terça-feira, 3 de março de 2020

Lição 10 - O Espírito Santo e a Edificação da Igreja




___/___/____Lição 10 - O Espírito Santo e a Edificação da Igreja

 TEXTO BÍBLICO BÁSICO
 Efésios 4.1-13

 1- Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados
2 -  com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3 -  procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz:
4- há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;
5 - um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
6 - um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos.
7 - Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.
8 - Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens.
9 - Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra?
10 - Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.
11 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
12 - querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo,
13 - até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.


TEXTO ÁUREO

E os discípulos
 estavam cheios
 de alegria e do
 Espírito
Santo.
             Atos 13.52

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO


2ª feira - Efésios 2.1-10
 A fé é um dom de Deus
3ª feira - 1 Pedro 2.1-25
O povo adquirido
4ª feira - Tiago 2.1-13
Os herdeiros do Reino
5ª feira - 1 Coríntios 12.12-31
Membros de um só corpo
 6ª feira - Romanos 12.1-8
Somos membros uns dos outros
Sábado - Romanos 12.9-21
Vença o mal com o bem


OBJETIVOS

 Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:

 • reconhecer a ação do Espírito Santo no início da Igreja;
• entender que o Espírito Santo promove a unidade da Igreja;
• perceber que o Espírito Santo é quem mantém a Igreja.

 ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Caro professor, a aprendizagem prepara o aluno para agir por conta própria. Nas escolas, nos cursos e nas universidades, a linha divisória entre a condição de aluno e a emancipação é a formatura. Depois que o aluno recebe o seu diploma, passa a caminhar por si mesmo. Estará ele preparado? A escola se preocupou em direcionar a sua formação para essa perspectiva? O aluno de medicina agora é médico. O seu trabalho doravante não terá mais a supervisão de um professor. Ele pode vir a ser um ótimo médico ou um profissional muito ruim, mas é inegável que alcançou a titulação acadêmica necessária para o exercício da profissão. Contudo, se não aprendeu a agir por conta própria, jamais será um profissional que se destacará em sua área ou acrescentará algo ao seu ramo de atuação. O aprendizado lhe concedeu a emancipação, e dele será cobrada a perícia necessária quando situações inusitadas de perigo surgirem (Extraído de: CHAVES, G. V. Educação Cristã — Uma Jornada Para Toda Vida, 2012, p. 59).

Deus o abençoe!


COMENTÁRIO

 Palavra introdutória

Existe um relacionamento muito estreito entre o Espírito Santo e a Igreja. É deveras notável a Sua participação na formação, na direção e na atividade regular dela.

Após o dia de Pentecostes, foram estabelecidas igrejas em diversos lugares, a partir de Jerusalém. Elas não eram como as igrejas que conhecemos hoje. Normalmente, as reuniões eram feitas em casas cedidas por pessoas que entendiam o propósito do evangelho de Jesus. Apesar de ser tudo muito primário e rústico, diferente do que vemos na igreja ocidental dos nossos dias, o que ardia no coração daquela gente era exatamente o mesmo que queima em nosso coração atualmente: a chama do Espírito Santo.


1        1 .   O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA

No Antigo Testamento, o povo de Israel era conhecido como a congregação de Deus, pois era chamado dentre as outras nações para ser um povo separado para Deus (At 7.38). No Novo Testamento, o verdadeiro início da Igreja de Jesus Cristo teve como marco o dia de Pentecostes, a descida do Espírito Santo, em Jerusalém, quando os crentes estavam reunidos no cenáculo, depois da ressurreição de Jesus (At 2).

 A palavra grega para definir igreja é ekklesia, cujo significado é uma assembleia de chamados para fora, ou seja, a igreja é uma instituição que agrega aqueles que recebem Jesus como seu Salvador e são separados do mundo pecaminoso, a fim de viverem para Cristo (Jo 15.19).

Enquanto Jesus esteve aqui na terra, no exercício do Seu ministério, a Igreja não foi estabelecida. No entanto, após a descida do Espírito Santo, capacitando os cristãos, os discípulos do Senhor finalmente iniciaram a igreja em Jerusalém (At 2.42-47).

1.1.            1.1 O Espírito Santo ampliava o alcance da Igreja

O Espírito Santo exerceu a principal liderança no surgimento da Igreja primitiva. Ele acrescentava os salvos (At 2.47), orientava os apóstolos (At 13.2) e enchia todos que ouviam a Palavra e criam nela (At 10.44). Dessa maneira, a presença do Espírito Santo ampliava o alcance da Igreja para além dos limites de Jerusalém (veja os capítulos 13 e 14 do Livro de Atos).

1.2. O Espírito Santo animava os santos

A perseverança é uma das características mais marcantes da Igreja primitiva. Essa é uma qualidade de resignação e tenacidade que se aperfeiçoa na trajetória da vida, em meio à tribulação e à adversidade, gerando em nós a esperança (Rm 5.3-5).

Mesmo diante das tribulações, o Espírito animava os santos, incentivando-os a continuarem a Sua obra (At 13.52). Hoje, a atual Igreja de Cristo precisa continuar perseverante como a Igreja primitiva, que se manteve fundamentada nos ensinos de Jesus e na comunhão com o Espírito Santo. Esse Espírito é quem nos instrui e nos auxilia no cumprimento desse objetivo (Rm 8.26).


2.     O ESPÍRITO SANTO PROPORCIONA A UNIÃO

A Ilustração do corpo e a que melhor expressa a constituição da Igreja, ou seja, a forma como ela se organiza: o corpo, Igreja, exerce múltiplas funções, mas é orientada diretamente pelo Cabeça, Cristo (Ef 4.15).

Após a salvação, proporcionada pela graça, por meio da fé (Ef 2.8,9), o cristão deve se integrar à Igreja, formando o corpo de Cristo com os outros irmãos, isto é, a congregação de pessoas que professam a fé no mesmo salvador, Jesus.

2.1. O corpo formado por diversos membros
 
O Espírito Santo é o responsável por manter a unidade da Igreja (1 Co 2.13; Rm 8.9,16). Ele é quem a vivifica e concede os dons para sua edificação (To 6.63; 1 Co 12.7-11). Então, quando existe desunião ou rebelião no meio do povo de Deus, provavelmente é porque existe alguém que deixou de dar lugar ao Espírito Santo em sua vida (1 Ts 5.19). Um corpo é formado por diversos membros e todos estão interligados uns aos outros, executando suas atividades em comunhão (1 Co 12.25-27).

 2.2. Unidos pela esperança

A esperança do cristão deve estar em seu futuro encontro com Jesus (Jo 14.14). Por isso, necessitamos do Espírito Santo para nos ajudar a esperar por algo que não vemos, mas que nos foi prometido pelo próprio Cristo (Jo 14.2,3). Jesus ocupa a posição de líder da Igreja (1 Co 12.5,6), e o Espírito Santo a guia, ensinando-a a guardar os princípios do Mestre e capacitando-a a realizar a Sua obra.

Paulo declarou que se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens (1 Co 15.19). Manter a unidade é importante, pois, ajudando-nos mutuamente, conseguimos chegar mais longe do que se estivéssemos por conta própria.

2.3. Unidos pelo batismo

O batismo espiritual consiste em nossa identificação com Cristo, na Sua morte e na Sua ressurreição (1 Co 12.13; Cl 3.27). Quando Paulo utiliza o termo um só batismo, em primeira mão, ele está destacando a imersão do salvo no corpo invisível de Cristo (este ato pode ser chamado de batismo de regeneração).

Entretanto, secundariamente, com base nos mesmos textos, pode-se destacar ainda o batismo nas águas, uma vez que este é uma representação da morte do velho homem para a ressurreição de uma nova criatura, que se dá por meio do arrependimento e da fé no sacrifício de Cristo (Rm 6.3; Ef 4.5).

O batismo é um ato de confirmação da confiança e da esperança que o cristão tem depositado em Cristo, confirmando sua fé em que Ele voltará para buscar Sua Igreja. Essa fé permite ao cristão abdicar da sua própria vontade para deixar que Jesus assuma o controle da sua vida, entregando-se totalmente a Ele (Hb 11.1). Dessa forma, o cristão segue os preceitos de Jesus e pratica a comunhão o amor com a Igreja (Hb 11.6).

2.4. Unidos pela regeneração

Embora a regeneração ocorra com o consentimento humano, as Santas Escrituras declaram que o Espírito Santo é quem a promove realmente.

A regeneração é chamada nascer de novo, nascer do Espírito, nascer de Deus, estar em Cristo, ser uma nova criatura (Jo 3.3-6; 2 Co 5.17). Ela está ligada ao arrependimento e ao abandono das práticas pecaminosas, bem como à aceitação de Jesus como o único e suficiente Salvador e Senhor.


Na Bíblia, a história do homem divide-se em três etapas: geração, degeneração e regeneração. A regeneração é a resposta de Deus à investida de Satanás, que imaginou ser impossível a recuperação do ser humano após a Queda. Depois de regenerado, o homem começa a apresentar evidências de ser uma nova criatura. A regeneração é feita pelo Espírito Santo por meio da Palavra de Deus (1 Pe 1.23; Tg 1.18). Ela se tornou indispensável à humanidade em razão do processo degenerativo ocasionado pelo pecado.


3.     O ESPÍRITO SANTO MANTÉM A IGREJA

Muitos teólogos e estudiosos da Palavra discutem sobre a possibilidade de a igreja contemporânea viver com as mesmas características da igreja descrita no Livro de Atos. Essa questão se levanta porque não há semelhanças entre o tempo de hoje com o que se vivia antigamente. Tudo é diferente: a economia, a cultura, a política, o momento histórico etc.

No entanto, a Bíblia continua sendo o registro dos princípios de Deus para toda e qualquer pessoa, independente da cultura dela (Mt 24.35). A mensagem salvadora de Jesus é atemporal e é destinada a todo homem (Jo 3.16). Assim, o Espírito Santo conserva a Igreja acrescentando aqueles que se convertem pela pregação do evangelho de Cristo.

 3.1. Amadurece os santos

 Conforme a Igreja crescia com os novos convertidos, os apóstolos perceberam que era necessário discipulá-los e aju-dá-los a alcançarem, além da salvação, a maturidade e a capacitação para o serviço no Reino. Os apóstolos investiam na maturidade espiritual da Igreja por meio da conscientização da unidade e do incentivo à prática do amor (At 4.32).

Assim, o como de Cristo ia crescendo e amadurecendo para melhor servir ao Senhor da Igreja. A maturidade torna os santos aperfeiçoados no caráter e no serviço, produz a edificação do corpo, a unidade da fé e previne a Igreja contra falsas doutrinas (Ef 4.11-16).

3.2. Sustenta os cristãos

 A igreja de Atos dos Apóstolos era avivada e missionária, por isso ela se empenhava em levar o evangelho por todo o mundo. O Espírito Santo usou o amor como a principal força motivadora dessa igreja e orientou os apóstolos a agirem em comunhão (At 2.42). Dessa forma, a Igreja conseguiu se manter firme diante das tribulações e das dificuldades até chegar aos dias de hoje.


De acordo com o relato bíblico, a Igreja primitiva dava demonstrações abundantes de que o Senhor estava no meio dela. Expressões encontradas no texto indicam uma Igreja voltada para Deus e para a comunhão em tomo do Senhor Jesus tais como: no partir do pão e nas orações (At 2.42), temor (At 2.43), criam (At 2.44), louvando a Deus (At 2.47).

A união maravilhosa dos cristãos na família de Deus fica evidente nas palavras de Paulo, pois Deus está acima de todas as coisas, operando por meio de todas as coisas e em to-das as coisas. Somos filhos dentro da mesma família, amando e servindo ao mesmo Pai, de modo que devemos ser capazes de andar juntos em união. Uma das grandes preocupações de Paulo é que os cristãos não rompam a unidade do Espírito ao concordar com falsas doutrinas (Rm 16.17-20).

 A igreja local não pode crer na paz a qualquer preço, pois a sabedoria de Deus é, primeiramente, pura; depois, pacífica (Tg 3.17). A pureza da doutrina não produz, em si mesma, unidade espiritual, pois há igrejas fortes no que diz respeito à fé, mas fracas no que diz respeito ao amor. Por isso, Paulo une as duas coisas: seguindo a verdade em amor (Ef 4.15) (WIERSBE, Geográfica, 2007b, p. 46).

CONCLUSÃO

O Espírito Santo foi o principal responsável pela configuração que a Igreja de Jesus possui atualmente. Ele cuidou do corpo de Cristo e espalhou-o por todo o mundo, a fim de que o evangelho fosse proclamado a toda criatura. Afinal, este é o papel do cristão: exalar o perfume do Mestre por onde passar. Dessa maneira, o Espírito continua administrando e capacitando a Igreja para que ela possa continuar a obra que Jesus começou há tempos.

O Espírito nunca abandonou a Igreja, por isso ainda temos pessoas tementes a Deus e comprometidas com os Seus princípios. O cristão que entende essa maravilhosa provisão divina concebe um coração grato ao Senhor por todo o cuidado que Ele teve até hoje. Agradeça a Deus por todo o amor com o qual nos trata.


ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. Leia Atos 2.42-47 e informe de quais características da Igreja primitiva não devemos abrir mão?
 R.: Perseverança na doutrina dos apóstolos, comunhão, ênfase na oração, solidariedade, intimidade com o sobrenatural e ousadia na evangelização (At 2.42-47).

                                Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 61



          A SANTIFICAÇÃO NA HISTÓRIA DA IGREJA

Não é nosso propósito um amplo estudo histórico da teologia da santificação. Semelhante estudo teria de passar em revista todos os pontos de vista já adotados pela Igreja com relação ao tema, bem como as circunstâncias que determinaram cada posição. Nossa intenção é explicar o que a Bíblia diz a respeito da obra santificadora do Espírito Santo, que será de ajuda àqueles desejosos por viver de modo cada vez mais agradável a Deus.

 Em todas as eras, inclusive a nossa, a Igreja tem apresentado pontos fortes e também fraquezas em sua teologia. Essa variação pode ser melhor entendida pela observação do fluxo e refluxo histórico de várias doutrina do passado. Devido às limitações de espaço, não há como incluir aqui um amplo estudo da teologia histórica da santificação. Nosso estudo, no entanto, poderá servir de guia ao desenvolvimento dessa doutrina.7 Por mais que alguém possa aprender de semelhante estudo, é reconfortante saber que pessoas na Igreja já estão envolvidas com as implicações práticas dessa doutrina.

 Os primeiros seguidores de Jesus esperavam e pregavam a sua volta a qualquer momento (At 2 e 7). Por isso enfatizavam grandemente a salvação e o evangelismo (Mt 28.18-20; At 1.7,8). No decurso dos anos, tardando a segunda vinda de Jesus, os escritos do Novo Testamento indicam certos problemas surgindo na Igreja (1 Ts 4.13-18; 1 Pe 3.3-18). Por exemplo: alguns crentes não viviam uma vida de santidade, mas usavam a liberdade do código legal judaico como desculpa ao comportamento licencioso. Encontramos tal atitude nas igrejas de Corinto, Galácia, Colossos e nos registros de Apocalipse 2 e 3. Outros - os judaizantes - argumentavam que a solução era que todos os cristãos, tanto os gentios quanto os judaicos, obedecessem a lei mosaica (At 15), doutrina, ensinando que a Igreja controlava uma "tesouraria de méritos" que podia ser creditada na conta do fiel necessitado. Depois do batismo cristão, os pecados venais12 podiam ser contrabalançados pelo sacramento da comunhão, ao passo que os "pecados mortais", mais graves, exigiam alguma forma de penitência. 13

Os líderes da Reforma afligiam-se com a corrupção que viam dentro da Igreja Católica Romana. Consequentemente, diminuíam o papel da igreja institucional e dos sacramentos na santificação. Argumentavam que a santificação era obra do Espírito "primariamente através da Palavra, e [só] secundariamente através dos sacramentos". Também diziam que “a justificação produz a força motivadora na santificação.” 14

Os pietistas e os metodistas, desesperados com a falta de vitalidade espiritual em suas próprias fileiras, deslocaram o processo da santificação para ainda mais longe do controle da Igreja. Sustentavam que o Espírito Santo realizava essa obra por meio do amor, da devoção e da obediência a Cristo, por parte do crente, juntamente com um desejo pela santidade prática e o esforço em prol da perfeição.15 Enfatizavam o relacionamento espiritual pessoal mais que a participação de uma atividade patrocinada pela igreja institucional - os sacramentos (no catolicismo) ou a pregação da Palavra (no luteranismo).

O próprio John Wesley assumiu uma posição ainda mais extrema: ensinava que aqueles que não tinham vitalidade espiritual haviam sido salvos, mas não santificados. Acreditava que a justificação e a santificação eram obras separadas da graça. A salvação era a primeira, e a santificação, a segunda. Frequentemente chamava a esta última obra "perfeição cristã", afirmando que ela excluía qualquer transgressão voluntária das leis de Deus (estava disposto a reconhecer que transgressões involuntárias ainda podiam ocorrer). Definia essa perfeição como amar a Deus e ao próximo, tendo a mente que estava em Cristo Jesus, o fruto integral do Espírito na alma do crente e a imagem moral de Deus renovada na retidão e na verdadeira santidade. "Essa é a perfeição", dizia. A solução para os problemas espirituais da Igreja de seus dias era essa segunda obra da graça: a santificação. A santificação forneceria maior espiritualidade e mais poder à obra nas searas missionárias do mundo inteiro. 16

 O Movimento da Santidade, nos meados do século XIX ao início do século XX, vendo a espiritualidade ofuscada em suas denominações (que passavam a ser "exdenominações"), adotaram muitas das características do metodismo primitivo. Essas características incluíam a distinção entre a primeira obra da graça e uma segunda, e a ênfase na espiritualidade pessoal. Em muitos casos, essa segunda obra era identificada como o batismo no Espírito Santo. Da mesma maneira que nos ensinos de João Wesley, tal experiência era a responsável tanto pelo aumento da espiritualidade (ou "santidade") quanto pelo incremento de poder para o serviço cristão. 17

Outros líderes eclesiásticos da época concordavam com os grupos da Santidade quanto a igreja precisar de renovação, mas discordavam da solução deles. Um desses líderes era Charles Finney, cuja abordagem era mais modesta. Ele concordava com o ensino wesleyano de uma segunda obra (instantânea) da graça, mas não a considerava uma obra de santificação. Tratava-se, para ele, de um revestimento de poder. 18

Reuben A. Torrey foi outro líder eclesiástico destacado no assunto. Encorajado pelo evangelista Dwight L. Moody, olhava a doutrina de um prisma um pouco diferente. Ensinava que a santificação era um processo, mas que o poder para o serviço provinha do batismo no Espírito. Em outras palavras, rejeitava a identificação - defendida pelo movimento da Santidade - do batismo no Espírito como uma "segunda obra da graça", que produzia a santidade. Mantinha a expressão "batismo no Espírito", concordava ser ela subsequente à salvação e ensinava que era exclusivamente um dom divino de poder espiritual. 19

A ênfase cada vez maior à obra do Espírito Santo, em fins do século XIX, preparou o caminho para a renovação do Pentecostalismo, no começo do século XX. Alguns dos primeiros pentecostais, porém, argumentavam que o batismo no Espírito Santo era uma terceira obra da graça, sendo: (1) a salvação, mediante a qual a pessoa era purificada dos pecados da vida irregenerada; (2) a santificação, que outorgava a vitória sobre o pecado nesta vida, no sentido wesleyano; e (3) o batismo no Espírito Santo, que revestia o crente de poder para servir a Deus e ao próximo.20 Estas duas últimas obras da graça pareciam relegar o restante da Igreja a uma condição espiritual inferior, situação que encorajava um elitismo espiritual pentecostal. Os não-pentecostais não demoraram a caracterizar os pentecostais como elitistas, inclusive os que não haviam adotado posições tão exageradas. Infelizmente, a doutrina da santificação parece ter-se perdido no fragor da batalha.

Atualmente, há urgente necessidade de renovada ênfase à doutrina da santificação nos círculos pentecostais. Em primeiro lugar porque são raros os pentecostais que hoje aceitariam a ideia de estar precisando de renovação espiritual. A despeito de muitíssimos crentes terem sido batizados no Espírito Santo, são muitas as igrejas pentecostais que não possuem a vitalidade e a eficácia que nelas se evidenciavam em anos anteriores. Em segundo lugar, a ênfase pentecostal ao batismo no Espírito e aos dons sobrenaturais do Espírito tem resultado numa falta de ênfase ao restante da obra do Espírito, inclusive a santificação. Em terceiro lugar, a aceitação mais generalizada dos pentecostais e dos carismáticos parece ter ameaçado a distinção tradicional entre a Igreja e o mundo, lançando dúvidas sobre muitos dos antigos padrões de santidade. E, finalmente, os pentecostais de hoje dão muito valor à popularidade que acabaram de conquistar e, no afã de preservá-la, zelam por evitar qualquer aparência de elitismo espiritual.

Stanley-Horton-Teologia-Sistematica

                                   Resultado de imagem para frases sobre O Espírito na Igreja

                                VI. O Espírito na Igreja

O que ocorreu no Pentecoste. O Salvador existia antes de sua encarnação e continuou a existir depois de sua ascensão; mas durante o período intermediário exerceu o que pode íamos chamar sua missão "temporal" ou dispensacional, e para cumpri-la veio ao mundo e, havendo-a efetuado, voltou para o Pai. Da mesma maneira o Espírito veio ao mundo em um tempo determinado, para uma missão definida, e partirá quando sua missão tiver sido cumprida. Ele veio ao mundo não somente com um propósito determinado, mas também por um tempo determinado. Nas escrituras encontramos três dispensações gerais, correspondendo às três Pessoas da Divindade. O Antigo Testamento é a dispensação do Pai; o ministério terrestre de Cristo é a dispensação do Filho; e a época entre a ascensão de Cristo e sua segunda vinda é a dispensação do Espírito. O ministério do Espírito continuará até que Jesus venha, depois virá outro ministério dispensacional. O nome característico do Espírito durante essa dispensação é "o Espírito de Cristo". Toda a Trindade coopera na plena manifestação de Deus durante essas dispensações. Cada um exerce um ministério terreno: o Pai desceu no Sinai; o Filho desceu na encarnação; o Espírito desceu no dia de Pentecoste. O pai recomendou o Filho (Mat. 3:17); o Filho recomendou o Espírito (Apo. 2:11), e o Espírito testifica do Filho (João 15:26). Como Deus, o Filho cumpre para com os homens a obra de Deus o Pai, assim o Espírito Santo cumpre para com os homens a obra de Deus o Filho. John Owen, teólogo do século dezessete, demonstra como, através das dispensações, há certas provas de ortodoxia relacionadas com cada uma das três Pessoas. Antes do advento de Cristo, a grande prova era a unidade de Deus, Criador e Governante de tudo. Depois da vinda de Cristo a grande questão era se a igreja, ortodoxa quanto ao primeiro ponto, receberia agora o Filho divino, encarnado, sacrificado, ressuscitado e glorificado, segundo a promessa. E quando a operação desse teste quanto à divindade de Cristo havia reunido a igreja de crentes cristãos, o Espírito Santo tomou-se proeminente como a pedra de toque da verdadeira fé. "O pecado de desprezar sua Pessoa e de rejeitar sua obra na atualidade é da mesma natureza da idolatria da antiguidade, e da rejeição da Pessoa do Filho por parte dos judeus." Assim como o eterno Filho encarnou-se em corpo humano no seu nascimento, assim também o Espírito eterno se encarnou na igreja que é seu corpo. Isso ocorreu no dia de Pentecoste, "o nascimento do Espírito". O que foi a manjedoura para o Cristo encarnado, assim foi o cenáculo para o Espírito. Notemos o que ocorreu nesse memorável dia.
(a) O nascimento da igreja. "E, cumprindo-se o dia de Pentecoste." Pentecoste era uma festa do Antigo Testamento que se comemorava cinqüenta dias depois da Páscoa, razão porque era chamado "Pentecoste", que significa "cinqüenta". (Vide Lev. 23:15-21.) Notemos sua posição no calendário de festas:
1) Primeiro vinha a festa da Páscoa, que comemorava a libertação de Israel do Egito na noite em que o anjo da morte matou os primogênitos egípcios enquanto o povo de Deus comia o cordeiro em suas casas assinaladas com sangue. Isto é um tipo da morte de Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sangue nos protege do juízo de Deus.
2) No sábado após a noite Pascal um molho de cevada, previamente disposto, era segado pelos sacerdotes e oferecido perante Jeová como as primícias da colheita. A regra era que a primeira parte da colheita devia ser oferecida a Jeová em reconhecimento do seu domínio e propriedade. Depois disso, o restante da colheita podia ser segado. Isto é um tipo das "primícias dos que dormem" (1Cor. 15:20). Cristo foi o primeiro a ser segado do campo da morte e a ascender ao Pai para nunca mais morrer. Sendo as primícias, ele é a garantia de que todos os que crêem nele o seguirão na ressurreição para a vida eterna.
3) Quarenta e nove dias deviam contar-se desde a oferta desse molho movido, e no qüinquagésimo dia — o Pentecoste — dois pães (os primeiros pães feitos da nova colheita de trigo), eram movidos perante Deus. Antes que se pudessem fazer pães para comer, os primeiros deviam ser oferecidos a Jeová em reconhecimento de seu domínio sobre o mundo. Depois disso, outros pães podiam ser assados e comidos. O seguinte é o significado típico: Os cento e vinte no cenáculo eram as primícias da igreja cristã, oferecidas perante o Senhor pelo Espírito Santo, cinqüenta dias depois da ressurreição de Cristo. Era o primogênito dos milhares e milhares de igrejas que desde então têm sido estabelecidas durante os últimos dezenove séculos.

(b) A evidência da glorificação de Cristo. A descida do Espírito Santo foi um "telegrama" sobrenatural, por assim dizer, anunciando a chegada de Cristo
à destra do Pai. (Vide Atos 2:23.) Um homem perguntou a seus sobrinhos enquanto estes estudavam a sua lição da Escola Dominical: "Como sabem vocês que sua mãe esta lá em cima?" "Eu a vi subir a escada", disse um." Você quer dizer que a viu começar a subir", disse o tio. "Talvez ela não tenha chegado lá, e ela pode não estar lá agora, mesmo que tenha estado lá." "Eu sei que ela está lá", afirmou o menor, "porque fui ao pé da escada, chamei-a e ela me respondeu." Os discípulos sabiam que seu Mestre havia ascendido, porque ele lhes respondeu pelo "som do céu"!
(c) A consumação da obra de Cristo. O êxodo não se completou senão cinqüenta dias mais tarde, quando, no Sinai, Israel foi organizado como povo de Deus. Da mesma maneira, o beneficio da expiação não foi consumado, no sentido pleno, até ao dia de Pentecoste, quando o derramamento do Espírito Santo foi um sinal de que o sacrifício de Cristo foi aceito no céu, e que o tempo de proclamar sua obra consumada havia chegado.
(d) A unção da igreja. Assim como o batismo do Senhor foi seguido por seu ministério na Galiléia, assim também o batismo da igreja foi um preparatório para um ministério mundial; um ministério, não como o dele, criador duma nova ordem de coisas, mas um de simples testemunho; entretanto, para ser levado a cabo unicamente pelo poder do Espírito de Deus.
(e) Habitação na igreja. Depois da organização de Israel no Sinai, Jeová desceu para morar no meio deles, sendo sua presença localizada no Tabernáculo. No dia de Pentecoste o Espírito Santo desceu para morar na igreja como um templo, sendo sua presença localizada no corpo coletivo e nos cristãos individuais. O Espírito assumiu seu oficio para administrar os assuntos do reino de Cristo. Esse fato é reconhecido em todo o livro de Atos; por exemplo, quando Ananias e Safira mentiram a Pedro, em realidade mentiam ao Espírito Santo que morava e ministrava na igreja.
(f) O começo duma nova dispensação. O derramamento pentecostal não foi meramente uma exposição miraculosa de poder com a intenção de despertar a atenção e convidar a que se inquirisse acerca da nova fé. Foi o princípio duma nova dispensação. Foi o advento do Espírito, assim como a encarnação foi o advento do Filho. Deus enviou seu Filho, e quando a missão do Filho havia sido cumprida, ele enviou o Espírito do seu Filho para continuar a obra sob novas condições.

O Espírito Santo é o representante de Cristo; a ele está entregue toda a administração da igreja até a volta de Jesus.
Cristo sentou-se no céu onde Deus "sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja", e o Espírito desceu para começar a obra de edificar o corpo de Cristo. O propósito final do Consolador é o aperfeiçoamento do corpo de Cristo. A crença na direção do Espírito estava profundamente arraigada na igreja primitiva. Não havia nenhum aspecto da vida em que não se reconhecesse seu direito de dirigir, ou em que não se sentisse o efeito de sua direção. A igreja entregou inteiramente sua vida à direção do Espírito; ela começou a rejeitar as formas fixas de adoração, até que no fim do século, a influência do Espírito começou a declinar e as práticas eclesiásticas ocuparam o lugar da direção do Espírito. A direção do Espírito é reconhecida nos seguintes aspectos da vida da igreja:
(a) Administração. Os grandes movimentos missionários da igreja primitiva foram ordenados e aprovados pelo Espírito. (Atos 8:29; 10:19, 44; 13:2, 4.) Paulo estava consciente de que todo o seu ministério era inspirado pelo Espírito Santo. (Rom. 15:18, 19.) Em todas as suas viagens ele reconhecia a direção do Espírito. (Atos 6:3; 20:28.)
(b) Pregação. Os cristãos primitivos estavam acostumados a ouvir o Evangelho pregado "pelo Espírito Santo enviado do céu" (1Ped. 1:12), o qual recebiam "com gozo do Espírito Santo" (1Tess. 1:6). "Porque nosso Evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza" (1Tess. 1:5). O pastor A. J. Gordon, há muitos anos fez a seguinte declaração: "Nossa época está perdendo seu contato com o sobrenatural: o púlpito está descendo ao nível da plataforma secular."
(c) Oração. Jesus, tal qual João, ensinou a seus discípulos um modelo de oração como guia em suas petições. Porém, antes de partir, ele falou de nova classe de oração, oração "em meu nome" (João 16:23), não repetindo seu nome como uma espécie de superstição, mas, sim, como um modo de se aproximar de Deus, unido espiritualmente a Cristo pelo Espírito. Desse modo oramos como se Jesus mesmo estivesse na presença de Deus. Paulo fala de "orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito" (Efés. 6:18). Judas descreve os verdadeiros cristãos como "orando no Espírito Santo" (v. 20). Em Romanos 8: 26, 27, lemos que o Espírito está fazendo em nós o mesmo que Cristo está fazendo por nós no céu, isto é, está intercedendo por nós. (Heb. 7:25.) Assim como na terra Cristo ensinou a seus discípulos como deviam orar, da mesma maneira, hoje, ele ensina a mesma lição por meio do Consolador ou Ajudador. Naquele tempo foi por uma forma externa; agora é por uma direção interna.
(d) Canto. Como resultado de ser cheios do Espírito, os crentes estarão "falando entre vós em salmos e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração" (Efés. 5:18,19). "Falando entre vós" significa o canto congregacional. "Salmos" pode se referir aos salmos do Antigo Testamento, os quais eram cantados; "cânticos espirituais" denotam expressões espontâneas de melodia e louvor inspiradas diretamente pelo Espírito Santo.
(e) Testemunho. Na igreja primitiva não existia essa linha de separação entre o ministério e o povo leigo que hoje em dia se observa na cristandade. A igreja era governada por um grupo ou concilio de anciãos, mas o ministério de expressão pública não estava estritamente limitado a eles. A qualquer que estivesse dotado com algum dom do Espírito, quer fosse profecia, ensino, sabedoria, línguas ou interpretação, lhe era permitido contribuir com sua parte no culto. A metáfora "corpo de Cristo" descreve bem o funcionamento da adoração coletiva sob o controle do Espírito. Isso traz à nossa mente a cena dum grupo de membros, um após outro, contribuindo com sua função particular no ato completo da adoração, e todos, igualmente, dirigidos pelo mesmo poder animador

O que é certo de Cristo é certo do Espírito. Depois de concluir sua missão dispensacional, ele voltará ao céu num corpo que ele criou para si mesmo, esse "novo homem" (Efés. 2: 15), que é a igreja, o seu corpo. A obra distintiva do Espírito é "tomar deles um povo para o seu nome" (de Cristo) (Atos 15:14), e quando isso for realizado e houver "entrado a plenitude dos gentios" (Rom. 11:25), terá lugar o arrebatamento da igreja que, nas palavras do

                                 Myer Pearlman
                               CONHECENDO AS DOUTRINAS DA BÍBLIA

                                    Resultado de imagem para UNIDADE DO CORPO DE CRISTO

1                   1 .     O CRENTE PARTICIPA DA UNIDADE DO
CORPO DE CRISTO — 4.1


1.1.          O enfático convite a participar da unidade

"Rogo-vos". O sentido de "rogo-vos" é enfático, e no original grego aparece como parakaleo, que significa "chamar para o lado de alguém". A força que Paulo dá a essa palavra é muito maior do que comumente se vê nas outras cartas. Em outros textos (At 16.40; 2 Co 10.1; 1 Ts 2.12; Hb 3.13) a palavra "rogar" é usada para encorajar, apelar, exortar. No capítulo 4 essa palavra é um convite para se tomar uma atitude.

1.2.          Paulo, o preso no Senhor "

... eu, o preso no Senhor". Mais uma vez o apóstolo fala de si mesmo como prisioneiro no Senhor. Com essa identificação, Paulo procura despertar nos crentes efésios mais que um sentimento de simpatia, pois procura dar ênfase ao que ensina. O apóstolo não está lamentando o fato de estar preso; o que ele quer enfatizar é que está preso pela vontade e por causa do Senhor. Em algumas versões aparece a expressão "do Senhor", mas a tradução correta do grego é "no Senhor". A colocação das palavras "no Senhor" tem uma ênfase especial, que é dada pelo apóstolo para mostrar que os sofrimentos físicos causados naquela prisão romana não poderiam quebrar o vínculo da comunhão existente entre ele e o Senhor Jesus. Paulo estava "preso no Senhor" e não pelo Senhor. Isso indica a consciência que o apóstolo tinha de sua missão, e a certeza de que sua prisão não apresentava para si um opróbrio, e sim uma glória, uma oportunidade de servir ao Senhor de forma diferente.

1.3.          Uma conduta digna da salvação recebida "

... que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados". O ardente zelo do apóstolo com os crentes de Éfeso é para que andem de modo digno da salvação recebida em Cristo. A palavra "vocação" aqui tem o sentido do chamamento a que se responde ou se atende no ato da conversão a Cristo. O convite atendido implica dignificar o compromisso com Cristo através do comportamento sadio na vida cristã. Nossa conduta no dia a dia dignifica a nossa salvação em Cristo (a "vocação com que fostes chamados"). Andar "como é digno da vocação" significa obedecer prontamente a todos os requisitos espirituais dessa vocação. A palavra "digno" (cf. Fp 1.27) mostra a ligação entre o ensino doutrinário e a vivência desse ensino na vida diária (Cl 1.10; 1 Ts 2.12). O nosso chamamento para a salvação não acontece por merecimentos pessoais. A palavra "digno" tem uma conotação especial neste texto bíblico, pois o que o Senhor quer é que andemos de um modo que corresponda ao que Ele tem feito por nós.


2                       2 .      ATRIBUTOS DA UNIDADE — 4.2

No versículo 2 Paulo continua a falar sobre o andar conforme a chamada que tivemos para a salvação, apresentando os requisitos para que haja unidade em Cristo, os quais são indispensáveis aos chamados. "... com toda a humildade, e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor". Destacam-se quatro qualidades da unidade em Cristo que devem ser cultivadas pelo crente. A unidade no corpo de Cristo — a Igreja — não pode ser deteriorada pela força da carne. Essas qualidades são produzidas pelo Espírito Santo em favor do crente a fim de torná-lo parte do corpo de Cristo, evitando que fique como um membro isolado. Esses requisitos nada têm a ver com a carne e, para que o crente não viva em derrotas espirituais, deve cultivar tais qualidades da unidade em Cristo. Paulo deseja que os crentes em Éfeso cultivem esses predicados para manterem a unidade da Igreja.

2.1.          Humildade

 Tão conhecida e tão pouco vivida! No grego, a palavra "humilde" aparece com o significado de modéstia — tapeinophrosunes. E a qualidade que repudia o orgulho e o individualismo. A humildade nunca se apresenta a si mesma, mas se preocupa com a participação coletiva. É uma virtude essencial para que a unidade seja mantida.

2.2.          Mansidão

Esta tem a ver com a amabilidade. No grego, prautetos significa gentileza, cortesia, consideração. E a qualidade de quem se preocupa com os outros. A mansidão faz parte do "fruto do Espírito" (Gl 5.22). Mansidão é a atitude pacífica nos momentos de exasperação. Ela surge quando aceitamos a vontade de Deus para conosco. A mansidão não discute, não resiste, nem teima contra a vontade divina. Ela é demonstrada quando aceitamos pacientemente os males que nos fazem, sem revidá-los, porque cremos que Deus os permitiu (2 Sm 16.11; Gl 6.1; 2 Tm 2.25; Tt 3.2).

2.3.          Longanimidade

Em outras traduções aparece como "paciência". Assim como a humildade e a mansidão correspondem à idéia de "suportar-nos uns aos outros em amor", a paciência corresponde à solicitude. A palavra "longanimidade", no grego makrothumia, significa tolerancia, paciência, constância. E agir com equilíbrio nos momentos difíceis e nas adversidades (Tg 5.10). Longanimidade aqui significa não apressar-se em vingar o mal nem revidar o mal feito por outra pessoa contra si (Mt 5.3,5,7; 1 Co 13.4; Gl 5.22; Cl 3.12). 2.4. Tolerância "... suportando-vos uns aos outros em amor". Tolerar é também uma qualidade cristã que deve ser cultivada (Rm 2.4). É a prática da longanimidade. Certo escritor cristão escreveu que "suportar significa ser clemente com as fraquezas dos outros, não deixando de amar o próximo ou os amigos devido às suas faltas, ainda que essas faltas nos ofendam ou desagradem".

 3. A PRESERVAÇÃO DA UNIDADE — 4.3

3.1. A unidade produzida pelo Espírito

"... procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz". A unidade é do Espírito: ela é gerada, provida e produzida pelo Espírito Santo. Fomos chamados não para criar essa unidade, nem produzi-la, mas para mantê-la com todo o cuidado. Os crentes em Cristo são partes dessa unidade. O que compete a eles é a obediência dos requisitos que "a unidade do Espírito" exige. A existência das várias denominações cristãs dá a impressão de que não há essa unidade, porém, entendemos que a verdadeira unidade existe. Alguns teólogos a chamam de "unidade maior", entretanto cremos que, a despeito das diferenças existentes entre as igrejas terrenas, a verdadeira unidade do Espírito existe naqueles que têm nascido do mesmo Espírito e estão unidos no corpo místico de Cristo Jesus, nosso Senhor (1 Co 12.13). A palavra "preservar" é mais próxima do sentido, no original grego, do que guardar. No original, a palavra é terein, isto é, observar, guardar, preservar. Tal unidade já existe no seio da Igreja universal, e resta-nos, como membros dessa igreja, preservar essa unidade.


 3.2. O vínculo da paz

"... pelo vínculo da paz". A paz é o elo que une todos os crentes pelo Espírito. Essa paz é plena e não restrita. Sua significação alcança todas as esferas da vida cristã. Primeiro, paz com Deus. depois, paz com o próximo e com a Igreja de Cristo. Esta paz é divina e é produzida pelo Espírito (Gl 5.22), para que haja vínculo entre Deus e o crente no corpo de Cristo. A unidade do Espírito não é produzida pelo homem, mas pelo Espírito. A missão do crente é preservar a unidade do Espírito pelo "vínculo da paz". A unidade do Espírito deve ser interpretada conforme o contexto doutrinário sobre a unidade da Igreja. Esta unidade não é a do espírito humano, como vários teólogos ensinam, mas é criada pelo Espírito de Deus (v. 4). E operada nos crentes por um mesmo amor (Rm 5.5). Se ela fosse produzida pela vontade humana, não teria sido preservada através dos séculos, e estaria destruída pelos sentimentos carnais do egoísmo e do orgulho. Essa unidade é espiritual, produzida por Deus. Não é externa e material, pois se o fosse, certamente escravizaria em seu seio as consciências. Existe um tipo de unidade material na igreja que liga os seus membros às várias instituições. A verdadeira unidade é espiritual e íntima na Igreja de Jesus Cristo. Ela se manifesta no corpo de Cristo através de seus membros.

4. FUNDAMENTOS DA UNIDADE — 4.4-6

A unidade da Igreja tem seu fundamento na Trindade, como está exposta nos versículos 4,5 e 6: "um Espírito" (v. 4), "um Senhor" (v. 5) e "um Deus e Pai" (v. 6). Temos aqui a confirmação da unidade existente na Trindade. Não há divisão no Deus Trino. As três pessoas produzem juntamente a unidade de todos os crentes reais. Por isso, a "unidade do Espírito" é firmada na unidade da Trindade. Os versículos 4 a 6 nos mostram o tipo de unidade que mantém a Igreja — a unidade de fé e doutrina.

4.1. Há um só corpo — v. 4

Lembrando o capítulo 2, versos 15 e 16, temos o retrato da criação da igreja ("em um novo homem") formando "um corpo" — o corpo místico de Jesus. É uma figura que descreve a igreja e suas relações com os crentes (Rm 12.5; 1 Co 10.17; 12.12-30). Os crentes foram trazidos de fora (do mundo) para formarem "um só corpo". Isso significa pertencer ao seu corpo místico e participar de toda a sua vida. E a unidade "no corpo" - uma unidade espiritual que une todos os crentes a uma cabeça, Cristo. O fato de estar unido a Ele não significa estar ligado a uma organização ou mera associação terrena. A Igreja é uma instituição espiritual constituída de pessoas regeneradas. A Igreja é um corpo, uma unidade composta de judeus e gentios que formam um só povo em Cristo.


4.2.... um só Espírito — v. 4

 A Igreja tem a vida do Espírito Santo. Assim como o corpo humano é dinamizado pelo espírito humano, o corpo de Cristo é dinamizado pelo Espírito de Cristo. Este corpo espiritual, que é a Igreja, é constituído por muitos membros que se movem no corpo de Cristo, e esse movimento é a vida operada pelo Espírito Santo na obra da regeneração (2 Co 5.17). Portanto, só farão parte desse corpo, aqueles que foram regenerados, isto é, que receberam uma nova vida: (Rm 8.9,11; 1 Co 12.13). Quando a Palavra de Deus afirma que "há um só Espírito", está declarando que o crente não pode receber outro espírito.

4.3.... uma só esperança — v. 4

A esperança aqui tem um significado presente e futuro. A razão da unidade dos crentes no corpo de Cristo está no fato de basearmos a nossa fé nessa esperança. Ela não é alguma coisa oca e vazia: tem conteúdo e peso de glória. Olhando o futuro, essa esperança aponta para o dia da redenção plena da Igreja, no arrebatamento. Isso não quer dizer que nossa redenção efetuada no Calvário seja incompleta, mas que ela tem três estágios. No passado, na cruz, nossa redenção da pena do pecado foi completa. No presente, depois de aceitarmos a obra de Cristo em nossos corações, tendo a pena do pecado já cancelada, ainda lutamos contra o poder do pecado que opera ao nosso redor, procurando minar o primeiro estágio. Finalmente, nossa esperança alcança o futuro mediante a nossa fidelidade a Cristo: então seremos redimidos do corpo de pecado. E a libertação do corpo de pecado e a conquista de um corpo espiritual (1 Co 15.44,52-54). A verdadeira unidade alcançará o seu clímax quando Cristo, nos ares (1 Ts 4.16,17), reunir a si a sua amada Igreja. A unidade do seu corpo, isto é, de Cristo se concretizará (Jo 17.21-23; Cl 3.4). Por que temos essa esperança? Porque fomos chamados para tê-la — "esperança da vossa vocação".

4.4.... um só Senhor — v. 5

 Quem é o senhor do corpo senão a cabeça que o comanda? Assim, Cristo é o Senhor da Igreja (1 Co 12.3; 8.6; Fp 2.11). Na afirmação de que há "um só Senhor" encontramos a segunda Pessoa da Trindade, que é Jesus Cristo. Ele se fez Senhor da Igreja porque a comprou com o preço de seu próprio sangue (1 Co 7.23). Essas palavras dão ênfase ao senhorio absoluto de Cristo em nossas vidas. Não se pode servir a dois senhores. Jesus é o nosso amo e a Ele obedecemos. Toda a autoridade do corpo está na cabeça — Jesus Cristo, Senhor e comandante do corpo. Ele é a suprema autoridade do corpo vivo da Igreja. Quando uma igreja local perde o senhorio de Cristo, certamente outro "senhor" usurpou o lugar dEle.

 4.5.... uma só fé — v. 5

 Que tipo de fé é essa? Não é a fé para milagres, mas fé como crença. Esse tipo não é a fé denominacional, mas a fé que produz a vida cristã. Fé como corpo de doutrina ou aquilo que cremos. Em que nós cremos? Qual é o nosso credo? Existem vários credos, como o católico-romano, o luterano, o ortodoxo etc. Qual é o credo evangélico? É o credo neotestamentário, sem dúvida. A mesma confiança que une os crentes em Cristo, a mesma direção, é o gerador dessa fé. Temos um corpo de doutrina bíblico no qual baseamos nossa vida diária. A igreja vive por uma mesma fé. A Bíblia apresenta distintamente vários tipos de fé, como seja: fé para salvação (Rm 10.9,10; Ef 2.8); fé como fruto do Espírito (Gl 5.22); fé como dom do Espírito (1 Co 12.9); e fé como crença ou aquilo que diz respeito ao que cremos (Gl 1.23; 1 Tm 3.9; 4.1; 2 Tm 6.7; Jd 3). Este último tipo de fé (crença) é o tipo a que se refere o apóstolo Paulo. Quando ele destaca "uma só fé", refere-se à doutrina cristã, e não a vários tipos de fé. A igreja segue e obedece a uma só fé, isto é, tem uma só doutrina.

 4.6.... um só batismo — v. 5

 Quando Paulo fala de "um só batismo", não está anulando os outros batismos dos quais a Bíblia fala e ensina. Os antipentecostais usam a expressão "um só batismo" para combater a doutrina do batismo com o Espírito Santo, mas isto fazem sem nenhum apoio das Escrituras, porque o autor da carta aos Hebreus fala da "doutrina dos batismos" (6.2). Não há choque algum quando outros textos bíblicos apresentam outros batismos. Entretanto, entendemos sim, que há um só batismo de arrependimento. É esse batismo que Paulo apresenta como requisito para se entrar na comunidade cristã. Desse tipo só pode haver um. O batismo com o Espírito Santo é outro batismo; por isso mesmo, só pode haver um tipo de batismo com o Espírito Santo. Quanto ao texto do verso 5, esse batismo representa a entrada comum de qualquer pessoa na vida da igreja local, como confissão de fé. O batismo é o símbolo exterior da obra de regeneração operada pelo Espírito Santo no coração do pecador. Batizar significa mergulhar, e quando alguém recebe Jesus, confessa isso publicamente através do batismo por imersão em águas.

 4.7.... um só Deus e Pai — v. 6

 A primeira pessoa da Trindade é apresentada aqui sem a preocupação de colocá-la dentro de uma ordem. Deus Pai revela-se uma unidade composta de Pai, Filho e Espírito Santo. Não são três deuses, mas um só Deus em três Pessoas. Deus é Pai, e isto reveste-se de um significado familiar. Sua paternidade relaciona-se com os crentes em Cristo Jesus, os quais se tornaram "filhos de Deus" por adoção (Jo 1.12; Ef 1.5).

Na afirmação de que há "um só Deus", vemos todo o absolutismo divino. Deus é absoluto, isto é, Ele é e não permite que outro seja (Is 45.22). A continuação do texto — "... e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" — expressa a soberania tríplice do único Deus, a quem servimos. Primeiro diz: "o qual é sobre todos", e indica a transcendência e a soberania de Deus. Ele está acima de tudo e de todos. Já no segundo aspecto, a força das palavras "age por meio de todos" revela o domínio de Deus através de sua preciosa presença no interior das vidas regeneradas. Ele "age por meio de todos" no sentido de cobrir os seus fiéis, protegendo-os e provendo-os nas suas necessidades. Finalmente, o terceiro aspecto se vê quando diz: "está em todos", expressão que fala da habitação do Espírito Santo dentro dos crentes, dinamizando-os com sua presença contínua.

Deus é Pai, tanto por geração — como Criador, quanto por regeneração — nova criação (Ef 2.10; Tg 1.17,18; 1 Jo 5.7). No sentido espiritual, Deus é Pai apenas dos que fazem a sua vontade e se tornaram filhos por adoção através de Jesus Cristo. Uma vez gerados fisicamente, todos somos criaturas de Deus, porém como filhos de Deus somente o são os regenerados (2 Co 5.17).

                                      Comentário Bíblico Efésios - Elienai Cabral

 Resultado de imagem para ATRIBUTOS DA UNIDADE


                           92 A BASE DA UNIDADE

 Efésios 4:4-6

Paulo continua agora assentando as bases sobre as que tem que fundar-se a unidade cristã.

(1) Há um só corpo. Cristo é a cabeça e a Igreja o corpo. Nenhum cérebro pode agir sobre um corpo desintegrado, desorganizado e desfeito em pedaços. A não ser que o corpo esteja unido coordenadamente, os pensamentos, planos e desígnios da cabeça e do cérebro ficarão impedidos e frustrados. A unidade da Igreja é essencial para a obra de Cristo. Não é necessário que seja uma unidade mecânica, administrativa e organizativa, mas sim aquela que se baseia no amor comum a Cristo e no amor de uns aos outros.

(2) Há um Espírito. Em grego pneuma significa tanto espírito como alento; de fato trata-se da palavra comum e ordinária para alento. Sem alento um corpo está morto. E o alento vivificador do corpo da Igreja é o Espírito de Cristo. A obra do Espírito é a que dá vida ao corpo e o mantém vivo. Não pode existir a Igreja sem o Espírito e não se pode receber o Espírito sem uma espera de silêncio e oração.

(3) Há em nossa vocação uma esperança. Todos partimos rumo à mesma meta. Aqui radica o .grande segredo da unidade. Podem ser diferentes nossos métodos, nossa organização e até algumas crenças; mas estamos lutando para com uma meta: um mundo redimido em Cristo.

 (4) Há um Senhor. O que mais se aproximava do credo na Igreja primitiva era a curta sentença: "Jesus Cristo é o Senhor" (Filipenses 2:11). Segundo Paulo, o sonho de Deus era que chegasse o dia em que todos os homens confessassem que "Jesus Cristo é o Senhor". Para Senhor usa-se o termo kyrios. Os dois usos do substantivo no grego popular nos mostram algo do pensamento de Paulo. O termo usa-se para amo em contraposição a servo ou escravo; e era a designação regular do imperador romano. Os cristãos estão todos unidos porque todos são possessão de um amo e rei e estão a seu serviço.

 (5) Há uma fé. Paulo não quer dizer que haja um só credo. Efetivamente, é muito estranho que no Novo Testamento a palavra fé signifique credo. Para o Novo Testamento a fé é quase sempre a confiança total do cristão em Jesus Cristo e sua entrega a Ele. O que quer dizer Paulo é que todos os cristãos estão ligados em unidade porque todos têm feito um ato comum de entrega total ao amor de Jesus Cristo. Bem pode ser que descrevam o ato de entrega com termos e credos diferentes; mas seja qual for a maneira de descrevê-lo, esse ato de entrega é a única coisa comum a todos eles.

 (6) Há um batismo. Na Igreja cristã só há uma porta de acesso. Antigamente o batismo costumava ser administrado em geral aos adultos já que homens e mulheres procediam diretamente do paganismo. Por esta razão o batismo constituía antes que nada uma pública profissão de fé. Havia uma só maneira de arrolar-se no exército romano: o juramento de fidelidade ao imperador e ao rei. Assim também há um só caminho para ingressar na Igreja cristã: a profissão pública de fé em Jesus Cristo.

(7) Há um só Deus. Agora advirtamos o que diz Paulo a respeito de Deus como objeto de nossa Fé. Deus é o Pai de todos. Nesta frase o amor de Deus fica gravado para sempre. O maior e a única coisa sobre o Deus cristão não é que seja Rei ou Juiz, mas sim Pai. A idéia cristã de Deus começa no amor. Deus está sobre todos; esta frase implica o domínio de Deus. Não importa o que as aparências indiquem, Deus tem o controle. Pode haver dilúvios mas “o SENHOR preside aos dilúvios” (Salmo 29:10). Não há nada que esteja fora do domínio de Deus. Deus está por todos. Nesta frase está implícita a providência de Deus. Deus não criou o mundo para abandoná-lo à sua própria sorte, como o homem que pode dar corda a um brinquedo e deixá-lo que ande sozinho; Deus está com tudo seu mundo, guiando, dirigindo, sustentando, mantendo e amando. Em tudo e através de todo a providência de Deus se mostra ativa, eficaz e poderosa. Ele está em todos; esta frase implica a presença de Deus.

 Pode ser que o germe deste pensamento provenha dos estóicos. Estes pensavam que Deus era um fogo mais puro que o fogo da Terra, o mais luminoso e puro espírito ígneo; criam que o que dava vida ao homem era uma faísca desse fogo divino que vinha e habitava dentro do corpo. Segundo a fé de Paulo, Deus está em cada coisa: Deus está no homem e em sua mente; no mundo e em tudo o que cresce; na história e nos acontecimentos; em todas as coisas. A crença cristã é que vivemos num mundo criado, controlado, sustentado e repleto por Deus.

OS DONS DA GRAÇA Efésios 4:7-10

Paulo considera agora outro aspecto do assunto. Esteve falando sobre as qualidades dos membros da Igreja de Cristo; agora começa a falar sobre as funções dos mesmos na Igreja. Sobre como podem usar melhor suas capacidades, talentos e dons a serviço da Igreja. E começa estabelecendo o que para ele era uma verdade essencial. De fato todo dom que o homem possui é um dom da graça de Cristo. Pensa em Jesus como o doador de todos os dons que o cristão possui.

 "E cada virtude que possuímos, cada vitória que ganhamos, cada pensamento santo, são somente seus".

 Para considerar Cristo como o Doador de dons, Paulo cita o versículo de um Salmo mas com uma diferença muito significativa. Trata-se do Salmo 68 que descreve a volta de um rei depois de uma conquista. O rei conquistador sobe ao alto, quer dizer, sobe os degraus do monte Sião encaminhando-se à santa cidade. Leva consigo uma banda de prisioneiros. Quer dizer, marcha triunfalmente pelas ruas com os prisioneiros encadeados em detrás de se, para demonstrar seu poder conquistador. E agora vem a diferença. No Salmo o versículo reza: "Subiu ao alto, cativou a cativeiro, tomou dons para os homens, e também para os rebeldes, para que habite entre eles Jah Deus" (Salmo 68:18). O conquistador voltou com seus troféus e exige o resgate e o colete que os povos conquistados devem lhe pagar.

Observemos a mudança que Paulo introduz aqui: "Subindo ao alto, levou cativa a cativeiro; e deu dons aos homens". No Antigo Testamento o rei conquistador exigia e recebia dons dos homens; no Novo Testamento o Cristo conquistador oferece e dá dons aos homens. Esta é a diferença essencial entre os dois testamentos. No Antigo Testamento Deus é o Deus que exige; no Novo, o Deus que dá. No Antigo Testamento um Deus ciumento pede e exige tributos do homem; no Novo, o Deus de bondade derrama seu amor sobre os homens e lhes dá tudo o que tem para dar. Esta é de fato a mensagem das boas novas.

Logo, como acontece com freqüência, a mente de Paulo empreende outro rumo sobre a raiz de uma palavra. Agora usou a palavra subiu, e isso lhe faz pensar em Jesus e expressa algo admirável. Jesus desceu a este mundo quando entrou nele como homem; subiu do mundo quando o deixou para retornar à glória. O grande pensamento de Paulo é que o Cristo que desceu e o Cristo que subiu são a mesma e única pessoa. O que significa este fato? O Cristo da glória é o mesmo Jesus que deixou seus rastros na terra: ainda ama a todos os homens, busca o pecador, cura o sofredor, conforta o triste, é o amigo de homens e mulheres proscritos. O pensamento mais precioso de Paulo é exatamente que Cristo em sua glória não esquece jamais aqueles que ama.. O Cristo que subiu aos céus é ainda aquele que ama as almas dos homens. Ainda há outro pensamento surpreendente do Apóstolo. Jesus subiu às alturas mas não para deixar o mundo, senão para enchê-lo com sua presença. Quando estava no mundo mediante sua carne mortal só podia


                                                    Efésios (William Barclay) 92









Nenhum comentário:

Postar um comentário