TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Atos 2.14-21; 38-40
Então Pedro
levantou-se com os Onze e, em alta voz, dirigiu-se à multidão: "Homens da
Judéia e todos os que vivem em Jerusalém, deixem-me explicar-lhes isto! Ouçam
com atenção:
estes homens não estão bêbados, como vocês supõem. Ainda são nove horas da
manhã!
Pelo contrário, isto é o que foi predito pelo profeta Joel:
‘Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos.
Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos
terão sonhos.
Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles
dias, e eles profetizarão.
Mostrarei maravilhas em cima no céu e sinais em baixo, na terra, sangue, fogo e
nuvens de fumaça.
O sol se tornará em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e
glorioso dia do Senhor.
E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo! ’
E disse-lhes
Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo,
para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;
Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que
estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.
E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo:
Salvai-vos desta geração perversa.
TEXTO ÁUREO
Tornou
a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim,
Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
João
21.16
OBJETIVOS
Reconsiderar
a
descrição simplista e caricata, comumente divulgada, de Pedro;
Reconhecer o valor do ministério do apóstolo para o Cristianismo;
Compreender que mesmo um
homem inconstante pode ser transformado pelo poder de Cristo e receber dele um
chamado ministerial.
2
PEDRO
O
apóstolo que falava demais
Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou
para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.
Lucas 22:31-32
Temos quatro listas dos doze apóstolos no
Novo Testamento: Mateus 10:2-4, Marcos 3:16-19, Lucas 6:13-16 e Atos 1:13. No
evangelho de Lucas, a lista aparece da seguinte forma: “escolheu doze dentre
eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: Simão, a quem acrescentou o
nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e
Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e
Judas Iscariotes, que se tornou traidor”.
Nas
quatro listas bíblicas, são apresentados os nomes dos mesmos doze homens, sendo
impressionante a semelhança na ordem em que aparecem. Pedro é o primeiro nome
nas quatro listas. Assim, ele se destaca como líder e porta-voz de todo grupo
dos doze. Além disso, os doze são organizados em três subdivisões de quatro
elementos cada. Na primeira, encontram-se sempre Pedro, como primeiro da lista,
seguido de André, Tiago e João. O segundo grupo é sempre formado de Filipe, em
primeiro lugar, e inclui Bartolomeu, Mateus e Tomé. Tiago, filho de Alfeu,
sempre aparece no início do terceiro grupo, que também inclui Simão o Zelote;
Judas filho de Tiago (chamado “Tadeu”, em Mateus e Marcos); e por fim, Judas
Iscariotes. (Judas Iscariotes não aparece na lista em Atos, uma vez que,
naquela época, já estava morto.
(Nas três listas em que o nome de Judas é
incluído, sempre vem por último, juntamente com o comentário que o identifica
como o traidor.)
Os três
nomes no começo de cada conjunto parecem ter sido dos líderes do grupo. Os três
conjuntos aparecem sempre na mesma ordem: primeiro o de Pedro, depois aquele
liderado por Filipe e, em seguida, o que tem Tiago à frente.
·
Mateus
10:2-4: Pedro, André, Tiago, João / Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus / Tiago
(filho de Alfeu), Tadeu, Simão, Judas Iscariotes.
·
Marcos 3:16-19: Pedro, Tiago, João, André /
Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé / Tiago (filho de Alfeu), Tadeu, Simão, Judas
Iscariotes.
·
Lucas 6:14-16: Pedro, André, Tiago, João /
Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé / Tiago (filho de Alfeu), Simão, Judas (filho
de Tiago), Judas Iscariotes.
·
Atos 1:13: Pedro, Tiago, João, André / Filipe,
Tomé, Bartolomeu, Mateus / Tiago (filho de Alfeu), Simão, Judas (filho de
Tiago).
Ao
que parece, os grupos são listados em ordem decrescente, tomando por base seu
nível de intimidade com Cristo. É bem provável que os membros do primeiro grupo
tivessem sido os primeiros a serem chamados por Jesus (João 1:35-42). Assim,
estavam com ele a mais tempo e ocupavam a posição de maior confiança em seu
círculo mais íntimo. Com frequência, são vistos juntos na presença de Cristo em
momentos críticos. Dos quatro membros do primeiro grupo, três — Pedro, Tiago e
João — formam um círculo ainda mais íntimo. Esses três veem-se com Jesus nos
principais acontecimentos de seu ministério, quando os outros apóstolos não
estão presentes ou não se encontram tão próximos. Os três membros desse círculo
mais íntimo estavam, por exemplo, no monte da Transfiguração e no lugar mais
interior do Getsêmani (veja Mateus 17:1; Marcos 5:37; 13:3; 14:33).
O
segundo grupo não era assim tão chegado, mas ainda é composto de figuras
importantes dos relatos dos Evangelhos. O terceiro grupo é mais distante, e
seus membros raramente são mencionados nos relatos do ministério de Cristo. O
único membro do terceiro grupo sobre o qual sabemos mais é Judas Iscariotes,
sendo que o conhecemos apenas por causa de sua traição no final. Deste modo,
apesar de haver doze apóstolos, apenas três deles parecem ter desfrutado um
relacionamento mais íntimo com Cristo.
Aparentemente, os outros gozavam diferentes
graus de familiaridade pessoal com ele.
Tal
fato sugere que até mesmo um grupo relativamente pequeno de doze ainda é grande
demais para uma pessoa manter a mais próxima intimidade com cada membro do
grupo. Jesus manteve três homens perto de si: Pedro, Tiago e João. Em seguida,
vinha André e depois os outros, numa ordem, obviamente, decrescente de amizade
íntima. Se Cristo, em sua perfeita humanidade, não podia oferecer quantias
iguais de tempo e energia a todos que chamou para seu redor, nenhum líder deve
esperar fazê-lo.
Os doze
são um grupo incrivelmente variado. A personalidade e os interesses de cada um
incluíam todo o espectro de diversidade. Os quatro membros do primeiro grupo
parecem ser os únicos ligados entre si por denominadores em comum. Eram
pescadores, dois pares de irmãos, vinham da mesma comunidade e, ao que parece,
amigos há um bom tempo. Contrastando com eles, Mateus era um coletor de
impostos e um solitário. Simão era um zelote — um ativista político — e outro
tipo de solitário. Os outros vinham de ocupações desconhecidas.
Todos
possuíam personalidades consideravelmente distintas. Pedro era afoito,
agressivo, ousado e franco — tendo o hábito de pôr sua boca para funcionar
quando o cérebro ainda estava em ponto morto. Com frequên- cia, chamo-o de
apóstolo que falava demais. João, por outro lado, era de poucas palavras. Nos
doze primeiros capítulos de Atos, ele e Pedro são companheiros constantes, mas,
em nenhum momento é registrada alguma palavra de João. Bartolomeu (também
conhecido às vezes como Natanael) era um crente verdadeiro, confessando
abertamente sua fé em Cristo e não tardando em crer (veja João 1:47-50). É
significativo o fato de estar no mesmo grupo (e às vezes aparecer junto) de
Tomé, que era abertamente cético e desconfiado e queria provas de tudo.
Suas
origens políticas também eram diferentes. Mateus (às vezes chamado de Levi), o
ex-coletor de impostos, era considerado uma das pessoas mais desprezíveis de
Israel antes de Jesus chamá-lo. Ele trabalhava com o governo romano,
extorquindo tributos de seu próprio povo, os quais serviam para pagar o
exército romano que, na época, ocupava Israel. O menos conhecido dos dois
Simões, por outro lado, é chamado de “Zelote” em Lucas 6:15 e Atos 1:13. Os
zelotes eram um partido político ilegal que levavam ao extremo seu ódio contra
Roma e conspiravam para depor o governo romano. Muitos deles eram violentos
fora-da-lei. Uma vez que não possuíam um exército, os zelotes lançavam mão de
sabotagem e assassinatos para alcançarem seus objetivos políticos. Na
realidade, não passavam de terroristas. Uma facção dos zelotes era conhecida
como sicarri (literalmente, “homens de adagas”), por causa das pequenas lâminas
curvas que carregavam consigo. Escondiam essas armas sob seus mantos e
usavam-nas para se livrarem de pessoas que consideravam inimigos políticos —
pessoas como os coletores de impostos. Os soldados eram os alvos preferidos
para tais assassinatos. Normalmente, os sicarri realizavam essas execuções em
eventos públicos, a fim de gerar ainda mais medo. O fato de Mateus, um
excoletor de impostos e Simão, um ex-zelote, serem capazes de fazer parte do
mesmo grupo é prova do poder que a graça de Cristo tem de transformar vidas.
É
interessante que os homens-chave do primeiro e segundo grupos de apóstolos
foram chamados logo no início do ministério de Cristo. João 1:35- 42 descreve
como Jesus chamou João e André. Eles, por sua vez, trouxeram Pedro, irmão de
André, naquele mesmo dia. Tiago, o outro membro desse grupo, era irmão de João,
de modo que, sem dúvida, André e João também o levaram a Cristo. Em outras
palavras, a relação do primeiro grupo com Jesus vinha desde o começo de seu
ministério público.
João
1:43-55 descreve ainda o chamado de Filipe e Natanael (também conhecido como
Bartolomeu). Foram chamados “no dia imediato” (versículo 43). Assim, a história
desse grupo teve sua origem igualmente no início do ministério de Jesus. Eram
homens que conheciam bem a Jesus e que o seguiram de perto durante um longo
tempo.
A
primeira pessoa do primeiro grupo — o homem que se tornou porta voz e líder dos
demais — era “Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro” (Lucas 6:14).
“SIMÃO, A QUEM ACRESCENTOU O NOME DE PEDRO” Simão era um
nome bastante comum. Há pelo menos sete Simões só nos relatos dos Evangelhos.
Dentre os doze, havia dois discípulos chamados Simão (Simão Pedro e Simão, o
Zelote). Em Mateus 13:55, são mencionados os meios-irmãos de Jesus e um deles
também se chamava Simão. O pai de Judas Iscariotes era, igualmente, chamado
Simão (João 6:71). Mateus 26:6 menciona que, em Betânia, Jesus comeu na casa de
um homem chamado Simão, o leproso. Outro Simão — um fariseu — também recebeu
Jesus para uma refeição em sua casa (Lucas 7:36-40). Da mesma forma, o homem
convocado para carregar a cruz de Cristo, em parte do caminho, chamava-se
Simão, o cirineu (Mateus 27:32).
O nome
completo do Simão que estamos estudando era Simão Barjonas (Mateus 16:17), que
significa “Simão, filho de Jonas” (João 21:15-17). Assim, o pai de Simão Pedro
era João (às vezes traduzido como Jonas). Não sabemos mais nada sobre seus
pais. No entanto, observe que o Senhor lhe deu um outro nome. Lucas apresenta-o
da seguinte forma: “Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro” (Lucas 6:14). As
palavras escolhidas por Lucas são importantes. Jesus não lhe deu simplesmente
um novo nome para ser usado no lugar do antigo. Ele “acrescentou” o nome de
Pedro. Esse discípulo era conhecido ora como Simão, ora como Pedro, ora como
Simão Pedro.
“Pedro” era uma espécie de apelido. Significa
“rocha” (petros é a palavra grega para “um pedaço de rocha, uma pedra”). O
termo equivalente no aramaico é cephas (veja 1Coríntios 1:12; 3:22; 9:5; 15:5;
Gálatas 2:9). João 1:42 descreve o primeiro encontro pessoal de Jesus com Simão
Pedro: “Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás
chamado Cefas (que quer dizer Pedro)”. Ao que parece, essas foram as primeiras
palavras de Jesus a Pedro. Dali em diante, seu apelido tornou-se “Rocha”.
Em
algumas ocasiões, porém, o Senhor continuou, ainda assim, a chamálo de Simão.
Quando vemos isso nas Escrituras, normalmente, trata-se de um sinal de que
Pedro fez alguma coisa que precisa ser repreendida ou corrigida.
O
apelido era significativo, e o Senhor teve uma razão específica para
escolhê-lo. Simão era, por natureza, impetuoso, inconstante e inconfiável. Sua
tendência era fazer grandes promessas que não poderia cumprir. Era uma daquelas
pessoas que parecem atirar-se de cabeça em alguma coisa e, depois, abandoná-la
antes de ter concluído. Com frequência, era o primeiro a aceitar um desafio,
mas, muitas vezes, também era o primeiro a pular fora. Quando Jesus o
encontrou, Simão encaixava-se na descrição feita por Tiago, de um homem de
ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos (Tiago 1:8). Ao que parece,
Jesus mudou o nome de Pedro pois queria que o apelido servisse para lembrá-lo
sempre daquilo que deveria ser. Dali em diante, a forma que Jesus o chamava transmitia
uma mensagem sutil. Se o chamava de Simão, indicava que ele estava agindo de
acordo com sua antiga natureza. Se o chamava de Rocha, era um elogio por agir
da forma como deveria.
Tommy
Lasorda, antigo dirigente do time de beisebol Los Angeles Dodgers, conta a
história de um jovem jogador magricela que começou a jogar num dos times
secundários do Dodgers. O rapaz era um tanto tímido, mas lançava bolas com
grande precisão e força. Lasorda estava convencido de que o jovem tinha
potencial para ser um dos maiores lançadores de todos os tempos. No entanto, de
acordo com Lasorda, ele precisava ser mais bravo e competitivo. Era necessário
que perdesse a timidez. Assim, Lasorda, deulhe um apelido que era exatamente o
oposto de sua personalidade: “Buldogue”. Ao longo dos anos, foi nisso que Orel
Hershiser transformou-se: num dos competidores mais obstinados da primeira
divisão. O apelido tornou-se uma lembrança constante daquilo que ele deveria
ser, e não tardou para que desse nova forma à toda sua atitude.
Esse
jovem chamado Simão, que viria a ser Pedro, era impetuoso, impulsivo e
precipitado. Precisava tornar-se como uma rocha, e foi esse o apelido que Jesus
lhe deu. Dali em diante, o Senhor podia gentilmente repreendê-lo ou elogiá-lo
só pelo uso de um nome ou de outro.
Depois do primeiro encontro de Cristo com
Simão Pedro, vemos dois contextos distintos em que o nome Simão é empregado com
regularidade. Um deles é o contexto secular. Quando as Escrituras se referem à
sua casa, por exemplo, normalmente, fala-se da “casa de Simão”.
Semelhantemente, ao referir-se à mãe de sua esposa: “a sogra de Simão” (Marcos
1:30; Lucas 4:38). Ao descrever sua atividade de pesca, a passagem de Lucas 5
refere-se a “um dos barcos, que era o de Simão” (versículo 3); e Lucas diz que
Tiago e João eram “seus sócios [de Simão Pedro]” (versículo 10; veja o
versículo 8). Todas essas expressões referem-se a Simão usando seu primeiro
nome em contextos exclusivamente seculares. Quando é chamado de Simão em tais
ocasiões, geralmente o uso de seu antigo nome não tem relação nenhuma com sua
espiritualidade ou seu caráter. Trata-se apenas da maneira normal de referir-se
ao que era dele como ser humano: seu trabalho, sua casa e sua vida familiar.
Diz-se dessas coisas que pertenciam a “Simão”.
A segunda categoria de referências nas quais
ele é chamado de Simão é encontrada sempre que Pedro estava demonstrando
características de sua natureza não regenerada, ao pecar em palavras, atitudes
ou ações. Sempre que ele começa a agir de acordo com seu velho homem, Jesus e
os Evangelhos voltam a chamá-lo de Simão. Em Lucas 5:5, por exemplo, Lucas
escreve: “Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada
apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes”. Esse era o jovem pescador
Simão falando, mostrando sua incredulidade e relutância. No entanto, ao
obedecer, seus olhos se abrem e ele vê quem Jesus é de fato, e Lucas passa a
chamá-lo pelo seu novo nome. O versículo 8 diz: “Vendo isto, Simão Pedro
prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou
pecador”.
Vemos
Jesus chamando-o de Simão nos momentos mais cruciais de fracasso ao longo da
carreira do apóstolo. Em Lucas 22:31, predizendo a negação de Pedro, Jesus diz:
“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!” Mais
tarde, no jardim do Getsêmani, Pedro adormeceu quando deveria estar vigiando e
orando com Cristo. Marcos escreve: “Voltando [Jesus], achou-os dormindo; e
disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora? Vigiai e
orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto,
mas a carne é fraca” (Marcos 14:37-38). Assim, normalmente, quando Pedro
necessitava de repreensão ou admoestação, Jesus referia-se a ele como Simão.
Deve ter chegado a um ponto em que, quando o Senhor dizia “Simão”, Pedro já
encolhia-se todo. Talvez pensasse: “Por favor, me chame de Rocha!”, e o Senhor
talvez replicasse: “Eu o chamarei de Rocha quando você agir como uma rocha”.
De
acordo com as narrações dos Evangelhos, fica evidente que o apóstolo João
conhecia Pedro muito, muito bem. Eram amigos desde a infância, sócios no
trabalho e vizinhos. É interessante que no evangelho que escreveu, João
refere-se ao seu amigo quinze vezes como “Simão Pedro”. Ao que parece, João não
conseguia decidir qual nome usar, pois a todo tempo, via os dois lados de
Pedro. Assim, simplesmente juntou os dois nomes. Na verdade, o próprio Pedro chama-se
de “Simão Pedro”, em sua segunda epístola: “Simão Pedro, servo e apóstolo de
Jesus Cristo” (2Pedro 1:1). Com efeito, ele tomou para si o apelido que Jesus
lhe deu e fez dele o seu sobrenome (veja Atos 10:32).
Depois
da ressurreição, Jesus instruiu seus discípulos a voltarem para a Galileia,
onde ele planejava aparecer a eles (Mateus 28:7). Em sua impaciência, ao que
parece, Simão cansou-se de esperar e, assim, anunciou que voltaria a pescar
(João 21:3). Como sempre, os outros discípulos obedientemente seguiram seu
líder. Entraram no barco, pescaram a noite toda e não pegaram nada. Jesus,
porém, encontrou-se com eles na praia, onde havia lhes preparado um café da
manhã. Aparentemente, o propósito maior dessa reunião matinal era a restauração
de Pedro (que, sem dúvida alguma, havia pecado flagrantemente ao negar Cristo
com maldições na noite em que o Senhor fora traído). Jesus dirigiu-se a ele
três vezes chamando-o de Simão e perguntou, “Simão, filho de João, tu me amas?”
(João 21:15-17). E três vezes Pedro afirmou seu amor.
Essa foi a última ocasião em que Jesus o
chamou de Simão. Algumas semanas depois, em Pentecostes, Pedro e os outros
apóstolos foram enchidos do Espírito Santo. Naquele dia, foi Pedro, a Rocha,
quem pregou.
Pedro
era exatamente como a maioria dos cristãos: tanto carnal como espiritual. Por
vezes, sucumbia aos hábitos da carne; em outras ocasiões, agia de acordo com o
Espírito. Por vezes, era pecador e, em outras ocasiões, agia como deve fazer um
homem justo. Esse homem inconstante — às vezes Simão, às vezes Pedro — era o
líder dos doze.
“VINDE APÓS MIM E EU VOS FAREI PESCADORES DE
HOMENS”
Simão Pedro era pescador profissional. Ele e
seu irmão André eram herdeiros de um comércio de pesca em Cafarnaum. Apanhavam
peixes no mar da Galileia. Na época de Jesus, os pescadores comerciais daquele
lago pescavam três tipos de peixe. Os “peixinhos” — mencionados em João 6:9, na
ocasião em que cinco mil pessoas foram alimentadas — eram sardinhas. As
sardinhas, juntamente com uma espécie de pão semelhante a uma panqueca, eram a
alimentação básica da região. Outro tipo de peixe, conhecido como barbilhão
(por causa dos filamentos carnosos no canto de sua boca), é uma espécie de
carpa e, portanto, um tanto cheio de ossos, mas pode crescer até um bom
tamanho, chegando a pesar quase oito quilos. (Provavelmente, em Mateus 17:27, o
peixe que Pedro pescou, e que tinha na boca uma moeda, era um barbilhão. Isso
porque era o único peixe no mar da Galileia grande o suficiente para engolir
uma moeda e ser pego com um anzol.) O terceiro tipo de peixe comercial, e
também o mais comum, era a carapeba — um peixe que se alimenta em cardumes e
tem uma barbatana dorsal em forma de pente.
As carapebas comestíveis têm de treze a
sessenta centímetros. Carapebas fritas ainda são servidas à beira do mar da
Galileia e são conhecidos popularmente como “peixe de São Pedro”. Simão e André
passavam as noites apanhando esses peixes. Os dois irmãos eram originalmente de
um vilarejo chamado Betsaida, à margem norte do lago (João 1:44), mas haviam se
mudado para Cafarnaum, uma cidade maior não muito longe de lá (Marcos 1:21,29).
Nos tempos de Jesus, Cafarnaum era a principal cidade da extremidade norte do
mar da Galileia. Jesus usou Cafarnaum como base operacional de seu ministério
durante vários meses. No entanto, proferiu um “ai”, tanto sobre Cafarnaum como
sobre Betsaida, em Mateus 11:21-24. Nos dias de hoje, essas cidades não passam
de ruínas. Ainda pode-se ver o pouco que restou da sinagoga de Cafarnaum. Perto
delas (apenas uma quadra para o sul), arqueólogos encontraram as ruínas de uma
igreja da antiguidade. Tradições remotas, desde o século 3 ou até mesmo antes,
afirmam que essa igreja foi construída sobre a casa de Pedro. De fato, os
arqueólogos encontraram diversos sinais de que cristãos do século 2 veneravam
esse local. É bem possível que fosse a casa em que Pedro morava. Uma caminhada
curta leva da casa até a beira do lago.
Simão
Pedro tinha uma esposa. Sabemos disso, pois em Lucas 4:38, Jesus curou a sogra
dele. Em 1Coríntios 9:5, o apóstolo Paulo diz que Pedro levou a esposa em sua
missão apostólica. Tal fato pode indicar tanto que não tinham filhos como que
seus filhos já estavam crescidos quando Pedro levou a esposa consigo. No
entanto, as Escrituras não dizem explicitamente que tinham filhos. Pedro era
casado. Isso é tudo o que sabemos com certeza sobre sua vida doméstica.
Sabemos
que Simão Pedro era o líder dos apóstolos, e isso não apenas porque seu nome
aparece no começo de todas as listas dos doze. Também temos a seguinte
declaração expressa em Mateus 10:2: “Ora, os nomes dos doze apóstolos são
estes: primeiro Simão, por sobrenome Pedro”. A palavra traduzida como
“primeiro”, nesse versículo, é o termo grego protos. Não se refere ao primeiro
de uma lista; significa o chefe, o líder de um grupo. A liderança de Pedro fica
ainda mais evidente pela maneira com que, normalmente, age, falando em nome do
grupo. Ele encontra-se sempre no primeiro plano, tomando a frente. Ao que
parece, sua personalidade era naturalmente dominante, e o Senhor fez bom uso da
mesma em meio aos discípulos.
Afinal,
foi o Senhor que o escolheu para ser o líder. Pela vontade soberana de Deus,
Pedro foi formado e capacitado para ser o líder. Além disso, o próprio Cristo
instruiu e treinou Pedro para liderar. Deste modo, quando olhamos para Pedro,
vemos como Deus constrói um líder.
O nome de Pedro é mencionado mais do que
qualquer outro nome nos evangelhos, exceto o de Jesus. Ninguém fala com tanta
frequência quanto ele e nem o Senhor dirige-se tantas vezes a outro como a
Pedro. Nenhum discípulo é repreendido com tanta frequência quanto Pedro e
nenhum discípulo censura o Senhor, exceto Pedro (Mateus 16:22). Ninguém
confessou a Cristo com mais ousadia ou reconheceu seu senhorio mais
explicitamente. No entanto, nenhum discípulo negou verbalmente a Cristo de modo
tão veemente ou público quanto Pedro. Ninguém é louvado e abençoado por Cristo
como Pedro foi; contudo, Pedro foi o único a quem Cristo alguma vez chamou de
Satanás. O Senhor tinha coisas mais duras a dizer para Pedro do que para
qualquer outro discípulo.
Tudo
isso contribuiu para fazer dele o líder que Cristo desejava que ele fosse. Deus
tomou um homem comum, com uma personalidade ambivalente, inconstante, impulsiva
e insubmissa, e transformou-o num líder firme como rocha — o maior pregador
dentre os apóstolos e, em todos os sentidos, a figura dominante nos doze
primeiros capítulos de Atos, que falam de como nasceu a igreja.
Vemos
na vida de Pedro três elementos-chave que fazem parte da constituição de um
verdadeiro líder: a matéria-prima certa, as experiências de vida certas e as
qualidades de caráter certas. Deixe-me mostrar exatamente o que quero dizer.
A
MATÉRIA-PRIMA DO VERDADEIRO LÍDER
Há uma
eterna controvérsia quanto à liderança ser inata ou adquirida. Pedro é um forte
argumento em favor da crença de que os líderes nascem com certos dons, mas que
devem ser moldados e transformados em verdadeiros líderes.
Pedro
possuía a liderança dada por Deus entretecida na trama de sua personalidade
desde o princípio. Ele era constituído da matéria-prima certa. É claro que foi
o Senhor quem o criou desse modo no ventre de sua mãe (veja Salmos 139:13-16).
Existem
certas características óbvias na disposição natural de Pedro que foram críticas
para sua capacidade de liderança. De modo geral, não se trata de
características que podem ser desenvolvidas simplesmente através de
treinamento; são particularidades inatas do temperamento de Pedro.
A
primeira delas é sua curiosidade. Quando você está à procura de um líder,
deseja encontrar alguém que faça muitas perguntas. Pessoas que não são curiosas
simplesmente não servem para ser bons líderes. A curiosidade é crítica para a
liderança. Pessoas que se contentam com aquilo que não sabem, que se satisfazem
em continuar ignorantes a respeito daquilo que não compreendem, que são
complacentes com o que não analisaram e sentem-se à vontade vivendo com
problemas que não resolveram — estas não podem ocupar posições de liderança. Os
líderes precisam ter uma curiosidade insaciável. Precisam ser pessoas famintas
por respostas. Se você deseja encontrar um líder, procure alguém que esteja
fazendo as perguntas certas e verdadeiramente buscando respostas.
Esse
tipo de curiosidade, normalmente, manifesta-se na mais tenra infância. A
maioria de nós já encontrou crianças que fazem uma pergunta depois da outra,
cansando os pais e outros adultos com uma enxurrada incessante de pequenas
indagações. (Alguns de nós podem até mesmo se lembrar de serem assim quando
crianças!) Isso faz parte da matéria-prima do líder. As melhores pessoas para
resolver problemas são sempre motivadas por um entusiasmo insaciável de
conhecer e compreender as coisas.
Nos
relatos dos Evangelhos, Pedro faz mais perguntas do que todos os outros apóstolos
juntos. Normalmente, era Pedro quem pedia para o Senhor explicar suas palavras
mais difíceis (Mateus 15:15; Lucas 12:41). Foi Pedro quem perguntou quantas
vezes deveria perdoar (Mateus 18:21). Foi Pedro quem perguntou qual seria a
recompensa dos discípulos por terem deixado tudo para seguir a Jesus (Mateus
19:27). Foi Pedro quem perguntou sobre a figueira que secou (Marcos 11:21). Foi
Pedro quem fez perguntas sobre o Cristo ressuscitado (João 21:20-22). Ele
sempre queria saber mais, entender melhor. Esse tipo de curiosidade é um
elemento fundamental do verdadeiro líder.
Outro
ingrediente necessário é a iniciativa. Se uma pessoa é apta para liderar, ela
terá motivação, ambição e energia. Um verdadeiro líder deve ser o tipo de
pessoa que faz as coisas acontecerem. É um iniciador. Observe que Pedro não
apenas fazia perguntas; normalmente, ele também era o primeiro a responder as
questões apresentadas por Cristo. Com frequência, ele avançava com ousadia até
onde os anjos temiam pisar.
Numa
ocasião bastante conhecida, Jesus perguntou: “Quem diz o povo ser o Filho do
Homem?” (Mateus 16:13). Havia várias opiniões sobre isso circulando no meio do
povo. Assim, responderam: “Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros:
Jeremias ou algum dos profetas” (versículo 14). Então, Jesus fez uma pergunta
específica para os discípulos: “Mas vós [...] quem dizeis que eu sou?”
(versículo 15, ênfase minha). Foi nesse momento que Pedro falou, mais alto que
o resto: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (versículo 16). Os outros
discípulos ainda estavam pensando na pergunta, como alunos com medo de dar a
resposta errada. Pedro foi ousado e categórico. Essa é uma característica
essencial dos grandes líderes. Às vezes, ele teve de voltar atrás, retirar o
que havia dito, retratar-se ou ser repreendido. Mas o fato de estar sempre
disposto a agarrar as oportunidades com unhas e dentes marcava-o como um
verdadeiro líder.
No
jardim do Getsêmani, quando os soldados romanos do forte de Antônia foram
prender Jesus, os três escritores dos Evangelhos sinópticos dizem que havia “uma
grande turba com espadas e porretes” (Mateus 26:47; veja Marcos 14:43; Lucas
22:47). Uma típica coorte romana era formada de seiscentos soldados, de modo
que é bem possível que, naquela noite, houvesse centenas de soldados romanos
prontos para lutar dentro e ao redor do jardim. Sem hesitar, Pedro puxou sua
espada e brandiu-a contra a cabeça de Malco, o servo do sumo sacerdote. (O sumo
sacerdote e seus empregados, provavelmente, encontravam-se à frente da turba,
uma vez que ele era o dignitário que estava dando a voz de prisão.) Sem dúvida,
Pedro estava tentando cortar fora a cabeça do servo. Malco desviou-se e teve
sua orelha decepada. Então, Jesus “tocando-lhe a orelha, o curou” (Lucas
22:51). Em seguida, disse a Pedro: “Embainha a tua espada; pois todos os que
lançam mão da espada à espada perecerão” (Mateus 26:52). (Assim, ele afirmou a
equidade da pena capital como uma lei divina.)
Pense nesse episódio. Havia ali todo um
destacamento de soldados romanos, talvez centenas de homens. O que Pedro pensou
que iria fazer? Cortar a cabeça de todos eles, um a um? Às vezes, em seu
arrebatamento de tomar a iniciativa, Pedro não enxergava a realidade mais
óbvia.
No
entanto, com toda a sua temeridade, Pedro possuía a matéria-prima da qual seria
possível fazer um líder. É melhor trabalhar com um homem como esse do que com
alguém passivo e hesitante. Como diz o ditado, é mais fácil acalmar um fanático
do que ressuscitar um morto. Algumas pessoas precisam ser fastidiosamente
arrastadas para frente. Não era o caso de Pedro. Ele queria sempre avançar.
Queria saber o que não sabia. Queria compreender o que não compreendia. Era o
primeiro a fazer perguntas e tentar responder questões. Era um homem que sempre
tomava a iniciativa, aproveitava o momento e avançava. É disso que é feita a
liderança. Lembre-se que essas características são apenas a matéria-prima a
partir da qual é constituído um líder. Pedro precisava ser treinado, moldado e
amadurecido.
No
entanto, a fim de realizar a incumbência que Cristo havia reservado para ele,
Pedro precisava de pique, de garra, de coragem para colocar-se de pé, em
Jerusalém, no dia de Pentecostes, e pregar o evangelho diante do mesmo povo
que, pouco antes, havia executado seu próprio Messias. Contudo, Pedro era
exatamente o tipo de sujeito que podia ser treinado para tomar tal iniciativa
corajosa.
Há um
terceiro elemento da matéria-prima que constitui o verdadeiro líder:
envolvimento. Os verdadeiros líderes estão sempre no meio da ação. Não ficam
sentados nos bastidores dizendo a todos o que fazer enquanto vivem de modo confortável
e distante da luta. Um verdadeiro líder passa pela vida cercado por uma nuvem
de poeira. É justamente por isso que as pessoas o seguem. Não se pode seguir
alguém que permanece distante. O verdadeiro líder indica o caminho. Ele entra
na batalha antes de seus seguidores.
Certa
noite, Jesus chegou até os discípulos, no meio do mar da Galileia, andando
sobre as águas durante uma tormenta. Qual dos discípulos pulou do barco? Pedro.
Deve ter pensado: “Lá está o Senhor. Eu estou aqui. Preciso ir para onde a
coisa está acontecendo”. Os outros discípulos ficaram imaginando se estavam
vendo um fantasma (Mateus 14:26). Pedro, porém, disse: “Se és tu, Senhor,
manda-me ir ter contigo, por sobre as águas. E ele [Jesus] disse: Vem!”
(versículos 27-28) — e antes que os outros se dessem conta, Pedro havia descido
do barco e estava andando sobre as águas. O resto dos discípulos ainda estava
agarrado aos seus assentos, tentando garantir que não seriam atirados para fora
pela tempestade. Mas, sem pensar duas vezes, Pedro saiu do barco. Isso é
envolvimento para valer. Só depois que havia descido do barco, e caminhado uma
certa distância, é que Pedro pensou sobre o perigo e começou a afundar.
Com
frequência, as pessoas olham para esse episódio e criticam Pedro por sua falta
de fé. Vamos, porém, dar crédito pela fé que ele teve a ponto de deixar o
barco. Antes de desprezarmos Pedro pela fraqueza que quase foi o seu fim,
devemos nos lembrar de onde ele estava quando começou a afundar.
Semelhantemente, apesar de Pedro haver negado
Cristo, é preciso ter em mente um fato expressivo: ele e um outro discípulo
(provavelmente, João, seu amigo inseparável) foram os únicos que seguiram Jesus
até a casa do sumo sacerdote para ver o que seria feito do Senhor (João 18:15).
E, no pátio da casa do sacerdote, Pedro era o único que estava próximo o
suficiente para que Jesus fitasse-o nos olhos quando o galo cantou (Lucas
22:61). Muito depois que os discípulos haviam abandonado Cristo e fugido, cada
um temendo por sua própria vida, Pedro estava praticamente sozinho, numa
posição em que podia cair no laço de tal tentação, pois, apesar de seu medo e
fraqueza, ele não havia conseguido abandonar a Cristo completamente. Esse é o
sinal de um verdadeiro líder. Quando quase todos haviam debandado, ele tentou
ficar o mais próximo possível de seu Senhor. Pedro não era o tipo de líder que
se contentava em ficar à distância e mandar uma mensagem para as tropas. Tinha
paixão pelo envolvimento pessoal, de modo que podia sempre ser encontrado
próximo ao epicentro da ação.
Pedro
era feito dessa matéria-prima: curiosidade insaciável, disposição de tomar a
iniciativa e paixão pelo envolvimento pessoal. Estava a encargo do Senhor
treiná-lo e moldá-lo, pois, francamente, se esse tipo de matéria-prima não for
submetido ao controle do Senhor, pode tornar-se absolutamente perigosa.
AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA QUE FORMAM O
VERDADEIRO LÍDER
De que modo o Senhor tomou um homem feito de
um material tão rudimentar e refinou-o, a ponto de transformá-lo num líder? Em
primeiro lugar, certificou-se de que Pedro passasse pelas experiências de vida
que fariam dele o tipo de líder que Cristo desejava que fosse. Nesse sentido,
os verdadeiros líderes são formados, e não apenas inatos.
A
experiência pode ser uma forma dura de educar. No caso de Pedro, os altos e
baixos de suas experiências foram dramáticos e, com frequência dolorosos. Sua
vida foi cheia de ziguezagues tortuosos. O Senhor o fez passar por três anos de
provações e dificuldades para dar-lhe toda uma vida de experiências, do tipo
que o verdadeiro líder deve suportar.
Por que Jesus fez isso? Sentia algum prazer
em atormentar Pedro? De forma alguma; as experiências — até mesmo aquelas
difíceis — foram todas necessárias para transformar Pedro no homem que
precisava tornar-se.
Há
pouco tempo, li os resultados de um estudo com jovens dos Estados Unidos que se
envolveram em tiroteios em escolas. Descobriu-se que um denominador comum entre
os atiradores era o fato de que praticamente todos eles tomavam Ritalin ou
outro antidepressivo para controlar problemas de comportamento. Em vez de serem
disciplinados por suas atitudes erradas, haviam sido drogados até o estupor. Em
vez de serem treinados para se comportarem e ensinados a ter domínio próprio,
os psicólogos infantis receitaram entorpecentes que apenas controlavam o
comportamento rebelde deles em caráter temporário. As atitudes indisciplinadas
e rebeldes, que eram a origem do problema, nunca foram confrontadas nem
tratadas. No início da infância, essas crianças haviam sido artificialmente
protegidas das consequências de sua rebeldia. Perderam as experiências de vida
que teriam moldado seu caráter de forma diferente.
O
apóstolo Pedro aprendeu muita coisa através de experiências difíceis. Aprendeu,
por exemplo, que a derrota arrasadora e a humilhação profunda, muitas vezes,
vêm pouco depois das maiores vitórias. Logo depois que Cristo o elogiou por sua
magnífica confissão em Mateus 16:16 (“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”),
Pedro sofreu a mais dura repreensão dada a um discípulo da qual se tem registro
no Novo Testamento. Num momento, Cristo chamou Pedro de bem-aventurado e
prometeu-lhe as chaves do reino dos céus (versículos 17-19). No parágrafo
seguinte, Cristo dirigiu-se a Pedro chamando-o de Satanás e dizendo “Arreda!”
(versículo 23), o que significa “Não fique no meu caminho!” Esse episódio
ocorreu logo depois da esplêndida confissão de Pedro. Jesus anunciou aos
discípulos que estava indo para Jerusalém, onde seria entregue ao sumo
sacerdote e aos escribas e seria morto. Ao ouvir isso, “Pedro, chamando-o à
parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo
algum te acontecerá” (Mateus 16:22).
Essa
ideia de Pedro é perfeitamente compreensível. No entanto, ele estava pensando
apenas do ponto de vista humano. Não tinha conhecimento do plano de Deus. Sem
perceber, estava procurando dissuadir Cristo justamente daquilo que era seu
propósito aqui na terra. Como sempre, estava falando quando deveria estar
ouvindo. As palavras de Jesus a Pedro estão entre as mais severas ditas por ele
a um indivíduo: “Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és
para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos
homens” (versículo 23).
Pedro
havia acabado de saber que Deus revelaria a verdade a ele e que orientaria suas
palavras à medida em que submetesse sua mente à verdade. Ele não dependia de
uma mensagem humana. A mensagem que deveria proclamar lhe seria dada por Deus (versículo
17). Ele também receberia as chaves do reino dos céus — o que significa que sua
mensagem abriria o reino de Deus para a salvação de muitos (versículo 19).
Mas
agora, através da experiência dolorosa de ser repreendido pelo Senhor, Pedro
também soube que era vulnerável a Satanás. O diabo podia encher sua boca de
palavras, tanto quanto o Senhor. Se Pedro cogitasse das coisas dos homens, ao
invés das coisas de Deus, ou se não fizesse a vontade de Deus, poderia ser um
instrumento do inimigo.
Posteriormente, Pedro foi mais uma vez
vitimado por Satanás na noite em que Jesus foi preso. Dessa vez, aprendeu da
forma difícil que era humanamente fraco e não podia confiar em sua própria
força de vontade. Todas as suas grandes promessas e propósitos sinceros não o
impediram de cair. Depois de declarar diante de todos que jamais negaria a
Cristo, ainda assim negou-o e ressaltou suas negações com fervorosas maldições.
Satanás o estava peneirando como trigo. Assim, Pedro aprendeu quanto restolho e
quão pouca substância havia nele, e como deveria ser vigilante e cauteloso,
confiando somente na força do Senhor.
Ao
mesmo tempo, aprendeu que apesar de suas próprias inclinações pecaminosas e de
sua fraqueza espiritual, o Senhor desejava usá-lo, e o sustentaria e preservaria
em qualquer circunstância.
Pedro
aprendeu todas essas coisas por experiência. Por vezes, as experiências foram
amargas, angustiantes, humilhantes e dolorosas. Em outras ocasiões foram
animadoras, sublimes e absolutamente gloriosas — como quando Pedro viu o
esplendor divino de Cristo no monte da transfiguração. De qualquer modo, Pedro
aproveitou ao máximo suas experiências, colhendo delas lições que o ajudaram a
transformar-se num grande líder.
AS
QUALIDADES DE CARÁTER QUE DEFINEM UM VERDADEIRO LÍDER
O
terceiro elemento da constituição de um líder — além da matéria-prima certa e
das experiências de vida certas — é o caráter certo. O caráter, obviamente, é
de importância fundamental para a liderança. O atual declínio dos Estados
Unidos está diretamente relacionado ao fato de que elegemos, nomeamos e
contratamos muitos líderes sem nenhum caráter. Nos últimos anos, procuramos
argumentar que o caráter na realidade não é importante para a liderança; aquilo
que uma pessoa faz em sua vida particular supostamente não deve ser levado em
consideração quando essa pessoa é candidata a um cargo público de liderança.
Essa perspectiva encontra-se em total oposição àquilo que a Bíblia ensina. Na
liderança, o caráter importa sim. E muito.
Na
verdade, é o caráter que possibilita a liderança. É simplesmente impossível as
pessoas respeitarem ou confiarem em alguém que não tem caráter. Se não
respeitam um líder, não irão segui-lo. O tempo e a verdade andam de mãos dadas.
Líderes sem caráter acabam decepcionando seus seguidores e perdem a confiança
deles. O único motivo pelo qual tais pessoas, muitas vezes, têm aceitação
popular é o fato de que fazem outras pessoas sem caráter sentirem-se melhor a
respeito de si mesmas. No entanto, não são verdadeiros líderes.
A
liderança duradoura é fundamentada no caráter. O caráter gera respeito.
O
respeito gera confiança. E a confiança é o que motiva os seguidores.
Mesmo
na esfera puramente humana, a maioria das pessoas reconhece que a verdadeira
liderança está devidamente associada a qualidades de caráter como integridade,
confiabilidade, respeitabilidade, altruísmo, humildade, autodisciplina,
autocontrole e coragem. Tais virtudes refletem a imagem de um homem de Deus.
Apesar de a imagem divina encontrar-se gravemente corrompida na humanidade, ela
não foi inteiramente apagada. Por esse motivo, até os incrédulos reconhecem
tais qualidades como virtudes desejáveis, requisitos importantes para a
verdadeira liderança.
O
próprio Cristo é a epítome do que um verdadeiro líder deve ser. Ele é perfeito
em todos os atributos que compõem o caráter de um líder. Ele é a personificação
de todas as qualidades mais verdadeiras, puras, elevadas e nobres de liderança.
É
evidente que, em termos de liderança espiritual, o grande alvo e objetivo é
levar as pessoas a tornarem-se mais semelhantes a Cristo. Por isso, o próprio
líder deve manifestar características semelhantes às de Cristo. Esse é o motivo
dos padrões de liderança na igreja serem tão elevados. O apóstolo Paulo resumiu
o espírito do verdadeiro líder quando escreveu: “Sede meus imitadores, como
também eu sou de Cristo” (1Coríntios 11:1).
Pedro
poderia muito bem ter escrito a mesma coisa. Seu caráter foi moldado e formado
através dos exemplos que observou em Cristo. Ele possuía a matéria-prima
necessária para tornar-se um líder e isso foi importante. Suas experiências de
vida ajudaram-no a aprimorar e aperfeiçoar suas aptidões naturais para a
liderança, e isso também foi de importância crítica. No entanto, a verdadeira
chave de tudo — a fundação essencial que faz com que a liderança autêntica
sempre seja exaltada ou venha a cair — é o caráter. Foram as qualidades do
caráter de Pedro, desenvolvidas através de um relacionamento íntimo com Cristo,
que, em última análise, fizeram dele um grande líder.
Nas
palavras de J. R. Miller, “A única coisa que os pranteadores levam do túmulo
consigo e aquilo que se recusa a ser sepultado é o caráter de um homem. Aquilo
que um homem é vive muito além dele. Jamais pode ser sepultado”. [2] Essa é uma
opinião válida, mas há algo mais relevante do que aquilo que as pessoas pensam
de nós depois que morremos. Muito mais importante do que isso é o impacto que
causamos enquanto estamos aqui.
Quais
foram algumas qualidades de um líder espiritual desenvolvidas na vida de Pedro?
Uma delas foi a submissão. À primeira vista, pode parecer uma qualidade
estranha para ser cultivada por um líder. Afinal, o líder é a pessoa que está
no comando e espera que outros submetam-se a ele, certo? Contudo, um verdadeiro
líder não apenas exige submissão; ele é um exemplo de submissão através da
forma que se submete ao Senhor e àqueles que têm autoridade sobre ele. Tudo o
que o verdadeiro líder espiritual faz deve ser marcado pela submissão a todas
as autoridades legítimas, especialmente submissão a Deus e à sua Palavra.
A
tendência dos líderes é de serem seguros e agressivos. São naturalmente
dominantes. Pedro possuía tal inclinação dentro si. Falava sem hesitar e agia
sem hesitar. Como vimos, era um homem de iniciativa. Isso significa que estava
propenso a assumir o controle de todas as situações. A fim de equilibrar esse
lado dele, o Senhor ensinou-lhe a submissão.
Ele o
fez de maneiras um tanto admiráveis. Um exemplo clássico pode ser encontrado em
Mateus 17. Esse relato refere-se a uma ocasião em que Jesus estava voltando com
os doze para Cafarnaum, sua base de operações, depois de um período de
ministério itinerante. Encontrava-se na cidade um publicano, realizando a
coleta costumeira do imposto de duas dracmas (meio estáter) de cada pessoa com
20 anos ou mais. Não se tratava de um imposto pago a Roma, mas sim de um
imposto para a manutenção do templo. Havia sido determinado em Êxodo 30:11-16
(veja 2Cr 24:9). O imposto equivalia ao pagamento por dois dias de trabalho, de
modo que não era uma quantia pequena.
De
acordo com Mateus, “Dirigiram-se a Pedro os que cobravam o imposto das duas
dracmas, e perguntaram: Não paga o vosso mestre as duas dracmas?” (Mateus
17.24). Pedro garantiu-lhes que Jesus pagava seus impostos.
No
entanto, ao que parece, esse determinado imposto gerou um certo problema na
mente de Pedro. Como Filho de Deus encarnado, Jesus tinha a obrigação moral de
pagar pela manutenção do templo como um simples ser humano? Os filhos dos reis
aqui na terra não pagavam impostos nos reinos de seus pais; por que Jesus
deveria? Jesus sabia o que Pedro estava pensando, de modo que “Ao entrar Pedro
em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram
os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?”
(versículo 25).
Pedro
respondeu: “Dos estranhos”. Os reis não cobram impostos de seus próprios
filhos.
Jesus
tirou a conclusão lógica para Pedro: “Logo, estão isentos os filhos” (versículo
26). Em outras palavras, se assim o desejasse, Jesus possuía autoridade
celestial absoluta para não pagar o imposto do templo.
No
entanto, se ele assim o fizesse, estaria transmitindo a mensagem errada no que
se referia à sua autoridade terrena. Seria melhor submeter-se, pagar o imposto
e evitar uma situação que a maioria das pessoas não iria compreender. Assim,
apesar de não ser tecnicamente obrigado a pagar, Jesus disse: “Mas, para que
não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que
fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e
entrega-lhes por mim e por ti” (versículo 27).
A
moeda na boca do peixe era um estáter, uma única moeda equivalente a quatro
dracmas. Era a quantia exata para pagar o imposto de duas pessoas. Em outras
palavras, Jesus também providenciou para que o imposto de Pedro fosse pago em
sua totalidade. É curioso como o milagre realizado por Jesus demonstrou sua
absoluta soberania, ao mesmo tempo em que ele estava sendo um exemplo de
submissão humana. De modo sobrenatural, Cristo dirigiu um peixe que havia
engolido uma moeda até ao anzol de Pedro. Se Jesus era Senhor da natureza a
esse ponto, certamente, possuía autoridade para não pagar o imposto do templo.
No entanto, ao dar o exemplo, ele ensinou Pedro a submeter-se de boa vontade.
A
submissão é uma qualidade de caráter indispensável a ser cultivada pelos
líderes. Se desejam ensinar as pessoas a se submeterem, eles próprios devem ser
exemplos de submissão. Às vezes, um líder deve submeter-se mesmo quando há
excelentes argumentos contrários a essa submissão.
Pedro
aprendeu bem essa lição. Anos depois, em 1Pedro 2:13-18, ele escreveu:
Sujeitai-vos a toda instituição humana por
causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como
enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que
praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem,
façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livre que sois, não usando,
todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.
Tratai
a todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai ao rei. Servos, sede
submissos, com todo temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato,
mas também ao perverso.
Essa
foi a mesma lição que Pedro aprendeu de Cristo: num certo sentido, vocês têm
liberdade, mas não usem da mesma como pretexto para fazerem o mal. Antes,
considerem-se servos do Senhor. Vocês são cidadãos do céu e meros peregrinos
aqui na terra, mas submetam-se a todas as prescrições por amor ao Senhor. Antes
de tudo, vocês são súditos do reino de Cristo e simples forasteiros ou
peregrinos na terra. Ainda assim, para evitar escândalo, honrem o rei terreno.
Honrem a todas as pessoas. Essa é a vontade de Deus e, ao submeterem-se, vocês
calarão a ignorância dos homens iníquos.
Lembre-se de que o homem que escreveu essa
epístola é o mesmo homem que, quando jovem e afoito, cortou a orelha de um
servo do sumo sacerdote. É o mesmo homem que se debateu com a ideia de Jesus
pagar impostos. No entanto, ele aprendeu a submeter-se — o que não é uma lição
fácil para um líder nato. Especialmente para Pedro, que tendia a ser dominante,
impetuoso, agressivo e a resistir à ideia de submissão. Contudo, Jesus o
ensinou a submeter-se de bom grado, mesmo quando Pedro acreditava ter um bom
argumento para recusar-se a fazê-lo.
A
segunda qualidade de caráter que Pedro aprendeu foi o domínio próprio. Não é
natural à maioria das pessoas com aptidões para a liderança ter como ponto
forte o exercício do domínio próprio. O autocontrole, a disciplina, a moderação
e a reserva não são necessariamente características naturais daquele que se
encontra à frente do grupo. É por isso que tantos líderes têm problemas com a
raiva e com as paixões incontidas. Talvez você tenha observado como as
palestras sobre gerenciamento da raiva tornaram-se a última moda entre
presidentes de companhias e pessoas em cargos elevados de administração no
mundo dos negócios em nosso país. Fica claro que a raiva é um problema comum e
grave entre pessoas que chegaram a um nível tão alto de liderança.
Pedro
possuía tendências semelhantes. Uma cabeça quente faz parte do tipo de
personalidade voltada para a ação, decisão e iniciativa que fez dele um líder.
Uma pessoa como Pedro impacienta-se facilmente com outros cuja visão ou
desempenho ficam aquém do desejado. Pode, ainda, irritar-se rapidamente com
aqueles que colocam obstáculos para o seu sucesso. Desse modo, a fim de ser um
bom líder, deve aprender a ter domínio próprio.
De
certa forma, o Senhor colocou um freio na boca de Pedro e o ensinou sobre o
domínio próprio. Esse é um dos principais motivos pelos quais Pedro sofreu
tantas repreensões quando falou antes da hora ou agiu precipitadamente. O
Senhor estava ensinando-o constantemente a ter domínio próprio.
O
episódio no jardim em que Pedro decepou a orelha de Malco é um exemplo clássico
de sua falta natural de domínio próprio. Mesmo cercado de centenas de soldados
romanos, todos armados até os dentes, Pedro impensadamente puxou sua espada e
estava pronto para pôr-se a brandi-la no meio da multidão. Felizmente para ele,
Malco perdeu apenas uma orelha e Jesus imediatamente reparou o estrago. Como
vimos anteriormente, Pedro foi repreendido com severidade.
Aquela repreensão deve ter sido
especialmente difícil para Pedro, uma vez que aconteceu na frente de uma
multidão de inimigos. No entanto, ele aprendeu muita coisa com o que
testemunhou naquela noite. Mais tarde ele escreveria: “pois que também Cristo
sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o
qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando
ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas
entregava-se àquele que julga retamente” (2Pedro 2:21-23).
Que
diferença daquele rapaz que tentou tomar a espada e abrir caminho no meio de
seus adversários. Pedro havia aprendido a lição do domínio próprio.
Ele
também teve de aprender humildade. Com frequência, os líderes são tentados a
cair no pecado do orgulho. Na verdade, o pecado mais comum da liderança é
considerar-se maior do que se deve. Quando as pessoas estão seguindo sua
liderança, constantemente elogiando-o, tomando-o como exemplo e admirando-o, é
muito fácil ser tomado de orgulho.
Podemos observar em Pedro uma tremenda
segurança. Ela fica evidente pelo modo que ele responde imediatamente a todas
as perguntas. Fica evidente também em grande parte de suas ações, como no caso
em que ele saiu do barco e começou a andar sobre as águas. Ficou evidente da
pior e mais trágica maneira naquela fatídica ocasião em que Jesus predisse que
seus discípulos iriam negá-lo.
Jesus
disse: “Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito:
Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (Mateus 26:31).
No
entanto, Pedro estava absolutamente seguro: “Ainda que venhas a ser um tropeço
para todos, nunca o serás para mim” (versículo 33, ênfase minha). Então,
acrescentou: “Senhor, estou pronto para ir contigo, tanto para a prisão como
para a morte” (Lucas 22:33).
É claro que, como sempre, Pedro estava
errado e Jesus estava certo. Pedro de fato negou a Cristo não apenas uma vez,
mas várias, exatamente como Jesus o havia advertido. A vergonha e desgraça de
Pedro por ter desonrado a Cristo de modo tão flagrante só foram aumentadas pelo
fato de que ele havia se orgulhado com tanta obstinação sobre sua imunidade a
tais pecados! Porém, o Senhor usou tudo isso para tornar Pedro um homem
humilde. E quando Pedro escreveu sua primeira epístola, disse: “cingi-vos todos
de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a
sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em
tempo oportuno, vos exalte” (1Pedro 5:5-6). Aos líderes da igreja, disse
especificamente: “[Não ajam] como dominadores dos que vos foram confiados,
antes, tornando-vos modelos do rebanho” (versículo 3). A humildade tornou-se
uma das virtudes que caracterizaram a vida de Pedro, sua mensagem e seu estilo
de liderança.
Pedro
também aprendeu sobre o amor. Todos os discípulos tiveram dificuldade de
aprender que a verdadeira liderança espiritual significa servir uns aos outros
em amor. O verdadeiro líder é alguém que serve, não alguém que exige ser
servido.
Essa é
uma lição muito difícil para muitos líderes natos. Sua tendência é ver as
pessoas como meios de alcançar um fim. Normalmente, os líderes voltam-se para
os objetivos e não para as pessoas. Desse modo, com frequência usam as pessoas
ou passam por cima delas, a fim de alcançarem seus objetivos. Pedro e os outros
discípulos precisavam aprender que a liderança encontra-se arraigada e
fundamentada no serviço de amor aos outros. O verdadeiro líder ama e serve
aqueles a quem ele lidera.
Jesus
disse: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos” (Marcos
9:35). O próprio Senhor serviu constantemente de modelo aos seus discípulos
desse tipo de liderança de serviço. No entanto, em momento algum isso foi
demonstrado mais claramente do que no cenáculo, na noite em que ele foi traído.
Jesus e
seus discípulos tinham ido a Jerusalém para celebrar a Páscoa em um cômodo
alugado na cidade. A ceia de Páscoa era uma refeição longa e cerimoniosa,
chegando a durar quatro ou cinco horas. Naquela cultura, em vez de sentarem-se
em cadeiras, os participantes, normalmente, se reclinavam ao redor de uma mesa
baixa. Isso significava que a cabeça de uma pessoa ficava perto dos pés da
outra. É claro que todas as ruas eram lamacentas ou empoeiradas e os pés
estavam sempre sujos. Assim, o costume da época era que, quando os convidados
entrassem numa casa para fazer uma refeição, normalmente, havia um servo cujo
trabalho era lavar os pés deles. Esse era, praticamente, o trabalho mais
humilde de todos. No entanto, qualquer anfitrião que deixasse de providenciar
para que os pés de seus convidados fossem lavados cometia uma grave afronta
(veja Lucas 7:44).
Ao que
parece, nessa noite agitada de Páscoa, no cômodo alugado, não haviam
providenciado para que um servo lavasse os pés dos hóspedes. Fica evidente que
os discípulos estavam preparados para deixar passar essa falha de etiqueta em
vez de oferecerem-se para uma tarefa tão servil. Reuniram-se, portanto, ao
redor da mesa como se estivessem prontos para começar a refeição sem lavar os pés.
Assim, de acordo com as Escrituras, o próprio Jesus “levantou-se da ceia, tirou
a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou
água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e enxugar-lhos com a
toalha com que estava cingido” (João 13:4- 5). [3]
O próprio Jesus — aquele que, por direito,
era chamado de Senhor — tomou sobre si o papel do mais humilde dos escravos e
lavou os pés sujos de seus discípulos. De acordo com Lucas, aproximadamente no
mesmo momento em que isso aconteceu, os discípulos estavam no meio de uma
discussão sobre qual deles era o maior (Lucas 22:24). Estavam interessados em
serem exaltados, não humilhados. Assim, Jesus fez o que nenhum deles quis
fazer. Deu-lhes uma lição sobre a humildade do verdadeiro amor.
A
maioria, provavelmente, ficou lá sentada, num silêncio aturdido. Mas quando o
Senhor aproximou-se de Simão Pedro, “este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés
a mim?” (João 13:6). O sentido dessa pergunta é: O que você pensa que está
fazendo? Eis o impetuoso e ousado Simão, falando sem pensar. Chegou até mesmo a
dizer, “Nunca me lavarás os pés” (versículo 8).
Pedro
era especialista em declarações absolutas: “Nunca o serás [tropeço] para mim”
(veja Mateus 26:33). “Nunca me lavarás os pés”. Não havia meiotermo na vida de
Pedro; tudo é absolutamente preto ou branco. Jesus lhe respondeu: “Se eu não te
lavar, não terás parte comigo” (João 13:8). É claro que Jesus estava falando da
necessidade de purificação espiritual. Obviamente, não era a limpeza física que
tornava os discípulos dignos de terem comunhão com Cristo.
Jesus
estava se referindo à purificação dos pecados. Era essa a realidade espiritual
que o ato humilde de lavar os pés tinha a intenção de simbolizar. (A prova de
que ele estava falando de purificação espiritual encontra-se no versículo 10,
quando Jesus diz: “Ora, vós estais limpos, mas não todos”. Ele havia acabado de
lhes lavar os pés, de modo que estavam limpos num sentido exterior e físico. No
entanto, o apóstolo João diz no versículo 11: “Ele sabia quem era o traidor.
Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos” — significando que Judas não
estava limpo no sentido espiritual em que Jesus estava falando).
A
resposta de Pedro é típica de sua costumeira franqueza incontida: “Senhor, não
somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” (versículo 9). Mais uma
vez, não havia meio-termo para Pedro. Era sempre tudo ou nada. Assim, Jesus
assegurou-o de que ele já estava “todo limpo”. (O Senhor continua falando em
termos espirituais, referindo-se ao perdão dos pecados.) Naquele momento, Pedro
não precisava que mais nada além de seus pés fosse purificado.
Em
outras palavras, como crente, Pedro já estava plenamente justificado. O perdão
e a purificação de que ele precisava não era o tipo de perdão sumário que se
pede ao Juiz do universo — como se Pedro estivesse procurando acertar seu
destino eterno. Ele já havia recebido esse tipo de perdão e purificação.
Naquele momento, Pedro dirigia-se a Deus como uma criança aproxima-se do pai ou
da mãe, buscando graça e perdão paternos das suas transgressões. Era desse tipo
de perdão que Pedro necessitava. O mesmo tipo de perdão que Jesus ensinou todos
os crentes a buscarem diariamente em oração (Lucas 11:4). Aqui, Jesus compara
tal perdão diário ao ato de lavar os pés.
Essas
verdades encontravam-se todas envoltas no simbolismo quando Jesus lavou os pés
dos discípulos. No entanto, a lição central consistia da forma como deve-se
demonstrar amor. O exemplo de Jesus é um ato consumado de serviço humilde e
amoroso.
Mais
tarde naquela noite, depois que Judas havia partido, Jesus disse as outros
onze: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos
amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:34-35). De que modo ele
os amou? Ele lavou seus pés. Enquanto estavam discutindo sobre quem era o
maior, ele mostrou-lhes o que é servir de maneira humilde, amorosa e mútua.
Para a
maior parte dos líderes, é difícil abaixar-se e lavar os pés daqueles que
consideram seus subordinados. No entanto, esse foi o exemplo de liderança que
Jesus deu e que instou seus discípulos a seguirem. Na verdade, ele disse-lhes
que mostrar amor uns pelos outros dessa maneira era a marca do verdadeiro
discípulo.
Pedro aprendeu a amar? Certamente, que sim. O amor tornou-se uma das marcas registradas de seus ensinamentos. Em 1Pedro 4:8, escreveu: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados”. A palavra grega traduzida como “intenso”, nesse versículo, é ektenes, que significa “esticado até o limite”. Pedro estava nos chamando a amar até o máximo de nossa capacidade. O amor do qual ele falou não é um sentimento. Não consiste em corresponder à pessoas que são naturalmente amáveis. Trata-se de um amor que cobre e compensa pelas falhas e fraquezas dos outros: “O amor cobre uma multidão de pecados”. Esse é o tipo de amor que lava os pés sujos de um irmão. O próprio Pedro aprendeu essa lição através do exemplo de Cristo.
Outra
qualidade de caráter importante que Pedro precisou aprender foi a compaixão.
Quando o Senhor advertiu Pedro de que ele iria negá-lo, disse: “Eis que Satanás
vos reclamou para vos peneirar como trigo” (Lucas 22:31). Normalmente, o trigo
era separado do restolho ao ser sacudido e jogado para o alto no vento forte. O
restolho ia embora com o vento e o trigo caía num monte, sem as impurezas.
Seria
de se esperar que Jesus assegurasse a Pedro: “Não vou permitir que Satanás te
peneire”. Mas não foi o que ele fez. Em outras palavras, informou Pedro de que
havia dado a Satanás a permissão que este havia pedido. Permitiria que Satanás
provasse Pedro (como Deus fez no caso de Jó). Na verdade, disse: “Permitirei
que Satanás o faça, permitirei que sacuda as próprias fundações de tua vida.
Então, deixarei que ele te lance ao vento — até que não reste nada além da
realidade da tua fé”. No entanto, Jesus garantiu a Pedro que a fé do apóstolo
sobreviveria à provação. Disse-lhe: “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua
fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos”
(versículo 32).
Foi
então que, em sua arrogância, Pedro insistiu que jamais tropeçaria. No entanto,
apesar de seus protestos, antes de aquela noite terminar, ele de fato negou a
Jesus e seu mundo todo foi vigorosamente sacudido. Seu ego foi esvaziado. Sua
segurança foi aniquilada. Seu orgulho sofreu profundamente. Sua fé, porém,
jamais desfaleceu.
Do que
se tratava tudo isso? Jesus estava capacitando Pedro para que este pudesse
fortalecer seus irmãos. Pessoas com aptidão nata de liderança, com frequência,
tendem a ter pouca compaixão, a ser péssimos consoladores e impacientes com os
outros. Enquanto procuram alcançar seus objetivos, não param muito tempo para
cuidar dos feridos. Pedro precisava aprender a ter compaixão através de seu
próprio sofrimento, de modo que quando este tivesse acabado, ele pudesse
fortalecer outros em meio à sua dor.
Ao
longo da vida, depois disso, Pedro precisaria mostrar compaixão pelas pessoas
que estavam se debatendo. Depois de ser peneirado por Satanás, Pedro estava
devidamente preparado para ter empatia com as fraquezas dos outros. Não era
difícil para ele ter compaixão daqueles que sucumbiam à tentação ou caíam em
pecado. Ele havia passado por isso. Através daquela experiência, havia
aprendido a ser compassivo, brando, bondoso, gentil e consolador a outros que
estavam feridos pelo pecado e pelo fracasso pessoal.
Em
1Pedro 5.8-10, escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário,
anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar;
resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se
cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça,
que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um
pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.
Pedro
entendia a fraqueza humana e entendia bem. Ele havia chegado ao fundo do poço.
Ele havia sido confrontado com sua própria fraqueza. No entanto, havia sido
aperfeiçoado, fortificado e fundamentado pelo Senhor. Como de costume, estava
escrevendo a partir de sua própria experiência, e não ensinando preceitos
teóricos.
Por
fim, era preciso que ele aprendesse a ter coragem. Não o tipo falso de
“coragem” impetuosa e atirada que o levara a brandir sua espada de modo tão
selvagem contra Malco, mas uma disposição madura, determinada e intrépida de
sofrer por amor a Cristo.
O
reino das trevas opõe-se ao reino da luz. As mentiras opõem-se à verdade.
Satanás opõe-se a Deus. Assim, aonde quer fosse, Pedro enfrentaria
dificuldades. Cristo lhe disse: “Em verdade, em verdade te digo que, quando
eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém,
fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde
não queres” (João 21:18).
O que
ele queria dizer? A resposta do apóstolo João é clara: “Disse isto para
significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus” (versículo
19).
Para
Pedro, o preço de pregar seria a morte. Perseguição. Opressão. Dificuldades.
Tortura. Por fim, o martírio. Pedro precisaria de coragem tão sólida quanto uma
rocha para perseverar.
Pode-se praticamente ver a coragem nascendo no
coração de Pedro em Pentecostes, quando ele foi enchido pelo Espírito Santo e
dele recebeu poder. Antes disso, o apóstolo havia mostrado lampejos de um tipo
inconstante de coragem. Foi por isso que, num instante, impetuosamente brandiu
sua espada na frente de uma multidão de soldados armados, mas, algumas horas
depois, negou a Jesus quando foi questionado por uma jovem serva. Sua coragem,
como tudo em sua vida, era marcada pela instabilidade.
Depois
de Pentecostes, porém, vemos um Pedro diferente. Atos 4 descreve como Pedro e
João foram levados perante o sinédrio, o conselho governante dos judeus. Foram
enfaticamente instruídos para que “não falassem, nem ensinassem em o nome de
Jesus” (versículo 18).
Pedro
e João responderam com ousadia. “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos
antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das
coisas que vimos e ouvimos” (versículos 19-20). Não tardou para que fossem
levados perante o sinédrio novamente por continuarem a pregar. Mais uma vez,
disseram a mesma coisa: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”
(Atos 5:29). Cheio do Espírito Santo e impelido pelo conhecimento de que Cristo
havia ressuscitado dos mortos, Pedro havia adquirido uma coragem inabalável,
firme como uma rocha.
Na
primeira epístola de Pedro, vemos de relance o motivo pelo qual havia nele
tanta coragem. Ao escrever para os cristãos dispersados por todo o império
romano por causa da perseguição, ele diz:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva
esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma
herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós
outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação
preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora no presente,
por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para
que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que ouro perecível,
mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus
Cristo. (1Pedro 1:3-7)
Pedro sabia que, em Cristo, estava seguro.
Ele havia visto o Cristo ressurreto, de modo que sabia que Cristo havia
conquistado a morte. Sabia que, quaisquer que fossem as provações sofridas aqui
na terra, eram simplesmente temporárias. Apesar de serem muitas vezes dolorosas
e amargas, as provações não eram nada se comparadas à esperança da glória
eterna (veja Romanos 8:18). Ele sabia que a autenticidade da verdadeira fé era
infinitamente mais preciosa do que quaisquer riquezas perecíveis da terra, pois
sua fé redundaria no louvor e glória a Cristo quando ele voltasse. Era essa
esperança que dava coragem a Pedro.
À
medida que Pedro aprendeu todas essas lições e seu caráter foi transformado — à
medida que se tornou o homem que Cristo desejava que ele fosse — pouco a pouco
deixou de ser Simão e passou a ser a Rocha. Aprendeu submissão, domínio
próprio, humildade, amor, compaixão e coragem através do exemplo do Senhor. E
por causa do Espírito Santo trabalhando em seu coração, tornou-se, de fato, um
grande líder. Ele pregou em Pentecostes e três mil pessoas foram salvas (Atos
2:14- 41).
Ele e
João curaram um homem coxo (Atos 3:1-10). Era tão poderoso que pessoas foram
curadas em sua sombra (Atos 5:15-16). Ressuscitou a Dorcas dentre os mortos
(Atos 9:36-42). Apresentou o evangelho aos gentios (Atos 10). E escreveu duas
epístolas, 1 e 2Pedro, nas quais colocou algumas das mesmas lições que havia
aprendido do Senhor sobre um caráter verdadeiro. Pedro foi um homem e tanto!
Era perfeito? Não. Em Gálatas 2, o apóstolo Paulo relata um episódio no qual
Pedro cedeu. Agiu como um hipócrita. Vemos um lampejo do antigo Simão.
Pedro
estava comendo com gentios, tendo comunhão com eles como verdadeiros irmãos em
Cristo — até que surgiram alguns falsos mestres. Esses hereges insistiram que,
a menos que os gentios fossem circuncidados de acordo com as leis cerimoniais
do Antigo Testamento, não poderiam ser salvos e não deveriam ser tratados como
irmãos. Ao que parece, intimidado pelos falsos mestres, Pedro parou de comer
com os irmãos gentios (Gálatas 2:12). O versículo 13 diz que quando Pedro fez
isso, todos o imitaram, pois ele era seu líder. Assim, o apóstolo Paulo escreve:
“Resisti-lhe face a face, porque tornara-se repreensível” (versículo 11). Paulo
repreendeu a Pedro na presença de todos. Em favor de Pedro, deve-se dizer,
porém, que ele respondeu à correção de Paulo. Quando a heresia dos judaizantes
finalmente foi confrontada num concílio de todos os líderes da igreja e
apóstolos, em Jerusalém, Pedro foi o primeiro falar em defesa do evangelho da
graça divina. Foi ele quem apresentou o argumento definitivo (Atos 15:7-14).
Com efeito, defendeu o ministério do apóstolo Paulo. Esse episódio todo mostra
como Simão Pedro continuou pronto a aprender, humilde e sensível à convicção e
correção do Espírito Santo. Que fim teve a vida de Pedro? Sabemos que Jesus
disse a Pedro que ele morreria como mártir (João 21:18-19). No entanto, as
Escrituras não relatam a morte de Pedro. Todos os registros da história da
igreja primitiva indicam que Pedro foi crucificado. Eusébio cita o testemunho
de Clemente, o qual diz que, antes de Pedro ser crucificado, foi forçado a
assistir à crucificação de sua própria esposa. De acordo com Clemente, ao vê-la
sendo levada para a morte, Pedro chamou-a pelo nome e disse: “Lembre-se do
Senhor”. Quando chegou a vez de Pedro morrer, ele pediu para ser crucificado de
cabeça para baixo pois não era digno de morrer como seu Senhor havia morrido. E
assim, ele foi pregado a uma cruz invertida. [4]
A vida
de Pedro pode ser resumida nas palavras finais de sua segunda epístola:
“Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A
ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pedro 3:18). Foi
exatamente isso que Pedro fez e por isso tornou-se Rocha — o grande líder da
igreja primitiva.
AS
QUALIDADES DE CARÁTER QUE DEFINEM UM VERDADEIRO LÍDER
O terceiro elemento da constituição de um
líder — além da matéria-prima certa e das experiências de vida certas — é o
caráter certo. O caráter, obviamente, é de importância fundamental para a liderança.
O atual declínio dos Estados Unidos está diretamente relacionado ao fato de que
elegemos, nomeamos e contratamos muitos líderes sem nenhum caráter. Nos últimos
anos, procuramos argumentar que o caráter na realidade não é importante para a
liderança; aquilo que uma pessoa faz em sua vida particular supostamente não
deve ser levado em consideração quando essa pessoa é candidata a um cargo
público de liderança. Essa perspectiva encontra-se em total oposição àquilo que
a Bíblia ensina. Na liderança, o caráter importa sim. E muito. Na verdade, é o
caráter que possibilita a liderança. É simplesmente impossível as pessoas
respeitarem ou confiarem em alguém que não tem caráter. Se não respeitam um
líder, não irão segui-lo.
O
tempo e a verdade andam de mãos dadas. Líderes sem caráter acabam decepcionando
seus seguidores e perdem a confiança deles. O único motivo pelo qual tais
pessoas, muitas vezes, têm aceitação popular é o fato de que fazem outras
pessoas sem caráter sentirem-se melhor a respeito de si mesmas. No entanto, não
são verdadeiros líderes. A liderança duradoura é fundamentada no caráter.
O
caráter gera respeito. O respeito gera confiança. E a confiança é o que motiva
os seguidores. Mesmo na esfera puramente humana, a maioria das pessoas
reconhece que a verdadeira liderança está devidamente associada a qualidades de
caráter como integridade, confiabilidade, respeitabilidade, altruísmo,
humildade, autodisciplina, autocontrole e coragem. Tais virtudes refletem a
imagem de um homem de Deus.
Apesar de a imagem divina encontrar-se
gravemente corrompida na humanidade, ela não foi inteiramente apagada. Por esse
motivo, até os incrédulos reconhecem tais qualidades como virtudes desejáveis,
requisitos importantes para a verdadeira liderança.
O
próprio Cristo é a epítome do que um verdadeiro líder deve ser. Ele é perfeito
em todos os atributos que compõem o caráter de um líder. Ele é a personificação
de todas as qualidades mais verdadeiras, puras, elevadas e nobres de liderança.
É evidente que, em termos de liderança espiritual, o grande alvo e objetivo é
levar as pessoas a tornarem-se mais semelhantes a Cristo. Por isso, o próprio
líder deve manifestar características semelhantes às de Cristo. Esse é o motivo
dos padrões de liderança na igreja serem tão elevados.
O
apóstolo Paulo resumiu o espírito do verdadeiro líder quando escreveu: “Sede
meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Coríntios 11:1). Pedro poderia
muito bem ter escrito a mesma coisa. Seu caráter foi moldado e formado através
dos exemplos que observou em Cristo.
Ele
possuía a matéria-prima necessária para tornar-se um líder e isso foi
importante. Suas experiências de vida ajudaram-no a aprimorar e aperfeiçoar
suas aptidões naturais para a liderança, e isso também foi de importância
crítica. No entanto, a verdadeira chave de tudo — a fundação essencial que faz
com que a liderança autêntica sempre seja exaltada ou venha a cair — é o
caráter. Foram as qualidades do caráter de Pedro, desenvolvidas através de um
relacionamento íntimo com Cristo, que, em última análise, fizeram dele um
grande líder.
Nas
palavras de J. R. Miller, “A única coisa que os pranteadores levam do túmulo
consigo e aquilo que se recusa a ser sepultado é o caráter de um homem. Aquilo
que um homem é vive muito além dele. Jamais pode ser sepultado”. [2] Essa é uma
opinião válida, mas há algo mais relevante do que aquilo que as pessoas pensam
de nós depois que morremos.
Muito
mais importante do que isso é o impacto que causamos enquanto estamos aqui.
Quais foram algumas qualidades de um líder espiritual desenvolvidas na vida de
Pedro? Uma delas foi a submissão. À primeira vista, pode parecer uma qualidade
estranha para ser cultivada por um líder. Afinal, o líder é a pessoa que está
no comando e espera que outros submetam-se a ele, certo?
Contudo, um verdadeiro líder não apenas exige
submissão; ele é um exemplo de submissão através da forma que se submete ao
Senhor e àqueles que têm autoridade sobre ele. Tudo o que o verdadeiro líder
espiritual faz deve ser marcado pela submissão a todas as autoridades
legítimas, especialmente submissão a Deus e à sua Palavra.
A
tendência dos líderes é de serem seguros e agressivos. São naturalmente
dominantes. Pedro possuía tal inclinação dentro si. Falava sem hesitar e agia
sem hesitar. Como vimos, era um homem de iniciativa. Isso significa que estava
propenso a assumir o controle de todas as situações. A fim de equilibrar esse
lado dele, o Senhor ensinou-lhe a submissão. Ele o fez de maneiras um tanto
admiráveis. Um exemplo clássico pode ser encontrado em Mateus 17.
Esse
relato refere-se a uma ocasião em que Jesus estava voltando com os doze para
Cafarnaum, sua base de operações, depois de um período de ministério
itinerante. Encontrava-se na cidade um publicano, realizando a coleta
costumeira do imposto de duas dracmas (meio estáter) de cada pessoa com 20 anos
ou mais. Não se tratava de um imposto pago a Roma, mas sim de um imposto para a
manutenção do templo. Havia sido determinado em Êxodo 30:11-16 (veja 2Cr 24:9).
O imposto equivalia ao pagamento por dois dias de trabalho, de modo que não era
uma quantia pequena. De acordo com Mateus, “Dirigiram-se a Pedro os que
cobravam o imposto das duas dracmas, e perguntaram: Não paga o vosso mestre as
duas dracmas?” (Mateus 17.24).
Pedro garantiu-lhes que Jesus pagava seus
impostos. No entanto, ao que parece, esse determinado imposto gerou um certo
problema na mente de Pedro. Como Filho de Deus encarnado, Jesus tinha a
obrigação moral de pagar pela manutenção do templo como um simples ser humano?
Os filhos dos reis aqui na terra não pagavam impostos nos reinos de seus pais;
por que Jesus deveria?
Jesus sabia o que Pedro estava pensando, de
modo que “Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que
te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos
ou dos estranhos?” (versículo 25). Pedro respondeu: “Dos estranhos”. Os reis
não cobram impostos de seus próprios filhos. Jesus tirou a conclusão lógica
para Pedro: “Logo, estão isentos os filhos” (versículo 26).
Em
outras palavras, se assim o desejasse, Jesus possuía autoridade celestial
absoluta para não pagar o imposto do templo. No entanto, se ele assim o
fizesse, estaria transmitindo a mensagem errada no que se referia à sua
autoridade terrena. Seria melhor submeter-se, pagar o imposto e evitar uma
situação que a maioria das pessoas não iria compreender. Assim, apesar de não
ser tecnicamente obrigado a pagar, Jesus disse:
“Mas,
para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe
que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e
entrega-lhes por mim e por ti” (versículo 27).
A
moeda na boca do peixe era um estáter, uma única moeda equivalente a quatro
dracmas. Era a quantia exata para pagar o imposto de duas pessoas. Em outras
palavras, Jesus também providenciou para que o imposto de Pedro fosse pago em
sua totalidade.
É
curioso como o milagre realizado por Jesus demonstrou sua absoluta soberania,
ao mesmo tempo em que ele estava sendo um exemplo de submissão humana. De modo
sobrenatural, Cristo dirigiu um peixe que havia engolido uma moeda até ao anzol
de Pedro. Se Jesus era Senhor da natureza a esse ponto, certamente, possuía
autoridade para não pagar o imposto do templo. No entanto, ao dar o exemplo,
ele ensinou Pedro a submeter-se de boa vontade.
A
submissão é uma qualidade de caráter indispensável a ser cultivada pelos
líderes. Se desejam ensinar as pessoas a se submeterem, eles próprios devem ser
exemplos de submissão. Às vezes, um líder deve submeter-se mesmo quando há excelentes
argumentos contrários a essa submissão. Pedro aprendeu bem essa lição. Anos
depois, em 1Pedro 2:13-18, ele escreveu:
Sujeitai-vos a toda instituição humana por
causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como
enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que
praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem,
façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livre que sois, não usando,
todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.
Tratai
a todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai ao rei. Servos, sede
submissos, com todo temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato,
mas também ao perverso.
Essa
foi a mesma lição que Pedro aprendeu de Cristo: num certo sentido, vocês têm
liberdade, mas não usem da mesma como pretexto para fazerem o mal. Antes,
considerem-se servos do Senhor. Vocês são cidadãos do céu e meros peregrinos
aqui na terra, mas submetam-se a todas as prescrições por amor ao Senhor. Antes
de tudo, vocês são súditos do reino de Cristo e simples forasteiros ou
peregrinos na terra. Ainda assim, para evitar escândalo, honrem o rei terreno.
Honrem a todas as pessoas. Essa é a vontade de Deus e, ao submeterem-se, vocês
calarão a ignorância dos homens iníquos.
Lembre-se de que o homem que escreveu essa
epístola é o mesmo homem que, quando jovem e afoito, cortou a orelha de um
servo do sumo sacerdote. É o mesmo homem que se debateu com a ideia de Jesus
pagar impostos. No entanto, ele aprendeu a submeter-se — o que não é uma lição
fácil para um líder nato. Especialmente para Pedro, que tendia a ser dominante,
impetuoso, agressivo e a resistir à ideia de submissão. Contudo, Jesus o
ensinou a submeter-se de bom grado, mesmo quando Pedro acreditava ter um bom
argumento para recusar-se a fazê-lo.
A
segunda qualidade de caráter que Pedro aprendeu foi o domínio próprio. Não é
natural à maioria das pessoas com aptidões para a liderança ter como ponto
forte o exercício do domínio próprio. O autocontrole, a disciplina, a moderação
e a reserva não são necessariamente características naturais daquele que se
encontra à frente do grupo. É por isso que tantos líderes têm problemas com a
raiva e com as paixões incontidas. Talvez você tenha observado como as
palestras sobre gerenciamento da raiva tornaram-se a última moda entre
presidentes de companhias e pessoas em cargos elevados de administração no
mundo dos negócios em nosso país. Fica claro que a raiva é um problema comum e
grave entre pessoas que chegaram a um nível tão alto de liderança.
Pedro possuía tendências semelhantes. Uma
cabeça quente faz parte do tipo de personalidade voltada para a ação, decisão e
iniciativa que fez dele um líder. Uma pessoa como Pedro impacienta-se facilmente
com outros cuja visão ou desempenho ficam aquém do desejado. Pode, ainda,
irritar-se rapidamente com aqueles que colocam obstáculos para o seu sucesso.
Desse modo, a fim de ser um bom líder, deve aprender a ter domínio próprio.
De
certa forma, o Senhor colocou um freio na boca de Pedro e o ensinou sobre o
domínio próprio. Esse é um dos principais motivos pelos quais Pedro sofreu
tantas repreensões quando falou antes da hora ou agiu precipitadamente. O
Senhor estava ensinando-o constantemente a ter domínio próprio.
O
episódio no jardim em que Pedro decepou a orelha de Malco é um exemplo clássico
de sua falta natural de domínio próprio. Mesmo cercado de centenas de soldados
romanos, todos armados até os dentes, Pedro impensadamente puxou sua espada e
estava pronto para pôr-se a brandi-la no meio da multidão. Felizmente para ele,
Malco perdeu apenas uma orelha e Jesus imediatamente reparou o estrago. Como
vimos anteriormente, Pedro foi repreendido com severidade.
Aquela
repreensão deve ter sido especialmente difícil para Pedro, uma vez que
aconteceu na frente de uma multidão de inimigos. No entanto, ele aprendeu muita
coisa com o que testemunhou naquela noite. Mais tarde ele escreveria: “pois que
também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os
seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca;
pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não
fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (2Pedro 2:21-23).
Que diferença daquele rapaz que tentou tomar
a espada e abrir caminho no meio de seus adversários. Pedro havia aprendido a
lição do domínio próprio.
Ele
também teve de aprender humildade. Com frequência, os líderes são tentados a
cair no pecado do orgulho. Na verdade, o pecado mais comum da liderança é
considerar-se maior do que se deve. Quando as pessoas estão seguindo sua
liderança, constantemente elogiando-o, tomando-o como exemplo e admirando-o, é
muito fácil ser tomado de orgulho.
Podemos observar em Pedro uma tremenda
segurança. Ela fica evidente pelo modo que ele responde imediatamente a todas
as perguntas. Fica evidente também em grande parte de suas ações, como no caso
em que ele saiu do barco e começou a andar sobre as águas. Ficou evidente da
pior e mais trágica maneira naquela fatídica ocasião em que Jesus predisse que
seus discípulos iriam negá-lo. Jesus disse: “Esta noite, todos vós vos
escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do
rebanho ficarão dispersas” (Mateus 26:31).
No
entanto, Pedro estava absolutamente seguro: “Ainda que venhas a ser um tropeço
para todos, nunca o serás para mim” (versículo 33, ênfase minha). Então,
acrescentou: “Senhor, estou pronto para ir contigo, tanto para a prisão como
para a morte” (Lucas 22:33). É claro que, como sempre, Pedro estava errado e
Jesus estava certo. Pedro de fato negou a Cristo não apenas uma vez, mas
várias, exatamente como Jesus o havia advertido. A vergonha e desgraça de Pedro
por ter desonrado a Cristo de modo tão flagrante só foram aumentadas pelo fato
de que ele havia se orgulhado com tanta obstinação sobre sua imunidade a tais
pecados!
Porém,
o Senhor usou tudo isso para tornar Pedro um homem humilde. E quando Pedro
escreveu sua primeira epístola, disse: “cingi-vos todos de humildade, porque
Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.
Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo
oportuno, vos exalte” (1Pedro 5:5-6). Aos líderes da igreja, disse
especificamente: “[Não ajam] como dominadores dos que vos foram confiados,
antes, tornando-vos modelos do rebanho” (versículo 3). A humildade tornou-se
uma das virtudes que caracterizaram a vida de Pedro, sua mensagem e seu estilo
de liderança. Pedro também aprendeu sobre o amor. Todos os discípulos tiveram
dificuldade de aprender que a verdadeira liderança espiritual significa servir
uns aos outros em amor. O verdadeiro líder é alguém que serve, não alguém que
exige ser servido. Essa é uma lição muito difícil para muitos líderes natos.
Sua tendência é ver as pessoas como meios de alcançar um fim. Normalmente, os
líderes voltam-se para os objetivos e não para as pessoas. Desse modo, com
frequência usam as pessoas ou passam por cima delas, a fim de alcançarem seus
objetivos.
Pedro
e os outros discípulos precisavam aprender que a liderança encontra-se
arraigada e fundamentada no serviço de amor aos outros. O verdadeiro líder ama
e serve aqueles a quem ele lidera. Jesus disse: “Se alguém quer ser o primeiro,
será o último e servo de todos” (Marcos 9:35). O próprio Senhor serviu
constantemente de modelo aos seus discípulos desse tipo de liderança de
serviço. No entanto, em momento algum isso foi demonstrado mais claramente do
que no cenáculo, na noite em que ele foi traído.
Jesus
e seus discípulos tinham ido a Jerusalém para celebrar a Páscoa em um cômodo
alugado na cidade. A ceia de Páscoa era uma refeição longa e cerimoniosa,
chegando a durar quatro ou cinco horas. Naquela cultura, em vez de sentarem-se
em cadeiras, os participantes, normalmente, se reclinavam ao redor de uma mesa
baixa. Isso significava que a cabeça de uma pessoa ficava perto dos pés da
outra. É claro que todas as ruas eram lamacentas ou empoeiradas e os pés
estavam sempre sujos. Assim, o costume da época era que, quando os convidados
entrassem numa casa para fazer uma refeição, normalmente, havia um servo cujo
trabalho era lavar os pés deles. Esse era, praticamente, o trabalho mais
humilde de todos. No entanto, qualquer anfitrião que deixasse de providenciar
para que os pés de seus convidados fossem lavados cometia uma grave afronta
(veja Lucas 7:44).
Ao que
parece, nessa noite agitada de Páscoa, no cômodo alugado, não haviam
providenciado para que um servo lavasse os pés dos hóspedes. Fica evidente que
os discípulos estavam preparados para deixar passar essa falha de etiqueta em
vez de oferecerem-se para uma tarefa tão servil. Reuniram-se, portanto, ao
redor da mesa como se estivessem prontos para começar a refeição sem lavar os
pés. Assim, de acordo com as Escrituras, o próprio Jesus “levantou-se da ceia,
tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois,
deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e enxugar-lhos com
a toalha com que estava cingido” (João 13:4- 5). [3]
O
próprio Jesus — aquele que, por direito, era chamado de Senhor — tomou sobre si
o papel do mais humilde dos escravos e lavou os pés sujos de seus discípulos.
De acordo com Lucas, aproximadamente no mesmo momento em que isso aconteceu, os
discípulos estavam no meio de uma discussão sobre qual deles era o maior (Lucas
22:24). Estavam interessados em serem exaltados, não humilhados. Assim, Jesus
fez o que nenhum deles quis fazer. Deu-lhes uma lição sobre a humildade do
verdadeiro amor.
A
maioria, provavelmente, ficou lá sentada, num silêncio aturdido. Mas quando o
Senhor aproximou-se de Simão Pedro, “este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés
a mim?” (João 13:6). O sentido dessa pergunta é: O que você pensa que está
fazendo? Eis o impetuoso e ousado Simão, falando sem pensar. Chegou até mesmo a
dizer, “Nunca me lavarás os pés” (versículo 8). Pedro era especialista em
declarações absolutas: “Nunca o serás [tropeço] para mim” (veja Mateus 26:33).
“Nunca me lavarás os pés”. Não havia meio termo na vida de Pedro; tudo é absolutamente
preto ou branco.
Jesus
lhe respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (João 13:8). É
claro que Jesus estava falando da necessidade de purificação espiritual.
Obviamente, não era a limpeza física que tornava os discípulos dignos de terem
comunhão com Cristo. Jesus estava se referindo à purificação dos pecados. Era
essa a realidade espiritual que o ato humilde de lavar os pés tinha a intenção
de simbolizar. (A prova de que ele estava falando de purificação espiritual
encontra-se no versículo 10, quando Jesus diz: “Ora, vós estais limpos, mas não
todos”. Ele havia acabado de lhes lavar os pés, de modo que estavam limpos num
sentido exterior e físico. No entanto, o apóstolo João diz no versículo 11:
“Ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos”
— significando que Judas não estava limpo no sentido espiritual em que Jesus
estava falando).
A
resposta de Pedro é típica de sua costumeira franqueza incontida: “Senhor, não
somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” (versículo 9). Mais uma
vez, não havia meio-termo para Pedro. Era sempre tudo ou nada. Assim, Jesus
assegurou-o de que ele já estava “todo limpo”. (O Senhor continua falando em
termos espirituais, referindo-se ao perdão dos pecados.) Naquele momento, Pedro
não precisava que mais nada além de seus pés fosse purificado.
Em
outras palavras, como crente, Pedro já estava plenamente justificado. O perdão
e a purificação de que ele precisava não era o tipo de perdão sumário que se
pede ao Juiz do universo — como se Pedro estivesse procurando acertar seu
destino eterno. Ele já havia recebido esse tipo de perdão e purificação.
Naquele momento, Pedro dirigia-se a Deus como uma criança aproxima-se do pai ou
da mãe, buscando graça e perdão paternos das suas transgressões. Era desse tipo
de perdão que Pedro necessitava. O mesmo tipo de perdão que Jesus ensinou todos
os crentes a buscarem diariamente em oração (Lucas 11:4). Aqui, Jesus compara
tal perdão diário ao ato de lavar os pés.
Essas
verdades encontravam-se todas envoltas no simbolismo quando Jesus lavou os pés
dos discípulos. No entanto, a lição central consistia da forma como deve-se
demonstrar amor. O exemplo de Jesus é um ato consumado de serviço humilde e
amoroso.
Mais
tarde naquela noite, depois que Judas havia partido, Jesus disse as outros
onze: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos
amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:34-35). De que modo ele
os amou? Ele lavou seus pés. Enquanto estavam discutindo sobre quem era o
maior, ele mostrou-lhes o que é servir de maneira humilde, amorosa e mútua.
Para a
maior parte dos líderes, é difícil abaixar-se e lavar os pés daqueles que consideram
seus subordinados. No entanto, esse foi o exemplo de liderança que Jesus deu e
que instou seus discípulos a seguirem. Na verdade, ele disse-lhes que mostrar
amor uns pelos outros dessa maneira era a marca do verdadeiro discípulo. Pedro
aprendeu a amar? Certamente, que sim. O amor tornou-se uma das marcas
registradas de seus ensinamentos. Em 1Pedro 4:8, escreveu: “Acima de tudo,
porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão
de pecados”. A palavra grega traduzida como “intenso”, nesse versículo, é
ektenes, que significa “esticado até o limite”.
Pedro
estava nos chamando a amar até o máximo de nossa capacidade. O amor do qual ele
falou não é um sentimento. Não consiste em corresponder à pessoas que são
naturalmente amáveis. Trata-se de um amor que cobre e compensa pelas falhas e
fraquezas dos outros: “O amor cobre uma multidão de pecados”. Esse é o tipo de
amor que lava os pés sujos de um irmão. O próprio Pedro aprendeu essa lição
através do exemplo de Cristo.
Outra
qualidade de caráter importante que Pedro precisou aprender foi a compaixão.
Quando o Senhor advertiu Pedro de que ele iria negá-lo, disse: “Eis que Satanás
vos reclamou para vos peneirar como trigo” (Lucas 22:31). Normalmente, o trigo
era separado do restolho ao ser sacudido e jogado para o alto no vento forte. O
restolho ia embora com o vento e o trigo caía num monte, sem as impurezas.
Seria
de se esperar que Jesus assegurasse a Pedro: “Não vou permitir que Satanás te
peneire”. Mas não foi o que ele fez. Em outras palavras, informou Pedro de que
havia dado a Satanás a permissão que este havia pedido. Permitiria que Satanás
provasse Pedro (como Deus fez no caso de Jó). Na verdade, disse: “Permitirei
que Satanás o faça, permitirei que sacuda as próprias fundações de tua vida.
Então, deixarei que ele te lance ao vento — até que não reste nada além da
realidade da tua fé”. No entanto, Jesus garantiu a Pedro que a fé do apóstolo
sobreviveria à provação. Disse-lhe: “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua
fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos”
(versículo 32).
Foi
então que, em sua arrogância, Pedro insistiu que jamais tropeçaria. No entanto,
apesar de seus protestos, antes de aquela noite terminar, ele de fato negou a
Jesus e seu mundo todo foi vigorosamente sacudido. Seu ego foi esvaziado. Sua
segurança foi aniquilada. Seu orgulho sofreu profundamente. Sua fé, porém,
jamais desfaleceu.
Do que
se tratava tudo isso? Jesus estava capacitando Pedro para que este pudesse
fortalecer seus irmãos. Pessoas com aptidão nata de liderança, com frequência,
tendem a ter pouca compaixão, a ser péssimos consoladores e impacientes com os
outros. Enquanto procuram alcançar seus objetivos, não param muito tempo para
cuidar dos feridos. Pedro precisava aprender a ter compaixão através de seu
próprio sofrimento, de modo que quando este tivesse acabado, ele pudesse
fortalecer outros em meio à sua dor.
Ao
longo da vida, depois disso, Pedro precisaria mostrar compaixão pelas pessoas
que estavam se debatendo. Depois de ser peneirado por Satanás, Pedro estava
devidamente preparado para ter empatia com as fraquezas dos outros. Não era
difícil para ele ter compaixão daqueles que sucumbiam à tentação ou caíam em
pecado. Ele havia passado por isso. Através daquela experiência, havia
aprendido a ser compassivo, brando, bondoso, gentil e consolador a outros que
estavam feridos pelo pecado e pelo fracasso pessoal.
Em
1Pedro 5.8-10, escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário,
anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar;
resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se
cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça,
que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um
pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.
Pedro
entendia a fraqueza humana e entendia bem. Ele havia chegado ao fundo do poço.
Ele havia sido confrontado com sua própria fraqueza. No entanto, havia sido
aperfeiçoado, fortificado e fundamentado pelo Senhor. Como de costume, estava
escrevendo a partir de sua própria experiência, e não ensinando preceitos
teóricos.
Por
fim, era preciso que ele aprendesse a ter coragem. Não o tipo falso de “coragem”
impetuosa e atirada que o levara a brandir sua espada de modo tão selvagem
contra Malco, mas uma disposição madura, determinada e intrépida de sofrer por
amor a Cristo.
O
reino das trevas opõe-se ao reino da luz. As mentiras opõem-se à verdade.
Satanás opõe-se a Deus. Assim, aonde quer fosse, Pedro enfrentaria
dificuldades. Cristo lhe disse: “Em verdade, em verdade te digo que, quando
eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando,
porém, fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para
onde não queres” (João 21:18).
O que
ele queria dizer? A resposta do apóstolo João é clara: “Disse isto para
significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus” (versículo
19). Para Pedro, o preço de pregar seria a morte. Perseguição. Opressão.
Dificuldades. Tortura. Por fim, o martírio. Pedro precisaria de coragem tão
sólida quanto uma rocha para perseverar.
Pode-se praticamente ver a coragem nascendo
no coração de Pedro em Pentecostes, quando ele foi enchido pelo Espírito Santo
e dele recebeu poder. Antes disso, o apóstolo havia mostrado lampejos de um
tipo inconstante de coragem. Foi por isso que, num instante, impetuosamente
brandiu sua espada na frente de uma multidão de soldados armados, mas, algumas horas
depois, negou a Jesus quando foi questionado por uma jovem serva. Sua coragem,
como tudo em sua vida, era marcada pela instabilidade.
Depois
de Pentecostes, porém, vemos um Pedro diferente. Atos 4 descreve como Pedro e
João foram levados perante o sinédrio, o conselho governante dos judeus. Foram
enfaticamente instruídos para que “não falassem, nem ensinassem em o nome de
Jesus” (versículo 18).
Pedro
e João responderam com ousadia. “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos
antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das
coisas que vimos e ouvimos” (versículos 19-20). Não tardou para que fossem
levados perante o sinédrio novamente por continuarem a pregar. Mais uma vez,
disseram a mesma coisa: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”
(Atos 5:29). Cheio do Espírito Santo e impelido pelo conhecimento de que Cristo
havia ressuscitado dos mortos, Pedro havia adquirido uma coragem inabalável,
firme como uma rocha.
Na
primeira epístola de Pedro, vemos de relance o motivo pelo qual havia nele
tanta coragem. Ao escrever para os cristãos dispersados por todo o império
romano por causa da perseguição, ele diz:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança,
mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança
incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que
sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada para
revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora no presente, por breve
tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma
vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que ouro perecível,
mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus
Cristo. (1Pedro 1:3-7)
Pedro
sabia que, em Cristo, estava seguro. Ele havia visto o Cristo ressurreto, de
modo que sabia que Cristo havia conquistado a morte. Sabia que, quaisquer que
fossem as provações sofridas aqui na terra, eram simplesmente temporárias.
Apesar de serem muitas vezes dolorosas e amargas, as provações não eram nada se
comparadas à esperança da glória eterna (veja Romanos 8:18). Ele sabia que a
autenticidade da verdadeira fé era infinitamente mais preciosa do que quaisquer
riquezas perecíveis da terra, pois sua fé redundaria no louvor e glória a
Cristo quando ele voltasse. Era essa esperança que dava coragem a Pedro.
À
medida que Pedro aprendeu todas essas lições e seu caráter foi transformado — à
medida que se tornou o homem que Cristo desejava que ele fosse — pouco a pouco
deixou de ser Simão e passou a ser a Rocha. Aprendeu submissão, domínio
próprio, humildade, amor, compaixão e coragem através do exemplo do Senhor. E
por causa do Espírito Santo trabalhando em seu coração, tornou-se, de fato, um
grande líder.
Ele
pregou em Pentecostes e três mil pessoas foram salvas (Atos 2:14- 41). Ele e
João curaram um homem coxo (Atos 3:1-10). Era tão poderoso que pessoas foram
curadas em sua sombra (Atos 5:15-16). Ressuscitou a Dorcas dentre os mortos
(Atos 9:36-42). Apresentou o evangelho aos gentios (Atos 10). E escreveu duas
epístolas, 1 e 2Pedro, nas quais colocou algumas das mesmas lições que havia
aprendido do Senhor sobre um caráter verdadeiro. Pedro foi um homem e tanto!
Era perfeito? Não. Em Gálatas 2, o apóstolo Paulo relata um episódio no qual
Pedro cedeu. Agiu como um hipócrita. Vemos um lampejo do antigo Simão.
Pedro
estava comendo com gentios, tendo comunhão com eles como verdadeiros irmãos em
Cristo — até que surgiram alguns falsos mestres. Esses hereges insistiram que,
a menos que os gentios fossem circuncidados de acordo com as leis cerimoniais
do Antigo Testamento, não poderiam ser salvos e não deveriam ser tratados como
irmãos. Ao que parece, intimidado pelos falsos mestres, Pedro parou de comer
com os irmãos gentios (Gálatas 2:12). O versículo 13 diz que quando Pedro fez
isso, todos o imitaram, pois ele era seu líder. Assim, o apóstolo Paulo
escreve: “Resisti-lhe face a face, porque tornara-se repreensível” (versículo
11). Paulo repreendeu a Pedro na presença de todos.
Em
favor de Pedro, deve-se dizer, porém, que ele respondeu à correção de Paulo.
Quando a heresia dos judaizantes finalmente foi confrontada num concílio de
todos os líderes da igreja e apóstolos, em Jerusalém, Pedro foi o primeiro
falar em defesa do evangelho da graça divina. Foi ele quem apresentou o
argumento definitivo (Atos 15:7-14). Com efeito, defendeu o ministério do
apóstolo Paulo. Esse episódio todo mostra como Simão Pedro continuou pronto a
aprender, humilde e sensível à convicção e correção do Espírito Santo.
Que fim teve a vida de Pedro? Sabemos que
Jesus disse a Pedro que ele morreria como mártir (João 21:18-19). No entanto,
as Escrituras não relatam a morte de Pedro. Todos os registros da história da
igreja primitiva indicam que Pedro foi crucificado. Eusébio cita o testemunho
de Clemente, o qual diz que, antes de Pedro ser crucificado, foi forçado a
assistir à crucificação de sua própria esposa. De acordo com Clemente, ao vê-la
sendo levada para a morte, Pedro chamou-a pelo nome e disse: “Lembre-se do
Senhor”. Quando chegou a vez de Pedro morrer, ele pediu para ser crucificado de
cabeça para baixo pois não era digno de morrer como seu Senhor havia morrido. E
assim, ele foi pregado a uma cruz invertida. [4]
A vida de Pedro pode ser resumida nas palavras finais de sua segunda epístola: “Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pedro 3:18). Foi exatamente isso que Pedro fez e por isso tornou-se Rocha — o grande líder da igreja primitiva.
12 homens
extraordinariamente comuns
JOHN MacARTHUR
NOTA :
CAPÍTULO XXII
PRIMEIRA
EPÍSTOLA DE PEDRO
Tema. Nesta
epístola oferece-se uma
ilustração esplêndida de como
Pedro cumpriu a
missão que lhe foi
dada pelo Senhor
— “E tu,
quando te converteres, fortalece teus
irmãos”. Lucas 22:32.
Purificado e confirmado
por meio do
sofrimento e amadurecido
pela experiência, podia pronunciar palavras
de encorajamento a grupos
de cristãos que
estavam passando por duras provas.
Muitas das lições
que êle aprendeu
do Senhor, êle
fêz saber aos
seus leitores (comp.
I Pedro 1: 10
com Mat. 13:17;
I Ped. 5:2
e João 21:15-17;
I Ped. 5:8 com
Luc. 22:31). O vers. 12
do último capitulo
sugerirá o tema
da epístola —
a graça de
Deus. Aquêles a quem se
dirigia estavam passando por
tempos de prova. Assim
os anima demonstrando-lhes que
tudo quanto era
necessário para ter fôrça, caráter
e coragem havia
sido provido na
graça de Deus.
Deus é o
“Deus de tôda graça”
(5:10), cuja mensagem
ao Seu povo
é : “A minha graça
é suficiente”. O
tema de Primeira
a Pedro pode
ser resumido da
seguinte maneira :
a suficiência da
graça divina e
a sua aplicação
prática com relação à vida cristã
e para suportar
a prova e
o sofrimento.
PORQUE FOI
ESCRITA. Para animar os
fiéis a estarem firmes
durante o sofrimento e a
exortá-los à santidade.
QUANDO FOI
ESCRITA. Provàvelmente em 60 a.
D.ONDE FOI ESCRITA. Em Babilônia. 5:13.
SEGUNDA EPÍSTOLA
DE PEDRO
Tema.
A Primeira
Epístola de Pedro
trata de um perigo
fora da Igreja
— das perseguições;
a Segunda de Pedro,
de um dentro
da mesma —
a falsa doutrina. A
primeira foi escrita
para animar, a
segunda para advertir. Na
primeira, vê-se Pedro cumprindo
a sua mi- fão de fortalecer
os irmãos (Luc.
22:32); ‘na segunda,
cumprindo a sua
missão de pastorear
as ovelhas, protegendo-as dos
perigos ocultos e
insidiosos, para que andem
nos caminhos da
justiça. João 21:15-17.
Na segunda epístola,
o autor dá uma
viva descrição dos
falsos mestres que
ameaçam a fé
da Igreja, e
como um antídoto à
vida pecaminosa dêles,
exorta os cristãos
a servirem-se de todos
os meios para
crescer na graça
e no conhecimento experimental
de Jesus Cristo.
O tema pode
se resumir da seguinte maneira
: um conhecimento
completo de Cristo
é uma fortaleza
contra a falsa doutrina
e uma vida impura.
PORQUE FOI
ESCRITA. Para dar
uma ilustração profética, da
apostasia dos últimos
dias, e para
exortar os cristãos
àquela preparação do
coração e da
vida que unicamente pode
habilitá-los a enfrentar
os seus perigos.
QUANDO FOI ESCRITA. Provavelmente em 66 a.
ATRAVÉS DA
BÍBLIA LIVRO POR LIVRO MYER PEARLMAN
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