segunda-feira, 16 de março de 2020

Lição 12 - Jesus, o Homem Perfeito

                



TEXTO ÁUREO
E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2.52).

VERDADE PRÁTICA
Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus, o Senhor Jesus Cristo é igual ao Pai e semelhante a nós: sua divindade e humanidade não são aparentes; são reais, perfeitas e plenas.

Capítulo 12
 Jesus, o Homem Perfeito
E

m maio de 2019, durante a minha estadia em Israel, estive no Jardim do Santo Sepulcro. E, ali, na companhia de minha esposa e de alguns queridos irmãos, entrei na tumba que, segundo a tradição protestante, abrigara, durante três dias, o corpo do Senhor Jesus Cristo. Alguns peregrinos, lembrando a morte do Filho de Deus, choravam; outros, celebrando-lhe a ressurreição, cantavam jubilosos: “Ressuscitou, ressuscitou”. Quanto a mim, observava tudo atentamente, com uma pergunta que, certamente, já fora externada por milhares de viajores cristãos: “Será esta, realmente, a sepultura do meu Senhor?”.

Acredito que jamais viremos a saber se aquele é, de fato, o jazigo sagrado, porquanto, desde que o Senhor Jesus foi assunto ao Céu, a Terra Santa foi submetida a diversas transformações. Se a escavarmos metodicamente, veremos, em suas várias estratificações superpostas, um perfeito compêndio da História Universal. Nessa camada, encontramos os assírios; naquela, os babilônios; naquela outra, os medos-persas e os gregos. E, mais além, selecionando cacos e pincelando lascas de cerâmicas, identificamos os domínios romano e turco. Logo, como identificar, nesse refugo de culturas e domínios, o lugar exato onde o Salvador do mundo foi inumado?

 Seja como for, não preciso da localização exata do Santo Sepulcro, para fundamentar a minha fé na ressurreição de nosso Senhor. Para mim, o relato canônico é mais do que suficiente; os autores sagrados garantem me que Ele ressuscitou, foi assunto aos Céus, acha-se à destra do Pai, e, em breve, há de retornar para buscar a sua Noiva — a Igreja.

Prossigamos, querido leitor, em nosso estudo. Ainda temos muito a aprender com os santos profetas e apóstolos do Senhor. Se, no capítulo anterior, estudamos a parte mais sombria da doutrina bíblica do homem — a ascensão do Anticristo —, enfocaremos, hoje, o seu ponto mais glorioso: a encarnação do Filho de Deus como o Filho do Homem. Apresentaremos o Senhor Jesus Cristo como o ser humano perfeito.

Já de início, deixamos bem claro que a humanidade de Jesus não era aparente, mas real. Em tudo era igual a nós, exceto quanto ao pecado. Frisamos, outrossim, que as duas naturezas de Cristo — a divina e a humana — não são conflitantes, mas perfeitíssimas e harmônicas; uma jamais eliminou a outra. É por esse motivo, que somente Ele pode salvar o pobre e miserável pecador.

Que o Espírito Santo nos ajude a compreender essa maravilhosa e imprescindível doutrina da Bíblia Sagrada.

I. Jesus, Verdadeiro Deus


Professamos que o Senhor Jesus era, e é perfeitamente humano e perfeitamente divino. Ele não era meio homem, nem meio deus; era e é totalmente Homem e totalmente Deus. Neste tópico, enfocaremos a sua divindade.


1. Sua eternidade com o Pai. Como Filho do Homem, Jesus foi gerado, pelo Pai, na plenitude do tempo, através do Espírito Santo, no ventre virginal de Maria (Sl 2.7; Lc 2.1-12; Gl 4.4,5). Todavia, como Filho de Deus, Ele é eterno, sem início nem m (Cl 1.15-17). Aliás, o Senhor Jesus não é somente eterno; Ele é o Pai da Eternidade (Is 9.6). Jesus Cristo, como Filho de Deus, é eternamente gerado, porquanto é tão eterno quanto o Pai.

Antes de sua encarnação, Ele estava no Pai e, no Pai, criou todas as coisas (Jo 1.3). Suas atividades eternas são lindamente descritas no capítulo oito de Provérbios.

Os poetas gregos não tinham uma clara noção de eternidade. Apesar de serem celebrados, também, como teólogos, descreveram seus deuses como entes temporais; sujeitos aos caprichos do tempo. Haja vista a fantasia que cerca a origem de Zeus, o pai de todas as divindades do Olimpo. Segundo a mitologia, era ele lho de Reia e de Cronos. Temendo este que um de seus lhos viesse a destroná-lo, pôs-se a devorá-los tão logo nascessem. Para que isso não ocorresse com Zeus, o sexto lho, a prudente Reia, escondendo-o astutamente, livrou-o da voragem de Cronos.

A gênese de Cronos, o pai de Zeus, também é confusa. O titã que, implacavelmente, comandava o tempo, era temido por todos os gregos, porque ninguém escapava de suas voragens. Ele envelhecia os jovens e lançava o presente num arquivo morto. No entanto, nem o próprio Cronos, o deus do tempo, era eterno, pois ele mesmo tivera um pai — Urano. Pelo menos é o que ensinava o poeta Hesíodo (750-650 a.C.).

Ora, se Urano é mais poderoso do que Cronos e Zeus, respectivamente seu lho e neto, tinha ele o atributo da eternidade? Apesar de personicar o Céu, era tão temporal quanto as outras divindades. E, segundo essa confusa e grosseira mitologia, ele nascera igualmente de uma divindade anterior — Gaia, a deusa Terra, que, por sua vez, havia provindo do inexplicável Caos, o deus que surgira antes de todos. Nessa cadeia infindável de deuses, quem dentre eles detinha a perenidade? A resposta a essa pergunta, que nem chega a ser complexa e intrigante, é simples: como os deuses gregos (e também os romanos) eram uma extensão do ser humano caído e mortal, eram eles também caídos, apesar de sua pretensa imortalidade.

Mais tarde, os filósofos puseram-se, timidamente, a questionar a existência e a moral dos deuses. Mesmo assim, Sócrates (469-399 a.C), “o mais sábio dos gregos”, nunca deixou de tributar suas honras a Apolo, de quem, segundo ele, recebera a missão de educar a Grécia. Na verdade, nenhum daqueles pensadores logrou escapar às cadeias da idolatria. Quando da visita de Paulo a Atenas, tanto o povo quanto seus filósofos persistiam em honrar a criatura e a desonrar o Criador, embora prestassem tributos ao Deus Desconhecido (At 17.16-31).

Como se vê, querido leitor, os poetas gregos, conquanto ainda honrados como teólogos, não tinham uma noção clara de eternidade. Não obstante, acreditavam eles em várias matérias-primas eternas, por intermédio das quais vieram a existir tudo quanto vemos. Tendo em vista tais incongruências da civilização pagã, agarro-me cada vez mais à Bíblia Sagrada — a inspirada, inerrante e completa Palavra de Deus. Se a Bíblia é tão lógica e racional, por que alguns teólogos ainda teimam em jungir o criacionismo divino ao evolucionismo profano e mentiroso de Charles Darwin? Enquanto os incrédulos embaralham-se nessa pergunta, voltemo-nos ao Senhor Jesus Cristo.

Nosso Senhor jamais esteve sujeito ao tempo — o terrível chrónos dos gregos. Isaías descreve-o como superior à própria eternidade (Is 9.6). Ao lado do Pai Celeste, já participava ativamente das obras divinas mais remotas: a eternidade, o tempo, os Céus e, finalmente, a Terra. Ele é o Filho Eterno do Pai Eterno. Não teve início de dias nem experimentará qualquer m, conforme profetizou Miqueias: “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2, ARA).

As divindades gregas, segundo já observamos, possuíam uma árvore genealógica cheia de nódulos, galhos tortos e desfolhada: Gaia gerou Urano que gerou Cronos e que, finalmente, gerou Zeus — o ser mais imoral da Grécia. Quanto ao Senhor Jesus, embora, como Filho do Homem, tenha uma genealogia, na condição de Filho de Deus, não possui nenhum registro genealógico, porquanto é eterno, conforme declara o apóstolo na Epístola aos Hebreus, ao descrever o Senhor Jesus Cristo, tendo por modelo o venerando Melquisedeque, sacerdote e rei de Salém (Hb 7.1-3).

2. Seus atributos, grandezas e perfeições. Jesus Cristo é a fonte da vida (Jo 1.4). Logo, Ele tem vida em si mesmo (Jo 5.16; Hb 7.16). Sendo Deus de Deus, é imutável (Hb 13.8). Ele é onipresente (Mt 28,20; Ef 1.22,23). Onisciente, sabe todas as coisas (Mt 9.4,5; Jo 2.24,25; At 1.24.25; Cl 2.3). Sua onipotência não pode ser ignorada, porque todo o poder, nos Céus e na Terra, acha-se em suas mãos (Mt 28.18; Ap 1.8).


Caso não houvesse o Novo Testamento, seria possível descobrir o Senhor Jesus no Antigo? Ora, se este está revelado naquele, sem dúvida haveríamos de encontrar, iluminados pelo Espírito Santo, o Messias de Israel e Salvador do mundo, desde o Gênesis a Malaquias. Isso porque, todos os autores sagrados, do Velho Pacto, foram não apenas inspirados a escrever sobre Jesus, mas igualmente iluminados a reconhecerem-no mesmo sem tê-lo visto (1 Pe 1.11).

 Todavia, por que os judeus, atualmente, mesmo os mais eruditos e versados no Antigo Testamento, não logram encontrar o Senhor Jesus Cristo na Lei, nos Profetas e nos Escritos? A resposta vem-nos de Paulo que, ao discorrer sobre a necrose espiritual de Israel, lamenta a incredulidade de seu povo (2 Co 3.12-18).

 É claro que, individualmente, não são poucos os israelitas que, ao lerem com atenção e temor o Antigo Testamento, vêm a encontrar, quer na Lei, quer nos Profetas, ou nos Escritos, o Cordeiro de Deus que tira o pecado mundo: Jesus de Nazaré. Observemos que, tanto o próprio Cristo quanto os seus discípulos, utilizaram as Escrituras da Velha Aliança, a m de provar, por intermédio destas, que Jesus é, de fato, o Filho de Deus (Lc 24.25,26; At 8.35).

Quando de minha visita ao Muro das Lamentações, deparei-me com dezenas de judeus, vindos de todo o mundo, lendo, ali, aos pés daquele venerando monumento, as Escrituras do Antigo Testamento. Muitos liam-na mecanicamente; outros, recordando as tragédias antigas e recentes de Israel, derramavam lágrimas contidas e reverentes. Todavia, senti, em meio aqueles homens ilustres e piedosos, um incômodo vazio espiritual. Vi-me, de repente, em pleno vale de ossos secos, a esperar pelo sopro do Espírito Santo sobre a descendência de Abraão. Aliás, isso há de acontecer, pois assim profetizou Ezequiel (Ez 37.11-14).

Essa profecia, querido e atento leitor, cumpre-se perante nossos olhos. Israel já renasceu como nação soberana. Em breve, há de renascer, também, como povo sacerdotal, profético e real. Voltemo-nos, pois, à nossa pergunta inicial: “É possível descobrir o Senhor Jesus no Antigo Testamento?”. Sim, Ele está, ali, com todas as suas perfeições, grandezas e atributos divinos.

3. Esvaziou-se de sua glória, mas não de sua divindade. Quando de sua encarnação, no ventre da virgem Maria, o Filho de Deus não se esvaziou de sua divindade, mas de sua glória (Fp 2.5-11). Conforme podemos atestar pelos versículos já mencionados, o Senhor Jesus, em seu ministério terreno, fazia uso de seus atributos divinos sempre que necessário.

Em sua oração sacerdotal, Ele reivindica, junto ao Pai, não a sua divindade, mas a glória que, desde a mais remota eternidade, desfrutara no perfeitíssimo e innito círculo da Santíssima Trindade. Seus discípulos sabiam que Ele era e é Deus (Mt 14.33; Jo 1.49; 20.28).

II. Jesus, Verdadeiro Homem

A concepção, a encarnação e o nascimento do Filho de Deus não pegaram Israel de surpresa, pois os judeus sabiam, pelas Escrituras do Antigo Testamento, que o Messias em breve chegaria. Aliás, até mesmo o mundo gentílico alimentava essa expectativa. Infelizmente, os judeus, apesar de todas as evidências bíblicas, vieram a rejeitá-lo.


1. Jesus estava no seio do Pai. Antes de sua encarnação, o Senhor Jesus achava-se no seio do Pai (Jo 1.18). Mas não devemos supor que Ele estivesse inativo; pelo contrário. Sendo Ele o Pai da Eternidade, participou ativamente da criação do tempo, dos Céus e da Terra (Jo 1.3). Ele é o Verbo de Deus; todas as coisas vieram a existir por intermédio dEle (Jo 1.1-3). Sem Jesus Cristo, nada do que existe, existiria.

2. Profetizado no Antigo Testamento. A vinda do Senhor Jesus é profetizada em todo o Antigo Testamento. No Gênesis, Ele é a Semente da mulher; e, em Malaquias, o Sol da Justiça (Gn 3.15; Ml 4.2). Entre ambos os livros, há outras profecias carregadas de signicados tanto para Israel como para os gentios.

Jesus é o tema das duas principais alianças da História Sagrada — a de Abraão e a de Davi (Gn 12.1-3; 2 Sm 7.16; Mt 1.1).

Fulton John Sheen (1895-1979), em sua obra Vida de Cristo, destaca um fato singularíssimo em relação a Jesus de Nazaré. Dos fundadores de religião, apenas Nosso Senhor teve a sua vinda anunciada por arcanos e profecias. Os outros, como Buda e Maomé, por exemplo, não; o aparecimento desses homens, como guias espirituais, foi meramente circunstancial.

Mas foi o Senhor Jesus, de fato, um fundador de religião? Se honramos a Bíblia, como a Palavra de Deus, colocá-lo-emos acima da religião; Ele é a própria religião, pois somente Jesus pode religar o ser humano caído ao Pai Celeste (Jo 14.6). Quanto aos outros, em que pesem as suas eventuais e duvidosas boas intenções, não foram capazes de providenciar salvação nem para si mesmos. Jesus Cristo é a única solução.

A Ciência da Religião persiste em igualar não somente o Cristianismo às demais religiões, como, blasfemamente, vem nivelando o Cristo de Deus a Buda, a Maomé e a Joseph Smith. Cuidado! Jesus Cristo é o único Senhor! Tratemo-lo com reverências e louvores, para que Ele não se ire (Sl 2.12).

3. Encarnado no Novo Testamento. O Filho de Deus tornou-se, de fato, carne (Jo 1.14). Sua humanidade, volto a repetir, não era ilusória; é real. Embora concebido sobrenaturalmente, o seu nascimento foi tão natural quanto o nosso (Lc 2.1-7). Sentiu nossas dores e incômodos; teve fome e sede (Mt 4.2; Jo 19.28). No jardim da agonia, experimentou profunda tristeza (Mt 26.38). À nossa semelhança, a humanidade de Jesus era completa; ele tinha corpo, alma e espírito (Mt 27.50, 58; Mc 14.34).

Concluindo, armamos que a humanidade de Jesus era perfeita; em nada diferia da nossa, exceto quanto ao pecado; Ele não estava sujeito quer ao pecado original quer ao experimental.

 4. Jesus nasceu na plenitude dos tempos. Ao escrever aos gálatas, armou Paulo que “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a m de recebermos a adoção de lhos” (Gl 4.4,5, ARA).


Em sua presciência, Deus levantou três signicativos povos e culturas, a m de preparar o mundo para recepcionar o seu Filho, e para cooperar na divulgação universal do Evangelho: Israel, por meio das sinagogas espalhadas por todas as nações (At 13,5, 18.4, 19.8); Grécia, por intermédio de seu idioma e losoa — o exame natural das coisas pela luz natural da razão (At 11.20, 21.37; Rm 2.14-16); e, nalmente, Roma, por meio de suas leis, governo e estradas de excelente qualidade (At 25.10-12; 16.1-10).

A expectativa messiânica não se limitava à comunidade de Israel; a chegada do Filho de Deus era aguardada por nações distantes como Roma e China. 5. Em Israel, Jesus é apresentado ao mundo. O Filho de Deus que, segundo a carne, é também lho de Davi e de Abraão nasceu em Israel sob a Lei de Moisés e a de Roma (Mt 1.1, 2.1; Gl 4.4; Lc 2.1-5). Tendo Ele uma educação harmônica e perfeita, tanto diante de Deus quanto dos homens, iniciou o seu ministério aos 30 anos de idade (Lc 3.51,52; 3.23).

E, conforme veremos no próximo tópico, o Senhor Jesus foi, em todas as coisas, o mais perfeito dos homens. III. Jesus, o Homem Perfeito Anal, o Senhor Jesus era, ou não, um ser humano semelhante a nós? Sim, era igual a nós, porém infinitamente melhor do que todos nós, pois não estava sujeito quer ao pecado original quer ao experimental.

1. A humanidade de Jesus. A humanidade de Jesus Cristo não era aparente; era tão real quanto a nossa. Em momento algum, Ele usou a sua divindade para suprir suas carências humanas. Não transformou pedras em pães nem fez brotar água da rocha, para aliviar a sua fome e sede (Mt 4.4; Jo 4.7-10). Todo milagre que realizou foi em favor dos que o procuravam (Mc 1.34; Lc 7.21). Nem as suas próprias enfermidades curou, pois, como o Cordeiro de Deus, ali estava para padecer todas as nossas dores.

2. Jesus, o Último Adão. O primeiro Adão fracassou no Éden; o Último Adão triunfou no deserto e no Calvário (Gn 3.6,23,24; Mt 4.1- 11; 28.6,7). Embora divino, Jesus não era menos humano do que Adão; na plenitude de sua humanidade, venceu todas as tentações por nós, para que, nEle, fôssemos vivicados (1 Co 15.45).

Quando olhamos para o Senhor Jesus Cristo, concluímos que a humanidade não foi um fracasso, porque nEle e apenas nEle, somos plenamente redimidos (Hb 12.2).

3. A perfeição espiritual e moral de Jesus. Como já frisamos, o Senhor Jesus, embora dotado de uma natureza humana igual à nossa, jamais esteve sujeito quer ao pecado original, quer o pecado experimental. Eis o que escreveu o autor da epístola aos Hebreus: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus” (Hb 7.26).

Tanto no falar quanto no agir, Jesus era perfeito. Nenhum dolo ou engano achava-se em seus lábios (1 Pe 2.21-24). Ele era perfeitíssimo em todas as coisas. Ele é o nosso excelso modelo (Ef 4.13).

O estudo de Cristo, conhecido em Teologia Sistemática, como Cristologia, é um consolo às nossas almas; leva-nos a glorificar a Deus por tão grande e inexplicável salvação. Todavia, precisamos viver a autêntica Cristologia bíblica. Atentemos ao próximo tópico.

IV. O Cuidado na Escolha do Texto Sagrado no Estudo da Cristologia Bíblica


Não tenho dúvidas de que o Espírito Santo, além de inspirar inerrante e completamente a escrituração da Palavra de Deus, supervisionou também os tradutores que se colocaram à disposição do Deus da Palavra. Todavia, temos de estar atentos a algo gravíssimo: o espírito pós-moderno vem influenciando, diabolicamente, algumas traduções da Bíblia Sagrada, levando-a a perder a sua eficácia na salvação da humanidade. Por esse motivo, temos de ser bastante seletivos no que concerne à escolha da tradução do texto canônico.

1. O melhor texto bíblico. Durante a redação deste tópico, assisti a uma conferência, pela internet, do Dr. Wilbur Pickering acerca do texto do Novo Testamento. Entre outras coisas, todas úteis e bem alicerçadas, o irmão Pickering denunciou a forma parcial com que os críticos textuais vêm tratando a Palavra de Deus conforme no-la transmitiram os autores sagrados.


Os tais críticos, desde o achamento do Codex Sinaiticus, no século XIX, puseram-se a decompor insolentemente o texto do Novo Testamento, que a Igreja Cristã vinha usando desde a era apostólica. E, para justicar sua predação, alegam a antiguidade daquele estranhíssimo documento encontrado por Constantin von Tischendorf, em 1859, no mosteiro de Santa Catarina, bem no sopé do monte Sinai. Anal, que outro manuscrito é mais antigo do que o Sinaiticus? Se é antigo, sua autoridade sobre os demais é inquestionável; grande engano.

 Quantos aos pergaminhos que serviram de base ao texto do Novo Testamento que usamos — Textus Receptus — desgastaram-se com o seu uso continuado; o mesmo raciocínio aplica-se ao Texto Massorético do Antigo Testamento. Todavia, Deus usou Erasmo de Roterdã (1466- 1536), afim de analisar criteriosamente os manuscritos gregos do Novo Testamento, utilizados em sua época e procedentes da Igreja Bizantina, mais confiável do que a católica nesse sentido, para compor um magnífico documento conhecido como Texto Recebido. Se não fosse o trabalho desse homem, é bem provável que, hoje, não tivéssemos um trabalho digno de confiança e íntegro das escrituras apostólicas. Foi esse o texto que os reformadores usaram para traduzir a Bíblia Sagrada aos seus idiomas pátrios. Entre estes, podemos citar Martinho Lutero; sua Bíblia serviu de base para a criação da moderna língua alemã.

Para os críticos pós-modernos, antiguidade é tudo. Se o vinho é velho, por que não desqualificar o novo? Entretanto, a prudência recomendamos a desconfiar de certas paleologias. Nem todo vinho velho é bom. Alguns envelheceram porque não prestavam; ninguém os queria. O que diremos de Satanás? No Apocalipse, é identificado como a antiga serpente (Ap 12.9). E, por ser o Maligno bem mais antigo do que nós, iremos ouvi-lo? O mesmo raciocínio deve ser aplicado a esses códices divinizados por sua velhice.

Redigido em Alexandria, no Egito, por volta do IV século, o Codex Sinaiticus traz várias partes do Antigo Testamento e quase todo o Novo Testamento. Até apócrifos, traz. Não fosse a omissão intencional dos últimos 12 versículos do Evangelho de Marcos, o tal códice estaria completo; recomendável, jamais. Os erros, afirma o Dr. Pickering, são encontradiços em suas páginas; apesar das sutilezas de alguns desses erros e vacâncias, são fatais à sã doutrina.

Conforme o irmão Wilbur mostrou, no lugar em que deveriam estar os versos restantes de Marcos, há uma lacuna. Aliás, segundo o respeitadíssimo estudioso, o mesmo ocorre com o Codex Vaticano. Se você tiver a oportunidade de examiná-lo, constatará que é a única omissão de grande monta existente em todo o material; as demais falhas são menos gritantes, mas igualmente deletérias. O que teria acontecido? Que o texto foi escrito, não há dúvida. E que o mesmo texto, posteriormente, foi raspado, também não há dúvida. Mas por que foi apagada, do referido documento, justamente uma passagem pentecostal clássica? Por que o Diabo odeia tanto o Movimento Pentecostal?

Um tanto ressabiado, resolvi conferir a informação de Pickering. Fui ao fac-símile 1 do tal códice que temos na biblioteca da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. E, ali, entre o final de Marcos e o início de Lucas, deparei-me com a estranha lacuna. Para mim, alguém maldosa, ou acidentalmente, raspou aqueles doze versículos. Por essa razão, acredito eu, o responsável por aquela oficina de escribas achou por bem arquivar todo o material. Em casos semelhantes, aconselha-se a destruição do material defeituoso, prevenindo-se contra mal-entendidos posteriores. Se você quiser conferir essa informação, examine o aludido material na internet; a imagem já está disponível.

Mas os problemas com esses “antigos e infalíveis” códices não se limitam a essa omissão. Aqui e ali, suas falhas erguem-se contra a genuína Cristologia do Novo Testamento. Vejamos 1 Timóteo 3.16.

 Na tradução de João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original, lemos: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória”. Se nos voltarmos, agora, à versão Almeida Revista e Atualizada no Brasil, deparar-nos-emos com uma modificação seriamente preocupante: “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória”.

 Na primeira versão, os tradutores usaram o Texto Recebido. Texto esse, aliás, utilizado também pelos reformadores e pelos eruditos do James I, da Inglaterra. Quanto aos tradutores da segunda versão, lançaram mão certamente do Codex Sinaiticus. A essas alturas, poderá você perguntar-me: “No segundo texto, a presença da segunda Pessoa da Santíssima Trindade já não está subentendida?”.


Você não precisa ser doutor em hermenêutica, para saber que essa mudança, aparentemente pequena e até sutil, traz sérias implicações ao texto sagrado. Em primeiro lugar, quem se manifestou em carne? O Filho de Deus ou um ser humano qualquer? Isso porque, todos nós, lhos de Adão e Eva, entramos neste mundo manifestados em carne. Ademais, essa alteração transformou um texto que, no original, era uma Cristologia descendente e dedutiva, numa Cristologia indutiva e ascendente. Ou seja: da belíssima passagem de Paulo foi extirpado todo o significado original. Agora, ela pode ser aplicada a qualquer líder religioso como Buda e Maomé, ou Joseph Smith. Para nós, acostumados ao texto sagrado, não há problema, pois, do contexto, inferimos logo o significado do escrito. Todavia, os que não estão afeitos à Cristologia bíblica, poderão chegar a conclusões perigosas.

 Se você, querido leitor, perguntar-me que tradução da Bíblia Sagrada recomendo, citarei estas três, na seguinte ordem: Almeida Corrigida Fiel, Almeida Revista e Corrigida e Almeida Revista e Atualizada. Quanto a esta última, tenho uma ressalva a fazer: ela seria muito boa caso não viesse com os aparatos críticos; estes podem ser úteis aos especialistas, mas desnecessários ao crente que, em sua busca pelo Senhor, querem tão somente ouvir a voz de Deus.

2. Livros, apostilas e tratados. Na redação de um trabalho como este, sei que não devo limitar-me ao texto bíblico. Constantemente, sou obrigado a recorrer aos teólogos que, desde os dias apostólicos, vêm santificando-se por entender a Pessoa e a Obra de Nosso Senhor. Somente assim, terei condições de aferir a minha teologia com a dos que me precederam e com a dos que, juntamente comigo, consagram-se no estudo da sã doutrina. Nessas pesquisas, porém, obrigo-me a ser cuidadoso, prudente e seletivo.

 Há livros que são confiáveis do início ao m. Há outros que, astutamente, buscam desconstruir o edifício da teologia cristã.
Não podemos esquecer-nos dos que, aberta e claramente, declaram-se contrários ao espírito doutrinário da santíssima fé. Haja vista Rudolf Bultmann e a Albert Schweitzer. Se o primeiro foi ao encalço do Jesus demitologizado; o segundo, desprezando o Cristo da fé, achou-se perdido tentando encontrar o Cristo Histórico.

Não posso ignorar os posicionamentos de Bultmann e Schweitzer. Mas, na prática, que edicação proporcionarei aos meus leitores divulgando tais absurdos? Por essa razão, sejamos criteriosos em nossas bibliografias, pois o tempo é mais curto do que supomos; é preciso remi-lo. Não há teólogo capaz de entender perfeitamente, em sua essência, a Cristologia. Somente o Pai para conhecer o Filho, e somente o Filho para conhecer o Pai. Todavia, há teólogos que, não obstante suas limitações, esforçaram-se por compreender a Santíssima Trindade como Atanásio e os três grandes capadócios. E, para tanto, não recorreram à filosofia, mas foram às Escrituras Sagradas e aos doutores piedosos da Igreja Cristã. Obtiveram êxito, não porque fossem superiores a nós, mas porque mantinham uma estreita comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. Que Deus nos ajude a conhecer a sua Palavra.

Conclusão

Olhando firmemente para Jesus, o autor e consumador de nossa fé, chegaremos à estatura de varão perfeito — homens e mulheres moldados pelo Espírito de Cristo. Ele é o nosso consumado exemplo em todas as coisas. E, por Ele, ansiamos. Quando do arrebatamento da Igreja, estaremos para sempre com o nosso Amado Salvador — Jesus Cristo, Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus. Amém. Louvado seja o Cordeiro.

Ao estudarmos o Senhor Jesus Cristo, como o Homem Perfeito, deparamo-nos com uma sublime matéria teológica — a Cristologia —, que, se estudada com devoção e piedade, levar-nos-á mais perto do Salvador Amado. Hoje, ainda não podemos conhecê-lo em sua plenitude, mas, quando estivermos na Jerusalém Celeste, cumprir-se-á o que escreveu o Evangelista:

 Amados, agora, somos lhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro. (1 Jo 3.2, ARA)

1 N. do E.: Fac-símile é uma reprodução exata de um escrito, assinatura, imagem. Uma cópia idêntica ao original

 A RAÇA HUMANA: origem, queda e redenção
CLAUDIONOR CORREA DE ANDRADE

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                3. AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO

Neste  estudo  queremos  provar  pelas  Escrituras,  que Jesus  não    tinha  duas  naturezas,  divina  e  humana,mas  também  que  cada  uma  destas  era  real  e  perfeita.  A  Bíblia  fornece-nos  provas  abundantes  a  este respeito.

3.1. A Humanidade de Cristo

3.1.1. A realidade da humanidade de Cristo. Tratemos, em primeiro lugar, da realidade da humanidade deCristo, sobre o que as Escrituras nos apresentam grande número de provas.

 a) Jesus chamou-se e foi chamado homem. «Porém agora procurais matar-me, a mim, um homem, que vos tenho  falado  a  verdade  que  de  Deus  tenho  ouvido;  Abraão  não  fez  isto»  (João  8:40).  Estas  palavras
proferiu-as  o  próprio  Jesus.  «Varões  israelitas,  escutai  estas  palavras:  A  Jesus  Nazareno,  varão  aprovado por  Deus  entre  vós  com  maravilhas,  prodígios  e  sinais,  que  Deus  por  ele  fez  no  meio  de  vós,  como  vós mesmos bem sabeis» (Atos 2:22). «Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de  um,  morreram  muitos,  muito  mais  a  graça  de  Deus,  e  o  dom  pela  graça,  que  é  dum    homem,  Jesus Cristo, abundou entre muitos» (Romanos 5:15). «Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens. Jesus Cristo homem» (I Timóteo 2:5).

 b) Jesus possui os elementos essenciais da natureza humana, isto é, um corpo natural e uma alma racional: «Então  lhes  disse:  A  minha  alma  está  cheia  de  tristeza  até  a  morte;  ficai  aqui,  e  velai  comigo»  (Mateus 26:38).  «Jesus, pois, vendo-a chorar, e os judeus que com ela vinham também chorando, moveu-se  muito em  espírito,  e  perturbou-se»  (João  11:33).  «Vede  as  minhas  mãos  e  os  meus  pés,  que  sou  eu  mesmo: apalpai-me  e  vede;  pois  um  espírito  não  tem  carne  nem  ossos,  como  vedes  que  eu  tenho»  (Lucas  24:39). «E, porquanto os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou dos mesmos, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo» (Hebreus 2:14).

c)  Jesus  tinha  poderes  e  característicos  que  pertenciam  à  natureza  humana.  Ele  sentia  fome:  «E,  tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome» (Mateus 4:2). Sentiu cansaço: «E eis que no mar se levantou uma tempestade tão grande que o barco era coberto pelas ondas: ele, porém, estava dormindo» (Mateus 8:24). «E estava ali a fonte de Jacó; Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte» (João 4:6). Jesus  tinha  uma  mente  humana.  Ele  pensava  e  conhecia:  «Depois,  sabendo  Jesus  que    todas  as  coisas estavam acabadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede» (João 19:28).

 Jesus sentia amor: «E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me» (Marcos 10:21). Jesus sentia indignação: «E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mio, sã como a outra» (Marcos 3:5). Poderiam multiplicar-se  as  citações  a  respeito,  pois  são  elas  abundantes  e  provam  sobejamente  que  Jesus  tinha  todos  os elementos que constituem a natureza humana.

d) Jesus estava sujeito ás leis de desenvolvimento: «E o menino crescia, e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.» «E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-oe, e interrogando-os» (Lucas 2:40, 46). «Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados» (Hebreus 2:18). «Ainda que era Filho, todavia aprendeu a obediência pelas coisas que padeceu» (Hebreus 5:8).

e)  Jesus  padeceu  e  morreu.  «E,  posto  em  agonia,  orava  mais  intensamente.  E  o  seu  suor  fez-se  como grandes gotas de sangue, que corriam até o chão» (Lucas 22:44). «E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.» «Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas» (João 19:30, 33).

Acabamos  de  ver,  destas  passagens,  que  as  Escrituras  provam  a  realidade  da  humanidade  de  Cristo. Passemos, pois, agora a considerar as passagens que tratam do segundo ponto.

3.1.2. A integridade da natureza humana de Cristo. Integridade significa perfeição, inteireza.

a)    A  natureza  humana  de  Cristo  foi  sobrenaturalmente  concebida:  «E  disse  Maria  ao  anjo:  Como  se  fará isto?  pois  não  conheço  vario.  E,  respondendo  o  anjo,  disse-lhe:  Descerá  sobre  ti  o  Espírito  Santo,  e  a virtude do  Altíssimo  te  cobrirá  com  a  sua  sombra;  pelo  que  também  o  Santo,  que  de ti há  de  nascer,  será chamado Filho de Deus» (Lucas 1:34,35).


b) A natureza humana de Cristo sempre se revela livre de depravação. «Quem dentre vós me convence de pecado?  E,  se  digo  a  verdade,  por  que  não  credes?» (João  8:46).  «Porque  não  temos  um  sumo  sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas um que, como nós, em tudo foi tentado, exceto no pecado»  (Hebreus  4:15).  «Porque  nos  convinha  tal  sumo  sacerdote,  santo,  inocente,  imaculado,  separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus» (Hebreus 7:26). «Aquele que não conheceu pecado, tê-lo pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus» (II Coríntios 5:21). «Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado»(I Pedro 1:19).

c) A natureza humana de Cristo cresceu juntamente com a natureza divina. E por causa disso não h& um paralelo entre ele e nós, neste sentido. Jesus é o único neste mundo. Ele é o Filho unigênito e nenhum outro há igual a ele.


Jesus não é homem como Paulo, não é Deus como o Pai, mas é Deus-homem. Nunca o hifen (-) teve tanta significação como aqui, entre estas duas palavras. Ele liga-as e divide-as ao mesmo tempo.

3.2. A Deidade de Cristo O Novo Testamento estabelece mui claramente a deidade de Jesus Cristo pelo seguinte modo:

3.2.1. Mostrando que Jesus tinha conhecimento da sua própria deidade: «Se vos falei das coisas terrestres, e não crestes, como crereis se vos falar das celestiais? E ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, a saber,  o  Filho  do homem,  que  está  no  céu»  (João  3:12  e  13).  «Disse-lhes Jesus:  Em  verdade, em  verdade vos  digo  que  antes  que  Abraão  fosse  feito  eu  sou»  (João  8:58).  «Disse-lhes  Jesus:  Estou    tanto  tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo demim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras» (João 14:9,10).

3.2.2.  Mostrando  que  Jesus  exercia  poderes  e  prerrogativas  divinas:  «Mas  o  mesmo  Jesus  não  confiava neles,  porque  a  todos  conhecia,  c  não  necessitava  de  que  alguém  testificasse  do  homem,  porque  ele  bem sabia o que havia no homem» (João 2:24 e 25). «Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais?» (João 18:4). «Por que diz este blasfêmias? Quem pode perdoar  pecados,  senão  Deus?»  (Marcos  2:7).  «A  ti  te  digo:  Levanta-te,  toma  o  teu  leito,  e  vai  para  a tua casa.»  Assim  lemos  no  verso  11  do  mesmo  capitulo. «E  ele,,  despertando,  repreendeu  o  vento,  e  disse  aomar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança» (Marcos 4:39).

3.2.3. A união destas duas naturezas numa só PessoaAs Escrituras representam  Jesus Cristo como uma só Pessoa, em que se unem as duas naturezas, divina e humana,  e  cada  uma  delas  perfeita  quanto  à  essência  e  quanto  aos  seus  atributos.  Estas  duas  naturezas,inseparavelmente unidas numa só personalidade divino- • humana, constituem para nós um mistério. É-nosimpossível explicar a união das duas naturezas numa só pessoa, mas as provas que encontramos são tantas que não podemos duvidar desta verdade. E o erro de dividir a pessoa de Jesus Cristo em duas, ou em duas partes é tão patente que devemos ter todo o cuidado a fim de o não praticarmos. E ainda que não possamos explicar  satisfatoriamente  este  fato,  devemos  aceitá-lo,  visto  que  a  Bíblia  o  ensina  com  clareza  e autoridade.

3.2.3.1. Provas da união das duas naturezas, divina e humana, na Pessoa de Jesus.

a) Jesus sempre falava de si mesmo e os outros também falavam a respeito dele como de uma só pessoa. «E eu  dei-lhes  a  glória  que  a  mim  me  deste,  para  que  sejam  um,  como  nós  somos  um»  (João  17:22).  «Nisto conhecereis  o  Espírito  de  Deus:  Todo  espírito  que  confessa  que  Jesus  veio  em  carne  é  de  Deus»  (I  João 4:2).  Ademais,  Iodos  os  discursos  de  Jesus  revelam que  ele  se  considerava  uma  personalidade  só,  e  não duas.

 b) Os atributos e os poderes de ambas as naturezas são consignadas a uma só pessoa. «Acerca de seu Filho, que  foi  gerado  da  descendência  de  Davi,  segundo  a  carne»  (Romanos  1:13).  «Porque  também  Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, porém vivificado pelo Espírito» (I Pedro 3:18). «A quem constituiu herdeiro de todas as coisas, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua Pessoa, e sustentando  todas  as  coisas  pela  palavras  do  seu  poder,  havendo  feito  por  se  mesmo  a  purificação  dos nossos  pecados,  assentou-se  à  destra  da  majestade  nas  alturas»  (Hebreus  1:2,3).  «Aquele  que  desceu  é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas» (Efésios 4:10). «Portanto  ide,  fazei  discípulos  de  todas  as  nações,  batizando-os  em  nome  do  Pai,  e  do  Filho e  do  Espírito  Santo; ensinando-os  a  guardar  todas  as  coisas  que  eu  vos  tenho  mandado;  e  eis  que  eu  estou  convosco  todos  os dias, até a consumação do mundo. Amém» (Mateus 28:19, 20).

c)  As  Escrituras  reputam  o  valor  da  concordância  feita  por  Jesus  como  dependente  de  uma  união  destas duas naturezas. «E de é a propiciarão pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (I João 2:2). «E pela cruz reconciliar com Deus a ambos em um corpo, matando neles asinimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto; porque por ele ambos temos acesso em um  mesmo Espírito ao Pai» (Efésios 2:16-18). «No qual todo o edifício, bem ajustado,  cresce  para  templo  santo  no  Senhor.  No  qual  também  vós  juntamente  sois  edificados  para  a morada  de  Deus  em  Espírito»  (Efésios  2:21,22).  «Pelas  quais  ele  nos  tem  dado  grandíssimas  e  preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo» (II Pedro 1:4).

 3.2.3.2. A natureza da união das duas naturezas.

a) Devemos notar, em primeiro lugar, a grande importância da união das duas naturezas, divina e humana, em  Cristo  Jesus.  0  cristianismo  é  união  espiritual entre  Deus  e  o  homem,  e,  para  que  se  realizasse  esta união.  Deus,  na  Pessoa  de  Jesus  Cristo,  uniu-se  à  humanidade.  Assim  Cristo  tornou-se  o  coração  do cristianismo; e na sua própria Pessoa foram resolvidos todos os problemas religiosos. Jesus  provou  a  verdade  do  cristianismo  pela  sua  própria  experiência.  Este  resolveu  os  problemas fundamentais  da  religião.  Em  outras  palavras,  ele  viveu  como  todo  homem  deve  viver,  uma  vida  em perfeita harmonia e comunhão com Deus. E tudo isso se conseguiu por meio da união das duas naturezas. Ê, portanto, de suma importância para o cristianismo esta união verdadeira das naturezas divina e humana em Cristo Jesus.


 E  Jesus  não  somente  resolveu  os  problemas  da  religião,  mas  também  se  tornou o  meio  por  que  o  homem pode alcançar a solução verdadeira dos seus problemas religiosos.

 Sobre a importância desta união passemos a considerar as seguintes passagens: «Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar» (Mateus 11:27). «Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios,  que  é  Cristo  em  vós,  esperança  da  glória» (Colossenses  1:27).  «Para  que  os  seus  corações  sejam consolados,  estejam  unidos  em  caridade  e  em  todas  as  riquezas  da  plenitude  de  inteligência,  para conhecimento  do  mistério  do  Deus  e  Pai,  e  do  Cristo.  No  qual  estão  escondidos  todos  os  tesouros  da sabedoria  e  da  ciência»  (Colossenses  2:2,  3).  «E  a vida  eterna  é  esta:  que  te  conheçam,  a  ti  só,  por  único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste» (João 17:3).


b) Os problemas principais que se nos deparam nesta união. Um dos problemas aqui é: Como pode haver duas  naturezas  numa    personalidade?  Como  pode  haver  uma  natureza  humana  sem  personalidade?  E como pode haver uma natureza divina sem personalidade? Como já de sobejo dissemos, não é possível dar uma explicação satisfatória deste problema, mas a Bíblia ensina, com toda a clareza, que Jesus tinha duas naturezas,  e  era  uma    Pessoa.  Este  fato  representa-nos,  por  assim  dizer,  o  coração  da  encarnação.  E a encarnação é a solução deste problema.

Outro problema que se nos depara diz respeito à relação da natureza divina com  a humanidade, durante a vida terrestre de Jesus, problema este que nos leva a outro ainda, qual a relação da natureza humana com a divina, na vida atual de Jesus. Sabemos que Jesus está hoje à destra de Deus. Qual é, pois, a relação que há entre uma e outra natureza hoje? Mencionamos estes problemas aqui, não com a esperança de resolvê-los,mas tão-somente no intuito de mostrar que o nosso Salvador Jesus é tão maravilhoso que o homem o não pode compreender em toda a sua plenitude. Temos em Jesus um grande mistério.

c) A razão deste mistério. Tal mistério existe porque não há outro ser igual ou semelhante á Jesus. Ele é o único.  Nenhum  ser  existe,  além  dele,  que  com  ele  se  compare.  Jesus  não  pode  ser  comparado  com  Deus (Pai) porque o Pai nunca se uniu diretamente à humanidade, como ele; como também não pode comparar-se com o homem, porque o homem nunca se uniu a Deus. Jesus é, certamente, o Filho unigênito de Deus.

 d)  A  base  da  união.  A  possibilidade  da  união  de  Deus  cora  a  humanidade  se  acha  em  Deus  ter  criado  o homem  à  sua  imagem.  O  homem  foi  criado  semelhante  a  Deus.  Existe,  por  isso,  a  possibilidade  de  Deus encarnar-se, isto é, de assumir também a humanidade. Esta é uma das glórias da criação do homem. Deus criou o homem de tal maneira, que pode haver a mais intima comunhão entre o homem e o seu Criador. e)  Um  dos  problemas  mais  difíceis,  como    vimos,  é  a  união  das  duas  naturezas  numa    personalidade. Jesus não era duas pessoas, nem tampouco tinha uma personalidade dupla. Ele era uma Pessoa, mas dotada de  duas naturezas:  uma  divina,  e outra humana.  Como  sabemos,  o Verbo uniu-se  com  a  humanidade pela encarnação.  A  natureza  humana  não  podia  ter  personalidade  naquela  época.  A  personalidade  humana  só começou  a  existir  quando  a  natureza  humana  começou a  ser  uma  pessoa.  E  esta  natureza  humana  crescia junto com a natureza divina. Nunca houve, portanto, duas personalidades em Cristo Jesus. Neste ponto não há outra pessoa semelhante a ele.

f) O efeito da natureza divina sobre a humana. A união da natureza divina com a humana fez com que esta participasse  doe  poderes  e  da  glória  daquela.  Isto é,  quando  Jesus  estava  aqui  na  terra,  tinha  poderes  que não  pertenciam  aos  homens  em  geral.  Convém  notar,  porém,  que  ele  nem  sempre  usou  destes  poderes.  A primeira  tentação  foi  neste  sentido,  isto  é,  o  tentador  quis  induzir  Jesus  a  prevalecer-se  desses  poderes sobre-humanos  para  o  seu  próprio  proveito.  Naquela ocasião  Jesus  recusou-se  a  fazer  tal  coisa,  mas, quando tinha diante de si a multidão faminta, usou os seus poderes, multiplicando os pães e os peixes para alimentá-la.  A  natureza  humana  foi  grandemente  exaltada  e  glorificada  na  união  com  a  natureza  divina; e este mesmo fato nos ajuda a compreender alguma coisa da glória possível à humanidade. Não devemos nos esquecer de que a natureza humana podia unir-se à divina.

g)  O  efeito  da  natureza  humana  sobre  a  divina.  Quando  a  natureza  divina  se  uniu  à  humana,  tornou-se, então, possível a Jesus Cristo padecer, sofrer e até morrer. A carta aos Hebreus acentua fortemente o valor do sofrimento de Jesus neste sentido.

 h)  A  necessidade  da  encarnação.  Sem  a  união  da  natureza  divina  com  a  humana  não  poderia  haver verdadeira  mediação  entre  Deus  e  o  homem.  A  encarnação  era  necessária  para  que  se  estabelecesse  a reconciliação  entre  o  homem  e  Deus.  «Pelo  que  convinha  que  em  tudo  fosse semelhante aos irmãos,  para ser  misericordioso  e  fiel  sumo  sacerdote  nas  coisas  que  são  para  com  Deus,  para  expiar  os  pecados  do povo.  Porque  naquilo  que  ele  mesmo,  sendo  tentado, padeceu,  pode  socorrer  aos  que  são  tentados» (Hebreus  2:17,  18).  «Porque  não  temos  um  sumo  sacerdote  que  não  possa  compadecer-se  das  nossas fraquezas; mas um que, como nós, em tudo foi tentado, exceto no pecado» (Hebreus 4:15). A necessidade de encarnação revela-se também nestas palavras de Paulo: «Porque há um só Deus, um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem» (I Timóteo 2:5).

i) A eternidade da união. Encontramos na Bíblia ensinos de que a união da natureza humana com a divina é eterna e indissolúvel. Quando o Verbo uniu-se à carne uniu-se de uma vez para sempre. «Mas este, porque permanece  eternamente,  tem  o  sacerdócio  perpétuo.  Portanto,  pode  também  salvar  perfeitamente  aos  que por  ele  se  chegam  a  Deus,  vivendo  sempre  para  interceder  por  eles.  Porque  nos  convinha  tal  sumo sacerdote,  santo,  inocente,  imaculado,  separado  dos  pecadores,  e  feito  mais  sublime  do  que  os  céus;  que não  necessitasse,  como  os  sumos  sacerdotes,  de  oferecer  cada  dia  sacrifícios,  primeiramente  por  seus próprios pecados e depois pelos do povo; porque isto fez ele uma vez, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei  constitui  sumos  sacerdotes  a  homens  fracos,  mas  a  palavra  do  juramento,  que  veio  depois  da  lei, constitui ao Filho, que para sempre foi aperfeiçoado» (Hebreus 7:24-28).
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4. OS DOIS ESTADOS DE JESUS

4.1. O estado de humilhação Não vamos despender muito tempo com as várias teorias a respeito da humilhação de Jesus Cristo quando o  Verbo  se  fez  carne,  porque  nenhuma  delas  explica suficientemente  este  fato.  Ainda  mais,    vimos  que esta união da natureza divina com a humana continua porque ela é indissolúvel e eterna. A passagem mais importante,  talvez,  sobre  este  assunto  é  a  seguinte:  «O  qual,  sendo  em  forma  de  Deus,  não  teve  por usurpação  ser  igual  a  Deus,  mas  aniquilou-se  a  si  mesmo,  tomando  a  forma  de  servo,  fazendo-  se semelhante aos homens; e, achado em forma como homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz». (Fil. 2:6-8).

4.1.1. A humilhação de Cristo caracterizada

a)  O  Verbo  preexistente  fez-se  homem,  deixando  a  sua  glória  divina  para  tomar  o  lugar  de  servo.  As palavras de Jesus em João 17:5 mostram claramente que Jesus deixou a glória divina quando se fez homem. «E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.» O apóstolo Paulo ensina a mesma coisa em II Coríntios 8:9: «Porque já sabeis a graça de nosso Senhor  Jesus  Cristo,  que,  sendo  rico,  por  amor  de  vós,  se  fez  pobre;  para  que  pela  sua  pobreza enriquecêsseis.»

 b) Constituiu também na submissão do Verbo ao Espírito Santo. Ai seguintes passagens provam claramente esta  verdade:  «Até  o  dia  em  que  foi  recebido  em  cima,  depois  de  ter  dado  mandamento,  pelo  Espírito Santo,  aos  apóstolos  que  escolhera»  (Atos  1:2).  «Enquanto  a  Jesus  de  Nazaré  como  Deus  o  ungiu  com  o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele» (Atos 10:38). «Quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si  mesmo  imaculado  a  Deus,  purificará  as  vossas  consciências  das  obras  mortas,  para  servirdes  ao  Deus vivo» (Hebreus 9:14).


Devemos  lembrar-nos  também  da  experiência  que  a  mãe  de  Jesus  teve  com  o  Espírito  Santo:  «E, respondendo o anjo, disse-lhe:
Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus»(Lucas 1:35).


A  tentação de Jesus  prova também  a  submissão sua  ao  Espírito.  «Então  foi conduzido Jesus  pelo  Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo» (Mateus 4:1).

c)  A  humilhação  consistiu  também  em  Jesus  deixar  de  usar  dos  poderes  que  lhe  eram  garantidos  por  sua natureza  divina.  Citemos  duas  passagens  de  muito  valor  neste  sentido,  que  se  referem,  respectivamente, à tentação e à crucificação de Jesus. «E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão. E Jesus lhe respondeu, dizendo: Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus» (Lucas 4:3,4). «Ou pensas tu que não poderia eu agora orar a meu Pai, e ele não me daria mais de doze legiões de anjo?» (Mateus 26:53). «Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida, para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para dar e poder para  tornar  a  tomá-la.  Este  mandamento  recebi  de  meu  Pai»  (Lucas  10:17,  18). 

4.1.2.  Épocas  da humilhação de Jesus

a) A primeira época da humilhação de Jesus foi quando o Verbo preexistente se fez carne.

 b) A segunda foi durante o tempo da sua submissão ao Espírito e às leis humanas.

c) A terceira foi por ocasião da sua morte no Calvário. Resumindo, diremos que as épocas da humilhação de Jesus foram: quando se fez carne, durante a vida na carne, e quando morreu na cruz.


4.2. O estado de exaltação Épocas de sua exaltação. Depois da sua morte, Jesus voltou para a destra do Pai, recebeu novamente aquela glória que tinha antes que o mundo existisse, e entrou em pleno uso daqueles poderes que tivera antes do período da sua humilhação. «Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus» (Atos 7:55). As épocas da exaltação de Jesus são as seguintes: Primeiro, a sua ressurreição; segundo, a sua ascensão.

 5. OFÍCIOS DE CRISTO

Enquanto  aqui  na  terra,  Jesus  exerceu  tr6s  grandes ofícios:  o  de  profeta,  o  de  sacerdote  e  o  de  rei.  Estas personagens  eram  as  três  mais  importantes  da  história.  Os  profetas,  os  sacerdotes  e  os  reis  são,  em  certo sentido,  os  precursores  de  Jesus  Cristo.  Jesus  exerceu  estes  três  ofícios  da  maneira  mais  perfeita  que  se pode  imaginar.  Nunca  houve  um  rei  que  governasse tão  sabiamente  como  ele,  nunca  houve  um  sacerdote que oferecesse um sacrifício tão completo e perfeito, e nunca houve profeta que interpretasse tão fielmente os atos e a vontade de Deus e desfizesse as trevas da ignorância que envolviam a raça.

Quando Jesus  veio ao  mundo,  este se achava  imerso nas trevas  da ignorância,  quase inteiramente  alheio i vontade  de  Deus.  Era  necessário,  pois,  que  viesse  um  profeta  poderoso  que  tirasse  o  povo  de  tão  triste condição. Jesus era este profeta. «E o povo assentado em trevas viu uma grande luz.»

 Também  a  raça  humana  estava  corrompida.  0  pecado  invadira  e  escravizara  todos  os  corações.  A  grande necessidade do mundo era então de um grande sacerdote que purificasse de modo completo as almas, e de um rei poderoso que lhes quebrasse os grilhões e as libertasse da escravidão.

Como profeta, Jesus revelou da maneira mais completa a vontade de Deus ao mundo; como sacerdote, fez o sacrifício perfeito para expiação do pecado; e, como Rei, estabeleceu o seu Reino e começou a reinar no coração dos homens.

A  personalidade  de  Cristo  é  a  maravilha  dos  séculos.  Os  milagres  operados  por  ele,  para  aliviar  os sofrimentos da humanidade, representam apenas uma fraca manifestação de sua Pessoa. Como já tivemos ocasião  de  observar,  ele  é  o  Filho  unigênito  de  Deus,  que  se  fez  carne  e  ocupou  os  três  cargos  mais importantes que encontramos na história do mundo: o de profeta, o de sacerdote e o de rei.

 5.1. Cristo como Profeta

5.1.1.  A  natureza  do  trabalho  profético  de  Cristo. Devemos  ter  desde    uma  compreensão  clara  de  que  a missão  do  profeta  não  é  simplesmente,  como  em  geral  se  supõe,  predizer  eventos  futuros.  Ê  verdade  que isto às vezes acontece, porém não é o trabalho principal do profeta. O profeta representava Deus diante dos homens.  E  o  seu  verdadeiro  trabalho  era  interpretar  os  atos  e  os  planos  de  Deus  e  fazer  conhecida  aos homens a sua vontade. 0 verdadeiro profeta é o que lê atentamente e interpreta os atos de Deus aos homens.

 Outro  oficio  do  profeta  era  encaminhar  o  povo  nos  caminhos  traçados  por  Deus.  Certamente  ele  havia  de ser  um  homem  que  «lidasse  em  intima  comunhão  com  Deus  e  devia  saber  mais  da  sua  vontade  do  que  o povo  em  geral.  E  o  seu  grande  trabalho  era  fazer    homens  conhecerem  o  que  Deus  estava  procurando realizar nas suas vidas.

Três eram os métodos empregados pelo profeta, no desempenho da sua missão. O primeiro era o de ensinar o  povo.  Encontramos  no  Velho  Testamento  muitos  desses  ensinos,  como,  por  exemplo,  os  ensinos  a respeito  do  sacrifício  dos  animais.  Por  meio  destes  ensinos  os  profetas  procuravam  fazer  o  povo  ver  o verdadeiro fim do sacrifício. «Não me tragais mais ofertas debalde: o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo o ajuntamento  solene.  As  vossas  luas  novas,  e  as  vossas  solenidades  as  aborrece  a  minha  alma;    me  são pesadas; já estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e até quando multiplicais a oração não ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos e purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos: cessai de fazer o mal; aprendei a fazer o bem; procurai o juízo; ajudai o opresso; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas» (Isaias 1:13-17).

O  segundo  método  do  profeta  no  exercício  do  seu  cargo  era  o  de  predizer  os  acontecimentos  futuros.  As vezes o profeta desvendava as coisas do futuro e fazia vingar a sua mensagem. Um dos exemplos disto é o encontro de Acabe com Elias (I Reis, cap. 18).

O terceiro método consistia na operação de milagres. Alguns dos profetas, ao executar a sua árdua missão, operavam milagres, o que concorria para que as suas mensagens fossem mais bem acatadas pelo povo em geral. «E o Senhor disse-lhe: Que é isto na tua mão? E ele disse: Uma vara. E ele disse: Lança-a na terra. Ele a lançou na terra e tornou-se em cobra. E Moisés fugia dela. Então disse o Senhor a Moisés: Estende a tua mão, e pega-lhe pela cauda. E estendeu a sua mão, e pegou-lhe pela cauda, e tornou-se em vara na sua mão. Para que creiam que te apareceu o Senhor Deus de seus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó» (Êxodo 4:2-5).

Como  sabemos,  Jesus  usou  magistralmente  destes  três  métodos  no  seu  trabalho.  Ele  ensinava  como ninguém podia ensinar, revelava o futuro com ampla autoridade e operava sinais e maravilhas.

5.1.2. Os diferentes períodos do trabalho profético de Jesus.

Estudando o trabalho profético de Jesus, encontramos quatro períodos diferentes:

 a)  O  trabalho  preparatório  do  Verbo  antes  de  se  encarnar.  «Este  era  a  luz  verdadeira,  que  alumia  a  todo homem que vem ao mundo» (João 1:9).


b)  O  período  do  ministério  terrestre.  Durante  este período  Jesus  não    cumpriu  todas  as  exigências  do ofício profético, mas o fez de tal maneira que até pôs termos a este ofício. Queremos dizer que Deus, por meio  de  Jesus,  disse  tudo  quanto  tinha  que  dizer  aos  homens.  Jesus  revelou  tudo.  O  que  os  profetas  do Velho  Testamento  não  puderam  esclarecer,  Jesus  trouxe  à  luz,  e,  revelando  I  todos  os  segredos  de  Deus,pôs termo ao oficio profético.

Mas  Jesus  não  era  profeta  por  excelência    neste  sentido.  Os  profetas  do  Velho  Testamento  pregavam: Assim diz o Senhor. Ele, porém, dizia: Assim eu vos  digo. Jesus era, por conseguinte, muito superior aos profetas não só na mensagem revelada, mas também na maneira de a revelar.

 c) O terceiro período do trabalho profético de Jesus é o que vai desde a sua ascensão até a consumação dos séculos. Durante este tempo Jesus serve-se de seus discípulos para a realização da sua obra. Os discípulos são o prolongamento do trabalho profético de Cristo. «Fiz o primeiro tratado, 6 Teófilo, acerca de todas as coisas  que Jesus  começou não    a fazer,  mas  a  ensinar»  (Atos  1:1).  «Ainda  tenho  muitas  coisas  que  vosdizer, mas vós não as podeis suportar agora» (João 16:12).

d)  No  quarto  período,  Jesus  continua  revelando  as  coisas  do  Pai  aos  santos  na  glória.  «Disse-vos  estas coisas por parábolas: chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai» (João 16É5). «E eu lhes fiz conhecer o teu nome e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado neles esteja, e eu neles» (João 17:26). «Porque desde a antigüidade não se ouviu,  nem  com  ouvidos  se  percebeu,  nem  olho  viu,  fora  de  ti,  ó  Deus,  o  que    de  fazer  àquele  que  o espera» (Isaias 64:4). «Porque agora vemos por espelho cm enigma, mas então veremos face a face: agoraconheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido» (I Coríntios 13:12).

 5.2. Cristo como Sacerdote

 O  profeta  representava  Deus  aos  homens,  o  sacerdote  representava  os  homens  diante  de  Deus.  Que felicidade,  termos  em  Jesus  a  união  da  natureza  divina  com  a  humana!  Devido  à  sua  relação  Intima  com Deus, Jesus era o profeta ideal, e, devido à sua relação íntima com o homem veremos que ele era também o sacerdote Ideal.

 No Velho Testamento o sacerdote era um homem escolhido para «ir o mediador entre Deus e o homem. 0 sacerdote  cumpria  o  seu  ofício  oferecendo  sacrifícios  e  fazendo  intercessão;  mas,  como  unhemos,  os próprios  sacerdotes  eram  homens  imperfeitos,  e,  antes  de  oferecerem  sacrifícios  pelos  outros,  tinham  que oferecer primeiramente sacrifícios por si mesmos.

Ainda  mais,  as  vítimas  por  eles  sacrificadas  eram  animais  irracionais,  que  nada  tinham  a  ver  com  os pecados  cometidos  pelos  homens.  Vemos  que  não  era  assim  com  Jesus.  Ele  não  era  sacerdote  que necessitasse de oferecer sacrifícios pelos próprios pecados, porquanto não os linha. Nem tampouco lançou mio de irracionais, porém ofereceu-se a si mesmo, com toda a pureza de seu caráter e toda a santidade do seu  ser,  em  holocausto,  em  propiciação  pelos  pecados  de todo o  mundo.  A  imaginação  humana,  por  mais fértil e aguda, não pode acrescentar um só requisito necessário àqueles que Jesus satisfez como sacerdote. Jesus é o sacerdote ideal, o sacerdote dos sacerdotes. A Carta aos Hebreus desenvolve magistralmente este formoso  tema:  o  sacerdócio  de  Cristo.  «Mas  este,  porque  permanece  eternamente,  tem  um  sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente aos que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores  e  feito  mais  sublime  do  que  os  céus;  que não  necessitasse,  como  os  sumos  sacerdotes,  de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados e depois pelos do povo; porque isto fez ele uma vez, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra  do  juramento,  que  veio  depois  da  lei,  constitui  ao  Filho,  que  foi  para  sempre  aperfeiçoado» (Hebreus 7:24-28).

5.2.1.  O  trabalho  sacrificial  de  Jesus  Cristo  ou  a doutrina  da  concordância.  Estamos  agora  no  imago  daTeologia  Sistemática.  A  obra  propiciatória  de  Jesus  no  seu  oficio  sacerdotal  é  o  tópico  de  maior importância  em  Teologia  Sistemática.  As  Escrituras ensinam  que  Jesus  sofreu  e  morreu  em  nosso  lugar para que pudéssemos ser salvos. Deus disse, logo no principio, que «a alma que pecar, essa morrerá». Esta é uma lei que não pode ser de forma alguma revogada. O homem pecou; portanto, tinha que morrer. Mas, felizmente,  pela  graça  de  Deus,  apareceu  um  homem, Jesus  Cristo,  que  tinha  o  poder  de  dar  a  sua  vida  e tornar a tomá-la, e que tinha também grande amor aos homens. Este veio, tomou o nosso lugar, morreu por nós, ressuscitou, subiu ao céu e está i destra do Pai, e assim lançou as bases de salvação de todo aquele que nele crê. Este trabalho realizado por Jesus Cristo em prol dos pecadores é representado por diversas formas nas Escrituras.

Notemos algumas delas:

a)  A  idéia  moral.  Deste  ponto  de  vista,  as  bases  da  salvação  são  consideradas  como  uma  grande providência  originada  no  amor  de  Deus  e  na  manifestação  deste  amor  aos  homens.  Segundo  esta  idéia,  a morte de Jesus Cristo na cruz do Calvário é uma grande manifestação do amor de Deus aos homens; e tem referência especial ao amor de Deus, e não à sua justiça. A crucificação é um grande espetáculo, que não só revela o grande amor de Deus ao homem, mas também tem por fim despertar o amor do homem para com Deus. Segundo esta idéia, a morte de Jesus Cristo não se relaciona intimamente com a justiça de Deus, nem com a necessidade do homem. As passagens mais citadas em abono desta teoria são as seguintes: «Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê nãopereça,  mas  tenha  a  vida  eterna»  (João  3:16).  «Mas Deus  recomenda  o  seu  amor  para  conosco  em  que Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores» (Romanos 5:8).

b)  A  idéia  comerciai.  A  concordância  é  também  descrita  como  um  resgate  feito  por  Jesus  para  livrar  da escravidão  do  pecado.  É  verdade  que  a  Bíblia  apresenta  o  trabalho  feito  por  Jesus  Cristo  deste  ponto  de vista. Mas não devemos pensar que esta idéia abrange tudo quanto Jesus fez por nós na cruz do Calvário. É verdade  que  ele  pagou  um  grande  preço  para  nos  remir;  porém  isto  não  foi  simplesmente  uma  transação comercial.  A  morte  de  Jesus  Cristo  envolve  muito  mais  do  que  isso.  Citemos  algumas  passagens  que abonam esta idéia. «Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e a dar a sua vida em resgate por muitos» (Mateus 20:28). «O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para  servir  de  testemunho  a  seu  tempo»  (I  Timóteo  2:6).  «E  também  houve  entre  o  povo  falsos  profetas, como  entre  vós  haverá  também  falsos  doutores,  que  introduzirão  encobertamente  heresias  de  perdição,  e negarão  o  Senhor,  que  os resgatou,  trazendo  sobre  si mesmos  repentina  perdição»  (II  Pedro  2:1)  «Porquefostes comprados por preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, c no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (I Coríntios 6:20).

c)  A  idéia  legal.  A  Bíblia  descreve  também  a  concordância  do  ponto  de  vista  da  lei.  Neste  sentido,  a concordância  é  considerada  obediência  às  exigências  da  lei.  Como  bem  sabemos,  o  homem  transgrediu  a lei de Deus, não havendo quem a cumprisse. Por isso Jesus veio satisfazer às exigências da lei. «Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam  debaixo  da  lei,  a  fim  de  recebermos  a  adoção  de  filhos»  (Gálatas  4:4,  5).  «Jesus,  porém, respondendo,  disse-lhes:  «Deixa  por  agora,  porque  assim  nos  convém  cumprir  toda  a  justiça.  Então  ele  odeixou» (Mateus 3:15».  «E, achado em forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz» (Filipenses 2:8).


d) A idéia sacrificial. A concordância 6 descrita como o trabalho do mediador de reconciliar Deus com os homens  por  meio  de  um  sacrifício.  O  Novo  Testamento  está  cheio  de  passagens  que  representam  a concordância  como  um  grande  sacrifício.  «Mas,  vindo  Cristo,  o sumo  sacerdote dos  bens futuros,  por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta feitura, nem por sangue de bodes e bezerros,  mas  por  seu  próprio  sangue,  uma  vez  entrou  no  santuário,  havendo  efetuado  uma  eterna redenção» (Hebreus 9:11, 12). «Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela mortede seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida» (Romanos 5:10). «E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por ele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus» (Colossenses 1:20).

 Vale  a  pena  citarmos  aqui  palavras  de  Isaias,  muito  preciosas  neste  assunto.  «Todos  nós  andávamos desgarrados  como  ovelhas;  cada  um  se  desviava  pelo seu  caminho;  porém  o  Senhor  fez  cair  sobre  ele  a iniqüidade de nós todos. Exigindo-se-lhe, ele foi oprimido, porém não abriu a sua boca: como um cordeiro, foi levado  ao  matadouro,  e,  como  ovelha  muda  perante  os seus tosquiadores,  assim  não  abriu  a  sua  boca.Da  ânsia  e  do  juízo  foi  tirado;  e  quem  contará  o  tempo  da  sua  vida?  porque  foi  coitado  da  terra  dos viventes:  pela  transgressão  do  meu  povo  a  praga  estava  sobre  ele.  E  puseram  a  sua  sepultura  com  os ímpios,  e  com  o  rico estava  na sua  morte;  porquanto nunca fez  injustiça,  nem  houve  engano  na  sua  boca.Porém  ao  Senhor  agradou  moê-lo,  fazendo-o  enfermar;  quando  a  sua  alma  se  puser  por  expiação  do pecado,  verá  a  sua  semente  e  prolongará  os  dias;  e o  bom  prazer  do  Senhor  prosperará  na  sua  mão.  O trabalho  da  sua  alma  ele  verá,  e  se  fartará;  com  o seu  conhecimento  o  meu  servo,  o  justo,  justificará a muitos: porque as suas iniqüidades levará sobre si. Pelo que lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; e levou sobre si o pecado de muitos, e intercede pelos transgressores» (Isaías 53:6-12).


Todo  este  capítulo  fala  do  sacrifício  expiatório  de  Jesus,  e  convém  ser  lido  com  muita  atenção: «Verdadeiramente  ele  tomou  sobre  si  as  nossas  enfermidades,  e  as  nossas  dores  levou  sobre  si;  e  nós  o reputávamos  por  aflito,  ferido  de  Deus,  e  oprimido.  Porém,  ele  foi  ferido  pelas  nossas  transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados» (Isaías 53:4,


5). Um  exame  destas  passagens  citadas  mostrar-nos-á,  claramente,  que  as  Escrituras  apresentam  a  obra  de Cristo  na  redenção  humana  destes  quatro  pontos  de  vista:  moral,  comercial,  legal  e  sacrificial.  Deve-se notar, porém, que a idéia sacrificial é a mais fundamental e abrange todas as outras. O sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário não só lançou as bases da nossa salvação, mas também satisfaz às exigências da lei  de  Deus.  Foi  um  grande  preço  pago  por Jesus  e  também  a  maior  expressão  do  amor  de  Deus.  Temos, pois, na idéia sacrificial o resumo, a essência de todas as outras idéias que giram em torno da doutrina da concordância.

Os  escritores  inspirados  acharam  tão  rica  a  obra  redentora  de  Jesus  Cristo  que  a  apresentaram  destes diversos  pontos  de  vista  que  acabamos  de  mencionar,  a  fim  de  que  evitemos  o  erro  de  construir  a  nossa doutrina  de  concordância  num  deles  somente.  A  doutrina  verdadeira  da  concordância  deve  incluir  todas essas  idéias,  porque,  como    observamos,  o  que  Cristo  fez  revelou  o  amor  de  Deus,  serviu  de  resgate  e satisfez a todas as exigências da lei. Muitos dos erros que surgem em torno desta doutrina são oriundos de idéias parciais e unilaterais, o que devemos evitar. A Bíblia inclui todas as significações debaixo da grande idéia de sacrifício que achamos tão magistralmente exposta no capitulo 53 do livro de Isaias.

Vejamos, pois, o que dizem as Escrituras sobre esta grande doutrina da concordância. Deparam-se-nos duas perguntas, a que procuremos responder. A primeira é: Qual o fim da morte de Jesus em relação a Deus? A segunda: Qual o fim da morte de Jesus em relação ao homem?

A primeira destas perguntas envolve o problema da relação da concordância com a santidade de Deus; e asegunda, o problema da relação da concordância com o pecado da humanidade. Havia, realmente, desde a queda,  dois  grandes  problemas,  de  difícil  solução: o  primeiro se  achava  em  Deus:  o  segundo,  no  homem. Há  pessoas  que  ensinam  que  não  existia  nenhum  problema  em  Deus,  mas  somente  no  homem.  Não  é verdadeiro   este   ensino,  porquanto  as   Escrituras  dizem   o   contrário.  Jesus  Cristo   tinha   de  fazer  a reconciliação do homem com Deus e também de Deus com o homem.

 5.2.2. A Doutrina da Concordância

 a) A concordância em relação a Deus. Como já tivemos ocasião de observar, havia em Deus um problema a ser resolvido antes que o homem pudesse reconciliar-se com ele. Havia um amor a revelar-se e uma justiça a ser vindicada. A Parábola do Filho Pródigo, segundo o pensar de muitos, não representa bem o problema de  reconciliação  relativamente  a  Deus,  porque  ela  nos  mostra  Deus  pronto  e  desejoso  de  receber  o  filho pródigo, tal qual estava. Parece que não havia em Deus nenhum obstáculo em receber o homem em intima comunhão. Há, porém, muitos passos bíblicos que revelam que Deus não podia perdoar ao homem sem que fossem satisfeitas, primeiramente, as exigências da sua própria natureza, da sua dignidade. Deus teria sido menos Deus se não tivesse exigido do homem, da raça humana, uma satisfação da ofensa cometida contra a sua pessoa. Até mesmo um homem, quando ofendido na sua dignidade, não se reconcilia com o seu ofensor sem exigir deste amplas satisfações. E quanto mais reto e digno é o homem, mais certo é que ele as exigirá. Assim é também em relação a Deus.

O  fim  do  perdão  é  comunhão.  E  como  poderia  Deus  ter  comunhão  com  o  homem  sem  que  exigisse primeiro  uma  satisfação?  Se  Deus  deixasse  passar  a falta  pelo  homem  cometida  sem  exigir-lhe  uma satisfação,  teria,  de  certo  modo,  pactuado  com  ele.  O  grande  problema  de  reconciliação  não  é  de  Deus baixar-se  ao  nível  do  homem,  mas,  sim,  de  elevar  o homem  ao  nível  de  Deus.  Havia,  pois,  grande necessidade de reivindicação. Deus não sacrifica a sua própria dignidade para ter comunhão com o homem impenitente.

 Jesus, por ser Deus, achava-se em condições de satisfazer às exigências da natureza de Deus. A ofensa feita pelo homem, por meio dos seus pecados, era tão grande que não havia possibilidade de o homem reparar a falta  cometida^  Tão  grande  que    não  havia  possibilidade  de  a  raça,  por  si  mesma,  operar  a  sua reconciliação com Deus. Era necessário, portanto, que o Filho do homem fosse levantado na cruz para que reconciliasse  Deus  com  o  homem.  Ele  resolveu  este problema  que  se  achava  em  Deus  e  abriu  o  caminho para o filho pródigo voltar ao lar paterno. A Parábola do Filho Pródigo nos faz ver esta obra realizada por Jesus Cristo em relação a Deus.

b)  A  concordância  em  relação  à  humanidade.  0  grande  fim  de  Jesus  em  relação  à  humanidade  toda  era trazê-la  ao  arrependimento  e  a  uma  nova  comunhão  com  Deus  o  Pai.    vimos  que  Jesus  satisfez plenamente  ás  exigências  da  natureza  de  Deus.  E  agora,  por  causa  da  sua  humanidade,  ele  fez  o  que  o homem não podia fazer. Pela sua morte deu ao homem não só a esperança, como também a certeza de uma comunhão íntima com Deus. Desde que o homem aceite o que Cristo fez em seu favor. Deus está pronto a perdoar-lhe  e  a  recebê-lo  de  novo  em  intima  comunhão.  O  homem,  porém,  precisa  chegar-se  a  Deus  por meio de Jesus Cristo. Cristo é o Caminho e ninguém chegará ao Pai senão por ele. «Eu sou o Caminho, e a Verdade  e  a  Vida.  Ninguém  vem  ao  Pai,  senão  por  mim»  (João  14:6).  À  raça    não  restava  esperança alguma de reconciliação com Deus; porém, o que ela não podia fazer de modo nenhum, Cristo fez, de sorte que, aceitando o que Cristo fez por ela, pode achar paz com Deus. c) A Extensão da concordância. A Bíblia ensina que a concordância foi feita para todo homem. A salvação que há em Jesus Cristo í: suficiente para toda  a humanidade.  «Ele  é  a  propiciação  pelos  nossos  pecados,  e  não  somente pelos  nossos,  mas  também pelos  de  |  Indo  o  mundo»  (I  João  2:2).  «0  qual  se  deu  a  si  mesmo  em  resgate  por  todos,  para  servir  de testemunho a seu tempo» (Tim. 2:6).


Destas  passagens  claramente  se  depreende  que  a  salvação  é  para  todos.  Convém  notar,  porém,  que  a sua  aplicação  é  diferente,  porque  é  limitada  aos  que  crêem.  Isto  é,  a  salvação,  quanto  à  sua  base,  é universal, mas, quanto à sua aplicação, limita-se exclusivamente aos que crêem. «Para que todo aquele que nele  crê  não  pereça,  mas  tenha  a  vida  eterna.  Porque  Deus  amou  o  mundo  de  tal  maneira,  que  deu  o  seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; masquem não crê já está condenado; porquanto não crê no nome do I unigênito Filho de Deus» (João 3:15-18). «Isto é, a justiça de Deus L pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença» (Romanos 3:22).

5.2.3. A obra intercessora de Jesus Cristo. O oficio sacerdotal de Cristo não findou com o trabalho de concordância,  porque  ele  continua  a  ser  sacerdote. Ele  continua  a  trabalhar,  a  interceder  em  favor  da humanidade.  Ensinam-nos  as  Escrituras  que  ele  voltou  aos  céus,  que  está  agora  à  destra  do  Pai,  e  lá continua o seu trabalho intercessório. Lá no céu ele continua ainda como sumo I sacerdote. «E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porquanto pela morte foram impedidos de permanecer. Mas  este,  porque  permanece  eternamente,  tem  um  sacerdócio  perpétuo.  Portanto,  pode  também  salvar perfeitamente  aos  que  por  ele  se  chegam  a  Deus,  vivendo  sempre  para  interceder  por  eles.  Porque  nos convinha tal sumo sacerdote, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus» (Hebreus 7:23-26). 

a) A natureza do trabalho intercessório de Jesus Cristo.

Este trabalho é uma atividade especial e continua de Jesus Cristo, pela qual ele garante ao crente as bênçãos não    espirituais,  mas  também  temporais.  Esta  intercessão  de  Cristo  baseia-se  no  seu  sacrifício  aqui na terra.  «Meus  filhinhos,  estas  coisas  vos  escrevo  pura  que  não  pequeis,  e,  se  alguém  pecar,  temos  um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (I João 2:1,2).

Estas  palavras  do  apóstolo  João  ensinam  que  Cristo continua  a  interceder  por  nós  junto  do  Pai,  como  osantigos  sacerdotes  intercediam  pelo  povo;  mas,  aqui,  decerto,  com  muito  mais  eficácia,  porque  Cristo  é sacerdote perfeito.

 b)  Os  fins  do  trabalho  intercessório  de  Jesus  Cristo.  Podemos  descobrir,  pelo  menos,  dois  fins  na  obra intercessória de Jesus Cristo.

(a) Uma intercessão a favor de todos os homens em geral. «Pelo que lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos  repartirá  ele  o  despojo;  porque  derramou a  sua  alma  na  morte,  e  foi  contado  com  os transgressores;  e  levou  sobre  si  o  pecado  de  muitos,  e  intercede  pelos  transgressores»  (Isaias  53:12).  «E Jesus dizia: «Pai, perdoa -  -lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo os seus vestidos, lançaram sortes» (Lucas 23:34).

(b)Uma intercessão especial a favor dos crentes. Dentre as muitas passagens que ensinam esta idéia citamos apenas as três seguintes: «E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, ' para que fique convosco para sempre» (João 14:16). «Eu rogo por eles: não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são   teus»   (João   17:9).   «Pelo   que   convinha   que   em   tudo   fosse   semelhante   aos   irmãos,   para   ser misericordioso  e  fiel  sumo  sacerdote  nas  coisas  que  são  para  com  Deus,  para  expiar  os  pecados  do  povo.Porque  naquilo  que  ele  mesmo,  sendo  tentado,  padeceu,  pode  socorrer  aos  que  são  tentados»  (Hebreus 2:17, 18).

5.3. Cristo como Rei

Vimos páginas atrás, que Jesus, além de profeta e sacerdote, era também rei. Em virtude deste oficio. Cristo há de reinar sobre todas as coisas, assim no céu como na terra. Consideremos os seguintes passos bíblicos que se referem ao reino universal de Jesus Cristo: «Eu, porém, ungi o meu rei sobre o meu santo monte de Sião. Recitarei o decreto: O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e os fins da terra por tua possessão» (Salmos 2:6-8). «E quando o Filho do homem vier em sua glória e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória, e todas as nações serão  reunidas  diante  dele,  e  apartará  uns  dos  outros,  como  o  pastor  aparta  dos  bodes  as  ovelhas  (Mateus 25:31,  32).  «E,  chegando-se  Jesus,  .  falou-lhes,  dizendo:  É-me  dado  todo  o  poder  no  céu  e  na  terra» (Mateus 28:18).

Também Jesus reinará na sua igreja militante, isto é, na sua Igreja, que aqui na terra milita contra o mal.

Quando Jesus nasceu, do céu desceram os anjos, cantando, e anunciaram aos pastores: «que hoje, na cidade de Davi, vos nasceu o Salvador que c Cristo o Senhor» (Lucas 2:11). «Respondeu Jesus: o meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus: porém agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo, tu és rei? Jesus respondeu: TU DIZES QUE EU SOU. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo para dar testemunho na verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz» (João 18:37,38). «E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu por cabeça da igreja» (Efésios 1:22).

 Finalmente  Jesus  reinará  na  sua  igreja  triunfante. «E  nos  fez  reis  sacerdotes  para  Deus  e  seu  Pai:  a  ele glória e poder para todo o sempre. Amém» (Apocalipse 1:6). «Que também, como uma verdadeira figura, agora nos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia do corpo, mas o da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo; o qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu; havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências» (I Pedro 3:21, 22)

                        TEOLOGIA SISTEMÁTICA A. B. LANGSTON


 Lição 12 - Jesus, o Homem Perfeito, apresentado pelo Comentarista das Revistas Lições Bíblicas de Adultos da CPAD, pastor Claudionor de Andrade.

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