TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Êxodo 20.1-4, 7-10, 12-17
1-
Então, falou Deus todas estas palavras, dizendo:
2 - Eu sou o SENHOR, Teu Deus, que te dei
da terra do Egito, da casa da servidão.
3 - Não terás outros deuses diante de
mim.
4- Não farás para ti imagem de escultura, nem
alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas
águas debaixo da term.
7- Não tomarás o nome do SENHOR, , teu
Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em
vão.
8- Lembra-te do dia do sábado, para o
santificar
9- Seis dias trabalharás e farás toda a
tua obra,
10 - mas o sétimo dia é o sábado do
SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua
filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu
estrangeiro que está dentro das tuas portas.
12 – Honra a teu pai e tua mãe que se
prolonguem os teus dias na
13 - Não matarás.
14 - Não adulterarás.
15 - Não furtarás.
16 - Não dirás falso testemunho contra o
teu próximo.
17 - Não cobiçarás a casa do teu próximo; não
cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu
boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.
TEXTO ÁUREO
Ora, o fim do
mandamento é o
amor de um coração
puro, e de uma boa
consciência, e de uma
fé não fingida.
Timóteo 1.5
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2. feira - Romanos 2.12-16
A justiça de Deus
3. feira - 2 Timóteo 4.1
Virá tempo em que não
sofrerão a sâ doutrina
4. feira - Eclesiastes
12.10-14
Teme a Deus e guarda os seus
mandamentos
5. feira - Romanos 15.1-6
Para nosso ensino foi escrito
6. feira - Hebreus 7.18,11-19
A Lei nenhuma coisa
aperfeiçoou
Sábado - Gaiatas 3.6-14
Pela Lei, ninguém será
justificado
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser
capaz de,
• compreender que os Dez Mandamentos foram
entregues, em primeiro lugar, para Israel;
• entender que os Dez Mandamentos são uma
referência para dar ciência ao homem do que é pecado;
• concluir que a ética dos Dez Mandamentos traz valores
imutáveis, segundo o pensamento de Deus.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro professor, a Escola Dominical é um dos
instrumentos utilizados por Deus para manter, mudar e fazer crescer a Sua
Igreja. Manter os princípios doutrinários, que devem ser imutáveis; mudar o
caráter e o modo de agir de seus alunos, confrontando-os com a Palavra de Deus,
e visar à formação de novos discípulos segundo o modelo divino; coibir os
elementos e ingredientes que impedem o crescimento da Igreja,
proporcionando-lhe um ambiente saudável. Portanto, a EBD pode ser usada por
Deus para produzir mudanças necessárias no meio sociocultural, na população em
geral e dentro da própria igreja (Revista Educação Cristã Hoje, r, 1. Central
Gospel, 2012, p. 26).
Boa aula!
COMENTÁRIO
Palavra Introdutória
Todo indivíduo nascido em um
lar estruturado tem a noção básica de uma vida correta; isso, em si, já seria
um bom ponto de partida, porque a Lei foi posta no coração do ser feito à
imagem e semelhança de Deus (Rm 2.14,15). Mas, o Soberano Senhor conhece as
limitações do ente humano e sabe que não lhe seria possível andar de modo
independente; além disso, Suas exigências transcendem ao que se pode abrigar no
coração. Era previsto, portanto, que o homem, um dia, criaria para si novos valores
éticos (2 Tm 4.3,4).
1 1 .
AS LEIS DE DEUS
Todo grupo social, do macro ao microcosmo, da nação
ao lar, precisa de normas para que se estabeleçam o equilíbrio e o limite nas
relações. No interregno da sua caminhada
do Egito para Canaã, os hebreus foram formados por Deus como nação e, por essa
razão, precisariam de uma constituição que os norteasse. Assim, Deus entregou a
Moisés as leis que regeriam aquele povo. Foram 613 mandamentos (mitzvot), sendo
248 positivos (m)tzvot assê = faça) e 365 negativos (mitzvot ló taassê = não
faça).
Os judeus
veem nesses números uma didática divina, na qual o número 248 corresponderia
aos principais membros do corpo humano, e o número 365 corresponderia ao número
de dias do ano.
Dos 613 mandamentos, os Dez Mandamentos,
conhecidos pelos hebreus como as Dez Palavras — e mais tarde, na Septuaginta (LXX),
uma tradução do Antigo Testamento do texto original hebraico para o grego,
feita por 72 escribas na Alexandria, no Egito, entre os anos 284-247 a.C.,
chamada de Decálogo —, constituem um resumo didático da ética de
conduta, chamados por Deus de sabedoria para os hebreus (Dt 4.6).
1.1.
Os destinatários da Lei
A história do Antigo Testamento
é baseada nas leis mosaicas, ou seja, o pano de fundo veterotestamentário é a
nação israelita sendo regida, guiada e instruída pela Lei: os profetas,
por exemplo, reivindicavam obediência às leis e proclamavam juízos contra a
nação toda vez que ela transgredia os mandamentos da lei divina (Os 4.6; 11.7,
Mq 6). Não se pode enxergar o Antigo Testamento senão sob a ótica da
Lei, ainda que ele esteja aquém e além dela.
Deus destinou as leis ao povo da antiga
aliança, os hebreus. Aquele povo vivia um intenso pluralismo religioso em meio
a diferentes crenças na terra do Egito. Faltava-lhes orientação planto ao Deus
dos seus pais, enquanto viam e ouviam o discurso dos egípcios na propagação e
culto aos seus deuses. Depois de haverem recebido as leis de Deus pelas mãos de
Moisés, o povo tinha de se comprometer com elas: aprendendo-as e praticando-as.
O
capítulo seis de Deuteronomio ilustra muito bem esse fato (DO 6.1-9).
Do Antigo Testamento, extraímos grandes lições do
poder de Deus na vida dos patriarcas e dos profetas; extraímos :também palavras
de consolo no Livro dos Salmos; além disso, buscamos revelações — chamadas de
sombras — nas tipologias do sacrifício e do culto, que saltam aos olhos no Novo
testamento.
1.1.1 Para os hebreus ou para a Igreja?
Como justificamos a inspiração literal das
Escrituras se colocamos dois pesos e duas medidas para cada uma das partes, que
as compõem, Paulo disse que tudo quanto dantes foi escrito, para o nosso ensino
foi escrito (Rm 15.4 ).
A Primeira Aliança tem como base a estória de
Israel desde a sua formação (Gn 12); a Nova Aliança foca Jesus, o /e.°
encarnado, bem como o nascimento e desenvolvimento Ia Igreja (jo 1.14).
Contudo, é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamentos se completam,
sendo Cristo o centro de toda Escritura e o ápice da revelação de Deus aos homens
(Hb 1.1-3).
1.2. O ambiente criado por Deus para a entrega da Lei
Os hebreus já haviam
experimentado sinais extraordinários da presença de Deus entre eles, desde que
saíram do ,Egito; porém, logo no início da viagem, o Senhor expressou a Moisés
o desejo de se revelar de modo peculiar ao Seu povo. O Senhor marcou um encontro
com os hebreus defronte ao monte Sinai. Para esse encontro, que ocorreria três dias depois
do anúncio, os hebreus deveriam estar devidamente preparados, bem corno seguir
algumas normas de segurança: todos deveriam banhar-se, usar roupas limpas,
manter abstinência sexual e guardar distância do monte (Êx 19.10-12,15).
No instante em que a glória
de Deus manifestou-se, o monte tremeu e eclodiram relampagos e trovões. O
barulho era ensurdecedor, fazendo assustar o povo, a ponto de muitos pedirem a
Moisés que falasse com eles e não o Senhor (Éx 19.16-20; Hb 12.18-21).
Foi em um ambiente como esse
— em que
homens e mulheres presenciaram uma pequena faísca da glória divina a ponto de
ficarem aterrorizados — que Moisés recebeu as tábuas da Lei, contendo os
Dez Mandamentos (Éx 32; 34).
1.3. A implementação da Lei
Os Dez Mandamentos são um resumo da aliança
estabelecida entre Deus e o Seu povo. O Decálogo expressa princípios óbvios
para a consciência humana, principalmente no que tange às normas para um bom
convívio social. Não matar, não furtar,
não cobiçar a mulher do próximo, não dar falso testemunho e não cobiçar a
propriedade alheia são atitudes de importância incontestável; mas, por que
razão o Senhor as valorizou tanto e as escreveu em tábuas de pedra — com o Seu
próprio dedo — quando, segundo Paulo, elas já estavam escritas no coração
dos homens (Rm 2.14,15).
De que adianta os homens
terem a Lei na consciência e transgredi-la constantemente, Ao menos, estando
escritas, elas fazem parte de uni conjunto de princípios inalteráveis que, a .0
próprio tempo, servirão de acusação dos pecados praticados perante o Senhor, responsável
último por julgar o transgressor.
O papel da Lei é servir de aferidor. A Lei serve
para dizer o que não se deve fazer e o que se deve fazer. Ela expressa, em
resumo, a vontade divina.
1.3. A divisão da Lei
A Lei Mosaica divide-se em três categorias:
morais , civis e cerimoniais.
• Nas leis cerimoniais, estão estabelecidas as
exigências para o culto realizado no tabernáculo e, posteriormente, no templo
(Êx 25; 28; 35) — vale ressaltar, no entanto, que, desde que Jesus veio à Terra e derramou o
seu sangue na cruz, o véu do templo se rasgou de alto e alto a baixo (Mt 27.51)
e os sacrifícios de animais foram interrompidos, ou seja, todos esses símbolos
eram sombras de uma revelação muito superior, Cristo (Hb 9.1-10.18).
Nessa mesma categoria está incluída a guarda do sábado (Êx 20.8-12).
• As leis civis falam da
relação do indivíduo com a nação.
• As leis morais da relação
do indivíduo com Deus — adorar somente a Deus (Êx 20.2,3) — e com o próximo
— não
matar, furtar o adulterar, por exemplo (Éx 20.13-15).
2.
A IMPORTÂNCIA DA LEI
Se a Lei foi dada por Deus, por intermédio de
Moisés, ao povo hebreu, e se estamos na era da graça, qual é a importância da
Lei para nós, hoje? Devemos observá-la e aplicá-la do mesmo modo que o povo da
antiga aliança?
Como discípulos de Jesus,
precisamos submeter tudo a. ensinos e obra do Salvador (jo 7.17). Além disso,
cada aliança (Lei e Graça) precisa ser compreendida a partir dos se. Contextos
e propósitos específicos. Lembremo-nos de que o Filho de Deus resumiu toda Lei
em dois mandamentos, a saber: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo (Mt 22.34-40).
2.1. A Lei e a Igreja
Uma vez que J.. cumpriu integralmente a Lei
(Mt 5.17) — principalmente a do sacrifício que Ele fez por nós, isentando-nos de
praticá-lo —, esta foi aliviada, mas ela não perdeu a sua função. Se não
houvesse Lei, não haveria iniquidade, porque faltaria um aferidor que declarasse
o que é e o que não é pecado: (...) onde não há lei também não há transgressão
(Rm 4.15; 5.13; 7.7,8). Todavia há uma Lei , e Paulo afirma que ela é santa; e
o mandamento, santo, Justo e bom (Rm 07.12).
A Lei insiste na primeira declaração de Deus sobre
a relação entre o pecado e a morte: certamente morrerás (Gn 2.17). A transgressão
(quebra da Lei) resulta em morte. A Lei, portanto, serve não apenas para
anunciar que determinado pecado foi cometido, mas também para adjetivá-lo:
Logo, tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que se
mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento
o pecado se fizesse excessivamente maligno (Rm 7.13).
3.
DEZ MANDAMENTOS
Há algumas perguntas cabíveis sobre a validade do
decálogo divino. Os Dez Mandamentos são válidos para a Igreja, ou foram
destinados somente à nação de Israel, para a qual o Senhor também entregou
todas as leis mosaicas? Há alguma relevância em memorizarmos os Dez Mandamentos
sem, no entanto, cairmos em uma prática judaica que nos obrigaria a guardar
também o sábado? A resposta pode ser simples e objetiva, se compreendermos que
os mandamentos do Senhor são de maior proveito e têm melhor significado prático
quando a prioridade está na manutenção da vida e na preservação da existência.
Contudo, toda cautela será necessária, se a religiosidade e os legalismos
infrutíferos tiverem primazia (Tg 1.26,27).
3.1. A ética da
Lei
Como Igreja que somos,
devemos ter absoluta clareza em relação aos beneficios e, ao mesmo tempo, às
restrições impostas pela Lei. A Lei não salva ninguém: E é evidente que, pela lei, ninguém
será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé (G13.11). A
mais clara distinção entre Israel e a Igreja está no modo como cada um se
apresenta diante do Altíssimo: aqueles, pelas obras da Lei; a Igreja, pela fé,
confiando nos benefícios da graça (Rm 4.4,5).
Contudo, pelos motivos já expostos, devemos
dar à Lei a devida importância no que concerne à vontade de Deus nas nossas atitudes
em relação a Ele mesmo e ao próximo, de acordo com o decálogo divino. O
Decálogo tem uma função ética, conforme estudaremos doravante.
3.1. 1.
O papel da ética
A ética — no grego
ethos (costume, disposição, hábito) e no latim moris (vontade, costume, uso,
regra) — tem como finalidade: levar o homem a buscar a prática correta
do bem e se afastar do que é mal para a vida e para a sobrevivência (1 Pe
3.11). Ligada diretamente à ética, está a deontologia (obrigação, dever). A
ética deontológica mostra ao homem o que ele deve cumprir.
3.1. 2.
A ética objetiva e a ética subjetiva
A diferença entre ética objetiva e ética subjetiva
está no seguinte fato: a ética objetiva é uma norma apresentada por um ente superior
a qual deve ser seguida por todos para que se alcance um bem comum; já a ética
subjetiva é uma norma criada pelo indivíduo, segundo os seus próprios critérios
de valor. Na prática, a ética objetiva
submete-se ao que "Deus diz", enquanto a ética subjetiva parte do que
"eu acho".
Deus não poderia deixar por
conta dos homens esse poder de escolha, uma vez que o homem está morto em se.
delitos e pecados e é guiado pelo espírito que opera nos filhos da
desobediência (Ef 2.1-3). Diz o profeta Jeremias: Enganoso é o coração, mais do
que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá (Jr 17.9)?
3.2. A validade eterna dos princípios legais
Os Dez Mandamentos condensam as principais
exigências do Senhor para os homens; este resumo geral das leis divinas pretende
fazer com que o ser humano não escolha fazer apenas a sua vontade,
desconsiderando o que pode ou não agradar Aquele que o criou.
No mundo atual, a ética tem
sido relativizada. A sociedade pós-moderna tem evocado para si direitos e
liberdades que não correspondem à vontade revelada de Deus. Foi por essa razão
que o Senhor nos deixou um referencial absoluto, escrito em tábuas de pedra; ao
olharmos para essas tábuas sempre seremos confrontados por elas, pois essas
leis são perenes (Mt 5.18,19).
A era da Graça não é um tempo sem Lei, muito pelo
contrário, o Sermão da Montanha (Mt 5-7), por exemplo, contém princípios
divinos norteadores para os seguidores de Jesus e para todo aquele que deseja
ser reconciliado com o Criador (Jo 6.68).
CONCLUSÃO
É de fundamental importância
entender que, para o Antigo Testamento, toda a conduta era controlada pela
letra da lei, não pela consciência; e o homem estava mais preocupado com as
suas atitudes perante o Senhor do que perante os homens.
No Novo Testamento, no entanto,
o apóstolo Paulo afirma que o fim do mandamento é a caridade de um coração
puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida (1 1, 1.5).
ATIVIDADES PARA FIXAÇÃO
1. Além das tábuas de pedra,
onde mais De. colocou as suas leis?
R.: No coração do homem.
2. Em quais categorias as le.
se dividem?
R.: Morais, civis e cerimoniais.
3. Segundo o Novo Testamento,
a Lei pode salvar?
R. Não.
4. O Decálogo é válido para a Igreja?
R.Sim.
Lições da Palavra de Deus - nº 62 - 2º Trimestre de 2020 - Tema: O decálogo - A ética do sinai - Central Gospel
FONTE :
Êxodo 20 — Comentário de Matthew Henry
Êxodo 20
Versículos 1, 2: O
prefácio dos dez mandamentos; 3-11: Os mandamentos da primeira tábua; 12-17: Os
mandamentos da segunda tábua; 18-21: O terror do povo; 22-26: A idolatria é
novamente proibida.
Vv. 1,2. Deus fala de muitas maneiras aos filhos dos
homens; pela consciência, por providências, por sua voz, a todas as quais
devemos atender cuidadosamente; porém, nunca falou, em momento algum, como na
ocasião em que deu os Dez Mandamentos. Deus já dera esta lei ao homem anteriormente,
escrita em seu coração; porém, o pecado a desfigurou tanto que foi necessário
relembrar o conhecimento dela. A lei é espiritual, e toma conhecimento dos
pensamentos, desejos e disposições secretas do coração. A sua grande exigência
é o amor, sem o qual a obediência exterior é pura hipocrisia. Requer a
obediência perfeita, infalível, constante; nenhuma lei do mundo admite a
desobediência. Qualquer que guardar toda a lei, porém transgredir em um só
ponto, faz-se culpado de todos (Tg 2.10). Omitir ou variar algo no coração ou
na conduta, em pensamento, palavra ou obra, é pecado; e a recompensa do pecado
é a morte.
Vv. 3-11. Os primeiros quatro dos Dez Mandamentos,
frequentemente chamados de "A Primeira Tábua", falam de nosso dever
para com Deus. Era adequado que estes mandamentos fossem colocados
primeiramente porque o homem tem um criador para reverenciar, antes mesmo de
ter um "próximo" para amar. Não se pode esperar que aquele que é
falso para com o seu Deus seja veraz para com o seu irmão.
O primeiro mandamento
refere-se ao objeto de adoração, Jeová, e somente a Ele. Aqui se proíbe a
adoração a criaturas; porém, o mandamento vai muito mais além. Aqui se prole
amar, desejar, deleitar-se ou esperar algo que tenha natureza pecaminosa.
Transgride este mandamento
tudo aquilo que não seja amor, gratidão, reverência ou a adoração perfeita.
"Tudo o que fizerdes, fazei-o para a glória de Deus".
O segundo mandamento
refere-se à adoração que devemos render ao nosso Deus. Proíbe-se fazer imagens
ou retratos da divindade em qualquer forma, ou para qualquer que seja o
propósito; proíbe-se o ato de adorar a qualquer criatura, imagem ou quadro;
porém, o alcance espiritual deste mandamento vai muito mais além. Aqui se prole
todo tipo de superstição e o emprego de invenções puramente humanas para a
adoração a Deus.
O terceiro mandamento
refere-se à maneira de adorar, que seja com toda a reverência e seriedade
possível. Os votos falsos são proibidos. Toda alusão leviana a Deus e toda
maldição profana é uma horrível transgressão deste mandamento. Não importa se
palavras com ou sem sentido são utilizadas. Todo gracejo profano com a Palavra
de Deus ou com as coisas sagradas e todas as coisas semelhantes violam este
mandamento, e não há proveito, honra nem prazer nelas. O Senhor não terá como
inocente aqueles que tomam o seu nome em vão.
A forma do quarto mandamento,
"lembra-te", demonstra que aqui não é a primeira vez que se dá esta
ordenação, mas que esta já era dantes conhecida pelo povo. Um dia em cada sete
deveria ser santificado. Durante seis dias dedicar-se-iam aos assuntos
mundanos; porém, não como para descuidarem-se do serviço a Deus e do cuidado de
suas almas. Nestes dias, deveriam fazer todo o seu trabalho, sem deixar algo
por fazer no dia de repouso, Cristo permitiu os trabalhos inevitáveis e as
obras de caridade e piedade, pois o dia de repouso foi feito por causa do
homem, e não o homem por causa do dia de repouso (Mc 2.27). Porém, para Israel
foram proibidos todos os trabalhos supérfluos, vaidosos, ou para agradar a si
mesmos, de qualquer forma, comerciar, pagar salários, acertar contas, escrever
cartas de negócios, estudos seculares visitas supérfluas, viagens ou
conversações levianas não guardavam para o Senhor este dia como
"santo". A preguiça e a indolência podem ser um repouso carnal;
porém, não santo.
O dia de repouso para o
Senhor deveria ser um período de descanso do trabalho secular, para repousar no
serviço de Deus. As vantagens da devida observância deste dia santo, ainda que
visassem somente a saúde e a felicidade da humanidade, mais o tempo que outorga
para o cuidado da alma, mostram a excelência deste mandamento. O dia é
abençoado; os homens são abençoados por ele e nele. A bênção e a ordem de
guardá-lo como santo não se limitam a um "sétimo" dia, mas referem-se
a um dia "de repouso".
Vv. 12-17. As leis da "segunda Tábua", isto é, os
últimos seis dos dez mandamentos, afirmam o nosso dever de uns para com os
outros, e explicam o grande mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti
mesmo" (Lc 10.27). A santidade e a honestidade devem caminhar juntas.
O quinto mandamento refere-se
aos deveres para com os nossos parentes. O mandamento: "Honra a teu pai e
a tua mãe" inclui estimá-los, o que se demonstra em nossa conduta, e na
obediência aos seus legítimos mandamentos: ir quando nos chamarem, aonde nos
enviarem, fazer o que nos for solicitado, refrearmo-nos daquilo que nos
proibirem; e isto, como filhos, deve ser feito alegremente, a partir de um
princípio de amor. Além do mais, a submissão aos seus conselhos e correções.
Esforçar-se em tudo para dar conforto aos pais e facilitar-lhes a velhice;
mantê-los, se necessitarem o sustento, é algo que o nosso salvador faz com que
esteja particularmente compreendido neste mandamento (Mt 15.4-6). Os diligentes
observadores têm notado uma bênção peculiar em coisas temporais para os filhos
obedientes, e o inverso para os filhos desobedientes.
O sexto mandamento requer que
consideremos a vida e a segurança dos demais, assim como temos consideração por
nossa própria. Os magistrados, seus oficiais e as testemunhas que dão
testemunho da verdade, não infringiam este mandamento. A defesa própria é
legítima; porém, muito do que a lei dos homens não considera como homicídio, o
é diante de Deus. As paixões furiosas suscitadas pela ira ou pela embriaguez
não são desculpa; muito mais culpável é o assassinato nos duelos, que são o horrível
efeito de um soberbo espírito vingativo. Toda luta, seja por salário, por
renome, ou por ira e maldade, viola este mandamento, e o derramamento de sangue
resultante é homicídio. Podemos incluir nesta lista aqueles que levam os homens
ao vício e aos delitos que encurtam a vida. A má conduta, como a que pode
agredir o sentimento que está no coração dos pais, esposas ou de outros
parentes, ou encurtar-lhes a vida, é uma transgressão deste mandamento. Prole
toda a inveja, maldade, ódio ou ira, toda a linguagem provocadora ou que
insulte. Aqui proíbe-se a destruição de nossa própria vida. Este mandamento
requer um espírito de bondade, paciência e perdão.
O sétimo mandamento refere-se
à castidade. Devemos temer tanto o que contamina o corpo, como o que o destrói.
O que tende a contaminar a imaginação ou a despertar paixões, permanece sob
esta lei, como é o caso das fotos obscenas, livros ou conversações impuras, ou
qualquer outra maneira afim.
O oitavo mandamento é a lei
do amor quanto ao respeito pela propriedade alheia. A porção de coisas deste
mundo que nos são designadas, desde que obtidas honestamente, são o pão que
Deus nos tem dado; por ele devemos estar agradecidos, contentes e, pelo uso de
meios legítimos, confiar na providência para o futuro. Aproveitar-se da
ignorância, do conforto ou da necessidade do próximo e muitas outras coisas,
infringem a lei de Deus, mesmo que a sociedade não veja culpa nisto. Os
saqueadores de reinos, ainda que estejam acima da justiça humana, ficam
incluídos nesta sentença. Defraudar o público, contrair dívidas sem pensar em
pagá-las ou evadir o pagamento das dívidas justas, a extravagância, viver da
caridade quando não é necessário e toda a opressão dos pobres em seus salários;
estas e outras coisas infringem este mandamento, que exige o trabalho, a
sobriedade e o contentamento, além de tratar os demais como gostaríamos que
eles nos tratassem quanto ao património deste mundo.
O nono mandamento preocupa-se
com o bom nome; o nosso e o do próximo. Proíbe falar falsamente sobre qualquer
assunto, mentir, e planejar ou pretender enganar de qualquer forma o nosso
semelhante. Falar injustamente contra o nosso próximo, ou danificar a sua
reputação. Dar falso testemunho contra ele ou, na conversação cotidiana,
caluniar, murmurar e andar com intrigas; procurar evasivas em relação ao que já
foi feito, exagerar e pretender de qualquer forma melhorar a nossa reputação, a
fim de degradar a fama do próximo. Quantas vezes pessoas de todas as classes
infringiram este mandamento diariamente!
O décimo mandamento golpeia a
raiz: "Não cobiçarás". Os outros mandamentos proíbem todo o desejo de
"fazer" o que será danoso para o nosso próximo; este mandamento
proíbe todo o desejo ilícito de "ter" o que produza prazer para nós.
Vv. 18-21. Esta lei, tão extensa que não podemos medi-la, tão
espiritual que não podemos escapar dela, e tão razoável que não podemos
encontrar nela defeitos, será a regra do futuro juízo de Deus, como é a norma
para a conduta presente do homem. se formos julgados por esta regra,
descobriremos que a nossa vida tem sido vivida em transgressões. com esta santa
lei e um espantoso juízo que nos aguarda, quem pode desprezar o Evangelho de
Cristo? O conhecimento da lei mostra a necessidade do arrependimento. O pecado
tem sido deposto de seu trono e crucificado no coração de cada crente, e tem
sido escrito nele a lei de Deus, e a imagem de Deus tem se renovado. O Espírito
Santo nos capacita a odiar o pecado, fugir dele, amar e obedecer esta lei com
sinceridade e verdade, mediante o nosso real arrependimento.
Vv. 22-26. Deus falou a Moisés a respeito de tudo o que segue
daqui até o final do cap. 23, e que é, em sua maior parte, uma exposição dos
dez mandamentos. As leis contidas nestes versículos relacionam-se com a
adoração a Deus. Os israelitas recebem a garantia da bondosa aceitação de suas
devoções por parte de Deus. Sob o Evangelho, convida-se os homens a orar em
todo lugar, e onde quer que o povo de Deus se reúna em seu nome para adorá-lo,
Ele está no meio deles; permanecerá com eles e os abençoará.
Matthew Henry
Interpretação
de Êxodo 20
Êxodo 20
Os Dez Mandamentos. 20:1-20.
A Lei não foi dada como meio de salvação. Foi dada a um povo já salvo
(19:4; 20:2) a fim de instruí-lo na vontade do Senhor, para que pudesse
realizar o propósito de Deus como “um reino de sacerdotes e uma nação santa”
(19:6). A revelação foi dada “não para dar, mas para orientar a vida” (Patrick
Fairbaim, The Typology of Scripture, pág. 274).
A divisão da Lei em Moral, Social ou Civil e Cerimonial ou Religiosa, é
enganosa embora seja conveniente. A Lei é uma, e toda a Lei é espiritual, quer
trate de colheitas, criminosos ou adoração. O comentário de Calvino examina
todas as subseqüentes leis sob um ou outro dos Dez Mandamentos. Isto é
altamente justificado e uma excelente ilustração da unidade e do espírito da
Lei. “O que se chama de lei cerimonial, portanto, era no seu aspecto mais
imediato e primário uma exibição por meio de rituais simbólicos e instituições
da justiça prescritas no Decálogo, e uma disciplina através da qual o coração
deveria ser forjado de conformidade com a própria justiça” (Fairbaim, Typology,
II, 157).
O Decálogo, ou as Dez Palavras (Dt. 4:13) foi
diretamente transmitido a todo Israel por uma voz audível e terrível, a voz de
Jeová, soando como uma trombeta sobre a multidão (Êx. 19:16; 20:18). Aterrorizados
com a experiência, o povo implorou que Deus não lhe falasse mais diretamente,
mas através de Moisés. O restante da Lei, então, foi dado a Moisés como
mediador, mas o ponto central da Lei já tinha sido transmitido. Os Mandamentos
foram repetidos, com pequenas mas irrelevantes variações em Dt. 5:6-18. Isto
fornece aos críticos material para um argumento quanto à idade relativa e à
autenticidade dos dois registros. Fez-se também uma tentativa de se descobrir
um “decálogo ritual” em Êxodo 34, mas não tem sido muito aceita. Embora alguns
neguem que Moisés tivesse algo a ver com os Mandamentos ou que eles fossem
conhecidos por Davi, Elias ou mesmo Jeremias, muitos mestres da atualidade têm
aceito a declaração bíblica e crido que os Mandamentos retrocedem aos dias de
Moisés.
Há diferentes maneiras de dividirmos os Mandamentos. As Igrejas
Luterana e Católico Romana seguem Agostinho em fazer dos versos 2-6 o primeiro
mandamento, e então dividindo o versículo 17, sobre a cobiça, em dois. O
Judaísmo moderno faz do versículo 2 o primeiro mandamento e dos versículos 3-6
o segundo. A mais antiga divisão, que remonta aos dias de Josefo, no primeiro
século AD., toma 20:3 como sendo o primeiro mandamento e 20:4-6 o segundo. Esta
divisão foi unanimemente aceita pela igreja primitiva e continua sendo hoje
mantida pelas igrejas Ortodoxa Oriental e Protestantes.
2. É importante observar que a base para os mandamentos
divinos e o fundamento para as obrigações do povo era o fato de Jeová ser o seu
Senhor e Deus que o redimiu. Estas injunções são dadas a um povo salvo para lhe
ensinar como andar nos caminhos de Deus, mas notamos que “quase todos os
mandamentos são expressos na forma negativa da proibição, porque pressupõe a
existência do pecado e maus desejos no coração humano” (KD).
3. O Primeiro Mandamento. Isto é mais do que uma simples
proclamação de monoteísmo. Proíbe a adoração ou a veneração de qualquer outra
coisa além de Deus, em pensamento, palavra ou ato, “para que em tudo tenha a
preeminência” (Cl. 1:18).
4-6. O Segundo Mandamento. Proíbe a criação e o uso de
imagens esculpidas como objeto de adoração. Mas, de maneira mais essencial, é
um lembrete de que Deus é Espírito, que não deve ser concebido à imagem do
homem ou de qualquer outra criatura. Visito a iniqüidade (v.
5). Os resultados do pecado, vê-se que afetam de três a quatro gerações, mas a
misericórdia de Deus estende-se a milhares. “Ele não diz que será fiel ou justo
para com os guardadores de Sua lei, mas misericordioso” (Calvino). Aqueles
que me amam (v. 6). “A fonte e origem da verdadeira justiça está
expressa, pois a eterna guarda da lei não teria valor se não fluísse delas”
(Calvino).
7. O Terceiro Mandamento. Proíbe o uso do nome de Deus
“a serviço da incredulidade e mentira” (KD). Consubstanciar nossa falsidade
apelando para Deus, provoca juízo certo. Aqui também se pode descobrir o poder
moral para a injunção feita aos cristãos, “que andeis como é digno da vocação
com que fostes chamados” (Ef. 4:1, isto é, não tomar o nome de Cristo em vão.
“O Primeiro Mandamento resguarda então a unidade de Deus, o segundo a
Sua espiritualidade, e o terceiro Sua divindade ou essência. No primeiro somos
proibidos de fazer que Deus seja um entre muitos quando Ele é o Único; no
segundo de O igualarmos a uma imagem corruptível, quando Ele é o Espírito
incorruptível; no terceiro de identificá-Lo de qualquer modo com a criatura,
quando Ele é o Criador” (James Murphy, Commentary on Exodus, in
loc. ).
8-11. O Quarto Mandamento. A palavra sábado significa,
não descanso ou repouso, mas interrupção do trabalho. Aqui se apresenta
objetivamente a razão do sábado, pelo fato de Deus ter cessado a obra da
criação no sétimo dia. Subjetivamente, em Dt. 5:14,15, há uma razão apresentada
no fato do homem precisar de descanso. Também os israelitas foram lembrados de
que Deus os redimiu da escravidão do Egito para desfrutarem do seu repouso. A
guarda do sétimo dia da semana como sendo o sábado não foi revogada no N.T.,
mas o sábado da Nova Criação é mais naturalmente celebrado no dia quando Cristo,
tendo terminado Sua obra consumada, levantou-se dos mortos. A igreja apostólica
celebrava ambos, o primeiro e o sétimo dias, mas logo interromperam o velho
costume hebreu.
12. O Quinto Mandamento. Este mandamento faz uma divisão
entre os mandamentos que tratam do relacionamento do homem com Deus e aqueles
que o relacionam com o seu próximo. Um homem está obrigado a honrar seus pais
como honra a Deus, e a assumir para com eles as mesmas responsabilidades que
tem para com os seus próximos. Para que se prolonguem os teus
dias. Isto pode ser entendido como referindo-se tanto à estada de
Israel na terra prometida, quanto à vida do indivíduo. Não só em Israel, mas em
todas as nações e vidas individuais, a destruição do lar marca o começo do fim.
13. O Sexto Mandamento. Defende a santidade da vida
humana e proíbe o homicídio por qualquer motivo. Mas este mandamento tem sido
erroneamente citado contra a pena capital administrada pelo estado. Tirar a
vida judicialmente como castigo por crime está autorizado em Êxodo 21, como
também em Romanos 13. Por outro lado, poucas vezes se enfatiza que este
mandamento se aplica a qualquer coisa que degrade o homem e o prive da vida
rica e plena que é da vontade de Deus que ele desfrute.
14. O Sétimo Mandamento. Embora se dirija especificamente
à manutenção da pureza e santidade do casamento, também foi aplicado por Jesus
a toda imoralidade sexual de pensamento e ato (Mt. 5:27, 28).
15. O Oitavo Mandamento. Os direitos da propriedade
privada devem ser respeitados.
16. O Nono Mandamento. “Além da mentira ser proibida,
também as provas falsas e infundadas em geral” (KD).
17. O Décimo Mandamento. A cobiça é “o desejo desordenado
de uma coisa que não possuímos” (G.A. Chadwick, Exodus in Expository
Bible). “O mais íntimo de todos os mandamentos, proibindo não um ato
externo, mas um estado mental escondido, isto é, um estado que é a raiz de
quase todo o pecado contra o vizinho” (Cambridge Bible). É basicamente o
pecado de Adão e Eva, de desejar aquilo que não era da vontade de Deus que
tivessem.
20. O seu temor esteja diante de vós. Evitem o pecado
reverenciando-o constantemente (Moffatt).
3) A Constituição da Aliança. 20:21 - 23:33.
As ordenanças logo a seguir transmitidas a Moisés e através dele ao
povo tratam de 1) a adoração em geral (20:22-26); mais ou menos extensamente de
2) relações sociais e direitos humanos (21:1 – 23:13); e finalmente de 3) o
relacionamento do povo com Jeová (23:14-33).
Antigamente alguns críticos acharam base nestas leis para datarem esta
seção de muito tempo após a época de Moisés. Desde a descoberta de um número de
códigos legais muito anteriores ao mosaico – como, por exemplo, o Babilônico, o
Assírio, o Hitita, e o Sumeriano – a prática agora é determinar a “dependência”
do código hebraico para com aqueles mais antigos. Povos que viveram mais ou
menos na mesma época e sob culturas semelhantes exigiriam legislação dentro das
mesmas linhas, é óbvio, mas isto não constitui uma dependência. “Estas leis não
são todas novas, mas costumes combinados aprovados, já estabelecidos, com
legislação nova, própria para a ocasião... ; a prudência também se mostra na
adaptação da legislação não tanto à presente situação nômade como ao futuro
estabelecimento em Canaã” (Catholic Commentary). O espírito da lei
mosaica se encontra nos Dez Mandamentos. Além dessa gente à qual as leis foram
dirigidas ser diferente das nações à sua volta, as suposições implícitas nas
leis também eram radicalmente diferentes.
a) Forma Geral de Adoração. 20:22-26.
Aqui se enfatiza a ordem (vs. 22, 23) de que o Deus, cuja presença foi
manifestada a todo Israel, não deveria ser comparado a nenhuma imagem produzida
pela invenção do homem. Nenhuma estrutura requintada deveria assinalar o acesso
de Israel a Jeová, mas um simples altar de terra ou pedra comum, não trabalhada
(vs. 24-26). Este preceito não discorda de instruções posteriores relativas ao
altar de bronze (27:1-9), mas trata de uma situação particular. Altares não
deveriam ser levantados por toda parte, mas onde “Eu motivar a lembrança do meu
nome” (RSV). Em tais lugares um altar simples deveria ser levantado, não um
santuário enfeitado. A aplicação prática da ordem se encontra em muitos lugares
na história posterior (Jz. 6:25, 26; Js. 8:30; 1 Reis 18:30-32). Degrau (v.
26). Roupas flutuantes se levantariam com o erguer dos pés e o corpo seria
conseqüentemente exibido. Outros regulamentos tratam do serviço sacerdotal em
altares maiores (28: 42).
Os Dez Mandamentos
para os dias de hoje
No livro Th e Day America
Told the Truth (O Dia em que os Estados Unidos Disseram a Verdade), James
Patterson e Peter Kim estabeleceram a lei para os tempos pós-modernos.
Observaram que hoje não há “absolutamente nenhum consenso moral de forma
alguma. [...] Todo
mundo está fazendo seus
próprios códigos morais pessoais, ou seja, os seus próprios Dez Mandamentos”.
Em seguida, Patterson e Kim fizeram uma lista do que eles chamaram de os “dez
verdadeiros mandamentos”, as regras pelas quais, de acordo com a pesquisa que
fizeram as pessoas realmente vivem. Essas regras são as seguintes:
—Não vejo razão para observar
o sábado.
—Vou roubar de quem não vai
fazer falta.
—Vou mentir quando me convém,
contanto que não cause nenhum
dano real.
—Vou trair meu cônjuge; afinal,
tendo oportunidade, ele fará o mesmo.
—Vou retardar meu trabalho ao
máximo e não fazer absolutamente
nada um dia inteiro em cada
cinco.1
Estes novos mandamentos estão
fundamentados no relativismo moral,
a crença de que somos livres
para fazer nossas próprias regras com base
em nossas preferências
pessoais. A lei não diz respeito a algo que venha de Deus, mas a algo que
propomos por conta própria. E nossas leis conflitam com as Leis de Deus. Não é
de admirar que o que Patterson e Kim chamam de os “dez verdadeiros mandamentos”
violem as Leis que Deus deu a Moisés: Lembrar-se do sábado, fazer todo o
trabalho em seis dias, não adulterar, não roubar, não dar falso testemunho e
assim por diante. Nós nos tornamos a Lei para nós mesmos.
Alguém pensaria que a
situação é um pouco melhor na igreja. Claro
que o povo de Deus honra o
padrão permanente e objetivo da Lei de Deus! Todavia, a igreja está cheia de
adoradores que sequer conhecem os Dez Mandamentos, sem falar em observá-los.
Este problema foi documentado em um relatório recente feito pelo Centro de
Pesquisas de Religião de Princeton. O título era: “A Religião Está Ganhando
Terreno, mas a Moralidade Está Perdendo Terreno”. O relatório mostrou que o
recente aumento na frequência à igreja e leitura da Bíblia está sendo
contrabalançado por um declínio simultâneo na moralidade2
Como é possível? Como podem
as pessoas estarem mais interessadas em Deus e, ao mesmo tempo, menos dispostas
a fazer o que Ele diz? A única explicação é que as pessoas não conhecem o Deus
da Bíblia, porque se conhecessem, reconheceriam a autoridade absoluta da Lei. O
respeito a Deus sempre requer o respeito à Lei. E sempre que as pessoas têm
pouca consideração pela Lei de Deus, como acontece na cultura dos dias de hoje,
é porque, em última análise, têm pouca consideração por Deus.
O Senhor, seu Deus
Se a Lei vem de Deus, então o
melhor lugar para começarmos a entendê-la é com o próprio Deus. É precisamente
onde o livro de Êxodo começa sua apresentação dos Dez Mandamentos, também
conhecido por decálogo, que significa “dez palavras”: “Então, falou Deus todas
estas palavras, dizendo” (Êx 20.1).
Para termos um senso de quem
Deus é, lembremos o cenário. Deus estava falando com os israelitas que estavam
reunidos ao sopé do monte
Sinai. Êxodo 19 descreveu que
Deus desceu sobre o monte com grande poder e glória, com trovões, relâmpagos,
fogo e fumaça. Os israelitas foram proibidos de chegar mais perto, sob pena de
serem mortos. Tinham entrado na presença do Deus maravilhoso e Todo-Poderoso,
que vive na santidade inacessível. Obviamente, seja o que for que semelhante
Deus tenha a dizer exige nossa mais completa e cuidadosa atenção. O que
recebemos do monte Sinai não foi apenas a Lei de Moisés, mas a Lei de Deus,
falada na revelação da sua glória. Como mais tarde escreveu Isaías: “O Senhor
se agradava dele por amor da sua justiça; engrandeceu-o pela lei e o fez
glorioso” (Is 42.21).
Embora Deus revelasse sua
glória no fogo e fumaça sobre o monte, fez uma revelação mais completa de sua
divindade quando começou a falar.
Ele disse: “Eu sou o Senhor,
teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2). Este
versículo é chamado de prólogo ou prefácio dos Dez Mandamentos. Nele Deus
defende sua autoridade como legislador. O que dá a Ele o direito de dizer às
pessoas o que fazer? Nas palavras do Catecismo Menor de Westminster: “O
prefácio dos Dez Mandamentos ensina-nos que temos a obrigação de guardar todos
os mandamentos de Deus, por ser Ele o Senhor nosso Deus e Redentor” (Resposta
44).
Deus é o Senhor. Aqui, Ele
usa seu nome especial da aliança Jeová.
Ele é o grande EU SOU, o
Senhor soberano e Todo-Poderoso. Ele é o
Deus supremo, autoexistente,
eterno e imutável, que se comprometeu com Abraão, Isaque e Jacó por meio da
promessa inquebrável de sua aliança.
Ele é o nosso Deus
particular. “Eu sou o Senhor, teu Deus”, diz Ele (grifo meu). Um tanto quanto
surpreendentemente, Ele usa a segunda pessoa do singular, indicando que tem um
relacionamento pessoal com cada um do seu povo.3
Esse relacionamento pessoal
também é uma relação salvadora, pois Deus diz na continuação do versículo:“Que
te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2b). Este foi um resumo
de tudo o que tinha acontecido até agora no Êxodo. Deus estava lembrando os
israelitas que Ele não somente era seu Senhor e seu Deus, mas também seu
Redentor.
E foi sobre esta base que a
Lei foi estabelecida. Era privilégio exclusivo de
Israel receber a Lei
diretamente de Deus.
O que Deus disse a Israel é
essencialmente a mesma coisa que Ele diz a todo crente em Cristo: “Eu sou o Senhor,
teu Deus, que te tirei do Egito do teu pecado, da tua servidão a Satanás”. Por
intermédio da obra de salvação de Jesus Cristo, crucificado e ressurreto, Deus
é o nosso soberano Senhor e particular Salvador. Por isso, Ele tem o direito de
reivindicar autoridade legal sobre nós. A Lei vem de Deus, que é nosso Salvador
e nosso Senhor.
Deus e sua lei
Se a Lei vem de Deus, então
deve refletir seu caráter divino. Isso é verdade no que tange a regras e
regulamentos em geral, pois eles revelam algo sobre o legislador. Para dar
apenas um exemplo, considere as extensas regulamentações federais americanas
que regem o acesso de deficientes físicos aos edifícios públicos. O que essas
leis nos dizem sobre a sociedade que as fez? Dizem-nos que os americanos querem
incluir as pessoas com deficiência física nos eventos comuns da vida pública.
A lei sempre revela o caráter
do legislador. Isso foi especialmente verdadeiro no monte Sinai, onde cada um dos
Dez Mandamentos foi estampado com o ser e os atributos do Deus Todo-Poderoso.
Então, o que cada Lei nos diz sobre o Deus que a deu?
O primeiro mandamento é: “Não
terás outros deuses diante de mim”
(Êx 20.3). Está claro que o
Deus que deu este mandamento é zeloso; Ele não compartilha sua glória com
nenhum outro Deus. E com razão, porque Ele é o único Deus verdadeiro. Todos os
outros são impostores. O primeiro mandamento anuncia a soberania exclusiva do
Deus que é o único que pode dizer: “Eu sou o Senhor, e não há outro” (Is
45.18b). Indica também sua onipresença, porque Ele nos diz para não termos
outros deuses “diante dEle”, o que significa “em sua presença” (este ponto é
desenvolvido no Capítulo 4).
O segundo mandamento é: “Não
farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos
céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Êx 20.4). Este
mandamento fala sobre adorar o Deus certo da maneira certa. Deus se recusa a
ser adorado por meio de imagens. Isso mostra que Ele é espírito, que não tem
forma física. A menção dos céus e da terra também mostra que Ele é o Criador.
Um problema com os ídolos é
que eles confundem o Criador com a criação. O mandamento também fala sobre a
misericórdia e a justiça de Deus:
“Não te encurvarás a elas nem
as servirás; porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a
maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me
aborrecem e faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus
mandamentos” (Êx 20.5,6). O Deus que deu a Lei é o Deus que faz distinções
morais absolutas. Pune os pecadores ao mesmo tempo em que mostra seu amor de
geração a geração do povo que Ele escolheu salvar.
O terceiro mandamento fala
sobre honrar o nome de Deus: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão;
porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20.7).
A ameaça ligada a este mandamento mostra que Deus quer ser obedecido. Quem
viola sua
Lei é culpado. O mandamento
em si mostra que Deus é honrado e que, portanto, merece ser tratado com
respeito. Até o seu nome é santo.
O quarto mandamento é:
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás
toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus” (Êx
20.8-10a). Este mandamento mostra que Deus é soberano sobre todos os
acontecimentos da vida diária. Ele é Senhor em todos os dias da semana. Também
faz uma conexão explícita entre o que é ordenado e quem o ordena, entre Deus e
a Lei: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que
neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado
e o santificou” (Êx 20.11). Recebemos a ordem de trabalhar e descansar, porque
servimos um Deus que trabalha e descansa.
Os quatro primeiros
mandamentos governam nosso relacionamento
com Deus; os seis últimos
dizem respeito a nossos relacionamentos uns com os outros. Mas mesmo estes
mandamentos fundamentam-se em vários atributos divinos.
O quinto mandamento fala
sobre respeitar a autoridade: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem
os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Êx 20.12). O que está por
trás deste mandamento é a própria autoridade de Deus como nosso Pai. Este
também é o primeiro mandamento com promessa, a promessa de longa vida em uma
terra boa, o que mostra como Deus é generoso em cuidar do seu povo.
O sexto mandamento é: “Não
matarás” (Êx 20.13). Este nos lembra que
Deus é o Senhor e doador da
vida. Ele proíbe matar a vida inocente, porque Ele é um Deus que dá vida. Este
mandamento preserva a soberania divina sobre o fim da vida. Ele é o Senhor
sobre a morte, bem como sobre a vida.
O sétimo mandamento é um que
todo mundo sabe: “Não adulterarás”
(Êx 20.14). O que este nos
diz sobre Deus? Diz-nos que Ele é um Deus de
pureza e fidelidade, um Deus que espera que a
aliança seja guardada. Diz- nos também que é um Deus de alegria, porque este
mandamento preserva o sexo para a sociedade do casamento.
O oitavo mandamento é: “Não
furtarás” (Êx 20.15). O Deus que deu este mandamento é nosso Criador e Provedor.
Guardá-lo é reconhecer que, em última análise, tudo pertence a Ele, e que,
assim sendo, não temos o direito de tomar o que Ele deu para outra pessoa.
O nono mandamento é dizer a
verdade: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16). Este mandamento
vem do Deus da verdade, que é correto em tudo o que Ele é, diz e faz. Como diz
a Escritura:
“A Força de Israel não mente”
(1 Sm 15.29a).
O décimo mandamento fala
sobre contentamento: “Não cobiçarás”
(Êx 20.17a). Cobiça é o
desejo de possuir o que Deus não nos deu. Como o oitavo mandamento, guardar
este mandamento exige fé na providência de Deus. Ele nos ordena a não cobiçar,
porque podemos confiar que Ele nos dará tudo de que realmente precisamos. Ele é
nosso Provedor.
Há mais outro atributo divino
revelado pelos Dez Mandamentos como um todo; trata-se do atributo do amor.
Quando Jesus resumiu a Lei de Deus, disse: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo
o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o
primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-39; cf. Dt 6.5; Lv 19.18; Rm 13.9). Em
outras palavras, os Dez Mandamentos podem ser reduzidos a dois mandamentos: amar
a Deus e amar o próximo. Sendo assim, todos os mandamentos falam do amor.
Amamos a Deus, adorando-o e usando seu nome apropriadamente. Amamos nossos
pais, honrando-os. Amamos nosso cônjuge, sendo-lhe fiel. Amamos nosso próximo,
protegendo-lhe a vida, respeitando-lhe a propriedade e dizendo-lhe a verdade. O
Deus que deu esses mandamentos é um Deus de amor, deseja que o amemos e
compartilhemos seu amor com os outros. Como Jesus disse: “Aquele que tem os
meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama” (Jo 14.21a; cf. 1Jo 5.3a).
Se isso for verdade, então não podemos separar a Lei de Deus do amor de Deus.
Para resumir, os Dez
Mandamentos mostram o caráter de Deus. Revelam sua soberania, zelo, justiça,
santidade, honra, fidelidade, providência, veracidade e amor.
Quando vemos como Deus se
revela tão abertamente na Lei, torna-se óbvio que Ele não poderia ter nos dado outros
mandamentos além dos que nos deu. Os Dez Mandamentos expressam a vontade dEle
para nossa vida, porque estão baseados no seu caráter. Isso ajuda a responder
um dilema antigo, esposado por Platão em um de seus famosos diálogos: Deus
ordena a Lei porque ela é boa, ou é a Lei boa porque Deus a ordena?4 A resposta
é: ambos! A lei com toda sua bondade emana da bondade do caráter de Deus. A Lei
é boa, porque Deus é bom e sua bondade penetra todos os aspectos da Lei.
Nunca há de passar
O fato de a Lei de Deus
expressar o caráter dEle tem muitas implicações. Uma é que quando quebramos a
Lei, estamos fazendo um ataque direto ao próprio Deus. Adorar outro deus é
negar a soberania de Deus; usar indevidamente seu nome é negar sua honra;
roubar é negar sua providência; mentir é negar sua veracidade; e assim por
diante. Cada violação da Lei é um atentado contra o caráter santo de Deus.
Outra implicação da relação
entre nosso Senhor e a Lei é que a Lei
é perpetuamente obrigatória,
pois ela permanece em vigor para todas as pessoas em todos os lugares e em
todos os tempos. Soberania, justiça, fidelidade, veracidade, amor são atributos
eternos de Deus. Ele teria de deixar de ser Deus para colocá-los de lado. Há de
se concluir, por conseguinte, que a Lei que expressa seus atributos eternos tem
validade eterna.
Isso talvez explique por que
Deus escreveu os Dez Mandamentos em pedra, escrevendo-os com o próprio dedo (Êx
31.18; 32.16). A. W. Pink comenta:
Sua singularidade aparece primeiramente nesta
revelação de Deus no monte Sinai, a qual tinha de servir para todas as gerações
vindouras como a grandiosa expressão da santidade divina e o somatório do
direitos humanos, foi acompanhada com fenômenos inspiradores de tamanha
magnitude que a própria forma da publicação mostrou claramente que o próprio
Deus atribuiu ao decálogo importância peculiar. Os Dez Mandamentos foram
proferidos por Deus em voz audível, com os temíveis adjuntos de nuvens, trevas,
trovões e relâmpagos e o som de uma buzina, e foram as únicas partes da
revelação divina por assim dizer; nenhum dos preceitos cerimoniais ou civis
foram distinguidos desta forma. Essas palavras, e só elas, foram escritas pelo
dedo de Deus em tábuas de pedra, e só elas foram depositadas na santa arca para
salvaguarda. Sendo assim, na única honra conferida ao decálogo em si percebemos
sua importância primordial no governo divino.5
Os Dez Mandamentos foram
escritos em pedra, porque permanece-
riam em vigor enquanto o
tempo durasse. Quando seria permissível adorar outro deus, abusar do nome de
Deus, mentir, matar ou roubar? Nunca, porque essas coisas são contrárias à
própria natureza de Deus.
Uma maneira de provar que a
Lei é eterna é mostrar que estava em vigor antes mesmo de Deus escrevê-la. Êxodo
20 descreve “a entrega da lei”. No entanto, essas Leis já tinham sido
entregues! Os mandamentos que Deus deu a Moisés no monte Sinai não eram novos.
Na verdade, eram tão antigos quanto a raça humana. Sabemos disso pelas histórias
da Bíblia, nas quais Deus repreendeu e puniu as pessoas por quebrar essas
exatas Leis.
Estes são exemplos claros de
quebra de mandamentos no Êxodo. As dez pragas que Deus visitou em Faraó foram
uma punição direta pela idolatria do Egito, que violou o primeiro e o segundo
mandamentos (Nm 33.4). O próprio êxodo pessoal de Moisés foi ocasionado por ter
violado o sexto mandamento (Êx 2.11-15). Na sarça ardente, Deus ensinou o
profeta a honrar o nome divino (Êx 3.1-15), muito de acordo com o terceiro
mandamento.
Deus revelou o princípio do
sábado exarado no quarto mandamento, dando maná em seis de sete dias, e quem
não seguisse as instruções apropriadas sofreria por sua desobediência (Êx 16).
Em vários pontos o Êxodo pressupunha a existência da Lei de Deus, mesmo antes
de os israelitas chegarem ao monte Sinai.
Encontramos o mesmo princípio
em ação no livro de Gênesis, que contém muitas histórias sobre pessoas
quebrando a Lei de Deus. Cam, filho de Noé, foi amaldiçoado por desonrar seu
pai (Gn 9.18-28). Caim foi condenado por assassinato (Gn 4.10-12), os sodomitas
por adultério
(Gn 19.24,25), Raquel por
furto (Gn 31.19-32), Abraão por mentira (Gn
20.1-18) e a mulher de Ló por
cobiça (Gn 19.1-38). Deus sempre lidara com as pessoas baseando-se na sua Lei.
Certos mandamentos foram revelados às pessoas, e se não foram escritos em algum
lugar, foram escritos nas tábuas do seu coração (ver Rm 2.14,15).
A Lei moral de Deus se
reporta ao jardim do Éden, onde (além de outros mandamentos ligados à
sexualidade, descanso e trabalho), Deus disse a Adão e Eva para que não
comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal. Os teólogos discutem se
nossos primeiros pais também não conheceriam algum dos Dez Mandamentos. A
Bíblia não diz nada. Mas se
Deus revelou ou não algum de
seus mandamentos específicos, Adão e Eva foram regidos por seus princípios
básicos: amor a Deus e amor um pelo outro. Eram obrigados a honrar um ao outro,
preservar a vida e dizer a verdade — o tipo de conduta que mais tarde foi
ordenado no monte Sinai.
E em seu primeiro pecado,
Adão e Eva conseguiram violar quase todos os
Dez Mandamentos básicos de
Deus. Tomar o fruto proibido foi um furto, estimulado por um desejo cobiçoso, com
base em uma mentira sobre o caráter de Deus. Comê-lo foi uma maneira de ter
outro Deus. Foi também equivalente ao assassinato, porque levou à morte de toda
a raça humana.
Desde o início, nossos
primeiros pais estavam ligados aos princípios básicos do que os teólogos chamam
de “a lei da criação” ou “a lei da natureza”.
Para resumir, a Lei de Deus
estava em vigor em várias maneiras muito antes de os israelitas chegarem ao
monte Sinai. O que eram, então, os Dez Mandamentos? Pense neles como uma nova
cópia. Eram uma republica-
ção, em forma resumida, da
vontade de Deus para a humanidade. Como
Peter Enns comenta:
“A‘entrega’ da Lei no Sinai não foi a primeira vez que Israel ouviu as Leis de
Deus, mas foi a codificação e a promulgação explícita dessas Leis.”6 Isto faz
todo o sentido quando lembramos que os Dez Mandamentos expressam o caráter de
Deus, que não muda.
A lei de Cristo
Ainda devemos guardar a Lei
hoje? Esta é uma pergunta vital. Os Dez
Mandamentos têm alguma
relevância permanente para os cristãos e a cultura de nossos dias? Assim que
entendamos a relação entre nosso Senhor e a Lei, a pergunta fica fácil de
responder. Sim, ainda devemos guardar a Lei de Deus hoje! Seu padrão não mudou,
mais do que o caráter divino mudou. Como disse Ted Koppel da Rede de Televisão
ABC no seu agora famoso discurso na Universidade de Duke: “O que Moisés trouxe
quando desceu do monte Sinai não foram dez sugestões... são mandamentos. São
não foram.”7
Há pessoas que negam que a
Lei de Deus ainda está em vigor hoje. Obviamente, essa negação é feita por muitos
não cristãos, que agem como lei para si mesmos. Porém até mesmo muitas pessoas
na igreja prestam pouca atenção à Lei de Deus. Em parte, isso se deve à
ilegalidade da atual cultura, mas também vem da forma como os cristãos leem a
Bíblia. Afinal, o Novo Testamento faz uma série de declarações que parecem
anular a Lei do Antigo Testamento. Por exemplo, de acordo com João, “a lei foi
dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17). Da
mesma forma, o apóstolo Paulo escreveu: “Não estais debaixo da lei, mas debaixo
da graça” (Rm 6.14), e: “Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de
aio [da lei]” (Gl 3.25; cf. 5.18). Essas e declarações semelhantes parecem
sugerir que a Lei de Deus foi substituída. Por outro lado, o Novo Testamento
também parece proclamar que a Lei permanece em vigor. Afirma que estamos
“debaixo da lei de Cristo” (1Co 9.21), por exemplo, ou mesmo que “é mais fácil
passar o céu e a terra do que cair um til da Lei” (Lc 16.17).
Este não é o lugar para fazer
uma exposição completa de tudo o que a
Bíblia diz sobre a Lei de
Deus. Mas é de importância vital entender que uma razão pela qual o Novo
Testamento fala sobre a Lei de várias maneiras diferentes é porque existem
vários tipos diferentes de lei. Aqui temos de, pelo menos, fazer uma distinção
entre três tipos: a moral, a civil e a cerimonial. Estas foram dadas no Antigo
Testamento, às vezes intercaladas. Mas para dar sentido à Lei e, por fim, ao
Evangelho, devem ser cuidadosamente distinguidas, confor me as virmos pela
lente clara da pessoa e obra de Jesus Cristo. “É de extrema importância”,
escreve Ernest Reisinger, “discernirmos as diferenças entre a lei cerimonial,
que pertencia ao culto de Israel e prefigurava Cristo; as leis civis ou judiciais,
que detalhavam os deveres para Israel como nação (tendo suas raízes
na lei moral, sobretudo na
segunda tábua); e a lei moral, pela qual o Criador governa a conduta moral de
todas as criaturas para todos os tempos.”8
A lei moral
está resumida nos Dez Mandamentos. É o padrão justo e eterno para a nossa relação
com Deus e com as pessoas. A lei civil é composta por leis que regiam Israel
como nação sob Deus. Nelas havia orientações para entrar em guerra, restrições
ao uso da terra, regulamentos para a dívida e penas por violações específicas
do código legal de Israel.
A lei cerimonial consiste em regulamentos para celebrar festas religiosas
(por exemplo, Êx 23.14-19) e
para adorar Deus no santuário (por exemplo, Êx 25—30). Incluía as leis
relativas aos alimentos limpos e imundos, instruções para a pureza ritual,
orientações para a conduta dos sacerdotes e, especialmente, instruções para
oferecer sacrifícios, ou seja, todo o sistema sacrificial ver em Levítico. Deus
ofereceu regulamentações detalhadas que abrangia especificidades como quem
deveria cortar a garganta do animal, e como e o
que era para ser feito com o
sangue.
A lei cerimonial não está
mais em vigor; foi revogada. É porque todos os seus regulamentos apontavam para
Jesus Cristo. A respeito das cerimônias do Antigo Testamento, a Bíblia diz “que
são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Cl 2.17; cf. Hb
10.1). Isso é mais obviamente verdadeiro no que tange aos sacrifícios. Agora
que Cristo se ofereceu como a expiação definitiva, não há mais necessidade de
outros sacrifícios. Continuar seguindo as antigas cerimônias seria negar a
suficiência da obra de Cristo na cruz. Um dos erros da perspectiva teológica
conhecida por dispensacionalismo é imaginar que as antigas cerimônias e
sacrifícios serão reintegrados em Israel.9 Mas o sistema sacrificial foi
substituído por Cristo, e apenas duas cerimônias ainda estão em vigor: o
sacramento do batismo e da Ceia do Senhor, os quais rememoram a sua cruz.
A lei civil
também expirou, mas por um motivo um pouco diferente:
A igreja não é um Estado.
Temos um rei (ou seja, Cristo), mas seu reino é espiritual. Portanto, embora as
leis civis do Antigo Testamento contenham princípios que são úteis para
governar as nações hoje, o povo de Deus já não está sujeito às suas
regulamentações específicas. O erro básico da perspectiva teológica conhecida
por teonomia (ou “reconstrução cristã”) é imaginar que as leis civis da época
de Moisés ainda devam ser impostas às nações de hoje.
É o que algumas pessoas
querem dizer quando falam sobre a restauração de uma “América cristã”. Mas como
Calvino reconheceu esta abordagem à política é “perigosa e subversiva”, porque
como a lei cerimonial, a lei civil foi suplantada por Cristo10. Hoje o povo de
Deus é regido pela disciplina da igreja, a qual está baseada na lei moral e tem
consequências espirituais e não civis.
A distinção entre esses três
tipos de lei — a moral, a civil e a cerimonial — nos ajuda a entender o que o
Novo Testamento ensina sobre a Lei de Deus. A lei cerimonial e a civil eram
tipos e figuras que apontavam para frente, para a cruz e o reino de Cristo.
Agora que Ele veio, essas leis foram deixadas à parte, razão pela qual o Novo
Testamento parece tão desdenhoso da Lei. Como vimos, as que hoje estão em vigor
são os sacramentos e a disciplina da igreja, que ecoam a lei cerimonial e a lei
civil, respectivamente.
O Novo Testamento também
rejeita a ideia de que podemos ser justificados por guardar a Lei. É neste
sentido especial que não estamos mais “debaixo da lei” (Rm 6.14; Gl 5.18).
Nossa salvação não depende de nossa capacidade de guardar a Lei. Como
aprenderemos no próximo capítulo, somos incapazes de guardá-la e, portanto, não
podemos ser declarados justos por ela (Rm 3.20). Mas tendo em vista que nossa
inclinação natural é pensar que podemos ser salvos por nossa obediência, a
Bíblia condena toda e qualquer tentativa de usar a guarda da Lei de Deus como
maneira de nos justificar.
O que o Novo Testamento nunca
faz é declarar o fim da lei moral de
Deus como padrão para nossa
vida. Ainda é, nas palavras da Confissão de Fé de Westminster, “uma perfeita
regra de justiça” (19.2), ou como Calvino denominou, a “verdadeira e eterna
regra de justiça.”11 Da mesma forma, Ernest Reisinger descreve a lei moral como
“o eterno padrão de conduta moral correta — um padrão de justiça fixo e
objetivo.”12 Isso faz sentido quando recordamos a estreita relação que há entre
a lei moral e o caráter do Senhor que a deu. A lei moral é tão eterna quanto
Deus.
O caráter de Deus também é o
caráter de seu Filho Jesus Cristo. A Bíblia ensina que Jesus é o resplendor da
glória de Deus e a expressa imagem da
sua pessoa (Hb 1.3a). Ele é
um e o mesmo como o Deus que revelou a Lei a Moisés; a Lei exprime o caráter do
Filho assim como do Pai. Portanto, querer e separar o Deus que deu a Lei do
Deus que mostra sua graça no Evangelho seria praticamente dividir a Trindade. O
Filho é tão soberano, zeloso, vivificador, fiel, verdadeiro e amoroso quanto o
Pai se revelou ser nos Dez Mandamentos. Dada a estreita relação entre Deus e a
Lei e entre o Pai e o Filho, não é de estranhar que Jesus nos advertisse: “Não
cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir.
Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou
um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” (Mt 5.17,18). Claramente,
Jesus estava falando sobre a lei moral, pelo menos em parte, porque na continuação
Ele disse: “Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim
ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que
os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus” (Mt 5.19). A Lei de
Moisés não é unicamente a Lei de Deus; é também a Lei de Cristo.
A maneira certa de viver
Nosso foco no restante deste
livro estará na lei moral de Deus. Uma maneira de provar que ainda devemos guardar
esta Lei é mostrar que, de uma forma ou de outra, todos os Dez Mandamentos
originais são repetidos no Novo Testamento, quer por Jesus mesmo ou no ensino
dos apóstolos.
Quando o Novo Testamento
lista os pecados que levam à condenação, ou os atos de obediência que são
agradáveis a Deus, segue o esboço dos Dez Mandamentos (por exemplo, Mt 15.19;
19.17-19; Rm 7.8-10; 1 Co
6.9,10; 1 Tm 1.9-11; Ap
21.8). Entretanto os mandamentos também são tratados individualmente. O
primeiro mandamento fala para não termos outros deuses. Jesus fez
essencialmente a mesma afirmação sobre si mesmo: “Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6; cf. At 4.12). O
segundo mandamento proíbe a idolatria. João disse: “Filhinhos, guardai-vos dos
ídolos” (1 Jo 5.21). O terceiro mandamento estipula que honremos o nome de
Deus, que é exatamente o que Jesus nos ensinou a orar: “Santificado seja o teu
nome” (Mt 6.9). O quarto mandamento diz respeito ao trabalho e descanso. Como
crentes em Jesus Cristo, seja o que for que façamos, deve ser feito de todo o
coração (Cl 3.23). Lemos também que Jesus é Senhor do sábado (Mt 12.8), e que “resta
ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).
Os quatro primeiros mandamentos
dizem respeito a amar a Deus, mas e quanto a amar o próximo? O quinto mandamento
nos compele a honrar nossos pais. Este mandamento é repetido pelo apóstolo
Paulo: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é
justo. Honra a teu pai e a tua mãe” (Ef 6.1,2a). Em seguida, sem qualquer
alteração ao sexto mandamento, Jesus esclareceu o verdadeiro propósito
espiritual, quando disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás
[...]. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra
seu irmão será réu de juízo” (Mt 5.21,22a). Jesus fez a mesma coisa com o
sétimo mandamento: “Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher
para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mt 5.28). Quanto ao
oitavo mandamento, o Novo Testamento diz: “Aquele que furtava não furte mais;
antes, trabalhe” (Ef 4.28a). E no que se refere ao nono mandamento, a Escritura
diz: “Não mintais uns aos outros” (Cl 3.9a). Por fim, o décimo mandamento
proíbe a cobiça, que o apóstolo Tiago condena, dizendo: “Pedis e não recebeis,
porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3).
Ainda devemos guardar a Lei
hoje? Claro que devemos! Como a Bíblia demonstra do começo ao fim, os Dez
Mandamentos nos mostram a maneira certa de viver. Estão fundamentados na
justiça de Deus, o que explica por que mesmo o Novo Testamento tem tantas
coisas positivas a dizer sobre a Lei de Deus. “Anulamos, pois, a lei pela fé?”,
pergunta o apóstolo Paulo. “De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei” (Rm
3.31).
Mais adiante, ele prossegue
dizendo que o mandamento é “santo, justo e bom” (Rm 7.12) e insiste que ele não
está “sem lei para com Deus”, mas permanece “debaixo da lei de Cristo” (1 Co
9.21).
Já falamos bastante sobre a
Lei. Mas e quanto ao Evangelho? Procuraremos dar uma resposta mais completa a
esta pergunta nos próximos capítulos.
Mas a resposta é basicamente esta: É a quebra da Lei que nos faz ver a
necessidade do Evangelho. Quanto mais claramente vemos o que a Lei de Deus requer,
mais óbvio se torna que não conseguimos guardar os mandamentos, que é a razão
exata de precisarmos do Evangelho. Não podemos ser salvos guardando a Lei,
porque não conseguimos guardá-la.
Mas Jesus a guardou! Ele
guardou toda a Lei em nosso beneficio. Inteiramente. Mais do que isso, em sua
morte na cruz, Ele sofreu a punição que merecemos por não guardarmos a Lei de
Deus. Agora todos os que creem em Jesus Cristo serão salvos por Ele ter guardado
a Lei e por ter sofrido sua maldição. Como crentes em Jesus Cristo, ainda precisamos
guardar a Lei de Deus?
Precisamos. A lei moral
expressa a vontade perfeita e justa de Deus para nossa vida. Jesus, então, nos
ordena que a guardemos, não como maneira de ficarmos bem com Deus, mas como
forma de agradarmos a Deus, que nos corrigiu com Ele.
Os Dez Mandamentos para os dias de hoje
- Philip Graham Ryken
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