Texto
Áureo
Mas
disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é
a inteligência.”
(Jó
28.28)
Verdade
Prática
A verdadeira
sabedoria está associada ao temor do Senhor e não ao mero acúmulo de
conhecimento.
OBJETIVO
GERAL
Mostrar que a verdadeira sabedoria consiste no temor do Senhor.
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
Abaixo,
os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada
tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos
subtópicos.
Expor
que todos os esforços humanos são inúteis para a aquisição da sabedoria divina;
Destacar
que a sabedoria tem seu preço, e que excede todos os bens materiais existentes;
Revelar
que o verdadeiro valor da sabedoria é de natureza espiritual
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
Jó 28.1-28
1 Na verdade, há
veios de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em que o derretem.
2 0 ferro
tira-se e da pedra se funde o metal.
3 O homem pôs
fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão
e na sombra da morte.
4 Transborda o
ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé;
então, intervém o homem, e as águas se vão.
5 A terra, de
onde procede o pão, em baixo é revolvida como por fogo.
6 As suas pedras
são o lugar da safira e têm pós de ouro.
7 Essa vereda, a
ignora a ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha.
8 Nunca a
pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela.
9 Ele estende a
sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes.
10 Dos rochedos
faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas.
11 Os rios tapa,
e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido.
12 Mas onde se
achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência?
13 O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes.
14 O abismo diz:
No está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo.
15 Não se dará
por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela.
16 Nem se pode
comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.
17 Com ela se
não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino.
18 Ela faz
esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a
dos rubis.
19 Não se lhe
igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro.
20 De onde,
pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?
21 Porque está
encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu.
22 A perdição e
a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama
23 Deus entende
o seu caminho, e ele sabe o seu lugar.
24 Porque ele vê
as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus.
25 Quando deu
peso ao vento e tomou a medida das águas;
26 quando
prescreveu uma lei para. a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões,
27 então, a viu
e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou.
28 Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.
INTERAGINDO COMO
PROFESSOR
Quem é o sábio segundo as Escrituras? É o que fala diversos idiomas? O que lê mais de 60 livros por ano? O que conhece muito de filosofia? O que conhece muito de teologia? O que tem profundo conhecimento da literatura mundial e nacional? Quem é o sábio segundo as Escrituras? Aqui não há nenhuma reprovação às atividades contidas nas indagações acima. Pelo contrário, como seria bom que cada vez mais cristãos tivessem uma compreensão profunda, segundo a cosmovisão cristã, acerca de todos esses temas. Mas o que queremos mostrar é que a verdadeira sabedoria, da qual fala a Palavra de Deus fala, tem como fundamento o “temor do Senhor”
PONTO
CENTRAL
O temor do Senhor é o fundamento da verdadeira sabedoria.
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos uma das mais belas exposições bíblicas sobre a sabedoria. O capítulo 28 foi propositadamente colocado pelo autor para delimitar o fim dos longos discursos dos amigos do homem de Uz. O seu propósito é contrastar a sabedoria meramente humana com a sabedoria revelada, que é de origem divina. Assim, temos o objetivo de declarar que somente Deus é a fonte da verdadeira sabedoria. Essa divina sabedoria se manifesta na vida dos homens de forma prática através do temor do Senhor.
EBD | 4° Trimestre De 2020 | CPAD – Adultos – A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó | Lição 09: Jó e a Inescrutável Sabedoria de Deus
Capítulo 09 – Jó e a Inescrutável Sabedoria de Deus
O livro de Jó pertence ao gênero literário
sapiencia l, e o seu capítulo 28 é todo dedicado a uma exposição sobre a
verdadeira sabedoria. Alguns autores
(Terrien, 1997) acreditam
que esse capítulo
não pertence aos discursos originais de Jó, e ainda outros
acham que ele encontra -se fora de lugar.
Todavia, como observou
Mesquita (1979), essa
teoria não parece razoável dentro do contexto de Jó. O
mais natural é entender que Jó tenha recebido
de Deus iluminação
para fazer uma
exposição tão bela e
profunda sobre a
sabedoria sob diferentes
aspectos. Mesquita (1979,
p. 147) destaca o seguinte:
os
críticos admitem, com
muita facilidade, interpolações
do texto, como se um manuscrito
sagrado fosse um
tabuleiro de xadrez,
em que se joga uma pedra para um
lado e para outro. Não partilhamos desta
facilidade de acrescentar
ou diminuir coisa
alguma num Manuscrito, mesmo
que não sejamos
capazes de interpretar
certas anormalidades
textuais.
Na
sua obra Sabedoria
e Sábios em
Israel (Loyola , 1999),
Jos é V. Líndez faz
uma abordagem sistemática
e crítica sobre
a literatura sapiencial no
contexto do mundo
antigo.⁷⁰ Há algum
tempo, fiz uma resenha
sobre a obra d
e Líndez
para um trabalho
de mestrado.⁷¹ Aqui reproduzirei parte
dela porque creio
que ajudará na
compreensão do capítulo 28 de Jó.
Líndez
destaca que a
literatura Sapiencial é
o fruto maduro
de u m povo adulto. Esse tipo de
gênero literário é mais antigo que
Israel. Líndez ainda destaca que essa literatura chegou até nós por meio d o
testemunho escrito na Mesopotâmia
e Egito, cuja d
ata remonta ao
segundo e terceiro milênio antes
de Cristo. Esses
centros de cultura
estavam espalha dos
principalmente pelo Egito e Mesopotâmia.
A
fonte da sabedoria no mundo antigo estava reservada aos
sábios. Porém, Líndez destaca que
o que se entende por “sábios”
não é consenso entre os
estudiosos. O termo
passou a ser
usado tanto no sentido
profissional como no
não profissional. O
termo pode ser a
plicado aos mestres da
corte, educadores, etc.,
bem como aos
conselheiros dos príncipes e
reis. Dessa forma , o “sábio” é o mestre de família que vivia na corte ou
fora dela, ou,
ainda, o mestre
popular, além de
futuros escribas ou peritos da
lei. A sabedoria, portanto, provinha de várias fontes: o lar, a escola, a
experiência , o intercâmbio, a tradição, a reflexão, etc.
É
interessante a forma como Líndez
aborda a questão da Sabedoria
e o sábio no Antigo Testamento e como essa sabedoria relacionava-se com a ordem
no mundo. Líndez destaca que a sabedoria no contexto do Antigo Testamento é
mais de caráter prático do que teórico. Em muitos textos do Antigo Testamento,
é revelado que
o Senhor Deus
é a fonte
dessa sabedoria. Não deve
ser esquecido que,
em um primeiro
momento, a sabedoria é
demonstrada nas atividades
manuais dos homens
nas suas tarefas diárias
e normais, isto
é, nas suas
habilidades demonstradas . Em um estágio mais avançado da literatura
sapiencial, o conceito de sabedoria é
associado a ideias
de justiça. Ser
sábio, portanto, não se refere
a ter conhecimento enciclopédico,
mas à aplicação da justiça.
O autor destaca
que, dentre os
livros do gênero
sapiencial, Provérbios de Salomão
é o mais
representativo do Antigo
Testamento.
Líndez
observa que os
livros de Provérbios,
além das sentenças tradicionalmente atribuídas
ao rei, filho
de Davi, há
muitas outras atribuídas a
outros sábios. O
modelo de sentenças
prevalecentes nos provérbios é
a “masal”. Nesses
provérbios, prevalecem os
paralelismos, as formas valorativas,
a s comparações, as
metáfora s, as perguntas retóricas, as
cenas breves (o
preguiçoso e a
formiga, o beberrão). Há, também,
uma variedade de
temas: amor à
sabedoria, vida pessoal
(o indivíduo, o aluno,
desprestígio do preguiçoso,
primazia da justiça, atitude diante
d a riqueza e da pobreza ),
provérbios e a vida familiar,
a vida em sociedade
(sensato/néscio;
honrado/malvado; pobre/rico;
excesso/moderação). Líndez também
destaca a reflexão
de provérbios para o
contexto religioso. Deus
é visto como:
criador, onisciente,
providente e soberano.
Outros temas de
igual importância também
são abordados pelos Provérbios:
Deus e o
mal, a doutrina
da retribuição e o
temor do Senhor.
Líndez
(1999, p. 133) destaca o
que chama de
“crise da sabedoria”. Ele mostra
que, no primeiro
momento, a literatura
sapiencial via os problemas da existência humana como
estando subordinados apenas à lei de
causa e efeito
ou da retribuição.
Esse “otimismo” deixa de
existir com o livro de Jó. É
dentro desse contexto que ocorrem os dramas narrados no livro de
Jó e, posteriormente, também
no Eclesiastes. Jó,
por sua vez, mostra
como nem sempre
a questão do
sofrimento humano pode
ser entendida a partir da lei da
retribuição.
O
autor de Jó
mostra um homem justo, que
procurava viver retamente
e que, de
repente, acaba sendo apanhado em desgraça. Dessa forma,
Líndez (1999, p. 134) diz:
O
pensamento sapiencial se
teologiza, enquadrando-se em uma
corrente de otimismo
que admite a
ordem e o
equilíbrio perfeitos não apenas
na natureza, mas
também na comunidade
humana, sempre dentro de
um horizonte temporal
cujo limite está
marcado pela realidade da morte. Essa visão otimista e abertamente
religiosa fundamenta-se na admissão
s em titubeios da
doutrina da retribuição temporal
e histórica: Deus premia sempre os bons com o êxito e a
vitória; aos maus dá sua merecida
derrota, não obstante as aparências contraditórias da realidade.
Nos primeiros capítulos, Jó aparece como um homem feliz e extremamente piedoso, levando a sério as questões relacionadas à vida religiosa. Todavia, num segundo momento, Jó aparece de forma questionadora, não conformado com os infortúnios, quando, por exemp lo, uma tempestade varre a sua casa e família. O Jó paciente cede o seu lugar para o Jó inquieto. Líndez (1999, p. 138) demonstra que uma das belezas do livro de Jó está exatamente na narrativa dos fatos sem a tenta tiva de mascarar as agruras pelas quais o velho patriarca passa. Aqui, Jó discute com Deus e demonstra o seu ressentimento diante da aparente injustiça que estava sofrendo. Líndez (1999, p. 137) declara o seguinte:
O autor
apresenta magistralmente um
homem justo, triturado
pelo sofrimento, que busca
com tenacidade uma
explicação da situação em
que padece. Nessa
empresa sobre-humana, Jó
remove céus e
terra, enfrentando a
Deus e aos
homens. Nada o
faz recuar, a tudo
se arrisca, sempre
consciente d e sua
inocência. Queixa -se e grita
desesperadamente para que D
eus rompa o
silêncio e de
uma vez para sempre a
justiça seja feita.
Nesse
aspecto, é possível
fazer um contraste
entre Jó e
Eclesiastes. Por um lado,
Jó levanta a
voz contra toda
explicação teológica que é
simples demais para
explicar as contradições
da vida. Por
outro lado, o livro de Eclesiastes fa z uma análise
filosófica sobre o lado sombrio da vida que
acontece “debaixo do
sol” (Líndez, 1999,
p. 168). Nesse
aspecto, o Eclesiastes (Pregador)
é um
bom observador e um crítico
radical d a vida. Uma palavra-chave que
ajuda a entender
a mensagem de
Eclesiastes, destaca Líndez (1999,
pp. 173,174), está
na compreensão do
sentido de hebel, que, comumente
traduzida por “fumaça, vapor”, mantém o
sentido de “vaidade”. No
Eclesiastes, hebel é usada nos
contextos da riqueza, trabalho, prazer
e conhecimento. Líndez
(1999, p. 174)
conclui que o Pregador
(Eclesiastes) não
pode ser visto
como um observador
frívolo otimista, pois a
sua visão da vida
mostra a realidade
nua e crua
como se apresenta a existência
humana. É nisso que ele é parecido com Jó.
A FONTE DA VERDADEIRA S ABEDORIA
A
exposição de Jó
sobre a sabedoria
deve ser entendida
a partir do seu
contexto imediato. Nos
capítulos precedentes, Jó
travou um longo debate
com os seus
três amigos Eli faz,
Bildade e Zofar.
Esse ciclo de debates
terminou. O discurso
proferido sobre a
sabedoria introduz u ma pausa no texto prenunciando o que viria
a seguir: outra série de discursos que
serão proferidos por
Eliú. Devemos lembrar
que os amigos de Jó
fizeram uma defesa
apaixonada sobre a
sabedoria, ao mesmo
tempo em que acusavam
Jó de não
a possuir. Novamente,
Jó porá a
sabedoria no centro da
discussão. E por
que ele fará
isso? Porque os
seus amigos alegaram que eram
sábios e que com eles estava o entendimento; todavia, foram incapazes
de dar respostas
sábias e satisfatórias à s
questões levantadas por Jó, que chegou à conclusão de que, sem dúvida,
havia uma sabedoria, mas, com
toda certeza, ela
não se encontrava
com os seus amigos.
O que se vê no
capítulo 2 8 é
o argumento do
patriarca apresentando a sabedoria
sob três dimensões
— natural, comercial
e espiritual — e
demonstrando por que
os homens não
a haviam encontrado.
A SABEDORIA NA ESFERA NATURAL (28.1-11)
Na
verdade, há veios de onde se extrai a
prata, e, para o ouro, lugar em que o
derretem. O ferro
tira -se da terra,
e da pedra
se funde o metal.
O homem pôs
fim às trevas
e até à
extremidade ele esquadrinha, procurando
as pedras na
escuridão e na
sombra da morte. Trasborda o
ribeiro até ao
que junto d ele habita,
de maneira que se
não pode passar
a pé; então,
intervém o homem,
e as águas se
vã o. A terra,
de onde procede
o pão, embaixo
é revolvida como por
fogo. As suas
pedras são o
lugar da safira
e têm pós
de ouro. Essa vereda,
a ignora a ave de
rapina , e não
a viram os
olhos da gralha. Nunca a pisaram
filhos de animais altivos, nem o
feroz leão passou por ela. Ele
estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as sua s raízes.
Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas. Os
rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido.
Na primeira parte
d a sua exposição
sobre a sabedoria
(28.1 -11), Jó usa a metáfora das minas para ilustrar a busca da sabedoria como u m bem natural. Assim
como os homens
usa m técnicas avançadas
para encontrarem minérios e
metais preciosos na
natureza, da mesma
forma eles têm-se gastado em busca da sabedoria. Nenhum esforço é
poupado.
“Na
verdade, há veios de onde se extrai a
prata, e, para o ouro, lugar
em que
o derretem. O ferro
tira-se da terra,
e da pedra
se funde o metal” (28.1,2). Esses metais estão
escondidos na terra e, para serem encontrados, demandam grandes
esforços e uso apurado das
técnicas. “O ferro
tira -se da terra, e
da pedra se
funde o metal. O
homem pôs fim
às trevas e
até à extremidade ele
esquadrinha, procurando as
pedras na escuridão
e na sombra da
morte” (28.2,3). As
minas são locais
insalubres, que, além
de precisarem de apuradas
técnica s de escavação,
precisam ser bem iluminadas. Todo
esse esforço é
justificável tendo em
vista o fim
que o objetiva: encontrar a sabedoria.
“Essa
vereda, a ignora
a ave de
rapina, e não
a viram os
olhos da gralha. Nunca a pisaram
filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela” (28.7,8). A palavra hebraica ayit, usada aqui como ave de rapina, também é
traduzida em outras
versões como “águia”.
Esse termo ocorre em
Gênesis 15.11 e é usado
em Isaías 18.6
como referência às “aves dos montes”. Independentemente da tradução
que se use, o sentido do texto é que a
ave destacada aqui possui
grande capacidade e habilidade. Mesmo assim, ela
demonstra-se incapaz de
enxergar aquilo que
lhe é oculto
na terra. Isso, porém, não é apenas uma questão de habilidade, mas
também de força. O
leão, o mais forte dos
animais, também se
mostra impotente: “Nunca a
pisaram filhos de
animais altivos, nem
o feroz leão
passou por ela” (28.8). Nas
palavras de Schonberger (202012, p. 141):
O
ser humano pode
encontrar coisas que
estão ocultas profundamente nas
trevas da terra;
pode entrar em
lugares que, no fundo,
são impraticáveis (v.4).
Aves de rapina,
que conseguem enxergar mil vezes
mais penetrantemente do que o ser
humano, não conseguem divisá-los (v.7); feras selvagens, que se movimentam de forma hábil
e segura do
que os seres
humanos , não os
podem alcançar (v.8). Até
aqui, a fascinação
pela capacidade humana,
o louvor de uma razão técnica.
Em
outras palavras, nem as aves, com os seus argutos olhares, e nem tampouco
o leão,
com a sua
força descomunal, são páreos
para o
homem na sua engenhosidade. O homem é inteligente. El e revira a terra e
“ os rios tapa, e nem
uma gota sai
deles, e tira
para a luz
o que estava escondido” (Jó 28.11). Tudo isso em
busca da sabedoria ; mas , mesmo assim,
não pode encontrá-la.
A SABEDORIA NA ESFERA COMERCIAL (28.12-19)
Mas
onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? O homem não
lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes. O abismo
diz: Não está
em mim; e
o mar diz: Ela não
está comigo. Não se dará por ela
ouro fino, nem se pesará prata em câmbio
d ela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix,
nem pela
safira. Com ela se
não pode comparar o ouro
ou
o cristal; nem se
trocará por joia
de ouro fino.
Ela faz esquecer
o cora l e as
pérolas; porque a
aquisição da sabedoria
é melhor que
a dos rubis. Não
se lhe igualará
o topázio da
Etiópia, nem se
pode comprar p or ouro puro.
Tendo
gastado todo o
seu esforço e usado todas
as técnicas disponíveis, mesmo
assim o homem demonstrou-se incapaz de encontrar a sabedoria.
Ele valeu -se de
meios naturais nessa
busca. A sabedoria
a qual se refere
Jó demonstra ser
bem diferente daquela
conhecida pelos seus amigos,
que diziam que
a sabedoria era u
m bem
herdado que passava d e
pai para filho.
Era, por tanto, um
bem que poderia
ser encontrado. Por outro
lado, Jó mostra
que a sabedoria
da qual ele
está falando é de natureza diferente, não podendo ser
herdada ou passada de pai para
filho. Não é, portanto, um bem simplesmente cultural.
Mas onde se pode encontrá-la? É exatamente
isso que ele mostrará. “Mas onde se achará a sabedoria? E
onde está o lugar da inteligência?” (28.12). Como ficou demonstrado, no entendimento de Jó, a
sabedoria não é um bem meramente cultural que pode ser encontrado por meios naturais.
Haveria meios ou
caminhos para ela
ser adquirida? “ O homem não lhe conhece o caminho; nem se
acha ela na terra dos viventes” (28.13, AR). Ela não pode ser encontrada na “
terra d os viventes”, não está no mar e nem tampouco no “abismo”. Da perspectiva natural, não há uma rota para
encontrá-la, muito menos da perspectiva comercial. Não há nada que possa
comprá-la: “Nem se
pode comprar por
ouro fino de
Ofir, nem pelo precioso
ônix, nem pela s
afira” (28.16). Onde,
pois, estaria a sabedoria?
A SABEDORIA NA ESFERA ESPI RITUAL
(28.20-28)
De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está
o lugar da inteligência? Porque está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às
aves do céu. A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fa ma.
Deus entende o
seu caminho, e
ele sabe o
seu lugar. Porque ele
vê as extremidades
da terra; e vê tudo
o que há debaixo dos céus.
Quando deu peso
ao vento e
tomou a medida das
águas; quando prescreveu u ma
lei para a
chuva e caminho
para o relâmpago d os
trovões, en tão, a
viu e a manifestou; estabeleceu -a e também
a esquadrinhou. Mas
disse ao homem:
Eis que o
temor do Senhor é a sabedoria, e
apartar-se do mal é a inteligência.
“De
onde, pois, vem
a sabedoria [...]?
(28.20). A pergunta
do versículo 12 é repetida no 20.
Jó está caminhando para a conclusão do
seu argumento. Como ele mostrou no
primeiro ciclo do seu argumento (28.1
-11), não é
possível obter a sabedoria
simplesmente pelo esforço humano, mesmo
que os homens
sejam diligentes e
aguerridos nesse projeto.
El a também não tem preço. Não é um bem comercial e, por isso, não pode
ser comprada. Não tem preço, mas
possui valor. Ela é um
bem imaterial, na verdade espiritual. Não pode ser a dquirida por meio da tradição, mas
por revelação. Não é um produto humano, mas divino.
“Mas
disse ao homem:
E is que o
temor do Senhor
é a sabedoria,
e apartar-se do mal
é a inteligência”
(28.28). Aqui está
o clímax da argumentação de Jó sobre
a sabedoria e
a sua origem.
Ela é divina!
Não apenas divina, mas também relacional. Jó mostra não apenas a origem
da sabedoria, de onde
ela vem, mas
também delineia o
caminho que nos conduzirá
até ela. Deus
é a fonte
da sabedoria, e
o temor d o
Senhor é o meio
de chegar-se até
ela. Jó, portanto,
distancia -se dos seus amigos no conceito do que
seja a sabedoria. E m vez de ser
produto de uma tradição fria, a sabedoria era revelada e
encarnava -se na existência humana. Quem teme
ao Senhor foi iluminado
e achou o caminho
do entendimento. Esse, sim, é um sábio
de verdade! Nas palavras de
Crisóstomo (2010, p.
195), “nada há de
maior valor que
esta arte, nada
mais poderoso que
essa sabedoria: ‘ O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e todos
os que a põe em prática possuem uma boa
inteligência’ (Pv 1.7). Esse é o maior
de todos os bens .
A sabedoria suprema
consiste em adorar
a Deus, não em
cair na inútil ideia d e emitir opiniões”.
⁷⁰ LÍNDEZ, José
Vílchez . Sabedoria e
Sábios em Israel.
Tradução de José
Benedito Alves. 2.ed. São Paulo: Loyola, 1999. ⁷¹ Re
senha apresentada em 2019 na
disciplina Literatura poética
e sapiencial da Faculdade Batista do Paraná.
Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó
Jó 28 28:1-28.
Alguns
comentadores consideram este capítulo como um interlúdio único inserido pelo
autor para separar o diálogo do sumário final de Jó (caps. 29-31). Foi tratado
aqui como uma continuação da instrução de Jó sobre "o que encerra a mão de
Deus" (27:11a) e, como tal, demonstra ainda mais que a sua piedade é
genuína e fervorosa.
1-11.
Em contraste com o tema seguinte sobre o fracasso do homem quando procura a
sabedoria longe de Deus (v. 12 e segs.), aqui está o quadro do sucesso dos
ousados filhos de Tubal-Caim (cons. Gn. 4:22) em explorar os tesouros
escondidos da terra. A conquista da terra pela humanidade, ordenada por Deus no
princípio (Gn. 1: 28), foi delineada por fenomenais triunfos tecnológicos.
12-19.
Mas onde se achará a sabedoria? (v.12a). A seção seguinte (20-27) também foi
introduzida por esta pergunta que faz um estribilho. Ali ela recebe resposta
positiva, mas aqui uma negativa. Apesar de espantosas conquistas nos
empreendimentos científicos (vs. l-11), os homens não são capazes de alcançar a
sabedoria por meio da técnica ou pelos tesouros da ciência. Esse prêmio supremo
não pode ser obtido por meio de investigações ou compras, porque não está, como
algumas pedras preciosas, depositado na terra ou no mar (vs, 13, 14).
20-27.
Por trás da suposição que o homem pode descobrir a sabedoria, jaz a
pressuposição que o Criador possui sabedoria infinita. A sabedoria não se
encontra na terra dos viventes (v. 21; cons. 13, 14), nem no reino dos mortos
(v. 22). O caminho da sabedoria está além do alcance do homem desamparado, aqui
ou na outra vida. Só é diretamente visível por Aquele que desfruta da percepção
que tudo abrange e em tudo penetra (vs. 23, 24). Observe o uso de ouvir e ver
em relação ao conhecimento parcial e perfeito respectivamente (vs. 21-27). O
Criador percebeu a sabedoria desde o começo, quando ordenou as leis do mundo
(vs. 25, 26). De fato, a criação natural, com suas leis governantes
estabelecidas por Deus, é uma expressão e corporificação da sabedoria (v. 27;
cons. Pv. 8:22-31). Pois a sabedoria é a expressão da Sua vontade e torna-se
articulada para o homem na lei de Deus - natural e moral. A lei divina é a
forma na qual Deus revela Sua sabedoria aos homens.
28. O
temor do Senhor é a sabedoria. Quando o homem reconhece
reverentemente que ele e o seu mundo estão sujeitos ao Criador, esse
reconhecimento passa a ser o sangue vital da sabedoria humana, a ponto de poder
ser identificado com a própria sabedoria. Um homem meça a ser sábio quando ele
deixa de procurar sabedoria independentemente de Deus e no seu próprio poder. Ele
progride na sabedoria através da meditação sobre a lei moral e da investigação
da lei natural. Além de um verdadeiro reconhecimento da revelação divina, quer
na criação natural quer na Palavra, a meditação do homem e a sua investigação
produzem não a sabedoria mas a loucura. O empreendimento cultural que não
começa nem se consuma no culto é vão. E o culto, se não for o verdadeiro culto
ao Senhor, é vaidade. O temor do Senhor, a consagração da aliança, é o começo e
a parte principal da sabedoria.
Jó (Comentário Bíblico Moody)
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