TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Cantares
1.1-3,15,16; 2.1-5; 5.6,8.
Cântico dos
cânticos, que é de Salomão.
Beije-me ele com
os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho.
Suave é o aroma
dos teus ungüentos; como o ungüento derramado é o teu nome; por isso as virgens
te amam.
Eis que és
formosa, ó meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.
Eis que és formoso, ó amado meu, e também amável; o nosso leito é verde.
Eu sou a rosa de
Sarom, o lírio dos vales.
Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas.
Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos;desejo
muito a sua sombra, e debaixo dela me assento;e o seu fruto é doce ao meu
paladar.
Levou-me à casa do banquete, e o seu estandarte sobre mim era o amor.
Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor.
Eu abri ao meu amado, mas já o meu amado tinha se retirado, e tinha ido; a
minha alma desfaleceu quando ele falou; busquei-o e não o achei, chamei-o e não
me respondeu.
Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me,
tiraram-me o manto os guardas dos muros.
Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que, se achardes o meu amado, lhe digais
que estou enferma de amor.
TEXTO ÁUREO
Põe‐me
como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é
forte como a morte. (...) As muitas águas não poderiam apagar esse amor nem os
rios afogá‐lo.
Cantares
8.6a,7a
OBJETIVOS
Conhecer
as principais características do Livro de
Cantares;
saber que a foco do livro é o amor entre um homem e uma mulher, e os temas
secundários da obra giram em torno deste tema; desenvolver uma visão bíblica
acerca da sexualidade humana e sua correta função: Deus a projetou para promover
intimidade e comunhão conjugal dentro do contexto do casamento.
INTRODUÇÃO
Muito
embora o tema de Cantares dê a impressão de não estar em sintonia com os
assuntos encontrados nos demais livros da Palavra de Deus, ele exerce função relevante
na literatura hebraica de sabedoria. O autor sagrado, de forma assistemática,
ensina seus leitores a como realizar escolhas sábias durante a existência terrena
no que diz respeito à sexualidade e ao amor.
CONCLUSÃO
Possivelmente, o maior proveito que tenhamos ao estudar Cantares seja a certeza de que o amor é uma dádiva de Deus e deve ser considerado como tal. O que o Senhor criou e declarou bom (Gn 1.31) precisa ser desfrutado no âmbito conjugal. A exposição otimista da sexualidade neste livro traz o equilíbrio necessário ao impedimento da manifestação sexual ilegítima observada nas demais partes das Escrituras.
Deus
abençoe
sua vida!
(Revista:
Central Gospel - nº 45)
Central Gospel -
Livros poéticos: sabedoria, temor de Deus e as grandes questões da vida
COMENTARISTA:
JOÁ CAITANO
CANTARESDE SALOMÃO
Introdução
Tanto Cantares de Salomão como o título
alternativo O Cântico dos Cânticos vêm do primeiro versículo do livro. O
cabeçalho Cântico dos Cânticos é uma tradução literal do hebraico shirhashirim.
Essa linguagem coloca a ênfase na qualidade superlativa — portanto o cântico é
descrito como o melhor ou o mais excelente cântico (cf. Gn 9.25; Êx 26.33; Ec
L2). Na Vulgata (Bíblia latina) o livro é chamado de Cânticos.
Nas escrituras hebraicas, Cantares é o
primeiro de cinco livros curtos chamados "Rolos" (Megilloth). Os
óutros quatro são Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester. Cada um desses livros
era lido em um dos grandes festivais anuais judeus, sendo que Cantares era
usado na época da Páscoa dos judeus.
A. FORMA LITERÁRIA
Cantares é um exemplo da poesia hebraica
lírica; é por isso que as traduções para as línguas modernas são dispostas de
forma poética (cf. Berkeley, RSV, Moffatt). Este antigo poema hebraico não
tinha rima ou métrica como em nossa forma ocidental. Existe muito mais um
equilíbrio e um ritmo de pensamentos do que de silabas ou sons. As linhas são
distribuídas de tal forma que o pensamento é apresentado de maneiras
diferentes, pela repetição, ampliação, contraste ou resposta,1 como em 8.6:
Porque
o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas
são brasas de fogo, labaredas do SENHOR.
B. INTERPRETAÇÃO
Intérpretes concordam que Cantares de Salomão
é um poema que tem como tema o amor, mas além disso existem diferenças grandes
de interpretação. Alegórica. Desde a época do Talmude (ca. 150 a 500 d.C.) era
comum entre os judeus classificar este livro como uma música alegórica do amor
de Deus por seu povo escolhido. Seguindo esse padrão, os cristãos viram essa
idéia no contexto do amor de Cristo pela igreja. J. Hudson Taylor, seguindo o
pensamento de Orígenes, encontrou aí uma descrição do relacionamento do crente
com o seu Senhor.2
É
natural que a interpretação alegórica tenha encontrado adeptos entre os homens
devotos e estudiosos desde antigamente até os dias de hoje. O amor terreno
imutável é o nosso relacionamento humano mais precioso e significativo. Sabemos
que o nosso relacionamento com Deus deveria ser ao menos tão perfeito e de tão
excelente qualidade quanto esse, então empregamos as nossas melhores
ilustrações humanas na tentativa de descrever o amor e a resposta
humano-divina.
Mas
apesar do que foi dito a favor de uma interpretação alegórica do livro, este
ponto de vista contém um defeito decisivo. Adam Clarke, o deão dos comentaristas
wesleyanos, está entre aqueles que expõem essa fraqueza.
Se essa maneira de interpretação [alegórica]
fosse aplicada às Escrituras em geral, (e por que não, se é legítimo aqui?) a
que estado a religião logo chegaria! Quem poderia ver qualquer coisa certa,
determinada e estabelecida no significado dos oráculos divinos, quando fantasia
e imaginação devem ser os intérpretes-padrão? Deus não entregou a sua palavra à
vontade do homem dessa maneira [...] nada [deveria ser] recebido como a
doutrina do Senhor a não ser o que deriva daquelas palavras claras do Altíssimo
[...]
Alegorias, metáforas e figuras de linguagem em
geral, nas quais o desígnio está claramente indicado, que é o caso de todas
aquelas empregadas pelos autores sacros, deveriam ilustrar e aplicar de forma
mais clara a verdade divina; mas extrair à força significados celestiais de um
livro santo onde não existe tal indicação, com certeza não é o caminho para se
chegar ao conhecimento do Deus verdadeiro, e de Jesus a quem Ele enviou.'
Ao contrário da opinião de alguns
estudiosos, parece questionável que a interpretação alegórica entre os judeus
tenha sido um fator importante para a inclusão de Cantares no cânon do Antigo
Testamento. O cânon foi finalmente aprovado por volta do fim do primeiro século
d.C., e as interpretações alegóricas que são conhecidas há mais tempo aparecem
no Talmude (do século II ao século V). Gottwald diz: "É provável que a
interpretação alegórica tenha surgido após a canonicidade, e não antes
dela".4 É verdade que Orígenes e outros pais da igreja mantiveram a
interpretação alegórica de Cantares. Mas Orígenes aplicou este mesmo método a
outros livros da Bíblia, e nós já não aceitamos essa interpretação como válida
para eles. Então por que seria necessário aceitá-la no caso de Cantares de
Salomão?
Meek
escreve: "A interpretação alegórica poderia fazer com que o livro
significasse qualquer coisa que a imaginação fértil do intérprete pudesse
inventar, e, no final, as suas próprias extravagâncias seriam a sua ruína, de
forma que hoje esta escola de interpretação praticamente desapareceu".5
Literal. Com base nas premissas expressas
acima está claro que o método alegórico deve ser rejeitado por ser um caminho
inaceitável de interpretar a Bíblia. Por essa razão só aceitamos os métodos que
nos permitem extrair o significado das palavras com base no sentido claro
delas, como foram escritas. Fundamentado nisso, o Cantares de Salomão está
falando do amor humano entre um homem e uma mulher. Foi esse amor que estava
faltando quando Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei
uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gn 2.18). Mas mesmo quando Cantares
é interpretado de maneira literal, existe uma grande variedade de
interpretações.
Cultual. Com a descoberta das antigas
liturgias de culto do Oriente Próximo, emergiu uma teoria que interpretava o
Cantares como um ritual pagão que havia sido secularizado ou até se adaptado
para o louvor de Javé. Mas Gottwald ressalta que "existiriam problemas
terríveis" se aceitássemos esta interpretação.'
Lírica. Entre os intérpretes contemporâneos
tem sido comum explicar o Cantares como uma coleção de poemas de amor que
descrevem a beleza física, cantados em casamentos sírios, e talvez em outras
épocas, quando o amante ansiava expressar sua afeição por sua amada. Este ponto
de vista pode elucidar a origem de algumas passagens em Cantares, mas não
consegue explicar as evidências de unidade do livro.'
Três
personagens. Este ponto de vista foi desenvolvido primeiramente por Ibn Ezra,
popularizado por J. F. Jacobi (1771), e explicado de maneira detalhada e
cuidadosa por Heinrich Ewald (1826).8 Mesmo Meek, que rejeita esse ponto de
vista, escreve: "Se o livro deve ser interpretado literalmente, existem dois
amantes, um rei e um pastor".8 Em 1891 Driver escreveu: "De acordo
com [...] [esse] ponto de vista [...] aceito pela maioria dos críticos e
intérpretes modernos, existem três personagens, isto é: Salomão, a serva
sulamita e seu amante pastor"." Esta perspectiva foi defendida e
desenvolvida mais recentemente por Terryll e Pouget.12
De
acordo com a interpretação dos três personagens, a jovem mulher era a única
filha entre vários irmãos que pertenciam a uma mãe viúva morando em Suném (veja
mapa 3). Ela se apaixonou por um belo jovem pastor e eles então noivaram.
Enquanto isso, em uma visita pela vizinhança, o rei Salomão foi atraído pela
beleza e graça da jovem. Ela foi levada à força para a corte de Salomão ou
simplesmente sob um impulso do momento (cf. 6.12) que veio dela mesma em acordo
com os servos do rei. Aqui o rei tentou cortejá-la, mas foi rejeitado. Por
causa da urgência que sentia, Salomão tentou fasciná-la com sua pompa e
esplendor. Mas todas as suas promessas de jóias, prestígio e a mais alta
posição entre suas esposas não conquistaram o amor da jovem. De modo
imperturbável ela declarou o seu amor pelo seu amado do campo. Finalmente,
reconhecendo a profundidade e a natureza do seu amor, Salomão permitiu que a
moça deixasse sua corte. Acompanhada pelo seu querido pastor, ela deixou a
corte e retornou ao seu humilde lar no campo.
Se essa interpretação for aceita, o tema do
livro é a fidelidade ao amor em vez do amor conjugal somente, como se estivesse
lidando com apenas dois personagens.
Ainda
que existam problemas nessa interpretação, eles não são insolúveis. Este ponto
de vista foi defendido por muitos estudiosos da Bíblia competentes e é aprovado
pelo autor como a melhor base para esboçar e explicar o conteúdo do livro. Ao
defender essa postura, deve-se admitir que as decisões quanto a quem está
falando são totalmente subjetivas. Cada verso no livro é colocado nos lábios de
algum orador na forma de discurso direto. Não existe, no entanto, qualquer
indicação em nenhum momento que afirme ao leitor quem está falando. O esboço
seguido neste comentário reflete uma concordância geral entre intérpretes que
aceitam a interpretação dos três personagens. Há, com certeza, diferenças
pequenas até mesmo entre aqueles que concordam acerca das divisões gerais.
Nesses casos, o autor aceita a responsabilidade de escolha entre as
alternativas.
C. AUTORIA
Já que as opiniões diferem entre si tão
amplamente no que tange à interpretação, é natural que exista pouca
concordância entre os estudiosos quanto a autoria do livro.
O
ponto de vista tradicional, baseado em 1.1, é que o livro foi escrito pelo rei
Salomão. Mas a linguagem do versículo pode ser entendida como de Salomão, para
Salomão, ou sobre Salomão. Muitos estudiosos rejeitam essa posição tradicional
tendo por base que o livro possui palavras em aramaico que não existiam em
Israel nos tempos de Salomão. Como resposta, alguém pode dizer que, em vista do
contato de Israel com o mundo afora, tais termos poderiam ter sido facilmente
aprendidos e usados nesse período."
Se
aceitamos a interpretação dos três personagens adotada neste comentário, a
autoria de Salomão é questionada com base em fundamentos psicológicos.
Argumenta-se que não seria muito comum o rei Salomão contar a história de sua
rejeição por essa jovem, pela qual ele teria se apaixonado. Mas não seria
sustentável que um homem com a mente e disposição filosófica como as de Salomão
poderia ter escrito o Cântico como o temos hoje? Não é provável que ele o teria
feito de imediato. Mas não poderia um Salomão mais velho e mais sábio, ao
lembrar dessas experiências, ter se sentido motivado a escrever esse relatório?
Será que não existe um ponto de referência, principalmente no fim da vida, a
partir do qual a pessoa pode apreciar os fortes ímpetos da atração física,
reconhecer as alegrias do amor humano e ao mesmo tempo dar um alto valor à
lealdade constante que coloca a integridade acima da fascinação pela nobreza e
riqueza? Se foi psicologicamente possível ao rei liberar com honra a jovem que
ele poderia ter mantido pela força, não parece impossível o mesmo homem ter
escrito a história. Sampey escreve: "Aos estudantes e editores posteriores
a beleza e a força do livro parecem ter construído a dignidade literária do
talentoso rei, cuja fama como escritor de provérbios e cânticos foi transmitida
a épocas posteriores"»
O que devemos concluir? Dois estudiosos
recentes e conservadores discordam. Woudstra (embora não aceite a interpretação
dos três personagens) escreve: "Não existem bases suficientes para
desviar-se desse ponto de vista histórico [a autoria de Salomão]"."
Cameron confirma: "Se Ewald for seguido quando afirma que existe um amante
pastor [...], a convicção na autoria de Salomão é fracamente sustentável, e é
impossível descobrir quem é o autor"."
D. DATA
Datar
o livro depende do ponto de vista que temos acerca do seu autor. Se Salomão
escreveu o Cantares, precisa ser datado no século X a.C. Os eruditos que
procuram datá-lo de acordo com a ocorrência de palavras estrangeiras no texto
situam o livro entre 700 a.C. e 300 a.C.
Esboço
I. NOME E IDENTIFICAÇÃO, 1.1
II. ACORDANDO
PARA A REALIDADE, 1.2-4a
III. A PRIMEIRA
VISITA DO REI, 1.4B-2.7
A.
A Sulamita e as Solteiras, 1.4b-8
B.
Salomão e a Sulamita, 1.9-2.7
IV UMA VISITA E
UM SONHO, 2.8-3.5
A.
A Visita do Amado, 2.8.17
B.
O Primeiro Sonho do Amado, 3.1-5
V. O REI
NOVAMENTE COMO PRETENDENTE, 3.6-5.1
A.
O Cortejo Real, 3.6-11
B.
O Segundo Pedido de Casamento do Rei, 4.1-5.1
VI. O CÂNTICO DO
AMADO, 5.2-6.3
A.
O Segundo Sonho da Sulamita, 5.2-8
B.
O Cântico da Sulamita para o seu Amado, 5.9-6.3
VII. A PROPOSTA
SUPREMA DO REI, 6.4-8.4
A.
O Cortejo Entusiástico, 6.4-10
B.
A Rejeição Eficaz, 6.11-12
C.
A Súplica das Mulheres, 6.13-7.5
D.
A Paixão em Chamas, 7.6-9
E.
O Clamor por Amor Verdadeiro, 7.10-8.4
VIII. REUNIÃO E
REFLEXÃO, 8.5-14
A.
O Tributo da Sulamita ao Amor, 8.5-7
B.
Um Lembrete e uma Resposta, 8.8-12
C.
Afinal, a Recompensa do Amor, 8.13-14
FONTE:
Cântico dos Cânticos
Deus honra o amor conjugal puro
TÍTULO
A versão grega (Septuaginta) e a versão latina
(Vulgata) seguem o hebraico (texto massorético) com a tradução literal das duas
primeiras palavras em 1:1 — “Cântico dos Cânticos”. Algumas versões na nossa
língua traduziram como “Cantares de Salomão”, fornecendo, desse modo, o sentido
completo de 1:1. O superlativo, “Cântico dos Cânticos” (cf. “Santo dos Santos”,
em Êx 26:33-34 e “Rei dos Reis”, em Ap 19:16), indica que esse cântico é o
melhor dentre as 1.005 obras musicais de Salomão (1Rs 4:32). A palavra
traduzida por cântico normalmente se refere à música que honra ao Senhor (cf.
1Cr 6:31-32; Sl 33:3; 40:3; 144:9).
AUTOR E DATA
Salomão, que governou o reino unido por
quarenta anos (971-931 a.C.), é citado pelo nome sete vezes nesse livro (1:1,5;
3:7,9,11; 8:11-12). Diante de suas habilidades de escritor, do seu talento
musical (1Rs 4:32), e do significado de autoria, e não de dedicatória de 1:1,
essa parte da Escritura pode ter sido escrita em qualquer momento durante o seu
reinado. Uma vez que as cidades do norte e do sul são citadas nas descrições e
viagens de Salomão, ambos os períodos retratados e a época em que o livro foi
escrito apontam para o reino antes de sua divisão, o que ocorreu após o término
do seu reinado. Como essa parte das Escrituras contém um cântico escrito por um
único autor, é melhor considerá-la como um acréscimo à literatura poética e de
sabedoria em vez de uma série de poemas de amor sem um tema ou autor comum.
CENÁRIO E CONTEXTO
Dois
personagens predominam nesse dramático e verdadeiro cântico de amor. Salomão,
cujo reinado é mencionado cinco vezes (1:4,12; 3:9,11; 7:5), aparece como “o
amado”. A jovem sulamita (6:13) permanece obscura; é muito provável que ela
morasse em Suném, aproximadamente 5 km ao norte de Jezreel, na parte mais baixa
da Galileia. Alguns estudiosos sugerem que ela era a filha do faraó (1Rs 3:1),
ainda que o livro não apresente nenhuma evidência para essa conclusão. Outros
sugerem que se tratava de Abisague, a sunamita que cuidou do rei Davi (1Rs
1:1-4,15). O mais provável é que ela tenha sido uma jovem desconhecida
proveniente de Suném, cuja família havia sido empregada por Salomão (8:11). Ela
teria sido a primeira esposa de Salomão (Ec 9:9), antes de ele pecar por tomar
outras 699 esposas e 300 concubinas (1Rs 11:3).
GEOGRAFIA DE CÂNTICO DOS CÂNTICOS
Outros personagens de menor relevância
representam diferentes grupos nesse livro. Primeiro, observe os comentários
frequentes das “Mulheres de Jerusalém” (1:5; 2:7; 3:5; 5:8,16; 8:4), que
poderiam fazer parte da equipe de servos do palácio (cf. 3:10). Segundo, os
amigos de Salomão ingressam em 3:6-11; e, terceiro, vêm os irmãos da sulamita
(8:8-9). É provável que a afirmação de 5:1b seja a bênção de Deus sobre a união
do casal. Pode-se acompanhar a narrativa observando as partes sugeridas
conforme indicadas nos títulos das seções ao longo do livro.
O
cenário combina paisagens rurais e urbanas. Algumas cenas acontecem no monte ao
norte de Jerusalém, onde a sulamita morava (6:13) e onde Salomão conquistou
proeminência como viticultor e pastor (Ec 2:4-7). A seção urbana inclui a festa
de casamento e o período posterior na residência de Salomão em Jerusalém
(3:6—7:13).
A
primeira primavera aparece em 2:11-13 e a segunda, em 7:12. Se considerarmos
uma cronologia sem nenhuma interrupção, o conteúdo de Cântico dos Cânticos
aconteceu por um período mínimo de um ano, mas, provavelmente, não mais do que
dois anos.
TERMINOLOGIA EM CÂNTICO DOS CÂNTICOS
PRINCIPAIS PERSONAGENS
Rei Salomão — o noivo; chamado de “amado” por
sua esposa (1:7— 8:12).
A Sulamita — a nova noiva do rei Salomão
(1:1—8:13).
As Mulheres de Jerusalém — virgens não
identificadas que incentivaram a Sulamita (1:4; 2:14; 3:5,10-11; 5:1,8; 6:1,12;
8:4).
CASAIS APAIXONADOS
TEMAS HISTÓRICOS
E TEOLÓGICOS
Todos
os 117 versículos de Cântico dos Cânticos são reconhecidos pelos judeus como
parte de seus escritos sagrados. Juntamente com Rute, Ester, Eclesiastes e
Lamentações, ele pertence ao Megilote dos livros do AT ou “cinco rolos”. Os
judeus leem esse cântico na Páscoa, chamando-o de “o Santo dos Santos”.
Surpreendentemente, Deus não é mencionado de modo explícito, exceto,
possivelmente, em 8:6. Não há destaque para nenhum tema teológico. O NT nunca
cita Cântico dos Cânticos de modo direto (nem Ester, Obadias ou Naum).
Em
contraste com os dois extremos distorcidos da abstinência ascética e da luxúria
pervertida fora do casamento, o antigo cântico de amor de Salomão exalta a
pureza do afeto e do romance conjugal. O cântico faz um paralelo e reforça
outras partes da Escritura que retratam o plano de Deus para o casamento,
incluindo a beleza e a santidade da intimidade sexual entre marido e mulher. O
Cântico se coloca ao lado de outras passagens clássicas da Escritura que
detalham esse tema (por exemplo, Gn 2:24; Sl 45; Pv 5:15-23; 1Co 7:1-5; 13:1-8;
Ef 5:18-33; Cl 3:18-19; e 1Pe 3:1-7); a passagem de Hebreus 13:4 capta a
essência dessa canção: “O casamento deve ser honrado por todos; o leito
conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros”.
PALAVRAS-CHAVE
Amado:
em hebraico, dod
— 1:14; 2:8; 4:16; 5:1,6,10; 6:1; 8:14. Na poesia de amor hebraica, dod é a
palavra carinhosa usada para a pessoa amada do sexo masculino, normalmente
traduzida como “amado” (Is 5:1). O autor do Cântico dos Cânticos emprega essa
palavra 32 vezes. O nome Davi é derivado de dod e carrega o mesmo sentido, com
significado de “querido”. Quando dod é empregado na narrativa, significa “tio”
ou outro parente próximo do sexo masculino (1Sm 14:50).
Mirra:
em hebraico, mor
— 1:13; 3:6; 4:6,14; 5:1,5,13 —, descreve um sabor amargo. Essa palavra deriva
do verbo marar, que significa “ser amargo”. A mirra é feita da goma ou seiva da
casca de uma árvore de bálsamo árabe. A resina era prensada e misturada com
óleo para produzir perfume (1:13; 5:1), incenso (3:6) e loção (Et 2:12). Noemi
tomou o nome Mara como símbolo da amargura que havia experimentado em sua vida
(Rt 1:20), e o menino Jesus foi presenteado com mirra pelos magos (veja Mt
2:11). A mirra era também uma especiaria de embalsamento nos tempos do NT e foi
usada no corpo de Jesus (Jo 19:39).
PRINCIPAIS DOUTRINAS
O amor
de Deus refletido no amor humano — (6:2-3; Gn 29:20; Lv 19:18; 2Cr 36:15; Mt
14:14; Lc 15:20-24; Fp 1:8).
A graça de Deus concedida por meio do casamento
(Rt 1:9; Ez 16:6-8; Mt 1:20; Hb 13:4; 1Pe 3:7).
O
CARÁTER DE DEUS
Deus
é fiel — 8:5.
Deus
é amoroso — 8:6.
Deus
é puro — 3:5; 4:1-16.
DESAFIOS DE INTERPRETAÇÃO
O
Cântico dos Cânticos tem recebido algumas interpretações artificiais ao longo
dos séculos por aqueles que usam o método de interpretação “alegórico”,
afirmando que o livro não tem bases históricas verdadeiras, mas que todo o seu
conteúdo descreve o amor de Deus por Israel e/ou o amor de Cristo pela igreja.
A ideia equivocada que encontramos na hinologia de que Cristo é a rosa de Sarom
e o lírio dos vales resulta desse método (2:1). A variação “tipológica” admite
a realidade histórica, mas conclui que o livro tem como objetivo final
descrever o amor de Cristo, o noivo, pela igreja, a noiva.
CRISTO EM CÂNTICO DOS CÂNTICOS
As
palavras de Salomão pintam, de forma íntima, o retrato do casamento. Além
disso, Cântico dos Cânticos ilustra o relacionamento espiritual entre Deus e
Israel, seu povo escolhido, e até o relacionamento que Deus deseja ter com cada
indivíduo. Salomão busca expressar o amor do amado por sua noiva. Esse mistério
pode apenas ser totalmente revelado no relacionamento íntimo entre Cristo e a
Igreja (Ef 5:32).
Outro
modo de abordar o Cântico dos Cânticos é tomá-lo como se apresenta e
interpretá-lo no sentido histórico normal, entendendo o frequente uso da imagem
poética para descrever a realidade. Ao agir dessa maneira, compreendemos que
Salomão narra: (1) seus dias de namoro, (2) os primeiros dias do seu primeiro
casamento, seguidos pelo (3) amadurecimento de seu casamento real durante os
altos e baixos da vida. O Cântico dos Cânticos detalha as antigas instruções
para o casamento contidas em Gênesis 2:24, fornecendo, assim, a música
espiritual para uma vida conjugal harmoniosa. O livro é dado por Deus com a
finalidade de demonstrar a sua intenção para o romance e o amor do casamento, a
mais preciosa das relações humanas e a “graça da vida” (1Pe 3:7).
ENQUANTO ISSO,
EM OUTRAS PARTES DO MUNDO...
O
culto grego aos deuses alcança pleno desenvolvimento. Os principais deuses
incluem Zeus, Hera, Posídon, Apolo, Ares, Deméter, Atena, Hermes e Ártemis.
ESBOÇO
I. O namoro
(1:2—3:5)
A.
As lembranças dos amantes (1:2—2:7)
B.
As expressões de amor recíproco dos amantes (2:8—3:5)
II. A festa do
casamento: união (3:6—5:1)
A.
O noivo real (3:6—5:1)
B.
O casamento e a primeira noite juntos (4:1—5:1a)
C.
A aprovação de Deus (5:1b)
III. A vida
conjugal: entrelaçamento (5:2—8:14)
A.
O primeiro grande desentendimento (5:2—6:3)
B.
A restauração (6:4—8:4)
C.
Crescendo na graça (8:5-14)
RESPOSTAS PARA PERGUNTAS DIFÍCEIS
1.
O Cântico dos
Cânticos deve ser interpretado como o amor entre dois indivíduos ou como uma
alegoria do amor de Deus por Israel ou de Cristo pela igreja?
Interpretações alegóricas deste livro tendem a
ser artificiais. Negar o contexto humano e histórico do Cântico gera mais
incômodo com o tema do que entendimento acerca da natureza da Escritura. A
linguagem alegórica e idealista empregada por amantes pode levar alguém a tomar
liberdade e alegorizar a experiência toda, porém, os próprios amantes se
oporiam a isso. A prática da alegorização desse livro é exterior às estruturas
teológicas e filosóficas, não se baseando no conteúdo do próprio livro.
Uma forma de interpretação semelhante à
alegorização toma uma abordagem “tipológica”. Começa reconhecendo a validade
histórica do relato, mas também insiste que somente a linguagem idealizada dos
amantes pode, em última análise, descrever com exatidão o tipo de amor que
Cristo demonstrou em relação à sua igreja.
Um modo mais satisfatório de abordar o Cântico
é tomá-lo como se apresenta e interpretá-lo no sentido histórico normal,
entendendo o uso da imagem poética para retratar a realidade. Essa
interpretação afirma o relato de Salomão das três fases de seu relacionamento
com a Sulamita: seus dias de namoro, os primeiros dias do casamento e o
amadurecimento do casamento real ao longo dos dias bons e ruins da vida
conjugal.
APROFUNDAMENTO
1. De que formas o Cântico dos Cânticos capta
a intensidade e a naturalidade do amor romântico?
2. Como o Cântico dos Cânticos expressa e
incentiva o compromisso?
3. Que fatores tornam as descrições da sexualidade
de Cântico dos Cânticos saudáveis e boas em comparação com o que, em geral,
encontramos em nossa cultura?
4. Que percepções sobre a expressão do apreço
pela beleza do(a) companheiro(a) podemos encontrar em Cântico dos Cânticos?
5. Como você descreveria o papel de Cântico dos Cânticos dentro do restante da Escritura?
Manual
bíblico MacArthur: Uma meticulosa pesquisa da Bíblia, livro a livro, elaborada
por um dos maiores teólogos da atualidade
CANTARES DE SALOMÃO
Introdução
Esboço Capítulo
1 Capítulo 3 Capítulo 5 Capítulo 7 Capítulo 2 Capítulo 4 Capítulo 6 Capítulo 8
INTRODUÇÃO
Nome, Autoria e Integridade.
Este livro, pertencente aos cinco megilloth,
ou pergaminhos, era anualmente lido pelos judeus no oitavo dia da Páscoa. O
título Cântico dos Cânticos (1:1) é a tradução literal do hebraico Shir
hash-shirim. A repetição do nome no genitivo plural é a maneira hebraica de
destacar o caráter especial do Hino: é o melhor ou o mais excelente dos hinos
(cons. Gn. 9:25; Êx. 26:33; Ec. 1:2).
Embora o primeiro versículo do capítulo
primeiro também possa ser traduzido: "O Cântico dos Cânticos que é sobre
ou relaciona-se com Salomão", o ponto de vista tradicional tem sido o de
considerar o Rei Salomão como o autor do Hino. Considerando que o conteúdo do
livro está plenamente em harmonia com os grandes dons da sabedoria que sabemos
que Salomão possuía (I Reis 4:32, 33), não temos terreno suficiente para nos
desviarmos desta posição histórica.
A
unidade do livro dificilmente poderia ser desafiada. Refrões semelhantes
aparecem em 2:7; 3:5; 8:4; as imagens são as mesmas através de todo o livro; e
os mesmos personagens aparecem repetidas vezes.
Interpretação. Quanto ao seu
gênero literário, os Cantares de Salomão obviamente constituem um poema de
amor. A dificuldade está em como interpretá-lo. Abaixo damos algumas das
variadas interpretações que têm sido apresentadas.
1. Alegórica. Esta é a interpretação comum
dos judeus da antiguidade e deles passou para a Igreja Cristã. Os judeus
consideravam o Hino como uma expressão do relacionamento amoroso entre Deus e o
seu povo escolhido. A Igreja Cristã via nele o reflexo do amor entre Cristo e a
Igreja. Essencialmente, este ponto de vista tem sido advogado por Hengstenberg
e Keil.
2. A
interpretação dramática. A essência desta interpretação, conforme advogada
por Franz Delitzsch, é que o Hino é um drama apresentando Salomão apaixonado
pela Sulamita, uma jovem inculta, a qual ele introduz no palácio real em
Jerusalém. Uma forma particular desta interpretação, a hipótese do pastor,
introduz no Hino um terceiro personagem, um pastor, ao qual a jovem sulamita
permanece fiel apesar das atitudes de Salomão.
3. A
interpretação típica. Esta interpretação também defende que no Hino foi
descrito o grande amor entre Cristo e a Igreja, sendo o Rei Salomão considerado
um tipo de Cristo, e a esposa representando a Igreja. Este ponto de vista
difere do alegórico pois tenta justificar a própria linguagem do Hino sem
buscar um significado especial em cada frase, como faz a interpretação
alegórica.
4. A
interpretação natural ou literal. O princípio básico desta interpretação é
que o Hino é um poema que exalta o amor humano. A partir deste ponto, por causa
da inclusão deste livro no cânon das Escrituras, os defensores desta
interpretação diferem grandemente quanto ao significado máximo desta canção de
amor. Este comentário foi edificado sobre a pressuposição de que a
interpretação natural está correta. Aceitando esta interpretação, o significado
canônico dos Cantares pode ser assim especificada.
a) O
livro está intitulado "o melhor dos cânticos" e sem dúvida o é. É um
hino que Adão poderia ter cantado no Paraíso quando o Senhor em sua sábia
providência entregou-lhe Eva por esposa. Em linguagem franca mas pura o livro
louva o amor mútuo entre marido e esposa, e portanto ensina-nos a não
desprezarmos a beleza física e o amor conjugal considerando-os de natureza
inferior. Considerando que são dons do Criador às Suas criaturas (cons. Tg.
1:17), são bons e perfeitos no seu lugar e no seu propósito. O livro apresenta
uma forte advertência contra o dualismo bíblico que considera o físico e o
material inferior ao espiritual, e que exalta o celibato como sendo mais
virtuoso do que o estado matrimonial.
b) Em
oposição ao parágrafo a, o Hino nos instrui a não glamorizar a beleza física e
a não idolatrar o aspecto biológico do casamento. Apesar da maneira direta pela
qual a beleza física e a atratividade são descritas, o relacionamento amoroso
descrito nos Cantares é de caráter sublime. Em nenhum lugar a descrição nem mesmo
se aproxima do que poderia ser considerado lascivo ou licencioso. Assim o Hino
descortina diante de nós o relacionamento amoroso ideal no casamento. (Sobre a
separação entre os dois amantes a que se refere, veja o comentário.) O Apóstolo
Paulo usa o casamento para ilustrar a natureza do amor entre Cristo e a Sua
Igreja (Ef. 5), mas certamente nem todo casamento reflete este laço de amor
íntimo. Só um relacionamento conjugal tão puro como o descrito nos Cantares
pode servir a tal propósito.
c) A leitura deste livro, longe de despertar
pensamentos sensuais em nossas mentes, deveria nos levar a louvar o Criador que
criou o homem à Sua própria imagem, que fez o corpo humano tão lindo, que
despertou em Adão o desejo de uma companheira igual a ele e contudo diferente,
e que entregou a primeira noiva – o próprio clímax das obras da criação – ao
seu noivo reverente. A leitura deste livro também deveria nos tornar cônscios
de nossos fracassos pecaminosos em nossa atitude para com os membros do outro
sexo em geral, e em particular nossos pecados da carne dentro do casamento.
Assim, através deste livro o Espírito Santo levará os pecadores a Cristo que
também é o Redentor e Santificador dos sagrados laços conjugais. Vendo e
experimentando a pureza e a santidade deste vínculo de amor terreno também
seremos levados a compreender melhor aquele relacionamento de amor que é
celestial e eterno, isto é, o laço de amor imaculadamente puro e indestrutível
que existe entre Cristo e a Sua Igreja.
ESBOÇO
(O livro não apresenta divisões definidamente
separadas. Damos abaixo uma sugestão de esboço.)
I. A afeição mútua entre o esposo e a esposa.
1:1 – 2:7.
II. A esposa fala de seu esposo. Seu primeiro
sonho sobre ele. 2:8 – 3:5.
III. O cortejo nupcial. O segundo sonho da
esposa. Sua conversa com as filhas de Jerusalém. 3:6 - 6:3.
IV. O esposo continua louvando a beleza da
esposa. O desejo dela é para ele. 6:4 - 8:4.
V. Expressões finais de amor mútuo. 8: 5-14.
Cantares (Comentário Bíblico Moody)
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