o divino Rei messiânico de Israel, que veio para estabelecer o reino cujo advento fora anteriormente previsto pelos profetas em linguagem fervorosa, sugerida pelos dias de felicidade da história de Israel, quando a comunidade teocrática existia em sua integridade, e todas as tribos da nação escolhida eram unidas sob a casa real de Davi. Sabemos que o número doze estava designado a conter tal significado espiritual através das próprias palavras de CRISTO aos apóstolos em uma ocasião posterior, quando, ao descrever as recompensas que os esperavam no reino pelos serviços e sacrifícios prestados, Ele disse: “Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel”.

   É possível que os apóstolos conhecessem muito bem a importância espiritual do seu número, e tenham encontrado nele o encorajamento para a terna e ilusória esperança de que a vinda do reino não deveria ser apenas um cumprimento espiritual das promessas, mas uma restauração literal de Israel em relação à sua independência e integridade política. O risco de tal equívoco era um dos obstáculos relacionados ao número doze em particular, mas não foi considerado por JESUS como uma razão suficiente para estabelecer outro. Seu método de procedimento nesse caso, como em todas as coisas, era continuar o que era verdadeiro e certo, e então corrigir os equívocos à medida que surgissem. Do número do grupo apostólico passamos para as pessoas que o compõem. Sete dos doze — os primeiros sete na lista de Marcos e Lucas, presumindo que Bartolomeu seja Natanael — são pessoas já conhecidas por nós. Dois dos cinco restantes — o primeiro e o último — conheceremos bem à medida que avançarmos na história.Tomé, chamado Dídimo ou o Gêmeo, aparece como um homem de coração terno, mas de temperamento melancólico, pronto para morrer por seu Senhor, mas lento para crer em sua ressurreição. Judas Iscariotes é conhecido em todo o mundo como o Traidor. Ele aparece pela primeira vez nessa lista de apóstolos com o título infame marcado em sua testa: “Judas Iscariotes, aquele que o traiu”. A presença de um homem capaz de trair entre os discípulos eleitos é um mistério no qual não devemos tentar penetrar. Meramente fazemos aqui uma observação histórica sobre Judas — ele parece ter sido o único não galileu entre os doze. Seu sobrenome veio aparentemente de seu lugar de origem, Queriote; e no livro de Josué podemos constatar que existia uma cidade com tal nome na fronteira do sul da tribo de Judá.

  Os três nomes que restam são extremamente obscuros. Tiago, filho de Alfeu. O próximo na lista de Mateus e Marcos é apontado por muitos como sendo o irmão deste Tiago. Lebeu e Tadeu dos dois primeiros Evangelhos, encontrarmos na lista de Lucas o nome Judas “... de Tiago”. A elipse nesta designação foi preenchida pela palavra irmão, e presume-se que o Tiago aludido seja Tiago, filho de Alfeu. Independentemente de quão tentador esses resultados possam ser, não podemos considerá-los como apurados, e devemos nos satisfazer com a idéia de que em meio aos doze havia um segundo Tiago, além do irmão de João e filho de Zebedeu, e também um segundo Judas, que novamente aparece como um interlocutor na conversa de despedida entre JESUS e seus discípulos na noite anterior à crucificação, cuidadosamente distinguido do traidor, pelo evangelista, através da anotação parentética: “não o Iscariotes”. Este Judas, que é o próprio Lebeu ou Tadeu, foi chamado de discípulo de três nomes.

  O discípulo a quem reservamos o último lugar, como aquele que fica no topo de todas as listas, é Simão. Este segundo Simão é desconhecido, enquanto o primeiro é notório, porque não é mencionado na história do evangelho, exceto nas listas dos apóstolos; e assim, pouco se sabe a respeito dele, o apelido anexado ao seu nome leva a uma informação curiosa e interessante. Ele é chamado de kananita (não de cananita), o que é uma designação política e não geográfica, como consta no termo grego que Lucas usou para substituir o termo hebraico, chamando o discípulo do qual falamos de Simão, o zelote. Este apelido, zelote, relaciona Simão indiscutivelmente ao famoso partido que surgiu da rebelião sob a coordenação de Judas nos dias da taxação, aproximadamente vinte anos antes do início do ministério de CRISTO, quando a Judéia e Samaria ficaram sob o comando direto do governo de Roma, e o censo populacional foi feito com a intenção de se impor uma tributação subseqüente.

  Que fenômeno singular foi a presença desse ex-zelote entre os discípulos de JESUS! Dois homens não poderiam diferir mais em relação ao seu espírito, metas, e pretensões do que Judas (o líder dos zelotes) e JESUS de Nazaré. Um era um político descontente; o outro, completamente vencedor, daria a César o que era de César. O primeiro desejava a restauração do reino de Israel, adotando como lema: “Nós não temos um Senhor ou Mestre, exceto DEUS”; o segundo desejava a fundação do reino que não era nacional, e sim universal; não deste mundo, e sim “puramente espiritual”. Os métodos empregados pelos dois eram tão diferentes quanto os seus objetivos e fins. Um havia recorrido às armas carnais de guerra, a espada e o punhal; o outro confiava apenas na força bondosa e amável, porém onipotente, da verdade.

  Não sabemos o que levou Simão a deixar Judas (o líder dos zelotes) para seguir JESUS; mas ele fez uma troca feliz para si, pois anos depois o partido que ele abandonou atraiu a ruína para si e seu país devido a seu patriotismo fanático, inconseqüente e inútil. Embora a insurreição de Judas fosse subjugada, o fogo do descontentamento ainda queimava no peito dos seus adeptos; e com o tempo, eclodiu na fogueira de uma nova rebelião, que fez surgir uma luta mortal contra o poder gigantesco de Roma, e terminou na destruição da capital do judaísmo, e na dispersão do povo judeu.

  A escolha desse discípulo para ser um apóstolo fornece uma outra ilustração do desprezo de CRISTO pela sabedoria humana. Não era seguro transformar um ex-zelote em um apóstolo, porque ele poderia ser o meio de transformar JESUS e os seus seguidores em objetos de suspeitas políticas. Mas o Autor da nossa fé estava disposto a correr este risco. Ele desejava ganhar tanto discípulos das classes perigosas como das classes desprezadas, e queria que também estivessem representados entre os doze.

  É uma surpresa agradável pensar que Simão, o zelote, e Mateus, o publicano, homens de posições opostas, estivessem juntos e em comunhão naquele pequeno grupo de doze pessoas. Na pessoa desses dois discípulos os extremos se tocam — o ex-coletor de impostos e aquele que odiava os impostos: o judeu que não era patriota, que havia se degradado ao se tornar um servo do governante estrangeiro, e o judeu patriota, que se irritava com o domínio estrangeiro, e suspirava pela emancipação.

  Esta união dos opostos não era acidental, mas havia sido designada por JESUS como uma profecia daquilo que aconteceria no futuro. Ele desejava que os doze fossem a igreja em miniatura ou como o seu embrião; e assim, Ele os escolheu para que a distinção entre publicanos e zelotes não existisse, e então na igreja do futuro não deveria haver nem gregos nem judeus, circuncisão ou incircuncisão, escravos ou livres, mas somente CRISTO — Ele é tudo em todos e todos estão nele. Estes eram os nomes dos doze conforme consta nas listas dos evangelistas.   Quanto à ordem são apresentados, examinando-se cautelosamente as listas, podemos observar que elas contêm três grupos de quatro pessoas, e em cada um deles os mesmos nomes são sempre encontrados, embora a ordem não seja a mesma. O primeiro grupo inclui aqueles que são mais conhecidos, o segundo inclui aqueles que são pouco menos conhecidos, e o terceiro inclui aqueles que são os menos conhecidos de todos, exceto no caso do traidor, que ficou muito bem conhecido. Pedro, a figura mais proeminente entre os doze, está no topo de todas as listas, e Judas Iscariotes no rodapé, cuidadosamente designado, conforme já foi observado, como o traidor.  

  E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos: Simão, ao qual também chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. Lucas 6:13-16

   Estes foram os homens que JESUS escolheu para o acompanharem enquanto estivesse nesta terra, e para dar continuidade à sua obra depois de sua partida. Estes são os homens que a igreja celebra como “a companhia gloriosa dos apóstolos”. O louvor é merecido; mas a glória dos doze não era deste mundo. Sob um ponto de vista mundano, alguns podem considerá-los, de fato, uma companhia insignificante — um grupo de pobres e iletrados galileus provincianos, totalmente desprezados, privados das características sociais mais elevadas, com mínimas chances de serem escolhidos por alguém que valorizasse as considerações da prudência.

  Por que JESUS escolheu tais homens? Teria Ele sido levado por sentimentos de antagonismo por aqueles que possuíam vantagens sociais, ou uma predileção por homens de sua própria classe? Não; sua escolha foi feita com base na verdadeira sabedoria. Se Ele escolheu principalmente os galileus, não foi por preconceito provincial contra aqueles do sul; se, como algumas pessoas pensam, Ele escolheu dois ou mesmo quatro de seu próprio parentesco, não foi por nepotismo; se Ele escolheu homens rudes, ignorantes, humildes, não foi movido pela inveja do conhecimento, da cultura, ou da boa origem. Se qualquer mestre, homem rico, ou governante estivesse disposto a se entregar sem reservas ao serviço do reino, nenhuma objeção teria sido feita a ele em virtude de suas habilidades, posses ou títulos.   

 O caso de Saulo de Tarso, o pupilo de Gamaliel, prova a verdade dessa afirmação. Nem mesmo o próprio Gamaliel poderia ter impedido que Paulo se tornasse um discípulo do Nazareno. Mas sim! Nem ele nem nenhuma de suas ordens chegariam tão longe. Por esta razão o desprezado Senhor não teve nenhuma oportunidade de mostrar sua disposição de aceitá-los como díscípulos e escolhê-los como apóstolos.

  A verdade é que JESUS quis se contentar com pescadores, publicanos, e antigos zelotes como apóstolos. Eles eram o melhor que se poderia obter. Aqueles que se consideravam melhores, eram também muito orgulhosos para se tornarem discípulos, e por isso se excluíram do que o mundo considera agora como a honra de serem os príncipes escolhidos do reino. A aristocracia civil e religiosa se gabava de sua descrença. Os cidadãos de Jerusalém se sentiram, por um momento, interessados no jovem entusiasta que havia purificado o templo com um chicote de correias curtas; mas a fé deles era superficial e sua atitude era defensiva, e por isso JESUS não se entregou a eles, porque sabia o que havia no interior de cada um deles. Alguns poucos eram simpatizantes sinceros, mas não estavam decididos quanto ao seu ingresso na eleição para o apostolado. Nicodemos mal era capaz de dizer uma tímida palavra apologética a favor de CRISTO, e José de Arimatéia foi um discípulo “secretamente”, por medo dos judeus. Estes dificilmente seriam os homens certos para ser enviados como missionários da cruz — homens tão presos aos laços sociais e conexões partidárias, e tão escravizados pelo medo dos homens. Os apóstolos do cristianismo devem ser feitos de material rígido.

  E assim JESUS preferiu optar pelos homens da Galiléia: rústicos, porém simples, sinceros e motivados. E Ele ficou bastante satisfeito com sua escolha, e devotadamente agradeceu a seu Pai por ter-lhe concedido homens como esses. JESUS não desprezaria a erudição, a posição, a riqueza, o requinte, voluntariamente deixados em razão de seu serviço; mas preferia homens devotos que não tivessem nenhuma dessas vantagens a homens não devotos que tivessem todas elas. E com uma forte razão; isso importava muito pouco, exceto aos olhos do preconceito contemporâneo, para o qual a posição social ou mesmo a história prévia dos doze teria algum significado. O importante é que eram espiritualmente qualificados para o trabalho que foram chamados a fazer. Ou seja, o que importa não é o exterior do homem, mas o seu interior. João Bunyan foi um homem de origem simples, de posição inferior, e até à sua conversão tinha hábitos pouco louváveis; mas era por natureza um homem capacitado e, pela graça, um homem de DEUS. Ele teria se tornado — como de fato foi — um dos apóstolos mais eficientes.

A.  B. BRUCE. O Treinamento dos Doze. Editora CPAD. pag. 44-54.

 

  “Até que do alto sejais revestidos de poder”. Esta expressão tem um som místico, e o seu sentido parece difícil de definir; contudo, o sentido geral é, certamente, simples o bastante. Ela significou não total ou principalmente um poder para operar milagres, mas justamente o que JESUS tinha dito em seu discurso de despedida, antes de sua morte. Este poder que vem do alto significa tudo o que os apóstolos receberiam através da missão do Consolador — esclarecimento da mente, dilatação do coração, santificação de suas faculdades e transformação de caráter, para torná-los espadas afiadas e flechas polidas para subjugar o mundo à verdade; essas qualidades, ou o efeito combinado delas, constituíram o poder que JESUS direcionou os onze a esperar. O poder, portanto, era espiritual, não mágico; uma inspiração, não uma possessão; um poder que não agiria como uma força fanática cega, mas que se manifestaria como um espírito de amor e de uma consciência sã. Depois que o poder desceu, os apóstolos não se tornaram menos racionais, porém mais racionais; não loucos, mas sóbrios; não meros entusiastas inflamados e vazios, mas entusiastas equilibrados, claros e dignos expositores da verdade divina, tal como o relato de Lucas sobre o seu ministério. Em resumo, estavam prestes a ser diferentes daquilo que foram no passado, e mais parecidos com o seu Mestre: e não mais ignorantes, infantis, fracos, carnais, mas iniciados nos mistérios do Reino, e habitualmente sob a direção do ESPÍRITO de graça e santidade.

  Tal poder prometido era evidentemente indispensável para que fossem bem-sucedidos. Os títulos oficiais não seriam o mais importante, e sob certos aspectos poderiam ser vãos — apóstolos, evangelistas, pastores, professores, governantes; as vestes clericais seriam vãs se a alma dos onze não fosse vestida com esta peça de roupa do poder divino. Vãos, então, e igualmente vãos agora. O mundo está prestes a ser evangelizado, não pelos homens investidos com dignidades eclesiásticas e com peças de roupas parcialmente coloridas, mas por homens que têm experimentado o batismo no ESPÍRITO SANTO, e que estão visivelmente imbuídos do poder divino da sabedoria, amor e zelo.   

  O poder prometido era indispensável, e também era, em sua natureza, algo a ser simplesmente esperado. Os discípulos foram instruídos a esperar até que viesse. Não deveriam tentar fazer nada sem ele, nem tentar alcançá-lo. E foram sábios o suficiente para seguir as instruções. Entenderam completamente que o poder era necessário, e que não poderia ser alcançado, mas que deveria vir sobre eles. Nem todos são igualmente sábios. Muitos virtualmente assumem que o poder do qual CRISTO falou pode ser dispensado, e que, de fato, não é uma realidade, mas uma quimera. Outros, mais devotados, acreditam no poder, mas não na impotência do homem de investir-se dele por si mesmo. Estes tentam ganhar o poder por meio de seu próprio trabalho, ou assumem para si e para outros uma situação de frenesi e entusiasmo.

  O fracasso, mais cedo ou mais tarde, convence essas pessoas de seus erros, mostrando que os resultados espirituais são produzidos por algo mais do que eloqüência, intelecto, dinheiro e organização; mostra, também, que o verdadeiro poder espiritual não pode ser produzido, como faíscas elétricas, por fricção ou estímulo, mas deve, soberana e graciosamente, vir do alto.

A.  B. BRUCE. O Treinamento dos Doze. Editora CPAD. pag. 573-574.

III - APOSTOLICIDADE ATUAL (Ef 4.11)
1. Ainda há apóstolos?
 
Aplicamos este termo ao que já vimos no item 1.1, ao “Colégio Apostólico”, ou aos Doze discípulos que foram selecionados por JESUS, e enviados como apóstolos para dar início à Grande Comissão (Mc 16.15). Apóstolos como eles, não existem mais. Eles eram apóstolos no sentido estrito da palavra, e nas circunstâncias em que foram chamados e enviados por JESUS.
1) Estiveram com CRISTO, durante todo o seu ministério terreno.
Os Doze (Observação minha - Pr. Henrique - talvez eram 13 nesta ocasião já que os apóstolos disseram que José e Matias tinham acompanhado o mesmo que eles do ministério de JESUS) aprenderam aos pés de JESUS, o Mestre dos mestres, no mais perfeito curso de evangelização e discipulado que alguém poderia realizar. Próximo à sua morte, JESUS lhes disse: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações” (Lc 22.28). O fato de ter visto a CRISTO não é condição exclusiva, pois Paulo também o viu (1 Co 9.1,2). Mas o terem aceito seu chamado diretamente de sua parte; de terem caminhado durante cerca de três anos, ao seu lado, ouvindo sua palavra, e vendo seus milagres; de terem comido e dormido ao seu lado, muitas vezes sem ter “onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20); só os Doze compartilharam momentos tão expressivos da humanidade, bem como da divindade de CRISTO.
2) Eles estiveram com JESUS, após a sua ressurreição
Outros discípulos também estiveram com JESUS, como os do Caminho de Emaús (Lc 24.13-31). Mas os que compartilharam da companhia do Senhor, de modo privado e especial, foram os 11, visto que Judas traiu o Mestre e foi para o seu destino trágico (Observação minha - Pr. Henrique - talvez eram 13 nesta ocasião já que os apóstolos disseram que José e Matias tinham acompanhado o mesmo que eles do ministério de JESUS). “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou JESUS, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, JESUS outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20.19-21).
3) Receberam a Grande Comissão
O mandato para evangelizar o mundo é destinado a todos os crentes em JESUS, a toda a Igreja do Senhor. Mas os Doze (Observação minha - Pr. Henrique - talvez eram 13 nesta ocasião já que os apóstolos disseram que José e Matias tinham acompanhado o mesmo que eles do ministério de JESUS) receberam a ordem missionária, diretamente da boca de JESUS (Mc 16.15). JESUS não disse aos Doze que eles fizessem apóstolos, mas sim, discípulos em todas as nações (Mt 28.18-20).
4) Os Doze terão seus nomes nos fundamentos da Nova Jerusalém (Observação minha - Pr. Henrique - Aqui Matias e não Judas)
Esse importante detalhe, registrado no Apocalipse, certamente, constitui argumento mais que suficiente para se entender, que o apostolado especial dos Doze, que constituíam o Colégio Apostólico, não é repetido em nenhuma fase da História da Igreja. João viu esse singular privilégio, concedido unicamente aos que seguiram JESUS, durante o seu ministério terreno (Ap 21.12-14).
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a DEUS e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 77-78.
ERA APOSTÓLICA, A época que tem início a partir do Pentecostes (aprox. 30 d.C.) até a morte do apóstolo João (aprox. 100 d.C.) é aquela em que os apóstolos estavam exercendo a sua influência entre as igrejas. Esta era prontamente se divide nos períodos pré-paulino (aprox. 30-40 d.C), paulino (aprox. 40-67 d.C.) e pós-paulino (aprox. 67-100 d.C). Durante o primeiro período, o cristianismo esteve grandemente confinado a Jerusalém e ao povo judeu. Não houve nenhuma tentativa de fazer um rompimento definitivo com o judaísmo até então. A vida da igreja foi marcada pela simplicidade, pureza e poder. No período paulino ocorreu uma transição de uma igreja judaica para gentio-judaica com uma expansão correspondente ao tamanho do império. Vários problemas começaram a tomar forma, tais como a perversão judaística na Galácia, irregularidades em Corinto e a heresia em Colossos. A principal figura do período pós-paulino foi o apóstolo João, cuja morte trouxe o final da Era Apostólica (Observação minha - Pr. Henrique - dos doze). Nesta época, o cristianismo havia sido firmemente plantado em todas as terras de Jerusalém a Roma (Observação minha - Pr. Henrique - agora com os apóstolos do ministério referidos por Paulo em Ef 4.11).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 161.
 
Obs. Minha – Luiz Henrique – Note que mesmo João estando vivo na época de Paulo, muitos foram chamados de apóstolos, claro que apóstolos como ministério e não como os doze.
 
Temos aqui as promessas de CRISTO aos discípulos e a todos aqueles que trilham nos caminhos da fé e da obediência.
(1) Para seus seguidores imediatos (v. 28). o Senhor promete não apenas tesouros, mas glória no céu; e aqui eles têm uma concessão ou privilégio sobre isso, daquele que é a fonte da glória naquele reino: “Vós, que me seguistes... na regeneração... vos assentareis sobre doze tronos”. Observe:
[1] Os discípulos haviam seguido a CRISTO quando a igreja ainda estava no estágio embrionário, quando o templo do Evangelho não tinha mais do que colunas, quando tinham mais do trabalho e ocupação de apóstolos do que da dignidade e do poder que pertenciam ao seu cargo.
[2] O dia de sua honra, que define a hora inicial. Não imediatamente após aqueles dias. Não. Eles devem permanecer por algum tempo na obscuridade, como estavam. Mas quando “o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória”; e a isso alguns se referem como: “ na regeneração” - A segunda vinda de CRISTO será uma regeneração, pois haverá novos céus e uma nova terra, bem como a restauração de todas as coisas. Todos aqueles que tiverem parte na regeneração e na graça (Jo 3.3) terão parte na regeneração que ocorrerá em glória; pois assim como a graça é a primeira ressurreição (Ap 20.6), a glória é a segunda regeneração.
[3] A própria glória aqui assegurada: “Vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel”.
A glória e o poder que lhes são conferidos podem ser explicados através de Jeremias 1.10: “Ponho-te neste dia sobre as nações e sobre os reinos”; Ezequiel 20.4: “Julgá-los-ias tu”?; Daniel 7.18: “Os santos receberão o reino”; e Apocalipse 12.1, onde a doutrina de CRISTO é chamada de “uma coroa de doze estrelas”.
O propósito geral dessa promessa é mostrar a glória e a dignidade que estão reservadas aos santos no céu, o que será uma abundante recompensa pela desonra que sofreram aqui pela causa de CRISTO.
[4] A ratificação desse privilégio. Ele é permanente, é inviolável e imutavelmente garantido, pois CRISTO disse, em outras palavras: “Em verdade vos digo: Eu sou ‘o Amém, a testemunha fiel e verdadeira’, que tem o poder de dar este privilégio; Eu o disse, e isto não pode ser revogado”.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 250-251.
 
    também um sentido não-técnico, secundário, da palavra «apóstolo». Trata-se de uma significação mais lata, em que o termo foi aplicado a muitas outras pessoas, nas páginas do N.T. Esse sentido secundário dá a entender essencialmente «missionários», enviados dotados de poder e autoridade especiais. Foi assim que Barnabé é aqui incluído como um «apóstolo», juntamente com Paulo. A palavra «apóstolo» significa enviado, pelo que também pode ter grande gama de aplicações, enquanto não é utilizada em algum sentido técnico, para indicar o ofício especial do apostolado, conforme foi instituído pelo Senhor JESUS. O apóstolo Paulo aplica essa palavra a Tiago, irmão do Senhor (ver Gál. 1:19), a Epafrodito (ver Fil. 2:25), por ser mensageiro da igreja em Filipos, a Silvano e a Timóteo (ver I Tes. 2:6 e Atos 18:5), e, possivelmente também a Apolo (I Cor. 4:9), a Andrônico e a Júnias (ver Rom. 16:6). Os próprios «judaizantes» foram chamados «falsos apóstolos», pelo mesmo Paulo, o que demonstra a grande flexibilidade desse vocábulo, quando usado em seu sentido mais amplo (ver II Cor. 11:13).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 3. pag. 288.
 
   Lucas introduz a palavra apóstolos. Um estudo de Atos revela que Lucas emprega o termo consistentemente em relação aos doze apóstolos e somente duas vezes (vs. 4,14) em referência a Paulo e Barnabé. Os Doze, tendo Pedro como seu cabeça, são portadores e guardiães do evangelho de CRISTO em Jerusalém (8.1,14). Os próximos na ordem a reclamar o título são Paulo e Barnabé, que foram comissionados pela igreja em Antioquia para proclamar o evangelho aos gentios (13.1-3).
E por fim, num sentido mais abrangente, Paulo menciona Andrônico e Júnias, que são pregadores do evangelho e reconhecidos pelas igrejas como apóstolos (Rm 16.7).
  Embora em Atos, Lucas duas vezes designe Paulo como apóstolo, ele registra três vezes o seu chamado e comissionamento para ser apóstolo aos gentios (9.1-19; 22.1-21; 26.2-18). E mais, JESUS diz que Paulo é seu instrumento escolhido para levar seu nome perante os gentios e reis (9.15). JESUS o envia como apóstolo (22.21; 26.16,17; a palavra deriva do verbo grego [eu envio].
Apesar de Paulo não ter seguido JESUS desde o tempo de João Batista até a ascensão de CRISTO, os Doze o aceitaram como um apóstolo. Como Lucas retrata Paulo?
  “O quadro pintado por Atos não é o de que Paulo não fosse um apóstolo, porém que ele era um apóstolo singular, o que está de acordo com o relato do próprio Paulo (1 Co 9.1-3; 15.5-9; Gl 1.12-17).” E por fim, Paulo indiretamente, chama Barnabé de apóstolo (1 Co 9.6; Gl 2.9,10).
William Hendriksen. Comentário do Novo Testamento. Editora Cultura Cristã. pag. 18-19.
 
 Fonte: apazdosenhor.org

 EM CONSTRUÇÃO


Nenhum comentário:

Postar um comentário