segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Lição 8: A Teologia de Zofar: O Justo não Passa por Tribulação?



TEXTO ÁUREO

“E terás confiança, porque haverá esperança; olharás em volta e repousarás seguro.” 

                                     (Jó 11.18)

VERDADE PRÁTICA

Segundo as Escrituras, até mesmo o justo passa por tribulação.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Jó 11.1-10; 20.1-10

Jó 11

1 - Então, respondeu Zofar, o naamatita, e disse:

2 - Porventura, não se dará resposta à multidão de palavras? E o homem falador será justificado?

3 - Às tuas mentiras se hão de calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe?

5 - Mas, na verdade, prouvera Deus que ele falasse e abrisse os seus lábios contra ti,

6- e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade.

7 - Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso?

8 - Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber?

9- Mais comprida é a sua medida do que a terra; e mais larga do que o mar.

10 - Se ele destruir, e encerrar, ou juntar, quem o impedirá?

 

Jó 20

1 - Então, respondeu Zofar, o naamatita, e disse:

2 - Visto que os meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso.

3 - Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento responderá por mim.

4- Porventura, não sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a terra,

5 - o júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas, apenas de um momento?

6- Ainda que a sua altura suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens,

7 - como o seu próprio esterco perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está?

8 - Como um sonho, voa, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite.

9- O olho que o viu jamais o verá, nem olhará mais para ele o seu lugar.

10 - Os seus filhos procurarão agradar aos pobres, e as suas mãos restaurarão a sua fazenda.

                OBJETIVO GERAL

Mostrar que Zofar, assim como seus amigos, defende que os ímpios sempre serão punidos e os justos recompensados.

               OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

Destacar no entendimento de Zofar que o sofrimento de Jó fazia parte de um sábio julgamento divino;

Explicitar que a conversão defendida por Zofar era de natureza legalista;

Esclarecer que a teologia de Zofar limita a soberania Deus na sua capacidade de julgar.

                  INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Nesta lição estudaremos o discurso do terceiro amigo de Jó, Zofar. A tese que este último defende é a de que o justo não passa por tribulação. Ou seja, para ele, se houver tribulação é porque não há justiça na vida da vítima. Essa teologia já esteve muito presente em nosso país. A ideia de que o sofrimento, as tribulações da vida e outros dilemas humanos não são para o cristão, não é de todo nova. Entretanto, as Escrituras nos mostram claramente que quem está em Cristo, não significa que tenha ausência de problemas e provações, mas que há uma grande diferença na forma de passar por eles: uma firme convicção de que Cristo passa junto.

                       INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos o discurso de Zofar, o último amigo de Jó a falar na série de debates (Jó 11; 20). Ele insistirá na tese de que o justo não passa por tribulação, à semelhança do que pensavam seus amigos Elifaz e Bildade. Todavia, Zofar é mais duro e impiedoso na acusação contra Jó. Ao contrário de seus amigos, ele faz dois discursos suficientes para derramar seu ressentimento contra o patriarca. Ele o acusa de se levantar contra sabedoria divina e aconselha Jó a voltar-se para Deus. 

PONTO CENTRAL

O justo passa por tribulação. 

Lição 8: A Teologia de Zofar: O Justo não Passa por Tribulação? 

Capítulo 08 – A teologia de zofar: o justo não passa

por tribulação?

LIÇÕES BÍBLICAS CPAD — O sofrimento e a restauração de Jó

 

 

                    TEOLOGIA COM VINAGRE 

   Dos  três  amigos  de  Jó,  Zofar   é  o  mais  impiedoso.  Adam  Clarke (2014,  p.  15)  diz  que  os  seus  discursos  são  avinagrados.  A  teologia  de Zofar,  portanto,  é  azeda  e  amarga.  De  fato,  Zofar  não  poupa  palavras duras  e  críticas  ácidas  a o  combalido  Jó.  Para  os  Pais  da  Igreja,  Zofar  era um  acusador  falso  e  um  homem  cheio  de  ressentimentos  (Oden,  2010,  p. 103).  Crisóstomo,  Gregório  e  Efrén  acreditavam  ser  possível  aproveitar parte  da  sua  teologia  para  trazer  ensinamentos  morais  à  Igreja  (Oden, 2010,  p.  103).  A  patrística  seguia  o  conselho  apostólico:  “Examinai  tudo. Retende o bem” (1 Ts 5.21). 

     Zofar  é  o  mais  jovem  e  o  último  a  falar.  Ele  demonstra -se incomodado porque acredita que os amigos não foram hábeis o suficiente para  argumentar  com  Jó.  Em  vez  disso,  ele  acreditava  que  a  lábia  de  Jó fizera-os ficar calados. Ele, porém, não se convencera nem um pouco  com toda  a  argumentação d e  Jó. Era hora  de  falar. Daniel  Estes  (2013,  p. 2239) destaca:   

     Zofar  percebe  que  Elifaz  e  Bildade  não  responderam adequadamente  a  Jó,  então  ele  decide a ceitar  o  desafio.  De  fato,  ele  considera  como  seu  dever  moral  defender  a  justiça  de  Deus silenciando  os  argumentos  de  Jó.  Zofar  descarta,  impaciente,  os longos  discursos  de    como  “todas  essas  palavras”,  o  que  implica que  a  quantidade  de  palavras  não  mede  a  qualidade  de  sua percepção.  Na  literatura  da  sabedoria,  falar  muitas  palavras costuma  estar  mais  relacionado  à  loucura  do  que  à  sabedoria  (Pv 10:19; 17:27;  Ec.  5:  2).  Assim,  por sua  pergunta retórica no  versículo 2, Zofar implica q ue ele considera Jó um tolo que fala demais.  

    Enquanto  os  seus  outros  dois  amigos  proferira m  três  discursos, Zofar  profere  apenas  dois  (Jó  11;  20 ).  A  teologia  de  Zofar  é  encontrada nesses  discursos  (Clarke,  2014,  p.15).  Zofar   acreditava  que    queria justificar  a  si  mesmo  e  repete  o  que  ele  teria  dito:  “A  minha  doutrina  é pura;  limpo  sou  aos  teus  olhos”  (11.4;  cf.  9.21;  10.7).  Na  mente  d e  Zofar, isso  revelava  arrogância  e  podia  ser  considerado  como  declaração pecaminosa.  Dessa  forma,  Zofar  está  convencido  de  que  Deus  é sapientíssimo em fazer Jó sofrer por conta dos seus pecados (11.1 -6). Zofar, portanto,  acreditava  que    merecia  sofrer  ainda  mais!  Não   adiantava nada    espernear, pois,  quando Deus  quer  agir,  ninguém  pode  levantar-se  contra  Ele  (11.7-11).  Contudo,  ele  acredita   que,  se    reconhecer  o  seu erro e comfessar o seu pecado oculto, Deus irá restaurá-lo à sorte de antes (11.12-20). 

 DEUS SEMPRE SABE O QUE ESTÁ FAZENDO

     “[...] e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia;  pelo  que  sabe  que  Deus  exige  de  ti  menos  do  que  merece  a  tua iniquidade” (Jó 11.6). O que está  nas entrelinhas dessa afirmação de Zofar é a sua convicção de que o sofrimento de Jó viera, de fato, em razão d e um pecado cometido. Estes (2013, p. 2222) destaca: 

      Ao  levar  o  princípio  da  retribuição  à  sua  conclusão  lógica,  Zofar insiste  que  o  sofrimento  procede  necessariamente  do  pecado. Parecendo  muito  confiante  em  seu  raciocínio,  como  se  falasse  por Deus  (11:  6),  Zofar  observa   que,  como    está  sofrendo,  ele necessariamente  deve  ter  pecado  (11:  1–6).  Ele  louva  a  sabedoria ilimitada de Deus, implicando a loucura de Jó.  

     Deus  estava  incontestavelmente  castigando  Jó.  Zofar  chegou  à conclusão  de  que  Deus,  na  sua  muita  sabedoria,  estava  executando  juízo sobre Jó: “Porque ele conhece os homens vãos  e vê o vício; e não o terá em consideração?”   (Jó  11.11).  Depois  que  ouviu  as  reclamações  de  Jó,  ele convencera-se  de  qu e  o  patriarca,  de  fato,  estava  sendo  castigado  por Deus, mas  não  na medida  em que  merecia. “Mas  o  homem vão  é  falto  de entendimento;  sim,  o  homem  nasce  como  a  cria  do  jumento  montês”  (Jó 11.12).  A  referência  a o  asno  feita  por  Zofar  tem  a  intenção  de  mostrar  a irracionalidade na fala de Jó. Ao não reconhecer a sua culpa, confessando o  seu  pecado,  Zofar  acreditava  que    agia  com  irracionalidade.  É  nesse sentido  que  ele  usa  um  antigo  provérbio  oriental  (Estes,  2013,  p.  2268). Robert Alden (1993, pp. 3790–3798) comenta:

   Aqui descreve um homem  que  é oco  ou vazio  em algum sentido.  O verbo,  presumivelmente  relacionado  ao  substantivo  que  significa “coração / mente” (usado no v. 13), ocorre em outro lugar apenas em Cantares  4 :9.  Pope,  seguido  por  Clines  (e  NCV),  entende  “asno” como  “burro  domesticado”.  Ele  usa  os  t ermos  “jumento  selvagem” seguido  de  “homem”  juntos  como  “ burro  selvagem”.  A  segunda linha  seria  então  traduzida  “quando  um  burro  selvagem  nascer manso”. Claramente, o argumento de Zofar era a impossibilidade de um burro selvagem nascer “humano” ou “manso”. Zofar parece ter implicado  nesses  versículos  que  os  argumentos  de    eram irremediavelmente “ enganosos”, “maus” e “sem sentido” (cf. v. 20).    

    O  que  fica  perceptível  no  discurso  do  amigo  de    é  a  repetição  de aspectos  dos  atributos  de  Deus    referidos  nos  discursos  anteriores.  Vez por outra, temas como “onipotência”, “soberania” e “sabedoria” voltam a aparecer  nos  argumentos  teológicos  dos  amigos  de  Jó.  A  intenção  desses amigos  é  fazer  u ma  defesa  de  Deus  frente  aos  queixumes  de  Jó,  que deixava evidente que o Criador estaria por trás dos seus infortúnios. Para eles,  portanto,  se  isso  fosse,  de  fato,  verdade,  era  porque    havia  feito alguma  coisa grave  ou  peca minosa que  justificasse esse  agir  por  parte  da divindade que eles defendiam. Ou Deus ou  Jó esta riam  com a razão,  mas nunca os dois ao mesmo tempo. Se Deus estivesse certo, Jó estaria errado; por  outro  lado,  se    estivesse  certo,  Deus  é  quem  estaria  errado.  Como Deus  não  erra  e  nem  age  com  injustiça,  então,  forçosamente,    havia cometido  algum  pecado.  Não  havia  uma  terceira  via.  Zofar  segue  nessa direção, agora pondo nessa intrincada equação o agir sábio de Deus como justificativa para a desafortunada situação de Jó.

     Schonberger (2012, p. 57) resume o pensamento de Zofar nessa parte do  seu  discurso:  Zofar  s e  refere  à  incompreensibilidade  de  D eus  — evidentemente  uma  incompreensibilidade  para  Jó:  “Acaso  podes  s ondar as  profundezas  de  Deus?”  (v.  7).  Zofar  descreve -a  utilizando  metáforas espaciais  que  medem  com  passos  a  incompreensibilidade  de  Deus simultaneamente  em  todos  os  pontos  cardeais:  na  altura,  na profundidade, na largura, na extensão/céu, Xeol, terra, mar (vv. 8-9). Mais tarde,    servir-se-á  de  imagem  semelhante,  não,  porém,  para   afirmar  a incompreensibilidade  de  Deus,  mas  para  lamentar  sua  ausência  (23.8-9). Assim como o ser de Deu s é inescrutável (v. 10). Ninguém pode opor-se à força  do  agir  divino.  Com  o  v.  11,  Zofar  parece  fazer  chegar  até    uma admoestação velada: sem precisar prestar muita atenção, Deus vê o crime, “ele  conhece  os  fazedores  de  ilusão”.  O  v.  1 2  poderia  ser  um  provérbio aceito  de  modo  geral.  Ele  aponta  para  algo  impossível:  desejaria  Jó inverter  a  ordem  divina  do  universo?  O  provérbio  também  poderia  ser  a  expressão  do  receio  de  qu e  Jó,  caso  permanecesse  a ferrado  a  seu  fal so ensinamento,  num  caso  perdido,  tornar-se-ia  um  “ cabeça-dura”,  que  tão pouco bom senso tem quanto um “jumento selvagem”.  

     A defesa da sapiência divina é um tema que aparece com frequência no livro de Jó. No seu debate com Jó, Zofar sai em defesa da sabed oria de Deus frente ao sofrimento de Jó. Todavia, Jó não vê nada de especial nesse tipo de  sabedoria defendida por Zofar por  acreditar que  ela não  passa de um  saber  humano.  Ness e  aspecto,  essa  sapiência  que  Zofar  diz  ser representante não era uma sabedoria  revelada, mas herdada. Esse tipo de saber    diz   também  possuir.  É,  todavia,  no  capítu lo  28  qu e    uma exposição da verd adeira sabedoria divina.  

   CONVERSÃO A DEUS   

    “[...] Se tu preparaste o teu coração, estendes as tuas mãos para ele” (Jó  11.13).  Na  segunda  parte  do  seu  discurso  (Jó  11.13 -20),  Zofar  dá conselhos  de  natureza  pastoral  para  Jó.  Ele  aconselha  a    “ estender  as mãos”  (v.  13)  como  uma  demonstração  da  sua  v olta  para  Deus.  Antes desse “estender as mãos”, Zofar destacou a necessidade de Jó “preparar o seu  coração”. Duas coisas  ficam em  destaque  nessas expressões de  Zofar. A primeira  é q ue, na  expressão da  espiritualidade, deve haver  uma parte interna que deve ser seguida por outra externa. Mas, como Zofar entende que    esconde  algum  pecado,  ele  aconselha-o  a  primeiramente  deixar  o mal que ele praticou. “Se há iniquidade na tua mão, lança-a para longe de ti e não deixes habitar a injustiça nas tuas tendas” (J ó 11.14). Zofar acredita que,  se    assim  procedesse, ele  iria  levanta r-se  com  firmeza  e  sem  medo (v.  15);  a   sua  miséria  seria  esquecida,  e  as  trevas  desvaneceriam  pela chegada  da  luz  (vv.  16,17).  Jó,  portanto,  recuperaria  novamente  a  sua confiança e repousaria em segurança (v. 20).

     Assim como os seus outros amigos, Zofar está certo apenas em parte. A  sua  teologia  apresenta  alguns  problemas .  Schonberg  (2011,  p.  59) observa  que  a  teologia  de  Zofar  a presenta  erros  que  são  fruto  da  sua ignorância teológica . Veja:

    Em  que  consiste  o  erro  de  Zofar?  Se  olharmos   para  o  conjunto  do livro, duas coisas sobressaem antes de mais  nada. De um lado, Zofar também  se  engana  quando  pressupõe  que    tenha  pecado.  De outro, porém, ele se engana, e engana um pouco a Jó, quando louva a  via  da  oração    que  ele  recomenda    como  um  caminho  do sucesso rápido. Obviamente, não percebe que o caminho para Deus, que    deve  percorrer,  é  um  caminho  que  conduz  pelo  “vale  das sombras  da  morte”  (cf.  Sl  23,4).  As  imagens  da  ventura  que  Zofar conhece  e  que  tira  da  tradição  tornam-se  imagens  do  enga no  e  de uma falsa promessa, quando  ele oculta o  preço que d eve ser pago  a fim  de  com  elas  crescer.  Dessarte,  Zofar    o  exemplo  de  um conselheiro e pastor de almas que diz a penas meia  verdade.       

    JUÍZO DIVINO

     No  seu  segundo  discurso  (Jó  20.1 -29),  Zofar  faz  u ma  contundente defesa da lei da retribuição. Não há dúvidas de que a lei  de causa e ef eito está  embutida  nas  suas  palavras.  Segundo  a  teologia  que  defende,  os ímpios  são  sempre  punidos .  Possivelmente,  em  nenhuma  outra  parte  d o livro  de  Jó,    uma  defesa  tão  contundente  da  doutrina  da  retribuição. Zofar (Clarke, 2014, p. 19) defende que os  ímpios são desventurados; que a  sua  alegria  é  breve  e  passageira  (1-9);  que,  tanto  o  ímpio  quanto  a   sua família são castigados (10-14); que ele perderá tudo o que adquiriu e cairá em  estado  de  miséria  e  penúria  (15-23).  Por  último,  tanto  ele  co mo  a família  morrerão  de  morte  violenta ,  sendo,  dessa  forma,  destruídos  (24 -29). 

    “[...] Porventura, não sabes tu que desde a  antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a terra, o júbilo dos ímpios é breve, e a alegria  dos hipócritas, apenas d e um  momento?” (Jó  20,4 ,5). Zofar  é  contundente na defesa  dessa  tese.  Esse  também  foi  o  argumento  dos  seus  dois  outros  amigos,  Elifaz  e  Bildade.  Na  literatura  sapiencial,  a  doutrina  da  punição dos  maus  é  um  tema  muito  frequente.  Nesse  tipo  de  literatura,  os  sábio s usam o contraste entre sábios e néscios, riqu eza e pobreza, maus e bons de forma  pedagógica  na  educação  dos  Jovens  (Schonberger,  2011,  p.  106). Portanto, o discurso de Zofar, embora não refletisse a realidade de Jó, não deve  ser  desprezado  no  seu  todo  po r  também  conter  princípios  que  são verdadeiros. Segundo Oden (2010, p. 154): 

Os pais  da igreja dão u ma interpretação quase unânime do segundo discurso  d e  Zofar.  Reconhecem  que  suas  palavras  são  moralmente corretas e merecedoras de atenção quando se referem a  um contexto geral  (Gregório,  Crisóstomo,  Isodad,  Orígenes,  Olimpiodoro),  mas também  reprovam  e  consideram  sem  fundamento  e  acusam  como sendo  falsa  quando  se  refere  ao  caso  específico  de    (Felipe,

Hesiquio).

    A  teologia   de  Zofar,  embora  tenha  elementos  de  verdade,  quando aplicada no caso específico de Jó, torna-se falha. Jó não é nenhum ímpio e nem está sofrendo porque fez por merecer. Zofar quer justificar a qualquer custo a razão do sofrimento de Jó. Dessa forma, ele magoa e fere Jó com as suas palavras, porque está firmemente convicto de que o amigo comporta-se como um ímpio.

    Somente os Maus São Punidos?  

    Respondeu,  porém,    e  disse:  Ouvi  atentamente  as  minhas  razões; e isto vos  sirva de consolação. Sofrei-me, e eu falarei; e, havendo eu falado,  zombai.  Porventura,  eu  me  queixo  a  algum  homem?  Mas, ainda  que  assim  fosse,  por  que  se  não  angustiaria  o  meu  espírito?

Olhai  para  mim  e  pasmai;  e  ponde  a  mão  sobre  a  boca,  Porque, quando  me  lembro  disto,  me  perturbo,  e  a  minha  carne  é sobressaltada  de  horror.  Por  que  razão  vivem  os  ímpios, envelhecem,  e  ainda  se  esforçam  em  poder?  A  sua  semente  se  estabelece com eles perante a sua face; e os s eus renovos, perante os seus  olhos.  As  suas  asas  têm  paz,  sem  temor;  e  a  vara  de  Deus  não está  sobre  eles.  O  seu  touro  gera  e  não  falha;  pare  a  sua  vaca  e  não aborta. Fazem sair as suas crianças como a um rebanho, e seus filhos andam  saltando.  Levantam  a  voz  ao  som  do  tamboril  e  da  harpa  e alegram-se ao som das flautas. Na prosperidade gastam os seus dias e  num  momento  descem  à  sepultura.  E,  todavia,  dizem  a  Deus: Retira-te  de  nós;  porque  não  desejamos  ter  conhecimento  dos  teus caminhos. Quem é o Todo-poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações? (Jó 2 1.1-15)

     “Respondeu, porém, Jó e disse: Ouvi atentamente as minhas razões; e isto vos sirva de consolação” (Jó 21.1,2).  Jó quer ser ouvido; por isso, ele pede  aos  seus  amigos  que  parem  para  escutá -lo.  Eles  precisavam  por  a mão sob re a boca (v. 5). Há muito, numa verdadeira ba teria d e debates, Jó escutara-os.  Agora  era  a  vez  de  eles  ouvirem.  Eles  precisavam  ficar  em silêncio  para  ouvir  a   pergunta  de  Jó:  “Por  que  razão  vivem  os   ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?” (Jó 21.7). Se era verdade que os maus sempre experimentavam um juízo severo aqui na terra, então por que  os  ímpios  desfrutam  de  longevidade?  Por  que  eles  desfrutam  d e prosperidade? Por que a sua fazenda cresce? Por que os seus filhos vivem em plena alegria? Por que isso é assim s e eles não querem saber de Deus?

     (Jó 21.14,15). Isso era u ma coisa visível, d e fácil constatação, mas os amigos de Jó, especialmente Zofar, não atentavam para isso

     Nas palavras de Schonberger (2 011, p. 111):  

   Quem reconhece a Deus como o fundamento de sua vida e se coloca no  caminho  da    dificilmente  pode  evitar  esta  pergunta  e  esta experiência.    a  experimentou  e  padeceu.  Ele  externa  suas experiências  e  questões  sem  rodeios    também  lá,  onde  elas contradizem ou parecem contradizer doutrina s piedosas. Satanás já havia  tocado  o  cerne  da    quando  perguntou  a  Deus:  “É  por  nada que Jó teme a Deus?” (1.9).

     Aqui,  mais  uma  vez,    antecipa -se  àquilo  que  tanto  o  salmista quanto Salomão questionaram: “Por que prosperam os ímpios?”. No livro de Eclesiastes, Salomão indagou: “Tudo isso vi nos dias da minha vaidade; há um justo que perece na sua justiça, e há um ímpio que prolonga os seus dias  na  sua  maldade”  (Ec  7.15).  Da  mesma  forma,  o  salmista  sentia -se incomodado  com  a  “prosperidade  dos  ímpios”  (Sl  73.3).    um  tolo  não enxergaria que essa é uma verdade evidente debaixo do sol.    

 A fragilidade humana e a soberania divina

 — O sofrimento e a restauração de Jó

 José Gonçalves

 


Capítulo  12  O  A Teologia de Zofàr

Introdução

Donald Grey Barnhouse fez uma declaração, certa feita,  que,  de  forma  surpreendente  e  maravilhosa, mostra tanto a transcendência como a imanência de Deus: “Nossos grandes problemas são pequenos para o infinito poder de Deus, mas nossos pequenos problemas são grandes para o seu amor de Pai”. O que Barnhouse enfatiza é que o Todo-Poderoso, embora transcenda infinitamente o homem em poder e sabedoria,  acha-se presente no dia-a-dia de  cada um de nós. Ele não se limitou a criar-nos; sustém-nos com os seus amorosos desvelos, cuidando até do azeite de nossa botija.

   Zofar, porém, não acreditava num Deus tão maravilhoso  assim.  Cria ele  num Deus  que,  apesar de haver criado o mundo, não se preocupa com este. Pois se acha demasiado ocupado com os assuntos das cortes celestes para enfastiar-se com o cotidiano humano. Que o patriarca Jó, por conseguinte, procurasse conforto noutra  parte;  de  Deus,  não  haveria  ele  de receber  qualquer lenitivo.

    Esse amigo de Jó tinha uma crença incompleta no Todo- Poderoso; era um perfeito deísta. Esquecia-se ele, porém, que, não  basta saber que  Deus  existe;  é  imprescindível  acreditar que o Deus infinito é também o amoroso Pai que estará sempre ao nosso lado.

             1. Quem Foi Zofar

Também  não  temos  muitas  informações  acerca  deste amigo de Jó. Sabemos apenas que era naamatita. Este adjetivo revela que Zofar era originário de Naamá, um pequeno remo que se achava, mui provavelmente, no território da moderna Arábia Saudita.

    Estamos  diante de um homem inteligente,  culto  e  que procurava descobrir as verdades divinas através da luz natural da razão.  Zofar,  à  semelhança de  seus  amigos,  não  era um teólogo; e, sim: um filósofo. Alguém que, tateando, buscava o Deus único e verdadeiro (At 17.27).

     Aliás, muitos eram os filósofos que, naquele tempo, circulavam por todo o Oriente a discutir os problemas da vida. Isto significa que a filosofia não nasceu propriamente na Grécia; tem o seu nascedouro na alma humana, pois foi exatamente na alma humana que o Senhor incrustou a eternidade. E esta impulsiona-nos a indagar, a perquirir, a problematizar, a operar corretamente os recursos intelectuais e espirituais, a fim de que, confrontando as realidades, venhamos a concluir: Deus realmente existe e tudo faz por restabelecer a sua comunhão com o ser humano. Asseverou mui apropriadamente J. Blanchard:  “Filosofia é a busca da verdade. Em Jesus, a busca termina”.

   II. 0  que É aTeologia de Zofar

   Como qualquer filósofo, possuía Zofar sua própria concepção de Deus. E esta, conforme veremos, era mais nociva do que a doutrina  de  Elifaz  e  a  de  Bildade.  Se  estes,  ainda  que distorcidamente, acreditavam num Deus que intervém, aquele, não. De acordo com a sua cosmovisão, achava-se Deus tão distante do ser humano, e de tal forma arredado dos mortais, que a estes era impossível qualquer contato com Ele (Dt 30.11-15). Logo: por que iria Deus se incomodar com os sofrimentos de Jó?

   Zofar desconhecia por completo o amor de Deus. Acreditava que o Todo-Poderoso, ao criar o homem, não tinha outro propósito a não ser mostrar o seu infinito e irresistível poder.

    A  criação  do  homem,  contudo,  não  foi  um  ato  de exibicionismo por parte de Deus. Foi uma alta e sublime demonstração de amor. Ele criou-nos porque já nos amava em sua  presciência;  amava-nos  de  forma  absoluta  e  inclusiva, predestinando-nos a todos à vida eterna. Logo, não criou Deus uns para a bem-aventurança eterna e outros para a eterna da- nação.  Se  o  homem,  porém,  rejeita-lhe  o  amor,  e  ignora  o chamamento  do  Evangelho,  certamente  perecerá.  A mensagem é clara:  “Quem crer e for batizado, será salvo; quem não crer já está condenado”.

     Sim, grande foi o amor que o Senhor Deus demonstrou ao criar-nos à sua imagem e semelhança. T. G. Jalland assim expressa este  importantíssimo postulado teológico:  “Deus não nos fez porque pretendia ganhar algo com isso, mas simplesmente por amor”. Então, por que iria Ele esquecer-se de seu pietíssimo servo? Jó não fora olvidado pelo Todo-Poderoso, embora todas aquelas circunstâncias apontassem neste sentido.

1.     O deísmo.

   O deísmo é uma doutrina, segundo a qual Deus realmente existe, mas não interfere na história humana nem se  interessa  por relacionar-se  com  as  suas  criaturas.  E uma  crença  bastante  encontradiça  nos  filósofos  gregos  e quantos lhes seguem as pisadas. Houve um momento, na história de Israel, que os judeus se fizeram deístas (Sf I.I2).Os magos de Babilônia eram, além de politeístas, deístas típicos:  “Porquanto a coisa que o rei requer é difícil,  e ninguém há que a possa declarar diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne” (Dn 2.11).Ao contrário do deísmo, não se limita o teísmo a defender a existência de Deus; afirma de igual modo que Ele deseja relacionar-se com o ser humano, e intervém em sua história (SI 8.1-9). Portanto, grande é a diferença entre o deísmo e o teísmo; o primeiro é herético e perigoso; o segundo é bíblico e teologicamente correto.

    2. O deísmo de Zofar.

    Supunha este que o homem, devido a sua pequenez e imperfeições, jamais alcançará os favores de Deus: “Mas, na verdade, prouvera Deus que ele falasse e abrisse os seus lábios contra ti, e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniqüidade.  Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo- Poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a terra; e mais larga do que o mar. Se dele destruir, e encerrar, ou juntar, quem o impedirá?” (Jó II.5-I0)

     Zofar não havia conseguido ainda ultrapassar a linha da especulação. Por isso, limita-se às meias verdades. E estas são piores do que as mentiras inteiras. Por acaso, não veio Satanás tentar ao Senhor com verdades incompletas e premissas aparentemente válidas? (M t 4.1-II). Cuidado com as astutas ciladas do adversário; ele mente até mesmo quando fala a verdade (E f6.II).

    Diante de todo aquele palavreado, como ficava Jó? Além das provações a que estava obrigado a sofrer, era constrangido a suportar um teólogo palavroso que, sublimando desmedidamente a transcendência de Deus, atribulava-o de maneira implacável. Ora, se estava o Todo-Poderoso de tal forma alongado do ser humano, que esperanças haveria para Jó? Quem poderia socorrê-lo naquela instância?

    Você já se sentiu alguma vez assim? Isolado? Abandonado, aparentemente, até pelo próprio Deus? Como encarar, pois, a transcendência e a imanência de Deus? (SI 22.1,2)

    III. Imanência ou Transcendência?

    Apesar de toda a sua dor, mostra Jó ao seu implacável amigo que, embora seja Deus transcendente, é também imanente:

   I.  A resposta de Jó.

      “Na verdade, que só vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria. Também eu tenho um coração  como vós  e não vos sou  inferior;  e quem não  sabe tais coisas como  estas? Eu sou irrisão para os meus amigos; eu, que invoco a Deus, e ele me responde; o justo e o reto servem de irrisão. Tocha desprezível é, na opinião do que está descansado, aquele que está pronto a tropeçar com os pés. As tendas dos assoladores têm descanso, e os que provocam a Deus estão seguros; nas suas mãos Deus lhes põe tudo. Mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e às aves dos céus, e elas to farão saber; ou fala com a terra, e ela to ensinará; até os peixes do mar to contarão. Quem não entende por todas estas coisas que a mão do SENHOR fez isto, que está na sua mão a alma de tudo quanto vive, e o espírito de toda carne humana?” (Jó.I-IO).

  2.  Avaliando  a teologia  de  Zofàr.

    Em  sua  breve,  mas conclusiva alocução, reafirma Jó algumas verdades que os teólogos atuais  deveriam assimilar,  ao invés de se perderem em sofismas e falsas premissas: Deus é tanto transcendente quanto imanente. Vejamos, pois, antes de mais nada, o real significado da transcendência e da imanência divinas.

a) Transcendência. È o conjunto dos atributos que ressaltam a infinita superioridade de Deus em relação às suas criaturas: eternidade, infinitude, imensidade, imarcescibilidade.

b) Imanência. Embora seja Deus transcendente, não se encontra à parte de sua criação; acha-se presente nesta através destes  atributos: onipresença,  onisciência e onipotência.  Há de se ressaltar, porém, que, conquanto esteja ele presente na criação, não se  confunde com esta. Erram aqueles  que afirmam que Deus é tudo, e tudo é Deus.Por conseguinte, não obstante Deus habitar nas  alturas jamais  imaginadas,  e apesar de  infinito e insondável, não se encontra alheio às suas criaturas. Acompanha-nos desde a concepção (SI 139.13-17). Ele se preocupa tanto com o destino dos  grandes  impérios,  quanto  das  coisas  que  nos  parecem mínimas e até desprezíveis (Dn 4.31-37; I Rs 17.14-16).

    A teologia de Zofar,  a despeito  de  grandiloqüente  e sentenciai, não passava de alinhavos de uma sabedoria já foi-clórica (Jó  I2.I).  Por  isto,    argúi  a Zofar estar o Todo- Poderoso tão preocupado com a sua criação que não se descuida sequer das alimárias (Jó 12.7-10). Também não foi esta a resposta que o Senhor deu ao profeta Jonas? (Jn 4.I0.I I)ConclusãoTranscendente ou imanente? A teologia dos últimos dois séculos orbitou em torno de ambos os conceitos. De um lado, os  teólogos  que,  realçando  a  transcendência  de  Deus, minimizaram-lhe a imanência. De outro, os teólogos que, sublimando a imanência divina, esqueceram-se da transcendência, como se fora algo de somenos importância.

    Os amigos de Jó achavam-se divididos em ambos os pólos.  Elifaz  e  Bildade  haviam  de  tal  forma  vulgarizado  a imanência de Deus, que supunham estar o Senhor disposto a manter um relacionamento meramente comercial e mercantil com as  suas  criaturas.  Enquanto  que Zofar,  de tal maneira superestimou a transcendência divina, que veio a concluir estar o Todo-Poderoso tão distante de suas criaturas, que não lhes prestava qualquer atenção, nem perdia tempo intervindo na história particular de cada uma destas.Deus não é somente imanente e transcendente. E, acima de tudo,  condescendente:  “Porque assim diz o  Alto  e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).

    Caso  você  se  encontre  atribulado,  há um Deus  que  se importa  com  o  seu sofrer.  Ele  tanto  se  ocupa  dos  grandes negócios do mundo como da falta da farinha em sua panela.

Este é o nosso Deus!

Aleluia!

                                COMENTÁRIO DE JÓ CLAUDIONOR DE ANDRADE

 

 

Jó 11

e) Primeiro Discurso de Zofar. 11:1-20.

 Jó reagiu à concentração de Elifaz e Bildade no seu status judicial com protestos cada vez mais intensos de inocência. Estes por sua vez provocaram os amigos a uma aplicação ainda mais consistente de suas teorias, até que Zofar agora bruscamente condena a alegada iniqüidade de ló (vs. 1-6). Ele suporta sua acusação apelando à infinidade de Deus (vs. 7-12), concluindo contudo com uma afirmação de prosperidade restaurada (vs. 13-20).

1-6. Jó insistira que Deus o tinha afligido quando sabia ser ele justo (v. 4; com. 9:21; 10:7). Isto, destaca Zofar, contradiz a teoria tradicional, é irreligiosidade e não pode ser permitido que permaneça como a última palavra.

2b. Acaso tem razão o tagarela? As costumeiras cortesias introdutórias, inteiramente dispensadas por Bildade, são agora aviadas por Zofar com tanta pressa e falta de gosto que a acusação funde-se com a apologia.

5. Falasse Deus e abrisse os seus lábios contra ti. Jó parece irreprimível na controvérsia com seus companheiros; mas se ele tivesse a liberdade de conseguir a coisa que ele mais almeja, um debate franco com Deus (cons. 9:35), seria silenciado.

6b. Sabe, portanto, que Deus permite seja esquecida parte da tua iniqüidade. Mais literalmente, Deus é a causa do esquecimento de parte da tua iniqüidade. No seu zelo de contradizer a lamentação de Jó de que Deus esquadrinha e sem misericórdia destaca cada pecado seu (cons. 10:6,14), afligindo-o desproporcionalmente às suas iniqüidades, Zofar aventura-se a modificar a teoria dos outros dois amigos que é a da proporção direta – mas na direção oposta de Jó! Eis aqui o clímax da condenação no primeiro ciclo. Jó 11:6 é de vital importância; conclui a acusação mas também introduz a sabedoria insondável de Deus (cons. 5:9).

7. Porventura ... penetrarás até à perfeição do Todo-poderoso. Através de sua sabedoria infinita Deus compreende e controla a criação em sua altura, profundidade, comprimento e largura (vs. 8,9).

10b. Quem o poderá impedir? Se Deus quer levar um homem a juízo, o homem não pode escapar. Zofar assim apóia a conclusão à que Jó já chegara devido à absoluta sabedoria de Deus, isto é, de que resistir a Ele é futilidade (cons. 9:12; 10:7b). Mas enquanto Jó já tinha apelado à onisciência divina vindicando sua inocência (10:7a), Zofar fá-lo para convencer Jó do pecado: (Ele) vê a iniqüidade (v. 11b). Tendo condenado Jó abertamente, e sendo ele mesmo ignorante de qualquer evidência direta para consubstanciar sua acusação, Zofar acha conveniente suplementar sua própria ignorância com a onisciência do Todo-poderoso. Ele teria feito melhor uso de sua excelente doutrina da incompreensibilidade de Deus, entretanto, se tivesse humildemente reconhecido as limitações de seu próprio conhecimento da providência divina e não tivesse a presunção de entender os sofrimentos de Jó até a perfeição. Esta verdade da sabedoria inescrutável de Deus, embora tristemente manipulada por Zofar, é a doutrina que deveria ter aquietado o espírito de Jó e silenciado suas queixas. Levando-a em conta com mais seriedade, Jó e também os seus amigos teriam reconhecido que os seus sofrimentos eram compatíveis com a piedade exemplar de um lado e o favor divino do outro. É especialmente pela proclamação de sua incompreensibilidade que o próprio Senhor mais tarde liberta Jó àe suas tentações. Assim o autor do livro emprega novamente uma velada antecipação. Em 11:12 ele usa outro artifício, favorito, concluindo um argumento com um provérbio. Ele cita a asnice dos homens estúpidos como um realce para a sabedoria divina que é infinita.

13-20. Compare exortação semelhante de Elifaz (5:8 e segs.) e Bildade (8:57, 20-22). Contrariando a opinião pessimista de Jó (9:28 e

10:15), a busca do favor divino teria sucesso (v.15). Pelo menos seria precedida de completo arrependimento, abrangendo o coração, a mão e o lar (vs. 13,14; cons. Sl. 24:4). Apresentando esta condição Zofar consegue insinuar uma acusação no meio da consolação. A renovação do favor divino será acompanhada de restauração da prosperidade, na qual a presente angústia será esquecida como de águas que passaram (v. 16b). Também, contrariando os presságios de Jó de trevas sem alívio (10:21, 22), um novo despertar da esperança, segurança pacífica e honra, como as de antigamente, estão a sua espera (vs. 17-19).

20a. Mas os olhos dos perversos desfalecerão. A crescente suspeita de Zofar em relação a Jó sugere a prudência de sua consolação sazonada e incrementada com admoestações. Ele conclui identificando a única esperança dos ímpios com a morte, em palavras que claramente lembram a descrição das perspectivas do próprio Jó. O padrão de Zofar de arrependimento e restauração tinha de ser posto em prática; mas de maneira que o surpreenderia.

 

Jó 20

 e) Segundo Discurso de Zofar. 20:1-29.

 Jó tocou tais acordes da verdade redentora que faria vibrar a anjos, mas Zofar, tendo ouvidos, não ouve. Ele está enamorado da canção de Elifaz e junta-se em harmonia com Bildade, continuando a balada do homem mau. Infelizmente, Zofar com demasiada freqüência sente-se satisfeito demais para extrair inspiração para seus poemas líricos do monte de esterco onde seus amigos encontraram Jó.

 3a. Eu ouvi a repreendo, que me envergonha. Com a ameaça da perseguição divina para vingar o sangue de Jó (cons. 19:29), Zofar ferve de raiva. Ele se apressa a redistribuir o papel dos atores, fazendo de Jó um criminoso sobre o qual Deus descarrega a vingança pela opressão dos pobres (v. 19). De acordo com todos os amigos, a alegada prosperidade dos incrédulos é enganadora, evanescente. Elifaz destacou a contínua falta de paz interior dos incrédulos; Bildade apontou para sua perpétua desolação; Zofar enfatiza sua súbita vingança no pináculo de sua carreira voraz. Enquanto sua ambição está nas nuvens (v. 6) e os seus ossos . . . cheios de vigor (v. 11), quando ele acabou de saborear o pecado como um petisco delicado (vs. 12, 13, 15a), na plenitude da sua abastança (v. 22) – então o Vingador o surpreende (v. 23). O versículo 27 é uma contradição direta da esperança de Jó (cons. 16:18,19; 19:25) e serve, no caso de haver alguma dúvida na mente de Jó, para identificar o homem mau de Zofar.

Jó 21

f) A Segunda Réplica de Jó a Zofar. 21:1-34. Os acusadores, cegos à transparente sinceridade de Jó, antes negaram e não explicaram o mistério de suas aflições. Mas fortalecido agora na esperança, Jó se levanta acima do seu desapontamento com respeito a eles e toma a iniciativa do debate. Seus olhos, uma vez abertos por sua própria estranha experiência com a falácia da ordeira noção tradicional da retribuição, percebe que a história tem abundância de casos "excepcionais". Depois de um pedido preliminar para que lhe prestem atenção (vs. 2-6), ele continua solapando a oposição e denunciando a falácia em suas análises sobre a sorte dos incrédulos (vs. 7-34).

2b. Isso me será a vossa consolação. Seus ouvidos abertos proporcionavam mais conforto do que suas bocas (cons. sarcasmo semelhante na resposta a Zofar em 13:5). A força do argumento de Jó deveria silenciá-los (v. 5). 7-34. Jó descreve a prosperidade dos perversos, primeiro em termos gerais (vs. 7-16), depois contradizendo as especificas apresentações dos amigos (vs. 17-26) e finalmente através de sua autodefesa (vs. 27-34).

7-16. Como é. . . ? A aparente iniqüidade da vida, embora apóie o caso de Jó, perturba-o (cons. v. 6) precisamente porque ele reconhece que Deus governa tudo (vs. 9b, 16a). É prova da integridade de Jó que, mesmo em sua miséria, ele não trocaria de lugar com os ricos incrédulos (16b). Jó, contudo, não valoriza suficientemente a necessidade da graça divina para a continuidade da raça decaída neste mundo. Além disso, falta-lhe a compreensão do alvo evangélico da graça comum desfrutada pelos incrédulos (Rm. 2:4; cons. Mt. 5:45).

17-26. Quantas vezes (v. 17). O patriarca desafia as estatísticas sobre as quais os acusadores descansam (cons. v. 29). O próprio Jó exagera, mas está mais perto da verdade do que seus oponentes. Em 21:19a Jó antecipa uma possível evasiva (cons. 5:4; 20:10) e a refuta (21:19b-21). Os verbos nos versículos 19b, 20 tem a força da ordem; por exemplo, Seus próprios olhos devem ver a sua ruína (v. 20a). Acaso alguém ensinará ciência a Deus? (v. 22a). A teoria tradicional constitui uma crítica disfarçada dos verdadeiros caminhos de Deus (vs. 23-26).

 27b. Conheço os vossos pensamentos. Jó reconheceu a sua imagem nos seus retratos velados.

 29a. Porventura não tendes interrogado os que viajam? Embora os amigos recomendem suas observações como lei primeva (cons. 20:4), não passam de teóricos de torre de marfim, fora do contato com a vida real (cons. comentários sobre 4:2-11).

30. Os maus são poupados no dia da calamidade, são socorridos no dia do furor? Jó insiste que a morte de tais homens é freqüentemente fácil (vs. 13b, 23) e honrosa (32, 33). A avaliação que Jó faz da carreira dos injustos carece de uma ênfase equilibrada (encontrada até certo ponto nos discursos dos amigos) sobre sua falta de paz espiritual durante a vida e a perdição depois dela. Mas furando o balão da retribuição hermética, Jó deixa seus acusadores apegados à falsidade (v. 34).

Jó (Comentário Bíblico Moody)

 


 

 

 

 

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