quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Lição 4: A Atualidade dos Dons Espirituais

 


Lição 04 – A Atualidade dos Dons Espirituais

Revista CPAD : O Verdadeiro Pentecostalismo

OBJETIVO GERAL

Apresentar a atualidade dos dons espirituais.

 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

Apontar a necessidade dos dons espirituais hoje;

Situar a função dos dons espirituais;

Reconhecer que os dons revelam a unidade na diversidade.

TEXTO ÁUREO

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.”

(1 Co 12.4)

VERDADE PRÁTICA

Ser pentecostal significa crer na atualidade das manifestações do Espírito Santo, e isso envolve o batismo no Espírito e os dons espirituais.

 LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

1 Coríntios 12.1-11

1 – Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.

2 – Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados.

3 – Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.

4 – Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.

5 – E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.

6 – E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.

7 – Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil.

8 – Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;

9 – e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;

10 – e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas.

11 – Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente cada um como quer.

 INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Os dons espirituais são realidade na Igreja de Cristo. Na Bíblia não há menção de algum ensino que afirme a cessação desses dons após o período dos apóstolos. A Bíblia e o testemunho da história da Igreja garantem que os dons espirituais sempre estiveram presentes no Corpo de Cristo em maior ou menor grau.

Não podemos esfriar na fé. Não podemos esquecer que, sem a manifestação poderosa do Espírito Santo, corremos o risco de tornar apenas um aglomerado formal de crentes. Uma igreja orgânica, aquecida pelo Espírito Santo da Promessa faz a diferença no bairro, na cidade, no estado, no país e no mundo. Que o Espírito Santo ache plena liberdade em nós!

 INTRODUÇÃO

Os pontos básicos da presente lição são a necessidade e a função dos dons espirituais na atualidade para demonstração do poder de Deus perante o mundo, a edificação interna da vida da Igreja, seu conforto e crescimento espiritual.

PONTO CENTRAL:

Os dons espirituais são atuais para a Igreja


CPAD - Tema: O Verdadeiro Pentecostalismo - A Atualidade Da Doutrina Bíblica Sobre A Atuação Do ESPÍRITO SANTO

Comentarista: Esequias Soares

 

 

ATUALIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS

Luiz Antonio Ferraz / outubro de 1995

INTRODUÇÃO

Os Nove Dons Extraordinários

Neste trabalho, nos propomos a demonstrar a atualidade dos dons espirituais. Desejamos comprovar que os dons extraordinários não cessaram com a ultimação do Novo Testamento. Segundo alguns expoentes, os dons dividem-se em ordinários e extraordinários. Na primeira classificação incluem-se os dons de natureza comum. Na segunda encontramos aqueles dons de caráter sobrenatural. Na opinião de muitos eruditos, alguns desses dons de natureza sobrenatural cessaram quando o Novo Testamento foi completado. Esses dons extraordinários são aqueles nove alistados em I Coríntios 12:8-10: (1) palavra da sabedoria, (2) palavra do conhecimento, (3) fé, (4) curas, (5) operação de milagres, (6) profecia, (7) discernimento de espíritos, (8) variedade de línguas, (9) interpretação de línguas. Afirma-se que nos dias de hoje não devem existir esses dons, porque eles tinham a função de causar efeito, autenticar a mensagem apostólica e servir de sinal para a inauguração de uma nova era que estava surgindo no plano dispensacional de DEUS.

Para levar a efeito nosso propósito, dividimos este ensaio em dois capítulos. Na primeira parte apresentamos os pressupostos filosóficos que devem ser vistos como evidências, e não como provas, da atualidade dos dons extraordinários. É importante salientar que, toda vez que utilizarmos a expressão "dons extraordinários" neste trabalho, estaremos nos referindo aos nove dons alistados em I Coríntios 12:8-10. A segunda parte traz argumentos escriturísticos extraídos das Sagradas Escrituras (Basearemos nossos argumentos em uma única passagem bíblica: a passagem clássica de I Coríntios 13:8-13 onde, alguns supostamente encontram elementos para negarem a atualidade dos dons extraordinários). Obviamente, nas Escrituras reside nossa melhor força argumentativa, pois é dela que extraímos o material mais apropriado, sem, contudo, desprezarmos as fontes extrabíblicas, pois estas trouxeram grande contribuição a este trabalho. Reconhecemos, entretanto, que qualquer outra fonte, por melhor que seja, seria inútil se estivesse desassociada do reconhecimento da superioridade, inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas. É, pois, da análise da Bíblia que ousamos apresentar provas incontestáveis da atualidade dos dons extraordinários. A filosofia nos foi muito útil, mas apenas como ferramenta de apoio, e não como prova cabal. A filosofia demonstra as evidências. As Escrituras comprovam os fatos.

Apesar da suficiência das Escrituras, era nosso desejo enriquecer este trabalho com outras fontes, além dos argumentos filosóficos. Gostaríamos de ter apresentado os fatos históricos, o que certamente abrilhantaria esta tese. Mas a escassez de tempo e espaço nos obrigou a limitarmos nosso trabalho em apenas duas fontes.

Não temos a pretensão de sermos inéditos, pois em toda parte podemos encontrar, com certa profusão, obras sobre o assunto. Também não pretendemos esgotar este tema, pois homens com mais capacidade do que nós escreveram obras com superior qualidade. Neste sentido nosso trabalho está muito aquém da obra destes eruditos, e não poderemos satisfazer plenamente aqueles que, eventualmente, desejem uma análise mais profunda sobre este tema. Naturalmente, cremos que ainda outros surgirão, pois para os mistérios de DEUS nunca haverá uma palavra definitiva. Nenhum ser humano pode, hoje, arrogar para si o múnus de falar em nome de DEUS. Embora tenhamos, num certo sentido, "inspiração" da parte do ESPÍRITO de DEUS, devemos saber que "...nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação..." (II Pe.1:20).
 

CAPÍTULO I  -  ARGUMENTOS FILOSÓFICOS

Os argumentos filosóficos são aqueles que se relacionam com o saber humano à parte da revelação divina. O campo da filosofia são as diversas áreas do conhecimento, pois ela trabalha tanto com o conhecimento teórico quanto com o conhecimento experimental, e a relação existente entre estes dois universos.
 

 

I. EPISTEMOLÓGICO 

O primeiro argumento filosófico que examinaremos é o epistemológico. "A epistemologia é o campo da filosofia que investiga a natureza e a origem do conhecimento.1

A epistemologia estuda como sabemos.2

" Na área da epistemologia devemos fazer as seguintes perguntas: "Como conhecemos alguma coisa? Quando é justificada a alegação de que alguém sabe? É possível o conhecimento indubitável (certo) acerca de qualquer coisa"?3

Para respondermos à pergunta "como podemos conhecer"? devemos analisar as nossas fontes de conhecimento ou a origem de nossas crenças. As seguintes fontes serão aqui analisadas: o testemunho de outras pessoas, a intuição (usada aqui no sentido de instintos, sentimentos, e desejos), o raciocínio, e a experiência sensória. Estas fontes levam a cinco lógicas ou critérios para validar as crenças. São elas a fé ou o autoritarismo, o subjetivismo, o racionalismo, o empirismo, e o pragmatismo.

1. AUTORITARISMO: Esta fonte baseia-se no testemunho de autoridades. Começamos nossa aprendizagem ao aceitar as crenças da nossa família. Posteriormente aceitamos o que nos é dito por nossos professores e amigos. Ainda depois de formados, dependemos do testemunho de livros, jornais, etc. Aceitamos todas essas fontes quando acreditamos serem elas boas. Desse modo delegamos autoridade às fontes que acreditamos fidedignas. Essa autoridade tem origem em 4 elementos:

1.1. O Prestigio da Autoridade: As autoridades evangélicas que defendem a atualidade dos dons extraordinários são pessoas de prestígio. Elas gozam de nossa confiança, e não somente da nossa, mas até mesmo da de seus oponentes. Portanto, a palavra desses irmãos, homens de erudição comprovada, tem um peso decisivo sobre nossas crenças. Algumas autoridades que podemos citar são: D. M. Lloyd Jones, John R. W. Stott, Ray C. Stedman, David Yonggi Cho, C. P. Wagner, Caio Fábio D'Araujo Filho, entre outros.

1.2. O Número de Defensores: O grande número de pessoas que defendem a atualidade dos dons é algo que deve ser levado em conta. Se os dons extraordinários tivessem cessado, então grande multidão de evangélicos estariam sendo enganados. Será que DEUS permitiria tal coisa?

1.3. A Persistência na Crença: Apesar dos ataques que vem sofrendo ao longo da história, a crença nos dons extraordinários tem persistido até o presente. Se os dons extraordinários manifestados imediatamente após o período apostólico, as manifestações históricas contemporâneas, bem como as atuais da era moderna, fossem de fato falsificações, há muito elas teriam desaparecido da lembrança do povo evangélico. Ele não fariam nenhuma questão de ressuscitá-las.

1.4. A Antiguidade da Crença: A crença nos dons extraordinários não é nenhuma inovação da Igreja Moderna. Ela existe desde o nascimento da Igreja; tem o sêlo apostólico como garantia, bem como a autenticação do ESPÍRITO SANTO nas suas mais diversas operações através da Igreja.

2. Subjetivismo: Temos aqui o argumento baseado na intuição, isto é no sentido dos instintos, sentimentos e desejos. Isto não significa que nossas crenças acerca da realidade dos dons extraordinários tem sua origem em dados dos sentidos ou coisas semelhantes, mas, sim, através de nosso contato imediato com o conhecido. Portanto este elemento pressupõe que o conhecedor tenha algum tipo de contato direto com o que é conhecido, ou seja com o objeto da crença, que no nosso caso, são os dons extraordinários. Para melhor elucidação também classificamos o subjetivismo em duas categorias: realismo direto e misticismo.

2.1. Realismo Direto ou do Bom Senso: É o ponto de vista concebido pelo homem comum, sem qualquer reflexão filosófica, porém caracterizada pelo bom senso e bom juízo. Pessoas psiquicamente sadias não ousariam defender uma experiência subjetiva se de fato não acreditassem nela. Pode ser que estivessem enganadas, mas não por muito tempo. Pode ser que alguns se enganassem, mas não todos. Uma experiência subjetiva, isto é, pessoal, interior, é algo que costuma ficar gravado no espírito pelo resto de nossas vidas, principalmente se esta tem sua origem na pessoa do ESPÍRITO SANTO de DEUS. Este fato deve ser considerado como evidência de que o ESPÍRITO SANTO ainda opera extraordinariamente, através dos dons, em nossos dias.

2.2. Misticismo: É o subjetivismo supra-racional, que tem a ver com o conhecimento de DEUS. Certamente podemos conhecer a DEUS, e de fato o conhecemos, mas alguns conhecimentos estão além da razão humana. É o caso também dos dons extraordinários, que conhecemos hoje em parte, mas não o compreendemos totalmente. A experiência mística de muitos irmãos comprovam a atualidade dos dons extraordinários.

3. Racionalismo: Este elemento aponta para a razão, para aquilo que é cognoscível. Há boas razões para acreditarmos nos dons extraordinários para hoje. Os próprios argumentos deste trabalho se constituem em algumas destas razões.

4. Empirismo: Aponta para o elemento baseado mais na experiência do que na razão. É claro que a experiência de um cristão não deve servir como padrão para autenticação dos dons, mas o grande número de experiências sentidas por tantos cristãos, servem para evidenciar que algumas delas são pelo menos genuínas. Já que o empirismo se baseia na experiência, é óbvio supor que esta se serve dos sentidos e daquilo que se descobre com eles.

4.1. Sentidos Físicos: Visão, olfato, audição, tato e paladar. Relatos de experiências espirituais envolvendo a visão é a mais comum que encontramos. Mas também já se ouviu falar de manifestações envolvendo a audição, o olfato e outros sentidos.

4.2. Sentidos Emocionais: Inúmeros irmãos têm sido tocados em suas emoções, quando as operações espirituais do ESPÍRITO SANTO de DEUS se manifestam. Deveríamos mesmo acreditar que essas experiências foram apenas produto da emoção humana? Não seriam de fato o resultado da operação do ESPÍRITO? Quando DEUS se manifesta, homem algum pode resistir a ponto de permanecer emocionalmente estático.

5. Pragmatismo: Este argumento considera a funcionalidade, utilidade e resultados práticos do objeto conhecido.

5.1. Funcionalidade: Os dons que conhecemos funcionam mesmo?

5.2. Utilidade: Os dons são realmente úteis?

5.3. Resultado: Os dons extraordinários de hoje têm bons resultados práticos?

II. METAFÍSICO 

Este nome provém de uma palavra grega que significa "depois da física". Através do uso do termo este veio a significar "além" do físico. Daí, a metafísica, para alguns filósofos, "é o estudo do ser ou da realidade."4

Enquanto que a epistemologia ocupa-se com as capacidades e as limitações de quem sabe, "a metafísica trata da existência e da natureza daquilo que é sabido."5

A metafísica considera, pois, as qualidades e os relacionamentos das coisas conhecidas, ou seja: a realidade. De que forma então podemos conhecer realisticamente (metafisicamente) os dons extraordinários? Só podemos conhecer o desconhecido por intermédio do que conhecemos, o real desconhecido pelo real desconhecido, o irreal desconhecido pelo irreal desconhecido. Só podemos conhecer aquilo que é verdadeiro por meio daquilo que não é verdadeiro. Logo podemos conhecer a realidade verdadeira por meio da realidade falsa. Conhecemos muito bem as falsificações demoníacas, e por meio delas podemos conhecer a verdadeira manifestação de DEUS. Se existe o falso, necessariamente deve também existir o verdadeiro. A realidade dos falsos dons extraordinários, comprovam a existência dos verdadeiros dons extraordinários.
 

CAPÍTULO II  -  ARGUMENTOS ESCRITURÍSTICOS

Os argumentos escriturísticos são aqueles baseados na revelação de DEUS, em sua palavra escrita, isto é nas Sagradas Escrituras.

I. EXEGÉTICO

 

O argumento exegético baseia-se na interpretação do texto bíblico original. Para este trabalho utilizaremos a passagem de I Coríntios 13:8-13, que tem sido usada por muitos comentaristas para defender a negação dos dons extraordinários neste tempo presente. Um destes comentarista é B. F. Cate, autor do livro "The Nine Gifts of the Spirit. Are not in the church today" (Os Noves dons do ESPÍRITO. Não se manifestam na igreja no dia de hoje). Veremos então a interpretação de B. F. Cate, e, em seguida apresentaremos nossa exegese do texto em questão.

1. A Visão de B. F. Cate de I Coríntios 13:8-13: Cate inicia o primeiro capítulo de seu livro fazendo esta pergunta: "Os Nove Dons: Quando Cessaram Eles?" Em seguida passa a argumentar da seguinte maneira:"Paulo diz: 'O amor jamais acaba.' Isto implica que os dons acabariam; portanto, ele prossegue dizendo: 'mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque em parte conhecemos e em parte profetizamos (versículo 8 e 9). a razão por que eles só conheciam em parte era que então ainda ainda não estava completamente revelado aquilo do Novo Testamento que agora está escrito. 'Quando, porém,' diz Paulo, 'vier o que é perfeito (a ultimação do Novo Testamento), então o que é em parte (profecia, etc.) será aniquilado' (versículo 10). Depois ele ilustra isso dizendo: 'Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino' (versículo 11). Nos dias primitivos da presente dispensação, quando foi escrita esta epístola, eles eram como meninos; mas estava aproximando-se rapidamente o tempo quando desistiriam 'das cousas próprias de menino' (os nove dons), e andariam pela fé no 'caminho sobremodo excelente' do 'amor' e na luz da completa revelação de DEUS.

"Paulo ilustra novamente, dizendo: 'Porque agora (quando esta epístola foi escrita) vemos como em espelho, obscuramente (em parte conhecemos), então (quando a revelação de DEUS ao homem fosse completada) veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido' (versículo 12). Conhecer 'como também sou conhecido,' significa: nós, agora que a revelação de DEUS está completa, não mais 'em parte conhecemos,' mas conhecemos a mente de DEUS (para esta dispensação) tal como Ele conhece nossa mente."6

Cate prossegue dizendo: "Existem alguns que encontram dificuldade em ver que 'o que é perfeito' em I Coríntios 13:9,10 refere-se à perfeição (ultimação) da revelação de DEUS para a era da igreja. Paulo, ao demonstrar que 'o amor jamais acaba,' mas que os nove dons cessariam quando o Novo Testamento chegasse à sua ultimação, refere-se apenas a três deles como exemplo do todo (versículo 8). Depois, nos versículos 9 e 10 ele reduz isto a um único dom - o da profecia - como um exemplo do todo. Vejamos mais uma vez o que dizem estes versículos: 'Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte (profetizar) será aniquilado.' Paulo não está falando a respeito da perfeição dos santos; está falando a respeito da perfeição da profecia. Demonstra assim que o dom de profecia deveria cessar quando a revelação de DEUS para a era da Igreja chegasse à perfeição."7

Esta é a visão de Cate. Com amor e respeito àqueles que pensam dessa forma, passaremos a contra-argumentar esta posição. Nós cremos que, na passagem, Paulo fala da perfeição dos santos, e defenderemos esta tese, porque se o fizermos, ficará também demonstrado que os dons extraordinários existem hoje. Isto porque Paulo deixa claro, na passagem, que os profetas deveriam profetizar 'em parte' até que viesse 'o que é perfeito.' Portanto, se 'o que é perfeito' ainda não veio, então nós ainda temos profetas profetizando 'em parte' ainda hoje.

2. Uma Análise de I Coríntios 13:8-13: Nesta passagem analisaremos os vocábulos "perfeito", "quando", "agora", "então" e "conhecer". 

2.1. O Perfeito do Versículo 10: O termo grego usado em I Coríntios 13:10 é teleio (téleios).Esta palavra pode ser traduzida de várias maneiras: (1) "perfeito", referindo-se à coisas (Rm.12:2; ICo.13:10; Tg.1:4,17,25; Hb.9:11, IJo.4:18, etc.); (2) "perfeito", referindo-se à pessoas, com o sentido de "maduro" ou "adulto" em sentido moral e espiritual (Mt.5:48; 19:21; Fp.3:15; Cl.1:28; ICo.2:6; 14:20; Ef.4:13; Hb.5:14); (3) "perfeito", referindo-se à DEUS em sua perfeição absoluta (Mt.5:48).8

No versículo 10 de I Coríntios 13, o termo grego teleion (téleion) é "adjetivo pronominal, nominativo, neutro, singular."9

De acordo com isto, a tradução correta do texto deveria ser: "quando. porém, vier aquilo que é perfeito, então aquilo que é em parte será aniquilado." Isto porque este adjetivo, na língua grega, não é feminino nem masculino, mas está no gênero neutro. Portanto, o argumento de Cate, de que "o que é perfeito em parte" se refere a profecia, se desfaz; e isto por duas razões: (1) A palavra grega profecia, usada no versículo 8 (profhteia = profeteía), é "substantivo, nominativo, feminino, plural."10

Se a palavra "profecia" é feminina, então "aquilo que é perfeito" também deveria estar no gênero feminino para concordar, mas não está. (2) Se "o que é perfeito" fosse a revelação profética completada pelo Novo Testamento, então "o que é perfeito em parte," a revelação profética do Antigo Testamento, teria sido aniquilada. De fato o Antigo Testamento foi aperfeiçoado ou completado pelo Novo Testamento, mas de forma alguma ele foi aniquilado ou cessou em seus efeitos. JESUS disse que nenhuma profecia do Antigo Testamento cessaria até que tudo se cumprisse (Mt.5:18). JESUS não disse que a lei cessaria até que tudo fosse revelado (a revelação do Novo Testamento), mas até que tudo se cumprisse. Como poderia o Antigo Testamento ter sido aniquilado se ainda há muitas profecias para serem cumpridas? "...a Escritura não pode falhar." (Jo.10:35). 

Cremos que a palavra "perfeito" contém nesta passagem a idéia do fim ou do objeto consumado ou completado, pois de acordo com o contexto da epístola, Paulo, logo adiante, no capítulo 15, passa a tratar da ressurreição. Em I Coríntios 15:24 o apóstolo diz: "...então virá o fim..." A palavra fim é telo (télos). Portanto deve referir-se à ressurreição ou perfeição dos santos na consumação, quando toda a profecia terá sido completada, finalizada ou aperfeiçoada11

(Lc.22:37) e a fé terá o seu fim, quando deixaremos de ver por enigma, e veremos face a face ao Nosso Salvador: "(CRISTO) a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas." (I Pedro 1:8,9).

Uma passagem esclarecedora pode ser encontrada em Romanos 10:4, onde lemos que "...o fim ( télos) da lei é CRISTO...". Óbviamente a lei não teve seu fim (ela não foi aniquilada, veja Mt.5:17), mas ela foi aperfeiçoada por CRISTO: "Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei." (Rm3:31). Pela nossa fé em CRISTO, a lei está sendo, em nós, confirmada e aperfeiçoada, até que chegue a ressurreição, quando deixaremos de andar por fé (IICo.5:7) para andar por vista, pois veremos CRISTO face a face: "...quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como Ele é."(I João 3:2). Na ressurreição alcançaremos nossa perfeição espiritual, deixaremos de ser meninos, e conheceremos plenamente a CRISTO, como dEle somos conhecidos: "...até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de DEUS, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de CRISTO, para que não mais sejamos como meninos..." (Ef.4:13,14). O contexto desta passagem diz que CRISTO "...concedeu dons aos homens... até que todos cheguemos à unidade da fé..." (vv.8,13). De acordo com este contexto, os dons de CRISTO devem durar até que se completem as observações feitas por Paulo no versículo 13. Neste sentido, nem mesmo o dom de apóstolo, mencionado no versículo 11, teria cessado.

2.2. O Quando do Versículo 10: A palavra quando usada neste versículo é traduzida do grego otan (hótan). Este termo é uma "partícula temporal" que pode ser traduzida por "no tempo que."12

Portanto o versículo está dizendo que "o que é perfeito em parte" somente será aniquilado "no tempo que vier o que é perfeito," e esse tempo ainda é futuro, pois hótan se refere a "um tempo definido e específico." Esse tempo definido e específico era futuro para o apóstolo Paulo, quando ele escrevia a epístola, e ainda hoje, é futuro para nós.

2.3. O Quando do Versículo 11: O quando deste versículo, no grego, não é hotan, como no versículo anterior, mas ote (hóte), que também é uma "partícula temporal,"13 mas se refere a um tempo indefinido, pois Paulo não estava falando da época em que ele era criança, mas de um tempo indefinido, ao qual ele chama de "tempo de menino," que ele usa para contrastar com o tempo definido pela vinda daquilo que é perfeito.

2.4. O Agora do Versículo 12: Esta palavra aparece duas vezes no versículo 12, como tradução do vocábulo grego arti (arti). Trata-se de um advérbio, com sentido de "já, imediatamente, no presente, presentemente," como é utilizado em Jo.9:19,25: I Pe.1:6,8. "No grego helenístico o sentido é ampliado para referir-se ao presente em geral."14

Segundo Grosheide, arti expressa "um contraste entre esta dispensação e a futura."15

De acordo com isto, o agora do versículo 12 não expressa apenas o tempo do apóstolo Paulo, quando a epístola foi escrita por ele, mas também o tempo presente, até o final da presente dispensação.

2.5. O Agora do Versículo 13: A palavra agora deste versículo é traduzida do grego nune (nune), que pode também ter a idéia de tempo (At.22:1; 24:13; Rm.3:21; Ef.2:13; etc.), mas no versículo em questão, foi usado com sentido lógico e não temporal, como é usado em I Co.5:11; 15:20; Hb.9:26; etc. Nesses casos, a idéia de tempo é "enfraquecida ou totalmente ausente" e deve ser melhor traduzida por "porém, mas, ora."16

Nesse sentido o que o apóstolo está dizendo é que neste tempo presente ainda "vemos como em espelho, obscuramente," porque vemos por meio da fé (II Co.5:7), e da esperança (Rm.8:24,25) que "é a certeza das cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem." (Hb.11:1). "Logo..." - diz o apóstolo - "...permanecem a fé, a esperança e o amor..." (v.13). Estas três virtudes são necessárias para haver o conhecimento de DEUS. A fé e a esperança nos concedem um conhecimento parcial (Rm.1:17; Ef.3:17-19; IITm.3:15), por isso cessarão, quando o conhecimento completo vier. O amor, porém permanecerá pela eternidade, quando vier o que é perfeito, pois o amor "...é o vínculo da perfeição." (Cl.3:14).

2.6. O Então do Versículo 12: A palavra grega para este vocábulo é tote (tóte). Este advérbio indica tempo, e está em conexão com o "quando" do versículo 10, que também é temporal. Segundo o léxico, deve ser traduzido por "naquele tempo."17

2.7. O Verbo Conhecer dos Versículos 9 e 12: Este verbo aparece quatro vezes no texto. Nas duas primeiras ocorrências, é usado o verbo grego gnwskw (gnôskô): "...em parte conhecemos..."(v.9), "...agora conheço em parte..."(v.12). Nas outras duas ocorrências o verbo grego é preposicionado com o prefixo grego epi (epi): epignwskw (epignôskô): "...então conhecerei como também sou conhecido..."(v.12). O prefixo adicionado ao vocábulo dá um sentido pleno ao verbo. A Nova Versão Internacional do Novo Testamento traduz com mais exatidão o versículo 12: "Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido."18

Note que na primeira ocorrência, Paulo acrescenta as palavra "em parte" ao verbo conhecer, porque o seu conhecimento, quando ele escrevia a epístola era parcial. Mas ele diz que, no tempo (então) em que viesse aquilo que é perfeito, ele veria face a face e teria o pleno conhecimento. Barrett diz que "As palavras apresentam a inadequação do atual conhecimento humano de DEUS, em contraste com o conhecimento que DEUS tem do homem e o conhecimento de DEUS que os homens terão na era futura."19

É claro que Paulo não atingiu o pleno conhecimento. Ele caminhava com esfôrço na vida cristã, para obter o melhor nível de perfeição, mas sabia que seria impossível atingí-lo nesta vida: "...para o conhecer e o poder da sua ressurreição... para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por CRISTO JESUS. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de DEUS em CRISTO JESUS. Todos, pois, que somos perfeitos (maduros até um certo nível), tenhamos este sentimento; e, se porventura pensais doutro modo, também isto DEUS vos esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos."(Fp.3:10-16). Entretanto quando Paulo estava para morrer, sabendo que iria encontrar-se com o Senhor face a face, ele escreveu:"Combati o bom combate, completei (telew = teléô = aperfeiçoei) a carreira, guardei (threw = têréô = permenecí fiel) a fé."(II Tm.4:7). O sentido de teléo neste verso é: "terminar, completar, chegar ao alvo."20

O que é verdade para Paulo, também é para nós. Nenhum cristão hoje ousa dizer que tem o pleno conhecimento de DEUS ou das coisas de DEUS. Paulo, que não atingiu esse nível, possuía muito mais conhecimento do que nós que temos a Escritura completa. é certo que podemos ter um pleno conhecimento subjetivo da verdade (IITm.2:25), mas o conhecimento pleno, objetivo e absoluto, só a deus pertence (Dt.29:29). Portanto "...conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor: como a alva a sua vinda é certa..." (Os.6:3), porque "...a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único DEUS verdadeiro, e a JESUS CRISTO, a quem enviaste... Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja." (Jo.17:3,26).

II. HERMENÊUTICO

Este argumento baseia-se nas leis de interpretação do texto bíblico. Não há em todo o Novo Testamento nenhum texto que diga claramente que os dons extraordinários cessariam. O único texto que poderia dar alguma margem à esta interpretação é o de I Coríntios 13: 8-13. Este texto, por ser um pouco obscuro, e de difícil interpretação, tem sido usado para demonstrar a extinção dos dons extraordinários para a época posterior à época apostólica. Contudo, uma boa exegese, como a que acabamos de apresentar, no sub-capítulo anterior, dissolve toda a dúvida quanto a existência dos dons extraordinários para hoje.

III. PROFÉTICO

O argumento profético tem a ver com o caráter profético da mensagem, do sinal operado ou propriamente da manifestação do dom extraordinário. O genuíno dom extraordinário tem que ser puro e santo. Suas asseverações devem ser claras e exatas, não deixando nenhuma margem à dúvida. Desassemelham-se das adivinhações, prognósticos, agouros e feitiçarias, com os quais não devem ter nenhum vínculo, o mínimo que seja (Dt.18:9-14). A palavra profética, por exemplo, deve acontecer exatamente como foi predita: "Se disseres no teu coração: como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Sabe que quando esse profeta falar, em nome do Senhor, e a palavra dele se não cumprir nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o Senhor não disse; com soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele." (Dt.18:21,22).

Inúmeros crentes têm sido beneficiados com a manifestação do genuíno dom extraordinário. Vidas foram edificadas ao receberem uma palavra profética de edificação, exortação e consolo (I Co.14:3). Poderia vir de Satanás algo que promovesse o bem estar dos santos? Certamente que não! "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?" (Tg.3:11).

IV. ESPIRITUAL

Este argumento, tão importante quanto o profético, baseia-se não no caráter do dom propriamente, mas no caráter espiritual da pessoa através da qual o dom se manifesta. Ele se focaliza no instrumento que manifesta o dom, e não na manifestação do dom. É preciso discernir o caráter da pessoa que fala ou manifesta algum dom extraordinário. Esta pessoa é séria em sua vida com DEUS? Leva uma vida santa e irrepreensível? É conhecida? Deixa transparecer alguma suspeita? Tudo isso deve ser levado em conta, mesmo que o sinal por ela predito, venha a acontecer: "Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti, e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, e disser: vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o Senhor vosso DEUS vos prova, para saber se amais o Senhor vosso DEUS de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma." (Dt.13:1-3). DEUS permite a manifestação de "...poder, e sinais e prodígios da mentira..." (II Ts.2:9), para enganar aqueles que "...não acolheram o amor da verdade..." (II Ts.2:10). Portanto, todo sinal ou dom extraordinário, por mais portentoso que seja, que contraria a verdade da palavra de DEUS deve ser rejeitado porque não vem de DEUS. O Novo Testamento apresenta um caso interessante o nosso para exame. Diz a bíblia que "..indo nós para o lugar da oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador... seguindo a Paulo e a nós, clamava dizendo: estes homens são servos do DEUS Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação..." (At.16:16,17). Note que nesta passagem tudo que o espírito dizia acerca de Paulo e seus companheiros era verdade, porém tratava-se de um espírito adivinhador, isto é, um demônio que "...adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores." (At.16:16). Paulo tratou logo de expulsar aquele espírito (At.16:18) para proteger a pureza de sua mensagem, a qual ele anunciava gratuitamente, sem fins lucrativos, para que os seus ouvintes não a considerassem equivalente à mensagem que aquele espírito anunciava.

Temos encontrado homens seríssimos em sua vida com DEUS. Estes têm servido de instrumentos nas mãos divinas, como canais de manifestação de dons extraordinários. Se rejeitarmos a existência dos dons extraordinários, teríamos que rejeitar a muitos homens e mulheres de DEUS.
 

CONCLUSÃO

Nesta conclusão queremos salientar uma palavra final sobre o texto de I Coríntios 13:8-13, muito usado por nossos oponentes para negar a atualidade dos dons extraordinários, e, por nós, para defender a sua existência. Reconhecemos algumas dificuldades que a passagem apresenta. Paulo não diz claramente o que é "o perfeito." Dissemos neste trabalho tratar-se, o perfeito da ressurreição. Alguns têm afirmado tratar-se da vinda de JESUS; outros, por sua vez, dizem que é o amor. Todas essas posições trazem dificuldades. A ressurreição (anastasi = anástasis) vinda(parousia = parousía), e o amor (agaph = agápê) são palavras femininas, enquanto que a palavra perfeito (telo = télos) está no gênero neutro. Talvez pudéssemos dizer, referindo-se à ressurreição, que Paulo estava falando do evento da ressurreição, do seu fenômeno. Daí teríamos uma possível solução. O mesmo se poderia dizer em relação à vinda de CRISTO.

 

Uma coisa, porém, podemos afirmar sem vacilar. Aquilo que é perfeito não é a profecia do Novo Testamento, como afirmou B. F. Cate. Isto demonstramos ao longo deste ensaio. Nós acreditamos que o perfeito é o conjunto de todas estas coisas: a vinda de JESUS, seu amor completado em nós, a ressurreição, o cumprimento das promessas futuras, encontradas nas Escrituras, que virão na consumação desta era. Todos estes elementos, é claro, não poderia ser gramaticalmente descrito por uma só palavra, masculina ou feminina. Paulo vinculou o todo à uma só palavra: "o perfeito," e esta, para descrever tantas perfeições de DEUS, só poderia estar no neutro, porque se refere à muitas coisas.

De qualquer forma, seja o que for o perfeito, claro ficou que ele ainda não veio, e mesmo que não saibamos o que possa ser (esta nossa dificuldade prova que não conhecemos plenamente hoje), é fato inegável que os dons extraordinários não cessaram.

 

 

COMENTÁRIOS DE DIVERSOS AUTORES, BÍBLIAS, COMENTÁRIOS DICIONÁRIOS BÍBLICOS

 

O FALAR EM LÍNGUAS - BEP - CPAD (com modificações do Pr. Henrique)

At 2.4 “E todos foram cheios do ESPÍRITO SANTO e começaram a falar em outras línguas, conforme o ESPÍRITO SANTO lhes concedia que falassem.”

O falar noutras línguas, ou a glossolália (gr. glossais lalo), era entre os crentes do NT, um sinal da parte de DEUS para evidenciar o batismo no ESPÍRITO SANTO (ver 2.4; 10.45-47; 19.6). Esse padrão bíblico para o viver na plenitude do ESPÍRITO continua o mesmo para os dias de hoje.

 

O VERDADEIRO FALAR EM LÍNGUAS.

1- As línguas como manifestação do ESPÍRITO. Falar noutras línguas é uma manifestação sobrenatural do ESPÍRITO SANTO, i.e., uma expressão vocal inspirada pelo ESPÍRITO, mediante a qual o crente fala numa língua (gr. glossa) que nunca aprendeu (2.4; 1Co 14.14,15). Estas línguas podem ser humanas, i.e., atualmente faladas (2.6), ou desconhecidas na terra (cf. 1Co 13.1). Não é “fala extática”, como algumas traduções afirmam, pois a Bíblia nunca se refere à “expressão vocal extática” para referir-se ao falar noutras línguas pelo ESPÍRITO.

2- Línguas como sinal externo inicial do batismo no ESPÍRITO SANTO. Falar noutras línguas é uma expressão verbal inspirada, mediante a qual o espírito do crente e o ESPÍRITO SANTO se unem em oração. Desde o início, DEUS vinculou o falar noutras línguas ao batismo no ESPÍRITO SANTO (2.4), de modo que os primeiros 120 crentes no dia do Pentecoste, e os demais batizados a partir de então, tivessem uma confirmação física de que realmente receberam o batismo no ESPÍRITO SANTO (cf. 10.45,46). Desse modo, essa experiência podia ser comprovada quanto a tempo e local de recebimento. No decurso da história da igreja, sempre que as línguas como sinal foram rejeitadas, ou ignoradas, a verdade e a experiência do Pentecoste foram distorcidas, ou totalmente suprimidas. O crente deve orar nesta língua a vida toda para ser edificado (1 Co 14.14)

3- As línguas como dom. Falar noutras línguas também é descrito como um dos dons concedidos ao crente pelo ESPÍRITO SANTO (1Co 12.4-10). Este dom tem dois propósitos principais:

(a) O falar noutras línguas seguido de interpretação, também pelo ESPÍRITO, em culto público, como mensagem verbal à congregação para sua edificação espiritual (1Co 14.5,6,13-17).

(b) O falar noutras línguas pelo crente para dirigir-se a DEUS nas suas devoções particulares (1 Co 14.4). Significa falar ao nível do espírito (14.2,14), com o propósito de orar e dar graças (14.16,17) ou cantar (14.15; ver 1Co 14).

 

O Batismo no ESPÍRITO SANTO - John W. Wyckoff - TEOLOGIA SISTEMÁTICA - HORTON - CPAD

Muitas obras de teologia sistemática não apresentam um capítulo específico a respeito do batismo no ESPÍRITO SANTO. Na realidade, de modo geral, a Pessoa e a obra do ESPÍRITO SANTO têm sido grandemente negligenciadas. William Barclay escreve: "A história da Bíblia é a história de homens cheios; do ESPÍRITO. Mesmo assim... nosso modo de pensar acerca do ESPÍRITO é mais vago e indefinido que nossas formulações teológicas acerca de qualquer outro elemento da fé cristã". Carl F. H. Henry observa, com pesar: "Os teólogos do passado... não nos deixaram nenhuma delineação plena do ministério do ESPÍRITO SANTO". 1

Felizmente a Igreja hodierna, em sua totalidade, está, finalmente, dando maior atenção ao ESPÍRITO SANTO.2 Obras como as de Frederick D. Bruner e James D. G. Dunn indicam interesse crescente pelo assunto entre os não-pentecos-tais. Isto deve-se, em grande medida, à persistência e ao crescimento do Movimento Pentecostal. Os líderes eclesiásticos agora citam o Pentecostalismo como "uma terceira força na Cristandade", lado a lado com o catolicismo e o protestantismo. 3

Essa "terceira força" passou a merecer a atenção dos teólogos, principalmente em razão de sua presença mundialmente visível. Ou seja: os estudiosos reconhecem o Pentecostalismo porque ele é "uma terceira força na sua doutrina", especificamente a que trata do batismo no ESPÍRITO SANTO.4 Dunn observa que os católicos enfatizam o papel da Igreja e dos sacramentos, e subordinam o ESPÍRITO à Igreja. Os protestantes enfatizam o papel da pregação e da fé, e, subordinam o ESPÍRITO à Bíblia. Os pentecostais, no entanto, reagem a esses dois extremos - ao sacramentalismo que pode se tornar mecânico e à ortodoxia biblista que pode se tornar espiritualmente morta - e reclamam uma experiência vital com o próprio DEUS no ESPÍRITO SANTO. 5

Este capítulo divide o batismo no ESPÍRITO SANTO em cinco questões ou temas subordinados: (1) a distinção entre o batismo no ESPÍRITO SANTO e a regeneração; (2) as evidências da experiência do batismo no ESPÍRITO SANTO na vida do crente; (3) a disponibilidade do batismo no ESPÍRITO SANTO para os crentes hoje; (4) o propósito do batismo no ESPÍRITO SANTO; e (5) o recebimento do batismo no ESPÍRITO. O enfoque à matéria aqui apresentada é mais analítico e descritivo que apologético ou polêmico.

Distinção e Evidências

A distinção e as evidências do batismo no ESPÍRITO SANTO são estudadas em primeiro lugar porque delas depende a maioria das posições teológicas no tocante às demais questões. Isto é, as posições adotadas quanto a esses dois primeiros tópicos definem as questões nas demais áreas.

A questão da disponibilidade hoje do batismo no ESPÍRITO SANTO é muito discutida. Por um lado, muitos estudiosos da Bíblia responderão que o batismo no ESPÍRITO está à disposição dos crentes atuais, mas apenas como parte da conversão.6 Por outro, quando os pentecostais afirmam que o ESPÍRITO está disponível, argumentam em favor de uma experiência distinta da regeneração, em certo sentido, e acompanhada pela evidência física inicial do falar em línguas.

Além disso, embora a distinção e as línguas como evidência estejam estreitamente relacionadas entre si, não deixam de ser questões separadas. Pela lógica, existem quatro possíveis posições quanto à distinção e as línguas como evidência. Em primeiro lugar, como já foi dito, há os que pensam ser o batismo no ESPÍRITO SANTO parte da experiência da conversão, sem qualquer evidência inicial, como o falar em outras línguas. Esta posição é representada por Dunn e Bruner.7 Em segundo lugar, há os que admitem o batismo no ESPÍRITO SANTO como parte da experiência da conversão, sempre acompanhado pela evidência especial do falar em outras línguas. Esta é a posição de alguns grupos pentecostais da Unicidade.8 Em terceiro lugar, há os que acreditam que o batismo no ESPÍRITO SANTO usualmente vem após a regeneração, mas a experiência nem sempre é acompanhada pelo falar em outras línguas. Esta é a posição de alguns grupos oriundos do movimento da Santidade, como a Igreja do Nazareno.9 Em quarto lugar, há os que defendem o batismo no ESPÍRITO SANTO como uma experiência geralmente ocorrida após a regeneração e sempre acompanhada pela evidência especial do falar em outras línguas. Esta é a posição de igrejas pentecostais como as Assembleias de DEUS. 10

Terminologia

A expressão "batismo no ESPÍRITO SANTO" não se acha na Bíblia. Nem por isso deixa de ser bíblica, pois tem a sua origem na fraseologia semelhante empregada pelos escritores bíblicos. Os três escritores dos evangelhos sinóticos relatam a comparação que fez João Batista entre o seu trabalho de batizar em água e a obra futura de JESUS (Mt 3.11Mc 1.8Lc 3.16). A respeito de JESUS, diz João: "Ele vos batizará no ESPÍRITO SANTO". Lucas retoma a terminologia em At 1.5, ao descrever as palavras de JESUS aos seus seguidores: "Vós sereis batizados com o ESPÍRITO SANTO, não muito depois destes dias". Lucas emprega a terminologia pela terceira vez em Atos 11.16 ao narrar como Pedro interpretou a experiência na casa de Cornélio. Explicando aos crentes em Jerusalém como Cornélio recebeu o ESPÍRITO SANTO, Pedro lembra-lhes as palavras do Senhor: "Sereis batizados no ESPÍRITO SANTO". Parece que esta terminologia encaixava-se no pensamento de Pedro como perfeita para descrever a experiência de Cornélio ao falar em línguas. Na realidade, a única diferença entre a expressão "batismo no ESPÍRITO SANTO" e as que aparecem nas referências bíblicas citadas é que aquela emprega a forma substantivada "batismo", ao invés das formas verbais.

Outro detalhe a ser notado é que a expressão "batismo no ESPÍRITO SANTO" é apenas uma entre várias frases bíblicas desse tipo que, segundo acreditam os pentecostais, descrevem um evento ou experiência incomparável do ESPÍRITO SANTO. Há outras fomas, também derivadas da linguagem do Novo Testamento, especialmente Atos dos Apóstolos: "estar cheio do ESPÍRITO SANTO"; "receber o ESPÍRITO SANTO"; "ser derramado o ESPÍRITO SANTO", "o ESPÍRITO SANTO caindo sobre"; "o ESPÍRITO SANTO vindo sobre"; e variações dessas frases. 12

Os pentecostais geralmente sustentam que semelhantes frases têm o mesmo significado como descrição da experiência mesma do ESPÍRITO SANTO. Howard M. Ervin observa que, "em cada caso, é a experiência pentecostal que é descrita". Semelhante terminologia é esperada, levando-se em conta as numerosas facetas da natureza e resultados da experiência. Conforme sugere Stanley Horton: "Cada termo ressalta algum aspecto da experiência pentecostal, e nenhum termo individual consegue ressaltar todos os aspectos daquela experiência .

Como consequência, a natureza análoga das expressões é tanto óbvia quanto esperada. Além disso, a linguagem é necessariamente metafórica, pois as expressões falam de uma experiência na qual o ESPÍRITO do DEUS vivo passa a agir dinamicamente na situação humana. Citando as palavras de J. Rodman Williams: "Expressa-se de vários modos nessas frases o evento/experiência da presença dinâmica de DEUS no ESPÍRITO SANTO". Ele observa, corretamente, que semelhante experiência é "grandiosa demais para quaisquer palavras descreverem". 14

Dentre as expressões análogas, parece que os pentecostais preferem "batismo no ESPÍRITO SANTO". Semelhante preferência talvez se deva ao fato de a linguagem derivar-se das declarações do próprio JESUS, ou à profundeza do conteúdo dessa linguagem metafórica específica. Ou seja: a analogia em vista é o batismo em água. Conforme nota J. R. Williams: "O batismo em água significa literalmente ser imergido na água, colocado embaixo dela, ou até mesmo ficar ensopado nela". Com efeito, ser batizado no ESPÍRITO SANTO é ficar totalmente envolvido no ESPÍRITO dinâmico do DEUS vivo, e nEle saturado.15

O Relacionamento com a Regeneração

Uma das principais diferenças entre os teólogos no tocante à experiência chamada o batismo no ESPÍRITO SANTO está relacionada à regeneração. Conforme já observado, alguns sustentam que ela faz parte da experiência da conversão-iniciação; outros, que é uma experiência de algum modo diferente da regeneração. A pergunta é assim formulada: Está disponível ao crente hoje uma experiência comumente chamada o batismo no ESPÍRITO SANTO, que, em certo sentido, é distintiva e incomparável no tocante à experiência da conversão-iniciação?

Usualmente, tanto os que negam que o batismo no ESPÍRITO SANTO seja separado da regeneração quanto os que o afirmam reconhecem a importância da Escritura como derradeira autoridade. Por um lado Bruner, que nega que as experiências sejam separáveis entre si, esforça-se para considerar "o Testemunho do Novo Testamento" e fornecer "exegese das origens documentárias bíblicas principais" correlacionadas ao assunto. Dunn acredita necessário "um reexame completo do ensino neotestamentário a respeito do dom do ESPÍRITO e seu relacionamento com a fé e o batismo". Diz: "Espero demonstrar que, para os escritores do Novo Testamento, o batismo ou dom do ESPÍRITO fazia parte do evento (ou processo) de se tornar cristão". 16

Por outro lado, os que defendem a experiência do batismo no ESPÍRITO SANTO em separado têm um compromisso semelhante: demonstrar que sua posição teológica é ensinada nas Escrituras. Howard M. Ervin é um exemplo clássico deste pensamento. O título de sua obra sobre o ESPÍRITO define-a como "uma investigação bíblica". E observa que a experiência contemporânea serve de ilustração à experiência pentecostal. Mesmo assim, para ele, "é tão-somente o texto bíblico que serve como juiz das nossas conclusões". Basta um outro exemplo: Stanley M. Horton, em seu livro O que a Bíblia Diz Sobre o ESPÍRITO SANTO, conclui que o batismo no ESPÍRITO SANTO é uma experiência subsequente. 17

Boa parte (mas não a totalidade) desse debate, centraliza-se em Atos dos Apóstolos.18 Sem dúvida, há trechos relevantes em outras partes das Escrituras. Mesmo assim, estudiosos dos dois partidos geralmente concordam que a doutrina da separabilidade depende em grande medida do livro de Atos. O Antigo Testamento e os evangelhos profetizam a respeito e a antevêem; as epístolas tomam por certa a experiência e por isso fazem poucas referências a ela, ainda assim apenas de modo indireto. Bruner tem razão ao observar: "A fonte principal da doutrina pentecostal do subsequente batismo no ESPÍRITO SANTO é Atos dos Apóstolos". Quando a Declaração de Verdades Fundamentais das Assembleias de DEUS diz que a experiência do batismo no ESPÍRITO SANTO "é distinta da experiência do novo nascimento e subsequente a ela", as referências bíblicas fornecidas acham-se em Atos dos Apóstolos. 19

Posto que a doutrina da separabilidade depende de Atos dos Apóstolos, é crucial a consideração exegética dos trechos relevantes. Os estudiosos pentecostais reconhecem esse fato, assim como Bruner, Dunn e outros que negam a posição teológica pentecostal.

Os relatos considerados especialmente relevantes à questão da separabilidade incluem o dia de Pentecostes, At 2.1-13; o reavivamento em Samaria, At 8.4-19; a experiência de Paulo, At 9.1-19; Cornélio e outros gentios, At 10.44-48 e 11.15-17; e os crentes de Efeso, At 19.1-7. As conclusões das exposições exegéticas desses trechos declaram-se a favor de ambos os partidos na questão. Os que acreditam ser o batismo no ESPÍRITO SANTO uma experiência distinta argumentam que nesses casos os indivíduos já eram crentes, haviam experimentado a regeneração antes - pelo menos momentaneamente - da sua experiência do batismo no ESPÍRITO SANTO. Dizem, portanto, que Lucas demonstra ser o batismo no ESPÍRITO SANTO uma experiência distinta. Além disso, sustentam que Lucas tem a intenção deliberada de ensinar que a experiência do batismo no ESPÍRITO SANTO, distinta e separável, é normativa para a experiência cristã em todo tempo. Os que negam a separabilidade argumentam que, se a experiência nesses casos parece distinta porque dá a impressão de ser subsequente, isto deve-se à situação histórica incomparável das etapas iniciais da Igreja. Dizem que Lucas não está pretendendo ensinar que a experiência distinta do batismo no ESPÍRITO SANTO seria normativa para a experiência cristã nas etapas posteriores da Igreja.

Na realidade, há dois aspectos no debate contemporâneo a respeito da separabilidade que se vê nos incidentes de Atos. O primeiro aspecto relaciona-se à pergunta: Demonstram os textos em Atos que o batismo no ESPÍRITO SANTO era uma experiência separável e distinta da sua experiência da conversão ou regeneração? Os pentecostais respondem que sim.

Os 120, no dia de Pentecostes, eram crentes antes do derramamento do ESPÍRITO naquele dia. Já se haviam arrependido e entrado em uma nova vida em CRISTO. Os samaritanos já se haviam convertido à fé em JESUS CRISTO, tendo sido batizados em água por Filipe antes que Pedro e João orassem para que eles recebessem o dom especial do ESPÍRITO SANTO. Semelhantemente, o caso de Paulo era claramente subsequente. Fora convertido e tornara-se um novo homem em CRISTO no episódio da visão na estrada de Damasco. Três dias mais tarde, recebeu o ESPÍRITO de um modo novo e especial, quando Ananias orou por ele. O caso de Cornélio, em Atos 10, é incomum - ele experimentou o batismo no ESPÍRITO SANTO na mesma ocasião em que foi regenerado. Os pentecostais argumentam que, mesmo neste caso, "deve ter havido também alguma distinção entre a sua conversão e o dom do ESPÍRITO".20 E dos "discípulos" em Efeso o derradeiro exemplo (At 19). Os pentecostais sustentam que eles haviam recebido a salvação antes de seu encontro com Paulo ou pelo menos foram regenerados antes de o ESPÍRITO SANTO vir sobre eles. Paulo lhes deu instrução e então os batizou em água. Em seguida, o ESPÍRITO SANTO veio sobre eles, quando o apóstolo, impondo-lhes as mãos, orou.

Por isso, os pentecostais chegam à conclusão de que, em Atos, o batismo no ESPÍRITO SANTO é claramente subsequente em três casos (Pentecostes, Samaria e Paulo) e logicamente separável nos outros dois casos (Cornélio e os efésios) . 21

Entre os que não acreditam que o fato da separabilidade seja tão certo quanto argumentam os pentecostais, temos Dunn e Bruner. Os dois debatem os cinco casos acima citados. Dunn sustenta que os 120 no dia de Pentecostes não eram "cristãos no sentido do Novo Testamento" até aquele dia, porque antes disso, "o seu modo de corresponder e a sua dedicação eram mesmo defeituosos". De acordo com Dunn, a experiência de Cornélio era uma só: "Cornélio foi salvo, batizado no ESPÍRITO... recebeu o arrependimento para a vida - são todas expressões sinônimas que querem dizer: Cornélio se tornou cristão". Semelhantemente, "a experiência de Paulo, de três dias de duração, era uma só... uma experiência de crise que se estendeu por três dias, desde a estrada de Damasco até o seu batismo". Dunn declara que Paulo não podia ser chamado cristão até ser completada a obra pelas mãos de Ananias. Finalmente, no caso dos efésios, Dunn acredita que Paulo não estava perguntando a cristãos se haviam recebido o ESPÍRITO. Pelo contrário, perguntava a discípulos que professavam fé. Dunn conclui que eles só se tornaram cristãos quando Paulo os batizou de novo e lhes impôs as mãos. Logo, provavelmente devido ao conceito sobre o que chama conversão-iniciação, Dunn conclui que Lucas não descreve nenhum incidente em que o batismo no ESPÍRITO SANTO seja realmente separado da conversão. 22

Bruner sustenta uma posição teológica semelhante à de Dunn: o batismo cristão é o batismo no ESPÍRITO SANTO. Mas, diferentemente de Dunn, Bruner parece admitir que dois casos em Atos são excepcionais por causa da situação histórica. O primeiro é o caso do dia de Pentecostes. Os 120 tinham de esperar por causa "daquele período incomum na carreira dos apóstolos entre a ascensão de JESUS e o dom do ESPÍRITO que Ele deu à igreja no Pentecostes". Depois do Pentecostes, porém, "o batismo e o dom do ESPÍRITO SANTO ficam indissoluvelmente juntos". Mas Bruner ainda reconhece como exceção outro caso depois do Pentecostes. Ele chama hiato quando os samaritanos creram e foram batizados em água, porque "Samaria foi o primeiro passo decisivo para fora e além do Judaísmo". Essa única separação entre o batismo cristão e o dom do ESPÍRITO era "uma suspensão temporária do normal", permitida por DEUS a fim de que os apóstolos pudessem ser testemunhas desse passo decisivo e participar dele. Segundo Bruner, porém, para os demais casos em Atos dos Apóstolos, o batismo no ESPÍRITO SANTO é inseparável do batismo cristão na água e idêntico a ele. 23

Dunn e Bruner não conseguem convencer totalmente com seus argumentos. Talvez haja certo sentido - pelo menos idealmente - em Lucas entender que todas as obras do ESPÍRITO no indivíduo formavam uma unidade global. Mesmo assim, não deixa de mostrar que em alguns dos incidentes houve mesmo um lapso de tempo na experiência. Conforme já observado, tanto Dunn quanto Bruner reconhecem este fato. E Gordon Fee argumenta que Lucas descreve claramente os samaritanos como crentes em CRISTO antes de o ESPÍRITO ter caído sobre eles. A verdade é que há incidentes nos relatos de Lucas em que o tempo separa as etapas da obra do ESPÍRITO na vida dos indivíduos. 24

O fato de Lucas descrever com clareza incidentes em que as "partes" da experiência cristã são separadas entre si por um lapso de tempo depõe em favor da posição teológica pentecostal. Mas nem por isso os pentecostais precisam focalizar tão intensivamente a subsequência para comprovar a separabilidade e a qualidade distintiva. A subsequência enfatiza o segmento posterior no tempo ou na ordem. A separabilidade refere-se à dessemelhança quanto à natureza ou identidade. E a qualidade distintiva mostra as diferenças de caráter ou propósito, ou de ambos. Sendo assim, a subsequência não é absolutamente essencial aos conceitos da separabilidade e da qualidade distintiva. Os eventos podem ser simultâneos, porém separáveis e distintivos se forem dessemelhantes na sua natureza ou identidade. Também são distintivos se diferentes no seu caráter e/ou propósito.

Pelo menos em teoria, assim pode ser o caso das experiências cristãs da justificação, regeneração, santificação e do batismo no ESPÍRITO SANTO. Mesmo ocorrendo todas ao mesmo tempo, qual teólogo argumentaria não serem distintivas no seu caráter e propósito ou separáveis na sua natureza e identidade? Da mesma forma, seja qual for o relacionamento entre o batismo no ESPÍRITO SANTO e as outras experiências, aquele é uma obra separável e distintiva do ESPÍRITO.

Certamente os pentecostais podem reconhecer que Cornélio experimentou na mesma ocasião a regeneração e o batismo no ESPÍRITO SANTO.25 Além disso, mesmo que os 120 não fossem cristãos, no sentido neotestamentário, antes do dia de Pentecostes;26 e os efésios não passassem de meros discípulos de João antes de Paulo ter orado por eles, nos três casos as pessoas envolvidas receberam a experiência característica do batismo no ESPÍRITO SANTO.27 Assim acontece porque a subsequência não é absolutamente essencial para a separabilidade e a qualidade distintiva. Entretanto, no caso dos samaritanos e no de Paulo, os pentecostais têm um sólido argumento em favor da separabilidade e da qualidade distinta, bem como da subsequência. A questão importante a ser notada é esta: o fato de Lucas demonstrar que a experiência do batismo no ESPÍRITO SANTO pode ser subsequente serve para ressaltá-la como separável e distintiva. William Menzies observa: "Há uma distinção lógica, mesmo se não for uma distinção temporal, entre o novo nascimento e o batismo no ESPÍRITO". 28

A conclusão de que, em Atos, o batismo no ESPÍRITO SANTO é uma experiência em separado é somente o primeiro aspecto da questão. Demonstrar a separabilidade ou mesmo a subsequência como padrão, em Atos, é só um aspecto. Outro aspecto é se tal padrão deve ser considerado normativo para a doutrina e prática hoje. Estaria Lucas descrevendo apenas uma situação histórica? Ou pretende ensinar que o padrão e o caráter do batismo no ESPÍRITO SANTO, na narrativa histórica de Atos, é normativa para a doutrina e prática cristãs? Embora não haja aqui espaço para uma consideração exaustiva da questão, sua importância exige que a consideremos pelo menos de forma resumida.

O segundo aspecto da questão da separabilidade pode ser colocado da seguinte maneira: o padrão e a característica do batismo no ESPÍRITO, narrado por Lucas em Atos, é normativo para a Igreja em todas as gerações? Fee considera este segundo aspecto uma questão hermenêutica, focalizando a prática de usar precedência bíblica histórica para formular a doutrina cristã e estabelecer a experiência cristã normativa.29 Se pela hermenêutica pudermos demonstrar que o escritor bíblico está descrevendo um padrão de experiência cristã típico ou normativo para a Igreja do Novo Testamento, espera-se uma interpretação normativa na Igreja de hoje. Especificamente no tocante à questão da separabilidade, os estudiosos pentecostais acreditam que Lucas descreve em Atos um padrão em que o batismo no ESPÍRITO SANTO é distinto da experiência da regeneração. Além disso, argumentam que os cristãos hodiernos podem esperar o mesmo padrão de experiência.

A Relevância dos Materiais Históricos na Bíblia

Estudiosos como Anthony A. Hoekema e John R. W. Stott adotam um ponto de vista contrário a essa posição pentecostal. Fazem uma distinção entre os materiais históricos e os didáticos, no Novo Testamento, e consideram diferentes o propósito e o emprego de cada tipo de material. Argumentam que o material histórico não passa de história mesmo, enquanto as matérias didáticas têm o propósito e a intenção de ensinar. Narrativas históricas como a de Lucas, em Atos dos Apóstolos, não têm nenhum propósito didático ou instrutivo. Por isso, diz Hoekma: "Quando dizemos... que queremos ser guiados pelas Escrituras pelo entendimento da obra do ESPÍRITO, devemos buscar essa orientação primariamente nas suas partes didáticas, mais que nas suas partes históricas". Segundo Stott, as matérias didáticas acham-se "mais exatamente nos ensinos de JESUS e nos sermões e escritos dos apóstolos, não nas partes puramente narrativas de Atos".30 Como consequência e de modo contrário à maioria dos pentecostais, Hoekema e Stott argumentam que as matérias históricas em Atos dos Apóstolos não podem ser usadas para formular doutrina e prática cristãs normativas.

Os que adotam a posição teológica de Hoekema e Stott asseveram que o processo de formular doutrinas e prática na base de matérias históricas é hermenêutica incorreta. Fee, embora pentecostal, diz também que esse procedimento faz parte de "um tipo de hermenêutica pragmática" que (segundo ele acredita) os pentecostais frequentemente empregam em lugar da "hermenêutica científica". Ele sustenta que esse procedimento é hermenêutica imprópria, porque não era intenção primária de Lucas ensinar que o batismo no ESPÍRITO SANTO é distinto da conversão e subsequente a ela. Segundo Fee, o leitor de Atos deve considerar o padrão de separabilidade no relato de Lucas como "incidental" à intenção primária na narrativa. Referindo-se ao episódio em Samaria - o que ele considera o mais forte apoio aos pentecostais - Fee sugere que Lucas não estava "pretendendo ensinar algo distinto da conversão e subsequente a ela." 31

A questão inteira, portanto, gira em torno da intenção do autor. Por um lado, estudiosos como Hoekema, Stott e Fee sustentam que o autor neotestamentário, ao escrever matéria histórica, não pretende ensinar doutrinas e práticas normativas para a Igreja em todos os tempos. Dizem que os escritos históricos são "história descritiva da Igreja Primitiva" e que, nesta categoria, "não devem ser transformados em experiência normativa para a continuada existência da Igreja". Por isso, segundo Fee, o historiador Lucas mostra, a respeito do ESPÍRITO SANTO, simplesmente o que era a experiência "normal" dos cristãos do século I. Qualquer "padrão recorrente da vinda (ou presença) do ESPÍRITO" revelado por Lucas pode se repetido. Ou seja, o modelo original de Lucas é "algo que faríamos bem em aplicar como padrão à nossa vida". Mesmo assim, tal padrão não deve ser imposto como "normativo" - com a injunção de "ser obedecido por todos os cristãos em todos os tempos e em todos os lugares". A posição de Fee baseia-se na sua crença de que a matéria histórica não tem valor didático, isto é, não visa a formulação de doutrina e experiência cristãs. 32

Por outro lado, estudiosos como Roger Stronstad e William W. Menzies desenvolvem argumentos sólidos em favor da posição oposta. Consideram bastante arbitrária a posição de Hoekema, Stott e Fee - de que a matéria histórica não tem valor didático. Stronstad reconhece que a obra de Lucas é narrativa histórica, mas nega a suposição de que esteja destituída de intenções instrutivas. Menzie concorda: "O gênero literário de Atos não é meramente histórico, mas também intencionalmente teológico". Ou seja, Lucas tinha a intenção de ensinar doutrina, prática e experiência cristãs. 33

Em defesa de seu argumento, Stronstad observa que "Lucas e Atos não são dois livros separados... Pelo contrário, são realmente duas metades de uma única obra, e devem ser interpretadas como uma unidade". A intenção de uma metade é compartilhada pela outra. Em seguida, esforça-se para demonstrar que o modo de Lucas desenvolver a sua matéria, tanto no seu evangelho quanto em Atos, indica intenção de ensinar doutrina e prática normativas. Lucas empregava suas origens documentárias e desenvolveu sua matéria de modo , semelhante aos historiadores veterotestamentários e interbíblicos. E assim fez, segundo Stronstad, "especificamente para introduzir temas-chaves teológicos" e "para estabelecer, ilustrar e reforçar aqueles temas mediante episódios históricos específicos". Stronstad continua a reforçar o seu argumento e acaba concluindo: "O propósito de Lucas era didático, de catequese ou instrução, e não meramente informativo, ao contar a história da origem e expansão do Cristianismo .

Estreitamente relacionada à intenção do autor está a questão de como os intérpretes atuais devem entendê-la. Surge aqui a relativa posição da hermenêutica científica e da pragmática. Fee sustenta que a pragmática pentecostal, que baseia doutrinas e experiências em precedentes históricos bíblicos, é contrária à "hermenêutica científica". A maioria dos intérpretes bíblicos reconhece, no entanto, que a boa hermenêutica não é científica ou pragmática, mas as duas coisas. Em sua obra-padrão, A. Berkeley Mickelsen escreve: "O termo 'hermenêutica' designa tanto a ciência quanto a arte da interpretação". Adverte contra "uma abordagem mecânica e racionalista" e diz: "A abordagem tipo regra mecânica à hermenêutica constrói ideias errôneas desde o início".35 A exegese científica só acompanha o intérprete até certo ponto. Depois, chega-se à altura em que certo grau de hermenêutica pragmática é necessário ao processo.

Certamente, quanto às advertências de Fee contra a pragmática que desconsidera ou rejeita a abordagem científica, pelo menos nesse aspecto merecem aceitação os seus conselhos.

Devemos notar, no entanto, que o relacionamento entre a hermenêutica científica e a pragmática é de tensões, e não de antíteses. Logo, a prática de transferir a precedência bíblica histórica em experiência normativa para a vida contínua da Igreja não pode ser rejeitada sem maior consideração, apenas por incluir um elemento de hermenêutica pragmática. Stronstadt acredita que essa prática realmente "relembra o princípio paulino de interpretar a narrativa histórica". Quando Paulo diz: "Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça" (2 Tm 3.16), certamente inclui as narrativas de Gênesis bem como outros trechos históricos. Baseados nisso, a maioria dos pentecostais sustentam que a narrativa de Atos bem como os ensinos de Romanos são igualmente inspirados por DEUS e proveitosos "para ensinar... para instruir em justiça".

Além disso, assim como Paulo acreditava que "tudo que dantes [isto é, no Antigo Testamento] foi escrito para nosso ensino foi escrito" (Rm 15.4), também os pentecostais acreditam que tudo que está registrado em Atos, nos evangelhos ou nas epístolas, tem o propósito de instruir.36 Há motivo suficiente, portanto, para concluir que Lucas pretendia ensinar a Teófilo um modelo que este podia considerar normativo para a formulação de doutrina, prática e experiência.

Os pentecostais não estão sozinhos na posição teológica quanto às narrativas históricas. I. Howard Marshall, evangélico não-pentecostal de destaque, propõe que Lucas era tanto historiador quanto teólogo. Sendo correta a opinião de Marshall, o material de Lucas, da mesma forma que o dos demais teólogos do Novo Testamento, é fonte válida para as normas de doutrina e prática cristãs. Menzies observa que há "um corpo crescente de erudição substancial que aponta na direção de uma nítida teologia lucana do ESPÍRITO em Lucas/Atos, apoiando o conceito da 'normatividade'". Gary B. McGee cita mais estudiosos com opiniões semelhantes a respeito da natureza teológica dos escritos de Lucas. Conclui: "Hermeneuticamente, portanto, os pentecostais fazem parte de uma linhagem respeitada e histórica de cristãos evangélicos que têm reconhecido legitimamente que Atos dos Apóstolos é um repositório vital de verdades teológicas". 37

Adotando essa posição, os pentecostais estudam os incidentes históricos narrados por Lucas, em Atos, onde os indivíduos evidentemente experimentam o batismo no ESPÍRITO SANTO. Esse estudo revela que o batismo no ESPÍRITO era uma experiência distinta, às vezes claramente subsequente e sempre logicamente separável da regeneração. O material de Lucas, o teólogo, é reconhecido como origem doutrinária válida para a doutrina e experiência cristãs normativas. Conclui-se, portanto, que a experiência distinta e separável do batismo no ESPÍRITO SANTO é normativa para a experiência cristã contemporânea. Donald A. Johns define essa posição:

A aplicação de princípios aceitos... apoiará a ideia de que ser batizado no ESPÍRITO SANTO é algo distinto da conversão... A conversão envolve estabelecer um relacionamento com DEUS; ser batizado no ESPÍRITO envolve a iniciação em um ministério poderoso e carismático. 38

Evidências do Batismo no ESPÍRITO

As evidências do batismo no ESPÍRITO SANTO são parte central do debate contemporâneo. Tomadas em conjunto, as posições quanto à separabilidade e às evidências, determinam ou pelo menos influenciam a doutrina inteira do batismo no ESPÍRITO SANTO. Esta seção estuda a questão das línguas39 como evidência física [ou exterior] inicial do batismo no ESPÍRITO SANTO. Considera, também, outras evidências do batismo no ESPÍRITO na vida dos indivíduos.

Línguas como Evidência Física Inicial

A literatura teológica atual revela considerável diversidade de posições quanto ao falar em outras línguas. Porém, no que diz respeito às línguas como evidência inicial do batismo no ESPÍRITO SANTO, as opiniões podem ser assim classificadas: (1) falar em outras línguas não é a evidência do batismo no ESPÍRITO SANTO; (2) o batismo no ESPÍRITO SANTO às vezes é evidenciado pelo falar em outras línguas; (3) o batismo no ESPÍRITO SANTO é sempre acompanhado pela evidência inicial do falar em outras línguas. Assim como no caso da separabilidade, na questão das línguas como evidência inicial o que Atos dos Apóstolos demonstra como padrão e ensina como normativo é crucial.

O primeiro ponto de vista - que diz não serem as línguas evidência do batismo no ESPÍRITO SANTO - é a opinião evangélica tradicional. Carl Henry articula essa posição teológica:

A presente controvérsia focaliza-se em grande medida na declaração dos carismáticos de que as línguas são evidência do batismo no ESPÍRITO... Esse ponto de vista não recebe nenhum apoio de colunas históricas da fé cristã como Lutero, Calvino, Knox, Wesley, Whitefield, Edwards, Carey, Judson e outros.

Bruner, em harmonia à sua convicção de que o batismo no ESPÍRITO SANTO e a conversão cristã são a mesmíssima coisa, também nega que as línguas como evidência. Declara que a fé, conforme expressa na confissão "JESUS é Senhor", é a única evidência da vinda e presença do ESPÍRITO. 41

Os que adotam aquela primeira posição frequentemente fornecem um estudo extensivo das passagens relevantes neste assunto, em Atos dos Apóstolos. Hoekema reconhece três incidentes em Atos onde ocorreu o falar em outras línguas. No dia de Pentecostes, falar em outras línguas era "um dos três sinais milagrosos" do que ele chama de "o evento, que ocorreu de uma vez para sempre, sem poder ser repetido, do derramamento do ESPÍRITO SANTO". "Os familiares de Cornélio realmente falaram em outras línguas depois de o ESPÍRITO ter caído sobre eles", reconhece Hoekema, mas "esse fato não demonstra que falar em outras línguas é prova do recebimento de um 'batismo no ESPÍRITO' depois da conversão". Semelhantemente, no caso dos discípulos efésios, "o fato de ter havido o falar em outras línguas... não serve para comprovar o seu valor como evidência do 'batismo no ESPÍRITO'", segundo Hoekma. Por quê? Porque "a vinda do ESPÍRITO sobre os discípulos efésios não era subsequente à conversão deles, mas simultânea". Observa também: "Há nove ocasiões registradas em Atos dos Apóstolos onde pessoas recebem a plenitude do ESPÍRITO SANTO ou são cheias do ESPÍRITO SANTO e não se menciona o falar em outras línguas". Ele conclui que o falar em outras línguas não é evidência do recebimento do batismo no ESPÍRITO SANTO. 42

Depois da explicação dos casos em Atos, Bruner concorda com Hoekma. Segundo Bruner, a fé, e não as línguas, é tanto o meio quanto a evidência de se estar batizado no ESPÍRITO. 43

A segunda opinião diz que o falar em outras línguas é às vezes evidência do batismo no ESPÍRITO SANTO. Essa posição teológica caracteriza alguns representantes do movimento carismático. Henry I. Lederle resume a grande variedade de opiniões entre os carismáticos. E faz uma declaração resumida daquilo que considera terem todas essas opiniões em comum: "A maioria dos carismáticos associam a renovação ou o batismo no ESPÍRITO com a manifestação dos carismas, que regularmente incluem o falar em outras línguas... Poucos carismáticos aceitam que a glossolalia seja a condição, essencial para o batismo no ESPÍRITO". 44

Lederle, portanto, reconhece a glossolalia (o falar em outras línguas) como um dos "aspectos legítimos da nossa fé apostólica", mas rejeita a doutrina das línguas como única evidência do batismo no ESPÍRITO SANTO. Ele acredita que essa doutrina não possui "apoio explícito ou conclusivo" nas Escrituras. Lederle concorda com vários outros carismáticos, que "não há, em nenhum lugar do Novo Testamento, asseveração que defina a glossolalia como a única evidência". 45

A terceira opinião sobre as línguas como evidência do batismo no ESPÍRITO SANTO é a posição teológica pentecostal tradicional. Os pentecostais usualmente sustentam que o falar em outras línguas é sempre a evidência física inicial dessa experiência especial. Realmente, como observa J. R. Williams: "Os pentecostais têm ressaltado especialmente o falar em línguas como a 'evidência inicial' do batismo no ESPÍRITO". A Declaração das Verdades Fundamentais das Assembleias de DEUS afirma essa posição no tema número 8: "O batismo dos crentes no ESPÍRITO SANTO é testemunhado pelo sinal físico inicial de falar em línguas conforme o ESPÍRITO de DEUS lhes concede que falem (At 2.4)". Bruner tem razão ao observar: "E na maneira de entender a evidência dessa experiência subsequente que os pentecostais adotam uma posição isolada, e é essa evidência que destaca os seus defensores como pentecostais". 46

Os pentecostais acreditam que sua conclusão a respeito de serem as línguas evidência física inicial do batismo no ESPÍRITO SANTO baseia-se nas Escrituras, especialmente em Atos dos Apóstolos. Nos três casos onde Lucas registra pormenores de como os indivíduos receberam o batismo no ESPÍRITO SANTO, o falar em outras línguas fica claramente em evidência. No dia de Pentecostes, os 120 falaram em línguas - glossolalia - as quais não dominavam em circunstâncias normais (At 2.4). Declara Ralph M. Riggs: "Esse falar em outras línguas veio, então, a ser o sinal e evidência de que o ESPÍRITO SANTO descera sobre os cristãos neotestamentários". Caso nítido é o incidente de Cornélio (At 10.44-46). Horton observa: "O ESPÍRITO ofereceu a evidência, e foi de um só tipo: 'Porque os ouviam falar em línguas e magnificar a DEUS' (exatamente como em At 2.4,11). A terceira e última ocorrência é o episódio que envolve os discípulos em Éfeso (At 19.1-6). Howard Ervin comenta: "A natureza evidenciai da glossolalia aqui é fortemente ressaltada pelo comentário de que 'o falar em outras línguas com profecia era prova indubitável externa de que o ESPÍRITO SANTO viera sobre esses 12 discípulos efésios desinformados'".

Exegetas competentes, inclusive a maioria dos estudiosos não-pentecostais, reconhecem sem hesitação que Lucas fala da manifestação sobrenatural das línguas nos três casos. Os estudiosos pentecostais sustentam, ainda, que Lucas revela um padrão nos três casos - uma experiência distintiva no ESPÍRITO, evidenciada pelo falar em línguas. Conforme declara J. R. Williams, nos três casos, "falar em outras línguas era evidência nítida de que o ESPÍRITO SANTO havia sido outorgado". 47

Os pentecostais acreditam também que as línguas, semelhantemente, manifestaram-se nas demais ocorrências de batismo inicial, em Atos, apenas Lucas preferiu não repetir os detalhes. Os pentecostais sustentam, por exemplo, que os crentes samaritanos (At 8.4-24) falaram em línguas como os 120 no dia de Pentecostes, os da casa de Cornélio e os discípulos efésios. Ervin formula a pergunta óbvia: "O que Simão viu, que o convenceu de terem os discípulos samaritanos recebido o ESPÍRITO SANTO mediante a imposição das mãos de Pedro e de João?" Ervin cita vários estudiosos não-pentecostais que confirmam a sua resposta. "O contexto justifica a conclusão de que esses convertidos samaritanos receberam o batismo no ESPÍRITO SANTO depois da sua conversão, com a evidência provável do falar em outras línguas". F. F. Bruce parece concordar com isso, ao comentar a experiência dos samaritanos: "O contexto não deixa dúvida alguma de que o recebimento do ESPÍRITO foi acompanhado por manifestações externas, como as que haviam marcado a sua descida aos primeiros discípulos, no Pentecostes". Entre os estudiosos citados por Ervin está A. T. Robertson. Ele assevera que o texto, nesse caso, "demonstra claramente que os que receberam o dom do ESPÍRITO SANTO falaram em línguas". 48

Os pentecostais sustentam que o falar em outras línguas era a experiência normal, esperada de todos os crentes neotestamentários batizados no ESPÍRITO SANTO. Isto é, "a atividade primária consequente ao recebimento do ESPÍRITO SANTO foi a de falar em línguas". Por causa disso, Lucas não via necessidade de ressaltar o falar em outras línguas cada vez que narrava uma nova ocorrência. Os leitores de Lucas deviam saber que os crentes falavam em outras línguas quando eram batizados no ESPÍRITO SANTO. Por isso os pentecostais sustentam que não somente os convertidos samaritanos, mas também Paulo e outros que Lucas descreve, manifestaram a evidência inicial de falar em outras línguas. No caso de Paulo, ressaltam sua declaração aos coríntios de que falava em outras línguas (1 Co 14.18). Baseado nisso, Ervin apresenta um sólido argumento em favor de sua afirmação de que "Paulo também falava em outras línguas quando recebeu o dom pentecostal do ESPÍRITO SANTO". 49

Resumindo: os pentecostais observam que, em alguns casos, Lucas descreve detalhadamente o batismo no ESPÍRITO SANTO (os discípulos no dia de Pentecostes, Cornélio e os efésios). Em cada um desses casos, o falar em outras línguas é a evidência clara dessa experiência. Nos casos em que não menciona especificamente as línguas (por exemplo: os samaritanos e Paulo), estas eram manifestas, porém não havia necessidade de reiterar sempre os pormenores. Os pentecostais acreditam que o falar em línguas era a evidência inicial em todos os casos; sustentam que Lucas revelou um padrão consistente no período do Novo Testamento - uma experiência distintiva do batismo no ESPÍRITO SANTO, separável da regeneração e evidenciada inicialmente pelo falar em outras línguas.50

Além disso, os pentecostais sustentam que os relatos de Lucas não somente revelam esse padrão, mas também ensinam que falar em outras línguas é normativo para a doutrina e prática cristãs. Isso significa que, no decurso da história da Igreja, sempre se esperou o falar em outras línguas como evidência inicial do batismo no ESPÍRITO SANTO. Assim devem ser entendidas as narrativas em Atos porque, afinal de contas, Lucas escrevia não somente como historiador, mas também como teólogo. Descrevia a obra do ESPÍRITO SANTO nos crentes e através dos crentes da era da Igreja. Embora os incidentes tenham ocorrido em âmbito histórico específico, nem por isso devemos negar o padrão como normativo à totalidade da era da Igreja. Afinal de contas, a era da Igreja é o período em que a presença do ESPÍRITO SANTO precisa estar em evidência na vida dos crentes. Suam presença é necessária para operar através dos crentes, a fim de que possam levar a graça salvífica de CRISTO àqueles que estão sem DEUS. Concluindo: os pentecostais creem (1) que o batismo no ESPÍRITO SANTO é a vinda daquela presença e poder especiais do ESPÍRITO e (2) a evidência inicial disso hoje, assim como em Atos dos Apóstolos, é o falar em outras línguas.

Outras Evidências do Batismo

É importante observar que, na interpretação pentecostal, o falar em línguas é somente a evidência inicial do batismo no ESPÍRITO SANTO. Outras evidências da presença especial do ESPÍRITO vão seguindo na vida daqueles que o receberam.

Alguns escritores sugerem que o "fruto do ESPÍRITO" (Gl 5.22), ou seja, as qualidades do caráter cristão, seja a evidência contínua do batismo no ESPÍRITO SANTO.

Por exemplo, num capítulo intitulado "Os Efeitos da Vinda do ESPÍRITO", J. R. Williams identifica "plenitude da alegria", "grande amor", "compartilhar" e "louvor contínuo a DEUS" entre esses efeitos.51 Outro escritor pentecostal bem conhecido, Donald Gee, observa que a ideia do fruto do ESPÍRITO como evidência do batismo no ESPÍRITO SANTO é um ensino "comum e popular". Mas nos adverte contra essa ideia: "O fruto do ESPÍRITO... é prova do nosso andar no ESPÍRITO... e não a prova de termos sido batizados no ESPÍRITO". Mesmo assim, no seu capítulo seguinte, Gee examina certas qualidades do caráter cristão como "marcas" ou evidências de "ter a plenitude do ESPÍRITO", que incluem: "testemunho transbordante", "quebrantamento e humildade", "um espírito ensinador" e "consagração". 52 O argumento de Ervin revela profundidade: "As Escrituras não coordenam o fruto do ESPÍRITO com os dons espirituais como evidências da plenitude do ESPÍRITO". Observa, no entanto: "Não negamos com isso que as consequências práticas da influência do ESPÍRITO SANTO na vida do cristão são refletidas nos impulsos e aspirações santos que conduzem ao crescimento espiritual". 33

Por isso, os pentecostais geralmente sustentam que as qualidades do caráter cristão - ou o fruto do ESPÍRITO - não são evidências contínuas do batismo no ESPÍRITO mas podem e devem ser aumentadas entre aqueles que viveram a experiência.

Outra sugestão entre os escritores pentecostais é a de que várias manifestações carismáticas são evidências contínuas do batismo no ESPÍRITO SANTO. Referindo-se aos dons espirituais, Gee comenta: "Posto que são manifestações do ESPÍRITO que neles habita, é fundamental que os que as exercem sejam cheios do ESPÍRITO na ocasião em que são exercidas".54 Ervin entende que as "manifestações dos carismas" são "evidência do poder do ESPÍRITO" e "da contínua plenitude do ESPÍRITO". Ele escreve: "O batismo no ESPÍRITO e a plenitude do ESPÍRITO são termos sinônimos, e uma dimensão carismática na experiência cristã é evidência da plenitude do ESPÍRITO SANTO".55 J. R. Williams desenvolve ainda mais essa ideia num estudo da manifestação do dons na igreja em Corinto. Primeiro, enfatiza que "o contexto para os dons do ESPÍRITO era a experiência do derramamento do ESPÍRITO SANTO". Para os cristãos em Corinto, "houve um derramamento abundante do ESPÍRITO, do qual todos tinham participado". Passa, então, a um paralelo entre a situação em Corinto e a renovação carismática contemporânea. Hoje, assim como na igreja em Corinto, a operação dos dons do ESPÍRITO significa que aqueles que manifestam os dons experimentaram um derramamento ou batismo no ESPÍRITO SANTO. 56

A sugestão final para uma evidência contínua do batismo no ESPÍRITO SANTO é a realidade do poder dinâmico do ESPÍRITO SANTO na vida do participante. J. R. Williams observa que "o propósito central, ao ser outorgado o ESPÍRITO, é o poder capacitador mediante o qual o testemunho de JESUS pode ser levado adiante, tanto em palavras quanto em ações". Concorde, Ernest S. Williams identifica esse poder do ESPÍRITO como "a evidência principal" da "experiência pentecostal". 57

Disponibilidade do Batismo no ESPÍRITO SANTO

Está o batismo no ESPÍRITO SANTO à disposição dos crentes hoje ou só esteve disponível na era apostólica "Hoje!" é a resposta da maioria dos evangélicos - pentecostais e não-pentecostais igualmente.58 Com essa resposta, no entanto, cada grupo se refere a algo diferente. Por um lado, estudiosos como Hoekema, Bruner e Dunn aceitam o batismo no ESPÍRITO SANTO como parte da realidade cristã, mas não como uma experiência separada da regeneração. Segundo esses estudiosos, o batismo no ESPÍRITO SANTO meramente faz parte do tornar-se cristão - a que Dunn chama conversão-iniciação.59 Por outro lado, quando os estudiosos pentecostais dizem que o batismo no ESPÍRITO SANTO está à disposição dos crentes hoje, estão insistindo na disponibilidade contemporânea de uma experiência separável e distinta, evidenciada pelo falar em outras línguas.

Um argumento baseado em 1 Coríntios 13.8-12 advoga a ideia de que a experiência pentecostal cessou no fim do período em que o Novo Testamento foi escrito. Alguns sustentam que, nesses versículos, Paulo ensina que a profecia, as línguas e o dom do conhecimento cessariam quando fosse completado o cânon do Novo Testamento. Paulo disse que os carismas "cessarão" (v. 8) "quando vier o que é perfeito [gr. teleion]" (v. 10) - quando então "veremos face a face" (v. 12). Tendo por base esse argumento, alguns negam o batismo pentecostal no ESPÍRITO SANTO, com a evidência do falar em outras línguas, esteja disponível hoje. Paul Enns, por exemplo, escreve: "Quando foram completadas as Escrituras, já não havia necessidade de nenhum sinal autenticador... As línguas eram um dom que servia de sinal enquanto a igreja estava na sua infância (1 Co 13.10,1114.20)". 60

Os estudiosos pentecostais (e muitos não-pentecostais) refutam a ideia de que Paulo aqui esteja dizendo algo nesse sentido. W. Harold Mare demonstra por que posições teológicas como a de Enns são insustentáveis. A ideia da "cessação desses dons no fim do século I d.C", diz Mare, "é totalmente estranha ao contexto". Ervin reconhece: "Que esses três carismas chegarão ao fim, é claramente afirmado pelo texto. Mas quando cessarão, somente o poderemos deduzir do contexto". Ervin cita vários estudiosos que confirmam exegeticamente sua conclusão de que Paulo está antevendo a parousia, ou segunda vinda de CRISTO, e não o encerramento do cânon.61 Além disso, nesses versículos, Paulo sequer está escrevendo a respeito do batismo no ESPÍRITO SANTO. Suas declarações realmente têm pouca coisa (ou talvez nada) a ver com a questão da disponibilidade atual de uma experiência distintiva desse batismo.

A posição teológica pentecostal no tocante à disponibilidade do batismo no ESPÍRITO SANTO evidenciado pelas línguas começa no dia de Pentecostes. Mais especificamente, com as palavras de Pedro: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos DEUS, nosso Senhor, chamar" (At 2.39). Horton comenta a explicação de Pedro à multidão que ouvira os 120 falar em línguas sobre a profecia de Joel: "A maneira de Pedro considerar a profecia de Joel demonstra que esperava um cumprimento contínuo da profecia até ao fim dos 'últimos dias'". Horton demonstra que Pedro entendia que os últimos dias incluíam a totalidade da era da Igreja, a partir da ascensão de JESUS. "Fica claro, então, que o cumprimento da profecia de Joel não pode ser limitado ao dia de Pentecostes ou a qualquer outra ocasião". P. C. Nelson diz, simplesmente: "A todos os que estão longe' - isso inclui a nós". 62

Os pentecostais argumentam que a experiência de ser batizado no ESPÍRITO SANTO é repetida distintivamente à evidência do falar em outras línguas posteriormente ao dia de Pentecostes. Em Atos dos Apóstolos indicam os outros quatro incidentes (convertidos samaritanos, Paulo, Cornélio e os discípulos efésios) estudados supra, especialmente estes últimos dois casos, em que as línguas estão claramente em evidência.63 Além disso, tratando-se da disponibilidade da experiência para hoje, os pentecostais lembram que, no século XX, a experiência distintiva, do tipo registrado em Atos, inclusive o falar em outras línguas, tem-se repetido na vida de milhões de pessoas por todo o mundo. Afinal de contas, argumenta Menzies, "não devemos considerar impróprio incluir experiências pessoais e relatos históricos à certa altura do processo de elaboração da teologia". A verdade bíblica "deve ser demonstrável na vida". Por essa razão, acrescenta Ervin, "é axiomático para os pentecostais que o batismo no ESPÍRITO SANTO não seja limitado ao dia de Pentecostes ou ao fim da era apostólica. Acreditam ser o direito de nascença de todo cristão, e sua experiência confirma o fato".64 Os pentecostais, ao insistirem que a experiência de um batismo distintivo no ESPÍRITO SANTO está à disposição dos crentes hoje, não estão sugerindo que os cristãos que não falam em línguas não têm o ESPÍRITO. O batismo no ESPÍRITO SANTO é apenas uma das várias obras do Consolador. Convicção, justificação, regeneração, santificação: todas estas são obras do mesmo ESPÍRITO SANTO. Cada uma dessas obras é distintiva, com uma única natureza e propósito. Se o indivíduo corresponde de modo positivo à obra do ESPÍRITO na convicção, ocorrem então a justificação e a regeneração. Naquele momento, o ESPÍRITO SANTO passa a habitar no crente, e dali em diante é correto dizer que essa pessoa tem o ESPÍRITO. O batismo no ESPÍRITO SANTO com a evidência inicial de falar em línguas pode ocorrer naquele mesmo momento ou em ocasião posterior - de conformidade com o padrão revelado em Atos dos Apóstolos. Em qualquer desses casos, a pessoa tem o ESPÍRITO habitando nela desde o momento da regeneração.

A confusão a respeito de se ter ou não o ESPÍRITO SANTO deve-se à falta de compreensão de certos termos empregados por Lucas. Ao descrever e examinar o batismo no ESPÍRITO SANTO, o autor sagrado emprega certas terminologias: "ficar cheio do ESPÍRITO SANTO", "receber o ESPÍRITO SANTO", "o ESPÍRITO SANTO sendo derramado", "o ESPÍRITO SANTO caindo sobre" e "o ESPÍRITO SANTO vindo sobre".65 Estes termos não são tanto de contraste quanto simplesmente tentativas de descrever e enfatizar. Isto é, quando Lucas emprega esses termos, não está contrastando o batismo no ESPÍRITO SANTO com a regeneração, como se dissesse que, na regeneração, o ESPÍRITO não vem, não é recebido ou não habita no crente. O ESPÍRITO realmente vem, é recebido e habita no crente, já na regeneração (Rm 8.9). Porém, ao empregar os termos, Lucas está simplesmente dizendo que o batismo é uma experiência especial, onde o crente pode "ser cheio" do ESPÍRITO ou "recebê-lo", ou pela qual o ESPÍRITO "cai" ou "vem sobre" as pessoas.

A terminologia de Lucas não confunde necessariamente a questão da disponibilidade de uma experiência distintiva do batismo no ESPÍRITO SANTO. Conforme declara Riggs, os pentecostais insistem que "todos os crentes têm o ESPÍRITO, porém... todos os crentes, além de terem o ESPÍRITO, podem receber a plenitude ou o batismo no ESPÍRITO SANTO". 66 O batismo no ESPÍRITO SANTO é uma experiência incomparável e está à disposição do cristão convertido e regenerado, visando um propósito especial e específico.

O Propósito do Batismo no ESPÍRITO SANTO

A derradeira questão relacionada à ideia do batismo no ESPÍRITO SANTO é o propósito da experiência. Qualquer consideração do assunto deve indicar a razão dessa obra especial e a necessidade que visa cumprir.

Realmente, muitos cristãos não percebem nenhum propósito especial relacionado ao batismo no ESPÍRITO SANTO, como obra distinta dos demais aspectos da conversão-iniciação. Bruner escreve: "O poder do batismo no ESPÍRITO SANTO é, em primeiro lugar, um poder que nos une a CRISTO". Segundo Hoekema, o batismo no ESPÍRITO simplesmente "significa a outorga do ESPÍRITO visando a salvação, às pessoas que não eram crentes no sentido cristão anterior a essa outorga". Não há "prova bíblica em favor do argumento de que o falar em outras línguas é uma fonte especial de poder espiritual", conclui Hoekema. 67

Dunn chega à mesma conclusão: "O batismo no ESPÍRITO... está primariamente introdutório". Concorda que é "somente de modo secundário uma experiência para revestir de poder". Segundo parece, para Dunn e os demais que adotam a sua posição, não sendo o batismo no ESPÍRITO SANTO distinto da conversão, nenhum propósito há que não possa ser atribuído a qualquer crente, posto que o ESPÍRITO habita em todos os crentes.68

Já há muito tempo os pentecostais reconhecem a posição teológica acima como resultante de uma Igreja subdesenvolvida, na qual falta a qualidade dinâmica, experimental e capacitadora da vida cristã. J. R. Williams escreve: "Além de estar nascido no ESPÍRITO, que é o modo de começar a vida nova, também há a necessidade de ser [o crente] batizado no ESPÍRITO SANTO, visando o transbordar dessa vida no ministério ao próximo".69

Fee, semelhantemente, considera que "a profunda insatisfação com a vida em CRISTO sem a vida no ESPÍRITO" é exatamente o pano de fundo histórico do Movimento Pentecostal.70 Desde o início do século XX até ao presente, os pentecostais têm acreditado que a plena dinâmica do revestimento de poder pelo ESPÍRITO vem somente com a experiência especial e distintiva do batismo no ESPÍRITO SANTO. Quando essa experiência deixa de ser normal na Igreja, esta fica destituída da realidade da dimensão poderosa da vida no ESPÍRITO.

Por isso os pentecostais acreditam que a experiência distintiva do batismo no ESPÍRITO SANTO, tal como Lucas a descreve, é crucial para a Igreja contemporânea. Stronstad diz que as implicações da teologia de Lucas são claras: "Já que o dom do ESPÍRITO era carismático ou vocacional para JESUS e a Igreja Primitiva, assim também deve ter uma dimensão vocacional na experiência do povo de DEUS hoje".71 Por quê? Porque a Igreja hoje, da mesma forma que a Igreja em Atos dos Apóstolos, precisa do poder dinâmico do ESPÍRITO para evangelizar o mundo de modo eficaz e edificar o corpo de CRISTO. O ESPÍRITO veio no dia de Pentecostes porque os seguidores de JESUS "precisavam de um batismo no ESPÍRITO que revestisse de poder o seu testemunho, de tal maneira que outros pudessem também entrar na vida e na salvação".72 E, por ter vindo no dia de Pentecostes, o ESPÍRITO volta repetidas vezes, visando o mesmo propósito.

Segundo os pentecostais, o propósito dessa experiência é o elemento final e mais importante, que torna o batismo no ESPÍRITO SANTO separável e distinto da regeneração. J. R. Williams comenta: " [Os pentecostais] insistem que além da salvação - e visando uma razão inteiramente diferente - há outra ação do ESPÍRITO SANTO que equipa o crente para um serviço adicional".

A convicção, a justificação, a regeneração e a santificação são obras importantes do ESPÍRITO. Mas há "outro modo de operação, sua obra energizadora", que é diferente mas igualmente importante. Myer Pearlman declara: "A característica principal dessa promessa é o poder para o serviço, e não a regeneração para a vida eterna". O batismo no ESPÍRITO é "distinto da conversão", diz Robert Menzies, porque "desencadeia uma nova dimensão do poder do ESPÍRITO: é um revestimento de poder para o serviço". 73

Os pentecostais acreditam firmemente que o propósito primário do batismo no ESPÍRITO SANTO é poder para o serviço. Leia Lucas 24.49 e Atos 1.8, onde o escritor sagrado registra as últimas instruções de JESUS aos seus seguidores: "Mas recebereis a virtude do ESPÍRITO SANTO, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas" (At 1.8). Os pentecostais creem que Ele se referia ao dia de Pentecostes, que estava por vir, quando os 120 seriam batizados no ESPÍRITO SANTO. P. C. Nelson diz que os discípulos de JESUS receberam o ESPÍRITO SANTO "como revestimento de poder, para capacitá-los a dar testemunho eficaz das grandes verdades salvíficas do Evangelho". Horton salienta que, "desde o dia de Pentecostes, vemos o ESPÍRITO SANTO ativo na vida da Igreja... na obra de disseminar o Evangelho e estabelecer a Igreja".74 Os pentecostais acreditam que esse mesmo batismo incomparável está à disposição dos crentes hoje, visando o mesmo propósito: revesti-los de poder para o serviço.

Por reconhecerem os pentecostais a necessidade essencial do batismo no ESPÍRITO SANTO e a importância do seu propósito, às vezes enfatizam exageradamente as línguas dadas como evidência. Os pentecostais mais instruídos, no entanto, reconhecem o perigo de semelhante exagero. Embora insistam numa experiência distintiva, evidenciada pelas línguas, persistem também na premissa de que o objetivo ulterior e mais importante é a evidência continuada - dinamicamente revestida pelo poder do ESPÍRITO.

Tanto os não-pentecostais quanto os pentecostais estão precavidos contra a ênfase exagerada às línguas e à separabilidade. J. Ramsey Michaels acredita que "existe um perigo na ideia pentecostal da 'evidência inicial' - ela pode reduzir o ESPÍRITO ao falar em línguas". Um antigo pentecos-, tal, E. S. Williams, demonstra uma preocupação semelhante: "Seria melhor não ressaltarmos exageradamente as línguas". E declara, corretamente: "O que é da máxima importância é 'o poder do alto'". Semelhantemente, Horton admoesta:

Reconheça-se... que o falar em línguas é apenas a evidência inicial do batismo no ESPÍRITO SANTO...

Devemos realmente ter em mente que o batismo no ESPÍRITO não é uma experiência suprema... E apenas uma porta de entrada para um relacionamento crescente no ESPÍRITO.75

Fee expressa uma preocupação semelhante com o que considera um enfoque exagerado à subsequência. Ele afirma que a experiência pentecostal por si mesma é ideal para a Igreja hoje. Observa corretamente que a qualidade mais importante do "poderoso batismo no ESPÍRITO" é "a dimensão capacitadora da vida no ESPÍRITO", que, segundo ele, os pentecostais resgataram. 76

O que importa é que a experiência inicial, evidenciada pelo falar em outras línguas, é apenas a abertura para outras dimensões da vida no ESPÍRITO. Essa experiência inicial e distintiva "leva a uma vida de serviço em que os dons do ESPÍRITO fornecem poder e sabedoria para a disseminação do Evangelho e o crescimento da Igreja". 77

As pessoas batizadas no ESPÍRITO e revestidas pelo seu poder afetam o restante do corpo de crentes. Menzies afirma que "o batismo no ESPÍRITO SANTO fica sendo a entrada para um modo de adoração que abençoa os santos de DEUS reunidos. Esse batismo é a entrada para os numerosos ministérios no ESPÍRITO, chamados dons do ESPÍRITO, inclusive muitos ministérios espirituais". 78

Concluindo, o propósito do batismo no ESPÍRITO SANTO a dimensão contínua da vida revestida pelo poder do ESPÍRITO - torna a experiência suficientemente importante para ser conhecida, compreendida e compartilhada. Não seja o falar em línguas o propósito ulterior ou a razão pela qual a experiência deve ser desejada, mas sim a necessidade do poder sobrenatural para testemunhar e servir. A necessidade ulterior é que cada membro do corpo de CRISTO receba esse revestimento de poder a fim de que a Igreja possa operar na plena dimensão da vida no ESPÍRITO.

O Recebimento do Batismo no ESPÍRITO SANTO

Há uma última pergunta neste estudo a respeito do batismo no ESPÍRITO SANTO. Como recebemos essa experiência especial? E há algumas questões correlatas. Existem condições prévias para recebermos o batismo no ESPÍRITO SANTO? Caso positivo, quais são? Além disso, se tais condições são impostas após a regeneração, acabam sendo exigências adicionais à fé?

São várias as opiniões sobre as condições prévias para o recebimento do batismo no ESPÍRITO SANTO. Em linguagem simples, os pentecostais sustentam que a única condição prévia para essa experiência é a conversão e a única exigência é a fé. "O ESPÍRITO SANTO vem àqueles que creem em JESUS CRISTO", diz J. R. Williams. Horton declara que "a única condição prévia para se receber a promessa do Pai é o arrependimento e a fé". Menzies acrescenta: "A experiência é descrita como um dom (At 10.45) e, portanto, não é de modo algum conseguida por merecimento. O dom é recebido pela fé ativa e obediente". 79

Note a classificação que Menzies coloca no fim da declaração - "fé ativa e obediente". Quando considerada cuidadosamente, a condição da fé subentende condições ou atitudes correlatas. Nesse contexto, Menzies emprega os termos "ativa" e "obediente". Os pentecostais usualmente focalizam a oração, a submissão e a atitude de expectativa.

Declara J. R. Williams: "A oração... nos seus muitos aspectos de louvor, ação de graças, confissão, súplica e dedicação... é o contexto ou atmosfera em que o ESPÍRITO SANTO é outorgado". Explica também que "a obediência está no âmago da fé, e é somente pela fé que o ESPÍRITO SANTO é recebido". A obediência inclui uma atitude geral de obediência a DEUS bem como a todo e qualquer mandamentos do Senhor. A submissão é um aspecto especial da obediência. Os pentecostais acreditam que o batismo no ESPÍRITO SANTO ocorre numa atmosfera de total entrega - ou submissão - ao senhorio de JESUS CRISTO. Finalmente, J. R. Williams observa a importância da expectativa do recebimento do ESPÍRITO SANTO. Aqueles que pouca coisa esperam recebem "pouca coisa, ou talvez nada... Mas aqueles que têm a expectativa de receber tudo quanto DEUS tem para dar... aqueles que têm ardente esperança - é a eles que DEUS se deleita em abençoar".80

Os pentecostais não consideram incomum a ideia de que existam condições para o recebimento do batismo no ESPÍRITO SANTO. Outros, no entanto, sugerem que quando ligada às noções pentecostais da separabilidade e da subsequência, essa ideia assume uma conotação bem diferente. Bruner, por exemplo, concorda que existem condições prévias para o batismo no ESPÍRITO SANTO, mas em nada diferentes das exigidas para alguém se tomar cristão. Ele acredita que a posição pentecostal da separabilidade subentende condições para o batismo no ESPÍRITO SANTO que excedem as necessárias para a salvação. Se os crentes não são batizados no ESPÍRITO SANTO na ocasião em que se tornam cristãos, devem existir, portanto, exigências "além da fé simples que recebe a CRISTO". Bruner defende a opinião de que "a doutrina das condições para o batismo no ESPÍRITO SANTO" explica, para o pentecostal, "por que o batismo no ESPÍRITO não pode usualmente acompanhar a fé inicial". 81

A essa altura, Bruner declara: "O protestante é obrigado não simplesmente a analisar o Movimento Pentecostal, mas também criticá-lo". E repudia a noção pentecostal de que as condições para se tornar cristão são "seguidas pelo cumprimento das condições para o recebimento do batismo no ESPÍRITO". Para Bruner, isto significa que, depois de alguém tornar-se cristão, há mais uma dose "incomum de obediência e de fé". Para receber o batismo no ESPÍRITO SANTO é necessário cumprir alguma condição prévia de "obediência e fé totais". Ele rejeita a ideia de que ser batizado no ESPÍRITO SANTO requeira algo "adicional à fé simples que aceita a CRISTO". 82

Os pentecostais explicam: embora essas condições prévias para receber o batismo no ESPÍRITO SANTO sejam necessárias após a regeneração, não são acréscimos às condições para a salvação. Nesse contexto, repetimos a declaração de Horton, já citada: "A única condição prévia para se receber a promessa do Pai é o arrependimento e a fé", 83 exatamente o exigido para alguém se tornar cristão. "Idealmente, a pessoa deve receber o revestimento de poder imediatamente após a conversão", escreve Pearlman.84 Significa que, no momento da conversão, o crente cumpriu as condições para o batismo no ESPÍRITO SANTO. J. R. Williams acrescenta: "As condições que acabamos de mencionar são melhor entendidas, não como exigências adicionais além da simples fé, mas como expressões dessa fé".85 Em outro contexto, emprega os termos "contexto" e "atmosfera" para transmitir a ideia de "expressões da fé": a "atmosfera da oração", o "contexto da obediência", uma "atmosfera de entrega" e uma "atmosfera de expectativa".86

Não se tratam, portanto, de condições nem exigências acrescentadas àquelas necessárias para a salvação. A fé, a oração, a obediência, a entrega e a expectativa meramente produzem o contexto - ou atmosfera - em que o batismo no ESPÍRITO SANTO é recebido. Assim, pode ocorrer na mesma ocasião da regeneração, como no caso de Cornélio (At 10.44-48), ou num momento, como no caso dos samaritanos (At 8.14-19).

Uma última explicação é necessária quanto ao batismo no ESPÍRITO SANTO. Posto ser a única condição prévia a conversão e a única exigência a fé, é importante enfatizar que cada verdadeiro crente em CRISTO é candidato a essa experiência. Os pentecostais acreditam que cada crente deve receber esse revestimento de poder especial para o serviço cristão. Por exemplo, a declaração doutrinária das Assembleias de DEUS a respeito do batismo no ESPÍRITO SANTO começa assim: "Todos os crentes têm direito à promessa do Pai e devem aguardá-la ardentemente e buscá-la com sinceridade... Juntamente com ela vem o revestimento de poder para a vida e para o serviço".87 Não basta ler a respeito da experiência em Atos dos Apóstolos. Nem é suficiente reconhecer como sã essa doutrina e saber que a experiência é para os cristãos hoje. Se a Igreja tiver operando dentro dela a dimensão dinâmica da vida no ESPÍRITO, os crentes individuais deverão receber pessoalmente esse batismo no ESPÍRITO SANTO.

Conclusão

A Igreja contemporânea está examinando novamente a doutrina do batismo no ESPÍRITO SANTO. A persistência e crescimento do Movimento Pentecostal são, em grande medida, o motivo por detrás do interesse renovado por essa doutrina. E, seja qual for a ideia que cada um faz desse movimento, todos concordam que há muito chegou a hora de se focalizar a atenção na Pessoa e obra do ESPÍRITO SANTO. Carl Henry observa: "Negligenciar a doutrina da obra do ESPÍRITO... cria uma igreja confusa e incapacitada".88

E essencial que haja mais acontecimentos no debate da doutrina do batismo no ESPÍRITO SANTO. Por enquanto, o Movimento Pentecostal do século XX tem conseguido restaurar a dimensão experimental da presença dinâmica do ESPÍRITO a um segmento relevante da Igreja. Os pentecostais acreditam que a recuperação da doutrina e experiência do batismo no ESPÍRITO SANTO é comparável à recuperação, pela Reforma, da doutrina da justificação pela fé. Até mesmo Dunn, que discorda de boa parte da doutrina pentecostal, espera que "a importância e o valor da ênfase pentecostal não se percam de vista nem sejam desconsiderados". 89

Os estudiosos do Novo Testamento acham difícil negar biblicamente a validade de uma experiência dinâmica e incomparável como o batismo no ESPÍRITO SANTO. Dunn declara: "È óbvio que, em Atos dos Apóstolos, receber o ESPÍRITO era uma experiência muito vívida e 'concreta'".90 Os pentecostais acreditam que não há motivo para a mesma coisa não acontecer hoje. Além disso, testificam que realmente vivem essa mesma experiência, de modo vívido e concreto. Semelhante experiência infunde à Igreja hoje uma qualidade dinâmica de vida espiritual que era normal para a Igreja do Novo Testamento. 91

 

O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO - GRANDES DOUTRINAS - Raimuno de Oliveira - CPAD

O evento do batismo com o ESPÍRITO SANTO não deveria surpreender, nem confundir os estudantes das Escrituras, pois é uma bênção já prometida, relacionada com o plano divino da salvação em CRISTO, predito por Joel, Isaias, João Batista e JESUS (Act 2.16-18Is 44.3Mt 3.11Jo 14.16,17).

 

1. O Dia de Pentecoste

O dia de Pentecoste foi um dia singular para a Igreja e continua sendo; é que nesse dia aprouve a DEUS, por inter-cessão de JESUS CRISTO, enviar o ESPÍRITO SANTO, a ocupar no mundo e de forma mais precisa, no seio da Igreja, uma posição sem paralelo em toda a história da humanidade. Nesse dia cerca de cento e vinte frágeis discípulos de JESUS foram cheios do ESPÍRITO SANTO e dotados do poder de testemunhar do Evangelho.

Como resultado da experiência do Pentecoste, Pedro pregou com tal autoridade, que cerca de três mil preciosas almas se renderam aos pés de JESUS. Com autoridade sobrenatural acusou os seus ouvintes judeus de haverem entregue à morte o Filho de DEUS, e exortou-os a se arrependerem de seus pecados. Isto disse como prelúdio, para logo informar-lhes de que a conversão a CRISTO resultaria em receberem a mesma experiência que observavam, com sinais poderosamente evidentes (Act 2.14-41). Atente com interesse para este fato. Pedro proclamou ter a promessa do batismo com o ESPÍRITO referência a todos os homens e não somente àqueles que constituíam a assembléia ali reunida.

2. Para Quem é a Promessa?

"E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de JESUS CRISTO, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do ESPÍRITO SANTO; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe; a tantos quantos DEUS nosso Senhor chamar" (Act 2.38,39). De acordo com estas palavras de Pedro, note a extensão e alcance da promessa do batismo com o ESPÍRITO SANTO:

1° A promessa é para vós - os judeus ali presentes, representando os demais compatriotas, isto é, a nação com a qual DEUS fizera a antiga aliança.

2° Para os vossos filhos -os que existiam então e as gerações sucessivas.

3° Para todos os que ainda estão longe,isto é, para quantos o Senhor nosso DEUS chamar - para todos, universalmente, para os gentios e para qualquer indivíduo que responda à chamada de DEUS, através do Evangelho para a salvação em .CRISTO.

A promessa de Atos 2.39 indica que a gloriosa experiência do batismo com o ESPÍRITO SANTO foi designada por DEUS para todos os crentes, desde o dia de Pentecoste até o fim da presente dispensação.O enchimento do ESPÍRITO SANTO, assinalado pelo falar noutras línguas, como aconteceu no dia de Pentecoste, deveria ser o modelo para essa experiência, para qualquer indivíduo, através da dispensação da Igreja.

3.À Natureza Deste Batismo

Várias palavras e expressões são usadas na Bíblia para simbolizar e descrever a vinda do ESPÍRITO SANTO aos crentes, e seu ministério através destes. Algumas dessas expressões, são:

a) Derramamento

Esta expressão das Escrituras é usada freqüentemente para designar a vinda do ESPÍRITO SANTO à vida do crente. O sentido original da palavra se refere à comunicação de alguma coisa vinda do céu, com grande abundância..(Jl 2.28,29).

b) Batismo

O recebimento do ESPÍRITO SANTO é figurado como batismo: uma total, gloriosa e sobrenatural imersão do Divino ESPÍRITO, o que revela a maneira gloriosa como o ESPÍRITO SANTO envolve, enche e penetra a alma do crente. Assim todo o nosso ser se torna saturado e dominado com a presença refrigeradora de DEUS, pelo seu ESPÍRITO SANTO.

c) Enchimento

Quando o ESPÍRITO veio sobre os discípulos no cenáculo, foram cheios do ESPÍRITO. Evidenciaram estar cheios, a ponto de parecerem estar "embriagados" (Act 2.3).

Esse enchimento não se deu em gotas, caídas como que através dum crivo. Não. No Pentecoste a plenitude do ESPÍRITO os encheu inteiramente, de tal modo que andavam de um lado para outro, falando em novas línguas.

4. Evidência do Batismo com o ESPÍRITO SANTO

Todos os casos de batismos com o ESPÍRITO SANTO relatados no livro de Atos, constituem uma sólida base para a afirmação de que o falar em línguas estranhas é a evidência física inicial de que o crente foi batizado com o ESPÍRITO SANTO. Detenhamo-nos um pouco em analisar os cinco casos distintos como são apresentados no referido livro.

a) No Dia de Pentecoste

"E todos foram cheios do ESPÍRITO SANTO, e começaram a falar noutras línguas, conforme o ESPÍRITO SANTO lhes concedia que falassem" (Act 2.4). Esta foi a primeira manifestação do ESPÍRITO SANTO, após JESUS ter dito: "...e vós sereis batizados com o ESPÍRITO SANTO, não muito depois destes dias" (Act 1.5). A demonstração comum ou evidência física inicial de que todos os presentes no cenáculo foram cheios do ESPÍRITO SANTO, foi que todos falaram em línguas estranhas; línguas que não haviam aprendido, faladas, portanto, pela operação sobrenatural do ESPÍRITO SANTO.

b) Entre os Crentes Samaritanos

"Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a Palavra de DEUS, enviaram lá Pedro e João, os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o ESPÍRITO SANTO. (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido, mas somente eram batizados em nome do Senhor JESUS). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o ESPÍRITO SANTO" (Act 8.14-17).

Ainda que o texto bíblico citado não mostre explicitamente que os samaritanos hajam falado em línguas estranhas como evidência do batismo com o ESPÍRITO SANTO, estudiosos das Escrituras são da opinião de que eles tenham falado em línguas; pois, se não houvesse a manifestação das línguas, como os apóstolos teriam notado a diferença entre eles antes e depois da oração com imposição de mãos?Lucas diz que "Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o ESPÍRITO SANTO, lhes ofereceu dinheiro..."(Act 8.18). Simão não seria suficientemente tolo a ponto de propor dinheiro para adquirir poderes para realizar operações espirituais abstratas. Ele almejava poderes para operar fenômenos como os que ele via e ouvia naquele momento.

c) Sobre Saul em Damasco

"E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor JESUS, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do ESPÍRITO SANTO, e logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado" (Act 9.17,18). Também no caso de Saulo, o texto bíblico não diz explicitamente que ele tenha falado em línguas, porém diz que ele foi cheio do ESPÍRITO. Ora, se é válido admitir que ele foi cheio do ESPÍRITO SANTO naquele momento, por que, então, duvidar que ele haja falado em línguas? Do punho do próprio Paulo lemos as seguintes palavras: "Dou graças a DEUS,.porque falo mais línguas do que vós todos" (1 Co 14.18).

d) Em Casa do Centurião Cornélio

"E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o ESPÍRITO SANTO sobre todos que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do ESPÍRITO SANTO se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a DEUS" (Act 10.44-46). Foi a ênfase dada por Pedro e seus companheiros a que os gentios em Cesaréia haviam recebido o dom do ESPÍRITO SANTO, tal qual eles no dia de Pentecoste, que apaziguou os ânimos dos apóstolos em Jerusalém, de sorte que disseram: "Na verdade até aos gentios deu DEUS arrependimento para a vida!"(Act 11.18).

e) Sobre os Discípulos em Êfeso

"E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o ESPÍRITO SANTO; e falavam línguas e profetizavam" (Act 19.6). Observe: vinte anos após o dia de Pentecoste, o batismo com o ESPÍRITO SANTO ainda era acompanhado com a evidência inicial de falar línguas estranhas. Esta evidência satisfazia não só a um dos requisitos da doutrina apostólica quanto à manifestação do ESPÍRITO SANTO, como também cumpria a promessa de JESUS: "Estes sinais seguirão aos que crêem: ...falarão novas línguas" (Marc 16.17). Crisóstomo, um dos grandes mestres da Igreja antiga, afirmou, muitos anos após os dias de Paulo: "Quem quer que fosse batizado nos dias apostólicos, logo falava línguas: recebiam eles o ESPÍRITO SANTO".

IV. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

Dentre as insondáveis riquezas espirituais que DEUS coloca à disposição da sua Igreja na terra, destacam-se os dons sobrenaturais do ESPÍRITO SANTO, apresentados pelo apóstolo Paulo" (1 Co 12.11) como agentes de poder e de vitória desta mesma Igreja.

O professor Antônio Gilberto define dons do ESPÍRITO SANTO como sendo "uma dotação ou concessão especial e sobrenatural de capacidade divina para serviço especial da execução do propósito divino para a Igreja e através dela". Em resumo - "é uma operação especial e sobrenatural do ESPÍRITO SANTO por meio do crente". Numa definição mais resumida, Stanley Horton define os dons do ESPÍRITO SANTO como sendo "faculdades da pessoa divina operando no homem".

1.Os Dons do ESPÍRITO SANTO em 1 Coríntios

Escreve o apóstolo Paulo que “... a um é dada, mediante o ESPÍRITO, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo ESPÍRITO, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo ESPÍRITO, fé; e a outro no mesmo ESPÍRITO, dons de curar; a outro, operação de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las" (1 Co 12.8-10).

Vale ressaltar que os dons são do ESPÍRITO SANTO e não daqueles através dos quais eles operam. A torneira não pode dizer de si mesma: "Eu produzo água", pois seria uma inverdade. Quem produz água é a fonte. A torneira é apenas o canal através do qual a água flui.Os dons são do ESPÍRITO SANTO, e, através deles, o ESPÍRITO opera em quem quer, como quer, quando quer e onde quer, com a finalidade precípua de edificar a Igreja, o corpo vivo de CRISTO.

2.Classificação dos Dons Espirituais

Para melhor apresentação dos dons do ESPÍRITO SANTO, alguns estudiosos têm usado classificá-los da seguinte maneira:

a) Dons de Revelação:

• Palavra do conhecimento

  • Palavra da sabedoria
  • Discernimento de espíritos

b) Dons de Poder:

  • Dons de curar
  • Operação de milagres

c) Dons de Inspiração:

  • Variedade de línguas
  • Interpretação das línguas
  • Profecia

Frank M. Boyd declarou que "a menos que os dons do ESPÍRITO sejam claramente definidos e cuidadosamente classificados em primeiro lugar, seu propósito não será entendido e podem ser mal usados; a glória do Senhor pode ser roubada; e a Igreja pode deixar de receber grandes benefícios que esses dons devem trazer".

3. Dons de Revelação

Os dons de revelação são não somente necessários, mas igualmente indispensáveis àqueles que cuidam do governo e orientação da Igreja do Senhor JESUS CRISTO na terra. Desde os mais remotos tempos do Antigo Testamento, esta categoria de dons esteve em evidência no ministério de juízes, sacerdotes, reis e profetas condutores do povo de Israel.

a) Palavra do Conhecimento

Este dom tem sido definido como sendo a revelação sobrenatural dalgum fato que existe na mente de DEUS, mas que o homem, devido às suas naturais limitações, não pode conhecer, a não ser que o ESPÍRITO SANTO lhe revele. Exemplos da manifestação deste dom são encontrados nos ministérios de Samuel, Eliseu, Aías, JESUS, Pedro e Paulo (1 Sm 9.15,2010.222 Rs 5.20,266.81 Rs 14.6Jo 1.484.18Lc 19.5Mt 16.23Act 5.3,4). Através deste dom, segredos do mais profundo do coração são revelados, enquanto que obstáculos ao desenvolvimento da Igreja são manifestos, e desmascarada toda e qualquer hipocrisia. Este dom é de grande importância para o ministério ordinário da Igreja, pois pode apontar os maus obreiros, possíveis candidatos ao ministério cristão.

b) Palavra da Sabedoria

Este dom é uma palavra (uma proclamação, uma declaração) de sabedoria, dada por DEUS através da revelação do ESPÍRITO SANTO, para satisfazer a necessidade de solução urgente dum problema particular. Não se deve confundi-lo, portanto, com a sabedoria num sentido amplo e geral. Não depende da habilidade cultural humana de solucionar problemas, pois é uma revelação do conselho divino. Nos domínios do ministério cristão, este dom se aplica tanto ao ensino da doutrina bíblica, quanto à solução de problemas em geral.

c) Discernimento de Espíritos

Através deste dom, DEUS revela ao crente a fonte e o propósito de toda e qualquer forma de poder espiritual. Através dele o ESPÍRITO SANTO revelou a Paulo que tipo de espírito operava na jovem de Filipos, (Act 16.18) e fez Paulo resistir a Elimas, condenando-o à cegueira (Act 13.11). Note que não se trata do "dom" de julgar ou fazer juízo doutras pessoas.Este é sem dúvida um dos dons de maior valia para o ministro nos dias hodiernos, pois, em meio a tanta contrafação e imitação nos domínios da fé e da religião, o obreiro a quem falte este dom, estará em apuros, pondo em risco a integridade da doutrina e da segurança do rebanho que DEUS lhe confiou.

4. Dons de Poder

Os dons de poder formam o segundo grupo dos dons do ESPÍRITO SANTO, e existem em função do sucesso e do cumprimento da grande comissão dada por JESUS CRISTO. Como o Evangelho é o poder de DEUS, é natural que tenha a sua pregação confirmada com sinais e maravilhas sobrenaturais, que ratificam esse Evangelho e lhe dão patente divina.

a) Dons de Curar

No grego o dom (curar), como o seu efeito, está no plural, o que dá a entender que existe uma variedade de modos na operação deste dom. Assim, um servo de DEUS pode não ter todos os dons de curar, e, por isso, às vezes, muitos não são curados por sua intercessão. Por exemplo, Paulo orou pelo pai de Públio, que se achava com febre e desinteira, na ilha de Malta, e JESUS o curou (Act 28.8), porém foi forçado a deixar o seu amigo Trófimo doente em Mileto (2 Tm 4.20). Como são diferentes os tipos de enfermidades, é evidente que há um dom de cura para cada tipo de enfermidade: orgânica, psicossomática ou de patogenia espiritual.

b) Operação de Milagres

Ambas as palavras aparecem no original grego, no plural, o que sugere que há uma variedade de modos de milagres e de atos de poder. Por milagres ou maravilhas, entende-se todo e qualquer fenômeno que altera uma lei preestabelecida. "Milagres" e "Maravilhas" são plurais da palavra "poder" em Atos 1.8, que significa: atos de poder grandiosos, sobrenaturais, que vão além do que o homem pode ver.A operação de milagres só acontece em relação às operações de DEUS (Mt 14.2Marc 6.14Gl 4.5Fp 3.21) ou de Satanás (2 Ts 2.7,9Ef 2.2). Nesses atos de poder de DEUS que infligem derrota a Satanás, poderíamos incluir o juízo de cegueira sobre Elimas, o mágico (Act 3.9-11) e a expulsão de demônios.

Também pode ser classificado como milagre o resultado da operação divina na cura de determinadas enfermidades, para as quais ainda não existe remédio, como por exemplo: certos tipos de câncer, alguns tipos de cegueira, surdez, mudez, e determinados tipos de paralisia, etc.

c) Fé

O dom da fé envolve uma fé especial, diferente da fé para salvação, ou da fé que é mostrada por Paulo como um dos aspectos do fruto do ESPÍRITO em Gaiatas 5.22. O dom da fé traduz uma fé especial e sobrenatural, verdadeiro apelo a DEUS no sentido de que Ele intervenha, quando todos os recursos humanos se têm esgotado. Foi este o tipo de fé com o qual foram dotados os grandes heróis mostrados na galeria de Hebreus 11.

5. Dons de Inspiração

Este é o terceiro e último grupo dos nove dons do ESPÍRITO SANTO registrados pelo apóstolo Paulo no capítulo 12 da sua primeira epístola aos Coríntios. Ao contrário dos dois primeiros grupos de dons, em geral exercidos pelo ministério responsável pela administração da Igreja, este último grupo tem se feito experiência comum para os crentes em geral.

a) Variedade de Língua

Variedade de línguas é a expressão falada e sobrenatural duma língua nunca estudada pela pessoa que fala; uma palavra anunciada pelo poder do ESPÍRITO SANTO, não compreendida por quem fala, e usualmente incompreensível para a pessoa que a ouve. Nada tem a ver com a facilidade de assimilar línguas estrangeiras (poliglotismo); tampouco tem a ver com o intelecto. É a manifestação da mente de DEUS por intermédio dos órgãos da fala do ser humano (glossolália).

b) Interpretação das Línguas

O dom de interpretação de línguas é o único dos nove dons espirituais cuja existência ou função, depende de outro dom - a variedade de línguas. Conseqüentemente, não havendo o dom de variedade de línguas, não pode haver a interpretação de línguas."Interpretação" aqui não é a mesma coisa que tradução. A interpretação geralmente alonga-se mais que a simples tradução.O dom de interpretação de línguas revela o poder, a riqueza, a soberania e a sabedoria de DEUS. Por certo que este dom não implica em que haja algum tipo de conhecimento do idioma por parte do intérprete.A interpretação de línguas é em si mesma um dom tão miraculoso quanto o é o próprio dom de variedade de línguas.

c) Profecia

A profecia é uma manifestação do ESPÍRITO de DEUS e não da mente do homem, e é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso (1 Co 12.7). Embora o dom da profecia nada tenha a ver com os poderes normais do raciocínio humano, pois é algo muito superior, isso não impede que qualquer crente possa exercitá-lo: "Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados" (1 Co 14.31). Ainda que nalguns casos o dom da profecia possa ser exercido simultaneamente com a pregação da Palavra, é evidente que esse dom é dotado de um elemento sobrenatural, não devendo, portanto, ser confundido com a simples habilidade de pregar o Evangelho."Edificação", "exortação" e "consolação" são os três elementos básicos da profecia, e a razão de ser e de existir desse dom. Portanto, a profecia não deve ser exercida com propósito governativo da igreja local.

FONTE: APAZDOSENHOR.ORG

http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/ebd-henr.htm


          

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