TEXTO ÁUREO
“E terás confiança,
porque haverá esperança; olharás em volta e repousarás seguro.”
(Jó 11.18)
VERDADE PRÁTICA
Segundo as
Escrituras, até mesmo o justo passa por tribulação.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
Jó
11.1-10; 20.1-10
Jó
11
1 - Então,
respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2 - Porventura,
não se dará resposta à multidão de palavras? E o homem falador será justificado?
3 - Às tuas
mentiras se hão de calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te
envergonhe?
5 - Mas, na
verdade, prouvera Deus que ele falasse e abrisse os seus lábios contra ti,
6- e te fizesse
saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que
Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade.
7 - Porventura,
alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso?
8 - Como as
alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela
do que o inferno; que poderás tu saber?
9- Mais comprida
é a sua medida do que a terra; e mais larga do que o mar.
10 - Se ele destruir,
e encerrar, ou juntar, quem o impedirá?
Jó
20
1 - Então,
respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2 - Visto que os
meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso.
3 - Eu ouvi a
repreensão, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento responderá
por mim.
4- Porventura,
não sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a
terra,
5 - o júbilo dos
ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas, apenas de um momento?
6- Ainda que a
sua altura suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens,
7 - como o seu
próprio esterco perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está?
8 - Como um
sonho, voa, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite.
9- O olho que o
viu jamais o verá, nem olhará mais para ele o seu lugar.
10 - Os seus
filhos procurarão agradar aos pobres, e as suas mãos restaurarão a sua fazenda.
OBJETIVO GERAL
Mostrar
que Zofar, assim como seus amigos, defende que os ímpios sempre serão punidos e
os justos recompensados.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo,
os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada
tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos
subtópicos.
Destacar no entendimento
de Zofar que o sofrimento de Jó fazia parte de um sábio julgamento divino;
Explicitar que a conversão
defendida por Zofar era de natureza legalista;
Esclarecer que a
teologia de Zofar limita a soberania Deus na sua capacidade de julgar.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Nesta
lição estudaremos o discurso do terceiro amigo de Jó, Zofar. A tese que este
último defende é a de que o justo não passa por tribulação. Ou seja, para ele,
se houver tribulação é porque não há justiça na vida da vítima. Essa teologia
já esteve muito presente em nosso país. A ideia de que o sofrimento, as
tribulações da vida e outros dilemas humanos não são para o cristão, não é de
todo nova. Entretanto, as Escrituras nos mostram claramente que quem está em
Cristo, não significa que tenha ausência de problemas e provações, mas que há
uma grande diferença na forma de passar por eles: uma firme convicção de que
Cristo passa junto.
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos o discurso de Zofar, o último amigo de Jó a falar na série de debates (Jó 11; 20). Ele insistirá na tese de que o justo não passa por tribulação, à semelhança do que pensavam seus amigos Elifaz e Bildade. Todavia, Zofar é mais duro e impiedoso na acusação contra Jó. Ao contrário de seus amigos, ele faz dois discursos suficientes para derramar seu ressentimento contra o patriarca. Ele o acusa de se levantar contra sabedoria divina e aconselha Jó a voltar-se para Deus.
PONTO CENTRAL
O justo passa por tribulação.
Lição
8: A Teologia de Zofar: O Justo não Passa por Tribulação?
Capítulo
08 – A teologia de zofar: o justo não passa
por tribulação?
LIÇÕES BÍBLICAS
CPAD — O sofrimento e a restauração de Jó
TEOLOGIA COM VINAGRE
Dos
três amigos de
Jó, Zofar é
o mais impiedoso.
Adam Clarke (2014, p.
15) diz que
os seus discursos
são avinagrados. A
teologia de Zofar, portanto,
é azeda e
amarga. De fato,
Zofar não poupa
palavras duras e críticas
ácidas a o combalido
Jó. Para os
Pais da Igreja,
Zofar era um acusador
falso e um
homem cheio de
ressentimentos (Oden, 2010,
p. 103). Crisóstomo, Gregório
e Efrén acreditavam
ser possível aproveitar parte da
sua teologia para
trazer ensinamentos morais
à Igreja (Oden, 2010,
p. 103). A
patrística seguia o conselho apostólico:
“Examinai tudo. Retende o bem” (1
Ts 5.21).
Zofar
é o mais
jovem e o último a
falar. Ele demonstra -se incomodado porque acredita que
os amigos não foram hábeis o suficiente para
argumentar com Jó.
Em vez disso,
ele acreditava que a lábia
de Jó fizera-os ficar calados.
Ele, porém, não se convencera nem um pouco
com toda a argumentação d e Jó. Era hora
de falar. Daniel Estes
(2013, p. 2239) destaca:
Zofar percebe
que Elifaz e
Bildade não responderam adequadamente a
Jó, então ele decide
a ceitar o desafio.
De fato, ele
considera como seu dever
moral defender a justiça de
Deus silenciando os argumentos
de Jó. Zofar
descarta, impaciente, os longos
discursos de Jó
como “todas essas
palavras”, o que
implica que a quantidade
de palavras não
mede a qualidade
de sua percepção. Na
literatura da sabedoria,
falar muitas palavras costuma estar
mais relacionado à
loucura do que
à sabedoria (Pv 10:19; 17:27; Ec.
5: 2). Assim,
por sua pergunta retórica no versículo 2, Zofar implica q ue ele considera
Jó um tolo que fala demais.
Enquanto os seus outros dois amigos proferira m três discursos, Zofar profere apenas dois (Jó 11; 20 ). A teologia de Zofar é encontrada nesses discursos (Clarke, 2014, p.15). Zofar acreditava que Jó queria justificar a si mesmo e repete o que ele teria dito: “A minha doutrina é pura; limpo sou aos teus olhos” (11.4; cf. 9.21; 10.7). Na mente d e Zofar, isso revelava arrogância e podia ser considerado como declaração pecaminosa. Dessa forma, Zofar está convencido de que Deus é sapientíssimo em fazer Jó sofrer por conta dos seus pecados (11.1 -6). Zofar, portanto, acreditava que Jó merecia sofrer ainda mais! Não adiantava nada Jó espernear, pois, quando Deus quer agir, ninguém pode levantar-se contra Ele (11.7-11). Contudo, ele acredita que, se Jó reconhecer o seu erro e comfessar o seu pecado oculto, Deus irá restaurá-lo à sorte de antes (11.12-20).
DEUS SEMPRE SABE O QUE ESTÁ FAZENDO
“[...] e te fizesse saber os segredos da
sabedoria, que é multíplice em eficácia;
pelo que sabe
que Deus exige
de ti menos
do que merece
a tua iniquidade” (Jó 11.6). O
que está nas entrelinhas dessa afirmação
de Zofar é a sua convicção de que o sofrimento de Jó viera, de fato, em razão d
e um pecado cometido. Estes (2013, p. 2222) destaca:
Ao levar
o princípio da retribuição à sua conclusão
lógica, Zofar insiste que
o sofrimento procede
necessariamente do pecado. Parecendo muito
confiante em seu
raciocínio, como se falasse por Deus
(11: 6), Zofar
observa que, como
Jó está sofrendo,
ele necessariamente deve ter
pecado (11: 1–6).
Ele louva a
sabedoria ilimitada de Deus, implicando a loucura de Jó.
Deus
estava incontestavelmente castigando
Jó. Zofar chegou
à conclusão de que
Deus, na sua
muita sabedoria, estava
executando juízo sobre Jó:
“Porque ele conhece os homens vãos e vê
o vício; e não o terá em consideração?”
(Jó 11.11). Depois
que ouviu as
reclamações de Jó,
ele convencera-se de qu e
o patriarca, de fato, estava
sendo castigado por Deus, mas
não na medida em que
merecia. “Mas o homem vão
é falto de entendimento; sim,
o homem nasce
como a cria
do jumento montês”
(Jó 11.12). A referência
a o asno feita
por Zofar tem
a intenção de mostrar a irracionalidade na fala de Jó. Ao não reconhecer
a sua culpa, confessando o seu pecado,
Zofar acreditava que
Jó agia com
irracionalidade. É nesse sentido
que ele usa um antigo
provérbio oriental (Estes,
2013, p. 2268). Robert Alden (1993, pp. 3790–3798)
comenta:
Aqui descreve um homem que é
oco ou vazio em algum sentido. O verbo,
presumivelmente relacionado ao
substantivo que significa “coração / mente” (usado no v. 13),
ocorre em outro lugar apenas em Cantares
4 :9. Pope, seguido
por Clines (e
NCV), entende “asno” como
“burro domesticado”. Ele
usa os t ermos
“jumento selvagem” seguido de
“homem” juntos como “
burro selvagem”. A
segunda linha seria então
traduzida “quando um
burro selvagem nascer manso”. Claramente, o argumento de
Zofar era a impossibilidade de um burro selvagem nascer “humano” ou “manso”.
Zofar parece ter implicado nesses versículos
que os argumentos
de Jó eram irremediavelmente “ enganosos”, “maus” e
“sem sentido” (cf. v. 20).
O que fica
perceptível no discurso
do amigo de
Jó é a
repetição de aspectos dos
atributos de Deus
já referidos nos
discursos anteriores. Vez por outra, temas como “onipotência”,
“soberania” e “sabedoria” voltam a aparecer
nos argumentos teológicos
dos amigos de
Jó. A intenção
desses amigos é fazer
u ma defesa de
Deus frente aos
queixumes de Jó,
que deixava evidente que o Criador estaria por trás dos seus
infortúnios. Para eles, portanto, se isso fosse,
de fato, verdade,
era porque Jó
havia feito alguma coisa grave
ou peca minosa que justificasse esse agir
por parte da divindade que eles defendiam. Ou Deus
ou Jó esta riam com a razão,
mas nunca os dois ao mesmo tempo. Se Deus estivesse certo, Jó estaria
errado; por outro lado,
se Jó estivesse
certo, Deus é
quem estaria errado.
Como Deus não erra e nem
age com injustiça,
então, forçosamente, Jó
havia cometido algum pecado.
Não havia uma
terceira via. Zofar
segue nessa direção, agora pondo
nessa intrincada equação o agir sábio de Deus como justificativa para a
desafortunada situação de Jó.
Schonberger (2012, p. 57) resume o pensamento
de Zofar nessa parte do seu discurso:
Zofar s e refere
à incompreensibilidade de D
eus — evidentemente uma
incompreensibilidade para Jó:
“Acaso podes s ondar as
profundezas de Deus?”
(v. 7). Zofar
descreve -a utilizando metáforas espaciais que
medem com passos
a incompreensibilidade de
Deus simultaneamente em todos
os pontos cardeais:
na altura, na profundidade, na largura, na extensão/céu,
Xeol, terra, mar (vv. 8-9). Mais tarde,
Jó servir-se-á de
imagem semelhante, não,
porém, para afirmar
a incompreensibilidade de Deus,
mas para lamentar
sua ausência (23.8-9). Assim como o ser de Deu s é
inescrutável (v. 10). Ninguém pode opor-se à força do
agir divino. Com
o v. 11, Zofar parece
fazer chegar até
Jó uma admoestação velada: sem precisar
prestar muita atenção, Deus vê o crime, “ele
conhece os fazedores
de ilusão”. O
v. 1 2 poderia
ser um provérbio aceito de
modo geral. Ele
aponta para algo
impossível: desejaria Jó inverter
a ordem divina
do universo? O
provérbio também poderia
ser a expressão
do receio de qu
e Jó,
caso permanecesse a ferrado
a seu fal so ensinamento, num
caso perdido, tornar-se-ia
um “ cabeça-dura”, que
tão pouco bom senso tem quanto um “jumento selvagem”.
A defesa da sapiência divina é um tema que
aparece com frequência no livro de Jó. No seu debate com Jó, Zofar sai em
defesa da sabed oria de Deus frente ao sofrimento de Jó. Todavia, Jó não vê
nada de especial nesse tipo de sabedoria
defendida por Zofar por acreditar
que ela não passa de um
saber humano. Ness e
aspecto, essa sapiência
que Zofar diz
ser representante não era uma sabedoria
revelada, mas herdada. Esse tipo de saber Jó
diz também possuir.
É, todavia, no
capítu lo 28 qu e
há uma exposição da verd adeira
sabedoria divina.
CONVERSÃO A DEUS
“[...] Se tu preparaste o teu coração,
estendes as tuas mãos para ele” (Jó
11.13). Na segunda
parte do seu
discurso (Jó 11.13 -20),
Zofar dá conselhos de
natureza pastoral para
Jó. Ele aconselha
a Jó “ estender
as mãos” (v. 13)
como uma demonstração
da sua v olta
para Deus. Antes desse “estender as mãos”, Zofar
destacou a necessidade de Jó “preparar o seu
coração”. Duas coisas ficam
em destaque nessas expressões de Zofar. A primeira é q ue, na
expressão da espiritualidade,
deve haver uma parte interna que deve
ser seguida por outra externa. Mas, como Zofar entende que Jó
esconde algum pecado,
ele aconselha-o a
primeiramente deixar o mal que ele praticou. “Se há iniquidade na
tua mão, lança-a para longe de ti e não deixes habitar a injustiça nas tuas
tendas” (J ó 11.14). Zofar acredita que,
se Jó assim
procedesse, ele iria levanta r-se
com firmeza e sem medo (v.
15); a sua
miséria seria esquecida,
e as trevas
desvaneceriam pela chegada da
luz (vv. 16,17).
Jó, portanto, recuperaria
novamente a sua confiança e repousaria em segurança (v.
20).
Assim como os seus outros amigos, Zofar
está certo apenas em parte. A sua teologia
apresenta alguns problemas .
Schonberg (2011, p. 59)
observa que a
teologia de Zofar
a presenta erros que
são fruto da sua
ignorância teológica . Veja:
Em que
consiste o erro
de Zofar? Se
olharmos para o
conjunto do livro, duas coisas
sobressaem antes de mais nada. De um
lado, Zofar também se engana
quando pressupõe que
Jó tenha pecado.
De outro, porém, ele se engana, e engana um pouco a Jó, quando louva
a via
da oração —
que ele recomenda
— como um
caminho do sucesso rápido.
Obviamente, não percebe que o caminho para Deus, que Jó
deve percorrer, é um caminho
que conduz pelo
“vale das sombras da
morte” (cf. Sl
23,4). As imagens
da ventura que
Zofar conhece e que
tira da tradição
tornam-se imagens do
enga no e de uma falsa promessa, quando ele oculta o
preço que d eve ser pago a
fim de
com elas crescer.
Dessarte, Zofar dá
o exemplo de um
conselheiro e pastor de almas que diz a penas meia verdade.
JUÍZO DIVINO
No
seu segundo discurso
(Jó 20.1 -29), Zofar
faz u ma contundente defesa da lei da retribuição. Não
há dúvidas de que a lei de causa e ef
eito está embutida nas
suas palavras. Segundo
a teologia que
defende, os ímpios são
sempre punidos . Possivelmente, em
nenhuma outra parte
d o livro de Jó,
há uma defesa
tão contundente da
doutrina da retribuição. Zofar (Clarke, 2014, p. 19) defende
que os ímpios são desventurados; que a sua
alegria é breve
e passageira (1-9);
que, tanto o
ímpio quanto a sua
família são castigados (10-14); que ele perderá tudo o que adquiriu e cairá
em estado de
miséria e penúria
(15-23). Por último,
tanto ele co mo
a família morrerão de
morte violenta , sendo,
dessa forma, destruídos
(24 -29).
“[...] Porventura, não sabes tu que desde
a antiguidade, desde que o homem foi
posto sobre a terra, o júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas, apenas d e um momento?” (Jó
20,4 ,5). Zofar é contundente na defesa dessa
tese. Esse também
foi o argumento
dos seus dois
outros amigos, Elifaz
e Bildade. Na
literatura sapiencial, a
doutrina da punição dos
maus é um tema
muito frequente. Nesse
tipo de literatura,
os sábio s usam o contraste entre
sábios e néscios, riqu eza e pobreza, maus e bons de forma pedagógica
na educação dos
Jovens (Schonberger, 2011,
p. 106). Portanto, o discurso de
Zofar, embora não refletisse a realidade de Jó, não deve ser
desprezado no seu
todo po r também
conter princípios que
são verdadeiros. Segundo Oden (2010, p. 154):
Os pais da igreja dão u ma interpretação quase
unânime do segundo discurso d e Zofar. Reconhecem
que suas palavras
são moralmente corretas e
merecedoras de atenção quando se referem a
um contexto geral (Gregório, Crisóstomo,
Isodad, Orígenes, Olimpiodoro),
mas também reprovam e
consideram sem fundamento
e acusam como sendo
falsa quando se
refere ao caso
específico de Jó
(Felipe,
Hesiquio).
A
teologia de Zofar,
embora tenha elementos
de verdade, quando aplicada no caso específico de Jó,
torna-se falha. Jó não é nenhum ímpio e nem está sofrendo porque fez por
merecer. Zofar quer justificar a qualquer custo a razão do sofrimento de Jó.
Dessa forma, ele magoa e fere Jó com as suas palavras, porque está firmemente
convicto de que o amigo comporta-se como um ímpio.
Somente os Maus São Punidos?
Respondeu,
porém, Jó e
disse: Ouvi atentamente
as minhas razões; e isto vos sirva de consolação. Sofrei-me, e eu falarei;
e, havendo eu falado, zombai. Porventura,
eu me queixo
a algum homem?
Mas, ainda que assim
fosse, por que se
não angustiaria o
meu espírito?
Olhai para
mim e pasmai;
e ponde a
mão sobre a
boca, Porque, quando me
lembro disto, me
perturbo, e a
minha carne é sobressaltada de
horror. Por que
razão vivem os
ímpios, envelhecem, e ainda
se esforçam em
poder? A sua
semente se estabelece com eles perante a sua face; e os
s eus renovos, perante os seus
olhos. As suas
asas têm paz,
sem temor; e
a vara de
Deus não está sobre
eles. O seu
touro gera e não falha;
pare a sua
vaca e não aborta. Fazem sair as suas crianças como
a um rebanho, e seus filhos andam
saltando. Levantam a
voz ao som
do tamboril e
da harpa e alegram-se ao som das flautas. Na
prosperidade gastam os seus dias e
num momento descem
à sepultura. E,
todavia, dizem a Deus:
Retira-te de nós;
porque não desejamos
ter conhecimento dos
teus caminhos. Quem é o Todo-poderoso, para que nós o sirvamos? E que
nos aproveitará que lhe façamos orações? (Jó 2 1.1-15)
“Respondeu, porém, Jó e disse: Ouvi
atentamente as minhas razões; e isto vos sirva de consolação” (Jó 21.1,2). Jó quer ser ouvido; por isso, ele pede aos
seus amigos que
parem para escutá -lo.
Eles precisavam por a
mão sob re a boca (v. 5). Há muito, numa verdadeira ba teria d e debates, Jó
escutara-os. Agora era
a vez de
eles ouvirem. Eles
precisavam ficar em silêncio
para ouvir a
pergunta de Jó:
“Por que razão
vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?”
(Jó 21.7). Se era verdade que os maus sempre experimentavam um juízo severo
aqui na terra, então por que os ímpios
desfrutam de longevidade?
Por que eles
desfrutam d e prosperidade? Por
que a sua fazenda cresce? Por que os seus filhos vivem em plena alegria? Por
que isso é assim s e eles não querem saber de Deus?
(Jó 21.14,15). Isso era u ma coisa
visível, d e fácil constatação, mas os amigos de Jó, especialmente Zofar, não
atentavam para isso
Nas palavras de Schonberger (2 011, p.
111):
Quem
reconhece a Deus como o fundamento de sua vida e se coloca no caminho
da fé dificilmente
pode evitar esta
pergunta e esta experiência. Jó
a experimentou e
padeceu. Ele externa
suas experiências e questões
sem rodeios —
também lá, onde
elas contradizem ou parecem contradizer doutrina s piedosas. Satanás já
havia tocado o
cerne da fé
quando perguntou a
Deus: “É por
nada que Jó teme a Deus?” (1.9).
Aqui,
mais uma vez,
Jó antecipa -se àquilo que
tanto o salmista quanto Salomão questionaram: “Por
que prosperam os ímpios?”. No livro de Eclesiastes, Salomão indagou: “Tudo isso
vi nos dias da minha vaidade; há um justo que perece na sua justiça, e há um
ímpio que prolonga os seus dias na sua
maldade” (Ec 7.15).
Da mesma forma,
o salmista sentia -se incomodado com
a “prosperidade dos
ímpios” (Sl 73.3).
Só um tolo
não enxergaria que essa é uma verdade evidente debaixo do sol.
A fragilidade humana e a soberania divina
— O sofrimento e a restauração de Jó
José
Gonçalves
Capítulo 12
O A Teologia de Zofàr
Introdução
Donald
Grey Barnhouse fez uma declaração, certa feita,
que, de forma
surpreendente e maravilhosa, mostra tanto a transcendência
como a imanência de Deus: “Nossos grandes problemas são pequenos para o
infinito poder de Deus, mas nossos pequenos problemas são grandes para o seu
amor de Pai”. O que Barnhouse enfatiza é que o Todo-Poderoso, embora transcenda
infinitamente o homem em poder e sabedoria,
acha-se presente no dia-a-dia de
cada um de nós. Ele não se limitou a criar-nos; sustém-nos com os seus
amorosos desvelos, cuidando até do azeite de nossa botija.
Zofar, porém, não acreditava num Deus tão maravilhoso assim.
Cria ele num Deus que,
apesar de haver criado o mundo, não se preocupa com este. Pois se acha
demasiado ocupado com os assuntos das cortes celestes para enfastiar-se com o
cotidiano humano. Que o patriarca Jó, por conseguinte, procurasse conforto
noutra parte; de
Deus, não haveria
ele de receber qualquer lenitivo.
Esse amigo de Jó tinha uma crença
incompleta no Todo- Poderoso; era um perfeito deísta. Esquecia-se ele, porém,
que, não basta saber que Deus
existe; é imprescindível acreditar que o Deus infinito é também o
amoroso Pai que estará sempre ao nosso lado.
1. Quem Foi Zofar
Também não
temos muitas informações
acerca deste amigo de Jó. Sabemos
apenas que era naamatita. Este adjetivo revela que Zofar era originário de
Naamá, um pequeno remo que se achava, mui provavelmente, no território da
moderna Arábia Saudita.
Estamos
diante de um homem inteligente,
culto e que procurava descobrir as verdades divinas
através da luz natural da razão. Zofar, à
semelhança de seus amigos,
não era um teólogo; e, sim: um
filósofo. Alguém que, tateando, buscava o Deus único e verdadeiro (At 17.27).
Aliás, muitos eram os filósofos que,
naquele tempo, circulavam por todo o Oriente a discutir os problemas da vida.
Isto significa que a filosofia não nasceu propriamente na Grécia; tem o seu
nascedouro na alma humana, pois foi exatamente na alma humana que o Senhor
incrustou a eternidade. E esta impulsiona-nos a indagar, a perquirir, a
problematizar, a operar corretamente os recursos intelectuais e espirituais, a
fim de que, confrontando as realidades, venhamos a concluir: Deus realmente
existe e tudo faz por restabelecer a sua comunhão com o ser humano. Asseverou
mui apropriadamente J. Blanchard: “Filosofia
é a busca da verdade. Em Jesus, a busca termina”.
II. 0
que É aTeologia de Zofar
Como qualquer filósofo, possuía Zofar sua
própria concepção de Deus. E esta, conforme veremos, era mais nociva do que a
doutrina de Elifaz
e a de
Bildade. Se estes,
ainda que distorcidamente,
acreditavam num Deus que intervém, aquele, não. De acordo com a sua cosmovisão,
achava-se Deus tão distante do ser humano, e de tal forma arredado dos mortais,
que a estes era impossível qualquer contato com Ele (Dt 30.11-15). Logo: por
que iria Deus se incomodar com os sofrimentos de Jó?
Zofar desconhecia por completo o amor de
Deus. Acreditava que o Todo-Poderoso, ao criar o homem, não tinha outro
propósito a não ser mostrar o seu infinito e irresistível poder.
A
criação do homem,
contudo, não foi
um ato de exibicionismo por parte de Deus. Foi uma
alta e sublime demonstração de amor. Ele criou-nos porque já nos amava em
sua presciência; amava-nos
de forma absoluta
e inclusiva, predestinando-nos a
todos à vida eterna. Logo, não criou Deus uns para a bem-aventurança eterna e
outros para a eterna da- nação. Se o
homem, porém, rejeita-lhe
o amor, e
ignora o chamamento do
Evangelho, certamente perecerá.
A mensagem é clara: “Quem crer e
for batizado, será salvo; quem não crer já está condenado”.
Sim, grande foi o amor que o Senhor Deus
demonstrou ao criar-nos à sua imagem e semelhança. T. G. Jalland assim expressa
este importantíssimo postulado
teológico: “Deus não nos fez porque
pretendia ganhar algo com isso, mas simplesmente por amor”. Então, por que iria
Ele esquecer-se de seu pietíssimo servo? Jó não fora olvidado pelo
Todo-Poderoso, embora todas aquelas circunstâncias apontassem neste sentido.
1. O deísmo.
O deísmo é uma doutrina, segundo a qual Deus
realmente existe, mas não interfere na história humana nem se interessa
por relacionar-se com as
suas criaturas. E uma
crença bastante encontradiça
nos filósofos gregos
e quantos lhes seguem as pisadas. Houve um momento, na história de
Israel, que os judeus se fizeram deístas (Sf I.I2).Os magos de Babilônia eram,
além de politeístas, deístas típicos:
“Porquanto a coisa que o rei requer é difícil, e ninguém há que a possa declarar diante do
rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne” (Dn 2.11).Ao contrário do
deísmo, não se limita o teísmo a defender a existência de Deus; afirma de igual
modo que Ele deseja relacionar-se com o ser humano, e intervém em sua história
(SI 8.1-9). Portanto, grande é a diferença entre o deísmo e o teísmo; o
primeiro é herético e perigoso; o segundo é bíblico e teologicamente correto.
2. O deísmo de Zofar.
Supunha este que o homem, devido a sua
pequenez e imperfeições, jamais alcançará os favores de Deus: “Mas, na verdade,
prouvera Deus que ele falasse e abrisse os seus lábios contra ti, e te fizesse
saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que
Deus exige de ti menos do que merece a tua iniqüidade. Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou
chegarás à perfeição do Todo- Poderoso? Como as alturas dos céus é a sua
sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás
tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a terra; e mais larga do que o
mar. Se dele destruir, e encerrar, ou juntar, quem o impedirá?” (Jó II.5-I0)
Zofar não havia conseguido ainda
ultrapassar a linha da especulação. Por isso, limita-se às meias verdades. E
estas são piores do que as mentiras inteiras. Por acaso, não veio Satanás
tentar ao Senhor com verdades incompletas e premissas aparentemente válidas? (M
t 4.1-II). Cuidado com as astutas ciladas do adversário; ele mente até mesmo
quando fala a verdade (E f6.II).
Diante de todo aquele palavreado, como
ficava Jó? Além das provações a que estava obrigado a sofrer, era constrangido
a suportar um teólogo palavroso que, sublimando desmedidamente a transcendência
de Deus, atribulava-o de maneira implacável. Ora, se estava o Todo-Poderoso de
tal forma alongado do ser humano, que esperanças haveria para Jó? Quem poderia
socorrê-lo naquela instância?
Você já se sentiu alguma vez assim?
Isolado? Abandonado, aparentemente, até pelo próprio Deus? Como encarar, pois,
a transcendência e a imanência de Deus? (SI 22.1,2)
III. Imanência ou Transcendência?
Apesar de toda a sua dor, mostra Jó ao seu
implacável amigo que, embora seja Deus transcendente, é também imanente:
I. A
resposta de Jó.
“Na
verdade, que só vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria. Também eu
tenho um coração como vós e não vos sou
inferior; e quem não sabe tais coisas como estas? Eu sou irrisão para os meus amigos;
eu, que invoco a Deus, e ele me responde; o justo e o reto servem de irrisão.
Tocha desprezível é, na opinião do que está descansado, aquele que está pronto
a tropeçar com os pés. As tendas dos assoladores têm descanso, e os que
provocam a Deus estão seguros; nas suas mãos Deus lhes põe tudo. Mas, pergunta
agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e às aves dos céus, e elas to
farão saber; ou fala com a terra, e ela to ensinará; até os peixes do mar to
contarão. Quem não entende por todas estas coisas que a mão do SENHOR fez isto,
que está na sua mão a alma de tudo quanto vive, e o espírito de toda carne
humana?” (Jó.I-IO).
2.
Avaliando a teologia de
Zofàr.
Em
sua breve, mas conclusiva alocução, reafirma Jó algumas
verdades que os teólogos atuais deveriam
assimilar, ao invés de se perderem em
sofismas e falsas premissas: Deus é tanto transcendente quanto imanente.
Vejamos, pois, antes de mais nada, o real significado da transcendência e da
imanência divinas.
a)
Transcendência.
È o conjunto dos atributos que ressaltam a infinita superioridade de Deus em
relação às suas criaturas: eternidade, infinitude, imensidade,
imarcescibilidade.
b)
Imanência.
Embora seja Deus transcendente, não se encontra à parte de sua criação; acha-se
presente nesta através destes atributos:
onipresença, onisciência e
onipotência. Há de se ressaltar, porém,
que, conquanto esteja ele presente na criação, não se confunde com esta. Erram aqueles que afirmam que Deus é tudo, e tudo é
Deus.Por conseguinte, não obstante Deus habitar nas alturas jamais imaginadas,
e apesar de infinito e
insondável, não se encontra alheio às suas criaturas. Acompanha-nos desde a concepção
(SI 139.13-17). Ele se preocupa tanto com o destino dos grandes
impérios, quanto das
coisas que nos
parecem mínimas e até desprezíveis (Dn 4.31-37; I Rs 17.14-16).
A teologia de Zofar, a despeito
de grandiloqüente e sentenciai, não passava de alinhavos de uma
sabedoria já foi-clórica (Jó I2.I). Por
isto, Jó argúi
a Zofar estar o Todo- Poderoso tão preocupado com a sua criação que não
se descuida sequer das alimárias (Jó 12.7-10). Também não foi esta a resposta
que o Senhor deu ao profeta Jonas? (Jn 4.I0.I I)ConclusãoTranscendente ou
imanente? A teologia dos últimos dois séculos orbitou em torno de ambos os
conceitos. De um lado, os teólogos que,
realçando a transcendência de
Deus, minimizaram-lhe a imanência. De outro, os teólogos que, sublimando
a imanência divina, esqueceram-se da transcendência, como se fora algo de
somenos importância.
Os amigos de Jó achavam-se divididos em
ambos os pólos. Elifaz e
Bildade haviam de
tal forma vulgarizado
a imanência de Deus, que supunham estar o Senhor disposto a manter um
relacionamento meramente comercial e mercantil com as suas
criaturas. Enquanto que Zofar,
de tal maneira superestimou a transcendência divina, que veio a concluir
estar o Todo-Poderoso tão distante de suas criaturas, que não lhes prestava
qualquer atenção, nem perdia tempo intervindo na história particular de cada
uma destas.Deus não é somente imanente e transcendente. E, acima de tudo, condescendente: “Porque assim diz o Alto e
o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo
lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o
espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
Caso
você se encontre
atribulado, há um Deus que se
importa com o seu
sofrer. Ele tanto
se ocupa dos
grandes negócios do mundo como da falta da farinha em sua panela.
Este
é o nosso Deus!
Aleluia!
COMENTÁRIO DE
JÓ CLAUDIONOR DE ANDRADE
Jó 11
e) Primeiro
Discurso de Zofar. 11:1-20.
Jó reagiu à concentração de Elifaz e Bildade
no seu status judicial com protestos cada vez mais intensos de inocência. Estes
por sua vez provocaram os amigos a uma aplicação ainda mais consistente de suas
teorias, até que Zofar agora bruscamente condena a alegada iniqüidade de ló (vs.
1-6). Ele suporta sua acusação apelando à infinidade de Deus (vs. 7-12),
concluindo contudo com uma afirmação de prosperidade restaurada (vs. 13-20).
1-6. Jó insistira
que Deus o tinha afligido quando sabia ser ele justo (v. 4; com. 9:21; 10:7).
Isto, destaca Zofar, contradiz a teoria tradicional, é irreligiosidade e não
pode ser permitido que permaneça como a última palavra.
2b. Acaso tem razão
o tagarela? As costumeiras cortesias introdutórias, inteiramente dispensadas
por Bildade, são agora aviadas por Zofar com tanta pressa e falta de gosto que
a acusação funde-se com a apologia.
5. Falasse Deus e
abrisse os seus lábios contra ti. Jó parece irreprimível na controvérsia com
seus companheiros; mas se ele tivesse a liberdade de conseguir a coisa que ele
mais almeja, um debate franco com Deus (cons. 9:35), seria silenciado.
6b. Sabe, portanto,
que Deus permite seja esquecida parte da tua iniqüidade. Mais literalmente,
Deus é a causa do esquecimento de parte da tua iniqüidade. No seu zelo de
contradizer a lamentação de Jó de que Deus esquadrinha e sem misericórdia
destaca cada pecado seu (cons. 10:6,14), afligindo-o desproporcionalmente às
suas iniqüidades, Zofar aventura-se a modificar a teoria dos outros dois amigos
que é a da proporção direta – mas na direção oposta de Jó! Eis aqui o clímax da
condenação no primeiro ciclo. Jó 11:6 é de vital importância; conclui a
acusação mas também introduz a sabedoria insondável de Deus (cons. 5:9).
7. Porventura
... penetrarás
até à perfeição do Todo-poderoso. Através de sua sabedoria infinita Deus
compreende e controla a criação em sua altura, profundidade, comprimento e
largura (vs. 8,9).
10b. Quem o
poderá impedir?
Se Deus quer levar um homem a juízo, o homem não pode escapar. Zofar assim
apóia a conclusão à que Jó já chegara devido à absoluta sabedoria de Deus, isto
é, de que resistir a Ele é futilidade (cons. 9:12; 10:7b). Mas enquanto Jó já
tinha apelado à onisciência divina vindicando sua inocência (10:7a), Zofar
fá-lo para convencer Jó do pecado: (Ele) vê a iniqüidade (v. 11b). Tendo
condenado Jó abertamente, e sendo ele mesmo ignorante de qualquer evidência
direta para consubstanciar sua acusação, Zofar acha conveniente suplementar sua
própria ignorância com a onisciência do Todo-poderoso. Ele teria feito melhor
uso de sua excelente doutrina da incompreensibilidade de Deus, entretanto, se
tivesse humildemente reconhecido as limitações de seu próprio conhecimento da
providência divina e não tivesse a presunção de entender os sofrimentos de Jó
até a perfeição. Esta verdade da sabedoria inescrutável de Deus, embora
tristemente manipulada por Zofar, é a doutrina que deveria ter aquietado o
espírito de Jó e silenciado suas queixas. Levando-a em conta com mais
seriedade, Jó e também os seus amigos teriam reconhecido que os seus
sofrimentos eram compatíveis com a piedade exemplar de um lado e o favor divino
do outro. É especialmente pela proclamação de sua incompreensibilidade que o
próprio Senhor mais tarde liberta Jó àe suas tentações. Assim o autor do livro
emprega novamente uma velada antecipação. Em 11:12 ele usa outro artifício,
favorito, concluindo um argumento com um provérbio. Ele cita a asnice dos
homens estúpidos como um realce para a sabedoria divina que é infinita.
13-20. Compare
exortação semelhante de Elifaz (5:8 e segs.) e Bildade (8:57, 20-22).
Contrariando a opinião pessimista de Jó (9:28 e
10:15),
a busca do favor divino teria sucesso (v.15). Pelo menos seria precedida de
completo arrependimento, abrangendo o coração, a mão e o lar (vs. 13,14; cons.
Sl. 24:4). Apresentando esta condição Zofar consegue insinuar uma acusação no
meio da consolação. A renovação do favor divino será acompanhada de restauração
da prosperidade, na qual a presente angústia será esquecida como de águas que
passaram (v. 16b). Também, contrariando os presságios de Jó de trevas sem
alívio (10:21, 22), um novo despertar da esperança, segurança pacífica e honra,
como as de antigamente, estão a sua espera (vs. 17-19).
20a. Mas os
olhos dos perversos desfalecerão. A crescente suspeita de Zofar em
relação a Jó sugere a prudência de sua consolação sazonada e incrementada com
admoestações. Ele conclui identificando a única esperança dos ímpios com a
morte, em palavras que claramente lembram a descrição das perspectivas do
próprio Jó. O padrão de Zofar de arrependimento e restauração tinha de ser
posto em prática; mas de maneira que o surpreenderia.
Jó 20
e) Segundo Discurso de Zofar. 20:1-29.
Jó tocou tais acordes da verdade redentora que
faria vibrar a anjos, mas Zofar, tendo ouvidos, não ouve. Ele está enamorado da
canção de Elifaz e junta-se em harmonia com Bildade, continuando a balada do
homem mau. Infelizmente, Zofar com demasiada freqüência sente-se satisfeito
demais para extrair inspiração para seus poemas líricos do monte de esterco
onde seus amigos encontraram Jó.
3a. Eu ouvi a repreendo, que me envergonha. Com a ameaça da
perseguição divina para vingar o sangue de Jó (cons. 19:29), Zofar ferve de
raiva. Ele se apressa a redistribuir o papel dos atores, fazendo de Jó um
criminoso sobre o qual Deus descarrega a vingança pela opressão dos pobres (v.
19). De acordo com todos os amigos, a alegada prosperidade dos incrédulos é
enganadora, evanescente. Elifaz destacou a contínua falta de paz interior dos
incrédulos; Bildade apontou para sua perpétua desolação; Zofar enfatiza sua súbita
vingança no pináculo de sua carreira voraz. Enquanto sua ambição está nas
nuvens (v. 6) e os seus ossos . . . cheios de vigor (v. 11), quando ele acabou
de saborear o pecado como um petisco delicado (vs. 12, 13, 15a), na plenitude
da sua abastança (v. 22) – então o Vingador o surpreende (v. 23). O versículo
27 é uma contradição direta da esperança de Jó (cons. 16:18,19; 19:25) e serve,
no caso de haver alguma dúvida na mente de Jó, para identificar o homem mau de
Zofar.
Jó 21
f)
A Segunda Réplica de Jó a Zofar. 21:1-34. Os acusadores, cegos à transparente
sinceridade de Jó, antes negaram e não explicaram o mistério de suas aflições.
Mas fortalecido agora na esperança, Jó se levanta acima do seu desapontamento
com respeito a eles e toma a iniciativa do debate. Seus olhos, uma vez abertos
por sua própria estranha experiência com a falácia da ordeira noção tradicional
da retribuição, percebe que a história tem abundância de casos
"excepcionais". Depois de um pedido preliminar para que lhe prestem
atenção (vs. 2-6), ele continua solapando a oposição e denunciando a falácia em
suas análises sobre a sorte dos incrédulos (vs. 7-34).
2b. Isso me será
a vossa consolação.
Seus ouvidos abertos proporcionavam mais conforto do que suas bocas (cons.
sarcasmo semelhante na resposta a Zofar em 13:5). A força do argumento de Jó
deveria silenciá-los (v. 5). 7-34. Jó descreve a prosperidade dos perversos,
primeiro em termos gerais (vs. 7-16), depois contradizendo as especificas
apresentações dos amigos (vs. 17-26) e finalmente através de sua autodefesa
(vs. 27-34).
7-16. Como é. .
. ?
A aparente iniqüidade da vida, embora apóie o caso de Jó, perturba-o (cons. v.
6) precisamente porque ele reconhece que Deus governa tudo (vs. 9b, 16a). É
prova da integridade de Jó que, mesmo em sua miséria, ele não trocaria de lugar
com os ricos incrédulos (16b). Jó, contudo, não valoriza suficientemente a
necessidade da graça divina para a continuidade da raça decaída neste mundo.
Além disso, falta-lhe a compreensão do alvo evangélico da graça comum
desfrutada pelos incrédulos (Rm. 2:4; cons. Mt. 5:45).
17-26. Quantas
vezes (v. 17).
O patriarca desafia as estatísticas sobre as quais os acusadores descansam
(cons. v. 29). O próprio Jó exagera, mas está mais perto da verdade do que seus
oponentes. Em 21:19a Jó antecipa uma possível evasiva (cons. 5:4; 20:10) e a
refuta (21:19b-21). Os verbos nos versículos 19b, 20 tem a força da ordem; por
exemplo, Seus próprios olhos devem ver a sua ruína (v. 20a). Acaso alguém
ensinará ciência a Deus? (v. 22a). A teoria tradicional constitui uma crítica
disfarçada dos verdadeiros caminhos de Deus (vs. 23-26).
27b. Conheço os vossos pensamentos. Jó reconheceu
a sua imagem nos seus retratos velados.
29a. Porventura não tendes interrogado os que viajam?
Embora os amigos recomendem suas observações como lei primeva (cons. 20:4), não
passam de teóricos de torre de marfim, fora do contato com a vida real (cons.
comentários sobre 4:2-11).
30. Os maus são
poupados no dia da calamidade, são socorridos no dia do furor? Jó
insiste que a morte de tais homens é freqüentemente fácil (vs. 13b, 23) e
honrosa (32, 33). A avaliação que Jó faz da carreira dos injustos carece de uma
ênfase equilibrada (encontrada até certo ponto nos discursos dos amigos) sobre
sua falta de paz espiritual durante a vida e a perdição depois dela. Mas
furando o balão da retribuição hermética, Jó deixa seus acusadores apegados à
falsidade (v. 34).
Jó (Comentário
Bíblico Moody)
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