quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Capítulo 12 - Quando Deus Revela-se ao Homem


                                                    TEXTO ÁUREO

Então, o SENHOR respondeu a Jó desde a tempestade […]

(Jó 40.6).

VERDADE PRÁTICA

Mesmo transcendente, e distinto de sua criação, Deus se revela ao homem mortal.


Jó 38.1-4; 39.1-6; 40.15-18,24; 41.1-3.

Jó 38

1 — Depois disto, o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho e disse:

2 — Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?

3 — Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me.

4 — Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.

Jó 39

1 — Sabes tu o tempo em que as cabras monteses têm os filhos, ou consideraste as dores das cervas?

2 — Contarás os meses que cumprem ou sabes o tempo do seu parto?

3 — Elas encurvam-se, para terem seus filhos, e lançam de si as suas dores.

4 — Seus filhos enrijam, crescem com o trigo, saem, e nunca mais tornam para elas.

5 — Quem despediu livre o jumento montês, e quem soltou as prisões ao jumento bravo,

6 — ao qual dei o ermo por casa e a terra salgada, por moradas?

Jó 40

15 — Contempla agora o beemote, que eu fiz contigo, que come erva como o boi.

16 — Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder, nos músculos do seu ventre.

17 — Quando quer, move a sua cauda como cedro; os nervos das suas coxas estão entretecidos.

18 — Os seus ossos são como tubos de bronze; a sua ossada é como barras de ferro.

24 — Podê-lo-iam, porventura, caçar à vista de seus olhos, ou com laços lhe furar o nariz?

Jó 41

1 — Poderás pescar com anzol o leviatã ou ligarás a sua língua com a corda?

2 — Podes pôr uma corda no seu nariz ou com um espinho furarás a sua queixada?

3 — Porventura, multiplicará as suas suplicações para contigo? Ou brandamente te falará?

OBJETIVO GERAL

Mostrar que Deus se revelou ao homem para mostrar-lhe seus propósitos.

OBJETIVOS ESPECÍFICO

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

·         I. Ensinar que Deus se revela aos homens;

·         II. Pontuar que a criação expressa a glória de Deus;

·         III. Acentuar que nossa justiça jamais se sobreporá a divina.

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Já se perguntou o quanto Deus é grande, infinito, e que não cabe em nossa imaginação? E nós, seres pequenos, tão limitados e injustos? Como é possível um ser tão santo, justo e infinito relacionar-se com outros seres tão contrários à sua própria natureza?

Na lição de hoje veremos o quanto esse Deus tão grande se revela e relaciona com seres tão pequenos. Em Cristo Jesus, nós temos o privilégio de adentrarmos confiantemente à presença dEle. O caminho do trono divino está aberto a todo o crente por meio do Filho de Deus, Jesus Cristo. É um privilégio e um maravilhoso presente desfrutarmos da presença de Deus.

COMENTÁRI 

INTRODUÇÃO

Nesta lição vamos estudar como Deus se revelou a Jó e dialogou com o patriarca (Caps. 38 — 41). Esse episódio marca o ápice do Livro de Jó, pois mostra a quebra do silêncio divino. Ao longo desse estudo veremos que as respostas de Deus não são precisas, segundo a objetividade que os humanos esperam. Jó, portanto, é desafiado a comparar sua habilidade e sabedoria com as divinas e a responder quem, de fato, age com justiça no mundo.

 

PONTO CENTRAL

Deus se revela ao ser humano.

 


A fragilidade humana e a soberania divina — O sofrimento e a restauração de Jó

Comentarista: José Gonçalves

 




Capítulo 12 - Quando Deus Revela-se ao Homem 

  REVELAÇÃO E DEUS

   É  um  fato  bíblico  incontestável  que  Deus  sempre  se  revelou  na história  humana.  Aqui  neste  texto,  é  destacada  a  revelação  de  Deus  a  Jó, que,  sem  dúvida,  marca  o  ápice  da  narrativa  sobre  a  prova  de  Jó.  Em primeiro  lugar,  deve  ser  destacado  que  há   várias  outras  narrativas  no texto  bíblico  que  mostram  teofanias  onde  Deus  revela-se  ao  homem  de forma  maravilhosa.  Exemplos  podem  ser  vistos  em  Abraão,  Moisés, Samuel  e  muitos  outros  personagens  bíblicos.  Vemos  aspectos  da revelação  divina  e  como  os  homens  reagiram  diante  dela   em  todas  essas narrativas.  Foram  momentos  numinosos  que,  da  mesma   forma  como aconteceu  com  Jó,  provocaram  profundo  impacto  na  vida  desses personagens bíblicos.

   Em  Gênesis  12,  temos  a  chamada  de  Abraão.  Ali,  vemos  como  o Senhor,  em  um  ato  soberano  da  sua  vontade,  revela-se  ao  patriarca quando  ele  ainda  vivia  em  Ur  dos  caldeus.  No  seu  grande  discurso perante  as  autoridades  religiosas   de  Jerusalém,  Estêvão  faz  referência  a essa  revelação  de  Deus  a o  antigo  patriarca  e  destaca  outros  detalhes  que ajudam na sua  compreensão:  

 O  Deus  da  glória  a pareceu  a  Abraão,  nosso  pai,  estando  na Mesopotâmia, antes de habita r em Harã, e disse -lhe: Sai da tua terra e  dentre a  tua  parentela  e dirige-te  à  terra  que  eu  te  mostrar. Então, saiu da  terra dos  caldeus  e  habitou em Harã . E  dali,  depois que  seu pai  faleceu,  Deus  o  trouxe  para  esta  terra  em  que  habitais  agora.  E não  lhe  deu  nela  herança,  nem  ainda  o  espaço  de  um  pé;  mas prometeu  que  lhe  daria  a  posse  dela  e,  depois  dele,  à  sua descendência, não tend o ele filho. (At 7.2-5)

     O  termo  grego  ophthe  (At  7.2),  traduzido  aqui  como  “apareceu”, tem o sentido de “revelar-se”. Deus revelou-se a Abraão e chamou-o para fazer  parte  d o  seu  grande  plano  de  redenção.  No  relato  de  Gênesis  12,  a inclusão do mundo todo nessa revelação está explícita nas palavras “em ti serão  benditas  todas  as  famílias  da  terra”  (Gn  12.3).

    Deus  revela -se  ao homem e firma u m pacto de salvação com ele.  Tempos  depois,  esse  mesmo  Deus  que  se  re velou  ao  patriarca hebreu  também  se  revelou   a  Moisés  (Ê x  3).  A  narrativa  é  uma  das  mais impressionantes  da  Bíblia,  visto  que  a   teofania  veio  acompanhada  de fenômenos  sobrenaturais  que  s e  manifestaram  na  esfera  física.  Moisés contemplou uma  sarça em chamas, mas que não se consumia.   E  apascentava  Moisés  o  rebanho  de  Jetro,  seu  sogro,  sacerdote  em Midiã; e levou  o rebanho atrás do deserto  e veio  ao monte d e Deus, a Horebe. E apareceu-lhe o Anjo do Senhor em uma chama de fogo,

  no  meio  de  uma  sarça;  e  olhou,  e   eis  que  a  sarça  ardia  no  fogo,  e  a sarça  não  se  consumia.  E   Moisés  disse:  Agora  me  virarei  para  lá  e verei  esta  grande  visão,  porque  a  sarça  se  não  queima.  E,  vendo  o Senhor  que  se  virava  para  lá  a   ver,  bradou  Deus  a  ele  do  meio  da sarça  e  disse:  Moisés!  Moisés!  E  ele  disse:  Eis -me  aqui.  E  disse:  Não te  chegues  para  cá;  tira  os  teus  sapatos  de  teus  pés;  porque  o  lugar em  que  tu  estás  é  terra  santa. Disse  mais:  Eu  sou  o  Deus de  teu  pai, o  Deus  de  Abraão,  o  Deus  de  Isaque  e  o  Deus  d e  Jacó.  E  Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus. (Êx 3.1 -6).

   A  Septuaginta  usa  o  mesmo  termo  grego  ophethe  para  traduzir  o hebraico wayyêrā, com o sentido d e “aparecer”.⁸¹ Estamos diante de uma revelação soberana de Deus na história  tanto na chamada de Abraão co mo também  na  chamada  de  Moisés.  Assim  como  aconteceu  com  Abraão,  a vida de Moisés não seria mais a mesma.

   Outro  caso  que  destaca  a  revelação  direta  de  Deus  aconteceu  com Samuel,  que  viria  a  tornar -se  u m  dos  maiores  profetas  do  Antigo Testamento. Nessa passagem, temos uma referência tanto ao “ocultar-se” como ao “revelar-se” d e Deus. É  um fato que, como aconteceu com Abraão e Moisés, embora os propósitos difiram entre si, Deus revelou-se de forma especial a Samuel.

      E  o  jovem  Samuel  servia  ao  Senhor  perante  Eli.  E  a  palavra  do Senhor era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta. E  sucedeu,  naquele  d ia,  que,  estando  Eli  deitado  no  seu  lugar  (e  os seus  olhos  s e  começavam  já  a  escurecer,  que  não  podia  ver)  e estando também Samuel já deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse  no  templo  do  Senhor,  em  que  estava  a   arca  de  Deus,  o Senhor chamou a  Samuel, e disse ele: Eis -me aqui. (1 Sm 3.1-4).

    É  interessante  notar  que  o  texto  mostra  um  “ocultar -se”  de  Deus antes do “revelar-se” dEle. O cronista  destacou a passagem “a palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias; não ha via visão manifesta” como uma  referência  clara a  esse  ocultar -se ou  afastar-se de  Deus.  Na  verdade, a  ideia  é  que  Deus  estava  lá,  porém  calado  ou  em  silêncio.  Pelo   contexto do período dos juízes, a razão  para  tal é explicada em ter mos da anarquia reinante  no  sistema  tribal  (Jz  21.25):  “Naqueles  dias,  não  havia  rei  em Israel,  porém  cada  um  fazia  o  que  parecia  reto  aos  seus  olhos”.  Aqui,  o pecado  é  dado  como  a  causa  dessa  “ ausência”  de  Deus  através  da  sua Palavra.

   É  possível,  portanto,  fazer  um  paralelo  entre  as  diversas  teofanias bíblicas e o caso de Jó. Como ficou demonstrado, Deus às vezes “se oculta” ou  fica  em  “silêncio”.  No  caso  de  Jó,  esse  “ocultar”  não  aconteceu  como uma reação divina ao pecado de Jó, mas como parte de um plano pessoal e  relacional.  Deus  permite  o  mal  e  oculta -se,  mesmo  s em  deixar  de  estar presente, para trazer a Jó lições do seu supremo conselho. Havia, portanto, um  desígnio  em  tudo  quanto  o  patriarca  viveu  e  sentiu.  Nesse  aspecto, Eliú não está equivocado quando disse para Jó que Deus nunca deixou de revelar-se:  “Antes,  Deus  fala  u ma  e  duas  vezes;  porém  ninguém  atenta para  isso”  (33.14).  Jó  também  está  correto  quando  diz  experimentar  o “ocultar-se”  de  Deus:  “Eis  que,  se  me  adianto,  ali  não  está;  se  torno  para trás, não o percebo. Se opera à mão esquerda, não o vejo; encobre-se à  mão direita, e  não  o  diviso”  (23.8-9);  “Ah!  Quem me  dera u m  que  me ouvisse! Eis  que  o  meu  intento  é  que  o  Todo -poderoso  me  responda  e  que  o  meu adversário escreva  um  livro”  (31.35). Deus  às  vezes escolhe  ocultar -se  ou ficar  em  silêncio,  mesmo  sem  deixar  de  estar  presente.  Talvez  estejamos diante  d e  um  paradoxo,  mas  é  assim  que  a  leitura  bíblica  conduz -nos  a interpretar.

   JÓ E OS PROFETAS

    Para  falar  sobre  o  “revelar-se  de  Deus”  na  história  humana, necessariamente é preciso fazer a  inserção d e u m importante personagem dentro desse processo: o profeta. Neste livro, já foi feito um paralelo entre Jó e o pathos e o ethos nos profetas (cf. cap.1). Aquilo que Jó experimentou de  forma  sublime,  o  “revelar-se  de  Deus”,  os  profetas  viveram  de  forma intensa. Nesse aspecto, os profetas sempre causaram grande fascínio sobre aqueles  que  se  propõem  a  estudar  a s  suas  vidas  e  obras.  El es  eram  os arautos  de  Deus  para  o  povo  de  Israel.  A  instituição  profética  no  Antigo Testamento  é  por  demais  importante  e,  por  isso,  não  pode  ser  ignorada por  quem  se  propõe  conhecer  a  história  bíblica.  Hes chel  (2012)  observa que  a  pior  desgraça  que  poderia  existir  para  um  judeu  era  o  silêncio profético.

    Hans  W.  Wolff  (1983)  destaca  que  a  vida  e  a  obra  dos  profetas revestem-se  de  grande  importância .  Primeiramente,  Wolff  destaca  que  a atenção  dos  profetas estava  voltada  para  o  futuro  e  que,  em  um  segundo  momento, os profetas viam o futuro como algo inextrincavelmente ligado ao  presente.  Isso  significa  que  eles  moviam  as  suas  próprias  vidas, juntamente com os seus contemporâneos, para a luz brilhante do futuro.

   O  alerta  dado  pelos   profetas  servia  de  a viso  quando  a  vida  moral, espiritual  e  social  não  ia  bem.  Abraham  Joshua  Heschel  (1907 –1972), rabino  austro-americano,  escreveu  sobre  a  importância  dos  profetas. Heschel (2014) destacou que o significado dos profetas de Israel não reside apenas  no  que  eles  disseram,  mas  também  no  que  foram.  Para  Heschel, não  se  pode  compreender  completamente  o  que  os  profetas  pretendiam dizer no contexto de hoje, a menos q ue se tenha algum grau de consciência do  que  lhes  aconteceu.  Os  momentos  que  passaram  nas  suas  vidas  não estão agora disponíveis e não podem tornar-se objeto de análise científica. Ainda segundo Heschel (2014, p. 12): “A palavra do profeta é um grito na noite.  Enquanto  o  mundo  dorme  despreocupa do,  o  profeta  sente  o  golpe vindo  do  céu”.  Nos  profetas,  como  destacou  Andrés  Torres  Queiruga (2010, p. 57):

    Se apalpa com maior clareza o processo revelador em ação. O caráter imediato  do  contato  com  Deus  impressiona.  Sua  palavra  sai  ainda viva  e  ardente  da  relação  com  a  divindade:  como  foi  indicado,  foi neles  que  se  forjou  definitivamente  a  concepção  da  revelação  como “palavra de Deus”. 

     Convém  d estacar  que  o  estudo  da  instituição  profética,  ta nto  no aspecto carismático como no social, conforme definiu Leon J. Wood (1983, p. 10), pode ser visto a partir de três grupos. Primeiramente, há  os profetas anteriores à monarquia, cujo interesse era impedir o povo d e participar do culto  idolátrico  dos  cananeus.  Em  segundo  lugar,  há  os   profetas  do período  monárquico,  que  não  escreveram,  cujo  interesse  era  estabelecer contato  com  indivíduos.  Por  último,  o  terceiro  grupo,  há  os  profetas escritores,  cuja  mensagem  é  dirigida  a  toda  a  nação  e  ao  povo  em  geral. Essa visão de conjunto, sem dúvida, ajuda na compreensão dos profetas.

   A revelação de Deus no contexto hebreu é mais be m compreendida quando  contrastada  com  outras  formas  de  revelações  nos  antigos  povos vizinhos de Israel. Esse contraste pode ser visto não apenas na forma, mas, sobretudo,  na  função.  José  Luis  Sicre  (2007,  pp.  24,25)  destaca  que,  nas culturas  limítrofes  a   Israel,  a  consulta  ao  oráculo  parte  de  indivíduos  ou povos, enquanto que esse processo acontece de forma invertida  em Israel. O profeta hebreu não agia como um adivinho, dando resposta a  gosto do consulente.  Eles  anunciavam  os  oráculos  ou  mensagens  que  sabiam  ter recebido  de  Iavé.  Segundo  Sicre  (2007,  p.  28)  “não  se  contentam  em responder às questões que  interessa m a  quem os consulta, mas adiantam-se  em  proclamar em  nome  do  Senhor  uma  palavra  cheia de  repercussões para  o  tempo  presente”.  Esse  é  o  modo  de  Deus  revelar-se  na  história   e que também revela o modus operandi da profecia bíblica.

   Os paralelos entre a teofania vivida por Jó e a revelação profética fica evidente.  Tanto  Jó  como  os  profetas  foram  profundamente  impactados pela  presença  divina.  Mesmo  se m  dar  uma  resposta  direta  a  Jó,  pelo menos  nos  termos  que  o  leitor  imaginaria,  porém  convidando-o  a contemplar  o  desígnio  divino  na  criação,  Jó  fora  arrebatado  diante  desse revelar-se  de  Deus:  “Com  o  ouvir  dos  meus  ouvidos  ouvi,  mas   agora  te veem os meus olhos” (42.5).

  Experiência  semelhante  acontecia  com  os  profetas  diante  da revelação  de  Deus  a  eles,  que  experimentavam  uma  realidade  divina. Segundo  Walter  Eichrodt  (1961,  vol.  1,  p.  345 ,  apud  Waltke  2 015,  p.  9 04) os profetas têm u ma experiência assustadora com esse poder, o que os leva ao  abandono  radical  de  tudo  que  até  então  consideravam  bom  para  eles, uma  experiência  da  qual  os  relatos  de  seus  respectivos  chamados  dão testemunho eloquente.

  Walter Eirichrodt (1961, vol. 1 , p. 345) destaca que:   Não há um deles que não tenha recebido essa nova certeza acerca de Deus,  de  tal  maneira  q ue  todo  o  seu  modo  de  vida  anterior  —  os pensamentos  e  planos  com  que  até  agora  vinha  ajustando  seu relacionamento  com  o  mundo  —  foi  esmigalhado e  substituído por um  poderoso  imperativo  que  o  forçou  a  lançar-se  a   algo  que  a té então não  havia nem mesmo  considerado como  possibilidade. Suas predições ameaçadoras sobre o fim da nação e do povo originam-se todas na mesma convicção dominante de que o irrompimento de um poder hostil está ameaçando as bases da ordem presente.

   O SENHOR RESPONDEU A JÓ – O DESÍGNIO DIVINO

   “Depois  disto,  o  Senhor  respondeu  a  Jó  de  um  redemoinho  [...]” (38.1).  O  texto  diz  que  o  Senhor  respondeu  a  Jó  (38.1).  Um  fato  que  tem chamado  a  atenção  de  alguns  intérpretes  (Atkinson,  1991;  Schonberger, 2011) é a mudança do nome D eus (hb. elohim) para Iavé (Iahweh). Depois do  prólogo,  é  a  primeira  vez  que  esse  nome  divino  volta  a  aparecer. Schonberger destaca:

    Aqui  ecoa  o  tema  da  presença  e  da  ausência  de  Deus,  de  seu  se r revelável  e  do  seu  ser-oculto.  Perante  seu  sofrimento  e  o  dos  seres humanos, Jó havia sofrido e se queixado do silêncio e da ausência de Deus. Deus, de acordo com sua percepção, “não estava lá”. Era, para ele,  não  encontrável:  “ Se  for  ao  Oriente,  não  está  ali:  ao  Ocidente, não o encontro. Quando ele age no norte, eu não o vejo; se me volto para o meio-dia, ele permanece invisível (23.8-9). Deus silencia. Não presta atenção à  súplica d o humilhado (cf. 24.12). Tendo como pano de  fundo  essa  percepção,  agora  entra  em  cena  uma  mudança. Iahweh fala. Ele responde. Estava ele ausente até agora? Em sua fala, ele  vem  ao  encontro  de  Jó  como  alguém  que,  até  então,  não  estava “lá”? O texto deixa essas questões abertas. Aliás, os discursos de Eliú haviam  mostrado  que  alguém  pode  estar  presente  sem  dizer  algo (cf. 32.6-7).

    “Quem  é  este  que  obscurece  os  meus   planos   com  palavras  sem conhecimento?”  (38.2,  NAA).  A  palavra  “planos”  traduz,  aqui,  o  termo hebraico  etsah,  cujo  sentido  é  “desígnio”.⁸²  Deus  censura  a  Jó  por  fazer críticas  sem  conhecer  nada  dos  seus  desígnios  ou  propósitos.  Como observa Schonberger (2011, p. 206), no contexto de Jó, o desígnio de Deus refere-se  a  uma  “organiz ação  divina  do  mundo”.  Em  outras  palavras,  Jó, evidentemente,  por  conta  d a  sua  provação,  passou  a  enxergar  o  mundo por  meio  das  lentes d o  seu  sofri mento, e  não  do  seu  propósito maior.  “O mundo  de  Jó  havia-se  reduzido  a  um  único  ponto:  seu  indizível sofrimento.  E  a  partir  d esse  ponto  ele  julgava  todo  mundo  e  Deus” (Schonberger, 2011, p. 213). Nesse aspecto, Jó já havia descrito a terra como sendo  um  caos  (3.4-10).  Deus,  então,  desafia-o  por  meio  de  várias perguntas retóricas  sobre a  ordem que há  no  Universo e  como  ela  atende ao  seu  propósito  soberano.  Mediante  essas  perguntas,  que  chegam  a  40, Deus quer mostrar a Jó o “seu não saber” (Schonberger, 20 11, p. 206). Não teria, portanto, Jó agido com presunção ao questionar o Criador?

   No  capítulo  3,  observamos  que  Jó  mergulhou  no  seu  dilema  numa “falta  de  sentido”.  Hoje  se  falaria  que  ele  “ficou  sem  c hão”.  Mas  o  que Deus  queria  é  que  ele  voltasse  a  enxergar  que  havia  um  sentido  muito maior na sua existência e no seu sofrimento. Havia, portanto, um desígnio que  Jó  esta va  deixando  de  ver.  Quando  se  perde  o  propósito  maior  da vida,  fatalmente  se  ca i  numa  espécie  de  vazio  existencial.  No  seu  livro Surpreendido  pelo  Sentido  (Hagnus,  2015),  Alister  McGrath  (2015,  p.  2 5) destaca o seguinte:

   Precisamos  de  u m  mapa   mental  da  realidade  que  permita  nos posicionar,  ajudar-nos  a  encontrar  nosso  caminho  ao  longo  da estrada da  vida.  Precisamos de  lentes, óculos,  que  ponham em  foco claro as questões fundamentais sobre a natureza humana, o mundo e  Deus.  E  precisamos  de  uma  forma  de  checar  s e  a  realidade garantida  a   cada  um  de  nós  é  apenas  um  minúsculo  fragmento  de uma  verdade  muito  maior  que  está  além  d e  nós.  Conforme  Paulo comenta  de  forma  excelente:  “Agora  vemos  como  por  um  espelho, de  modo  obscuro”  (1  Co  13.12).  A  fé  cristã  declara  que  existe  um mapa  confiável  e  que  este  nos ajuda  a  nos  posicionar  em  relação  às grandes  questões  da  vida.  Assim  também  destaca  Schonberger (2011, p. 207):

    Dessa  forma,  já  desde  o  começo  d o  discurso  d e  Deus  evidencia -se que  Deus  não  se  volta  para  a  miséria  d e  Jó  mediante  o  fato  de simplesmente  tomá-lo  para  si,  consolá-lo  e  curá-lo.  Deus  desafia  Jó  a  u m “combate  do  reconhecimento”   (vv.2-3),  para  uma  dura,  mas  libertadora purificação da consciência.

   O restante do livro de Jó realça rá ainda mais a grandeza de Deus no seu  a to  criador.  A  ideia  é  mostrar  que  o  mundo  não  é  um  cosmos  que  se transformou  em  caos,  mas  u m  caos   que  se  transformou  em  mundo.  A imagem da  criação  em  Gênesis  está  em mente.  Deus  criou tudo  d e forma perfeita e boa, e até mesmo as trevas, como símbolo do caos, são expulsas pela presença  da luz (Gn 1.3-5). Jó, portanto, se quer fazer um julgamento correto, deve corrigir o seu  foco. Ele achava que sabia, mas, de  fato, sabia pouco ou quase nada.

  Schonberger  (2011,  p.  211)  faz  u m  interessante  paralelo  entre  o  que está exposto nesse capítulo de Jó  e o  que escreveu Immanuel Kant   na sua Crítica  da  Razão  Pura  (1781).  Schonberger  acredita  que  a  frase  de  Kant (“Devo,  portanto,  suprimir  o  saber,  a  fim  d e  ceder  espaço  para  a   fé”) encontra  paralelo  nos  discursos  de  Deus  no  livro  de  Jó.  Não  se  trata, entretanto, de “suprimir” a razão no sentido de anulá-la, mas de pô-la no seu  devido  lugar.  Em  outras  palavras,  a  razão  precisa  reconhecer  os  seus limites,  não  podendo  usurpar  aquilo  que  é  território  da  fé.  Jó,  portanto, devia mover-se da  razão à contemplação.

   Como ser racional, o homem não pode desfazer-se da razão. A razão, portanto, não pode ser descartada por conta da revelação. Evidentemente, o  que  deve  ser  destacado  é  que  a  razão  não  pode  transformar-se  em racionalismo.  Como  sistema  filosófico,  o  racionalismo  promove  o ceticismo  e  nega  a  revelação.  Quando  a   razão  torna -se  a  régua  por  meio da  qual  se  quer  medir  todos  os  outros  fenômenos  do  Universo,  então temos um  mau uso da  razão. Assim como  muitos cientistas modernos, Jó precisava  ir  além  do  seu  simples  conhecimento  empírico.  Às  vezes,  o  simples saber racional converte-se em um não saber. Isso acontece quando a  capacidade  d e  julgar  está  ofuscada  —  no  caso  de  Jó,  pelo  seu  intenso sofrimento; no caso d a ciência positiva, por conta da natureza pecaminosa dos  seus  agentes  que  a  ofuscou.  Nesse  aspecto,  a  razão  constitui -se  um não saber quando usurpa, por exemplo, o lugar da  Revelação.

   No caso de Jó, Stadelmann (1997, p. 107) destaca:

   que  a  teofania  é  uma  experiência  espiritual  d a  presença  de  Deus, que  vem  ao  encontro  d o  homem  não  por  meio  de  fenômenos

naturais,  mas  por  uma  ação  específica  de  Deus  nas  faculdades intelectivas  do  homem  para   lhe  dar  a  conhecer  Seus  desígnios  a respeito dele e da humanidade.

    No  contexto  bíblico,  a teofania  tem  o  propósito  de  realçar  a transcendência  de  Deus  e,  por  isso,  vem  muitas  vezes  acompanhada  de fenômenos,  como,  por  exemplo,  a  tempestade.  É  do  meio  da  tempestade que  Deus fala  a  Jó.  Se,  por  um  lado,  como observa  Stadelmann (p.  107), a tempestade mostra um Deus inacessível, por outro lado, a palavra divina aproxima  Jó  desse  Deus.  Dessa  forma,  Stadelmann  (1997,  p.  108)  destaca o seguinte:

   A  resposta  chega  a  Jó  unicamente  por  revelação,  não  por  dedução racional. Quando  analisa  a  condição  humana  de  modo  diferente de como  fez  até  então,  Jó  vai  descobrindo  a  sabedoria  divina  que dinamiza  a  criação  por  dentro  e  faz  dela  o  habitat  dos  seres animados.  A  terra  é  como  um  templo  de  dimensões  gigantescas onde  ressoam  aclamações  jubilosas  dos  filhos  de  Deus  (vv.  4 -7).  O mar  com  suas  ondas  parece  uma  criança  recém -nascida  qu e  a  mãe embala em seus braços (vv. 8-11).

   Deus  revelou-se,  e  Jó  sentiu-se  maravilhado  diante  da  sua  excelsa glória.  Humilhado  diante  do  Altíssimo,  Jó  viu-se  diante  do  sentido  da vida. Para o homem que  teme a Deus e desvia -se do mal, há um desígnio e  um  propósito  naquilo  que  parece  uma  simples   provação.  Nas  palavras do apóstolo: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o  bem  daqueles  que  amam  a  Deus,  daqueles  que  são  chamados  por  seu decreto” (Rm 8.28).

 A fragilidade humana e a soberania divina

 — O sofrimento e a restauração de Jó





O Desafio Divino. 38:1 - 40:2.

  Jó 38 38:1-3. De um redemoinho (v. 11. Este veículo característico da teofania (cons. Sl. 18: 7 e segs.; 50:3; Ez. 1:4, 28; Naum 1:3 ; Hc. 3; Zc. 9:14) deriva para dramatizar a revelação falada que o acompanhava. Quem é este que escurece os meus desígnios? (v. 2). O absurdo de Jó criticar as resoluções divinas está na respectiva identidade de ambos. A criatura criticando o Criador! Cinge, pois os teus lombos como homem (v. 3a). A imagem do desafio divino foi extraída do antigo esporte popular da luta do cinturão. A figura é especialmente aplicável a este contexto porque esse tipo de luta também era usado como prova nu tribunal, e é por meio de provas que o caso de Jó está sendo resolvido.

  38:4 - 39:30. A prova para a qual o Criador desafia Sua criatura é o teste da sabedoria. Muitas das perguntas divinas tratam do poder executivo, mas o conceito de sabedoria do V.T. inclui o talento do artista. Chama-se a atenção para a sabedoria insondável do Criador exibida por toda parte - na terra (38: 4-21, nos céus (38:22-38) e no reino animal (38:39 - 39:30), a seqüência da narrativa sendo, de maneira generalizada, a mesma que este Orador adotou em Gênesis 1. Jó fica cada vez mais impressionado com a imensidão de sua própria ignorância e impotência.

   38:4-21. Onde estavas tu? O conhecimento que Jó tinha da terra estava limitado pelo tempo e espaço. Esta seção começa e termina com referências á não existência de Jó na criação (vs. 4, 21; cons. 12; contraste com "Sabedoria" em Pv. 8:22 e segs.). Eis a sua ignorância sobre como a terra foi estabelecida (Jó 38: 47) ou o mar encerrado (vs. 8- 1li, sobre como os dias da terra estão controlados pelo siclo da madrugada e das trevas (vs. 12-15, 19-21). Jó também não sondara as profundezas do mar nem medira a largura da terra (vs. 16-18).

    38:22-38. Podes estabelecer a sua influência sobre a terra? (v. 33b). Para se qualificar como diretor e juiz da vida humana sobre a terra, devese ter capacidade de governar os corpos celestiais que governam a terra (cons. Gên. 1:14-18). Observe a repetida menção da influência do céu atmosférico e astral sobre os negócios da terra (Jó 38:23, 26, 27, 33, 34, 38). Mas Jó não tem o controle sobre as águas acima no que se refere a se, onde, quando ou como elas se precipitarão. 0 relâmpago não se apresentará diante dele como um servo obediente (v. 35); nem tem ele a mais remota influência sobre os sinais periódicos dos céus (vs. 31, 32).

   38:39 - 39:30. Novamente nesta seção sobre a criação animada, o propósito é convencer Jó de sua incompetência para o papel de governador do mundo, enquanto magnífica à sabedoria dAquele que realmente é o Governador da criação (cons. 12:7). A atividade criativa e providencial de Deus envolve as criaturas selvagens além do controle humano, como exatamente, na esfera inanimada, abrange a vastidão além do conhecimento humano (cons. 38:26, 27). Leões e corvos não são aproveitáveis nem igualmente sujeitos à benevolência do homem (38:39- 41).

Jó 39

    Nem as cabras monteses recebem o cuidado solícito do criador de gado (39:1-4) O homem não pode colocar o jumento selvagem e esquivo (39: 5-8) nem o boi selvagem e indomesticável (39:9-12) 9Jb o seu jugo. Até a estúpida avestruz zomba dos orgulhosos cavaleiros (39:13-18), enquanto o cavalo, por seu lado, zomba dos exércitos humanos e da vanglória de Lameque (39:19-25; cons. Gn. 4:22-24). O último esboço dirige os olhos de Jó para cima, para o trono do Criador - para o falcão e a águia rapaces, à espera de que Deus os chame para a Sua festa de julgamento, com sua presa de homens rebeldes, reis e capitães, cavalos e cavaleiros (Jó 39:26-30; cons. Ez. 39:17; Ap. 19:17 e segs.). Eis aqui a vaidade máxima de todos os esforços da sabedoria humana - que o homem se reduz a alimento da criação sub-humana- "Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios" (I Co. 1:27a). Até os animais selvagens riem-se dos esforços culturais do homem (vs. 7, 18, 22).

   Jó 40

 40:1, 2. Acaso quem usa de censuras contenderá com o Todopoderoso? (v. 2a). O primeiro "encontro" da prova está para ser decidido. Deus exige que Jó admita a derrota. Isto ficaria ainda mais claro de acordo com a tradução refletida em algumas versões antigas: "0 que contende com o Todo-poderoso se renderá? "

   2) A Submissão de Jó. 40:3-5.

   4a. Sou indigno. A sabedoria extraordinária do Criador impressionou a Jó tão profundamente que ele não mais quer discutir os caminhos divinos como o fizera mais de uma vez (v. 5). Muito menos se aproximará de Deus como um príncipe (cons. 31:37). As atitudes de Jó começam a adornar novamente a doutrina da sabedoria que ele confessa (cons. 28:8).

   3) O Desafio Divino Renovado. 40:6 – 41:34.

   40:6, 7. Um dos alvos da luta dos cintos era arrancar o cinto do oponente, mas uma prova nem sempre terminava com tal "queda". Assim Jó deve, figuradamente, amarrar o cinto novamente e recomeçar a prova. Sua submissão inicial (40:3-5) era boa mas apenas o início de seu arrependimento. Ele devia reconhecer não apenas a irracionalidade mas também a pecaminosidade da crítica ao Todo-poderoso.

   40:8-14. Ou tens braço como Deus? (v. 92). O poder redentor de Deus através do qual Ele salva o Seu povo e julga seus inimigos é freqüentemente retratado como um braço estendido e uma grande mão (cons. v. 14b). A crítica de Jó ao governo de Deus, especialmente sua jactância de que venceria a imaginária oposição do Senhor à sua justificação, era, em princípio, uma usurpação da prerrogativa divina do governo do mundo, um desejo ardente de conhecimento igual ao divino do bem e do mar (cons. Gn. 3: 5), uma autodeificação. Que Jó provê sua capacidade de executar a sentença condenatória contra os homens perversos, cuja prosperidade lhe parece injusta (Jó 40:10-13). Então Deus adorará de acordo com o culto de Jó, reconhecendo que ele possui o poder divino do juízo redentor pelo qual pode justificar e salvar a si mesmo (v. 14).

  40:15 - 41:34. (Texto heb. 40:15 – 41:26). Uma vez que Jó não pode obviamente subir ao trono celestial para experimentar o seu poder de julgar os perversos, Deus propõe um teste mais exeqüível. O motivo da divindade convocando um animal invencível para lutar contra um herói humano encontra paralelo na mitologia antiga. (Cons. Épica de Gilgamesh, na qual Ishtar envia o touro celeste contra Gilgamesh.) Na arte mesopotâmia, além disso, o touro celeste foi representado usando o cinturão da luta. O beemote (40:15 e segs.) identifica-se comumente com o hipopótamo; o leviatã (41:1 e segs.; texto heb. 40: 25 e segs.), com o crocodilo. Ambos se encontram juntos na arte egípcia. Não é necessário demonstrar-se a presença do hipopótamo ou crocodilo na área do Jordão de antigamente, uma vez que yarden (40:23b), ao que parece, é um substantivo comum significando "rio" (cons. paralelo no v. 23a). Muitas outras identificações já foram sugeridas; recentemente, por exemplo, identificou-se o beemote com o crocodilo e o leviatã com a baleia. Se o beemote pode com sucesso ser identificado com o crocodilo (cons. 40:17, 24a, Heb.), deve-se considerar se toda a passagem não descreve apenas uma criatura, isto é, o leviatã. A designação, beemote, tomada como plural intensivo, "a besta por excelência", poderia ser um epíteto como obra-prima dos feitos de Deus (v. 19a). Observe reivindicações superiores semelhantes para o leviatã (41:33, 34). Certos detalhes descritivos não se enquadram em nenhuma criatura real. Isto tem induzido a opinião que aqui não se tem em mente criaturas zoológicas, mas monstros do caos mitológico concebidos à semelhança do hipopótamo e do crocodilo. Então 40:15 e segs. poderiam ser uma elaboração simbólica do desafio precedente para subjugar os homens rebeldes (40:9-14). Compare o uso do dragão como símbolo de Satanás em Apocalipse. Como seria apropriada uma intimação a que Jó lutasse com o príncipe dos rebeldes convencidos!

   Jó 41

   Aplicável ao contexto como é esta interpretação mítica, a passagem torna-se mais naturalmente compreendida como figura de criaturas reais pintadas com algumas pinceladas altamente figurativas (como 41:19 e segs. por exemplo). Observe especialmente que Deus apresenta beemote como alguém que eu criei contigo (40:15b). Eis aí o verdadeiro ponto alto da passagem: Jó tem de descobrir por meio de sua incapacidade de derrotar até mesmo uma criatura igual a ele, a loucura de aspirar o trono do Criador. A conclusão a fortiori torna-se explícita em 41:10b. Quem é, pois, aquele que pode erguer-se diante de mim? A absoluta transcendência divina contradiz o pretendido direito de Jó de declarar-se contra Deus porque impede a possibilidade de Jó ter dado algo a Deus: Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu (41:11).

   Uma vez que a ocasião desta demonstração extensa do poder de Deus foi quando Ele atraiu Jó para uma prova de tribunal, a demonstração foi explicitamente oferecida como defesa da justiça divina. Do mesmo modo, foi introduzida pela pergunta: Acaso anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares? (40:8; cons. 38:2). Não que o atributo da justiça possa ser abstratamente deduzido do atributo da onipotência. Antes, a atenção é dirigida para as obras grandiosas e divinas como testemunhas forçadas de Deus – não simplesmente de um atributo mas do próprio Deus; o Deus que se revelou ao homem de dentro e de fora, por meio de revelação generalizada e especial; o Deus vivo, infinito, eterno e imutável em Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade; O Deus cuja veracidade e justiça eram a pressuposição do julgamento de Jó por meio de provas, que jura por si mesmo porque não pode jurar por alguém maior do que Ele.

                                        Jó (Comentário Bíblico Moody)





                      

Nenhum comentário:

Postar um comentário