Texto Áureo
"A
vós graça e paz, da parte de Deus,
nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo."
(Ef. 1.2)
Verdade Prática
A
Epístola aos Efésios revela o propósito
eterno de Deus
para a Igreja de Cristo.
Lições Bíblicas - CPAD
A IGREJA ELEITA redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo da Promessa
APRESENTAÇÃO
Caro leitor, a presente obra
destina-se como meio auxiliar para as Lições
Bíblicas da Escola Dominical
(ED). Não se trata, portanto, de um comentário aos Efésios, mas, sim, da
exposição de fragmentos da Epístola para servir como subsídio aos alunos,
professores e líderes da ED. Desse modo, convém ressaltar que os assuntos aqui
tratados não abrangem todos os pormenores contidos na Epístola.
Os temas abordados, porém,
são de relevada importância para os dias de hoje, assim como o foram na época
em que foram escritos pelo apóstolo Paulo. O aspecto doutrinário, como não
poderia deixar de ser, está fundamentado na Bíblia Sagrada, que é a única e
infalível regra de fé, conduta e prática para o viver diário do cristão. As
afirmações dogmáticas escudam-se na Declaração de Fé das Assembleias de Deus no
Brasil, e a interpretação soteriológica coaduna-se com a doutrina arminiana.
A fonte de consulta
bibliográfica baseia-se em renomados autores da teologia pentecostal. A obra,
contudo, não ignora os bons intérpretes da teologia romanista e/ou reformada,
cuja abordagem identifica-se, ao menos nos pontos tratados no livro, com a
confissão de fé das Assembleias de Deus. Quanto aos temas que são alvo de
controvérsias, esse autor posiciona-se tendo como pressuposto o método
histórico gramatical e os princípios hermenêuticos da revelação, inspiração e
iluminação.
Aproveito o ensejo desse
espaço para registrar minha gratidão ao nosso bom Deus pela dádiva da vida e da
salvação, por meio da graça, em Cristo
Jesus. Agradeço a honra da
oportunidade que me é concedida pelos nossos nobres pastores e líderes José
Wellington da Costa Júnior e José Wellington Bezerra da Costa, respectivamente
presidentes da CGADB e do Conselho Administrativo da CPAD.
Externo também minha gratidão
ao Dr. Ronaldo Rodrigues de Souza,
diretor executivo da CPAD, e
ao pastor Alexandre Claudino Coelho, Gerente de Publicações, pelo apoio que me
tem sido dispensado. Ainda, meus sinceros agradecimentos ao pastor Elienai
Cabral, Consultor teológico e doutrinário da CPAD, pela gentileza em prefaciar
essa obra. Agradeço também aos membros da Assembleia de Deus de Missão no
Distrito Federal pelas orações e incentivo. Por fim, dedico este livro ao Deus
Eterno, santo e verdadeiro, a minha amada esposa, Missionária Dirley, a meus
filhos Priscila, Jéssica e Matheus.
Desejo-lhe uma abençoada
leitura!
Pastor Douglas
Roberto de Almeida Baptista
Comentarista
de Lições Bíblicas da CPAD
CAPÍTULO 1
CARTA AOS EFÉSIOS
– SAUDAÇÃO AOS DESTINATÁRIOS
“A vós graça e paz, da parte de Deus,
nosso Pai,
e da do Senhor Jesus Cristo”
(Ef 1.2)
A Epístola aos Efésios é
chamada de “a coroa dos escritos de Paulo” e ainda de “a rainha das
epístolas”.1
Essa designação está
relacionada com a excelência das revelações bíblicas que a fazem sobrepujar as
demais cartas de Paulo. Nela, está revelado o propósito eterno de Deus, por
meio de Cristo, para a Igreja. A Epístola apresenta um resumo da pregação de
Paulo e de todo o Evangelho do Senhor Jesus Cristo. O teólogo e filósofo
humanista Erasmo de Roterdã (1466–1536) considerou que, por meio de Efésios,
Paulo ensinou que, “embora a graça do evangelho tenha sido prometida aos
judeus, ela foi, subsequente e corretamente, estendida aos gentios pelo decreto
eterno de Deus e era seu dever levar até eles essa mensagem”.2
Nesse aspecto, a mensagem da
carta aos Efésios é tão necessária hoje quanto foi no passado. Não se trata apenas
de um documento teológico importante, mas também de um compêndio de revelações
espirituais que devem conduzir-nos à verdadeira adoração, gratidão e à melhoria
de nossa vida cristã. Portanto, no propósito de melhor compreender essa majestosa
epístola, vamos discorrer nesse capítulo sobre os aspectos introdutórios, tais
como a autoria, a data e os destinatários, bem como as principais abordagens
doutrinárias.
I. AUTORIA E DATA
1. Autoria
A primeira evidência da
autoria paulina é textual, isto é, conforme costume da época, o autor começa a
escrever declarando a sua identidade:
“Paulo, apóstolo de Jesus
Cristo” (1.1a); e, uma segunda vez nessa epístola, o autor torna a
apresentar-se como: “Paulo, [...] o prisioneiro de Jesus Cristo” (3.1). O livro
de Atos dos Apóstolos informa que o seu nome judeu era
Saulo e que também era
conhecido como Paulo (At 13.9). O nome próprio
Saulo significa “solicitado”
em hebraico, sendo uma provável homenagem a Saul, o primeiro rei de Israel (At
13.21), pertencente à tribo de Benjamim, que, inclusive, é a mesma tribo do
apóstolo (Fp 3.5).
Saulo era um israelita que
“falava a língua aramaica em sua casa, herdeiro da tradição do farisaísmo,
estrito observador das exigências da Torá, e mais avançado em judaísmo do que
seus contemporâneos”.3 Por outro lado, ele era um judeu da dispersão nascido em
Tarso da Cilícia, uma metrópole com governo autônomo (At 21.39). O imperador
Júlio Cesar (100–44 a.C) dera aos moradores de Tarso os direitos e privilégios
da cidadania romana. Desse modo, Paulo, que significa “pequeno”, era o seu nome
romano (At 22.3). Convertido ao cristianismo, ele foi preso por causa de sua fé
em Jesus Cristo, sendo constituído “pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios”
(2 Tm 1.8,11).
Não obstante, o polêmico
clérigo inglês Edward Evanson (1731–1805) questionou a autoria de Paulo por não
conseguir harmonizar os destinatários da carta com o seu conteúdo. A partir de
então, surgiram dúvidas quanto ao estilo e vocabulário que, supostamente, não
eram paulinos, além de conceitos teológicos “pós-paulinos”.4 Em resposta a
esses argumentos, o Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal assim se
expressa:
Dois cabeçalhos principais desta carta (1.1 e 3.1)
mostram que esta epístola foi escrita por Paulo, o Apóstolo. Esta reivindicação
é confirmada por muitos patriarcas da igreja, entre eles Policarpo, Orígenes,
Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano. Muitos estudiosos, ao longo de toda
história da igreja, afirmaram a mesma coisa [...].5
Diante desses consistentes
pressupostos textuais e históricos, não existe razão admissível para negar a
característica paulina na Epístola. É, portanto, satisfatoriamente plausível
reivindicar a autoria de Efésios ao apóstolo dos gentios:
2. A assinatura apostólica
Das vinte e uma epístolas que
contém o Novo Testamento, Paulo é o autor de 13 dessas cartas. Elas são
geralmente divididas em quatro grupos:
1) As escatológicas, que
compreendem 1 e 2 Tessalonicenses; 2) As soteriológicas, que abrangem Romanos,
1 e 2 Coríntios e Gálatas; 3) As da prisão, compostas por Efésios, Filipenses,
Colossenses e Filemon; e 4) As pastorais, que integram 1 e 2 Timóteo e Tito.
Esse grupo de epístolas é conhecido como “corpus epistolar paulino” ou,
simplesmente, de “epístolas paulinas”.
Uma curiosidade nas saudações
iniciais nas 13 cartas é a identificação pelo seu nome romano Paulo e nunca
pelo nome judeu Saulo, provavelmente por considerar que Paulo era mais
apropriado para evangelizar o mundo gentílico (Rm 11.13). Outro detalhe
relevante é que, em sete das suas cartas (1 Co; 2 Co; Gl; Ef; Cl; 1 Tm e 2 Tm),
Paulo reivindica explicitamente a sua autoridade apostólica com a ressalva:
“pela vontade de Deus”. Isso significa que o seu chamado e apostolado “não
[era] da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus
Pai, que o ressuscitou dos mortos” (Gl 1.1).
3. Uma epístola da prisão
O livro de Atos dos Apóstolos
registra duas longas prisões de Paulo: dois anos em Cesareia (At 24.1-27) e
dois anos em Roma (At 28.16-31). Outra notável prisão anotada pelo historiador
e evangelista Lucas aconteceu em Filipos por ocasião da segunda viagem missionária
(At 16.19-26). Escrevendo aos Coríntios, o apóstolo testemunhou que fora feito prisioneiro
diversas vezes (2 Co 11.23). Na Epístola aos Efésios, ele próprio identifica-se
como sendo o “prisioneiro de Jesus Cristo” (3.1), “o preso do Senhor” (4.1) e o
“embaixador em cadeias” (6.20), o que indica claramente que era uma missiva
enviada do cárcere. Portanto, não restam dúvidas quanto à situação de prisioneiro
por ocasião da escrita aos Efésios. A discussão entre alguns eruditos refere-se
à identificação do local em que se encontrava preso.
O debate concentra-se na
historiografia de Atos entre a capital da Judeia, Cesareia, e a capital do
Império, Roma. Nesses locais, Paulo esteve aprisionado em um total de quatro
anos — dois anos em cada cidade. Outros ainda argumentam a possibilidade de uma
prisão não registrada na própria cidade de Éfeso (1 Co 15.32). Essa última
conjectura, no entanto, é descartada pela ausência de documentos probatórios e
de testemunho irrefutável.
Assim, em relação ao
aprisionamento em Cesareia, sabe-se que, à época,
Antônio Félix era o
procurador da Judeia (At 24.22-27). Félix desempenhou a função durante os
governos de Cláudio e Nero entre os anos 52 e 60 d.C. Após esse período, o
procurador foi substituído no governo por Pórcio Festo no ano 60 d.C. Desse
modo, essa prisão de Paulo ocorreu nos últimos dois anos 6 do governo Félix, a
saber, entre 58 e 60 d.C. Após a posse de Festo, em virtude de uma trama para
assassinarem-no, o apóstolo apelou para o tribunal de César em Roma (At
25.3,10). Mas, apesar de ter tido muito tempo livre para escrever na prisão em
Cesareia, a maior parte dos estudiosos do “corpus epistolar paulino” afirma que
ele escreveu aos Efésios em Roma, e não em Cesareia.
4. Data
A definição do local da
prisão de Paulo, por ocasião da escrita da carta aos Efésios, também indica a
provável data em que o documento foi redigi do. Em conformidade com o livro de
Atos, depois de realizado três viagens missionárias e implantado Igrejas na
região do Mediterrâneo, Paulo esteve preso em Cesareia por um período de dois
anos entre 58 e 60 d.C. (At 24.27). Após apelar para o tribunal de César, o
apóstolo foi conduzido a Roma, onde permaneceu em prisão domiciliar por dois
anos inteiros (At 28.30). A julgar pelas condições favoráveis na casa alugada
para esse fim, tais como: ausência de restrições para receber visitas e o não
cerceamento da liberdade para ensinar (At 28.31), ratifica-se isso, como já
observado que a prisão em Roma é o local de redação das “Epístolas da Prisão”.
Em razão de as datas serem
aproximadas, a estimativa da chegada de Paulo em Roma fica entre 60 e 62 d.C.
Partindo dessa premissa, a data provável da escrita aos Efésios ocorreu por
volta dos anos 61 e 62 d.C. Tíquico foi o portador das Epístolas aos Efésios e
aos Colossenses, que, possivelmente, foram despachadas na mesma ocasião que a
carta a Filemom (6.21; Cl 4.7-9).
II. DESTINATÁRIOS
1 .
A cidade de Éfeso
Por volta de 1050 a.C.,
invasores gregos expulsaram os habitantes da costa oeste da Ásia Menor e
estabeleceram-se na cidade de Éfeso, que significa “desejável”. Ela ficava
localizada no território da Lídia entre as cidades antigas de Esmirna e Mileto.
Em 133 a.C., Éfeso foi anexada à província romana e tornou-se um centro
político, comercial e religioso da Ásia Menor, atual país da Turquia. Era uma
cidade portuária cujo Porto desaguava no mar Egeu. Por causa dessas boas
instalações portuárias e das várias estradas que ligavam a cidade ao vasto
Império Romano, Éfeso alcançou a posição de grande metrópole com cerca de 500
mil habitantes. Era a sede do procônsul romano e da confederação de cidades da
Ásia Menor.
2 .
A religiosidade em Éfeso
A cidade abrigava o templo de
Ártemis, que, na mitologia grega, era irmã gêmea do deus-sol Apolo, filha de
Leto e Zeus, equivalente a Diana para os romanos. Ártemis ou Diana era a deusa
pagã da fertilidade e protetora do parto — representada pela imagem de uma
mulher com o tórax coberto de três ou quatro fileiras de seios. Ela personificava
os poderes reprodutivos de homens e de animais. Associada aos rituais de
fertilidade, tornou-se protetora da prostituição cerimonial, que fazia parte do
culto sensual e da adoração idólatra em Éfeso.7
O templo era considerado uma
das sete maravilhas do mundo antigo.
Construído em 550 a.C., de
arquitetura jônica formada de cedro, cipreste e mármore, era o principal centro
religioso de Éfeso. O templo foi saqueado diversas vezes, incendiado e
reconstruído pelo menos duas vezes. Apesar desses ataques de vandalismo e
sucessivas reformas, após a metade do século I d.C., no período apostólico, a
imponência do templo ainda impressionava.
O livro de Atos informa que a
imagem adorada no templo havia “caído do céu” (At 19.35). Significa que algum
meteorito fora recolhido e talhado para moldar a imagem. Essa crendice sinaliza
que a religiosidade dos efésios era permeada de superstições. O cortejo do templo
que abrangia sacerdotes, sacerdotisas, assistentes e escravos eunucos que
cultuavam por meio de atos sexuais indica o nível de depravação e imoralidade
daquela cidade.
O culto idólatra também era
estimulado pela crença e pela prática do
ocultismo referendado por
inúmeros livros de artes mágicas, encantamentos, amuletos, poções, sacrilégios
e feitiços. O temor dos fenômenos sobrenaturais ou supranormais mantinha a
cidade espiritualmente cega e escravizada. Com
a mensagem do Evangelho,
muitos dos que receberam a Cristo “trouxeram os seus livros e os queimaram na
presença de todos” (At 19.18,19).
Para os efésios, o templo, a
prostituição cultual e o ocultismo representavam uma oportunidade ímpar de
aquecer a economia da cidade. Éfeso devia a sua prosperidade financeira aos
milhares de turistas e peregrinos que visitavam a capital. A maior fonte de
renda era o comércio de nichos de prata da deusa, que eram comercializados no templo.
A prostituição, a pornografia e as artes mágicas também auferiam lucros
financeiros. Sendo o centro de vários outros cultos pagãos, inclusive o culto
aos imperadores romanos deificados, a cidade era conhecida como arch paganismi,
que quer dizer “o cúmulo do paganismo”.
Avalia-se que a exploração
comercial e as questões econômicas em Éfeso
trouxeram maiores
dificuldades para Paulo do que as questões religiosas. O alvoroço por causa da
pregação do apóstolo contra a idolatria foi motivado pelo medo de a profissão
de ourives cair em descrédito (At 19.23-28). De fato, a defesa do templo e do
culto a Diana foi apenas um pretexto religioso; a verdadeira intenção era
afastar o perigo da queda e até mesmo a suspensão das vendas de imagens que
“dava não pouco lucro aos artífices” (At 19.24).
3 .
A igreja de Éfeso
Paulo chegou a Éfeso por
ocasião da sua terceira viagem missionária realizada no período aproximado de
53 a 57 d.C. (At 19.1). O apóstolo evangelizou a cidade e os seus arredores
durante três anos (At 20.31). Durante a sua permanência em Éfeso, Paulo
escreveu a primeira epístola aos Coríntios e, pelo menos, a maior parte da
segunda. Por meio das epístolas aos Coríntios, é possível desvendar a gravidade
e as agruras da batalha enfrentada por Paulo na capital da Ásia Menor: “Porque
não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois
que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que
até da vida desesperamos” (2 Co 1.8).
Quando desembarcou na cidade,
o apóstolo encontrou 12 discípulos,
os quais foram batizados nas
águas e conduzidos a receber o batismo no
Espírito Santo (At 19.5-7).
Nesse registro, convém enfatizar a validação da experiência do batismo no
Espírito Santo, ou seja, a evidência inicial de falar em línguas (At 19.6).
Paulo, em seguida, evangelizou os judeus na sinagoga por um espaço de três
meses, “disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus” (At 19.8). E, como
alguns resistiram fortemente ao Evangelho “falando mal do Caminho”, voltou-se
para os gentios pregando em um salão alugado na escola de Tirano (At 19.9).
Nesse contexto, ressalta-se o uso da expressão “caminho”. O termo é empregado
sete vezes no livro de Atos (9.2, ARA; 18.25; 19.9,23; 22.4; e 24.14,22) sempre
para identificar os seguidores de Cristo; provavelmente, uma alusão ao texto
messiânico “preparai o caminho do Senhor” (Is 40.3) e ao próprio Cristo, que se
apresentou como sendo “o caminho” (Jo 14.6).
Durante três anos de muita
dedicação e árduo trabalho missionário, a igreja cresceu e multiplicou-se. Feitos
miraculosos e extraordinários foram operados naquela cidade imoral,
supersticiosa, escravizada e refém de poderes ocultos. O poder de Deus
sobrepujou a todo tipo de encantamentos e poções mágicas ao ponto de até os
lenços e aventais do apóstolo serem levados para curar enfermidades e expulsar
demônios (At 19.12). Nesse aspecto, é salutar entender o propósito da narrativa
desses milagres incomuns, pois não se trata de texto normativo a ser seguido
pela igreja, mas, sim, o registro da sobre-excelência e grandeza do poder de Deus
“acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio [...]” (Ef 1.21).
4 .
A saudação epistolar
A saudação é a mais breve
dentre todos os escritos de Paulo. Ele dirige-se
“aos santos que estão em
Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (1.1b), isto é, aqueles que foram separados e
consagrados para ser propriedade peculiar de Deus (ver 1 Pe 2.9). Ao analisar
essa saudação, o Doutor Russel Shedd (1929–2016) corrobora com a assertiva acima
afirmando que “a palavra santo não significa uma pessoa que não peca. Pelo contrário
[...], no Antigo Testamento, santo quer dizer ‘pessoa separada por Deus’; e no
Novo Testamento [...] ‘alguém separado para pertencer exclusivamente a Deus’”.8
Desse modo, o pressuposto paulino é que os seus leitores eram realmente pessoas
separadas e que estavam vivendo para Cristo. Quanto ao uso do termo grego
pistoi, o teólogo Francis Foulkes enfatiza que “pode significar aqueles que têm
fé, ou aqueles
que são fiéis. Ambas as
ideias podem ser aqui incluídas; eles são crentes e sua chamada é a
fidelidade”.9 Isso quer dizer que os leitores não apenas criam, como também
viviam a fé em obediência a Cristo.
Paulo cumprimenta os seus
destinatários com as palavras “graça e paz”
(1.2), uma expressão que
lembra o favor gratuito e imerecido proveniente de Deus. Essa era uma saudação
padrão do apóstolo em todas as suas cartas. Lembra também, em parte, a saudação
favorita que um judeu fazia a outro:
“Paz, paz seja com você”.10
Paulo, porém, vai além e eleva a expressão judaica à esfera cristã,
acrescentando o termo graça. Ao comentar esse cumprimento, Matthew Henry
(1662–1714) considera que a frase “expressa a boa vontade do apóstolo em
relação aos seus amigos e é um desejo real pelo bem-estar deles. [...] Não há
paz sem graça [...]. Essas bênçãos peculiares procedem de Deus, não como
criador, mas como Pai”.11
Em relação à área geográfica
dos destinatários, no primeiro e segundo
séculos do cristianismo, a
epístola era aceita quase que universalmente sob o título de “Aos Efésios”.
Entretanto, mais tarde, a veracidade do título original ocasionou
controvérsias, e a designação passou a ser considerada incorreta.
Diante dessas constatações,
variadas propostas de conciliação surgiram para elucidar a questão. Contudo, a
posição adotada pela maioria dos intérpretes considera que a epístola era uma
encíclica (uma circular) destinada aos cristãos de maioria gentílica das muitas
igrejas da Ásia, tendo a sua origem em Éfeso, a metrópole mais importante da
região. Sob essa perspectiva, cada uma das igrejas daquela região podia inserir
o seu próprio nome na saudação original, “testemunhando a relevância de sua
profunda mensagem pra todas as verdadeiras igrejas de Jesus Cristo”.12 E, como
Éfeso tornou-se um dos grandes centros do movimento cristão primitivo a partir
da igreja-mãe da populosa província romana na Ásia Menor, o título “aos
Efésios” passou a identificar essa majestosa epístola.
III. PROPÓSITO E MENSAGEM
1. O propósito
Aparentemente, a epístola não
aborda nenhum problema específico como
acontece em outros escritos.
Percebe-se, porém, que Paulo escreveu para
“fortalecer e amadurecer os
seus irmãos e irmãs cristãos na sua fé, explicando o objetivo e o poder da
igreja [...] convocando os crentes à sã doutrina e a uma vida santificada”.13
Outra questão relevante nessa análise é a constante preocupação do apóstolo com
as igrejas que ele fundara (2 Co 11.28).
No caso específico de Éfeso,
é preciso olhar com atenção as suas palavras de despedida aos anciãos. Na
ocasião, Paulo exortou-os à vigilância
permanente alertando que, depois da sua
partida, lobos cruéis entrariam na igreja para destruírem o rebanho (At 20.28-31).
Diante dessa revelação e sabendo que não mais retornaria àquela cidade (At
20.38), quando as suas inquietações foram confirmadas anos depois, Paulo foi
inspirado a escrever esse verdadeiro tratado teológico acerca do propósito
eterno de Deus para com a Igreja de Cristo.
Ainda são perceptíveis nos
capítulos iniciais algumas ênfases que sinalizam a solução de algumas questões
comuns na Ásia Menor. Por exemplo, muitos dos novos convertidos vinham do mundo
helênico, de religiões de mistério e magia, e, outrora, as suas vidas foram aprisionadas
pelo misticismo. Agora, porém, libertos em Cristo, Paulo lembra-os de que a
cabeça da Igreja controla o Universo inteiro (1.20-22), e esse mesmo tema
retorna no capítulo final para reafirmar a vitória contra as hostes do mal com
o uso de toda a armadura de Deus (6.10-18).
Também se infere no conteúdo
da epístola que, no passado, a vida daqueles cristãos tinha sido de imoralidade,
depravação, desobediência e bebedeiras, mas, agora, salvos pela graça divina,
deveriam adotar uma nova vida em Cristo (2.1-10). Destaca-se, ainda, uma
preocupação com a unidade e a paz entre judeus e gentios cristãos, enfatizada
pelo plano universal da redenção (2.11-18). Sob essas premissas das intenções
do autor, considera-se que, de maneira pastoral, a carta busca atender as
múltiplas necessidades da igreja; por isso, é possível reafirmar ser a epístola
em apreço “um tratado sobre a igreja, o corpo de Cristo”.
2. A mensagem
Como já descrito, a mensagem
dessa epístola que é avaliada como o
“clímax da teologia paulina”
é ao mesmo tempo múltipla, abrangente e gratificante. Diversos estudiosos têm
sugerido que o seu conteúdo pode ser resumido em três palavras: assentado,
andando e firmado. A justificativa dessa proposta é assim explicada:
Pela posição, o crente está assentado com
Cristo nos lugares celestiais
(2.6); sua responsabilidade é andar
condignamente ao chamado que
lhe foi feito (4.1); e este andar é mais
amplamente apresentado como uma guerra na qual ele está empenhado contra satanás
e todas as suas hostes e na qual ele é exortado a permanecer ę contra as ciladas
do diabo (6.11).14
Isso significa que o ponto de
vista da mensagem em Efésios é mais amplo e maior do que em outras epístolas.
Nesse sentido, a carta é reputada como “uma combinação magnífica da doutrina
cristã e do dever cristão, da fé cristã e da vida cristã, daquilo que Deus fez
através de Cristo e do que nós devemos ser e fazer em decorrência”.15
A partir desses pressupostos,
observam-se dois polos em torno dos quais gira a mensagem de Efésios: Jesus
Cristo e a Igreja — ambos representados pela imagem simétrica de “Cristo, a
cabeça” (1.22; 4.15; 5.23) e “Igreja, o corpo” (1.23; 4.12; 5.30). Alguns
avaliam que nela aparecem temas doutrinários que não são encontrados nos demais
escritos paulinos. Apesar de essa afirmação ter parcela de verdade, não devemos
estudar o seu conteúdo sob essa perspectiva.
Nesse eixo interpretativo, a
ênfase da mensagem recai sobre a doutrina da Igreja, que é a consumação do
plano eterno de Deus na pessoa de Jesus Cristo (1.3-5). Isso significa muito
para os cristãos, pois, “de acordo com o plano eterno e amoroso de Deus, Ele
conduz, executa e sustenta a nossa salvação. [...] Em amor, Ele escolheu muitas
pessoas para participarem da sua ‘filiação’ — não pelos próprios méritos delas,
mas em virtude de estarem no Filho”.16
Embora a Igreja de Cristo e o
plano de redenção sejam o foco da epístola,
a atuação da Terceira Pessoa
da Trindade também recebe proeminência. Den-
tre vários aspectos,
destaca-se nos versículos iniciais a descrição do Espírito
Santo da promessa (1.13) como
garantia e penhor da experiência de salvação (1.14), o seu desempenho em
capacitar o crente a ter intimidade com o Pai (2.18,22) e a revelação do
mistério da Igreja que estava oculto (3.4,5).
Outro aspecto importante é a
reconciliação dos povos por intermédio da cruz de Cristo (1.7; 2.13; 2.16).
Aqui, a obra da cruz é ratificada como
suficiente para nossa
salvação. Esse tema também é encontrado nas demais cartas paulinas (Rm 5.6-10;
1 Co 15.3-28; Cl 1.14-20). A salvação por meio da graça é outro tema muito caro
na epístola (2.8,9). Essa doutrina da justificação pela fé é um tema
tipicamente paulino e, desse modo, abordado em outras das suas cartas (Rm
3.21-26; Gl 2.16; 3.11,24). Em termos gerais, assevera que o pecador é
justificado (absolvido da punição e da condenação do pecado) unicamente pela fé
na graça divina.
Por fim, a mensagem de
Efésios requer um novo padrão de conduta para a igreja cristã, tais como manter
a unidade, adorar a Deus e viver no Espírito (4.3,30; 5.9,18,19; 6.18) e
encerra com orientações de como se portar nos relacionamentos conjugais e na
vida social, bem como proceder na luta contra o Diabo (5.21-6.24). A epístola,
portanto, contém uma combinação de doutrina e vida cristã, daquilo que Deus fez
e daquilo que se espera da Igreja.
A IGREJA ELEITA
- Douglas Baptista
Comentário Bíblico: Efésios
Introdução
A Carta aos Efésios já tem
sido apresentada por vários teólogos e estudiosos do Novo Testamento como sendo
a rainha das epístolas paulinas, tanto por sua beleza expressa quanto pela
sublimidade espiritual na qual coloca o crente que a lê. Não havia uma
circunstância específica nem qualquer controvérsia que provocasse a necessidade
dessa carta. Ela é abrangente e com sentido universal, porque se tem a
impressão de que Paulo a escreveu para todas as igrejas locais que resultaram
de seu trabalho missionário. Como disse certo escritor, "ela tem uma
qualidade quase meditativa".
1. LUGAR Éfeso
era uma próspera cidade, perto de porto marítimo na Ásia Menor. Era uma colônia
romana na costa ocidental e constituía-se rota obrigatória de caravanas para o
Oriente. De Éfeso, partiam estradas que davam acesso às grandes cidades
pertencentes àquela província. A cidade estava situada a quatro quilômetros de
distância do mar Egeu, junto ao rio Caister, naquele tempo navegável e com
saída para o mar. Devido à sua posição geográfica, Éfeso era ponto estratégico,
no sentido religioso e territorial. Religiosamente, era uma cidade paga, e
destacava-se nela a imagem do templo de Artemis, deusa também conhecida como
"a grande Diana dos efésios". A vida cotidiana do povo era
grandemente influenciada pela adoração desse ídolo. A indústria e o comércio, e
mesmo o lazer popular, encontravam em Artemis sua grande inspiração.
Geograficamente, Éfeso
tornou-se ponto estratégico também para o trabalho missionário de Paulo na
Ásia.
Hoje, restam apenas ruínas daquela que chegou
a ser uma grande metrópole e capital de província. Ruínas que ficaram como
mostruário, por exemplo, da Via Arcadiana, toda pavimentada de mármore e com
quinhentos metros de extensão; do teatro romano para 25 mil lugares; de um
estádio para jogos; e do templo de Artemis, entre outros.
2. DATA
Não há uma data específica, mas provável para o período em que foi escrita a
carta. Talvez tenha sido entre 61 e 63 d.C, quando o apóstolo estava preso em
Roma; por isso, a carta é considerada uma das "cartas da prisão". No
ano 64, ocorreu o incêndio de Roma, e, provavelmente, na primavera de 63, Paulo
foi liberto da prisão.
3. DESTINATÁRIOS A quem escreveu Paulo essa carta? Foi realmente aos efésios? Ou teria
sido à igreja de Laodicéia, ou quem sabe à de Colossos?
Essa questão tem sido
levantada através dos séculos pelos críticos. Entretanto, os exegetas modernos
têm apresentado vários problemas quanto à destinação da epístola, com base num
trecho do primeiro versículo (Ef 1.1) que diz: "aos que estão em
Éfeso" (grifo nosso). O ponto central é que a expressão "em
Éfeso" não se encontra na maioria dos manuscritos mais antigos, ou seja,
Paulo parece ter omitido a localização geográfica de seus destinatários. Outra
dificuldade apontada pelos críticos modernos são dois textos dentro da epístola
que dão a idéia de que Paulo tivesse tido pouca familiaridade com os efésios. O
tom distante com que ele fala sobre ter "ouvido" acerca da fé de seus
leitores (1.15), e sobre o terem eles "ouvido" falar de seu
ministério (3.2), dá a impressão de ter escrito para outra igreja. Seria
Laodicéia que a recebeu? Essa igreja tem sido apontada por estudiosos como
possível destinatária da carta, uma vez que certa tradição antiga a identifica
como tal.
Alguns eruditos sugerem que
os copistas dos manuscritos originais suprimiram Laodicéia por causa do que
está escrito acerca dessa igreja em Apocalipse 3.14-22, e ainda que outros
copistas teriam colocado Éfeso no lugar por causa da relação íntima que Paulo
tinha com esta igreja. Entretanto, não é provável que tenha havido qualquer
alteração; a maior probabilidade seria a de que a carta tinha um cunho
circular, isto é, fora redigida para ser lida em várias igrejas locais da Ásia
Menor próximas a Éfeso.
Cremos que o problema em torno do destinatário
não afeta em nada o objetivo teológico e doutrinário da carta.
4. AUTORIA
Outro problema levantado, ainda que sem muito argumento, é quanto à autoria da
carta. Um erudito norte-americano por nome E. J. Goodspeed apresentou a teoria
de que o autor tenha sido algum cristão atuante e admirador do apóstolo Paulo.
Sugeriu ainda o nome de Onésimo, o escravo convertido na prisão em Roma e que
fora escravo de Filemom. Porém, não há nenhuma possibilidade de aceitação dessa
idéia. A objeção interna levantada quanto à autoria paulina está na citação de
algumas expressões que parecem não ser próprias de Paulo nem do seu estilo.
Entretanto, as provas que afirmam a autoria paulina são mais fortes que as
contra-argumentações, pois a Epístola aos Efésios conta com forte e notável
confirmação histórica, não deixando dúvida alguma sobre a sua autoria. Paulo
foi, realmente, o autor dessa maravilhosa carta. Tíquico, também ministro do
Evangelho, foi o portador dessa e de outras cartas paulinas (Ef 6.21,22).
O ministério de Paulo em Éfeso foi muito
próspero. Por mais de dois anos (At 19.8,10) ele andou e pregou livremente
naquela região, aproveitando todas as oportunidades surgidas. Em Éfeso ele fez
um contato mais direto com o povo da cidade, mais que em qualquer outro lugar.
Lucas, o médico amado e autor de Atos dos Apóstolos, observador criterioso que
era, notou esse fato quando afirmou: "... todos os que habitavam na Ásia
ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos" (At 19.10).
Escreveu mais sobre aquela região, afirmando que a Palavra do Senhor crescia e prevalecia
(At 19.20), e que o número dos que creram foi grande (At 19.26,27).
1. SAUDAÇÃO — 1.1,2
Paulo sempre teve uma maneira
peculiar de iniciar suas cartas sem fugir ao estilo da época. A carta inicia
com o nome do escritor, depois o do destinatário e, finalmente, a saudação.
Paulo toma o estilo convencional de seu tempo e o coloca num nível mais
elevado, porque seu tratamento é para irmãos na fé.
1.1. Sua identificação pessoal — v. 1 Ele começa, como de praxe na época, com o
primeiro nome, "Paulo", e, a seguir, apresenta os títulos mais
importantes, que lhe asseguram uma autoria apostólica. Após iniciar com o nome,
Paulo designa a si mesmo "servo de Jesus Cristo". Um título que todos
os verdadeiros cristãos possuem, se realmente servem ao Senhor Jesus Cristo.
1.2. Sua identificação ministerial — v. 1 Apóstolo é o título que ele mais usa em
referência a si mesmo. O Novo Testamento apresenta três significações para esse
título:
a) Dá a idéia de um
mensageiro (2 Co 8.23);
b) Quando Paulo e Barnabé são
enviados pela igreja de Antioquia para pregar, o sentido da palavra
"apóstolo" toma o significado de enviado (At 14.4-14);
c) A significação de "apóstolo"
nessa carta é a de embaixador de Cristo (2 Co 5.20). Em princípio, embaixador
referia-se quase que exclusivamente aos 12 apóstolos, nomeados e enviados por
Jesus e feitos testemunhas oculares de sua ressurreição. Paulo não foi um dos
12, mas afirma convictamente ter sido enviado por Cristo e se denomina, em
várias de suas cartas, como "apóstolo de Jesus Cristo" (Rm 1.1; 1 Co
1.1; 2 Co 1.1; Gl 1.1; Ef 1.1; 1 Tm 1.1; Tt 1.1). Paulo se diz apóstolo de
Jesus Cristo não só no sentido de pertencer a Ele, mas também no de ser enviado
por Ele como embaixador a terras estrangeiras.
1.3. Sua saudação aos destinatários — v. 1 Após apresentar-se, Paulo faz sua saudação aos
"santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus". A designação da
palavra "santos" aos crentes é freqüente no Novo Testamento. Essa
palavra aparece outras vezes nessa mesma carta com o sentido especial de
"separados". Os santos são "os separados" para o serviço de
Deus. A palavra tem sentido ativo, isto é, diz respeito aos crentes
santificados e separados da vida do mundo.
1.4. O
sentido da saudação cristã — v. 2 No verso 2 encontramos duas outras
palavras muito usadas nas saudações apostólicas, que são "graça e
paz". No mesmo versículo está a procedência dessa expressão: "da
parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo". Os judeus usavam
apenas a palavra shalom (paz), mas os cristãos primitivos acrescentaram-lhe
mais uma palavra — graça, e passaram a se cumprimentar com "graça e
paz", dando uma significação singular à saudação cristã. Graça expressa o
favor soberano de Deus para os homens, como fonte de todas as bênçãos; paz, o
ato reconciliador do homem com Deus por meio de Jesus Cristo. Graça e paz são
dádivas, tanto do Pai como do Filho.
Comentário
Bíblico: Efésios - Elienai Cabral
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