TEXTO
ÁUREO
“Por isso, se chamou o seu nome Babel,
porquanto ali confundiu o SENHOR a língua de toda a terra e dali os espalhou o
Senhor sobre a face de toda a terra” (Gn 11.9).
VERDADE
PRÁTICA
O
globalismo afronta os propósitos de Deus quanto ao povoamento e ao governo da
Terra.
SUBSÍDIO DIDÁTICO—PEDAGÓGICO
Mostre aos alunos que a
história narrada no presente tópico encontra-se em Gênesis 9.18-29.
Contextualize-os do encadeamento do relato bíblico: (1) Noé embriaga-se com o
vinho; (2) Sua nudez foi vista pelo seu filho mais novo. Cam; (3) Cam desdenhou
de seu pai aos seus irmãos, mas estes cobriram imediatamente a nudez de Noé;
(4) Ao recuperar os sentidos, Noé não deu sua bênção a Cam e concentrou
maldição a Canaã, seu neto, filho de Cam. É bom lembrar que a descendência de
Canaã foi marcada por imoralidades agudas, sendo assim, fonte de muita
corrupção para os israelitas. Esse relato trágico prepara o contexto simbólico
que forjará a Torre de Babel e sua consequências.
Capítulo 9
O Primeiro Projeto de Globalismo
S
|
e
não lermos atentamente a História Universal, viremos a pensar que o globalismo
é um fenômeno exclusivamente pós-moderno; algo gerado por esses dias
trabalhosos e difíceis. Todavia, quando nos voltamos à Bíblia Sagrada e,
depois, à historiografia profana, convencemo-nos de que o globalismo é tão
velho quanto à antiga serpente, que, desde o Éden, vem esforçando-se por
congregar toda a humanidade em torno de si — ela, a deusa, e os homens, seus
cegos e ignóbeis adoradores.
Na verdade, a proposta que Satanás apresentou
a Eva, no paraíso, foi essencial e malignamente globalista, embora houvesse,
naquele vergel, apenas dois habitantes. Aliás, ele intentara o mesmo ao
rebelar-se contra o Senhor no Éden Celeste (Ez 28). Mas o seu intento redundou
na própria desdita; rebaixado a Diabo, passou a ser conhecido por estes dois
emblemáticos apelidos: serpente e dragão. Para quem se achava tão alto, agora
era comparado a répteis.
Salomão
estava certo ao dizer que, sob o sol, nada existe de novo. Tudo é tão velho
hoje quanto ontem. Somente a Palavra de Deus não envelhece. Neste capítulo,
veremos qual a real intenção que subjaz ao globalismo; não obstante suas
aparentes benesses, é um ataque declarado e impiedoso aos planos divinos quanto
à povoação e ao governo da Terra. Conquanto apresente-se acima das religiões,
não passa de um projeto religioso, que envida todos os recursos para colocar-se
acima de todos; ignorando a Deus, faz-se divindade. Inicialmente, estudaremos a
primeira iniciativa de se globalizar a Terra. Tal apostasia teve lugar em
Sinear, na Mesopotâmia. Ali, homens ímpios e dissolutos incitaram a
descendência de Noé a aglomerar-se num só lugar, sob um único governante. Foi
assim que nasceu o globalismo: uma doutrina contrária ao propósito divino
quanto à povoação e ao governo da Terra.
Em
seguida, veremos como se deu a intervenção do Senhor naquele projeto insano.
Num único ato, Deus confundiu a língua dos lhos de Noé e os espalhou pelos mais
remotos continentes, e ilhas. Finalmente, veremos como o Senhor deu início à
linhagem piedosa de Israel, chamando o patriarca Abraão a viver pela fé.
Que
Deus nos ajude a compreender mais esse precioso tema extraído de sua
maravilhosa e insondável Palavra. Seja-lhe tributada toda a glória. Amém!
I. Velha Rebelião com Novo Nome
Não
é tarefa fácil definir ou identificar o globalismo, porque, apesar de ser
movido por um único espírito — o do Anticristo —, este projeto apresenta-se com
múltiplos tentáculos, alguns dos quais antagônicos entre si. Suas vertentes
também são múltiplas: econômicas, religiosas, científicas e políticas. Mas,
pelo que observamos, quem está no comando desse empreendimento não se preocupa
com as divergências havidas entre seus tentáculos e vertentes, porque sabe
muito bem como orquestrar toda essa dialética até que uma síntese se torne
possível. Todavia, na condição de servos de Deus, obrigamo-nos a definir e a
identificar o globalismo, a m de não tomarmos parte nas obras infrutuosas das
trevas, pois um dos objetivos desse projeto, claramente satânico, é
apropriar-se também da Igreja de Cristo.
1. Definindo o globalismo.
O
globalismo não é uma mera globalização, porque esta é tão inevitável hoje
quanto o foi outrora; é impossível impedir os seres humanos de interagirem-se
entre si. Relacionamentos diplomáticos, comerciais e religiosos sempre
existiram desde os impérios dos rios Tigre e Eufrates até as potências do Volga
e do Potomac.
Logo,
a globalização é necessária para o desenvolvimento do ser humano, pois ajuda a
povoar e a integrar o planeta. Aliás, a Grande Comissão é, em sua premissa
básica, uma ordenança global, pois o Senhor Jesus nos ordena a evangelizar de
Jerusalém aos confins da Terra (At 1.8).
O
globalismo, entretanto, é uma doutrina que, contrapondo-se à vinda do Reino de
Deus à Terra, busca arregimentar todas as instituições humanas, desde as
políticas às religiosas, sob um único governo: o do Anticristo, conforme
escreve Paulo aos irmãos de Tessalônica (2 Ts 2.1- 12). Logo, não podemos
empregar o termo “globalismo” como sinônimo da palavra “globalização”, porque,
no contexto que ora analisamos, não há sinonímia alguma entre ambos. Por esse
motivo, defini-lo-emos como a doutrina que, apesar de possuir variadas
matrizes, tem como objetivo dominar todas as instituições humanas e, em
seguida, congregar toda a humanidade em torno de um governante mundial: o
Anticristo. Tal plano, como veremos mais adiante, acha-se revelado claramente
no Apocalipse de Jesus.
2. Seus objetivos básicos.
No
tópico anterior, conseguimos definir razoavelmente o globalismo e revelar o seu
principal objetivo. Agora, busquemos especificar quais as verdadeiras metas
desse projeto que, conforme já dissemos, tem pelo menos seis mil anos de
história. Portanto, os súditos do príncipe deste mundo contam com experiências
e ensaios acumulados em vários milênios de rebeliões contra o Senhor. Não lhes
falta nem teologia, nem teoria política; sua expertise é formidável.
Nas
entrelinhas dos últimos acontecimentos, inferimos que o globalismo vem
trabalhando, sutil e habilmente, a política, a religião, a economia e a
cultura, visando dominá-las a m de apressar a ascensão do personagem que, na
Bíblia, aparece como o homem do pecado (2 Ts 2.3). Em que pesem os aparentes
confrontos entre o Oriente e o Ocidente e entre o Norte e o Sul, as nações vêm
sendo orquestradas, para que aceitem, sem contestação alguma, a ascensão de um
potentado mundial.
Na
realidade, os governos perceberam que os seus modelos políticos, quer de
direita, quer de esquerda, já não funcionam como no princípio; fracassaram na
essência e na forma. Tal mandatário, portanto, estaria acima dos órgãos mais
poderosos como as Nações Unidas e a União Europeia. Vê-se, pois, que o príncipe
deste mundo, ora agindo como Diabo, jogando uma nação contra outra, ora agindo
como Satanás, confrontando a todas, cria uma dialética, que, no final,
resultará numa síntese já revelada na Bíblia: o governo do Anticristo.
O
Anticristo precisará, a m de lhe sustentar o governo, de uma assessoria
religiosa, visando a construção de uma mística em torno de sua pessoa. Já
cercado de mitologia, não lhe será difícil impor as políticas mais iníquas,
absurdas e genocidas. Eis porque, desde já, busca ele unificar todas as
religiões, por mais antagônicas e irreconciliáveis, para que o seu globalismo seja
bem-sucedido. Não vamos, por ora, entrar em mais detalhes a esse respeito,
porque ainda voltaremos a falar no assunto. Por enquanto, basta sabermos que os
globalistas estão interessados em todas as instituições humanas, principalmente
as religiosas. Em todas as eras, a economia sempre exerceu forte pressão nas
decisões humanas. Haja vista o que aconteceu na Alemanha após a Primeira Guerra
Mundial. A inação, naquele país, a partir de 1918, tornou-se de tal forma
incontrolável, que o operário precisava de uma sacola de dinheiro para comprar
um naco de pão. Aqui, meu querido leitor, não vai hipérbole alguma. Nesse clima
de desespero, não foi difícil a Adolf Hitler roubar o coração da culta e
inquiridora nação germânica. E, ali, entre cientistas, filósofos e teólogos,
instaurou o seu nacional socialismo que, redundando na Segunda Guerra Mundial,
causaria a morte de 60 milhões de pessoas. Os ideólogos do globalismo sabem
que, pelo estômago, poderão dominar o mundo. Aliás, o controle da economia é um
dos objetivos da Besta, conforme lemos no capítulo 13 de Apocalipse. Hoje,
ensaia-se a união de todas as empresas numa imensa e formidável corporação,
que, aliada à política e à religião globais, darão todo o suporte ao governante
mundial.
Ora, com o domínio da política, da religião e
da economia, não será difícil ao globalismo uniformizar todas as culturas do
mundo numa monolítico-cultural. E, depois, já com uma cultura unificada,
tentarão seus ideólogos impor à humanidade um único idioma, forçando-a a
retroceder à Torre de Babel. A m de alcançar seus intentos, vandalizam
impiedosamente todas as instituições já consagradas. Quer na literatura, quer
na música, seja nas artes, seja no mais humilde artesanato, a desconstrução de
identidades nacionais vem acelerando-se em prol de uma cultura satânica,
deformada e anticristã. Mas, como já dissemos, o globalismo não é um fenômeno
novo; é algo tão velho quanto a antiga serpente, segundo no-lo mostra a
História Sagrada e a profana.
II. Resumo Histórico do Globalismo
Neste
tópico, acompanharemos os principais avanços do globalismo através da história.
Inicialmente, identificá-lo-emos em três períodos bíblicos: no mundo
pré-diluviano, na construção da Torre de Babel e no Império Romano nos dias do
Novo Testamento. Em seguida, destacaremos alguns de seus principais ideólogos e
promotores: Carlos Magno, Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, que, a partir da
Europa, intentaram globalizar o mundo e submetê-lo aos seus caprichos.
1. O mundo antediluviano.
Os
defensores do globalismo deveriam ler atentamente os 11 primeiros capítulos da
Bíblia Sagrada, a m de se conscientizarem de quão nociva tem sido a sua
doutrina ao ser humano. No período que antecedeu o Dilúvio, toda a humanidade
achava-se concentrada num só lugar, falava um único idioma e, provavelmente,
era governada por um único homem: o globalismo era absoluto. Mas este ensaio
acabou por levar a raça humana à sua quase extinção (Gn 6–8). Daquele singular
cataclismo, somente Noé e sua família lograram escapar.
2. A Torre de Babel.
Apesar
das experiências que os descendentes de Noé trouxeram da era pré-diluviana,
tornaram eles a se agruparem em torno de um único líder mundial — provavelmente
Ninrode, o poderoso caçador (Gn 10.9). Habitando todos eles, num só lugar,
começaram a pecar e a corromper-se como uma só pessoa. Conforme veremos mais
adiante, esse experimento avançado de globalismo terminou por separar definitivamente
a humanidade em milhares de línguas e dialetos.
3. O Império Romano.
O
Senhor Jesus nasceu, de acordo com Paulo, na plenitude dos tempos: uma
globalização que, apesar das aparências, foi conduzida pelo próprio Deus, a m
de preparar o mundo para a vinda de seu Filho (Gl 4.4,5). E, para tanto, dispôs
de três grandes povos e culturas: os hebreus, com a divulgação da Lei e dos
Profetas em suas sinagogas espalhadas pelo mundo; os gregos, com o seu idioma,
para facilitar a proclamação universal do Evangelho; e, finalmente, os romanos
que, por meio de seu sistema judiciário, administrativo e benfeitorias
públicas, facultaram o trânsito dos apóstolos em todo o império. O mundo todo,
nessa época, achava-se perfeitamente sincronizado sob as ordens do Deus de
Israel. Apesar de suas diferenças e antagonismos, hebreus, gregos e romanos
cooperaram, entre si, para que o Evangelho de Cristo chegasse aos confins da
Terra sem impedimento algum (At 28.30). É bem provável que os povos mencionados
não estivessem cientes do papel que, naquele momento, desempenhavam. Mas,
cientes ou não, cumpriam eles plenamente a vontade divina. Incluamos, nessa
lista, o Egito que, apesar de já não representar muito, em termos políticos,
fora preparado, a m de abrigar e proteger o Infante Jesus. Aliás, até os Reis
Magos foram inseridos na globalização salvadora que, não obstante as oposições
do Inimigo, ia divulgando, em toda a Terra, a chegada do Reino dos Céus.
4. Carlos Magno, o rei dos
francos e senhor da Europa.
Desde a ruína do Império Romano, em 476 d.C.,
a Europa entrou numa fase de confusão política e incertezas quanto ao futuro. A
situação só não ficou pior, em virtude da Igreja Cristã, que, já espalhada por
todo aquele continente, pôs-se a evangelizar até mesmo os que levaram Roma à
destruição. Infelizmente, a cristandade visível fez-se vistosa e começou a
perder as excelências, e propriedades da Igreja Invisível. Não obstante, os fiéis
que perseveravam na doutrina dos apóstolos agiam como luz numa era que parecia
condenada às trevas. Ao contrário do que muitos historiadores sustentam, a
Idade Média trouxe progressos notáveis, criando e fomentando instituições que
perduram até os dias hoje. Haja vista os hospitais e universidades. O sonho de
uma Europa unificada que, à semelhança do Império Romano, viesse a globalizar
novamente o mundo, não morrera com a queda de Roma. De vez em quando, um
potentado erguia-se disposto a reunir as tribos, nações e reinos europeus sob
um mesmo estandarte. E, dessa forma, enfrentar as ameaças vindas ora do Norte
ora do Oriente. Um desses sonhadores foi Carlos Magno. Nascido em Aachen no ano
742, o rei dos francos, devido à sua genialidade político-militar, tornou-se o
primeiro mandatário do Sacro Império Romano. A nova entidade era assim
denominada por unir, sob um mesmo cetro, os poderes seculares e eclesiásticos:
o trono franco e a sede papal. Na verdade, era a espada imperial quem ditava as
ordens; o báculo do pontífice dependia da proteção de Carlos. Seja como for, de
conquista em conquista, o novo imperador definiu aquilo que hoje conhecemos
como Europa. Sob o seu poder, floresceram as artes, as letras e as ciências.
Apesar de analfabeto, sabia que nenhuma civilização, por mais aguerrida e
conquistadora, é capaz de sobreviver na ignorância. Por isso, impulsionou a
criação das universidades. Todavia, se o Evangelho de Cristo não for
proclamado, como poderá um reino subsistir?
Visto
no auge de seu poder, tinha-se a impressão de que Carlos Magno não demoraria em
reunificar a Europa. O que lhe faltava agora? Retomar o globalismo férreo do
Império Romano. Mas, com a sua morte, no ano 800, ambos os projetos caem por
terra. Conforte profetizara Daniel, o barro jamais unir-se-á ao ferro; entre
ambos a liga é impossível (Dn 2.43).
5. Napoleão Bonaparte, o imperador dos
franceses que os outros europeus rejeitaram.
Mesmo
sabendo que o ferro e o barro são elementos incompatíveis, Napoleão Bonaparte
(1769-1821), um pouco italiano, outro tanto francês, mas completamente europeu,
seguiu os passos de Carlos Magno. Mas, na verdade, não passava de uma
caricatura romântica de Adolf Hitler. Apesar da mitologia que o cercava e da
aura poética que o envolvia, foi tão perverso quanto o seria o ditador alemão
120 anos depois. Nos 12 anos que duraram as suas guerras, de 1803 a 1815, mais
de dois milhões de pessoas vieram a perecer em combate ou foram dadas como desaparecidas.
Napoleão Bonaparte foi um dos subprodutos de uma excrecência até hoje celebrada
por gente de todos os matizes políticos: a Revolução Francesa (1889-1899).
Arquitetada para combater um rei taxado de tirano, acabou por criar um ditador
sanguinário, insensível e que só pensava em conquistar e destruir. Além disso,
movia-o também um sonho globalista. Homens como esse são instrumentalizados por
Satanás. Como o Adversário desconhece o calendário divino, vai treinando seus
prepostos quer no mundo da política, quer no universo da religião; não são
poucos os que se deixam cooptar por ele. Para quem fantasiava a reunificação da
Europa e a globalização do mundo, veio ele, o outrora glorioso Napoleão, a
morrer inglória e solitariamente na ilha de Santa Helena, no meio do Atlântico
Sul.
6. Adolf Hitler, o austríaco que se apossou da
Alemanha para conquistar o mundo.
Desde
Carlos Magno até Hitler, observa-se algo sutilmente profético: os homens que
intentam unificar a Europa, para globalizar o mundo, são movidos por uma ética
cada vez mais decadente e perversa. Tornam-se, a cada tentativa, mais parecidos
com o homem do pecado (2 Ts 2.1-12). Senão, vejamos o caráter dos três
personagens objetos de nosso estudo.
Carlos
Magno, apesar de suas brutais campanhas militares, imortalizou-se como o
organizador da Europa Ocidental. Entre batalhas e combates, criou e fomentou
instituições como as universidades e os hospitais. Hoje, tais realizações,
embora tenham a Europa como berço, beneficiam a todos os povos.
Napoleão Bonaparte, em que pese a importância
de seu código civil, promulgado em 21 de março de 1804, agiu como se não
houvesse código algum. Quando nos aprofundamos em sua biografia, concluímos
que, guardadas as devidas proporções, em nada diferia ele de Hitler; foram
ambos visceralmente malignos e sanguinários. Mesmo assim, cerca-o ainda certo
romantismo; algo impróprio para um homem mau e perverso.
Quanto
a Adolf Hitler (1889-1945), o que posso dizer? Embora não tivesse a visão de
Carlos Magno e o tirocínio de Napoleão, também intentou um projeto globalista.
E, para tanto, tomou de assalto a Alemanha, servindo-se das vias democráticas,
rapinou partes da Tchecoslováquia, anexou a Áustria, invadiu a Polônia e, nos
meses seguintes, dominou os restantes de seus vizinhos até subjugar a poderosa
França. Quem o visse naqueles dias de glória e ufanismo, entre 1939 e 1941,
concluiria imediatamente que estava ali, em sua augusta pessoa ariana, uma
perfeita junção de Carlos Magno e Napoleão Bonaparte, pronta a reunificar a
Europa e a globalizar o mundo. Terminada a Segunda Guerra Mundial, porém, já
não havia nem Europa reunificada nem mundo globalizado, mas destruição e ruína.
Sob os continentes em guerra, 60 milhões de cadáveres; deste formidável número,
10% eram de judeus. Nunca se matou tanta gente em tão pouco tempo. Napoleão
precisou de 12 anos para arrastar, às sepulturas das Europa, dois milhões de
pessoas. Hitler, em menos da metade desse período, torna-se responsável por uma
cifra trinta vezes maior.Terminada a Segunda Guerra Mundial, tem início a
Guerra Fria. Hoje, o projeto globalista voltou a ganhar forças em todos os
setores da vida humana, notadamente na política e na religião. Todavia, quando
nos voltamos às profecias bíblicas, descobrimos que a humanidade encaminha-se à
Grande Tribulação. Somente o Rei dos reis e o Senhor dos senhores poderá agregar,
em torno de seu Reino, todos os descendentes de Adão e Eva. Para compreendermos
a mecânica do projeto globalista, intentado diversas vezes por homens malignos,
precisamos estudar, com atenção e cuidado, o episódio da torre de Babel.
III. A Segunda Civilização
Humana
Neste
tópico, veremos que, após o Dilúvio, o Senhor firmou uma nova aliança com Noé.
E, assim, o patriarca deu início à segunda civilização humana. Todavia, o seu
lho mais novo, rebelando-se, inaugurou outro período de decadência e menosprezo
para com os mandamentos divinos.
1. A apostasia de Cam e de Canaã.
O episódio da vinha de Noé acabou por revelar
a irreverência de Cam, o seu lho caçula, e a maldade de seu neto, Canaã (Gn
9.20-29). Tinha início, ali, uma apostasia que, por pouco, não leva toda aquela
geração a uma nova catástrofe universal semelhante ao Dilúvio (Gn 6.1-3).
Assim
como a cultura caimita induzira os lhos de Sete ao pecado, o modo de vida de
Cam e de seu lho, Canaã, pôs-se a influenciar a descendência de Sem e de Jafé
ao pecado e à iniquidade (1 Co 15.33).
2. O enfraquecimento da
doutrina de Noé.
Com
a multiplicação de seus lhos, Noé começa a perder o controle espiritual e moral
sobre estes; sua doutrina já não era seguida como antes. Haja vista que, Canaã,
seu neto, já não lhe tributava as honras devidas; eis por que teve de
amaldiçoá-lo (Gn 9.25). Sim, faltou muito pouco para que esta nova civilização
tivesse o mesmo destino da anterior. Além do mais, o piedoso e íntegro Noé não
estaria para sempre com os seus descendentes, a m de refrear-lhes os excessos e
desatinos (Gn 9.29).
3. O descaso para com o
mandamento divino.
Apesar
de sua prodigiosa multiplicação, os lhos de Noé ignoraram a ordem divina quanto
à povoação da Terra (Gn 9.7). Ao invés de se espalharem, aglomeraram-se
perigosa e irresponsavelmente num só lugar.
IV. O Globalismo de Babel
Naquele
estágio, a civilização iniciada por Noé dispunha de todos os fatores para criar
uma sociedade ímpia e globalista: uma só língua, um só povo e uma só cultura.
Levemos em conta, igualmente, a ascensão de Ninrode e a tecnologia já acumulada
para se construir a cidade e a torre de Babel.
1. Uma só língua e um só povo.
Até
aquele momento, como já vimos, a humanidade falava um só idioma e constituía-se
num único povo (Gn 11.1). Pelo que inferimos do texto sagrado, não havia sequer
dialetos ou sotaques; a unidade linguística era absoluta. Aliás, o mesmo se
pode dizer de sua teologia e cultura.
O
problema não era a unidade, mas a unificação que se estava formando.
Certamente, o Anticristo aproveitar-se-á de uma situação semelhante a m de
implantar o seu reino logo após o arrebatamento da Igreja (Ap 13.8). A ordem de
Jesus é que o Evangelho não se concentre em Jerusalém, mas que alcance os confins
da Terra (At 1.8).
2. A ascensão de Ninrode.
Num ambiente propício à apostasia, eis que
surge o primeiro herói pós-diluviano: Ninrod, lho de Cuxe e neto de Cam (Gn
10.6-9). Ele é descrito como “poderoso caçador diante do Senhor”. À primeira
vista, imaginamos um homem piedoso. Mas, levando-se em conta a sua ascendência
nada recomendável — Cam —, concluímos tratar-se não de um herói da fé, mas de
alguém que, devido à sua força, veio a afrontar o próprio Deus (Gn 9.22-25). Se
ele fosse piedoso, estaria na galeria dos Heróis da Fé de Hebreus, capítulo 11.
Ninrode
era um tipo de Anticristo, assim como o foram Caim e Lameque (Gn 4.19-23).
3. A construção de Babel.
Os
lhos de Noé não eram ignorantes nem careciam de tecnologia, pois haviam sido
capazes de executar o projeto da Arca (Gn 6.14-16). E, de tal forma a
construíram, que o grande barco resistiu aos ímpetos do Dilúvio. Por
conseguinte, a construção de uma cidade, em cujo epicentro havia um arranha-céu,
era apenas uma questão de tempo. Aquela civilização, aliás, estava disposta a
ir além da torre de Babel (Gn 11.6).
V. A Intervenção de Deus em Babel
Para
salvar a humanidade de si mesma, Deus interveio, confundindo-lhe a língua. Em
seguida, dispersou os descendentes de Noé, para que povoassem as mais distantes
ilhas e continentes. Finalmente, o Senhor chamou Abraão para ser o pai, na fé,
de todas as famílias da Terra.
1. A confusão das línguas.
Visando colocar um ponto final naquele projeto
insano, o Senhor Deus desce à Terra, e, ali, em Sinear, confunde a língua
daquela civilização (Gn 11.5-7). Desentendendo-se, os lhos de Noé reagrupam-se
de acordo com sua nova realidade linguística, e espalham-se por toda a terra.
A
rebelião daqueles homens fora realmente grande. Mas como Deus havia prometido
não mais destruir a humanidade, decide espalhá-la para que os homens, separados
uns dos outros, tivessem mais oportunidade de sobreviver numa terra já
contaminada pela apostasia (Gn 9.11).
2. O efetivo povoamento da Terra.
Não
sabemos como os descendentes de Noé chegaram ao Brasil, à Austrália, ao Japão e
às mais remotas ilhas. O que sabemos é que Deus forçou-os aos confins do mundo
(Gn 11.9). Caso isso não tivesse acontecido, aquela geração teria o mesmo
destino dos pré-diluvianos.
Assim
como aquela geração chegou aos confins do mundo, o Senhor Jesus ordena-nos a
levar o Evangelho até que todos os povos e nações venham a ouvir as Boas Novas
(Mt 28.18-20). Quando isso acontecer, então virá o m (Mt 24.14). 3. A eleição
de Sem.
A
história de Abraão começa logo após a dispersão de Babel (Gn 11.26-30). Com a
eleição de Sem, delineia-se mais claramente o período messiânico, que haveria
de culminar em Jesus Cristo, o Filho de Deus (Gn 9.26; Lc 3.23-38).
Em sua infinita sabedoria, fez o Senhor duas
coisas por ocasião da Torre de Babel: dispersou os lhos de Noé e, em seguida,
chamou Abraão, para dar continuidade à linhagem messiânica, da qual sairia
Jesus, o Cristo, Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.
Conclusão
A
fim de preservar a sua obra, o Senhor Deus promulgou duas ordenanças quanto à
sua criação. Em primeiro lugar, a povoação de toda a Terra (Gn 9.7). E, por
último, a Grande Comissão, por intermédio de Jesus Cristo (Mt 28.18-20). Contra
o globalismo, cuja missão é submeter o mundo aos caprichos de Satanás, só mesmo
a obediência aos termos da Grande Comissão. Evangelização e missões, já.
Maranata!
Ora, vem, Senhor Jesus!
A Raça Humana
CLAUDIONOR DE ANDRADE
CAPÍTULO 10
OS TRÊS FILHOS DE NOÉ E SUA
DESCENDÊNCIA
Ninrode e Babilônia
Esta
parte do livro menciona as gerações dos três filhos de Noé, notando,
especialmente, Ninrode, o fundador do reino de Babel, ou Babilônia, um nome que
ocupa um lugar proeminente nas páginas inspiradas. Babilônia é um nome muito
conhecido — uma influência bem conhecida. Desde o capítulo dez do Gênesis ao
capítulo dezoito do Apocalipse, Babilônia aparece perante nós repetidas vezes e
sempre como alguma decididamente hostil àqueles que ocupam, presentemente, a
posição de testemunho público de Deus. Não é que devamos pensar na Babilônia do
Velho Testamento como sendo idêntica com a Babilônia do Apocalipse. De modo
nenhum. Creio que a primeira é uma cidade; a última, um sistema; porém tanto a
cidade como o sistema exercem uma grande influência sobre o povo de Deus. Mal
Israel tinha começado as guerras de conquista da terra de Canaã, quando
"uma capa babilônica" lançou profanação e dor, derrota e confusão,
nas suas hostes. É o primeiro relato que temos da influência perniciosa de
Babilônia sobre o povo de Deus; contudo qualquer estudante das Escrituras
conhece o lugar que Babilônia ocupa através de toda a história de Israel. Não é
este o lugar para notar, em pormenor, as várias passagens nas quais a cidade é
apresentada. Quero apenas frisar que, sempre que Deus tem um testemunho
corporativo na terra, Satanás tem uma Babilônia para manchar e corromper esse
testemunho. Quando Deus liga o Seu nome com uma cidade na terra, então
Babilônica toma a forma de uma cidade; e quando Deus liga o Seu nome com a
Igreja, então Babilônica toma a forma dum sistema religioso corrompido, chamado
"a grande prostituta", "a mãe das abominações", etc. Em
resumo, a Babilônica de Satanás é sempre vista como o instrumento moldado e
talhado pela sua mão, com o propósito de impedir a operação divina, quer seja
com o antigo Israel, quer com a Igreja agora.
Através
de todo o Velho Testamento Israel e Babilônia são vistos, com efeito, em
lugares opostos: quando Israel se encontra poderoso, Babilônia está em
decadência; e quando Babilônia prospera, Israel está em declínio. Deste modo,
quando Israel falhou inteiramente como testemunho do Senhor, "o rei de
Babilônia lhe quebrou os ossos" (Jr 50:17), e anexou-o. Os vasos da casa
de Deus, que deviam permanecer na cidade de Jerusalém, foram levados para a
cidade de Babilônia. No entanto, Isaías, na sua profecia sublime, conduz-nos ao
oposto de tudo isto: mostra-nos, em magnificentes tons, um quadro em que a
estrela de Israel se vê em ascendência, e Babilônia inteiramente submersa.
"E acontecerá que, no dia em que o SENHOR vier a dar-te descanso do teu
trabalho, e do teu tremor, e da dura servidão com que te fizeram servir, então,
proferirás este dito contra o rei da Babilônia e dirás: Como cessou o opressor!
A cidade dourada acabou!... Desde que tu caíste, ninguém sobe contra nós para
nos cortar" (Is 14:3-8). Isto quanto à Babilônia do Velho Testamento.
Porém, quanto à Babilônia do Apocalipse, o leitor só tem que abrir os capítulos
17 e 18 desse livro para ver o seu caráter e fim. Ela é apresentada em
contraste com a noiva, a esposa do Cordeiro; e quanto ao seu fim, é lançada
como uma grande mó ao mar (18:21); depois do que temos as bodas do Cordeiro,
com toda a sua bem-aventurança e glória.
Contudo,
não pretendo prosseguir este assunto tão interessante aqui: apenas quis
deitar-lhe uma vista de olhos em ligação com Ninrode. Estou certo de que o
leitor se julgará plenamente recompensado, por qualquer incômodo que tiver em
examinar, atenciosamente, todas as passagens, nas quais o nome de Babilônia é
mencionado. Voltemos agora para o nosso capítulo. "E Cuxe gerou a Ninrode;
este começou a ser poderoso na terra. E este foi poderoso caçador diante da
face do SENHOR; pelo que se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do
SENHOR. E O princípio do seu reino foi Babel, e Ereque, e Acade, e Calné, na
terra de Sinar." Aqui temos, pois, o caráter do fundador de Babilônia: foi
"poderoso na terra", — "poderoso caçador diante da face do SENHOR".
Tal foi a origem de Babilônia; e o seu caráter, através de todo o Livro de
Deus, corresponde a isso admiravelmente. E sempre apresentado como uma
influência poderosa na terra, agindo em antagonismo positivo a tudo que deve a
sua origem ao céu; e não é antes desta Babilônia ter sido inteiramente abolida
que se ouve o grito, entre as hostes celestes, "Aleluia! Pois já o Senhor,
Deus Todo-Poderoso reina" (Ap 19:6).
Então
toda a caçada poderosa de Babilônia terá acabado para sempre, quer seja a sua
caça às feras, para as dominar; ou a sua caça às almas, para as destruir. Todo
o seu poder, e toda a sua glória, toda a sua pompa e o seu orgulho, a sua
riqueza e luxúria, a sua luz e alegria, e o seu brilho e resplendor, terão
passado para sempre. Ela terá sido varrida com o espanador da destruição, e
lançada nas trevas, no horror e desolação de uma noite eterna. "Até
quando, Senhor?"
CAPÍTULO 11
A CONSTRUÇÃO DE BABEL
O Homem se Estabelece na Terra Este capítulo é
de profundo interesse para a mente espiritual. Registra dois grandes fatos, a
saber, a edificação de Babel, e a chamada de Abraão, ou, por outras palavras, o
esforço do homem para suprir as suas necessidades, e a provisão de Deus dada a
conhecer à fé — a diligência do homem para se estabelecer na terra, e Deus
chamando um homem dela, para ter a sua porção e o seu lar no céu. "E era
toda a terra de uma mesma língua, e de uma mesma fala. E aconteceu que,
partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali...
E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos
céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de
toda a terra."
O coração humano procura sempre um nome, uma
parte, e um centro na terra. Nada sabe dos desejos quanto ao céu, do Deus do
céu ou da glória do céu. Deixado entregue a si, encontrará sempre os seus fins
neste mundo; edificará sempre "abaixo dos céus". São precisos a
chamada de Deus, a revelação de Deus e o poder de Deus, para elevar o coração
do homem acima deste mundo, pois o homem é uma criatura rasteira — alienado do
céu, e ligado à terra. No quadro que agora temos perante nós não há
reconhecimento de Deus, nem um olhar para cima nem esperança n'Ele; nem
tão-pouco se tratou de pensamento do coração humano para fazer um lugar no qual
Deus pudesse habitar — juntar materiais para a construção de um lugar para Ele.
O Seu nome nunca é mencionado. Fazer um nome para si próprio, foi o objetivo do
homem na planície de Sinar; e tal tem sido o seu objetivo desde então.
Quer
contemplemos o homem na planície de Sinar ou nos bancos do Tigre, vemos que ele
é sempre na mesma criatura, independente, orgulhoso, e sem Deus. Existe uma
consistência melancólica em todos os seus propósitos, nos seus princípios e
caminhos; procura sempre pôr Deus de parte e exaltar-se a si próprio. A verdade
é que, seja qual for a luz a que olharmos para esta confederação Babilônica, é
do maior interesse vê-la na primitiva manifestação do gênio e energias do
homem, sem contar com Deus. Se olharmos para o decorrer da história humana,
poderemos facilmente perceber uma tendência acentuada para confederação ou
associação. O homem busca, a maior parte das vezes, alcançar os seus fins deste
modo. Quer seja por meio da Filantropia, da Religião, ou da Política, nada pode
ser feito sem uma associação de indivíduos regularmente bem organizados. E
conveniente notarmos este princípio — bom frisarmos o começo da sua operação —,
para vermos o modelo primitivo, que as páginas inspiradas nos dão duma
associação humana, como a vemos na planície de Sinar, no seu plano, objetivo,
intento, e malogro. Se olharmos em volta de nós, na atualidade, veremos o mundo
cheio de associações. E inútil descrevê-las, visto que são tão numerosas como
os propósitos do coração humano. Todavia é importante notar que a primeira de
todas foi a associação de Sinar, organizada com o fim de promover os interesses
humanos e exaltar o nome humano — propósitos estes que podem muito bem ser
postos em competição com qualquer outro que chame a atenção deste século
iluminado e civilizado. Porém, no parecer da fé, há nisso um grande defeito, a
saber, Deus é deixado de fora; e procurar exaltar o homem, sem Deus, é
exaltá-lo a um ponto estouvado, apenas para que possa ser lançado dali em
confusão desesperada, e irreparável ruína. O cristão deve apenas conhecer uma
associação, e esta é a Igreja do Deus vivo, unida pelo Espírito Santo, que veio
do céu como testemunha da glorificação de Cristo, para batizar os crentes num
corpo, e constituí-los em lugar de habitação de Deus. Babilônia é o próprio
oposto disto, em todo o sentido; e torna-se no fim, como sabemos, "morada
de demônios" (Ap 18).
A Confusão das Línguas e a
Intervenção da Graça
Então
o Senhor disse: "Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto
é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles
intentarem fazer. Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não
entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de
toda a terra; e cessaram de edificar a cidade." Tal foi o fim da primeira
tentativa do homem para se associar. Assim será até ao fim.
"Alvoroçai-vos, ó povos, e sereis quebrantados; dai ouvidos, todos os que
sois de longes terras: cingi-vos e sereis feitos em pedaços." (Is 8:9).
Quão diferente é quando Deus ajunta os homens! No capítulo 2 de Atos dos Apóstolos
vemos o bendito Senhor vindo, em graça infinda, para encontrar o homem, nas
próprias circunstâncias em que o pecado o havia posto. O Espírito Santo
habilitou os mensageiros da graça a darem a sua mensagem na própria língua em
que cada um havia nascido. Preciosa verdade esta, que Deus desejou alcançar o
coração do homem com a doce história da graça! A lei dada do monte em fogo não
foi assim promulgada. Quando Deus dizia o que o homem devia ser, falou só numa
língua; mas quando dizia o que Ele Próprio era, falou em muitas línguas. A
graça passou sobre a barreira que a vaidade e loucura do homem tinham dado
causa a que fosse erguida, a fim de que cada homem pudesse ouvir e compreender
as boas novas de salvação — "as obras maravilhosas de Deus". E com que
fim? Precisamente para associar os homens sobre o terreno de Deus, em volta do
centro de Deus e segundo os princípios de Deus. Era para lhes dar, na
realidade, uma língua, um centro, um objetivo, uma esperança, uma vida. Era
para os ajuntar de tal maneira que nunca mais fossem espalhados ou confundidos;
para lhes dar um nome e um lugar que deveriam perdurar para sempre; para lhes
edificar uma cidade e uma torre cujo topo não só chegaria ao céu, mas cujos
fundamentos inabaláveis, lançados pela mão onipotente do próprio Deus, estariam
no céu. Era para os ajuntar em volta da Pessoa gloriosa de um Cristo
ressuscitado e exaltado, e uni-los a todos num grande desígnio de louvor e
adoração.
Se
o leitor abrir o Apocalipse, no capítulo 7, encontrará "todas as nações, e
tribos, e povos e línguas", perante o Cordeiro, tributando-Lhe como uma
mesma voz todo o louvor. Desta maneira as três Escrituras podem ser lidas com
interessante e proveitosa ligação: em Gênesis 11 Deus dá várias línguas como
uma expressão do Seu julgamento; em Atos 2 Ele dá várias línguas como expressão
de graça; e em Apocalipse 7 vemos todas essas línguas reunidas em volta do
Cordeiro, na glória. Quão melhor é, portanto, encontrarmos o nosso lugar na
associação de Deus do que na do homem! A primeira acaba na glória, a última na
confusão; aquela é conduzida pela energia do Espírito Santo, esta pela energia
profana do homem pecador; uma tem como seu objetivo a exaltação de Cristo, a
outra tem como seu alvo a exaltação do homem, de um ou de outro modo. Por fim,
direi que todos aqueles que, sinceramente, desejarem conhecer o verdadeiro
caráter, objetivo, e fim das associações humanas, devem ler os primeiros
versículos de Gênesis 11 ; e, por outro lado, todos quantos desejarem conhecer
a excelência, a beleza, o poder e caráter duradouro da associação divina, devem
olhar para essa corporação santa, viva e celestial, que é chamada, no Novo
Testamento, a Igreja do Deus vivo, o Corpo de Cristo, a Noiva do Cordeiro.
Que
o Senhor nos ajude a meditar e a compreender estas coisas no poder da fé;
porque só deste modo poderão beneficiar as nossas almas. Os pontos de verdade,
por muito interessantes que sejam; o conhecimento bíblico, por muito profundo e
extensivo que seja; a crítica bíblica, por muito rigorosa e valiosa que possa
ser, deixam o coração vazio e as afeições frias. Precisamos de achar Cristo nas
Escrituras; e, tendo-O achado, devemo-nos alimentar d'Ele pela fé. Isto dará
frescura, unção, poder, vitalidade, energia, e intensidade, coisas das quais
necessitamos profundamente, nestes dias de frio formalismo. Qual é o valor duma
ortodoxia fria sem um Cristo vivo, conhecido em todas as Suas atrações
poderosas e pessoais? Sem dúvida, a sã doutrina é imensamente importante. Todo
o servo fiel de Cristo sentir-se- á terminantemente chamado para guardar e
conservar "o modelo das sãs palavras" (2 Tm 1:13). Mas, afinal,
Cristo vivo é a própria alma, e vida, as juntas e medula, as capilares e
artérias, a essência e substância da sã doutrina.
Possamos
nós, pelo poder do Espírito Santo, ver mais beleza e preciosidade em Cristo, e
assim sermos afastados do espírito e princípios de Babilônia. Consideraremos,
se o Senhor permitir, o resto do capítulo no capítulo subsequente.
Notas sobre o Pentateuco
Genesis
12
CUIDADO — DEUS TRABALHANDO
Genesis 1 1
"
O homem propõe, mas Deus dispõe." Essa declaração tão conhecida é quase um
clichê religioso. Muitas pessoas que a usam nem sequer sabem o que significa.
Essas palavras foram escritas pelo monge agostiniano Thomas à Kempis (aproximadamente
1380-1471) em seu livro clássico Imitação de Cristo. Uma versão ampliada
aparece no seguinte provérbio: "O homem faz o que pode, mas Deus faz o que
quer". Salomão usou mais palavras, mas se expressou melhor: "Muitos
propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá"
(Pv 19:21). Poucos capítulos da Bíblia ilustram essa verdade de modo mais claro
do que Gênesis 11. Quando lemos a narração de Babel e, então, as genealogias
subseqüentes, nossa impressão imediata é a de que Deus está trabalhando em seu
mundo e cumprindo seus propósitos apesar dos planos e projetos dos pecadores.
1. DEUS IMPEDE UMA REVOLTA (GN
11:1-9)
Gênesis 1 - 11 registra quatro grandes acontecimentos:
a criação do Universo, a queda do homem, o dilúvio e a tentativa de construir a
torre de Babel. Esses capítulos revelam que, sempre que a humanidade desobedece
a Deus, o Senhor julga o pecado e, então, sua graça oferece um recomeço. Adão e
Eva pecaram, mas Deus vestiu-os e prometeu enviar ao mundo um Redentor. Caim
matou Abel, mas o Senhor enviou Sete para dar continuidade a uma linhagem temente
a Deus. Os descendentes de Sete misturaram-se com os perversos descendentes
de
Caim, e Deus teve de limpar toda a Terra com o dilúvio. Porém, Noé e sua
família creram na Palavra de Deus e foram poupados. Depois do dilúvio, os
descendentes dos três filhos de Noé repovoaram a Terra. No entanto, o recomeço
com Noé acabou levando a uma das mais arrogantes revoltas contra Deus já
registradas em todas as Escrituras.
Rebelião (vv. 1-4).
É bem provável que os acontecimentos do capítulo 11 tenham ocorrido antes
daqueles que se encontram no capítulo 10 e que a dispersão descrita no capitulo
10 tenha sido conseqüência do julgamento de Deus em Babel. Talvez a história
tenha sido colocada aqui em Gênesis para que pudesse conduzir à genealogia de
Sem, a qual, por sua vez, leva à genealogia de Abraão, o fundador do povo
hebreu. Assim, a organização do texto é literária, não cronológica. Deus
ordenou que os povos fossem férteis, que se multiplicassem e que se espalhassem
por toda a Terra, mas decidiram mudar para a cidade de Ninrode, na Babilônia, e
assentar-se ali (Gn 11:8-12). Essa mudança representou uma rebelião explícita
contra a ordem de Deus para que o povo se espalhasse.
Ao
que parece, Ninrode desejava tê-los em sua cidade e sob seu domínio. A
"torre" que construíram em Babel era uma estrutura conhecida como
"zigurate". Arqueólogos já escavaram várias dessas estruturas enormes
construídas principalmente para fins religiosos. Um zigurate era como uma
pirâmide, exceto pelo fato de que cada nível acima era menor, criando uma sucessão
de "degraus" que permitiam subir até o topo. Ali ficava um santuário
especial consagrado a um deus ou deusa.
Ao
construir essa estrutura, as pessoas não estavam tentando subir até o céu para
destronar a Deus. Antes, esperavam que o deus ou a deusa que adoravam descesse
do céu para encontrar-se com elas. Tanto a estrutura quanto a cidade eram
chamadas de "Babel", que significa "portal dos deuses".
Esse projeto odioso foi uma declaração
arrogante de guerra contra Deus, não muito diferente da rebelião descrita no
Salmo 2:1-3. Para começar, o povo estava resistindo à determinação divina para
que se espalhasse e repovoasse a Terra. Motivados, talvez, por medo bem como
por orgulho, decidiram construir uma cidade e um grande zigurate e ficar todos
juntos. Porém, mais do que isso, desejaram tornar célebre seu nome, de modo que
outros os admirassem e, talvez, até se juntassem a eles. Ao declarar seu
propósito, repetiam a mentira do diabo no Éden: "como Deus sereis"
(Gn 3:5).
Esse povo tinha várias elementos a seu favor.
Eram, verdadeiramente, um conjunto de "nações unidas", um só povo (Gn
11:6) que falava a mesma língua e usava um único vocabulário e dicionário.' Era
motivado por um só espírito de orgulho e pelo desejo instigante de se tornar
célebre. A única coisa que lhe faltava era a aprovação de Deus.
A reação de Deus (vv. 5-9).
"Antes de destruir alguém", escreveu o historiador Charles Beard,
"os deuses o inebriam de poder".'-' De Babel a Belsazar (Dn 5) e de
Herodes (At 12:20-25) a Hitler, Deus demonstrou repetidamente que não vale a
pena rebelar-se contra sua vontade. "A soberba precede a ruína, e a
altivez do espírito, a queda" (Pv 16:18), e Jesus advertiu que aqueles que
se exaltassem seriam humilhados (Mt 23:12).
O
Deus do céu jamais fica perplexo nem paralisado com aquilo que as pessoas fazem
aqui na Terra. A arrogante exclamação de Babel "Subamos!" foi
respondida com tranqüilidade pelo céu: "Desçamos!". "Ri-se
aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles" (SI 2:4). É claro que
Deus não precisa realizar uma investigação para saber o que está acontecendo em
seu Universo; a linguagem usada serve apenas para dramatizar a intervenção
divina.
Assim
como aconteceu com Adão e Eva no jardim (Gn 3:22-24), o julgamento de Deus em
Babel não tratou apenas dos pecados imediatos, mas também ajudou a prevenir
futuros problemas. A unificação da humanidade só serviria para dar às pessoas
uma idéia falsa de poder que as levaria a uma rebeldia ainda maior contra Deus.
Ao confundir sua linguagem e dispersá-las, Deus, em sua graça, poupou a vida
delas e
deu-lhes
uma oportunidade de voltar para o Senhor. Poderia ter destruído os construtores,
a cidade e a torre, mas escolheu permitir que vivessem.
A
palavra "Babel" é parecida com o termo hebraico balai, que quer dizer
"confusão". Por causa do julgamento de Deus, o "portal dos
deuses" transformou-se na "porta para a confusão". Em vez de
tornarem célebre seu nome, o projeto deles recebeu de Deus um novo nome! Em sua
igreja, "Deus não é de confusão" (1 Co 14:33); porém, no mundo, por
vezes Deus usa a confusão para humilhar as pessoas e impe-di-las de se unirem
contra a vontade dele. A palavra "Sem" significa "nome" em
hebraico, e Deus prometeu a Abraão, um descendente de Sem, que engrandeceria seu
nome (Gn 12:2). As pessoas do mundo dependem de sua própria sabedoria e de seus
próprios esforços e, ainda assim, não conseguem criar para si um nome que permaneça.
Quem conhece o nome de alguém que tenha trabalhado na famosa torre de Babel?
Contudo, o nome de Abraão é conhecido ao redor do mundo e reverenciado por judeus,
muçulmanos e cristãos. Há uma enorme diferença entre a humanidade dizer:
"Tornemos célebre nosso nome!" e Deus dizer: "Te engrandecerei o
nome!"
O
Livro de Gênesis dá ênfase aos nomes, e, nesse livro, Deus muda vários nomes.
Abrão, por exemplo, tornou-se Abraão; Sarai passou a ser Sara; Esaú tornou-se
Edom; Jacó tornou-se Israel, e assim por diante. O nome que Deus dá a algo ou a
alguém é muito mais importante do que a designação que usamos. Quando estava
criando o mundo, Deus deu nome às coisas e pediu a Adão que desse nome aos
animais. Hoje em dia, a palavra "Babel" faz pouca gente pensar em
"portal dos deuses"; ao ouvir esse nome, a maioria pensa em
"confusão". Nossa resposta. A história de Babel não é apenas uma
parte da história antiga, pois Babel e a Babilônia apresentam um desafio
espiritual para cada cristão da atualidade. A Babilônia acabou tornando-se uma
grande cidade e um grande império. Em 606-586 a.C., os exércitos babilônios
atacaram e capturaram o reino de Judá, queimaram o templo e a cidade de
Jerusalém e levaram milhares de judeus cativos para a Babilônia. Deus usou os
cruéis e idólatras babilônios para disciplinar seu povo desobediente. Contudo, nas
Escrituras, a Babilônia simboliza o orgulho perverso, a corrupção moral e a
rebeldia contra Deus. A Bíblia apresenta o contraste entre a cidade terrena da
Babilônia, que se rebela contra Deus, e a cidade celestial de Jerusalém, que
glorifica a Deus. A fim de examinar melhor o contraste entre essas duas cidades,
é interessante ler Jeremias 50 e 51 e Apocalipse 17 - 19. A Babilônia
representa o sistema do mundo que se opõe a Deus, odeia a Jesus Cristo e é
atraente aos apetites mais abjetos da natureza humana. A Babilônia é o oposto
da Jerusalém celestial, que é a cidade dos santos (Hb 12:18ss).
Na
cidade de Babel, as pessoas queriam construir uma torre que chegasse até o céu,
mas na Babilônia de Apocalipse 17 e 18, o pecado da cidade é que chega até o
céu (Ap 18:5). Aquela primeira unificação mun-dial que Ninrode desejava para a
Babilônia de Gênesis um dia será obtida pelo sistema mundial perverso de
Satanás (w. 3, 9, 11, 23). A Babilônia terrena é chamada de prostituta,
enquanto a cidade santa do céu é chamada de noiva de Cristo (17:1; 21:9ss).
"Toda geração constrói suas próprias torres",
escreveu a psicoterapeuta Naomi H. Rosenblatt, e ela tem razão.3 Quer sejam verdadeiros
arranha-céus (como as torres Sears e Tribune, em Chicago, a torre Eiffel, em
Paris, a torre Trump, em Nova York), quer corporações gigantesca que abrangem
todo o globo, a idéia é a mesma: "Tornaremos nosso nome célebre". O
povo de Deus não pode evitar de estar no mundo, pois é no mundo que se encontra
nosso ministério; no entanto, não devemos ser do mundo. Não estamos aqui para
construir as torres arrogantes de seres humanos. Estamos aqui para ajudar a
edificar a Igreja de Cristo.'
Aquilo que a humanidade não pode realizar por
meio de suas "torres de orgulho", lesas Cristo realizou ao morrer
numa cruz de humilhação. Todos aqueles que confiam
em
Jesus são um em Cristo (GI 3:27) e, um dia, partilharão do céu,
independentemente de raça, cor, língua ou tribo (Ap 7:9). Enquanto o sistema do
mundo produz uma uniformidade exterior, em seu interior está se desintegrando.
A vida das pessoas vem sendo controlada por aquilo que os sociólogos chamam,
atualmente, de "tecnopólio".5 No entanto, o Espírito Santo usa a
Igreja como uma agente de reconciliação, de modo a promover a unificação em
Jesus Cristo (Ef 1:10; 2 Co 5:14-21). Em certo sentido, o Pentecostes foi o
inverso do que ocorreu em Babel, pois as pessoas que se encontravam em Jerusalém
naquela ocasião ouviram louvores a Deus em suas próprias línguas (At 2:1-12).
Um dia, pessoas virão de todas as tribos e nações para adorar a Jesus Cristo
(Ap 15:4), e o julgamento de Babel terá fim (5) 3:9).
Cada
pessoa deve fazer uma escolha. Vamos nos identificar com Babilônia ou com
Jerusalém, com a prostituta deste mundo ou com a noiva celestial?
2. DEUS PRESFRVA UMA FAMÍLIA
(GN 11:10-26)
Deus havia prometido que enviaria um Redentor,
um descendente da mulher (Gn 3:15) que derrotaria Satanás e traria a salvação.
A profecia de Noé revelou que Deus abençoaria o mundo por meio da linhagem de
Sem, os "semitas", antepassados do povo hebreu (Gn 9:26, 27).
"Sem, que foi pai de todos os filhos de Héber" (Gn 10:21), e é bem
possível que a palavra "hebreu" venha do nome "Héber".
Gênesis
apresenta duas genealogias de Sem, em 10:21-29 e em 11:10-26. A primeira
genealogia dá uma relação de todos os cinco filhos e de cinco dos seus netos,
mas depois se concentra nos descendentes de Arfaxade: Salá, Héber e os dois
filhos de Héber, Pelegue e Joctã. Encontramos uma lista dos muitos filhos de
Joctã, mas não há nada sobre os descendentes de Pelegue. Contudo, a genealogia
do capítulo 11 trata da parte da família relacionada a Pelegue e nos conduz a
Abraão. A genealogia de Gênesis 5 vai de Adão até Noé, e a de Gênesis 11 vai de
Sem, filho de Noé, até Terá e seu filho, Abraão. Exceto pelo fato de as duas
listas terem dez gerações, a relação de Gênesis 11:10-26 é diferente da
genealogia de Gênesis 5. Dentre outras coisas, ela não traz a expressão
repetida "e morreu". A ênfase é sobre a idade do homem por ocasião do
nascimento de seu primogênito. As pessoas que aparecem em Gênesis 11:10-26 não
viveram tanto tempo quanto os homens citados em Gênesis 5. A lista começa
falando dos novecentos e cinqüenta anos de Noé, e essa idade vai diminuindo até
chegar aos cento e quarenta e oito anos de Naor. As gerações pós-diluvianas
estavam começando a sentir as conseqüências físicas do pecado sobre o corpo
humano.
O
que importa nessa genealogia é o fato de registrar a fidelidade de Deus ao
cuidar de seu povo e cumprir suas promessas. Aquilo que para nós não passa de
uma lista de nomes, para Deus foi uma "ponte" da escolha de Sem até o
chamado de Abraão. Deus dignou-se a usar pessoas para ajudar a realizar sua
vontade aqui na Terra. As pessoas são frágeis e nem sempre obedientes. No
entanto, a "ponte" foi construída, e as promessas da aliança,
mantidas.
3. DEUS COMEÇA UMA NAÇÃO (GN
11:27-32)
Se Gênesis 1 - 11 é um registro de quatro
acontecimentos-chave - a criação, a queda, o dilúvio e o julgamento de Babel -,
então Gênesis 12 - 50 é o registro da vida de quatro homens-chave: Abraão,
!saque, Jacó e José. Cinco pessoas destacam-se nesse parágrafo: Abraão e sua
esposa, Sarar Terá, pai de Abraão; e Naor e Harã, irmãos de Abraão. Naor morreu
e deixou um filho chamado Ló.
O
propósito de Deus era chamar um homem e sua esposa e, a partir deles, constituir
uma família. Dessa família formaria uma nação e, a partir dessa nação, Deus
abençoaria todas as nações do mundo (Gn 12:1-3; 18:18). Foi uma obra da graça
de Deus do começo ao fim, pois quando Deus chamou Abraão e Sara, faziam parte
de uma família que adorava ídolos (Js 24:2). Tanto em Ur dos caldeus como em
Harã, o povo adorava o deus Lua. De acordo com Estêvão (At 7:2), "o Deus
da glória" apareceu a Abraão e chamou-o para ir para Canaã. É provável que
Abraão tenha contado a sua família sobre essa mensagem incrível e avisado que
ele e Sara estavam indo embora. Ele devia tomar apenas Sara e partir, deixando
a família para trás (Gn 12:1). Porém, com exceção de seu irmão Naor e,
obviamente, de seu irmão Harã, que havia falecido, todos foram com ele. Naor e
a esposa, Milca, aparecem novamente mais adiante na história (Gn 22:20), mas
Naor foi o homem que ficou. Será que, apesar de ter permanecido na região
idólatra de Ur dos caldeus, Naor creu na mensagem que seu irmão lhe transmitiu
sobre o verdadeiro Deus da glória? Esperamos que sim. Ao que parece, Tera creu
nessa mensagem e encarregou-se de cuidar da família e de suas viagens (Gn
11:31), mas Tera foi o homem que parou. Ele viajou cerca de setecentos e cinqüenta
quilômetros, até a cidade de Harã. Lá ele fez seu assentamento e lá ele morreu.
Talvez a viagem fosse longa demais para ele, mas fazia parte do plano de Deus
que Abraão e Sara o seguissem sem sua família. Com a morte de Tera, restou
apenas Ló, o filho de Harã, o irmão de Abraão que havia falecido em Ur. Ló tornou-se
o homem que se desviou, pois acabou deixando Abraão e assentando-se na cidade
perversa de Sodoma (Gn 13:10-13; 14:12; 19:1ss).
O
mais extraordinário sobre o chamado de Deus a Abraão e Sara é o fato de o casal
não ter filhos. Abrão significa "pai exaltado", mas ele nem era pai!
Os dois eram os candidatos com a menor probabilidade de ter uma família e de
construir uma grande nação. Mas os caminhos de Deus não são os nossos caminhos
(Is 55:8, 9), e, ao chamar e abençoar aquele casal estéril, o Senhor revelou a
sua glória e a grandeza de seu poder. Abrão seria chamado de "Abraão"
que significa "pai de muitas nações". Existe um contraste e tanto
entre os caminhos do homem em Babel e os caminhos de Deus ao chamar Abraão e
Sara. O mundo depende de um grande número de pessoas poderosas a fim de
realizar seus propósitos. Deus, porém, escolheu duas pessoas fracas e deu
início a uma nova nação. O povo de Babel desejava tornar seu nome célebre, mas
Deus prometeu engrandecer o nome de Abraão.
Os
que trabalhavam na torre de Babel seguiram a sabedoria deste mundo, mas Abraão
e Sara confiaram na Palavra de Deus (Hb 11:11, 12). Babel foi construída com o
vigor da carne e motivada pelo orgulho, mas a nação de Israel foi construída
pela graça e pelo poder de Deus e apesar das fraquezas humanas. Vivemos num
mundo confuso, e Babel ainda está aqui conosco. Mas Deus continua a ter um
remanescente fiel que o segue pela fé e mantém seus olhos firmes na cidade
celestial (Hb 11:13-16).
Você
faz parte desse remanescente?
Comentario bíblico expositivo do Antigo
Testamento - Pentateuco Volume I
Lição 9 - O Primeiro Projeto de Globalismo, apresentado pelo Comentarista das Revistas Lições Bíblicas de Adultos da CPAD, pastor Claudionor de Andrade.
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