domingo, 8 de março de 2020

Lição 11 - O Espírito Santo e os Dons





 TEXTO BÍBLICO BÁSICO

1 Coríntios 12.1-11
1         1 -    Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
 2 - Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados.
      3 - Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo         Espírito de Deus diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.
       4 - Ora, há diversidade de dons mas o Espírito é o mesmo.
       5 - E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
       6 - E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
       7 - Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil.
       8 - Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;
       9 - e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;
       10 - e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas.
       11 - Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.


TEXTO ÁUREO

Cada um administre aos 
outros o dom como o recebeu, como 
bons despenseiros da 
multiforme graça de 
Deus.
 1 Pedro 4.10


OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:

• conhecer o propósito de Deus ao distribuir os dons espirituais à Igreja;
• definir os diversos dons espirituais, contextualizando-os à vida da Igreja;
• buscar a autoridade dos dons espirituais para edificação da Igreja e para o serviço cristão.


ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Caro professor, Saulo, o grande perseguidor da Igreja, tornou-se o maior missionário cristão de todos os tempos entre os gentios (At 8.3; Rm 11.13). Ao longo dos séculos da história da Igreja, ateus, adúlteros, drogados, corruptos e criminosos da pior espécie tiveram a vida transformada no momento em que conheceram a verdade que Cristo veio trazer ao mundo. A aprendizagem dos princípios do Reino de Deus transformará a pessoa de forma inigualável e sem paralelo. Nenhuma outra Instituição poderá operar mudanças tão duradouras, significativas, abrangentes e com repercussões tanto em toda a extensão da vida presente como na vindoura como o faz a Palavra de Deus. Por isso, quem a ensina deve fazê-lo com dedicação, empenho e amor (Extraído de: CHAVES, G. V. Educação Cristã — Uma Jornada Para Toda Vida, 2012, p. 59).

Deus o abençoe!

COMENTÁRIO

 Palavra introdutória

Na Bíblia, há menção de vários tipos de dons, visto que a palavra ocorre no texto sagrado com diferentes acepções. Jesus Cristo é, por excelência, o dom de Deus (Jo 4.10; Rm 6.23). O Espírito Santo é o dom de Cristo (At 2.38,39). Esses dons são providos para a Igreja, a fim de que, por meio deles, o povo de Deus realize a obra que lhe foi confiada.

Quando falamos em dons, precisamos procurar o melhor entendimento desse assunto na raiz da palavra grega charismata. Esse vocábulo sugere a graça de Deus como origem de Seus dons (1 Co 12.4). Eles sempre serão uma dádiva divina que devem ser aceitos pela fé e usados para a glória de Deus.


1.     DONS DE REVELAÇÃO

 Nesta lição, aprofundaremos nosso conhecimento acerca dos dons espirituais, os quais são concedidos aos cristãos a fim de edificar, exortar e capacitar a Igreja (Ef 4.8,12). Os dons podem ser classificados em três grupos: de revelação, de inspiração e de poder. Vejamos, agora, os que estão relacionados à revelação.


1.1. Palavra de sabedoria

O dom da sabedoria nos foi dado para suprir aquilo que a sabedoria humana não pode proporcionar. Ao escrever à comunidade cristã dos coríntios, Paulo destaca o dom da palavra de sabedoria, que significa a capacidade de compreender e de transmitir a Palavra de Deus com profundidade, aplicando-a a situações particulares, em que são resolvidos problemas difíceis, mediante o emprego da sabedoria espiritual (1 Co 1.19-21).

A sabedoria eterna de Deus, dentre outras coisas, despreza a sabedoria humana (1 Co 1.19,20), produz salvação pela loucura da pregação (1 Co 1.21) e comunica o evangelho em situações especificas de maneira sobrenatural, conforme a condução do Espírito (Mt 10.19,20).

 Josué (Dt 34.9), Salomão (2 Cr 1.11,12) e Esdras (Ed 7.25), dentre tantos outros líderes de Israel, exercitavam esse dom. No Novo Testamento, Jesus é o exemplo maior (Lc 2.40; Mc 6.2) e muitos discípulos eram descritos como cheios de sabedoria; do Espírito Santo; de fé e de poder (At 6.3,10).

1.2. Palavra de conhecimento

O dom da palavra do conhecimento é expresso a partir da análise profunda da revelação, que tem base nas Escrituras.


É pela ação do Espírito que os cristãos são enriquecidos em toda palavra e em todo o conhecimento (1 Co 1.5) para tornarem-se capazes de progredir na fé (Cl 1.9,10).

Não se trata de conhecimento natural, intelectual, acadêmico ou científico, muito menos de premonição ou adivinhação. A manifestação desse dom ocorre mediante a revelação de algo que está oculto ao homem natural e patente apenas na mente de Deus. As palavras de sabedoria e conhecimento servem para guiar e orientar a Igreja e não para beneficio particular de quem as exercita, estando em estreita relação com o ensino e a pregação da Palavra de Deus (1 Co 2.6,7,13).

 1.3. Discernimento de espíritos

Em 1 Coríntios 12.10, discernir assemelha-se ao vocábulo discriminar, identificar. A ideia é que esse dom serve como um fiscalizador das manifestações dos dons ocorridas entre os cristãos, em relação à sua procedência. São três as possíveis fontes: o Espírito, Satanás ou o homem. Sem o dom de discernimento espiritual não é possível identificar se as manifestações espirituais ou sobrenaturais no meio da Igreja são, de fato, procedentes de Deus (At 16.16-18).

2.     DONS DE INSPIRAÇÃO

No dia de Pentecostes, a profecia de Joel sobre o derramamento do Espírito cumpriu-se (Jl 2.28-30). Os cristãos, então, começaram a falar em outras línguas segundo o Espírito lhes concedia que falassem (At 2.3,4).


2.1. Profecia

 O dom de profecia capacita os cristãos a transmitir uma palavra ou revelação diretamente de Deus, sob a direção do Espírito Santo (2 Pe 1.20,21). Assim, não se trata de um sermão previamente preparado para ser pregado, mas de uma mensagem direta da parte do Senhor. Profecia significa, literalmente, falar ao outro, nesse caso, falar em nome de Deus.

 2.2. Variedade de línguas

 O dom de variedade de línguas pressupõe a comunicação do cristão com Deus, sob a influência direta do Espírito Santo, resultando em uma oração, louvor ou ação de graças em variados tipos de línguas (At 2.4; 10.46; 1 Co 14.2). Para que sirvam ao seu propósito, as manifestações espirituais sob a forma do dom de línguas precisam ser interpretadas, pois o que fala em língua a si mesmo edifica (1 Co 14.4).

É preciso salientar que o exercício do dom de variedade de línguas está restrito às pessoas que receberam a promessa do batismo com o Espírito Santo. Conforme as Escrituras, o batismo com o Espírito Santo é uma experiência distinta e subsequente ao novo nascimento. Isso pode ser verificado no dia de Pentecostes (At 2.14), na casa do centurião Cornélio (At 10.44-46) e na cidade de Éfeso (At 19.1-6).

Uma vez que recebemos o Espírito quando nos convertemos, somos todos membros do corpo de Cristo. Raça, posição social, riqueza ou mesmo sexo (G1 3.28) não são vantagens nem desvantagens quando estamos em comunhão e servimos ao Senhor.

As línguas sem amor não passam de barulho. É o amor que enriquece o dom e lhe dá valor. O ministério sem amor deprecia tanto o ministro quanto os que são alcançados por eles; mas o ministério com amor enriquece a igreja toda. O saber ensoberbece, mas o amor edifica (1 Co 8.1). O propósito dos dons espirituais é a edificação da Igreja (1 Co 12.7; 14.3,5,12,17,26). Isso significa que não devemos pensar em nós mesmos, mas nos outros, o que, por sua vez, exige amor (WIERSBE, Geográfica, 2007a, p. 797,799).

2.3. Interpretação de línguas

A interpretação garante a plena edificação da Igreja, pois todos podem compreender a mensagem em sua própria língua. O falar em línguas e o interpretar devem manifestar-se quase sempre juntos.

O dom de interpretar línguas é a manifestação sobrenatural que permite a alguém, debaixo do controle do Espírito, declarar o significado das palavras pronunciadas pelo Espírito em outras línguas.

A língua falada em voz alta no culto pode ser interpretada, de acordo com Paulo (1 Co 14.27,28). A língua que não for interpretada deve então ser falada em voz baixa, para edificação do próprio cristão.

Se o Espírito Santo inspirar alguém a falar em voz alta é porque deseja comunicar algo. Assim, a mensagem em línguas precisa ser interpretada. Vale salientar que a interpretação pode vir através de quem deu a mensagem em línguas ou de outra pessoa (1 Co 14.13).

DONS DE PODER

Os dons de poder são: fé, dons de cura e operação de milagres. Deus usou esses dons para confirmar a verdade proferida por meio dos primeiros apóstolos (Rb 2.3,4) e continua a utilizá-los na confirmação de Sua Igreja hoje em dia (Mc 16.17).

3.1. Fé sobrenatural

A fé sobrenatural difere daquela que todos os seres humanos exercitam ao crer, por exemplo, que o sol nascerá todas as manhãs (fé natural) e da própria fé para salvação (11h 11.6). Esse dom consiste na capacidade de crer que Deus pode interferir na História para mudá-la com feitos extraordinários, segundo o Seu querer.

Essa certeza inabalável esteve presente na vida de Pedro e João quando disseram ao paralítico, na porta do templo, que se colocasse em pé em nome de Jesus (At 3.1-10). Também é vista na vida do profeta Elias, quando este enfrentou os profetas de Baal no monte Carmelo (1 Rs 18.2240).

Em Romanos 12.3, Paulo fala da medida da fé, que alude à decisão soberana de Deus em disponibilizar toda sorte de dons. Desse modo, subentende-se que há uma provisão divina para cada crise e para cada situação. A autoridade da fé é a própria confiança na providência divina (Mt 17.20; At 14.22).

3.2. Dons de curar

Em 1 Coríntios 12.9, a palavra dom aparece no plural. Esta é uma indicação clara de que Deus concede aos Seus filhos a autoridade espiritual sobre diferentes enfermidades e de que o exercício de cada uma delas é um dom especial (At 28.8).

Não se pode esquecer que o poder de curar pertence ao Senhor Jesus e não àquele a quem foi concedido o dom. A cura de um enfermo continua sendo resultado da vontade divina sobre o homem que crê (Mt 13.58).

3.3. Operação de milagres

O texto bíblico básico afirma que o Espírito concede à Igreja manifestações sobrenaturais de poder (1 Co 12.10; 2 Co 12.12). A ênfase, entretanto, não está naqueles que possuem a capacidade de operar milagres (Mt 7.22,23), mas no propósito de sua realização.

 O ensino geral dos Evangelhos é que todas as operações miraculosas realizadas pelos que foram agraciados por Deus com essa capacitação visam única e exclusivamente à glória de Deus Go 11.4) e ao testemunho da veracidade da cura realizada (At 14.3).

Os atos milagrosos realizados por aqueles que manifestam esse dom contrariam as leis cientificas notórias entre os homens, pois são atos sobrenaturais autorizados por Deus. Por meio desse dom, o cristão torna-se um canal por meio do qual Deus autentica a autoridade do evangelho pregado (At 8.6).

CONCLUSÃO

Esse estudo revela-se muito importante, uma vez que os dons são tão necessários hoje quanto nos dias da Igreja primitiva, pois é por meio deles que o corpo de Cristo exerce sua autoridade e executa o necessário serviço a Deus. Por meio desses dons, o Senhor supre as constantes e variadas necessidades da Igreja, principalmente, no que se refere à maturidade e à constância na fé (Ef 4.12-14).

Os dons são concedidos para o beneficio da igreja toda. Não são para o usufruto individual, mas para uso corporativo.
Os coríntios, em especial, precisavam ser lembrados disso, pois usavam os dons espirituais de maneira egoísta, para promover a si mesmos, não para edificar a igreja. Quando aceitamos nossos dons com humildade, podemos usá-los para promover harmonia e para ajudar a igreja como um todo.

Os diversos dons são citados em 1 Coríntios 12.8-10,28 bem como em Efésios 4.11 e Romanos 12.6-8. Quando combinamos essas listas, encontramos 19 dons e cargos diferentes. Uma vez que a lista em Romanos não é idêntica à de 1 Colhidos, podemos supor que Paulo não estava tentando tratar exaustivamente do assunto em nenhuma dessas passagens. Apesar de os dons citados serem apropriados para o ministério da igreja, Deus não se restringe a essas listas. Ele pode dar outros dons como bem lhe aprouver (WIERSBE, Geográfica, 2007a, p. 796).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. Por que precisamos da palavra de conhecimento para ser sal da terra e luz do mundo?
R.: Por intermédio do estudo sistemático da Bíblia, o Espírito Santo nos recorda os ensinos de Jesus, revela-nos estratégias e nos fornece as palavras corretas para refletirmos a luz de Jesus por todo o mundo (Jo 14.26).

                                           Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 61





DONS DE PODER

Na relação dos nove dons mencionados por Paulo em 1 Co 12 , très são identificados como dons de poder , fé, dons de curar e de operação de maravilhas (v. 9,10). Os dons de poder consistem no poder sobrenatural do Espírito Santo que capacita o cristão a fazer aquilo que não está ao alcance dos recursos humanos.

ü  Dons de curar fé, dom da operação de maravilhas


DONS DE REVELAÇÃO

 Os três primeiros dons constantes da relação dos nove mencionados por Paulo em 1 Coríntios 12 são identificados como dons de revelação: palavra da sabedoria, palavra do conhecimento ou ciência e discernimento de espíritos (v. Não existe especificamente mencionado um dom de revelação nas Escrituras.

ü  Discernimento de espíritos Palavra da ciência Palavra da sabedoria


DONS DE CURAR

Esse é o único dos nove dons da lista de 1 Coríntios 12 mencionado no plural. Sem dúvida, isso se deve à multiforme maneira em que ele costuma manifestar-se e ser concedido à Igreja_

Sobre essa questão, em Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal, David Lim manifestou um ponto de vista interessante:

Em Atos dos Apóstolos, muitos aceitaram o Evangelho e foram salvos depois de milagrosamente curados. No texto grego. a expressão inteira aparece no plural. Assim, parece que ninguém tem o dom exclusivo da cura. Pelo contrário, muitos dons de cura estão à disposição para satisfazer .


DOM DO ESPÍRITO SANTO

 A maioria dos teólogos pentecostais concorda em que esse dom seja o batismo com o Espírito Santo (At 2.38; 10.451. Trata-se de um dom, um presente, um favor, e nunca um premio. Deve-se entender também que não se trata de um atestado de santidade ou de maturidade cristã. Ele é indispensável a qualquer testemunha de Cristo.
ü  Domínio próprio -.Temperança

DOM/ DONS EM GERAL

Os dicionários definem dom como presente, dádiva, doação, oferenda, donativo, dote. Essas definições estão de acordo com Tiago 1.17: Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto. Etimologicamente, a palavra dom ou dons é tradução do vocábulo grego charismata, favor especial de Deus. Na Bíblia, há menção de vários tipos de dons, visto que a ocorre no texto sagrado com diferentes acepções. Jesus Cristo  o dom de Deus ( Jo 4.10 ; Rm 6.23, 2 Co 9:15; veja também Ec 3:13). O Espírito Santo é o dom de Cristo (At 2: 38). O senhor Jesus outorga dons ministeriais (Ef 4. 8,1) e espirituais (1 Co12.8-10). São dons providos para a Igreja, a fim de que, por meio deles, o povo de Deus realize a obra que lhe foi confiada.

CARISMA--CARISMATA

       Dom da fé
ü  Fé, dom da

Dom da palavra da ciência
ü  Palavra da ciência

Dom da palavra da sabedoria
ü  Palavra da sabedoria

Dom de cura
ü  Dons de curar

Dom de discernir os espíritos
ü  Discernimento de espíritos

Dom de interpretação de línguas
ü  Interpretação das línguas

Dom de interpretar
ü  Interpretação das línguas

Dom de operação de maravilhas
ü  Operação de maravilhas

Dom de profecia
ü  Profecia, dom de

Dom de profetizar
ü  Profecia, dom de

                           DICIONÁRIO DO ESPIRITO SANTO - GESIEL GOMES


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Os dons do Espírito Santo

O grande pregador e pastor inglês C.H. Spurgeon, em um dos seus escritos relata a história de uma velhinha que morava numa instituição para idosos po­bres que ele certo dia visitou. Nos pertences dessa senhora foi encontrado um documento bancário antigo, que lhe fora entregue como lembrança por alguém muito rico. Com permissão da velhinha, o pastor Spurgeon levou o documento a um banco e ficou sabendo que se tratava de uma elevada quantia em depósito, suficiente para aquela senhora viver muito bem pelo resto da vida.

Partindo desse fato, Spurgeon concluiu que muitos crentes vivem em estado de grande pobreza espiritual por ignorarem as infinitas riquezas espirituais que estão a seu dispor, em Cristo, se as buscarem, conforme lemos em Efésios 3.8. Neste contexto, está a riqueza dos dons espirituais. Daí São Paulo escrever aos coríntios: “Acerca dos dons espirituais, não quero irmãos que sejais ignorantes” (I Co 12.1).

A igreja da atualidade precisa mais e mais conhecer, buscar, receber e exercitar a provisão divina imensurável que há nos dons espirituais, para o seu contínuo avanço, edificação, consolidação e vitória contra as hostes infernais, e, ao mesmo tempo, glorificar muito mais a Cristo.

Princípios doutrinários. Pelo menos dois princípios devem ficar bem patentes aqui, concernentes aos dons espirituais:

1) Uma pessoa que recebeu do Senhor dons do Espírito não significa que ela alcançou um estado de perfeição e que é merecedora das bênçãos de Deus. As manifestações e operações do Espírito Santo por meio de um crente jamais devem ser motivo de orgulho, seja ele quem for.

2) Assim como o crente não é salvo pelas obras, mas tão-somente pela graça divina (E f 2.8; T t 3.5), assim também os dons do Espírito Santo nos são concedidos pela graça de Deus para que ninguém se engrandeça — “segundo a graça" (Rm 12.6).

Na igreja de Corinto, certos crentes imaturos receberam dons espirituais e se descuidaram de crescer na fé e na doutrina. Problemas surgiram daí, afetando toda aquela igreja. Definição dos dons. Em seu sentido geral, o termo “dom ” tem mais de um emprego. Há os dons naturais, também vindos de Deus na criação, na natureza: a água, a luz, o ar, o fogo, a vida, a saúde, a flora, a fauna, os alimentos, etc. Há também os dons por Deus concedidos na esfera humana: os talentos, os dotes, as aptidões, as prendas, as virtudes, as qualidades, as vocações inatas, etc.

O dom espiritual é uma dotação ou concessão especial e sobrenatural pelo Espírito Santo, de capacidade divina sobre o crente, para serviço especial na execução dos propósitos divinos para e através da Igreja. “São como que faculdades da Pessoa divina operando no ser humano” (Horton). Dons espirituais como aqui estudados não são simplesmente dons humanos aprimorados e abençoados por Deus.

Foi a poderosa e abundante operação dos dons do Espírito que promoveu a expansão da igreja primitiva como se vê no livro de Atos dos Apóstolos e nas Epístolas. Foi dotada de dons espirituais que a igreja de então continuou crescendo sem parar e triunfando, apesar das limitações da época, da oposição e das perseguições. A obra missionária também avançou celeremente como fogo em campo aberto.

As principais passagens sobre os dons espirituais são sete: I Coríntios 12.1-11,28-31; 13; 14; Romanos 12.6-8; Efésios 4.7-16; Hebreus 2.4; e Pedro 4.10,11. Além destas referências, há muitos outros textos isolados através da Bíblia sobre o assunto. Termos designations dos dons. Abordaremos a partir de agora os cinco principais termos bíblicos designadores dos dons. Estes termos descrevem a natureza dos dons.

1) Pneumatika (I Co 12.1). Os críticos e opositores dos dons alegam que, no original, aqui, não consta a palavra “dom ”. Não consta neste versículo, mas consta a seguir, em I Coríntios 12 e nos capítulos seguintes. O referido termo refere-se às manifestações sobrenaturais da parte do Espírito Santo através dos dons (cf. I Co 12.7; I4.I).

2) Charismata (I Co 12.4; Rm 12.6). Falam da graça subseqüente de Deus em todos os tempos e aspectos da salvação.

 3) Diakonai (I Co 12.5). Isso fala de serviço, trabalho e ministério prático. São ministrações sobrenaturais do Espírito através dos membros da igreja como um corpo (I Co 12.12-27).

4) Energemata (I Co 12.6). Isto é, os dons são operações diretas do poder de Deus para a realização de seus propósitos e para abençoar o povo (cf. w.9,I0).

5) Phanerosis{ I Co 12.7). Os dons são sobrenaturais da parte de Deus; mas, conforme o sentido do termo original, aqui, eles operam igualmente na esfera do natural, do tangível, do sensível, do visível.


Dons de manifestação do Espírito

Vamos agora classificar ou agrupar os dons com o objetivo de entender melhor o assunto. A primeira classificação é a dos dons de manifestação do Espírito em número de nove, conforme I Coríntios 12.8-10. Esses dons são formas de capacitação sobrenatural de pessoas, para a “edificação do corpo de Cristo” como um todo, e também para a bem-aventurança de seus membros, individualmente (vv.3-5,12,17,26).

Os capítulos 12 a 14 de I Coríntios têm a ver com esses maravilhosos dons. Eles são de atuação eventual, inesperada e imprevista (quanto ao portador do dom), tudo dependendo da soberania de Deus na sua operação. Esses dons manifestam o saber de Deus, o poder de Deus e a mensagem de Deus. Dons que manifestam 0 saber de Deus (I Co 12.8-10). Esses dons manifestam a multiforme sabedoria de Deus:

1) A palavra da sabedoria (v.8). E um dom de manifestação da sabedoria sobrenatural, pelo Espírito Santo. E um dom altamente necessário no governo da igreja, pastoreio, administração, liderança, direção de qualquer encargo na igreja e nas suas instituições.

2) A palavra da ciência (v.8). “Ciência” eqüivale, aqui, a “conhecimento”. Ê um dom de manifestação de conhecimento sobrenatural pelo Espírito Santo; de fatos, de causas, de ensinamentos, de ensinadores , etc.

3) O dom de discernir os espíritos (v.IO). No original, os dois termos que designam este dom estão no plural. E um dom de conhecimento e de revelação sobrenaturais pelo Espírito Santo. E um dom de proteção divina para não sermos enganados e prejudicados por Satanás e seus demônios, e também pelos homens. Uma das principais atividades de Satanás é enganar (Ap 12.9; 20.8,10; I Tm 4.1). Os homens também enganam (E f 4.14; I Jo 2.26; 2 Jo v.7). Líderes em geral — inclusive de música — , pastores, evangelistas, mestres, precisam muito deste dom para não serem enganados.

Dons que manifestam 0 poder de Deus (I Co 12.9,10). Esses dons manifestam a poder dinâmico de Deus:

1) A fé (v.9). E um dom de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo. Superação e eliminação de obstáculos, sejam quais forem, e de impedimentos; liberação do poder de Deus; intercessão. Não se trata aqui da fé no seu sentido salvífico (E f 2.8); ou fé como fruto do Espírito (G1 5.22); ou fé significando o corpo de doutrinas bíblicas (G1 1.23); ou fé como o aspecto puramente espiritual da vida cristã (2 Co 13.5). Trata-se da fé chamada “fé especial”, “fé miraculosa”. Este dom opera também em conjunto com vários outros dons.

2) 0 dom de curar. Ou “dons de curas”, literalmente (v.9). Isto é, este dom é multiforme na sua constituição e na sua operação. Ê uma sublime mensagem para os enfermos, não importando a sua doença. São dons de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo para a cura das doenças e enfermidades do corpo, da alma e do espírito, para crentes e descrentes.

Esses “dons de curas” operam de várias maneiras: através da Palavra; através de outro dom; uma palavra de ordem; um olhar; mãos, etc. Os dons de curas abrangem o ser humano em sua totalidade; já o dom da fé, além do ser humano, abrange tudo mais, conforme os planos e propósitos de Deus.

 3) A operação de maravilhas (v. 10). N o original, os dois termos que designam este dom estão no plural: “operações de maravilhas”. São operações de milagres extraordinários, surpreendentes, pasmosos; prodígios espantosos pelo poder de Deus, para despertar e converter incrédulos, céticos, oponentes, crentes duvidosos. Leia João 6; Atos 8.6,13; 19.11; e Josué 10.12-14.

Dons que manifestam a mensagem de Deus (I Co 12.10). Esses dons manifestam a mensagem da parte de Deus, poderosa, vivificante, criativa, edificante e consoladora (E em torno desses três últimos dons que ocorre mais falta de disciplina e de ordem nas igrejas, como também ocorreu em Corinto.).

1) A profecia (v. 10). E um dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para “edificação, exortação e consolação” do povo de Deus (I Co 14.3). E um dom necessário a todos os que ministram a Palavra; que trabalham com a Palavra (cf. Lc 1.2b; I Tm 5.7). O grau da profecia na igreja hoje não é o mesmo da “profecia da Escritura” (2 Pe 1.20), que é infalível — a profecia da Bíblia. A profecia na igreja deve ser, pois, julgada. De fato, a Bíblia declara: “Em parte profetizamos” (I Co 13.9).


 A profecia da igreja está sujeita a falhas por parte do profeta; daí a recomendação bíblica de I Coríntios 14.29: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”. Por que a profecia é denominada o principal dom, conforme I Coríntios 13.2 e 14.1,5,39? Porque a profecia edifica a igreja como um corpo, e não apenas como indivíduos. Também porque a profecia é um meio de expressão de muitos dons (I T m 4.14a). A maior parte do tempo do culto deve ser para a ministração da Palavra de Deus, e não para a profecia, conquanto seja esta tão importante (I Co 14.29).

2) A variedade de línguas (v. 10). È um dom de expressão plural, como indica o seu título. È um milagre lingüístico sobrenatural. Nem todos os crentes batizados com o Espírito Santo recebem este dom (I Co 12.30). Já as línguas como evidência física inicial do batismo, todos ao serem batizados no Espírito Santo as falam.

 As mensagens em línguas mediante este dom devem ser interpretadas para que a igreja receba edificação (I Co 14.5,27). O crente portador deste dom, ao falar em línguas perante a congregação, não havendo intérprete por Deus suscitado, deve este crente falar somente “consigo e com Deus” (I Co 14.4,28), isto é, falar em silêncio.

3) A interpretação das línguas (v. 10). Ê um dom de manifestação de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. Não se trata de “tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”. Tradução tem a ver com palavras em si; interpretação tem a ver com mensagem. As línguas estranhas como dom espiritual, quando interpretadas, assemelham-se ao dom de profecia, mas não são a mesma coisa. O dom de interpretação é um dom em si mesmo, e não uma duplicação do dom de profecia (cf. I Co 12.10,30; 14.5,13,26-28).

Dons de ministérios práticos

São administrações de serviços práticos, individuais e em grupo (R m 12.6-8; I Co 12.28-30). Nestas passagens, eles aparecem juntamente com os demais dons espirituais, e sob o mesmo título original charismata — “dons da graça”. São dons de ministração residentes no portador, pela natureza de sua finalidade junto às pessoas ou grupos: assistência, serviço, socorro, auxílio, amparo, provisão. São dons residentes nos seus portadores, pela natureza e objetivos de sua ação.

Estes dons têm sido pouco estudados na igreja. Daí os equívocos e dúvidas existentes. São da mesma natureza espiritual e sobrenatural dos demais dons da graça de Deus. A Bíblia os coloca em conjunto com os demais dons (I Co 12.28). Ela usa para esses dons o mesmo termo original empregado para os dons de I Coríntios 12.4-10: charismata (Rm 12.6-8).

 Ministério (Rm 12.7). Ministração, servir, prestar serviço material e espiritual, sem primeiramente esperar recompensa, reconhecimento, retribuição, remuneração, com motivação e capacitação mediante este dom. E servir capacitado sobrenaturalmente pelo Espírito. Ensinar (R m 12.7).

 Ensinar no sentido didático, como deixa claro o original. E o dom espiritual de ensinar, tanto na teoria, como na prática; ensinar fazendo; ensinar a fazer; ensinar a entender; treinar outros. Educar no sentido técnico desta palavra. Não confundir com o ministério do ensino, que tem a ver com ministros do evangelho, segundo Efésios 4. I I e Atos 13.1 ( “profetas e mestres”).

 Exortar (Rm 12.8). Exortar, aqui, é como dom: ajudar, assistir, encorajar, animar, consolar, unir pessoas desunidas, que não se falam; admoestar.

 Repartir (Rm 12.8). O sentido no original é dar generosamente, doar, oferecer, distribuir aos necessitados em primeiramente esperar recompensa ou reconhecimento, movido pelo Espírito Santo. Este dom ocupa-se da benevolência, beneficência, humanitarismo, filantropia, altruísmo.

 Presidir (Rm 12.8). E conduzir, dirigir, organizar, liderar, governar, orientar com segurança, conhecimento, sabedoria e discernimento espiritual. Isso em se tratando de igreja, congregação, instituição, etc. Para alguém presidir desta maneira, só mesmo tendo de Deus este dom! A tendência natural de quem lidera e preside é ser duro, dominar somente pela autoridade, ser insensível.

 Exercitar misericórdia (Rm 12.8). Este dom refere-se a assistência aos sofredores, necessitados, carentes; fracos, enfermos, presos, visitação, compaixão.

Socorros (I Co 12.28). Literalmente “achegar-se para socorrer”. É o caso de enfermos, exaustos, famintos, órfãos, viúvas, etc. È um dom de ação plural.

Governos (I Co 12.28). E um dom plural no seu exercício. Ê dirigir, guiar e conduzir com segurança e destreza. O termo original sugere pilotar uma embarcação com segurança, destreza e responsabilidade.


Dons na área do ministério

 Esses dons são enumerados em Efésios 4.11 e I Coríntios 12.28, 29, a saber: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, doutores ou mestres.

Alvos e resultados dos dons espirituais. De acordo com I Coríntios 12.7, “a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”. Vejamos quais são os alvos e resultados dos dons espirituais:

 1) A glorificação do Senhor Jesus em escala muito além da natural e humana (Jo 16.14).

2) A confirmação da Palavra de Deus anunciada, pregada e ensinada (Mc 16.17-20; H b 2.3,4).

3) O crescimento constante e real, em quantidade e qualidade, da obra de Deus na igreja, na evangelização e nas missões (At 6.7; 19.20; 9.31; Rm 15.19 \

4) A “edificação” espiritual da igreja de Deus como um corpo e como membros individualmente (I Co 12.12-27). Jesus afirmou: “Eu edificarei a minha igreja” (M c 16.18), mas na ocasião Ele não disse como ia edificar. Mas em Atos e nas Epístolas vemos que é em parte através desses dons divinos de que estamos a tratar.

5) O aperfeiçoamento dos santos (E f 4.11,12). Isso jamais é possível por parte do homem, ou das coisas desta vida, mas é possível para Deus (c£ Lc 18.27).

O exercício dos dons do Espírito. Toda energia e poder sem controle é desastroso. Estudando I Coríntios 14.26,32,33 e 40, vemos que Deus nos concede dons, mas não é responsável pelo mau uso deles, por desobediência do portador à doutrina bíblica, ou por ignorância desta. A eletricidade quando domada nas subestações, torna-se apropriada ao consumo doméstico, mas nas linhas de alta tensão é letal e destruidora. Também não adianta ter um bom freio no carro sem o seu potente motor, como muitos fazem nas igrejas mornas, frias e secas. Elas têm freio e direção no “carro”, porém falta-lhes o ativo e poderoso motor.

O uso dos dons na igreja deve ser regulado e equilibrado pela Palavra de Deus, corretamente entendida, interpretada e aplicada. A Palavra e o Espírito interpenetram-se e combinam-se em sua operação conjunta na igreja. A Palavra é a espada do Espírito, e o Espírito interpreta e emprega a Palavra.

Na igreja, a predominância da doutrina do Senhor corrige erros, evita confusão e repara estragos. Ela, quando ensinada e aplicada, neutraliza o fanatismo, que é zelo religioso sem entendimento — são exageros, práticas antibíblicas, emocionalismo, gritaria e outros desmandos. Por sua vez, quando o Espírito predomina, neutraliza o formalismo, que é excesso de regras, regulamentos, legalismo, rotina religiosa, formalidades secas e enjoativas, mornidão, fórmulas, ritos e coisas assim.

Quem recebe dons de Deus, a primeira coisa a fazer é procurar conhecer o que a Palavra ensina sobre o exercício deles. Em Corinto havia abuso dos dons, enquanto em Tessalônica havia carência deles, por tanto refreio. E de pasmar em nossas igrejas a carência da doutrina bíblica sobre essas manifestações do Espírito — os dons espirituais. O resultado disso aí está em muitos lugares: fanatismo, práticas antibíblicas, meninices, confusão, escândalo e desonra para o evangelho que pregamos.

No exercício dos dons e de outras manifestações do Espírito Santo, ninguém que aja desordenadamente e cause confusão, dentro da congregação e fora dela, venha a dizer que está agindo assim por direção do Espírito Santo. Ele não é o autor de tais coisas! Responsabilidade quanto aos dons. É preciso haver responsabilidade quanto aos dons, a fim de que não haja mau uso deles.

1) Conhecer os dons. “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (I Co 12.1).

2) Buscar os dons. “Procurai com zelo os melhores dons” (I Co 12.31).

3) Zelar pelos dons. “Procurai com zelo os dos espirituais” (I Co I4 .I).

4) Ser abundante nos dons. “Procurai progredir neles, para a edificação da igreja” (I Co 14.12, ARA).

 5) Ter autodisciplma nos dons. “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (I Co 14.32).

 6) Ter decência e ordem no exercício dos dons. “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Co 14.40).

Portanto, poder, sinais, curas, libertação e maravilhas devem caracterizar um genuíno avivamento pleno de renovação espiritual e pentecostal. N o entanto, tudo deve ser livre de escândalos, engano, falsificação, e segundo a decência e ordem que a Palavra de Deus preceitua (I Co 14.26-40).

                                           Teologia Sistemática – ANTONIO GILBERTO
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                     A CONFISSÃO DO ESPÍRITO
 1 Coríntios 12:1-3

 Na Igreja de Corinto estavam ocorrendo as coisas mais surpreendentes através da ação do Espírito Santo, mas em uma era de êxtase e entusiasmo pode haver uma excitação histérica, auto-engano e enganos totais assim como atos verdadeiros, e tanto neste como nos próximos dois capítulos Paulo fala a respeito das verdadeiras manifestações do Espírito.

Esta é uma passagem muito interessante devido ao fato de que contém duas frases que eram gritos de batalha. (1) Contém a frase Jesus seja amaldiçoado [12:3, NVI]. Havia quatro formas nas quais podia surgir esta frase terrível.

(a) Poderia ser utilizada pelos judeus. As orações na sinagoga incluíam regularmente uma maldição a todos os hereges e apóstatas, e Jesus figuraria entre eles. E mais ainda, como Paulo bem o sabia (Gálatas 3:13), a lei judaica estabelecia: "Maldito seja aquele que é pendurado no madeiro." E Jesus tinha sido crucificado. Não seria estranho ouvir os judeus pronunciando seus anátemas sobre esse herege e criminal que os cristãos adoravam.

(b) É bem possível que os judeus fizessem que os prosélitos que se viam atraídos pelo cristianismo pronunciassem esta maldição ou fossem excomungados de todo culto judeu. Quando Paulo estava relatando a Agripa seus dias de perseguidor, disse: "E muitas vezes, castigando-os em todas as sinagogas, forcei-os a blasfemar" (Atos 26:11). Uma das condições para permanecer na sinagoga deve ter sido pronunciar uma maldição contra Jesus Cristo.

(c) Seja como fosse na época em que Paulo estava escrevendo, é verdade que mais tarde, nos dolorosos dias da perseguição, os cristãos eram obrigados por seus perseguidores a amaldiçoar a Cristo ou morrer. Na época de Trajano, a prova de Plínio, governador de Bitínia, era exigir das pessoas acusadas de ser cristãs que amaldiçoaram a Cristo. Quando Policarpo, o bispo de Esmirna, foi detido, o procônsul Estácio Quadrado exigiu o seguinte: “Diga: ‘Fora os ateus’, jura pela divindade do César e blasfema contra Cristo.” E esta foi a grande resposta do ancião bispo: “Servi a Cristo por oitenta e seis anos, e nunca me fez nenhum mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou?” Chegou certamente o momento em que os cristãos se viram confrontados com a escolher amaldiçoar a Cristo ou morrer.

 (d) Existia a possibilidade de que até dentro da Igreja, alguém num estado de delírio semi-enlouquecido gritasse: "Maldito seja Jesus." Nessa atmosfera histérica podia ocorrer qualquer coisa e poderia dizer-se que se tratava da obra do Espírito. Paulo estabelece que ninguém pode dizer uma palavra contra Cristo e atribuí-la à influência do Espírito.

(2) Mas junto a isto está o grito de batalha cristão Jesus é o Senhor. Enquanto a Igreja primitiva não tinha um credo, esta simples frase era seu credo (ver Filipenses 2:11). A palavra era kurios e era tremenda. Era o título oficial do imperador romano. A exigência dos perseguidores sempre era: “Diga: ‘César é Senhor’ (kurios)." É a palavra grega por meio da qual se traduzia o nome santo de Jeová na tradução grega do Antigo Testamento. Quando um homem podia dizer "Jesus é Senhor", significava que outorgava a Jesus a fidelidade suprema de sua vida e a suprema adoração de seu coração.

Devemos notar que Paulo cria que um homem só podia dizer: "Jesus é o Senhor", quando o Espírito o capacitava a fazê-lo. O Senhorio de Jesus não era tanto algo que o homem podia descobrir por si só, como algo que Deus, em sua graça lhe revelava.

OS DISTINTOS DONS DE DEUS  - 1 Coríntios 12:4-11

A idéia de Paulo nesta seção é sublinhar a unidade essencial da Igreja. A Igreja é o corpo de Cristo e a característica de um corpo são é que cada parte do mesmo realiza sua própria função para o bem da totalidade. Mas unidade não significa uniformidade, e portanto, dentro da Igreja há distintos dons e distintas funções; mas cada um deles é um dom do mesmo Espírito, e cada um deles está destinado não para a glória do membro individual da Igreja, mas para o bem da totalidade.


Paulo começa dizendo que todos os dons especiais (charismata) provêm de Deus. Ele cria que toda capacidade especial que o homem tem provém de Deus e, portanto, deve ser utilizada em seu serviço.

A falha da Igreja, ao menos em épocas modernas, é que interpretou esta idéia dos dons especiais de uma maneira muito estreita. Agiu muitas vezes com a presunção aparente de que os dons especiais que pode utilizar consistem em coisas, tais como falar, orar, ensinar, escrever, todos dons mais ou menos intelectuais ou acadêmicos. Seria bom se a Igreja se desse conta de que os dons de quem pode trabalhar com suas mãos, do artesão, na verdade são igualmente especiais e também provêm de Deus. O pedreiro, o carpinteiro, o eletricista, o pintor, o engenheiro, o bombeiro têm dons especiais; e a Igreja se enriqueceria grandemente se, para ocupar postos, escolhesse artesãos que estão preparados para dedicar e consagrar a habilidade de suas mãos a Deus, assim como ela escolhe aqueles cujos dons descansam em seu poder de falar, pensar ou escrever. Não há nenhuma razão pela qual um artesão que está disposto a oferecer livremente seu artesanato para o serviço da Igreja não seja eleito como diácono para que possa utilizar seu dom para a Igreja. Todo dom especial provém de Deus e pode ser utilizado para Ele. É do maior interesse examinar a lista de dons especiais que Paulo menciona, devido ao fato de que por meio dela aprenderemos muito a respeito das características e do trabalho da Igreja primitiva. Tomemos os itens um por um.

Começa com duas coisas que soam parecidas — palavra da sabedoria e palavra do conhecimento. A palavra grega que traduzimos por sabedoria é sophia. Clemente de Alexandria a definiu como "o conhecimento das coisas humanas e divinas e de suas causas". Aristóteles a descreveu como "a luta por alcançar os melhores fins e utilizando os melhores meios". Esta sabedoria é a mais elevada; é nada menos que o conhecimento do próprio Deus. Provém nem tanto do pensamento e da mente como da comunhão com Deus.

É a sabedoria que conhece a Deus. Conhecimento — em grego, gnosis — significa algo muito mais prático. É o conhecimento que sabe como agir diante de qualquer situação. É em realidade a aplicação prática da sophia à vida e aos assuntos humanos. As duas coisas são necessárias. A sabedoria que conhece por sua comunhão com Deus as coisas profundas a respeito Dele, e o conhecimento que, na vida e trabalho diário do mundo e da Igreja, pode pôr em prática essa sabedoria.


Segue na lista a fé. Com este termo Paulo quer dizer muito mais do que nós usualmente denominamos fé. Este tipo de fé foi definida como fé potente e como o poder de compreender o espiritual. É a fé que realmente produz resultados, a fé que — segundo a velha frase — realmente pode mover montanhas. Não é só a convicção intelectual de que algo é certo; é a crença apaixonada por algo que faz com que o homem dê por isso tudo o que é e tudo o que tem. É a fé que fortalece a vontade e estimula a fibra do homem para a ação. É a fé que converte a visão em atos.

Logo Paulo fala a respeito dos especiais dons de curar. A Igreja primitiva vivia num mundo no qual eram comuns o que chamaríamos milagres de cura. Se um judeu adoecia era muito mais provável que recorresse a um rabino que a um médico; e o mais provável é que se curasse.

Esculápio era o deus grego da cura. As pessoas iam a seus templos, quase sempre passando toda a noite neles, para serem curados, e se curavam. Até o dia de hoje encontramos entre as ruínas destes templos tabletes votivas e inscrições comemorando estas curas e ninguém se tomaria o trabalho nem o gasto de erigir uma inscrição por nada. No Templo de Epidauro há uma inscrição que relata como um certo Alketas "apesar de estar cego viu a visão sonhada. O deus pareceu aproximar-se dele e lhe abrir os olhos com seus dedos, e primeiro viu as árvores que estavam no templo. Ao amanhecer partiu curado." No templo de Roma está a seguinte inscrição. "A Valério Aper, um soldado cego, o deus lhe deu um oráculo para vir e tomar o sangue de um galo branco com mel e misturá-los num emplastro e ungir seus olhos por três dias, e recebeu a vista e veio e deu graças publicamente ao deus."

Tratava-se de uma era de curas. Não há nenhuma dúvida de que o dom de curar existia na Igreja primitiva; Paulo não o teria chamado se não tivesse sido real. Na carta de Tiago (5:14) há uma instrução que diz que se um homem estiver doente deve dirigir-se aos anciãos e eles o ungirão com azeite. É simplesmente um fato histórico que até o século IX o sacramento da Unção se utilizava para curar, e só depois se converteu no sacramento da Extrema Unção, em preparação para a morte. A Igreja nunca perdeu totalmente o dom de curar, e uma das coisas mais grandiosas que está acontecendo hoje é que a Igreja o está redescobrindo.

O ancião francês Montaigne, um dos escritores mais sábios que jamais existiu, disse a respeito da educação de um jovem:

"Faria com que seus membros estivessem tão treinados como sua mente. Não estamos educando nem uma mente nem um corpo; trata-se de um homem E não devemos dividi-lo em dois."

Por muito tempo a Igreja dividiu o homem em corpo e alma, e aceitou ser responsável por sua alma, mas não por seu corpo. Um dos grandes redescobrimentos de nossa época é que mais uma vez estamos aprendendo a tratar o homem como uma totalidade, e chegará o dia em que o médico e o pastor trabalharão mais uma vez em plano de igualdade.

Logo Paulo menciona operações de milagres. Certamente se refere a exorcismo. Naqueles dias muitas enfermidades, muitas vezes quase todas, e em especial as enfermidades mentais eram atribuídas à obra dos demônios; e uma das funções da Igreja era a de conjurar os demônios. Fossem ou não reais, a pessoa que se considerava possuída estava convencida de que se tratava de um fato real, e a Igreja podia ajudar e o fazia. O exorcismo é ainda uma realidade no campo missionário. Em todos os tempos a função da Igreja é assistir a mente doente e turvada.

 Paulo continua mencionando a profecia. Teremos uma idéia melhor do significado desta palavra se a traduzirmos pregação. Associamos muito a palavra profecia com a predição do que acontecerá no futuro. Mas em realidade sua significado foi mais enunciar que predizer. O profeta é um homem que vive tão perto de Deus que conhece sua mente, coração, vontade, intenção, e que portanto pode dá-las a conhecer aos homens. Devido a isto a função de um profeta tem dois aspectos:
(a) Admoesta e adverte, dizendo aos homens que seu forma de agir não está de acordo com a vontade de Deus;
(b) Aconselha e guia, buscando dirigir os homens pelos caminhos que ele sabe que Deus deseja que sigam.

Paulo menciona a seguir o discernimento de espíritos. Em uma sociedade em que a atmosfera era tensa e elétrica e em que toda classe de manifestações anormais eram consideradas normais, era preciso distinguir entre o que era real e o que era meramente histérico, entre o que era genuíno e o que era produto da ilusão exaltada, entre o que provinha de Deus e o que pertencia ao diabo. Até o dia de hoje, quando algo é incomum e se encontra fora de nossa órbita comum, é muito difícil dizer se provém de Deus ou não. O único princípio que devemos observar é que devemos tentar compreender antes de condenar.


Por último Paulo menciona variedade de línguas e a interpretação das línguas. O assunto das línguas, como veremos, estava causando muita perplexidade na Igreja de Corinto. Até hoje, embora ainda existe, é completamente alheio à nossa experiência. O que acontecia era o seguinte: durante o culto na Igreja alguém dos membros caía em êxtase e lançava uma corrente de sons ininteligíveis num linguagem inexistente. Era um dom altamente desejado pois se supunha que se devia à influência direta do Espírito de Deus. Para a congregação era algo completamente ininteligível. Algumas vezes a pessoa que caía em êxtase podia interpretar o que tinha pronunciado, mas quase sempre se requeria que interviesse alguém que tivesse o dom da interpretação. Paulo nunca questionou a realidade do dom de línguas, mas sabia muito bem que apresentava seus perigos, devido ao fato de que a histeria, o êxtase e certo tipo de auto-hipnotismo são difíceis de diferenciar.

 O quadro que obtemos é o de uma Igreja vivamente desperta. Aconteciam coisas; em realidade aconteciam coisas surpreendentes. A vida se via elevada, intensificada e sensibilizada. Na Igreja primitiva não havia nada chato, aborrecido nem comum. Paulo sabia que toda esta atividade vivaz e poderosa era a obra do Espírito que outorgava a cada homem um dom para que o utilizasse para todos.

                                                                         1 Coríntios (William Barclay)
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                                    OS CARGOS NA IGREJA
Efésios 4:11-13

Esta passagem tem particular interesse porque oferece um quadro sobre a organização e administração da Igreja primitiva. Aqui há uma lista dos cargos da Igreja na época de Paulo. Na Igreja primitiva existiam três tipos de acusações. Eram poucos os que possuíam mandato e autoridade sobre toda a Igreja. Muitos tinham um ministério não confinado a um lugar, mas sim desempenhado em forma itinerante, indo aonde o Espírito os impulsionava e aonde Deus os enviava. Outros tinham um ministério local confinado a uma congregação e a um lugar. (1) Os apóstolos tinham autoridade sobre toda a Igreja. O círculo apostólico excedia os Doze. Barnabé foi apóstolo (Atos 14:4,17), também Tiago, o irmão de nosso Senhor (1 Coríntios 15:17; Gálatas 1:19), Silvano (1 Tessalonicenses 2:6), Andrônico e Júnias (Romanos 16:7).

O apóstolo devia reunir dois grandes requisitos.

 Em primeiro lugar tinha que ter sido enviado por Jesus. Quando Paulo reclama seus direitos perante a oposição em Corinto, pergunta: “Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?” (1 Coríntios 9:1). Em segundo lugar o apóstolo tinha que ter sido testemunha da ressurreição, ou seja do Senhor ressuscitado. Quando os onze se congregaram para escolher o sucessor do traidor Judas deram como condições a pertença aos que tinham acompanhado a Jesus em sua vida terrena e o ter recebido o mandato de ser testemunha da ressurreição (Atos 1:21-22). De certa forma os apóstolos estavam destinados a desaparecer, porque apesar de sua longevidade, aqueles que tinham visto Jesus e eram de fato testemunhas da ressurreição, alguma vez teriam que deixar este mundo. Mas em outro sentido — e com um significado ainda maior — as condições subsistem: aquele que tenha que ensinar a Cristo deverá conhecê-lo; aquele que tenha que levar o poder de Cristo a outros deverá ter experimentado o poder do Cristo ressuscitado.

(2) Estavam os profetas. A palavra profeta não designa tanto ao que prediz quanto aquele que expressa em lugar de. A missão dos profetas mais que predizer o futuro era expressar a vontade de Deus. Ao expressar a vontade de Deus necessariamente e em certa medida prediziam o futuro já que anunciavam aos homens as conseqüências que se seguiriam se desobedeciam essa vontade. Os profetas perambulavam pela Igreja. Sua mensagem não se tinha como resultado de reflexão e estudo, mas sim como comunicação direta do Espírito Santo. Não tinham nem casa, nem família, nem meios de sustento. Iam de uma Igreja a outra proclamando a vontade de Deus, como Deus a tinha revelado. Mas faz já muito tempo que os profetas desapareceram da Igreja. Três são as razões que explicam este fato.


(a) No tempo de perseguição os profetas eram os primeiros a sofrer; a tarefa que desempenhavam era muito perigosa; não tinham meios de ocultar-se; eram os primeiros a morrer pela fé.

(b) Os profetas se converteram num problema. Com o crescimento da Igreja se desenvolveu também a organização local. Cada comunidade cresceu numa organização com ministros permanentes e administração local própria. Não demorou muito em que estes ministros constituídos começassem a ofender-se pela intrusão desses profetas ambulantes que com freqüência eram um fator de inquietação em suas respectivas comunidades. O ministro local tende sempre a desconfiar dos evangelistas itinerantes. Como resultado inevitável os profetas desapareceram pouco a pouco e prevaleceram os ministros locais.

(c) A missão do profeta se prestava facilmente ao abuso. Os profetas ambulantes possuíam um prestígio considerável. Alguns abusavam de sua posição para viver uma vida muito cômoda às custas das comunidades que visitavam.

O livro mais antigo sobre administração da Igreja é a Didaquê (A Doutrina dos Doze Apóstolos), que data do ano 100 de nossa era. Nele pode-se perceber com clareza tanto o prestígio dos profetas como o receio com relação aos mesmos. Ali se estabelecem as normas para os sacramentos; formulam-se as orações que se deverão usar; logo se dá uma instrução que permite ao profeta celebrar como quiser o sacramento. Não está ligado às formas ordinárias se deseja apartar-se delas. Mas também há outras prescrições. Estabelece-se que um profeta ambulante pode ficar um ou dois dias numa comunidade; se deseja ficar três dias é um falso profeta. Se um profeta ambulante exigir, num momento de sua pretendida inspiração, dinheiro ou alimento, é um falso profeta. Houve dias, como na época de Paulo, em que os profetas eram os verdadeiros mensageiros de Deus na Igreja. Mas chegou o momento em que os profetas ambulantes constituíram um anacronismo; muitos atraíram o desprestígio sobre a acusação. E no final desapareceram da cena.

(3) Os evangelistas eram também ambulantes. A eles correspondem na atualidade os que chamamos missionários. Paulo escreve a Timóteo: "Faz obra de evangelista" (2 Timóteo 4:5). Os evangelistas eram os portadores das boas novas. Não possuíam o prestígio e a autoridade dos apóstolos enviados diretamente pelo Senhor; tampouco possuíam a influência dos profetas inspirados pelo Espírito; eram os missionários de batalha da Igreja portadores da mensagem das boas novas a um mundo que jamais o tinha ouvido. No Novo Testamento os evangelistas apenas sim se mencionam; mas deveram ter sido os servidores anônimos que levaram o nome de Cristo a todo mundo.

(4) Os pastores e mestres parecem constituir uma só categoria. Eram mestres. Em certo sentido tinham a tarefa mais importante em toda a Igreja. Não eram ambulantes; possuíam um cargo fixo e permanente desempenhando o trabalho numa comunidade determinada. A missão que desempenhavam era tripla.

(a) Deve-se lembrar que na Igreja primitiva existiam muito poucos livros. A imprensa foi inventada quase quatorze séculos depois. Cada livro devia ser escrito à mão. Um livro do tamanho do Novo Testamento deveu custar mais de cem dólares. Isto significa que a mensagem de Cristo tinha que ser irradiada verbalmente. Durante muito tempo existiu esta transmissão oral antes que a mesma chegasse a consignar-se por escrito. Os mestres tinham a responsabilidade tremenda de ser os depositários do relato evangélico. Sua missão consistia em conhecer e transmitir o relato da vida de Jesus. A eles devemos o fato de que a história de Jesus se perpetuasse na Igreja.

(b) A pessoa que ingressava na Igreja provinha diretamente do paganismo; não sabiam absolutamente nada do cristianismo, exceto que Jesus se apropriou de seus corações. Por esta razão os mestres ensinavam e explicavam a fé cristã aos conversos provenientes do paganismo. Os grandes temas doutrinários da Fé cristã eram o objeto do ensino; dos mestres dependia a pureza da doutrina; a eles devemos que a fé cristã se manteve pura e sem tergiversações ao ser transmitida.

 (c) Estes mestres eram também pastores. Naquela época a Igreja cristã não era mais que uma pequena ilha no oceano do paganismo. Os que ingressavam nela só se apartaram da vida pagã: estavam de contínuo abertos à influência do paganismo; o perigo de recaída era constante. A tarefa do pastor consistia em apascentar o rebanho e guardá-lo em segurança.

O termo pastor é muito antigo e nobre. Nos remotos tempos do Homero o rei Agamenon era chamado o pastor do povo. Jesus mesmo se chamou o Bom Pastor (João 10:14, 14). O autor da Carta aos Hebreus chama Jesus o Grande Pastor das ovelhas (Hebreus 13:20). Pedro considera Jesus como o Pastor das almas (1 Pedro 2:25) e o Príncipe dos pastores (1 Pedro 5:4). Jesus deu a Pedro o mandato de apascentar suas ovelhas (João 21:16). Paulo admoestava aos anciãos de Éfeso que vigiassem sobre o rebanho que Deus lhes tinha encomendado (Atos 20:28). Também Pedro exortava os anciãos a apascentar o rebanho de Deus (1 Pedro 5:2). Assim a figura do pastor fica estampada no Novo Testamento em forma indelével. O pastor era aquele que cuidava as ovelhas e as conduzia a lugares seguros; buscava as ovelhas desencaminhadas para levá-las de volta ao rebanho; defendia-as contra os inimigos e, em caso necessário, dava sua vida para salvá-las.

 O pastor do rebanho de Deus é o homem que leva em seu coração ao povo de Deus, que o alimenta com a verdade, que vai em sua busca quando se extravia, que o defende contra tudo o que pode ferir, destruir ou tergiversar sua fé. E não se trata precisamente de uma acusação oficial; é um dever que pesa sobre os ombros de todo cristão. Cada cristão deve ser o pastor de todos os seus irmãos.

A FINALIDADE DOS CARGOS

Efésios 4:11-13 (continuação) Depois de enumerar os diferentes cargos dentro da Igreja, Paulo continua propondo a finalidade dos mesmos. Esta consiste em que os membros da Igreja cheguem a estar inteiramente equipados. A palavra que usa Paulo para equipado é de sumo interesse. O substantivo katartismon provém do verbo katartizein. O termo usa-se em cirurgia quando se entala um membro quebrado ou fica em seu lugar o membro deslocado. Em política significa pôr-se de acordo as facções opostas para que o governo possa seguir sua marcha. No Novo Testamento aplica-se à ação de remendar as redes (Marcos 1:19) e à emenda ou admoestação do que cometeu uma falta e não está em condições de ocupar seu lugar como membro da Igreja (Gálatas 6:1). A idéia fundamental do termo é de pôr nas condições em que devem estar seja uma coisa seja uma pessoa. A função dos que ocupam cargos na Igreja é empenhar-se para que os membros da mesma sejam formados, ajudados, guiados, cuidados e buscados em caso de extravio, em forma tal que cheguem a ser o que têm que ser. O ministro da Igreja possui este cargo não por razão da própria honra, mas sim da ajuda que pode brindar a seus irmãos dentro da Igreja.

A finalidade é que o trabalho serviçal siga adiante. A palavra usada para serviço é diakonia e a idéia principal do termo é a de serviço prático. O trabalho da Igreja não consiste só na pregação e o ensino, mas também no serviço prático. Aquele que ocupa um cargo não só tem a missão de falar e argumentar em matéria de teologia ou direito eclesiástico; tem também a função de fazer com que continue o serviço prático dos pobres e os desamparados. O objetivo é fazer com que o corpo de Cristo continue edificando-se. O trabalho do ministro é sempre construir e não destruir; edificar a Igreja, não arruiná-la; jamais tem que causar perturbação mas sim tem que empenhar-se para que os problemas não levantem a cabeça. Seu propósito é fortalecer sempre o edifício da Igreja, nunca debilitá-lo.

Mas aquele que ocupa um cargo na Igreja tem objetivos maiores ainda. Até agora se pensou no mais imediato e que dia a dia deve-se executar. Mas existem além outros objetivos de maior alcance.

Sua finalidade é que os membros da Igreja cheguem a uma unidade perfeita. Não deve permitir que se formem partidos dentro da Igreja; nada deve fazer com que origine diferença. Seu propósito deve ser atrair, por preceito e pelo exemplo, a uma unidade cada dia mais estreita.

Sua meta é que os membros da Igreja cheguem a alcançar o ideal do homem perfeito. A Igreja impõe a seus membros nada menos que a meta da perfeição. Jamais se contentará com que seus membros vivam uma vida decente e honorável, mas sim cheguem a ser modelos perfeitos de homens e mulheres cristãos.

Paulo termina assim com uma finalidade que supera a todas. O propósito da Igreja é que seus membros alcancem uma estatura que possa medir-se com a plenitude de Cristo. Numa frase ousada A. J. Gossip acostumava a dizer que o propósito de Cristo era produzir no mundo uma raça de cristos. O propósito da Igreja é nada menos que o de produzir homens e mulheres que sejam um reflexo do mesmo Jesus Cristo.

Conta-se que durante a guerra de Criméia Florence Nightingale passava uma noite de guarda em certo hospital. Deteve-se para inclinarse sobre a cama de um soldado imperfeitamente ferido. Quando o jovem levantou a vista disse: "Você é Cristo para mim." O santo foi definido como "alguém em quem Cristo vive de novo". E isto é o que deveria ser um verdadeiro membro da Igreja.

                                                                         Efésios (William Barclay)




O Espírito Santo é um selo dado por Deus a seus filhos ao se converterem. Conheça o propósito do Senhor ao distribuir os dons espirituais à Igreja através deste selo.

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