segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Lição 03 - Jó, Drama Poético de Sofrimento e Fé

Lição 03 - Jó, Drama Poético de Sofrimento e Fé


TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Jó 1.1,3,15-21

Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal.
E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente.
E deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova.
Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Ordenando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito,
Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou.
E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.

TEXTO ÁUREO

Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu

a Deus falta alguma.

Jó 1.22

 

OBJETIVOS

CONHECER o contexto histórico do Livro de Jó;

CONHECER o estilo e as características estruturais desta obra incomum;

SABER que nossa fé em Deus pode ser fortalecida em meio ao intenso sofrimento.

INTRODUÇÃO

De modo geral, os seres humanos exibem dois tipos diferentes de reação diante do sofrimento: ou eles aproximam-se do Senhor, fortalecendo a sua fé, ou afastam-se Dele, vindo, muitas vezes, a perder a esperança. Nesta lição, discorreremos a respeito de Jó, o personagem bíblico que enfrentou condições incomparavelmente adversas, mas saiu do outro lado do vale de aflições grandemente fortificado.

CONCLUSÃO

As declarações e atitudes do patriarca são profundas e pungentes, demonstrando como a sua esperança estava sendo aperfeiçoada por meio do sofrimento.

A partir da história deste livro é possível perceber que:

(1) quando nos parece impossível ter fé, é precisamente nesse momento que mais necessitamos dela;

(2) a fidelidade ao Senhor faz toda a diferença, quando o intenso sofrimento, aparentemente despropositado, bate à nossa porta.

Deus abençoe sua vida!

 


 Drama poético de sofrimento e Fé

 Local em que foi escrito

Pode-se dizer que a forte natureza aramaica do livro seja uma indicação de que ele foi escrito em um centro aramaico de erudição, pois, independente deste fato, o que importa a nós é a mensagem contida no livro.

 Data

Se Jó realmente foi uma figura histórica, ou seja, se ele de fato existiu, então é possível datar o livro dentro de amplos limites, como 2000 e 1000 a.C.

Vários aspectos do livro - como a longa existência de seu personagem (42.16,17), o fato de suas riquezas serem avaliadas sob a perspectiva dos rebanhos que possuía (1.3) e de o relato parecer revelar uma vida nômade - são mais bem identificados com o segundo milênio a.C., do que com qualquer outra época posterior.

Autoria

O texto da referida obra não nos permite asseverar que Jó a tenha redigido (nem mesmo parcialmente), devido à atmosfera patriarcal que emana do conteúdo, a tradição judaica costuma afirmar que Moisés escreveu o livro. Porém alguns eruditos acreditam que a autoria deste volume poderia ser atribuída a alguém que viveu fora da Palestina.

O que se pode dizer a respeito do livro é que seu autor é desconhecido.

A história do livro de Jó melhor se enquadra na época dos patriarcas hebreus, pois não existe referência à Lei Mosaica. Alguns estudiosos presumem que pode ter existido uma tradição oral, que conservou o relato, antes de ser colocado na forma escrita, por algum desconhecido israelita.

Outros eruditos, no entanto, defendem que se trata de uma obra histórica, que teve como palco o antigo Oriente (Jó 1.3).

Propósito

Possivelmente o objetivo principal do Livro de Jó seja retratar a experiência do sofrimento humano e como essa realidade pode ser utilizada para fortalecer a nossa fé em Deus.

O livro de Jó é um dos maiores esforços que a bíblia faz pra minimizar a distância entre a criatura e o criador.

 O inimigo só pode tocar:

 (Jó 1:11);

 (Jó 1:18,19);

 (Jó 2:4-10).

 Tema Principal do Livro de Jó: FÉ

  (Jó 1:20-22,Tg 5:11).

 Atitudes e declarações do patriarca 

 (Jó 1.20,21)

 Conclusão

Deus não vai se contentar que sejamos puramente adolescentes espirituais. Ele deseja ver o caráter de Cristo formado em nós quando vencemos nosso próprio ego. Esse é o nosso último cativeiro. Como podemos chamar esse processo: GENUÍNA LIBERTAÇÃO EM CRISTO JESUS.

                                                 Dca. Maria Teresa.


O Livro de JÓ

Introdução

 As pessoas têm debatido longa e seriamente sobre o problema e o significado do sofrimento humano. O livro de Jó é o mais destacado de todos esses esforços registrados na literatura mundial. A narrativa trata da vida de um homem cujo nome provê o título do livro. O livro abre com um prólogo em prosa que descreve Jó como um homem rico e reto. Depois de uma série de calamidades, tudo que ele tem, incluindo seus filhos, lhe é tirado. A pergunta levantada no prólogo é se Jó vai conservar sua integridade diante de tamanho sofrimento. Somos informados que ele saiu vitorioso: "Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios" (2.10).

    Além de preparar o terreno para o debate posterior relacionado ao propósito e ao significado do sofrimento, o prólogo também apresenta as personagens da trama. Deus é o Javé dos hebreus, que é Senhor do céu e da terra.' Satanás aparece no papel de adversário de Jó. O herói, Jó, é um cidadão rico da terra de Uz. Ele recebe a visita de três dos seus amigos: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta e Zofar, o naamatita. Estes três homens vêm trazer conforto para o seu velho amigo.

     A maior parte do livro é composta de diálogos entre os quatro amigos. Os "confortadores" estão seguros de que o sofrimento de Jó é causado por algum pecado que seu amigo está escondendo. Eles estão certos de que humildade e arrependimento vão resolver a situação. Jó, por outro lado, insiste em que, embora possua as fraquezas normais da raça humana, não cometeu nenhum pecado que pudesse causar tamanho infortúnio pelo qual está passando. Ele não concorda com a opinião de seus amigos de que pecado e sofrimento estão invariável e diretamente ligados como uma seqüência de causa e efeito. Parece, a essa altura, que o autor pretende mostrar que Jó deveria ser o vitorioso na argumentação contra seus confortadores.

    Um jovem espectador chamado Eliú está em silêncio e não é mencionado no início. Depois de três rodadas de debates com os outros amigos, ele intervém na discussão. Ele está injuriado com Jó por sua atitude irreverente em relação à providência de Deus. Ele também está igualmente indignado com os três amigos pela incapacidade deles de convencer Jó da sua culpa. Por intermédio de quatro discursos, não respondidos por Jó, Eliú expressa sua forte oposição no que tange aos sentimentos de Jó e discorda dele quanto ao significado do sofrimento. Eliú, embora mantenha a posição básica dos outros conselheiros de Jó, ressalta a providência de Deus em todos os eventos humanos e o valor disciplinador do sofrimento. Dessa forma, ele exalta a grandeza de Deus. Diante desse pano de fundo ele afirma que a aflição do homem contribui para a sua instrução. Se Jó fosse humilde e piedoso, ele perceberia que Deus o estava conduzindo para uma vida melhor.

    Então o Senhor se manifesta no meio da tempestade. O pedido insistente de Jó —de que Deus apareça e dê significado ao seu sofrimento— é finalmente atendido. No entanto, Deus não menciona o problema individual de Jó, nem trata diretamente dos problemas que ele levantou. Em vez disso, Ele deixa claro quem Ele é e o relacionamento que Jó, ou qualquer homem, deveria ter com Ele. Ao ver a glória e o poder de Deus, Jó é desarmado e humilhado. Quando ele vê Deus em sua verdadeira luz, arrepende-se das suas palavras e atitudes petulantes.

    O epílogo descreve de que maneira o arrependido e humilhado Jó é restaurado, duplicando a sua prosperidade anterior. Após a restauração dos amigos e da família, Jó viveu uma vida longa e feliz — na verdade, mais 140 anos. Então ele morreu, "velho e farto de dias" (42.17).

A               A .    A Historicidade do Livro

Com freqüência, alguns perguntam: Será que Jó é um homem real? Ou, será que o livro de Jó é uma história real? Estas duas perguntas não precisam receber a mesma resposta.

    Que houve um Jó com a reputação de retidão é fato atestado por uma referência a ele em Ezequiel 14.14. É muito provável que a narrativa básica do livro tenha sido fundamentada em uma personagem real com esse nome.

     Não precisamos com isso, no entanto, presumir que o livro de Jó está descrevendo um acontecimento histórico do começo ao fim. Somente por meio de revelação especial o autor poderia ter acesso à informação concernente às duas cenas no céu descritas nos capítulos 1 e 2. Além disso, é evidente que o prólogo prepara o terreno para o debate que o autor tem em mente. O diálogo entre os amigos está em forma poética altamente estilizada, muito diferente de um debate espontâneo.

    Esses e outros fatores têm levado à opinião geral de que a narrativa básica do livro é uma história antiga de um homem real que sofreu imensamente. Um autor anônimo usou esse material para discutir o significado do sofrimento humano e o relacionamento de Deus com ele. Esse autor realizou um trabalho esplêndido.

B.                O Texto

 Um dos problemas principais apresentados ao estudioso sério do livro de Jó é a condição do texto original. Em várias ocasiões o significado do texto é difícil, se não impossível, de ser definido e assim, por falta de continuidade, o tradutor é forçado a fazer algumas emendas conjecturais para que o texto faça sentido. Podemos observar isso ao comparar a variedade de significados dados a algumas divisões do livro por tradutores modernos.

     Também se reconhece que o vocabulário empregado pelo autor desse livro é o mais amplo do Antigo Testamento. Inúmeras palavras aparecem uma única vez nesse livro e em nenhum outro lugar na Bíblia. A comparação com línguas de origem semelhante ajuda até certo ponto na descoberta desses significados. As descobertas em Ugarite e de alguns textos antigos têm servido de ajuda na compreensão de alguns desses termos. Mas o problema ainda permanece a tal ponto que esse é um dos livros do Antigo Testamento mais difíceis de ser traduzidos.2

          B. A Unidade do Texto

A natureza composta do livro de Jó é geralmente aceita.3 O prólogo (1.1-2.13), bem como a introdução aos discursos de Eliú (32.1-5) e o epílogo (42.7-17) são apresentados em prosa. O restante do texto está em forma poética. Esse fato é facilmente reconhecido pelo leitor de uma tradução mais moderna como a de Moffatt ou a RSV em inglês, ou a NVI ou BLH em português, que colocam tanto a prosa como a poesia na forma apropriada. Embora essa alternância de prosa e poesia por si só não prove a natureza composta do texto, ela sugere essa possibilidade. É possível que o autor e poeta tenha usado uma narrativa primitiva em relação a Jó a fim de prover o cenário para o debate entre Jó e seus amigos. Se esse foi o caso, a antiga história é representada pelo prólogo em prosa e talvez pelo epílogo.

     Acredita-se, de modo geral, que o epílogo não pertença ao argumento principal do livro. Jó passou a maior parte do tempo negando que a prosperidade material seja a recompensa da retidão. Portanto, parece uma incoerência ver o livro terminando com o Senhor dando a Jó "o dobro de tudo o que antes possuíra" (42.10). Quem defende esse ponto de vista, acredita que a mão de um editor posterior tramou esse final para acomodar suas próprias convicções em relação às questões levantadas.

     No entanto, Gray argumenta energicamente que o epílogo pertence ao mate‑ rial original, ao dizer que o propósito real do autor é simplesmente afirmar que o homem pode ser bom sem ser recompensado por isso. É nesse momento que Jó se torna vitorioso. Ele aceita tanto o bem como o mal de Deus sem rebelar-se contra Ele, mesmo que pergunte por que e, às vezes, admita de forma amarga que Deus está contra ele, sem justa causa. Jó não exigiu restauração da sua prosperidade como uma condição para servir a Deus. O que ele pediu foi uma vindicação do seu caráter. Quando isso é alcançado, não existe inconsistência com o propósito e argumento do autor em permitir que a narrativa tenha um final materialmente feliz para Jó. Os sofrimentos que ele teve de suportar tinham um propósito particular. Não havia necessidade para o sofrimento se tornar perpétuo depois que o propósito tinha sido alcançado.   Uma outra parte do livro, apesar da sua beleza poética e grandiosidade de pensamento, é freqüentemente rejeitada como parte original do livro. A sua localização atual encontra-se inserida entre duas partes do discurso de Jó no qual ele se queixa amargamente da sua sorte. Essa parte do livro é um poema de exaltação da sabedoria que constitui o capítulo 28. Além disso, o propósito do poema de sabedoria — se realmente for da autoria de Jó —, tornaria desnecessário muito do que Deus diz a ele mais tarde no livro.

     Os discursos de Eliú (32.6-37.24) também podem ter sido um acréscimo ao livro original. Em apoio a esse ponto de vista podemos observar que Eliú não figura entre os amigos de Jó no início da narrativa nem no epílogo. Além disso, suas observações acrescentam muito pouco ao debate. Elas são basicamente uma reiteração fervorosa dos mesmos princípios que foram defendidos pelos outros três amigos.'

     Uma outra parte do livro que normalmente é vista como uma interpolação é a descrição de Beemote e Leviatã (40.15-41.34). As evidências apresentadas são que essas descrições são muito detalhadas em relação ao restante do discurso e que elas refletem idéias a respeito de criaturas tiradas do imaginário popular.' O ataque contra essa parte do livro não é conclusivo.

             C.   Autoria

Os estudiosos do Antigo Testamento concordam entre si em que uma busca pelo autor desse livro está fadada ao fracasso. Em nenhuma parte do livro existe qualquer tipo de indicação quanto à identidade do homem que criou essa obra de arte literária. O livro não só se mantém calado em relação à sua origem, mas também não encontramos nenhuma sugestão bíblica independente em relação à sua autoria. Ezequiel (14.14,20) menciona um homem chamado Jó, conhecido por sua retidão; e Tiago (5.11) o reconhece como modelo de paciência. Essas duas referências mencionam um indivíduo chamado Jó. Elas não tratam da identidade do autor do livro.

     Inúmeras sugestões têm sido feitas quanto a possíveis autores desse livro. Entre elas estão o próprio Jó, Moisés e uma variedade de pessoas anônimas, que vão desde a época dos patriarcas até o terceiro século a.C.

     Embora o nome do autor nunca venha a ser conhecido por nós, algumas qualidades desse homem podem ser determinadas por meio do livro que ele escreveu. Quem quer que ele tenha sido, foi uma das maiores figuras literárias do mundo. Qualquer lista de grandes obras-primas na área da literatura certamente incluiria o livro de Jó. Na verdade, muitos a colocariam no topo da lista. Alfred Tennyson descreveu o livro de Jó como o maior poema dos tempos antigos e modernos e Thomas Carlyle disse que não existe nada dentro ou fora da Bíblia com o mesmo valor literário.

     Ou o autor de Jó sofreu grandemente em sua própria vida ou ele teve uma capacidade incomum de sentir compaixão e empatia por aqueles que sofriam. Junto com essa grande sensibilidade ele foi profundamente religioso. Ele tinha uma percepção fora do comum quanto à natureza humana e estava bem inteirado com o mundo no qual vivia—o mundo da natureza, das idéias e da literatura.

      Não se sabe se o autor era israelita, embora esse ponto seja debatido. Aqueles que acreditam não ser ele judeu' apontam para o fato de que o nome do Deus de Israel, Javé, é raramente mencionado, exceto no prólogo e epílogo em prosa, enquanto que nos diálogos, em forma de poesia, são usados termos que eram de uso comum entre os povos vizinhos que circundavam Israel. Além disso, destaca-se o fato de que no livro não se encontra nenhuma instituição ou costume caracteristicamente judaicos e que o cenário da história é Uz (Edom, veja mapa 1), uma terra do Oriente (1.3).

      Por outro lado, aqueles que entendem que o autor é israelita apontam para o fato de que a história é preservada e canonizada na literatura sagrada de Israel. Além disso, embora a literatura da "sabedoria" fosse comum nos tempos antigos em todo o Oriente Próximo, as idéias teológicas do livro de Jó se enquadram melhor no pano de fundo e quadro de referência bíblico do que em qualquer outro lugar. Podemos aceitar que o autor desconhecido do livro tenha usado um homem histórico "de Uz", chamado Jó, conhecido por todos pelo seu sofrimento e integridade, para ser o herói desse diálogo. Outras perguntas relativas à autoria devem permanecer sem solução.

D                D .   Data da Composição

A época da composição desse livro permanece um problema tão complicado quanto o da autoria. Diversas datas foram sugeridas e elas variam desde o século XVIII até o século III a.C.

    De acordo com a descrição do livro, o homem Jó mostra um tipo de vida e cultura que mais se aproxima do período patriarcal. Por exemplo, o livro afirma que Jó viveu mais 140 anos depois da restauração da sua saúde e riqueza, além dos anos que ele tinha vivido antes do seu infortúnio. Não há expectativa de vida como essa na narrativa bíblica depois do período patriarcal. A riqueza de Jó consistia basicamente em rebanhos e manadas, como ocorria com os patriarcas. O próprio Jó oferece sacrifícios pela sua família, como era o costume dos patriarcas. No entanto, ele parece desconhecer a oferta pelo pecado e outras práticas mosaicas.

     Esse tipo de consideração faz com que muitos estudiosos acreditem que o prólogo (1.1-3.1) e o epílogo (42.7-16), nos quais aparece essa informação, reflitam um registro mais antigo que serviu de base para o diálogo poético que foi escrito bem mais tarde.

     Não encontramos nenhuma alusão no livro de Jó que poderia nos ajudar na averiguação da data da sua composição. Portanto, o único meio de definir uma data segura seria a sua relação literária com outros materiais da mesma época. Infelizmente, não existe muito material desse tipo para nos ajudar a encontrar essa data. Ezequiel (14.1420) cita um homem com esse nome, mas não se sabe se ele conhecia o livro de Jó. A maldição de Jeremias em relação ao dia do seu nascimento (20.14) e a de Jó (3.1-26) são notavelmente semelhantes, mas é impossível dizer qual deles poderia ter a obra do outro em mente. Malaquias 3.13-18 poderia facilmente ter sido escrito com o livro de Jó em mente. Robert H. Pfeiffer argumenta que Jó foi escrito antes do poema do servo-sofredor de Isaías (52.13-53.12), alegando que o sofrimento vicário em Isaías é teologicamente mais avançado do que a compreensão de Jó acerca do significado do sofrimento imerecido,' mas esse é um argumento baseado em uma premissa duvidosa. A descoberta de um Targum de Jó nas cavernas de Qumrã prova que o livro já estava em circulação durante algum tempo antes do primeiro século a.C.

     A data do livro de Jó permanece uma questão aberta, mas a opinião majoritária é que o diálogo ocorreu no século VII a.C.'

                  E.   Lugar no Cânon

 O livro de Jó faz parte da terceira divisão do cânon hebraico, o Kethubim, os hagiógrafos, ou Escritos. A ordem nessa divisão tem variado nas diferentes tradições. Atualmente Jó é colocado entre Provérbios e Cantares de Salomão (Cânticos de Salomão) no cânon hebraico. A Tradução Brasileira coloca Jó entre Ester e os Salmos, onde Jó é o primeiro dos três grandes livros poéticos. Essa é a ordem usada por Jerônimo na sua tradução Vulgata e subseqüentemente ela foi confirmada no Concílio de Trento (15451563) em sua declaração oficial do cânon das Escrituras.

Esboço

1. PRÓLOGO: As CALAMIDADES DE Jó, 1.1-3.26

A. A Fama e Retidão de Jó, 1.1-5

B. Os Debates entre Deus e Satanás, 1.6-2.10

C. Os Amigos de Jó vêm para Consolá-lo, 2.11-13

D. Jó Lamenta o Dia do seu Nascimento, 3.1-26

II. Jó DEBATE O SIGNIFICADO DO SEU SOFRIMENTO, 4.1-31.40

A. O Primeiro Ciclo de Discursos, 4.1-14.22

B. O Segundo Ciclo de Discursos, 15.1-21.34

C. O Terceiro Ciclo de Discursos, 22.1-31.40

III. Os DISCURSOS DE ELIÚ, 32.1-37.24

A. Eliú é Apresentado, 32.1-5

B. O Primeiro Discurso de Eliú, 32.6-33.33

C. O Segundo Discurso de Eliú, 34.1.37

D. O Terceiro Discurso de Eliú, 35.1-16

E. O Quarto Discurso de Eliú, 36.1-37.24

IV. A CONVERSA DE DEUS COM Jó, 38.1-42.6

A. A Primeira Resposta de Deus a Jó, 38.1-40.5

B. A Segunda Resposta de Deus a Jó, 40.6-42.6

V. EPÍLOGO EM PROSA, 42.7-17

A. Jó Intercede pelos seus Amigos, 42.7-9

B. A Saúde e a Riqueza são Devolvidas a Jó, 42.10-17

FONTE:     



Os justos podem sofrer

TÍTULO

Como acontece com outros livros da Bíblia, Jó traz o nome do personagem principal da narrativa. Esse nome pode ter derivado da palavra hebraica usada para “perseguição”, significando, assim, “o perseguido”, ou de uma palavra árabe que significava “arrepender-se”, designando, dessa maneira, “o arrependido”. O autor relata uma época na vida de Jó em que ele foi testado e o caráter de Deus, revelado. Escritores do Novo Testamento citam Jó diretamente duas vezes (Rm 11:35; 1Co 3:19); além disso, Ezequiel 14:14,20 e Tiago 5:11 mostram que Jó foi uma pessoa real.

AUTOR E DATA

 O livro não menciona o nome de seu autor. Jó é um candidato improvável, pois a mensagem do livro está baseada na sua ignorância quanto ao que havia acontecido no céu e qual a relação desses acontecimentos com suas aflições. Uma tradição talmúdica sugere Moisés como o autor, já que a terra de Uz (1:1) ficava próxima de Midiã, onde Moisés viveu por quarenta anos, e poderia ter obtido um registro da história nesse lugar. Salomão também é uma boa possibilidade tanto pela semelhança do conteúdo com partes do livro de Eclesiastes, como pelo fato de ter escrito os outros livros de sabedoria (com exceção de Salmos, do qual foi autor apenas dos de números 72 e 127). Apesar de ter vivido bem depois de Jó, é possível que Salomão tenha escrito sobre acontecimentos que ocorreram muito antes de sua época, da mesma maneira que Moisés foi inspirado a escrever sobre Adão e Eva. Eliú, Isaías, Ezequias, Jeremias e Esdras também têm sido sugeridos como possíveis autores, mas sem apoio.

   A data de redação do livro pode ser bem posterior aos acontecimentos que ele relata. Essa conclusão se baseia: (1) na idade de Jó (42:16); (2) ele chegou perto dos 200 anos de idade, o que está de acordo com o período patriarcal (Abraão viveu 175 anos ; Gn 25:7); (3) na unidade social, que era a de família patriarcal; (4) os caldeus que mataram os servos de Jó (1:17) eram nômades e ainda não haviam se estabelecido em cidades; (5) a riqueza de Jó era medida pelos seus rebanhos em vez de por ouro e prata (1:3; 42:12); (6) nas funções sacerdotais de Jó dentro de sua família (1:4-5); e (7) no silêncio sobre assuntos como a aliança de Abraão, Israel, o êxodo e a lei de Moisés. Os acontecimentos da odisseia de Jó pareciam ser patriarcais. Jó, por outro lado, parecia conhecer as histórias de Adão (31:33) e do dilúvio dos dias de Noé (12:15). Esses detalhes históricos/culturais encontrados no livro parecem situar os acontecimentos cronologicamente numa provável época após Babel (Gn 11:1-9), mas anterior a Abraão ou contemporânea dele (Gn 11:27ss.), tornando-o o livro mais antigo da Bíblia

RESUMO BIOGRÁFICO DE JÓ

1. Um homem espiritualmente maduro (1:1,8; 2:3).

2. Pai de muitos filhos (1:2; 42:13).

3. Proprietário de muitos rebanhos

(1:3; 42:12).

4. Um homem rico e influente (1:3b).

5. Um sacerdote para a sua família (1:5).

6. Um marido amável e sábio (2:9).

7. Um homem de proeminência nas questões da comunidade (29:7-11).

8. Um homem benevolente (29:12-17; 31:32).

9. Um líder sábio (29:21-24).

10. Produtor agrícola (31:38-40).

CENÁRIO E CONTEXTO

O livro começa com uma cena no céu que deixa tudo claro ao leitor (1:6— 2:10). Jó estava sofrendo por causa de uma disputa entre Deus e Satanás. Jó nunca soube disso, nem seus amigos; por isso todos se esforçaram para explicar o sofrimento a partir da perspectiva da ignorância, até que, no fim, Jó apoiou-se unicamente em sua fé na bondade de Deus e na esperança da redenção. O fato de Deus ter defendido a confiança de seu servo é a mensagem dominante do livro. Quando não há nenhuma explicação racional, nem mesmo teológica, para a dor e o sofrimento, confie em Deus.

PRINCIPAIS PERSONAGENS

— paciente durante o sofrimento; sua fé foi provada por Deus, mas ele não pecou colocando a culpa nele (1:1—42:16).

Elifaz, de Temã — amigo de Jó; acreditava que Jó estava sofrendo por causa de seu pecado (2:11; 4:1—5:27; 15:1-35; 22:1-30; 42:7-9).

Bildade, de Suá — outro amigo de Jó; acreditava que Jó não havia se arrependido de seu pecado, daí seu sofrimento (2:11; 8:1-22; 18:1-21; 25:1-6; 42:9).

Zofar, de Naamate — um terceiro amigo de Jó; acreditava que Jó merecia sofrer mais por causa de seu pecado (2:11; 11:1-20; 20:1-29; 42:9).

 Eliú, de Buz — indignou-se contra os três amigos de Jó; acreditava que Deus estava usando o sofrimento para moldar o caráter de Jó (32:1—37:24).

TEMAS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS

 A ocasião e os acontecimentos que se seguiram às aflições de Jó apresentam questões que são importantes para a fé cristã de todos os tempos. Por que Jó serve a Deus? Jó é exaltado pela sua retidão, sendo comparado a Noé e Davi (Ez 14:14-20), e pela sua perseverança espiritual (Tg 5:11). Outras questões surgem ao longo da provação de Jó, como: “Por que o justo sofre?” Conquanto uma resposta a essa pergunta possa parecer importante, o livro não apresenta nenhuma. Jó nunca soube as razões de seu sofrimento; tampouco seus amigos. O justo sofredor parece não tomar nenhum conhecimento do debate celestial entre Deus e Satanás que precipitou sua dor. De fato, quando finalmente confrontado pelo Senhor do universo, Jó colocou a mão sobre a boca e nada disse. A silenciosa resposta de Jó de maneira alguma banaliza toda a intensa dor e perda que sofreu. Ela simplesmente destacou a importância de confiar nos propósitos de Deus em meio às provações, pois o sofrimento, como todas as outras experiências humanas, é dirigido pela perfeita sabedoria divina. No fim, a lição que permanece é que ninguém jamais sabe o verdadeiro motivo de seu sofrimento; porém, é necessário confiar no Deus soberano. Essa é a verdadeira resposta para o sofrimento.

UMA COMPARAÇÃO DA TEOLOGIA DE SATANÁS COM A DOS AMIGOS DE J


O livro trata de dois temas principais e de vários outros menores, tanto na estrutura da narrativa do prólogo (capítulos 1 e 2) como do epílogo (42:7-17) e no relato poético do tormento de Jó que está no meio (3:1—42:6). A chave para a compreensão do primeiro tema do livro é observar o debate entre Deus e Satanás no céu e em como esse debate se liga com os três ciclos dos debates terrenos entre Jó e seus amigos. Deus queria provar o caráter dos crentes para Satanás e todos os demônios, anjos e povos. As acusações são feitas por Satanás, que duvidou de Deus quanto à retidão de Jó, chegando a questioná-la. Satanás acusou o justo de ser fiel a Deus apenas por causa das bênçãos que podia obter. Segundo Satanás, uma vez que Jó não servia a Deus com a motivação correta, todo o relacionamento entre ele e Deus era uma farsa. A certeza de Satanás de que podia colocar Jó contra Deus, sem dúvida, veio do fato de que ele havia levado os anjos a rebelar-se contra o Senhor. Satanás achou que conseguiria destruir a fé que Jó tinha em Deus ao lhe infligir sofrimentos e demonstrar, desse modo, que a fé salvadora poderia ser abalada. Deus permitiu que Satanás tentasse provar seu ponto de vista, mas ele falhou quando a verdadeira fé em Deus provou-se inabalável. Até mesmo a esposa de Jó lhe disse para amaldiçoar a Deus (2:9), mas ele se recusou; sua fé em Deus jamais falhou (veja 13:15). Satanás tentou fazer o mesmo com Pedro (veja Lc 22:31-34) e foi malsucedido em destruir a sua fé (veja Jo 21:15-19). Quando Satanás fez tudo o que pôde para destruir a fé salvadora, esta permaneceu firme (cf. Rm 8:31-39). No fim, Deus provou a Satanás que a fé salvífica não pode ser destruída, não importa quanta provação um santo sofra ou quão incompreensível e imerecida ela pareça.

      O segundo tema, que está relacionado, preocupa-se em provar o caráter de Deus para os homens. Será que esse tipo de provação, no qual Deus e seu oponente, Satanás, discutem, usando o justo Jó para estabelecer um precedente, sugere a falta de compaixão e misericórdia da parte de Deus para com seu servo? De modo algum. Como Tiago afirma: “Vocês ouviram falar sobre a perseverança de Jó e viram o fim que o Senhor lhe proporcionou. O Senhor é cheio de compaixão e misericórdia” (Tg 5:11). A ideia era provar exatamente o contrário (42:10-17). Jó afirma: “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” (2:10). O servo de Deus não nega que esteja sofrendo. Nega que seu sofrimento seja resultado do pecado. Ele também não compreende por que está sofrendo. Com o coração voltado à adoração e com humildade (42:5-6), Jó simplesmente confia suas aflições a um Criador soberano e perfeitamente sábio — e era isso que Deus queria que ele aprendesse com seu conflito com Satanás. Por fim, Deus cobriu Jó com bênçãos além do que ele poderia imaginar.

O DESAFIO DE DEUS PARA JÓ


A verdade mais importante do livro é o inescrutável mistério do sofrimento do inocente. Deus determina que seus filhos caminhem em dor e sofrimento, às vezes por causa do pecado (cf. Nm 12:10-12), às vezes para a disciplina (cf. Hb 12:5-12), às vezes para o fortalecimento (cf. 2Co 12:7-10; 1Pe 5:10), e às vezes para poder revelar o seu consolo e graça (2Co 1:3-7). Mas há momentos em que a razão para o sofrimento dos santos é desconhecida, porque ela tem propósitos celestiais que os que estão na terra não conseguem discernir (cf. Êx 4:11; Jo 9:1-3).

    Jó e seus amigos queriam analisar o sofrimento a fim de encontrar causas e soluções. Empregando toda a sã teologia e discernimento da situação de que dispunham, eles procuraram respostas, mas tudo o que encontraram foram ideias erradas e inúteis, pelas quais Deus os repreendeu no fim (42:7). Eles não podiam compreender por que Jó sofria, pois desconheciam o que havia acontecido no céu entre Deus e Satanás. Achavam que conheciam todas as respostas; porém, com a insistente ignorância deles, apenas intensificaram o dilema.

     A partir de alguns elementos desse grande tema, podemos perceber as seguintes verdades na experiência de Jó:

    Há questões que estão sendo tratadas no céu por Deus que os crentes desconhecem totalmente; no entanto, a vida deles pode ser afetada por elas.

     Até mesmo o melhor dos esforços para explicar as questões da vida pode ser inútil.   

      O povo de Deus sofre. Coisas ruins acontecem o tempo todo com pessoas boas; assim, ninguém pode julgar a espiritualidade de outra pessoa com base em suas aflições ou em seus sucessos.

     Ainda que Deus pareça distante, perseverar na fé é a melhor virtude, uma vez que ele é bom e a pessoa pode, confiantemente, entregar a sua vida nas mãos dele.

     Em meio ao sofrimento, o crente não deve abandonar Deus, mas aproximar-se dele para que a comunhão possa trazer consolo — sem receber nenhuma outra explicação.

    O sofrimento pode ser intenso, mas chegará ao fim para o justo, que será grandemente abençoado por Deus.

 PRINCIPAL DOUTRINA

Fidelidade em meio ao sofrimento (2:9; 13:15; Nm 12:10-12; Lc 22:31-34; Jo 21:15-19; 2Co 1:3-7; 12:7-10; Hb 12:5-12; 1Pe 5:10).

O CARÁTER DE DEUS

Deus liberta — 33:27-28.

Deus é glorioso — 37:22.

Deus é invisível — 23:8-9.

Deus é justo — 4:17; 8:3; 34:12; 37:23.

Deus é amoroso — 7:17.

Deus é poderoso — 5:9; 9:4,10; 26:14; 36:22; 40:9.

Deus é providente — 1:21; 26:10; 37:9-13.

Deus é reto — 36:3.

Deus é insondável — 11:7; 37:23.

Deus é sábio — 9:4; 11:11; 21:22; 23:10; 28:24; 34:21; 36:4-5; 37:16.

Deus se ira — 9:13; 14:13; 21:17.

DESAFIOS DE INTERPRETAÇÃO

A maior dificuldade de interpretação envolve a mensagem principal do livro. Apesar de muitas vezes ser considerada a questão premente do livro, a razão do sofrimento nunca é revelada a Jó, ainda que o leitor saiba que ela envolve uma discussão entre Deus e Satanás — uma questão que está totalmente além da compreensão de Jó. O comentário de Tiago (5:11) sobre o caso de Jó leva à conclusão de que o objetivo era demonstrar a compaixão e misericórdia de Deus, mas, sem qualquer desculpa, não oferece nenhuma explicação para a provação de Jó. Os próprios leitores acabarão levando a sua proverbial mão à boca, sem nenhum direito de questionar ou acusar o Todo-poderoso e sábio Criador, que agirá conforme lhe apraz e, em assim fazendo, tanto prova o seu ponto de vista no reino espiritual a anjos e demônios como define a sua compaixão e misericórdia. Lançar mão da “teodiceia”, isto é, a tentativa do ser humano de defender o envolvimento de Deus nas calamidades e nos sofrimentos, mostra-se apropriado nessas circunstâncias, ainda que, ao final, fique aparente que Deus não quer nem precisa de uma defesa humana. O livro de Jó ilustra expressivamente Deuteronômio 29:29: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus...”

CRISTO EM JÓ

O livro de Jó levanta muitas questões relacionadas ao propósito do sofrimento. Embora respostas diretas sejam difíceis de serem encontradas em Jó, nossa esperança reside em Cristo, que se identifica com nosso sofrimento (Hb 4:15). Por fim, Jó clama a Cristo, o Mediador entre Deus e o homem (9:33; 25:4; 33:23).

     A natureza da culpa e da inocência de Jó levanta questões surpreendentes. Deus declarou que Jó “era homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava fazer o mal” (1:1). Porém, os amigos que foram até ele para confortá-lo levantaram uma questão crucial baseada em sua aflição: teria ele pecado? Em diversas ocasiões, Jó prontamente admitiu que sim (7:21; 13:26). No entanto, ele questionou a extensão de seu pecado quando comparado à severidade de seu sofrimento. Por fim, Deus censurou Jó por causa de sua exigência de ser justificado das acusações de seus amigos (capítulos 38 a 41), mas também afirmou que a declaração de Jó estava correta e que o que os amigos haviam dito estava errado (42:7).

     Outro desafio que surge é manter separados os pré-entendimentos que Jó e seus consoladores tinham quanto às aflições pelas quais ele passava. De início, todos concordaram que Deus pune o mal, recompensa a obediência e que para isso não há exceções. Jó, diante de seu sofrimento, ainda que inocente, foi forçado a concluir que pode haver exceções, porque o justo também sofre. Ele também observou que o ímpio prospera. Todos esses fatos são bem mais do que meras exceções à regra, o que forçou Jó a repensar seu conceito simplista sobre a soberana interação de Deus com o seu povo. O tipo de sabedoria que Jó desenvolve não dependia meramente da promessa de recompensa ou punição. As longas discussões entre Jó e seus acusadores foram tentativas de reconciliar suas observações acerca da injustiça da punição de Deus em sua vida. Esse tipo de método é perigoso, pois a mente de Deus é vasta demais para ser entendida pela racionalidade humana. Por fim, Deus não deu nenhuma explicação a Jó; antes, chamou todas as partes para um nível mais profundo de confiança no Criador, que governa um mundo dominado pelo pecado com poder e autoridade, dirigido pela perfeita sabedoria e misericórdia. Para compreender esse livro é necessário: (1) uma compreensão da natureza da sabedoria, particularmente da diferença entre a sabedoria do homem e a de Deus; (2) admitir que faltou a Jó e a seus amigos a sabedoria divina para interpretar de modo preciso todas as circunstâncias dele, apesar de que seus amigos continuaram tentando, enquanto Jó aprendeu a se contentar com a soberania e misericórdia de Deus. O ponto decisivo ou a definição para essa questão encontra-se no capítulo 28, onde o caráter da sabedoria divina é explicado: ela é rara e inestimável; o homem não tem como obtê-la; e Deus é seu único detentor. Podemos não saber o que está acontecendo no céu ou quais são os propósitos de Deus, mas temos de confiar nele. Por causa disso, a questão do sofrimento do cristão é subordinada à questão da sabedoria divina.

PALAVRAS-CHAVE

 Íntegro: em hebraico, tam — 1:1,8; 2:3; 8:20; 9:20-22 —, essa palavra hebraica quer dizer “ser completo”. Refere-se à integridade ou perfeição (ausência de defeitos) de um indivíduo. Em Cântico dos Cânticos esse termo é usado como uma palavra carinhosa para se referir à Sulamita (veja “Mulher ideal” em 5:2; 6:9). No AT, a integridade é muitas vezes associada ao justo (1:1,8; 2:3; Sl 37:37; Pv 29:10) em contraste com o ímpio (9:22; Sl 64:2-4). A afirmação de Jó de que ele era íntegro concorda com a avaliação de Deus a respeito dele, porém não indica perfeição absoluta (1:8; 9:21; 14:16-17). O salmista escreve que o futuro do homem íntegro é paz, como foi o caso de Jó (42:10-12; Sl 37:37).

Aflição: em hebraico, ’oni — 10:15; 30:16,27; 36:8, 15, 21 —, deriva de uma raiz que significa “miséria” ou “pobreza”. A imagem evocada por esse termo é a de uma pessoa curvada sob o peso de um fardo opressivo. A Escritura retrata o Senhor como aquele que vê as aflições que trazem dor ao seu povo e que ouve os clamores angustiados dos atribulados (como em Gn 16:11; Êx 2:23-25). O Senhor nos orienta a colocar nossos fardos sobre ele, pois ele é forte o suficiente para carregá-los e nos ama tanto que nos ajudará em nosso momento de necessidade (1Pe 5:7). Além disso, uma vez que ele controla todos os acontecimentos, podemos ter certeza de que ele está realizando o bem em meio às dificuldades temporárias pelas quais estamos passando (Rm 8:28). A história inteira de Jó fornece um exemplo vívido para esse fato (42:10-17; 2Co 12:7-10).

Ver, olhar: em hebraico, ra’ah — 19:27; 22:12; 40:11 —, termo comum utilizado em referência à função natural dos olhos, portanto, é frequentemente traduzido como “ver” (Gn 48:10; Dt 1:8; 2Rs 3:14; Mq 7:9-10). Essa palavra também tem vários significados metafóricos, tais como aceitação (Gn 7:1; Nm 23:21) e provisão (Gn 22:8,14; 1Sm 16:1). Pode até passar a noção de segurança e salvação, como é o caso aqui. Em 42:5, a palavra significa “ver”, no sentido de “ver para reconhecer” ou “experimentar de forma completa” algo previamente conhecido ou compreendido.

ESBOÇO

I. O dilema (1:1—2:13) 

A. Introdução a Jó (1:1-5) 

B. O debate entre Deus e Satanás (1:6—2:10) 

C. A chegada dos amigos (2:11-13) 

II. Os debates (3:1—37:24) 

A. O primeiro ciclo (3:1—14:22) 

1. O primeiro discurso de Jó expressa desespero (3:1-26)

 2. O primeiro discurso de Elifaz é gentil e o exorta à humildade e ao arrependimento (4:1—5:27) 

3. A resposta de Jó a Elifaz expressa angústia e questiona as adversidades, pedindo compaixão pela sua dor (6:1—7:21) 

4. O primeiro discurso de Bildade acusa Jó de desafiar a Deus (8:1-22) 

5. A resposta de Jó a Bildade admite sua imperfeição, mas afirma poder protestar o que parece injusto (9:1—10:22) 

6. O primeiro discurso de Zofar diz a Jó que ele se acerte com Deus (11:1-20) 

7. A resposta de Jó a Zofar diz que seus amigos estão errados e que somente Deus sabe de todas as coisas, e que há de falar por ele (12:1—14:22)

B. O segundo ciclo (15:1—21:34) 

1. O segundo discurso de Elifaz acusa Jó de presunção e desrespeito à sabedoria dos ancestrais (15:1-35) 

2. A resposta de Jó a Elifaz apela a Deus contra seus injustos acusadores (16:1—17:16)

3. O segundo discurso de Bildade diz a Jó que ele está sofrendo exatamente o que merece (18:1-21)

4. A resposta de Jó a Bildade clama pela piedade de Deus (19:1-29) 

5. O segundo discurso de Zofar acusa Jó de rejeitar a Deus por questionar sua justiça (20:1-29) 

6. A resposta de Jó diz que Zofar desconhece a realidade (21:1-34) 

C. O terceiro ciclo (22:1—26:14)

ENQUANTO ISSO, EM OUTRAS PARTES DO MUNDO... Os egípcios descobrem o uso do papiro e estabelecem as primeiras bibliotecas no Egito.

RESPOSTAS PARA PERGUNTAS DIFÍCEIS

1.     Que tipo de relacionamento Jó tinha com Deus? A biografia de Jó começa com uma descrição de seu caráter, composta de quatro elementos: “era homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava fazer o mal” (1:1). Ele orava por seus filhos e se preocupava com o relacionamento deles com Deus (1:5). Era bem-sucedido e rico, o estereótipo do homem abençoado. De fato, Deus adiciona sua própria aprovação de Jó, usando as mesmas características que abrem o livro (1:8).

Diante da repentina e esmagadora perda de tudo o que tinha — filhos, servos, rebanhos —, Jó inicialmente reagiu com o luto e o reconhecimento da soberania de Deus. “‘O SENHOR o deu, o SENHOR o levou; louvado seja o nome do SENHOR’. Em tudo isso Jó não pecou e não culpou a Deus de coisa alguma” (1:21b-22). Sob o julgamento severo de seus amigos, Jó lutou para entender por que Deus não parecia disposto a solucionar seus problemas. Tendo Deus falado, ao menos parte da dificuldade de Jó foi esclarecida: ele havia confundido relacionamento com Deus com familiaridade com Deus. O Senhor não repreendeu a fé ou sinceridade de Jó; antes, questionou a insistência dele em receber uma resposta para suas aflições. Ao permitir que Jó ouvisse uma pequena parte da extensão de sua ignorância, Deus lhe mostrou que havia muito que ele nunca entenderia. Como criação, Jó simplesmente não tinha o direito de exigir uma resposta do Criador. As últimas palavras de Jó são cheias de humildade e arrependimento: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza” (42:5-6). Jó passou seus últimos dias gozando do mesmo tipo de relacionamento que tinha antes com Deus. Orou por seus amigos e formou uma nova família, com filhos piedosos. Viveu uma vida plena.

2.     Que tipo de relacionamento Satanás tem com Deus no livro de Jó? Satanás pode ser o grande adversário de Deus, mas eles não estão no mesmo nível. Satanás é uma criação, ao passo que Deus é o Criador. Satanás era um anjo que, em seu papel exaltado, recusou-se a servir e se rebelou contra Deus. O contínuo conflito entre Satanás e Deus é ilustrado quando aquele afirma que pessoas íntegras permanecem fieis a Deus somente enquanto elas recebem coisas boas, que confiam em Deus apenas enquanto ele é bom para elas. Satanás desafiou as afirmações de Deus a respeito da integridade de Jó. Ele afirmou que a integridade de Jó não havia sido comprovada, e até duvidou dela. Aparentemente, Satanás estava convencido de que podia destruir a fé de Jó em Deus por meio do sofrimento. Mais uma vez, Satanás foi derrotado à medida que Deus demonstrou, por meio de Jó, que a fé salvadora não pode ser destruída, não importa quantas dificuldades o crente enfrente ou o quão incompreensível e não merecido o sofrimento pareça. Após ter fracassado em destruir Jó, Satanás desaparece da história. Ele permanece o inimigo derrotado de Deus, ainda se enfurecendo contra o triunfo inevitável de Deus.

3.      Por que pessoas justas e inocentes sofrem? É claro que nenhum ser humano é verdadeiramente justo ou inocente. A Bíblia claramente afirma que todos pecaram (Rm 3:23). Todos os pecadores merecem ser castigados, eternamente. É isso o que torna a graça de Deus tão maravilhosa! Ao compreender essa verdade, no entanto, deve-se reconhecer que, numa escala humana relativa, há pessoas justas e inocentes. Isto é, algumas pessoas são mais morais e virtuosas do que outras e algumas são mais inocentes. Considere, por exemplo, uma pessoa que se esforça ao máximo para praticar a ética da reciprocidade ou outra que vive generosamente para os pobres. E considere a inocência ingênua das criancinhas. Então, essa pergunta poderia ser refeita: “Por que criancinhas e pessoas que vivem de modo exemplar sofrem?.

 Essa pergunta revela a premissa de que há uma conexão direta entre a retidão e a inocência, de um lado, e uma vida sem sofrimento, do outro.

Pode até haver uma conexão, mas ela não é direta. De fato, o pecado mais cedo ou mais tarde leva ao sofrimento, porém este não é um indicador infalível do pecado. Os amigos de Jó não foram capazes de enxergar além desse ponto. Para eles, o sofrimento de uma pessoa era sempre o efeito cuja única causa era o pecado que ela cometera. É verdade que os justos e os inocentes sofrem por uma variedade de motivos: (1) às vezes, atos justos num mundo pecaminoso envolvem sofrimento — por exemplo, quando um justo sacrifica sua vida por outra pessoa; (2) às vezes, o pecado dos outros leva uma pessoa justa a sofrer — por exemplo, uma criança sofre como resultado dos atos de seus pais; (3) os justos e os inocentes não estão isentos de situações dolorosas que emergem num mundo imperfeito e pecaminoso, tais como ter uma dor de dente ou um dedo esmagado na porta do carro; e (4) as pessoas às vezes sofrem por um motivo não específico, sem que haja nenhum esclarecimento. Jó é uma ilustração perfeita dessa última experiência.

4.     Por que Deus não responde todas as perguntas de Jó (e as nossas)? Essa pergunta pressupõe que, se Deus respondesse todas as nossas perguntas, seria mais fácil crer. Isso não é verdade. A confiança excede respostas. Às vezes, perguntas se tornam uma forma de evitar a confiança. A verdade é que devemos confiar em Deus mais do que em nossa capacidade de entender os caminhos dele. A lição aprendida com a experiência de Jó não nos proíbe de fazer perguntas. Muitas vezes, essas perguntas nos conduzirão aos motivos de nosso sofrimento. Mas a experiência de Jó também nos mostra que podemos não ser capazes de entender todo o nosso sofrimento o tempo todo, às vezes nem mesmo parte dele.

Deus não responde todas as nossas perguntas por que somos simplesmente incapazes de entender muitas de suas respostas.

APROFUNDAMENTO

1. O que aprendemos sobre o caráter de Satanás com o livro de Jó?

2. Resuma os argumentos dos amigos de Jó.

3. O que Deus diz aos amigos de Jó?

4. O que Deus diz finalmente a Jó?

5. Como Jó muda do homem justo no início do livro para aquele no fim do livro?

6. De que maneira o livro de Jó afeta suas perguntas sobre o sofrimento?

                                       Manual bíblico MacArthur



COMENTÁRIO

I.                  Desolação: A Provação da Sabedoria de Jó. 1:1 - 2:10.

Jó 1

A. Descrição da Sabedoria de Jó. 1:1-5. O temor do Senhor, que é o começo da sabedoria, foi o sinete da qualidade de Jó. A fonte de sua vida e caráter foi a religião da aliança da fé no Cristo da promessa, "o qual se nos tomou da parte de Deus sabedoria" (I Co. 1: 30; cons. Is. 11:2).

1. Uz, a terra natal de Jó, fica em algum lugar a leste de Canaã, perto das fronteiras do deserto que separa os braços leste e oeste do Crescente Fértil. Era uma região de cidades, fazendas e rebanhos migrantes. Íntegro e reto, não se refere à perfeição sem pecado, (cons. Jó reconhecendo seus pecados; por exemplo, 7:20; 13:26; 14:16 e segs.) mas à integridade sincera, especificamente a lealdade para com a aliança 6 (cons. Gn, 17:1, 2). Havia uma harmonia honesta entre a sua profissão de fé e a sua vida, exatamente o oposto da hipocrisia da qual ele foi acusado por Satanás e mais tarde por seus amigos. Temente a Deus. No V.T. "o temor do Senhor" é o nome da religião verdadeira. A piedade de Jó era fruto de submissão genuína ao Senhor, diante de quem ele andava em reverência, rejeitando resolutamente o que Ele tivesse proibido.

 2, 3. A verdadeira sabedoria se expressa na vigorosa execução do mandato criativo divino de encher e dominar a terra (Gn. 1:28). Por causa da anormalidade da história, que resultou da Queda, o fracasso persegue os esforços até mesmo dos piedosos. Mas os empreendimentos de ló na família, no campo e nos rebanhos foram coroados com as bênçãos do Criador (cons. a descrição que Jó faz deste período no cap. 29).

 4, 5. Atento ao seu Deus nos dias bons como nos maus, Jó fielmente cumpria suas funções de sacerdote dentro da família. Não um simples formalista, Jó percebia a raiz do pecado no coração humano (cons. cap. 31); não mero moralista, ele reconhecia, como a especial revelação redentiva tornara claro, que não há remissão de pecados sem derramamento de sangue sacrificial. Holocaustos, embora fossem símbolo da expiação messiânica do pecado, eram também um ritual de consagração. Por meio deles Jó dedicava os frutos do progresso no setor da cultura (cons. 1:2, 3) ao seu Criador. Assim a cultura humana alcançava seu devido fim na adoração a Deus.

B. A Sabedoria de Jó é Negada e Manifesta. 1: 6 - 2:10. Aquele que é sábio para a salvação está cônscio da dimensão demoníaca da história, a fúria secular de Satanás contra "a semente" da mulher (cons. Gn. 3:15), isto é, Cristo e o Seu povo. O Adversário protestou dizendo que a piedosa sabedoria de Jó não era genuína, que a sua piedade era apenas temporária e resultante de sua prosperidade. Mas provado, Jó esmagou Satanás sob os pés demonstrando que estava pronto a servir a Deus "debalde". Uma vez que a verdadeira sabedoria, o temor a Deus, é um dom redentor divinamente concedido, a acusação de Satanás contra Jó foi realmente uma desafiadora negação da sabedoria de Deus, um desafio à eficácia soberana do decreto redentor de Deus de "pôr inimizade" entre os eleitos e a serpente (Gn. 3:15).

O propósito primário do sofrimento de Jó, desconhecido para ele, foi que permanecesse diante dos homens e anjos como um troféu do poder salvador de Deus, uma exibição dessa sabedoria divina que é o protótipo, fonte e fundamento da verdadeira sabedoria humana.

1)    A Inimizade de Satanás.1:6-12.

6, 7. Para que o leitor possa descobrir o propósito primário dos sofrimentos de Jó e assim se colocar em posição de julgar corretamente onde jaz a verdadeira sabedoria na seqüência, afasta-se o invisível véu angélico, pintado aqui como uma corte real com o Soberano assentado em Seu trono no meio dos Seus servos. Os filhos de Deus. Esta frase, nos antigos mitos politeístas indicava seres divinos. Na Bíblia se refere ou aos homens (Gn. 6:2 por exemplo) ou, como aqui, a criaturas celestes. Satanás, literalmente, o Adversário, está entre aqueles que são obrigados a prestar contas diante do trono celestial. Isto, como também o fato de Satanás não poder tentar Jó sem permissão, torna conhecida sua absoluta subordinação, ao lado de todas as outras criaturas visíveis e invisíveis, ao Deus que Jó temia.

8-10. Deus Se glorifica quando aponta para Jó como criação da Sua graça redentora. Ninguém há na terra semelhante a ele (v. 8b). Este endosso divino vai além até da descrição do versículo 1. Mas embora o acusador hostil não encontre nada na vida visível de Jó para condená-lo (compare com a situação em Zc. 3), ele insinua que a aparente devoção do patriarca é de calculado interesse pessoal. Ele diz, realmente: "Jó é um enganador como eu, seu verdadeiro pai, o diabo". Satanás tentou arrancar Jó da mão de Deus, e assim pôs em dúvida o direito que o Senhor tinha sobre Jó por tê-lo feito Seu filho através da graça redentora. O diabo dá a entender que, deixando de reconhecer a fraudulência da piedade de Jó, Deus é ingênuo. Pois que, tendo recebido um mundo todo Jó (Comentário Bíblico Moody) 8 seu com uma cerca à volta, não manteria as devidas aparências de lealdade ao doador? O assalto satânico contra a integridade de Jó é, em última análise, um assalto à integridade divina: Deus subornara o profano Jó para que agisse com piedade. A oportunidade que foi dada a Jó em sua provação foi, portanto, não tanto para justificar-se mas para justificar a Deus.

11, 12. Na tentação, no Éden, Satanás desacreditou a Deus diante do homem; aqui ele desacreditou o homem diante de Deus. Mas, em ambos os casos, ele usou a mesma técnica sutil. Começou com uma pergunta insinuante, depois prosseguiu contradizendo atrevida e declaradamente a palavra divina. Remova a prosperidade de Jó, disse, e a piedade que repousa sobre ela vai desmoronar. Deus aceitou o desafio. Realmente, dirigindo a atenção de Satanás para Jó, em sua insondável sabedoria, Ele provocou o desafio. Que a cena celestial,e as transações da corte celeste não foram reveladas a Jó está de acordo com o fato de que este livro não tem intenção primordial de responder à pergunta: Por que sofrem os justos? Antes, o livro representa a absoluta consagração do ser ao fiel Criador-Salvador do homem como sendo a verdadeira sabedoria. Um homem deve continuar temendo a Deus mesmo quando seu mundo se desmorona e a vida o coloca em dificuldades, como no caso de Jó, assombrado e perplexo sobre um monte de refugo.

2) A Integridade de Jó. 1:13-22.

 13-19. Como a prova parece justa! Conhecimento e poder sobrenatural – com o elemento surpresa em seu favor – disposto contra um mortal! Davi e Golias, em comparação, estavam igualmente equipados. Mas a integridade constante de Jó, como o heroísmo de Davi, era apenas o índice visível do poder da redenção divina operando no servo de Deus e através dele. A estratégia divina, como a de Elias no Carmelo, era tornar impossível a Satanás insinuar, por meios fraudulentos, às testemunhas uma explicação naturalista da maravilha que Ele estava para realizar. A assombrosa vantagem que Deus deu a Satanás tomou-se, na seqüência, a medida da ignomínia diabólica e o elogio divino. Sucedeu um dia (v. 13b). Talvez as semanas de festa fossem celebrações especiais; mas se havia uma contínua sucessão de séries semanais de festas, este era o dia no qual Jó tinha oferecido holocaustos. Sua piedade e desolação sendo assim confrontadas, a sua desolação parece tanto mais incompreensível. Certamente a repetição do quadro da família feliz de Jó como prelúdio para o registro dos golpes que o destruíram serve para colocar a feliz prosperidade e a súbita desolação em contraste agudo. Os sabeus (v. 15). Beduínos árabes. Fogo de Deus (v. 16b). Possivelmente raios. Os caldeus (v. 17) deste período precoce, diferindo dos posteriores edificadores do império, eram saqueadores nômades. O grande vento (v. 19b) era, ao que parece, um tufão do deserto, como aquele do qual Deus mais tarde se dirigiu a Jó. Observe como os assaltos inclementes dos homens sobre o fruto acumulado da vida de Jó alternaram-se com os assaltos da natureza. Os mensageiros foram poupados apenas para levarem as más novas, em uma sucessão esmagadoramente rápida, ao seu consternado senhor.

20-22. E adorou (v. 20b). Eis o homem sábio! Não sábio porque compreendesse o mistério dos seus sofrimentos, mas porque, sem compreender, continuou temendo a Deus. E nu voltarei (v. 21b), isto é, além do cenário da vida debaixo do sol, ao pó (ao qual Jó talvez apontasse). Cons. Gn. 3:19. Bendito seja o nome do Senhor (v. 21c). O notável aspecto é que Jó, reconhecendo que não podia resistir ao Deus soberano, não manteve simplesmente sua compostura espiritual, mas até foi capaz de na adversidade também louvar a Deus. Talvez medindo a grandeza de sua perda, Jó tenha avaliado a abundância que o tempo todo estivera confiada a sua mordomia. Mais do que isto, esta hora de desolação foi um momento da verdade para ele. Despido das coisas deste mundo, Jó tornou-se incomumente sensível à presença confrontante de Deus. Um abismo chama outro abismo. E como poderia o coração do redimido, que adora, reagir na presença de Deus a não ser com a doxologia: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra" (Sl. 73:25). Satanás profetizou: "Ele blasfemará de ti" (Jó 1:11). Mas Jó bendisse a Deus seu Salvador. No hebraico, existe aqui um trocadilho com a raiz de uma palavra, Satanás usando-a com o sentido de maldição, e Jó, com o sentido de bênção.

                                              Jó (Comentário Bíblico Moody)


Escola Bíblica Dominical - Pr.Djalma Pinho (17/01/16)

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