LIÇÃO 13 - QUANDO DEUS RESTAURA O JUSTO
TEXTO ÁUREO
“E o SENHOR virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o SENHOR acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía” (Jó 42.10).
VERDADE PRÁTICA
A restauração do
ser humano acontece em razão do amor e da misericórdia de Deus, e não como
consequência do esforço pessoal, piedade ou atos de bondade.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Jó 42.1-17.
1
— Então,
respondeu Jó ao SENHOR e disse:
2
— Bem
sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido.
3
— Quem
é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso, falei do
que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não
compreendia.
4
— Escuta-me,
pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu ensina-me.
5
— Com
o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos.
6
— Por
isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.
7
— Sucedeu,
pois, que, acabando o SENHOR de dizer a Jó aquelas palavras, o SENHOR disse a
Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois
amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.
8
— Tomai,
pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei
holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele
aceitarei, para que eu vos não trate conforme a vossa loucura; porque vós não
falastes de mim o que era reto como o meu servo Jó.
9
— Então,
foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram
como o SENHOR lhes dissera; e o SENHOR aceitou a face de Jó.
10
— E
o SENHOR virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o SENHOR
acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía.
11
— Então,
vieram a ele todos os seus irmãos e todas as suas irmãs e todos quantos dantes
o conheceram, e comeram com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e o
consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado; e cada um deles lhe
deu uma peça de dinheiro, e cada um, um pendente de ouro.
12
— E,
assim, abençoou o SENHOR o último estado de Jó, mais do que o primeiro; porque
teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil
jumentas.
13
— Também
teve sete filhos e três filhas.
14
— E
chamou o nome da primeira, Jemima, e o nome da outra, Quezia, e o nome da
terceira, Quéren-Hapuque.
15
— E
em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó; e
seu pai lhes deu herança entre seus irmãos.
16
— E,
depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos e aos filhos
de seus filhos, até à quarta geração.
17 — Então, morreu Jó, velho e farto de dias.
OBJETIVO GERAL
Mostrar o grande amor de Deus evidenciado na prosperidade de seus filhos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
- I.
Sublinhar a
atitude humilde de Jó em receber a repreensão divina pelos equívocos
cometidos;
- II.
Destacar a
espiritualidade de Jó demonstrada na intercessão pelos seus amigos;
- III. Comentar sobre o último estado de Jó e suas implicações positivas para o entendimento do livro.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Chegamos ao encerramento de mais um de trimestre. Essa é uma excelente oportunidade para fazer um diagnóstico de como foi a sua performance de educador ou educadora cristã. Procure avaliar como a sua turma se comportou ao longo do trimestre. Como foi o método usado, a interação e a percepção dos alunos. Isso pode ser feito por meio de perguntas individuais aos alunos. Você pode pesquisar na internet uma série de modelos de avaliação e adaptá-los a fim de que tenha uma amostra em sua classe. O importante é que você não deixe escapar a oportunidade de fazer uma autoavaliação, bem como avaliar toda a classe.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Nesta
última lição trataremos sobre a restauração de Jó. Veremos que ela se dá quando
ele se humilha diante de Deus e intercede por seus amigos. Constataremos também
que o testemunho de Deus sobre Jó provou ser verdadeiro, e seus amigos tiveram
de se retratar. Durante toda provação, ele se manteve íntegro e não lhe foi
atribuída impiedade alguma. Pelo contrário, o Senhor o restaurou de forma
grandiosa.
PONTO CENTRAL
Deus restaura o ser humano por causa de seu amor e misericórdia.
Título: A fragilidade humana e a soberania divina — O
sofrimento e a restauração de Jó
Comentarista: José Gonçalves
Capítulo
13 - Quando Deus Restaura o Justo
Depois de uma
longa jornada sobre
o itinerário espiritual
de Jó, chegamos ao seu final.
Depois d e idas e vindas, parece que tudo terminou como havia
começado: Jó, um
homem rico e
famoso! Todavia, se
esse entendimento fosse mantido,
nada daquilo que
o livro de
Jó procurou ensinar teria s ido
absorvido. A visão distorcida da religiosidade praticada nos seus
dias, onde Deus
sempre recompensa os
bons e pune
os maus durante esta vida,
continuaria sendo mantida. Não é isso a
que o livro de Jó propõe-se mostrar.
Na verdade, a
sua mensagem é
diametralmente oposta a esse tipo de entendimento.
Jó
terminou rico e próspero, mas não mais do mesmo jeito que havia começado. Temos
no prólogo um Jó íntegro, reto e que se desviava do mal. Todavia, como
demonstrará os diálogos
com os seus amigos e o
testemunho do próprio Criador, ele estava autoconfiante e cheio de justiça
própria. Evidentemente que
o texto deixa
bem claro que
ele não fora submetido à
prova por conta
disso, mas Deus,
na sua onisciência soberana, permite
que ele passe
pela fornalha, e
é aí que
Jó tomará consciência de
quem ele era de fato.
No princípio da
sua provação, Jó queixa-se
de Deus, mas,
durante o seu
longo sofrimento, ele
queixa -se a Deus. A diferença
parece apenas de ordem gramatical ou semântica, mas é muito
mais do que
isso. Na verdade,
a queixa de
Jó ocorre primeiramente porque
ele está vendo
a sua prova
sob a sua antiga
cosmovisão — os
justos não sofrem.
Durante o andar
da carruagem, Jó passa a perceber que de nada adianta
continuar queixando-se de Deus; ele precisa queixar-se a Deus,
isto é, conversar
com o Senhor e
buscar nEle a resposta para o seu dilema. Nesse aspecto, Jó entra na
fornalha crente e sai dela um santo!
Não há dúvidas
de que, anteriormente, Jó
também compartilhava com a
crença tradicional da justiça retributiva
— D eus recompensa os
bons e pune
os maus. Quando
o Senhor “vira
o seu cativeiro”, Jó
tem consciência d e que
a prosperidade acontece
em meio à adversidade e que a prosperidade deve ser
vista no seu aspecto relacional, e
não comercial. Deu s
dá porque ama
e é adorado
porque é reconhecido como fonte desse amor.
A HUMILHAÇÃO DE JÓ (42.1-6)
Então, respondeu
Jó a o Senhor
e disse: Bem
sei eu que
tudo podes, e nenhum dos teus
pensamentos pode ser impedido. Quem é aquele, dizes tu,
que sem conhecimento
encobre o conselho?
Por isso, falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que
eu não compreendia.
Escuta-me, pois, e
eu falarei; eu te
perguntarei, e tu
ensina-me. Com o ouvir dos
meus ouvidos ouvi, mas
agora te veem
os meus olhos.
Por isso, me
abomino e me arrependo no pó e na cinza.
“Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos
teus pensamentos pode ser impedido”
(42.2). A visão
teofânica experienciada por Jó provocou
profundo impacto na sua vida.
Até esse momento
sublime, encontramos um Jó
entrincheirado, cheio de
razões para apresentar.
Ele sempre demonstrou estar
ciente da sua
inocência e não a
ceitava, sob hipótese alguma, declinar
dessa posição. E le foi ca paz
de demonstrar isso quando enfrentou uma série
de calorosos debates
teológicos com os seus amigos. Primeiramente, Elifaz
enfrentou-o com a
tese da justiça
retributiva. Bildade, da mesma
forma, acusou-o de
levantar-se contra o caráter justo de Deus e querer destruir a m oralidade tradicional. Por outro lado,
Zofa r usou palavras ácidas
para d izer que
o Senhor demonstrava
ser extremamente sábio em
puni-lo da forma
como estava punindo.
Por último, Eliú alfineta-o quando mostra a sua autossuficiência.
Stadelmann (1997, p. 114) escreve:
Jó
reconhece que os desígnios
de Deus ultrapassam infinitamente o entendimento
humano. É essa a conclusão
que chegou por
meio da reflexão teológica s obre
os dados da
razão, da experiência
e do diálogo, e
precisamente quando entrou
nas zonas do
mistério que somente Deus pode esclarecer. Percebeu, por
fim, que na sua busca estava em
jogo, além da
inteligência, a abertura
do coração, a liberdade
de espírito, o
rigor moral. São
atitudes religiosas que o
ajudaram a compreender que a
sabedoria do homem vem d e Deus,
que não é algo que sob e de baixo para cima, mas que desce de cima para
baixo e que é uma
luz de Deus
que ilumina sua
inteligência.
Por
isso, Jó pode afirmar que seus olhos viram a Deus, isto é, o Deus da interioridade, não
da exterioridade. Deus
já não é
objeto de sua reflexão
e de suas
palavras, mas pes soa
viva com quem
entrou em comunhão com humildade
e arrependimento (vv.1-6).
A
teofania finalmente aconteceu! Jó
vê-se face a face diante
da majestade divina e
contempla as maravilhas
de um Universo
criado por Deus. Mais
do qu e isso,
ele contempla o desígnio divino
no criar e preservar
a criação. Jó
vê-se extasiado diante
d e tudo isso.
De repente, a justiça
e a sabedoria
divina, que ele
tanto questionara, estavam
diante dele. Ao contemplar
a glória de
Deus, deu-se conta
do seu pecado.
Deus estava certo, e ele estava errado. Como ele poderia
questionar um ser tão sábio e justo? Era o momento de
humilhar-se.
A INTERCESSÃO DE JÓ (42.7-9)
Sucedeu, pois,
que, acabando o
Senhor de dizer
a Jó aquelas palavras, o Senhor disse a Elifaz, o
temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos;
porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó. Tomai, pois,
sete bezerros e sete carneiros, e ide
ao meu servo
Jó, e oferecei
holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras
a ele aceitarei, para que eu vos não
trate conforme a
vossa loucura; porque
vós não falastes de
mim o qu e
era reto como
o meu servo
Jó.
Então,
foram Elifaz, o temanita,
e Bildade, o
suíta, e Zofar,
o naamatita, e
fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a
face de Jó. “Sucedeu, pois,
que, a cabando o Senhor
de dizer a
Jó aquelas palavras, o
Senhor disse a
Elifaz, o temanita:
A minha ira
se acendeu contra ti, e contra os
teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42.7). A
intercessão de Jó em favor dos seus
amigos dá -se no
contexto d e um revisionismo teológico.
Deus fala aos amigos de Jó q ue
estes não falaram a respeito dele o que era reto como Jó havia
falado. A necessidade da apresentação de sacrifícios
para expiar a culpa
demonstra
inquestionavelmente que os
amigos de Jó
haviam pecado ao fazerem
ousadas a firmações teológicas
sobre Deus. Isso significa dizer
que o registro
d aquilo que eles
disseram, que faz parte do livro
de Jó, é,
sem dúvida, inspirado.
Todavia, nem tudo
aquilo que falaram refletia
a verdade de Deus. Há
muitas coisas d itas
por eles que, em parte, era verdade. Como foi
demonstrado aqui, sempre foi a intenção do
autor de Jó
mostrar que a
defesa da justiça
retributiva como a
única opção teológica possível
era um equívoco.
Ela acusava inocentes
ao afirmar que eles estavam sendo punidos em virtude de um pecado pessoal
cometido, quando, de fato, isso não era verdade, e Jó era o exemplo disso;
por outro lado,
retirava o direito
do Senhor de
ser soberano. Ela também privilegiava uma relação de troca, e
não um relacionamento interpessoal.
Quando levada às últimas consequências, transformava
Deus em um objeto,
e o homem
em mercadoria. Schonberger
(2011) acredita que é exatamente
isso que o Senhor está condenando aqui, visto que Jó também sofre reprimenda
por parte de
Deus quando demonstra
orgulho e autossuficiência . Jó, a
o contrário dos
seus amigos, estava
à procura da espiritualidade que vem d e dentro, fruto
de uma relação íntima com Deus, e não simplesmente nos dogmas externos da
religião.
A RESTAURAÇÃO DE JÓ (42 .10-17)
E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando
orava pelos seus amigos; e o
Senhor acrescentou a
Jó outro tanto
em dobro a
tudo quanto dantes possuía.
Então, vieram a ele todos
os seus ir mãos
e todas as suas
irmãs e todos
quantos d antes o
conheceram, e comeram
com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e
o consolaram de todo o mal que
o Senhor lhe ha
via enviado; e
cada um deles
lhe deu uma peça
de dinheiro, e
cada um, um
pendente de ouro.
E, assim, abençoou o
Senhor o último estado
de Jó, mais d
o que
o primeiro; porque teve
catorze mil ovelhas ,
e seis mil
camelos, e mil
juntas de bois, e mil jumentas.
Também teve sete filhos e três filhas. E chamou o nome d
a primeira, Jemima,
e o nome
da outra, Quezia,
e o nome da
terceira, Quéren-Hapuque. E
em toda a
terra não se
acharam mulheres tão formosas
como as filhas
de Jó; e
seu pai lhes
deu herança entre seus irmãos. E, depois d isto, viveu J ó cento e
quarenta anos; e
viu a seus
filhos e aos
filhos de seus
filhos, até à
quarta geração. Então, morreu Jó, velho e farto de dias.
“E o
Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o
Senhor acrescentou a
Jó outro tanto
em dobro a
tudo quanto dantes possuía” (42.10).
Depois que Jó
intercedeu pelos seus
amigos, o seu cativeiro
chegou ao fim.
A bênção de
Deus foi derramada abundantemente sobre ele.
A bênção vai da prosperidade à longevidade, e ele,
então, passa a
ter tudo em
dobro. O seu
drama terminou, e as suas lições ficaram para as gerações futuras. Uma excelente exposição sobre as lições deixadas
por Jó foi feita por David Atkinson (2010).
No seu excelente
comentário sobre o
livro de Jó,
Atkinson conclui com o que
denomina de “amarrando cabos”
(Atkinson, 2010, p. 203). Atkinson destaca oito
pontos que considera importantes
no livro de Jó.
Aqui será feita
uma síntese desses
destaques de Atkinson, porque, sem
dúvida, eles ajudarão
na compreensão das
lições deixadas por esse livro
fenomenal. Em primeiro lugar, deve ser
destacado que a mensagem de Jó é bem
clara — existem coisas entre o céu e a terra que estamos longe de
imaginar. Nesse aspecto, Jó
é envolvido no
propósito divino mesmo
s em ter consciência disso.
Há, portanto, incertezas,
quebra-cabeças e ambiguidades na
vida de fé que devemos deixar como parte dos mistérios de Deus. “As coisas
encobertas são para o Senhor, nosso Deus” (Dt 29.2 9). Devemos aceitar o fato
de que Deus tem os seus mistérios e, então, receber o dom
dado por Ele
para mantermo-nos de
pé em tempos
de incertezas. Jó, portanto, é um
gigante da fé nesse aspecto. Isso serve de exemplo para humilharmo-nos diante
do Senhor e
pedir a Ele
que aumente nossa
fé e que nos prepare para
momentos como esse.
Em segundo
lugar, há u ma
advertência no livro
de Jó contra
a superficialidade de nossa
pregação, em especial
quando se trata
de pregarmos a verdade.
Por todo o
livro de Jó,
pode -se observar a insensibilidade d os
amigos dele quando
mostram grande determinação em fazer com que Jó aceite
aquilo que eles tinham como sendo certo. Nesse aspecto, ninguém
será ajudado por
simplesmente querermos que
aceite nosso ponto de
vista, mesmo s em saber se
ele, de fato,
revela a verdade. Deveríamos, portanto, a prender do episódio
das cinzas o
seguinte: que é preciso escutar o
outro ou simplesmente estar com ele.
Em terceiro lugar,
ficou patente na
mensagem de Jó
que o povo
de Deus também sofre e passa
por revezes. Nesse aspecto, as pessoas boas e
piedosas também sofrem! Coisas
ruins acontecem com pessoas boas. Isso deveria servir
de exemplo para
não se julgar
alguém pelas desventura s que as circunstâncias impõem a ele.
No universo da fé, a bênção
também advém da dor.
Nesse aspecto, o
sofrimento cura mesmo
quando tudo à sua volta demonstra o contrário. No
sofrimento de Jó, o seu corpo, mente, espírito, relações, emoções e vontade estão
envolvidos. Nada fica de fora, já que
todas estão interligadas . Quando
se ajuda alguém,
deve ser observado que
não é uma parte daquela
pessoa que está
sendo ajudada, mas o seu ser
integral. Para algumas pessoas, o maior sofrimento vem por conta da
sua fé, pois o crente
sempre espera u ma
resposta d e Deus,
que fica em silêncio às vezes. Nesse aspecto, Jó mostra que a
convicção moral pode
fortalecer-se em meio
à adversidade. É
exatamente isso que é
corroborado pelo apóstolo Paulo em Romanos 5.3-4.
Em
quarto lugar, há
uma grande diferença
entre uma crença ,
que Pascal chamou de
“o Deus dos
filósofos”, e a
fé no Deus
vivo que se deu
a conhecer. Os
amigos de Jó
reduziram as suas
crenças em Deus
numa simples categoria lógica
e tentaram enquadrar
Jó dentro dela.
Esse entendimento,
evidentemente, era distorcido
e foi reduzido a uma mera lógica
natural. Essa fé via o
Senhor apenas como
o “ Shaddai”, o Todo
-Poderoso, em vez de “Jeová”, o Deus do pacto. Isso serve de exemplo para
apegarmo-nos àquilo que Deus diz, de fato, na sua Palavra em vez de dar crédito
a uma lógica distorcida. Só se conhece a Deus naquilo que Ele quis que o
conhecêssemos. Para o
cristianismo, a revelação
máxima de Deus completou-se em Jesus Cristo.
Em quinto lugar,
fica o exemplo
da perseverança de
Jó. Ele permaneceu firme
e conscientemente convicto
da sua inocência
mesmo em meio à adversidade. A voz da
consciência, educada como deve ser pelo Espírito de
Deus (que, por suposto, estava
presente quando o
Senhor interrogava a Jó),
não deve ser ignorada. Da
mesma forma que
não ajudamos quando ignoramos
a s necessidades do outro, também
não nos ajudamos quando
ignoramos a voz de nossa consciência.
Em sexto lugar,
a lei do
“olho por olho
e dente por dente”, que é
centrada na culpa,
deve ser entendida
no contexto da
lei do amor, tomando
a graça como
ponto de partida.
Não há dúvida de
qu e há lugar para
um julgamento divino,
visto habitarmos em
um universo moral. Todavia, essa doutrina pode
ser usada erroneamente
e, em vez
de restaurar o caído,
acaba bloqueando o caminho da
graça. No livro
de Jó, observa-se que Deus
ultrapassa a lei do “olho por olho e
dente por dente” ao conceder a
Jó o dom
da sua doce presença
. Da
mesma maneira, a
doutrina da graça
transfere as questões
de teodiceia da
busca por causas passadas para
a esperança de
uma redenção futura.
As questões de teodiceia
de Jó permanecem
sem resposta, porém
são colocadas em um
contexto mais amplo
e mais pessoal,
no qual não
precisa m mais ser formuladas.
Em
sétimo lugar, o
mais importante do
livro de Jó não são
os seus sermões ou a teologia
apresentada, nem tampouco a crença
ortodoxa, nem sequer o caráter reto de Jó. Ainda que tudo isso seja importante,
é apenas o reflexo de algo muito maior: o caminhar em comunhão com Deus neste mundo
e o poder desfrutar da sua presença. Isso é ilustrado pelo apóstolo Paulo em
1 Coríntios 12,
quando, mesmo através
do sofrimento, que
lhe causava um espinho na carne, ele desfrutava de profunda comunhão com
Deus.
Em oitavo lugar,
o livro de
Jó transmite-nos uma
mensagem de alento mesmo
em meio ao
maior e mais
intenso sofrimento. Mesmo
que não se saiba quando o sofrimento acabará, fica a mensagem que o
Senhor transformará nossas feridas em
louvor. Deus não prometeu neste mundo uma vida livre de sofrimento — “No mundo
tereis aflições” (Jo 16 .33) —,
nem tampouco que conheceremos todos os segredos de Deus. Entretanto, Ele prometeu-nos
a sua
graça. Alguns experimentarão cura e
restauração nesta vida,
enquanto a recompensa
de outros será nos
novos céus e nova
terra, onde não
haverá mais dor,
nem lágrimas, nem
tampouco a morte (ver Ap 21.1-4).
Todavia, há graça aqui e agora para todos nós!
LIÇÃO
13 - QUANDO DEUS RESTAURA O JUSTO
A
FRAGILIDADE HUMANA E A SOBERANIA DIVINA: o sofrimento e a restauração de Jó
COMENTARISTA:
JOSÉ GONÇALVES
A Restauração de Jó
Introdução
O escritor português Camilo Castelo Branco fez certa vez uma declaração sobre a felicidade que, à primeira vista, parece quadrar perfeitamente à história de Jó: “A felicidade vem a troco de lágrimas, como a consolação do salvamento a preço das agonias do naufrágio”.
Esta
conclusão, porém, não consegue transcender o
drama sagrado; vai
este além da
perspectiva meramente humana. O
problema aqui, como já vimos, não é a
felicidade; é o sofrimento do justo. Isto porque o patriarca, quando feliz, não era feliz; chegando-lhe a infelicidade,
começou a entender as bases da felicidade verdadeira. E, agora, não passando de
ruínas, depara-se com a felicidade das felicidades: o encontro experimental com
Deus.
Neste capítulo, veremos como o Senhor
vira-lhe o cativeiro, transformando-o num dos mais bem-aventurados homens de todos
os tempos. As provações,
de que fora alvo, tiveram sobre a
sua vida um efeito maravilhoso: conduziram-no a viver uma sublime comunhão com
o Senhor.
O mesmo haverá de acontecer com você. Se o sofrimento hoje parece-lhe estranho, amanhã os resultados que deste haverão de advir tornar-se-ão bem familiares; todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus.
Vejamos, pois, como o Senhor vira o cativeiro daqueles que lhe são caros.
L A Profunda
Humilhação de Jó
Com profunda e singular humilhação, o melhor
dos homens daquela época, ouviu dois pronunciamentos que, judiciosamente, apontaram-lhe
as falhas: o
discurso de Eliú
e o monólogo do Todo-Poderoso.
Jó, em momento algum, se exaspera. Agora tem ele certeza de estar sendo
provado; na economia divina sempre é possível melhorar o que já é perfeito
(Dt18.13; Pv 4.18; M t 5.48; Ef 4.13).
Sem humilhar-se diante do Senhor, como
poderá o homem obter o tão almejado crescimento
espiritual? Todos os heróis da fé, quer do Antigo, quer do Novo
Testamento, seja da história da Igreja Cristã, seja das crônicas eclesiásticas,
hu- milharam-se de tal forma ante o Supremo Ser, que vieram a obter um inefável
encontro com Deus.
I. O valor da humildade na experiência do crente.
Realçando o valor da humildade na vida do
crente, Agostinho é categórico: “Foi o orgulho que transformou anjos em demônios;
é a humildade que faz homens serem como anjos”. Ali estava um homem que,
através de todos os seus sofrimentos e agruras, achava-se prestes a fazer-se
não um anjo, mas alguém melhor do que os
seres angélicos. Aliás, que anjo,
por mais poderoso e excelso, teve a experiência de um homem como Jó? Não
afirmou Thomas Brooks que os homens mais santos são sempre os
mais humildes? De um
homem íntegro como o
patriarca, a humildade não é um mero adorno; é-lhe algo inerente. Atentemos,
pois, a confissão que este homem paciente e comprovadamente humilde faz ao
Senhor.
2. A confissão de Jó.
O
que resta, agora,
ao patriarca? Não obstante ser tido como um dos três homens mais perfeitos
de todos os tempos, confessa Jó a sua falta, e reconhece a sua pequenez diante
da imensidade de Deus: “Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza”
(Jó 42.6).
Ora,
que pecado cometera Jó para fazer tal confissão?
Não fora
ele testado de
todas as maneiras,
e de todos
os modos, provado? Por que semelhante confissão? E que somente nesta
quadra de sua vida vem a reconhecer plenamente a soberania divina; qual barro
nas mãos do oleiro, coloca- se ele à disposição do Senhor. J. I. Pacter, após
haver discorrido sobre a humildade na vida do crente, escreve: “Só depois que nos tornamos humildes e
ensináveis e permanecemos extasiados diante da santidade e soberania de Deus,
reconhecendo nossa pequenez, desconfiando dos nossos pensamentos e desejando
ter a mente humilhada, é que podemos adquirir a sabedoria divina”.
O que J. I. Packer quis aqui enfatizar é
que o avivamento espiritual leva o homem a agir com profunda humildade diante
do Todo-Poderoso. Sem este mover do Espírito, o crente jamais abrirá o coração,
convidando venha o Senhor Jesus e nele faça morada. Pelo relato deste
último capítulo de Jó, concluímos ter o patriarca experimentado um grande e
poderoso reavivamento, pois o Senhor fez uma obra maravilhosa não somente
em sua vida, como também na vida de sua esposa e na vida de seus amigos.
F. B. Meyer assim comenta a experiência de
Jó: “Em total submissão, Jó curvou-se diante de Deus, confessando sua ignorância
e admitindo que tinha falado levianamente de coisas que não compreendia. Ele
tinha replicado aos amigos que era tão bom quanto eles, mas agora confessava,
que era o principal dos pecadores como
depois iria fazer o apóstolo Paulo. Uma coisa é ouvir falar sobre Deus, outra é
vê-lo e conhecê-lo de perto. Bem que podemos abominar nossas orgulhosas palavras
e arrepender-nos no pó e na cinza”.
Sim, o que diria você ao ouvir tal confissão
de um homem que era a mesma perfeição? De um homem, cuja integridade era
reconhecida e avalizada até pelo próprio Senhor? Sim, era Jó um homem perfeito. Mas, diante de
Deus, quão imperfeitas são as
nossas perfeições. Diante
daquEle que é infinito
em suas perfeições, o perfeito
sempre poderá se aperfeiçoar; o bom sempre poderá melhorar (Fp 3.12; Cl 1.28).
Jó o sabia muito bem.
3. Ouvindo
e vendo a Deus.
Jó
teve de se
calar para compreender a natureza
de seu sofrimento; e, perfeitamente, compreendeu-a. Infelizmente,
muitos não logram o mesmo
entendimento, pois ainda não aprenderam a ouvir a voz de Deus
(Hb 3.7,8). Oram, mas não
lhe ouvem a resposta (Is 42.20). Com os seus murmúrios, acabam por
encobrir a voz de Deus (SI 106.25).Primeiro ouviu Jó a voz de Deus; depois,
seus olhos passaram a vê-lo (Jó 42.6). Até este momento, a fé que o patriarca
professava em Deus, conquanto sublime e singularíssima, ainda era intelectual.
Mas, agora, que os
seus olhos vêem o Todo- Poderoso,
começa a ter um conhecimento experimental do Senhor.
Como é a sua fé? Intelectual? Ou
experimental? O Senhor deseja que você o conheça integralmente (Os 6.1-3). Não
são poucos os cristãos que ostentam uma fé meramente intelectual em
Deus. Sabem que
o Supremo Ser
existe, e que Jesus Cristo é o
único e suficiente Salvador da humanidade. Seu conhecimento das coisas espirituais,
todavia, jamais transcendeu o campo do intelecto. J. Blanchard afirmou com toda
a razão que a fé que não vai mais longe do que a cabeça nunca pode trazer paz
ao coração. O mesmo autor acrescenta que, onde a razão fracassa, a fé pode
descansar.
A fé que
ainda não transcendeu o intelectualismo, por mais
correta, por mais ortodoxa,
e por mais bíblica que se exiba,
acabará por cair na apostasia. Haja vista o que aconteceu na Alemanha. Após a
morte de Lutero, os herdeiros
da Reforma fecharam-se em suas escolas, pondo-se a estudar racionalmente
as bases do Cristianismo. Não que isto seja errado. Afinal,
a fé cristã é
mais forte e mais alta que
a razão humana. No entanto, os escolásticos alemães, ao invés de se
porem a buscar um novo avivamento
espiritual, passaram a criticar a fé cristã. E foi assim que
surgiu o liberalismo teológico, que acabou por lançar a Alemanha numa das
piores fases de sua história. E foi justamente esta falha que abriu as portas
aos nazistas assumirem o comando daquele país que, um século antes, era
conhecido como a Atenas da Europa.
Não se conforme com uma fé meramente
intelectual. Conheça o Senhor de forma experimental, a fim de usufruir-lhe
todas as bênçãos. O patriarca Jó teve de passar por todo aquele crisol a fim de
experimentar quão maravilhoso era o Senhor.
EL Intercessão e Restauração
A prova a que Jó foi submetido não serviu
apenas para si; foi também imprescindível aos seus amigos que, a partir daquele
momento, pôr-se-iam a encarar as coisas divinas de maneira correta. Se até
então pensavam eles que o Senhor haveria de se contentar com boas obras, ou com
um simples relacionamento mercantil, a
partir de agora terão de se conscientizar de que Deus busca a nossa
verdadeira adoração. O que mais lhe agrada em seus servos é um coração sincero
e amável; um coração que, em seu abatimento, está sempre prestes a exaltar-lhe
o nome.
Na verdade, o sofrimento de Jó trouxe um
grande aviva- mento a todos os que o cercavam. E os seus amigos, posto que
molestos, também foram alvo das
misericórdias do Senhor. Portanto, a prova a que você está
sendo submetido redundará num maravilhoso despertamento espiritual a todos que
o rodeiam. Por isso, não se irrite com os seus amigos; ore por eles; interceda
por eles.
O Senhor dirige-se, neste momento, aos três
amigos de Jó, e gravemente os repreende:
I. Deus
repreende os amigos de Jó.
“A minha
ira se acendeu contra ti, e
contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o
meu servo Jó. Tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo
Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque
deveras a ele aceitarei, para que eu vos não trate conforme a vossa loucura;
porque vós não falastes de mim o que era reto como o meu servo Jó” (42.7,8).
Desta advertência de Deus, podemos
ver alguns fatos bastante
interessantes quanto à atuação de Jó. Em primeiro lugar, teria ele de agir como
sacerdote. Quantas pessoas não estão necessitando de nossas orações! E, não
raro, deixamos de lado nossas obrigações sacerdotais. No Antigo Testamento, temos
além de Jó,
dois outros grandes
intercessores: Moisés e Samuel.
E ambos tiveram
sua qualidade como intercessores reconhecida (Jr 15.1). Samuel, aliás, considerava um grave pecado deixar de
interceder pelo povo: “E, quanto
a mim, longe de mim que
eu peque contra o
SENHOR, deixando de
orar por vós; antes,
vos ensinarei o caminho bom e direito” (I Sm 12:23).
2. O sacerdócio de Jó.
Mesmo em frangalhos, e mesmo não passando de
ruínas, deveria Jó, naquele momento, atuar como sacerdote daqueles que muito o
feriram com suas palavras. Que incrível
semelhança com o
Senhor Jesus Cristo! Nosso Salvador,
embora tenha sido
retratado pelo profeta como alguém desprovido de parecer e
formosura, intercedeu por nós pecadores (Is 53.2,3,12). Se este retrato que o
profeta revela do Senhor parece forte, o que diremos da pintura que do mesmo
Salvador faz Davi: “Mas eu sou verme, e
não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo” (SI 22.6)?
No auge da angústia, Jó era mui semelhante ao
Senhor Jesus. Mas quão distante achava-se ele da glória exterior do
sacerdócio araônico! No entanto,
caber-lhe-ia orar por seus amigos,
e por seus amigos
oferecer os sacrifícios
prescritos pelo Senhor.
Tem você orado por seus amigos? Tem jejuado
por eles? Ainda que estes
o firam com palavras e
atos, não deixe
de apresentá-los diante do
Senhor. Intercedendo pelos
que o magoam, será mudado o seu
cativeiro. Muitos crentes não são restaurados, porque não aprenderam ainda o
valor da oração altruística e sacrificial; esta é a oração, na qual o filho de
Deus, esquecendo-se si, lembra
ao Pai aqueles
que suspiram pelo aconchego dos irmãos.
III. A Restauração de Jó
Eis que o Senhor põe-se a virar o cativeiro
de Jó; restaura- o integralmente. Se tudo ele perdera por completo e de uma
só vez,
de forma duplicada o Senhor o
abençoa. Se aquela tribulação não lhe tivesse sobrevindo,
como se haveria diante daqueles que, latentemente, já lhe minavam a resistência
espiritual e a harmonia do lar? Por conseguinte, temos de encarar como bênção
as provações que o Senhor permite venham sobre nós. Por mais duras e aparentemente
implacáveis, representam elas uma porta de escape. Cortland Myers, pondo-se a
falar sobre a utilidade das
provações na vida do crente,
faz uma solene advertência: “Algum dia Deus revelará a cada cristão o
fato de que as coisas contra as quais nos rebelamos foram os instrumentos que
ele utilizou para aperfeiçoar e modelar nossos caracteres”.
A essas alturas de sua prova, já sabia o
patriarca por que houvera passado por todas aquelas dificuldades. E Deus, que o
conduzira ao crisol, leva-o agora à bonança, virando-lhe o cativeiro.
I. O cativeiro cativado.
“E o
SENHOR virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o SENHOR
acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía” (Jó
42.10).
O Senhor virou o cativeiro de Jó. O que
significa exatamente esta expressão?
Que o Senhor Deus, em sua infinita misericórdia, tornou cativo o
cativeiro de Jó. Lembra-nos isto a triunfante ressurreição de Cristo: “Subindo
ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens” (Ef 4.8). Eis por que,
no momento mais agudo de sua provação, confessou o patriarca: “Porque eu sei
que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
Levantando-se o Redentor de Jó de sobre a terra, todo o cativeiro deste foi
mudado; Ele levou cativo o seu cativeiro”. Diz o hebraico: Iavé shav et-shavit
Iov. Sim, o Senhor cativou o cativeiro de Jó.
Virando-lhe o cativeiro, pôs-se o Senhor a
restaurar completamente o patriarca. Juntamente com o avivamento espiritual,
veio também a restauração mais que duplicada de tudo o que o patriarca perdera.
2. Restauração espiritual.
Humilha-se Jó, reconhecendo a sua
pequenez: “Bem sei eu que tudo podes, e
nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido. Quem é aquele, dizes tu, que sem
conhecimento encobre o conselho? Por isso, falei do que não entendia; coisas
que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia. Escuta-me, pois,
e eu falarei; eu te perguntarei, e tu ensina-me. Com o ouvir dos meus ouvidos
ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso, me abomino de me arrependo no
pó e na cinza” (Jó 42.6).
Jó reconhece a soberania divina. Por
conseguinte, não lhe caberia questionar a Deus acerca da prova a que fora
submetido. Não era Jó o barro? E Deus? Não era o Oleiro? Então que o barro se
entregasse inteiramente ao Oleiro; Ele sabe o que está fazendo. E se Deus pode
todas as coisas, nenhum de seus desígnios será impedido. Ele faz o que quer.
Isto não significa, porém, que Deus fará alguma coisa que contrarie a sua
natureza justa e santa. Sendo Ele amor, tudo fará a fim de que todas as coisas
concorram para o bem daqueles que o amam.
.Se
antes possuía Jó uma fé meramente intelectual, agora já tem um encontro
experimental com o Senhor. Antes, conhecia a Deus só de ouvir; agora os seus
olhos o vêem. Que experiência maravilhosa! Sim,
agora, os meus olhos o vêem: atab
eini raateka.
Antes Jó falara do que não entendia, mas
agora emudece diante das maravilhas que o Senhor lhe mostra. E se o patriarca
não houvera sido submetido a todo aquele crisol? Com o passar dos tempos,
poderia perder até mesmo a confiança no Senhor.
Compreendendo os planos de Deus,
humilha-se Jó diante do Senhor. Eis o homem restaurado. Tudo começa quando nos
humilhamos diante de Deus.
A restauração material de Jó era apenas um
pequeno detalhe naquela obra que o Senhor realizava em sua vida. Infelizmente,
não são poucos os que, no crisol divino, preocupam-se muito mais com o passageiro
do que com o eterno. Não podemos nos esquecer que, buscando o Reino de Deus, as
outras coisas nos são automaticamente acrescentadas.
3. Restauração material.
O
Senhor acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía: “E,
assim, abençoou o SENHOR o último estado de Jó, mais do que o primeiro; porque
teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil
jumentas” (Jó 42.12,13).
Mesmo hoje seria Jó considerado um homem mui
rico. Se antes da provação, era já considerado o maior do Oriente, agora
torna-se um dos varões mais poderosos
do terra. Na vida de Jó, a prosperidade não era uma teologia; era uma devoção
amorosa e sacrificial; algo que lhe fazia parte da mordomia com a qual servia a
Deus e ao próximo.
4. Restauração
social de Jó.
Os que
desprezaram a Jó, estando este na angústia, agora presenteiam-no como se fora
ele um príncipe:“
Então, vieram a ele todos os seus irmãos e
todas as suas irmãs e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele pão
em sua casa, e se -condoeram dele, e o consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro,
e cada um, um pendente de ouro” (Jó 42.11).
Jó,
agora, é exaltado
diante de todos
os seus amigos
e parentes. Vêm estes e trazem-lhe suas dádivas. E, assim, pôde ele
recompor o seu patrimônio e reconstruir a sua vida econômica. Deus jamais nos abandona.
Aliás, usa Ele os que nos abandonaram, a fim de que nos
acolham.
5. Restauração doméstica de Jó.
Embora a Bíblia não o revele, a esposa de Jó
veio a se converter ao Senhor, fazendo-se partícipe de toda a ventura do
esposo. E se este, no auge do desespero, houvera despedido a mulher? Seria
inconcebível uma vida espiritual restaurada sem um lar plenamente refeito.
A mulher que antes fora contada entre as
loucas, arrependeu-se de seus pecados,
passou a respeitar o esposo e a este consolou com dez maravilhosos filhos: “Também teve sete filhos e três filhas. E
chamou o nome da primeira, Jemima, e o nome da outra, Quezia, e o nome da
terceira, Quéren- Hapuque” (Jó
42.13,14). Acrescenta o escritor sagrado que, em toda a terra, não havia mulheres
tão belas quanto as filhas de Jó.
Querido irmão, não permita seja o seu lar
destruído. Lute por sua esposa e filhos; reconstrua o seu casamento. Nenhuma
restauração é possível sem um lar forte e bem constituído.
6. Restauração histórica de Jó.
O
homem que fora tão caluniado por Satanás, tão incompreendido pela esposa e tão
acusado pelos amigos,
entra agora para uma
exclusivíssima galeria; é posto entre os três mais piedosos homens de
todos os tempos: “Ainda que Noé, Daniel
e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor JEOVÀ, que nem filho nem
filha eles livrariam, mas só livrariam
a sua própria alma pela sua justiça” (Ez 14.20). Pode haver maior honra
do que esta?
Deus
não permite fiquem os seus servos
sem a devida honra; reabilita-os a fim de que todos
venham a glorificar-lhe o nome. Se você tem sido caluniado por Satanás; se os
amigos já não o tem em consideração, não se preocupe. Nós temos um Deus que
tudo fará para colocar-nos num lugar de honra e destaque.
Conclusão
Afirmou um crítico literário, certa vez, que
dois são os defeitos do Livro de Jó. O
primeiro é que o antagonista da história — Satanás — sai de cena ainda no
prólogo. E o segundo é que, diferentemente dos dramas gregos, romanos e ingleses,
a história de Jó tem um final feliz. Não obstante, acrescenta o crítico, o Livro
de Jó é o mais belo poema de todos os tempos.
O que os críticos seculares classificam de
defeito, nós chamamos de perfeição. Pois, de uma forma magistral, o autor sagrado pôde conduzir o drama de Jó
sem a presença do adversário. E se o Livro de Jó é concluído com final feliz, é
por que se manteve com absoluta fidelidade aos fatos. Se os gregos, romanos e
ingleses não se afeitam aos finais felizes, os que servimos a Deus sabemos que,
apesar das intempéries, sempre haverá um final surpreendentemente venturoso
àqueles que confiam nas promessas
do Pai celeste.
Conforte-se na história de Jó! Se
as suas angústias
são grandes, maiores ser-lhe-ão as consolações. De toda essa provação, sairá
alguém bem melhor.
Em sua história, também haverá um final feliz.
E não se esqueça: “Orando também juntamente
por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do
mistério de Cristo” (Cl 4.3).
A Deus toda a glória! Aleluia!
COMENTÁRIO DE JÓ CLAUDIONOR DE
ANDRADE
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