TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Atos
9.1-8,17
E Saulo,
respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao
sumo sacerdote.
E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se
encontrasse alguns deste Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse
presos a Jerusalém.
E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o
cercou um resplendor de luz do céu.
E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me
persegues?
E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu
persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.
E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o
Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.
E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo
ninguém.
E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E,
guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.
E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.
TEXTO ÁUREO
Mas
em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a
minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho
do evangelho da graça de Deus.
Atos 20.24
OBJETIVOS
Compreender que Paulo
colocou seu chamado acima de suas aspirações pessoais;
Conhecer seus
principais feitos ministeriais e a tônica de seus escritos;
Saber quais características da personalidade do apóstolo são dignas de imitação.
Revista:
Central Gospel
Atos
Atos 9:1-9
Nesta passagem temos o relato da conversão
mais famosa da história. Devemos penetrar na mente de Paulo o quanto pudermos,
para então vermos que não se trata de uma conversão repentina, mas de uma
rendição repentina. Algo a respeito de Estêvão subsistia na mente de Paulo e
não podia apagar-se. Como podia um homem bom morrer assim? Para fazer calar
essa insistente duvida Paulo se lançou à ação mais violenta possível.
Muitas
vezes acontece que quando um homem se dirige a realizar uma ação de cuja
retidão tem certas dúvidas, redobra seus esforços e se esforça para
convencer-se a si mesmo de que sua atitude é a correta, para silenciar suas
dúvidas. Sua primeira ação foi perseguir os cristãos de Jerusalém. Isto só
piorava as coisas porque estava obrigado a perguntar-se a si mesmo que segredo
fazia com que essa gente singela enfrentasse o perigo, o sofrimento e a perda
de seus bens, serenos e sem medo de ninguém. De modo que, afundando-se ainda
mais na ação violenta e com sanha redobrada se apresentou perante o Sinédrio.
As
ordens do Sinédrio tinham vigência em qualquer lugar em que houvesse judeus.
Paulo ouviu que alguns cristãos escaparam a Damasco e pediu cartas que o
creditassem para ir a essa cidade e reclamá-los por extradição. A viagem só
piorou as coisas. Entre Jerusalém e Damasco havia cerca de duzentos e trinta
quilômetros. A viagem devia fazer-se a pé e levaria em torno de uma semana. Os
únicos acompanhantes de Paulo eram os oficiais do Sinédrio, uma sorte de força
policial. Sendo fariseu, não podia tratar com eles; de modo que partia sozinho;
e ao fazê-lo pensava, porque não tinha outra coisa a fazer. O caminho
atravessava Galiléia e esta região trouxe para sua memória mais vividamente
aquele Jesus. A tensão em seu interior aumentou. Assim chegou perto de Damasco.
Damasco era uma das cidades mais velhas do
mundo. Justo diante dela a rota subia o Monte Hermón, e lá abaixo estava
Damasco, uma bela cidade branca em uma planície verde, "um punhado de
pérolas em uma taça de esmeraldas", como alguém a chamou. Essa região
tinha um fenômeno característico. Quando o ar quente da planície se encontrava
com o ar frio da montanha, desatavam-se violentas tormentas elétricas. Nesse
momento houve uma tormenta deste tipo e Cristo falou com Paulo através dela. E
nesse momento finalizou a batalha e Paulo se rendeu a Cristo. De modo que
entrou em Damasco mudado. E que grande mudança houve nele! Aquele que tinha
tentado entrar em Damasco como uma fúria vingativa, o fazia guiado pela mão,
cego e impotente como um menino.
Todo o
cristianismo está presente no que o Cristo ressuscitado disse a Paulo.
“Levante-se, entre na cidade; alguém lhe dirá o que você deve fazer” (v. 6,
NVI). Até esse momento Paulo esteve fazendo o que ele queria, o que ele
considerava apropriado, o que sua vontade opinava. Deste momento em diante
alguém lhe diria o que teria que fazer. O cristão é um homem que deixou de
fazer o que ele desejava e começou a fazer o que Jesus Cristo quer que faça.
UM ATO CRISTÃO DE BOAS-VINDAS
Atos
9:10-19ª
Sem
dúvida alguma Ananias é um dos heróis esquecidos da Igreja cristã. Se for certo
que a Igreja Paulo deve à oração de Estêvão, também é certo que se deve à
fraternidade de Ananias. A reputação de Paulo chegou antes dele. Ananias
recebeu a mensagem de Deus de que devia ir ajudá-lo. É levado dirige a uma rua
chamada Direita. Esta era uma grande rua que corria do leste ao oeste da
cidade. Estava dividida em três partes, um meio-fio central por onde se movia o
trânsito, e duas calçadas para os pedestres caminharem e onde os mercados, sob
toldos de lona, sentavam-se em seus pequenos negócios e ofereciam suas
mercadorias.
Quando
essa mensagem chegou a Ananias deve ter parecido uma loucura. Deus lhe disse:
"Vá e ajude o homem que veio para pôr você numa prisão e que teria amado
assassiná-lo." Poderia ter-se aproximado de Paulo com suspeitas, como
alguém que está realizando uma tarefa que lhe desgosta; poderia ter começado
muito bem com recriminações e o culpando; mas não o fez; suas primeiras
palavras foram: "Irmão Saulo". Que boas-vindas havia nessas palavras!
É um dos exemplos mais sublimes do amor e perdão cristãos. Isso é o que Cristo
pode fazer.
Bryan
Green nos conta que depois de uma de suas campanhas nos Estados Unidos pediu na
reunião final que o povo ficasse de pé e em poucas palavras lhe dissessem o que
ela significou para suas vidas. Levantou-se uma jovem negra. Não era uma boa
oradora e disse o seguinte: "Através desta campanha encontrei a Cristo, e
Ele me permitiu perdoar ao homem que assassinou a meu pai."
Permitiu-me perdoar... essa é a essência do
cristianismo. Em Cristo, Paulo e Ananias, os homem que tinham sido terríveis
inimigos, uniramse como irmãos.
TESTEMUNHANDO PARA CRISTO
Atos 9:19b-22
Este
é o relato de Lucas do que aconteceu a Paulo depois de sua
conversão.
Se queremos ter uma cronologia de todo o período em nossas mentes devemos ler
também o relato do mesmo Paulo que encontramos no Gálatas 1:15-24.
Quando
comparamos os relatos achamos que os atos aconteceram assim.
(1)
Saulo se converte no caminho a Damasco.
(2)
Prega em Damasco.
(3)
Foge a Arábia (Gálatas 1:17).
(4)
Volta e prega em Damasco por um período de três anos
(Gálatas 1:18).
(5)
Vai a Jerusalém.
(6)
Foge de Jerusalém para Cesaréia.
(7)
Volta para as regiões de Síria e Cilícia (Gálatas 1:21).
De modo que, ao compararmos a narração de
Lucas e a de Paulo encontramos que começou fazendo duas coisas.
(1) Deu
imediatamente testemunho nas sinagogas de Damasco. Havia muitos judeus nessa
cidade. Haveria nela mais de uma sinagoga, devido a que no mundo antigo as
sinagogas abundavam como hoje as igrejas. Foi nessas sinagogas de Damasco onde
Paulo pela primeira vez elevou sua voz por Cristo. Era um ato de grande coragem
moral. Paulo recebera suas cartas de apresentação perante essas sinagogas como
agente oficial da fé judia e do Sinédrio. Teria sido muito mais fácil começar
seu testemunho cristão em algum lugar em que não o conhecessem e o seu passado
não estivesse contra ele. Paulo neste momento está dizendo: "Mudei e estou
decidido que saibam melhor os que me conhecem." Neste momento já está
dizendo orgulhosamente: "Não me envergonho do evangelho de Cristo."
(2)
Lucas não menciona a segunda coisa que fez. Em Gálatas 1:17 Paulo diz:
"Mas sim fui a Arábia." Paulo tinha experimentado em sua vida esta
grande mudança e por um tempo tinha que estar a sós com Deus. Diante dele havia
uma vida nova e distinta. De modo que em primeiro lugar, Paulo buscou a Deus.
Precisava de duas coisas: ser guiado por um caminho que lhe era totalmente
estranho e precisava de forças para uma tarefa quase entristecedora. E se
dirigiu a Deus pedindo ambas as coisas. DEle tinha recebido a visão e agora
buscava o poder para levá-la a cabo.
FUGA PERIGOSA
Atos 9:23-25
Este é
um vívido exemplo de quanto pode implicar uma só oração na narração bíblica.
Lucas diz que passados muitos dias em Damasco aconteceram estas coisas. O
período encerrado nessa frase não é menor de três anos (Gálatas 1:18). De modo
que por três anos Paulo trabalhou e pregou em Damasco. Os judeus estavam tão
decididos a matá-lo, que estabeleceram guardas nas portas da cidade para que
não lhes escapasse. Mas as cidades antigas eram muradas e as muralhas eram às
vezes o suficientemente largas como para que um carro andasse sobre elas. Nelas
havia casas cujas janelas freqüentemente se projetavam para fora. Paulo foi
levado em plena noite a uma dessas casas e o baixou com cordas em uma cesta, e
assim pôde sair escondido de Damasco e dirigir-se a Jerusalém. Ali Paulo
começou sua carreira de aventuras. Está só no início de suas aventuras por
Cristo, mas até ali está escapando de perigo de morte e tem sua vida em suas
mãos.
Todo este
incidente diz duas coisas a respeito de Paulo.
(1) Dá
testemunho de sua coragem. Deve ter visto as ameaças contra si nas sinagogas.
Sabia o que tinha acontecido a Estêvão e sabia o que era que podia lhe
acontecer. Sabia o que tinha tentado fazer aos cristãos e sabia que isso mesmo
podia lhe suceder. Evidentemente o cristianismo não lhe seria fácil, mas todo o
tom do incidente, para aquele que pode ler as entrelinhas, mostra que Paulo se
alegrava nesses perigos. Davam-lhe a oportunidade de demonstrar sua nova
fidelidade ao Mestre que tinha açoitado e que se converteu naquele a quem ele
amava, e em cujo serviço teria morrido com alegria.
(2) Dá
fé da efetividade da pregação e do testemunho de Paulo. Era tão irrebatível que
quando os judeus se encontraram desarmados no debate recorriam à violência.
Ninguém persegue a alguém que é ineficaz e que obviamente não importa.
George Bernard Shaw disse uma vez que uma das
formas em que melhor se pode adular a um autor é queimando seus livros. Alguém
disse: "Um lobo jamais atacará a uma ovelha de pintura."
O
cristianismo falso está sempre a salvo. O verdadeiro cristianismo está sempre
em perigo. Sofrer perseguição é o maior das adulações devido a que se trata de
uma prova certa de que os homens pensam que realmente importamos.
REJEITADO EM JERUSALÉM
Atos
9:26-31
Quando
Paulo chegou a Jerusalém se encontrou com que o considerava com a mais grave
suspicácia e desconfiança. Não podia ser de outra maneira. Nessa mesma cidade
tinha feito estragos na Igreja e conduziu homens e mulheres ao cárcere.
Vimos
como em momentos cruciais de sua carreira certas pessoas foram os instrumentos
que ganharam Paulo para a Igreja. Paulo deve à Igreja, primeiro à oração de
Estêvão, depois ao espírito perdoador de Ananias. E agora vemos que ele deve ao
coração caridoso de Barnabé. Quando todos os outros evitavam a Paulo e
suspeitavam dele o pior, Barnabé o tomou pela mão e o apadrinhou. Por meio
desta ação Barnabé demonstrou ser verdadeiramente cristão.
(1)
Era um homem que insistia em crer o melhor de outros. Quando outros suspeitavam
que Paulo era um espião e um agent provocateur Barnabé insistiu em crer que era
genuíno e real. O mundo está principalmente dividido em pessoas que pensam bem
de outros e naqueles que pensam sempre o pior; e um dos atos curiosos da vida é
que ordinariamente nos vemos em outros, o reflexo de nós mesmos e os pintamos o
que cremos que são. Se insistirmos em considerar um homem com suspicácia,
terminaremos vendo-o fazer coisas suspeitas. Se insistirmos em crer num homem,
terminaremos obrigando-o a justificar essa crença. Como o próprio Paulo disse
que o amor “não suspeita mal”.
Ninguém creu nos homens como Jesus o fez e é
suficiente para um discípulo ser igual a seu Senhor.
(2)
Era um homem que nunca usou o passado de uma pessoa contra ela. Dá-se tantas
vezes o caso que porque um homem cometeu um engano uma vez, consideramo-lo
condenado para sempre. Uma das grandezas características do coração de Deus é
que Ele não utilizou nossos pecados passados contra nós. Nós tampouco devemos
condenar o homem que fracassou.
Nesta
passagem vemos Paulo em uma ação característica. Discutiu com os judeus de fala
grega. Estêvão tinha sido um desses helenistas. E muito provavelmente Paulo se
dirigiu às mesmas sinagogas em que uma vez se havia oposto a Estêvão, para dar
testemunho do fato de que sua vida tinha mudado. Paulo foi um homem que esteve
sempre preparado para olhar de frente ao passado, que é uma das coisas mais
difíceis de fazer.
E aqui outra vez vemos Paulo correndo perigo
de morte. De agora em diante sua vida será uma série de escapatórias por um fio
de cabelo. De Jerusalém foi levado a Cesaréia e dali a Tarso. Mais uma vez está
seguindo a política coerente de sua vida, porque retorna a seu povo natal para
lhes dizer que trocou e que aquele que o trocou é Jesus Cristo.
Atos (William Barclay)
Capítulo 1
Um
religioso memorável
Quem era esse homem que provocava verdadeiras
revoluções por onde passava? Quais eram suas credenciais? Quem eram seus pais?
Onde nasceu? Como foi educado? Que convicções religiosas nortearam-lhe os
passos? Convido você a fazermos uma viagem rumo ao passado, entrando pelos corredores
do tempo, a m de descobrirmos essas respostas. Nossa fonte primária é a Sagrada
Escritura. Dela, emanam as informações mais importantes sobre a vida, o
ministério e a morte desse gigante do cristianismo. É tempo de começarmos essa
viagem! Em primeiro lugar, Paulo era judeu por nascimento.
Em sua
defesa em Jerusalém, após sua dramática prisão, teve a oportunidade de se
dirigir à multidão alvoroçada, dizendo: “Eu sou judeu,nasci em Tarso da
Cilícia...” (At 22.3). Seus pais eram judeus. O sangue que corria em suas veia será
o mesmo que corria nas veias do patriarca Abraão. Ao combater a ideia errada
dos falsos mestres judaizantes, que nutriam uma falsa confiança na sua linhagem
judaica, Paulo responde:“Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer
outro pensa que pode confiar na carne,eu ainda mais: circuncidado ao oitavo
dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus...” (Fp
3.4,5). Paulo era um judeu puro sangue. Um judeu da gema. Procedia da mais importante
tribo israelita, a de Benjamim.
Em segundo lugar, Paulo foi criado dentro da
fé judaica. Paulo nasceu em Tarso da Cilícia. Seus pais o educaram na fé
judaica, uma vez que foi circuncidado ao oitavo dia (Fp 3.5). Desde sua infância,
bebeu o leite da piedade e aprendeu os preceitos da lei de Deus. Jamais foi um
jovem devasso. O zelo sempre ardeu em seu peito. Seu propósito em servir a Deus
foi o vetor que governou sua vida. Dominava com grande desenvoltura o
conhecimento da lei e as opiniões mais importantes dos grandes mestres de sua
época. Ele se destacava dentro do judaísmo. Chegou mesmo a declarar: “E, na
minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo
extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1.14).
Em
terceiro lugar, Paulo foi educado em Jerusalém aos pés de Gamaliel. Perante
grande multidão em Jerusalém, Paulo dá seu testemunho: “... criei-me nesta
cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de
nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no
dia de hoje” (At 22.3). Jerusalém era a cidade santa. Lá estavam os escribas e
doutores da lei. Lá estavam o templo e os sacrifícios. Lá estavam a lei e as
cerimônias. Lá estavam os sacerdotes e os rabinos. Lá estava o sinédrio. Essa
cidade transpirava religião. Tudo girava em torno do sagrado. Na cidade de
Davi, Paulo foi instruído aos pés de Gamaliel, o maior e o mais ilustre rabino
daquela época, homem culto, sábio e piedoso. Ele foi instruído segundo a exatidão
da lei dos seus antepassados. Conhecia bem de perto as tradições do seu povo.
Sabia de coras inúmeras regras e preceitos criados pelos anciãos. A tradição
oral, fruto da interpretação meticulosa e extravagante dos escribas, era
observada cuidadosamente por esse jovem brilhante.
Em
quarto lugar, Paulo tinha uma vasta cultura secular. Paulo era um erudito. Seu
conhecimento transcendia o campo religioso. Estava familiarizado com o
conhecimento mais re nado de sua época. Paulo era um poliglota, ou seja, falava
vários idiomas. Trafegava com desenvoltura pelos corredores do passado e citava
com precisão os grandes pensadores e lósofos dos tempos antigos. Quando pregou
na capital intelectual do mundo, a Atenas de Péricles, Sócrates, Platão e Aristóteles,
não hesitou em citar alguns poetas atenienses (At 17.28). Quando escreveu a
Tito, na ilha de Creta, fez referência a Epimênides, um filósofo cretense, do
século 6 o a.C (Tt 1.12). Paulo tinha uma cultura enciclopédica. Festo, mesmo
fazendo troça do apóstolo, precisou se curvar à realidade insofismável de que
Paulo era um homem de muitas letras (At 26.24). O próprio apóstolo Pedro faz
referência à sabedoria de Paulo, dizendo que ele escreveu coisas difíceis de
entender, que os ignorantes e instáveis deturpam para sua própria destruição
(2Pe 3.15,16).
Em
quinto lugar, Paulo era fariseu, membro da seita mais rigorosa dos judeus.
Escrevendo aos Filipenses, descreveu sua vida pretérita nestes termos: “... quanto
à lei, [eu era] fariseu...” (Fp 3.5). Diante do rei Agripa, quando estava sendo
acusado, em Cesareia, disse: “... porque vivi fariseu conforme a seita mais
severa da nossa religião” (At 26.5). Como fariseu, Paulo era zeloso da lei. Como
fariseu, era extremamente zeloso das tradições de seus pais (Gl 1.14). Como
fariseu, frequentava assiduamente a sinagoga. Como fariseu, dava o dízimo
criteriosamente e jejuava regularmente. Ele chega a afirmar que, quanto à
justiça que há na lei, era irrepreensível (Fp 3.6).Os fariseus eram os
separados. Eles compunham o grupo religioso mais ortodoxo de Israel. Os fariseus
estavam do lado oposto dos saduceus, grupo religioso que negava a ressurreição
e a existência dos anjos.
Em
sexto lugar, Paulo era membro do sinédrio judaico. Paulo era o maior embaixador
do sinédrio judaico no sentido de promover a fé de seus pais. Por outro lado,
era o braço estendido desse mesmo sinédrio para neutralizar ou desbaratar
qualquer nova vertente religiosa que colocasse em risco sua tradição religiosa.
O sinédrio era o concílio maior dos judeus, composto de setenta homens maduros,
cuja função principal era legislar e julgar a vida religiosa e moral do povo
judeu. Governado especialmente pelos sacerdotes, da seita dos saduceus, tinha
nos fariseus seus membros mais zelosos da lei (At 23.6). Ser membro do sinédrio
era ser considerado um dos principais dos judeus ( Jo 3.1). Esse posto de honra
dava-lhe projeção e grande destaque na sociedade. Era um homem respeitado pelo
seu conhecimento, pela sua religiosidade e pelo zelo com que se devotava à causa
do seu povo.
Em sétimo lugar, Paulo era um cidadão romano. Paulo, mesmo sendo lho de judeus, era cidadão romano (At 22.27), pois nasceu numa província romana, em Tarso da Cilícia. Recebeu o título de cidadão romano não mediante o pagamento de grande soma de dinheiro (At 22.28a), mas por direito de nascimento (At 22.28b). Um cidadão romano gozava de certos privilégios. Ele não podia ser açoitado (At 22.25). Paulo não hesitou em lançar mão desse privilégio sempre que necessário.Pelo menos duas vezes essa credencial de Paulo o livrou das mãos das autoridades. A primeira vez, na cidade de Filipos, colônia romana, onde Paulo foi açoitado e preso ilegalmente. Quando os pretores, as autoridades locais, souberam que Paulo era romano, ficaram cheios de temor e precisaram se desculpar com o apóstolo (At 16.35-40). A segunda vez, quando Paulo foi preso em Jerusalém e estava sendo amarrado, para ser interrogado sob açoites, em vista do alvoroço da multidão tresloucada, Paulo pergunta: “... Ser-vos-á, porventura, lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?” (At 22.25). Paulo não fazia propaganda de suas prerrogativas, mas jamais deixou de usá-las quando isso se fazia necessário. Humildade não é se esconder. Os humildes não tocam trombeta fazendo alarde de seu conhecimento, poder ou influência. Os humildes não querem ser menos do que são; mas jamais deixam de afirmar o que são, quando isso contribui para a promoção do bem.
Capítulo 3
Um
touro indomável
A conversão de Paulo foi a mais importante da
história. Talvez nenhum fato seja mais marcante na história da igreja depois do
Pentecostes. Nenhum homem exerceu tanta influência no cristianismo. Nenhum
homem foi tão notório na história da humanidade. Lucas ficou tão impressionado
com a importância da conversão de Paulo que ele a relata três vezes em Atos (At
9,22, 26). Destacamos alguns pontos sobre a conversão de Paulo.
Paulo não se converteu; ele foi convertido
A causa
da conversão de Paulo foi a graça soberana de Deus. Ele não se decidiu por
Cristo;estava perseguindo Cristo. Na verdade, foi Cristo quem se decidiu por
ele.
Paulo
estava caçando os cristãos para prendê-los, e Cristo estava caçando Paulo para
salvá-lo (At9.1-6). Não era Paulo que estava buscando a Jesus; era Jesus quem
estava buscando a Paulo. A salvação de Paulo não foi iniciativa dele; foi
iniciativa de Jesus. Não foi Paulo quem clamou por Jesus; foi Jesus quem chamou
pelo nome de Paulo. A salvação é obra exclusiva de Deus. Não é o homem que se
reconcilia com Deus; é Deus quem está em Cristo reconciliando consigo o mundo(2Co
5.18). Paulo não é salvo por seus méritos; ele era uma fera selvagem, um
perseguidor implacável, um assassino insensível. Seus predicados religiosos,
nos quais confiava (circuncidado, fariseu, hebreu de hebreus, da tribo de
Benjamim), ele considerou como esterco (Fp 3.8, ARC). A nossa justiça aos olhos
de Deus não passa de trapo de imundícia (Is 64.6).
Paulo
era um touro bravo que resistiu aos aguilhões
A
conversão de Paulo não foi de maneira nenhuma repentina. De acordo com a
própria narrativa de Paulo, Jesus lhe disse: “... Dura cousa é recalcitrares
contra os aguilhões” (At 26.14). Jesus comparou Paulo a um touro jovem, forte e
obstinado, e ele mesmo, a um fazendeiro que usa aguilhões para domá-lo.
Deus já estava trabalhando na vida de Paulo
antes de ele se render no caminho de Damasco.
Paulo era como um touro bravo que
recalcitrava contra os aguilhões (At 26.14). Jesus já estava ferroando sua
consciência quando ele viu Estêvão sendo apedrejado e com rosto de anjo pedir
ao Senhor para perdoar seus algozes. A oração de Estêvão ainda latejava na alma
de Paulo.
Jesus
estava ferroando a consciência de Paulo quando ele prendia os cristãos e dava
seu voto para matá-los, e eles morriam cantando. Mas, como esse boi selvagem
não amansou com as ferroadas,Jesus apareceu a ele, o derrubou ao chão e o
subjugou totalmente no caminho de Damasco. Isso nos prova que a eleição de Deus
é incondicional, que a graça de Deus é irresistível, e que seu chamado é irrecusável.
Paulo precisou ser jogado ao chão e ficar cego para se converter. Nabucodonosor
precisou ir para o campo comer capim com os animais para se dobrar. Até quando
você vai resistir à voz do Espírito de Deus?
A conversão de Paulo no caminho de Damasco
era o clímax repentino de um longo processo em que o “Caçador dos céus” tinha
estado em seu encalço. Curvou-se a dura cerviz autossuficiente. O touro estava
domado.
Paulo era um intelectual que resistiu à lógica
divina (At 9.4-8)
Se a conversão de Paulo não foi repentina,
também não foi compulsiva. Cristo falou com ele em vez de esmagá-lo. Cristo o
jogou ao chão, mas não violentou sua personalidade. Sua conversão não foi um
transe hipnótico.
Jesus
apelou para sua razão e para seu entendimento. Jesus perguntou: “Saulo, Saulo,
por que me persegues?”. Paulo respondeu: “Quem és tu, Senhor?”. Jesus respondeu:
“Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Jesus ordenou: “Mas levanta-te”, e Paulo
prontamente obedeceu! A resposta e a obediência de Paulo foram racionais,
conscientes e livres.
A
soberania de Deus não anula a responsabilidade humana. Jesus picou a mente e a
consciência de Paulo com os seus aguilhões. Então ele se revelou através da luz
e da voz, não para esmagá-lo,mas para salvá-lo. A graça de Deus não aprisiona.
É o pecado que prende. A graça liberta!
Paulo foi um homem completamente transformado
(At 9.3-20)
Destacamos
três fatos benditos sobre essa súbita conversão de Paulo:
Em
primeiro lugar, uma gloriosa manifestação de Jesus (At 9.3-6). Três coisas
aconteceram a Paulo: Paulo viu uma luz (At 22.6,11). Subitamente, uma grande
luz do céu brilhou ao seu redor. Aquilo não foi uma miragem, um êxtase, uma
visão subjetiva. Foi uma grande luz do céu tão forte que lhe abriu os olhos da
alma e tirou-lhe a visão física. Ele ficou cego por causa do fulgor daquela luz
(At 22.11). Não foi apenas uma luz que apareceu a Paulo, mas o próprio Jesus
(At 9.17). Aquela luz era a glória do próprio Filho de Deus ressurreto.
Paulo
caiu por terra (At 22.7). O touro furioso, selvagem e indomável estava
subjugado. Aquele que prendia estava preso. Aquele que encerrava em prisão
estava dominado. Aquele que se achava detentor de todo o poder para perseguir
estava prostrado ao chão, impotente. O Senhor quebrou todas as suas
resistências.
Paulo
ouviu uma voz (At 22.7). O mesmo Jesus que ferroara sua consciência com
aguilhões troveja, agora, aos seus ouvidos, desde o céu: “... Saulo, Saulo, por
que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões” (At 26.14). A
voz do Senhor é poderosa. Ela despede chamas de fogo. Faz tremer o deserto. É
irresistível.
Paulo então perguntou: “... quem és tu,
Senhor? Ao que Jesus respondeu: “... Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu
persegues” (At 22.8). O mesmo Paulo que perseguia a Jesus (At 26.9) chama,
agora, Jesus de Senhor. Ele se curva. Ele se prostra. O boi selvagem foi
subjugado! Não há salvação sem que o pecador se renda aos pés do Senhor Jesus.
Em segundo lugar, uma humilde entrega de Paulo (At 22.8,10). Três coisas devem
ser destacadas: Paulo reconhece que Jesus é o Senhor (At 22.8). Aquele a quem
ele resistira e perseguira é de fato o Senhor. Verdadeiramente, ele ressuscitou
dentre os mortos. Verdadeiramente, ele é o Messias, o Filho de Deus. Aquela luz
brilhou na sua alma, iluminou seu coração, tirou as escamas dos seus olhos
espirituais (2Co 3.16).
Paulo
reconhece que é pecador (At 22.8).
Paulo
toma conhecimento de que seu zelo religioso nãoagradava a Deus. Na verdade,
estava perseguindo o próprio Filho de Deus. Ele reconhece que é o maior de
todos os pecadores. Reconhece que está perdido e precisa da salvação. Paulo
reconhece que precisa ser guiado pelo Senhor (At 22.10). A autossuficiência de
Paulo acaba no caminho de Damasco. Ele agora pergunta: “... que farei,
Senhor?...” (At 22.10). Agora quer ser guiado! Está pronto a obedecer. Ele que
esperava entrar em Damasco na plenitude de seu orgulho e bravura, como um
autoconfiante adversário de Cristo, estava sendo guiado por outros, humilhado e
cego, capturado pelo Cristo a quem se opunha. O Senhor ressurreto aparecera a
ele. A luz que viu era a glória de Cristo, e a voz que ouviu era a voz de
Cristo. Cristo o capturou antes que ele pudesse capturar qualquer crente em
Damasco.
Em
terceiro lugar, uma evidência incontestável da conversão de Paulo (At 9.10-20).
Três verdades nos provam essa tese: Paulo evidencia sua conversão pela vida de
oração (At 9.10,11). A prova que Deus deu a Ananias deque Paulo agora era um
irmão, e não um perseguidor, é que ele estava orando. Quem nasce de novo tem
prazer de clamar “Aba Pai”. Quem é salvo tem prazer na comunhão com o Pai.
Paulo é
convertido e logo começa a orar!
Paulo
evidencia sua conversão pelo recebimento do Espírito Santo (At 9.17). Ananias
impõe as mãos sobre ele, e ele recebe o Espírito e fica cheio do Espírito
Santo. Charles Spurgeon disse que é mais fácil você convencer um leão a ser
vegetariano do que uma pessoa ser convertida sem a ação do Espírito Santo.
Paulo evidencia sua conversão pelo recebimento do batismo (At 9.18). Não é o batismo que salva, mas o salvo deve ser batizado. O batismo é um testemunho da salvação. Uma pessoa que crê precisa ser batizada e integrada na igreja. Ananias chamou Paulo de irmão. Ele entrou para a família de Deus.
Hernandes Dias
Lopes – Paulo
- o Maior Líder do Cristianismo
O COMBATE, A
CORRIDA E O
DEPÓSITO
O tão esperado julgamento aconteceu finalmente
no ano 63 D.C., depois de Paulo haver permanecido dois anos em prisão
domiciliar.
Tudo que ele esperava e previra aconteceu. A
carta favorável de Festo e o relatório de Júlio fizeram a balança pender a seu
favor. Após aqueles longos meses, e com os acusadores tão distantes, a oposição
judaica diminuíra. Em razão de os judeus serem olhados com suspeita, a corte
dispensou rapidamente as acusações contra Paulo, e ele foi posto em liberdade.
Pouco
se sabe das atividades do apóstolo depois da sua libertação, mas é fácil
imaginar quais foram. Ao voltar para casa e dar-se conta de que, pela primeira
vez em quatro anos, estava sem a companhia de um guarda, deve ter,
imediatamente, iniciado algum plano. Não ficaria inativo; tiraria o máximo
proveito do tempo que lhe restava. Sempre quisera visitar a extremidade
ocidental do império. Anos antes, ao escrever à igreja de Roma, falara-lhes de
sua intenção de ir à Espanha. Seu pensamento estava sempre com as igrejas, e
desejava visitar muitas delas na Ásia e na Grécia. Desde que escrevera a
Filemom, e ouvira a história da igreja de Colossos por intermédio de Epafras,
alimentava a esperança de visitá-la. Essa era a sua oportunidade. A seguir,
escrevera à sua igreja favorita - a de Filipos. A perspectiva de ver os irmãos que
cuidaram dele durante a prisão em Roma aqueceu-lhe o coração.
Tudo decidido, não perdeu tempo. Encontrou um
navio que ia para a Espanha e navegou para o Ocidente, a fim de conhecer novas
pessoas e testemunhar de seu Salvador.
Aquela foi no entanto, uma curta visita.
Depois de encorajar os poucos cristãos dali e fortalecer-lhes a fé em Cristo
Jesus, Paulo tomou um navio para sua amada terra. Depois de vários dias, chegou
finalmente a Éfeso e
EM COLOSSOS
Pela primeira vez Paulo viu a igreja fundada
por Epafras, e a quem escrevera uma carta.
Foi recebido cordialmente. Os cristãos
reverenciaram-no como o grande líder do Cristianismo; Filemom, que o conhecera
em Éfeso, acolheu-o em sua vasta mansão, onde reunia-se a igreja de Colossos.
Porém não houve acolhida mais cordial e sincera que a do sorridente Onésimo. O escravo
fugido tornara-se um dos troféus do ministério de Paulo em Roma.
Paulo não pôde permanecer muito tempo em
Colossos, mas a igreja aproveitou cada minuto de sua companhia. Quando chegou o
momento da despedida, ele já tinha recapitulado tudo que dissera na carta.
Lembrara-os novamente de como Deus viera à terra na pessoa de seu Único Filho;
recordara-lhes que Jesus era verdadeiramente Deus e que a vida eterna só era
obtida através dEle. Também advertira-os contra os falsos mestres que queriam
negar a doutrina de Cristo e sua divindade. Depois de lhes haver enriquecido a
fé, Paulo partiu para Éfeso.
MINISTRANDO
AOS EFÉSIOS
Em Éfeso, o apóstolo sentia-se em casa. A
igreja havia prosperado e mantinha-se fiel.
Os membros tinham-se guardado das doutrinas
falsas e zelado pela pureza do seu púlpito.
Ninguém era convidado a pregar, a não ser que
fosse sólido na fé, reconhecendo a divindade de Jesus Cristo e o Evangelho da
graça redentora.
Os efésios ficaram felizes por ver novamente
o seu pastor. Havia algum tempo, os presbíteros de Éfeso tinham chorado ao ver
o navio de Paulo afastar-se do cais em Mileto; acharam que nunca mais lhe
veriam o rosto. Contudo, depois de tantos meses, ele voltara! O rigor dos anos
o envelhecera. Desaparecera-lhe o brilho dos olhos, bem como o andar rápido e
decidido. Paulo sofrerá muito desde que pregara em Éfeso sua última mensagem.
Os sulcos em seu rosto santo contavam dos fardos que tivera de carregar.
Ele não apenas estivera na prisão, naufragara
e fora açoitado, como sentira no espírito a solidão e sofrerá com a dureza de
coração das pessoas. Sobre seus velhos ombros pesava o cuidado por todas as
igrejas. Sempre que um companheiro enfrentava dificuldades, Paulo sofria com
ele. Sempre que alguém era lançado na prisão, seu espírito sentia-se também
aprisionado.
Paulo identificava-se com os irmãos na fé;
era como se um laço familiar os unisse e os tornasse um só.
O tempo, porém, era curto. Ansiando por
visitar a Macedônia, Paulo planejou viajar pelo mar Egeu até Filipos e
Tessalônica, e para muitas aldeias onde houvera plantado a bandeira da cruz.
Mas Éfeso precisava de um líder. A igreja era forte, mas sendo a cidade uma das
mais importantes da Ásia Menor, era necessário manter ali um testemunho que
contrabalançasse as forças de Diana.
Paulo alegrava-se ao pensar na igreja de
Éfeso; os crentes haviam agido bem.
Entretanto, ele notava que o mundanismo da
cidade grande dificultava, a alguns cristãos, a conservação do primeiro amor. A
oposição era grande, e a cidade atraía muitos professores de religião que
tentavam destruir a pureza da igreja e confundi-la com teorias e lendas sem
fim.
Durante sua permanência em Éfeso, Paulo
aproveitou para advertir a igreja quanto a essas coisas, aconselhando os
cristãos a serem mais vigilantes. Recomendou-lhes que afastassem da comunhão
qualquer um que aparecesse com doutrinas falsas.
Paulo achou que a situação era
suficientemente séria para deixar Timóteo em Éfeso, pedindo que supervisionasse
essa importante igreja e fizesse dela uma fortaleza para o Evangelho puro. Com
o coração apertado, o apóstolo despediu-se de seu querido amigo, orando para
que ele fosse um servo fiel e que a sua presença ali enriquecesse a igreja com
toda sorte de bênçãos espirituais.
A EPÍSTOLA A TIMÓTEO
Do outro lado da estreita faixa de mar, no
continente Europeu, os pensamentos de Paulo continuavam com Timóteo. Ele
ministrou aos santos em várias cidades da Macedônia, encorajando, fortalecendo
e advertindo-os, mas não conseguia tirar da mente o jovem em Éfeso e seu
trabalho estratégico.
Pensou outra vez nos falsos mestres e como
já haviam invadido certas igrejas, especialmente na província da Galácia. Ele
estava certo de que Efeso era a chave para toda a Ásia.
Com a pena na mão e o pergaminho à sua
frente, Paulo começou a escrever a Timóteo:
Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, segundo o
mandado de Deus, nosso Salvador, e do Senhor Jesus Cristo, esperança nossa, a
Timóteo, meu verdadeiro filho na fé; graça, misericórdia e paz, da parte de
Deus, nosso Pai, e da de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Como te roguei, quando parti para a
Macedônia, que ficasses em Efeso, para advertires a alguns, que não ensinem
outra doutrina, nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais
produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé (1 Tm 1.1-4).
A carta prosseguiu cheia de instruções.
Perguntas sobre a organização e o governo da igreja precisavam ser respondidas,
e Paulo achou que seu amigo tiraria grande proveito de tais instruções e
encorajamento:
Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se
façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças por todos os
homens. Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos
uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade...
Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom
ministro de Jesus Cristo, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que
tens seguido. Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas, e exercita-te a ti
mesmo em piedade. Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a
piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há
de vir.
Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o
exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na
pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá. Não desprezes o dom
que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do
presbitério...
Mando-te diante de Deus, que todas as coisas
vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de
boa confissão, que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à
aparição de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Tm 2.1,2.4.6-8,12-14; 6.13,14).
RUMO A TRÔADE,
EFESO E MILETO
Paulo mencionou na carta a esperança de
visitar novamente Timóteo o mais breve possível. Esse desejo foi realizado;
depois de deixar a Macedônia e visitar Trôade, onde trocou idéias com os
líderes da igreja que se reuniam na casa de Carpo, o apóstolo viajou para o sul
e depois para Éfeso.
De fato, Paulo estava tão apressado, que
chegou a deixar seus preciosos livros e material para escrever, bem como sua
capa, pretendendo buscá-los antes do inverno.
Depois de uma visita satisfatória a Timóteo,
ele despediu-se com lágrimas nos olhos e tomou a estrada que levava a Mileto, a
cerca de 48 quilômetros da costa.
Chegaria o dia em que todas as cidades
teriam uma igreja cristã. O quadro passara por grande transformação durante a
vida de Paulo. Poucos anos antes, havia somente alguns cristãos, mas o
Evangelho fora anunciado tão destemidamente, que agora todos os crentes tinham
o seu lugar de culto. E aquele porto marítimo não era exceção.
PAULO E TITO
Durante várias semanas Paulo esteve com os
irmãos em Mileto. Depois de consolá-los, estabelecendo-os na fé, embarcou para
Creta na companhia de Tito, seu fiel colaborador. A igreja dali era
desorganizada. Havia muitos crentes, mas para que seu testemunho fosse efetivo,
algumas coisas precisavam ser mudadas. Era necessário que os crentes se unissem
sob a direção de anciãos e bispos que zelassem por suas almas.
Tito, um dos convertidos de Paulo, era grego.
Ele acompanhara o grande apóstolo a Jerusalém, à conferência relativa à
admissão dos gentios na igreja, e Paulo tinha plena confiança nele. Decidiu
deixá-lo em Creta, encarregando-o da organização das igrejas em cada cidade da
ilha. Era uma tarefa colossal; mas, com a ajuda do Senhor, Tito a cumpriria.
Enquanto Tito adaptava-se à nova
responsabilidade, Paulo foi para Corinto e exerceu um breve ministério junto a
essa grande igreja. Ele ficou alegre ao constatar que os males de Corinto,
sobre os quais escrevera alguns anos antes, haviam sido corrigidos. Seu
encontro com os discípulos dali foi cordial e proveitoso. Os cristãos de toda a
cidade foram ouvi-lo. Apesar de idoso, o servo do Senhor parecia não se cansar
de exaltar a Cristo e confirmar a fé dos seguidores.
Paulo pensou também em Tito, que estava em
Creta, e escreveu-lhe uma carta similar à que enviara a Timóteo, descrevendo as
qualificações para os líderes da igreja. Como Éfeso e Creta, Corinto também
precisava de um representante digno. O escolhido por Paulo foi seu Erasto, seu
fiel colaborador. Deixou-o com a responsabilidade de ajudar os crentes de
Corinto e seguiu para Nicópolis, na costa oeste da Grécia.
PRISÃO DE
PAULO EM NICÓPOLIS
Sentindo que sua vida achava-se perto do fim,
Paulo fazia arranjos para deixar obreiros de confiança em pontos estratégicos.
O tempo era curto e ele sentia a necessidade de apressar-se de cidade em
cidade. Nicópolis era um centro importante para o trabalho missionário e Paulo
planejava passar ali o inverno. Aquela cidade nunca fora visitada antes, e a
perspectiva de iniciar um novo trabalho em curtíssimo tempo era fascinante.
Acompanhado de cinco colaboradores, entrou na cidade e começou a pregar.
As suas esperanças, porém, foram de curta
duração. Era o ano 67 D.C., e três anos antes, um grande incêndio queimara a
cidade de Roma, desabrigando milhares de pessoas.
Ninguém sabia como o fogo começara. Alguns
diziam que o próprio Nero incendiara a cidade durante uma bebedeira, esperando
na sua loucura que uma Roma nova e melhor se levantasse, como um monumento ao
seu reinado.
Mas outro clamor ergueu-se, afirmando que os
cristãos haviam incendiado a cidade. O ódio da população subiu mais alto que as
chamas, e começaram-se as perseguições mais cruéis que a igreja já enfrentara.
Os cristãos eram atirados aos leões no Coliseu, espancados até a morte,
mergulhados em piche e incendiados nos jardins de Nero, como tochas para
iluminar a noite.
Todos os que tinham condições fugiram de
Roma. Áquila e Priscila foram para Éfeso. A igreja teve de esconder-se. Em todo
o império, cristãos eram presos e perseguidos sem misericórdia. Histórias
terríveis de tortura chegaram aos ouvidos de Paulo e seus cinco assistentes.
Eles próprios haviam escapado por pouco em algumas ocasiões, mas agora uma
nuvem mais negra parecia pairar sobre eles. Os missionários temiam ser
inevitavelmente presos.
Nero e seus homens estavam dispostos a acabar
com o testemunho cristão.
Em meio à crise, Demas abandonou Paulo,
partindo para Tessalônica. Era uma negativa da fé, e o apóstolo ficou
profundamente magoado. Demas, entretanto, não foi o único a desertar.
Crescente partiu para a Galácia; e até Tito, a
quem Paulo confiara tão grande tarefa, pressionado pela perseguição, partiu
para as montanhas da Dalmácia.
Só Lucas e Tíquico permaneceram com Paulo, e
esse último foi enviado a ficar com Timóteo e ajudá-lo em tudo. Então o golpe
abateu-se sobre eles. Um oficial romano, reconhecendo Paulo como líder das
forças cristãs, prendeu-o enquanto pregava o Evangelho de Cristo em praça
pública. Julgando que Nero se agradaria de ter nas mãos um líder cristão,
enviou-o a Roma.
O PRIMEIRO JULGAMENTO
Desta vez Paulo não foi tratado com respeito
e tolerância. Era um prisioneiro famoso, e qualquer um que lhe demonstrasse
amizade seria distinguido como um dos acusados de incendiar Roma. Pouca gente
visitou o apóstolo, mas Lucas, o médico amado, ia vê-lo todos os dias.
Paulo foi mantido numa cela logo abaixo da
rua. Não havia qualquer saída, exceto uma abertura estreita para escoamento da
água no pavimento. As paredes eram frias e úmidas, e o frio cortante do inverno
já se fazia*sentir. A solidão da cela o deprimia, mas a idéia de ter sido
abandonado era ainda mais difícil de suportar.
O efésio Onesíforo foi um dos que tentaram
ajudá-lo. Ele mostrou ser muito diferente de tantos amigos da Ásia. Todos
haviam esquecido o idoso apóstolo, mas Onesíforo não se envergonhou das cadeias
de Paulo. Depois de uma longa busca, descobriu onde o prisioneiro se encontrava
e passou a visitá-lo com freqüência, levando-lhe ânimo e objetos de uso
pessoal.
Chegou então o dia do julgamento. Segundo o
costume romano, todos deviam ter um julgamento justo. Paulo ficou sozinho
diante do tribunal. A sala estava cheia, mas em todo aquele mar de rostos não
havia um que lhe parecesse amigável. Nenhuma voz se levantou a seu favor. O
velho apóstolo começou sua própria defesa com um vigor vindo da certeza de que
o Senhor estava ao seu lado. Cristo era tão real naquele dia como o fora na
estrada de Damasco, tantos anos antes.
Seu discurso foi eloqüente. Todo o antigo
fogo ainda queimava nele. Toda a lógica e poder do Evangelho estavam-lhe à
disposição. Suas sentenças começaram vagarosas, mas à medida que contava a
história do Evangelho, ganharam velocidade. Seus olhos brilhavam de convicção.
Ele estava pregando para obter um veredicto, e seus argumentos caíam em pesados
golpes nos corações dos ouvintes. Esse seria seu último sermão na terra.
Alexandre, o latoeiro, era a principal testemunha contra Paulo. Esse homem levantou-se e identificou-o como líder da igreja cristã e centro de tanta controvérsia. Afirmou que aonde Paulo ia, formava uma comunidade de cristãos fiéis a Jesus de Nazaré, e que a lealdade dessas pessoas ao imperador era questionável. Apesar do testemunho de Alexandre, a corte impressionou-se com as palavras ardentes do grande apóstolo; o caso foi suspenso até um novo interrogatório.
Paulo escapou dos dentes do leão para ser
enviado de volta à cela sombria, onde aguardaria o lento girar das rodas da
justiça romana. Tratava-se de uma vitória temporária. Ele, porém, já podia
visualizar o final à distância, e esperava que o julgamento viesse rapidamente.
O apóstolo dos gentios só tinha um último
desejo: ver Timóteo antes de morrer.
A SEGUNDA
EPÍSTOLA A TIMÓTEO
Paulo receava os dias de ócio forçado na cela
desconfortável. Pensou na capa que
deixara em Trôade, com os livros e pergaminhos. Se estivessem agora em suas
mãos! Pediu uma pena, tinta e pergaminho, e obteve permissão para escrever ao
amado amigo Timóteo, em Éfeso:
Por este motivo, te lembro que despertes o
dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos... Portanto, não te
envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu;
antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus...
Mas não me envergonho, porque eu sei em quem
tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até
àquele dia...
Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça
que há em Cristo Jesus... Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro
que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm
1.6,8,12; 2.1,15).
Paulo advertiu o jovem pregador sobre a
maldade dos homens e o perigo da falsa doutrina. Encarregou-o solenemente de
pregar a Palavra de Deus e jamais perder o sentimento de urgência:
Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina;
mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas
próprias concupiscências. E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às
fábulas. Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra dum
evangelista, cumpre o teu ministério.
Porque eu já estou sendo oferecido por
aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom
combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me
está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente
a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.
Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas
me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica; Crescente,
para Galada. Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o
contigo, porque me é muito útil para o ministério. Quando vieres, traze a capa
que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os
pergaminhos.
Alexandre,
o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras.
Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras.
Ninguém me assistiu na minha primeira defesa;
antes, todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor
assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação, e
todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me
livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial; a quem
seja glória para todo o sempre. Amém...
Procura vir antes do inverno (2 Tm
4.3-11,13-18,21).
Essa foi a sua última carta.
O SEGUNDO JULGAMENTO
O segundo julgamento de Paulo seguiu-se logo
após o primeiro. Não havia ninguém para defendê-lo ou apoiá-lo. Ele fora
acusado de ser o líder dos cristãos, contra quem o ressentimento público era
grande. Alexandre, o latoeiro, e os demais acusadores venceram. Sob os olhos
desatentos de Nero, foi feita a votação. Era uma sentença de morte. Por ser um
cidadão romano, Paulo não seria crucificado, mas decapitado.
Com o rosto pálido, porém de cabeça erguida, o apóstolo foi levado para fora dos muros da cidade. Ali, em meio a uma multidão hostil, ávida pela execução, o velho missionário da cruz levantou os olhos para orar. Muitas e muitas vezes o Senhor o livrara de um momento como aquele. Contudo, muitos outros santos haviam enfrentado a morte, e a graça de Deus seria suficiente a Paulo também. O Senhor Jesus sofrerá uma morte vergonhosa fora dos muros de Jerusalém; mas pela sua vitória, tornou a morte gloriosa a todo cristão. Enquanto Paulo pensava na ressurreição, um riso de triunfo dançou-lhe nos olhos e brincou-lhe nos cantos da boca. Sua face estava radiante, brilhando com a luz de um outro mundo.
NOS BRAÇOS DE
JESUS
O capitão da guarda ordenou que parassem. O
ar frio do inverno esfriara o cepo junto ao qual Paulo ajoelhou-se. Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça
me está guardada. A lâmina da espada brilhou ao sol. Paulo fechou os olhos para
a multidão ruidosa, e quando abriu-os de novo, estava na presença de Jesus de
Nazaré, onde há plenitude de alegria, e em cuja destra há prazeres eternos (SI
16.11).
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