TEXTO ÁUREO
“Segui a
paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”
(Hb 12.14).
VERDADE PRÁTICA
Santificação é especialidade do Espírito Santo; ela é instantânea e ao mesmo tempo progressiva, pois acompanha o crescimento espiritual do crente.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
1Pedro 1.13-23.
13
— Portanto,
cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente
na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo,
14
— como
filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia
em vossa ignorância;
15
— mas,
como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa
maneira de viver,
16
— porquanto
escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.
17
— E,
se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de
cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação,
18
— sabendo
que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados
da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais,
19
— mas
com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
20
— o
qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do
mundo, mas manifestado, nestes últimos tempos, por amor de vós;
21
— e
por ele credes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que
a vossa fé e esperança estivessem em Deus.
22
— Purificando
a vossa alma na obediência à verdade, para caridade fraternal, não fingida,
amai-vos ardentemente uns aos outros, com um coração puro;
23 — sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre.
OBJETIVO GERAL
Mostrar o quanto devemos estar comprometidos com a ética do Espírito.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com seus respectivos subtópicos.
- I.
Apresentar a
santificação no Antigo Testamento;
- II. Explicar a
santificação no Novo Testamento;
- III. Aplicar o exemplo de santificação à vida dos alunos.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
O
tema da santificação, infelizmente, muitas vezes é desenvolvido numa
perspectiva negativa, e perde-se a glória e a beleza que o assunto reflete.
É
preciso enfatizar que a vida de santidade está amparada na glória de Deus. O
Deus santo nos separou, nos tomou para Ele. Não há outra opção, não podemos
dividir sua glória, pois Ele não a dá a outrem. Assim, santidade é a capacidade
de viver aqui na Terra de modo que enalteça o nosso Deus. Quem experimenta
verdadeiramente o novo nascimento não se contenta em viver de maneira menos
elevada do que preceitua o santo Evangelho.
Fomos chamados para ser embaixadores do Reino de Deus. Representamos um reino glorioso, majestoso e amoroso. Não há como desejar nada inferior a isso.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Deus é absolutamente santo; Sua santidade é infinita e inigualável; Ele é santo em si mesmo, em sua essência e natureza (Ap 15.4). Sua vontade é que os crentes reflitam esse caráter de santificação no seu modo de vida. Vamos estudar, então, o que é ser santo e a necessidade de se ter uma vida santa.
PONTO CENTRAL
É preciso ter uma
vida santa, estar comprometido com a ética do Espírito.
Comentarista: Esequias Soares
Pneumatologia — a Doutrina do Espírito Santo
O Espírito
Santo e a santificação do crente
Salvação
e santificação são obras realizadas por Jesus no homem integral: espírito, alma
e corpo. A Bíblia afirma que fomos eleitos “desde o princípio para a salvação,
em santificação do Espírito” (2Ts 2.13). Esta verdade está implícita em João
19.34. Do lado ferido do corpo de Jesus fluíram, a um só tempo, sangue e água.
Isto é, o sangue poderoso de Cristo nos redime de todo pecado, mas a água
também nos lava de nossas impurezas pecaminosas.
Cristo
morreu “para nos remir de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu
especial, zeloso de boas obras” (T t 2.14). A salvação e a santificação devem
andar juntas na vida do crente. A santidade de Deus. A Bíblia diz que nosso
Deus é santíssimo: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos” (Is 6.3; Ap
4.8).
A
santidade de Deus é intrínseca, absoluta e perfeita (Lv 19.2; Ap 15.4). E o
atributo que mais expressa sua natureza. N o crente, porém, a santificação não
é um estado absoluto, é relativo assim como a lua, que, não tendo luz própria,
reflete a luz do sol (cf. H b 12.10; Lv 2I.8b). Deus é “santo” (Pv 9.10; Is
5.16); e, quem almeja andar com Ele, precisa viver em santidade, segundo as
Escrituras.
O que
não é santificação. O próprio Pedro enganou-se a respeito da santificação (At
10.10-15). Vejamos o que não é a santificação bíblica.
1)
Extenorídade (M t 23.25-28; I Sm 16.7). Usos, práticas e costumes. Estes
últimos, quando bons, devem ser o efeito da santificação, e não a causa dela
(Ef 2.10).
2)
Maturidade cristã. Não é pelo tempo que algo se torna limpo, mas pela ação
contínua da limpeza. A maturidade cristã varia, como se vê em I João 2.12,13:
“Filhmhos”; “pais”; “mancebos”; “filhos”.
3)
Batismo com 0 Espírito Santo e dons espirituais. O batismo com o Espírito Santo
e os dons espirituais em si mesmos não eqüivalem à santificação como processo
divino e contínuo em nós (At 1.8; I Co 14.3).
Santificar e santificação. “Santificar” é “pôr
à parte, separar, consagrar ou dedicar uma coisa ou alguém para uso
estritamente pessoal”. Santo é o crente que vive separado do pecado e das
práticas mundanas pecaminosas, para o domínio e uso exclusivo de Deus. E
exatamente o contrário do crente que se mistura com as coisas tenebrosas do
pecado.
A
santificação do crente tem dois lados: ( I ) sua separação para a posse e uso
de Deus; e (2) a separação do pecado, do erro, de todo e qualquer mal
conhecido, para obedecer e agradar a Deus. Ela tem também três aspectos:
posicionai, progressiva e futura.
A
santificação posicionai (H b 10.10; Cl 2.10; I Co 6.11). N o seu aspecto
posicional, a santificação é completa e perfeita, ou seja, o crente pela fé
torna-se santo “em Cristo”. Deus nos vê em Cristo perfeitos (E f 2.6; Cl 2.10).
Quando estamos “em Cristo”, não há qualquer acusação contra nós (Rm 8.33,34),
porque a santidade do Senhor passa a ser a nossa santidade (I Jo 4.17b).
A santificação progressiva. E a santificação
prática, aplicada ao viver diário do crente. Nesse aspecto, a santificação do
crente pode ser aperfeiçoada (2 Co 7.1). Os crentes mencionados em Hebreus
10.10 já haviam sido santificados, e continuavam sendo santificados (w.
10,14-ARA).
A
santificação futura. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o
vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis
para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Ts 5.23). Trata-se da
santificação completa e final (I Jo 3.2). Leia também Efésios 5.27 e I
Tessalonicenses 3.13.
A SANTIFICAÇÃO COMO UM PROCESSO
O
crescimento do crente “em santificação” ocorre à medida que o Espírito o rege
soberanamente, e o crente, por sua vez, o busca, em cooperação com Deus: “Sede
vós também santos em toda a vossa maneira de viver” (I Pe I.1 5).
O lado
divino da santificação progressiva. São meios que o Senhor utiliza para
santificarnos em nosso viver diário. Esses recursos divinos são: o sangue de
Jesus Cristo (H b 13.12; I Jo 1.7,9); a Palavra de Deus (SI 12.6; 119.9; Jo
17.17; E f 5.26); o Espírito Santo (Rm 1.4; I Pe 1.2; 2 Ts 2.13); a glória de
Deus manifesta (Êx 29.43; 2 Cr 5.13, 14); e a fé em Deus (At 26.18; Fp 3.9; Tg
2.23; Rm 4 .1 1).
O lado
humano da santificação progressiva. Deus é quem opera a santificação no crente,
embora haja a cooperação deste. Os meios coadjuvantes de santificação
progressiva são:
1) O
próprio crente. Sua atitude e propósito de ser santo, separado do mal para
posse de Deus, são indispensáveis. E o crente tendo fome e sede de ser santo (M
t 5.6; 2 Tm 2.21, 22; I Tm 5.22).
2) O
santo ministério. Os obreiros do Senhor têm o dever de cooperar para a
santificação dos crentes (Ex 19.10,14; Ef 4.11,12).
3) Pais
que andam com Deus. Assim como Jó (Jó 1.5), os pais devem cooperar para a
santificação dos filhos. Eunice, por exemplo, colaborou para a integridade
deTimóteo, seu filho (2 T m 1.5; 3.15). Por outro lado, pais descuidados podem
influenciar negativamente seus filhos, como no caso de Herodias que influenciou
a Salomé (M c 6.22-24).
4) As
orações do justo (SI 51.10; 32.6). A oração contrita, constante e sincera tem
efeito santificador.
5) A
consagração do crente a Deus (Lv 27.28b; Rm 12.1,2). A rendição incondicional
do crente a Deus tem efeito santificador nele.
Estorvos à santificação do crente. Estorvos
são embaraços que impedem o cristão de viver em santidade, tais como:
1)
Desobediência. Desobedecer de modo consciente, contínuo e obstinadamente à
conhecida vontade do Senhor (Ex 19.5,6).
2)
Comunhão com as trevas. Comungar com as obras infrutíferas das trevas (Rm
13.12); com os ímpios, seus costumes mundanos e suas falsas doutrinas (E f 5.3;
2 Co 6.14-17).
3)
Areas da vida não santificadas. Alguns aspectos reservados da vida do crente
que não foram consagrados a Deus devem ser apresentados ao Senhor. Como, por
exemplo, mente, sentidos, pensamento, instintos, apetites e desejos, linguagem,
gostos, vontade, hábitos, temperamento, sentimento. Um exemplo disso está em
Mateus 6.22,23.
A
necessidade de santificar-se. Para esse tópico aconselhamos a leitura
meditativa de 2 Coríntios 7.1 e 1 Tessalonicenses 4.7. Vejamos por que é
necessário seguir a santificação:
1) A
Bíblia ordena. A Bíblia afirma que temos dentro de nós a “lei do pecado” (Rm
7.23:8.2). Daí ela ordenar que sejamos santos(I Pe I.I6;L v 11.44,*Ap 22.11); o
Senhor habita somente em lugar santo (Is 57.15; I Co 3.17).
2) Só
os santos serão arrebatados. O Senhor Jesus — que é santo — virá buscar os que
são consagrados a Ele (I Ts 3.13; 5.23; 2 Ts I.IO; H b 12.14). Por isso, a
vontade de Deus para a vida do crente é que ele seja santo, separado do pecado
(I Ts 4.3).
3) A
santidade revelada de Deus. Uma importante razão pela qual o crente deve
santificar-se é que a santidade de Deus, em parte, é revelada através do
procedimento justo e da vida santificada do crente (Lv 10.3; N m 20.12). Então,
o crente não deve ficar observando, nem exigindo santidade na vida dos outros;
ele deve primeiro demonstrar a sua!
4) 05
ataques do Diabo. Devemos atentar para o fato de que o Inimigo centraliza seus
ataques na santificação do crente. A principal tática que o Adversário emprega
para corromper a santidade é o pecado da mistura. Isso ele já propôs antes a Israel
através de Faraó (Ex 8.25), o que abrange mistura da igreja com o mundanismo;
da doutrina do Senhor com as heresias; da adoração com as músicas profanas;
etc.
Em
muitas igrejas hoje a santificação é chamada de fanatismo. Nessas igrejas falam
muito de união, amor, fraternidade, louvor, mas não da separação do mundanismo
e do pecado. Notemos que as “virgens” da parábola de Mateus 25 pareciam todas
iguais; a diferença só foi notada com a chegada do noivo. Estejamos, pois,
preparados para o Encontro com Jesus nos ares, avivados para o Arrebatamento (I
Ts 4.16,17).
Teologia Sistemática Pentecostal- Antonio
Gilberto
CAPÍTULO DOZE
O Espírito Santo e a Santificação Timothy P.
Jenney
Este
capítulo focaliza o Espírito Santo e a santificação, embora toda a Trindade
esteja envolvida. O plano é de Deus Pai. Seu desejo é nada menos que a
santificação do mundo inteiro e de todos os seus habitantes. Jesus Cristo
morreu para possibilitar esse plano, mas sua obra na cruz já foi concluída (Jo
19.30; cf. Hb 10.1044). Hoje, o agente ativo na santificação é o Espírito de
Deus. Seu papel principal nesse processo é indicado pelo título mais comum, o
Espírito Santo, e pelos símbolos de purificação que o representam nas Escrituras:
água e fogo.
O título "Espírito Santo" aparece
94 vezes no Novo Testamento (inclusive a única ocorrência de "Espírito de
santificação", em Rm 1.4). Títulos alternados do Espírito aparecem bem
menos frequentemente. 2 Embora alguns talvez argumentem que "Espírito
Santo" seja simples abreviatura de o "Espírito do Santo", o
título não pode ser diluído tão levianamente. Deus Pai tem muitos e
incomparáveis atributos, e qualquer um deles - a eternidade, a onipotência, a
onisciência - poderia ter servido para identificar o Espírito, não apenas a
santidade.
Os
escritores do Novo Testamento empregam tão frequentemente a expressão
"Espírito Santo" por reconhecerem a relevância do Espírito para a
santificação do mundo.
Os símbolos que os escritores sagrados usavam
para representar o Espírito Santo também são esclarecedores. Os rituais de
purificação do Antigo Testamento (a respeito dos quais entraremos em pormenores
depois) empregam o sangue, a água e o fogo. O sangue indica o ministério de
Jesus; a água e (até certo ponto) o fogo indicam o ministério do Espírito
Santo. O Espírito de Deus é frequentemente simbolizado pela água (Is 44.3,4; Ez
36.25-27; Jl 2.23; Jo 7.38,39; cf. 19.34) ou em termos usualmente reservados
para fluidos: "derramar" (Zc 12.10; At 2.17,18; 10.45),
"cheio" (Lc 1.15; At 2.4; Ef 5.18), "ungido" (Is 61.1,2;
cf. Lc 4.18) e até mesmo "batizar" e "batismo" (Jo 1.33; At
1.5; 1 Co 12.13). Mais frequentemente, o Espírito é simbolizado pelo fogo (At
2.3; Ap 4.5) ou encontra-se em estreita relação este elemento (Mt 3.11; Lc
3.16). Eram símbolos poderosos aos ouvidos judaicos acostumados com os batismos
e outros ritos de purificação do Judaísmo, no século I. Nossa maneira
equivocada de entender a santificação e a obra do Espírito Santo talvez se deva
em parte ao nosso desconhecimento daqueles ritos.
Geralmente, quando se menciona a obra do
Espírito Santo no tocante à santificação, faz-se referência a um processo - ou
experiência - que torna a pessoa mais santa. Alguns identificam esse processo
com a salvação; outros, como uma experiência subsequente; outros ainda, como um
processo que inclui as duas experiências anteriores e algo mais. Mas a obra
santificadora do Espírito é ainda mais ampla. Faz parte do plano integral de
Deus para a humanidade, da "história da salvação".3 Nesta definição,
está incluída a sua obra em relação aos convertidos e aos não-convertidos.
Mesmo
assim, pessoas há preocupadíssimas era saber como se aplica a elas a
santificação, individualmente. E muita justa essa preocupação. Afinal de
contas, o plano de Deus para o mundo é levado a efeito através de uma pessoa
por vez. As perguntas práticas a respeito da santificação podem ser postuladas
com muita simplicidade: O que é a santificação? Acontece de uma só vez, ou é um
processo? Como se relaciona com a salvação? O que significa ser santo (ou
"santificado") ? Quem é responsável por nos tornar santos, e o que
pode ser feito quando ficamos aquém da verdadeira santidade?
O
crente poderá atingir um estágio de "perfeição cristã", tornando-se
incapaz especar? Antes de respondermos a essas perguntas, será útil definir os
nossos termos, explicar os limites do nosso estudo e passar em revista a
doutrina da santificação no decurso da história da Igreja.
DEFINIÇÃO DE SANTIFICAÇÃO
Com
base nos parágrafos anteriores, torna-se óbvio que a santificação é apresentada
aqui no seu sentido mais amplo. A santificação é o processo mediante o qual
Deus está purificando o mundo e os seus habitantes. Seu alvo derradeiro é que
tudo, tanto as coisas animadas quanto as inanimadas, seja purificado de
qualquer mancha de pecado ou de impureza. Com essa finalidade, Ele tem
proporcionado os meios de salvação mediante Jesus Cristo. E, no fim dos tempos,
Ele pretende consignar ao fogo tudo quanto não pode ou não quer ser purificado
(Ap 20.11 - 21.1; ver também 2 Pe 3.10-13), e assim tirar da Terra tudo o que é
pecaminoso.
A
tarefa do Espírito Santo na presente etapa da história da salvação é quádrupla:
(1) levar o mundo à convicção, (2) purificar o crente mediante o sangue de
Cristo, no novo nascimento, (3) tornar real na vida do crente o pronunciamento
jurídico da justificação já feita por Deus e (4) revestir o crente de poder, a
fim de que este possa ajudar no processo de santificação de outras pessoas por
meio (a) da proclamação do Evangelho ao descrente e (b) da edificação do
crente.
É comum
os teólogos empregarem o termo "santificação" somente com referência
à terceira dessas quatro tarefas do Espírito Santo. Neste sentido mais
estreito, A. H. Strong define a santificação como "aquela operação
contínua do Espírito Santo, mediante a qual a santa disposição outorgada na
regeneração é mantida e fortalecida".4 Charles Hodge concorda com o
Catecismo de Westminster, que define a santificação como "a obra da livre
graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem
de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a
justiça".5 Nada temos que objetar a tais explicações, mas consideramos a definição
de Millard Erickson a mais clara, segundo o nosso modo de entender essa parte
do processo. Ele diz: "E uma continuação do que foi começado na
regeneração, quando então uma novidade de vida foi conferida ao crente e
instilada dentro dele. Em especial, a santificação é a operação do Espírito
Santo que aplica à vida do crente a obra feita por Jesus Cristo".
A SANTIFICAÇÃO NA HISTÓRIA DA IGREJA
Não é
nosso propósito um amplo estudo histórico da teologia da santificação.
Semelhante estudo teria de passar em revista todos os pontos de vista já
adotados pela Igreja com relação ao tema, bem como as circunstâncias que
determinaram cada posição. Nossa intenção é explicar o que a Bíblia diz a respeito
da obra santificadora do Espírito Santo, que será de ajuda àqueles desejosos
por viver de modo cada vez mais agradável a Deus.
Em
todas as eras, inclusive a nossa, a Igreja tem apresentado pontos fortes e
também fraquezas em sua teologia. Essa variação pode ser melhor entendida pela
observação do fluxo e refluxo histórico de várias doutrina do passado. Devido
às limitações de espaço, não há como incluir aqui um amplo estudo da teologia
histórica da santificação. Nosso estudo, no entanto, poderá servir de guia ao
desenvolvimento dessa doutrina.7 Por mais que alguém possa aprender de
semelhante estudo, é reconfortante saber que pessoas na Igreja já estão
envolvidas com as implicações práticas dessa doutrina.
Os
primeiros seguidores de Jesus esperavam e pregavam a sua volta a qualquer
momento (At 2 e 7). Por isso enfatizavam grandemente a salvação e o evangelismo
(Mt 28.18-20; At 1.7,8). No decurso dos anos, tardando a segunda vinda de
Jesus, os escritos do Novo Testamento indicam certos problemas surgindo na
Igreja (1 Ts 4.13-18; 1 Pe 3.3-18). Por exemplo: alguns crentes não viviam uma
vida de santidade, mas usavam a liberdade do código legal judaico como desculpa
ao comportamento licencioso. Encontramos tal atitude nas igrejas de Corinto,
Galácia, Colossos e nos registros de Apocalipse 2 e 3. Outros - os judaizantes
- argumentavam que a solução era que todos os cristãos, tanto os gentios quanto
os judaicos, obedecessem a lei mosaica (At 15), doutrina, ensinando que a
Igreja controlava uma "tesouraria de méritos" que podia ser creditada
na conta do fiel necessitado. Depois do batismo cristão, os pecados venais12
podiam ser contrabalançados pelo sacramento da comunhão, ao passo que os
"pecados mortais", mais graves, exigiam alguma forma de penitência.
13
Os líderes
da Reforma afligiam-se com a corrupção que viam dentro da Igreja Católica
Romana. Consequentemente, diminuíam o papel da igreja institucional e dos
sacramentos na santificação. Argumentavam que a santificação era obra do
Espírito "primariamente através da Palavra, e [só] secundariamente através
dos sacramentos". Também diziam que “a justificação produz a força
motivadora na santificação.” 14
Os
pietistas e os metodistas, desesperados com a falta de vitalidade espiritual em
suas próprias fileiras, deslocaram o processo da santificação para ainda mais
longe do controle da Igreja. Sustentavam que o Espírito Santo realizava essa
obra por meio do amor, da devoção e da obediência a Cristo, por parte do
crente, juntamente com um desejo pela santidade prática e o esforço em prol da
perfeição.15 Enfatizavam o relacionamento espiritual pessoal mais que a
participação de uma atividade patrocinada pela igreja institucional - os
sacramentos (no catolicismo) ou a pregação da Palavra (no luteranismo).
O
próprio John Wesley assumiu uma posição ainda mais extrema: ensinava que
aqueles que não tinham vitalidade espiritual haviam sido salvos, mas não
santificados. Acreditava que a justificação e a santificação eram obras
separadas da graça. A salvação era a primeira, e a santificação, a segunda.
Frequentemente chamava a esta última obra "perfeição cristã",
afirmando que ela excluía qualquer transgressão voluntária das leis de Deus
(estava disposto a reconhecer que transgressões involuntárias ainda podiam ocorrer).
Definia essa perfeição como amar a Deus e ao próximo, tendo a mente que estava
em Cristo Jesus, o fruto integral do Espírito na alma do crente e a imagem
moral de Deus renovada na retidão e na verdadeira santidade. "Essa é a
perfeição", dizia. A solução para os problemas espirituais da Igreja de
seus dias era essa segunda obra da graça: a santificação. A santificação
forneceria maior espiritualidade e mais poder à obra nas searas missionárias do
mundo inteiro. 16
O
Movimento da Santidade, nos meados do século XIX ao início do século XX, vendo
a espiritualidade ofuscada em suas denominações (que passavam a ser
"exdenominações"), adotaram muitas das características do metodismo
primitivo. Essas características incluíam a distinção entre a primeira obra da
graça e uma segunda, e a ênfase na espiritualidade pessoal. Em muitos casos,
essa segunda obra era identificada como o batismo no Espírito Santo. Da mesma
maneira que nos ensinos de João Wesley, tal experiência era a responsável tanto
pelo aumento da espiritualidade (ou "santidade") quanto pelo
incremento de poder para o serviço cristão. 17
Outros
líderes eclesiásticos da época concordavam com os grupos da Santidade quanto a
igreja precisar de renovação, mas discordavam da solução deles. Um desses
líderes era Charles Finney, cuja abordagem era mais modesta. Ele concordava com
o ensino wesleyano de uma segunda obra (instantânea) da graça, mas não a
considerava uma obra de santificação. Tratava-se, para ele, de um revestimento
de poder. 18
Reuben
A. Torrey foi outro líder eclesiástico destacado no assunto. Encorajado pelo
evangelista Dwight L. Moody, olhava a doutrina de um prisma um pouco diferente.
Ensinava que a santificação era um processo, mas que o poder para o serviço
provinha do batismo no Espírito. Em outras palavras, rejeitava a identificação
- defendida pelo movimento da Santidade - do batismo no Espírito como uma
"segunda obra da graça", que produzia a santidade. Mantinha a
expressão "batismo no Espírito", concordava ser ela subsequente à
salvação e ensinava que era exclusivamente um dom divino de poder espiritual.
19
A
ênfase cada vez maior à obra do Espírito Santo, em fins do século XIX, preparou
o caminho para a renovação do Pentecostalismo, no começo do século XX. Alguns
dos primeiros pentecostais, porém, argumentavam que o batismo no Espírito Santo
era uma terceira obra da graça, sendo: (1) a salvação, mediante a qual a pessoa
era purificada dos pecados da vida irregenerada; (2) a santificação, que
outorgava a vitória sobre o pecado nesta vida, no sentido wesleyano; e (3) o
batismo no Espírito Santo, que revestia o crente de poder para servir a Deus e
ao próximo.20
Estas
duas últimas obras da graça pareciam relegar o restante da Igreja a uma
condição espiritual inferior, situação que encorajava um elitismo espiritual
pentecostal. Os não-pentecostais não demoraram a caracterizar os pentecostais
como elitistas, inclusive os que não haviam adotado posições tão exageradas.
Infelizmente, a doutrina da santificação parece ter-se perdido no fragor da
batalha.
Atualmente, há urgente necessidade de renovada
ênfase à doutrina da santificação nos círculos pentecostais. Em primeiro lugar
porque são raros os pentecostais que hoje aceitariam a ideia de estar
precisando de renovação espiritual. A despeito de muitíssimos crentes terem
sido batizados no Espírito Santo, são muitas as igrejas pentecostais que não
possuem a vitalidade e a eficácia que nelas se evidenciavam em anos anteriores.
Em segundo lugar, a ênfase pentecostal ao batismo no Espírito e aos dons sobrenaturais
do Espírito tem resultado numa falta de ênfase ao restante da obra do Espírito,
inclusive a santificação. Em terceiro lugar, a aceitação mais generalizada dos
pentecostais e dos carismáticos parece ter ameaçado a distinção tradicional
entre a Igreja e o mundo, lançando dúvidas sobre muitos dos antigos padrões de
santidade. E, finalmente, os pentecostais de hoje dão muito valor à
popularidade que acabaram de conquistar e, no afã de preservá-la, zelam por
evitar qualquer aparência de elitismo espiritual.
A
SANTIFICAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO TERMINOLOGIA
Qadash
e seus cognatos. A palavra hebraica qadash, frequentemente traduzida por
"ser santo", tem a ideia básica de separação do uso comum para a
dedicação a Deus e ao seu serviço. E encontrada na Bíblia como verbo
("estar separado", "ser consagrado") e também como adjetivo
(heb. qadosh - "sagrado", "santo", "dedicado"'
[objeto, lugar, pessoa etc.]), quer se aplique a qualidade ao próprio Deus,
quer a lugares, objetos, pessoas ou datas santificadas por Ele (ou para Ele).
21 O Novo Testamento emprega a palavra grega hagiazõ e seus cognatos (por
exemplo: hagios) para comunicar a mesma ideia.
Talvez
a melhor maneira de se definir santidade seja pelo caráter de Deus. A Bíblia
ensina claramente que a característica fundamental de Deus é a santidade. Ele a
aplica a si mesmo: "Sereis santos, porque eu sou santo" (Lv 11.44;
ver também 1 Pe 1.15,16); as pessoa proclamam o fato: "[Ele] é Deus
santo" (Js 24.19); os serafins, adorando a Deus, o afirmam: "Santo,
santo, santo é o Senhor dos Exércitos" (Is 6.3; cf. Ap 4.8); até mesmo
Jesus, o Filho de Deus, o chama de "Pai Santo" (Jo 17.11).
O
profeta Amós disse: "Jurou o Senhor Jeová, pela sua santidade" (4.2);
e acrescentou, posteriormente: "Jurou o Senhor Jeová pela sua alma"
(6.8), indicando assim a santidade como parte fundamental de sua essência mais
íntima, que é diferente de qualquer coisa que Ele tenha criado, além de estar
separada de todo o pecado e maldade. "A santidade de Deus fica sendo uma
expressão da sua perfeição existencial, que transcende tudo o que é próprio das
criaturas". 22
Talvez
a palavra que hoje comunique melhor essa ideia seja "alienação", se
pudermos deixar de lado sua conotação frequentemente negativa. A santidade, no
seu sentido básico, não é humana nem terrestre. Pertence a uma outra esfera.
Isto quer dizer: um Deus santo é um Deus totalmente separado e distinto de sua
criação (o oposto ao ensino do panteísmo).
Entendemos que essa qualidade da santidade
seja o caráter essencial de deidade que Ele pode outorgar. O que mais nos
interessa é a maneira como Deus outorga essa qualidade, mormente no que diz
respeito ao indivíduo. O problema é que a raça humana, desde a Queda, vive num mundo
caído e não é santa. Mesmo assim, Deus deseja manter comunhão conosco. E, como
Ele não pode se tornar menos santo para ter comunhão conosco, é nosso dever
tornar-nos mais santos.
Deus
comunica essa ideia de várias maneiras, no Antigo Testamento. Primeiro, diz ao
seu povo: "Sereis santos, porque eu sou santo" (Lv 11.44). Depois,
consagra uma variedade de coisas para facilitar a comunhão com o seu povo, sua,
"nação santa" (Ex 19.6): um sacerdócio santo para oficiar (Ex 29.1; 1
Sm 7.1), com vestes santas (Ex 28.2- 4; 29.29); um tabernáculo (ou templo)
santo, para Ele habitar entre o seu povo (Êx 29.31; Lv 16.24; SI 46.4; 65.4);
"dias santos", em que todos deviam cessar as tarefas comuns a fim de
adorar a Deus (Ex 16.23; Lv 23.32; Jr 17.21-27); e até mesmo água santa, para a
purificação de indivíduos impuros (Nm5.17).
Taher
e seus Cognatos. A palavra hebraica taher não é tão comum como qadash, no
Antigo Testamento, mas com certeza é igualmente importante para compreendermos
a santificação. O significado da raiz verbal é "estar limpo, puro".
Essa pureza pode ser cerimonial, moral ou até mesmo a pureza relativa a um
metal. 23 Quanto ao uso da palavra, parece não haver muita distinção entre
limpar a impureza física (a contaminação provocada pelo contato com substâncias
imundas) e a espiritual (a corrupção moral). O primeiro uso é bem mais comum,
enquanto o último parece ser a sua extensão lógica.
Ao todo, os substantivos desse grupo
aparecem apenas 19 vezes, mas o adjetivo, noventa vezes. Em Gênesis, é usado
somente com respeito aos animais "limpos" (Gn 7.2,8; 8.20), e em
Êxodo, somente com relação a materiais puros, especialmente do "ouro
puro" (Êx 25.11-39; 30.3; 39.15, etc). Levítico tende a usá-lo em termos
de pureza cerimonial (Lv 4.12; 13.13,17,40,41), da mesma forma que Números (Nm
5.28; 18.11,13; 19.9,18,19).
A
mudança do concreto para o abstrato é instrutiva, pois ilustra essa transição.
Declara-se que as palavras do Senhor são puras (SI 12.6). Deus é "tão puro
de olhos", que não pode ver o mal (Hc 1.13), pelo menos não com aprovação.
O temor que o indivíduo tem ao Senhor é "puro" (SI 19.9). O Salmista
exclama: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro" (SI 51.10; cf. Pv
22.11). Ezequiel diz que Deus "purificará" o seu povo da idolatria
(Ez 36.25).
O
verbo é encontrado 89 vezes, sob várias formas, no Antigo Testamento. E 38
aparecem num único livro: Levítico, que oferece instruções pormenorizadas aos
vários rituais de purificação.
A SANTIFICAÇÃO
NO NOVO TESTAMENTO TERMINOLOGIA
Os
dois termos gregos cruciais para o estudo da santificação no Novo Testamento
são hagiazõ (e seus cognatos) e katharizõ (e seus cognatos). Hagiazõ equivale
aproximadamente à palavra hebraica qadash e quase sempre serve como tradução
desta, na Septuaginta. Significa "santificar, separar, purificar, dedicar
ou consagrar", bem como "tratar como santo". A palavra grega
katharizõ quase sempre traduz a palavra hebraica taher, na Septuaginta.
Significa "tornar limpo ou purificar" e é usada nos sentidos
cerimonial e moral.
Embora
a Torá empregue os dois termos hebraicos com certa exatidão, a diferença entre
eles torna-se menos nítida quando empregados no sentido figurado, especialmente
nos profetas e nos Salmos. O Novo Testamento usualmente mantém a distinção
entre os termos gregos ao falar dos rituais da antiga aliança ou dos fariseus,
mas também emprega ambos os termos quando fala da obra de Cristo na nova
aliança. Posto que nos interessamos pela purificação espiritual na nova
aliança, podemos asseverar que o Novo Testamento emprega hagiazõ e katharizõ de
modo intercambiável.
A
palavra mais comum é hagios (derivada de hagiazõ). No singular, é traduzida por
"santo" e frequentemente usada como adjetivo para descrever Deus, seu
Espírito, Jerusalém etc. No plural, é frequentemente usada como substantivo, para
descrever o povo de Deus. Neste caso, é geralmente traduzida como "os
santos". Esta expressão é muito comum no Novo Testamento (aparece sessenta
vezes) e serve com evidência sólida de que os cristãos primitivos entendiam sua
própria qualidade distintiva. Deus os tornara santos.
DUAS
TEOLOGIAS DA SANTIFICAÇÃO
O termo
"santos" nos é tão familiar que provavelmente o consideramos como
ponto pacífico. Para os cristãos dos tempos do Novo Testamento, não era assim.
Eles tinham plena consciência das leis extensivas que tratavam dos alimentos
puros, das substâncias impuras e dos rituais de purificação da lei mosaica.
Muitas das seitas do Judaísmo tinham regulamentos pormenorizados no tocante à
impureza. De modo geral, a regra era que a santidade fosse mantida ao evitar-se
a contaminação e pelo isolamento dos contaminados. Se alguém ficasse com alguma
impureza, a solução era removê-la por algum tipo de batismo (Hb 6.2; 9.10).
Esta é uma noção bastante passiva da santidade: evitar a impureza.
Além
disso, a teologia dos fariseus apresentava uma inconsistência interessante.
Muitos deles entendiam que o Reino de Deus era espiritual, lá no íntimo, ao
invés de ser um reino exterior (material) e político.
Mesmo
assim, sustentavam que a entrada para esse reino interior dava-se através de
rituais exteriores, que removiam o pecado e a impureza e produziam a santidade.
Mesmo assim, a santidade de Deus é ativa. Uma vez que Ele deseja comunhão com
as pessoas, sua santidade ativa consiste em tornar puros os impuros e santos os
ímpios. A morte de Cristo tornou possível esse tipo de santidade. Seus
seguidores obtiveram acesso ao Reino (espiritual) de Deus mediante um processo
espiritual, e não por um processo exterior. Mesmo estando cercados de pessoas e
coisas impuras, ainda podiam ser santos. Por consequência, "santos"
fica sendo sua designação característica.
O CUMPRIMENTO DA PROFECIA
Em
última análise, a santificação do mundo ocorre no nível individual. Cada pessoa
precisa resolver se aceitará ou não o domínio e o Reino de Deus em sua vida. As
que optarem por não abrir mão de seus pecados terão de ser purificadas pelo
fogo. Esse processo não pede a sua cooperação, mas é doloroso, destrutivo e de
longa duração. Esse é o castigo eterno que a Bíblia chama de
"inferno", "o lago de fogo" e a "segunda morte"
(Is 66.24; Mt 23.33; 25.30,41,46; Ap 20.14,15). Embora essa purificação nunca
seja atingida, o fogo eterno garante que a criação divina jamais tornará a ser
perturbada pela sua impureza. Resumindo, Deus determinou que santificará o mundo.
E o fará pela água ou pelo fogo (Mt 3.11-12).
Os cristãos desejam ser santificados pelo
Espírito, processo que requer a cooperação contínua do indivíduo (1 Jo 3.3; Ap
22.11), de modo bem semelhante às cerimônias de purificação com água descritas
no Antigo Testamento. Esse processo de santificação remove o pecado, mas salva
a pessoa, e apresenta as quatro etapas que seguem.
Convencendo o mundo. A primeira etapa da
santificação e a obra mais importante do Espírito Santo é levar as pessoas a um
relacionamento pactuai com Deus. O Espírito tem três tarefas a realizar entre
os inconversos: a convicção do pecado, o testemunho a respeito de Cristo e a
confirmação da Palavra de Deus. São suas maiores tarefas, porque realizadas
entre o maior grupo das pessoas - virtualmente todos os descrentes da Terra.
A salvação somente começa quando o indivíduo
estiver convencido do pecado pessoal. Entendemos que essa "convicção"
significa que a pessoa reconhece ter feito o mal e constar como culpada diante
de Deus. E é o Espírito Santo quem produz tal convicção, que é a primeira etapa
na santificação do indivíduo e a única que não requer o seu consentimento.
Jesus referiu-se a este ministério do Espírito quando disse: "E, quando
ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo: do pecado,
porque não creem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis
mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado" (Jo
16.8-11).
Note
que Jesus disse que o Espírito convencerá "o mundo". Em outras
palavras, o Espírito Santo tem um ministério de convicção entre os inconversos.
Ele convence os mundanos de três coisas: (1) que seus pecados, especialmente o
pecado da descrença no Filho de Deus, os fez culpados diante de Deus, (2) que a
justiça é possível e desejável e (3) que os que não quiserem escutar a voz do
Espírito serão julgados por Deus.
A tentativa
do Espírito em produzir a convicção pode ser resistida (At 7.51), conforme
muitas vezes acontece. Há inclusive uma rejeição direta, que é a dos réprobos
(1 Tm 4.2). Esta a razão de ser a blasfêmia contra o Espírito (Mt 12.31,32; Mc
3.29) potencialmente tão grave: se o Espírito Santo retirar a sua presença, não
haverá mais possibilidade de arrependimento nem de perdão, porque não há
convicção nem senso de culpa. 28
O
Espírito também testifica a respeito de Cristo. Falando acerca do mundo, Jesus
afirmou:
Se eu, entre eles, não fizesse tais obras,
quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas, agora, viram-nas e me
aborreceram a mim e a meu Pai. Mas é para que se cumpra a palavra que está
escrita na sua lei: Aborreceram-me sem causa. Mas, quando vier o Consolador,
que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade, que
procede do Pai, testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes
comigo desde o princípio (Jo 15.24-27).
Poucas
pessoas se sentem dispostas a falar contra Jesus, quer sejam crentes, quer não.
Por quê? Cremos que é por causa do Espírito Santo: Ele testifica a respeito de
Cristo, convencendo a homens e mulheres a respeito da verdade.
Os cristãos podem testemunhar aos
inconversos, compartilhando a verdade do Evangelho (Jo 15.27; cf. 3.3,4,16-21).
Deus até mesmo promete que o Espírito nos guiará naquilo que dissermos (Mt
10.19; At 2 e 7 etc). Mas, para darmos a resposta da fé, precisamos da atuação
do Espírito Santo (Jo 15.26; cf. 3.5-8).
Além
da convicção íntima e do testemunho a respeito de Cristo, o Espírito também
confirma a Palavra de Deus. Ele o faz por meio sinais e maravilhas
sobrenaturais, que acompanham a sua proclamação. Paulo escreve à igreja em
Corinto sua própria experiência nessa questão: "E eu, irmãos, quando fui
ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de
palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus
Cristo e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em
grande tremor. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras
persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder,
para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de
Deus" (1 Co 2.1-5; cf. 12.7-11)
. Posteriormente, Paulo fala com mais clareza
a respeito de como o Espírito ressalta a sua apresentação do Evangelho:
"Porque não ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha
feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras; pelo poder dos
sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde
Jerusalém e arredores até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus
Cristo" (Rm 15.18,19).
O "poder" ao qual Paulo se refere
consiste no mesmo tipo de sinais e maravilhas que acompanhavam o ministério de
Jesus (At 2.22). Da mesma maneira, o Espírito continua a operar poderosamente
através do crente hoje, para confirmar a pregação da Palavra (At 4.8-12; 5.12;
Rm 12.4-8; 1 Co 12.27,28).
Resumindo, a totalidade da experiência do
pecador com o Espírito de Deus é negativa! O inconverso experimenta convicção
pelo pecado, ressaltada pelo fato de que a justiça agora é possível em Cristo e
aumentada ainda mais por causa da certeza do juízo vindouro. Quando o Espírito
testifica de Cristo, revela aquEle que viveu uma vida de retidão. Quando a
Palavra de Deus é pregada, o Espírito a confirma com poderosos sinais e
maravilhas. Não admira que o pecador odeie ouvir a pregação da Palavra de Deus,
pois lhe traz sentimento de culpa, insuficiência, ansiedade e convicção. Por
quê? Porque a obra do Espírito Santo entre os inconversos visa um único alvo:
levá-lo ao arrependimento!
Purificando o crente. A obra do Espírito não
cessa quando a pessoa reconhece sua culpa diante de Deus, mas vai crescendo a
cada etapa subsequente. A segunda etapa na santificação pelo Espírito Santo no
indivíduo é a conversão. Esta é uma experiência instantânea. Inclui a
santificação pelo Espírito, ou, em linguagem biblicamente mais correta, o
processo da santificação pelo Espírito inclui a conversão.
Podemos facilmente demonstrar esse fato pelas
Escrituras. Considere as palavras de Paulo: "Mas devemos sempre dar graças
a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o
princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade" (2
Ts 2.13). Note que a palavra "salvação" é qualificada por duas frases
preposicionais, que descrevem como foram salvos os crentes da Tessalônica. A
segunda frase: "fé na verdade" descreve o papel do crente na
salvação: ter fé no evangelho de Jesus Cristo (v. 14). A primeira frase:
"em santificação do Espírito", é mais importante para o presente
estudo. Descreve o papel do Espírito na salvação: santificar o crente. A ênfase
neste versículo não é que Deus escolheu algumas pessoas e outras não - a
predestinação clássica29 -, mas que Deus escolheu os meios pelos quais todos
seriam salvos: a fé do indivíduo na promessas de Deus mais o poder purificador
do Espírito de Deus (ver também At 10.15; 11.9; Rm 15.16; 1 Pe 1.1,2).
Outro
exemplo importante aparece 1 Coríntios. Paulo repreende a imoralidade dos
crentes de Corinto (5.1-8). Depois de alistar vários tipos de pecadores
(6.9,10), diz: "E o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas
haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus
e pelo Espírito do nosso Deus" (6.11). Paulo declara essa obra como
realizada pelo Espírito (cf. 2 Ts 2.13). A forma gramatical dos verbos gregos
aqui traduzidos por "lavados", "santificados" e "justificados"
(aoristo passivo) não dá a ideia de nenhum tipo de processo. Todos se referem à
mesma experiência instantânea e completa: a conversão. Não há a mínima
possibilidade de se interpretar o texto grego desses versículos no sentido de
ser a obra santificadora do Espírito algo distinto da salvação.
Não é
uma segunda obra específica da graça, conforme querem alguns. Os dois textos
bíblicos descrevem a santificação pelo Espírito como o meio pelo qual as
pessoas são salvas. O segundo texto (6.11) representa a salvação de modo
linear, que ocorre ao mesmo tempo que a lavagem e a justificação.
A
única maneira de reconciliar esses trechos com outros que falam da santificação
como um processo (ver abaixo) é reconhecer a santificação não meramente como
algo que ocorre após a conversão, mas como idêntica ao crescimento no Senhor. A
santificação inclui toda a obra de Deus na tentativa de salvar a humanidade do
juízo vindouro. No momento da conversão, nascemos de novo, desta vez o
nascimento no Espírito (Jo 3.5-8). Ao mesmo tempo, o Espírito nos batiza no
corpo de Jesus Cristo, que é a Igreja (1 Co 12.13; Ef 2.22).30
Instantaneamente, somos lavados, santificados e justificados, e tudo isto
mediante o poder do Espírito (1 Co 6.11; 2 Ts 2.13; 1 Pe 1.1,2). Nesse momento,
o Espírito de Deus começa a testificar ao nosso espírito que agora somos filhos
de Deus (Rm 8.15,16). O Espírito de vida nos liberta da lei do pecado e da
morte (8.2; cf. Jo 6.63). Agora somos novas criaturas em Deus (2 Co 5.17).
A
diferença fundamental entre um cristão e um não-cristão não está no estilo de
vida, na atitude ou mesmo no sistema de crenças. E que o crente deixa que Deus
o santifique, enquanto o inconverso não o permitiu. Essa diferença é uma das
razões por que o Novo Testamento frequentemente se refere aos crentes como
"santos" (Mt 27.52; At 9.13; Rm 1.7; 1 Co 1.2; Ef 1.1; Ap 5.8 etc),
ainda que passe a descrever seus pecados ou falhas (conforme faz Paulo em 1
Co). Sendo assim, o cristão não é necessariamente perfeito, mas alguém que se
arrependeu do seu pecado e submeteu-se ao poder purificador do Espírito de
Deus.
Realizando a justiça no crente. O Espírito de
Deus não abandona o crente após a conversão (Jo 14.16). Assim como na passagem
da convicção para a conversão, seu papel torna-se maior depois desta. A
submissão aumentada no crente leva a efeito maior cooperação e intimidade com o
Espírito, o que resulta na possibilidade de Ele fazer uma obra ainda maior
depois da conversão. Há três maneiras adicionais de o Espírito operar dentro do
crente: (a) Ele continuamente santifica o crente do pecado; (b) Ele liberta o
crente cada vez mais do pecado, na prática; e (c) Ele usa os crentes para
ajudar na obra da santificação.
Nenhum
crente pode chegar a dizer que está totalmente livre do pecado (1 Jo 1.8,9).
Somos culpados dos pecados de omissão pelo fato de nenhum de nós adorar
suficientemente, amar suficientemente ou servir suficientemente a Deus, isto
sem mencionar os pecados que cometamos de tempos em tempos. E por esta razão
que o sangue de Jesus nos purifica continuamente de todo o pecado (Jo 1.7 [o
tempo presente do verbo grego demonstra ação repetida ou contínua]).
O
papel de Jesus na santificação já foi concluído (Hb 10.12,13; cf. Jo 19.30).
Essa aplicação contínua do sacrifício de Jesus à nossa vida, conforme 1 João, é
obra do Espírito Santo. Foi neste sentido que Jesus falou do Espírito como
"rios de água viva" (Jo 7.38,39): suficiente para purificar toda a
nossa pecaminosidade. E assim, a cada momento o Espírito purifica o crente, que
deste modo sempre permanece santo diante de Deus.
Como
resultado, os crentes desfrutam de muitos benefícios. Estão livres da
condenação e da culpa (Rm 8.1,2). Têm acesso contínuo ao Pai (Ef 2.18). Podem,
agora, adorar em Espírito e em verdade (Jo 4.23,24). Finalmente, têm um penhor
(o Espírito) da sua herança futura no Senhor (Ef 1.14, cf. 5.5).
Além da purificação que o Espírito oferece a
cada momento, Ele também trabalha para nos ajudar a evitar o pecado. Por isso,
podemos falar de "um processo vitalício mediante o qual a santidade se
realiza em nossa vida". 31
Paulo,
em Romanos 8, emprega muitas analogias para falar dessa obra do Espírito. Ter a
"mente do Espírito" significa "viver segundo o Espírito"
(Rm 8.5) ou ser "controlado pelo Espírito" (vv. 6-9). Usa uma
expressão farisaica ao falar em andar no Espírito (gr. Peripatousin -
"andar", "viver" [NVI]). O conjunto de leis que ensinava
aos fariseus como aplicar a lei mosaica à vida cotidiana era chamado a halakah,
palavra derivada do verbo hebraico halakh, que significa "ir" ou
"andar".
A
lição é esta: os fariseus tinham um conjunto de leis não escritas (a Torá oral,
a "instrução" ou "tradição dos antigos"), as quais
determinavam a sua conduta em todas as situações. Assim, sabiam como evitar o
tornar-se impuro. O crente tem o Espírito Santo, que faz exatamente a mesma
coisa. Ele orienta sobre como agir a fim de evitar o pecado em todas as
situações (Rm 8.6-9). Pela mesma razão, o Espírito abre as Escrituras aos
crentes (1 Co 2.9-16) e frequentemente lhes faz lembrar daquilo que Jesus tem
dito na Palavra (Jo 14.26). Desta forma, o Espírito ajuda a tornar a justiça do
crente mais concreta, em vez de apenas jurídica. E um processo contínuo, que
durará enquanto o crente viver na Terra (1 Ts 5.23).
Finalmente, o Espírito usa os crentes para
ajudar na obra da santificação. Isto vai muito além da exigência de que
cooperemos continuamente no processo de nossa própria santificação (2 Co 6.16 -
7.1; Ap 22.11): coisas tais como resistir a tentação do pecado. Importa em
ajudar na santificação do próximo.
Nesses
tempos em que o divórcio prolifera, é de certo consolo saber que maridos e
mulheres crentes, dispondo-se a continuar com o cônjuge incrédulo, podem
exercer um ministério poderoso, ajudando o Espírito Santo a trazer a
santificação àquele cônjuge e aos filhos que habitarem no lar (1 Co 7.14).
Na
próxima seção, falaremos mais a respeito da ajuda à santificação do mundo,
embora boa parte dela seja igualmente aplicável aqui. Por enquanto, desejamos
focalizar a maneira de o crente ajudar o Espírito na santificação de outros
crentes. O Espírito dá ao crente "comunhão" com os demais santos (Fp
2.1). Dentro dessa comunhão, Deus nos desafia a confrontar uns aos outros no
tocante ao pecado (Mt 18), a encorajar uns aos outros (Hb 10.24), a amar uns
aos outros (Rm 13.8), a cuidar uns dos outros (1 Co 12.25). Todas essas ações
ajudam o Espírito na sua obra de conformar-nos à imagem de Cristo e nos
santificar na realidade.
Deus ordenou aos israelitas:
"Santificai-vos". O Novo Testamento retomou o tema, ampliando-o de um
modo que o torna especialmente relevante ao mundo sensual de hoje: "Porque
esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da
prostituição, que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação em
honra, não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem a
Deus... o Senhor é vingador de todas estas coisas... Porque não nos chamou Deus
para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não
despreza ao homem, mas, sim, a Deus, que nos deu também o seu Espírito
Santo" (1 Ts 4.3-8).
Revestindo de poder o crente. O batismo no
Espírito Santo descortina um novo papel para o crente na santificação do mundo.
Os crentes, uma vez batizados no Espírito Santo, têm melhor capacidade para
ajudar o Espírito a santificar os outros. Jesus mandou que seus discípulos
aguardassem o batismo no Espírito a fim de terem poder para testemunhar (At
1.4,5,8). E o batismo veio com um sinal que significava estar a nova aliança à
disposição de todas as pessoas, em todos os lugares. O sinal era o falar
"em outras línguas" (2.4). Hoje, poucas pessoas reconhecem que
"outras línguas" era originalmente falar em línguas que não fossem o
hebraico nem o aramaico. Virtualmente, pela primeira vez, Deus falou em outras
línguas e chamou os não-judeus a terem um relacionamento com Ele segundo a
aliança.
Era um
sinal poderoso de que a santificação universal, a respeito da qual haviam
falado os profetas, agora estava disponível a todos. Pedro, reconhecendo que a
multidão era composta de diferentes tipos de pessoas, homens e mulheres, jovens
e velhos, cita Joel 2.28-32 para apoiar a experiência. Dentro em breve, Deus
ainda lhe revelaria que até mesmo a conversão dos gentios seria aí incluída (At
10 e 11). A missão aos gentios captaria a imaginação da Igreja Primitiva. O
Evangelho de Jesus Cristo, dentro de bem poucos anos, seria propagado por todo
o mundo então conhecido.
Hoje,
o crente batizado no Espírito é vocacionado para a mesma tarefa. Revestidos
pelo poder do Espírito, podemos esperar que Deus confirme a sua Palavra com
sinais e maravilhas (Rm 15.18,19). O Espírito continua falando aos crentes,
conclamando-os a enviar pessoas específicas para ministérios especiais (At
11.12; 13.2) e às vezes até mesmo a lugares especiais (16.6-10).
Os
dons espirituais, que estão à disposição daqueles batizados no Espírito Santo,
também poderão ajudar na edificação dos santos, outro aspecto da obra contínua
da santificação realizada por Ele. Pode-se incluir aí uma palavra de sabedoria
ou de conhecimento, uma exortação, uma profecia ou línguas e interpretação (1
Co 12.7-10).
Mesmo assim, todos esses fenômenos servem
"para o que for útil" (v. 7) e "para edificação" [da
igreja] (14.26). 32
O
Espírito também edifica de outra maneira os santos para o ministério eficaz:
através do seu ministério de intercessão. Paulo diz assim: "E da mesma
maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que
havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com
gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção
do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos" (Rm
8.26,27).
Note que esse tipo de intercessão é
"pelos santos" (v. 27) e especificamente quando "não sabemos o
que havemos de pedir como convém" (v. 26). Alguns acreditam que isto tem a
ver com a intercessão em línguas, embora dificilmente possamos identificar com
certeza a expressão "gemidos inexprimíveis" (v. 26) como "outras
línguas" (que são faladas), apesar de que a oração em línguas pode também
incluir a intercessão.
Gostaríamos de encorajar os crentes a ficar à
disposição do Espírito, para que este os use no ministério da intercessão.33
Talvez a intercessão em línguas tenha ficado por detrás das declarações a
respeito do relacionamento entre o batismo no Espírito e a purificação, feitas
pelos antigos pentecostais. Com base nas Escrituras, não podemos concordar com
os que pretendem identificar o batismo no Espírito como uma segunda obra
instantânea da graça, chamada "santificação". Nem podemos concordar
com aqueles que tencionam fazer do batismo no Espírito condição prévia para a
salvação ou um meio de atingir determinado "status" no Reino de Deus.
Ainda que o Espírito Santo possa agir de maneiras diversas, profundas e
pessoais, poderá operar melhor naqueles que se entregarem a Ele. Estamos
convictos de que se inclui aqui até mesmo a obra de santificar o crente em
Cristo.
O
Espírito Santo completará essa obra em nós na segunda vinda de Cristo, mas, até
lá, temos a responsabilidade de nos purificar a nós mesmos (com a ajuda do
Espírito Santo) (1 Jo 3.2,3).
Definições e teologias da santificação que se
relacionam com o crente somente após a salvação são inadequadas. Não
representam integralmente o conceito bíblico de santificação, de modo que
sentem dificuldade em interpretar de modo razoável as várias maneiras como a
Bíblia a menciona.
O
plano divino da santificação abrange o mundo inteiro - tudo - animado e
inanimado. Aquilo que o Espírito Santo não realizou através da antiga aliança,
está realizando poderosamente na nova. E aquilo que não quer ou não pode ser
purificado será destruído pelo fogo. Temos o grande privilégio de sermos não
somente objetos do processo de santificação, mas seus auxiliares, para a maior
glória de Deus.
Stanley-Horton-Teologia-Sistematica
Santificação
Thomas Watson
“Porque esta é
a vontade de Deus, a vossa santificação” (I Ts 4.3).
A palavra
santificação significa consagrar e separar para uso sagrado. Por conseguinte,
elas são pessoas santificadas que estão separadas do mundo e separadas para o
serviço de Deus. Santificação tem uma parte privativa e outra positiva.
I. A parte
privativa consiste na remoção do pecado. O pecado é comparado ao fermento, que
leveda; e à lepra, que contamina. A santificação remove “o velho fermento” (1Co
7). Embora não tire a existência do pecado, no entanto, elimina o amor a ele.
II. A parte
positiva, que é a depuração espiritual da alma; que na Escritura é chamada de
“renovação da nossa mente” (Rm 12.2), e a “coparticipação da natureza divina”
(2Pe 1.4). Os sacerdotes sob a Lei não foram apenas lavados numa grande pia,
mas também adornados com um glorioso vestuário (Êx 28.2); assim também a
santificação não só lava do pecado, mas adorna com pureza.
O que é
santificação?
É um princípio
da graça produzido de forma salvadora, pelo qual o coração se torna santo e
feito segundo o coração de Deus. Uma pessoa santificada tem não só o nome de
Deus, senão também Sua imagem. Na exposição da natureza da santificação, vou
mostrar as seguintes sete posições:
(1) A
santificação é algo sobrenatural e é divinamente infundida. Estamos poluídos
por natureza, e Deus toma para si a prerrogativa da limpeza: “Eu sou o Senhor
que vos san-tifica” (Lv 21.8). As ervas daninhas crescem por si mesmas, no
entanto as flores são plantadas. A santificação é uma flor, resultado da
plantação do Espírito, daí que é chamada “A santificação do Espírito” (1Pe
1.2).
(2) A santificação é algo intrínseco; encontra-se principalmente no coração. Ela é chamada de “o ornamento do homem encoberto no coração” (1Pe 3.4). O orvalho molha a folha, a seiva está escondida na raiz. Similarmente, a religião de alguns consiste somente nas coisas externas, mas a santificação está profundamente enraizada na alma. “No oculto me fazes conhecer a sabedoria” (Sl 51.6).
(3) A
santificação tem seu aspecto extenso: ela se espalha por todo o homem. “O Deus
de paz vos santifique em tudo” (1Ts 5.23). Como a corrupção original depravou
todas as faculdades — “Toda a cabeça está doente, todo o coração fraco”,
nenhuma parte está sã, como se toda a massa de sangue estivesse corrompida,
portanto, a santificação abrange toda a alma. Após a Queda, houve ignorância na
mente; mas devido à santificação, nós somos “luz no Senhor” (Ef 5.8). Após a
Queda, a vontade depravou-se; não havia apenas impotência para o bem, mas
também obstinação. Na santificação, há uma maleabilidade abençoada na vontade;
ela simboliza e harmoniza-se com a vontade de Deus. Após a Queda, os afetos
foram deslocados para objetos errados; na santificação, eles são transformados
em uma doce ordem e harmonia, a tristeza é colocada sobre o pecado, o amor
sobre Deus e a alegria no céu. Assim, a santificação se espalha tanto quanto a
corrupção original; ela vai ao longo de toda a alma: “o Deus de paz vos
santifique em tudo”. Não é uma pessoa santificada, quem apenas é bom em alguma
parte, senão quem é santificado em tudo como um todo; portanto, nas Escrituras,
a graça é chamada de “novo homem”, não um novo olho ou uma nova língua, mas um
“novo homem” (Cl 3.10). Um bom cristão, embora seja santificado em parte, no
entanto, ele é santificado em todas as partes.
(4)
Santificação é algo intenso e ardente. Qualitates suint in subjecto intensivo
[Suas propriedades ardem dentro do crente]. “Fervorosos no espírito” (Rm
12.11). Santificação não é uma forma morta, mas está inflamada em zelo.
Chamamos de água quente, quando esta chega ao terceiro ou quarto grau; desta
maneira, santo é aquele cuja religião é aquecida a tal ponto que seu coração se
consome por amor a Deus.
(5) A
santificação é algo belo. Faz Deus e os anjos caírem em amor por nós. “Os
ornamentos de santidade” (Sl 110.3). O que o sol é para o mundo, a santificação
é para a alma, embelezando-a e adornando-a aos olhos de Deus. Aquilo que faz
que Deus seja glorioso é necessário que também faça em nós da mesma forma.
Santidade é a joia mais brilhante da Divindade. “Glorioso em santidade” (Êx
15.11). A santificação é o primeiro fruto do Espírito; é o início do céu na
alma. A santificação e glória diferem apenas no grau: a santificação é a glória
em semente, e glória é a santificação em flor. A santidade é a quintessência da
felicidade.
(6) A
santificação é algo permanente. “Sua semente permanece nele” (Jo 3.9). Aquele
que é verdadeiramente santificado, não pode cair daquele estado. De fato, a
santidade aparente pode ser perdida, as cores podem ser removidas; a
santificação pode sofrer um eclipse. “Deixaste o teu primeiro amor” (Ap 2.4). A
verdadeira santificação é uma flor da eternidade. “A unção que vós recebestes
permanece em vós” (1Jo 2.27). Aquele que é verdadeiramente santificado não pode
mais cair do que os anjos, que são fixos em suas órbitas celestes.
(7) A
santificação é progressiva. Ela está em crescimento; ela é comparada a uma
semente que cresce: primeiro a erva brota, depois a espiga, depois o milho
maduro na espiga; assim os que já são santificados podem ser mais santificados
(2Co 7.1). A justificação não admite graus; um crente não pode ser mais eleito
ou justificado do que ele já é, mas ele pode ser mais santificado do que ele o
é. A santificação sempre está progredindo, como o sol da manhã, que brilha
gradualmente até ao meridiano completo. Diz-se do conhecimento que cresce e da
fé que aumenta (Cl 1.10; 2Co 10.15). Um cristão está continuamente adicionando
um côvado à sua estatura espiritual. Não acontece conosco o que aconteceu com
Cristo, que recebeu o Espírito sem medida; pois Cristo não poderia ser mais
santo do que era. Temos o Espírito apenas em medida, e a nossa graça ainda pode
ser aumentada. Como Apeles, que depois de haver pintado um quadro, ainda estava
aprimorando-o com o seu pincel. A imagem de Deus está desenhada em nós, mas
imperfeitamente, portanto, devemos ainda ser melhorados e pintados com cores
mais vivas. A santificação é progressiva; se não cresce, é porque ela não está
viva. Então, você pode ver a natureza da santificação.
Quais são as
falsificações de santificação?
Há coisas que
se parecem com a santificação, mas não são.
(1) A primeira
falsificação de santificação é a virtude moral. Ser justo, ser temperante, ser
de um comportamento justo, não ter um brasão manchado com um escândalo
vergonhoso é bom, mas não o suficiente; isso não é santificação. Um campo de
flores difere de um jardim de flores. Os pagãos alcançaram a moralidade; como
Catão, Sócrates e Aristides. A civilidade é apenas a natureza refinada; não há
nada de Cristo ali, e o coração pode ser sujo e impuro. Debaixo destas folhas
de civilidade o verme da incredulidade pode estar escondido. Uma pessoa moral
tem uma antipatia secreta contra a graça; ela odeia o vício, e ela odeia a
graça tanto quanto o vício. A serpente tem uma bela cor, mas também uma picada.
Uma pessoa adornada e educada com a virtude moral tem uma antipatia secreta
contra a santidade. Os estoicos, que eram as cabeças do paganismo moralizado,
eram os piores inimigos que Paulo tinha (At 17.18).
(2) A segunda
falsificação de santificação é a devoção supersticiosa. Esta abunda no papado;
adorações, imagens, altares, vestimentas e água benta, que eu olho como um
delírio religioso, e está longe de ser santificação. Isso não acrescenta
nenhuma bondade intrínseca a um homem, e não o faz um homem melhor. Se as
purificações legais e lavagens, que eram designadas pelo próprio Deus, não
fizeram aqueles que fizeram uso delas mais santos; e os sacerdotes, que usavam
as vestes sagradas, e tinham o óleo santo derramado sobre eles, não foram mais
santos, sem a unção do Espírito; então com toda certeza essas inovações
supersticiosas na religião, que Deus nunca indicou, não pode contribuir com
qualquer santidade aos homens. A santidade supersticiosa não custa grande
trabalho; não há nada do coração nela. Se rezar alguns rosários, ou inclinar-se
diante de uma imagem, ou borrifar-se com água benta fosse santificação e tudo
quanto lhes é exigido para ser salvo, então o inferno estaria vazio, ninguém
iria lá.
(3) A terceira
falsificação da santificação é a hipocrisia; que acontece quando os homens
fazem uma simulação de algo que eles não têm. Assim um cometa pode brilhar como
uma estrela, um lustre pode brilhar por causa do ofício, o qual deslumbra os
olhos dos espectadores. “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia”
(2Tm 3.5). Estes são as lâmpadas sem óleo; sepulcros caiados, como os templos
egípcios, que tiveram belas fachadas externas, mas em seu interior continham
aranhas e macacos. O apóstolo fala da verdadeira santidade (Ef 4.24), denotando
que há santidade que é espúria e fingida. “Tu tens nome de que vives, e estás
morto” (Ap 3.1), como quadros e estátuas que estão destituídos do princípio de
vida. “Nuvens sem água” (Jd 12). Eles fingem ser cheios do Espírito, mas são
nuvens vazias. Esta exibição de santificação é um autoengano. Aquele que toma
cobre em lugar de ouro, peca contra si mesmo; ele é a maior falsificação da
santidade enquanto vive, mas engana a si mesmo quando ele morre. Fingir
santidade quando ela não existe é uma coisa vã. Em que ajudaram as lâmpadas às
virgens néscias quando elas precisaram de óleo? O que é a lâmpada da profissão
sem o óleo da graça salvadora? Que conforto produzirá ao final uma mera
pretensão de santidade? Aquilo que é pintado de dourado torna-se valioso? Uma
pintura de vinho poderá refrescar o sedento? Ou uma santidade pintada será
cordial na hora da morte? A santificação fingida não é algo em que devamos
descansar. Muitos navios que tiveram nomes como “Esperança”, “O Amparo”, “O
Triunfo”, naufragaram em rochas; assim, muitos que tiveram o nome “santos”,
naufragaram no inferno.
(4) A quarta
falsificação da santificação está na graça restritiva, quando os homens se
abstêm do vício, embora não o odeiem. Este pode ser o lema do pecador: com
prazer eu o faria, mas eu não me atrevo. O cão tem em mente o osso, mas tem
medo do açoite da vara; assim os homens têm a mente para a luxúria, mas a
consciência permanece como o anjo, com uma espada flamejante e amedrontadora:
eles têm a mente voltada para a vingança, mas temem o inferno e isto é um freio
para controlá-los. Não há mudança de coração; o pecado é controlado, mas não
curado. Um leão pode estar em jaulas, mas ainda é um leão.
(5) A quinta
falsificação da santificação é a graça comum, que é uma leve e passageira obra
do Espírito, mas não equivale a conversão. Existe alguma luz no juízo, mas não
é humildade; algumas picadas na consciência, mas eles não estão despertos. Isto
se parece com a santificação, mas não é. Os homens podem ter convicções
formadas neles, mas libertam-se delas novamente, como o veado, o qual, ao ser
alvejado, sacode a seta.
Após serem
convictos, os homens vão para a casa da alegria, tomam a harpa para afastar o
espírito de tristeza, e por isso todas [as convicções] morrem e tornam-se em
nada.
Em que surge a
necessidade de santificação?
Em seis
coisas:
(1) Deus nos
chamou para isso. “Quem nos chamou pela sua glória e virtude” (2Pe 1.3); para a
virtude, assim como para sua glória. “Deus não nos chamou para a impureza, mas
para a santificação” (1Ts 4.7). Não temos nenhum chamado para o pecado, podemos
ter uma tentação, mas nenhum chamado para isso, nenhum chamado para sermos
orgulhosos ou imundos; mas temos um chamado para sermos santos.
(2) Sem
santificação não há evidência da nossa justificação. Justificação e
santificação andam juntas. “Mas haveis sido santificados, mas haveis sido
justificados” (1Co 6.11). “Perdoa a iniquidade” (Mc 7.18); há a justificação:
“sujeitará as nossas iniquidades” (v. 19), Há também a santificação: “Saiu
sangue e água” (Jo 19.34); sangue para a justificação; água para a
santificação. Se não pudesse haver água do lado de Cristo para limpá-los, da
mesma maneira nunca haveria sangue do seu lado para salvá-los.
(3) Sem
santificação não temos nenhuma participação na nova aliança. O pacto da graça é
o nosso alvará para o céu. A posse da aliança é que Deus será o nosso Deus. Mas
quem está interessado na aliança, e pode invocar o benefício dela? Somente
pessoas santificadas. “E dar-vos-ei um novo coração, e porei o meu Espírito
dentro de vós, e eu serei o vosso Deus” (Ez 36.26). Se um homem fizer um
testamento, ninguém senão certas pessoas, são nomeadas no testamento, e podem
reclamá-lo, assim Deus fez seu testamento, mas este é restringido e limitado
apenas para pessoas santificadas, e é uma grande presunção para quem não é
santificado reivindicar o testamento.
(4) É
impossível ir para o céu sem santificação. “Sem santidade ninguém verá o
Senhor” (Hb 12.14). Deus é um Deus santo, e Ele não suportará a presença de
alguma criatura não santa perto dEle. Um rei não sofrerá a presença de um homem
que tenha uma praga de úlceras no seu corpo. O céu não é como a arca de Noé,
onde os animais limpos e os imundos entraram. Nenhum animal impuro entrará na
arca celestial; porque embora Deus sofra a presença do pecador enquanto está na
terra, no entanto, ele nunca sofrerá no céu ser incomodado com tamanha repugnância.
Aqueles que mergulham no pecado estão aptos para ver a Deus? Será que Deus vai
colocar essas víboras em Seu seio? “Sem santidade ninguém verá o Senhor”. É o
olho limpo que vê um objeto brilhante: e somente um coração santo pode ver Deus
em Sua glória. Os pecadores podem ver a Deus como um inimigo, mas não como um
amigo; ter uma visão aterrorizadora dEle, mas não uma visão beatífica; ver a
espada flamejante, mas não a arca. Oh, portanto, quão grande é a necessidade da
santificação!
(5) Sem
santificação todas as nossas coisas sagradas estão contaminadas. “Nada é puro
para os impuros” (Tt 1.15). Nos termos da lei, se um homem, que estivesse
imundo por um corpo morto, carregasse um pedaço de carne santa na sua túnica, a
carne santa não a limparia e, ainda, seria poluída por ela (Ag 2.12,13). Este é
um símbolo do pecador contaminando oferecendo sua santa oferta. Um estômago
doente faz indigesta a melhor comida; assim um coração não santificado
contamina orações, ofertas e sacramentos. Isto demonstra a necessidade da
santificação. A santificação faz com que nossas coisas santas sejam aceitas. Um
coração santo é o altar que santifica a oferta; se não é para satisfação, o
será para aceitação.
(6) Sem
santificação não podemos mostrar nenhum sinal da nossa eleição (2Ts 2.13). A
eleição é a causa da nossa salvação, mas a santificação é a nossa evidência. A
santificação é característica das ovelhas eleitas de Cristo.
Quais são os
sinais de santificação?
Em primeiro
lugar, o fato de sermos santificados os faz lembrar o momento em que eles não
eram santificados (Tt 3.3). Nós estávamos no nosso sangue, e então Deus nos
lavou com água, e nos ungiu com o óleo (Ez 16.9). As árvores de justiça que
florescem e produzem amêndoas, fazem lembrar quando elas eram como a vara seca
de Arão, quando não florescia nenhuma santidade. A alma santificada lembra
quando estava afastada de Deus por causa da ignorância e vaidade, e quando a
graça implantou nela a santidade.
Um segundo
sinal da santificação é a habitação do Espírito. “O Espírito Santo que habita
em nós” (2Tm 1.14). Assim como o espírito imundo habita nos ímpios e os leva ao
orgulho, luxúria, vingança e o diabo entra nesses porcos (At 5.3), assim o
Espírito de Deus habita em eleitos, como seu guia e consolador. O Espírito possui
os santos. O Espírito de Deus santifica a imaginação, tornando os pensamentos a
um estado santo; e santifica a vontade, colocando uma nova preferência sobre
ela, graças à qual ela está inclinada para o bem. Aquele que é santificado tem
a influência do Espírito, embora não a essência.
Um terceiro
sinal de santificação é uma antipatia contra o pecado (Sl 119.104). Um
hipócrita pode deixar o pecado, mas ele o ama; assim como uma serpente
despoja-se de sua pele, mas mantém seu veneno; mas de uma pessoa santificada
pode-se dizer que ela não só deixa o pecado, mas o detesta. Como existem
antipatias entre a natureza da videira e o louro, assim, em uma alma
santificada há uma antipatia santa contra o pecado; e antipatias nunca podem
ser conciliadas. Devido a um homem ter antipatia contra o pecado é impossível a
ele deixar de se opor aquele, e buscar a destruição do mesmo.
Um quarto
sinal de santificação é o desempenho espiritual dos deveres, com o coração, e a
partir do princípio do amor. A alma santificada ora por amor à oração e “chama
o sábado deleitoso” (Is 58.13). Um homem pode ter dons ao ponto de ser
admirado; ele pode falar como um anjo vindo do céu, mas ele pode ser carnal nas
coisas espirituais; seus serviços podem vir de um princípio não regenerado, nem
serem realizados sobre as asas do prazer no dever. A alma santificada adora a
Deus no Espírito (1Pe 2.5). Deus não julga os nossos deveres por seu
comprimento, mas pelo amor de onde brotam.
Um quinto
sinal é uma vida bem ordenada. “Sede vós também santos em toda maneira de
viver” (1Pe1.15). Onde o coração é santificado a vida também o será. O templo
tinha ouro por fora e como também por dentro. Como em uma moeda não existe
somente a imagem do rei por um lado, mas também sua inscrição pelo outro, assim
onde há santidade, não somente existe a imagem no coração, senão também, uma
inscrição de santidade escrita na vida. Alguns dizem que eles têm um bom
coração, mas suas vidas são depravadas. “Há geração que é pura aos seus
próprios olhos, mas que nunca foi lavada da sua imundícia” (Pv 30.12). Se a
água está suja no balde, é porque não está limpa no poço. “A filha do rei é
toda ilustre lá dentro” (Sl 45.13). Há santidade no coração. “Sua roupa é de
ouro”. Há santidade de vida. A graça é mais bela quando a sua luz brilha de tal
forma que outros possam vê-la; este adorna a religião, e faz prosélitos da fé.
Um sexto sinal
é a resolução firme. Ele está resoluto em nunca largar sua santidade. Se os
outros a reprovarem, ele a amará mais, assim como a água ao ser borrifada sobre
o fogo, o levará queimar mais. Ele diz como Davi, quando Mical o repreendeu por
dançar diante da arca, “Se isto é ser vil, vou ser ainda mais vil” (2Sm 6.22).
Embora os outros o persigam por sua santidade, diz ele, como Paulo: “Nenhuma
dessas coisas me comovem” (At 20.24). Ele prefere a santidade à segurança, e
manter sua consciência limpa do que a sua pele ilesa. Ele diz como Jó: “À minha
justiça me apegarei e não a largarei” (Jó 27.6). Ele abre mão da sua vida antes
do que da sua consciência.
Primeira
Aplicação: A coisa principal que um cristão deve cuidar é a santificação. Este
é o “unuin necessarium”, a única coisa necessária. A santificação é o nosso
mais puro estado, que nos faz como o céu, adornado com estrelas; é a nossa
nobreza, por ela somos nascidos de Deus e participantes da natureza divina; é
nossa riqueza, e assim comparada a colares de joias e correntes de ouro (Ct
1.10). Ela é o nosso melhor certificado para o céu. Que evidência temos, além
dela? Temos conhecimento? Também o diabo. Professamos alguma religião? Satanás
muitas vezes aparece na capa de Samuel, e transforma-se em anjo de luz. Mas o nosso
certificado para o céu é a santi-ficação. A santificação é a primícia do
Espírito; a única moeda circulante no outro mundo. A santificação é a prova do
amor de Deus. Não podemos conhecer o amor de Deus, pela saúde que Ele nos dá,
ou pela riqueza ou sucesso; senão que pelo fato dEle imprimir Sua imagem de
santificação em nós pelo pincel do Espírito Santo.
Oh! A miséria
dos que são destituídos do princípio de santificação: Eles estão
espiritualmente mortos (Ef 2.1). Apesar de respirarem, eles não vivem. A maior
parte do mundo está em um estado não santificado. “O mundo jaz no Maligno” (Jo
5.19). Isto é, a maior parte do mundo. Muitos se dizem cristãos, mas excluem a
palavra santos. Você pode também chamá-lo de um homem inteligente, aquele
cristão busca. E, o que é pior, alguns estão em tal grau de perversidade, que
odeiam e zombam da santificação, eles a odeiam. Se já é ruim rejeitá-la, é
ainda pior odiá-la. O que eles abraçam é a forma da religião, mas odeiam o
poder dela; assim como o abutre detesta os cheiros agradáveis, da mesma forma
eles detestam os perfumes da santidade. Eles dizem isso em escárnio, esta é a
sua “santidade”! Para ridicularizar a santificação defendem um alto grau de
ateísmo, e isto é neles uma marca sombria de reprovação. Ismael foi expulso da
família de Abraão por escarnecer (Gn 21.9); da mesma maneira, zombar da
santidade acarretará ser expulso do Céu.
Segunda
aplicação: Acima de tudo sigam a santificação. Busque a graça mais do que o
ouro. “Guarda-a, pois ela é a tua vida” (Pv 4.13).
Quais são os
principais incentivos para a santificação?
(1) É a
vontade de Deus que sejamos santos, como diz o texto, “Esta é a vontade de
Deus, a vossa santificação”. Assim como a palavra de Deus deve ser a regra,
também deve ser Sua vontade a razão das nossas ações. Esta é a vontade de Deus,
a nossa santificação. Talvez não seja a vontade de Deus que sejamos ricos, mas
é a vontade dele que sejamos santos. A vontade de Deus é a nossa garantia.
(2) Jesus
Cristo morreu para nossa santificação. Cristo derramou seu sangue para lavar
nossa impureza. A cruz era tanto um altar quanto um lavatório. “Quem deu a si
mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade” (Tt 2.14). Se pudéssemos ser
salvos sem santidade, Cristo não precisaria ter morrido. Cristo morreu, não
somente para nos salvar da ira, mas também do pecado.
(3)
Santificação nos torna semelhantes a Deus. Foi o pecado de Adão o querer ser
como Deus em onisciência, mas devemos esforçar-nos para sermos como Ele em
santidade. É num espelho limpo que nós podemos ver o rosto, e é num coração
santo em que algo de Deus pode ser visto. Nada de Deus pode ser visto em um
homem não santificado, mas você pode ver uma pintura de Satanás nele. A inveja
é o olho do diabo, a hipocrisia seu pé fendido; mas nada da imagem de Deus pode
ser visto nele.
(4) A
santificação é algo a qual Deus muito ama. Não são os adornos exteriores,
nobreza social ou a grandeza mundana que atraem o amor de Deus, mas um coração
adornado com santidade. Cristo nunca admira nada a não ser a beleza da
santidade: Ele menosprezava os edifícios gloriosos do templo, mas admirava a fé
da mulher, e disse: “Ó, mulher, grande é a tua fé”. O Amor fundatur
similitudine [O amor baseia-se na similaridade]. Como um rei se agrada em ver
sua imagem em uma moeda, do mesmo modo onde Deus vê sua imagem, aí Ele põe Seu
amor. O Senhor tem dois céus para habitar, e o coração santo é um deles.
(5)
Santificação é a única coisa que nos faz diferentes dos ímpios. O povo de Deus
tem Seu selo sobre eles. “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este
selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo
aparte-se da iniquidade” (2Tm 2.19). Os piedosos são selados com um selo duplo,
o selo da eleição, “O Senhor conhece os que são seus” e um selo de
santificação: “e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da
iniquidade”. Este é o nome pelo qual o povo de Deus é conhecido, “O povo da tua
santidade” (Is 63.18). Assim como a castidade distingue uma mulher virtuosa de
uma prostituta, a santificação distingue o povo de Deus dos outros. “Vós tendes
recebido a unção do Santo” (Jo 2.20).
(6) É tão
grande a vergonha de ter o nome de um cristão, mas carecer de santidade, ou ter
um nome de mordomo e carecer de fidelidade; ou o nome de uma virgem, e não
possuir castidade. Isto expõe a religião ao opróbrio, como ser batizado em nome
de Cristo, enquanto se é profano, e possui olhos cheios de lágrimas no Sabath,
e nos dias da semana os olhos cheios de adultério (2Pe 2.14); ser tão devoto à
mesa do Senhor, como se os homens estivessem o céu, e assim a profanar na
semana seguinte, como se eles saíssem do inferno; ter o nome de cristãos, sendo
profano é um escândalo para a religião, e faz com que os caminhos de Deus sejam
blasfemados.
(7)
Santificação se é adequada para o céu: “Quem nos chamou pela sua glória e
virtude” (2Pe 1.3). A glória é o trono, e a santificação é o degrau pelo qual
subimos a ele. Como você primeiro limpa o vaso para depois despejar o vinho
nele; assim Deus em primeiro lugar, nos purifica pela santificação e, em
seguida, derrama o vinho da glória. Salomão foi ungido com o óleo primeiro, e
só então foi rei (1Rs 1.39). Primeiro Deus nos unge com o óleo sagrado do Seu
Espírito, e em seguida, põe a coroa da felicidade sobre as nossas cabeças. A pureza
do coração e ver a Deus estão ligados entre si intimamente (Mt 5.8).
Como a
santificação pode ser alcançada?
(1)
Familiarize-se com a Palavra de Deus. “Santifica-os na tua verdade” (Jo 17.17).
A Palavra é tanto um espelho para nos mostrar as manchas de nossa alma, como um
lavatório para nos limpar. A Palavra tem um poder transformador em si mesma;
ela ilumina a mente e consagra o coração.
(2) Obtenha fé
pelo sangue de Cristo. “Tendo purificado os seus corações pela fé” (At 15.9).
Um toque de fé purifica. Nada pode ter uma força maior sobre o coração para
santificá-lo do que a fé. Se eu acredito que Cristo e Seus méritos são meus,
como posso pecar contra Ele? A fé que justifica faz o que a fé miraculosa faz
no sentido espiritual, ela remove montanhas, as montanhas do orgulho, luxúria,
inveja. A fé e o amor ao pecado são inconsistentes.
(3) Anseie o
Espírito. Isto é chamado de: “a santificação do Espírito” (2Ts 2.13). O
Espírito santifica o coração, como o relâmpago purifica o ar, e como o fogo
refina os metais. Omne agens generat simile sibi. [O Espírito enquanto trabalha
gera sua própria semelhança em todas as partes]. O Espírito imprime de sua
própria santidade no coração, assim como um carimbo imprime sua semelhança
sobre a cera. O Espírito de Deus em um homem o perfuma com a santidade e torna
seu coração um mapa do céu.
(4)
Relacione-se com pessoas santificadas. Elas podem, mediante seus conselhos,
orações e exemplo santo, serem um meio de torná-lo santo. Como a comunhão dos
santos está em nosso credo, então, estes devem ser nossa companhia. “Aquele que
anda com os sábios será sábio” (Pv 13.20). Associação gera assimilação.
(5) Ore pela
santificação. Jó propõe uma pergunta: “Quem do imundo tirará o puro?” (Jó
14.4). Deus pode fazê-lo. De um coração impuro Ele pode produzir graça. Oh!
Faça da oração de Davi a sua: “cria em mim um coração puro, ó Deus” (Sl 51.10).
Derrama o teu coração diante do Senhor, dizendo: Senhor, o meu coração não
santificado contamina tudo o que toca. Não é adequado que eu viva com tal
coração, pois ele não pode honrar-Te; nem posso morrer em tal coração, pois não
poderei ver-Te. Oh cria em mim um coração novo! Senhor, consagra o meu coração,
e torna-o Teu templo, e os teus louvores serão cantados ali para sempre.
Terceira Aplicação: Será que Deus já trouxe uma coisa pura de uma impura? Já santificou você? Então, vista esta joia da santificação com gratidão. “Dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança” (Cl 1.12). Tu cristão, podes contaminar-te, mas não santificar-te a ti mesmo; a não ser que Deus o faça, Ele não só tem acorrentado o pecado, mas também tem mudado a tua natureza, e te fez como a filha de um rei, toda gloriosa por dentro. Ele colocou sobre ti a couraça da santidade, que, embora possa ser golpeada, nunca poderá ser atravessada. Há alguém aqui que é santificado? Deus fez mais por você do que milhões de pessoas, os quais podem ser inteligentes, mas não são santificadas. Ele fez mais por você do que se Ele te tivesse feito filho de príncipes, e te tivesse feito cavalgar sobre as alturas da terra. Você está santificado? O Céu começou em você; pois a felicidade nada mais é do que a quintessência da santidade. Oh, quão agradecido você deve estar para com Deus! Faça como aquele cego no evangelho fez depois que ele recuperou a vista, ele “seguiu Cristo, glorificando a Deus” (Lc 18.43). Faça que o céu ouça os louvores a Deus.
Oh Deus e Pai
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo te pedimos que uses estas palavras, e
que, pelo Teu Espírito Santo, aplique com poder o que de Ti há neste sermão aos
nossos corações e nos corações daqueles que lerem estas linhas, por Cristo para
a glória de Cristo.
Ore para que o
Espírito Santo use estas palavras para trazer muitos ao Conhecimento Salvador
de Jesus Cristo, pela Graça de Deus. Amém.
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