TEXTO BÍBLICO BÁSICO
1 Coríntios 12.1-11
1 1 -
Acerca dos dons
espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
2
- Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis
guiados.
3 - Portanto, vos quero fazer compreender
que ninguém que fala pelo Espírito
de Deus diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão
pelo Espírito Santo.
4 - Ora, há diversidade de dons mas o
Espírito é o mesmo.
5 - E há diversidade de ministérios, mas
o Senhor é o mesmo.
6 - E há diversidade de operações, mas é o
mesmo Deus que opera tudo em todos.
7
- Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil.
8
- Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo
mesmo Espírito, a palavra da ciência;
9 - e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a
outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;
10 - e a outro, a operação de maravilhas; e a
outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a
variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas.
11 - Mas um só e o mesmo Espírito opera
todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.
TEXTO ÁUREO
Cada
um administre aos
outros o dom como o recebeu, como
bons despenseiros da
multiforme graça de
Deus.
1 Pedro 4.10
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• conhecer o propósito de Deus ao distribuir os dons espirituais
à Igreja;
• definir os diversos dons espirituais, contextualizando-os à
vida da Igreja;
• buscar a autoridade dos dons espirituais para edificação da
Igreja e para o serviço cristão.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro
professor, Saulo, o grande perseguidor da Igreja, tornou-se o maior missionário cristão de todos os tempos entre os
gentios (At 8.3; Rm 11.13). Ao longo dos séculos da história da Igreja, ateus,
adúlteros, drogados, corruptos e criminosos da pior espécie tiveram a vida
transformada no momento em que conheceram a verdade que Cristo veio trazer ao
mundo. A aprendizagem dos princípios do Reino de Deus transformará a pessoa de
forma inigualável e sem paralelo. Nenhuma outra Instituição poderá operar mudanças
tão duradouras, significativas, abrangentes e com repercussões tanto em toda a
extensão da vida presente como na vindoura como o faz a Palavra de Deus. Por
isso, quem a ensina deve fazê-lo com dedicação, empenho e amor (Extraído de:
CHAVES, G. V. Educação Cristã — Uma Jornada Para Toda Vida, 2012, p. 59).
Deus o abençoe!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Na Bíblia, há menção de
vários tipos de dons, visto que a palavra ocorre no texto sagrado com
diferentes acepções. Jesus Cristo é, por excelência, o dom de Deus (Jo 4.10; Rm
6.23). O Espírito Santo é o dom de Cristo (At 2.38,39). Esses dons são providos
para a Igreja, a fim de que, por meio deles, o povo de Deus realize a obra que
lhe foi confiada.
Quando
falamos em dons, precisamos procurar o melhor entendimento desse assunto na
raiz da palavra grega charismata. Esse vocábulo sugere a graça de Deus como
origem de Seus dons (1 Co 12.4). Eles sempre serão uma dádiva divina que devem
ser aceitos pela fé e usados para a glória de Deus.
1.
DONS DE REVELAÇÃO
Nesta lição, aprofundaremos nosso conhecimento
acerca dos dons espirituais, os quais são concedidos aos cristãos a fim de edificar, exortar
e capacitar a Igreja (Ef 4.8,12). Os dons podem ser classificados em
três grupos: de revelação, de inspiração e de poder. Vejamos, agora, os que
estão relacionados à revelação.
1.1. Palavra de sabedoria
O
dom da sabedoria nos foi dado para suprir aquilo que a sabedoria humana não
pode proporcionar. Ao escrever à comunidade cristã dos coríntios, Paulo destaca
o dom da palavra de sabedoria, que significa a capacidade de compreender e de
transmitir a Palavra de Deus com profundidade, aplicando-a a situações
particulares, em que são resolvidos problemas difíceis, mediante o emprego da
sabedoria espiritual (1 Co 1.19-21).
A sabedoria eterna de Deus,
dentre outras coisas, despreza a sabedoria humana (1 Co 1.19,20), produz
salvação pela loucura da pregação (1 Co 1.21) e comunica o evangelho em
situações especificas de maneira sobrenatural, conforme a condução do Espírito
(Mt 10.19,20).
Josué (Dt 34.9), Salomão (2 Cr 1.11,12) e
Esdras (Ed 7.25), dentre tantos outros líderes de Israel, exercitavam esse dom.
No Novo Testamento, Jesus é o exemplo maior (Lc 2.40; Mc 6.2) e muitos
discípulos eram descritos como cheios de sabedoria; do Espírito Santo; de fé e
de poder (At 6.3,10).
1.2. Palavra de conhecimento
O
dom da palavra do conhecimento é expresso a partir da análise profunda da
revelação, que tem base nas Escrituras.
É
pela ação do Espírito que os cristãos são enriquecidos em toda palavra e em
todo o conhecimento (1 Co 1.5) para tornarem-se capazes de progredir na fé (Cl
1.9,10).
Não se trata de conhecimento
natural, intelectual, acadêmico ou científico, muito menos de premonição ou
adivinhação. A manifestação desse dom ocorre mediante a revelação de algo que
está oculto ao homem natural e patente apenas na mente de Deus. As palavras de sabedoria e conhecimento servem para
guiar e orientar a Igreja e não para beneficio particular de quem as exercita,
estando em estreita relação com o ensino e a pregação da Palavra de Deus (1 Co
2.6,7,13).
1.3. Discernimento de espíritos
Em
1 Coríntios 12.10, discernir assemelha-se ao vocábulo discriminar, identificar.
A ideia é que esse dom serve como um fiscalizador das manifestações dos dons
ocorridas entre os cristãos, em relação à sua procedência. São três as possíveis
fontes: o Espírito, Satanás ou o homem. Sem o dom de discernimento espiritual não é possível
identificar se as manifestações espirituais ou sobrenaturais no meio da Igreja
são, de fato, procedentes de Deus (At 16.16-18).
2.
DONS DE
INSPIRAÇÃO
No
dia de Pentecostes, a profecia de Joel sobre o derramamento do Espírito
cumpriu-se (Jl 2.28-30). Os cristãos, então, começaram a falar em outras
línguas segundo o Espírito lhes concedia que falassem (At 2.3,4).
2.1. Profecia
O dom de profecia capacita os cristãos a
transmitir uma palavra ou revelação diretamente de Deus, sob a direção do
Espírito Santo (2 Pe 1.20,21). Assim, não se trata de um sermão previamente
preparado para ser pregado, mas de uma mensagem direta da parte do Senhor.
Profecia significa, literalmente, falar ao outro, nesse caso, falar em nome de
Deus.
2.2. Variedade de línguas
O dom de variedade de línguas pressupõe a
comunicação do cristão com Deus, sob a influência direta do Espírito Santo,
resultando em uma oração, louvor ou ação de graças em variados tipos de línguas
(At 2.4; 10.46; 1 Co 14.2). Para que sirvam ao seu propósito, as manifestações
espirituais sob a forma do dom de línguas precisam ser interpretadas, pois o
que fala em língua a si mesmo edifica (1 Co 14.4).
É
preciso salientar que o exercício do dom de variedade de línguas está restrito
às pessoas que receberam a promessa do batismo com o Espírito Santo. Conforme
as Escrituras, o batismo com o Espírito Santo é uma experiência distinta e
subsequente ao novo nascimento. Isso pode ser verificado no dia de Pentecostes
(At 2.14), na casa do centurião Cornélio (At 10.44-46) e na cidade de Éfeso (At
19.1-6).
Uma
vez que recebemos o Espírito quando nos convertemos, somos todos membros do
corpo de Cristo. Raça, posição social, riqueza ou mesmo sexo (G1 3.28) não são
vantagens nem desvantagens quando estamos em comunhão e servimos ao Senhor.
As línguas sem amor não
passam de barulho. É o amor que enriquece o dom e lhe dá valor. O ministério
sem amor deprecia tanto o ministro quanto os que são alcançados por eles; mas o
ministério com amor enriquece a igreja toda. O saber ensoberbece, mas o amor
edifica (1 Co 8.1). O propósito dos dons espirituais é a edificação da Igreja
(1 Co 12.7; 14.3,5,12,17,26). Isso significa que não devemos pensar em nós mesmos,
mas nos outros, o que, por sua vez, exige amor (WIERSBE, Geográfica, 2007a, p.
797,799).
2.3. Interpretação de línguas
A
interpretação garante a plena edificação da Igreja, pois todos podem compreender
a mensagem em sua própria língua. O falar em línguas e o interpretar devem
manifestar-se quase sempre juntos.
O
dom de interpretar línguas é a manifestação sobrenatural que permite a alguém,
debaixo do controle do Espírito, declarar o significado das palavras
pronunciadas pelo Espírito em outras línguas.
A
língua falada em voz alta no culto pode ser interpretada, de acordo com Paulo
(1 Co 14.27,28). A língua que não for interpretada deve então ser falada em voz
baixa, para edificação do próprio cristão.
Se
o Espírito Santo inspirar alguém a falar em voz alta é porque deseja comunicar
algo. Assim, a mensagem em línguas precisa ser interpretada. Vale salientar que
a interpretação pode vir através de quem deu a mensagem em línguas ou de outra
pessoa (1 Co 14.13).
DONS
DE PODER
Os
dons de poder são: fé, dons de cura e operação de milagres. Deus usou esses
dons para confirmar a verdade proferida por meio dos primeiros apóstolos (Rb
2.3,4) e continua a utilizá-los na confirmação de Sua Igreja hoje em dia (Mc
16.17).
3.1. Fé sobrenatural
A
fé sobrenatural difere daquela que todos os seres humanos exercitam ao crer,
por exemplo, que o sol nascerá todas as manhãs (fé natural) e da própria fé
para salvação (11h 11.6). Esse dom consiste na capacidade de crer que Deus pode
interferir na História para mudá-la com feitos extraordinários, segundo o Seu
querer.
Essa
certeza inabalável esteve presente na vida de Pedro e João quando disseram ao
paralítico, na porta do templo, que se colocasse em pé em nome de Jesus (At
3.1-10). Também é vista na vida do profeta Elias, quando este enfrentou
os profetas de Baal no monte Carmelo (1 Rs 18.2240).
Em Romanos 12.3, Paulo
fala da medida da fé, que alude à decisão soberana de Deus em disponibilizar
toda sorte de dons. Desse modo, subentende-se que há uma provisão divina para
cada crise e para cada situação. A autoridade da fé é a própria confiança na
providência divina (Mt 17.20; At 14.22).
3.2. Dons de curar
Em
1 Coríntios 12.9, a palavra dom aparece no plural. Esta é uma indicação clara
de que Deus concede aos Seus filhos a autoridade espiritual sobre diferentes
enfermidades e de que o exercício de cada uma delas é um dom especial (At 28.8).
Não
se pode esquecer que o poder de curar pertence ao Senhor Jesus e não àquele a
quem foi concedido o dom. A cura de um enfermo continua sendo resultado da vontade
divina sobre o homem que crê (Mt 13.58).
3.3. Operação de milagres
O
texto bíblico básico afirma que o Espírito concede à Igreja manifestações
sobrenaturais de poder (1 Co 12.10; 2 Co 12.12). A ênfase, entretanto, não está
naqueles que possuem a capacidade de operar milagres (Mt 7.22,23), mas no
propósito de sua realização.
O ensino geral dos Evangelhos é que todas as
operações miraculosas realizadas pelos que foram agraciados por Deus com essa
capacitação visam única e exclusivamente à glória de Deus Go 11.4) e ao testemunho
da veracidade da cura realizada (At 14.3).
Os
atos milagrosos realizados por aqueles que manifestam esse dom contrariam as
leis cientificas notórias entre os homens, pois são atos sobrenaturais
autorizados por Deus. Por meio desse dom, o cristão torna-se um canal por meio do
qual Deus autentica a autoridade do evangelho pregado (At 8.6).
CONCLUSÃO
Esse
estudo revela-se muito importante, uma vez que os dons são tão necessários hoje
quanto nos dias da Igreja primitiva, pois é por meio deles que o corpo de
Cristo exerce sua autoridade e executa o necessário serviço a Deus. Por meio
desses dons, o Senhor supre as constantes e variadas necessidades da Igreja,
principalmente, no que se refere à maturidade e à constância na fé (Ef
4.12-14).
Os
dons são concedidos para o beneficio da igreja toda. Não são para o usufruto
individual, mas para uso corporativo.
Os coríntios, em
especial, precisavam ser lembrados disso, pois usavam os dons espirituais de
maneira egoísta, para promover a si mesmos, não para edificar a igreja. Quando
aceitamos nossos dons com humildade, podemos usá-los para promover harmonia e
para ajudar a igreja como um todo.
Os
diversos dons são citados em 1 Coríntios 12.8-10,28 bem como em Efésios 4.11 e
Romanos 12.6-8. Quando combinamos essas listas, encontramos 19 dons e cargos
diferentes. Uma vez que a lista em Romanos não é idêntica à de 1 Colhidos,
podemos supor que Paulo não estava tentando tratar exaustivamente do assunto em
nenhuma dessas passagens. Apesar de os dons citados serem apropriados para o
ministério da igreja, Deus não se restringe a essas listas. Ele pode dar outros
dons como bem lhe aprouver (WIERSBE, Geográfica, 2007a, p. 796).
ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1.
Por que precisamos da palavra de conhecimento para ser sal da terra e luz do
mundo?
R.: Por intermédio do
estudo sistemático da Bíblia, o Espírito Santo nos recorda os ensinos de Jesus,
revela-nos estratégias e nos fornece as palavras corretas para refletirmos a
luz de Jesus por todo o mundo (Jo 14.26).
Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 61
DONS DE PODER
Na relação dos nove dons mencionados por Paulo
em 1 Co 12 , très são identificados como dons de poder , fé, dons de curar e de
operação de maravilhas (v. 9,10). Os dons de poder consistem no poder sobrenatural
do Espírito Santo que capacita o cristão a fazer aquilo que não está ao alcance dos recursos humanos.
ü Dons de curar fé, dom da operação de
maravilhas
DONS DE REVELAÇÃO
Os três
primeiros dons constantes da relação dos nove mencionados por Paulo em 1
Coríntios 12 são identificados como dons de revelação: palavra da sabedoria,
palavra do conhecimento ou ciência e discernimento de espíritos (v. Não existe
especificamente mencionado um dom de revelação nas Escrituras.
ü Discernimento de espíritos Palavra da ciência
Palavra da sabedoria
DONS DE
CURAR
Esse é o único dos nove dons da lista de 1 Coríntios 12 mencionado no
plural. Sem dúvida, isso se deve à multiforme maneira em que ele costuma
manifestar-se e ser concedido à Igreja_
Sobre essa questão, em Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal,
David Lim manifestou um ponto de vista interessante:
Em Atos dos Apóstolos, muitos aceitaram o Evangelho e foram salvos depois
de milagrosamente curados. No texto grego. a expressão inteira aparece no plural.
Assim, parece que ninguém tem o dom exclusivo da cura. Pelo contrário, muitos
dons de cura estão à disposição para satisfazer .
DOM DO
ESPÍRITO SANTO
A maioria dos teólogos
pentecostais concorda em que esse dom seja o batismo com o Espírito Santo (At
2.38; 10.451. Trata-se de um dom, um presente, um favor, e nunca um premio.
Deve-se entender também que não se trata de um atestado de santidade ou de
maturidade cristã. Ele é indispensável a qualquer testemunha de Cristo.
ü Domínio próprio -.Temperança
DOM/ DONS
EM GERAL
Os dicionários definem dom como presente, dádiva, doação, oferenda,
donativo, dote. Essas definições estão de acordo com Tiago 1.17: Toda boa
dádiva e todo dom perfeito vem do alto. Etimologicamente, a palavra dom ou dons
é tradução do vocábulo grego charismata, favor especial de Deus. Na Bíblia, há
menção de vários tipos de dons, visto que a ocorre no texto sagrado com
diferentes acepções. Jesus Cristo o dom de
Deus ( Jo 4.10 ; Rm 6.23, 2 Co 9:15; veja também Ec 3:13). O Espírito Santo é o
dom de Cristo (At 2: 38). O senhor Jesus outorga dons ministeriais (Ef 4. 8,1)
e espirituais (1 Co12.8-10). São dons providos para a Igreja, a fim de que, por
meio deles, o povo de Deus realize a obra que lhe foi confiada.
CARISMA--►CARISMATA
Dom da
fé
ü Fé, dom da
Dom da palavra da ciência
ü Palavra da ciência
Dom da palavra da sabedoria
ü Palavra da sabedoria
Dom de cura
ü Dons de curar
Dom de discernir os espíritos
ü Discernimento de espíritos
Dom de interpretação de línguas
ü Interpretação das línguas
Dom de interpretar
ü Interpretação das línguas
Dom de operação de maravilhas
ü Operação de maravilhas
Dom de profecia
ü Profecia, dom de
Dom de profetizar
ü Profecia, dom de
DICIONÁRIO DO ESPIRITO SANTO - GESIEL GOMES
Os dons do Espírito Santo
O
grande pregador e pastor inglês C.H. Spurgeon, em um dos seus escritos relata a
história de uma velhinha que morava numa instituição para idosos pobres que
ele certo dia visitou. Nos pertences dessa senhora foi encontrado um documento
bancário antigo, que lhe fora entregue como lembrança por alguém muito rico.
Com permissão da velhinha, o pastor Spurgeon levou o documento a um banco e
ficou sabendo que se tratava de uma elevada quantia em depósito, suficiente
para aquela senhora viver muito bem pelo resto da vida.
Partindo
desse fato, Spurgeon concluiu que muitos crentes vivem em estado de grande
pobreza espiritual por ignorarem as infinitas riquezas espirituais que estão a
seu dispor, em Cristo, se as buscarem, conforme lemos em Efésios 3.8. Neste
contexto, está a riqueza dos dons espirituais. Daí São Paulo escrever aos
coríntios: “Acerca dos dons espirituais, não quero irmãos que sejais
ignorantes” (I Co 12.1).
A
igreja da atualidade precisa mais e mais conhecer, buscar, receber e exercitar
a provisão divina imensurável que há nos dons espirituais, para o seu contínuo
avanço, edificação, consolidação e vitória contra as hostes infernais, e, ao
mesmo tempo, glorificar muito mais a Cristo.
Princípios
doutrinários. Pelo menos dois princípios devem ficar bem patentes aqui,
concernentes aos dons espirituais:
1)
Uma pessoa que recebeu do Senhor dons do Espírito não significa que ela
alcançou um estado de perfeição e que é merecedora das bênçãos de Deus. As
manifestações e operações do Espírito Santo por meio de um crente jamais devem
ser motivo de orgulho, seja ele quem for.
2)
Assim como o crente não é salvo pelas obras, mas tão-somente pela graça divina
(E f 2.8; T t 3.5), assim também os dons do Espírito Santo nos são concedidos
pela graça de Deus para que ninguém se engrandeça — “segundo a graça" (Rm
12.6).
Na
igreja de Corinto, certos crentes imaturos receberam dons espirituais e se
descuidaram de crescer na fé e na doutrina. Problemas surgiram daí, afetando
toda aquela igreja. Definição dos dons. Em seu sentido geral, o termo “dom ”
tem mais de um emprego. Há os dons naturais, também vindos de Deus na criação,
na natureza: a água, a luz, o ar, o fogo, a vida, a saúde, a flora, a fauna, os
alimentos, etc. Há também os dons por Deus concedidos na esfera humana: os
talentos, os dotes, as aptidões, as prendas, as virtudes, as qualidades, as
vocações inatas, etc.
O
dom espiritual é uma dotação ou concessão especial e sobrenatural pelo Espírito
Santo, de capacidade divina sobre o crente, para serviço especial na execução
dos propósitos divinos para e através da Igreja. “São como que faculdades da Pessoa
divina operando no ser humano” (Horton). Dons espirituais como aqui estudados
não são simplesmente dons humanos aprimorados e abençoados por Deus.
Foi
a poderosa e abundante operação dos dons do Espírito que promoveu a expansão da
igreja primitiva como se vê no livro de Atos dos Apóstolos e nas Epístolas. Foi
dotada de dons espirituais que a igreja de então continuou crescendo sem parar
e triunfando, apesar das limitações da época, da oposição e das perseguições. A
obra missionária também avançou celeremente como fogo em campo aberto.
As
principais passagens sobre os dons espirituais são sete: I Coríntios
12.1-11,28-31; 13; 14; Romanos 12.6-8; Efésios 4.7-16; Hebreus 2.4; e Pedro
4.10,11. Além destas referências, há muitos outros textos isolados através da
Bíblia sobre o assunto. Termos designations dos dons. Abordaremos a partir de
agora os cinco principais termos bíblicos designadores dos dons. Estes termos
descrevem a natureza dos dons.
1)
Pneumatika (I Co 12.1). Os críticos e opositores dos dons alegam que, no
original, aqui, não consta a palavra “dom ”. Não consta neste versículo, mas
consta a seguir, em I Coríntios 12 e nos capítulos seguintes. O referido termo
refere-se às manifestações sobrenaturais da parte do Espírito Santo através dos
dons (cf. I Co 12.7; I4.I).
2)
Charismata (I Co 12.4; Rm 12.6). Falam da graça subseqüente de Deus em todos os
tempos e aspectos da salvação.
3) Diakonai (I Co 12.5). Isso fala de serviço,
trabalho e ministério prático. São ministrações sobrenaturais do Espírito
através dos membros da igreja como um corpo (I Co 12.12-27).
4)
Energemata (I Co 12.6). Isto é, os dons são operações diretas do poder de Deus
para a realização de seus propósitos e para abençoar o povo (cf. w.9,I0).
5)
Phanerosis{ I Co 12.7). Os dons são sobrenaturais da parte de Deus; mas,
conforme o sentido do termo original, aqui, eles operam igualmente na esfera do
natural, do tangível, do sensível, do visível.
Dons de manifestação do Espírito
Vamos
agora classificar ou agrupar os dons com o objetivo de entender melhor o
assunto. A primeira classificação é a dos dons de manifestação do Espírito em
número de nove, conforme I Coríntios 12.8-10. Esses dons são formas de
capacitação sobrenatural de pessoas, para a “edificação do corpo de Cristo”
como um todo, e também para a bem-aventurança de seus membros, individualmente
(vv.3-5,12,17,26).
Os
capítulos 12 a 14 de I Coríntios têm a ver com esses maravilhosos dons. Eles
são de atuação eventual, inesperada e imprevista (quanto ao portador do dom),
tudo dependendo da soberania de Deus na sua operação. Esses dons manifestam o
saber de Deus, o poder de Deus e a mensagem de Deus. Dons que manifestam 0
saber de Deus (I Co 12.8-10). Esses dons manifestam a multiforme sabedoria de
Deus:
1)
A palavra da sabedoria (v.8). E um dom de manifestação da sabedoria
sobrenatural, pelo Espírito Santo. E um dom altamente necessário no governo da
igreja, pastoreio, administração, liderança, direção de qualquer encargo na
igreja e nas suas instituições.
2)
A palavra da ciência (v.8). “Ciência” eqüivale, aqui, a “conhecimento”. Ê um
dom de manifestação de conhecimento sobrenatural pelo Espírito Santo; de fatos,
de causas, de ensinamentos, de ensinadores , etc.
3)
O dom de discernir os espíritos (v.IO). No original, os dois termos que
designam este dom estão no plural. E um dom de conhecimento e de revelação
sobrenaturais pelo Espírito Santo. E um dom de proteção divina para não sermos
enganados e prejudicados por Satanás e seus demônios, e também pelos homens.
Uma das principais atividades de Satanás é enganar (Ap 12.9; 20.8,10; I Tm
4.1). Os homens também enganam (E f 4.14; I Jo 2.26; 2 Jo v.7). Líderes em
geral — inclusive de música — , pastores, evangelistas, mestres, precisam muito
deste dom para não serem enganados.
Dons
que manifestam 0 poder de Deus (I
Co 12.9,10). Esses dons manifestam a poder dinâmico de Deus:
1)
A fé (v.9). E um dom de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo.
Superação e eliminação de obstáculos, sejam quais forem, e de impedimentos;
liberação do poder de Deus; intercessão. Não se trata aqui da fé no seu sentido
salvífico (E f 2.8); ou fé como fruto do Espírito (G1 5.22); ou fé significando
o corpo de doutrinas bíblicas (G1 1.23); ou fé como o aspecto puramente
espiritual da vida cristã (2 Co 13.5). Trata-se da fé chamada “fé especial”,
“fé miraculosa”. Este dom opera também em conjunto com vários outros dons.
2)
0 dom de curar. Ou “dons de curas”, literalmente (v.9). Isto é, este dom é
multiforme na sua constituição e na sua operação. Ê uma sublime mensagem para
os enfermos, não importando a sua doença. São dons de manifestação de poder
sobrenatural pelo Espírito Santo para a cura das doenças e enfermidades do
corpo, da alma e do espírito, para crentes e descrentes.
Esses
“dons de curas” operam de várias maneiras: através da Palavra; através de outro
dom; uma palavra de ordem; um olhar; mãos, etc. Os dons de curas abrangem o ser
humano em sua totalidade; já o dom da fé, além do ser humano, abrange tudo
mais, conforme os planos e propósitos de Deus.
3) A operação de maravilhas (v. 10). N o
original, os dois termos que designam este dom estão no plural: “operações de
maravilhas”. São operações de milagres extraordinários, surpreendentes,
pasmosos; prodígios espantosos pelo poder de Deus, para despertar e converter
incrédulos, céticos, oponentes, crentes duvidosos. Leia João 6; Atos 8.6,13;
19.11; e Josué 10.12-14.
Dons
que manifestam a mensagem de Deus (I Co 12.10). Esses dons manifestam a mensagem da parte de Deus,
poderosa, vivificante, criativa, edificante e consoladora (E em torno desses
três últimos dons que ocorre mais falta de disciplina e de ordem nas igrejas,
como também ocorreu em Corinto.).
1)
A profecia (v. 10). E um dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal
pelo Espírito, para “edificação, exortação e consolação” do povo de Deus (I Co
14.3). E um dom necessário a todos os que ministram a Palavra; que trabalham
com a Palavra (cf. Lc 1.2b; I Tm 5.7). O grau da profecia na igreja hoje não é
o mesmo da “profecia da Escritura” (2 Pe 1.20), que é infalível — a profecia da
Bíblia. A profecia na igreja deve ser, pois, julgada. De fato, a Bíblia
declara: “Em parte profetizamos” (I Co 13.9).
A profecia da igreja está sujeita a falhas por
parte do profeta; daí a recomendação bíblica de I Coríntios 14.29: “E falem
dois ou três profetas, e os outros julguem”. Por que a profecia é denominada o
principal dom, conforme I Coríntios 13.2 e 14.1,5,39? Porque a profecia edifica
a igreja como um corpo, e não apenas como indivíduos. Também porque a profecia
é um meio de expressão de muitos dons (I T m 4.14a). A maior parte do tempo do
culto deve ser para a ministração da Palavra de Deus, e não para a profecia,
conquanto seja esta tão importante (I Co 14.29).
2)
A variedade de línguas (v. 10). È um dom de expressão plural, como indica o seu
título. È um milagre lingüístico sobrenatural. Nem todos os crentes batizados
com o Espírito Santo recebem este dom (I Co 12.30). Já as línguas como
evidência física inicial do batismo, todos ao serem batizados no Espírito Santo
as falam.
As mensagens em línguas mediante este dom
devem ser interpretadas para que a igreja receba edificação (I Co 14.5,27). O
crente portador deste dom, ao falar em línguas perante a congregação, não
havendo intérprete por Deus suscitado, deve este crente falar somente “consigo
e com Deus” (I Co 14.4,28), isto é, falar em silêncio.
3)
A interpretação das línguas (v. 10). Ê um dom de manifestação de mensagem
verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. Não se trata de “tradução de
línguas”, mas de “interpretação de línguas”. Tradução tem a ver com palavras em
si; interpretação tem a ver com mensagem. As línguas estranhas como dom
espiritual, quando interpretadas, assemelham-se ao dom de profecia, mas não são
a mesma coisa. O dom de interpretação é um dom em si mesmo, e não uma
duplicação do dom de profecia (cf. I Co 12.10,30; 14.5,13,26-28).
Dons de ministérios práticos
São
administrações de serviços práticos, individuais e em grupo (R m 12.6-8; I Co
12.28-30). Nestas passagens, eles aparecem juntamente com os demais dons
espirituais, e sob o mesmo título original charismata — “dons da graça”. São
dons de ministração residentes no portador, pela natureza de sua finalidade
junto às pessoas ou grupos: assistência, serviço, socorro, auxílio, amparo,
provisão. São dons residentes nos seus portadores, pela natureza e objetivos de
sua ação.
Estes
dons têm sido pouco estudados na igreja. Daí os equívocos e dúvidas existentes.
São da mesma natureza espiritual e sobrenatural dos demais dons da graça de
Deus. A Bíblia os coloca em conjunto com os demais dons (I Co 12.28). Ela usa
para esses dons o mesmo termo original empregado para os dons de I Coríntios
12.4-10: charismata (Rm 12.6-8).
Ministério (Rm 12.7). Ministração,
servir, prestar serviço material e espiritual, sem primeiramente esperar
recompensa, reconhecimento, retribuição, remuneração, com motivação e
capacitação mediante este dom. E servir capacitado sobrenaturalmente pelo
Espírito. Ensinar (R m 12.7).
Ensinar no sentido didático, como deixa claro
o original. E o dom espiritual de ensinar, tanto na teoria, como na prática;
ensinar fazendo; ensinar a fazer; ensinar a entender; treinar outros. Educar no
sentido técnico desta palavra. Não confundir com o ministério do ensino, que
tem a ver com ministros do evangelho, segundo Efésios 4. I I e Atos 13.1 (
“profetas e mestres”).
Exortar (Rm 12.8). Exortar, aqui, é como dom: ajudar, assistir, encorajar,
animar, consolar, unir pessoas desunidas, que não se falam; admoestar.
Repartir (Rm 12.8). O sentido no
original é dar generosamente, doar, oferecer, distribuir aos necessitados em
primeiramente esperar recompensa ou reconhecimento, movido pelo Espírito Santo.
Este dom ocupa-se da benevolência, beneficência, humanitarismo, filantropia,
altruísmo.
Presidir (Rm 12.8). E conduzir, dirigir, organizar, liderar, governar, orientar
com segurança, conhecimento, sabedoria e discernimento espiritual. Isso em se tratando
de igreja, congregação, instituição, etc. Para alguém presidir desta maneira,
só mesmo tendo de Deus este dom! A tendência natural de quem lidera e preside é
ser duro, dominar somente pela autoridade, ser insensível.
Exercitar misericórdia (Rm 12.8). Este dom refere-se a assistência aos
sofredores, necessitados, carentes; fracos, enfermos, presos, visitação,
compaixão.
Socorros (I Co 12.28). Literalmente “achegar-se para
socorrer”. É o caso de enfermos, exaustos, famintos, órfãos, viúvas, etc. È um
dom de ação plural.
Governos
(I Co 12.28). E um dom plural no
seu exercício. Ê dirigir, guiar e conduzir com segurança e destreza. O termo
original sugere pilotar uma embarcação com segurança, destreza e
responsabilidade.
Dons na área do ministério
Esses dons são enumerados em Efésios 4.11 e I
Coríntios 12.28, 29, a saber: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores,
doutores ou mestres.
Alvos
e resultados dos dons espirituais. De acordo com I Coríntios 12.7, “a
manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”. Vejamos quais
são os alvos e resultados dos dons espirituais:
1) A glorificação do Senhor Jesus em escala
muito além da natural e humana (Jo 16.14).
2)
A confirmação da Palavra de Deus anunciada, pregada e ensinada (Mc 16.17-20; H
b 2.3,4).
3)
O crescimento constante e real, em quantidade e qualidade, da obra de Deus na
igreja, na evangelização e nas missões (At 6.7; 19.20; 9.31; Rm 15.19 \
4)
A “edificação” espiritual da igreja de Deus como um corpo e como membros
individualmente (I Co 12.12-27). Jesus afirmou: “Eu edificarei a minha igreja”
(M c 16.18), mas na ocasião Ele não disse como ia edificar. Mas em Atos e nas
Epístolas vemos que é em parte através desses dons divinos de que estamos a
tratar.
5)
O aperfeiçoamento dos santos (E f 4.11,12). Isso jamais é possível por parte do
homem, ou das coisas desta vida, mas é possível para Deus (c£ Lc 18.27).
O
exercício dos dons do Espírito. Toda energia e poder sem controle é desastroso.
Estudando I Coríntios 14.26,32,33 e 40, vemos que Deus nos concede dons, mas
não é responsável pelo mau uso deles, por desobediência do portador à doutrina
bíblica, ou por ignorância desta. A eletricidade quando domada nas subestações,
torna-se apropriada ao consumo doméstico, mas nas linhas de alta tensão é letal
e destruidora. Também não adianta ter um bom freio no carro sem o seu potente
motor, como muitos fazem nas igrejas mornas, frias e secas. Elas têm freio e
direção no “carro”, porém falta-lhes o ativo e poderoso motor.
O
uso dos dons na igreja deve ser regulado e equilibrado pela Palavra de Deus,
corretamente entendida, interpretada e aplicada. A Palavra e o Espírito
interpenetram-se e combinam-se em sua operação conjunta na igreja. A Palavra é
a espada do Espírito, e o Espírito interpreta e emprega a Palavra.
Na
igreja, a predominância da doutrina do Senhor corrige erros, evita confusão e
repara estragos. Ela, quando ensinada e aplicada, neutraliza o fanatismo, que é
zelo religioso sem entendimento — são exageros, práticas antibíblicas,
emocionalismo, gritaria e outros desmandos. Por sua vez, quando o Espírito
predomina, neutraliza o formalismo, que é excesso de regras, regulamentos,
legalismo, rotina religiosa, formalidades secas e enjoativas, mornidão,
fórmulas, ritos e coisas assim.
Quem
recebe dons de Deus, a primeira coisa a fazer é procurar conhecer o que a
Palavra ensina sobre o exercício deles. Em Corinto havia abuso dos dons,
enquanto em Tessalônica havia carência deles, por tanto refreio. E de pasmar em
nossas igrejas a carência da doutrina bíblica sobre essas manifestações do
Espírito — os dons espirituais. O resultado disso aí está em muitos lugares:
fanatismo, práticas antibíblicas, meninices, confusão, escândalo e desonra para
o evangelho que pregamos.
No
exercício dos dons e de outras manifestações do Espírito Santo, ninguém que aja
desordenadamente e cause confusão, dentro da congregação e fora dela, venha a
dizer que está agindo assim por direção do Espírito Santo. Ele não é o autor de
tais coisas! Responsabilidade quanto aos dons. É preciso haver responsabilidade
quanto aos dons, a fim de que não haja mau uso deles.
1)
Conhecer os dons. “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais
ignorantes” (I Co 12.1).
2)
Buscar os dons. “Procurai com zelo os melhores dons” (I Co 12.31).
3)
Zelar pelos dons. “Procurai com zelo os dos espirituais” (I Co I4 .I).
4)
Ser abundante nos dons. “Procurai progredir neles, para a edificação da igreja”
(I Co 14.12, ARA).
5) Ter autodisciplma nos dons. “E os espíritos
dos profetas estão sujeitos aos profetas” (I Co 14.32).
6) Ter decência e ordem no exercício dos dons.
“Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Co 14.40).
Portanto,
poder, sinais, curas, libertação e maravilhas devem caracterizar um genuíno
avivamento pleno de renovação espiritual e pentecostal. N o entanto, tudo deve
ser livre de escândalos, engano, falsificação, e segundo a decência e ordem que
a Palavra de Deus preceitua (I Co 14.26-40).
Teologia
Sistemática – ANTONIO GILBERTO
A CONFISSÃO DO ESPÍRITO
1
Coríntios 12:1-3
Na Igreja de Corinto estavam ocorrendo as
coisas mais surpreendentes através da ação do Espírito Santo, mas em uma era de
êxtase e entusiasmo pode haver uma excitação histérica, auto-engano e enganos
totais assim como atos verdadeiros, e tanto neste como nos próximos dois
capítulos Paulo fala a respeito das verdadeiras manifestações do Espírito.
Esta
é uma passagem muito interessante devido ao fato de que contém duas frases que
eram gritos de batalha. (1) Contém a frase Jesus seja amaldiçoado [12:3, NVI].
Havia quatro formas nas quais podia surgir esta frase terrível.
(a)
Poderia ser utilizada pelos judeus. As orações na sinagoga incluíam
regularmente uma maldição a todos os hereges e apóstatas, e Jesus figuraria
entre eles. E mais ainda, como Paulo bem o sabia (Gálatas 3:13), a lei judaica
estabelecia: "Maldito seja aquele que é pendurado no madeiro." E
Jesus tinha sido crucificado. Não seria estranho ouvir os judeus pronunciando
seus anátemas sobre esse herege e criminal que os cristãos adoravam.
(b)
É bem possível que os judeus fizessem que os prosélitos que se viam atraídos
pelo cristianismo pronunciassem esta maldição ou fossem excomungados de todo
culto judeu. Quando Paulo estava relatando a Agripa seus dias de perseguidor,
disse: "E muitas vezes, castigando-os em todas as sinagogas, forcei-os a
blasfemar" (Atos 26:11). Uma das condições para permanecer na sinagoga
deve ter sido pronunciar uma maldição contra Jesus Cristo.
(c)
Seja como fosse na época em que Paulo estava escrevendo, é verdade que mais
tarde, nos dolorosos dias da perseguição, os cristãos eram obrigados por seus
perseguidores a amaldiçoar a Cristo ou morrer. Na época de Trajano, a prova de
Plínio, governador de Bitínia, era exigir das pessoas acusadas de ser cristãs
que amaldiçoaram a Cristo. Quando Policarpo, o bispo de Esmirna, foi detido, o
procônsul Estácio Quadrado exigiu o seguinte: “Diga: ‘Fora os ateus’, jura pela
divindade do César e blasfema contra Cristo.” E esta foi a grande resposta do
ancião bispo: “Servi a Cristo por oitenta e seis anos, e nunca me fez nenhum
mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou?” Chegou certamente o
momento em que os cristãos se viram confrontados com a escolher amaldiçoar a
Cristo ou morrer.
(d) Existia a possibilidade de que até dentro
da Igreja, alguém num estado de delírio semi-enlouquecido gritasse:
"Maldito seja Jesus." Nessa atmosfera histérica podia ocorrer
qualquer coisa e poderia dizer-se que se tratava da obra do Espírito. Paulo
estabelece que ninguém pode dizer uma palavra contra Cristo e atribuí-la à
influência do Espírito.
(2)
Mas junto a isto está o grito de batalha cristão Jesus é o Senhor. Enquanto a
Igreja primitiva não tinha um credo, esta simples frase era seu credo (ver
Filipenses 2:11). A palavra era kurios e era tremenda. Era o título oficial do
imperador romano. A exigência dos perseguidores sempre era: “Diga: ‘César é
Senhor’ (kurios)." É a palavra grega por meio da qual se traduzia o nome
santo de Jeová na tradução grega do Antigo Testamento. Quando um homem podia
dizer "Jesus é Senhor", significava que outorgava a Jesus a
fidelidade suprema de sua vida e a suprema adoração de seu coração.
Devemos
notar que Paulo cria que um homem só podia dizer: "Jesus é o Senhor",
quando o Espírito o capacitava a fazê-lo. O Senhorio de Jesus não era tanto
algo que o homem podia descobrir por si só, como algo que Deus, em sua graça
lhe revelava.
OS DISTINTOS DONS DE DEUS - 1
Coríntios 12:4-11
A
idéia de Paulo nesta seção é sublinhar a unidade essencial da Igreja. A Igreja
é o corpo de Cristo e a característica de um corpo são é que cada parte do
mesmo realiza sua própria função para o bem da totalidade. Mas unidade não
significa uniformidade, e portanto, dentro da Igreja há distintos dons e
distintas funções; mas cada um deles é um dom do mesmo Espírito, e cada um
deles está destinado não para a glória do membro individual da Igreja, mas para
o bem da totalidade.
Paulo
começa dizendo que todos os dons especiais (charismata) provêm de Deus. Ele
cria que toda capacidade especial que o homem tem provém de Deus e, portanto,
deve ser utilizada em seu serviço.
A
falha da Igreja, ao menos em épocas modernas, é que interpretou esta idéia dos
dons especiais de uma maneira muito estreita. Agiu muitas vezes com a presunção
aparente de que os dons especiais que pode utilizar consistem em coisas, tais
como falar, orar, ensinar, escrever, todos dons mais ou menos intelectuais ou
acadêmicos. Seria bom se a Igreja se desse conta de que os dons de quem pode
trabalhar com suas mãos, do artesão, na verdade são igualmente especiais e
também provêm de Deus. O pedreiro, o carpinteiro, o eletricista, o pintor, o
engenheiro, o bombeiro têm dons especiais; e a Igreja se enriqueceria
grandemente se, para ocupar postos, escolhesse artesãos que estão preparados
para dedicar e consagrar a habilidade de suas mãos a Deus, assim como ela
escolhe aqueles cujos dons descansam em seu poder de falar, pensar ou escrever.
Não há nenhuma razão pela qual um artesão que está disposto a oferecer
livremente seu artesanato para o serviço da Igreja não seja eleito como diácono
para que possa utilizar seu dom para a Igreja. Todo dom especial provém de Deus
e pode ser utilizado para Ele. É do maior interesse examinar a lista de dons especiais
que Paulo menciona, devido ao fato de que por meio dela aprenderemos muito a
respeito das características e do trabalho da Igreja primitiva. Tomemos os
itens um por um.
Começa
com duas coisas que soam parecidas — palavra da sabedoria e palavra do conhecimento.
A palavra grega que traduzimos por sabedoria é sophia. Clemente de Alexandria a
definiu como "o conhecimento das coisas humanas e divinas e de suas
causas". Aristóteles a descreveu como "a luta por alcançar os
melhores fins e utilizando os melhores meios". Esta sabedoria é a mais
elevada; é nada menos que o conhecimento do próprio Deus. Provém nem tanto do
pensamento e da mente como da comunhão com Deus.
É
a sabedoria que conhece a Deus. Conhecimento — em grego, gnosis — significa
algo muito mais prático. É o conhecimento que sabe como agir diante de qualquer
situação. É em realidade a aplicação prática da sophia à vida e aos assuntos
humanos. As duas coisas são necessárias. A sabedoria que conhece por sua
comunhão com Deus as coisas profundas a respeito Dele, e o conhecimento que, na
vida e trabalho diário do mundo e da Igreja, pode pôr em prática essa
sabedoria.
Segue
na lista a fé. Com este termo Paulo quer dizer muito mais do que nós usualmente
denominamos fé. Este tipo de fé foi definida como fé potente e como o poder de
compreender o espiritual. É a fé que realmente produz resultados, a fé que —
segundo a velha frase — realmente pode mover montanhas. Não é só a convicção
intelectual de que algo é certo; é a crença apaixonada por algo que faz com que
o homem dê por isso tudo o que é e tudo o que tem. É a fé que fortalece a
vontade e estimula a fibra do homem para a ação. É a fé que converte a visão em
atos.
Logo
Paulo fala a respeito dos especiais dons de curar. A Igreja primitiva vivia num
mundo no qual eram comuns o que chamaríamos milagres de cura. Se um judeu
adoecia era muito mais provável que recorresse a um rabino que a um médico; e o
mais provável é que se curasse.
Esculápio
era o deus grego da cura. As pessoas iam a seus templos, quase sempre passando
toda a noite neles, para serem curados, e se curavam. Até o dia de hoje
encontramos entre as ruínas destes templos tabletes votivas e inscrições
comemorando estas curas e ninguém se tomaria o trabalho nem o gasto de erigir
uma inscrição por nada. No Templo de Epidauro há uma inscrição que relata como
um certo Alketas "apesar de estar cego viu a visão sonhada. O deus pareceu
aproximar-se dele e lhe abrir os olhos com seus dedos, e primeiro viu as
árvores que estavam no templo. Ao amanhecer partiu curado." No templo de
Roma está a seguinte inscrição. "A Valério Aper, um soldado cego, o deus
lhe deu um oráculo para vir e tomar o sangue de um galo branco com mel e
misturá-los num emplastro e ungir seus olhos por três dias, e recebeu a vista e
veio e deu graças publicamente ao deus."
Tratava-se
de uma era de curas. Não há nenhuma dúvida de que o dom de curar existia na
Igreja primitiva; Paulo não o teria chamado se não tivesse sido real. Na carta
de Tiago (5:14) há uma instrução que diz que se um homem estiver doente deve
dirigir-se aos anciãos e eles o ungirão com azeite. É simplesmente um fato
histórico que até o século IX o sacramento da Unção se utilizava para curar, e
só depois se converteu no sacramento da Extrema Unção, em preparação para a
morte. A Igreja nunca perdeu totalmente o dom de curar, e uma das coisas mais
grandiosas que está acontecendo hoje é que a Igreja o está redescobrindo.
O
ancião francês Montaigne, um dos escritores mais sábios que jamais existiu, disse
a respeito da educação de um jovem:
"Faria com que seus membros
estivessem tão treinados como sua mente. Não estamos educando nem uma mente nem
um corpo; trata-se de um homem E não devemos dividi-lo em dois."
Por
muito tempo a Igreja dividiu o homem em corpo e alma, e aceitou ser responsável
por sua alma, mas não por seu corpo. Um dos grandes redescobrimentos de nossa
época é que mais uma vez estamos aprendendo a tratar o homem como uma
totalidade, e chegará o dia em que o médico e o pastor trabalharão mais uma vez
em plano de igualdade.
Logo
Paulo menciona operações de milagres. Certamente se refere a exorcismo.
Naqueles dias muitas enfermidades, muitas vezes quase todas, e em especial as
enfermidades mentais eram atribuídas à obra dos demônios; e uma das funções da
Igreja era a de conjurar os demônios. Fossem ou não reais, a pessoa que se
considerava possuída estava convencida de que se tratava de um fato real, e a
Igreja podia ajudar e o fazia. O exorcismo é ainda uma realidade no campo
missionário. Em todos os tempos a função da Igreja é assistir a mente doente e
turvada.
Paulo continua mencionando a profecia. Teremos
uma idéia melhor do significado desta palavra se a traduzirmos pregação.
Associamos muito a palavra profecia com a predição do que acontecerá no futuro.
Mas em realidade sua significado foi mais enunciar que predizer. O profeta é um
homem que vive tão perto de Deus que conhece sua mente, coração, vontade,
intenção, e que portanto pode dá-las a conhecer aos homens. Devido a isto a
função de um profeta tem dois aspectos:
(a)
Admoesta e adverte, dizendo aos homens que seu forma de agir não está de acordo
com a vontade de Deus;
(b)
Aconselha e guia, buscando dirigir os homens pelos caminhos que ele sabe que
Deus deseja que sigam.
Paulo
menciona a seguir o discernimento de espíritos. Em uma sociedade em que a
atmosfera era tensa e elétrica e em que toda classe de manifestações anormais
eram consideradas normais, era preciso distinguir entre o que era real e o que
era meramente histérico, entre o que era genuíno e o que era produto da ilusão
exaltada, entre o que provinha de Deus e o que pertencia ao diabo. Até o dia de
hoje, quando algo é incomum e se encontra fora de nossa órbita comum, é muito
difícil dizer se provém de Deus ou não. O único princípio que devemos observar
é que devemos tentar compreender antes de condenar.
Por
último Paulo menciona variedade de línguas e a interpretação das línguas. O
assunto das línguas, como veremos, estava causando muita perplexidade na Igreja
de Corinto. Até hoje, embora ainda existe, é completamente alheio à nossa
experiência. O que acontecia era o seguinte: durante o culto na Igreja alguém
dos membros caía em êxtase e lançava uma corrente de sons ininteligíveis num
linguagem inexistente. Era um dom altamente desejado pois se supunha que se
devia à influência direta do Espírito de Deus. Para a congregação era algo
completamente ininteligível. Algumas vezes a pessoa que caía em êxtase podia
interpretar o que tinha pronunciado, mas quase sempre se requeria que
interviesse alguém que tivesse o dom da interpretação. Paulo nunca questionou a
realidade do dom de línguas, mas sabia muito bem que apresentava seus perigos,
devido ao fato de que a histeria, o êxtase e certo tipo de auto-hipnotismo são
difíceis de diferenciar.
O quadro que obtemos é o de uma Igreja
vivamente desperta. Aconteciam coisas; em realidade aconteciam coisas
surpreendentes. A vida se via elevada, intensificada e sensibilizada. Na Igreja
primitiva não havia nada chato, aborrecido nem comum. Paulo sabia que toda esta
atividade vivaz e poderosa era a obra do Espírito que outorgava a cada homem um
dom para que o utilizasse para todos.
1 Coríntios (William Barclay)
OS CARGOS NA IGREJA
Efésios
4:11-13
Esta
passagem tem particular interesse porque oferece um quadro sobre a organização
e administração da Igreja primitiva. Aqui há uma lista dos cargos da Igreja na
época de Paulo. Na Igreja primitiva existiam três tipos de acusações. Eram
poucos os que possuíam mandato e autoridade sobre toda a Igreja. Muitos tinham
um ministério não confinado a um lugar, mas sim desempenhado em forma itinerante,
indo aonde o Espírito os impulsionava e aonde Deus os enviava. Outros tinham um
ministério local confinado a uma congregação e a um lugar. (1) Os apóstolos
tinham autoridade sobre toda a Igreja. O círculo apostólico excedia os Doze.
Barnabé foi apóstolo (Atos 14:4,17), também Tiago, o irmão de nosso Senhor (1
Coríntios 15:17; Gálatas 1:19), Silvano (1 Tessalonicenses 2:6), Andrônico e
Júnias (Romanos 16:7).
O
apóstolo devia reunir dois grandes requisitos.
Em primeiro lugar tinha que ter sido enviado
por Jesus. Quando Paulo reclama seus direitos perante a oposição em Corinto,
pergunta: “Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?” (1 Coríntios 9:1). Em
segundo lugar o apóstolo tinha que ter sido testemunha da ressurreição, ou seja
do Senhor ressuscitado. Quando os onze se congregaram para escolher o sucessor
do traidor Judas deram como condições a pertença aos que tinham acompanhado a
Jesus em sua vida terrena e o ter recebido o mandato de ser testemunha da
ressurreição (Atos 1:21-22). De certa forma os apóstolos estavam destinados a
desaparecer, porque apesar de sua longevidade, aqueles que tinham visto Jesus e
eram de fato testemunhas da ressurreição, alguma vez teriam que deixar este
mundo. Mas em outro sentido — e com um significado ainda maior — as condições
subsistem: aquele que tenha que ensinar a Cristo deverá conhecê-lo; aquele que
tenha que levar o poder de Cristo a outros deverá ter experimentado o poder do
Cristo ressuscitado.
(2)
Estavam os profetas. A palavra profeta não designa tanto ao que prediz quanto
aquele que expressa em lugar de. A missão dos profetas mais que predizer o
futuro era expressar a vontade de Deus. Ao expressar a vontade de Deus
necessariamente e em certa medida prediziam o futuro já que anunciavam aos homens
as conseqüências que se seguiriam se desobedeciam essa vontade. Os profetas
perambulavam pela Igreja. Sua mensagem não se tinha como resultado de reflexão
e estudo, mas sim como comunicação direta do Espírito Santo. Não tinham nem
casa, nem família, nem meios de sustento. Iam de uma Igreja a outra proclamando
a vontade de Deus, como Deus a tinha revelado. Mas faz já muito tempo que os
profetas desapareceram da Igreja. Três são as razões que explicam este fato.
(a)
No tempo de perseguição os profetas eram os primeiros a sofrer; a tarefa que
desempenhavam era muito perigosa; não tinham meios de ocultar-se; eram os
primeiros a morrer pela fé.
(b)
Os profetas se converteram num problema. Com o crescimento da Igreja se
desenvolveu também a organização local. Cada comunidade cresceu numa
organização com ministros permanentes e administração local própria. Não
demorou muito em que estes ministros constituídos começassem a ofender-se pela
intrusão desses profetas ambulantes que com freqüência eram um fator de inquietação
em suas respectivas comunidades. O ministro local tende sempre a desconfiar dos
evangelistas itinerantes. Como resultado inevitável os profetas desapareceram
pouco a pouco e prevaleceram os ministros locais.
(c)
A missão do profeta se prestava facilmente ao abuso. Os profetas ambulantes
possuíam um prestígio considerável. Alguns abusavam de sua posição para viver
uma vida muito cômoda às custas das comunidades que visitavam.
O
livro mais antigo sobre administração da Igreja é a Didaquê (A Doutrina dos
Doze Apóstolos), que data do ano 100 de nossa era. Nele pode-se perceber com
clareza tanto o prestígio dos profetas como o receio com relação aos mesmos.
Ali se estabelecem as normas para os sacramentos; formulam-se as orações que se
deverão usar; logo se dá uma instrução que permite ao profeta celebrar como
quiser o sacramento. Não está ligado às formas ordinárias se deseja apartar-se
delas. Mas também há outras prescrições. Estabelece-se que um profeta ambulante
pode ficar um ou dois dias numa comunidade; se deseja ficar três dias é um
falso profeta. Se um profeta ambulante exigir, num momento de sua pretendida
inspiração, dinheiro ou alimento, é um falso profeta. Houve dias, como na época
de Paulo, em que os profetas eram os verdadeiros mensageiros de Deus na Igreja.
Mas chegou o momento em que os profetas ambulantes constituíram um anacronismo;
muitos atraíram o desprestígio sobre a acusação. E no final desapareceram da
cena.
(3)
Os evangelistas eram também ambulantes. A eles correspondem na atualidade os
que chamamos missionários. Paulo escreve a Timóteo: "Faz obra de
evangelista" (2 Timóteo 4:5). Os evangelistas eram os portadores das boas
novas. Não possuíam o prestígio e a autoridade dos apóstolos enviados
diretamente pelo Senhor; tampouco possuíam a influência dos profetas inspirados
pelo Espírito; eram os missionários de batalha da Igreja portadores da mensagem
das boas novas a um mundo que jamais o tinha ouvido. No Novo Testamento os
evangelistas apenas sim se mencionam; mas deveram ter sido os servidores
anônimos que levaram o nome de Cristo a todo mundo.
(4)
Os pastores e mestres parecem constituir uma só categoria. Eram mestres. Em
certo sentido tinham a tarefa mais importante em toda a Igreja. Não eram
ambulantes; possuíam um cargo fixo e permanente desempenhando o trabalho numa
comunidade determinada. A missão que desempenhavam era tripla.
(a)
Deve-se lembrar que na Igreja primitiva existiam muito poucos livros. A
imprensa foi inventada quase quatorze séculos depois. Cada livro devia ser
escrito à mão. Um livro do tamanho do Novo Testamento deveu custar mais de cem
dólares. Isto significa que a mensagem de Cristo tinha que ser irradiada
verbalmente. Durante muito tempo existiu esta transmissão oral antes que a
mesma chegasse a consignar-se por escrito. Os mestres tinham a responsabilidade
tremenda de ser os depositários do relato evangélico. Sua missão consistia em
conhecer e transmitir o relato da vida de Jesus. A eles devemos o fato de que a
história de Jesus se perpetuasse na Igreja.
(b)
A pessoa que ingressava na Igreja provinha diretamente do paganismo; não sabiam
absolutamente nada do cristianismo, exceto que Jesus se apropriou de seus
corações. Por esta razão os mestres ensinavam e explicavam a fé cristã aos
conversos provenientes do paganismo. Os grandes temas doutrinários da Fé cristã
eram o objeto do ensino; dos mestres dependia a pureza da doutrina; a eles
devemos que a fé cristã se manteve pura e sem tergiversações ao ser
transmitida.
(c) Estes mestres eram também pastores.
Naquela época a Igreja cristã não era mais que uma pequena ilha no oceano do
paganismo. Os que ingressavam nela só se apartaram da vida pagã: estavam de
contínuo abertos à influência do paganismo; o perigo de recaída era constante.
A tarefa do pastor consistia em apascentar o rebanho e guardá-lo em segurança.
O
termo pastor é muito antigo e nobre. Nos remotos tempos do Homero o rei
Agamenon era chamado o pastor do povo. Jesus mesmo se chamou o Bom Pastor (João
10:14, 14). O autor da Carta aos Hebreus chama Jesus o Grande Pastor das
ovelhas (Hebreus 13:20). Pedro considera Jesus como o Pastor das almas (1 Pedro
2:25) e o Príncipe dos pastores (1 Pedro 5:4). Jesus deu a Pedro o mandato de
apascentar suas ovelhas (João 21:16). Paulo admoestava aos anciãos de Éfeso que
vigiassem sobre o rebanho que Deus lhes tinha encomendado (Atos 20:28). Também
Pedro exortava os anciãos a apascentar o rebanho de Deus (1 Pedro 5:2). Assim a
figura do pastor fica estampada no Novo Testamento em forma indelével. O pastor
era aquele que cuidava as ovelhas e as conduzia a lugares seguros; buscava as
ovelhas desencaminhadas para levá-las de volta ao rebanho; defendia-as contra
os inimigos e, em caso necessário, dava sua vida para salvá-las.
O pastor do rebanho de Deus é o homem que leva
em seu coração ao povo de Deus, que o alimenta com a verdade, que vai em sua
busca quando se extravia, que o defende contra tudo o que pode ferir, destruir
ou tergiversar sua fé. E não se trata precisamente de uma acusação oficial; é
um dever que pesa sobre os ombros de todo cristão. Cada cristão deve ser o
pastor de todos os seus irmãos.
A FINALIDADE DOS CARGOS
Efésios
4:11-13 (continuação) Depois de enumerar os diferentes cargos dentro da Igreja,
Paulo continua propondo a finalidade dos mesmos. Esta consiste em que os
membros da Igreja cheguem a estar inteiramente equipados. A palavra que usa
Paulo para equipado é de sumo interesse. O substantivo katartismon provém do
verbo katartizein. O termo usa-se em cirurgia quando se entala um membro
quebrado ou fica em seu lugar o membro deslocado. Em política significa pôr-se
de acordo as facções opostas para que o governo possa seguir sua marcha. No
Novo Testamento aplica-se à ação de remendar as redes (Marcos 1:19) e à emenda
ou admoestação do que cometeu uma falta e não está em condições de ocupar seu
lugar como membro da Igreja (Gálatas 6:1). A idéia fundamental do termo é de
pôr nas condições em que devem estar seja uma coisa seja uma pessoa. A função
dos que ocupam cargos na Igreja é empenhar-se para que os membros da mesma
sejam formados, ajudados, guiados, cuidados e buscados em caso de extravio, em
forma tal que cheguem a ser o que têm que ser. O ministro da Igreja possui este
cargo não por razão da própria honra, mas sim da ajuda que pode brindar a seus
irmãos dentro da Igreja.
A
finalidade é que o trabalho serviçal siga adiante. A palavra usada para serviço
é diakonia e a idéia principal do termo é a de serviço prático. O trabalho da
Igreja não consiste só na pregação e o ensino, mas também no serviço prático.
Aquele que ocupa um cargo não só tem a missão de falar e argumentar em matéria
de teologia ou direito eclesiástico; tem também a função de fazer com que
continue o serviço prático dos pobres e os desamparados. O objetivo é fazer com
que o corpo de Cristo continue edificando-se. O trabalho do ministro é sempre
construir e não destruir; edificar a Igreja, não arruiná-la; jamais tem que
causar perturbação mas sim tem que empenhar-se para que os problemas não
levantem a cabeça. Seu propósito é fortalecer sempre o edifício da Igreja,
nunca debilitá-lo.
Mas
aquele que ocupa um cargo na Igreja tem objetivos maiores ainda. Até agora se
pensou no mais imediato e que dia a dia deve-se executar. Mas existem além
outros objetivos de maior alcance.
Sua
finalidade é que os membros da Igreja cheguem a uma unidade perfeita. Não deve
permitir que se formem partidos dentro da Igreja; nada deve fazer com que
origine diferença. Seu propósito deve ser atrair, por preceito e pelo exemplo,
a uma unidade cada dia mais estreita.
Sua
meta é que os membros da Igreja cheguem a alcançar o ideal do homem perfeito. A
Igreja impõe a seus membros nada menos que a meta da perfeição. Jamais se
contentará com que seus membros vivam uma vida decente e honorável, mas sim
cheguem a ser modelos perfeitos de homens e mulheres cristãos.
Paulo
termina assim com uma finalidade que supera a todas. O propósito da Igreja é
que seus membros alcancem uma estatura que possa medir-se com a plenitude de
Cristo. Numa frase ousada A. J. Gossip acostumava a dizer que o propósito de
Cristo era produzir no mundo uma raça de cristos. O propósito da Igreja é nada
menos que o de produzir homens e mulheres que sejam um reflexo do mesmo Jesus
Cristo.
Conta-se
que durante a guerra de Criméia Florence Nightingale passava uma noite de
guarda em certo hospital. Deteve-se para inclinarse sobre a cama de um soldado
imperfeitamente ferido. Quando o jovem levantou a vista disse: "Você é
Cristo para mim." O santo foi definido como "alguém em quem Cristo
vive de novo". E isto é o que deveria ser um verdadeiro membro da Igreja.
Efésios (William Barclay)
O Espírito Santo é um selo dado por Deus a seus filhos ao se converterem. Conheça o propósito do Senhor ao distribuir os dons espirituais à Igreja através deste selo.
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