domingo, 29 de março de 2020

Lição 1 - Carta aos Efésios - Saudação aos Destinatários



Texto Áureo
"A vós graça e paz, da parte de Deus,
 nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo." 
(Ef. 1.2)

Verdade Prática
A Epístola aos Efésios revela o propósito 
eterno de Deus 
para a Igreja de Cristo.


Lições Bíblicas  - CPAD

                          

A IGREJA ELEITA redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo da Promessa


                                    APRESENTAÇÃO

Caro leitor, a presente obra destina-se como meio auxiliar para as Lições
Bíblicas da Escola Dominical (ED). Não se trata, portanto, de um comentário aos Efésios, mas, sim, da exposição de fragmentos da Epístola para servir como subsídio aos alunos, professores e líderes da ED. Desse modo, convém ressaltar que os assuntos aqui tratados não abrangem todos os pormenores contidos na Epístola.
Os temas abordados, porém, são de relevada importância para os dias de hoje, assim como o foram na época em que foram escritos pelo apóstolo Paulo. O aspecto doutrinário, como não poderia deixar de ser, está fundamentado na Bíblia Sagrada, que é a única e infalível regra de fé, conduta e prática para o viver diário do cristão. As afirmações dogmáticas escudam-se na Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil, e a interpretação soteriológica coaduna-se com a doutrina arminiana.

A fonte de consulta bibliográfica baseia-se em renomados autores da teologia pentecostal. A obra, contudo, não ignora os bons intérpretes da teologia romanista e/ou reformada, cuja abordagem identifica-se, ao menos nos pontos tratados no livro, com a confissão de fé das Assembleias de Deus. Quanto aos temas que são alvo de controvérsias, esse autor posiciona-se tendo como pressuposto o método histórico gramatical e os princípios hermenêuticos da revelação, inspiração e iluminação.
Aproveito o ensejo desse espaço para registrar minha gratidão ao nosso bom Deus pela dádiva da vida e da salvação, por meio da graça, em Cristo
Jesus. Agradeço a honra da oportunidade que me é concedida pelos nossos nobres pastores e líderes José Wellington da Costa Júnior e José Wellington Bezerra da Costa, respectivamente presidentes da CGADB e do Conselho Administrativo da CPAD.


Externo também minha gratidão ao Dr. Ronaldo Rodrigues de Souza,
diretor executivo da CPAD, e ao pastor Alexandre Claudino Coelho, Gerente de Publicações, pelo apoio que me tem sido dispensado. Ainda, meus sinceros agradecimentos ao pastor Elienai Cabral, Consultor teológico e doutrinário da CPAD, pela gentileza em prefaciar essa obra. Agradeço também aos membros da Assembleia de Deus de Missão no Distrito Federal pelas orações e incentivo. Por fim, dedico este livro ao Deus Eterno, santo e verdadeiro, a minha amada esposa, Missionária Dirley, a meus filhos Priscila, Jéssica e Matheus.

Desejo-lhe uma abençoada leitura!

                                Pastor Douglas Roberto de Almeida Baptista
                                      Comentarista de Lições Bíblicas da CPAD


CAPÍTULO 1

CARTA AOS EFÉSIOS
– SAUDAÇÃO AOS DESTINATÁRIOS

“A vós graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai,
e da do Senhor Jesus Cristo”
(Ef 1.2)

A Epístola aos Efésios é chamada de “a coroa dos escritos de Paulo” e ainda de “a rainha das epístolas”.1

Essa designação está relacionada com a excelência das revelações bíblicas que a fazem sobrepujar as demais cartas de Paulo. Nela, está revelado o propósito eterno de Deus, por meio de Cristo, para a Igreja. A Epístola apresenta um resumo da pregação de Paulo e de todo o Evangelho do Senhor Jesus Cristo. O teólogo e filósofo humanista Erasmo de Roterdã (1466–1536) considerou que, por meio de Efésios, Paulo ensinou que, “embora a graça do evangelho tenha sido prometida aos judeus, ela foi, subsequente e corretamente, estendida aos gentios pelo decreto eterno de Deus e era seu dever levar até eles essa mensagem”.2


Nesse aspecto, a mensagem da carta aos Efésios é tão necessária hoje quanto foi no passado. Não se trata apenas de um documento teológico importante, mas também de um compêndio de revelações espirituais que devem conduzir-nos à verdadeira adoração, gratidão e à melhoria de nossa vida cristã. Portanto, no propósito de melhor compreender essa majestosa epístola, vamos discorrer nesse capítulo sobre os aspectos introdutórios, tais como a autoria, a data e os destinatários, bem como as principais abordagens doutrinárias.

I. AUTORIA E DATA
1. Autoria

A primeira evidência da autoria paulina é textual, isto é, conforme costume da época, o autor começa a escrever declarando a sua identidade:
“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo” (1.1a); e, uma segunda vez nessa epístola, o autor torna a apresentar-se como: “Paulo, [...] o prisioneiro de Jesus Cristo” (3.1). O livro de Atos dos Apóstolos informa que o seu nome judeu era

Saulo e que também era conhecido como Paulo (At 13.9). O nome próprio
Saulo significa “solicitado” em hebraico, sendo uma provável homenagem a Saul, o primeiro rei de Israel (At 13.21), pertencente à tribo de Benjamim, que, inclusive, é a mesma tribo do apóstolo (Fp 3.5).


Saulo era um israelita que “falava a língua aramaica em sua casa, herdeiro da tradição do farisaísmo, estrito observador das exigências da Torá, e mais avançado em judaísmo do que seus contemporâneos”.3 Por outro lado, ele era um judeu da dispersão nascido em Tarso da Cilícia, uma metrópole com governo autônomo (At 21.39). O imperador Júlio Cesar (100–44 a.C) dera aos moradores de Tarso os direitos e privilégios da cidadania romana. Desse modo, Paulo, que significa “pequeno”, era o seu nome romano (At 22.3). Convertido ao cristianismo, ele foi preso por causa de sua fé em Jesus Cristo, sendo constituído “pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios” (2 Tm 1.8,11).

Não obstante, o polêmico clérigo inglês Edward Evanson (1731–1805) questionou a autoria de Paulo por não conseguir harmonizar os destinatários da carta com o seu conteúdo. A partir de então, surgiram dúvidas quanto ao estilo e vocabulário que, supostamente, não eram paulinos, além de conceitos teológicos “pós-paulinos”.4 Em resposta a esses argumentos, o Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal assim se expressa:

Dois cabeçalhos principais desta carta (1.1 e 3.1) mostram que esta epístola foi escrita por Paulo, o Apóstolo. Esta reivindicação é confirmada por muitos patriarcas da igreja, entre eles Policarpo, Orígenes, Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano. Muitos estudiosos, ao longo de toda história da igreja, afirmaram a mesma coisa [...].5


Diante desses consistentes pressupostos textuais e históricos, não existe razão admissível para negar a característica paulina na Epístola. É, portanto, satisfatoriamente plausível reivindicar a autoria de Efésios ao apóstolo dos gentios:

2. A assinatura apostólica


Das vinte e uma epístolas que contém o Novo Testamento, Paulo é o autor de 13 dessas cartas. Elas são geralmente divididas em quatro grupos:

1) As escatológicas, que compreendem 1 e 2 Tessalonicenses; 2) As soteriológicas, que abrangem Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas; 3) As da prisão, compostas por Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon; e 4) As pastorais, que integram 1 e 2 Timóteo e Tito. Esse grupo de epístolas é conhecido como “corpus epistolar paulino” ou, simplesmente, de “epístolas paulinas”.


Uma curiosidade nas saudações iniciais nas 13 cartas é a identificação pelo seu nome romano Paulo e nunca pelo nome judeu Saulo, provavelmente por considerar que Paulo era mais apropriado para evangelizar o mundo gentílico (Rm 11.13). Outro detalhe relevante é que, em sete das suas cartas (1 Co; 2 Co; Gl; Ef; Cl; 1 Tm e 2 Tm), Paulo reivindica explicitamente a sua autoridade apostólica com a ressalva: “pela vontade de Deus”. Isso significa que o seu chamado e apostolado “não [era] da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos” (Gl 1.1).


3. Uma epístola da prisão


O livro de Atos dos Apóstolos registra duas longas prisões de Paulo: dois anos em Cesareia (At 24.1-27) e dois anos em Roma (At 28.16-31). Outra notável prisão anotada pelo historiador e evangelista Lucas aconteceu em Filipos por ocasião da segunda viagem missionária (At 16.19-26). Escrevendo aos Coríntios, o apóstolo testemunhou que fora feito prisioneiro diversas vezes (2 Co 11.23). Na Epístola aos Efésios, ele próprio identifica-se como sendo o “prisioneiro de Jesus Cristo” (3.1), “o preso do Senhor” (4.1) e o “embaixador em cadeias” (6.20), o que indica claramente que era uma missiva enviada do cárcere. Portanto, não restam dúvidas quanto à situação de prisioneiro por ocasião da escrita aos Efésios. A discussão entre alguns eruditos refere-se à identificação do local em que se encontrava preso.


O debate concentra-se na historiografia de Atos entre a capital da Judeia, Cesareia, e a capital do Império, Roma. Nesses locais, Paulo esteve aprisionado em um total de quatro anos — dois anos em cada cidade. Outros ainda argumentam a possibilidade de uma prisão não registrada na própria cidade de Éfeso (1 Co 15.32). Essa última conjectura, no entanto, é descartada pela ausência de documentos probatórios e de testemunho irrefutável.


Assim, em relação ao aprisionamento em Cesareia, sabe-se que, à época,
Antônio Félix era o procurador da Judeia (At 24.22-27). Félix desempenhou a função durante os governos de Cláudio e Nero entre os anos 52 e 60 d.C. Após esse período, o procurador foi substituído no governo por Pórcio Festo no ano 60 d.C. Desse modo, essa prisão de Paulo ocorreu nos últimos dois anos 6 do governo Félix, a saber, entre 58 e 60 d.C. Após a posse de Festo, em virtude de uma trama para assassinarem-no, o apóstolo apelou para o tribunal de César em Roma (At 25.3,10). Mas, apesar de ter tido muito tempo livre para escrever na prisão em Cesareia, a maior parte dos estudiosos do “corpus epistolar paulino” afirma que ele escreveu aos Efésios em Roma, e não em Cesareia.

4. Data

A definição do local da prisão de Paulo, por ocasião da escrita da carta aos Efésios, também indica a provável data em que o documento foi redigi do. Em conformidade com o livro de Atos, depois de realizado três viagens missionárias e implantado Igrejas na região do Mediterrâneo, Paulo esteve preso em Cesareia por um período de dois anos entre 58 e 60 d.C. (At 24.27). Após apelar para o tribunal de César, o apóstolo foi conduzido a Roma, onde permaneceu em prisão domiciliar por dois anos inteiros (At 28.30). A julgar pelas condições favoráveis na casa alugada para esse fim, tais como: ausência de restrições para receber visitas e o não cerceamento da liberdade para ensinar (At 28.31), ratifica-se isso, como já observado que a prisão em Roma é o local de redação das “Epístolas da Prisão”.


Em razão de as datas serem aproximadas, a estimativa da chegada de Paulo em Roma fica entre 60 e 62 d.C. Partindo dessa premissa, a data provável da escrita aos Efésios ocorreu por volta dos anos 61 e 62 d.C. Tíquico foi o portador das Epístolas aos Efésios e aos Colossenses, que, possivelmente, foram despachadas na mesma ocasião que a carta a Filemom (6.21; Cl 4.7-9).


II. DESTINATÁRIOS

1                   .     A cidade de Éfeso

Por volta de 1050 a.C., invasores gregos expulsaram os habitantes da costa oeste da Ásia Menor e estabeleceram-se na cidade de Éfeso, que significa “desejável”. Ela ficava localizada no território da Lídia entre as cidades antigas de Esmirna e Mileto. Em 133 a.C., Éfeso foi anexada à província romana e tornou-se um centro político, comercial e religioso da Ásia Menor, atual país da Turquia. Era uma cidade portuária cujo Porto desaguava no mar Egeu. Por causa dessas boas instalações portuárias e das várias estradas que ligavam a cidade ao vasto Império Romano, Éfeso alcançou a posição de grande metrópole com cerca de 500 mil habitantes. Era a sede do procônsul romano e da confederação de cidades da Ásia Menor.


2                 .     A religiosidade em Éfeso

A cidade abrigava o templo de Ártemis, que, na mitologia grega, era irmã gêmea do deus-sol Apolo, filha de Leto e Zeus, equivalente a Diana para os romanos. Ártemis ou Diana era a deusa pagã da fertilidade e protetora do parto — representada pela imagem de uma mulher com o tórax coberto de três ou quatro fileiras de seios. Ela personificava os poderes reprodutivos de homens e de animais. Associada aos rituais de fertilidade, tornou-se protetora da prostituição cerimonial, que fazia parte do culto sensual e da adoração idólatra em Éfeso.7


O templo era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Construído em 550 a.C., de arquitetura jônica formada de cedro, cipreste e mármore, era o principal centro religioso de Éfeso. O templo foi saqueado diversas vezes, incendiado e reconstruído pelo menos duas vezes. Apesar desses ataques de vandalismo e sucessivas reformas, após a metade do século I d.C., no período apostólico, a imponência do templo ainda impressionava.


O livro de Atos informa que a imagem adorada no templo havia “caído do céu” (At 19.35). Significa que algum meteorito fora recolhido e talhado para moldar a imagem. Essa crendice sinaliza que a religiosidade dos efésios era permeada de superstições. O cortejo do templo que abrangia sacerdotes, sacerdotisas, assistentes e escravos eunucos que cultuavam por meio de atos sexuais indica o nível de depravação e imoralidade daquela cidade.


O culto idólatra também era estimulado pela crença e pela prática do
ocultismo referendado por inúmeros livros de artes mágicas, encantamentos, amuletos, poções, sacrilégios e feitiços. O temor dos fenômenos sobrenaturais ou supranormais mantinha a cidade espiritualmente cega e escravizada. Com
a mensagem do Evangelho, muitos dos que receberam a Cristo “trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos” (At 19.18,19).

Para os efésios, o templo, a prostituição cultual e o ocultismo representavam uma oportunidade ímpar de aquecer a economia da cidade. Éfeso devia a sua prosperidade financeira aos milhares de turistas e peregrinos que visitavam a capital. A maior fonte de renda era o comércio de nichos de prata da deusa, que eram comercializados no templo. A prostituição, a pornografia e as artes mágicas também auferiam lucros financeiros. Sendo o centro de vários outros cultos pagãos, inclusive o culto aos imperadores romanos deificados, a cidade era conhecida como arch paganismi, que quer dizer “o cúmulo do paganismo”.


Avalia-se que a exploração comercial e as questões econômicas em Éfeso
trouxeram maiores dificuldades para Paulo do que as questões religiosas. O alvoroço por causa da pregação do apóstolo contra a idolatria foi motivado pelo medo de a profissão de ourives cair em descrédito (At 19.23-28). De fato, a defesa do templo e do culto a Diana foi apenas um pretexto religioso; a verdadeira intenção era afastar o perigo da queda e até mesmo a suspensão das vendas de imagens que “dava não pouco lucro aos artífices” (At 19.24).

3                 .     A igreja de Éfeso

Paulo chegou a Éfeso por ocasião da sua terceira viagem missionária realizada no período aproximado de 53 a 57 d.C. (At 19.1). O apóstolo evangelizou a cidade e os seus arredores durante três anos (At 20.31). Durante a sua permanência em Éfeso, Paulo escreveu a primeira epístola aos Coríntios e, pelo menos, a maior parte da segunda. Por meio das epístolas aos Coríntios, é possível desvendar a gravidade e as agruras da batalha enfrentada por Paulo na capital da Ásia Menor: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos” (2 Co 1.8).


Quando desembarcou na cidade, o apóstolo encontrou 12 discípulos,
os quais foram batizados nas águas e conduzidos a receber o batismo no
Espírito Santo (At 19.5-7). Nesse registro, convém enfatizar a validação da experiência do batismo no Espírito Santo, ou seja, a evidência inicial de falar em línguas (At 19.6). Paulo, em seguida, evangelizou os judeus na sinagoga por um espaço de três meses, “disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus” (At 19.8). E, como alguns resistiram fortemente ao Evangelho “falando mal do Caminho”, voltou-se para os gentios pregando em um salão alugado na escola de Tirano (At 19.9). Nesse contexto, ressalta-se o uso da expressão “caminho”. O termo é empregado sete vezes no livro de Atos (9.2, ARA; 18.25; 19.9,23; 22.4; e 24.14,22) sempre para identificar os seguidores de Cristo; provavelmente, uma alusão ao texto messiânico “preparai o caminho do Senhor” (Is 40.3) e ao próprio Cristo, que se apresentou como sendo “o caminho” (Jo 14.6).


Durante três anos de muita dedicação e árduo trabalho missionário, a igreja cresceu e multiplicou-se. Feitos miraculosos e extraordinários foram operados naquela cidade imoral, supersticiosa, escravizada e refém de poderes ocultos. O poder de Deus sobrepujou a todo tipo de encantamentos e poções mágicas ao ponto de até os lenços e aventais do apóstolo serem levados para curar enfermidades e expulsar demônios (At 19.12). Nesse aspecto, é salutar entender o propósito da narrativa desses milagres incomuns, pois não se trata de texto normativo a ser seguido pela igreja, mas, sim, o registro da sobre-excelência e grandeza do poder de Deus “acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio [...]” (Ef 1.21).


4                         .     A saudação epistolar

A saudação é a mais breve dentre todos os escritos de Paulo. Ele dirige-se
“aos santos que estão em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (1.1b), isto é, aqueles que foram separados e consagrados para ser propriedade peculiar de Deus (ver 1 Pe 2.9). Ao analisar essa saudação, o Doutor Russel Shedd (1929–2016) corrobora com a assertiva acima afirmando que “a palavra santo não significa uma pessoa que não peca. Pelo contrário [...], no Antigo Testamento, santo quer dizer ‘pessoa separada por Deus’; e no Novo Testamento [...] ‘alguém separado para pertencer exclusivamente a Deus’”.8 Desse modo, o pressuposto paulino é que os seus leitores eram realmente pessoas separadas e que estavam vivendo para Cristo. Quanto ao uso do termo grego pistoi, o teólogo Francis Foulkes enfatiza que “pode significar aqueles que têm fé, ou aqueles
que são fiéis. Ambas as ideias podem ser aqui incluídas; eles são crentes e sua chamada é a fidelidade”.9 Isso quer dizer que os leitores não apenas criam, como também viviam a fé em obediência a Cristo.


Paulo cumprimenta os seus destinatários com as palavras “graça e paz”
(1.2), uma expressão que lembra o favor gratuito e imerecido proveniente de Deus. Essa era uma saudação padrão do apóstolo em todas as suas cartas. Lembra também, em parte, a saudação favorita que um judeu fazia a outro:
“Paz, paz seja com você”.10 Paulo, porém, vai além e eleva a expressão judaica à esfera cristã, acrescentando o termo graça. Ao comentar esse cumprimento, Matthew Henry (1662–1714) considera que a frase “expressa a boa vontade do apóstolo em relação aos seus amigos e é um desejo real pelo bem-estar deles. [...] Não há paz sem graça [...]. Essas bênçãos peculiares procedem de Deus, não como criador, mas como Pai”.11


Em relação à área geográfica dos destinatários, no primeiro e segundo
séculos do cristianismo, a epístola era aceita quase que universalmente sob o título de “Aos Efésios”. Entretanto, mais tarde, a veracidade do título original ocasionou controvérsias, e a designação passou a ser considerada incorreta.


Diante dessas constatações, variadas propostas de conciliação surgiram para elucidar a questão. Contudo, a posição adotada pela maioria dos intérpretes considera que a epístola era uma encíclica (uma circular) destinada aos cristãos de maioria gentílica das muitas igrejas da Ásia, tendo a sua origem em Éfeso, a metrópole mais importante da região. Sob essa perspectiva, cada uma das igrejas daquela região podia inserir o seu próprio nome na saudação original, “testemunhando a relevância de sua profunda mensagem pra todas as verdadeiras igrejas de Jesus Cristo”.12 E, como Éfeso tornou-se um dos grandes centros do movimento cristão primitivo a partir da igreja-mãe da populosa província romana na Ásia Menor, o título “aos Efésios” passou a identificar essa majestosa epístola.

III. PROPÓSITO E MENSAGEM
1. O propósito

Aparentemente, a epístola não aborda nenhum problema específico como
acontece em outros escritos. Percebe-se, porém, que Paulo escreveu para
“fortalecer e amadurecer os seus irmãos e irmãs cristãos na sua fé, explicando o objetivo e o poder da igreja [...] convocando os crentes à sã doutrina e a uma vida santificada”.13 Outra questão relevante nessa análise é a constante preocupação do apóstolo com as igrejas que ele fundara (2 Co 11.28).


No caso específico de Éfeso, é preciso olhar com atenção as suas palavras de despedida aos anciãos. Na ocasião, Paulo exortou-os à vigilância
 permanente alertando que, depois da sua partida, lobos cruéis entrariam na igreja para destruírem o rebanho (At 20.28-31). Diante dessa revelação e sabendo que não mais retornaria àquela cidade (At 20.38), quando as suas inquietações foram confirmadas anos depois, Paulo foi inspirado a escrever esse verdadeiro tratado teológico acerca do propósito eterno de Deus para com a Igreja de Cristo.


Ainda são perceptíveis nos capítulos iniciais algumas ênfases que sinalizam a solução de algumas questões comuns na Ásia Menor. Por exemplo, muitos dos novos convertidos vinham do mundo helênico, de religiões de mistério e magia, e, outrora, as suas vidas foram aprisionadas pelo misticismo. Agora, porém, libertos em Cristo, Paulo lembra-os de que a cabeça da Igreja controla o Universo inteiro (1.20-22), e esse mesmo tema retorna no capítulo final para reafirmar a vitória contra as hostes do mal com o uso de toda a armadura de Deus (6.10-18).


Também se infere no conteúdo da epístola que, no passado, a vida daqueles cristãos tinha sido de imoralidade, depravação, desobediência e bebedeiras, mas, agora, salvos pela graça divina, deveriam adotar uma nova vida em Cristo (2.1-10). Destaca-se, ainda, uma preocupação com a unidade e a paz entre judeus e gentios cristãos, enfatizada pelo plano universal da redenção (2.11-18). Sob essas premissas das intenções do autor, considera-se que, de maneira pastoral, a carta busca atender as múltiplas necessidades da igreja; por isso, é possível reafirmar ser a epístola em apreço “um tratado sobre a igreja, o corpo de Cristo”.


2. A mensagem


Como já descrito, a mensagem dessa epístola que é avaliada como o
“clímax da teologia paulina” é ao mesmo tempo múltipla, abrangente e gratificante. Diversos estudiosos têm sugerido que o seu conteúdo pode ser resumido em três palavras: assentado, andando e firmado. A justificativa dessa proposta é assim explicada:

Pela posição, o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais
(2.6); sua responsabilidade é andar condignamente ao chamado que
lhe foi feito (4.1); e este andar é mais amplamente apresentado como uma guerra na qual ele está empenhado contra satanás e todas as suas hostes e na qual ele é exortado a permanecer ę contra as ciladas do diabo (6.11).14

Isso significa que o ponto de vista da mensagem em Efésios é mais amplo e maior do que em outras epístolas. Nesse sentido, a carta é reputada como “uma combinação magnífica da doutrina cristã e do dever cristão, da fé cristã e da vida cristã, daquilo que Deus fez através de Cristo e do que nós devemos ser e fazer em decorrência”.15


A partir desses pressupostos, observam-se dois polos em torno dos quais gira a mensagem de Efésios: Jesus Cristo e a Igreja — ambos representados pela imagem simétrica de “Cristo, a cabeça” (1.22; 4.15; 5.23) e “Igreja, o corpo” (1.23; 4.12; 5.30). Alguns avaliam que nela aparecem temas doutrinários que não são encontrados nos demais escritos paulinos. Apesar de essa afirmação ter parcela de verdade, não devemos estudar o seu conteúdo sob essa perspectiva.


Nesse eixo interpretativo, a ênfase da mensagem recai sobre a doutrina da Igreja, que é a consumação do plano eterno de Deus na pessoa de Jesus Cristo (1.3-5). Isso significa muito para os cristãos, pois, “de acordo com o plano eterno e amoroso de Deus, Ele conduz, executa e sustenta a nossa salvação. [...] Em amor, Ele escolheu muitas pessoas para participarem da sua ‘filiação’ — não pelos próprios méritos delas, mas em virtude de estarem no Filho”.16

Embora a Igreja de Cristo e o plano de redenção sejam o foco da epístola,

a atuação da Terceira Pessoa da Trindade também recebe proeminência. Den-
tre vários aspectos, destaca-se nos versículos iniciais a descrição do Espírito

Santo da promessa (1.13) como garantia e penhor da experiência de salvação (1.14), o seu desempenho em capacitar o crente a ter intimidade com o Pai (2.18,22) e a revelação do mistério da Igreja que estava oculto (3.4,5).


Outro aspecto importante é a reconciliação dos povos por intermédio da cruz de Cristo (1.7; 2.13; 2.16). Aqui, a obra da cruz é ratificada como
suficiente para nossa salvação. Esse tema também é encontrado nas demais cartas paulinas (Rm 5.6-10; 1 Co 15.3-28; Cl 1.14-20). A salvação por meio da graça é outro tema muito caro na epístola (2.8,9). Essa doutrina da justificação pela fé é um tema tipicamente paulino e, desse modo, abordado em outras das suas cartas (Rm 3.21-26; Gl 2.16; 3.11,24). Em termos gerais, assevera que o pecador é justificado (absolvido da punição e da condenação do pecado) unicamente pela fé na graça divina.


Por fim, a mensagem de Efésios requer um novo padrão de conduta para a igreja cristã, tais como manter a unidade, adorar a Deus e viver no Espírito (4.3,30; 5.9,18,19; 6.18) e encerra com orientações de como se portar nos relacionamentos conjugais e na vida social, bem como proceder na luta contra o Diabo (5.21-6.24). A epístola, portanto, contém uma combinação de doutrina e vida cristã, daquilo que Deus fez e daquilo que se espera da Igreja.


                                                                     A IGREJA ELEITA
                                                                     - Douglas Baptista

                          Subsídio 1: Carta aos Efésios – Saudação aos Destinatários ...


                                     Comentário Bíblico: Efésios
Introdução 

A Carta aos Efésios já tem sido apresentada por vários teólogos e estudiosos do Novo Testamento como sendo a rainha das epístolas paulinas, tanto por sua beleza expressa quanto pela sublimidade espiritual na qual coloca o crente que a lê. Não havia uma circunstância específica nem qualquer controvérsia que provocasse a necessidade dessa carta. Ela é abrangente e com sentido universal, porque se tem a impressão de que Paulo a escreveu para todas as igrejas locais que resultaram de seu trabalho missionário. Como disse certo escritor, "ela tem uma qualidade quase meditativa".

1. LUGAR Éfeso era uma próspera cidade, perto de porto marítimo na Ásia Menor. Era uma colônia romana na costa ocidental e constituía-se rota obrigatória de caravanas para o Oriente. De Éfeso, partiam estradas que davam acesso às grandes cidades pertencentes àquela província. A cidade estava situada a quatro quilômetros de distância do mar Egeu, junto ao rio Caister, naquele tempo navegável e com saída para o mar. Devido à sua posição geográfica, Éfeso era ponto estratégico, no sentido religioso e territorial. Religiosamente, era uma cidade paga, e destacava-se nela a imagem do templo de Artemis, deusa também conhecida como "a grande Diana dos efésios". A vida cotidiana do povo era grandemente influenciada pela adoração desse ídolo. A indústria e o comércio, e mesmo o lazer popular, encontravam em Artemis sua grande inspiração.

Geograficamente, Éfeso tornou-se ponto estratégico também para o trabalho missionário de Paulo na Ásia.

 Hoje, restam apenas ruínas daquela que chegou a ser uma grande metrópole e capital de província. Ruínas que ficaram como mostruário, por exemplo, da Via Arcadiana, toda pavimentada de mármore e com quinhentos metros de extensão; do teatro romano para 25 mil lugares; de um estádio para jogos; e do templo de Artemis, entre outros.

 2. DATA Não há uma data específica, mas provável para o período em que foi escrita a carta. Talvez tenha sido entre 61 e 63 d.C, quando o apóstolo estava preso em Roma; por isso, a carta é considerada uma das "cartas da prisão". No ano 64, ocorreu o incêndio de Roma, e, provavelmente, na primavera de 63, Paulo foi liberto da prisão.

3. DESTINATÁRIOS A quem escreveu Paulo essa carta? Foi realmente aos efésios? Ou teria sido à igreja de Laodicéia, ou quem sabe à de Colossos?

Essa questão tem sido levantada através dos séculos pelos críticos. Entretanto, os exegetas modernos têm apresentado vários problemas quanto à destinação da epístola, com base num trecho do primeiro versículo (Ef 1.1) que diz: "aos que estão em Éfeso" (grifo nosso). O ponto central é que a expressão "em Éfeso" não se encontra na maioria dos manuscritos mais antigos, ou seja, Paulo parece ter omitido a localização geográfica de seus destinatários. Outra dificuldade apontada pelos críticos modernos são dois textos dentro da epístola que dão a idéia de que Paulo tivesse tido pouca familiaridade com os efésios. O tom distante com que ele fala sobre ter "ouvido" acerca da fé de seus leitores (1.15), e sobre o terem eles "ouvido" falar de seu ministério (3.2), dá a impressão de ter escrito para outra igreja. Seria Laodicéia que a recebeu? Essa igreja tem sido apontada por estudiosos como possível destinatária da carta, uma vez que certa tradição antiga a identifica como tal.

Alguns eruditos sugerem que os copistas dos manuscritos originais suprimiram Laodicéia por causa do que está escrito acerca dessa igreja em Apocalipse 3.14-22, e ainda que outros copistas teriam colocado Éfeso no lugar por causa da relação íntima que Paulo tinha com esta igreja. Entretanto, não é provável que tenha havido qualquer alteração; a maior probabilidade seria a de que a carta tinha um cunho circular, isto é, fora redigida para ser lida em várias igrejas locais da Ásia Menor próximas a Éfeso.

 Cremos que o problema em torno do destinatário não afeta em nada o objetivo teológico e doutrinário da carta.

4. AUTORIA Outro problema levantado, ainda que sem muito argumento, é quanto à autoria da carta. Um erudito norte-americano por nome E. J. Goodspeed apresentou a teoria de que o autor tenha sido algum cristão atuante e admirador do apóstolo Paulo. Sugeriu ainda o nome de Onésimo, o escravo convertido na prisão em Roma e que fora escravo de Filemom. Porém, não há nenhuma possibilidade de aceitação dessa idéia. A objeção interna levantada quanto à autoria paulina está na citação de algumas expressões que parecem não ser próprias de Paulo nem do seu estilo. Entretanto, as provas que afirmam a autoria paulina são mais fortes que as contra-argumentações, pois a Epístola aos Efésios conta com forte e notável confirmação histórica, não deixando dúvida alguma sobre a sua autoria. Paulo foi, realmente, o autor dessa maravilhosa carta. Tíquico, também ministro do Evangelho, foi o portador dessa e de outras cartas paulinas (Ef 6.21,22).

 O ministério de Paulo em Éfeso foi muito próspero. Por mais de dois anos (At 19.8,10) ele andou e pregou livremente naquela região, aproveitando todas as oportunidades surgidas. Em Éfeso ele fez um contato mais direto com o povo da cidade, mais que em qualquer outro lugar. Lucas, o médico amado e autor de Atos dos Apóstolos, observador criterioso que era, notou esse fato quando afirmou: "... todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos" (At 19.10). Escreveu mais sobre aquela região, afirmando que a Palavra do Senhor crescia e prevalecia (At 19.20), e que o número dos que creram foi grande (At 19.26,27).

1. SAUDAÇÃO — 1.1,2

Paulo sempre teve uma maneira peculiar de iniciar suas cartas sem fugir ao estilo da época. A carta inicia com o nome do escritor, depois o do destinatário e, finalmente, a saudação. Paulo toma o estilo convencional de seu tempo e o coloca num nível mais elevado, porque seu tratamento é para irmãos na fé.

1.1. Sua identificação pessoal — v. 1 Ele começa, como de praxe na época, com o primeiro nome, "Paulo", e, a seguir, apresenta os títulos mais importantes, que lhe asseguram uma autoria apostólica. Após iniciar com o nome, Paulo designa a si mesmo "servo de Jesus Cristo". Um título que todos os verdadeiros cristãos possuem, se realmente servem ao Senhor Jesus Cristo.

1.2. Sua identificação ministerial — v. 1 Apóstolo é o título que ele mais usa em referência a si mesmo. O Novo Testamento apresenta três significações para esse título:

a) Dá a idéia de um mensageiro (2 Co 8.23);

b) Quando Paulo e Barnabé são enviados pela igreja de Antioquia para pregar, o sentido da palavra "apóstolo" toma o significado de enviado (At 14.4-14);

 c) A significação de "apóstolo" nessa carta é a de embaixador de Cristo (2 Co 5.20). Em princípio, embaixador referia-se quase que exclusivamente aos 12 apóstolos, nomeados e enviados por Jesus e feitos testemunhas oculares de sua ressurreição. Paulo não foi um dos 12, mas afirma convictamente ter sido enviado por Cristo e se denomina, em várias de suas cartas, como "apóstolo de Jesus Cristo" (Rm 1.1; 1 Co 1.1; 2 Co 1.1; Gl 1.1; Ef 1.1; 1 Tm 1.1; Tt 1.1). Paulo se diz apóstolo de Jesus Cristo não só no sentido de pertencer a Ele, mas também no de ser enviado por Ele como embaixador a terras estrangeiras.

1.3. Sua saudação aos destinatários — v. 1 Após apresentar-se, Paulo faz sua saudação aos "santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus". A designação da palavra "santos" aos crentes é freqüente no Novo Testamento. Essa palavra aparece outras vezes nessa mesma carta com o sentido especial de "separados". Os santos são "os separados" para o serviço de Deus. A palavra tem sentido ativo, isto é, diz respeito aos crentes santificados e separados da vida do mundo.

 1.4. O sentido da saudação cristã — v. 2 No verso 2 encontramos duas outras palavras muito usadas nas saudações apostólicas, que são "graça e paz". No mesmo versículo está a procedência dessa expressão: "da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo". Os judeus usavam apenas a palavra shalom (paz), mas os cristãos primitivos acrescentaram-lhe mais uma palavra — graça, e passaram a se cumprimentar com "graça e paz", dando uma significação singular à saudação cristã. Graça expressa o favor soberano de Deus para os homens, como fonte de todas as bênçãos; paz, o ato reconciliador do homem com Deus por meio de Jesus Cristo. Graça e paz são dádivas, tanto do Pai como do Filho.

                                     Comentário Bíblico: Efésios - Elienai Cabral

                                          LivrariaCantares Instagram posts (photos and videos) - Picuki.com
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário