domingo, 29 de março de 2020

Lição 1 - A Ética dos Dez Mandamentos



TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Êxodo 20.1-4, 7-10, 12-17

1-    Então, falou Deus todas estas palavras, dizendo:
2 - Eu sou o SENHOR, Teu Deus, que te dei da terra do Egito, da casa da servidão.
3 - Não terás outros deuses diante de mim.
 4- Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da term.
7- Não tomarás o nome do SENHOR, , teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
 8- Lembra-te do dia do sábado, para o santificar
9- Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra,
10 - mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas.
12 – Honra a teu pai e tua mãe que se prolonguem os teus dias na
13 - Não matarás.
14 - Não adulterarás.
15 - Não furtarás.
16 - Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
 17 - Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.


TEXTO ÁUREO

Ora, o fim do
mandamento é o
amor de um coração
puro, e de uma boa
consciência, e de uma
fé não fingida.
Timóteo 1.5

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
 2. feira - Romanos 2.12-16
A justiça de Deus
 3. feira - 2 Timóteo 4.1
Virá tempo em que não sofrerão a sâ doutrina
4. feira - Eclesiastes 12.10-14
Teme a Deus e guarda os seus mandamentos
 5. feira - Romanos 15.1-6
Para nosso ensino foi escrito
6. feira - Hebreus 7.18,11-19
A Lei nenhuma coisa aperfeiçoou
Sábado - Gaiatas 3.6-14
Pela Lei, ninguém será justificado


OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de,
• compreender que os Dez Mandamentos foram entregues, em primeiro lugar, para Israel;
• entender que os Dez Mandamentos são uma referência para dar ciência ao homem do que é pecado;
• concluir que a ética dos Dez Mandamentos traz valores imutáveis, segundo o pensamento de Deus.


ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Caro professor, a Escola Dominical é um dos instrumentos utilizados por Deus para manter, mudar e fazer crescer a Sua Igreja. Manter os princípios doutrinários, que devem ser imutáveis; mudar o caráter e o modo de agir de seus alunos, confrontando-os com a Palavra de Deus, e visar à formação de novos discípulos segundo o modelo divino; coibir os elementos e ingredientes que impedem o crescimento da Igreja, proporcionando-lhe um ambiente saudável. Portanto, a EBD pode ser usada por Deus para produzir mudanças necessárias no meio sociocultural, na população em geral e dentro da própria igreja (Revista Educação Cristã Hoje, r, 1. Central Gospel, 2012, p. 26).

 Boa aula!

COMENTÁRIO

Palavra Introdutória

Todo indivíduo nascido em um lar estruturado tem a noção básica de uma vida correta; isso, em si, já seria um bom ponto de partida, porque a Lei foi posta no coração do ser feito à imagem e semelhança de Deus (Rm 2.14,15). Mas, o Soberano Senhor conhece as limitações do ente humano e sabe que não lhe seria possível andar de modo independente; além disso, Suas exigências transcendem ao que se pode abrigar no coração. Era previsto, portanto, que o homem, um dia, criaria para si novos valores éticos (2 Tm 4.3,4).


1                1 .     AS LEIS DE DEUS

Todo grupo social, do macro ao microcosmo, da nação ao lar, precisa de normas para que se estabeleçam o equilíbrio e o limite nas relações. No interregno da sua caminhada do Egito para Canaã, os hebreus foram formados por Deus como nação e, por essa razão, precisariam de uma constituição que os norteasse. Assim, Deus entregou a Moisés as leis que regeriam aquele povo. Foram 613 mandamentos (mitzvot), sendo 248 positivos (m)tzvot assê = faça) e 365 negativos (mitzvot ló taassê = não faça).


 Os judeus veem nesses números uma didática divina, na qual o número 248 corresponderia aos principais membros do corpo humano, e o número 365 corresponderia ao número de dias do ano.

 Dos 613 mandamentos, os Dez Mandamentos, conhecidos pelos hebreus como as Dez Palavras — e mais tarde, na Septuaginta (LXX), uma tradução do Antigo Testamento do texto original hebraico para o grego, feita por 72 escribas na Alexandria, no Egito, entre os anos 284-247 a.C., chamada de Decálogo —, constituem um resumo didático da ética de conduta, chamados por Deus de sabedoria para os hebreus (Dt 4.6).

1.1.         Os destinatários da Lei

A história do Antigo Testamento é baseada nas leis mosaicas, ou seja, o pano de fundo veterotestamentário é a nação israelita sendo regida, guiada e instruída pela Lei: os profetas, por exemplo, reivindicavam obediência às leis e proclamavam juízos contra a nação toda vez que ela transgredia os mandamentos da lei divina (Os 4.6; 11.7, Mq 6). Não se pode enxergar o Antigo Testamento senão sob a ótica da Lei, ainda que ele esteja aquém e além dela.

 Deus destinou as leis ao povo da antiga aliança, os hebreus. Aquele povo vivia um intenso pluralismo religioso em meio a diferentes crenças na terra do Egito. Faltava-lhes orientação planto ao Deus dos seus pais, enquanto viam e ouviam o discurso dos egípcios na propagação e culto aos seus deuses. Depois de haverem recebido as leis de Deus pelas mãos de Moisés, o povo tinha de se comprometer com elas: aprendendo-as e praticando-as. O capítulo seis de Deuteronomio ilustra muito bem esse fato (DO 6.1-9).

Do Antigo Testamento, extraímos grandes lições do poder de Deus na vida dos patriarcas e dos profetas; extraímos :também palavras de consolo no Livro dos Salmos; além disso, buscamos revelações — chamadas de sombras — nas tipologias do sacrifício e do culto, que saltam aos olhos no Novo testamento.


1.1.1 Para os hebreus ou para a Igreja?

 Como justificamos a inspiração literal das Escrituras se colocamos dois pesos e duas medidas para cada uma das partes, que as compõem, Paulo disse que tudo quanto dantes foi escrito, para o nosso ensino foi escrito (Rm 15.4 ).

 A Primeira Aliança tem como base a estória de Israel desde a sua formação (Gn 12); a Nova Aliança foca Jesus, o /e.° encarnado, bem como o nascimento e desenvolvimento Ia Igreja (jo 1.14). Contudo, é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamentos se completam, sendo Cristo o centro de toda Escritura e o ápice da revelação de Deus aos homens (Hb 1.1-3).

1.2.                  O ambiente criado por Deus para a entrega da Lei


Os hebreus já haviam experimentado sinais extraordinários da presença de Deus entre eles, desde que saíram do ,Egito; porém, logo no início da viagem, o Senhor expressou a Moisés o desejo de se revelar de modo peculiar ao Seu povo. O Senhor marcou um encontro com os hebreus defronte ao monte Sinai. Para esse encontro, que ocorreria três dias depois do anúncio, os hebreus deveriam estar devidamente preparados, bem corno seguir algumas normas de segurança: todos deveriam banhar-se, usar roupas limpas, manter abstinência sexual e guardar distância do monte (Êx 19.10-12,15).

No instante em que a glória de Deus manifestou-se, o monte tremeu e eclodiram relampagos e trovões. O barulho era ensurdecedor, fazendo assustar o povo, a ponto de muitos pedirem a Moisés que falasse com eles e não o Senhor (Éx 19.16-20; Hb 12.18-21).

Foi em um ambiente como esse — em que homens e mulheres presenciaram uma pequena faísca da glória divina a ponto de ficarem aterrorizados — que Moisés recebeu as tábuas da Lei, contendo os Dez Mandamentos (Éx 32; 34).

1.3. A implementação da Lei

Os Dez Mandamentos são um resumo da aliança estabelecida entre Deus e o Seu povo. O Decálogo expressa princípios óbvios para a consciência humana, principalmente no que tange às normas para um bom convívio social. Não matar, não furtar, não cobiçar a mulher do próximo, não dar falso testemunho e não cobiçar a propriedade alheia são atitudes de importância incontestável; mas, por que razão o Senhor as valorizou tanto e as escreveu em tábuas de pedra — com o Seu próprio dedo — quando, segundo Paulo, elas já estavam escritas no coração dos homens (Rm 2.14,15).

De que adianta os homens terem a Lei na consciência e transgredi-la constantemente, Ao menos, estando escritas, elas fazem parte de uni conjunto de princípios inalteráveis que, a .0 próprio tempo, servirão de acusação dos pecados praticados perante o Senhor, responsável último por julgar o transgressor.

O papel da Lei é servir de aferidor. A Lei serve para dizer o que não se deve fazer e o que se deve fazer. Ela expressa, em resumo, a vontade divina.

1.3.               A divisão da Lei

 A Lei Mosaica divide-se em três categorias: morais , civis e cerimoniais.

 • Nas leis cerimoniais, estão estabelecidas as exigências para o culto realizado no tabernáculo e, posteriormente, no templo (Êx 25; 28; 35) — vale ressaltar, no entanto, que, desde que Jesus veio à Terra e derramou o seu sangue na cruz, o véu do templo se rasgou de alto e alto a baixo (Mt 27.51) e os sacrifícios de animais foram interrompidos, ou seja, todos esses símbolos eram sombras de uma revelação muito superior, Cristo (Hb 9.1-10.18). Nessa mesma categoria está incluída a guarda do sábado (Êx 20.8-12).
• As leis civis falam da relação do indivíduo com a nação.
• As leis morais da relação do indivíduo com Deus — adorar somente a Deus (Êx 20.2,3) — e com o próximo — não matar, furtar o adulterar, por exemplo (Éx 20.13-15).


2.         A IMPORTÂNCIA DA LEI

 Se a Lei foi dada por Deus, por intermédio de Moisés, ao povo hebreu, e se estamos na era da graça, qual é a importância da Lei para nós, hoje? Devemos observá-la e aplicá-la do mesmo modo que o povo da antiga aliança?

Como discípulos de Jesus, precisamos submeter tudo a. ensinos e obra do Salvador (jo 7.17). Além disso, cada aliança (Lei e Graça) precisa ser compreendida a partir dos se. Contextos e propósitos específicos. Lembremo-nos de que o Filho de Deus resumiu toda Lei em dois mandamentos, a saber: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22.34-40).

2.1. A Lei e a Igreja

 Uma vez que J.. cumpriu integralmente a Lei (Mt 5.17) — principalmente a do sacrifício que Ele fez por nós, isentando-nos de praticá-lo —, esta foi aliviada, mas ela não perdeu a sua função. Se não houvesse Lei, não haveria iniquidade, porque faltaria um aferidor que declarasse o que é e o que não é pecado: (...) onde não há lei também não há transgressão (Rm 4.15; 5.13; 7.7,8). Todavia há uma Lei , e Paulo afirma que ela é santa; e o mandamento, santo, Justo e bom (Rm 07.12).

A Lei insiste na primeira declaração de Deus sobre a relação entre o pecado e a morte: certamente morrerás (Gn 2.17). A transgressão (quebra da Lei) resulta em morte. A Lei, portanto, serve não apenas para anunciar que determinado pecado foi cometido, mas também para adjetivá-lo: Logo, tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno (Rm 7.13).


3.          DEZ MANDAMENTOS

Há algumas perguntas cabíveis sobre a validade do decálogo divino. Os Dez Mandamentos são válidos para a Igreja, ou foram destinados somente à nação de Israel, para a qual o Senhor também entregou todas as leis mosaicas? Há alguma relevância em memorizarmos os Dez Mandamentos sem, no entanto, cairmos em uma prática judaica que nos obrigaria a guardar também o sábado? A resposta pode ser simples e objetiva, se compreendermos que os mandamentos do Senhor são de maior proveito e têm melhor significado prático quando a prioridade está na manutenção da vida e na preservação da existência. Contudo, toda cautela será necessária, se a religiosidade e os legalismos infrutíferos tiverem primazia (Tg 1.26,27).

                                                   3.1. A ética da Lei

Como Igreja que somos, devemos ter absoluta clareza em relação aos beneficios e, ao mesmo tempo, às restrições impostas pela Lei. A Lei não salva ninguém: E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé (G13.11). A mais clara distinção entre Israel e a Igreja está no modo como cada um se apresenta diante do Altíssimo: aqueles, pelas obras da Lei; a Igreja, pela fé, confiando nos benefícios da graça (Rm 4.4,5).

 Contudo, pelos motivos já expostos, devemos dar à Lei a devida importância no que concerne à vontade de Deus nas nossas atitudes em relação a Ele mesmo e ao próximo, de acordo com o decálogo divino. O Decálogo tem uma função ética, conforme estudaremos doravante.


3.1.                  1.  O papel da ética

A ética — no grego ethos (costume, disposição, hábito) e no latim moris (vontade, costume, uso, regra) — tem como finalidade: levar o homem a buscar a prática correta do bem e se afastar do que é mal para a vida e para a sobrevivência (1 Pe 3.11). Ligada diretamente à ética, está a deontologia (obrigação, dever). A ética deontológica mostra ao homem o que ele deve cumprir.


3.1.                2.  A ética objetiva e a ética subjetiva

A diferença entre ética objetiva e ética subjetiva está no seguinte fato: a ética objetiva é uma norma apresentada por um ente superior a qual deve ser seguida por todos para que se alcance um bem comum; já a ética subjetiva é uma norma criada pelo indivíduo, segundo os seus próprios critérios de valor. Na prática, a ética objetiva submete-se ao que "Deus diz", enquanto a ética subjetiva parte do que "eu acho".
Deus não poderia deixar por conta dos homens esse poder de escolha, uma vez que o homem está morto em se. delitos e pecados e é guiado pelo espírito que opera nos filhos da desobediência (Ef 2.1-3). Diz o profeta Jeremias: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá (Jr 17.9)?


3.2.                      A validade eterna dos princípios legais

Os Dez Mandamentos condensam as principais exigências do Senhor para os homens; este resumo geral das leis divinas pretende fazer com que o ser humano não escolha fazer apenas a sua vontade, desconsiderando o que pode ou não agradar Aquele que o criou.

No mundo atual, a ética tem sido relativizada. A sociedade pós-moderna tem evocado para si direitos e liberdades que não correspondem à vontade revelada de Deus. Foi por essa razão que o Senhor nos deixou um referencial absoluto, escrito em tábuas de pedra; ao olharmos para essas tábuas sempre seremos confrontados por elas, pois essas leis são perenes (Mt 5.18,19).

A era da Graça não é um tempo sem Lei, muito pelo contrário, o Sermão da Montanha (Mt 5-7), por exemplo, contém princípios divinos norteadores para os seguidores de Jesus e para todo aquele que deseja ser reconciliado com o Criador (Jo 6.68).

CONCLUSÃO

É de fundamental importância entender que, para o Antigo Testamento, toda a conduta era controlada pela letra da lei, não pela consciência; e o homem estava mais preocupado com as suas atitudes perante o Senhor do que perante os homens.

No Novo Testamento, no entanto, o apóstolo Paulo afirma que o fim do mandamento é a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida (1 1, 1.5).

 ATIVIDADES PARA FIXAÇÃO
1. Além das tábuas de pedra, onde mais De. colocou as suas leis?
R.: No coração do homem.

2. Em quais categorias as le. se dividem?
R.: Morais, civis e cerimoniais.

3. Segundo o Novo Testamento, a Lei pode salvar?
R. Não.

 4. O Decálogo é válido para a Igreja?
R.Sim.

Lições da Palavra de Deus - nº 62 - 2º Trimestre de 2020 - Tema: O decálogo - A ética do sinai - Central Gospel

FONTE : 



               Êxodo 20 — Comentário de Matthew Henry


Êxodo 20
Versículos 1, 2: O prefácio dos dez mandamentos; 3-11: Os mandamentos da primeira tábua; 12-17: Os mandamentos da segunda tábua; 18-21: O terror do povo; 22-26: A idolatria é novamente proibida.

Vv. 1,2. Deus fala de muitas maneiras aos filhos dos homens; pela consciência, por providências, por sua voz, a todas as quais devemos atender cuidadosamente; porém, nunca falou, em momento algum, como na ocasião em que deu os Dez Mandamentos. Deus já dera esta lei ao homem anteriormente, escrita em seu coração; porém, o pecado a desfigurou tanto que foi necessário relembrar o conhecimento dela. A lei é espiritual, e toma conhecimento dos pensamentos, desejos e disposições secretas do coração. A sua grande exigência é o amor, sem o qual a obediência exterior é pura hipocrisia. Requer a obediência perfeita, infalível, constante; nenhuma lei do mundo admite a desobediência. Qualquer que guardar toda a lei, porém transgredir em um só ponto, faz-se culpado de todos (Tg 2.10). Omitir ou variar algo no coração ou na conduta, em pensamento, palavra ou obra, é pecado; e a recompensa do pecado é a morte.

Vv. 3-11. Os primeiros quatro dos Dez Mandamentos, frequentemente chamados de "A Primeira Tábua", falam de nosso dever para com Deus. Era adequado que estes mandamentos fossem colocados primeiramente porque o homem tem um criador para reverenciar, antes mesmo de ter um "próximo" para amar. Não se pode esperar que aquele que é falso para com o seu Deus seja veraz para com o seu irmão.

O primeiro mandamento refere-se ao objeto de adoração, Jeová, e somente a Ele. Aqui se proíbe a adoração a criaturas; porém, o mandamento vai muito mais além. Aqui se prole amar, desejar, deleitar-se ou esperar algo que tenha natureza pecaminosa.

Transgride este mandamento tudo aquilo que não seja amor, gratidão, reverência ou a adoração perfeita. "Tudo o que fizerdes, fazei-o para a glória de Deus".

O segundo mandamento refere-se à adoração que devemos render ao nosso Deus. Proíbe-se fazer imagens ou retratos da divindade em qualquer forma, ou para qualquer que seja o propósito; proíbe-se o ato de adorar a qualquer criatura, imagem ou quadro; porém, o alcance espiritual deste mandamento vai muito mais além. Aqui se prole todo tipo de superstição e o emprego de invenções puramente humanas para a adoração a Deus.

O terceiro mandamento refere-se à maneira de adorar, que seja com toda a reverência e seriedade possível. Os votos falsos são proibidos. Toda alusão leviana a Deus e toda maldição profana é uma horrível transgressão deste mandamento. Não importa se palavras com ou sem sentido são utilizadas. Todo gracejo profano com a Palavra de Deus ou com as coisas sagradas e todas as coisas semelhantes violam este mandamento, e não há proveito, honra nem prazer nelas. O Senhor não terá como inocente aqueles que tomam o seu nome em vão.

A forma do quarto mandamento, "lembra-te", demonstra que aqui não é a primeira vez que se dá esta ordenação, mas que esta já era dantes conhecida pelo povo. Um dia em cada sete deveria ser santificado. Durante seis dias dedicar-se-iam aos assuntos mundanos; porém, não como para descuidarem-se do serviço a Deus e do cuidado de suas almas. Nestes dias, deveriam fazer todo o seu trabalho, sem deixar algo por fazer no dia de repouso, Cristo permitiu os trabalhos inevitáveis e as obras de caridade e piedade, pois o dia de repouso foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do dia de repouso (Mc 2.27). Porém, para Israel foram proibidos todos os trabalhos supérfluos, vaidosos, ou para agradar a si mesmos, de qualquer forma, comerciar, pagar salários, acertar contas, escrever cartas de negócios, estudos seculares visitas supérfluas, viagens ou conversações levianas não guardavam para o Senhor este dia como "santo". A preguiça e a indolência podem ser um repouso carnal; porém, não santo.

O dia de repouso para o Senhor deveria ser um período de descanso do trabalho secular, para repousar no serviço de Deus. As vantagens da devida observância deste dia santo, ainda que visassem somente a saúde e a felicidade da humanidade, mais o tempo que outorga para o cuidado da alma, mostram a excelência deste mandamento. O dia é abençoado; os homens são abençoados por ele e nele. A bênção e a ordem de guardá-lo como santo não se limitam a um "sétimo" dia, mas referem-se a um dia "de repouso".

Vv. 12-17. As leis da "segunda Tábua", isto é, os últimos seis dos dez mandamentos, afirmam o nosso dever de uns para com os outros, e explicam o grande mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lc 10.27). A santidade e a honestidade devem caminhar juntas.

O quinto mandamento refere-se aos deveres para com os nossos parentes. O mandamento: "Honra a teu pai e a tua mãe" inclui estimá-los, o que se demonstra em nossa conduta, e na obediência aos seus legítimos mandamentos: ir quando nos chamarem, aonde nos enviarem, fazer o que nos for solicitado, refrearmo-nos daquilo que nos proibirem; e isto, como filhos, deve ser feito alegremente, a partir de um princípio de amor. Além do mais, a submissão aos seus conselhos e correções. Esforçar-se em tudo para dar conforto aos pais e facilitar-lhes a velhice; mantê-los, se necessitarem o sustento, é algo que o nosso salvador faz com que esteja particularmente compreendido neste mandamento (Mt 15.4-6). Os diligentes observadores têm notado uma bênção peculiar em coisas temporais para os filhos obedientes, e o inverso para os filhos desobedientes.

O sexto mandamento requer que consideremos a vida e a segurança dos demais, assim como temos consideração por nossa própria. Os magistrados, seus oficiais e as testemunhas que dão testemunho da verdade, não infringiam este mandamento. A defesa própria é legítima; porém, muito do que a lei dos homens não considera como homicídio, o é diante de Deus. As paixões furiosas suscitadas pela ira ou pela embriaguez não são desculpa; muito mais culpável é o assassinato nos duelos, que são o horrível efeito de um soberbo espírito vingativo. Toda luta, seja por salário, por renome, ou por ira e maldade, viola este mandamento, e o derramamento de sangue resultante é homicídio. Podemos incluir nesta lista aqueles que levam os homens ao vício e aos delitos que encurtam a vida. A má conduta, como a que pode agredir o sentimento que está no coração dos pais, esposas ou de outros parentes, ou encurtar-lhes a vida, é uma transgressão deste mandamento. Prole toda a inveja, maldade, ódio ou ira, toda a linguagem provocadora ou que insulte. Aqui proíbe-se a destruição de nossa própria vida. Este mandamento requer um espírito de bondade, paciência e perdão.

O sétimo mandamento refere-se à castidade. Devemos temer tanto o que contamina o corpo, como o que o destrói. O que tende a contaminar a imaginação ou a despertar paixões, permanece sob esta lei, como é o caso das fotos obscenas, livros ou conversações impuras, ou qualquer outra maneira afim.

O oitavo mandamento é a lei do amor quanto ao respeito pela propriedade alheia. A porção de coisas deste mundo que nos são designadas, desde que obtidas honestamente, são o pão que Deus nos tem dado; por ele devemos estar agradecidos, contentes e, pelo uso de meios legítimos, confiar na providência para o futuro. Aproveitar-se da ignorância, do conforto ou da necessidade do próximo e muitas outras coisas, infringem a lei de Deus, mesmo que a sociedade não veja culpa nisto. Os saqueadores de reinos, ainda que estejam acima da justiça humana, ficam incluídos nesta sentença. Defraudar o público, contrair dívidas sem pensar em pagá-las ou evadir o pagamento das dívidas justas, a extravagância, viver da caridade quando não é necessário e toda a opressão dos pobres em seus salários; estas e outras coisas infringem este mandamento, que exige o trabalho, a sobriedade e o contentamento, além de tratar os demais como gostaríamos que eles nos tratassem quanto ao património deste mundo.

O nono mandamento preocupa-se com o bom nome; o nosso e o do próximo. Proíbe falar falsamente sobre qualquer assunto, mentir, e planejar ou pretender enganar de qualquer forma o nosso semelhante. Falar injustamente contra o nosso próximo, ou danificar a sua reputação. Dar falso testemunho contra ele ou, na conversação cotidiana, caluniar, murmurar e andar com intrigas; procurar evasivas em relação ao que já foi feito, exagerar e pretender de qualquer forma melhorar a nossa reputação, a fim de degradar a fama do próximo. Quantas vezes pessoas de todas as classes infringiram este mandamento diariamente!

O décimo mandamento golpeia a raiz: "Não cobiçarás". Os outros mandamentos proíbem todo o desejo de "fazer" o que será danoso para o nosso próximo; este mandamento proíbe todo o desejo ilícito de "ter" o que produza prazer para nós.

Vv. 18-21. Esta lei, tão extensa que não podemos medi-la, tão espiritual que não podemos escapar dela, e tão razoável que não podemos encontrar nela defeitos, será a regra do futuro juízo de Deus, como é a norma para a conduta presente do homem. se formos julgados por esta regra, descobriremos que a nossa vida tem sido vivida em transgressões. com esta santa lei e um espantoso juízo que nos aguarda, quem pode desprezar o Evangelho de Cristo? O conhecimento da lei mostra a necessidade do arrependimento. O pecado tem sido deposto de seu trono e crucificado no coração de cada crente, e tem sido escrito nele a lei de Deus, e a imagem de Deus tem se renovado. O Espírito Santo nos capacita a odiar o pecado, fugir dele, amar e obedecer esta lei com sinceridade e verdade, mediante o nosso real arrependimento.

Vv. 22-26. Deus falou a Moisés a respeito de tudo o que segue daqui até o final do cap. 23, e que é, em sua maior parte, uma exposição dos dez mandamentos. As leis contidas nestes versículos relacionam-se com a adoração a Deus. Os israelitas recebem a garantia da bondosa aceitação de suas devoções por parte de Deus. Sob o Evangelho, convida-se os homens a orar em todo lugar, e onde quer que o povo de Deus se reúna em seu nome para adorá-lo, Ele está no meio deles; permanecerá com eles e os abençoará.
                                                               Matthew Henry


                Interpretação de Êxodo 20



Êxodo 20
Os Dez Mandamentos. 20:1-20.
Êxodo 20: 2,3A Lei não foi dada como meio de salvação. Foi dada a um povo já salvo (19:4; 20:2) a fim de instruí-lo na vontade do Senhor, para que pudesse realizar o propósito de Deus como “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (19:6). A revelação foi dada “não para dar, mas para orientar a vida” (Patrick Fairbaim, The Typology of Scripture, pág. 274).
A divisão da Lei em Moral, Social ou Civil e Cerimonial ou Religiosa, é enganosa embora seja conveniente. A Lei é uma, e toda a Lei é espiritual, quer trate de colheitas, criminosos ou adoração. O comentário de Calvino examina todas as subseqüentes leis sob um ou outro dos Dez Mandamentos. Isto é altamente justificado e uma excelente ilustração da unidade e do espírito da Lei. “O que se chama de lei cerimonial, portanto, era no seu aspecto mais imediato e primário uma exibição por meio de rituais simbólicos e instituições da justiça prescritas no Decálogo, e uma disciplina através da qual o coração deveria ser forjado de conformidade com a própria justiça” (Fairbaim, Typology, II, 157).
O Decálogo, ou as Dez Palavras (Dt. 4:13) foi diretamente transmitido a todo Israel por uma voz audível e terrível, a voz de Jeová, soando como uma trombeta sobre a multidão (Êx. 19:16; 20:18). Aterrorizados com a experiência, o povo implorou que Deus não lhe falasse mais diretamente, mas através de Moisés. O restante da Lei, então, foi dado a Moisés como mediador, mas o ponto central da Lei já tinha sido transmitido. Os Mandamentos foram repetidos, com pequenas mas irrelevantes variações em Dt. 5:6-18. Isto fornece aos críticos material para um argumento quanto à idade relativa e à autenticidade dos dois registros. Fez-se também uma tentativa de se descobrir um “decálogo ritual” em Êxodo 34, mas não tem sido muito aceita. Embora alguns neguem que Moisés tivesse algo a ver com os Mandamentos ou que eles fossem conhecidos por Davi, Elias ou mesmo Jeremias, muitos mestres da atualidade têm aceito a declaração bíblica e crido que os Mandamentos retrocedem aos dias de Moisés.
Há diferentes maneiras de dividirmos os Mandamentos. As Igrejas Luterana e Católico Romana seguem Agostinho em fazer dos versos 2-6 o primeiro mandamento, e então dividindo o versículo 17, sobre a cobiça, em dois. O Judaísmo moderno faz do versículo 2 o primeiro mandamento e dos versículos 3-6 o segundo. A mais antiga divisão, que remonta aos dias de Josefo, no primeiro século AD., toma 20:3 como sendo o primeiro mandamento e 20:4-6 o segundo. Esta divisão foi unanimemente aceita pela igreja primitiva e continua sendo hoje mantida pelas igrejas Ortodoxa Oriental e Protestantes.
2. É importante observar que a base para os mandamentos divinos e o fundamento para as obrigações do povo era o fato de Jeová ser o seu Senhor e Deus que o redimiu. Estas injunções são dadas a um povo salvo para lhe ensinar como andar nos caminhos de Deus, mas notamos que “quase todos os mandamentos são expressos na forma negativa da proibição, porque pressupõe a existência do pecado e maus desejos no coração humano” (KD).
3. O Primeiro Mandamento. Isto é mais do que uma simples proclamação de monoteísmo. Proíbe a adoração ou a veneração de qualquer outra coisa além de Deus, em pensamento, palavra ou ato, “para que em tudo tenha a preeminência” (Cl. 1:18).
4-6. O Segundo Mandamento. Proíbe a criação e o uso de imagens esculpidas como objeto de adoração. Mas, de maneira mais essencial, é um lembrete de que Deus é Espírito, que não deve ser concebido à imagem do homem ou de qualquer outra criatura. Visito a iniqüidade (v. 5). Os resultados do pecado, vê-se que afetam de três a quatro gerações, mas a misericórdia de Deus estende-se a milhares. “Ele não diz que será fiel ou justo para com os guardadores de Sua lei, mas misericordioso” (Calvino). Aqueles que me amam (v. 6). “A fonte e origem da verdadeira justiça está expressa, pois a eterna guarda da lei não teria valor se não fluísse delas” (Calvino).
7. O Terceiro Mandamento. Proíbe o uso do nome de Deus “a serviço da incredulidade e mentira” (KD). Consubstanciar nossa falsidade apelando para Deus, provoca juízo certo. Aqui também se pode descobrir o poder moral para a injunção feita aos cristãos, “que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef. 4:1, isto é, não tomar o nome de Cristo em vão.
“O Primeiro Mandamento resguarda então a unidade de Deus, o segundo a Sua espiritualidade, e o terceiro Sua divindade ou essência. No primeiro somos proibidos de fazer que Deus seja um entre muitos quando Ele é o Único; no segundo de O igualarmos a uma imagem corruptível, quando Ele é o Espírito incorruptível; no terceiro de identificá-Lo de qualquer modo com a criatura, quando Ele é o Criador” (James Murphy, Commentary on Exodus, in loc. ).
8-11. O Quarto Mandamento. A palavra sábado significa, não descanso ou repouso, mas interrupção do trabalho. Aqui se apresenta objetivamente a razão do sábado, pelo fato de Deus ter cessado a obra da criação no sétimo dia. Subjetivamente, em Dt. 5:14,15, há uma razão apresentada no fato do homem precisar de descanso. Também os israelitas foram lembrados de que Deus os redimiu da escravidão do Egito para desfrutarem do seu repouso. A guarda do sétimo dia da semana como sendo o sábado não foi revogada no N.T., mas o sábado da Nova Criação é mais naturalmente celebrado no dia quando Cristo, tendo terminado Sua obra consumada, levantou-se dos mortos. A igreja apostólica celebrava ambos, o primeiro e o sétimo dias, mas logo interromperam o velho costume hebreu.
12. O Quinto Mandamento. Este mandamento faz uma divisão entre os mandamentos que tratam do relacionamento do homem com Deus e aqueles que o relacionam com o seu próximo. Um homem está obrigado a honrar seus pais como honra a Deus, e a assumir para com eles as mesmas responsabilidades que tem para com os seus próximos. Para que se prolonguem os teus dias. Isto pode ser entendido como referindo-se tanto à estada de Israel na terra prometida, quanto à vida do indivíduo. Não só em Israel, mas em todas as nações e vidas individuais, a destruição do lar marca o começo do fim.
13. O Sexto Mandamento. Defende a santidade da vida humana e proíbe o homicídio por qualquer motivo. Mas este mandamento tem sido erroneamente citado contra a pena capital administrada pelo estado. Tirar a vida judicialmente como castigo por crime está autorizado em Êxodo 21, como também em Romanos 13. Por outro lado, poucas vezes se enfatiza que este mandamento se aplica a qualquer coisa que degrade o homem e o prive da vida rica e plena que é da vontade de Deus que ele desfrute.
14. O Sétimo Mandamento. Embora se dirija especificamente à manutenção da pureza e santidade do casamento, também foi aplicado por Jesus a toda imoralidade sexual de pensamento e ato (Mt. 5:27, 28).
15. O Oitavo Mandamento. Os direitos da propriedade privada devem ser respeitados.
16. O Nono Mandamento. “Além da mentira ser proibida, também as provas falsas e infundadas em geral” (KD).
17. O Décimo Mandamento. A cobiça é “o desejo desordenado de uma coisa que não possuímos” (G.A. Chadwick, Exodus in Expository Bible). “O mais íntimo de todos os mandamentos, proibindo não um ato externo, mas um estado mental escondido, isto é, um estado que é a raiz de quase todo o pecado contra o vizinho” (Cambridge Bible). É basicamente o pecado de Adão e Eva, de desejar aquilo que não era da vontade de Deus que tivessem.
20. O seu temor esteja diante de vós. Evitem o pecado reverenciando-o constantemente (Moffatt).
3) A Constituição da Aliança. 20:21 - 23:33.
As ordenanças logo a seguir transmitidas a Moisés e através dele ao povo tratam de 1) a adoração em geral (20:22-26); mais ou menos extensamente de 2) relações sociais e direitos humanos (21:1 – 23:13); e finalmente de 3) o relacionamento do povo com Jeová (23:14-33).
Antigamente alguns críticos acharam base nestas leis para datarem esta seção de muito tempo após a época de Moisés. Desde a descoberta de um número de códigos legais muito anteriores ao mosaico – como, por exemplo, o Babilônico, o Assírio, o Hitita, e o Sumeriano – a prática agora é determinar a “dependência” do código hebraico para com aqueles mais antigos. Povos que viveram mais ou menos na mesma época e sob culturas semelhantes exigiriam legislação dentro das mesmas linhas, é óbvio, mas isto não constitui uma dependência. “Estas leis não são todas novas, mas costumes combinados aprovados, já estabelecidos, com legislação nova, própria para a ocasião... ; a prudência também se mostra na adaptação da legislação não tanto à presente situação nômade como ao futuro estabelecimento em Canaã” (Catholic Commentary). O espírito da lei mosaica se encontra nos Dez Mandamentos. Além dessa gente à qual as leis foram dirigidas ser diferente das nações à sua volta, as suposições implícitas nas leis também eram radicalmente diferentes.
a) Forma Geral de Adoração. 20:22-26.
Aqui se enfatiza a ordem (vs. 22, 23) de que o Deus, cuja presença foi manifestada a todo Israel, não deveria ser comparado a nenhuma imagem produzida pela invenção do homem. Nenhuma estrutura requintada deveria assinalar o acesso de Israel a Jeová, mas um simples altar de terra ou pedra comum, não trabalhada (vs. 24-26). Este preceito não discorda de instruções posteriores relativas ao altar de bronze (27:1-9), mas trata de uma situação particular. Altares não deveriam ser levantados por toda parte, mas onde “Eu motivar a lembrança do meu nome” (RSV). Em tais lugares um altar simples deveria ser levantado, não um santuário enfeitado. A aplicação prática da ordem se encontra em muitos lugares na história posterior (Jz. 6:25, 26; Js. 8:30; 1 Reis 18:30-32). Degrau (v. 26). Roupas flutuantes se levantariam com o erguer dos pés e o corpo seria conseqüentemente exibido. Outros regulamentos tratam do serviço sacerdotal em altares maiores (28: 42).

                            FONTE : https://bibliotecabiblica.blogspot.com


                              Êxodo 20 3 | Blog do Seu Alipio


                                  Os Dez Mandamentos

                                     para os dias de hoje


No livro Th e Day America Told the Truth (O Dia em que os Estados Unidos Disseram a Verdade), James Patterson e Peter Kim estabeleceram a lei para os tempos pós-modernos. Observaram que hoje não há “absolutamente nenhum consenso moral de forma alguma. [...] Todo
mundo está fazendo seus próprios códigos morais pessoais, ou seja, os seus próprios Dez Mandamentos”. Em seguida, Patterson e Kim fizeram uma lista do que eles chamaram de os “dez verdadeiros mandamentos”, as regras pelas quais, de acordo com a pesquisa que fizeram as pessoas realmente vivem. Essas regras são as seguintes:
—Não vejo razão para observar o sábado.
—Vou roubar de quem não vai fazer falta.
—Vou mentir quando me convém, contanto que não cause nenhum
dano real.
—Vou trair meu cônjuge; afinal, tendo oportunidade, ele fará o mesmo.
—Vou retardar meu trabalho ao máximo e não fazer absolutamente
nada um dia inteiro em cada cinco.1

Estes novos mandamentos estão fundamentados no relativismo moral,
a crença de que somos livres para fazer nossas próprias regras com base
em nossas preferências pessoais. A lei não diz respeito a algo que venha de Deus, mas a algo que propomos por conta própria. E nossas leis conflitam com as Leis de Deus. Não é de admirar que o que Patterson e Kim chamam de os “dez verdadeiros mandamentos” violem as Leis que Deus deu a Moisés: Lembrar-se do sábado, fazer todo o trabalho em seis dias, não adulterar, não roubar, não dar falso testemunho e assim por diante. Nós nos tornamos a Lei para nós mesmos.


Alguém pensaria que a situação é um pouco melhor na igreja. Claro
que o povo de Deus honra o padrão permanente e objetivo da Lei de Deus! Todavia, a igreja está cheia de adoradores que sequer conhecem os Dez Mandamentos, sem falar em observá-los. Este problema foi documentado em um relatório recente feito pelo Centro de Pesquisas de Religião de Princeton. O título era: “A Religião Está Ganhando Terreno, mas a Moralidade Está Perdendo Terreno”. O relatório mostrou que o recente aumento na frequência à igreja e leitura da Bíblia está sendo contrabalançado por um declínio simultâneo na moralidade2


Como é possível? Como podem as pessoas estarem mais interessadas em Deus e, ao mesmo tempo, menos dispostas a fazer o que Ele diz? A única explicação é que as pessoas não conhecem o Deus da Bíblia, porque se conhecessem, reconheceriam a autoridade absoluta da Lei. O respeito a Deus sempre requer o respeito à Lei. E sempre que as pessoas têm pouca consideração pela Lei de Deus, como acontece na cultura dos dias de hoje, é porque, em última análise, têm pouca consideração por Deus.

O Senhor, seu Deus

Se a Lei vem de Deus, então o melhor lugar para começarmos a entendê-la é com o próprio Deus. É precisamente onde o livro de Êxodo começa sua apresentação dos Dez Mandamentos, também conhecido por decálogo, que significa “dez palavras”: “Então, falou Deus todas estas palavras, dizendo” (Êx 20.1).

Para termos um senso de quem Deus é, lembremos o cenário. Deus estava falando com os israelitas que estavam reunidos ao sopé do monte
Sinai. Êxodo 19 descreveu que Deus desceu sobre o monte com grande poder e glória, com trovões, relâmpagos, fogo e fumaça. Os israelitas foram proibidos de chegar mais perto, sob pena de serem mortos. Tinham entrado na presença do Deus maravilhoso e Todo-Poderoso, que vive na santidade inacessível. Obviamente, seja o que for que semelhante Deus tenha a dizer exige nossa mais completa e cuidadosa atenção. O que recebemos do monte Sinai não foi apenas a Lei de Moisés, mas a Lei de Deus, falada na revelação da sua glória. Como mais tarde escreveu Isaías: “O Senhor se agradava dele por amor da sua justiça; engrandeceu-o pela lei e o fez glorioso” (Is 42.21).


Embora Deus revelasse sua glória no fogo e fumaça sobre o monte, fez uma revelação mais completa de sua divindade quando começou a falar.
Ele disse: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2). Este versículo é chamado de prólogo ou prefácio dos Dez Mandamentos. Nele Deus defende sua autoridade como legislador. O que dá a Ele o direito de dizer às pessoas o que fazer? Nas palavras do Catecismo Menor de Westminster: “O prefácio dos Dez Mandamentos ensina-nos que temos a obrigação de guardar todos os mandamentos de Deus, por ser Ele o Senhor nosso Deus e Redentor” (Resposta 44).


Deus é o Senhor. Aqui, Ele usa seu nome especial da aliança Jeová.
Ele é o grande EU SOU, o Senhor soberano e Todo-Poderoso. Ele é o
Deus supremo, autoexistente, eterno e imutável, que se comprometeu com Abraão, Isaque e Jacó por meio da promessa inquebrável de sua aliança.
Ele é o nosso Deus particular. “Eu sou o Senhor, teu Deus”, diz Ele (grifo meu). Um tanto quanto surpreendentemente, Ele usa a segunda pessoa do singular, indicando que tem um relacionamento pessoal com cada um do seu povo.3

Esse relacionamento pessoal também é uma relação salvadora, pois Deus diz na continuação do versículo:“Que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2b). Este foi um resumo de tudo o que tinha acontecido até agora no Êxodo. Deus estava lembrando os israelitas que Ele não somente era seu Senhor e seu Deus, mas também seu Redentor.
E foi sobre esta base que a Lei foi estabelecida. Era privilégio exclusivo de
Israel receber a Lei diretamente de Deus.


O que Deus disse a Israel é essencialmente a mesma coisa que Ele diz a todo crente em Cristo: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei do Egito do teu pecado, da tua servidão a Satanás”. Por intermédio da obra de salvação de Jesus Cristo, crucificado e ressurreto, Deus é o nosso soberano Senhor e particular Salvador. Por isso, Ele tem o direito de reivindicar autoridade legal sobre nós. A Lei vem de Deus, que é nosso Salvador e nosso Senhor.

Deus e sua lei


Se a Lei vem de Deus, então deve refletir seu caráter divino. Isso é verdade no que tange a regras e regulamentos em geral, pois eles revelam algo sobre o legislador. Para dar apenas um exemplo, considere as extensas regulamentações federais americanas que regem o acesso de deficientes físicos aos edifícios públicos. O que essas leis nos dizem sobre a sociedade que as fez? Dizem-nos que os americanos querem incluir as pessoas com deficiência física nos eventos comuns da vida pública.

A lei sempre revela o caráter do legislador. Isso foi especialmente verdadeiro no monte Sinai, onde cada um dos Dez Mandamentos foi estampado com o ser e os atributos do Deus Todo-Poderoso. Então, o que cada Lei nos diz sobre o Deus que a deu?


O primeiro mandamento é: “Não terás outros deuses diante de mim”
(Êx 20.3). Está claro que o Deus que deu este mandamento é zeloso; Ele não compartilha sua glória com nenhum outro Deus. E com razão, porque Ele é o único Deus verdadeiro. Todos os outros são impostores. O primeiro mandamento anuncia a soberania exclusiva do Deus que é o único que pode dizer: “Eu sou o Senhor, e não há outro” (Is 45.18b). Indica também sua onipresença, porque Ele nos diz para não termos outros deuses “diante dEle”, o que significa “em sua presença” (este ponto é desenvolvido no Capítulo 4).


O segundo mandamento é: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Êx 20.4). Este mandamento fala sobre adorar o Deus certo da maneira certa. Deus se recusa a ser adorado por meio de imagens. Isso mostra que Ele é espírito, que não tem forma física. A menção dos céus e da terra também mostra que Ele é o Criador.

Um problema com os ídolos é que eles confundem o Criador com a criação. O mandamento também fala sobre a misericórdia e a justiça de Deus:

“Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êx 20.5,6). O Deus que deu a Lei é o Deus que faz distinções morais absolutas. Pune os pecadores ao mesmo tempo em que mostra seu amor de geração a geração do povo que Ele escolheu salvar.

O terceiro mandamento fala sobre honrar o nome de Deus: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20.7). A ameaça ligada a este mandamento mostra que Deus quer ser obedecido. Quem viola sua
Lei é culpado. O mandamento em si mostra que Deus é honrado e que, portanto, merece ser tratado com respeito. Até o seu nome é santo.


O quarto mandamento é: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus” (Êx 20.8-10a). Este mandamento mostra que Deus é soberano sobre todos os acontecimentos da vida diária. Ele é Senhor em todos os dias da semana. Também faz uma conexão explícita entre o que é ordenado e quem o ordena, entre Deus e a Lei: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou” (Êx 20.11). Recebemos a ordem de trabalhar e descansar, porque servimos um Deus que trabalha e descansa.
Os quatro primeiros mandamentos governam nosso relacionamento
com Deus; os seis últimos dizem respeito a nossos relacionamentos uns com os outros. Mas mesmo estes mandamentos fundamentam-se em vários atributos divinos.

O quinto mandamento fala sobre respeitar a autoridade: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Êx 20.12). O que está por trás deste mandamento é a própria autoridade de Deus como nosso Pai. Este também é o primeiro mandamento com promessa, a promessa de longa vida em uma terra boa, o que mostra como Deus é generoso em cuidar do seu povo.
O sexto mandamento é: “Não matarás” (Êx 20.13). Este nos lembra que
Deus é o Senhor e doador da vida. Ele proíbe matar a vida inocente, porque Ele é um Deus que dá vida. Este mandamento preserva a soberania divina sobre o fim da vida. Ele é o Senhor sobre a morte, bem como sobre a vida.


O sétimo mandamento é um que todo mundo sabe: “Não adulterarás”
(Êx 20.14). O que este nos diz sobre Deus? Diz-nos que Ele é um Deus de
 pureza e fidelidade, um Deus que espera que a aliança seja guardada. Diz- nos também que é um Deus de alegria, porque este mandamento preserva o sexo para a sociedade do casamento.


O oitavo mandamento é: “Não furtarás” (Êx 20.15). O Deus que deu este mandamento é nosso Criador e Provedor. Guardá-lo é reconhecer que, em última análise, tudo pertence a Ele, e que, assim sendo, não temos o direito de tomar o que Ele deu para outra pessoa.


O nono mandamento é dizer a verdade: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16). Este mandamento vem do Deus da verdade, que é correto em tudo o que Ele é, diz e faz. Como diz a Escritura:
“A Força de Israel não mente” (1 Sm 15.29a).


O décimo mandamento fala sobre contentamento: “Não cobiçarás”
(Êx 20.17a). Cobiça é o desejo de possuir o que Deus não nos deu. Como o oitavo mandamento, guardar este mandamento exige fé na providência de Deus. Ele nos ordena a não cobiçar, porque podemos confiar que Ele nos dará tudo de que realmente precisamos. Ele é nosso Provedor.

Há mais outro atributo divino revelado pelos Dez Mandamentos como um todo; trata-se do atributo do amor. Quando Jesus resumiu a Lei de Deus, disse: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-39; cf. Dt 6.5; Lv 19.18; Rm 13.9). Em outras palavras, os Dez Mandamentos podem ser reduzidos a dois mandamentos: amar a Deus e amar o próximo. Sendo assim, todos os mandamentos falam do amor. Amamos a Deus, adorando-o e usando seu nome apropriadamente. Amamos nossos pais, honrando-os. Amamos nosso cônjuge, sendo-lhe fiel. Amamos nosso próximo, protegendo-lhe a vida, respeitando-lhe a propriedade e dizendo-lhe a verdade. O Deus que deu esses mandamentos é um Deus de amor, deseja que o amemos e compartilhemos seu amor com os outros. Como Jesus disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama” (Jo 14.21a; cf. 1Jo 5.3a). Se isso for verdade, então não podemos separar a Lei de Deus do amor de Deus.


Para resumir, os Dez Mandamentos mostram o caráter de Deus. Revelam sua soberania, zelo, justiça, santidade, honra, fidelidade, providência, veracidade e amor.


Quando vemos como Deus se revela tão abertamente na Lei, torna-se óbvio que Ele não poderia ter nos dado outros mandamentos além dos que nos deu. Os Dez Mandamentos expressam a vontade dEle para nossa vida, porque estão baseados no seu caráter. Isso ajuda a responder um dilema antigo, esposado por Platão em um de seus famosos diálogos: Deus ordena a Lei porque ela é boa, ou é a Lei boa porque Deus a ordena?4 A resposta é: ambos! A lei com toda sua bondade emana da bondade do caráter de Deus. A Lei é boa, porque Deus é bom e sua bondade penetra todos os aspectos da Lei.


Nunca há de passar

O fato de a Lei de Deus expressar o caráter dEle tem muitas implicações. Uma é que quando quebramos a Lei, estamos fazendo um ataque direto ao próprio Deus. Adorar outro deus é negar a soberania de Deus; usar indevidamente seu nome é negar sua honra; roubar é negar sua providência; mentir é negar sua veracidade; e assim por diante. Cada violação da Lei é um atentado contra o caráter santo de Deus.


Outra implicação da relação entre nosso Senhor e a Lei é que a Lei
é perpetuamente obrigatória, pois ela permanece em vigor para todas as pessoas em todos os lugares e em todos os tempos. Soberania, justiça, fidelidade, veracidade, amor são atributos eternos de Deus. Ele teria de deixar de ser Deus para colocá-los de lado. Há de se concluir, por conseguinte, que a Lei que expressa seus atributos eternos tem validade eterna.


Isso talvez explique por que Deus escreveu os Dez Mandamentos em pedra, escrevendo-os com o próprio dedo (Êx 31.18; 32.16). A. W. Pink comenta:

Sua singularidade aparece primeiramente nesta revelação de Deus no monte Sinai, a qual tinha de servir para todas as gerações vindouras como a grandiosa expressão da santidade divina e o somatório do direitos humanos, foi acompanhada com fenômenos inspiradores de tamanha magnitude que a própria forma da publicação mostrou claramente que o próprio Deus atribuiu ao decálogo importância peculiar. Os Dez Mandamentos foram proferidos por Deus em voz audível, com os temíveis adjuntos de nuvens, trevas, trovões e relâmpagos e o som de uma buzina, e foram as únicas partes da revelação divina por assim dizer; nenhum dos preceitos cerimoniais ou civis foram distinguidos desta forma. Essas palavras, e só elas, foram escritas pelo dedo de Deus em tábuas de pedra, e só elas foram depositadas na santa arca para salvaguarda. Sendo assim, na única honra conferida ao decálogo em si percebemos sua importância primordial no governo divino.5

Os Dez Mandamentos foram escritos em pedra, porque permanece-
riam em vigor enquanto o tempo durasse. Quando seria permissível adorar outro deus, abusar do nome de Deus, mentir, matar ou roubar? Nunca, porque essas coisas são contrárias à própria natureza de Deus.


Uma maneira de provar que a Lei é eterna é mostrar que estava em vigor antes mesmo de Deus escrevê-la. Êxodo 20 descreve “a entrega da lei”. No entanto, essas Leis já tinham sido entregues! Os mandamentos que Deus deu a Moisés no monte Sinai não eram novos. Na verdade, eram tão antigos quanto a raça humana. Sabemos disso pelas histórias da Bíblia, nas quais Deus repreendeu e puniu as pessoas por quebrar essas exatas Leis.


Estes são exemplos claros de quebra de mandamentos no Êxodo. As dez pragas que Deus visitou em Faraó foram uma punição direta pela idolatria do Egito, que violou o primeiro e o segundo mandamentos (Nm 33.4). O próprio êxodo pessoal de Moisés foi ocasionado por ter violado o sexto mandamento (Êx 2.11-15). Na sarça ardente, Deus ensinou o profeta a honrar o nome divino (Êx 3.1-15), muito de acordo com o terceiro mandamento.

Deus revelou o princípio do sábado exarado no quarto mandamento, dando maná em seis de sete dias, e quem não seguisse as instruções apropriadas sofreria por sua desobediência (Êx 16). Em vários pontos o Êxodo pressupunha a existência da Lei de Deus, mesmo antes de os israelitas chegarem ao monte Sinai.

Encontramos o mesmo princípio em ação no livro de Gênesis, que contém muitas histórias sobre pessoas quebrando a Lei de Deus. Cam, filho de Noé, foi amaldiçoado por desonrar seu pai (Gn 9.18-28). Caim foi condenado por assassinato (Gn 4.10-12), os sodomitas por adultério
(Gn 19.24,25), Raquel por furto (Gn 31.19-32), Abraão por mentira (Gn
20.1-18) e a mulher de Ló por cobiça (Gn 19.1-38). Deus sempre lidara com as pessoas baseando-se na sua Lei. Certos mandamentos foram revelados às pessoas, e se não foram escritos em algum lugar, foram escritos nas tábuas do seu coração (ver Rm 2.14,15).

A Lei moral de Deus se reporta ao jardim do Éden, onde (além de outros mandamentos ligados à sexualidade, descanso e trabalho), Deus disse a Adão e Eva para que não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal. Os teólogos discutem se nossos primeiros pais também não conheceriam algum dos Dez Mandamentos. A Bíblia não diz nada. Mas se

Deus revelou ou não algum de seus mandamentos específicos, Adão e Eva foram regidos por seus princípios básicos: amor a Deus e amor um pelo outro. Eram obrigados a honrar um ao outro, preservar a vida e dizer a verdade — o tipo de conduta que mais tarde foi ordenado no monte Sinai.
E em seu primeiro pecado, Adão e Eva conseguiram violar quase todos os
Dez Mandamentos básicos de Deus. Tomar o fruto proibido foi um furto, estimulado por um desejo cobiçoso, com base em uma mentira sobre o caráter de Deus. Comê-lo foi uma maneira de ter outro Deus. Foi também equivalente ao assassinato, porque levou à morte de toda a raça humana.

Desde o início, nossos primeiros pais estavam ligados aos princípios básicos do que os teólogos chamam de “a lei da criação” ou “a lei da natureza”.

Para resumir, a Lei de Deus estava em vigor em várias maneiras muito antes de os israelitas chegarem ao monte Sinai. O que eram, então, os Dez Mandamentos? Pense neles como uma nova cópia. Eram uma republica-
ção, em forma resumida, da vontade de Deus para a humanidade. Como
Peter Enns comenta: “A‘entrega’ da Lei no Sinai não foi a primeira vez que Israel ouviu as Leis de Deus, mas foi a codificação e a promulgação explícita dessas Leis.”6 Isto faz todo o sentido quando lembramos que os Dez Mandamentos expressam o caráter de Deus, que não muda.


A lei de Cristo


Ainda devemos guardar a Lei hoje? Esta é uma pergunta vital. Os Dez
Mandamentos têm alguma relevância permanente para os cristãos e a cultura de nossos dias? Assim que entendamos a relação entre nosso Senhor e a Lei, a pergunta fica fácil de responder. Sim, ainda devemos guardar a Lei de Deus hoje! Seu padrão não mudou, mais do que o caráter divino mudou. Como disse Ted Koppel da Rede de Televisão ABC no seu agora famoso discurso na Universidade de Duke: “O que Moisés trouxe quando desceu do monte Sinai não foram dez sugestões... são mandamentos. São não foram.”7

Há pessoas que negam que a Lei de Deus ainda está em vigor hoje. Obviamente, essa negação é feita por muitos não cristãos, que agem como lei para si mesmos. Porém até mesmo muitas pessoas na igreja prestam pouca atenção à Lei de Deus. Em parte, isso se deve à ilegalidade da atual cultura, mas também vem da forma como os cristãos leem a Bíblia. Afinal, o Novo Testamento faz uma série de declarações que parecem anular a Lei do Antigo Testamento. Por exemplo, de acordo com João, “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17). Da mesma forma, o apóstolo Paulo escreveu: “Não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm 6.14), e: “Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio [da lei]” (Gl 3.25; cf. 5.18). Essas e declarações semelhantes parecem sugerir que a Lei de Deus foi substituída. Por outro lado, o Novo Testamento também parece proclamar que a Lei permanece em vigor. Afirma que estamos “debaixo da lei de Cristo” (1Co 9.21), por exemplo, ou mesmo que “é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da Lei” (Lc 16.17).

Este não é o lugar para fazer uma exposição completa de tudo o que a
Bíblia diz sobre a Lei de Deus. Mas é de importância vital entender que uma razão pela qual o Novo Testamento fala sobre a Lei de várias maneiras diferentes é porque existem vários tipos diferentes de lei. Aqui temos de, pelo menos, fazer uma distinção entre três tipos: a moral, a civil e a cerimonial. Estas foram dadas no Antigo Testamento, às vezes intercaladas. Mas para dar sentido à Lei e, por fim, ao Evangelho, devem ser cuidadosamente distinguidas, confor me as virmos pela lente clara da pessoa e obra de Jesus Cristo. “É de extrema importância”, escreve Ernest Reisinger, “discernirmos as diferenças entre a lei cerimonial, que pertencia ao culto de Israel e prefigurava Cristo; as leis civis ou judiciais, que detalhavam os deveres para Israel como nação (tendo suas raízes
na lei moral, sobretudo na segunda tábua); e a lei moral, pela qual o Criador governa a conduta moral de todas as criaturas para todos os tempos.”8
A lei moral está resumida nos Dez Mandamentos. É o padrão justo e eterno para a nossa relação com Deus e com as pessoas. A lei civil é composta por leis que regiam Israel como nação sob Deus. Nelas havia orientações para entrar em guerra, restrições ao uso da terra, regulamentos para a dívida e penas por violações específicas do código legal de Israel.

A lei cerimonial consiste em regulamentos para celebrar festas religiosas
(por exemplo, Êx 23.14-19) e para adorar Deus no santuário (por exemplo, Êx 25—30). Incluía as leis relativas aos alimentos limpos e imundos, instruções para a pureza ritual, orientações para a conduta dos sacerdotes e, especialmente, instruções para oferecer sacrifícios, ou seja, todo o sistema sacrificial ver em Levítico. Deus ofereceu regulamentações detalhadas que abrangia especificidades como quem deveria cortar a garganta do animal, e como e o
que era para ser feito com o sangue.

A lei cerimonial não está mais em vigor; foi revogada. É porque todos os seus regulamentos apontavam para Jesus Cristo. A respeito das cerimônias do Antigo Testamento, a Bíblia diz “que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Cl 2.17; cf. Hb 10.1). Isso é mais obviamente verdadeiro no que tange aos sacrifícios. Agora que Cristo se ofereceu como a expiação definitiva, não há mais necessidade de outros sacrifícios. Continuar seguindo as antigas cerimônias seria negar a suficiência da obra de Cristo na cruz. Um dos erros da perspectiva teológica conhecida por dispensacionalismo é imaginar que as antigas cerimônias e sacrifícios serão reintegrados em Israel.9 Mas o sistema sacrificial foi substituído por Cristo, e apenas duas cerimônias ainda estão em vigor: o sacramento do batismo e da Ceia do Senhor, os quais rememoram a sua cruz.


A lei civil também expirou, mas por um motivo um pouco diferente:
A igreja não é um Estado. Temos um rei (ou seja, Cristo), mas seu reino é espiritual. Portanto, embora as leis civis do Antigo Testamento contenham princípios que são úteis para governar as nações hoje, o povo de Deus já não está sujeito às suas regulamentações específicas. O erro básico da perspectiva teológica conhecida por teonomia (ou “reconstrução cristã”) é imaginar que as leis civis da época de Moisés ainda devam ser impostas às nações de hoje.
É o que algumas pessoas querem dizer quando falam sobre a restauração de uma “América cristã”. Mas como Calvino reconheceu esta abordagem à política é “perigosa e subversiva”, porque como a lei cerimonial, a lei civil foi suplantada por Cristo10. Hoje o povo de Deus é regido pela disciplina da igreja, a qual está baseada na lei moral e tem consequências espirituais e não civis.


A distinção entre esses três tipos de lei — a moral, a civil e a cerimonial — nos ajuda a entender o que o Novo Testamento ensina sobre a Lei de Deus. A lei cerimonial e a civil eram tipos e figuras que apontavam para frente, para a cruz e o reino de Cristo. Agora que Ele veio, essas leis foram deixadas à parte, razão pela qual o Novo Testamento parece tão desdenhoso da Lei. Como vimos, as que hoje estão em vigor são os sacramentos e a disciplina da igreja, que ecoam a lei cerimonial e a lei civil, respectivamente.


O Novo Testamento também rejeita a ideia de que podemos ser justificados por guardar a Lei. É neste sentido especial que não estamos mais “debaixo da lei” (Rm 6.14; Gl 5.18). Nossa salvação não depende de nossa capacidade de guardar a Lei. Como aprenderemos no próximo capítulo, somos incapazes de guardá-la e, portanto, não podemos ser declarados justos por ela (Rm 3.20). Mas tendo em vista que nossa inclinação natural é pensar que podemos ser salvos por nossa obediência, a Bíblia condena toda e qualquer tentativa de usar a guarda da Lei de Deus como maneira de nos justificar.


O que o Novo Testamento nunca faz é declarar o fim da lei moral de
Deus como padrão para nossa vida. Ainda é, nas palavras da Confissão de Fé de Westminster, “uma perfeita regra de justiça” (19.2), ou como Calvino denominou, a “verdadeira e eterna regra de justiça.”11 Da mesma forma, Ernest Reisinger descreve a lei moral como “o eterno padrão de conduta moral correta — um padrão de justiça fixo e objetivo.”12 Isso faz sentido quando recordamos a estreita relação que há entre a lei moral e o caráter do Senhor que a deu. A lei moral é tão eterna quanto Deus.


O caráter de Deus também é o caráter de seu Filho Jesus Cristo. A Bíblia ensina que Jesus é o resplendor da glória de Deus e a expressa imagem da
sua pessoa (Hb 1.3a). Ele é um e o mesmo como o Deus que revelou a Lei a Moisés; a Lei exprime o caráter do Filho assim como do Pai. Portanto, querer e separar o Deus que deu a Lei do Deus que mostra sua graça no Evangelho seria praticamente dividir a Trindade. O Filho é tão soberano, zeloso, vivificador, fiel, verdadeiro e amoroso quanto o Pai se revelou ser nos Dez Mandamentos. Dada a estreita relação entre Deus e a Lei e entre o Pai e o Filho, não é de estranhar que Jesus nos advertisse: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” (Mt 5.17,18). Claramente, Jesus estava falando sobre a lei moral, pelo menos em parte, porque na continuação Ele disse: “Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus” (Mt 5.19). A Lei de Moisés não é unicamente a Lei de Deus; é também a Lei de Cristo.

A maneira certa de viver


Nosso foco no restante deste livro estará na lei moral de Deus. Uma maneira de provar que ainda devemos guardar esta Lei é mostrar que, de uma forma ou de outra, todos os Dez Mandamentos originais são repetidos no Novo Testamento, quer por Jesus mesmo ou no ensino dos apóstolos.


Quando o Novo Testamento lista os pecados que levam à condenação, ou os atos de obediência que são agradáveis a Deus, segue o esboço dos Dez Mandamentos (por exemplo, Mt 15.19; 19.17-19; Rm 7.8-10; 1 Co
6.9,10; 1 Tm 1.9-11; Ap 21.8). Entretanto os mandamentos também são tratados individualmente. O primeiro mandamento fala para não termos outros deuses. Jesus fez essencialmente a mesma afirmação sobre si mesmo: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6; cf. At 4.12). O segundo mandamento proíbe a idolatria. João disse: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21). O terceiro mandamento estipula que honremos o nome de Deus, que é exatamente o que Jesus nos ensinou a orar: “Santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). O quarto mandamento diz respeito ao trabalho e descanso. Como crentes em Jesus Cristo, seja o que for que façamos, deve ser feito de todo o coração (Cl 3.23). Lemos também que Jesus é Senhor do sábado (Mt 12.8), e que “resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).
Os quatro primeiros mandamentos dizem respeito a amar a Deus, mas e quanto a amar o próximo? O quinto mandamento nos compele a honrar nossos pais. Este mandamento é repetido pelo apóstolo Paulo: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe” (Ef 6.1,2a). Em seguida, sem qualquer alteração ao sexto mandamento, Jesus esclareceu o verdadeiro propósito espiritual, quando disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás [...]. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo” (Mt 5.21,22a). Jesus fez a mesma coisa com o sétimo mandamento: “Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mt 5.28). Quanto ao oitavo mandamento, o Novo Testamento diz: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe” (Ef 4.28a). E no que se refere ao nono mandamento, a Escritura diz: “Não mintais uns aos outros” (Cl 3.9a). Por fim, o décimo mandamento proíbe a cobiça, que o apóstolo Tiago condena, dizendo: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3).

Ainda devemos guardar a Lei hoje? Claro que devemos! Como a Bíblia demonstra do começo ao fim, os Dez Mandamentos nos mostram a maneira certa de viver. Estão fundamentados na justiça de Deus, o que explica por que mesmo o Novo Testamento tem tantas coisas positivas a dizer sobre a Lei de Deus. “Anulamos, pois, a lei pela fé?”, pergunta o apóstolo Paulo. “De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei” (Rm 3.31).

Mais adiante, ele prossegue dizendo que o mandamento é “santo, justo e bom” (Rm 7.12) e insiste que ele não está “sem lei para com Deus”, mas permanece “debaixo da lei de Cristo” (1 Co 9.21). 

Já falamos bastante sobre a Lei. Mas e quanto ao Evangelho? Procuraremos dar uma resposta mais completa a esta pergunta nos próximos  capítulos. Mas a resposta é basicamente esta: É a quebra da Lei que nos faz ver a necessidade do Evangelho. Quanto mais claramente vemos o que a Lei de Deus requer, mais óbvio se torna que não conseguimos guardar os mandamentos, que é a razão exata de precisarmos do Evangelho. Não podemos ser salvos guardando a Lei, porque não conseguimos guardá-la.

Mas Jesus a guardou! Ele guardou toda a Lei em nosso beneficio. Inteiramente. Mais do que isso, em sua morte na cruz, Ele sofreu a punição que merecemos por não guardarmos a Lei de Deus. Agora todos os que creem em Jesus Cristo serão salvos por Ele ter guardado a Lei e por ter sofrido sua maldição. Como crentes em Jesus Cristo, ainda precisamos guardar a Lei de Deus?
Precisamos. A lei moral expressa a vontade perfeita e justa de Deus para nossa vida. Jesus, então, nos ordena que a guardemos, não como maneira de ficarmos bem com Deus, mas como forma de agradarmos a Deus, que nos corrigiu com Ele.

Os Dez Mandamentos para os dias de hoje
- Philip Graham Ryken




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