(Revista: Central Gospel - nº 45)
Texto bíblico básico
Provérbios 10.11-22
A boca do justo é fonte de vida, mas a violência cobre a boca dos perversos.
O ódio excita contendas, mas o amor cobre todos os pecados.
Nos lábios do entendido se acha a sabedoria, mas a vara é para as costas do falto de entendimento.
Os sábios entesouram a sabedoria; mas a boca do tolo o aproxima da ruína.
Os bens do rico são a sua cidade forte, a pobreza dos pobres a sua ruína.
A obra do justo conduz à vida, o fruto do perverso, ao pecado.
O caminho para a vida é daquele que guarda a instrução, mas o que deixa a repreensão comete erro.
O que encobre o ódio tem lábios falsos, e o que divulga má fama é um insensato.
Na multidão de palavras não falta pecado, mas o que modera os seus lábios é sábio.
Prata escolhida é a língua do justo; o coração dos perversos é de nenhum valor.
Os lábios do justo apascentam a muitos, mas os tolos morrem por falta de entendimento.
A bênção do Senhor é que enriquece; e não traz consigo dores.
Texto áureo
O caminho do Senhor é fortaleza para os retos, mas ruína para os que praticam a iniquidade. O justo nunca jamais será abalado, mas os perversos não habitarão a terra.
Pv 10.29,30.
Introdução
Como vimos na lição anterior (Livro de Provérbios – parte 1), o livro de Provérbios traz princípios para uma vida de sabedoria. Provérbio é uma sentença que substitui muitas palavras, e a palavra hebraica traduzida por provérbio significa comparação.
A sabedoria que frequentemente se repete no livro pode ser traduzida como habilidade, experiência e sagacidade.
Refere-se ainda à capacidade de aplicar a sabedoria divina à vida cotidiana e fornecer instrução moral.
Provérbios
II. Miscelânea dos Provérbios de Salomão. 10:1 - 22:16
É ponto de vista nosso que nos Provérbios a inspirada Palavra de Deus foi dada em uma forma literária especial. Tal como Davi usou o veículo da poesia, assim Salomão usou o veículo da literatura da Sabedoria, que ensina principalmente por meio de contrastes. Na primeira e principal parte (I) o contraste é mantido através de longas passagens – como, por exemplo, no contraste da mulher má com a sabedoria. Na seção fio contraste foi expresso em pequenas unidades constituídas de um só versículo. A grande maioria dos versículos desta seção tem um "mas" no meio do versículo.
A exposição se torna mais difícil por causa da natureza isolada desses provérbios. Não há um contexto imediato para nos orientar. Alguns comentaristas concluíram que os provérbios não seguem um plano, mas são uma coleção heterogênea (Greenstone). Toy os chama de "aforismos destacados". Delitzsch declara que há um agrupamento de idéias, não dentro de um plano compreensivo, mas um "desdobramento progressivo" que "brota continuamente". Há nesta seção uma espécie de unidade, mas vem mais da linguagem e do assunto que do arranjo. Anuncia-se um provérbio, depois o mesmo é repetido em outro lugar com variações que desenvolvem o significado.
O primeiro exemplo pode fazer um contraste entre as partes a e b; o segundo, entre a e c. Até mesmo um terceiro pode ocorrer, comparando a com d. Reunindo todos os três exemplos, temos uma definição mais completa do pensamento expresso em a. Seria mais fácil se esses pensamentos estivessem agrupados. Os antigos evidentemente achavam mais interessante ter esses pensamentos separados e um tanto ocultos.
Como já vimos, também há um certa unidade no vocabulário moral que foi usado. Assim, muitos provérbios se relacionam com os justos, os sábios, os retos versus os cruéis, os tolos, os perversos. Estudo adequado de um versículo pode envolver estudo da concordância de todo o livro – mas, dizendo melhor, não um simples estudo da concordância mecânica, mas antes uma meditação séria sobre toda a maneira de pensar do autor. Pois através da repetição, contrastes, vocabulário diferente e variadas considerações do tema, Deus, através deste autor, ensina-nos que a justiça exalta qualquer um, masque o pecado é sempre um opróbrio. Devemos insistir novamente que este não é um Almanaque de ditados substanciais, cheios de senso comum sobre os problemas da vida; é uma coleção divina de máximas que ensinam o caminho da santidade.
A. Provérbios Contrastantes. 10:1 - 15:33.
Provérbios 10
10:1. Provérbios de Salomão. Veja Autoria na Introdução. Um filho sábio. Esta frase foi novamente usada em 13:1; 15:20. Na última, 20a é idêntica a 10:1a. O contraste em 13:1 é com "escarnecedor" (veja comentários sobre 1:22). Em 15:20 o contraste é com "louco" (veja observações sobre 8:5).
2. Os tesouros da impiedade, isto é, lucro desonesto. O versículo 10:2b faz paralelo com 11:4b.
3. (A alma do) justo. Aqui, como ocorre com freqüência, abria foi usada com referência ao todo da pessoa (cons. Sl. 37:3, 25).
4. Mão remissa. À primeira vista, nas traduções inglesas, parece que é apenas uma recomendação de frugalidade. Mas a palavra remissa costuma significar fraudulenta. A dificuldade consiste em que sua raiz, ramâ, tanto pode significar "enganar" quanto "'afrouxar", embora este último significado não seja bem confirmado. Encontramos o contraste com "diligente" em 12:24 e 12:27. "Remissa" tem seu paralelo em "indolente" em 19:15, que se contrasta com "diligente" em 13:4.
"Indolente" tem conotações morais, conforme vimos em 6:6. Podemos portanto concluir que 10:4 significa: "Aquele que trabalha com mão fraudulenta fica pobre; mas a mão do justo o torna rico".
5. Filho entendido. Nas traduções inglesas este é um provérbio que se opõe à preguiça. Toy, contudo, observa que o versículo poderia também ser invertido – "O filho entendido ajunta no verão", etc. Esta é a ordem do grego. De acordo com este ponto de vista, temos aqui uma característica de um homem bom – ele é previdente – e não uma sugestão de que a previdência torna boa uma pessoa!
6. Violência, E.R.C. É melhor inverter a frase como faz a RSV e a Berkeley. O contraste vê-se melhor em 10:11, onde 11b é idêntico a 6b: a boca dos perversos "oculta a violência".
7. A memória do justo é abençoada. Esta frase é famosa entre os judeus e usada quando da morte de um homem bom. É a réplica hebraica do requiescat in pace, geralmente abreviado para zsl (zeker saddîq liberaka).
8. O insensato de lábios ("sempre moralmente mau", BDB) e seu paralelo feminino, "loucura", foram usados cinqüenta vezes no V.T., e quarenta e uma dessas ocorrências de ‘ewil estão nos Provérbios. A tradução para louco no inglês moderno é enganosa. Uma palavra tal como "patife" seria melhor. O versículo 8b repete-o em 10b.
10. O que acena com os olhos. Veja comentados sobre 6:13.
11. A violência. Veja versículo 6.
12. O amor cobre. Observe a ligação entre este versículo e 17:9; 16:28. Em 17:9 o oposto do homem que cobre uma transgressão é o homem que amplia a falta de outrem. Tal homem em 16:28 "semeia contendas". Excitar contendas é a característica do ódio em 10:12. Há semelhanças verbais entre esta passagem e 6:14-19, a qual já Amos. Obviamente o significado aqui e nas alusões em I Pe. 4:8 e Tg. 5:20, não é que se amamos os outros, nosso amor expiará os nossos pecados; mas se realmente amamos os outros, daremos menos importância às suas faltas.
14. A boca do néscio é uma ruína. Jones e Walls observam de maneira precisa que ruína neste provérbio fornece uma deixa para o versículo seguinte. Geralmente isso acontece e a deixa oferece uma ligação entre os dois provérbios, porém algumas vezes a conexão fica totalmente perdido em português,
15. O rico. Este versículo sozinho seda enganador. Nem a riqueza nem a pobreza são coisas sagradas nos Provérbios. Uma comparação com 18:11 mostra que o homem rico pensa na imaginação que as sum riquezas são a sua força.
19. No muito falar. Provavelmente os versículos 18-21 formam uma unidade, onde o 20 e o 21 mostrara que não é a loquacidade que está sendo condenada, mas as palavras más.
23. O insensato. O restante do capítulo dá uma série de severos contrastes entre o ímpio e o piedoso. Maldade. Só em três lugares a AV traduz assim a expressão zimmâ. Em outros lugares é "iniqüidade", "obscenidade", "crime". O patife acha que o pecado é divertimento. 31. Perversidade. Aqui e no versículo 32 fica melhor empregar o termo perverso.
Provérbios 11
11:1. Balança enganosa. O mesmo pensamento se encontra em 16:11. Em 20:10 diferentes pesos e medidas são chamados de "abominação ao Senhor", e em 20:23 uma "balança enganosa" torna a ser condenada. São diversos os métodos do furto comercial. Um deles é a balança mal aferida. Outro é possuir unidades de peso de diversos pesas para serem usados na compra e venda com vantagem pessoal. Esses são os "dois pesos" condenados. O peso justo. Em hebraico, pedra perfeita. As pedras eram usadas como peso e era muitíssimo fácil raspá-las ou lascá-las. A lei de Moisés proibia toda essa desonestidade (Lv. 19:36; Dt. 25:15; cons. Ez. 45:10; Amós 8:5, et al.). Nossos governos, hoje têm repartições que fiscalizam pesos e medidas para manter os devidos padrões. Na teocracia de Israel, o estabelecimento de tais padrões ficava geralmente a cargo dos sacerdotes. Por isso encontramos referências ao "siclo do santuário" (Êx. 38:26). Os pesos eram especialmente importantes, pois com a ausência de moedas, antigamente, a prata e o ouro eram pesados para se fazer pagamentos. Muitos desses siclos já foram descobertos. Pesava cerca de 11,4 gramas cada siclo comum (R.B.Y. Scott, "Weights and Measures of the Bible", BA XXII, 1959, 32-40).
2. A soberba. No hebraico há uma alteração entre soberba, zadon, e desonra, qalon. 7. A expectação da iniqüidade. O versículo 7a é paralelo a 10:28b. Veja também 11:23. Em Jó o termo expectação (esperança, Jó 14: 7) se refere à vida do além (cons. Jó 14:7-15). Se o homem ímpio não tem esperanças após a morte, se a sua expectativa é a ira, quando a expectação do justo é alegria, então o autor aqui olha pela fé além da sepultura como fizeram Jó, Davi, Daniel e outros.
13. O mexeriqueiro. O hebraico, rakil, "caluniador". A declaração de 13a faz paralelo com a de 20:19a, a qual veremos. Encobre. Veja também 10:12, onde se usa a mesma palavra.
14. Multidão de conselheiros. Cons. 24: 6 com referência à mesma expressão. 15. Fiador. Veja comentários sobre 6:1.
16. A mulher graciosa. Não no sentido moderno, isto é, culta e agradável, mas literalmente, uma mulher virtuosa. Possivelmente o versículo 16b não é uma simples declaração adicional, mas uma comparação bem conhecida – "Uma mulher virtuosa alcança honra como os poderosos adquirem riqueza".
17. O homem bondoso. Provavelmente um paralelo de "mulher graciosa" no versículo 16. A si mesmo se fere, isto é, há uma recompensa para a bondade.
18. O perverso ... recompensa. Uma aliteração, sheqer versus seker. Tais aliterações, deixas e repetições são alguns dos aspectos do estilo de Provérbios que às vezes explicam a ordem do material, mas que -ficaram perdidos na tradução.
20. Perversos. Desonestos. Os que andam em integridade. Perfeitos, completos (moralmente).
22. Jóia de ouro. O anel que as mulheres do Oriente costumavam usar no nariz. Que coisa incongruente se estivesse no focinho de um animal tão imundo! Mas é a mesma coisa quando uma mulher só tem beleza sem caráter. Discrição. Isto sem dúvida é percepção moral, como em Sl. 119:66.
24. A quem dá liberalmente. Os versículos 24-29 podem ser considerados como um grupo que trata da liberalidade "Dai e dar-se-vosá". Esta pessoa dá com o coração generoso (v. 25). O oposto acumula cereais – e podemos supor que havia muitos comerciantes fazendo o mercado negro em ocasiões de cercos e fomes – e recebe maldição em lugar de bênçãos. O erro não está em ter riquezas mas em confiar nelas (v. 2). 25-31. A alma generosa prosperará (cons. Sl. 1:3; 52:7, 8; 92:12- 14; Jr. 17:8). Este pensamento aparece com freqüência nos Provérbios.
30. Árvore da vida. Veja comentários sobre 3:18. O que ganha almas. A expressão idiomática não está claramente é: aquele que toma almas (pessoas) é sábio. Alguns interpretam: "o homem sábio adquire amigos" (Berkeley). Fritsch diz que toma significa "destruir". A RSV dános uma hipótese desnecessária de que a ilegalidade tira muitas vidas (trocando hakam para hamas). Delitzsch apóia a AV, que é satisfatória, embora possa incluir mais que pescar homens.
31. O justo. A LXX interpreta que o justo será punido pelo seu pecado; quanto mau o ímpio. I Pe. 4:18 cita esta passagem ao pé da letra. Contudo, o hebraico também pode ser entendido como significando que o justo obterá uma bênção, enquanto o perverso receberá o juízo. O siríaco concorda com a LXX e esta interpretação pode ser aceita.
Provérbios 12
12:4. A mulher virtuosa. A frase foi novamente usada em 31:10. A palavra hayil, quando se relaciona com os homens, especialmente soldados, significa "força". Referindo-se a uma esposa, indica as virtudes femininas, talvez "nobreza". Provérbios 11:16 fala de uma mulher graciosa; 19:14 refere-se a uma mulher prudente. Todos estes termos no contexto de Provérbios falam de uma mulher boa sob diversos aspectos.
8. Entendimento. A palavra sekel foi aqui colocada em contraste com um coração "perverso" ou "desonesto". Em outro lugar foi colocado em oposição à "perfídia" (13: IS), "estultícia" (16:22; 23:9). Delitzsch, Toy e outros parecem absolutamente enganados em chamá-la de simplesmente "inteligência". A sabedoria moral ou bondade é o que certamente se pretende.
11. O que corre atrás de coisas vãs. Este provérbio foi repetido quase ao pé da letra em 28:19. A RSV, Berkeley e Delitzsch traduzem para procura vã. Mas a Palavra não foi empregada dessa maneira em nenhum outro lugar. Em Jz. 9:4; 11:3; II Sm. 6:20 ela se refere a pessoas vãs, patifes. A LXX diz vaidades, talvez se referindo a ídolos.
12. Do que caçam os maus. A palavra caçam é difícil. A LXX a omite. A Siríaca a traduz: fazer o mal. Ela pode significar torre forte (RSV), e muito dificilmente, presa de guerra (Berkeley). A raiz é caçar. Possivelmente a Siríaca dá uma indicação para uma tradução proveitosa – "o desejo do perverso é andar atrás do mal", aceitando-a em uma forma arcaica.
18. Alguém há cuja tagarelice. Diversos provérbios começam com esta construção especial: "Há aquele que . . . " Os versículos 18-23 referem-se ao falar palavras torpes.
28. Não há morte. Não a negativa usual para esta construção hebraica, mas foi usada de maneira semelhante em 31:4. A LXX e a Siríaca faz de 28b um contraste de 28a, "os caminhos do perverso levam para a morte", que foi adotado pela RSV, Fritsch, Toy e outros. A tradução da AV, da BV, Delitzsch, Greenstone e outros relaciona o versículo com a imoralidade. Mas a observação de Berkeley de que há "poucas declarações sobre a moralidade no Velho Testamento" é infeliz. Muitas referências positivas à ressurreição e vida futura existem nos Salmos e nos Profetas, embora grande parte seja discutida pelos mestres "liberais". Cons. Jó 19:25-27; Sl. 16:10; 17:15; Is. 25:8; 26:19; Ez. 37:10; Dn. 12: 2 e outras.
Provérbios 13
13:1. O filho sábio. Veja comentários sobre 10:1. O verbo "ouve" tem de ser acrescentado na primeira parte do versículo como na AV, na LXX e na Siríaca. 4. O preguiçoso. Sobre as implicações morais do termo, veja observações sobre 6:6. A alma significa simplesmente o indivíduo. 8. Com as suas riquezas se resgata. A idéia é que o homem rico atacado ou raptado pode pagar o seu próprio resgate. Segundo uma lei hebraica um homem não podia comprar a sua própria liberdade em caso de julgamento. Ao pobre não ocorre ameaça. Cons. 1b, "o escarnecedor não ouve a repreensão". "Não ouvir a repreensão" é característica do homem mau. Por que dizê-lo do pobre? A LXX e a Siríaca seguem o hebraico. A RSV faz emendas drásticas. Talvez devamos traduzir rash, "pobre", como ro'sh, "chefe", tornando este versículo paralelo ao versículo 8a. O "chefe" ("chefão", como diríamos) não aceita repreensão; ele sempre consegue sair dos seus apertos por causa do seu dinheiro. 9. A lâmpada dos perversos. Veja também 20:20; 24:20; Jó 18:5; 25:17. Era uma metáfora popular.
12. Árvore de vida. Veja comentários sobre 3:18.
14. O ensino do sábio. O versículo anterior menciona a "palavra" e o "mandamento". O ensino, portanto, é mais do que isso nesta passagem (RSV, Berkeley). Este versículo é como o 14:27 com o "ensino do sábio" substituído por o 'temor do Senhor". Certamente foi de propósito que o autor recorreu assim a um pensamento semelhante com variações.
15. A boa inteligência consegue favor. Muito parecido com 3:4. Hen, favor e sekel, inteligência, são aqui tão claramente termos morais resultantes dos mandamentos de Deus, que torna-se difícil entender como Delitzcsh pode chamar sekel de "educação esmerada". A BV diz: A boa inteligência empresta encanto. A RSV fala de bom senso. Essas traduções perdem o significado do contraste entre a bondade e a transgressão 16. Todo prudente. Com. 8:12. O sábio, oposto de kesil, "velhaco".
20. O companheiro dos insensatos se tomará mau. Um jogo de palavras. No hebraico, companheiro e mau (destruído) são palavras semelhantes.
24. O que retém a vara. Sobre a vara da correção veja também 19:18; 22:15; 23:13,14. "Poupe a vara e estrague a criança" tornou-se um ditado popular. Devemos nos lembrar, contudo, que Provérbios não recomendam espancamentos. Nem o castigo físico constitui o único instrumento de educação mencionado (cons. 22:6). Na verdade, o ensino da justiça e O temor do Senhor são necessários para que a vara não venha a falhar.
Provérbios 14
14:1. A mulher sábia. Não são exatamente as mesmas palavras de 9:1, mas aqui e em 14:2 a alusão àquele que "teme ao Senhor" é sem dúvida uma referência à primeira seção do livro, 1:1 – 9:18. 5. A falsa (testemunha). Repetido com variações interessantes em 19:5,9 e 21:28. As palavras são semelhantes às do nono mandamento, mas não idênticas.
9. Os loucos zombam do pecado. A primeira metade deste versículo é difícil de entender, principalmente porque zombam foi usado como verbo finito apenas seis vezes no V.T. Seu significado não está claro. Parecido com 14:9 é 19:28 – "A testemunha ímpia escarnece da justiça" (RSV). Parece que há motivos idênticos para traduzirmos os loucos zombam do pecado.
12. Há caminho que . . . parece direito. Este versículo foi repetido ao pé da letra em 16:25. (A respeito dessas repetições cons. Introd., Coleções de Provérbios). Neste caso, há uma deixa no versículo 12, "ao cabo", que se liga ao versículo 13.
13. Até no riso. Em vez de entendermos que este versículo exibe um pessimismo incomum ao livro de Provérbios, o versículo pode ser ligado ao anterior, assim – "O fim do caminho que parece direito ao homem é triste e difícil".
20. O pobre é odiado até do vizinho. Este versículo não declara simplesmente uma verdade comum, nem a aprova. A deixa do vizinho no versículo 21 mostra que odiar o vizinho dessa maneira é pecado.
24. A riqueza. O grego, mudando uma letra, diz: A coroa do sábio é a sua prudência (também na RSV). 27. O temor do Senhor. Este versículo é continuação do 26, conforme a repetição do "temor do Senhor" indica. Sob outros aspectos, o versículo é paralelo de 13:14.
31. A este honra. Veja comentários sobre 19:17, e compare 17:5.
32. Ainda morrendo, tem esperança. Conforme vemos, um testemunho da esperança na eternidade. Pois em ainda morrendo, a LXX e a Siríaca dizem betummo, em sua integridade, traduzindo com o m e o t invertidos. É um forte testemunho contra o texto hebraico e foi adotado pela RSV. Toy argumenta a seu favor porque, conforme diz, o autor não tinha esperanças na vida futura. Torna-se perigoso julgar de antemão uma dúvida. Veja comentários sobre 12:28. Mas o texto em sua integridade tem um bom apoio.
Provérbios 15
15:4. Árvore de vida. Veja observações sobre 3:18.
8. O sacrifício dos perversos é abominável. A frase, abominável ao Senhor, liga os versículos 8 e 9. Um grupo de versículos estão assim associados no hebraico. Provérbios 15:8 está repetido em 21:27a, onde se acrescenta que tal sacrifício provém de um coração perverso. Este versículo foi citado nos Documentos Zadoquitas. Documentos do período da literatura do Mar Morto (veja Introdução sob o título Autoria). Toy, representando os mais antigos "liberais", observa que os sacrifícios foram mencionados só nesta passagem de Provérbios e em 7:14; 17:1; 21:3, 27 e sempre com desaprovação (mas veja também 3:9). Ele vê aqui um contraste entre a religião profética, que exigia moralidade, e a ênfase sacerdotal sobre o ritual. Ele cita o Sermão da Montanha como parte do movimento profético, que ele também vê em Amós 5:22; Is. 1:11; Jr. 7:22; I Sm. 15:22 e outros. Felizmente, esta reconstrução unilateral da religião israelita, com a perversão de tais textos, já não está mais na moda. É claro que os profetas se opunham a sacrifícios idólatras (Jr. 7:18; Amós 4:4, 5; e outros) e o sacrifício oferecido em desobediência; mas eles não se opunham aos sacrifícios verdadeiros. Na verdade, Isaías chama o Servo sofredor que estava para vir de "oferta pelo pecado" (Is. 53:10). Infelizmente o "liberalismo" mais recente da chamada Escola Sueca parte para outra tangente: Ela reúne os profetas e os sacerdotes, mas os transforma juntos em devotos do culto do Ano Novo babilônio.
11. O além e o abismo estão descobertos perante o Senhor. "Os olhos do Senhor estão em todo lugar" (15:3) e "os caminhos do homem estão perante os olhos do Senhor" (5:21). O abismo (Abaddon) faz paralelo com Sheol aqui e em 27: 20 e Jó 26:6. Faz Paralelo com "morte" em Jó 28:22 e com "sepultura" no Sl. 88:11. Fora destas passagens só foi usado em Jó 31:12 e Ap. 9:11. Sua raiz significa perecer, morrer (BDB). Delitzsch é vítima da tendência comum dos mestres de interpretarem Sheol e Abaddon segundo o Tartarus e Hades do grego. Isto é ilusório, pois os conceitos grego e hebraico da vida do além são tão diferentes quanto suas divindades. Essas palavras não designam o reino dos mortos nem os colocam em uma caverna subterrânea. São apenas palavras poéticas para sepultura, a qual, é claro, fica debaixo da terra. Com referência a Sheol, veja observações sobre 1:12 e 2:18.
12. O escarnecedor. O pecador. Veja observações sobre 1:22,
13. O coração alegre. Semelhante a 17:22. Este é um provérbio secular usado aparentemente para fazer contraste com o seguinte, com referência ao "coração entendido, isto é, um coração que tem integridade (cons. 12:25).
17. O boi cevado. Um boi gordo (RSV, Berkeley). Os versículos 16 a 18 combinam entre si como provérbios contra a ira. O versículo 18a faz paralelo com 29:22a. 20. O filho sábio. Veja comentários sobre 10:1.
24. O inferno em baixo. Com referência ao Sheol, veja observações sobre 1:12 e 2:18. As bênçãos do homem bom o salvam da morte prematura. Toy defende que o homem sábio é preservado da partida prematura para a sepultura. Delitzsch faz do versículo um contraste entre o céu e o Sheol para os ímpios, desenvolvendo a doutrina da vida futura. É mais simples aceitálo como a vida versus a morte. B. Provérbios Especialmente Comparativos. 16:1 – 22:16.
Provérbios 16
16:2. Puros aos seus olhos. O mesmo pensamento aparece em 14- 12 e 16:25. Este versículo torna mais explícito que o Senhor é o verdadeiro Juiz. O mesmo, com variações, ocorre em 21:2. 3. Confia ... as tuas obras. Estas palavras são muito parecidas com às do Sl. 37:5. E o Sl. 37:1 é nitidamente paralelo de Pv. 24:19.
4. E até o perverso para o dia da calamidade. Este versículo tem sido usado como apoio para o extremo calvinismo. Delizsch comenta que "a perversidade dos agentes livres está surdo considerado neste plano", mas ele não considera o versículo no sentido de um predestinação para o mal, o que os calvinistas meticulosos não fazem. O próprio Calvino, de acordo com Delizsch, afirmava que a predestinação para o mal seria um "dogma horrível". Mas na Bíblia a soberania divina tem sido ensinada lado a lado como livre arbítrio. O conhecido versículo, "faço a paz e crio o mal" (Is. 45:7), naturalmente não se refere ao mal moral, mas às calamidades.
5. Arrogante de coração. Observe a ligação que há entre os versículos contra o orgulho; o espírito altivo e o orgulho antes da destruição (16:18); o orgulho antes da destruição e a humildade antes da honra (15:33); todo o orgulho é abominável diante do Senhor (16:5; cons. também 11:20a).
8. O pouco havendo justiça. Veja em 15:16, 17 palavras semelhantes.
10. Decisões autorizadas. Os versículos 10-15 apontam para diversas obrigações e funções dos reis (Greenstone). A passagem começa com um interessante versículo que devia ter agradado ao Rei Tiago I em 1611! Mas a palavra qesem, decisões autorizadas, não foi usada em nenhum outro lugar no bom sentido! Significa basicamente adivinhação, ou oráculo (LXX). Decisões inspiradas (RSV) e decisão piedosa (Berkeley) são grandiosas demais para se encaixarem no hebraico. Delizsch nos faz lembrar que Israel jamais considerou seus reis infalíveis. O provérbio do versículo 10 significa que o juízo verdadeiro é a obrigação dos reis. O dever é especificado e limitado em 16:12, 13. 11. Peso e balança justos. Veja a exegese de 11:1.
15. A sua benevolência. A palavra transmite a idéia de 16:13, onde o deleite do rei (a mesma palavra) diz-se orem os lábios justos.
16. Melhor . . . do que o ouro. Com. 8:10, 11. 18. A soberba precede a ruína. Veja observação sobre o versículo 5. 21. Aumenta o saber. O versículo 21b é paralelo de 23b em uma associação consciente. Evidentemente os sábios hebreus gostavam desta repetição com variações artísticas.
22. Fonte de vida. Com referência a 22a, cons. 10:11; 13:14; 14: 27. Quanto a 22b, cons. 14:24.
25. Há caminho que parece direito. Idêntico a 14:12. Cons. 16:2. 28. O homem perverso. Compare com 17:9; 18: 8 (que é igual a 26:22). Sobre o falar mal dos outros, veja exegese de 20:19. Conforme 16:28 indica, O difamador não é simplesmente aquele que conta os segredos alheios mas um homem perverso "que espalha contendas" (cons. 6:14,19).
31. Coroa de honra. Os jovens têm a força com que podem se gloriar (20:29) e os idosos têm os cabelos brancos. Mas este versículo torna explícita a condição para a glória dos velhos – a justiça.
33. A sorte se lança. Greenstone conclui claramente (versus Toy e Delizsch) que esta não é uma sanção especial para o lançamento de sortes para determinar questões e muito menos para determinar a vontade de Deus. É simplesmente uma declaração de que o lançamento de sortes o mais extravagante dos atos humanos está controlado pelo Deus Todo-poderoso.
Provérbios 17
17:1. A casa farta de carnes. Abundância de comida. Grande parte das ofertas pacíficas era comida pelo próprio ofertante. Veja observações sobre 7:14.
2. O filho que causa vergonha. Veja também 19:26; 29:15. Um servo sábio, isto é, honesto, desapossa o filho mau. Toy interpreta isto de maneira puramente secular, intitulando-o: "O talento tem sucesso."
3. O crisol. O cadinho que se usa na refinação.
5. O que escarnece do pobre. Compare com 14:31a, que é bastante parecido, e as observações sobre 19:17.
6. Coroa dos velhos. Veja observações sobre 16: 31.
8. Suborno. Vê-se por esta passagem que os subornos eram considerados eficientes (cons. 18:16; 21:14). Mas o autor não para aqui; ele condena o seu uso (17:23).
9. O que encobre a transgressão. Quanto a uma verdade semelhante a esta, veja 10:12. Veja 16:28 e a exegese de 20:19 quanto à verdade contida em 9b. Um bom exemplo de versículos distantes que se encaixam nos Provérbios.
12. Uma ursa roubada dos filhos. A mesma figura foi usada em Os. 13:8. Provérbios não contém tantas ilustrações da natureza como esperaríamos.
13. O bem com o mal. A maioria dos comentaristas aceita isto como prova de que Provérbios apenas adverte contra a ingratidão. Mas mesmo o mal praticado contra o mal é condenado (veja 20:22; 25:21, 22, citado em Rm,12:20).
18. Ficando por fiador. Veja exegese de 6:1. 21. O pai do insensato. Veja exegese de 10:1 e compare 17:25 em relação a esta palavra, "insensato" (em heb. nabal; conseqüentemente, Nabal, I Sm. 25:25). Em Provérbios, só nesta passagem e em 17:7; 30:22. É um dos muitos sinônimos para "insensato". Como no Sl. 14:1, não significa simples estupidez. Salmo 14:1 significa: "O velhaco disse em seu coração: Não há Deus".
22. O coração alegre. Observe a semelhança com 15:13. Neste versículo também há uma deixa semelhante à do versículo anterior. 23. Suborno (cons. v. 8). 25. O fino insensato. Cons. 17: 21 e veja observações sobre 10:1. Os versículos 21, 25 ambos usam a palavra kesil, "insensato", em sua primeira parte, mas mostra variação artística na segunda parte.
27. O sereno de espírito. Ou espírito calmo (Berkeley e Delizsch). Podemos contrariar a declaração de Toy que diz que 17:27, 28 apenas ensina o "valor do silêncio". Antes, como prova Delizsch e enfatizam as palavras inteligência e estulto ('ewil, "patife"), o ensino é contra as palavras coléricas.
Provérbios 18
18:1. O solitário. Este versículo é um tanto difícil de compreender nos detalhes. Por isso recebeu algumas interpretações forçadas. Delizsch toma a primeira parte do versículo como condenação dos "cismáticos e sectários", isto é, dos membros de igreja dissidentes, no sentido moderno da palavra. Hilel, também, de acordo com Greenstone, usou-o para condenar o separatismo religioso. Mas esta interpretação é desnecessária e discorda de outras passagens das Escrituras. Paulo separou-se dos fariseus (Atos 19:9) de maneira inteiramente justificada. Obviamente, este versículo nada tema ver com tais questões. O solitário é aquele que indevidamente separou-se de Deus, buscando o seu próprio desejo, não o do Senhor. Tal homem é um pecador.
4. Águas profundas. Com referência a 4a, compare com 20:5a. 5. Ser parcial com o perverso. Parcialidade no julgamento. Cons. 17:15, 16; 24:23; 28:21; Dt. 1:17; 16:19; et al. 8. Maldizente. Paralelo de 26:22. Veja observações sobre 20:19. Doces bocados (feridas). Usado só nestes versículos. A evidência para esta tradução, doces bocados, é insignificante.
11. Uma alta muralha. Este termo vem da mesma raiz de "seguro" no versículo 10. Este provérbio oferece um contraste ao provérbio do versículo 10, que dá o segredo da verdadeira segurança. Um homem rico só se sente seguro "segundo imagina". A RSV faz sua tradução partindo de uma raiz diferente e assim perde a ligação que existe com 18:10. O versículo 11 faz paralelo com 10:15a.
12. Antes da ruína. Observe a semelhança entre 18:12a e 16:18a; entre 18:12b e 15:33b. Veja observações sobre 16:5.
20. Do fruto da boca. Este versículo não fala de alimento, mas de palavras, e adverte sobre o que Jones e Walls chamam de "po der letal da língua!"
22. Uma esposa. A LXX acrescenta boa esposa, o que se entende de 12:4 e 31:10, mas não precisa ser expresso. Provérbios 19 19:1. Melhor é o pobre. Observe que 19:1a é idêntico com 28:6a. O contraste em 19:1 é com o homem perverso, o insensato. Em 28:6, o contraste é com o homem rico perverso. As riquezas por si não são condenadas, mas as riquezas com a maldade.
Provérbios 19
19:1. Melhor é o pobre. Observe que 19:1a é idêntico com 28:6a. O contraste em 19:1 é com o homem perverso, o insensato. Em 28:6, o contraste é com o homem rico perverso. As riquezas por si não são condenadas, mas as riquezas com a maldade.
3. É contra o Senhor. O verbo hebraico significa ficar zangado ou irritado. O ofendido de Berkeley é bom. A LXX diz censura a Deus.
4. As riquezas multiplicam os amigos. Observe a semelhança com 14:20. Aqui o pensamento está aprimorado em 19: 6,7. Veja comentários sobre 17:8, 23. Aqui se declara o fato da influência das riquezas, mas não se aprova; em outro lugar condena-se o uso abusivo dos presentes.
5. A falsa testemunha. Quase idêntico a 19:9.
10. A vida regalada. Ou luxo (como na maioria das versões).
11. A discrição. A palavra sekel refere-se à sabedoria, mas à sabedoria moral que o livro de Provérbios recomenda. Prudência (Berkeley) é melhor do que bom senso (RSV). Longânimo. A palavra refere-se ao controle da ira, à lentidão em irar-se. O substantivo em Êx. 34:6 é "longanimidade".
13. As contenções da esposa. Esses provérbios sobre a mulher contenciosa às vezes evocam risadas. Os versículos com palavras semelhantes se encontram em 21:19; 25:24; e 27:15. Temos aqui a impressão de que o gotejar contínuo de um telhado esburacado é como uma mulher resmungona. Mas a palavra hebraica para contenções não se refere a resmungar. O pecado ao qual se faz objeção é declaradamente a ira. A mesma raiz se usa para "discórdia" (cons. 6:14,19). Muito se tem dito da ira nos homens. Estes versículos protestam contra o mesmo vício nas mulheres.
14. Prudente. A mesma raiz de "vida regalada" em 19:10. 15. A preguiça. Veja observação sobre 6:6.
17. Quem se compadece do pobre. Aquele que é caridoso. Provérbios 14:31a é semelhante. A caridade para com os pobres está veementemente ordenada na lei hebraica (Dt. 15:7 e segs.). Muitos versículos em Provérbios recomendam esta liberalidade (21:13; 22:9, 16; 28:3, 8, 27; 29:7). O usuário, por outro lado, está condenado porque oprime o pobre (cons. sobre 6:1).
18. Castiga a teu filho. Veja comentários sobre 13:24; 23:13, 14. A palavra traduzida para matá-lo deriva da raiz hama, "murmurar", "berrar". A palavra também poderia ser traduzida como se a raiz fosse mut, "matar". Toy traduz: Não te disponhas a matá-lo e é apoiado por Greenstone, a RSV, Berkeley e outros. Delitzsch traduz de maneira semelhante. No hebraico é literalmente não te exaltes até que chore (ou até a sua morte). A tradução da AV ainda continua parecendo mais achegada do que as outras ao fraseado e contexto do hebraico. Mas conforme diz o paralelo em 23:14 ao declarar que o castigo salva a criança da morte, assim talvez, em uma expressão resumida, este provérbio quer dizer o mesmo: "Não evite o castigo e (assim) provoque a sua morte".
24. O preguiçoso. O provérbio de 24a está repetido em 26:15 em uma série que trata da preguiça. 26. Filho é que envergonha. Veja observações sobre 10:1 e compare com 29:15, que repete esta frase.
27. Instrução (que leva ao erro). As palavras "que leva ao erro" não se encontram no hebraico e o livro de Provérbios não usa esta palavra instrução em se tratando de doutrina falsa. Portanto a RSV e a Berkeley reconhecem acertadamente que o provérbio se refere a ouvir a instrução "só para dela se desviar".
Provérbios 20
20:1. O vinho é escarnecedor. Veja o comentário sobre o vinho em 3:10. Bebida forte. No hebraico, shekar. O significado exato é incerto. Não é bebida forte no sentido que nós darmos à palavra; pois antes da destilação ser inventada pelos árabes, nenhuma bebida era mais forte do que 7-10 por cento. Era intoxicante, corri o contexto das Escrituras freqüentemente declara. Toy e Berkeley (anotação ao pé da página) sugerem que talvez fosse uma bebida fermentada feita de sucos de frutas. O escritor sobre o artigo "bebida" no ISBE argumenta que shekar é o termo que inclui todo o tipo de tais bebidas, inclusive o vinho. Isto se deduz de Nm. 28:7, 14. O termo devia pelo menos incluir a cerveja. Sabemos que a cerveja era feita e usada na Palestina, pois já se encontraram ali vasos para filtrar a cerveja. Nenhuma palavra hebraica parece referir-se à cerveja especificamente. O vinho era proibido aos sacerdotes em serviço (Lev. 10:9) e aos nazireUS (Nm. 613). Era usado como oferta mas não era bebido. "Libação" seria mais exato. A palavra traduzida para escarnecedor é les. Como diz Delitzsch, o vinho é condenado por causa dos seus efeitos. Podemos observar que a condenação é bastante severa. Por eles é vencido. A palavra geralmente significa "errar" ou "desviar". A BDB argumenta que também significa "cambalear" como faz o bêbado. Contudo, a única evidência para isto é Is. 28:7, onde a palavra é usada com referência ao "errar" por causa do vinho e também ao "errar" na visão. Não deveria se limitar ao embebedar-se, como Berkeley dá a entender. A passagem se relaciona com qualquer uso do vinho, por causa de seus efeitos finais. A LXX diz: Mas todo insensato se deixa enredar por eles. Veja comentários sobre 23:29 e segs.
2. O terror do rei. Sobre os reis, veja 16:10 e segs. e 20:8.
4. Por causa do inverno. A palavra não significa tanto o "frio" mas "outono" ou "inverno". Ele não lavra na estação apropriada. Cons. 10:5. A diligência é uma virtude. Observe a regra apostólica em II Ts. 3:10.
5. Águas profundas. Compare versículo semelhante em 18:4.
6. A sua própria benignidade. A palavra hesed significa "bondade", "amabilidade" (BDB), não "lealdade" (RSV). A BV aqui e a RSV em outros lugares com freqüência diz "amor constante", que é mais curioso e estranho do que errado. A palavra inclui amor, mas a constância que encontramos em alguns contextos deve-se à constância do Deus que ama.
8. Um rei. Veja 20:2. 10. Dois pesos e duas medidas. Pesos diferentes. Veja observações sobre 11:1. 13. Não ames o sono. Sobre a diligência, veja 6:9-11.
16. Fiador. Este versículo é idêntico a 27:13. Sobre fianças ver 6:1.
19. O mexeriqueiro. No hebraico, rakil. Provérbios 20:19a faz paralelo com 11:13a. Provérbios 20:19b explica o significado: "Não ande com alguém de lábios mentirosos" (Leia-se "enganar", não "adular", para o hebraico pata). Rakil em outro lugar está traduzido para caluniador. Levítico 19:16 o condena. Mas um mexeriqueiro não é o que as crianças chamam de "enredeiro". Outra palavra, nirgan, foi usada em 16:28; 18:8 (que faz paralelo 26:22); 26:20. Aqui, também, a ênfase foi colocada sobre o espalhar calúnias e discórdia, não sobre a tagarelice.
20. Amaldiçoa a seu pai. Uma ofensa capital (Êx. 21:17; Lv. 20:9). Vários graus de maldição e rebeldia filial eram reconhecidos. Sem dúvida a pena capital só era executada em casos extremos. Mas a atitude divina para com a ofensa foi declinada aqui e em 30:11 (veja contexto). Mús densas trevas. A palavra significa menina dos olhos, como símbolo da escuridão do meio da noite. 22. Vingar-me-ei do mal. O princípio estabelecido aqui foi reforçado em 25:21, 22, citado em Rm. 12:20.
23. Dois pesos. Compare com o versículo 10 e veja observações sobre 11:1.
24. Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor. A primeira parte de 20:24 é idêntica com a primeira parte de um versículo mais famoso, Sl. 37:23. Como o Sl. 37:1 também faz eco em Pv. 24:19, não devemos hesitar em chamar esses provérbios de citações (veja outras citações em 30:5, 6).
26. Joeira os perversos. Observe a semelhança com 20:8b. Literalmente, joeira. Faz passar sobre eles a roda. A palavra roda tem sido com freqüência usada em outras passagens, mas o seu uso como castigo é desconhecido. Talvez tenha aqui o sentido figurado. Tal como um homem joeira o trigo e passa Sobre ele a roda debulhadora, assim Um rei pune o mal.
29. Cãs. Veja exegese de 16: 31. 30. Os vergões das feridas. Antes, as equimoses dos golpes, isto é, os sinais deixados pelos golpes. Eles curam a maldade do homem. Os açoites . . . o mais íntimo. Não que os açoites atinjam as partes mais íntimas (Berkeley). Antes, os açoites, como os golpes, purificam o interior do homem (veja mesma frase em 27b). Provérbios 21
21:2. Reto aos seus próprios olhos. Quase idêntico a 16: 2.
3. Mais aceitável ... do que sacrifício. O pensamento é o de I Sm. 15:22, mas as palavras diferem um pouco. S/ sacrifícios, veja Pv. 15:8.
9. Mulher rixosa. Paralelo de 25:24. Na Verdade, o que se condena é o pecado da ira. Na mesma casa (numa casa larga). Ao que parece, um celeiro, de acordo com evidências ugaritas (Story, op. cit., pág. 325).
10. Perverso. Aqui há um jogo de palavras. No hebraico, "perverso" e "vizinho" têm o mesmo som
12. O Justo considera. Um versículo difícil nos detalhes. A AV acrescenta "Deus" como sujeito da segunda metade. A BV torna a segunda metade passiva. Nenhum dos casos é inteiramente justificado pelo texto. Talvez fosse melhor dividir o versículo de maneira diferente: "O justo age sabiamente em casa; a perversidade lança o perverso na ruína". Isto envolve a introdução de uma vogal em "perverso".
13. O clamor do pobre. Veja exegese de 19:17.
14. A dádiva em sigilo. Um suborno. Veja observações sobre 17:8. 16. Congregação dos mortos. A palavra é refaim, "sombras", de acordo com Toy (também Berkeley, n.). A idéia não é certamente que o perverso "encontra repouse" (Berkeley), mas que ele "habita" ou "jaz" ali (Delitzsch). A frase assembléia dos mortos, nada diz do estado em que existem suas almas. Refere-se simplesmente ao seu jazer na sepultura. Veja exegese de 2:18.
18. Resgate para o justo. Um pensamento e um uso fora do comuta de resgate. A LXX diz escória, evidentemente interpretando que o versículo diz que o perverso não passa de refugo quando colocado em contraste com o justo. O sentido geral do versículo é que o mau e não o bom deve ser julgado (Toy). Em Is. 43:3, 4 a palavra foi usada para como juízo divino sobre o Egito a fim de libertar Israel.
19. Mulher rixosa. Veja comentários sobre 19:13. 27. O sacrifício dos perversos. O versículo 27a faz paralelo com 15:8a, que já vimos.
28. A testemunha falsa. Paralelo a 19:9b.
Provérbios 22
22:1. O bom nome. Não apenas reputação no nosso sentido da palavra, mas bom caráter.
3. O prudente. Este versículo é idêntico a 27:12.
4. Da humildade. Isto é, a conseqüência da humildade e do temor do Senhor. Cons. a tríade em 21:21.
5. O perverso. O desonesto. 6. Ensina a criança. Não uma palavra comum com o sentido de educar, mas o significado está claro e a promessa é rica.
7. O rico domina sobre o pobre. Com Provérbios 22 22:1, 2 em mente, vemos que esta cláusula declara um fato, mas não o aprova. Possivelmente o versículo é uma outra evidência contra o empréstimo com usura: "Assim como o rico domina o pobre, aquele que toma emprestado é servo . . ." Veja exegese de 6:1, sobre a usura.
8. A vara da sua indignação falhará. A LXX acrescenta aqui um versículo: "Deus abençoa um homem prestativo e liberal, mas ele punirá o insensato por causa de suas obras". Possivelmente II Co. 9:7 faz alusão à primeira metade deste versículo, mas não podemos ter certeza disso. Não precisamos supor a existência de um texto hebraico diferente, embora não seja impossível.
14. Mulher estranha. O versículo paralelo, 23:27, mostra que está se referindo à mulher de vida fácil.
15. A estultícia ... ao coração da criança. Como já vimos, a estultícia não se refere apenas a "travessuras estúpidas, brincadeiras tolas" (Delitzsch), pelo que naturalmente não bateríamos em nossos filhos. O versículo também não declara que eles sejam "moralmente imaturos" (Toy). Ele diz que são pecadores e merecem castigo. As teorias atuais que dizem que as crianças não são naturalmente más, mas apenas desajustadas, e que a educação deve conduzi-las à autoexpressão, não encontram apoio no livro de Provérbios.
16. O que dá ao rico. Subornos e presentes são condenados (veja observações sobre 17:8, 23). Oprimir os pobres costuma ser condenado pelas Escrituras, mas dar aos pobres é recomendado em 28: 27.
Provérbios (Comentário Bíblico Moody)
Interlúdio
A partir deste capítulo, estudaremos o Livro de Provérbios de modo temático, reunindo os textos que tratam dos mesmos assuntos e mostrando como se encontram relacionados entre si e com nossa vida cristã pessoal nos dias de hoje. Em certo sentido, estudaremos o que a Bíblia ensina sobre a vida cristã usando o Livro de Provérbios como ponto de referência.
Nenhuma classificação textual é inspirada ou definitiva, e muitos versículos podem ser encaixados em várias categorias diferentes. O salmista estava certo quando disse: "Tenho visto que toda perfeição tem seu limite; mas o teu mandamento é ilimitado" (Sl 119:96). Uma vez que citarei todos os versículos relevantes, o mais proveitoso é procurar e ler as referências apresentadas. E importante refletir sobre essas Escrituras, a fim de ser plenamente beneficiado por seu estudo.
A maneira mais fácil de estudar Provérbios é por seus temas, porém a melhor maneira de ler Provérbios é passar capítulo por capítulo. Isso porque cada capítulo apresenta diversas verdades, e não sabemos de qual precisaremos para determinado dia. Na verdade, alguns versículos são repetidos, a fim de garantir que entendemos a mensagem."
O temor do Senhor é o princípio do saber" (Pv 1:7), por isso, mantenha-se reverente diante do Senhor e esteja pronto a obedecer ao que ele lhe disser.
Pessoas Sábias e Pessoas Insensatas — Parte 2
(Os SIMPLES, OS ESCARNECEDORES E OS NÉSCIOS)
Poderíamos falar muito mais sobre o sábio e o perverso, mas devemos voltar nossa atenção agora para o "trio parada dura"- os simples, os escarnecedores e os néscios. Esses três tipos aparecem com freqüência ao longo do Livro de Provérbios.
Conforme comentamos anteriormente, em seu primeiro convite, a Sabedoria chama esses três (Pv 1:22), mas em seu segundo convite, chama apenas os simples e os néscios (8:5). O escarnecedor nem sequer estava interessado em ouvir e já havia saído de cena. Em seu terceiro convite, a Sabedoria chama apenas os simples (9:4), pois os néscios deram as costas para ela e se juntaram aos escarnecedores. E perigoso rejeitar o convite de Deus para andar pelo caminho da sabedoria e da vida. Pode ser que não haja outra oportunidade de aceitar esse convite.
1. Os SIMPLES
Os simples são pessoas ingênuas que crêem em tudo, pois não têm convicções formadas sobre coisa alguma. Aquilo que acreditam ser uma "tolerância" sofisticada é, na verdade, ignorância espiritual, pois lhes falta a capacidade de discernir entre a verdade e o engano. "
O simples dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta para os seus passos" (14:15). Como Charles R. Bridges escreve: "Crer em todas as palavras de Deus é fé. Crer em todas as palavras dos homens é credulidade". 1 Hoje, quem possui convicções é considerado ignorante. Ter mente aberta e não analisar de maneira crítica o que os outros dizem está na moda e é considerado politicamente correto. Exceto ao descontar um cheque quando estão sem dinheiro, ao comprar um medicamento receitado pelo médico quando estão doentes ou ao pedir orientação para chegar a algum lugar, a maioria das pessoas não acredita em absolutos. Insistem que a verdade objetiva não existe e, portanto, aquilo que faz cada um se "sentir bem" é sua verdade pessoal, e ninguém tem o direito de criticar as crenças alheias. Aplique essa filosofia ao dinheiro, aos medicamentos e mapas e veja no que dá!
Em seus comentários sobre certa superstição comum nos Estados Unidos, Brooks Atkinson escreve: "Pessoas de todo o mundo gostam de crer em coisas que não são verdadeiras. Isso lhes poupa o sofrimento de pensar por si mesmas e de assumir a responsabilidade por aquilo que sabem". 2 O velho ditado: "Aquilo que desconhecemos não nos faz mal" é uma grande mentira, como qualquer médico ou mecânico pode comprovar. Aquilo que você desconhece pode matá-lo! "Os néscios são mortos por seu desvio [desobediência]" (1:32).
Os simples são assim porque rejeitam a verdade da Palavra de Deus, cujo objetivo é "dar aos simples prudência" (v. 4). O mais triste é que essas pessoas gostam de sua situação (v. 22) e não desejam mudar. Uma vez que não assumem uma posição definida em relação a coisa alguma, acreditam em tudo o que aparece pela frente; isso lhes poupa o trabalho de pensar, de estudar, de orar e de pedir sabedoria a Deus. Em vez de trabalhar com afinco e de cavar para encontrar as minas da sabedoria de Deus (2:1-9), os simples preferem fazer as coisas do jeito fácil e juntar as bugigangas sem valor que vêem na superfície.
Foi um jovem simples que deu ouvidos à prostituta e terminou como um animal levado ao matadouro (7:7ss). "Os simples herdam a estultícia, mas os prudentes se coroam de conhecimento" (14:18). Por vezes, os simples aprendem quando vêem outros sendo castigados por seus pecados (19:25; 21:11). Os sábios aprendem pela instrução, mas os tolos precisam ver um exemplo vivo diante de si para assimilar a lição. Os sábios enxergam o perigo se aproximando, mas os simples vão a seu encontro (22:3; 27:12). Algumas pessoas precisam aprender do modo mais difícil.
Todos somos ignorantes a respeito de várias coisas, mas os tolos ignoram sua ignorância e não estão dispostos a aprender. Seguem uma filosofia que diz: "É tolice ser sábio onde a ignorância traz felicidade".3 Mas quando há uma Bíblia para ler, uma vida para edificar e uma eternidade para a qual se preparar, é tolice ser ignorante.
2. Os ESCARNECEDORES
Os escarnecedores pensam que sabem tudo, e é uma perda de tempo tentar ensiná-los. "Quanto ao soberbo e presumido, zomba- dor é seu nome" (21:24).
Os escarnecedores não conseguem encontrar a sabedoria nem mesmo quando a buscam (14:6), pois é preciso ter mente humilde e vontade obediente a fim de aprender a verdade de Deus. Os escarnecedores compensam sua falta de conhecimento com uma enorme arrogância. Em vez de discutir a questão de maneira sensata com aqueles que poderiam lhe ensinar alguma coisa, desprezam e negam a verdade. Meus dicionários de hebraico descrevem essas pessoas como "frívolas e imprudentes". Uma vez que não tem qualquer munição intelectual ou espiritual, o escarnecedor depende da zombaria e do desdém para lutar contra os inimigos.Os escarnecedores demonstram o quanto são ignorantes pela maneira como reagem aos conselhos e às repreensões. "O que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso a si mesmo se injuria. Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará" (9:7, 8). "O filho sábio ouve a instrução do pai, mas o escarnecedor não atende à repreensão" (13:1). "O escarnecedor não ama àquele que o repreende, nem se chegará para os sábios" (15:12). Quando tentamos ensinar um escarnecedor, estamos apenas atirando pérolas aos porcos. Os escarnecedores sabem tudo! O mais triste é que esse tipo de gente causa uma porção de problemas por onde passa. Seja na vizinhança, no trabalho ou na igreja, o escarnecedor exerce uma influência nociva e espalha sua infecção. "Lança fora o escarnecedor, e com ele se irá a contenda; cessarão as demandas e a ignomínia" (22:10). Os escarnecedores podem criar problemas até para uma cidade inteira. "Os homens escarnecedores alvoroçam a cidade, mas os sábios desviam a ira" (29:8). O termo hebraico traduzido por "alvoroçar" dá a idéia de alguém atiçando um fogo ou soprando uma chama para fazê-la arder com mais intensidade. Por meio de suas palavras e atitudes de desprezo, pessoas assim jogam lenha na fogueira e alimentam um fogo que deveriam deixar se apagar.
As páginas da história religiosa e política estão repletas de registros de escarnecedores arrogantes que não deram ouvidos aos conselhos sábios, escolhendo, em vez disso, se envolver impetuosamente em questões complexas demais para eles (Sl 131). Sua língua era "posta ela mesma em chamas pelo inferno" (Tg 3:6); corromperam e causaram danos a famílias, igrejas, cidades e nações inteiras. Uma igreja pode se dividir e ser destruída rapidamente por pessoas arrogantes, que zombam das verdades bíblicas e querem fazer as coisas a seu modo. Todos os líderes espirituais devem ler e dar ouvidos a Atos 20:28-31 e a Tiago 3:13-18."
O escarnecedor é abominável aos homens" (Pv 24:9) e a Deus. Na verdade, o Senhor "escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes" (3:34). Esse versículo é citado por Tiago (4:6) e por Pedro (1 Pe 5:5). "Preparados estão os juízos para os escarnecedores e os açoites, para as costas dos insensatos" (Pv 19:29), e pelo fato de os escarnecedores zombarem de Deus, o Senhor zomba deles. Considere, por exemplo, o que Deus fez com os construtores de Babel (Gn 11), com o Faraó no mar Vermelho (Êx14), com Nabucodonosor na Babilônia (Dn 4), com Herodes Agripa na Judéia (At 12:20- 25) e com uma porção de outros escarnecedores que desafiaram sua vontade.
3. Os NÉSCIOS
O adjetivo "néscio" pode ser associado ao termo "bufão", que vem do mesmo radical latino de "bufar", ou seja, "expelir ar fortemente, mostrar-se valente". Assim, o néscio é alguém cheio de ar mas sem substância. Os néscios podem parecer gigantes, mas, na verdade, se alguém os esvazia de toda a sua valentia, não passam de pigmeus.
Três termos hebraicos são traduzidos por "néscio" ou "louco" em Provérbios: kesyl, o néscio grosseiro e estúpido; ewiyl, o néscio corrupto, moralmente pervertido e irracional; e nabal, o néscio bruto, semelhante a um animal obstinado (ver 1 Sm 25). Neste resumo das características dos néscios, apresentaremos uma combinação de versículos sem fazer distinção entre os três tipos. Afinal, não importa o nome que recebem, todos os néscios são loucos!
Não aprendem com a Palavra de Deus. "O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino" (1:7). Não se trata de um problema de Ql nem de falta de instrução. O grande problema dos néscios é seu coração: não reconhecem o Senhor nem se submetem a ele. "Não há temor de Deus diante de seus olhos" (Rm 3:18).
Nem mesmo o pai de um néscio é capaz de instruí-lo (Pv 15:5), e se tentamos discutir com alguém desse tipo, só criamos mais problemas (29:9). Isso porque os néscios gostam de sua falta de sensatez e acreditam que estão vivendo para valer! "A estultícia é alegria para o que carece de entendimento, mas o homem sábio anda retamente" (1 5:21; ver 1:22; 12:15; 18:2). Se os advertimos do pecado, eles zombam de nós (14:9).
Um dos motivos pelos quais os néscios não adquirem a sabedoria é o fato de não conseguirem manter os olhos fixos naquilo que é verdadeiramente importante. "A sabedoria é o alvo do inteligente, mas os olhos do insensato vagam pelas extremidades da terra" (1 7:24). Em vez de lidarem com a realidade, esses loucos vivem num mundo distante e fantasioso. A Palavra de Deus ajuda as pessoas a manterem os pés no chão e a tomarem decisões sábias neste mundo difícil em que vivemos.
Não conseguem controlar a língua. "A língua dos sábios adorna o conhecimento, mas a boca dos insensatos derrama a estultícia" (15:2; ver 13:16). As palavras dos néscios são cheias de orgulho e de vangloria (14:3), e sua tendência é falar antes de saber o que estão dizendo ou o que está sendo discutido (18:13). "Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o insensato do que para ele" (29:20). "O caminho do insensato aos seus próprios olhos parece reto, mas o sábio dá ouvidos aos conselhos" (12:15). É impossível advertir os néscios ou lhes dizer algo que precisam saber, pois já sabem tudo!
Os néscios falam muito, mas não colocam suas palavras em prática. "O sábio de coração aceita os mandamentos, mas o insensato de lábios vem a arruinar-se" (10:8; ver v. 10). A expressão traduzida por "insensato de lábios" significa "falar de modo confuso e excessivo" e é relacionada ao verbo "balbuciar". É muito mais fácil falar sobre uma porção de coisas do que ouvir a Palavra de Deus e lhe obedecer.
Os néscios especializam-se em mentir e em difamar (10:18), e aquele que é sábio não fica por perto para ouvir (14:7, 8). "A língua dos sábios derrama o conhecimento, mas o coração dos insensatos não procede assim" (15:7). "Ao insensato não convém a palavra excelente; quanto menos ao príncipe, o lábio mentiroso!" (17:7). Todos nós devemos ter cuidado com o tipo de conversa que ouvimos, pois Jesus disse: "Atentai no que ouvis" (Mc 4:24). Além disso, quando os néscios falam, suas palavras podem começar uma briga! (18:6, 7).
Não conseguem controlar sua índole. "A ira do insensato num instante se Conhece, mas o prudente oculta a afronta" (12:16). "O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura" (14:29). "Até o estulto, quando se cala, é tido por sábio, e o que cerra os lábios, por sábio" (1 7:28). "O insensato expande toda a sua ira, mas o sábio afinal lha reprime" (29:11).
Se querem parecer sábios, os néscios devem permanecer calados quando outros estão negociando à porta da cidade (Rt 4; Pv 24:7)! Infelizmente, algumas pessoas pensam que precisam falar em todas as reuniões nas quais estão presentes, mesmo quando não têm nada a dizer.
A menos que desejemos carregar um fardo terrível, não é sensato provocar a ira do néscio. "Pesada é a pedra, e a areia é uma carga; mas a ira do insensato é mais pesada do que uma e outra" (27:3). Quando uma pessoa insensata se zanga, fica sempre em pé de guerra e causa um bocado de estragos. Por isso, devemos usar de discernimento ao discordar dos néscios ou tentar aconselhá-los. "Não respondas ao insensato segundo a sua estultícia, para que não te faças semelhante a ele. Ao insensato responde segundo a sua estultícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos" (26:4, 5). Por vezes, o melhor é fazer ouvidos moucos para as palavras dos néscios, mas em outras ocasiões devem ser repreendidos e merecem uma resposta da Palavra. É preciso ter sabedoria para decidir qual a ocasião correta para responder, a fim de não lançarmos pérolas aos porcos.
São orgulhosos e seguros de si. "O que confia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda em sabedoria será salvo" (28:26). "Tens visto a um homem que é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há no insensato do que nele" (26:12). Não é raro ouvirmos alguém dizer: "Se eu me conheço bem ..." mas Deus nos adverte que não nos conhecemos bem, não sabemos o que há em nosso coração e não podemos confiar sempre no que ele nos diz. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" (Jr 1 7:9).
Hoje em dia, muita gente acredita nas palavras de Emerson: "Confia em ti mesmo: todo coração vibra com esse acorde".4 Ou segue a filosofia de William Ernest Henley expressa em seu famoso poema Invictus: "Sou senhor do meu destino / Capitão da minha alma". Essas expressões arrogantes de realização assemelham-se muito à oferta de Satanás no Éden: "Como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal" (Gn 3:5), base do movimento da Nova Era. Tudo o que exaltao ser humano está condenado ao fracasso; tudo o que glorifica a Deus dura para sempre.5
Uma vez que são seguros de si e arrogantes, os néscios gostam de se intrometer em tudo, especialmente em assuntos controversos:"Honroso é para o homem o desviar-se de contendas, mas todo insensato se mete em rixas" (Pv 20:3). Qualquer um pode começar uma briga, mas é preciso uma pessoa sábia para acabar com uma contenda ou, melhor ainda, para evitá-la (30:32, 33). Os néscios acreditam que discutir sobre algo sem importância os exaltará, quando, na verdade, tais rixas os fazem parecer ainda mais tolos.
Fui convidado a pregar numa igreja e, antes de o culto começar, assisti a uma classe de Escola Dominical para adultos que se reunia dentro do templo. Um dos homens que estava participando da aula questionava quase tudo o que o professor dizia e discutia de modo inconveniente sobre os mínimos detalhes. Queria parecer sábio, mas só nos convenceu de que era um tolo. Enquanto estava sentado ouvindo aquilo tudo, pensei em 1 Timóteo 6:4, 5: "é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim".
Causam problemas e tristezas, especialmente a seus pais. "O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe" (Pv 10:1; ver 15:20; 17:21, 25). Todo pai temente a Deus diz ao filho: "Sé sábio, filho meu, e alegra o meu coração, para que eu saiba responder àqueles que me afrontam" (27:11), mas as páginas da Bíblia registram as tristezas que os filhos insensatos causaram a seus pais.
Caim entristeceu seus pais quando matou seu irmão, Abel (Gn 4); Esaú casou-se com mulheres pagãs só para provocar o pai; Isaque (Gn 28:6-9); os filhos de Jacó mentiram para ele sobre o irmão, José, e o magoaram profundamente (Gn 37). Sansão entristeceu os pais ao ir viver com mulheres pagãs e confraternizar com os inimigos de Israel (Jz 13 —1 6). Amnom violentou a meia-irmã, Tamar, e por causa disso foi morto por Absalão (2 Sm13). Em seguida, Absalão rebelou-se contra Davi e tomou o reino (2 Sm 1 5 - 18).
E possível fazer alguma coisa para transformar filhos insensatos em adultos sábios? "Ainda que pises o insensato com mão de gral entre grãos pilados de cevada, não se vai dele a sua estultícia" (Pv 27:22). As mulheres da Antiguidade moíam os cereais numa espécie de tigela (pilão ou gral), usando um instrumento pesado e forte ("mão de gral") com o qual podiam quebrar e pulverizar os grãos. A imagem é clara: não há pressão ou dor suficiente para transformar um néscio numa pessoa útil. Os pais sábios devem disciplinar os filhos insensatos para lhes dar esperança (22:15),6 mas um adulto néscio insensato só pode ser transformado pela graça de Deus. A menos que os néscios se arrependam e se voltem para o Senhor, viverão como escravos (11:29) e "[morrerão] pela falta de disciplina" (5:23).
Não sabem usar corretamente sua riqueza. "Tesouro desejável e azeite há na casa do sábio, mas o homem insensato os desperdiça" (21:20). "O homem que ama a sabedoria alegra a seu pai, mas o companheiro de prostitutas desperdiça os bens" (29:3). Esse versículo lembra a parábola de Jesus sobre o filho pródigo (Lc 15:11-24). "Aos sábios a riqueza é coroa, mas a estultícia dos insensatos não passa de estultícia" (Pv 14:24). Os sábios têm alguma coisa para deixar aos filhos, mas os néscios desperdiçam tanto sua riqueza quanto a oportunidade de aumentá-la. "Ao insensato não convém a vida regalada" (19:10).
Não são capazes de assumir responsabilidades. "Como a neve no verão e como a chuva na ceifa, assim, a honra não convém ao insensato" (26:1). No hebraico, o termo "honra" (kabod) significa "pesado, significativo" e pode se referir à glória de Deus e ao respeito especial que se tem por certas pessoas. Um néscio não é capaz de lidar corretamente com as responsabilidades e conquistar o respeito de outros. Honrar um néscio é algo tão apropriado quanto a neve no meio do verão ou tão proveitoso quanto a chuva na época de colheita - duas situações trágicas!
Em 26:3-12, Salomão desenvolve esse tema apresentando vários retratos vividos do insensato e do que acontece quando alguém lhe confia uma tarefa. Em primeiro lugar, é preciso tratá-lo como um animal estúpido e usar um chicote para motivá-lo (v. 3; ver Sl 32:9). Aquele que tenta lhe dar ordens e explicar o que ele deve fazer corre o risco de se tornar igual a ele (Pv 26:4, 5). Enviá-lo numa missão é o mesmo que se mutilar e procurar problemas (v. 6).7 Assim como uma pessoa portadora de deficiência nas pernas não pode andar, também o néscio não vai a lugar algum (v. 7) com um provérbio. Não apenas confunde os outros, mas também faz mal a si mesmo, como um bêbado que se fere com um espinho (v. 9). Não peça a um néscio para ensinar a Bíblia, pois ele não saberá do que está falando e será horrível escutá-lo. Também não peça a um néscio para lutar numa guerra, pois ele não fará coisa alguma que preste (v. 8)!
O texto original do versículo 10 é difícil e pode ser traduzido de várias maneiras: "Como um flecheiro que a todos fere, assim é o que assalaria os insensatos e transgressores". "Como um flecheiro que fere aleatoriamente, assim é aquele que contrata um néscio ou um transeunte". Ou, ainda: "Como um flecheiro que a todos fere, assim é aquele que emprega um néscio transeunte ou um bêbado". Observe que a ênfase é sobre aquele que contrata e não sobre o néscio. Contratar um insensato (ou qualquer um que lhe passe pela frente) e lhe dar responsabilidades é o mesmo que começar a atirar flechas para todos os lados, pois um néscio pode fazer um bocado de estrago. É evidente que ninguém, em seu perfeito juízo, começaria a atirar aleatoriamente e, portanto, ninguém em perfeito juízo contrataria um néscio.
Os néscios não aprendem com seus erros; antes, voltam sempre às antigas confusões, como um cão que volta para comer seu vômito (v. 11). A experiência é uma excelente mestra para os sábios, mas não para os insensatos. Este versículo é citado em 2 Pedro 2:22 como uma descrição daqueles que fingem ser cristãos e que seguem falsos mestres. Como uma porca que acabou de ser lavada, parecem mais apresentáveis por fora, e como um cão que acabou de vomitar, sentem-se melhor por dentro; mas ainda não são ovelhas! Não possuem a nova natureza divina e, conseqüentemente, não tardam em voltar para a antiga vida. A obediência e a perseverança nas coisas do Senhor são provas da conversão.
O que sucederá ao néscio? "A estultícia do homem perverte o seu caminho, mas é contra o Senhor que o seu coração se ira" (Pv 19:3). Isso nos traz à memória o Faraó em Êxodo 5 a 1 5, que viu sua nação ser arruinada pelas pragas de Deus e, ainda assim, não se sujeitou ao Senhor. Enfureceu- se contra Jeová e Moisés, perseguiu os hebreus para levá-los de volta, e, por fim, viu seus melhores soldados morrerem afogados no mar Vermelho. A disciplina ajuda a pessoa sábia a obedecer à Palavra, mas torna a pessoa insensata ainda mais perversa. O mesmo sol que derrete o gelo endurece o barro.
Uma vez que se "apascenta de estultícia" (Pv 15:14), o néscio não possui qualquer força moral. "Os lábios [palavras] do justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos" (10:21). Os insensatos carecem não apenas de alimento espiritual e intelectual, mas também de água refrescante: "O entendimento, para aqueles que o possuem, é fonte de vida; mas, para o insensato, a sua estultícia lhe é castigo" (16:22). A imagem de palavras e da lei de Deus como "fonte de vida" também pode ser encontrada em 10:11; 13:14; 14:27 e 18:4: Se seguirmos a Sabedoria viveremos num oásis fértil; se seguirmos a Loucura, nosso lar será o deserto árido.
O néscio "morrerá pela falta da disciplina" (5:23). "Os sábios herdarão honra, mas os loucos tomam sobre si a ignomínia" (3:35). Os insensatos ouvirão a voz de Deus dizer: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?" (Lc 12:20), mas será tarde demais.
Os únicos "loucos sábios" são os cristãos, pois são "loucos por causa de Cristo" (1 Co 4:10). O mundo os chama de loucos e insensatos, mas ao crer em Jesus Cristo e entregar sua vida a ele, tomaram a decisão mais sábia de todas.
Li a respeito de um homem que testemunhava de sua fé em um movimentado shopping center usando uma daquelas tabuletas de "homem-sanduíche", em que se lia: "Estou me fazendo de tolo por Jesus. E você, por quem se faz tolo? "Sábia pergunta! Certifique-se de dar uma resposta sábia.
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