Texto
Bíblico Básico:
Pv 1.1_6
Texto Áureo:
“Adquire
a sabedoria, adquire a inteligência e não te esqueças nem te apertes das
palavras da minha boca. Não desampares a sabedoria, e ela te guardará; ama-a, e
ela te conservará.”
Provérbios 4.5,6
OBJETIVOS
Ao
término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
Conhecer as principais
características do quinto volume do Livro de Provérbios;
Entender
que
o objetivo do livro de Provérbios é claro: conhecer a sabedoria;
Compreender
que
o Livro de Provérbios é o grande manual de sabedoria bíblica, destinado a todos
os homens em todos os tempos.
O Livro de PROVÉRBIOS
Introdução
O
livro de Provérbios é uma antologia inspirada de sabedoria hebraica. Esta
sabedoria, no entanto, não é meramente intelectual ou secular. É principalmente
a aplicação dos princípios da fé revelada às tarefas da vida diária. Nos Salmos
temos o hinário dos hebreus; em Provérbios temos o seu manual para a justiça
diária. Neste último encontramos orientações práticas e éticas para a religião
pura e sem mácula. Jones e Walls dizem: "Os provérbios nesse livro não são
tanto ditos populares como a essência da sabedoria de mestres que conheciam a
lei de Deus e estavam aplicando os seus princípios à vida na sua totalidade
[...] São palavras de recomendação ao homem que está na jornada e que busca
trilhar o caminho da santidade".
A. Autoria e Data
A
tradição hebraica atribuiu o livro de Provérbios a Salomão assim como atribuiu
o de Salmos a Davi. Israel considerava o rei Salomão o seu sábio por
excelência. E há justificativas suficientes para esse reconhecimento. O reinado
de quarenta anos de Salomão em Israel foi realmente brilhante. É evidente que
esses anos não deixaram de ter os seus defeitos. Os muitos casamentos de
Salomão não contam pontos a favor dele (1 Rs 11.1-9). Na parte final do seu
reinado ele preparou o cenário para a dissolução do seu grande império (1 Rs
12.10). Não obstante, ele realizou um ótimo reinado durante os anos dourados de
prosperidade e poder de Israel. A arqueologia é testemunha das suas habilidades
na arquitetura e engenharia, da sua competência na administração e da sua
capacidade como industrialista.2
O historiador sacro de 1 Reis nos conta
que Salomão amou o Senhor (3.3); ele orou pedindo a Deus um coração
compreensivo (3.3-14); ele mostrou possuir sabedoria em questões práticas da
administração (3.16-28); a sua sabedoria foi concedida por Deus (4.29); ele era
conhecido por sua sabedoria superior entre as nações vizinhas (4.29-34); ele
escreveu 3.000 provérbios e mais de mil hinos (4.32); e foi capaz de responder
às perguntas mais difíceis da rainha de Sabá (10.1- 10).
No entanto, assim como nem todos os salmos
foram escritos por Davi, nem todo o livro de Provérbios foi obra de Salomão.
Uma parte do livro é designada como "palavras dos sábios"
(22.17-24.34). Os últimos dois capítulos do livro contêm as palavras de Agur, o
filho de Jaque (30.1-33), e de Lemuel, filho de Massá (31.1-9). O belo poema
acróstico acerca da mulher e mãe perfeita (31.10-31) foi escrito por um autor
desconhecido. A erudição conservadora aceita a autoria salomônica da maior
parte do livro de Provérbios e a sua inclusão como um todo no cânon do Antigo
Testamento.
A erudição crítica, no entanto, tende a
rejeitar a atribuição tradicional da maior parte do livro de Provérbios a
Salomão. W. O. E. Oesterley diz: "A maioria dos críticos modernos rejeita
totalmente a tradição de que Salomão tenha escrito uma série de
provérbios".3 S. H. Blank comenta: "Não é necessário levar a sério a
atribuição de Provérbios a Salomão em 1.1; 10.1; 25.1 [...] O livro canônico de
Provérbios de Salomão não necessita de mais pretensão de autoria de Salomão do
que o livro apócrifo de Sabedoria de Salomão".4 Mesmo assim, esse mesmo
autor reconhece a tendência crescente de se aceitar a validade da tradição judaica.
Ele diz: "Não se pode negar a possibilidade, e a opinião da erudição
recente se inclina a aceitar o ponto de vista de que Salomão ao menos cultivava
a arte proverbial e foi responsável pelo cerne do livro que lhe é
atribuído".5
Embora grande parte do livro de Provérbios
tenha sua origem na época de Salomão, no décimo século a.C., a conclusão da
obra não pode ser datada antes de 700 a.C., aproximadamente duzentos e
cinqüenta anos após o seu reinado. Uma seção (25.1-29.27) contém a coleção de
provérbios que os escribas de Ezequias copiaram de obras anteriores de Salomão.
Alguns estudiosos datam a edição final de Provérbios ainda mais tarde, mas
antes do período de conclusão do Antigo Testamento — 400 a.C. Outros ainda
chegam a datar a edição final no período intertestamental. Uma referência ao
livro de Provérbios no livro apócrifo de "Eclesiástico" ("A
Sabedoria de Jesus Ben Sirach"), escrito em torno de 180 a.C., indica que
nessa época Provérbios era amplamente aceito como parte da tradição religiosa e
literária de Israel.
B. Definição e Forma literária
A
palavra "provérbio" em nossos dias significa um ditado breve e
incisivo, expressando uma observação verdadeira e conhecida concernente à
experiência humana — por exemplo: "Deus ajuda quem cedo madruga". Há
diversas coletâneas de provérbios modernos publicadas nas mais diversas línguas
e culturas. Para o antigo hebreu, no entanto, a palavra "provérbio"
(mashal) tinha um significado muito mais amplo. Era usada não somente para
expressar uma máxima, mas para interpretar um ensino ético da fé do povo de
Israel. A palavra vem do verbo que significa "ser como" ou
"comparar". Por isso, no livro de Provérbios encontramos uma série de
símiles, contrastes e paralelismos. O paralelismo de duas linhas é a forma
predominante encontrada em Provérbios. Dentro dos limites desse modo de
expressão há uma variedade extraordinária. Existe o paralelismo antitético
(10.1), o paralelismo sinônimo (22.1) e o paralelismo progressivo, ou sintético
(11.22). Encontramos o paralelismo também em outras partes das Escrituras do
Antigo Testamento, especialmente em Salmos.
Em algumas partes do Antigo Testamento o
mashaltem ainda usos mais amplos. Em Juízes é usado para descrever uma fábula
(9.7-21) e como designação de um enigma (14.12). Em 2 Samuel 12.1-6 e Ezequiel
17.2-10 refere-se a uma parábola ou alegoria. Em Jeremias 24.9 identifica um
provérbio. Em Isaías caracteriza um insulto (14.4) e em Miquéias um lamento
(2.4).
O
livro de Provérbios é escrito e estruturado em forma poética, sendo que os
ditos aparecem geralmente em parelhas de versos (dísticos). Muitas versões e
traduções modernas seguem o padrão poético do original hebraico. Não é difícil
perceber a estrutura das partes principais do livro (veja esboço). No entanto,
o conteúdo em cada uma dessas partes muitas vezes resiste a um arranjo
bem-organizado. Em muitos casos não há conexão lógica entre um provérbio e os
adjacentes.
C. Provérbios e o Restante da
Literatura Sapiencial
A
literatura sapiencial do Antigo Testamento inclui o livro de Jó, Eclesiastes e
Cântico dos Cânticos, além de Provérbios. Não se pode negar que essa sabedoria
hebréia teve seus antecedentes em culturas mais antigas e seus paralelos com
nações vizinhas. Israel estava situado na "encruzilhada cultural do
Crescente Fértil".6 Salomão e Ezequias e os sábios da sua época estavam
sintonizados com a sua época e sem dúvida estavam em contato com a literatura
existente nos seus dias.
A arqueologia nos deu uma série de
coleções do antigo Egito e da Mesopotâmia. Duas dessas são particularmente
significativas: "As palavras de Ahiqar" e "A instrução de
Amen-emopet [Amenemope]". Em virtude da semelhança de idéias e estrutura
entre esses escritos e o livro de Provérbios, eruditos críticos tendem a
defender a opinião de que houve dependência direta ou indireta dos hebreus
dessa literatura sapiencial. Esses estudiosos chamam atenção especial para as
semelhanças entre Provérbios 22.17-23.14 e "A instrução de Amen-em-opet
[Amenemope]".' Fritsch nos lembra, no entanto, que "não podemos
negligenciar a possibilidade de que Provérbios 22.17-23.14 já existisse como
unidade de texto muito antes de sua incorporação nesse livro, e que na verdade
esse texto pudesse ter influenciado o escriba egípcio".8
A erudição bíblica conservadora rejeita a
idéia de que os autores hebreus tenham dependido da literatura egípcia com base
no fato de que há contrastes como também semelhanças e certamente grandes
diferenças teológicas. Kitchen diz: "A discordância completa em relação à
ordem dos tópicos e as claras diferenças teológicas entre Provérbios 22.1-24.22
e Amenemope impedem cópia direta em qualquer direção".9 Edward J. Young
crê que o politeísmo de Amenemope teria causado repulsa ao hebreu monoteísta e
teria assim impedido a dependência da literatura egípcia por parte do autor
hebreu.
D. Mensagem Relevante
A
mensagem do livro de Provérbios é sempre relevante. Os seus ensinos
"cobrem todo o horizonte dos interesses práticos do cotidiano, tocando em
cada faceta da existência humana. O homem é ensinado a ser honesto, diligente,
auto-confiante, bom vizinho, cidadão ideal e modelo de marido e pai. Acima de
tudo, o sábio deve andar de forma reta e justa diante do Senhor"."
A sabedoria de Provérbios coloca Deus no
centro da vida do homem. A sabedoria, expressa por Salomão no Antigo
Testamento, teria a sua revelação mais plena em Jesus Cristo nos dias da nova
aliança. Disse Jesus: "A Rainha do Sul se levantará no Dia do Juízo com
esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a
sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é mais do que Salomão" (Mt
12.42; Lc 11.31). Paulo falou de Cristo como a "sabedoria de Deus" (1
Co 1.24; Cl 2.3). Kidner diz que no livro de Provérbios a sabedoria "é centrada
em Deus, e mesmo quando é extremamente real e relacionada ao dia-a-dia consiste
da maneira inteligente e sadia de conduzir a vida no mundo de Deus, em
submissão à sua vontade".12
Sabedoria
é encontrar a graça de Deus e viver diariamente em harmonia com os propósitos salvadores
que Ele tem para nós.
Esboço
I. TRIBUTO À
SABEDORIA, 1.1-9.18
A.
Título e Propósito, 1.1-6
B.
O Tema principal, 1.7
C.
Advertências contra a Violência, 1.8-19
D.
Advertências contra Negligenciar a Sabedoria, 1.20-33
E.
As Recompensas de se Observar a Sabedoria, 2.1-22
F.
As Bênçãos da Sabedoria, 3.1-35
G.
A Primazia da Sabedoria, 4.1-27
H.
Instruções para o Casamento, 5.1-23
I.
Uma Série de Advertências, 6.1-19
J.
A Sabedoria e o Adultério, 6.20-7.27
K.
A Fama e a Excelência da Sabedoria, 8.1-36
L.
O Contraste entre a Sabedoria e a Loucura, 9.1-18
II. Os
PROVÉRBIOS DE SALOMÃO, 10.1-22.16
A.
Provérbios de Contraste, 10.1-15.33
B.
Provérbios Parcialmente Paralelos, 16.1-22.16
III. As PALAVRAS
DO SÁBIO, 22.17-24.34
A.
Introdução, 22.17-21
B.
Primeira Coleção, 22.22-23.14
C.
Segunda Série, 23.15-24.22
D.
Admoestações Adicionais, 24.23-34
IV. A COLEÇÃO DE
EZEQUIAS NOS PROVÉRBIOS DE SALOMÃO, 25.1-29.27
A.
Primeira Coleção, 25.1-27.27
B.
Segunda Coleção, 28.1-29.27
V. As PALAVRAS
DE AGUR, 30.1-33
A.
Observações Pessoais, 30.1-9
B.
Provérbios Numéricos, 30.10-33
VI. As PALAVRAS
DE LEMUEL, 31.1-9
A.
Título, 31.1
B.
Advertências contra a Lascívia e Bebidas Fortes, 31.2-7
C.
Julgar Retamente, 31.8-9
VII. A MULHER E
MÃE VIRTUOSA, 31.10-31
A.
Características Máximas, 31.10-29
B. Tributo Final, 31.30-31.
INTRODUÇÃO
A Doutrina
dos Provérbios.
A
essência do Livro dos Provérbios é o ensino da moral e dos princípios éticos. A
peculiaridade deste livro é que ele ensina principalmente por meio de
contrastes. Especialmente dignos de nota são os capítulos 10-15, onde quase
todo versículo distingue-se pela palavra "mas".
Na primeira seção, os capítulos 1-9,
também foram empregados contrastes entre o bem e o mal. O bem nesta seção está
indicado por diversas palavras sabedoria, instrução, entendimento, justiça,
juízo, eqüidade, conhecimento, discernimento, saber, conselhos – mas
especialmente sabedoria, que aparece dezessete vezes nesta porção e vinte e
duas vezes no restante do livro. A bem conhecida declaração de 1:7, "o
temor do Senhor é o princípio do saber", repetida no final da seção (9:10)
pode ser considerada o tema do livro. Esta declaração reaparece ao pé da letra
(com as cláusulas invertidas) no alfabético Salmo 111:10, e em forma quase
idêntica no clímax do capítulo 28 de Jó, o qual descreve em forma altamente
poética a busca da sabedoria.
Peculiar a esta seção de Provérbios é a
personificação da sabedoria como se fosse uma mulher. Pela primeira vez aparece
em 3:15. Provérbios 7:4 abre o caminho à personificação: "Dize à
sabedoria: Tu és minha irmã". Ela se completa nos capítulos 8 e 9, onde a
Sabedoria convida os tolos a participarem de sua festa. Só em Provérbios e só
nesta primeira parte a sabedoria foi assim personificada. É essencial à
compreensão desta primeira parte que se reconheça esta personificação.
Considerando que "sabedoria" em hebraico é um substantivo feminino, é
natural e prontamente personificada em uma mulher. Mais do que isto, o autor
aqui contrasta a "sabedoria", uma mulher virtuosa, com a prostituta,
a mulher estranha. E tal como a sabedoria representa todas as virtudes,
provavelmente a mulher estranha tipifica e inclui todo o pecado.
O contraste é estudado e artístico. A
Sabedoria clama nas ruas (8:3). Seu convite é: "Quem é simples, volte-se
para aqui" (9: 4). Em contraste, a mulher tola, que convida às águas roubadas
e cujos convidados estão nas profundezas do inferno (9:17,18), faz um convite
idêntico: "Quem é simples, volte-se para aqui" (9: 16). A Sabedoria
chama os simples a abandonarem o pecado; a prostituta os chama à indulgência
para com ele.
Esta seção, Provérbios 1 a 9, contrasta
portanto o pecado com a justiça. As palavras "sabedoria",
"instrução", "entendimento", etc., através de toda esta
passagem, não se referem simplesmente à inteligência e capacidade humanas; mas
antes contrastam com aquilo que é mau. A sabedoria conforme usada aqui é
portanto uma qualidade moral. Deve-se notar que este é um uso especial. Na
maior parte do Velho Testamento, a sabedoria é simplesmente capacidade ou
sagacidade. Até no Eclesiastes, onde a sabedoria também foi enfatizada, é
apenas inteligência humana e portanto foi colocada ao lado da loucura como
vaidade (Ec. 2:12-15).
Só em Jó 28 e em certos salmos (37:30; 51:
6; 91: 12; 111:10) é que se nota o conceito proverbial da sabedoria. Mesmo a
sabedoria pela qual Salomão se tornou famoso nos livros históricos não era
exatamente esta sabedoria. Ele ficou famoso por sua capacidade na ciência
natural (I Reis 4:33), na jurisprudência (I Reis 31 16-28) e por sua grande
inteligência (I Reis 10:1-9). Provérbios acrescenta ao conceito da acuidade
mental a retidão moral a única que dá mérito à inteligência.
Na segunda seção, os Provérbios de Salomão,
10:1 – 22:16, a doutrina é apresentada quase que exclusivamente através de
versículos isolados. Através do capítulo 15, o ensino é feito por meio de
contraste, indicado por um 'irias" no meio de quase todos os versículos.
Subseqüentemente há paralelos de idéias mais freqüentes que os contrastes. Esta
seção cobre uma larga escala de assuntos e torna difícil fazer um esboço. O ponto
de vista, contudo, é bastante consistente. Salomão faz um contraste entre a
sabedoria e a loucura. E, como na Seção l, não é a inteligência versus a
estupidez; é a sabedoria moral versus o pecado. Nesta seção a sabedoria não
está personificada, mas os mesmos sinônimos da Seção I foram usados aqui em se
tratando dela – entendimento, justiça, instrução. O louco também tem o seu
paralelo: o zombador, o preguiçoso, o obstinado.
As seções seguintes (veja Esboço) continua
nesta linha. Conforme Toy destaca (Crawford H. Toy, ICC sobre Proverbs, pág.
xi), a ética do livro é muito alta. Honestidade, verdade, respeito pela vida e
propriedade são os pontos nos quais se insiste. Os homens são aconselhados a
exercerem a justiça, o amor, a misericórdia para com os outros. Uma boa vida
familiar, com cuidadosa educação das crianças e um alto padrão feminino é o que
se reflete.
Quanto ao aspecto religioso, o Senhor se
entende como o autor da moral e da justiça, e o monoteísmo é pressuposto. As
referências à Lei e à profecia (29:18) ao sacerdócio e aos sacrifícios (15:8;
21:3, 27) são poucas, no entanto. O autor fala de si mesmo, inculcando
princípios de boa conduta como vindos do Senhor.
Autoria. O nome de
Salomão aparece em três partes do livro - 1:1; 10:1; 25:1. Há portanto uma
reivindicação de autoria salomônica para a maior parte das seções, na realidade
para quase todas com exceção das Partes III, 22:17 – 24:22; IV, 24:23-34; e VI
30:1 – 31:31. Esta reivindicação é discutida por mestres da crítica.
Toy (op. cit., pág. xix) que nega a autoria
mosaica do Pentateuco e defende que Isaías e os profetas não escreveram os
livros que lhes são atribuídos, mais do que naturalmente não dá a Salomão o
crédito da autoria aqui. Com base em muitas indicações internas, ele atribui o
livro a uma data pós-exílica.
Driver
(S.R. Driver, Introduction to the Literature of the Old Testament 4ª ed., págs.
381 e segs.) defende que partes do livro são préexílicas, mas pouco atribui a
Salomão, se é que atribui. Pfeiffer (Robert H. Pfeiffer, Introduction to the
Old Testament, págs. 649-659) examina detalhadamente as características
internas de Provérbios com a intenção de datar diversos períodos. Considerando
que a literatura da Sabedoria do Egito datada de 1700-1500A.C, era puramente
secular, ele conclui que o estrato religioso de Provérbios deve provir do
século quarto A.C. Depois de reconstruir a seu bel-prazer a história do
pensamento israelita, ele data o livro de Provérbios relacionando-o com esse
desenvolvimento. Sua conclusão é que o livro foi terminado depois de 400 A.C. e
algum tempo depois do fim do terceiro século.
W. F.
Albright ("Some Cannanite-Phoenician Sources of Hebrew Wisdom" in
Wisdom in Israel and the Ancient Near East, ed. por M. Noth e D.W. Thomas,
pág,13) estuda a semelhança da linguagem com o ugarita e argumenta que o livro
em "seu conteúdo total" é provavelmente pré-exílico, mas que grande
parte dele foi transmitido oralmente até o século quinto. Ele defende que é
provável que haja um núcleo salomônico. Consulte também um artigo escrito por
Cullen I.K. Story, um dos alunos de Albright, The Book of Proverbs and
Northwest Semitic Literature", JBL, LXIV, 1945, 319-337. Charles T.
Fritsch (The Book of Proverbs, IB, Vol. IV, pág. 775) defende a mesma opinião
com motivos semelhantes.
Oesterley (W.O.E. Oesterley, The Book of
Proverbs, pág. xxvi) prefere colocar a maior parte do livro no período
pré-exílico, mas data a Seção I, 1:1 - 9:18, e a Seção VI, 30:1 - 31:31, do
terceiro século "e muito provavelmente mais tarde ainda".
O fato é que por mais que se dê atenção a
estas evidências internas não se consegue datar corretamente o livro ou as suas
coleções. Assumindo que provérbios seculares tenham precedido os religiosos, ou
as máximas mais simples às variedades mais desenvolvidas, ainda se pode
considerar que o desenvolvimento até o complexo e o religioso já estava completo
antes do tempo de Salomão. Considerando que Jeremias se opôs aos sábios do seu
tempo (Jr. 18:18), isto nada prova em relação às datas. Ele também se opôs aos
sacerdotes, profetas e reis, mas isto não prova que tais cargos tenham sido
pós-exílicos! A mais promissora maneira de tratar o assunto em relação à
determinação da data por meio do critério interno é a de Albright em sua
comparação com as palavras e formas ugaritas.
Nossas evidências externas não são tão
completas quanto gostaríamos que fossem, mas não devem ser totalmente
ignoradas. Provérbios 15:8, por exemplo, foi citado com a fórmula "está
escrito" no Documento Zadoquita (col. XI, linha 20; C. Rabin, The
Zadokite, Documents, pág. 58). Isto mostra que o livro era considerado canônico
no segundo século A.C. A produção Salomônica de Provérbios e parábolas"
foi citada em Eclesiastes 48:17, datada de 180 A.C. Não há nenhuma evidência
que seja anterior a esta data. Oesterley reivindica um caso de empréstimo feito
ao livro de Provérbios pela Story of Akikar no século quinze (veja os
comentários em 23:14). Qualquer opinião sobre a data do livro deverá ser
fortemente influenciada pela opinião que tem dos outros livros. Se alguém
defende que o Pentateuco não foi escrito antes de 400 A.C, e que os profetas
foram na sua maioria pós-exílicos, terá de negar que Salomão escreveu os
Provérbios. Se, contudo, a data pré-exílica do Pentateuco, Salmos e Profetas
for aceita (como o faz este autor), não temos motivos válidos para negarmos a
tradicional imputação salomônica às seções que levam o seu nome.
Fritsch (op. cit., pág. 770) faz objeções à
tradicional glorificação da sabedoria de Salomão quando "ele cometeu
tantos erros tolos através de toda a sua vida em todos os setores". Esse
parece ser um julgamento demasiadamente áspero do mais brilhante rei de Israel.
Que ele praticou erros em seu longo reinado de quarenta anos está claro; mas a
arqueologia testifica da capacidade de Salomão na arquitetura, na administração
e suas descobertas na engenharia relativamente à sua fundição de cobre em
Eziom-Geber. É verdade que em idade avançada ele se tomou tirânico (I Reis
12:10), mas seu declínio não deveria nos deixar cegos ao seu talento anterior.
Muitos críticos fazem objeções quanto ao caráter de Salomão por causa de suas
muitas esposas.
Contudo, quando examinamos melhor os textos
(e eles constituem nossa única fonte), concluímos que eles não retratam Salomão
como uma criatura concupiscente. Na qualidade de rei importante sobre uma
região que incluía muitos reis fantoches e cidades estados, sem dúvida Salomão
estava sujeito a muitos tratados. Certamente em muitos casos tais tratados eram
selados com o casamento de Salomão com as filhas desses reis fantoches,
conforme antigo costume e como foi no caso da aliança com o Egito (I Reis 9:16,
17). Sem dúvida os casamentos de Salomão foram principalmente arranjos
políticos. Seu erro não consistiu tanto na concupiscência quanto na permissão
que concedeu a suas politicamente importantes esposas de introduzirem seus cultos
pagãos na cidade de Deus (I Reis 11 : 7-9).
Os
autores das outras seções dos Provérbios (III, 22:17 – 24:22; IV, 24:2324; VI,
30:1 – 31:31) são completamente desconhecidos. Veja observações no Comentário.
Não podemos, portanto, ser dogmáticos quanto às suas datas, exceto quanto a
dizer que não há necessidade de colocarmos a edição final do livro depois do
encerramento tradicional do período bíblico - cerca de 400 A.C.
As Coleções dentro dos Provérbios.
Toy (op. cit., pp. vii, viii) e outros que concordam com ele, têm argumentado
que o aparecimento da mesma linha ou verso em diversas partes do livro prova
que diversos autores cooperaram na formação do mesmo. Toy faz uma lista de más
de cinqüenta similaridades, embora algumas não sejam muito exatas. Inadvertidamente
ele omite 15:13 e 17:22. A maior parte desses paralelos foram destacados na
parte do Comentário deste exame. Toy não deu atenção suficiente para o fato
óbvio de que, em muitos casos, a porção de um versículo fosse repetida com
variações que também são significativas. Tais repetições não provam nada quando
à autoria variada dos provérbios. Às vezes, a repetição também vem dentro de
uma seção que Toy defende ser uma coleção uniforme, como 14-12 e 16: 25. Aqui
Toy vê-se obrigado a sugerir a existência de sub-coleções. Mais ainda, há, uma
repetição semelhante em uma obra egípcia considerada de autoria única (cons.
Comentário sobre 22:28). Ao que parece, a alegação de Toy baseia-se em uma
suposição ilusória. Está claro que, dentro do livro dos Provérbios, há muitas
coleções distintas, conforme os títulos indicam; mas as evidências internas de
tais paralelos são suficientes para invalidar a autoria de Salomão nas porções
que lhe são atribuídas.
Provérbios
e outra Literatura da Sabedoria. Tal como a poesia antiga não se
limitou aos hebreus, assim a forma literária dos Provérbios não é também
unicamente hebréia. Não nos surpreenderíamos em descobrir que há coleções de
provérbios do antigo Egito ou Mesopotâmia. Diversas dessas obras têm títulos,
nus duas são especialmente importantes – Story of Ahikar e Wisdom of
Amen-em-Opet que devem ser consideradas de categoria inferior em algum
detalhes.
Uma
das mais antigas dessas obras da Sabedoria é a Instruction of Ptah-Hotep, de
cerca de 2450A.C, no Egito. São poucos os paralelos que poderíamos citar entre
essa obra e o Livro de Provérbios, mas o seu estilo é proverbial e as idéias
são semelhantes em alguns ursos. Por exemplo, ela ordena a obediência dos
filhos, a humildade, a justiça, o cuidado junto à mesa de um nobre, o ouvir
mais que falar, etc. É óbvio que tais advertências pias são antigas e eram
propriedade comum do Oriente. Paralelos entre tais obras e o livro de
Provérbios nada provam quanto à origem do nosso livro. Observações semelhantes
se aplicam a Instruction of Ani, e outras obras antigas do Egito. Poderíamos
mencionar algumas obras da literatura da Mesopotâmia.
O assim chamado Jó da Babilônia, intitulado
Louvarei o Senhor da Sabedoria faz-nos lembrar de uma certa maneira o Jó
bíblico quando conta a história de um homem muito doente que foi curado pelos
deuses. Há também um Diálogo Sobre a Miséria Humana, às vezes chamado de
Eclesiastes da Babilônia. A semelhança com a linguagem do Eclesiastes bíblico é
bem menor, mas inclui alguns poucos provérbios.
Diversas tabuinhas babilônicas do século
oito ou anteriores incluem provérbios ou conselhos sobre a retribuição do mal
com o bem, sobre o não falar precipitadamente, sobre o não intrometer-se nas
brigas alheias, etc. Novamente, considerando que tais princípios de moralidade
são muito generalizados, sua presença nessas tabuinhas nada prova sobre a
origem do Livro dos Provérbios, exceto que ele deveria naturalmente ser
considerado segundo o seu fundo de cena. Exatamente como Moisés poderia ter
recorrido às leis de Hamurabi, e Davi usou algumas das formas da poesia de
Canaã, assim Salomão e seus sucessores tinham abundância de material a que
recorrer para fins ilustrativos. Em todos esses casos, contudo, o antigo
material comum foi moldado pelo autor hebreu, que foi inspirado pelo Espírito
de Deus a escrever Suas revelações para o Seu povo. (Todas essas obras podem
ser convenientemente observadas na coleção editada por James B. Pritchard,
Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament, 2ª ed.).
De
mais importância para o nosso estudo é a Estória de Ahikar, uma estória da
Mesopotâmia enfeitada com muitos provérbios. A estória já é conhecida há muito
tempo, pois partes dela aparecem nos antigos autores cristãos. Mas em 1906,
onze papiros contendo a estória foram encontrados em escavações na colina judia
de Elefantina, no Egito. Esta cópia é de cerca de 400 A.C. Ahikar foi
conselheiro dos reis Senaqueribe e Esaradom na Assíria, em cerca de 700A.C. Ele
adotou seu sobrinho, que por meio de mentiras conseguiu persuadir o rei a
executar Ahikar. Mas os executores oficiais, sendo amigos do homem condenado,
esconderam Ahikar por algum tempo, reempossando-o depois quando a ira do rei
abrandou. Dois terços do livrinho compõem-se dos ditos de Ahikar, que
apresentam certos paralelos com Provérbios.
W.O.E. Oesterley no seu The Book of Proverbs
(pág. xxxvii-liii) faz uma lista de tanta e três paralelos, que provavelmente é
um número um tanto exagerado. Story (op. cit., págs. 329336) também apresenta
comparações importantes. Na sua maioria esses paralelos são generalizados. Por
exemplo, Ahikar adverte os homens a que não olhem para uma mulher enfeitada e
pintada ou que não a desejem, pois isto constitui pecado contra Deus (cons. Pv.
6:25, etc.). Ele também insiste com um pai a que domine seu filho enquanto
ainda é jovem, para que não se rebele quando ficar mais forte (cons. Pv.
19:18). Contudo, duvidamos que haja alguma ligação direta entre os provérbios
de Ahikar e os da Bíblia. Mais ainda, os provérbios de Ahikar têm falta de
aspecto moral do Livro dos Provérbios. Eles não possuem o contraste entre o
homem sábio versus o pecador que é característica dos Provérbios. São de aspecto
mais secular. O Livro de Provérbios, contudo, ocasionalmente usa esta tela de
fundo secular para desenvolver seus ensinamentos morais. Na verdade é difícil
ter-se a certeza – se há alguma dependência – qual a obra devedora. A Estória
de- Ahikar, embora se passe na Assíria, era conhecida dos judeus e mais tarde
dos cristãos. Nossa melhor cópia vem de fonte judia. Os provérbios de Ahikar
poderiam ter sido facilmente influenciados pelo Livro dos Provérbios ou pelo
estoque geral dos provérbios judeus, o contrário também sendo plausível, (veja
Comentário sobre 23:14 quanto a um provável caso de empréstimo feito por Ahikar
dos Provérbios).
Alguns acham que o caso é outro em se tratando
da Sabedoria de Amen-em-Opet do Egito. Esta notável coleção de provérbios tem
ainda mais paralelos com o livro bíblico do que Ahikar. Sua data é incerta. Os papiros
são mais antigos que a composição, a qual não pode ser datada. F.L. Griffith
fez o trabalho principal da tradução do egípcio. Oesterley apresenta a data de
Griffith para o livro como sendo o sétimo ou sexto século A.C, e H.O. Lange
ainda mais tarde. O próprio Oesterley atribui a obra ao século oito ou mais
tarde (The Wisdom of Egypt, págs. 9, 10), Albright favorece uma data posterior,
em cerca de 1100-1000 A.C. (op. cit., pág. 6). Se esta data for sustentada,
qualquer idéia de derivação deve ser de um original egípcio. John A. Wilson
(ANET, pág. 421), em sua tradução da obra, não se compromete quanto à data.
A
natureza dos paralelos deve ser observada. Oesterley, em seu estudo perspicaz,
observa que a Sabedoria de Amen-em-Opet é muito anti-egípcia. Sua ética é mato
elevada e tem um desenvolvido conceito divino de monoteísmo. Ele declara que
"não se encontra nada semelhante na literatura egípcia do período pré-cristão"
(op. cit., pág. 24). Oesterley encontra paralelos em diversos livros do Velho
Testamento além dos Provérbios, como por exemplo Dt. 19:14; 25:13- 15; 27:18; I
Sm. 2:6-8; Sl. 1; Jr. 17:6 e segs. Essas passagem não são particularmente
significativas, entretanto, pois a maior parte delas trata de temas que também
aparecem em Provérbios, onde os paralelos são numerosos – mais de quarenta
relacionados por Oesterley (The Book of Proverbs, págs, xxxvii-1iii). Os
paralelos aparecem em diversas partes dos Provérbios, mas são particularmente
notáveis no trecho de 22:17 - 23:14. Todos esses versículos com exceção de
cinco fazem paralelo com Amen-em-Opet.
Mais
notável que tudo é que o livro egípcio está dividido em trinta capítulos (de
considerável extensão) e conclui com uma exortação a que se dê atenção a esses
trinta capítulos. Esta seção de Provérbios, incluindo 22: 17 – 24: 22, diz-se
que contém trinta ditados (Oesterley, op. cit., pág. 192). As palavras
introdutórias desta seção de Provérbios são: "Porventura não te escrevi
excelentes coisas" (22:20). Isto poderia ser traduzido, mais
justificadamente, com pequena alteração de vogais: "Porventura não te
escrevi trinta ". Deve-se admitir que a descoberta de exatamente trinta
ditados nesses sessenta e nove versículos é um tanto arbitrária. E os trinta
ditados não são tão longos como os trinta capítulos do livro egípcio. Ainda
mais, o paralelo é notável. Oesterley (The Wisdom of Egypt, pág. 105) destaca o
fato curioso de que a seção de Pv. 22: 17 – 23:12 faz paralelos com todos
exceto três versículos esparsos da obra egípcia. Mas as demais partes dos
Provérbios, que têm paralelos menos constantes, encontram esses paralelos de
modo geral nos capítulos X e XXI de Amen-em-Opet. Ele argumenta a partir disto
com muita plausibilidade que o uso no que se refere ao empréstimo difere nas
diferentes seções dos dois livros. Nenhuma das obras emprestou diretamente da
outra. Em algumas seções, ambas emprestaram de um reservatório comum de
provérbios. Mas por causa do caráter peculiar da obra egípcia, ele argumenta
que a fonte de ambos está nos antecedentes da sabedoria e teologia hebraicas.
Talvez possamos ir um pouco adiante. Muito
se tem dito da tradução: "Porventura não te escrevi trinta coisas".
Está claro que os trinta ditados nesta seção dos Provérbios não foram copiados
dos trinta ditados egípcios. Na realidade, a última parte da seção dos
Provérbios não tem paralelo qualquer com o livro egípcio. Os "trinta"
de Provérbios poderia ter sido modelada segundo os "trinta" egípcios,
mas de qualquer forma, não foram servilmente emprestadas. Antes, devemos ver
aqui outro exemplo do uso característico de números na literatura da Sabedoria.
Exemplos bem conhecidos são as referências climáticas "as três coisas ...
senão ... quatro" muito difíceis para serem entendidas (Pv. 30:18 e segs.)
ou as "seis coisas ... e a sétima" (6:16-19). Tais referências
encontram par na literatura ugarita. Diz-se que Baal tem dois sacrifícios, sim,
três (C.H. Gordon, Ugaritic Literature, pág. 30). Baal captura sessenta e seis
cidades, sim, setenta e sete cidades (ibid., pág. 36). Mais tarde, setenta e
sete irmãos, sim, oitenta e oito são mencionados (ibid., pág. 55). Muitos
outros exemplos poderiam ser apresentados. Ao que parece, nos ditados de Amen-em-Opet
e em Provérbios 22:20 temos dois exemplos do uso literário do numeral trinta
que provavelmente poderia ser multiplicado se nossas fontes da Sabedoria do
antigo Egito e Hebraica fossem mais completas. Quanto às comparações detalhadas
dos Provérbios com os ditados egípcios, veja observações sobre os versículos no
Comentário.
Deveríamos também mencionar os dois livros
apócrifos, Eclesiástico de cerca de 180 A.C. e a Sabedoria de Salomão,
provavelmente um pouco posterior. Esses livros, de grande interesse por si
mesmos, foram modelados sob diversos aspectos segundo os Provérbios. Mas são
posteriores e exibem um desenvolvimento maior na personificação da sabedoria e
outros assuntos. Eles emprestaram material do nosso Livro de Provérbios, não
vice-versa, e portanto referência extensiva a eles não se faz necessária em
nossos atuais propósitos.
ESBOÇO
I. O tributo de
Salomão à sabedoria, o temor do Senhor. 1:1 – 9:18.
A.
Introdução. 1:1-7.
B.
Sabedoria, a mulher virtuosa, versus a mulher má. 1: 8 – 9:18.
II. Miscelânea
dos provérbios de um só versículo de Salomão.
10:1 – 22:16.
A. Provérbios em contraste. 10:1 – 15:33.
B. Provérbios especialmente comparativos. 16:1
– 22:16.
III. As Palavras
do Sábio, trinta provérbios. 22:17 – 24: 22.
A. Provérbios correspondentes na Sabedoria
Egípcia.
22:17 – 23:12.
B. Provérbios sem paralelo no egípcio. 23 : 13
- 24 : 22.
IV. As Palavras
do Sábio, Apêndice. 24:23-24.
V. Provérbios de
Salomão, editados pelos homens de Ezequias.
25:1 – 29:27.
VI. Apêndices
finais. 30:1 – 31:31.
A. Palavras de Agur. 30:1-33.
B. Palavras de Lemuel. 31:1-9.
C. Poema alfabético sobre a mulher virtuosa.
31:10-31.
Provérbios
(Comentário Bíblico Moody)
O Princípio Ético de Provérbios
Daniel Santos*
RESUMO
O
livro de Provérbios está repleto de instruções e admoestações que visam
estabelecer uma norma de conduta aceitável. A definição daquilo que é ou não
aceitável no livro acaba sugerindo a presença de um princípio ético fundamental
que orienta e regula essa decisão. O presente artigo faz um levantamento do que
pode ter sido parte desse princípio ético fundamental, tomando como exemplo as
instruções e admoestações referentes aos perigos da sociedade israelita.
Segundo o autor, os perigos são basicamente três: a) as más companhias, b) a
indiferença e c) a promiscuidade. PALAVRAS-CHAVE
Livro de Provérbios; Ética em Provérbios; Más
companhias; Indiferença; Promiscuidade.
INTRODUÇÃO
A literatura sapiencial encontrada no livro de
Provérbios é construída sob um princípio ético fundamental que orienta e regula
suas comparações, admoestações e instruções. Essa tese vale tanto para os
provérbios e instruções que são atribuídos a Salomão, como aos demais sábios
que cooperam no livro; todos parecem estar indubitavelmente conscientes de um
princípio ético que atua como elemento controlador. Este artigo visa demonstrar
como podemos perceber esse princípio no texto de Provérbios.
Para nossa tristeza, o livro de
Provérbios não revela nem comenta detalhadamente esse princípio ético
fundamental de forma explícita. A declaração consagrada de que o temor do
Senhor é o princípio da sabedoria não explica tudo o que comumente é atribuído
a esse texto. Para usarmos esse conceito, precisaríamos definir o que o temor
do Senhor significava na literatura sapiencial e, mais especificamente, em
Provérbios. Essa é uma tarefa dificultada pela afirmação no próprio livro de
que o temor do Senhor consiste em “aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o
mau caminho e a boca perversa” (8.13). A dificuldade com isso é a seguinte:
como esses elementos podem juntos produzir o conhecimento sapiencial contido no
livro? Isso não está claro e nem é fácil de ser demonstrado. Além disso, será
que podemos usar a palavra princípio (1.7) como equivalente à noção de
“elemento arquétipo, causa primeira” ou “a proposição lógica fundamental sobre
a qual se apoia um raciocínio”? O livro de Provérbios não foi escrito para
responder esse tipo de investigação; ele não apresenta uma seção especial que
trata da metodologia aplicada na composição dos provérbios, nem do princípio
epistemológico que governa e valida o conhecimento apresentado no livro.
Entretanto, uma leitura do texto de
Provérbios como hoje ele se encontra nas Escrituras produz rapidamente a
percepção de que é possível delinear alguns pontos básicos presentes nesse
princípio controlador. Por isso, a abordagem adotada neste estudo será
dedutiva, mas uma dedução informada pela teologia bíblica de Provérbios e da
literatura sapiencial do Antigo Testamento.
1.
PROPOSTAS DE PRINCÍPIO ÉTICO FUNDAMENTAL
Uma das características distintivas do
livro de Provérbios, quando comparado com a literatura sapiencial de outros
povos, é a atenção que ele dedica à sabedoria em si.1 É muito comum encontrar
textos do mundo antigo que oferecem instruções de sabedoria, mas é raro
encontrar textos que tratam a respeito da sabedoria, definindo-a e
qualificando-a.2 Tal constatação deve ser celebrada; isso é um bom sinal e
vários estudiosos já fizeram uso dessa janela oferecida pelo estilo peculiar de
Provérbios. Fox, por exemplo, enumera quatro tópicos que são recorrentes na
literatura sapiencial do Antigo Testamento, mas quase nunca são encontrados nos
textos de outras nações ao redor de Israel: “A identificação da sabedoria com a
justiça, a identificação da sabedoria com a piedade, o louvor dirigido
diretamente à sabedoria e a exigência de amar e buscar a sabedoria”.3 Garret,
por outro lado, reconhece o modo característico da ética em Provérbios, mas não
a considera sem precedente no mundo antigo.4 Dentre os temas mais utilizados
para avaliar a singularidade da ética fundamental de Provérbios estão: o papel
da mulher adúltera,5 as palavras dos sábios (22.17–24.22)6 e as instruções
dirigidas aos filhos (1.7–9.18).7
A
proposta apresentada no presente estudo adota a sugestão de Fox como ponto de
partida, crendo que tanto as semelhanças como as diferenças podem atestar a
singularidade do princípio ético fundamental de Provérbios. Até mesmo Fox,
quando analisando as grandes similaridades entre a ética de Provérbios e a dos
escritos de Sócrates, afirma corretamente que ambos têm como objetivo ensinar
ao jovem conhecimento e bom siso, porém os métodos para alcançar tal objetivo
são radicalmente diferentes.8 Desta forma, proponho que o princípio ético
fundamental de Provérbios é melhor observado quando analisado a partir dos
perigos com os quais tal ética pretende interagir.
2. A ÉTICA DE PROVÉRBIOS E OS PERIGOS DA
SOCIEDADE
ISRAELITA
A expressão “ética de Provérbios” não deve
ser entendida nem como um produto da opinião dos pais que instruem o filho no
livro, nem dos sábios que participaram da composição do mesmo, mas sim como a
ética de Deus manifestada no livro. As advertências dirigidas aos filhos,
especialmente nos primeiros nove capítulos do livro, mas também aos “simples” e
aos “jovens” de modo geral, são advertências que refletem um princípio ético
divino.
Há
varias maneiras de fundamentar essa afirmação, mas uma visão geral da estrutura
do livro pode ser a mais adequada no momento. Provérbios é um livro composto
basicamente de duas partes. A primeira parte (caps. 1-9) contém admoestações
que se assemelham mais a sermões ou instruções. Nessa primeira parte, não
encontraremos os provérbios de uma sentença apenas, por exemplo, “O coração do
homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor” (Pv
16.1). Este tipo de provérbio está praticamente restrito à segunda parte do
livro (caps. 10-29). A primeira parte, então, aborda os perigos da sociedade de
uma forma pedagogicamente diferente daquilo que encontraremos no restante do
livro. Esta é uma observação importante de ser considerada porque, mesmo não
encontrando em Provérbios uma advertência nos moldes dos Dez Mandamentos, as
advertências aqui contidas não são de valor relativo.
Uma boa maneira de entender a finalidade
dessa seção inicial de nove capítulos é compará-la com um cenário construído
para que os demais provérbios que são menores pudessem ser entendidos em
contexto. Embora a impressão inicial de uma leitura dos provérbios da primeira
seção do livro seja semelhante à de ler ou ouvir um slogan em um comercial de
TV, com uma mensagem curta e atrativa, a impressão daqueles que leram estes
provérbios na época em que foram escritos foi bem diferente. Os provérbios não
são slogans e não devem ser lidos nem interpretados de maneira desconexa com a
coleção na qual estão inseridos. Por exemplo, quando Pv 30.18 afirma “tal é o
caminho da mulher adúltera: come, e limpa a boca, e diz ‘não cometi maldade’”,
o leitor original do livro já sabia de antemão que essa atitude devia ser
entendida em relação ao cenário da mulher adúltera descrito na primeira parte
do livro (Pv 2.16-22; 5.1-23; 6.20-35; 7.1-27; 9.13-18). Quando uma citação
abreviada é feita sobre o assunto (como é o caso de Pv 30.18), a sua
compreensão requer uma conexão imediata com o contexto maior criado pelos
cenários anteriores. Assim, proponho que o pano de fundo conceitual dos
provérbios encontrados na segunda parte do livro (10-29) são os cenários
temáticos encontrados na primeira parte (1-9).9
Destarte, prossigo ilustrando o modo como o
princípio ético fundamental de Provérbios lida com três tipos de problemas. A
escolha desses temas é aleatória, já que existe uma quantidade bem maior de
temas tratados no livro.
2.1 O princípio ético de Provérbios e o
perigo das más companhias
O livro de Provérbios visa despertar o
interesse de uma geração jovem para o valor da sabedoria que procede de Deus e,
para atingir este objetivo, seu princípio ético entra em ação. É possível
perceber nas palavras dos pais e também da “mulher sabedoria” (os agentes
responsáveis em promover o princípio ético) que a tarefa não é simples. Muitos
jovens estão divididos entre os valores da sociedade em que vivem e os valores
eternos embutidos nesta caminhada em busca da sabedoria proveniente dos céus.
As más companhias desempenham um papel importante na decisão do jovem quanto
àquilo que irá valorizar como indispensável. Pensemos um pouco no perfil desse
jovem e no papel que as más companhias têm nesse processo.
2.1.1 Quem é o jovem em risco?
Se tivermos que construir um perfil desse
jovem a partir das preocupações que o seu pai e a sua mãe têm a seu respeito,
algumas coisas sobressaem. Primeiro, havia a preocupação com a aparente
aventura associada com o estilo de vida desses amigos (Pv 1.8-19). A julgar
pela quantidade de argumentos dedicados a esse ponto, os jovens daqueles dias
poderiam com muita facilidade estar se envolvendo com situações semelhantes
àquelas descritas em Provérbios. Os jovens daqueles dias, a semelhança dos de
hoje, andavam ávidos por um estilo de vida recheado de aventuras e desafios.
Consequentemente, os pais estavam conscientes do poder sedutor do estilo de
vida comum entre os jovens daquela sociedade: “Filho meu, se pecadores querem
te seduzir, não o consintas” (Pv 1.10). Segundo, ainda como parte dessa mesma
preocupação, os pais estão cientes de que esse processo de sedução começa com
uma simples caminhada com eles: “Filho meu, não te ponhas a caminho com eles;
guarda das suas veredas os pés” (Pv 1.15). Se esses pais estão preocupados com
esse processo de acomodação cultural do seu filho nos caminhos da sociedade, é
possível que a rotina dos jovens naqueles dias e desse jovem em particular
fosse repleta de oportunidades para compartilhamento mútuo de valores. É
exatamente por causa dessa possibilidade real que seus pais investem na
preparação do seu filho para poder resistir à pressão dos companheiros nos dias
da sua vida adulta.
2.1.2 Qual o papel dessas más companhias?
No
cenário inicial descrito em Pv 2.8-19, o papel das más companhias é o de
convencer o jovem a deixar o seu caminho e unir-se ao expediente de bandidagem
e homicídio do grupo.10 O desafio desses maus companheiros é fazer o jovem
desviar-se do seu caminho por meio de propostas que consideram o caminho mau
mais atraente. Na segunda seção do livro, podem-se ver alguns exemplos do modo
como a ideia de caminho é fundamental para entendermos o que esses perversos
estão buscando.
Exemplo 1. “Quem anda em integridade anda
seguro, mas o que perverte os seus caminhos será conhecido” (Pv 10.9). Nesse
exemplo o provérbio confronta a proposta dos maus amigos mostrando que a
segurança está disponível apenas para os que andam em integridade. Aquilo que
os pecadores estavam propondo ao jovem no capítulo 2.8-19 não apresenta o lado
da insegurança inerente ao caminho que eles promovem. Exemplo 2. “O que anda na
retidão teme ao Senhor, mas o que anda em caminhos tortuosos, esse o despreza”
(Pv 14.2). Nesse exemplo o provérbio estabelece uma relação direta entre a
caminhada de um jovem e o seu relacionamento com o Senhor. Desprezo é a palavra
usada para definir essa relação. Não há como andar pelos caminhos dos pecadores
e deixar de ignorar o Senhor. Nossa caminhada diária inevitavelmente se
constitui numa ação de desprezo ou de louvor ao Senhor que nos criou; não há
uma alternativa intermediária. Exemplo 3. “Há caminho que ao homem parece
direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte” (Pv 14.12). Nesse exemplo vemos
que a definição daquilo que é chamado “caminho direito” depende de uma
observação completa de tudo o que está envolvido nele. Não basta olhar apenas
para as aventuras pontuais que acontecem em alguns momentos da jornada; é
preciso olhar para o final dela. Isso também não foi mostrado na proposta dos
maus amigos no capítulo 2. Exemplo 4. “O infiel de coração dos seus próprios
caminhos se farta, como do seu próprio proceder, o homem de bem” (Pv 14.14). Neste
exemplo vemos um princípio definidor daquilo que escolheremos: o que satisfaz a
minha alma? A escolha em ouvir ou recusar a proposta dos maus amigos vai
depender muito daquilo em que a alma encontra prazer e deleite. Exemplo 5.
“Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o
espírito” (Pv 16.2). Esse exemplo complementa a ideia do exemplo 3. A avaliação
que fazemos do caminho em que outros andam ou em que nós pretendemos andar
precisa ser feita pelo Senhor, pois só ele pesa os corações. Esse tipo de
auditoria só pode ser executada por aquele que nos criou. Exemplo 6. “Há
caminho que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte” (Pv
16.25). Esse exemplo reforça ainda mais a tese defendida pelos exemplos 3 e 5,
enfatizando o preço oculto que deve ser pago pelos que optam por trilhar a
jornada dos ímpios. Esse provérbio reflete bem o cenário descrito no capítulo 2
de Provérbios, pois o plano dos pecadores era tirar a vida de pessoas
inocentes, mas tal proeza acabava custando a própria vida deles.
Em resumo, o perigo apresentado pelas más
companhias está relacionado com a capacidade que elas têm de interferir na
maneira como o jovem valoriza ou não a busca da sabedoria. O perigo maior de
andar com eles não é por causa dos crimes que eles cometem, mas principalmente
porque eles poderão tirar do jovem a oportunidade de experimentar a caminhada
com Deus. Diante disso, a proposta de Provérbios é de que um jovem justo, ao
invés dos pecadores, seja quem guie o seu companheiro (cf. Pv 12.26: “O justo
serve de guia para o seu companheiro, mas o caminho dos perversos os faz
errar”). Em outra ocasião, Provérbios demonstra que aquele que anda com sábios
será sábio (cf. Pv 13.20: “Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro
dos insensatos se tornará mau”). Observe que neste caso o oposto de sábio não é
tolo, mas “mau”, ou seja, os que não andam com os sábios se tornarão mais do
que tolos ou insensatos, mas homens “maus”. Por fim, o maior perigo que
Provérbios apresenta nesse assunto é o aliciamento do jovem que deseja andar
nos caminhos do Senhor (cf. Pv 16.29: “O homem violento alicia o seu
companheiro e guia-o por um caminho que não é bom”).
Como
Provérbios pretende minimizar ou impedir esse aliciamento? Será que os pais
desse jovem de Provérbios acreditam na possibilidade de criar um filho ou filha
num contexto em que eles não serão aliciados pelo “homem violento”? A linguagem
de provérbios para tratar desse assunto é preventiva, ou seja, ela parte do
pressuposto de que o filho ou a filha ainda estão sob a tutela dos pais e não
foram corrompidos pela proposta do “homem violento”. Provérbios não adota a
postura de proibição em termos semelhantes aos dos Dez Mandamentos. Em vez de
determinar como mandamento inquestionável que o filho não andará na companhia
dos ímpios, a linguagem do autor de Provérbios apresenta as admoestações dos
pais na forma de um convite motivacional, carregado com o profundo desejo de
que o jovem ouça o que é dito.
2.2 O princípio ético de provérbios e o
perigo da indiferença
O princípio ético fundamental considera a
indiferença, que se manifesta na forma de escárnio ou desprezo, como um perigo
mais sério do que a incredulidade. Desde o início do livro, Provérbios
contrapôs o temor do Senhor11 com o “desprezo” e não com a incredulidade: “O
temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os ímpios desprezam a
sabedoria e a disciplina” (Pv 1.7).12 No primeiro discurso da sabedoria (Pv
1.20-33), o desprezo é apresentado e confrontado como um subproduto do
escárnio; eles preferem escarnecer a dar ouvidos aos conselhos da sabedoria:
“Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o
escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?” (Pv 1.22).13
Em
Provérbios, o zombador é aquele contra quem a sabedoria se coloca no dia da
calamidade: “Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a mão, e não
houve quem atendesse; antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a
minha repreensão; também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso
terror, eu zombarei” (Pv 1.24-26). O zombador é alguém que não merece sequer
ser corrigido: “Quem corrige o zombador traz sobre si insulto” (Pv 9.7), ou
“não repreenda o zombador, caso contrário ele o odiará” (Pv 9.8). O zombador é
alguém que não vê nenhum sentido em reparar o pecado cometido, pois a sua
atitude de zombaria é intencional e não acidental (Pv 14.9). O zombador é
alguém comumente alterado pelos efeitos do vinho ou da bebida forte (Pv 20.1).
O zombador tem um estilo de vida característico: “O vaidoso e arrogante
chama-se zombador; ele age com extremo orgulho” (Pv 21.24). O zombador é visto
em Provérbios como a fonte das brigas e contendas: “Quando se manda embora o
zombador, a briga acaba; cessam as contendas e os insultos” (Pv 22.10). O
zombador interfere na vida de uma cidade: “Os zombadores agitam a cidade, mas
os sábios apaziguam” (Pv 29.8). Os zombadores serão severamente punidos,
especialmente quando a sua zombaria é dirigida aos pais: “Os olhos de quem
zomba do pai, e, zombando, nega obediência à mãe, serão arrancados pelos corvos
do vale, e serão devorados pelos filhotes do abutre” (Pv 28.17).
Veja, então, que a atitude de desprezo em
Provérbios é alimentada por um espírito de zombaria e não apenas por um gesto
passivo de indiferença. É contra esse tipo de atitude que o princípio ético
fundamental de Provérbios dedica uma parte considerável de sua atenção, pois a
zombaria se propaga e contamina as pessoas rapidamente. Para os pais deste
jovem em Provérbios, a zombaria não deve ser encarada como uma brincadeira ou
uma atitude descontraída com a vida, mas sim como um estilo de vida que
alimenta e promove a indiferença para com as virtudes da sabedoria proveniente
de Deus. É precisamente por causa dessa indiferença que a zombaria é encarada
com seriedade, como sendo um dentre os fatores mais cotados que desviam os
filhos dos caminhos do Senhor.
2.3 O princípio ético de Provérbios e o
perigo da promiscuidade
Uma
quantidade considerável das instruções contidas na primeira parte do livro de
Provérbios (capítulos 1–9) trata do perigo real e iminente da promiscuidade.
Dos 248 versículos contidos nessa primeira parte de Provérbios, 72 tratam do
tema da promiscuidade, ou seja, 29% das instruções e admoestações são dedicados
a esse tema.
A primeira seção que discute a
promiscuidade apresenta aquela que tenta dissuadir o jovem de seu interesse nos
conselhos e convites da sabedoria – a mulher adúltera (2.16-22).14 Ela aparece
como parte da instrução dos pais, os quais incentivam o jovem a buscar a
sabedoria. Essa personagem chamada mulher adúltera é cuidadosamente descrita
com os seguintes qualificativos: a) sua origem: ela é estrangeira (2:16), b)
sua maior habilidade: ela é conhecida pela sua capacidade de lisonjear (2.16),
c) seu histórico: ela abandona os amigos de sua mocidade (2.17) e d) seu
compromisso religioso: ela se esquece da aliança feita com seu Deus (2.17).
Segundo a instrução dos pais, o envolvimento com esse tipo de mulher é uma
caminhada sem volta (“todos os que se dirigem a essa mulher não voltarão” [v.
19]), além de ser um envolvimento que compromete o pleno exercício do
discernimento (“todos os que se dirigem a essa mulher não atinarão com as
veredas da vida” [v. 19]). Ora, é evidente que a posição dos pais reflete um
princípio ético fundamental, pois a justificativa apresentada por eles vai além
de uma mera observação das consequências imediatas: “porque sua casa [ou seja,
da mulher adúltera] se inclina para a morte, e suas veredas, para o reino das
sombras da morte” (2.18). Na cultura israelita do Antigo Testamento, que era
regulada pelas leis mosaicas, o adultério era considerado um crime hediondo e
punido com a morte. Esses pais, todavia, falam do “reino das sombras da morte”,
apontando para um conceito moral que subjaz às penas previstas na lei mosaica.
Ao fazer isso, os contornos do princípio ético começam a aparecer.
A segunda seção que trata do tema da
promiscuidade dedica um capítulo inteiro para descrever o perigo da mulher
adúltera (5.1-23). A diferença entre essa seção e a anterior é o contexto em
que a instrução apresenta o caso. Anteriormente o tema apareceu como parte de
um assunto distinto; nesse capítulo ele aparece como o principal assunto, além
de descrever a mulher adúltera em seu contexto mais amplo. Os perigos
apresentados nesse novo cenário em relação à mulher adúltera são dois: a) seus
lábios (5.3-4) e b) seus pés (5.5-6). À semelhança do que ocorreu no caso
anterior, a justificativa apresentada pelos pais pressupõe um princípio ético
fundamental que subjaz uma mera avaliação de consequências imediatas: “Os seus
pés descem à morte; os seus passos conduzem-na ao inferno” (5.5). O
envolvimento com essa mulher trará graves prejuízos: a) à honra: “para que não
dês a outrem a tua honra” (5.9), b) aos bens: “para que dos teus bens não se
fartem os estranhos” (5.10), c) ao corpo: “e gemas no fim de tua vida, quando
se consumirem a tua carne e o teu corpo” (5.11). No âmbito espiritual, os
prejuízos são: a) desprezo pela disciplina (5.12), b) desprezo pelos mestres
(5.13) e c) desprezo pela congregação do povo de Deus (5.14).
A terceira seção que trata do tema da
promiscuidade avalia o perigo do ponto de vista daquele que se envolve com a
mulher adúltera, que aqui também é chamada de “mulher vil” e “mulher alheia”
(6.20-35). Se, por um lado, essa mulher pode ludibriar o jovem por meio de suas
palavras suaves, por outro lado o próprio jovem pode também agir ativamente na
construção desse envolvimento de duas maneiras: a) cobiçando a beleza da mulher
adúltera e
b) flertando com ela (6.25). Nesse caso
específico, a admoestação dos pais revela que o princípio ético fundamental era
alimentado pela lei de Deus, pois os castigos apresentados são fundamentados
nela. A linguagem utilizada em Provérbios de “se chegar à mulher do próximo”
(6.29) é um reflexo das regulamentações encontradas em Levítico 20.10.
A quarta seção que trata do tema da
promiscuidade descreve a mulher adúltera em ação (7:1-27). Ela é uma mulher
casada, seu marido viajou e não retornará em breve. Ela aproveita o período de
ausência para iniciar suas aventuras de adultério com os que passam pela rua. É
crucial entendermos que o perigo apresentado no livro é o de uma pessoa mais
velha que tenta explorar a inocência de um jovem que ainda não experimentou um
relacionamento conjugal em toda a sua plenitude. Isso significa que o jovem
está em desvantagem nessa comparação. Ele é aquele que é visto como a presa no
experimento amoroso da mulher que tem planos adúlteros. A descrição das
artimanhas da mulher adúltera aqui resume muito do que já havia sido mencionado
anteriormente, especialmente o poder persuasivo de suas palavras. Mais do que
em qualquer outra parte do livro, nessa instrução do capítulo 7 temos uma
amostra detalhada do tipo de argumento que torna suas palavras persuasivas. A
admoestação dos pais para se distanciar dela está fundamentada, como nos outros
casos, num princípio ético fundamental, o qual pode ser deduzido da justificativa
apresentada: “porque a muitos feriu e derribou; e não são poucos os que por ela
foram mortos. A sua casa é caminho para a sepultura (lit. sheol ) e desce para
as câmaras da morte” (7.26-27). Essa justificativa já foi apresentada em 2.18,
mostrando que o princípio ético em Provérbios não é alimentado apenas pelo
senso comum, mas por conceitos teológicos que consideram a existência humana
diante dos olhos de Deus.
A última seção que trata do tema da
promiscuidade nos capítulos 1-9 de Provérbios consiste de um breve relato da
mulher apaixonada (9.13-18). Em primeiro lugar, é preciso entender corretamente
o significado do termo hebraico traduzido como “apaixonada”. A versão corrigida
opta pela palavra “alvoroçada”. O mesmo acontece com versões em outras línguas:
“loud” (ESV), “alborotadora” (Reina-Valera 1969), “unruly” (NIV). É provável
que a melhor tradução seja mesmo aquela que explora a questão da inquietação e
do barulho, e não o termo “apaixonada”. Tanto em Provérbios 9.13 como em 7.11,
o conceito está associado a um contexto que não permite optar pela tradução
“apaixonada”. No contexto dessa última seção, a ideia de ser barulhenta e
alvoroçada combina melhor com o alvo da narrativa, pois essa mulher está
assentada à porta da cidade para falar aos que passam. Mais uma vez, o conteúdo
da proclamação dessa mulher assentada no alto da cidade revela o mesmo
princípio ético fundamental, pois as justificativas envolvem a morte e o
inferno: “Eles [os que ouvem a mulher], porém, não sabem que ali estão os
mortos, que os seus convidados estão nas profundezas do inferno” (9.18).
Como os pais planejam implementar o
princípio ético nesse cenário permeado pelos perigos da promiscuidade? A
abordagem adotada pelos pais é dupla: eles prometem ensinar ao jovem o caminho
e a oportunidade para entender o temor do Senhor e, além disso, a oportunidade
de achar o conhecimento de Deus (Pv 2.5). O maior desafio dessa oferta é
basicamente o interesse que o jovem manifesta por aquilo que está sendo
oferecido, ou seja, a oferta dos pais parece inicialmente sem qualquer atrativo
para o jovem. Por que os pais acham que o jovem aceitaria ou sequer se
interessaria pela oferta? Vejamos mais de perto os detalhes da oferta.
2.3.1 Se aceitares as minhas palavras
Primeiramente, a proposta dos pais é de que
o jovem aceite as palavras deles. Essa perece ser a parte mais difícil do
trabalho de instrução e discipulado dos nossos filhos – aceitar as palavras dos
pais. O modo como o discurso dos pais apresenta o assunto demonstra que eles
entendem a seriedade do desafio que está diante deles. Eles sabem que esse
primeiro passo é fundamental para o sucesso de tudo o mais que eles intentem
fazer. Se o jovem decidir aceitar as palavras dos pais, acontece uma reação em
cadeia. Este, a meu ver, é o centro da estratégia desses pais em Provérbios:
eles não impõem o assunto nem exigem obediência, mas oferecem e desafiam o
jovem a aceitar tais palavras. Esse simples procedimento nos ensina uma grande
lição. Aquilo que um jovem aceita tem um impacto muito maior em seu interesse
em se apegar àquilo que foi dito e perseverar naquela instrução.15
Com certeza há algumas coisas que podemos
fazer para colaborar nesse processo de aceitação. O elemento atrativo na
proposta dos pais, “se aceitares as minhas palavras”, vem logo em seguida:
“para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o teu coração
ao entendimento” (Pv 2.2). Observe que as palavras dos pais não são um fim em
si mesmas, mas consistem de orientações e palpites sobre como treinar o ouvido
e o coração para a sabedoria e a inteligência. As palavras dos pais são
instruções não de como os filhos devem ouvir os conselhos dos pais ou viver
segundo os seus costumes, mas sim de como os filhos devem treinar seus ouvidos
e corações para a sabedoria e o entendimento provenientes de Deus. Reconheço
que isso é mais fácil de dizer do que de fazer. Todavia, a atitude desses pais
em Provérbios nos ensina que o nosso alvo como pais que amam os filhos não é
torná-los como nós, ouvindo somente aquilo que temos a dizer. Nosso alvo é
preparar seus ouvidos e corações para ouvirem todos aqueles que Deus colocar em
seus caminhos como instrumentos de ensino e correção. Muitos desastres morais
acontecem por causa de filhos jovens que não aprenderam a dar ouvidos à
sabedoria ou inclinar seus corações ao entendimento.
Ora, se as palavras e ensinamentos dos pais
nesse capítulo têm a finalidade de treinar o coração e o ouvido do jovem, não
seria o caso de pensarmos que as palavras da Sabedoria são as que realmente
conduzem ao conhecimento e temor do Senhor? Não seria o caso de pensarmos em
nossos ensinamentos (nós os pais) como apenas instrumentos facilitadores para o
verdadeiro conhecimento e aprendizado? Eu creio ser esse o caso. Muitos pais
parecem ter perdido um pouco de vista essa perspectiva no trato com seus
filhos. Não é fácil ver nossos filhos colocarem a perder suas vidas por darem
ouvidos e inclinarem seus corações a opiniões e valores que são subproduto da
decadência humana. Mesmo assim, não podemos perder de vista essa luz no fim do
túnel avisando-nos que o objeto da obediência que estamos proclamando não são
as nossas palavras. Meu objetivo não é fazer meu filho me obedecer, mas
sobretudo obedecer ao Senhor.
2.3.2 Se clamares por inteligência
O
que exatamente seria contado como um ato legítimo e verdadeiro de aceitação dos
ensinamentos dos pais? Como saber se o jovem realmente conseguir treinar o
ouvido e o coração para as palavras da verdadeira Sabedoria? Há dois elementos
concretos que podem servir para medir o grau de aceitação: “se clamares” e “se
buscares como a prata” (Pv 2.3-4). Neste segundo estágio entendemos que a
tarefa dos pais tinha realmente um escopo limitado e preparatório apenas. A
tarefa mais gloriosa é ver nossos filhos clamando por inteligência por
motivação própria. Estes dois versos nos ensinam que o modo como os nossos
jovens buscam a sabedoria de Deus dignifica o trabalho inicial dos pais
exatamente porque buscam algo maior.
Com respeito ao modo como eles buscarão a
sabedoria e o entendimento, dois exemplos são dados: eles “clamam” e “alçam as
vozes”. Ou seja, o modo é característico da juventude – muito volume e
entusiasmo. Na visão do livro de Provérbios, essa atitude não deve ser vista
como negativa, pois melhor é ver nossos filhos clamando por sabedoria do que
alçando suas vozes para a promiscuidade e perversão. O propósito final e maior
dos ensinamentos dos pais é exatamente este de levar os filhos e alçarem a voz
em busca da sabedoria, mas quando algo neste processo não funciona como deveria
o resultado acaba produzindo filhos que alçam suas vozes contra seus pais e
todo tipo de instrução que os conduziria ao Senhor. O método desses pais em
Provérbios certamente não envolvia admoestações com gritos, mas o resultado do
trabalho culminava numa busca eufórica pela sabedoria. Quando virmos nossos
filhos no pico mais alto do telhado da casa gritando a plenos pulmões sobre seu
interesse na Sabedoria, deveríamos dar graças a Deus pelo dever cumprido (e
orar para que eles consigam descer de lá sem quebrar as pernas).
2.3.3 Se buscares a sabedoria como a prata
e tesouros escondidos
O terceiro elemento a ser considerado na
proposta dos pais é a motivação com a qual seus filhos buscarão a sabedoria.
Quando Provérbios compara esta motivação com a procura pela prata ou tesouros
escondidos, a ideia não equivale a dizer que estão apenas correndo atrás de
dinheiro. A figura aqui é aplicada ao reconhecimento da recompensa em investir
tempo e esforço nessa direção. Além disso, estes pais estão deixando bem claro
que o jovem não deve encarar essa jornada como tendo um único objetivo –
agradar os pais. Essa não é a recompensa que motiva o jovem em Provérbios. Essa
não é a recompensa que deveria motivar os jovens hoje.
As
palavras e instruções desses pais em Provérbios tinham a finalidade de inspirar
uma motivação genuína, que estivesse associada à Sabedoria em si e não aos
pais. A razão parece muito simples. Se treinarmos nossos filhos a nos
obedecerem com a finalidade única de agradar e satisfazer o nosso desejo como
pais, nós podemos até conseguir isso por um tempo, mas o que acontecerá quando
este jovem adentrar a vida adulta e se tornar independente? Será que essa
inspiração ainda o motivaria na busca da sabedoria? Alguns filhos chegam ao
ponto de dizer: “Eu só não faço isso porque meus pais ainda estão vivos, mas
assim que eles morrerem...”. Deus livre nossos filhos e filhas de trilhar nessa
direção.
Veja bem, a motivação verdadeira não é
aquela que despreza ou desonra os pais a fim de honrar e valorizar a sabedoria
como tesouros escondidos. A verdadeira motivação é aquela que honra os pais ao
entender que seus ensinamentos os conduziram a algo com valor inestimável. Não
existe nada mais honroso e gratificante para os pais do que verem seus filhos
buscando a sabedoria pelo valor que ela tem, e não apenas para agradá-los
enquanto vivos.
2.3.4 As recompensas de buscar a
sabedoria
Tudo isto que os pais têm proposto precisa
ser feito de modo correto e com a motivação legítima, a fim de que o princípio
ético seja implementado. Nos versos que se seguem, os pais descrevem
detalhadamente algumas recompensas dessa jornada. Há quatro coisas que são
apresentadas: a) o jovem entenderá o temor do Senhor (2.5), b) o jovem achará o
conhecimento de Deus (2.5), o jovem entenderá justiça, juízo e equidade (2.9),
c) a sabedoria entrará em seu coração (2.10), d) será liberto do caminho do mal
(2.12) e será liberto da mulher adúltera (2.16).
Entender o temor do Senhor (2.5). Já sabemos
desde o início do livro de Provérbios que o temor do Senhor é princípio de todo
esse projeto de busca de sabedoria. É o temor do Senhor que torna esse
empreendimento possível e justificável. Achar o conhecimento de Deus (2.5). O
conhecimento de Deus não é igualado à sabedoria. Obter a sabedoria não é o
mesmo que obter o conhecimento de Deus. Conforme a instrução dos pais, é o
Senhor quem dá sabedoria e de seus lábios procede todo entendimento. O alvo de
todo esse projeto de treinamento em busca da sabedoria é nada menos que
conhecer a Deus. Nesse nível a sabedoria em si perde sua primazia, tornando-se
também uma ferramenta para alcançar um fim maior que é o conhecimento de Deus.
A sabedoria entrará no teu coração (2.10). Esse conceito parece completar a
preparação inicial que os pais tiveram de treinar o coração do jovem a
inclinar-se para a sabedoria. Quando isso acontece de maneira satisfatória, a
sabedoria se compraz em habitar no coração do jovem.
Ser salvo do caminho do mal (2.12).
Conforme vimos no primeiro capítulo, o jovem está sempre rodeado de propostas
de amigos que querem envolvê-lo em toda sorte de crimes e situações que irão
comprometê-lo pelo restante de sua vida. Uma recompensa prática da busca da
sabedoria é que ela irá salvar o jovem dessas ciladas. Nas próximas lições
veremos com mais detalhes o que esse caminho do mal significa. Finalmente, ser
salvo da mulher adúltera (2.16). Dentro do contexto do livro essa é a maior
ameaça que se antepõe no caminho do jovem em busca da sabedoria – a
promiscuidade. Nas lições a seguir trataremos dos detalhes da proposta da
mulher adúltera e do modo como ela envolve o jovem em sua caminhada.
CONCLUSÃO
Conforme anunciado na introdução, o princípio ético que regula as decisões apresentadas no livro de Provérbios é deduzido a partir de uma leitura do próprio texto bíblico, especialmente do modo como o autor bíblico apresenta os discursos. Entretanto, não há como argumentar que Agur ou a mãe de Lemuel tinham consciência de tal princípio ético quando compuseram seus provérbios e instruções. O princípio ético de Provérbios deve ser entendido como um fator imputado ao livro em seu formato final por obra do Espírito Santo, por meio daquele (não sabemos quem) que Deus usou para concluir esse livro. Por causa da informação contida na abertura do capítulo 25, é impossível afirmar que Salomão foi o responsável pela forma final do livro, pois os homens de Ezequias ainda estavam transcrevendo provérbios para montar a terceira seção do livro séculos após a sua morte. Assim sendo, proponho que o princípio ético ilustrado nesse estudo seja entendido como um fator oriundo do cânon bíblico e não da cosmovisão israelita dos dias de Salomão. Quando lemos Provérbios como uma amostragem de usos e costumes de uma sociedade primitiva, compilados em formato proverbial, perdemos o seu principal elemento de autoridade: a revelação divina construindo das partes um todo teologicamente coerente. Mesmo trabalhando com diversos autores (Salomão, Agur, Lemuel, os sábios, os homens de Ezequias, etc.), o produto final forjado pela ação do Espírito Santo consegue aquilo que Clemente de Alexandria disse com propriedade: “Com todo seu poder, o instrutor da humanidade, a palavra divina, usando todos os recursos da sabedoria consegue, por muitas rédeas, refrear os impulsos irracionais da humanidade”.16
O autor é
professor de Antigo Testamento no CPAJ desde 2007. É mestre em Teologia
Exegética (Th.M., 2001) pelo Covenant Theological Seminary e doutor em Estudos
Teológicos no Antigo Testamento (Ph.D., 2006) pela Trinity Evangelical Divinity
School. Seus estudos pós-doutorais (Wycliffe Hall, Oxford, Inglaterra) trataram
da literatura sapiencial do Antigo Testamento. É autor de diversos artigos e publicou
recentemente seu comentário sobre o livro de Jó
O princípio ético
de Provérbios-Daniel Santos
Provérbios 4 — Análise Bíblica
FONTE:
https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2019/09/proverbios-4-analise-biblica.html
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