segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Lição 9 - Jó e a Inescrutável Sabedoria de Deus

 


Texto Áureo

Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.”

(Jó 28.28)

Verdade Prática

A verdadeira sabedoria está associada ao temor do Senhor e não ao mero acúmulo de conhecimento.

OBJETIVO GERAL

Mostrar que a verdadeira sabedoria consiste no temor do Senhor.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

Expor que todos os esforços humanos são inúteis para a aquisição da sabedoria divina;

Destacar que a sabedoria tem seu preço, e que excede todos os bens materiais existentes;

Revelar que o verdadeiro valor da sabedoria é de natureza espiritual

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Jó 28.1-28

1 Na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em que o derretem.

2 0 ferro tira-se e da pedra se funde o metal.

3 O homem pôs fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão e na sombra da morte.

4 Transborda o ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé; então, intervém o homem, e as águas se vão.

5 A terra, de onde procede o pão, em baixo é revolvida como por fogo.

6 As suas pedras são o lugar da safira e têm pós de ouro.

7 Essa vereda, a ignora a ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha.

8 Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela.

9 Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes.

10 Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas.

11 Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido.

12 Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência?

13 O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes.

14 O abismo diz: No está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo.

15 Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela.

16 Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.

17 Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino.

18 Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis.

19 Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro.

20 De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?

21 Porque está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu.

22 A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama

23 Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar.

24 Porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus.

25 Quando deu peso ao vento e tomou a medida das águas;

26 quando prescreveu uma lei para. a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões,

27 então, a viu e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou.

28 Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.

INTERAGINDO COMO PROFESSOR

Quem é o sábio segundo as Escrituras? É o que fala diversos idiomas? O que lê mais de 60 livros por ano? O que conhece muito de filosofia? O que conhece muito de teologia? O que tem profundo conhecimento da literatura mundial e nacional? Quem é o sábio segundo as Escrituras? Aqui não há nenhuma reprovação às atividades contidas nas indagações acima. Pelo contrário, como seria bom que cada vez mais cristãos tivessem uma compreensão profunda, segundo a cosmovisão cristã, acerca de todos esses temas. Mas o que queremos mostrar é que a verdadeira sabedoria, da qual fala a Palavra de Deus fala, tem como fundamento o “temor do Senhor”

PONTO CENTRAL

O temor do Senhor é o fundamento da verdadeira sabedoria.

INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos uma das mais belas exposições bíblicas sobre a sabedoria. O capítulo 28 foi propositadamente colocado pelo autor para delimitar o fim dos longos discursos dos amigos do homem de Uz. O seu propósito é contrastar a sabedoria meramente humana com a sabedoria revelada, que é de origem divina. Assim, temos o objetivo de declarar que somente Deus é a fonte da verdadeira sabedoria. Essa divina sabedoria se manifesta na vida dos homens de forma prática através do temor do Senhor.

EBD | 4° Trimestre De 2020 | CPAD – Adultos – A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó | Lição 09: Jó e a Inescrutável Sabedoria de Deus

 


Capítulo 09 – Jó e a Inescrutável Sabedoria de Deus  

 O livro de Jó pertence ao gênero literário sapiencia l, e o seu capítulo 28 é todo dedicado a uma exposição sobre a verdadeira sabedoria. Alguns autores  (Terrien,  1997)  acreditam  que  esse  capítulo  não  pertence  aos discursos originais de Jó, e ainda outros acham que ele encontra -se fora de lugar.  Todavia,  como  observou  Mesquita  (1979),  essa  teoria  não  parece razoável dentro do contexto de Jó. O mais natural é entender que Jó tenha recebido  de  Deus  iluminação  para  fazer  uma  exposição  tão  bela  e profunda  sobre  a  sabedoria  sob  diferentes  aspectos.  Mesquita  (1979,  p. 147) destaca o seguinte: 

    os  críticos  admitem,  com  muita  facilidade,  interpolações  do  texto, como  se  um  manuscrito  sagrado  fosse  um  tabuleiro  de  xadrez,  em que se joga  uma pedra para um lado e para outro. Não partilhamos desta  facilidade  de  acrescentar  ou  diminuir  coisa  alguma  num Manuscrito,  mesmo  que  não  sejamos  capazes  de   interpretar  certas anormalidades  textuais.  

     Na  sua  obra  Sabedoria  e  Sábios  em  Israel  (Loyola ,  1999),  Jos é  V. Líndez  faz  uma  abordagem  sistemática  e  crítica  sobre  a  literatura sapiencial  no  contexto  do   mundo  antigo.⁷⁰    algum  tempo,  fiz  uma resenha  sobre  a  obra  d e  Líndez  para  um  trabalho  de  mestrado.⁷¹  Aqui reproduzirei  parte  dela   porque  creio  que  ajudará  na  compreensão  do capítulo 28 de Jó.

    Líndez  destaca  que  a  literatura  Sapiencial  é  o  fruto  maduro  de  u m povo adulto. Esse tipo de gênero literário é mais  antigo que Israel. Líndez ainda destaca que essa literatura chegou até nós por meio d o testemunho escrito  na  Mesopotâmia  e  Egito,  cuja  d ata  remonta  ao  segundo  e  terceiro milênio  antes   de  Cristo.  Esses  centros  de  cultura  estavam  espalha dos principalmente pelo Egito e Mesopotâmia.

    A fonte  da sabedoria no  mundo antigo estava  reservada aos  sábios. Porém, Líndez destaca que  o que se  entende por “sábios” não  é consenso entre  os  estudiosos.  O  termo  passou  a  ser  usado  tanto  no  sentido profissional  como  no  não  profissional.  O  termo  pode  ser  a plicado  aos mestres  da  corte,  educadores,  etc.,  bem  como  aos  conselheiros  dos príncipes e reis. Dessa forma , o “sábio” é o mestre de família que vivia na corte  ou  fora  dela,  ou,  ainda,  o  mestre  popular,  além  de  futuros  escribas ou peritos da lei. A sabedoria, portanto, provinha de várias fontes: o lar, a escola, a experiência , o intercâmbio, a tradição, a reflexão, etc. 

   É  interessante a  forma como  Líndez  aborda a   questão  da  Sabedoria e o sábio no Antigo Testamento e como essa sabedoria relacionava-se com a ordem no mundo. Líndez destaca que a sabedoria no contexto do Antigo Testamento é mais de caráter prático do que teórico. Em muitos textos do Antigo  Testamento,  é  revelado  que  o  Senhor  Deus  é  a  fonte  dessa sabedoria.  Não  deve  ser  esquecido  que,  em  um  primeiro  momento,  a sabedoria  é  demonstrada  nas  atividades  manuais  dos  homens  nas  suas tarefas  diárias  e  normais,  isto  é,  nas  suas  habilidades  demonstradas .  Em um estágio mais avançado da literatura sapiencial, o conceito de sabedoria é  associado  a  ideias  de  justiça.  Ser  sábio,  portanto,  não  se  refere  a  ter conhecimento enciclopédico, mas à aplicação da justiça. 

    O  autor  destaca  que,  dentre  os  livros  do  gênero  sapiencial, Provérbios  de  Salomão  é  o  mais  representativo  do  Antigo  Testamento.

    Líndez  observa  que  os   livros  de  Provérbios,  além  das  sentenças tradicionalmente  atribuídas  ao  rei,  filho  de  Davi,    muitas  outras atribuídas  a  outros  sábios.  O  modelo  de  sentenças  prevalecentes  nos provérbios  é  a  “masal”.  Nesses  provérbios,  prevalecem  os  paralelismos, as  formas  valorativas,  a s  comparações,  as  metáfora s,  as  perguntas retóricas,  as  cenas  breves  (o  preguiçoso  e  a  formiga,  o  beberrão).  Há, também,  uma  variedade  de  temas:  amor  à  sabedoria,  vida  pessoal  (o indivíduo,  o  aluno,  desprestígio  do  preguiçoso,  primazia  da  justiça, atitude  diante  d a  riqueza  e  da  pobreza ),  provérbios  e  a  vida  familiar,  a vida  em  sociedade  (sensato/néscio;  honrado/malvado;  pobre/rico; excesso/moderação).  Líndez  também  destaca  a  reflexão  de  provérbios para  o  contexto  religioso.  Deus  é  visto  como:  criador,  onisciente, providente  e  soberano.  Outros  temas  de  igual  importância  também  são abordados  pelos  Provérbios:  Deus  e  o  mal,  a  doutrina  da  retribuição  e  o temor do Senhor.

     Líndez  (1999,  p.  133)  destaca  o  que  chama  de  “crise  da  sabedoria”. Ele  mostra  que,  no  primeiro  momento,  a  literatura  sapiencial  via  os problemas da existência humana como estando subordinados apenas à lei de  causa  e  efeito  ou  da  retribuição.  Esse  “otimismo” deixa  de  existir  com o livro de Jó. É dentro desse contexto que ocorrem os dramas narrados no livro  de    e,  posteriormente,  também  no  Eclesiastes.  Jó,  por  sua  vez, mostra  como  nem  sempre  a  questão  do  sofrimento  humano  pode  ser entendida a  partir da  lei  da retribuição.

    O   autor  de    mostra um  homem justo,  que  procurava  viver  retamente  e  que,  de  repente,  acaba  sendo apanhado em desgraça. Dessa forma, Líndez (1999, p. 134) diz:

      O  pensamento  sapiencial  se  teologiza,  enquadrando-se  em  uma corrente  de  otimismo  que  admite  a  ordem  e  o  equilíbrio  perfeitos não  apenas  na  natureza,  mas  também  na  comunidade  humana, sempre  dentro  de  um  horizonte  temporal  cujo  limite  está  marcado pela realidade da morte. Essa visão otimista e abertamente religiosa fundamenta-se  na  admissão  s em  titubeios  da  doutrina  da retribuição temporal e histórica: Deus premia sempre os bons com o êxito e  a  vitória; aos maus dá sua  merecida derrota, não obstante as aparências contraditórias da realidade.  

     Nos  primeiros  capítulos,    aparece  como  um  homem  feliz  e extremamente  piedoso,  levando  a  sério  as  questões  relacionadas  à  vida religiosa.  Todavia,  num  segundo  momento,    aparece  de  forma questionadora, não conformado com os infortúnios, quando, por exemp lo, uma tempestade varre a sua casa e família. O Jó  paciente cede o seu lugar para  o    inquieto.  Líndez  (1999,  p.  138)  demonstra  que  uma  das  belezas do  livro  de    está  exatamente  na  narrativa  dos  fatos  sem  a  tenta tiva  de mascarar  as  agruras  pelas  quais   o  velho  patriarca  passa.  Aqui,    discute com  Deus  e  demonstra  o  seu  ressentimento  diante  da  aparente  injustiça que estava sofrendo. Líndez (1999, p. 137) declara o seguinte:  

   O  autor  apresenta  magistralmente  um  homem  justo,  triturado  pelo sofrimento,  que  busca  com  tenacidade  uma  explicação  da  situação em  que  padece.  Nessa  empresa  sobre-humana,    remove  céus  e  terra,  enfrentando  a  Deus  e  aos  homens.  Nada  o  faz  recuar,  a  tudo se  arrisca,  sempre  consciente  d e  sua  inocência.  Queixa -se  e  grita desesperadamente  para  que  D eus  rompa  o  silêncio  e  de  uma  vez para sempre a justiça  seja feita.

     Nesse  aspecto,  é  possível  fazer  um  contraste  entre    e  Eclesiastes. Por  um  lado,    levanta  a   voz  contra  toda  explicação  teológica  que  é simples  demais  para  explicar  as   contradições  da  vida.  Por  outro  lado,  o livro de Eclesiastes fa z uma análise filosófica sobre o lado sombrio da vida que  acontece  “debaixo  do  sol”  (Líndez,  1999,  p.  168).  Nesse   aspecto,  o Eclesiastes (Pregador) é  um  bom observador e  um crítico radical d a vida. Uma  palavra-chave  que  ajuda  a   entender  a  mensagem  de  Eclesiastes, destaca  Líndez  (1999,  pp.  173,174),  está  na  compreensão  do  sentido  de hebel, que, comumente traduzida por  “fumaça, vapor”, mantém o sentido de  “vaidade”.  No  Eclesiastes,  hebel  é  usada  nos   contextos  da  riqueza, trabalho,  prazer  e  conhecimento.  Líndez  (1999,  p.  174)  conclui  que  o Pregador  (Eclesiastes)   não  pode  ser  visto  como  um  observador  frívolo otimista,  pois  a  sua  visão  da  vida  mostra  a  realidade  nua  e  crua  como  se apresenta a existência humana. É nisso que ele é parecido com Jó.   

    A FONTE DA VERDADEIRA S ABEDORIA 

     A  exposição  de    sobre  a   sabedoria  deve  ser  entendida  a   partir  do seu  contexto  imediato.  Nos  capítulos  precedentes,    travou  um  longo debate  com  os  seus  três  amigos  Eli faz,  Bildade  e  Zofar.  Esse  ciclo  de debates  terminou.  O  discurso  proferido  sobre  a  sabedoria  introduz  u ma pausa no texto prenunciando o que viria a seguir: outra série de discursos que  serão  proferidos  por  Eliú.  Devemos  lembrar  que  os  amigos  de  Jó fizeram  uma  defesa  apaixonada  sobre  a   sabedoria,  ao  mesmo  tempo  em que  acusavam    de  não  a  possuir.  Novamente,    porá  a  sabedoria  no centro  da  discussão.  E  por  que  ele  fará  isso?  Porque  os  seus  amigos alegaram que eram sábios e que com eles estava o entendimento; todavia, foram  incapazes  de  dar  respostas  sábias  e   satisfatórias  à s  questões levantadas por Jó, que chegou à conclusão de que, sem dúvida, havia uma sabedoria,  mas,  com  toda  certeza,  ela  não  se  encontrava  com  os  seus amigos.  O  que  se   no  capítulo  2 8  é  o  argumento  do  patriarca apresentando  a  sabedoria  sob  três  dimensões    natural,  comercial  e espiritual    e  demonstrando  por  que  os  homens  não  a  haviam encontrado.   

       A SABEDORIA NA ESFERA NATURAL (28.1-11)

    Na verdade, há veios  de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em  que  o  derretem.  O  ferro  tira -se  da  terra,  e  da  pedra  se  funde  o metal.  O  homem  pôs  fim  às  trevas  e  até  à  extremidade  ele esquadrinha,  procurando  as  pedras  na  escuridão  e  na  sombra  da morte.  Trasborda o  ribeiro  até  ao  que  junto d ele  habita,  de  maneira que  se  não  pode  passar  a  pé;  então,  intervém  o  homem,  e  as  águas se  vã o.  A  terra,  de  onde  procede  o  pão,  embaixo  é  revolvida  como por  fogo.  As  suas  pedras  são  o  lugar  da  safira  e  têm  pós  de  ouro. Essa  vereda,  a  ignora  a  ave  de  rapina ,  e  não  a   viram  os  olhos  da gralha. Nunca a  pisaram  filhos  de animais altivos,  nem o  feroz  leão passou por ela. Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as sua s raízes. Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas. Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido.

    Na  primeira  parte  d a  sua  exposição  sobre  a  sabedoria  (28.1 -11),  Jó usa a  metáfora das minas para ilustrar a  busca da sabedoria como u m bem natural.  Assim  como  os  homens  usa m  técnicas  avançadas  para encontrarem  minérios   e  metais  preciosos  na  natureza,  da  mesma  forma eles têm-se gastado em busca da sabedoria. Nenhum esforço é poupado.

   “Na verdade, há veios de onde se extrai a  prata, e, para  o ouro, lugar em  que  o derretem.  O  ferro  tira-se  da  terra,  e  da  pedra  se funde  o  metal” (28.1,2). Esses metais estão escondidos na terra e, para serem encontrados, demandam  grandes  esforços  e  uso  apurado  das  técnicas.  “O  ferro  tira -se da  terra,  e  da  pedra  se  funde  o  metal. O   homem  pôs  fim  às  trevas  e  até  à extremidade  ele  esquadrinha,  procurando  as  pedras  na  escuridão  e  na sombra  da  morte”  (28.2,3).  As  minas  são  locais  insalubres,  que,  além  de precisarem  de  apuradas  técnica s  de  escavação,  precisam  ser  bem iluminadas.  Todo  esse  esforço  é  justificável  tendo  em  vista  o  fim  que  o objetiva: encontrar a  sabedoria.   

   “Essa  vereda,  a  ignora  a  ave  de  rapina,  e  não  a  viram  os  olhos  da gralha. Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela” (28.7,8). A palavra  hebraica ayit, usada aqui como ave de  rapina, também  é  traduzida  em  outras  versões  como  “águia”.  Esse  termo  ocorre em  Gênesis  15.11  e  é  usado  em  Isaías  18.6  como  referência  às  “aves  dos montes”. Independentemente da tradução que se use, o sentido do texto é que a  ave destacada  aqui possui grande  capacidade e  habilidade. Mesmo assim,  ela  demonstra-se  incapaz  de  enxergar  aquilo  que  lhe  é  oculto  na terra. Isso, porém, não é apenas uma questão de habilidade, mas também de  força.  O  leão,  o  mais  forte  dos  animais,  também  se  mostra  impotente: “Nunca  a  pisaram   filhos  de  animais  altivos,  nem  o  feroz  leão  passou  por ela” (28.8). Nas palavras de Schonberger (202012, p. 141):

    O  ser  humano  pode  encontrar  coisas  que  estão  ocultas profundamente nas trevas  da   terra;  pode  entrar  em  lugares  que,  no fundo,  são  impraticáveis  (v.4).  Aves  de  rapina,  que  conseguem enxergar mil vezes mais  penetrantemente do que o ser humano, não conseguem divisá-los (v.7); feras selvagens, que se  movimentam de forma  hábil  e  segura  do  que  os  seres  humanos ,  não  os  podem alcançar  (v.8).  Até  aqui,  a  fascinação  pela  capacidade  humana,  o louvor de uma razão técnica.

   Em outras palavras, nem as aves, com os seus argutos olhares, e nem tampouco o  leão,  com  a  sua  força descomunal, são  páreos para  o  homem na sua engenhosidade. O homem é inteligente. El e revira a terra e “ os rios tapa,  e  nem  uma  gota  sai  deles,  e  tira  para  a  luz  o  que  estava escondido” (Jó 28.11). Tudo isso em busca da  sabedoria ; mas , mesmo assim, não pode encontrá-la.

      A SABEDORIA NA  ESFERA COMERCIAL (28.12-19)

    Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes. O  abismo  diz:  Não  está  em  mim;  e  o  mar  diz:  Ela  não  está  comigo. Não se dará por ela ouro fino,  nem se pesará prata em câmbio d ela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem  pela  safira.  Com ela   se  não  pode comparar  o  ouro  ou  o  cristal; nem  se  trocará  por  joia  de  ouro  fino.  Ela  faz  esquecer  o  cora l  e  as pérolas;  porque  a  aquisição  da  sabedoria  é  melhor  que  a  dos  rubis. Não  se  lhe  igualará  o  topázio  da  Etiópia,  nem  se  pode  comprar p or ouro puro. 

     Tendo  gastado  todo  o  seu  esforço  e  usado  todas  as  técnicas disponíveis, mesmo assim o homem demonstrou-se incapaz de encontrar a  sabedoria.  Ele  valeu -se  de  meios  naturais  nessa  busca.  A  sabedoria  a qual  se  refere    demonstra  ser  bem  diferente  daquela  conhecida  pelos seus  amigos,  que  diziam  que  a  sabedoria  era  u m  bem  herdado  que passava  d e  pai  para  filho.  Era,  por tanto,  um  bem  que  poderia  ser encontrado.  Por  outro  lado,     mostra  que  a  sabedoria  da  qual  ele  está falando é  de  natureza diferente, não  podendo ser  herdada ou passada  de pai para filho. Não é, portanto, um bem simplesmente cultural.

    Mas onde se pode encontrá-la? É exatamente isso que ele mostrará. “Mas  onde  se  achará  a  sabedoria?  E  onde  está  o  lugar  da inteligência?” (28.12). Como ficou  demonstrado, no entendimento de Jó, a sabedoria não é um bem meramente cultural que pode ser encontrado por meios  naturais.  Haveria  meios  ou  caminhos  para  ela  ser  adquirida?  “ O homem não lhe conhece o caminho; nem se acha ela na terra dos viventes” (28.13, AR). Ela não pode ser encontrada na “ terra d os viventes”, não está no mar e nem tampouco no “abismo”. Da  perspectiva natural, não há uma rota para encontrá-la, muito menos da perspectiva comercial. Não há nada que  possa  comprá-la:  “Nem  se  pode  comprar  por  ouro  fino  de  Ofir,  nem pelo  precioso  ônix,  nem  pela  s afira”  (28.16).  Onde,  pois,  estaria  a sabedoria?  

        A SABEDORIA NA ESFERA ESPI RITUAL (28.20-28)

   De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? Porque está encoberta aos olhos de todo vivente  e oculta às  aves do céu. A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os  nossos ouvidos a sua  fa ma.  Deus  entende  o  seu  caminho,  e  ele  sabe  o  seu  lugar. Porque  ele    as  extremidades  da  terra;  e    tudo  o  que  há debaixo dos  céus.  Quando  deu  peso  ao  vento  e  tomou  a  medida  das  águas; quando  prescreveu  u ma  lei  para  a  chuva  e  caminho  para  o relâmpago d os trovões,  en tão,  a  viu  e  a manifestou; estabeleceu -a  e também  a  esquadrinhou.  Mas  disse  ao  homem:  Eis  que  o  temor  do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência. 

  “De  onde,  pois,  vem  a  sabedoria  [...]?  (28.20).  A  pergunta  do versículo 12 é repetida  no 20. Jó está caminhando para a  conclusão do seu argumento. Como ele mostrou  no primeiro ciclo  do seu argumento (28.1 -11),  não  é  possível obter  a  sabedoria  simplesmente pelo  esforço  humano, mesmo  que  os  homens  sejam  diligentes  e  aguerridos  nesse  projeto.  El a também não tem preço. Não é um bem comercial e, por isso, não pode ser comprada.  Não  tem  preço,  mas  possui  valor.  Ela  é  um   bem  imaterial,  na verdade espiritual. Não  pode ser a dquirida por meio da tradição, mas por revelação. Não é um produto humano, mas divino. 

     “Mas  disse  ao  homem:  E is  que  o  temor  do  Senhor  é  a   sabedoria,  e apartar-se  do  mal  é  a  inteligência”  (28.28).  Aqui  está  o  clímax  da argumentação  de    sobre  a  sabedoria  e  a  sua  origem.  Ela  é  divina!  Não apenas divina, mas também relacional. Jó mostra não apenas a origem da sabedoria,  de  onde  ela  vem,  mas  também  delineia  o  caminho  que  nos conduzirá  até  ela.  Deus  é  a  fonte  da  sabedoria,  e  o  temor  d o  Senhor  é  o meio  de  chegar-se  até  ela.  Jó,  portanto,  distancia -se  dos  seus  amigos  no conceito do  que  seja  a sabedoria. E m vez  de  ser produto de  uma  tradição fria, a sabedoria era revelada e encarnava -se na existência humana. Quem teme  ao  Senhor  foi iluminado  e  achou o  caminho  do  entendimento. Esse, sim,  é  um  sábio  de  verdade!  Nas  palavras  de  Crisóstomo  (2010,  p.  195), “nada     de  maior  valor  que  esta  arte,  nada  mais   poderoso  que  essa sabedoria: ‘ O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e todos os que a põe em prática possuem  uma boa inteligência’ (Pv 1.7). Esse é  o maior de todos  os  bens .  A  sabedoria  suprema  consiste  em  adorar  a  Deus,  não  em cair na inútil ideia d e emitir opiniões”.   ⁷⁰  LÍNDEZ,  José  Vílchez .  Sabedoria  e  Sábios  em  Israel.  Tradução  de  José  Benedito Alves. 2.ed. São Paulo: Loyola, 1999.  ⁷¹  Re senha  apresentada  em  2019  na  disciplina  Literatura  poética  e  sapiencial  da Faculdade Batista do Paraná.    

  A Fragilidade Humana e a Soberania Divina:

 Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó 


Jó 28 28:1-28.

Alguns comentadores consideram este capítulo como um interlúdio único inserido pelo autor para separar o diálogo do sumário final de Jó (caps. 29-31). Foi tratado aqui como uma continuação da instrução de Jó sobre "o que encerra a mão de Deus" (27:11a) e, como tal, demonstra ainda mais que a sua piedade é genuína e fervorosa.

  1-11. Em contraste com o tema seguinte sobre o fracasso do homem quando procura a sabedoria longe de Deus (v. 12 e segs.), aqui está o quadro do sucesso dos ousados filhos de Tubal-Caim (cons. Gn. 4:22) em explorar os tesouros escondidos da terra. A conquista da terra pela humanidade, ordenada por Deus no princípio (Gn. 1: 28), foi delineada por fenomenais triunfos tecnológicos.

 12-19. Mas onde se achará a sabedoria? (v.12a). A seção seguinte (20-27) também foi introduzida por esta pergunta que faz um estribilho. Ali ela recebe resposta positiva, mas aqui uma negativa. Apesar de espantosas conquistas nos empreendimentos científicos (vs. l-11), os homens não são capazes de alcançar a sabedoria por meio da técnica ou pelos tesouros da ciência. Esse prêmio supremo não pode ser obtido por meio de investigações ou compras, porque não está, como algumas pedras preciosas, depositado na terra ou no mar (vs, 13, 14).

 20-27. Por trás da suposição que o homem pode descobrir a sabedoria, jaz a pressuposição que o Criador possui sabedoria infinita. A sabedoria não se encontra na terra dos viventes (v. 21; cons. 13, 14), nem no reino dos mortos (v. 22). O caminho da sabedoria está além do alcance do homem desamparado, aqui ou na outra vida. Só é diretamente visível por Aquele que desfruta da percepção que tudo abrange e em tudo penetra (vs. 23, 24). Observe o uso de ouvir e ver em relação ao conhecimento parcial e perfeito respectivamente (vs. 21-27). O Criador percebeu a sabedoria desde o começo, quando ordenou as leis do mundo (vs. 25, 26). De fato, a criação natural, com suas leis governantes estabelecidas por Deus, é uma expressão e corporificação da sabedoria (v. 27; cons. Pv. 8:22-31). Pois a sabedoria é a expressão da Sua vontade e torna-se articulada para o homem na lei de Deus - natural e moral. A lei divina é a forma na qual Deus revela Sua sabedoria aos homens.

  28. O temor do Senhor é a sabedoria. Quando o homem reconhece reverentemente que ele e o seu mundo estão sujeitos ao Criador, esse reconhecimento passa a ser o sangue vital da sabedoria humana, a ponto de poder ser identificado com a própria sabedoria. Um homem meça a ser sábio quando ele deixa de procurar sabedoria independentemente de Deus e no seu próprio poder. Ele progride na sabedoria através da meditação sobre a lei moral e da investigação da lei natural. Além de um verdadeiro reconhecimento da revelação divina, quer na criação natural quer na Palavra, a meditação do homem e a sua investigação produzem não a sabedoria mas a loucura. O empreendimento cultural que não começa nem se consuma no culto é vão. E o culto, se não for o verdadeiro culto ao Senhor, é vaidade. O temor do Senhor, a consagração da aliança, é o começo e a parte principal da sabedoria.

                    Jó (Comentário Bíblico Moody)



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