terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Lição 1 – A Pessoa do Espírito Santo

 


TEXTO ÁUREO

E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o Dia da redenção” (Ef 4.30).

VERDADE PRÁTICA

Somente a Bíblia revela a verdadeira identidade e as obras do Espírito Santo; um tema que nós, pentecostais, vivenciamos.

                        LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

João 14.16-18,26; 16.14.

João 14

16 — E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre,

17 — o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós.

18 — Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.

26 — Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.

João 16

14 — Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com seus respectivos subtópicos.

  • I. Apresentar a revelação do Espírito Santo nas Escrituras;
  • II. Relacionar a pessoa do Espírito Santo com a de Jesus;
  • III. Afirmar que o Espírito Santo age no mundo e no ser humano.

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Neste trimestre, estudaremos as principais doutrinas que identificam um crente pentecostal e assembleiano. Aprofundaremos os assuntos que formam parte do legado pentecostal deixado pelos pioneiros de um movimento que alterou os rumos dos protestantes evangélicos no mundo.

Os pentecostais, e mais especificamente os assembleianos do Brasil, amam o Espírito Santo, glorificam a Jesus em suas pregações, afirmam o batismo no Espírito Santo com a evidência de línguas, a atualidade dos dons espirituais e levam a sério a iminência da volta de seu Senhor, Jesus Cristo. Isso e muito mais serão estudados ao longo desses três meses.

Para nos auxiliar neste maravilhoso estudo, o comentarista de Lições Bíblicas Adultos é o pastor Esequias Soares. Ele é o líder da Assembleia de Deus em Jundiaí, presidente do Conselho de Doutrina da CGADB, presidente da Comissão de Apologética da CGADB. É graduado em Hebraico pela Universidade de São Paulo. Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie. É também autor de diversos livros, entre eles: Manual de Apologética Cristã, Heresias e Modismos e A Razão da Nossa Fé, todos publicados pela CPAD.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

O tema do presente trimestre é o pentecostalismo no seu aspecto bíblico, teológico e prático. Os pentecostais são conhecidos por suas relações e experiências com a manifestação do Espírito de Deus, mas sua característica básica é o batismo no Espírito Santo, com seus dons e manifestações, como a glossolalia (línguas), as profecias, as curas e as outras operações de maravilhas. A primeira lição mostra uma visão geral sobre a Pessoa do Espírito Santo e o que a Bíblia ensina sobre Ele.

PONTO CENTRAL

A Bíblia revela a verdade sobre a pessoa do Espírito Santo.

1º Trimestre de 2021

Título: O verdadeiro Pentecostalismo — A atualidade da Doutrina Bíblica sobre a atuação do Espírito Santo

Comentarista: Esequias Soares

 


   O Verdadeiro Pentecostalismo abrange o aspecto bíblico, teológico e prático do pentecostalismo assembleiano brasileiro. Bíblico porque cada ponto da doutrina pentecostal, ser batizado no Espírito Santo, glossolalia, dons espirituais, fruto do Espírito, curas e os diversos tipos de milagres não aparecem do nada; tudo isso está na Bíblia. Agora, o que fazer com essas coisas? Esses dados da revelação divina precisam ser organizados e bem estruturados para que todos crentes possam entender o pentecostalismo sem muita dificuldade, a isso chamamos de teologia pentecostal. A formulação teológica não se baseia somente na teoria, ela deve abranger também a prática da fé, e isso é incluir a ação do Espírito Santo no mundo. Como bem enfatizou Vali-Mati Kärkkäinen, luterano pentecostal, “Em contraste com as pneumatologias tradicionais, frequentemente vistas como secas e abstratas, há uma nova apreciação da experiência e da espiritualidade no Espírito”.1 Ou seja, há uma reação teológica relacionada aos milhões de cristãos no mundo que experimentam a glossolalia e os demais dons do Espírito Santo.

    O que significa ser pentecostal? Você pode tirar do presente livro diversas respostas precisas, mas, por enquanto, vamos ser mais abrangentes e seguir as palavras de Robert P. Menzies, é todo aquele “que as experiências descritas em Atos servem de modelo para a experiência cristã contemporânea, que o batismo no Espírito Santo (At 2.4) é uma capacitação pós-conversão para a missão e que o falar em línguas marca essa experiência”.2 Nessa declaração está a síntese no livro que o leitor tem mãos.

    Há um paralelismo entre Babel e Pentecostes no relato de Lucas. Gênesis 10 descreve uma lista representativa das nações do mesmo modo Lucas traz uma lista representativa de 17 nações. Ambas listas representam todas as nações da terra (Gn 11.1; At 2.5). Ambas narrativas tratam das línguas, mas Pentecostes é Babel às avessas. Deus confundiu as línguas e dispersou as nações (Gn 11.7-9) porque elas se rebelaram, queriam se tornar deuses (Gn 11.4). No dia de Pentecoste aconteceu o oposto de Babel, pois “todas as nações debaixo do céu” (At 2.5) representadas pelas 17 nações (At 2.9- 11) entendiam cada um na sua língua materna: “porque cada um os ouvia falar na sua própria língua” (v. 6). Esses peregrinos de Jerusalém estavam perplexos com tudo o que viam e ouviam: “Como os ouvimos falar sobre as grandezas de Deus em nossas próprias línguas?” (At 2.11). A obra do Espírito trouxe unidade, a igreja é uma comunidade internacional.

  Há um vínculo forte e praticamente indissolúvel entre Pentecostes e o Avivamento da Rua Azusa, em Los Angeles, Estados Unidos entre 1906 e 1910. Vários avivamentos aconteceram nos Estados Unidos e na Europa antes e depois da Rua Azusa. Por exemplo, na Escola Bíblia em Topeka, Kansas, Estados Unidos, em janeiro de 1901, quando houve uma clara conexão entre o batismo no Espírito Santo e a glossolalia, mas a Rua Azusa se destaca porque nenhum movimento produziu uma mensagem tão clara sobre o batismo e as línguas.

    As principais discussões entre os pentecostais e os não pentecostais giram em torno da atualidade dos dons e das manifestações do Espírito Santo. Os cessacionistas estão também subdivididos, pois há entre eles os que aceitam em parte alguns pontos defendidos pelos pentecostais, como a cura divina, com há também os que negam até mesmo os milagres operados por Jesus nos evangelhos, outros admitem que só os apóstolos receberam autoridade para operar milagres. As evidências históricas têm mostrado que o cessacionismo é pós-bíblico, e nada há nas Escrituras que sustente a ideia de que os milagres e as manifestações do Espírito cessaram. Tal crença não pode ter vindo da Bíblia.

   Todos nós sabemos que a tradição pentecostal não é monolítica principalmente no que diz respeito às línguas e às profecias. O pentecostalismo das Assembleias de Deus é o pentecostalismo clássico. O que isso significa?

Os pentecostais clássicos são aquelas denominações que começaram nos primeiros 25 anos do século 20. A falta de unidade já existia entre os principais expoentes da primeira geração. Um exemplo histórico disso encontramos ainda no período do avivamento da Rua Azusa. William J. Seymour, por exemplo, que a princípio aceitava o ensino de Charles Fox Pahram em relação as línguas como sinal do batismo no Espírito Santo, mudou seu pensamento. Apesar de reconhecer a importância das línguas, rejeitava a ideia de que esse dom deveria sempre acompanhar o batismo no Espírito Santo, passou a associar esse fenômeno ao fruto do Espírito e não somente às línguas, divergindo nisso de Pahram, com quem havia iniciado a sua jornada pentecostal. Há excelentes teólogos pentecostais que apresentam alguns desvios ocasionais, mas periféricos, em relação ao nosso pentecostalismo. Espera-se, pois, que ninguém se surpreenda quando encontrar algum pensamento diferente daquilo que cremos, professamos e ensinamos em tais obras.

    De modo que a posição pentecostal sobre o falar línguas não é uniforme, e as crenças e as práticas dos neopentecostais se distanciam ainda mais das dos pentecostais. São duas as marcas distintivas do pentecostalismo assembleiano: o batismo no Espírito Santo não é sinônimo de salvação e o falar em línguas é a evidência física inicial desse batismo. Ser batizado no Espírito Santo é a capacitação para o serviço e algo distinto da conversão, trata-se de uma experiência subsequente à salvação, e a identificação do desse batismo é a glossolalia, ou seja, o falar línguas é evidência física inicial do batismo no Espírito Santo.

    A teologia pentecostal, que nossos pais nos legaram, não teve nenhum teólogo ou reformador como intermediário. O pentecostalismo foi uma reação ao formalismo teológico e formalístico no início do século passado. Os pentecostais queriam distância das organizações religiosas institucionais. É natural pensar que os missionários pioneiros no mínimo tinham informação dos embates entre calvinistas e arminianos/wesleyanos, mas essa não era a preocupação deles e nem deve ser a nossa. Somos bíblicos e isso basta.

    O Verdadeiro Pentecostalismo foi escrito para ajudar a esclarecer os pontos essenciais da fé pentecostal. Os pentecostais são conhecidos por suas relações e experiências com a manifestação do Espírito de Deus, mas sua característica básica é o batismo no Espírito Santo, com seus dons e manifestações, como a glossolalia, as profecias, as curas e as outras operações de maravilhas. Os cinco primeiros capítulos são temas pentecostais, diretamente vinculados ao pentecostalismo, os demais apontam para o serviço no reino de Deus. O objetivo é mostrar e explicar a doutrina pentecostal no seu aspecto bíblico, teológico e prático. A base de nossa fé não são experiências humanas e nem as emoções dos crentes, mas a Palavra de Deus, no entanto, elas não estão descartadas, mas submetidas às Escrituras, porque servimos a um Deus vivo que continua a se comunicar com seus filhos e filhas, de todas as idades, de todos os lugares, de todas as épocas e de todos os estratos sociais (At 2.13-21). Essa é uma das grandezas do pentecostalismo que torna Deus mais real em nossas vidas, são as mesmas experiências dos primeiros cristãos.

    Cada pentecostal precisa compreender e saber explicar que a doutrina pentecostal é fundamentada nas Escrituras Sagradas, que não aceitamos práticas ou crenças contrárias à Palavra de Deus, as experiências confirmam a veracidade da Bíblia e que Deus é real. Espero que o presente trabalho seja de grande bênção na vida de todos os leitores e possa ajudar cada vez mais nos mistérios de Deus: “Não apaguem o Espírito” (1 Ts 5.19).



P


neumatologia é a doutrina do Espírito Santo, o termo vem de duas palavras gregas, pneuma, “espírito”, e logos, “palavra, estudo, tratado”. O estudo da Pessoa do Espírito é importante para todos os cristãos, pois é Ele quem guia os crentes e os leva mais próximo de Deus. Ser pentecostal

 significa ter intimidade com a pessoa do Espírito, pois a teologia pentecostal não é teórica. Nossa doutrina se baseia nas Escrituras Sagradas, única regra de fé e prática para a vida cristã, mas a experiência pentecostal torna Deus mais real, Ele não está longe de cada um de nós (At 17.27).

Por isso, é fundamental o conhecimento bíblico sobre a identidade do Espírito Santo como a sua deidade e personalidade, atributos divinos e obras. São elementos que mostram a consubstancialidade do Espírito com o Pai e o Filho, como terceira Pessoa da Trindade.

O ESPÍRITO SANTO NA TEOLOGIA CRISTÃ

   A teologia pentecostal é atual e está em voga no cenário evangélico. É a teologia do Espírito em que todos nós devemos nos aprofundar por duas razões simples: somos pentecostais e a nossa dispensação é a dispensação do Espírito. Nessa dispensação, o Espírito Santo é a pessoa específica da Trindade que mais atua em nós. Outro ponto importante que se deve levar em conta é que a obra do Pai chamou mais atenção no período do Antigo Testamento; a obra do Filho, nos evangelhos, mas desde o dia de Pentecostes o Espírito Santo vem conduzindo a igreja, é por meio dele que temos contato com Deus. Foi exatamente isso que disse Gregório de Nazianzo (329-389), um dos pais capadócios:

O Antigo Testamento manifestou claramente o Pai e, mais obscuramente, o Filho. O Novo Testamento deu a conhecer abertamente o Filho e, obscuramente, indicou a divindade do Espírito Santo. Hoje, o Espírito habita entre nós e se dá mais claramente a conhecer. Porque teria sido inseguro pregar abertamente o Filho antes de ser reconhecida a divindade do Pai; ou antes de ser reconhecida a divindade do Filho, impor-se, por assim dizer, a do Espírito Santo (Discurso teológico 5 [31] – Sobre o Espírito Santo).1

   A cultura cristã atual é pentecostal. Desde o avivamento da Rua Azusa em 1906 que até mesmo os não pentecostais têm valorizado a experiência com o Senhor Jesus por meio do Espírito. A igreja vive hoje nos domínios do Espírito como nunca desde o período apostólico. É tempo de cultivar cada vez mais a experiência com o Espírito Santo.

     A compreensão da pessoa do Espírito Santo, sua natureza e obras é ainda incompleta e até certo ponto confusa em relação às outras doutrinas.

Com relação à Trindade, a figura do Pai é de razoável compreensão por causa da figura do pai na estrutura familiar, o mesmo pode ser dito sobre o Filho. Mas a do Espírito é mais complexa por ser intangível e invisível, como disse Millard J. Erickson:

Para complicar, há uma terminologia infeliz da King James

e de outras traduções inglesas mais antiga que se referem ao

Espírito Santo como o “Holy Ghost” [Fantasma Santo]. Muitas pessoas que cresceram usando essas versões da Bíblia entendem o Espírito Santo como alguma coisa por baixo de um lençol branco”.2

    Na verdade, as palavras mais usadas na Bíblia, nas línguas originais, possuem sentido amplo. Ruah., do hebraico, tem significado profundo, trata-se de uma expressão “que possui uma série de significados, em que cada um deles esclarece de algum modo as complexas ideias associadas à noção cristã a respeito do Espírito Santo”;3 pneuma, grego, é similar.

    Há ainda as dificuldades em relação ao ministério do Espírito Santo de glorificar e proclamar o Filho (Jo 16.14), que, às vezes, leva o crente a pensar na ideia de hierarquia na Trindade ou até mesmo no subordinacionismo do Espírito. Essa hierarquia não existe, pois, a Trindade é a união de três Pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – em uma só Divindade, sendo iguais, eternas e da mesma substância, embora distintas, sendo Deus cada uma dessas Pessoas. A Declaração de fé das Assembleias de Deus confessa que “há uma absoluta igualdade dentro da Trindade, e nenhuma das três Pessoas está sujeita, por natureza, à outra, como se houvesse uma hierarquia divina. Existe, sim, uma distinção de serviço”.4

    Por muito tempo o Espírito Santo foi visto como a Cinderela da Trindade. Essa ilustração das três pessoas da Trindade com o conto de fada da Cinderela é uma ajuda elucidativa.5 A ilustração é a seguinte: as duas irmãs do conto, representadas pelo Pai e o Filho, vão ao baile, e toda vez, o Espírito Santo fica em casa. Com o moderno movimento pentecostal, isso não acontece mais. Segundo Stanley M. Horton, a doutrina do Espírito Santo nunca havia recebido um tratamento justo nos tratados de teologia: “os antigos compêndios de teologia sistemática, em sua maioria, não possuem nenhum capítulo sobre pneumatologia”. Durante e depois do avivamento da Rua Azusa, estudiosos bíblicos empreenderam vários estudos sobre o Espírito Santo e fizeram pesquisas acadêmicas sobre o batismo no Espírito Santo, a glossolalia, os dons espirituais e o fruto do Espírito.

A REVELAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS

As Escrituras Sagradas revelam que Deus é um só em essência e substância indivisível: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4 - ARC); a Bíblia Hebraica, edição da Sêfer, traduz assim: “Escuta, Israel! O Eterno é nosso Deus, o Eterno é um só”. As versões rabínicas preferem a tradução: “o Eterno é um só”; fraseologia similar aparece em Zacarias: “um só será o SENHOR” (14.9). Essa substância é indivisível, mas que se manifesta em três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt 28.19). Essa formulação teológica aparece no Credo de Atanásio: “A fé cristã é esta: que adoremos um Deus em trindade, e trindade em unidade; não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância”.7 O apóstolo Paulo se refere a um só Deus, mas afirma: “o Espírito é o mesmo... o Senhor é o mesmo..., mas é o mesmo Deus” (1 Co 12.4-6); isso quando falava em diversidade de dons, diferentes ministérios e diversidade de operações. O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade, por meio de quem Deus age e revela a sua vontade, concede poder e mostra a sua presença.

  O Espírito Santo aparece pela primeira na Bíblia como “Espírito de Deus” na obra de criação: “A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre as águas” (Gn 1.2). A expressão hebraica rûah. ’ ̆el  ̄ohîm, “Espírito de Deus”, aparece 11 vezes no Antigo Testamento;8 “Espírito do SENHOR”, 25 vezes9 e “Espírito Santo”, três vezes (Sl 51.11 [13]; Is 63.10, 11). A palavra hebraica para “espírito” é ruah., um substantivo feminino que aparece 378 vezes no Antigo Testamento e significa, simultaneamente, “vento, sopro, hálito, espírito, Espírito”. O termo indica “algo que está em movimento e que tem a força de pôr outras coisas em movimento”. O significado dessa palavra é amplo, mas o sentido de todas as suas traduções possíveis pertence ao mesmo campo semântico: “É um fenômeno semântico que reúne, ao mesmo tempo, aspectos concretos e abstratos, e que encontra paralelos no grego, como, por exemplo, no termo pneuma que denota um fenômeno tanto natural quanto espiritual”.10

      A Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento, traduziu ruah. Pela palavra grega pneuma, de mesmo significado, e 49 vezes pelo vocábulo anemos, “vento”. Os nomes gregos apresentam três gêneros: masculino, feminino e neutro. A palavra grega pneuma, usada amplamente no Novo Testamento para “espírito, Espírito”, é substantivo neutro.

    O Espírito Santo aparece como Deus, no Antigo Testamento, atuando na criação do céu e da terra (Gn 1.2; Sl 104.30) e do ser humano (Jó 33.4); inspirando os profetas (2 Pe 1.19-21), por essa razão o profeta era chamado de “homem do Espírito” (Os 9.7). A sua manifestação na vida individual era algo raro, Ele vinha, mas depois voltava. Isso aconteceu com os 70 anciãos (Nm 11.25); Otniel (Jz 6.34), Gideão (Jz 6.34); Jefté (Jz 11.29); Sansão (Jz 14.6); Saul (1 Sm 10.10); Davi (1 Sm 16.13), dentre outros. Isso acontecia para que eles pudessem receber recursos do céu para profetizar, julgar, liderar, lutar e governar, conforme a vontade de Deus.

   O Novo Testamento registra o início da dispensação da plenitude do Espírito e essa nova etapa começou com a descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes (At 2.1-8). Esse derramamento do Espírito foi para que ele ficasse conosco “para sempre”, foi promessa de Jesus para a Dispensação da Igreja (Jo 14.16). A sua manifestação pode ser classificada em duas etapas: antes do Pentecostes, na vida de Jesus; e depois, na vida da Igreja. Ele atuou na concepção virginal de Jesus, no ventre de Maria (Mt 1.18; Lc 1.35) e em todo o ministério terreno de Jesus (At 10.38). No evangelho de João, 14 a 16, há um relato importante sobre a personalidade e a deidade do   Espírito Santo, bem como suas obras e missão. Essa missão pode perfeitamente ser vista na vida dos apóstolos, principalmente de ,Paulo, no livro de Atos.

SUA DIVINDADE

O Espírito iguala-se ao Pai e ao Filho, tendo também um nome, pois o Senhor Jesus determinou que os seus discípulos batizassem em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28.19). Isso significa ser o Espírito Santo objeto de nossa fé, pois em Seu nome somos batizados, indicando reconhecimento igual ao do Pai e do Filho. Sobre a “comunhão com o Espírito Santo” (2 Co 13.13), a Bíblia mostra que Ele é não apenas objeto de nossa fé, mas também de nossa oração e adoração.

   Os dados da revelação divina a respeito da verdadeira identidade do Espírito Santo são abundantes nas Escrituras, desde o Gênesis, na criação (Gn 1.2), até o Apocalipse, na redenção (Ap 22.17). Encontramos na Bíblia tudo o que precisamos saber sobre o Espírito, principalmente no que se refere à sua deidade absoluta. Isso pode ser visto de maneira direta e por meio de seus atributos e obras.

    O Espírito Santo inspirou os profetas e apóstolos das Escrituras: “O Espírito do Senhor fala por meio de mim” (2 Sm 23.2); “homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21); entretanto, todos nós sabemos que “é próprio do Espírito esconder-se”.

     O Espírito é eterno, isso significa que ele existe por si mesmo, sem começo e nem fim de existência. Orígenes escreveu: “o Espírito Santo é uma substância intelectual, e que subsiste e existe por si mesmo”.11

   Sua declaração pneumatológica está de acordo com as Escrituras, que tem a palavra final: “muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo ofereceu sem mácula a Deus” (Hb 9.14). É natural conceber a ideia de que o Espírito atua no universo desde a sua origem

(Gn 1.2; Sl 104.30).

   Além de eterno, ele é onipotente, isso significa ser todo- poderoso: “para que sejam ricos de esperança no poder do Espírito Santo ... por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito de Deus” (Rm 15.13, 19). O Espírito é identificado como o Altíssimo, “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a envolverá com a sua sombra” (Lc 1.35). O termo grego para “altíssimo”, hypsistos, aparece mais duas vezes no Novo Testamento e se refere a Deus (Mc 5.7; Hb 7.1). A Septuaginta usa “Altíssimo”para traduzir o nome hebraico ‘elyôn na passagem do encontra de Abraão com Melquisedeque

(Gn 14.18-22).

     O Espírito Santo é onipresente e onisciente. A onipresença é o poder de estar em todos os lugares ao mesmo tempo (Jr 23.23, 24), no entanto, isso é visto na ação do Espírito no mundo e na vida humana (Sl 139.7-10; Jo 14.16; 1 Co 3.16). A onisciência é o atributo divino para descrever o conhecimento perfeito e absoluto que Deus possui de todas as coisas, de todos os eventos e de todas circunstâncias por toda a eternidade passada e futura (Is 46.9, 10). O Espírito conhece todas as coisas porque ele é Deus (1 Co 2.10, 11).

     O nome “SENHOR” nas formas, hebraica e grega, são aplicadas ao Espírito Santo, isso porque ele é Deus igual ao Pai e ao Filho. O nome aparece nas versões Almeida da Sociedade Bíblica do Brasil com todas as letras maiúsculas quando se refere ao Tetragrama, as quatro consoantes hebraicas do nome divino הוהי) YHWH), “Senhor, Yahweh”, ou “Javé”, na forma aportuguesada. O outro nome divino específico é ’ ̆adhonay oŭadhônay, “o Senhor, Adonai”. O correspondente grego para ambos na Septuaginta e no Novo Testamento é κύριος (kyrios). O Espírito Santo é identificado nas Escrituras com esses nomes divinos.

    O Espírito Santo é Javé: “Mas o Espírito do SENHOR veio com poder sobre Sansão” (Jz 15.14); em seguida lemos que depois de traído por Dalila, Sansão “Não sabia, porém, que o SENHOR o havia deixado” (Jz 16.20). Assim, tanto o Espírito de Javé e Javé, ou seja, o Espírito do SENHOR e o SENHOR são nomes divinos usados alternadamente. Isso fica claro no

Antigo Testamento que o Espírito Santo é o próprio Deus.

     O Espírito Santo é Javé Deus: “Aconteceu que ali a mão do SENHOR Deus caiu sobre mim” (Ez 8.1). Nessa visão, o profeta Ezequiel afirma que a mão de Javé caiu sobre ele. Mas, no v. 3, o profeta declara: “O Espírito me levantou entre a terra e o céu e me levou a Jerusalém em visões de Deus”. De modo que esse mesmo Javé Deus é chamado de “o Espírito”.

    O Espírito Santo é o Deus de Israel. Há diversas passagens nas Escrituras em que os nomes “Deus” e “Senhor”, ou mesmo o Tetragrama, YHWH, no Antigo Testamento, são usados alternadamente com o Espírito Santo: “O Espírito do SENHOR fala por meio de mim; e a sua palavra  está na minha língua. O Deus de Israel falou, a Rocha de Israel me disse” (2 Sm 23.2, 3). O texto sagrado afirma com todas as letras que o Espírito Santo é o mesmo Javé, Deus de Israel.

     O Antigo Testamento não se preocupa em mostrar ou provar a identidade do Espírito Santo com a divindade. Isso parece não ser problemas para os escritores bíblicos, mesmo muito antes de qualquer formulação teológica. Com os cristãos do período apostólico não foi diferente, eles não tinham dificuldade alguma em aceitar a pluralidade do único Deus verdadeiro.

    O Espírito Santo é chamado nominalmente de Deus. Pedro perguntou a Ananias: “Então Pedro disse: — Ananias, por que você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, para que você mentisse ao Espírito Santo, retendo parte do valor do campo? Não é verdade que, conservando a propriedade, seria sua? E, depois de vendida, o dinheiro não estaria em seu poder? Por que você decidiu fazer uma coisa dessas? Você não

mentiu para os homens, mas para Deus” (At 5.3,4).

     Veja que Deus e o Espírito Santo aqui são uma mesma divindade. Primeiro o apóstolo diz que Ananias mentiu ao Espírito Santo, e depois o mesmo Espírito é chamado de Deus.

      O Espírito Santo é identificado pelo nome divino hebraico “Adonai”. O apóstolo Paulo atribui as palavras de Adonai, em Isaías 6.8-10, ao Espírito Santo (At 28.25-27).

O apóstolo Paulo reconhecia a divindade do Espírito Santo e ousava afirmar isso abertamente:

O Espírito iguala-se ao Pai e ao Filho, tendo também um nome, pois o Senhor Jesus determinou que os seus discípulos batizassem em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28.19). Isso significa ser o Espírito Santo objeto de nossa fé, pois em Seu nome somos batizados, indicando reconhecimento igual ao do Pai e do Filho. Sobre a “comunhão com o Espírito Santo” (2 Co 13.13)

   Essa passagem é uma interpretação paulina de Êxodo 34.29-35 que mostra o contraste entre a antiga aliança ratificada no deserto e a nova estabelecida por Cristo. Moisés foi o ministro da antiga aliança do monte Sinai, que ao descer da montanha seu rosto resplandecia, mas a glória do seu rosto ia se desaparecendo gradualmente.

    O apóstolo mostra que essa glória na nova aliança é para todos os crentes e ela não se desvanece. Quando Moisés descia do monte precisou colocar um véu sobre o rosto porque os filhos de Israel não podiam contemplar o resplendor que ia desaparecendo.

    O que acontece, segundo o apóstolo, é que quando se lê a antiga aliança, este véu continua, mas na nova aliança, ele desapareceu: “Quando, porém, alguém se converte ao Senhor, o véu é tirado” (2 Co 3.16). O “Senhor”, nesse versículo, só pode ser o mesmo Javé da antiga aliança: “Porém, quando Moisés vinha diante do Senhor para falar-lhe, removia o véu até sair” (Êx 34.34). Quando Paulo diz que “este Senhor é o Espírito”, está se referindo ao mesmo Senhor do v. 16, que é o grande Deus Javé de Israel (Êx 34.34). Isso quer dizer que Moisés

esteve diante do Espírito Santo e, dessa forma, Paulo identifica Javé como o Espírito. Dizer que o Espírito é o Senhor é reconhecer a Sua deidade absoluta. Na parte final do v. 18 lemos: “como pelo Senhor, que é o Espírito”, ou: “como pelo Espírito do Senhor” (ARC), sugerindo que Espírito e Senhor são distintos.

     Como foi dito acerca do Filho, o mesmo se diz do Espírito Santo: a Bíblia afirma de maneira direta que o Espírito Santo é Deus; além disso, revela nele os atributos exclusivos da divindade bem como as obras de Deus.

    Assim, fica claro à luz da Bíblia que a divindade do Espírito Santo não nasceu no Concílio de Constantinopla em 381, não se trata de invenção humana, mas é uma verdade que está exarada no Livro de Deus, e nele assim a encontramos e assim cremos.

SUA PERSONALIDADE

   Há passagens no Antigo Testamento que mostram ser o Espírito Santo proveniente de Deus: “até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto” (Is 32.15); como ele é o próprio Deus, já foram mostrados anteriormente alguns exemplos, mas há outros, como no livro dos Salmos: “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?” (Sl 139.7).

Temos nesse verso o paralelismo sinônimo em que o poeta diz algo e em seguida repete esse pensamento em outras palavras. O salmista diz que esse “teu Espírito”, o Espírito Santo, é Deus.

    Concernente à personalidade, há evidências no Antigo Testamento. Os filhos de Israel “contristaram o seu Espírito Santo” (Is 63.10); Ele guia e ensina: “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; que o teu bom Espírito me guie por terreno plano” (Sl 143.10); “E lhes concedeste o teu bom Espírito, para os ensinar” (Ne 9.20) e dá descanso: “Como o gado que desce aos vales para repousar, o Espírito do Senhor lhes deu descanso. Assim, guiaste o teu povo, para adquirires um nome glorioso” (Is 63.14).

    A Bíblia revela o Espírito Santo como uma pessoa, a terceira Pessoa da Trindade. Ele possui intelecto, penetra todas as coisas (1 Co 2.10,11) e é inteligente (Rm 8.27). Ele tem emoção, sensibilidade (Rm 15.30; Ef 4.30) e vontade (At 16.6-11; 1 Co 12.11). As três faculdades: intelecto, emoção e vontade caracterizam a personalidade. As reações do Espírito

Santo são outra prova de Sua personalidade, pois reage a certos atos praticados pelo ser humano. O Espírito Santo mantém relações com os cristãos de maneira tal que somente uma pessoa poderia ter, como mestre, consolador, santificador e guia.

   O Espírito Santo ensina (Jo 14.26). Ele é enviado pelo Pai, assim como o Filho o foi, a diferença é que o Verbo divino assumiu a forma humana ao entrar no mundo, o Espírito Santo veio como um “vento impetuoso” (At 2.2), mas foi enviado, e duas funções dele são apresentadas no presente texto, ele “ensinará a vocês todas as coisas e fará com se lembrem de tudo o que eu lhes disse”. O Espírito Santo fala (At 13.2; Ap 2.7, 11, 17). Temos uma narrativa sendo o Espírito Santo um dos personagens, ele aparece na história falando literalmente, escolhendo obreiros para o campo missionário. O Espírito Santo guia em toda a verdade (Jo 16.13).

Ele guia e o Senhor Jesus afirma, ainda, que ele fala e ouve e conhece o futuro. O Espírito julga (At 15.28), pois Ele aparece intervindo numa decisão do primeiro concílio. O Senhor Jesus fala do Espírito como Juiz (Jo 16.8-11). O Espírito Santo intercede (Rm 8.26), pois é Ele que nos ajuda, intercede por nós e Ele geme. O Espírito Santo ama (Rm 15.30). Quem ama tem sentimento e sensibilidade. Ele contende e age (Gn 6.3) por ser ele é um ser pessoal. O Espírito Santo Ele convida (Ap 22.17). Junto, o Espírito Santo e a igreja convidam o mundo inteiro para as bodas do Cordeiro (Ap 19.7).

    Com base nessas amostras é possível afirmar com segurança a personalidade do Espírito Santo no Antigo e no Novo Testamento, e tem sido essa a crença da Igreja desde o princípio. Segundo Charles Hodge, em sua Teologia Sistemática, foram poucos os oponentes dessa doutrina: “A personalidade do Espírito tem sido a crença da Igreja desde o princípio. Teve poucos oponentes, inclusive no período caótico da teologia, e nos tempos modernos só tem sido negada pelos socinianos, arianos e sabelianos”.12

    O ESPÍRITO SANTO E JESUS CRISTO

O Antigo Testamento relaciona a promessa messiânica ao Espírito Santo: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se agrada. Pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios” (Is 42.1); “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos pobres,

enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados” (Is 61.1). O Senhor Jesus reconheceu que essa palavra profética se referia a Ele mesmo, que se cumpriu nEle (Mt 12.18-21; Lc 4.17-21). O Espírito Santo atuou na concepção virginal de Jesus no ventre de Maria (Mt 1.20; Lc 1.35) e veio sobre ele por ocasião do seu batismo por João Batista no rio Jordão (Mt 3.17; Mc 1.10; Lc 3.22), e o apóstolo Pedro relata isso na casa de Cornélio: “como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder. Jesus andou por toda parte, fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus estava com ele” (At 10.38).

     A ressurreição de Jesus é obra da Trindade, o Pai (At 2.24; 1 Co 6.14), o Filho, pois Jesus ensinava que ele haveria de ressuscitar-se a si mesmo (Jo 2.19-22; 10.18). A ressurreição de Jesus é também obra do Espírito: “e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1.4); “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe 3.18 - ARC).

Outras versões traduzem “vivificado no Espírito”. A ausência da preposição grega nessa construção petrina permite ambas traduções. A NVI e a Almeida Século 21 empregam: “mas vivificado pelo Espírito”, e a NVT traduz por, “mas foi ressuscitado pelo Espírito”.

   O Espírito Santo é chamado de Espírito de Jesus (At 16.6, 7), de Espírito de Cristo: “E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9); Espírito de seu Filho, “Deus enviou o Espírito de seu Filho ao nosso coração, e esse Espírito clama: “Aba” (Gl 4.6) e Espírito de Jesus

Cristo, “e com a ajuda do Espírito de Jesus Cristo, isso resultará em minha libertação” (Fp 1.19). As expressões alternativas “Espírito Santo” e “Espírito de Jesus Cristo, de    Jesus, de Cristo, de seu Filho” revelam a divindade de Jesus. O Espírito e o Filho são distintos, são o mesmo Deus juntamente com o Pai, mas não a mesma pessoa. Os unicistas estão equivocados com a doutrina de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam uma só pessoa.

     O Espírito Santo como eterno e membro da Trindade se relaciona com o Pai e o Filho e isso desde a eternidade passada. Jesus fala desse relacionamento desde antes que o mundo existisse (Jo 17.5), e em outro lugar ele afirma que está no Pai, e o Pai está nele (Jo 14.10, 11). A pericorese trinitária consiste na habitação das Pessoas da Trindade uma na outra. Elas são um só Deus porque cada uma está nas outras e cada uma se dá às duas outras. Mas isso não significa não poder haver experiência distinta de Jesus como homem com o Espírito Santo (Mt 3.17; At 10.38).

A pericorese em cristologia significa a compenetração das duas naturezas de Cristo, divina e humana, mas distintas na pessoa de Jesus. O termo perich  ̄or  ̄esis, “interpenetração”, ou circumincessio, que em latim significa “interpenetração mútua, circunsessão” são termos teológicos usados para explicar um tema importante que pouco sabemos sobre a sua realidade. O assunto diz respeito ao relacionamento íntimo entre as

Pessoas da Trindade. Compreender isso é importante porque fornece um modelo aplicável às relações humanas. Muitos teólogos trabalham esse conceito para aplicar nesse sentido.

Gregório de Nazianzo, mencionado acima, e João Damasceno (675-749) estão entre os que mais se debruçaram sobre o tema. A pericorese é a união íntima intratrinitariana entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, ou seja, é a habitação das Pessoas da Trindade uma na outra. João Damasceno escreveu:

    Existe uma permanência e uma habitação de umas hipóstases em outras, porque as hipóstases13 divinas são contínuas e indivisíveis umas das outras, e têm uma compenetração sem confusão de umas em outras: não contraídas nem confundidas, senão como quem se contém umas às outras. Com efeito, o Filho está no Pai e no Espírito, e o Espírito, no Pai e no Filho, e o Pai, no Filho e no Espírito, não produzindo nenhuma fusão, nem mescla, nem confusão (Exposición de la fe, livro I.8).14

    Jesus fala desse relacionamento desde antes que o mundo existisse (Jo 17.5) e em outro momento ele diz a Filipe: “Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (Jo 14.10). O Espírito está também nessa Trindade (1 Co 2.10, 11). Cada Pessoa está nas outras e cada uma se dá às duas outras. Essa relação “é a base para afirmação de que toda ação de uma pessoa da Trindade as três pessoas estão presentes”. Esse conceito permite a manutenção da individualidade das três Pessoas.

   Disse Jesus a respeito do Espírito Santo: “Ele me glorificará, porque há de receber o que é meu” (Jo 16.14). É comum ouvir dizer que o Espírito Santo não deve ser adorado porque ele glorifica a Cristo. É, na verdade, um pensamento equivocado, pois se o Espírito é Deus, nisso por si só, a sua adoração é aceitável, não existe na fé cristã um deus de segunda categoria, um que deve ser adorado e outro não, isso não seria monoteísmo. Outro ponto importante é que o próprio Pai também glorifica o Filho (Jo 17.5). O que Jesus está dizendo é que a missão central do Espírito é revelar o Cristo, seu ministério traz glória a Jesus por meio da revelação da pessoa e da obra do Senhor Jesus.

O ESPÍRITO SANTO AGE NO MUNDO E NO SER HUMANO

    O Espírito Santo age no mundo e no ser humano com poder porque ele é Deus em toda a sua plenitude, não parte da divindade, igual ao Pai e ao Filho. A sua atuação não se restringe aos corações humanos, ele age sobre a criação inteira. Ele atua no mundo e na igreja. Sua ação é ampla na vida humana no passado, no presente e no futuro. O Espírito é Deus com todos os seus atributos e obras da divindade.

    As obras do Espírito no mundo e no ser humano revelam a sua deidade absoluta. Ele é o Senhor da igreja (At 20.28) e salvador (Ef 1.13; 4.30; Tt 3.4, 5). O Espírito Santo é bom (Ne 9.20; Sl 143.10). O Espírito é a verdade e é sábio (1 Jo 5.6; Is 11.2; Jo 14.26; Ef 1.17). Ele é aquele que dá a vida eterna (Gl 6.8), é o santificador dos fiéis (Rm 15.16; 1 Pe 1.2), habita nos fiéis (Jo 14.17; Rm 8.11; 1 Co 3.16; 6.19; 2 Tm 1.14; Tg 4.5); é

essencialmente santo em si mesmo (Rm 15.16; 1 Jo 2.20), a fonte de poder e milagres (Mt 12.28; At 2.4; 1 Co 12.9-11), o autor do novo nascimento (Jo 3.5,6; Tt 3.5) e da vida (Ez 37.14; Rm 8.11-13). O Espírito Santo é o distribuidor dos dons espirituais (1 Co 12.7-11); conhecedor do coração humano (Ez 11.5; Rm 8.26,27; 1 Co 12.10; At 5.3-9) e do futuro (Lc 2.26; Jo 16.13; At 20.23; 1 Tm 4.1; 1 Pe 1.11). Ele gerou a Jesus Cristo (Lc 1.35), guiou e guia o seu povo e os crentes individualmente (Sl 143.10; Is 63.14; Rm 8.14; Gl. 5.18).

O VERDADEIRO PENTECOSTALISMO

A ATUALIDADE DA DOUTRINA BÍBLICA

SOBRE A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

Esequias Soares

 





Nenhum comentário:

Postar um comentário