quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Lição 6: A Teologia de Elifaz: Só os Pecadores Sofrem?

 

Texto Áureo

Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso mesmo.”

 (Jó 4.7,8)

Verdade Prática

Embora transcendente, Deus tem prazer em se relacionar com o homem terreno.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Jó 4.1-8; Jó 15.1-4; 22.1-5

Jó 4

1 – Então, respondeu Elifaz, o temanita, e disse:

2 – Se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás? Mas quem poderia conter as palavras?

3 – Eis que ensinaste a muitos, e tens fortalecido as mãos fracas.

4 –  As tuas palavras firmaram os que tropeçavam e os joelhos desfalecentes tens fortalecido.

5 – Mas agora, que se trata de ti, te enfadas; e tocando-te a ti, te perturbas.

6 – Porventura não é o teu temor de Deus a tua confiança, e a tua esperança a integridade dos teus caminhos?

7 – Lembra-te agora qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos?

8 – Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade, e semeiam mal, segam o mesmo.

Jó 15

1 – Então respondeu Elifaz o temanita, e disse:

2 – Porventura proferirá o sábio à sabedoria? E encherá do vento oriental o seu ventre,

3 – Arguindo com palavras que de nada servem, e com razões, de que nada aproveita?

4 – E tu tens feito vão o temor, e diminuis os rogos diante de Deus.

Jó 22

1 – Então respondeu Elifaz, o temanita, dizendo:

2 – Porventura será o homem de algum proveito a Deus? Antes a si mesmo o prudente será proveitoso.

3 – Ou tem o Todo-Poderoso prazer em que tu sejas justo, ou algum lucro em que tu faças perfeitos os teus caminhos?

4 – Ou te repreende, pelo temor que tem de ti, ou entra contigo em juízo?

5 – Porventura não é grande a tua malícia, e sem termo as tuas iniquidades?

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Neste mundo, só quem comete pecado sofre? Muitos têm uma percepção teológica parecida com a de Elifaz, conforme veremos nesta lição. A justiça retributiva, embora seja uma lei que está presente nas Escrituras Sagradas, nem sempre dá conta de toda a realidade. O Livro de Jó mostrará exatamente isso. O sofrimento que o patriarca passava nada tinha a ver com a consequência de algum pecado cometido no passado. E importante aprendermos essa lição a fim de não proferirmos julgamentos precipitados em relação ao sofrimento de um irmão ou de uma irmã em Cristo.

PONTO CENTRAL:

                                    Não só os pecadores sofrem.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, estudaremos o discurso de Elifaz. Ele é o primeiro amigo de Jó a expor sua concepção teológica acerca da situação degradante em que se encontrava o homem de Uz. Nesse sentido, veremos que, para Elifaz, a justiça retributiva é certa, ou seja, só os pecadores sofrem e os justos não passam por revezes. Para ele, Jó contrariou esse ensinamento, atacou a forma religiosa de pensar e, portanto, feriu a ortodoxia que deveria guardar. Finalmente, veremos também as respostas de Jó a cada acusação de Elifaz.

CPAD – Adultos – A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó

 

Capítulo 06 - A Teologia de Elifaz: só os Pecadores

Sofrem?

             UMA TEOLOGIA COM TRÊS EIXOS

  Após  o  lamento  de  Jó,  um  dos  seus  amigos ,  Elifaz,  o  temanita, profere  o  seu  primeiro  discurso  (Jó  4 –5).  Os  outros  dois  discursos  estão nos capítulos  15 e 22. Para termos um entendimento da teologia de Elifaz, é necessário ver os três eixos do seu pensamento teológico expostos nesses três capítulos. Se o  pensamento teológico de Elifaz ficar resumido apenas ao que ele disse no primeiro discurso, corre-se o risco de perder o que, de fato,  esse  sábio  pensava.  Evidentemente  que  o  pilar  do  seu  argumento teológico está no  seu  primeiro discurso.  Todavia, os  outros discursos não podem ser vistos apenas como desdobramentos  do primeiro. Na interação com Jó e, também, com os outros amigos, Elifaz introduz ideias novas nas suas últimas falas  que permitem termos uma visão  completa daquilo que ele cria e defendia. 

    Fica bastante claro que, no primeiro discurso (Jó 4–5), Elifaz faz uma defesa da justiça retributiva, que era um pensamento comum na literatura sapiencial. No segundo discurso (Jó 15), predomina o argumento em favor da  tradição  religiosa   dos  seus  dias .  E,  no  terceiro  discurso  (Jó  22),  é possível vê-lo pondo em relevo a transcendência  divina. Nesses três eixos nos quais se  firmou  a  sua argumentação  com  Jó, está  a  teologia  de Elifaz. A  patrística,  tanto  a  grega  quanto  a   latina  (Sionetti; Conti,  2010),  via  o discurso  de  Elifaz,  ta nto  d e  forma  positiva  como  negativa,  como  uma mistura de censura e estímulo. Para eles, havia  uma parte de verdade nas palavras  de  Elifaz  que  poderia  ser  usa da  como  ponto  de  partida   para temas  morais.  Por  um  lado,  eles  destacam  q ue  Elifaz  acusava    d e  estar em  pecado  e  que    estava  sofrendo  por  causa  da  sua  culpa,  o  que, evidentemente, era um equívoco. Por outro lado, a patrística entendia que também  havia  nas  fa las  de  E lifaz  ensinamentos  q ue  poderiam  ser  vistos como u m convite à prática das virtudes religiosas (Simonetti e Conti, 2010, p. 58).  

    UMA DEFESA DA JUSTIÇA RETRIBUTIVA (4.1 -8)

     Então, respondeu Elifaz, o temanita , e disse: Se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás?  Mas  quem  poderá  conter  as   palavras?  Eis  que ensinaste  a  muitos  e  esforçaste  as  mãos  fracas.  As   tuas  palavras levantaram  os  que  tropeçava m,  e  os  joelhos  desfalecentes fortificaste. Mas  a gora a   ti  te  vem,  e  te  enfadas;  e,  tocando-te  a  ti, te  perturbas. Porventura, não era o teu temor de Deus a  tua confiança , e  a  tua  esperança,  a   sinceridade  dos  teus  caminhos?  Lembra -te, agora:  qual  é  o  inocente  que  jamais  pereceu?  E  onde  foram  os sinceros  destruídos?  Segundo  eu   tenho  visto,  os  que  lavram iniquidade e semeia m o mal segam isso mesmo.

     As primeiras palavras que Elifaz dirige a Jó destilam cordialidade à maneira oriental. Nos versículos d e 1 a 7 do capítulo 4, Elifaz justifica por que  é  necessário  a  sua  intervenção  após  ter  ouvido  o  lamento  de  Jó (capítulo 3). Fica  perceptível que Elifaz faz parte do círculo de amigos mais íntimos  de  Jó,  pois  demonstra  conhecer  a  vida  e  rotina  do  patriarca.  Ele sabia, por exemplo, que Jó era um homem caridoso quando este fortaleceu as mãos dos  mais fracos muitas vezes. Mas o  inconformismo  de Jó d iante da  calamidade  que  se  abateu  sobre   ele  incomodou  Elifaz.  Possivelmente por ser o mais velho dos três, ele foi o primeiro a falar, como era o costume dos orientais.

     “Lembra-te,  agora:  qual  é  o  inocente  que  jamais  pereceu?  E   onde foram  os  sinceros  destru ídos?”  (4 .7).  Esse  é  o  ponto  de  parti da  da argumentação  de  Elifaz  e  o  centro  de  gravidade  do  primeiro  eixo  da  sua teologia:  o  inocente  não  sofre,  e  os  justos  não  passam  por  revezes.  Isso recebe o nome de justiça retributiva na teologia. Deus recompensa os bons e  pune  os  maus.  É  uma  espécie  de   lei  de  ca usa  e  efeito.  O  vocábulo “pereceu”  (4 .7)  traduz  a  palavra  hebraica  abad,  enquanto  o  vocábulo “destruídos”  é  a  tradução  de  kachad.⁶³  O  primeiro  termo,  além  de “perecer”,  possui  o  sentido  de  “arruinar”,  enquanto  o  segundo, “destruídos”,  também  significa  afetado,  desolado  (4.7;  15.28;  22 .20).  Na teologia de Elifaz, o inocente não poderia sofrer dano algum. É importante observar  que  E lifaz  usa  os  termos  “inocente”  (hb.  naki)  e  “sincero”,  no sentido  de  reto  (hb.  yashar),  quando  se  dirige  a   Jó.  Este  havia   sido chamado  por  Deus  de  yashar,  isto  é,  reto  e  justo.  Juliano  de  Eclano  (386 –455  d.C),  na  sua  o bra  Suas  Explicações  sobre  o  livro  de  Jó,  4.3,  via  ironia nas  palavras  de  Elifaz.⁶⁴  Se    achava -se  justo,  então  de  onde  viria  o  seu sofrimento,    que  os  retos  não  sofrem?  Elifaz  estava  convencido  de  que “a ira destrói o louco; e o zelo mata  o tolo” (5.2).

      “Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam  isso  mesmo”  (4 .8).  Elifaz  reforça  o  pensamento  que  expôs anteriormente,  agora  mostrando  o  reverso  do  que  ele  dissera. Anteriormente, ele havia dito que os justos e inocentes não sofrem; agora, ele declara que somente os maus passam por revezes. Essa assertiva, sem dúvida,  provocava  em    um  tremendo  desconforto,  pois  ele  sabia  onde esse  argumento  iria  chegar.  Elifaz  estaria  prestes  a  deduzir  que    estava em pecado, pois o seu sofrimento era uma prova disso. Se ele não estivesse em  pecado,  não  estaria  sofrendo,  pois  somente  os  maus  passam  por calamidades.  

        AMIGOS DISTANTES, UM DEUS  OCULTO (6.1-10) 

     Então,    respondeu  e  disse:  Oh!  Se  a  minha  mágoa  retamente  se pesasse,  e  a  minha  miséria  juntamente  se  pusesse  numa  balança! Porque, na verdade, mais pesada seria do que a areia d os mares; por isso  é  que  as  minhas  palavras  têm  sido  inconsideradas.  Porque  as flechas do  Todo-Poderoso estão  em mim,  e o   seu ardente veneno, o bebe  o  meu  espírito;  os   terrores  de  Deus  s e  armam  contra  mim. Porventura,  zurrará  o  jumento  montês  junto  à  relva ?  Ou  berrará  o boi junto  ao seu  pasto? Ou  comer-se-á sem sal  o que  é insípido? Ou haverá gosto na clara do ovo? A minha alma recusa tocar em vossas palavras,  pois  são  como  a  minha  comida  fastienta.  Quem  dera  que se cumprisse o meu desejo, e que Deus me desse o que espero! E que Deus  quisesse  quebrantar-me,  e  soltasse  a  sua  mão,  e  acabasse comigo!  Isto  ainda  seria  a  minha  consolação  e  me  refrigeraria  no meu  tormento,  não  me  poupando  ele;  porque  não  repulsei  as palavras do Santo.

    “Então,    respondeu  e  diss e:  Oh!  Se  a   minha  mágoa  retamente  se pesasse,  e a  minha miséria  junta mente  se  pusesse numa  balança!  Porque, na verdade, mais pesada seria do que a are ia dos mares; por isso é que as minhas  palavras  têm  sido  inconsideradas”  (6.1 -3).  Na  sua  primeira resposta  a  Elifaz,    diz  que  a  sua  situação  havia -se  tornado  um  fardo muito  pesado.    era  um  homem  angustiado,  e,  em  vez  de  ajudar,  Elifaz disse-lhe  que  “o  zelo  mata  o  tolo”  (5.3).  Isso  era  matar  de  vez  quem  já estava morrendo. As palavras de Jó, portanto, devem ser vistas a  partir da sua angustiante situação. A expressão “inconsideradas” ou “precipitadas” (AR) usada neste versículo traduz o hebraico luwa  e reflete, no  caso d e Jó, mais  a  forma  impetuosa  de  ele  falar.  Era  a  linguagem  do  aflito.  Era  a mesma  linguagem  usada  pelo  salmista.  Daniel  Estes  (2013,  p.  1318) observa o seguinte:

    O termo hebraico traduzido como “angústia”, ka‘as, tem o senso de irritação ou desespero. Nos salmos de lamento, as pessoas adversas se  voltam  para  Deus  em  seus  ka’as  para   implora r  por  sua intervenção  em  favor  deles  (Sal.  6:7;  10:14),  mas   o  mesmo  termo  é usado  em  Provérbios  12:16  para  advertir  que  “os  insensatos mostram logo a sua ira.”  Elifaz advertiu em 5:2 que ka’as mata o tolo, mas Jó aqui a firma qu e seu desespero o leva a falar impetuosamente (6:3).  O  leitor  deve,  portanto,  levar  em  conta  suas  fortes  emoções, porque às  vezes fazem Jó  expressar seus sentimentos à  custa d e ver as coisas claramente.  

        observa que  não  pode  contar  com  os seus  amigos. Eles não  estão dispostos  a  compartilhar  com  ele  os  seus  sentimentos.  “Assim  também vocês não me ajudaram em nada; veem os meus males e ficam com medo” (6.21,  NAA).  Ele  sente-se,  portanto,  que  está  sozinho.  “Meus  irmãos aleivosamente  me  trata ram”  (6.15).  A  fala  de  Elifaz  indicava   isso.  Elifaz havia  dito  que  o  Todo-Poderoso  era  quem  estava  disciplinando    (5.17). De  fato,    via  como  se  flechas  enviadas  por  Deus  tivessem  sido encravadas nele (6 .4). Jó conhecia Deus como a causa primária de todas as coisas.  Se  algo  aconteceu,  é  porque  ele  causou  ou  permitiu;  contudo,  ele desconhecia  as   causas  secundárias  que  agiam  nos  bastidores.  Nem  tudo era ação direta de Deus. O Diabo estava na trama. Por ignorar esses fatos, o  patriarca  acreditava  que  o  veneno  que  sorvia  vinha  de  flechas  atiradas por Deus. O silêncio de Deus deixa-o inquieto, aflito e questionador. Mas, mesmo assim, Jó não deixou de clamar a Deus: “Lembra-te d e que a minha vida é como o vento” (7.7). Andrés  Glaze (2005, p. 166) destaca:  

    Apesar  de  se  sentir  rejeitado  por  Deus ,  ele  de  alguma  forma acreditava  que  o  Todo -Poderoso  não  seria  indiferente  à   sua  vida, porque, apesar de suas calamidades, ele ainda era um homem justo.  Nisso, ele deu um grande passo em direção a um raio de luz que lhe daria esperança novamente (1 9:25-27).

      Por enquanto, Jó está apenas no começo de uma  longa jornada, mas ele    percebe  que  terá  de  dar  esses  passos  sozinho.  Os  amigos  não estariam  ao  seu  lado.  A  fala  do  amigo  Elifaz    sinalizou  nessa  direção. Deus  não  lhe  falara  nada.  Daqui  para  frente,  ele  terá  que  se  apoiar  nos valores  espirituais  e  morais  que  Deus  havia -lhe  dado  e  que  o  tinham mantido de pé durante toda a vida .

    O PESO DA TRADIÇÃO RELIGIOSA (15.1-10) 

     Então,  respondeu  Elifaz,  o  temanita,  e  disse:  Porventura,  dará  o sábio, em resposta, ciência de vento? E encherá o seu ventre de vento oriental,  arguindo  com  palavras  que  d e  nada  servem  e  com  razões que  de  nada  aproveitam?  E  tu  tens  feito  vão  o  temor  e  diminuis  os rogos diante de Deus. Porque a tua  boca declara a tua iniquidade; e tu  escolheste  a  língua dos  astutos. A  tua  boca  te  condena,  e  não  eu; e  os  teus  lábios  testificam  contra  ti.  És  tu,  porventura,  o  primeiro homem  que  foi  nascido?  Ou  foste  gerado  antes  dos  outeiros?  Ou ouviste  o  secreto  conselho  de  Deus  e  a  ti  somente  limitaste  a  sabedoria? Que sabes tu, que nós não saibamos? Que  entendes, que não haja em nós? Também há  entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai.

       “E  tu  tens  feito  vão  o  temor  e  diminuis  os  rogos  diante  de  Deus” (15.4).  Na  sua  réplica,  Elifaz  critica-o  por  achar  que  as  palavras  d e  Jó depõem  contra  a  tradição  religiosa.  Todas  as  religiões  possuem  as  suas crenças  e  os  seus  dogmas.  Dizendo  isso  d e  outra  forma,  toda  religião possui  a  sua  tradição.  Segundo  Wiliam  Coker  (1984,  p.  70 1),  tradição  é   a Crença,  valor  e  costume  transmitidos  de  uma  geração  para  outra  para preservar  a  continuidade  da  cultura  ou  da  instituição,  e  prover  a  cada geração  que  surge  a  influência  estabilizadora   de  sua  herança.  A  tradição provê u m  entendimento  dos  fundamentos d a  comunidade  e  das  relações entre o indivíduo e o grupo no qual participa. 

     Allen  e  Hughes  (1998)  d estacam  que  todos  nós  somos  frutos  de alguma  tradição.⁶⁵  Quem  professa  alguma  crença,  quer  queira  quer  não, possui alguma tradição religiosa, mesmo aqueles que acham que não tem nenhuma.  Nesse  aspecto,  dentro  do  cristianismo  histórico,   u ma tradição  católica  e  outra  protestante.  Dessa  forma,  convém  dizer  que  a tradição  não  é  um  mal  em  si.    boas  tradições,  assim  como  também  há tradições  ruins.  As  tradições  funcionam,  portanto,  como  uma  espécie  de paradigma  que    forma  àquilo  que  as  pessoas  creem  ou  aceitam  como válido.  Portanto,  é  muito  difícil  romper  contra  uma  tradição  ou  cos tume há  muito  tempo  enraizado  numa  cu ltura.  Essa  tradição  acaba  por  criar aquilo  que  Charles  Taylor  (2010)  denomina  de  “imaginário  social”,  uma forma  a crítica  de  enxergar  as  coisas.⁶⁶  Não  é  propriamente  uma cosmovisão,  u ma  forma  mais  completa  de  enxergar  as  coisas,  mas  uma visão  fragmentada  dos  fa tos.  Nesse  contexto,  alguém  pode  defender  as suas crenças e pontos de vista mesmo que nunca tenha refletido s obre eles. 

     Era  exatamente  isso  que  estava  acontecendo  no  contexto  de   Jó.  É nesse  aspecto  que  o  livro  de    vem  como  uma  quebra  de  modelo  ou paradigma. “Será que você ouviu o conselho secreto de D eus e detém toda a sabedoria ? O que você sabe, que nós não sabemos? O que você entende, que nós não entendemos?” (Jó 15.8,9, NAA). Essas são palavras de Elifaz. Para  ele,  era  uma  verdade  inconteste  que  Deus  recompensava  os  bons  e sempre punia os maus. Isso era uma tradição firmemente estabelecida. Jó não nega essa tradição, mas está  convicto, pela sua experiência, de que ela estava, no mínimo, incompleta e de que não s e ajustava ao seu caso. É esse o motivo do seu embate com os seus amigos, que, firmados numa tradição milenar,  estavam  convencidos  da  veracidade  das  suas  crenças.  Romper contra tudo isso era remar contra a correnteza. Mesmo sabendo dos riscos, Jó continua no contrafluxo da tradição. Convém, porém, destacar, como já ficou  sublinhado  neste  texto,  que  isso  não  quer  dizer  que  não  houvesse nada  certo  e  que  tudo  estava  errado  com  o  pensa mento  teológico  dos amigos  de  Jó.  Significa  dizer  que  eles  conheciam  apenas  uma  parte  dofatos, não tendo a inda a visão do todo. Isso Deus estava tr azendo por meio do longo sofrimento de Jó.  

     EM BUSCA DA JUSTIÇA (16.18-22)

     Ah!  terra,  não  cubras  o  meu  sangue;  e  não  haja  lugar  para  o  meu clamor! Eis que também, a gora, está a minha testemunha no céu, e o meu  fiador,  nas  alturas.  Os  meus   amigos  são  os  que  zombam  d e mim;  os  meus  olhos  se  desfazem  em  lágrimas  diante  de  Deus.  Ah! Se  alguém  pudesse contender  com  Deus  pelo  homem, como  o  filho do  homem  pelo  seu   amigo!  Porque,  decorridos  poucos  anos,  eu seguirei o caminho por onde não tornarei.

     Os  capítulos  16  e  17  são  reservados  para  as  repostas  de    ao segundo  discurso  de  Elifaz.  Alguns  escritores  antigos  viam  na  fala  de  Jó: “Deus me entrega aos ímpios e me faz cair nas mãos dos perversos” (16.11, NAA)  uma  referência  à   paixão  d e  Cristo  (Mc  15.28;  Mt  27.4 6).⁶⁷  Ainda nesse  capítulo,  no  versículo  19,    refere-se  à  necessidade  d e  ter  alguém que  intermediasse  um  encontro  dele  com  Deus.  Isso  aponta  para  a mediação  de  Cristo  e  será  exposto  d e  forma  mais  clara  no  capítulo  19.25. O fato é que Jó via-se encurralado pelo seu amigo, qu e o responsabilizava pela  situação  que  estava  passando  sem  levar  em  conta  o  que  ele  dizia.  Jó tinha  a  certeza  de  que  um  mediador  imparcial  e  justo,  que  parasse  para ouvir  a  sua  defesa,  sem  dúvida  alguma  ficaria  do  s eu  lado.  Ele  faria  o oposto  do  seu  amigo  que  o  acusava  de  forma  injusta  sem  nem  mesmo entrar  no  mérito  dos  seus  argumentos .  Daniel  Estes  (2013,  p.  3204) observa:

     Jó quer que uma testemunha advogue sua inocência (cf. 9 :33; 19:25), enquanto  Abraão  apela  a  Javé  por  seu  sobrinho    em  Gênesis  18. Mesmo  que  ele  não  tenha  id eia  de  que  Javé    falou  em  seu  nome contra  o  adversário  no  prólogo,    se  apega  à  esperança  de  qu e  ele terá um advogado para testemunhar por ele no céu. A interpretação cristã  posterior    a  obra  mediadora  d e  Cristo  nesta  declaração  e, também  em    19:25–27,  mas    não  tem  a  vantagem   de  conhecer essa revelação subsequente.   

     TRANSCENDÊNCIA SEM IMANÊNCIA (22.1-3;12) 

    Então,  respondeu  Elifaz,  o  temanita,  e  disse:  Porventura,  o  homem será  d e  algum  proveito  a  Deus?  Antes,  a  si  mesmo  o  prudente  será proveitoso.  Ou  tem  o  Todo -Poderoso  prazer  em  que  tu  sejas  justo, ou  lucro  algum  em  qu e  tu  faças  perfeitos  os  teus  caminhos?  [...] Porventura, Deus nã o está na altura dos céus? Olha para a altura das estrelas; quão elevadas estão!   

     No seu terceiro discurso, Elifaz expõe uma defesa da transcendência  de  Deus  (Jó  22).  O  conceito  que  ele  possuía  da  grandeza  d e  Deus  não destoa  daquele  que  encontramos  em  outras  porções  das  Escrituras.  O problema com  a  argumentação de Elifaz  não diz respeito  ao conteúdo  da sua doutrina,  mas, sim, à forma como era  interpretada e aplicada  por ele. Elifaz, então, usa esse conceito de transcendência para humilhar e rebaixar Jó. Para ele, Deus é onipotente, grandioso e majestoso e, devido a isso, não deveria  rebaixar-se  para  dar  atenção  a  um  pecador  como  Jó,  que  deveria reconhecer o seu lugar de insignificância e conformar-se com o julgamento punitivo do Senhor sob re ele.

     “Porventura,  Deus  não  está  na  altura  dos  céus?  Olha  para  a  altura das  estrelas;  quão  elevadas  estão!”  (22.12).  Fica  bastante  claro  que  Elifaz argumenta  em  defesa  da  transcendência  de  Deus,  que  é  a   doutrina  que destaca  a  supremacia  divina  em  relação  ao  Universo  cri ad o.  Nesse aspecto, Harris (1984, p. 703) destaca:  

     Duvidar  da   transcendência   de  Deus  é  duvidar  de  seu  caráter.  Sem nenhuma  base  de  juízo  absoluto,  não  se  pode  condenar  a  conduta humana [...]  a transcendência divina significa que  sobre o homem  e sobre  tudo  aquilo  qu e  é  terreno  está  o  Criador,  Preservador, Cuidador,  que    as  leis  e  é  um  juiz  independente.  O  homem  é dependente  deste  Deus  para  sua  própria  existência  e  suas  ações estão  sujeitas   a o  escrutínio  e  avaliação  de  Deus.  Porque  Deus  é transcendente  e  livre  para  atuar  em  e  sob re  a  sua  criação  sem  ser assimilado ou subjugado por ela. 

     Deus é o “totalmente outro”. Contudo, há um perigo quando não se compreende corretamente a transcendência de Deus. Corre-se o risco de a crença  em  Deus  ser  transformada  nu m  simples  deísmo.  Nas   palavras  de Willis  (citado  por  Harris,  1984,  p.  362),  “Deus,  uma  vez  que  criou  o universo,  se  apartou  dele”.  Dizendo  isso  de  uma  forma  mais  simples, quando  é  destacado  apenas  o  atributo  da  transcendência  divina    por exemplo,  a  sua  soberania  —,  Deus  é  transformado  num  déspota,  u m carrasco  que  age  sob re  a  sua  criação  sem  sentimento  algum.    vai contrapor-se a isso.

    “Mas  ele  s abe  o  meu  caminho  [...]”  (23.10).  Mesmo  sabendo  que Deus  estava  oculto  e  em  silêncio,    tinha  a  consciência  de  que  o  Senhor era um ser relacional. Deus não estava distante a ponto de não conhecer o seu caminhar. Harris (1984, p. 362) destaca: 

      É confortante  crer que Deus está presente em  toda a  sua  criação em forma  única  e  pessoal.  É  sua  singularidade  que  provoca  nossa adoração  e  é  sua  personalidade  que  nos  permite  crer   em  suas promessas  d e  graça,  em  sua  direção  e  cuidado.  Acima  de  tudo,  é  a certeza de sua santidade que o coloca como o juiz moral do universo. Porque Ele é santo, espera que  nós também sejamos santos. E esta  é a maior prova d e sua imanência : Deus presente na vida de cada um dos membros de seu povo.   

     Se  a  transcendência  divina  descamba  para   o  deísmo  quando  mal compreendida,  por  outro  lado  uma  compreensão  equivocada  da imanência  divina  pode  desemboca r  no  panteísmo  e  politeísmo.  De  uma forma simples, Deus  não está tão distante da sua criação (transcendência) a  ponto  de  não  se  relacionar  com  ela,  mas   também  não  está  tão  próxima (imanência) a   ponto  de  misturar -se  com ela .  Portanto,  o  contraste  entre  o entendimento  de  Elifaz,  que  via  Deus  de  forma  transcendente,  com  a resposta de Jó, que o via  também de forma imanente, permite que se  veja onde a teologia estava sendo mal aplicada. Uma  teologia  errada conduz a uma crença igualmente errada.  

A Fragilidade Humana e a Soberania Divina:

 Lições do Sofrimento e da Restauração de Jó

 


CAPÍTULO 10

Teologia de Elifaz

Introdução

O evangelista americano Stanley Jones, analisando  a ação  da graça divma no  coração  humano,  faz esta  belíssima  confissão:  “A  graça  me  comprou.  A graça me ensinou. A graça me prendeu. Agora a graça me possui”. Se hoje nos achamos afeitos a esta maravilhosa doutrina, até ao Século XVI, muito sofreram os cristãos por desconhecer a eficácia,  o alcance e a transcendência da graça de Deus na regeneração, na justificação  e  na santificação  daqueles  que,  pela fé, recebem a Cristo Jesus.

    Não pense você hajam sido os teólogos romanos os únicos a posicionarem-se contra a doutrina da graça. Era  a teologia de Elifaz em tudo  semelhante às apostilas da Santa Sé. O molesto amigo de Jó ensinava comprazer-se Deus com um relacionamento meramente comercial. Se lhe agradarmos; se lhe fizermos o que nos pede; se lhe atendermos às demandas, nenhum mal permitirá Ele venha sobre nós. Doutra forma, insinuava Elifaz, como nos haveremos diante de suas cobranças?

     Infelizmente, não são poucos os que servem a Deus, tendo como motivação esta teologia tão nociva. Conforme veremos mais adiante, o fato de servirmos fielmente a Deus não nos torna imunes às lutas, às dificuldades e às provações. Pelo contrário! Somos, às vezes, mais atribulados do que os ímpios. Mas, que importa? Se Cristo está ao nosso lado, haveremos de nos regozijar até nas adversidades. Esta é a obra da graça!

I.                  Quem Era Elifaz

Como todo oriental, mantivera-se Elifaz calado até aquele  instante em sinal de respeito  e simpatia pelo  amigo. Sete dias permanecera ele e seus dois outros companheiros diante de Jó. Emudecidos, quedaram-se num eloqüente mutismo. O que poderiam dizer-lhe? Que consolo haveriam de ministrar- lhe se a própria consolação já não tinha voz nem presença? Em certas ocasiões, como afirmou Rui Barbosa nas exéquias de Machado de Assis, o melhor discurso é o silêncio absoluto. No entanto,  como conter as palavras? Como segurar a frase que já se refaz em períodos de ansiedade?

      Tivera Elifaz mantido o silêncio inicial, não causaria tantos males a Jó. George Eliot zanga-se com tais falastrões: “Abençoado  o homem que, não tendo nada a dizer,  se  abstém de demonstrá-lo em palavras”. Buscando consolar a Jó, acrescenta-lhe amargura  sobre amargura. Insinua  que,  se o  patriarca sofria, era porque algum desaire cometera contra Deus. Mas quem era ele? Como veio a inserir-se num drama tão singular?

1.     Quem era Elifaz.

Elifaz é um nome que, em hebraico, traz um forte emblema: Meu Deus é forte. Infere-se daí tenham sido seus pais gente de reconhecida piedade. Pertencia ele ao seleto grupo de gentios que, apartados embora da comunidade de Israel, não se deixaram contaminar pela idolatria que, pouco a pouco, ia corrompendo a descendência de Sem. Até aquele momento, porém, não lograra a sua fé transcender o terreno do natural.

    Além de sua amizade com Jó, a única coisa que de Elifaz sabemos é a sua procedência. Era originário de Temã que, segundo se pode apurar, ficava no território que viria a ser ocupado pelos filhos de Edom. Alguns comentaristas são de opinião  de que esse diminuto reino não passava de um encrave localizado no Norte da Arábia Pétrea.

    O fato de haver Elifaz discursado em primeiro lugar revela sua avançada idade e posição social. Talvez fosse até o regente de Temã. Mostra-nos isto também que Jó era um homem bem relacionado. Entre os seus amigos, reis e príncipes.

2.     Elifaz: teólogo ou filósofo?

 Dos  discursos  de Elifaz, conclui-se não ter sido ele um teólogo como Enoque, Noé ou Jó. Se algum conhecimento possuía de Deus, não provinha este de uma relação experimental com o Todo-Poderoso; era fruto de suas  especulações.  Longe  de mim desmerecer tal conhecimento; Deus no-lo deixou, a fim de que nos aproximemos dEle (Rm 1. 18-21). Foi o que Paulo declarou aos filósofos epicureus e estóicos no Areópago de Atenas (At 17.22-32).

      Por não possuir um conhecimento revelado de Deus, pôs- se Elifaz a condenar a Jó através de uma teologia casuística e viciada (Jó 42.7). Acerca dos pronunciamentos de Elifaz e de seus companheiros, posiciona-se Donald Stamps:  “Embora as palavras dos três amigos de Jó estejam registradas nas Escrituras,  nem tudo que  eles  disseram é  absolutamente  correto.  O Espírito Santo registrou suas palavras, mas não as inspirou. No fim do livro, o próprio Deus declarou que boa parte daquilo que  eles  falaram não era bom (42.7,8). Algumas  afirmações deles  são realmente verdadeiras,  e  são repetidas no N T (e.g., parte  do  que  Elifaz  diz  em  5.13,  acha-se  em  I  Co  3.19). A teologia e a cosmovisão básicas desses conselheiros eram falhas. Eles criam (a) que os verdadeiros justos sempre prosperarão, ao passo que os transgressores sempre sofrerão, e (b) inversamente, a pobreza e o sofrimento sempre subentendem pecado, ao passo que prosperidade e sucesso subentendem retidão. Deus revelou posteriormente que tal atitude é errônea, e que o ponto de vista deles era “loucura” (42.7-9)”.

II.               A Teologia do Ordálio

O que teria pensado Elifaz naqueles sete dias de absoluto silêncio em que se quedara a contemplar a ruína do mais piedoso homem daquele tempo? Dado à reflexão; acostumado a meditar longamente sobre os problemas da vida; afeito às grandes operações intelectuais, veio a concluir: somente um inimigo de Deus e da humanidade haveria de ser submetido a um sofrimento tão singular.

     Tenho a impressão de que Elifaz considerava a provação de Jó como se fora um ordálio divino.

      I.  A prova do ordálio. Além de ser utilizado como prova judicial na Idade Média, era o ordálio admitido  como a expressão máxima do juízo divino. E funcionava mais ou menos assim: pairasse alguma dúvida sobre a inocência de um réu era este lançado, por exemplo, num caudaloso rio; se lograsse escapar,  tinham-no  por inocente.  Há na Lei  de  Moisés um recurso  judicial  que  pode  ser  visto  como  ordálio:  as  águas amargosas  dadas à mulher, cujo marido estivesse duvidando de sua fidelidade (Nm. 5.19-23). Fosse a mulher inocente, as águas nenhum dano lhe fariam; culpada, muito padeceria em conseqüência de seu pecado. Conquanto ainda praticado em algumas tribos africanas, o ordálio de há muito já não é aceito como prova judicial.Por conseguinte, via Elifaz a prova a que Jó era submetido como se fora o ordálio dos ordálios; desse julgamento o patriarca não sairia incólume. Aliás, todo aquele sofrer já era o cast igo de Deus  sobre Jó.  E se este não se  arrependesse,  certamente haveria de ser destruído como muitos antes dele o foram.

      2.  A teologia de Elifaz. Detenhamo-nos nalguns trechos do  discurso de Elifaz:  “Lembra-te, agora:  qual é  o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniqüidade e semeiam o mal segam isso mesmo. Com o hálito de Deus perecem; e com o assopro da sua ira se consomem” (Jó 4.7,8).

     Em linhas gerais, defendia Elifaz: se formos fiéis a Deus, e se lhe prestarmos a adoração que Ele nos requer,  seremos abençoados de tal forma, que nenhuma desventura nos atingirá. Mas se não lhe atendermos as demandas, e se lhe ignorarmos as leis, seus juízos nos  acharão.  O que é isto senão um escambo? Em linguagem popular: um toma-lá-dá-cá. Ressaltava Elifaz contentar-se Deus com um relacionamento meramente comercial com o ser humano.

     F. B. Meyer comenta a teologia de Elifaz:  “À luz desse pensamento, as calamidades sofridas por Jó pareciam provar que aquele homem que todos tinham considerado um modelo de perfeição não era o que se supunha. De acordo com essa filosofia, bastava que ele confessasse o seu pecado, e tudo voltaria ao normal e o sol tornaria a brilhar no seu caminho”.

     Como chegara Elifaz à semelhante ilação? Já contaminado teologicamente pela idolatria que grassava entre os filhos de Sem, presumia ele que o Todo-Poderoso poderia ser aplacado como o eram os ídolos. De conformidade com a teogonia gentílica,  requeriam  os  deuses  de seus  adoradores:  serviços, honras e oferendas. Se oferendados, contentar-se-iam com os seus devotos; protegê-los-ia. Se honrados, aprazar-se-iam de seus fiéis; abençoá-los-ia. Se adorados, deleitar-se-iam na companhia de seus crédulos; com estes habitaria e com estes andaria. E se ousasse alguém magoá-los? De imediato seria alvo da mais ardente ira.

     Longe de se ocuparem com a moral de seus devotos, os ídolos urgiam destes apenas uma coisa: irrestrita submissão. Afinal, eram os tais  deuses mais  debochados e imorais que os seus adoradores. Não era Dionísio o deus do vinho? Por que condenar os ébrios? E Afrodite, não era a deusa do amor carnal  e  concupiscente?  Por  que  reprovar  os  adúlteros  e fornicários? Não era Marte o deus da guerra? Por que estigmatizar os assassinos? Na Grécia, os pais, conquanto exortassem aos filhos a que venerassem aos deuses, advertia-os a não lhes imitarem as ações. Matthew Henry, lançando pesados reptos contra a idolatria, é mais do que categórico: “Os ídolos são chamados falsos porque desfiguram a Deus”. E o que fazia Elifaz naquele momento senão afear ao Todo-Poderoso? Demudava-o  de tal forma,  como  se o  Senhor não passasse de um comerciante qualquer.

      Se os deuses das gentes contentam-se com um relacionamento mercantil com seus adoradores, o Deus único e verdadeiro  exige  de  cada  um  de  seus  filhos  um  culto  racional  e comprovadamente amoroso.

     3.  Uma teologia sofismática. Qual a fonte da teologia de Elifaz? Não nascera ela em Deus; originara-se naquele ser que, pela terra, punha-se a andejar e a reparar nos filhos dos homens. Narra Elifaz um fato mui curioso que, indiretamente, declina-lhe o berço  da doutrina:  “Entre pensamentos  de visões da noite, quando cai sobre os homens o sono profundo, sobreveio-me  o  espanto  e  o  tremor,  e  todos  os meus  ossos estremeceram. Então, um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos da minha carne; parou ele, mas não conheci a sua feição; um vulto estava diante dos meus olhos; e, calando-me, ouvi uma voz que dizia: Sena, porventura, o homem mais justo do que Deus? Seria, porventura, o varão mais puro do que o seu Criador?” (Jó 4.13-17).

   Que espírito era esse? Não era certamente o Espírito de Deus. Se nos detivermos nas epístolas paulinas, verificaremos que muitos são os espíritos, cuja função é espalhar heresias e apostasias. Ao jovem pastor Timóteo, adverte o apóstolo: “Mas o  Espírito  expressamente  diz  que,  nos  últimos  tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (I Tm 4.1).

       Onde  atuam  tais  espíritos? Nos institutos bíblicos,  nas universidades evangélicas, nas classes de Escola Dominical e nos púlpitos de nossas igrejas. Embora ortodoxas; apesar de teologicamente  conservadoras;  não  obstante  primarem pela correção  doutrinária,  são  as  nossas  instituições  eclesiásticas constantemente assaltadas por tais espíritos. Hoje, um desvio teológico de pouca monta; ninguém protesta, buscando preservar a confraria teológica. Amanhã, uma heresia não muito vultosa; ninguém verbera, pois não foram afetados os dogmas básicos. Mais adiante, surge uma apostasia; ninguém se insurge contra o erro, porque o mais importante, agora, é preservar a unidade. E, finalmente, acabam sufocando de vez a Palavra de Deus; ninguém se levanta para socorrer a sã doutrina, pois acham-se todos comprometidos com o erro.

     Confessa Elifaz que  “um espírito passou por diante de mim”.  O  substantivo que serve para designar o  Espírito de Deus é aqui usado para identificar o sinistro personagem: ruah. Isto significa  que, no exercício  do ministério,  temos  de  agir com redobrada vigilância e prudência para não nos prendermos  por tais  espíritos.  Atentemos  para  este  detalhe:  Elifaz não conseguiu identificar o espírito, nem logrou conferir-lhe as feições: “não conheci a sua feição”. O verbo hebraico nakar conclama estes outros verbos: discernir, identificar, reconhecer e divisar. Portanto, estejamos devidamente aparelhados, a fim de identificar os espíritos que agem em nossos  arraiais. Além da Bíblia, que é nossa única regra de fé e prática, temos o dom de discernir os espíritos (I  Co  12.10). Que a exortação do apóstolo do amor seja considerada seriamente: “Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (I Jo 4.1).

   Induzido pelo erro, e já usando e abusando dos sofismas, Elifaz conclui: apenas os que desagradam a Deus sofrem; se Jó estava sofrendo,  logo:  contra Deus pecara. Desconhecia ele, por acaso, a história de Abel? (Gn 4.4-8) Ou o drama vivido por Enoque que, por trezentos anos, profetizou num mundo que em nada diferia do inferno? (Gn 5.22-24) Ou por acaso ignorava o fato de o patriarca Noé haver construído a arca sob os impropérios de uma geração que se achava completamente tomada pelo demônio? (2 Pe 2.5) Registra a História Sagrada que homens, dos quais não era digno o mundo, acabaram singularmente perecendo (Hb  11.37,38).

     Então, como pôde Elifaz jogar com as palavras, a fim de atribular ainda mais a Jó? Seus sofismas não resistem ao menor dos exames.

      4.  Uma teologia perversa. Elifaz ultrapassa todos os limites do bom senso;  chega a tratar o patriarca de  injusto  e louco (Jó  5.1-5). Suas acusações não terminam aí; atingem- lhe a própria família. Se esta havia perecido, então um só era o culpado: Jó. Como se haver numa situação tão difícil? Como suportar tão graves incriminações? Como tolerar esse arremedo de teologia?

             Ill A Resposta de Jó

Diante de um discurso tão sentencioso, responde o patriarca: “Oh! Se a minha mágoa retamente se pesasse, e a minha miséria juntamente se pusesse numa balança! Porque, na verdade, mais pesada seria do que a areia dos mares; por isso é que as minhas palavras têm sido inconsideradas” (Jó 6.1-3).

    I.  Jó pede uma balança. O que requeria o patriarca de seus amigos? Que o ouvissem com atenção, e com justiça lhe pesassem as palavras e as queixas. Reivindicava ele uma balança na qual lhe fosse avaliada a miséria; pois suas palavras haviam sido inconsideradas por eles.

      Será  que  Elifaz  desconhecia  a justiça  de Jó?  Ou  a sua piedade? Tomara jamais caiamos nas garras de um juiz como esse temanita! Contaminado por um espírito impiedosamente positivista,  demonstra Elifaz ser incapaz de julgar um caso, como o do patriarca, pelo espírito das leis que o Todo-Poderoso estabeleceu para aperfeiçoar os seus filhos, levando-os a alcançar  a estatura  de  completos  varões.  Não  julguemos  as coisas por sua aparência; avaliemo-las em sua essência.

    2.  A teologia da aflição. Quão distante encontrava-se Elifaz da justiça divina! Lemos nos Salmos que muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas (SI 34.19). Cristo mesmo alerta-nos que, no mundo, teremos aflições (Jo 16.33). Escrevendo aos coríntios, afirmou Paulo:  “Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também a nossa consolação sobeja por meio de Cristo” (2 Co 1.5).Não queremos, com isso, lançar as bases de uma teologia da aflição. O que intentamos realçar é a supremacia da graça divina; ela é mais do que suficiente para consolar-nos em todas as agruras.

      IV A Graça de Deus -  0  Antídoto contra a Teologia de Elifaz

    À semelhança de muitos religiosos de nossos dias, acreditava Elifaz que  o  homem,  penitenciando-se e tudo  fazendo por agradar a Deus, jamais será atingido por quaisquer calamidades. Supunha ele ser possível agradá4o com boas obras, e  com boas  obras levá-lo  a afastar  de nós  as  angústias  e  as tribulações. O que diz a Bíblia?

      I.  A imperfeição  das  obras  humanas. Ignorava  Elifaz que, por mais perfeitas que nos sejam as obras, jamais poderemos nos justificar diante de Deus, pois não passam estas de trapos  de imundície (Is  64.6).  Em consonância com Isaías, pergunta Miquéias: “Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus altíssimo? virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?” (Mq 6.6).

     Como poderá o homem justificar-se diante de Deus? E a pergunta que nos faz Jó? (Jó 25.4)Temos, aqui, uma das mais importantes  indagações  teológicas  de  todos  os  tempos.  O homem não  necessita praticar  obra alguma para  alcançar  o favor de Deus nem para ser justificado diante dEle. Só nos é necessária uma única coisa: aceitar a Jesus, e confiar cm seus méritos como nosso único  e suficiente Salvador. Através de Cristo, seremos vistos por Deus como se jamais houvéramos cometido qualquer pecado ou iniqüidade; seremos declarados justos  com base  na justiça  de  Cristo,  a  única justiça válida diante do justo e santo Deus (Rm 5.1-8).

                  Conclusão

Conclui-se, pois, estar totalmente equivocada a teologia mercantilista de Elifaz. Nossa comunhão com Deus não é um mero e vulgar e imoral toma-lá-dá-cá. Se os homens se contentam  com  escambos,  nosso  Deus,  não;  Ele  não  se  vende nem se deixa comprar: sua graça é sempre abundante; é o imerecido favor por excelência.Sua graça é mais do que suficiente! Salva-nos, proporcionando-nos as mais doces consolações. Isto não significa estejamos imunes às tribulações. Certamente elas virão. Todavia, em tudo e, por tudo, seremos consolados.

Aleluia!

                                COMENTÁRIO DE JÓ CLAUDIONOR DE ANDRADE

 


1) Primeiro Ciclo de Debates. 4:1 – 14:22.

a) Primeiro Discurso de Elifaz. 4:1 - 5:27.

Jó 4

4:1. Como o mais velho dos amigos (cons. 15:10) aparentemente e, portanto, possuidor da sabedoria mais amadurecida, Elifaz recebe a dignidade da precedência em todas as séries de discursos (cons. 42:7). Ele estabelece o clima do conselho dos amigos, apresentando sua teoria sobre o pecado e o sofrimento, aplicando-a ao caso de Jó. A suposição fundamenta, mas falsa, de Elifaz é que a justiça invariavelmente produz bem-estar, e a injustiça o infortúnio, e que existe uma proporção direta entre o pecado e o sofrimento. Primeiro ele se dirige ao desânimo de Jó (4:2-11), depois à sua impaciência (4:12 – 5:7) e finalmente aconselha-o a arrepender-se (5:8-27). 2-11. Quem, todavia, poderá conter as palavras? (v. 2b). Durante sete dias os sábios ficaram observando as calamidades na vida de ló sem oferecer unta palavra de consolo. Quando Jó se queixou, entretanto, os confortadores não puderam abster-se de reprová-lo. Assim, através de todo o decorrer do debate, seus olhos estiveram fixos no temporário escorregão de Jó para a impaciência, enquanto sua anterior exibição prolongada de paciência desapareceu por completo de sua perspectiva. Reprovaram a Jó como se ele tivesse entregado os pontos ao primeiro sabor da adversidade: Sendo tu atingido, te perturbas (v. 5b).

Segundo eu tenho visto (v. 8a; cons. 5:3). A autoridade da teoria de Elifaz está na experiência. Ele esposa o ponto de vista tradicional dos sábios orientais porque é o que tem observado na vida. Por exemplo, suas estatísticas mostram que calamidade extrema segue-se à perversidade extrema (vs. 8-11). Só os pecadores arrogantes que passam a vida semeando o mal, colhem a morte entre as calamidades. Perecem como a erva ressequida pelo sopro quente do vento do desejo (v. 9) ou como uma ninhada de leões ferozes dispersos por um golpe súbito (vs. 10,11). Sua observação também confirma o inverso: Acaso já pereceu algum inocente? (v. 7a). Embora os justos experimentem certa medida de sofrimento, jornais são destruídos por meio da aflição. Com estas observações Elifaz deduz sua lei do pecado e sofrimento, e ele presume que essa lei deve governar universalmente a história humana. Infelizmente, u método de Elifaz de arquitetar a doutrina da providência é falível. Pois a verdadeira teologia descansa sobre a autoridade da revelação divina, não sobre limitadas observações humanas e especulações falíveis. Infelizmente também, conforme Jó destaca mais tarde, até as observações e estatísticas de Elifaz são inexatas (cons. 21: 17 e segs.).

   Doutrina vil só pode oferecer conforto vão. Porventura não é o teu temor de Deus aquilo em que confias, e a tua esperança a retidão dos teus olhos? (4: 6). Elifaz não duvida da justiça essencial de Jó. Portanto, esperando arrancá-lo de seu abatimento, ele lhe assegura que por causa de sua piedade, ele não perecerá. Mas esta avaliação favorável de alguém que foi humilhado é inconsistente com a teoria do próprio Elifaz. Para ser consistente ele deveria considerar Jó como o mais desprezível filho de Belial. Pois a agonia do patriarca é tão grande que ele cobiça apaixonadamente a morte da qual Elifaz, declarando ser a pior calamidade que pudesse sobrevir aos incrédulos, diz que ele está imune. Mais tarde, quando Elifaz já elaborou sua posição mais consistentemente, ele acusa Jó de hipocrisia e criminalidade. No seu primeiro discurso, contudo, desprezando a severidade excepcional dos sofrimentos de Jó, ele o classifica entre os pecadores generalizadamente moderados, homens justos moderadamente sofredores e apenas fica perplexo diante de suas lamúrias não imoderadas.

   levantou uma questão sobre a sabedoria da providência divina. Elifaz se opõe com o argumento de que os homens decaídos, piedosos ou incrédulos, estão carentes de sabedoria e justiça e, portanto, incompetentes para criticar a Providência (4:12-21). Eles são, além disso, alvos justos de todos os infortúnios que sobrevêm aos mortais (5:1-7).

12. Uma palavra se me disse em segredo; e os meus ouvidos perceberam um sussurro dela. Como fonte suplementar de seus conhecimentos, Elifaz refere-se impressionantemente a uma revelação especial que lhe foi concedida em uma visão noturna (v. 15) de arrepiar os cabelos. Sua narrativa da misteriosa aparição e voz (vs. 15, 16) serve para o revestir de um manto profético. (Com referência a semelhantes aspectos de teofanias testemunhadas por Abraão, Moisés e Elias, veja Gn. 15:12; Nm. 12:8; I Reis 19:12). O conteúdo da alegada revelação está em Jó 4:17-21, seria porventura o mortal justo diante de Deus?

17. Seria a o homem puro diante do seu Criador? A tradução da E.R.C. também é gramaticalmente possível e fornece uma réplica adequada para o desafio feito ao governo de Deus implícito na lamentação de Jó. Se, comparando-se com a sabedoria divina, até a sabedoria dos anjos é imperfeita (v. 18), certamente os homens que vivem e morrem e não atingem a sabedoria (v. 21b) não estão qualificados para se assentarem e julgarem os caminhos de Deus. Analisando a inferioridade do homem diante dos anjos, em termos de sua mortalidade, Elifaz faz eco ao veredito divino contra o corpo do homem que é pó (v. 19; cons. Gn. 3:19). Em comparação com a vida angélica, a vida humana, como a traça (Jó 4:19, 20), é transitória. A morte do homem é como o colapso de uma tenda quando suas cordas são desatadas (v. 21).

Jó 15

a) Segundo Discurso de Elifaz. 15:1-35. Como um ciclo de debates pode alienar amigos! O gentil Elifaz até se esquece das civilidades introdutórias. Tudo é novamente censuras e advertências. O filósofo expõe sua sensibilidade profissional à descortesia de Jó (cons. 37 12:2, 3, 7 e segs.; 13:1, 2, 5, 12), retornando à sua própria sabedoria relativa e à de Jó cada vez que introduz uma nova acusação (cons. v. 1 e segs., 7 e segs., 17 e segs.).

1-6. Ciência de vento (v. 2a). Literalmente. Cons, com o paralelo vento orientar (v. 2b), isto é, o violento e sufocante vento do deserto. As reivindicações de Jó quanto à sabedoria são desfiguradas por seus discursos bombásticos (v.3). Torna vão o temor de Deus, e diminuis a devoção a ele devida (v. 4). As explosões imprudentes de Jó são mais que imoderadas, pois depreciam o temor de Deus, e assim solapam a religião. A língua dos astutos (v. 5b). Possivelmente uma alusão à serpente "sagaz" (mesma palavra) de Gn. 3:1. A culpa de Jó explica suas palavras (v. 5) e suas palavras provam sua culpa (v. 6).

Jó 22

a) Terceiro Discurso de Elifaz. 22:1-30.

A conclusão inerente à teoria dos três amigos desde o começo e cada vez mais amplamente exposta, agora está completamente desmascarada. Esta acusação direta de Jó foi sua única alternativa da capitulação depois que Jó considerou a negativa de que a justiça é uniformemente discernível na maneira pela qual Deus trata os homens. O fato lamentável é que os amigos endossaram a opinião que Satanás tinha de Jó, isto é, que ele era um hipócrita. Pensando em defender Deus, eles se transformaram em advogados de Satanás, insistindo que aquele a quem Deus indica como Seu servo pertencia ao diabo.

2-11. Uma vez que o Deus Todo-suficiente não pode ser ajudado ou prejudicado por atos humanos, a resposta para os sofrimentos de Jó não se encontra nEle (vs. 2, 3). Certamente Jó não está sendo punido pela piedade: Ou te repreende pelo teu temor de Deus (v. 4a). Dessas premissas negativas Elifaz extrai sua conclusão positiva em uma triste traição à verdade e à fraternidade. Porventura não é grande a tua malícia? (v. 5a). Por isso estás cercado de laços (v. 10a). Por falta de evidências reais, Elifaz encontra a chave da natureza exata dos crimes de Jó em sua antiga riqueza – sua acumulação devia estar contaminada por abuso desumano dos pobres e dos fracos (vs. 6-9). Contrariando esta drástica super-simplificação do dilema de Jó, o Prólogo revelou para o leitor, é claro, que a resposta se encontra em Deus, o qual, ainda que Todo-suficiente em si mesmo, glorifica-se nas Suas obras e tinha decretado a provação de Jó para o louvor de Sua sabedoria redentora.

12-20. E dizes: Que sabe Deus? (v. 13a). Presumindo que lê os pensamentos secretos de Jó, Elifaz coloca blasfêmias na sua boca, contrárias aos sentimentos que ele realmente expressou (vs. 12.14). O argumento fictício é, então, insatisfatoriamente respondido, apelando ao juízo divino excepcional sobre a geração do Dilúvio (15 e segs.; cons. Gn. 6:1-7; 8:21, 22).

21-30. As últimas palavras de Elifaz, insistindo na volta para Deus com esperança de paz e bênçãos, fazem-nos lembrar que, apesar de tudo, ele era um amigo na família da fé. Não obstante, esta consolação está viciada por seu espírito farisaico e sua implícita repetição de falsas acusações. Em sua maneira distorcida essas promessas eram proféticas quanto ao resultado. Observe especialmente 22:30. E livrará até ao que não é inocente; um, será libertado, graças à pureza de tuas mãos. Cons. intercessão de Jó em favor dos amigos (42:7-9)

                                    Jó (Comentário Bíblico Moody)

 



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