segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Lição 11 – A Teologia de Eliú: O Sofrimento É uma Correção Divina?

 


CPAD – Adultos – A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó | Lição 11 – A Teologia de Eliú: O Sofrimento É uma Correção Divina?

Texto Áureo

“Ao aflito livra da sua aflição e, na opressão, se revela aos seus ouvidos” (Jó 36.15)

Verdade Prática

O sofrimento não deve ser visto apenas sob o aspecto punitivo, mas principalmente, educativo.


EBD | 4° Trimestre De 2020

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Jó 32.1-4; 33.1-4; 34.1-6; 36.1-5

1 Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos.

2 E acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus.

3 Também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos, porque, não achando que responder, todavia condenavam a Jó.

4 Eliú, porém, esperou para falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele.

Jó 33:1-4

1 Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões, e dá ouvidos a todas as minhas palavras.

2 Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar.

3 As minhas razões provam a sinceridade do meu coração, e os meus lábios proferem o puro saber.

4 O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida.

Jó 34

1 Respondeu mais Eliú, e disse:

2 Ouvi, vós, sábios, as minhas razões; e vós, instruídos, inclinai os ouvidos para mim.

3 Porque o ouvido prova as palavras, como o paladar prova a comida.

4 O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom.

5 Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito.

6 Apesar do meu direito sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.

Jó 36:1-5

1 Prosseguiu ainda Eliú, e disse:

2 Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus.

3 De longe trarei o meu conhecimento; e ao meu Criador atribuirei a justiça.

4 Porque na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que é sincero na sua opinião

5 Eis que Deus é mui grande; contudo, a ninguém despreza; grande é em força de coração.

OBJETIVO GERAL

Mostrar que o sofrimento pode ser usado por Deus com fim pedagógico.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

Explicitar que Deus, como soberano, pode se revelar e falar por meio do sofrimento;

Destacar que a soberania de Deus não se sobrepõe ao seu amor;

Afirmar que Deus não tem prazer no sofrimento, mas pode usar as adversidades para nos educar.

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

O sofrimento na vida do cristão deve ser um meio pedagógico. Ele serve para esmagar a soberba humana, polir o caráter do crente, prover crescimento e desenvolvimento ao cristão Este o não é o mesmo depois que passa pela “escola do sofrimento”. Não por acaso o apóstolo Paulo pôde dizer: “Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade.

Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.12,13). Esse é o caminho que o Senhor nosso Deus quer que atinjamos: ser experimentado , amadurecidos e crescidos. Que ouçamos a voz de Deus no sofrimento! Então, poderemos dizer com convicção: “Posso tudo naquEle que me fortalece”.

PONTO CENTRAL

 O sofrimento deve ser visto sob o aspecto pedagógico.

INTRODUÇÃO

Veremos a teologia de Eliú exposta em quatro grandes discursos teológicos (Jó 32-37). Esses discursos se contrapõem ao que Jó e seus amigos proferiram. Para Eliú, os amigos de Jó falharam na exposição de suas ideias ao patriarca. Este, por outro lado, se equivocar ao apresentar o seu conceito de Deus para fundamentar sua defesa. Assim, mostraremos que Eliú revela um Deus soberano que age segundo o seu conselho e no est obrigado a dar respostas ao homem, além de não haver qualquer injustiça em suas ações, pois, segundo o jovem amigo de Jó, o sofrimento é uma ação pedagógica de Deus para corrigir o homem.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Inicie a aula de hoje fazendo uma reflexão sobre a soberania de Deus e O orgulho humano. Uma das questões mais difíceis para o ser humano é aceitar algo que saia do seu domínio. Muito sofrimento hoje tem como causa a não aceitação de determinada realidade. Diante dela, o desespero passa a dominar, o medo passa a ser constante, o grau de ansiedade e estresse aumenta. Entretanto, quando olhamos para a Bíblia percebemos que homens e mulheres puderam reconhecer a voz de Deus de dentro do sofrimento.

É por isso que estamos estudando o Livro de Jó, pois esse patriarca experimentou a Deus na “escola do sofrimento”. Deixe claro para a classe que quando isso acontece, crescemos em maturidade e espiritualidade. Portanto, estimule os alunos a perguntarem o que Deus quer falar conosco na “escola do sofrimento.”

CPAD – Adultos – A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó

 | Lição 11: A Teologia de Eliú: O Sofrimento É uma Correção Divina?

 


Capítulo 11 - A Teologia de Eliú: o Sofrimento É

uma Correção Divina?

    UM JOVEM COM I DEIAS DE GENTE GR ANDE

      A  partir  do  capítulo  32  do  livro  de  Jó,  um  novo  personagem  entra em  cena:  Eliú,  filho  de  Baraquel,  o  buzita.  Inicia-se,  portanto,  um  novo ciclo  no  livro.  Alguns  autores  (Stadelmann,  1997)  acreditam  que  os diálogos  de  Eliú  foram  inseridos  posteriormente  na  narrativa  de  Jó,  não fazendo,  portanto,  parte  da  redação  original.  Nesse  aspecto,  argumenta-se, por exemplo, que o texto nada diz sobre a pessoa de Eliú no prólogo e na  parte  dos  diálogos  que  precedem  o  capítulo  32.  Argumenta-se,  ainda, que,  no  final  do  livro,  Deus  dirige-se  a    e  aos  seus  outros  três  amigos, mas  não  a  Eliú.  Driver  e  Gray  (1921 ,  pp.40–49 )  ainda  destacam  contra  a autoria de Eliú a diferença de linguagem e es tilo.

   Por  outro  lado,  contrariamente  a  esse  ponto  de  vista,  Roy  Zuck (1981)  argumenta  em  favor  da  autenticidade  dos  discursos  de  Eliú  e defende  que  os  mesmos  fazem  parte  d a  redação   original  do  livro.  Dessa forma, não haveria justificativa plausível para  Eliú ser retirado da redação original  de  Jó.  As  suposta s  dificuldades  encontradas  seriam  explicadas por razões de natureza contextual que o próprio livro contemplaria. Dessa forma, Zuck (1981, p. 159) acertadamente se expressa:

    As ausências de referências a Eliú no prólogo é compreensível, pois ele  era  o  mais  jovem,  seu   papel  era  mais   de  ouvinte  do  que  d e expositor,  por  isso  não  interveio  nos  debates  promovidos  pelos maiores  [...]  o  argumento  de  que  Eliú  não  acrescenta  nenhuma contribuição ao livro cai por si só quando se observa que o seu ponto de  vista  sobre  o  sofrimento  é  distinto  daquele  ex posto  por  seus amigos,  e  também  seu  conceito  de  Deus  é  mais  elevado  do  que  o deles.

     UM JOVEM IRADO  (32.1-5)

   Os discursos teológicos de Eliú, em um total de quatro, estendem-se do  capítulo  32  ao  37.  Trata-se  de  um  longo  texto  em  que  Eliú  expõe meticulosamente  toda  a  sua  argumentação.  Swindoll  (2009,  pp.  292,293) observou  q ue  o  longo  trecho  dos  discursos  de  Eliú  (cap.  32 –37)  é  “maior do que doze outros livros d o Antigo Testamento e dezessete dos  27 livros ou  cartas  do  Novo  Testamento”.  Eliú  gastou  muita  saliva  para  contra-argumentar  o  que    dissera.  O  primeiro  discurso  compreende  os capítulos 32  e 33; o segundo discurso encontra-se no capítulo 34; o terceiro discurso está contido no capítulo 35; e o quarto nos capítulos 36 e 37.

     Então,  aqueles três  homens  cessaram de  responder  a  Jó;  porque  era justo  aos  seus  próprios   olhos.  E  a cendeu-se  a  ira  de  E liú,  filho  de Baraquel, o buzita, d a família de Rão; contra Jó se acendeu a  sua ira porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus. Ta mbém a sua ira se acendeu contra os seus três amigos; porque, não achando que responder,  todavia,  condenavam  a  Jó.  Eliú,   porém,  esperou  para falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele. Vendo, pois, Eliú que já não havia resposta na boca daqueles três homens, a sua ira se acendeu.

    “Então, aqueles três homens cessaram de respond er a Jó; porque era justo  aos  seus  próprios  olhos”  (32.1).  Adam  Clarke  (2014,  p.  28)  destaca que  as  traduções  antigas:  “A  Septuaginta,  Siríaca,  Arábica  e  a  Aramaica, todas dizem: ‘porque ele era justo ante os olhos deles’. Sugerindo que eles estariam convencidos de que ele era um homem santo e  que eles o teriam acusado tolamente”.

   “E acendeu-se a  ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a  sua ira , porqu e s e justificava a si mesmo, ma is do  que  a   Deus”  (32.2).  A  participação  de  Eliú  logo  a pós  os  debates  entre Jó e os  seus amigos é introduzida nos termos de uma intervenção  às falas dos  seus  outros  companheiros.  Após  um  longo  ciclo  de  discursos,  onde houve réplicas e tréplicas , porém nenhuma conclusão, Eliú  pede a palavra. Ele  sentiu-se  incomodado  com  a  falta  de  habilidade  dos   seus  outros amigos em contestarem os argumentos de Jó: “Atentando, pois, para vós, eis qu e nenhum de vós há que possa convencer a Jó, nem que responda às suas  razões”  (32.12).  Embora  fosse  o  mais  jovem  de  todos,  ele  estava convencido de  que  poderia  fazer melhor  do que  eles. Eliú acreditava  que Jó  havia-se  considerado  justo  e  que  os  seus  amigos  foram  inábeis  para contradizê-lo. Schonberger (2011, p. 173) destaca que:

   O  que  aborrece  Eliú  é  o  fato  de  que  os  amigos  tenham  ficado  sem palavras (vv.15-17). Assim, surge a impressão de que Jó estaria com a  razão  (v.12),  que  somente  Deus  “poderia  refutá-lo,  não  um  ser humano” (v.13). Eliú opõe-se decididamente a isso, e o faz, aliás, não com  as  palavras  dos  três  amigos  (v.14),  mas  com  um  discurso próprio,  divinamente inspirado,  que  não  é  partidário  (vv.21-22),  a o contrário, pretende dizer objetivamente o que é verdadeiro.

    A expressão “porque se justificava a si mesmo, ma is d o que a Deus” (v.  2)  deve  ser  entendida  como  sendo  uma  dedução  de  Eliú,  e   não propriamente  uma  referência  à  atitude  de    durante  os  debates.   Por desconhecer  os  bastidores  da  sua  provação,    ainda  continuava acreditando  que  Deus  seria,  de  fato,  o  grande  responsável  pelo  seu sofrimento. Nesse aspecto, Jó a creditava  ser inocente e não poderia ser, de forma  alguma,  responsabilizado  pelo  infortúnio  que  lhe  viera.  Eliú , portanto,  como  observa  Clarke  (2014,  p.  28 ),  censurava  os  amigos  por acusarem    sem  uma  fundamentação  plausível  e,  ao  mesmo  tempo, censurava Jó por acreditar que este deixava de enxergar as suas fraquezas e  imperfeições  por  causa  de  uma  excessiva  confiança  em  si  mesmo  e  um demasiado apego a uma justiça própria. Nesse aspecto, acreditava Eliú, Jó agira com imprudência ao questionar a providência divina e a sua suposta falta  de  benignidade nos  seus  atos.  A  esse  respeito,  Daniel  Estes  (2013,  p. 5804) observa:

    O  provável  senso  do  hebraico  é  que  Eliú  percebe    como  se  fosse mais  justo  que  Deus.  Segundo  Eliú,  quando    se  apega  à   sua alegação  d e  inocência,  ele  implica  que  sua  justiça  é  superior  à  de Deus.  Eliú  não  pode  tolerar    levantando  uma  suspeição  sobre  a justiça  de  Deus.  Ele  sente  que  deve  defender  a  honra  e  o  caráter  de Deus contra a acusação falaciosa de Jó.

    DEUS NUNCA DEIXOU DE REVELAR-SE, MAS ÀS VEZES ESCOLHE “OCULTAR-SE” (33.12-18)

    No  seu  discurso (33.12 -18), Eliú  responde  a    e  mostra aspectos  da revelação  de  Deus  na   história  humana.  Até  o  presente  momento,  Jó queixava-se d e que, mesmo diante de clamor por resposta, o Senhor nada lhe  comunicara.  Eliú  entendia  que    interpretava  o  “silêncio  de  Deus” como  uma  forma  de  punição  contra  ele.  Segundo  Eliú,    dissera  que  o Senhor  procurava  pretexto  contra  ele  e  considerava -o  o  seu  inimigo (33.10).

    Eis  que  nisto  te  respondo:  Não  foste  justo;  porque  maior  é   Deus  do que  o homem. Por  que  razão contendes com  ele?  Porque ele não dá contas  de  nenhum  dos  seus  feitos.  Antes,  Deus  fala  uma  e  duas vezes;  porém  ninguém  atenta  para  isso.  Em  sonho  ou  em  visão  de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama, então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a  sua instrução, para  apartar  o  homem  d o  seu  desígnio  e  esconder  do  homem  a soberba; para desviar a sua alma da cova e a  sua vida, de passar pela espada.

     “Antes,  Deus  fala  uma  e  duas  vezes;  porém  ninguém  atenta  para isso”  (33.14).  Eliú  tem  razão  em  mostrar  que  o  Senhor  sempre  se  revelou na história. No entanto, por desconhecer os bastidores da provação de Jó, ele  ignorava   essa  “ausência  de  Deus”  sentida  pelo  patriarca.  Da  mesma forma  que  Eliú,    também  ignorava  os  bastidores  d a  sua  própria provação, o qu e fazia crer que  Deus, por  não estar a  favor dele,  escolhera não falar. A verdade é que tanto Eliú como Jó desconheciam a razão desse “ocultar-se” de Deus .

    Na sua obra Quando Deus se Cala: o silêncio na Bíblia (2010), Silvio José  Báez  faz  um  meticuloso  estudo  s obre  o  lugar  do  silêncio  nas Escrituras  Sagradas.  Báez  (2010,  p.  15)  destaca  que  o  “silêncio  é  um fenômeno  complexo  e  dificilmente  definível”.  Nesse  aspecto,  o  silêncio não  pode  ser  identificado  como  uma  mera  ausência  de  sons  ou  vazio  de comunicação.  Ele  serve  de  sinal  nas  relações  entre  pessoas  e,  por  isso mesmo,  é  carregado  de  sentido.  O  silêncio  possui  importância  crucial  no processo  da  comunicação  e,  por  isso  mesmo,  é  essencial  na  experiência religiosa.  Báez  (2010,  p.  15)  destaca  que  o  silêncio,  “na  perspectiva teológica,  é  uma  rica  metáfora  do  ser  e  d o  agir  de  Deus  que  se  revela através da Palavra que o manifesta e do Silêncio que o esconde”.   

     É  no  campo  da  espiritualidade,  portanto,  que  o  silêncio  reveste-se de maior interesse, pois é inegável que ele promove o encontro com Deus.

Mas  não  é  apenas  no  campo  da  religião  que  o  estudo  do  silêncio  tem demonstrado interesse. Ele também tem sido objeto de estudo das ciências humanas. O estudo de Báez para a sua tese de doutorado sobre o silêncio contribui  mui to  para  a  compreensão  d essa  temática.  Báez  (2010,  p.  75) comenta:

     Se, por um lado, é legítimo que o homem se interrogue  sobre as leis naturais  que  regem  o  cosmo,  sobre  o  sentido  global  d a  própria existência  e  sobre  o  confuso  e  perene  devir  da  história,  por  ou tro lado, o mesmo homem experimenta os próprios limites e se dá conta da  sua  incapacidade  radical  de  conhecer  tudo  e  de  explicar  toda  a realidade,  mesmo  se  intuída  na  sua  existência   e  no  seu  significado, mostrou  que  não  podem  ser  definidos  com  clareza  total.  O  homem em  busca,  fascinado  e  admirado  por  tudo  o  que  a  razão, a  ciência  e os  seus  instrumentos  de  observação  revelam,  amedrontado  e desanimado  com  a   sua  pequenez  em  relação  às   dimensões  do universo,  deixa  emergir  algumas  interrogações que  s e  estendem  ao porquê,  ao  significado  último  de  tudo  isso  e,  em  particular,  ao sentido  do  seu  ser  neste  mundo,  com  a  curiosidade  e  a  avidez  d e saber com a angústia  diante do desconhecido.  

    Mesmo  os  amigos  de    fazendo  muito  barulho,  o  silêncio  no  livro de    é  algo  que  logo  é  perceptível  ao  leitor.  As   causas  desse  silêncio podem  ser  vistas  de  diferentes  ângulos.  Os  amigos  de    estavam convencidos  de  que  Deus  não  o  respondia  porque  ele  abrigava  algum pecado.  Para  Eliú,     padecia  de  um  orgulho  pecaminoso  qu e  o  impedia de  escutar  a  voz  de  Deus,  pois  Ele  falava,  mesmo  que  fosse  por  meio  de imagens  oníricas.  Como    ficou  demonstrado  aqui  neste  capítulo,  o silêncio ou o “ocultar-se” de Deus ocorre por outras razões no livro de Jó. Dessa forma, é  possível dizer que o  Senhor estava calado mesmo quando o seu silêncio falava bem alto. Nas palavras de Báez (2010, p. 13):

    O  calar-se  de  Deus  se  torna  o  convite  mais  forte,  voltado  para  a criatura  humana,  a  abandonar  a s  palavras  vazias,  as  palavras tranquilas,  para  entrar  numa  escuta  mais  profunda.  De  fato,  tal vez não  seja  verdade  que  Deus  se  cala  totalmente,  talvez  seja  mais verdadeiro dizer  que  Deus  fala  de  mod o  diferente, e  qu e  a  sua  Voz exige  ouvidos  mais  atentos,  corações  mais  disponíveis.  Se  o  movimento  harmônico  dos  astros  no  céu  é  uma  voz  sem  som  (Sl 19.2-5),  assim  se  pode  supor  que  a  história,  dramaticamente perturbadora,  tem  um  som  divino,  que,  se  for  escutado,  abre  para horizontes  inauditos  de  sentido.  Certamente,  exige-se  uma vigilância  paciente,  uma  espera  que   não  pretende  respostas imediatas,  que  sabe  que  não  pode  ter  satisfação  com  uma  receita validada de uma vez por todas.  

    DEUS: SOBERANO E JUSTO

    “Se ele aquietar, quem, então, inquietará? Se encobrir o rosto, quem, então,  o  poderá  contemplar,  seja  para  com  u m  povo,  seja  para  com  um homem só?” (34.29). No capítulo 34.9, Eliú faz uma defesa da soberania de Deus. Os amigos de Eliú já havia m, por diversas vezes , contrastado o a girjusto  e  soberano  de  Deus  com  as  atitudes  de  Jó.  Agora,  Eliú  põe novamente essa temática em evidência. Convém dizer que a soberania de Deus é uma doutrina bem definida nas Escrituras Sagradas.⁷⁹ Ela faz parte dos atributos de Deus. Wiley (2012, vol. 1, p. 193 ) define um atributo como sendo  “aquelas  qualidades  que  pertencem  à  natureza  divina  e  que  a constituem”.  Exemplos  são  vistos  claramente  em  textos,  tais  como:  “Pois o  Senhor,  vosso  Deus,  é  o  Deus  dos  deuses  e  o  Senhor  dos   senhores,  o Deus  grande,  poderoso   e  terrível,  que  não  faz  acepção  de  pessoas,  nem aceita  recompensas”  (Dt  10.17) ;  “Porque  eu  conheço  que  o  Senhor  é grande  e  que  o  nosso  Deus  está  acima  de  todos  os  deuses  (Sl  135.5);  “a qual,  a  seu  tempo,  mostrará  o  bem-aventurado  e  único  poderoso  Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele só, a imortalidade e  habita  na  luz  inacessível;  a  quem  nenhum  dos  homens  viu  nem  pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém!” (1 Tm 6.15,16).

   Dentro  desse  contexto,  é  oportuno  destacar  o  que  disse  o  escritor Jerry  Walls  (2014,  p.  19 )  ao  chamar  a  atenção  para  o  fato  como  Deus  é retratado  dentro  de  alguns  segmentos  d a  teologia  protestante.  Segundo ele,  para  muitos  pregadores  modernos,  Deus  não  passa  d e  um “carregador  de  malas”,  um  serviçal  a  serviço  do  seu  senhor  que  tem atuação  semelhante  ao  gênio  da  lâmpada.  Ele  está  pronto  a  a tender  todo e  qualquer  pedido  que  lhe  seja  feito.  Ele  destaca  que  essa  metáfora contrasta  com  a  figura  de  um  Deus  soberano  pregado  não  apenas  pela teologia  protestante  histórica,  mas,  sobretudo,  pelos  escritores  bíb licos. Segundo Walls (20 14, p. 19):

    Deus  é  reduzido  a  um  “ carregador  de  malas  cósmico”,  cuja  única preocupação  é  satisfazer  seja    quais  forem  as  necessidades  qu e  as pessoas tenham em suas vidas. A figura de um D eus de amor santo, diante d e quem estamos em peca do e em necessidade de salvação, é obscurecida ou até mesmo negada. A doutrina é descartada, a Bíblia é  utilizada  como  um  manual  de  auto -ajuda,  e  a  adoração  é substituída  por  várias  formas  de  entretenimento.  Muitos  se cansaram  de  tais  novidades  e  reconheceram  que,  se  de  fato,  existe um Deus, Ele deve ser levado bem mais a sério.

     É  exatamente  essa  ideia  que  Eliú  demonstra  querer  combater.  Não estaria    a tentando  contra  esse  importante  conceito  quando  parecia querer nivelar-se ao seu Criador? Eliú mostra que é a criatura que depende do  Criador,  e  não  o  Criador  da  criatura  (34.13 -15).  Stadelmann  (1997,  p. 106) destaca que, no capítulo 33, Eliú defende a tese de que “Deus é maior que  o  homem  e  não  precisa  dar  contas  de  seus  a tos  (vv.8 -13)”  e,  no capítulo  34,  que  “Deus  é  Senhor  absoluto;  s e  fosse  injusto,  o  u niverso simplesmente não subsistiria”. Da mesma forma, MacArthur (2019, p. 567) destaca que Eliú (34 .31-33) defende q ue “Deus não será regulado em suas tratativas  pelo  que  as  pessoas  possam  pensar.  Ele  não  consulta   homens. Quando ele escolhe castigar, decide à medida que é suficiente”.

     A PEDAGOGIA DE DEUS

    “Ao  aflito  livra  da  sua  aflição  e,  na  opressão,  se  revela  a os  seus ouvidos”  (36.15).  Uma  importante  contribuição  teológica  de  Eliú  no debate travado com  Jó está  no  seu  entendimento do  valor pedagógico do sofrimento.  Aqui  nesse  texto,  ele  diz  que  Deus,  por  meio  da  aflição  e  do sofrimento, abre os  ouvidos com quem ele  trata. Nesse aspecto, Jó  estaria experimentando a disciplina do Todo-Poderoso. Mesmo pondo em realce os  pecados  que    cometera  a  partir  da  sua   provação,  Eliú,  à  semelhança dos  seus  amigos,  parece  convencido  de  que    estava  sendo  disciplinado pelos pecados anteriormente cometidos. Stadelmann (1997, p. 1 07) destaca que  Eliú  defende  que  “o  sofrimento  é  um  castigo  salutar  que  exige aceitação livre do homem”. Jó deveria, portanto, aceitar o desígnio divino.

    Não há dúvida de que Jó foi moído pelo sofrimento, mas é inegável que  ele  cresceu  por  meio  dele.    não  sofreu  para  ser  disciplinado  de  um comportamento  errado,  pois  o  próprio  Deus    havia  testemunhado  a favor  do  seu  comportamento  exemplar  (1.8).  Ao  ser  provado,  Jó exteriorizou  atitudes  que  mereceram  censura  por  parte  do  Criador. “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” (38.2). Jó desconhecia  aspectos ocultos da sua vida que o fogo da provação fez aflora r. Mes mo s em ter consciência disso, ele estava sendo tratado por Deus.

    R. C. Sproul (1999, pp. 305,306) destaca que:

     às  vezes,  a  presença  da  d or  em  minha  vida  traz  o  benefício  prático de me santificar. Deu s trabalha em mim através da aflição. Por mais desconfortável  que  a  dor  possa  ser,  sabemos  que  as  Escrituras  nos dizem constantemente que  a  tribulação é um  meio  pelo qual somos purificados  e  conduzidos  a  u ma  dependência  mais  profunda  de Deus.    um  benefício  a  longo  prazo  que  presumivelmente perderíamos  não  fosse  pela  dor  que  somos  chamados  a  “suportar por  um  pouco”.  As  Escrituras  nos  diz em  para  suportar  por  um pouco,  porque  a  dor  que  experimentamos  a gora  não  pode  ser comparada  com  as  glórias  reservadas  para  nós  no  futuro. Do  outro lado,  o  prazer  pode  ser  narcótico  e  sedutor,  d e  modo  que  quanto mais o apreciamos e mais o experimentamos, menos conscientes nos tornamos  de  nossa  dependência   e  necessidade  da  misericórdia, auxílio  e  perdão  de  Deus.  Prazer  pode  ser  um  mal  disfarçado, produzido pelo Diabo para nos levar à  ruína final. Essa é a razão por que  a   procura  do  prazer  pode  ser  perigosa.  Quer  experimentando dor  ou  prazer,  não  queremos  perder  Deus  de  vista,  e  nem  a  necessidade que temos dEle.

   Todo cristão que vive a fé cristã autêntica compartilha a experiência de  Jó.  O  sofrimento é  uma  consequência  da  atual  condição  humana.  Não há  como  evitá-lo.  Dependendo  da  forma  como  é  compreendido,  o sofrimento  pode  produzir  santos,  mas  também  pode  produzir  ateus .  Os santos, assim como Jó, buscam em Deus a razão pela qual El e permite que o  sofrimento  aconteça.  Os  incrédulos  não  admitem  que  um  Deus  bom  e soberano  compartilhe  com  o  sofrimento humano.  Eles  caem  no  ceticismo e  na  falta  de  sentido  para  a  vida.  O  cristão  s abe  que  não  deve  ignorar  as palavras do apóstolo Pedro: “Amados, não estranheis a  ardente prova que vem  sobre  vós,  para  vos  tentar,  como  se  coisa  estranha  vos  acontecesse” (1 Pe 4.12).

A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó





A Teologia de Eliú

Introdução

     Tem o sofrimento alguma serventia? Joseph De Maistre responde afirmativamente:  “Creio no fundo de minha alma e sinto em minha consciência que, se o homem pudesse viver neste mundo isento de todo sofrimento, acabaria por se embrutecer”. Estaria Jó de acordo com De Maistre? Não somente chancelaria tais palavras, como haveria de assinalar: não fora o sofrimento, jamais viria a compreender a perfeita e agradável vontade de Deus.

     Começou Jó a entender a pedagogia do sofrimento através do judicioso discurso de um jovem teólogo que, ao contrário de seus molestos amigos, pauta cada uma de suas palavras na sabedoria que vem diretamente de Deus.

   Até este momento, mantivera-se Eliú calado, enquanto Jó  e seus  interlocutores  terçavam armas  em torno do sofrimento do justo. Mas, agora, esgotados os argumentos  de ambas  as partes, resolve o  jovem teólogo falar. Terá argumentos conclusivos? Veja como será respondida a pergunta que vem você fazendo insistentemente ao Senhor: “Por que o justo tem de sofrer? Existe algum propósito em todo este sofrimento?”

I. Eliú, um Grande e Reflexivo Teólogo

    Até à sua entrada em cena, estivera Eliú ouvimdo atentamente os discursos do patriarca e as arengas dos três amigos deste. Mas, agora,  apesar de sua pouca idade, põe-se a falar. De  suas  palavras  iniciais,  infere-se:  os  oradores  precedentes não lhe devotavam importância, por suporem que, sendo-lhe pouca a idade, não lhe era muita a sabedoria. Todavia, virão seus pronunciamentos a desequdibrar o debate; ao invés de se ater  às  especulações  do  humano  saber,  demonstrará  a inquestionável ciência de Deus no que tange ao sofrimento do justo. Em virtude de sua acurada sabedoria, Eliú é apontado como um dos prováveis autores do Livro de Jó.

    Antes de passarmos ao seu persuasivo discurso, vejamos alguns traços de sua biografia.

I.  Eliú, filho de Baraquel.

   Ao contrário dos outros personagens do Livro de Jó, incluindo o próprio patriarca, Eliú é o  que  possui  a  mais  completa  biografia.  Até uma pequena genealogia possuímos dele. Era filho de Baraquel, e tinha por avoengo  a Rão,  pertencente ao  clã dos  buzitas — uma tribo que habitava a península da Arábia (Jó 32.2). Ainda hoje é possível encontrar pelo Oriente Médio várias tribos que, descendentes dos buzitas, continuam a viver como se estivessem arredadas no tempo e no espaço. Visitá-las é como ultrapassar a barreira dos séculos,  e reviver os  costumes bíblicos  de um tempo que as Sagradas Escrituras vividamente preservam.

     Em hebraico, Eliú significa Ele é o  nosso Deus. Como naquele tempo os nomes revelavam não somente o caráter, mas também a crença das pessoas, conclui-se que a família de Eliú devotava a Deus uma adoração verdadeira e fortemente centralizada em princípios sadios e ortodoxos. Eis por que Eliú insurgiu-se de forma tão apaixonada contra os amigos de Jó; sem conhecimento, distorciam o conhecimento divino.

 2. Eliú, o jovem.

     Se comparado aos três amigos de Jó, não passava Eliú de um jovem tenro e pouco experimentado nos cuidados da vida (32.6). Entretanto, que ninguém se engane com a sua pouca idade!  O  seu ensino haverá de revelar um homem sábio, prudente e entranhado nos mistérios divinos.

    Por  que  são  menosprezados  os  jovens?  Indiretamente, Mathew Henry responde a esta pergunta que tanto vem incomodando a gente moça:  “A flor da juventude nunca aparece mais bela que quando se inclina para o Sol da Justiça”. Estaria o grande pastor e erudito inglês referindo-se a Eliú? Se no prólogo de  seu discurso  é  apresentado  como jovem,  ao  encerrá-lo Eliú já pode ser considerado um grande e consumado teólogo.

3.  Eliú,  o  teólogo.

   Mesmo  antes  de Abraão  e Moisés (os dois principais personagens da religião divina no Antigo Testamento), Eliú já reunia condições de apresentar, brilhantemente,  as  demandas  divinas  quanto  ao  aperfeiçoamento dos justos através da pedagogia do sofrimento. Observe que o seu monólogo quase que se confunde com o discurso  de Deus. Além do mais, não é reprovado em momento algum pelo Senhor, quando o Todo-Poderoso censura os três amigos de Jó (42.7-9).

   Como seria maravilhoso se todos os teólogos fossem assim!  O  teólogo  não  é propriamente  aquele  que  sistematiza uma doutrina; é aquele que, iluminado  pelo Espírito Santo, compreende a revelação divina, e a transmite em sua inteireza.

II. A Teologia de Eliú

  Ao invés de acusar a Jó e duvidar de sua integridade. Em vez de lançar-lhe em rosto impropérios gratuitos. Em lugar de se perder em especulações tolas, põe-se o jovem Eliú a apresentar uma teologia que, até aquele momento, não fora sequer cogitada naquela discussão. Não estará ele apresentando qualquer inovação; em seus lábios, contudo, ganhará este ensino uma renovação tal que,  passados mais de cinco mil anos, continua a edificar aqueles que se acham no crisol do amoroso Pai.

I.  A teologia da prova.

   Adiantando-se em seu discurso, exclama Eliú: “Pai meu! Provado seja Jó até ao fim” (Jó 34.36a). Recorramos  ao hebraico: Avi ybaben Yôb ad~netsah. O vocábulo ybaben comporta os seguintes sinônimos: provar, refinar como ouro, fundir como metal. Por conseguinte, deveria Jó, como o mais precioso  dos metais,  ser intensamente provado  até que todas as impurezas e imperfeições lhe fossem tiradas. Observe que Eliú roga a Deus seja o patriarca provado até ao fim. Se Jó tem de ser acrisolado,  que lhe seja completo o crisol; até ao fim: ad~netsah. A provação haveria de perdurar enquanto fosse necessária.

    Não  fora Jó  suficientemente provado? Entretanto, teria ele de suportar toda a ardência daquele cadinho até que viesse a entender a soberania de Deus. Doutra forma, jamais chegaria à estatura de perfeito  varão  (Jó  34.36b).  Não  era  ele  o instrumento de Deus? Que de sua alma, pois, evolasse a mais pura das músicas! Lettie B. Cowman compara o  sofrimento do crente a um mavioso instrumento: “Quando um organista pressiona as teclas pretas de um grande órgão, a música é tão agradável como quando pressiona as brancas, mas, para obter a expressão máxima do instrumento, deve tocar todas elas”.Qual barro nas mãos do oleiro, não competia a Jó questionar as ações de Deus (Rm 9.21). Caber-lhe-ia entender, por mais insuportável que lhe fosse a prova, que o Senhor esconde,  em cada crisol,  um maravilhoso  e  msondável propósito. Eis o que Paulo escreve aos atribulados irmãos de Roma:  “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança” (Rm 5.3,4).

     Depois  de  meditar  longamente  sobre  o  propósito  do sofrimento do justo, declara H. Dieterlen: “Tudo depende do modo por que se sofre. Mas Deus sempre tem um pensamento de amor nas tristezas que nos envia”. Afinal, como enfatiza o apóstolo, todas as coisas concorrem juntamente para o bem daqueles que, sinceramente, amam ao Senhor.

2.  A pedagogia da prova.

    O Senhor conduzia a Jó através das mais difíceis e inimagináveis provas, a fim de que ele viesse a tornar-se um instrumento ainda mais valioso e útil para o seu Reino. Quão maravilhosa é a pedagogia do sofrimento! Se incrédulos, ensina-nos a crer. Se intempestivos, disciplma-nos em um amor paciente e temperante. Se indiferentes, leva-nos a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que se alegram.Sim, Deus educava a Jó por intermédio do sofrimento. E o mesmo está Ele fazendo com você neste instante. Por isto, não se desespere! Este é o modo pelo qual o Senhor educa a seus filhos.

III. Todos Somos Provados por Deus

    Que homem de Deus ainda não foi provado? Todos temos  o nosso  quinhão de prova.  Uns são provados quanto  à sua obediência; outros, sobre o seu temperamento; aquelou- tros, com respeito ao apego aos bens terrenos; estes, respeitante ao  amor  à  família,  a fim  de  que  esta  não  tome  o  lugar  do Todo-Poderoso; aqueles, no que concerne à sua visão de mundo. De uma forma ou de outra, tomos somos provados. Albert Roehrich aconselha os que se queixam das provações:  “Não vos preocupeis antecipadamente com esta ou aquela provação, mas aguardai-a com calma. Tendo o firme propósito de viver pela fé, descansando inteiramente no Amigo sempre fiel”.

I.  A medida da prova.

    Conhecendo-nos as limitações, Deus  não  nos  prova,  a  fim de  nos  destruir (I  Co  10.13); pois sabe quão frágil é a nossa estrutura, e que somos pó (SI 103.14). Aliás, conhece-nos Ele melhor do que nós mesmos (SI  139.1-3). Por isso, administra-nos suas provas, visando- nos a perfeição (Ef 4.13).

    Então, por que permite Deus tenham alguns de seus santos mortes violentas? (Tg 12.2) E que o Senhor não prepara apenas heróis; também levanta mártires, a fim de que nós, através deles, sejamos fortalecidos na fé:  “Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição;  e  outros  experimentaram  escárnios  e  açoites,  e  até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno)” (Hb 11.35-38). Não tem Ele prazer na morte de seus santos? (SI 116.15). Por isso, amorosa e ternamente, recolhe-os; em seu regaço há um lenitivo eterno.

    Não são poucos os pais que, diante da perda de seus queridos filhmhos, perguntam:  “Não podias tu, Senhor, ter preservado a vida ao meu filho?” Acontece que, amando-nos Deus como nos ama, prefere Ele que choremos a morte de um ente querido a que lhe lamentemos a sorte. Todavia, até mesmo na tristeza o Senhor nos surpreende com a sua alegria. Aleluia!

2.  A prova que consola.

     Escrevendo aos corintios, declara Paulo que somos atribulados, para que, experimentando as consolações  do  Espírito,  possamos  administrar  as  mesmas consolações àqueles que se acham em desespero (2 Co  1.4). Assim é a tribulação do crente — uma tribulação que consola; uma prova que conforta.

     Conclusão

    Verdadeiro Deus e criador de quanto existe, foi o Senhor Jesus submetido às mais insuportáveis provas. Fez-se Ele homem; tomou a nossa forma; colecionou-nos as dores todas (Is 53.3). Assim, fez-se Ele nosso perfeito sumo sacerdote.

     Jesus é o nosso perfeitíssimo sumo sacerdote; em todas as coisas,  provado (Hb 4.15). Ele, porém, jamais cometeu qualquer pecado nem dolo algum achou-se em sua boca. O seu sofrimento foi tão agudo, e tão forte e implacável, a angústia, que veio a rogar ao Pai que, se possível, afastasse de si aquele cálice. Por isso, consola-nos o Cristo: “No mundo tereis aflições; tende bom ânimo: eu venci o mundo” (Jo 16.33). Aceitemos, pois, a pedagogia da prova; Deus quer a nossa perfeição.

COMENTÁRIO DE JÓ

 CLAUDIONOR DE ANDRADE

 


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