___/___/____Lição 10 - O
Espírito Santo e a Edificação da Igreja
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Efésios 4.1-13
1- Rogo-vos, pois,
eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes
chamados
2 - com toda a humildade
e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3 - procurando guardar a
unidade do Espírito pelo vínculo da paz:
4- há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados
em uma só esperança da vossa vocação;
5 - um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
6 - um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por
todos, e em todos.
7 - Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do
dom de Cristo.
8 - Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e
deu dons aos homens.
9 - Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também, antes,
tinha descido às partes mais baixas da terra?
10 - Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos
os céus, para cumprir todas as coisas.
11 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas,
e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
12 - querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para edificação do corpo de Cristo,
13 - até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento
do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.
TEXTO ÁUREO
E
os discípulos
estavam cheios
de alegria e do
Espírito
Santo.
Atos 13.52
SUBSÍDIOS PARA O
ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - Efésios 2.1-10
A fé é um dom de Deus
3ª feira - 1 Pedro 2.1-25
O povo adquirido
4ª feira - Tiago 2.1-13
Os herdeiros do Reino
5ª feira - 1 Coríntios 12.12-31
Membros de um só corpo
6ª feira -
Romanos 12.1-8
Somos membros uns dos
outros
Sábado - Romanos 12.9-21
Vença o mal com o bem
OBJETIVOS
Ao término do estudo
bíblico, o aluno deverá:
• reconhecer a ação do
Espírito Santo no início da Igreja;
• entender que o Espírito Santo promove a unidade da Igreja;
• perceber que o Espírito Santo é quem mantém a Igreja.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro professor, a aprendizagem prepara o aluno para agir por
conta própria. Nas escolas, nos cursos e nas universidades, a linha divisória
entre a condição de aluno e a emancipação é a formatura. Depois que o aluno
recebe o seu diploma, passa a caminhar por si mesmo. Estará ele preparado? A
escola se preocupou em direcionar a sua formação para essa perspectiva? O aluno
de medicina agora é médico. O seu trabalho doravante não terá mais a supervisão
de um professor. Ele pode vir a ser um ótimo médico ou um profissional muito
ruim, mas é inegável que alcançou a titulação acadêmica necessária para o
exercício da profissão. Contudo, se não aprendeu a agir por conta própria,
jamais será um profissional que se destacará em sua área ou acrescentará algo
ao seu ramo de atuação. O aprendizado lhe concedeu a emancipação, e dele será
cobrada a perícia necessária quando situações inusitadas de perigo surgirem
(Extraído de: CHAVES, G. V. Educação Cristã — Uma Jornada Para Toda Vida, 2012,
p. 59).
Deus o abençoe!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Existe
um relacionamento muito estreito entre o Espírito Santo e a Igreja. É deveras
notável a Sua participação na formação, na direção e na atividade regular dela.
Após
o dia de Pentecostes, foram estabelecidas igrejas em diversos lugares, a partir
de Jerusalém. Elas não eram como as igrejas que
conhecemos hoje. Normalmente, as reuniões eram feitas em casas cedidas por
pessoas que entendiam o propósito do evangelho de Jesus. Apesar de ser tudo
muito primário e rústico, diferente do que vemos na igreja ocidental dos nossos
dias, o que ardia no coração daquela gente era exatamente o mesmo que
queima em nosso coração atualmente: a chama do Espírito Santo.
1 1 . O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA
No Antigo Testamento, o povo de Israel era conhecido como a
congregação de Deus, pois era chamado dentre as outras nações para ser um povo
separado para Deus (At 7.38). No Novo Testamento, o verdadeiro início da Igreja
de Jesus Cristo teve como marco o dia de Pentecostes, a descida do Espírito
Santo, em Jerusalém, quando os crentes estavam reunidos no cenáculo, depois da
ressurreição de Jesus (At 2).
A palavra grega para definir igreja é
ekklesia, cujo significado é uma assembleia de chamados para fora, ou seja, a
igreja é uma instituição que agrega aqueles que recebem Jesus como seu Salvador
e são separados do mundo pecaminoso, a fim de viverem para Cristo (Jo 15.19).
Enquanto
Jesus esteve aqui na terra, no exercício do Seu ministério, a Igreja não foi
estabelecida. No entanto, após a descida do Espírito Santo, capacitando os
cristãos, os discípulos do Senhor finalmente iniciaram a igreja em Jerusalém
(At 2.42-47).
1.1. 1.1 O Espírito Santo ampliava o
alcance da Igreja
O
Espírito Santo exerceu a principal liderança no
surgimento da Igreja primitiva. Ele acrescentava os salvos (At 2.47),
orientava os apóstolos (At 13.2) e enchia todos que ouviam a Palavra e criam
nela (At 10.44). Dessa maneira, a presença do Espírito Santo ampliava o alcance
da Igreja para além dos limites de Jerusalém (veja os capítulos 13 e 14 do
Livro de Atos).
1.2. O Espírito Santo animava
os santos
A perseverança é uma das características mais marcantes da
Igreja primitiva. Essa é uma qualidade de resignação e tenacidade que se
aperfeiçoa na trajetória da vida, em meio à tribulação e à adversidade, gerando
em nós a esperança (Rm 5.3-5).
Mesmo
diante das tribulações, o Espírito animava os santos, incentivando-os a
continuarem a Sua obra (At 13.52). Hoje, a atual Igreja de Cristo precisa continuar
perseverante como a Igreja primitiva, que se manteve fundamentada nos ensinos
de Jesus e na comunhão com o Espírito Santo. Esse Espírito é quem nos instrui e
nos auxilia no cumprimento desse objetivo (Rm 8.26).
2.
O
ESPÍRITO SANTO PROPORCIONA A UNIÃO
A Ilustração do corpo e a que melhor expressa a constituição da
Igreja, ou seja, a forma como ela se organiza: o corpo, Igreja, exerce
múltiplas funções, mas é orientada diretamente pelo Cabeça, Cristo (Ef 4.15).
Após
a salvação, proporcionada pela graça, por meio da fé (Ef 2.8,9), o cristão deve
se integrar à Igreja, formando o corpo de Cristo com os outros irmãos, isto é,
a congregação de pessoas que professam a fé no mesmo salvador, Jesus.
2.1. O corpo formado por
diversos membros
O
Espírito Santo é o responsável por manter a unidade da Igreja (1 Co 2.13; Rm
8.9,16). Ele é quem a vivifica e concede os dons para sua edificação (To 6.63;
1 Co 12.7-11). Então, quando existe desunião ou
rebelião no meio do povo de Deus, provavelmente é porque existe alguém que
deixou de dar lugar ao Espírito Santo em sua vida (1 Ts 5.19). Um corpo
é formado por diversos membros e todos estão interligados uns aos outros,
executando suas atividades em comunhão (1 Co 12.25-27).
2.2. Unidos pela esperança
A
esperança do cristão deve estar em seu futuro encontro com Jesus (Jo 14.14). Por isso, necessitamos do Espírito Santo para nos ajudar
a esperar por algo que não vemos, mas que nos foi prometido pelo próprio Cristo
(Jo 14.2,3). Jesus ocupa a posição de líder da Igreja (1 Co 12.5,6), e o
Espírito Santo a guia, ensinando-a a guardar os princípios do Mestre e capacitando-a
a realizar a Sua obra.
Paulo
declarou que se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de
todos os homens (1 Co 15.19). Manter a unidade é importante, pois, ajudando-nos
mutuamente, conseguimos chegar mais longe do que se estivéssemos por conta
própria.
2.3. Unidos pelo batismo
O
batismo espiritual consiste em nossa identificação com Cristo, na Sua morte e
na Sua ressurreição (1 Co 12.13; Cl 3.27). Quando
Paulo utiliza o termo um só batismo, em primeira mão, ele está destacando a
imersão do salvo no corpo invisível de Cristo (este ato pode ser chamado de
batismo de regeneração).
Entretanto, secundariamente, com base nos mesmos textos, pode-se
destacar ainda o batismo nas águas, uma vez que este é uma representação da
morte do velho homem para a ressurreição de uma nova criatura, que se dá por
meio do arrependimento e da fé no sacrifício de Cristo (Rm 6.3; Ef 4.5).
O
batismo é um ato de confirmação da confiança e da esperança que o cristão tem
depositado em Cristo, confirmando sua fé em que Ele voltará para buscar Sua
Igreja. Essa fé permite ao cristão abdicar da sua própria vontade para deixar
que Jesus assuma o controle da sua vida, entregando-se totalmente a Ele (Hb
11.1). Dessa forma, o cristão segue os preceitos de Jesus e pratica a comunhão o
amor com a Igreja (Hb 11.6).
2.4. Unidos pela regeneração
Embora
a regeneração ocorra com o consentimento humano, as Santas Escrituras declaram
que o Espírito Santo é quem a promove realmente.
A
regeneração é chamada nascer de novo, nascer do Espírito, nascer de Deus, estar
em Cristo, ser uma nova criatura (Jo 3.3-6; 2 Co 5.17). Ela está ligada ao
arrependimento e ao abandono das práticas pecaminosas, bem como à aceitação de
Jesus como o único e suficiente Salvador e Senhor.
Na Bíblia, a história do homem divide-se em três etapas:
geração, degeneração e regeneração. A regeneração é a resposta de Deus à
investida de Satanás, que imaginou ser impossível a recuperação do ser humano
após a Queda. Depois de regenerado, o homem começa a apresentar evidências de
ser uma nova criatura. A regeneração é feita pelo Espírito Santo por meio da
Palavra de Deus (1 Pe 1.23; Tg 1.18). Ela se tornou indispensável à humanidade em
razão do processo degenerativo ocasionado pelo pecado.
3.
O
ESPÍRITO SANTO MANTÉM A IGREJA
Muitos
teólogos e estudiosos da Palavra discutem sobre a possibilidade de a igreja
contemporânea viver com as mesmas características da igreja descrita no Livro
de Atos. Essa questão se levanta porque não há semelhanças entre o tempo de
hoje com o que se vivia antigamente. Tudo é diferente: a economia, a cultura, a
política, o momento histórico etc.
No
entanto, a Bíblia continua sendo o registro dos princípios de Deus para toda e
qualquer pessoa, independente da cultura dela (Mt 24.35). A mensagem salvadora
de Jesus é atemporal e é destinada a todo homem (Jo 3.16). Assim, o Espírito
Santo conserva a Igreja acrescentando aqueles que se convertem pela pregação do
evangelho de Cristo.
3.1. Amadurece os santos
Conforme a Igreja crescia com os novos
convertidos, os apóstolos perceberam que era necessário discipulá-los e
aju-dá-los a alcançarem, além da salvação, a maturidade e a capacitação para o
serviço no Reino. Os apóstolos investiam na maturidade espiritual da Igreja por
meio da conscientização da unidade e do incentivo à prática do amor (At 4.32).
Assim, o como de Cristo ia crescendo e amadurecendo para melhor
servir ao Senhor da Igreja. A maturidade torna os santos aperfeiçoados no
caráter e no serviço, produz a edificação do corpo, a unidade da fé e previne a
Igreja contra falsas doutrinas (Ef 4.11-16).
3.2. Sustenta os cristãos
A igreja de Atos dos Apóstolos era avivada e missionária,
por isso ela se empenhava em levar o evangelho por todo o mundo. O Espírito
Santo usou o amor como a principal força motivadora dessa igreja e orientou os
apóstolos a agirem em comunhão (At 2.42). Dessa forma, a Igreja conseguiu se
manter firme diante das tribulações e das dificuldades até chegar aos dias de
hoje.
De
acordo com o relato bíblico, a Igreja primitiva dava demonstrações abundantes
de que o Senhor estava no meio dela. Expressões encontradas no texto indicam
uma Igreja voltada para Deus e para a comunhão em tomo do Senhor Jesus tais
como: no partir do pão e nas orações (At 2.42), temor (At 2.43), criam (At
2.44), louvando a Deus (At 2.47).
A
união maravilhosa dos cristãos na família de Deus fica evidente nas palavras de
Paulo, pois Deus está acima de todas as coisas, operando por meio de todas as
coisas e em to-das as coisas. Somos filhos dentro da mesma família, amando e
servindo ao mesmo Pai, de modo que devemos ser capazes de andar juntos em
união. Uma das grandes preocupações de Paulo é que os cristãos não rompam a
unidade do Espírito ao concordar com falsas doutrinas (Rm 16.17-20).
A igreja local não pode crer na paz a qualquer
preço, pois a sabedoria de Deus é, primeiramente, pura; depois, pacífica (Tg
3.17). A pureza da doutrina não produz, em si mesma, unidade espiritual, pois
há igrejas fortes no que diz respeito à fé, mas fracas no que diz respeito ao
amor. Por isso, Paulo une as duas coisas: seguindo a verdade em amor (Ef 4.15)
(WIERSBE, Geográfica, 2007b, p. 46).
CONCLUSÃO
O
Espírito Santo foi o principal responsável pela configuração que a Igreja de
Jesus possui atualmente. Ele cuidou do corpo de Cristo e espalhou-o por todo o
mundo, a fim de que o evangelho fosse proclamado a toda criatura. Afinal, este
é o papel do cristão: exalar o perfume do Mestre por onde passar. Dessa
maneira, o Espírito continua administrando e capacitando a Igreja para que ela
possa continuar a obra que Jesus começou há tempos.
O
Espírito nunca abandonou a Igreja, por isso ainda temos pessoas tementes a Deus
e comprometidas com os Seus princípios. O cristão que entende essa maravilhosa
provisão divina concebe um coração grato ao Senhor por todo o cuidado que Ele
teve até hoje. Agradeça a Deus por todo o amor com o qual nos trata.
ATIVIDADE PARA
FIXAÇÃO
1.
Leia Atos 2.42-47 e informe de quais características da Igreja primitiva não
devemos abrir mão?
R.: Perseverança
na doutrina dos apóstolos, comunhão, ênfase na oração, solidariedade,
intimidade com o sobrenatural e ousadia na evangelização (At 2.42-47).
Lições da
Palavra de Deus PROFESSOR 61
A SANTIFICAÇÃO NA HISTÓRIA DA IGREJA
Não
é nosso propósito um amplo estudo histórico da teologia da santificação.
Semelhante estudo teria de passar em revista todos os pontos de vista já
adotados pela Igreja com relação ao tema, bem como as circunstâncias que
determinaram cada posição. Nossa intenção é explicar o que a Bíblia diz a
respeito da obra santificadora do Espírito Santo, que será de ajuda àqueles
desejosos por viver de modo cada vez mais agradável a Deus.
Em todas as eras, inclusive a nossa, a Igreja
tem apresentado pontos fortes e também fraquezas em sua teologia. Essa variação
pode ser melhor entendida pela observação do fluxo e refluxo histórico de
várias doutrina do passado. Devido às limitações de espaço, não há como incluir
aqui um amplo estudo da teologia histórica da santificação. Nosso estudo, no
entanto, poderá servir de guia ao desenvolvimento dessa doutrina.7 Por mais que
alguém possa aprender de semelhante estudo, é reconfortante saber que pessoas
na Igreja já estão envolvidas com as implicações práticas dessa doutrina.
Os primeiros seguidores de Jesus esperavam e
pregavam a sua volta a qualquer momento (At 2 e 7). Por isso enfatizavam
grandemente a salvação e o evangelismo (Mt 28.18-20; At 1.7,8). No decurso dos
anos, tardando a segunda vinda de Jesus, os escritos do Novo Testamento indicam
certos problemas surgindo na Igreja (1 Ts 4.13-18; 1 Pe 3.3-18). Por exemplo:
alguns crentes não viviam uma vida de santidade, mas usavam a liberdade do
código legal judaico como desculpa ao comportamento licencioso. Encontramos tal
atitude nas igrejas de Corinto, Galácia, Colossos e nos registros de Apocalipse
2 e 3. Outros - os judaizantes - argumentavam que a solução era que todos os
cristãos, tanto os gentios quanto os judaicos, obedecessem a lei mosaica (At
15), doutrina, ensinando que a Igreja controlava uma "tesouraria de
méritos" que podia ser creditada na conta do fiel necessitado. Depois do
batismo cristão, os pecados venais12 podiam ser contrabalançados pelo
sacramento da comunhão, ao passo que os "pecados mortais", mais
graves, exigiam alguma forma de penitência. 13
Os
líderes da Reforma afligiam-se com a corrupção que viam dentro da Igreja
Católica Romana. Consequentemente, diminuíam o papel da igreja institucional e
dos sacramentos na santificação. Argumentavam que a santificação era obra do
Espírito "primariamente através da Palavra, e [só] secundariamente através
dos sacramentos". Também diziam que “a justificação produz a força
motivadora na santificação.” 14
Os
pietistas e os metodistas, desesperados com a falta de vitalidade espiritual em
suas próprias fileiras, deslocaram o processo da santificação para ainda mais
longe do controle da Igreja. Sustentavam que o Espírito Santo realizava essa
obra por meio do amor, da devoção e da obediência a Cristo, por parte do
crente, juntamente com um desejo pela santidade prática e o esforço em prol da
perfeição.15 Enfatizavam o relacionamento espiritual pessoal mais que a
participação de uma atividade patrocinada pela igreja institucional - os
sacramentos (no catolicismo) ou a pregação da Palavra (no luteranismo).
O
próprio John Wesley assumiu uma posição ainda mais extrema: ensinava que
aqueles que não tinham vitalidade espiritual haviam sido salvos, mas não
santificados. Acreditava que a justificação e a santificação eram obras
separadas da graça. A salvação era a primeira, e a santificação, a segunda.
Frequentemente chamava a esta última obra "perfeição cristã",
afirmando que ela excluía qualquer transgressão voluntária das leis de Deus
(estava disposto a reconhecer que transgressões involuntárias ainda podiam ocorrer).
Definia essa perfeição como amar a Deus e ao próximo, tendo a mente que estava
em Cristo Jesus, o fruto integral do Espírito na alma do crente e a imagem
moral de Deus renovada na retidão e na verdadeira santidade. "Essa é a
perfeição", dizia. A solução para os problemas espirituais da Igreja de
seus dias era essa segunda obra da graça: a santificação. A santificação
forneceria maior espiritualidade e mais poder à obra nas searas missionárias do
mundo inteiro. 16
O Movimento da Santidade, nos meados do século
XIX ao início do século XX, vendo a espiritualidade ofuscada em suas
denominações (que passavam a ser "exdenominações"), adotaram muitas
das características do metodismo primitivo. Essas características incluíam a
distinção entre a primeira obra da graça e uma segunda, e a ênfase na
espiritualidade pessoal. Em muitos casos, essa segunda obra era identificada
como o batismo no Espírito Santo. Da mesma maneira que nos ensinos de João
Wesley, tal experiência era a responsável tanto pelo aumento da espiritualidade
(ou "santidade") quanto pelo incremento de poder para o serviço
cristão. 17
Outros
líderes eclesiásticos da época concordavam com os grupos da Santidade quanto a
igreja precisar de renovação, mas discordavam da solução deles. Um desses
líderes era Charles Finney, cuja abordagem era mais modesta. Ele concordava com
o ensino wesleyano de uma segunda obra (instantânea) da graça, mas não a
considerava uma obra de santificação. Tratava-se, para ele, de um revestimento
de poder. 18
Reuben
A. Torrey foi outro líder eclesiástico destacado no assunto. Encorajado pelo
evangelista Dwight L. Moody, olhava a doutrina de um prisma um pouco diferente.
Ensinava que a santificação era um processo, mas que o poder para o serviço
provinha do batismo no Espírito. Em outras palavras, rejeitava a identificação
- defendida pelo movimento da Santidade - do batismo no Espírito como uma
"segunda obra da graça", que produzia a santidade. Mantinha a
expressão "batismo no Espírito", concordava ser ela subsequente à
salvação e ensinava que era exclusivamente um dom divino de poder espiritual.
19
A
ênfase cada vez maior à obra do Espírito Santo, em fins do século XIX, preparou
o caminho para a renovação do Pentecostalismo, no começo do século XX. Alguns
dos primeiros pentecostais, porém, argumentavam que o batismo no Espírito Santo
era uma terceira obra da graça, sendo: (1) a salvação, mediante a qual a pessoa
era purificada dos pecados da vida irregenerada; (2) a santificação, que
outorgava a vitória sobre o pecado nesta vida, no sentido wesleyano; e (3) o
batismo no Espírito Santo, que revestia o crente de poder para servir a Deus e
ao próximo.20 Estas duas últimas obras da graça pareciam relegar o restante da
Igreja a uma condição espiritual inferior, situação que encorajava um elitismo
espiritual pentecostal. Os não-pentecostais não demoraram a caracterizar os
pentecostais como elitistas, inclusive os que não haviam adotado posições tão
exageradas. Infelizmente, a doutrina da santificação parece ter-se perdido no
fragor da batalha.
Atualmente,
há urgente necessidade de renovada ênfase à doutrina da santificação nos
círculos pentecostais. Em primeiro lugar porque são raros os pentecostais que
hoje aceitariam a ideia de estar precisando de renovação espiritual. A despeito
de muitíssimos crentes terem sido batizados no Espírito Santo, são muitas as
igrejas pentecostais que não possuem a vitalidade e a eficácia que nelas se
evidenciavam em anos anteriores. Em segundo lugar, a ênfase pentecostal ao
batismo no Espírito e aos dons sobrenaturais do Espírito tem resultado numa
falta de ênfase ao restante da obra do Espírito, inclusive a santificação. Em
terceiro lugar, a aceitação mais generalizada dos pentecostais e dos
carismáticos parece ter ameaçado a distinção tradicional entre a Igreja e o
mundo, lançando dúvidas sobre muitos dos antigos padrões de santidade. E,
finalmente, os pentecostais de hoje dão muito valor à popularidade que acabaram
de conquistar e, no afã de preservá-la, zelam por evitar qualquer aparência de
elitismo espiritual.
Stanley-Horton-Teologia-Sistematica
VI. O Espírito na Igreja
O que ocorreu no Pentecoste. O Salvador existia antes de sua encarnação e
continuou a existir depois de sua ascensão; mas durante o período
intermediário exerceu o que pode íamos chamar sua missão
"temporal" ou dispensacional, e para cumpri-la veio ao mundo e,
havendo-a efetuado, voltou para o Pai. Da mesma maneira o Espírito veio ao
mundo em um tempo determinado, para uma missão definida, e partirá quando sua
missão tiver sido cumprida. Ele veio ao mundo não somente com um propósito
determinado, mas também por um tempo determinado. Nas escrituras encontramos
três dispensações gerais, correspondendo às três Pessoas da Divindade. O Antigo
Testamento é a dispensação do Pai; o ministério terrestre de Cristo é
a dispensação do Filho; e a época entre a ascensão de Cristo e
sua segunda vinda é a dispensação do Espírito. O ministério do Espírito
continuará até que Jesus venha, depois virá outro ministério dispensacional. O
nome característico do Espírito durante essa dispensação é "o Espírito de
Cristo". Toda a Trindade coopera na plena manifestação de Deus durante
essas dispensações. Cada um exerce um ministério terreno: o
Pai desceu no Sinai; o Filho desceu na encarnação; o Espírito
desceu no dia de Pentecoste. O pai recomendou o Filho (Mat. 3:17); o
Filho recomendou o Espírito (Apo. 2:11), e o Espírito testifica
do Filho (João 15:26). Como Deus, o Filho cumpre para com os homens
a obra de Deus o Pai, assim o Espírito Santo cumpre para com os homens
a obra de Deus o Filho. John Owen, teólogo do século dezessete, demonstra como,
através das dispensações, há certas provas de ortodoxia relacionadas
com cada uma das três Pessoas. Antes do advento de Cristo, a
grande prova era a unidade de Deus, Criador e Governante de tudo. Depois
da vinda de Cristo a grande questão era se a igreja, ortodoxa quanto ao
primeiro ponto, receberia agora o Filho divino, encarnado, sacrificado,
ressuscitado e glorificado, segundo a promessa. E quando a operação desse
teste quanto à divindade de Cristo havia reunido a igreja de crentes
cristãos, o Espírito Santo tomou-se proeminente como a pedra de toque da
verdadeira fé. "O pecado de desprezar sua Pessoa e de rejeitar sua obra
na atualidade é da mesma natureza da idolatria da antiguidade, e da
rejeição da Pessoa do Filho por parte dos judeus." Assim como o eterno
Filho encarnou-se em corpo humano no seu nascimento, assim também o Espírito
eterno se encarnou na igreja que é seu corpo. Isso ocorreu no dia de
Pentecoste, "o nascimento do Espírito". O que foi a manjedoura
para o Cristo encarnado, assim foi o cenáculo para o Espírito. Notemos o
que ocorreu nesse memorável dia.
(a) O nascimento da igreja. "E, cumprindo-se o dia de
Pentecoste." Pentecoste era uma festa do Antigo Testamento que
se comemorava cinqüenta dias depois da Páscoa, razão porque
era chamado "Pentecoste", que significa "cinqüenta".
(Vide Lev. 23:15-21.) Notemos sua posição no calendário de festas:
1) Primeiro vinha a festa da Páscoa, que comemorava a libertação de Israel
do Egito na noite em que o anjo da morte matou os primogênitos egípcios
enquanto o povo de Deus comia o cordeiro em suas casas assinaladas com
sangue. Isto é um tipo da morte de Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sangue
nos protege do juízo de Deus.
2) No sábado após a noite Pascal um molho de cevada,
previamente disposto, era segado pelos sacerdotes e oferecido perante
Jeová como as primícias da colheita. A regra era que a primeira parte
da colheita devia ser oferecida a Jeová em reconhecimento do seu domínio
e propriedade. Depois disso, o restante da colheita podia ser segado. Isto
é um tipo das "primícias dos que dormem" (1Cor. 15:20). Cristo foi o
primeiro a ser segado do campo da morte e a ascender ao Pai para nunca mais
morrer. Sendo as primícias, ele é a garantia de que todos os que crêem nele o
seguirão na ressurreição para a vida eterna.
3) Quarenta e nove dias deviam contar-se desde a oferta desse molho
movido, e no qüinquagésimo dia — o Pentecoste — dois pães (os primeiros
pães feitos da nova colheita de trigo), eram movidos perante Deus. Antes
que se pudessem fazer pães para comer, os primeiros deviam
ser oferecidos a Jeová em reconhecimento de seu domínio sobre
o mundo. Depois disso, outros pães podiam ser assados e comidos.
O seguinte é o significado típico: Os cento e vinte no cenáculo eram as
primícias da igreja cristã, oferecidas perante o Senhor pelo Espírito
Santo, cinqüenta dias depois da ressurreição de Cristo. Era o primogênito
dos milhares e milhares de igrejas que desde então têm sido estabelecidas
durante os últimos dezenove séculos.
(b) A evidência da glorificação de Cristo. A descida do Espírito Santo foi
um "telegrama" sobrenatural, por assim dizer, anunciando a
chegada de Cristo
à destra do Pai. (Vide Atos 2:23.) Um homem perguntou a seus sobrinhos enquanto estes estudavam a sua lição da Escola Dominical: "Como sabem vocês que sua mãe esta lá em cima?" "Eu a vi subir a escada", disse um." Você quer dizer que a viu começar a subir", disse o tio. "Talvez ela não tenha chegado lá, e ela pode não estar lá agora, mesmo que tenha estado lá." "Eu sei que ela está lá", afirmou o menor, "porque fui ao pé da escada, chamei-a e ela me respondeu." Os discípulos sabiam que seu Mestre havia ascendido, porque ele lhes respondeu pelo "som do céu"!
à destra do Pai. (Vide Atos 2:23.) Um homem perguntou a seus sobrinhos enquanto estes estudavam a sua lição da Escola Dominical: "Como sabem vocês que sua mãe esta lá em cima?" "Eu a vi subir a escada", disse um." Você quer dizer que a viu começar a subir", disse o tio. "Talvez ela não tenha chegado lá, e ela pode não estar lá agora, mesmo que tenha estado lá." "Eu sei que ela está lá", afirmou o menor, "porque fui ao pé da escada, chamei-a e ela me respondeu." Os discípulos sabiam que seu Mestre havia ascendido, porque ele lhes respondeu pelo "som do céu"!
(c) A consumação da obra de Cristo. O êxodo não se completou senão
cinqüenta dias mais tarde, quando, no Sinai, Israel foi organizado como
povo de Deus. Da mesma maneira, o beneficio da expiação não foi consumado,
no sentido pleno, até ao dia de Pentecoste, quando o derramamento do
Espírito Santo foi um sinal de que o sacrifício de Cristo foi aceito no
céu, e que o tempo de proclamar sua obra consumada havia chegado.
(d) A unção da igreja. Assim como o batismo do Senhor foi seguido por
seu ministério na Galiléia, assim também o batismo da igreja foi um
preparatório para um ministério mundial; um ministério, não como o dele,
criador duma nova ordem de coisas, mas um de simples testemunho;
entretanto, para ser levado a cabo unicamente pelo poder do Espírito de
Deus.
(e) Habitação na igreja. Depois da organização de Israel no Sinai,
Jeová desceu para morar no meio deles, sendo sua presença localizada no
Tabernáculo. No dia de Pentecoste o Espírito Santo desceu para morar na
igreja como um templo, sendo sua presença localizada no corpo coletivo e
nos cristãos individuais. O Espírito assumiu seu oficio para administrar os
assuntos do reino de Cristo. Esse fato é reconhecido em todo o livro de
Atos; por exemplo, quando Ananias e Safira mentiram a Pedro, em realidade
mentiam ao Espírito Santo que morava e ministrava na igreja.
(f) O começo duma nova dispensação. O derramamento pentecostal não foi
meramente uma exposição miraculosa de poder com a intenção de despertar a
atenção e convidar a que se inquirisse acerca da nova fé. Foi o princípio
duma nova dispensação. Foi o advento do Espírito, assim como a encarnação
foi o advento do Filho. Deus enviou seu Filho, e quando a missão do Filho havia
sido cumprida, ele enviou o Espírito do seu Filho para continuar
a obra sob novas condições.
O Espírito Santo é o representante de Cristo; a ele está entregue toda a
administração da igreja até a volta de Jesus.
Cristo sentou-se no céu onde Deus "sobre todas as coisas
o constituiu como cabeça da igreja", e o Espírito desceu para
começar a obra de edificar o corpo de Cristo. O propósito final
do Consolador é o aperfeiçoamento do corpo de Cristo. A crença na direção
do Espírito estava profundamente arraigada na igreja primitiva. Não havia
nenhum aspecto da vida em que não se reconhecesse seu direito de dirigir,
ou em que não se sentisse o efeito de sua direção. A igreja entregou
inteiramente sua vida à direção do Espírito; ela começou a rejeitar as
formas fixas de adoração, até que no fim do século, a influência do
Espírito começou a declinar e as práticas eclesiásticas ocuparam o lugar da
direção do Espírito. A direção do Espírito é reconhecida nos seguintes aspectos
da vida da igreja:
(a) Administração. Os grandes movimentos missionários da igreja primitiva
foram ordenados e aprovados pelo Espírito. (Atos 8:29; 10:19, 44; 13:2, 4.)
Paulo estava consciente de que todo o seu ministério era inspirado pelo
Espírito Santo. (Rom. 15:18, 19.) Em todas as suas viagens ele reconhecia a
direção do Espírito. (Atos 6:3; 20:28.)
(b) Pregação. Os cristãos primitivos estavam acostumados a ouvir o
Evangelho pregado "pelo Espírito Santo enviado do céu" (1Ped. 1:12),
o qual recebiam "com gozo do Espírito Santo" (1Tess. 1:6).
"Porque nosso Evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também
em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza" (1Tess. 1:5). O
pastor A. J. Gordon, há muitos anos fez a seguinte declaração: "Nossa
época está perdendo seu contato com o sobrenatural: o púlpito está
descendo ao nível da plataforma secular."
(c) Oração. Jesus, tal qual João, ensinou a seus discípulos um modelo
de oração como guia em suas petições. Porém, antes de partir, ele falou de
nova classe de oração, oração "em meu nome" (João 16:23), não
repetindo seu nome como uma espécie de superstição, mas, sim, como um modo
de se aproximar de Deus, unido espiritualmente a Cristo pelo Espírito.
Desse modo oramos como se Jesus mesmo estivesse na presença de Deus. Paulo
fala de "orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no
Espírito" (Efés. 6:18). Judas descreve os verdadeiros cristãos como
"orando no Espírito Santo" (v. 20). Em Romanos 8: 26, 27, lemos
que o Espírito está fazendo em nós o mesmo que Cristo está fazendo por nós
no céu, isto é, está intercedendo por nós. (Heb. 7:25.) Assim como na
terra Cristo ensinou a seus discípulos como deviam orar, da mesma maneira,
hoje, ele ensina a mesma lição por meio do Consolador ou Ajudador. Naquele
tempo foi por uma forma externa; agora é por uma direção interna.
(d) Canto. Como resultado de ser cheios do Espírito, os
crentes estarão "falando entre vós em salmos e hinos, e
cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso
coração" (Efés. 5:18,19). "Falando entre vós" significa o canto congregacional.
"Salmos" pode se referir aos salmos do Antigo Testamento, os
quais eram cantados; "cânticos espirituais" denotam expressões
espontâneas de melodia e louvor inspiradas diretamente pelo Espírito Santo.
(e) Testemunho. Na igreja primitiva não existia essa linha
de separação entre o ministério e o povo leigo que hoje em dia
se observa na cristandade. A igreja era governada por um grupo
ou concilio de anciãos, mas o ministério de expressão pública
não estava estritamente limitado a eles. A qualquer que estivesse dotado
com algum dom do Espírito, quer fosse profecia, ensino, sabedoria, línguas
ou interpretação, lhe era permitido contribuir com sua parte no culto. A
metáfora "corpo de Cristo" descreve bem o funcionamento da adoração
coletiva sob o controle do Espírito. Isso traz à nossa mente a cena dum
grupo de membros, um após outro, contribuindo com sua função particular no
ato completo da adoração, e todos, igualmente, dirigidos pelo mesmo poder
animador
O que é certo de Cristo é certo do
Espírito. Depois de concluir sua missão dispensacional, ele voltará ao céu
num corpo que ele criou para si mesmo, esse "novo homem" (Efés.
2: 15), que é a igreja, o seu corpo. A obra distintiva do Espírito é
"tomar deles um povo para o seu nome" (de Cristo) (Atos 15:14),
e quando isso for realizado e houver "entrado a plenitude dos
gentios" (Rom. 11:25), terá lugar o arrebatamento da igreja que, nas
palavras do
Myer Pearlman
CONHECENDO AS
DOUTRINAS DA BÍBLIA
1 1 .
O CRENTE PARTICIPA DA UNIDADE DO
CORPO DE CRISTO — 4.1
1.1.
O enfático convite a participar da unidade
"Rogo-vos". O
sentido de "rogo-vos" é enfático, e no original grego aparece como
parakaleo, que significa "chamar para o lado de alguém". A força que
Paulo dá a essa palavra é muito maior do que comumente se vê nas outras cartas.
Em outros textos (At 16.40; 2 Co 10.1; 1 Ts 2.12; Hb 3.13) a palavra
"rogar" é usada para encorajar, apelar, exortar. No capítulo 4 essa
palavra é um convite para se tomar uma atitude.
1.2.
Paulo, o preso no Senhor "
... eu, o preso no
Senhor". Mais uma vez o apóstolo fala de si mesmo como prisioneiro no
Senhor. Com essa identificação, Paulo procura despertar nos crentes efésios
mais que um sentimento de simpatia, pois procura dar ênfase ao que ensina. O
apóstolo não está lamentando o fato de estar preso; o que ele quer enfatizar é
que está preso pela vontade e por causa do Senhor. Em algumas versões aparece a
expressão "do Senhor", mas a tradução correta do grego é "no
Senhor". A colocação das palavras "no Senhor" tem uma ênfase
especial, que é dada pelo apóstolo para mostrar que os sofrimentos físicos
causados naquela prisão romana não poderiam quebrar o vínculo da comunhão
existente entre ele e o Senhor Jesus. Paulo estava "preso no Senhor"
e não pelo Senhor. Isso indica a consciência que o apóstolo tinha de sua
missão, e a certeza de que sua prisão não apresentava para si um opróbrio, e
sim uma glória, uma oportunidade de servir ao Senhor de forma diferente.
1.3.
Uma conduta digna da salvação recebida "
... que andeis como é digno
da vocação com que fostes chamados". O ardente zelo do apóstolo com os
crentes de Éfeso é para que andem de modo digno da salvação recebida em Cristo.
A palavra "vocação" aqui tem o sentido do chamamento a que se
responde ou se atende no ato da conversão a Cristo. O convite atendido implica
dignificar o compromisso com Cristo através do comportamento sadio na vida
cristã. Nossa conduta no dia a dia dignifica a nossa salvação em Cristo (a
"vocação com que fostes chamados"). Andar "como é digno da
vocação" significa obedecer prontamente a todos os requisitos espirituais
dessa vocação. A palavra "digno" (cf. Fp 1.27) mostra a ligação entre
o ensino doutrinário e a vivência desse ensino na vida diária (Cl 1.10; 1 Ts 2.12).
O nosso chamamento para a salvação não acontece por merecimentos pessoais. A
palavra "digno" tem uma conotação especial neste texto bíblico, pois
o que o Senhor quer é que andemos de um modo que corresponda ao que Ele tem
feito por nós.
2 2 .
ATRIBUTOS DA UNIDADE — 4.2
No
versículo 2 Paulo continua a falar sobre o andar conforme a chamada que tivemos
para a salvação, apresentando os requisitos para que haja unidade em Cristo, os
quais são indispensáveis aos chamados. "... com toda a humildade, e mansidão,
com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor". Destacam-se
quatro qualidades da unidade em Cristo que devem ser cultivadas pelo crente. A
unidade no corpo de Cristo — a Igreja — não pode ser deteriorada pela força da
carne. Essas qualidades são produzidas pelo Espírito Santo em favor do crente a
fim de torná-lo parte do corpo de Cristo, evitando que fique como um membro
isolado. Esses requisitos nada têm a ver com a carne e, para que o crente não
viva em derrotas espirituais, deve cultivar tais qualidades da unidade em
Cristo. Paulo deseja que os crentes em Éfeso cultivem esses predicados para
manterem a unidade da Igreja.
2.1.
Humildade
Tão conhecida e tão pouco vivida! No grego, a
palavra "humilde" aparece com o significado de modéstia — tapeinophrosunes.
E a qualidade que repudia o orgulho e o individualismo. A humildade nunca se
apresenta a si mesma, mas se preocupa com a participação coletiva. É uma
virtude essencial para que a unidade seja mantida.
2.2.
Mansidão
Esta
tem a ver com a amabilidade. No grego, prautetos significa gentileza, cortesia,
consideração. E a qualidade de quem se preocupa com os outros. A mansidão faz
parte do "fruto do Espírito" (Gl 5.22). Mansidão é a atitude pacífica
nos momentos de exasperação. Ela surge quando aceitamos a vontade de Deus para
conosco. A mansidão não discute, não resiste, nem teima contra a vontade
divina. Ela é demonstrada quando aceitamos pacientemente os males que nos
fazem, sem revidá-los, porque cremos que Deus os permitiu (2 Sm 16.11; Gl 6.1;
2 Tm 2.25; Tt 3.2).
2.3.
Longanimidade
Em
outras traduções aparece como "paciência". Assim como a humildade e a
mansidão correspondem à idéia de "suportar-nos uns aos outros em
amor", a paciência corresponde à solicitude. A palavra
"longanimidade", no grego makrothumia, significa tolerancia,
paciência, constância. E agir com equilíbrio nos momentos difíceis e nas
adversidades (Tg 5.10). Longanimidade aqui significa não apressar-se em vingar
o mal nem revidar o mal feito por outra pessoa contra si (Mt 5.3,5,7; 1 Co
13.4; Gl 5.22; Cl 3.12). 2.4. Tolerância "... suportando-vos uns aos
outros em amor". Tolerar é também uma qualidade cristã que deve ser
cultivada (Rm 2.4). É a prática da longanimidade. Certo escritor cristão
escreveu que "suportar significa ser clemente com as fraquezas dos outros,
não deixando de amar o próximo ou os amigos devido às suas faltas, ainda que
essas faltas nos ofendam ou desagradem".
3. A PRESERVAÇÃO DA UNIDADE — 4.3
3.1. A unidade produzida pelo Espírito
"...
procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz". A unidade é
do Espírito: ela é gerada, provida e produzida pelo Espírito Santo. Fomos
chamados não para criar essa unidade, nem produzi-la, mas para mantê-la com
todo o cuidado. Os crentes em Cristo são partes dessa unidade. O que compete a
eles é a obediência dos requisitos que "a unidade do Espírito" exige.
A existência das várias denominações cristãs dá a impressão de que não há essa
unidade, porém, entendemos que a verdadeira unidade existe. Alguns teólogos a
chamam de "unidade maior", entretanto cremos que, a despeito das
diferenças existentes entre as igrejas terrenas, a verdadeira unidade do
Espírito existe naqueles que têm nascido do mesmo Espírito e estão unidos no
corpo místico de Cristo Jesus, nosso Senhor (1 Co 12.13). A palavra
"preservar" é mais próxima do sentido, no original grego, do que
guardar. No original, a palavra é terein, isto é, observar, guardar, preservar.
Tal unidade já existe no seio da Igreja universal, e resta-nos, como membros dessa
igreja, preservar essa unidade.
3.2. O vínculo da paz
"...
pelo vínculo da paz". A paz é o elo que une todos os crentes pelo
Espírito. Essa paz é plena e não restrita. Sua significação alcança todas as
esferas da vida cristã. Primeiro, paz com Deus. depois, paz com o próximo e com
a Igreja de Cristo. Esta paz é divina e é produzida pelo Espírito (Gl 5.22),
para que haja vínculo entre Deus e o crente no corpo de Cristo. A unidade do
Espírito não é produzida pelo homem, mas pelo Espírito. A missão do crente é
preservar a unidade do Espírito pelo "vínculo da paz". A unidade do
Espírito deve ser interpretada conforme o contexto doutrinário sobre a unidade
da Igreja. Esta unidade não é a do espírito humano, como vários teólogos
ensinam, mas é criada pelo Espírito de Deus (v. 4). E operada nos crentes por
um mesmo amor (Rm 5.5). Se ela fosse produzida pela vontade humana, não teria
sido preservada através dos séculos, e estaria destruída pelos sentimentos
carnais do egoísmo e do orgulho. Essa unidade é espiritual, produzida por Deus.
Não é externa e material, pois se o fosse, certamente escravizaria em seu seio
as consciências. Existe um tipo de unidade material na igreja que liga os seus
membros às várias instituições. A verdadeira unidade é espiritual e íntima na
Igreja de Jesus Cristo. Ela se manifesta no corpo de Cristo através de seus
membros.
4. FUNDAMENTOS DA UNIDADE — 4.4-6
A
unidade da Igreja tem seu fundamento na Trindade, como está exposta nos
versículos 4,5 e 6: "um Espírito" (v. 4), "um Senhor" (v.
5) e "um Deus e Pai" (v. 6). Temos aqui a confirmação da unidade
existente na Trindade. Não há divisão no Deus Trino. As três pessoas produzem
juntamente a unidade de todos os crentes reais. Por isso, a "unidade do
Espírito" é firmada na unidade da Trindade. Os versículos 4 a 6 nos
mostram o tipo de unidade que mantém a Igreja — a unidade de fé e doutrina.
4.1. Há um só corpo — v. 4
Lembrando
o capítulo 2, versos 15 e 16, temos o retrato da criação da igreja ("em um
novo homem") formando "um corpo" — o corpo místico de Jesus. É
uma figura que descreve a igreja e suas relações com os crentes (Rm 12.5; 1 Co
10.17; 12.12-30). Os crentes foram trazidos de fora (do mundo) para formarem
"um só corpo". Isso significa pertencer ao seu corpo místico e participar
de toda a sua vida. E a unidade "no corpo" - uma unidade espiritual
que une todos os crentes a uma cabeça, Cristo. O fato de estar unido a Ele não
significa estar ligado a uma organização ou mera associação terrena. A Igreja é
uma instituição espiritual constituída de pessoas regeneradas. A Igreja é um
corpo, uma unidade composta de judeus e gentios que formam um só povo em
Cristo.
4.2.... um só Espírito — v. 4
A Igreja tem a vida do Espírito Santo. Assim
como o corpo humano é dinamizado pelo espírito humano, o corpo de Cristo é
dinamizado pelo Espírito de Cristo. Este corpo espiritual, que é a Igreja, é
constituído por muitos membros que se movem no corpo de Cristo, e esse
movimento é a vida operada pelo Espírito Santo na obra da regeneração (2 Co
5.17). Portanto, só farão parte desse corpo, aqueles que foram regenerados,
isto é, que receberam uma nova vida: (Rm 8.9,11; 1 Co 12.13). Quando a Palavra
de Deus afirma que "há um só Espírito", está declarando que o crente
não pode receber outro espírito.
4.3.... uma só esperança — v. 4
A
esperança aqui tem um significado presente e futuro. A razão da unidade dos
crentes no corpo de Cristo está no fato de basearmos a nossa fé nessa
esperança. Ela não é alguma coisa oca e vazia: tem conteúdo e peso de glória.
Olhando o futuro, essa esperança aponta para o dia da redenção plena da Igreja,
no arrebatamento. Isso não quer dizer que nossa redenção efetuada no Calvário
seja incompleta, mas que ela tem três estágios. No passado, na cruz, nossa
redenção da pena do pecado foi completa. No presente, depois de aceitarmos a
obra de Cristo em nossos corações, tendo a pena do pecado já cancelada, ainda
lutamos contra o poder do pecado que opera ao nosso redor, procurando minar o
primeiro estágio. Finalmente, nossa esperança alcança o futuro mediante a nossa
fidelidade a Cristo: então seremos redimidos do corpo de pecado. E a libertação
do corpo de pecado e a conquista de um corpo espiritual (1 Co 15.44,52-54). A
verdadeira unidade alcançará o seu clímax quando Cristo, nos ares (1 Ts
4.16,17), reunir a si a sua amada Igreja. A unidade do seu corpo, isto é, de
Cristo se concretizará (Jo 17.21-23; Cl 3.4). Por que temos essa esperança?
Porque fomos chamados para tê-la — "esperança da vossa vocação".
4.4.... um só Senhor — v. 5
Quem é o senhor do corpo senão a cabeça que o
comanda? Assim, Cristo é o Senhor da Igreja (1 Co 12.3; 8.6; Fp 2.11). Na
afirmação de que há "um só Senhor" encontramos a segunda Pessoa da
Trindade, que é Jesus Cristo. Ele se fez Senhor da Igreja porque a comprou com
o preço de seu próprio sangue (1 Co 7.23). Essas palavras dão ênfase ao
senhorio absoluto de Cristo em nossas vidas. Não se pode servir a dois
senhores. Jesus é o nosso amo e a Ele obedecemos. Toda a autoridade do corpo
está na cabeça — Jesus Cristo, Senhor e comandante do corpo. Ele é a suprema
autoridade do corpo vivo da Igreja. Quando uma igreja local perde o senhorio de
Cristo, certamente outro "senhor" usurpou o lugar dEle.
4.5.... uma só fé — v. 5
Que tipo de fé é essa? Não é a fé para
milagres, mas fé como crença. Esse tipo não é a fé denominacional, mas a fé que
produz a vida cristã. Fé como corpo de doutrina ou aquilo que cremos. Em que
nós cremos? Qual é o nosso credo? Existem vários credos, como o
católico-romano, o luterano, o ortodoxo etc. Qual é o credo evangélico? É o
credo neotestamentário, sem dúvida. A mesma confiança que une os crentes em
Cristo, a mesma direção, é o gerador dessa fé. Temos um corpo de doutrina
bíblico no qual baseamos nossa vida diária. A igreja vive por uma mesma fé. A
Bíblia apresenta distintamente vários tipos de fé, como seja: fé para salvação
(Rm 10.9,10; Ef 2.8); fé como fruto do Espírito (Gl 5.22); fé como dom do
Espírito (1 Co 12.9); e fé como crença ou aquilo que diz respeito ao que cremos
(Gl 1.23; 1 Tm 3.9; 4.1; 2 Tm 6.7; Jd 3). Este último tipo de fé (crença) é o
tipo a que se refere o apóstolo Paulo. Quando ele destaca "uma só
fé", refere-se à doutrina cristã, e não a vários tipos de fé. A igreja
segue e obedece a uma só fé, isto é, tem uma só doutrina.
4.6.... um só batismo — v. 5
Quando Paulo fala de "um só
batismo", não está anulando os outros batismos dos quais a Bíblia fala e
ensina. Os antipentecostais usam a expressão "um só batismo" para
combater a doutrina do batismo com o Espírito Santo, mas isto fazem sem nenhum
apoio das Escrituras, porque o autor da carta aos Hebreus fala da
"doutrina dos batismos" (6.2). Não há choque algum quando outros
textos bíblicos apresentam outros batismos. Entretanto, entendemos sim, que há
um só batismo de arrependimento. É esse batismo que Paulo apresenta como
requisito para se entrar na comunidade cristã. Desse tipo só pode haver um. O
batismo com o Espírito Santo é outro batismo; por isso mesmo, só pode haver um
tipo de batismo com o Espírito Santo. Quanto ao texto do verso 5, esse batismo
representa a entrada comum de qualquer pessoa na vida da igreja local, como
confissão de fé. O batismo é o símbolo exterior da obra de regeneração operada
pelo Espírito Santo no coração do pecador. Batizar significa mergulhar, e
quando alguém recebe Jesus, confessa isso publicamente através do batismo por
imersão em águas.
4.7.... um só Deus e Pai — v. 6
A primeira pessoa da Trindade é apresentada
aqui sem a preocupação de colocá-la dentro de uma ordem. Deus Pai revela-se uma
unidade composta de Pai, Filho e Espírito Santo. Não são três deuses, mas um só
Deus em três Pessoas. Deus é Pai, e isto reveste-se de um significado familiar.
Sua paternidade relaciona-se com os crentes em Cristo Jesus, os quais se tornaram
"filhos de Deus" por adoção (Jo 1.12; Ef 1.5).
Na
afirmação de que há "um só Deus", vemos todo o absolutismo divino.
Deus é absoluto, isto é, Ele é e não permite que outro seja (Is 45.22). A
continuação do texto — "... e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por
meio de todos e está em todos" — expressa a soberania tríplice do único
Deus, a quem servimos. Primeiro diz: "o qual é sobre todos", e indica
a transcendência e a soberania de Deus. Ele está acima de tudo e de todos. Já
no segundo aspecto, a força das palavras "age por meio de todos"
revela o domínio de Deus através de sua preciosa presença no interior das vidas
regeneradas. Ele "age por meio de todos" no sentido de cobrir os seus
fiéis, protegendo-os e provendo-os nas suas necessidades. Finalmente, o
terceiro aspecto se vê quando diz: "está em todos", expressão que
fala da habitação do Espírito Santo dentro dos crentes, dinamizando-os com sua
presença contínua.
Deus
é Pai, tanto por geração — como Criador, quanto por regeneração — nova criação
(Ef 2.10; Tg 1.17,18; 1 Jo 5.7). No sentido espiritual, Deus é Pai apenas dos
que fazem a sua vontade e se tornaram filhos por adoção através de Jesus
Cristo. Uma vez gerados fisicamente, todos somos criaturas de Deus, porém como
filhos de Deus somente o são os regenerados (2 Co 5.17).
Comentário Bíblico Efésios - Elienai
Cabral
92 A BASE DA UNIDADE
Efésios 4:4-6
Paulo continua agora assentando
as bases sobre as que tem que fundar-se a unidade cristã.
(1) Há um só corpo. Cristo é a
cabeça e a Igreja o corpo. Nenhum cérebro pode agir sobre um corpo
desintegrado, desorganizado e desfeito em pedaços. A não ser que o corpo esteja
unido coordenadamente, os pensamentos, planos e desígnios da cabeça e do
cérebro ficarão impedidos e frustrados. A unidade da Igreja é essencial para a
obra de Cristo. Não é necessário que seja uma unidade mecânica, administrativa
e organizativa, mas sim aquela que se baseia no amor comum a Cristo e no amor
de uns aos outros.
(2) Há um Espírito. Em grego
pneuma significa tanto espírito como alento; de fato trata-se da palavra comum
e ordinária para alento. Sem alento um corpo está morto. E o alento vivificador
do corpo da Igreja é o Espírito de Cristo. A obra do Espírito é a que dá vida
ao corpo e o mantém vivo. Não pode existir a Igreja sem o Espírito e não se
pode receber o Espírito sem uma espera de silêncio e oração.
(3) Há em nossa vocação uma
esperança. Todos partimos rumo à mesma meta. Aqui radica o .grande segredo da
unidade. Podem ser diferentes nossos métodos, nossa organização e até algumas
crenças; mas estamos lutando para com uma meta: um mundo redimido em Cristo.
(4) Há um Senhor. O que mais se aproximava do credo
na Igreja primitiva era a curta sentença: "Jesus Cristo é o Senhor"
(Filipenses 2:11). Segundo Paulo, o sonho de Deus era que chegasse o dia em que
todos os homens confessassem que "Jesus Cristo é o Senhor". Para
Senhor usa-se o termo kyrios. Os dois usos do substantivo no grego popular nos
mostram algo do pensamento de Paulo. O termo usa-se para amo em contraposição a
servo ou escravo; e era a designação regular do imperador romano. Os cristãos
estão todos unidos porque todos são possessão de um amo e rei e estão a seu
serviço.
(5) Há uma fé. Paulo não quer dizer que haja
um só credo. Efetivamente, é muito estranho que no Novo Testamento a palavra fé
signifique credo. Para o Novo Testamento a fé é quase sempre a confiança total
do cristão em Jesus Cristo e sua entrega a Ele. O que quer dizer Paulo é que
todos os cristãos estão ligados em unidade porque todos têm feito um ato comum
de entrega total ao amor de Jesus Cristo. Bem pode ser que descrevam o ato de
entrega com termos e credos diferentes; mas seja qual for a maneira de
descrevê-lo, esse ato de entrega é a única coisa comum a todos eles.
(6) Há um batismo. Na Igreja cristã só há uma
porta de acesso. Antigamente o batismo costumava ser administrado em geral aos
adultos já que homens e mulheres procediam diretamente do paganismo. Por esta
razão o batismo constituía antes que nada uma pública profissão de fé. Havia
uma só maneira de arrolar-se no exército romano: o juramento de fidelidade ao
imperador e ao rei. Assim também há um só caminho para ingressar na Igreja
cristã: a profissão pública de fé em Jesus Cristo.
(7) Há um só Deus. Agora
advirtamos o que diz Paulo a respeito de Deus como objeto de nossa Fé. Deus é o
Pai de todos. Nesta frase o amor de Deus fica gravado para sempre. O maior e a
única coisa sobre o Deus cristão não é que seja Rei ou Juiz, mas sim Pai. A
idéia cristã de Deus começa no amor. Deus está sobre todos; esta frase implica
o domínio de Deus. Não importa o que as aparências indiquem, Deus tem o
controle. Pode haver dilúvios mas “o SENHOR preside aos dilúvios” (Salmo
29:10). Não há nada que esteja fora do domínio de Deus. Deus está por todos.
Nesta frase está implícita a providência de Deus. Deus não criou o mundo para
abandoná-lo à sua própria sorte, como o homem que pode dar corda a um brinquedo
e deixá-lo que ande sozinho; Deus está com tudo seu mundo, guiando, dirigindo,
sustentando, mantendo e amando. Em tudo e através de todo a providência de Deus
se mostra ativa, eficaz e poderosa. Ele está em todos; esta frase implica a presença
de Deus.
Pode ser que o germe deste pensamento provenha
dos estóicos. Estes pensavam que Deus era um fogo mais puro que o fogo da
Terra, o mais luminoso e puro espírito ígneo; criam que o que dava vida ao
homem era uma faísca desse fogo divino que vinha e habitava dentro do corpo.
Segundo a fé de Paulo, Deus está em cada coisa: Deus está no homem e em sua
mente; no mundo e em tudo o que cresce; na história e nos acontecimentos; em
todas as coisas. A crença cristã é que vivemos num mundo criado, controlado,
sustentado e repleto por Deus.
OS DONS DA GRAÇA Efésios 4:7-10
Paulo considera agora outro
aspecto do assunto. Esteve falando sobre as qualidades dos membros da Igreja de
Cristo; agora começa a falar sobre as funções dos mesmos na Igreja. Sobre como
podem usar melhor suas capacidades, talentos e dons a serviço da Igreja. E
começa estabelecendo o que para ele era uma verdade essencial. De fato todo dom
que o homem possui é um dom da graça de Cristo. Pensa em Jesus como o doador de
todos os dons que o cristão possui.
"E cada virtude que
possuímos, cada vitória que ganhamos, cada pensamento santo, são somente
seus".
Para considerar Cristo como o Doador de dons,
Paulo cita o versículo de um Salmo mas com uma diferença muito significativa.
Trata-se do Salmo 68 que descreve a volta de um rei depois de uma conquista. O
rei conquistador sobe ao alto, quer dizer, sobe os degraus do monte Sião
encaminhando-se à santa cidade. Leva consigo uma banda de prisioneiros. Quer
dizer, marcha triunfalmente pelas ruas com os prisioneiros encadeados em detrás
de se, para demonstrar seu poder conquistador. E agora vem a diferença. No
Salmo o versículo reza: "Subiu ao alto, cativou a cativeiro, tomou dons
para os homens, e também para os rebeldes, para que habite entre eles Jah
Deus" (Salmo 68:18). O conquistador voltou com seus troféus e exige o
resgate e o colete que os povos conquistados devem lhe pagar.
Observemos a mudança que Paulo
introduz aqui: "Subindo ao alto, levou cativa a cativeiro; e deu dons aos
homens". No Antigo Testamento o rei conquistador exigia e recebia dons dos
homens; no Novo Testamento o Cristo conquistador oferece e dá dons aos homens.
Esta é a diferença essencial entre os dois testamentos. No Antigo Testamento
Deus é o Deus que exige; no Novo, o Deus que dá. No Antigo Testamento um Deus
ciumento pede e exige tributos do homem; no Novo, o Deus de bondade derrama seu
amor sobre os homens e lhes dá tudo o que tem para dar. Esta é de fato a
mensagem das boas novas.
Logo, como acontece com
freqüência, a mente de Paulo empreende outro rumo sobre a raiz de uma palavra.
Agora usou a palavra subiu, e isso lhe faz pensar em Jesus e expressa algo
admirável. Jesus desceu a este mundo quando entrou nele como homem; subiu do
mundo quando o deixou para retornar à glória. O grande pensamento de Paulo é
que o Cristo que desceu e o Cristo que subiu são a mesma e única pessoa. O que
significa este fato? O Cristo da glória é o mesmo Jesus que deixou seus rastros
na terra: ainda ama a todos os homens, busca o pecador, cura o sofredor,
conforta o triste, é o amigo de homens e mulheres proscritos. O pensamento mais
precioso de Paulo é exatamente que Cristo em sua glória não esquece jamais
aqueles que ama.. O Cristo que subiu aos céus é ainda aquele que ama as almas
dos homens. Ainda há outro pensamento surpreendente do Apóstolo. Jesus subiu às
alturas mas não para deixar o mundo, senão para enchê-lo com sua presença.
Quando estava no mundo mediante sua carne mortal só podia
Efésios (William Barclay) 92
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