Texto
Áureo
"E
conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma
cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque." (Gn 4.17)
Verdade
Prática
Uma
das missões do ser humano é povoar a Terra, dominar os segredos da criação
divina e fundar uma sociedade que venha a glorificar o nome de Deus.
Capítulo
8
O
Início da Civilização Humana
B
|
illy Graham (1918-2018), ao narrar o seu
encontro com Albert Einstein (1879-1955), destaca o fato de ter ouvido do
cientista alemão, de origem judaica, um comentário nada animador: “É mais fácil
transformar o urânio do que o coração humano”. O evangelista norte americano,
com os seus milhões de almas ganhas para Cristo, certamente respondeu ao
celebrado físico que o urânio, de fato, jamais transformará o homem mau num
cidadão bom e exemplar. Mas o Evangelho de Cristo, sim. Somente a Mensagem da
Cruz é capaz de redimir o indivíduo, salvar a civilização de si mesma e dar um
novo rumo à História.
Como seres gregários, não podemos viver a par
da sociedade nem fora da civilização ou à margem da História. Isso porque,
desde o nascimento até à morte, estamos ligados aos nossos semelhantes;
trata-se de um sistema que, embora imperfeito, mantém-nos vivos. Já ouvi muita
gente queixar-se das regras e das leis, como se o Estado, por exemplo, fosse
irremediavelmente mau, pernicioso e desnecessário. Não posso negar que há
Estados, como o comunista e o nazista, que se encaixam nessa descrição.
Todavia, os crentes que assim esbravejam contra o Estado e a sociedade,
geralmente murmuram também contra a Igreja, qualificando-a de inútil, pois
segundo alegam, é possível adorar a Deus apenas em casa. Se a Igreja de Cristo
não fosse necessária, querido irmão, Deus não a teria estabelecido já bem antes
da fundação do mundo.
Como veremos, mais adiante, a civilização é
ímpia, porque o homem sem Deus é essencial e cronicamente ímpio. Isso significa
que, se toda a humanidade abandonar a impiedade, poderemos ter uma civilização
justa, equânime e piedosa. E, a partir daí, Céus e Terra confundir-se-ão numa só
grei. Embora o Reino de Deus ainda não haja sido estabelecido entre nós,
podemos constatar seus efeitos redentores, por intermédio do Evangelho, na
família, na sociedade e no Estado.
Alguns dizem que a História é o relato do
fracasso da civilização humana. Mas, para mim, a História, quer sagrada quer
secular, é a narrativa dos grandes atos Deus na vida do indivíduo, em
particular, e da civilização, como um todo. Se não fosse Jesus Cristo, a
espécie humana seria hoje tão somente pó e cinza.
Neste capítulo, estudaremos a origem da civilização
humana. E, para tanto, focaremos o capítulo quatro de Gênesis, pois é
justamente aí que encontramos a primeira cidade construída pelo homem. Em
seguida, veremos por que a civilização é marcada por tantos conitos,
dissoluções e violência. Apesar de tudo, Deus jamais deixou de intervir nos
negócios humanos: além de Criador, Ele é o Senhor de todas as coisas.
Concluindo a nossa exposição, mostraremos por
que somente o Evangelho de Cristo é capaz de redimir a civilização atual. Mas,
antes de falarmos sobre a civilização humana, discorramos, com base nos poucos
dados de que dispomos, na Bíblia Sagrada, da civilização celeste, onde se
encontra o excelso trono de Deus.
I.
A Civilização Celeste Desde a meninice, jamais duvidei
da realidade dos Céus e da existência do Inferno. Naquele tempo, minha teologia
era simples, mas eficaz: os que aceitam Jesus vão para os Céus, e os que não o
aceitam são aprisionados no Inferno. À guisa de explicação, prefiro grafar os
vocábulos “Céus” e “Inferno” com iniciais maiúsculas, porque ambos, além de
serem lugares reais, são únicos em sua espécie.
Hoje, já
na terceira idade, avancei um pouco nessa teologia básica, mas imprescindível à
nossa segurança espiritual. Na verdade, quem aceita Jesus terá os Céus apenas
como morada provisória, pois o Pai Eterno tem algo mais sublime reservado aos
seus lhos: a Jerusalém Celeste, onde há moradas bastantes para os santos de
todas as épocas e lugares. Quanto aos ímpios, o Inferno ser-lhes-á, também, um
lugar de estadia transitória, pois, na consumação de todas as coisas, e, já
encerrado o Juízo Final, serão arremessados no Lago de Fogo, no qual já estarão
o Dragão, o Falso Profeta e a Besta. Tais lugares não devem ser interpretados
de forma alegórica, mas de maneira literal; estes jamais deixarão de existir
caso optemos por uma hermenêutica pós-moderna e leniente. Portanto, cuidado com
o método exegético que você, querido leitor, utiliza. Em caso de dúvida, opte
sempre pela interpretação que já temos nas Sagradas Escrituras, e que nos foram
claramente expostas pelos santos profetas e apóstolos de Nosso Senhor; na
Palavra de Deus, temos segurança absoluta.
Neste tópico, por conseguinte, deter-me-ei a
falar sobre a civilização celeste. Como já disse, não temos, na Bíblia Sagrada,
muitas informações sobre os Céus. Mas dispomos de narrativas e proposições suficientes,
para sabermos que a morada de Deus é um lugar real, e não uma mera e fortuita
utopia.
1. Os Céus não são utopia. Já
no primeiro versículo da Bíblia Sagrada, somos cientificados pelo autor sagrado
de que todas as coisas foram criadas por Deus. Logo, tudo lhe pertence e
acha-se sob o seu inquestionável senhorio. A primeira frase do Livro dos livros
revela que tudo o que vemos, e o que ainda não podemos ver, foi criado por Deus:
os Céus e a Terra, e todas as coisas que neles contém. Atentemos às palavras do
Gênesis: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Na língua
hebraica, o termo “Céus” denota um lugar marcado por uma pluralidade bela e
misteriosa. O vocábulo shamayim, que pode ser aplicado também aos céus
atmosférico e espacial, é plural não por causa dessa tripla aplicação, mas em
virtude da multiplicidade das moradas divinas. Quem nos deixa entrever esse
mistério é o irmão Paulo. Num momento de intensa oração, diz ele que foi
arrebatado, em espírito, ao Terceiro Céu (2 Co 12.1-6).
Narra o apóstolo ter sido arrebatado, em
espírito, ao Terceiro Céu. Isso, porém, não sigfinica que, na morada de Deus,
haja somente três Céus. Mesmo que houvesse apenas três, estes já seriam mais do
que suficientes para abrigar todas as cortes e hostes do Senhor dos Exércitos.
O que vem a ser, todavia, o Terceiro Céu mencionado pelo apóstolo?
A expressão grega usada por Paulo, para
descrever esse espaço reservado e sublime do Senhor, é tritou ouranou que,
literalmente, sigfifinica terceiro céu. Duas perguntas, aqui, fazem-se
pertinentes: “O que vem a ser essa repartição divina? O número ordinal,
empregado pelo apóstolo, refere-se à morada de Deus apenas em relação aos dois
Céus já mencionados — o atmosférico e o espacial? Ou diz respeito especificamente
à morada divina, em si, que, de tão linda e maravilhosa, precisa estar além da
dimensão celestial propriamente dita?”. Não me deterei a descrever as mansões
celestes, pois jamais estive ali. Quando lá chegar, poderei explicá-la melhor.
Mas, àquelas alturas, quando todos ali estivermos, quem mais precisará das
explicações que eu nunca tive? O que posso adiantar, por ora, é que a oração do
apóstolo foi tão intensa, naquele momento, que não somente o seu clamor, como o
seu próprio espírito, chegou ao íntimo da corte divina. E, ali, do próprio
Senhor, ouviu palavras que os seres humanos, até mesmo os redimidos, ainda não
estão habilitados a ouvir. Denota-se, pois, que as proposições ouvidas eram
mais sublimes do que as coisas vistas. Naqueles páramos, acha-se o Filho de
Deus que, como o nosso eterno Sumo Sacerdote, é mais sublime do que os Céus (Hb
7.26). Agora que já sabemos que os Céus existem, vejamos como funciona aquilo
que, numa analogia forçada com a Terra, podemos chamar de civilização celeste.
2.
A civilização celeste é marcada pela adoração. Quando
menino, imaginava que, nos Céus, só havia cânticos, louvores e adoração. Vim a
descobrir, mais tarde, quando deixei as coisas próprias de menino, que eu não
me equivocara. Os Céus são plenos de adoração, louvores e cânticos.
Vislumbrando um entreato celestial, assim descreve Isaías as proximidades do
trono do Eterno Senhor (Is 6.1-5).
Não imaginemos serem os hinos celestes marcados
pela repetição, monotonia e por rimas pobres. Embora eu jamais os tenha ouvido,
não tenho dúvida de que são vívidos, diversos e adornados por harmonias jamais
encontradas em qualquer poeta deste mundo. São teológicos e descrevem, em
narrativas épicas, o drama do Calvário, desde a fundação do mundo até o brado
nal da cruz: “Está consumado!” (Jo 19.30).
Em seu arrebatamento às cortes divinas, o evangelista
participou de um culto de exaltação ao Senhor, cujos adoradores, contados em
milhares e, depois, em milhões, tributavam ao Eterno cânticos e serviços,
porque nos Céus, serviços e cânticos fazem parte de uma mesma liturgia (Ap
5.11- 14).
Neste único cântico, temos um compêndio
teológico que, superando todos os nossos credos e dogmáticas, sintetizam
belamente o conhecimento divino. Vai da eternidade anterior ao Gênesis à
eternidade posterior ao Apocalipse, narrando o amor de Deus por nós, seus redimidos.
Somente o Espírito Santo para inspirar tais hinos e odes. Se cantar a Harpa
Cristã já é algo glorioso, o que não será entoar, nos Céus, os hinos, cânticos
e louvores que o Cordeiro nos ensinará?
Entoar
um hino celeste, nas cortes divinas, supera qualquer doutorado avançado em
teologia. Eis porque, a cada dia, tornam-se os santos anjos mais sábios e
profundos nas coisas de Deus. E, já imbuídos de tamanho saber, põem-se a
executar, com admirável perfeição, os trabalhos que lhes cona o Senhor.
3.
A civilização celeste é marcada pelo serviço. Os santos
anjos não adoram a Deus apenas com as suas vozes, cânticos e instrumentos;
adoram-no, também, com os seus trabalhos, serviços e ministérios. E, pelo que
inferimos das Sagradas Escrituras, eles executam todas as suas tarefas e
missões com uma perfeição que vai muito além de nossos padrões mais elevados e
seletivos.
O
Salmista, ao discorrer sobre o trabalho dos anjos, revela que estes, bendizendo
a Deus, executam todos os seus afazeres: “Bendizei ao Senhor, todos os seus
anjos, valorosos em poder, que executais as suas ordens e lhe obedeceis à
palavra” (Sl 103.20). Nenhum deles reclama ou se queixa. Se é para governar um
reino, ei-los presentes. Se é para varrer as praças e ruas deste mesmo reino,
nenhum deles se ausentará. Por isso, o Senhor Jesus, em sua Oração Dominical,
toma os anjos como modelo de serviço e adoração ao Pai Celeste: “Venha o teu
Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9).
Nas
Sagradas Escrituras, temos uma lista de admiráveis trabalhos executados pelos
santos anjos — vão da guarda do Jardim do Éden à recepção aos salvos nos 12
portões da Jerusalém Celeste (Gn. 3.24; Ap 21.12). Enfim, seus préstimos, quer
no Antigo, quer em o Novo Testamento, são marcados pela excelência e pela
adoração a Deus. Cabe, exatamente, aqui, uma pergunta: “Que serviços executam
eles nos Céus?”. Que os santos anjos têm um ministério, nos Céus, todos o
sabemos. Mas o que eles fazem ali? Limitar-nos-emos a dizer o que a Bíblia nos
revela tão esplendidamente. Os serafins, dia e noite, louvam com ardor e
ardência o nome divino: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos” (Is
6.1-6). Quanto aos querubins, responsáveis por resguardar a santidade do
Altíssimo, sustentam-lhe o trono (2 Sm 6.2; Sl 99.1). Já em Ezequiel,
deparamo-nos com os seres viventes, que, ostentando um aspecto glorioso e
carregado de luz, aparecem para exaltar o Eterno num tempo dificílimo da
História Sagrada (Ez 1.5-14).
Além das atividades litúrgicas, perante o trono
de Deus, foram os anjos designados, também, a auxiliar os santos profetas em
seus arcanos e turnos (Dn 10.10-21). Concernente aos demais ofícios que eles
executam nos Céus, só viremos a conhecê-los depois que lá estivermos na
companhia de Nosso Senhor. Mas, quando isso acontecer, estaremos todos, nós e
eles, a habitar a Jerusalém Celeste.
4.
A civilização celeste é marcada pelos estudos teológicos.
É no livro do profeta Daniel que vamos encontrar a mais desenvolvida
angelologia do Antigo Testamento. Aqui, dois anjos são apresentados, pela
primeira vez, não apenas por seus cargos, mas por seus respectivos nomes.
Gabriel aparece como o exegeta por excelência
(Dn 8.16). Mais adiante, nessa mesma sagrada, surge Miguel como o guardião do
povo israelita (Dn 10.13,21; 12.1). Canonicamente, somente esses dois seres
celestiais têm os seus nomes declinados. Isso não sigfifinica, porém, que os
demais anjos estejam destinados ao anonimato.
Os nomes de Miguel e Gabriel evocam louvor e
profunda teologia. Todas as vezes que pronunciamos o nome do primeiro,
perguntamos: “Quem é como Deus?”. Nessa pergunta, evocamos uma teontologia
jamais estudada, porquanto ser racional algum, seja homem seja anjo, poderá
no-la responder. Deus é sem igual. Suas perfeições e grandezas são insondáveis.
E, quando nos referimos a Gabriel, que magistralmente elucidou ao profeta o
arcano das Setenta Semanas, e a Maria de Nazaré, o mistério da concepção
virginal e da encarnação do Filho de Deus, lembramos a todos que Deus é Senhor.
E, sendo Ele Senhor e Rei, coloquemo-nos como seus amorosos e obedientes
súditos.
Em ambos os nomes angélicos, dois insondáveis
compêndios teológicos. Já imaginou, querido leitor, ser apresentado aos demais
anjos que, de acordo com o Apocalipse, podem ser contados em milhares e,
depois, em milhões? Quantos compêndios não teríamos nós a estudar? Em cada
nome, um atributo, uma grandeza, uma perfeição e um insondável mistério de
Deus. Não nos esqueçamos de que, na Jerusalém Celeste, teremos todos um novo
nome que, à semelhança das nomenclaturas angélicas, serão profunda e
insondavelmente teológicos.
Que a atividade teológica, entre os santos
anjos, é intensa, não resta dúvida. Vejamos o que Pedro escreve: “A eles foi
revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas
que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado
do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1
Pe 1.12).
Já imaginou, querido irmão, os anjos de Deus,
às centenas e aos milhares, a estudar as belezas da salvação que, pela graça de
Deus, experimentamos? Eles, mais teológicos do que nós, evocando todos os
episódios da História Sagrada, para delinear a gênese e a consumação da Obra de
Cristo no Calvário? A que conclusão eles chegam? Deixemos, por ora, a
civilização celeste, a m de estudarmos a civilização dos lhos de Adão e Eva.
Embora não seja celeste, é supervisionada pelo Deus dos Céus e da Terra.
II.
A Origem da Civilização Humana
Neste
tópico, buscaremos definir a civilização humana. Em seguida, realçaremos a
família tradicional como a origem e a base desta. Veremos também por que Deus
estabeleceu o trabalho.
1.
Definindo a civilização. Civilização é a soma das
realizações espirituais, morais, sociais, materiais e econômicas, que tornam a
vida humana possível num determinado lugar. Foi o que demonstraram Adão e seus
descendentes logo após a Queda (Gn 4). Se Adão não tivesse pecado, haveria
civilização? Nessa hipótese, o processo civilizacional seria muito mais
brilhante e proveitoso, porque o homem cumpriria, plenamente, a vontade de Deus
quanto ao desenvolvimento de nosso planeta (Gn 1.26).
2.
O casamento como base da civilização. A civilização
humana teve início quando Adão recebeu Eva como esposa (Gn 2.18-25). A partir
daí, não somente a família, mas a nação, o povo e o Estado tornaram-se
possíveis (Gn 5; 10).
Portanto, sem o casamento, cujo real modelo
encontramos na Bíblia Sagrada, a civilização humana seria impossível (Ef
5.22-30). Aliás, até a própria Igreja de Cristo, apresentada como a sociedade
perfeita, tem no casamento bíblico a sua base espiritual, moral e emocional.
3.
A subsistência da civilização. A Bíblia Sagrada
apresenta o trabalho não como um m em si mesmo, mas como um meio à subsistência
humana (Sl 128.2; 2 Ts 3.10). Quer o homem tivesse pecado, quer não, não
poderia escapar ao trabalho, pois o próprio Deus é apresentado por Jesus como
um exemplo nessa área (Gn 2.1-3; Jo 5.17). Além disso, o Senhor criou Adão para
governar o mundo, uma atividade que requer atenção e esforço concentrado (Gn
1.26-28).
Após a Queda, o trabalho humano tornou-se um
enfado, devido à enfermidade do planeta (Gn 3.19; Jo 5.7; Rm 8.19-22).
III.
Civilização e Conflito
Observemos, agora, como a inveja, o homicídio,
a poligamia e a desordem social marcaram a civilização humana desde o início.
1.
Caim e Abel. Os primeiros lhos de Adão
dedicaram-se à subsistência básica da civilização humana: a agricultura e a pecuária.
Caim fez-se lavrador enquanto Abel, seu irmão, dedicou-se ao pastoreio (Gn
4.2). Sem ambas as atividades, a civilização torna-se inviável (Ec 5.9; 2 Cr
26.10).
Foi na
conuência de ambas as atividades, que Caim, o agricultor, movido por uma inveja
maligna, matou Abel, o pecuarista temente a Deus (Gn 4.8).
2.
A cidade de Lameque. Enoque (não confundir com o
piedoso ancestral de Noé) foi o nome da primeira cidade fundada na terra.
Estabelecida por Caim, logo após este haver assassinado Abel, a cidade de
Enoque foi marcada pela violência e pela banalidade quanto à vida humana. Tanto
é que Lameque, um dos netos de Caim, matou dois homens por motivos fúteis e, em
seguida, celebrou o seu duplo homicídio com uma poesia (Gn 4.23,24).
Desde então, a violência vem sendo celebrada em
poemas, crônicas, romances e lmes. Mas virá o tempo em que os homens não mais
aprenderão a se matar (Is 2.4).
3.
A tecnologia. Paralelamente à sua iniquidade, a
civilização caimita, instalada na cidade de Enoque, experimentou grande
progresso tecnológico, econômico e artístico. Havia, ali, fabricantes de
tendas, criadores de gado, metalúrgicos e músicos (Gn 4.20-22).
Do texto
bíblico, inferimos que havia mais progresso entre os descentes de Caim do que
entre os de Sete. Por esse motivo, estes, seduzidos pela civilização daqueles,
vieram a afastar-se de Deus (Gn 6.1-3). A partir daí, a iniquidade alastrou-se
de tal forma na terra, que o Senhor Deus viu-se na contingência de destruir
toda aquela civilização.
IV.
O Deus que Intervém na Civilização
Criador
e Senhor de todas as coisas, Deus tem direito de intervir tanto na biografia de
cada um de nós quanto na vida das nações e na própria civilização. Suas
intervenções são irresistíveis. Veremos, finalmente, que o Senhor Jesus é a
única esperança à civilização humana.
1.
A intervenção na biografia de cada homem. Deus
interveio diretamente, por exemplo, nas biografias de Adão, Caim e Enoque (Gn
3.9; 4.6; 5.24). Ele assim o faz, não apenas para disciplinar e punir, como
também para recompensar aos seus servos (Hb 11.6).
Indiretamente, o Todo-Poderoso intervém através
das autoridades por Ele constituídas (Gn 9.6; Rm 13.1-7).
Deus não se limitou a criar o Universo, nem nos
abandonou após nos haver formado. Ele continua a observar atenta, justa e
amorosamente todas as coisas (Gn 11.5; Sl 50.21; Pv 15.3). E, sempre que
necessário, intervém. Se o Senhor assim não agisse, a civilização humana, como
a conhecemos, não mais existiria.
2.
A intervenção na história da civilização. No período
da História Sagrada, abrangendo o Antigo e o Novo Testamento, Deus interveio
diretamente na civilização por ocasião do Dilúvio e da Torre de Babel (Gn 6.7;
11.5). E, desde então, vem o Senhor intervindo, na História, por intermédio de
reinos e impérios, a m de impor a sua vontade soberana aos rebeldes e apóstatas
(Jr 21.7; Is 45.1,13). Vê-se, pois, que a intervenção divina na civilização é algo
constante. De Adão aos nossos dias, o Senhor jamais deixou de intervir. Doutra
forma, não haveria sobre a Terra um único homem vivo.
3.
Jesus Cristo, a única esperança para a civilização humana. Às
vezes, somos levados a pensar que o Senhor Jesus veio a este mundo apenas para
salvar indivíduos. Todavia, o amor de Deus não se limita às biografias, porque
Ele, amando o mundo de tal maneira, enviou o seu Unigênito para salvar a todos,
inclusive a civilização e a História (Jo 3.16). Na Grande Comissão, somos
instados a evangelizar até aos conns da Terra, pois o Evangelho de Cristo
redime tanto pessoas como povos e civilizações (Mt 28.18-20). Chegará o dia em
que toda a Terra encher-seá do conhecimento do Senhor (Is 11.2).
V. A Civilização da Nova Jerusalém
Neste tópico, apresentar-lhe-emos, querido
leitor, uma civilização mais sublime do que a celeste.
Uma civilização, aliás, cujos fundamentos vêm
sendo preparados bem antes da criação dos Céus e da Terra. Refiro-me à Jerusalém
Celeste, arquitetada e construída por Deus, com o intuito de abrigar o Cordeiro
e a sua Noiva. Mas, até que ela seja estabelecida, teremos de peregrinar neste
mundo, agindo de forma sábia, cordata e vigilante, para alcançarmos a
bem-aventurança máxima: nossa união plena com o Senhor Jesus.
1.
O m da História Universal. No período a que chamamos
tempo, que compreende a eternidade que precedeu a criação e a eternidade que
sucederá a consumação de todas as coisas, temos alguns eventos marcantes quanto
às intervenções de Deus em sua criação: o princípio, o tempo dos gentios, a
plenitude dos tempos, o nal dos tempos e o início daquilo que podemos chamar de
Estado Eterno.
Conforme já dissemos no primeiro capítulo deste
livro, o tempo passou a existir quando Deus pôs-se a criar os Céus e a Terra
(Gn 1.1). Naquele momento, abria-se um interregno na eternidade, para que o
tempo — a sucessão de horas, dias e anos — se tornasse possível. A partir daí,
Adão e seus descendentes começaram a fazer e a escrever a História, que, em sua
essência, é o registro da intervenção do Todo-Poderoso na biografia de cada
homem, em particular, e nas crônicas das nações, de forma coletiva.
Afim de compreendermos, devidamente, a
instalação da Jerusalém Celeste, é necessário definirmos o que o Senhor Jesus,
em seu Sermão Profético, cognominou de tempo dos gentios. Referindo-se às
desditas prestes a se abaterem sobre a Cidade Santa, Ele declarou: “Até que os
tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles” (Lc 21.24,
ARA). Atentos ao discurso do Mestre Divino, temos duas perguntas a formular:
“Quando teve início o tempo ou tempos dos gentios, e quando este há de
completar-se?”. Em termos escatológicos, o tempo dos gentios teve início com a
destruição de Jerusalém, pelos babilônios, em 586 a.C. (2 Rs 25.8-22; Ez 30.3).
Desde então, o povo de Israel perdeu a sua autonomia, foi disperso pelo mundo e
muito sofreu sob nações e impérios gentios. O auge de seu infortúnio deu-se no
período da Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha de Hitler assassinou seis
milhões de judeus.
Infere-se claramente, tendo como ponto de
partida a criação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, que o tempo dos
gentios já se encaminha ao seu inevitável término. Desde essa data, vêm
sucedendo-se alguns eventos que, profeticamente, nos deixam alertas: Jesus
Cristo está às portas. Antes de tudo, cabe-nos destacar a retomada de Jerusalém
Oriental, pelas Forças de Defesa de Israel, em junho de 1967, durante a Guerra
dos Seis Dias. E, mais recentemente, estamos a presenciar alguns ensaios, em
Israel e fora de Israel, concernentes à reconstrução do Santo Templo. Ainda que
o santuário canônico dos hebreus não seja reerguido antes do Arrebatamento da
Igreja, de uma coisa não temos dúvida: o tempo dos gentios está em seus
estertores.
A plenitude dos tempos foi a ocasião propícia
que Deus, em sua presciente sabedoria, preparou, a m de que o seu Filho viesse
a este mundo, conforme escreve Paulo aos irmãos da Galácia (Gl 4.4,5.)
Já escrevendo a Timóteo, o apóstolo mostra como
se deu a manifestação do Unigênito do Pai Celeste: “E, sem dúvida alguma,
grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no
Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima
na glória” (1 Tm 3.16, ACF).
Com o nascimento de Nosso Senhor, o mundo
aproxima-se ainda mais do Reino dos Céus, ainda que a Terra, como um todo, não
o perceba. Ao exercer o seu ministério terreno, como Verdadeiro Homem e
Verdadeiro Deus, finca entre nós um padrão de posse indelével e inapagável: “Os
reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará
para todo o sempre” (Ap 11.15).
A morte e a ressurreição de Jesus Cristo, como
o Salvador do mundo, deflagraram aquilo que, biblicamente, veio a ser conhecido
como “os últimos dias” (Dn 2.28; At 2.17). Profeticamente, esses dias começaram
a ser computados há quase dois mil anos. Apesar de esse período parecer
demasiadamente longo, é o tempo de que Deus precisa, afim de cumprir todo o seu
programa escatológico e apocalíptico.
Se levarmos em conta que o povo de Israel veio
a florescer, como a figueira escatológica, somente em 1948, esses dois mil anos
parecem apenas dois dias. Quanto a Jerusalém, continua a ser pisoteada pelos
gentios que, até este momento, ainda não reconheceram a soberania israelita
sobre a Cidade Santa. Temos ainda a mencionar, como etapa a ser cumprida, o
Santo Templo. Para quem acha que o Senhor retarda as suas promessas, deixamos
esta advertência do apóstolo Pedro (2 Pe 3.8-13).
2.
O início da História da Jerusalém Celeste. A trombeta
do arcanjo não proclamará apenas o arrebatamento da Igreja de Cristo, mas
igualmente o início da História da Jerusalém Celeste. Naquele instante, o
programa de Deus entrará no período apocalíptico, encaminhando-se celeremente à
consumação de todas as coisas e à inauguração da morada eterna dos santos.
A instalação da Jerusalém Celeste, entre os
Novos Céus e a Nova Terra, será precedida por estes eventos: o arrebatamento da
Igreja, a Grande Tribulação, o Milênio e o Juízo Final (1 Ts 4.13-18; Ap 5–19;
20.1-6; 11–15). E, agora, que todas as coisas já estão consumadas, os santos de
todas as épocas e lugares serão reunidos por Jesus Cristo, na Jerusalém
Celeste.
3.
Em Cristo, todos os redimidos somos um. Em minha viagem
por Israel, tive o privilégio de reunir-me, diversas vezes, com servos de Deus
das mais longínquas procedências. Era comum encontrar, num restaurante de
hotel, irmãos da África, das Américas, da Ásia, da Europa e da Oceania. Embora
nem sempre a nossa comunicação fosse possível, a nossa comunhão era plena no
Filho de Deus. Mesmo estando alguns daqueles países, ali representados pelos
peregrinos, em conflito, a paz entre nós era perfeita.
Naquelas
congregações informais, nossas diferenças idiomáticas, culturais e geográficas
caíam por terra. No Espírito Santo, todos éramos (e somos) um. Naqueles
momentos, cava a imaginar a Jerusalém Celeste, uma civilização superior à dos
primeiros Céus, na qual, não somente os vivos, mas também os mortos já
ressuscitados, formaremos uma só grei em Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus.
A perfeição da civilização da Jerusalém Celeste
é assim descrita pelo Evangelista (Ap 21.1-8).
Conclusão
A única esperança para a civilização humana é o
Evangelho de Cristo. Por essa razão, proclamemos a Palavra de Deus a tempo e a
fora de tempo, para que não venhamos a ser destruídos. Além do mais, o Senhor
Jesus constrange-nos a salgar e a iluminar a nossa geração por intermédio de um
testemunho eficaz: somente a Igreja de Cristo tem as propriedades do sal e da
luz.
Que o
nome de Cristo seja exaltado. Em breve, estaremos na Jerusalém Celeste, onde ficaremos
para sempre com o Senhor Jesus. Ali, experimentaremos a civilização perfeita,
na qual Cristo será tudo em todos.
A
Raça Humana
CLAUDIONOR
DE ANDRADE
História do Mundo Bíblico
Antigo
IBETEL
1.2. A Idade do Homem
“Ao
certo, nada se sabe quanto à idade do homem. A única narrativa que temos, para
exame, é o capítulo 5 do livro de Gênesis. Por este relato, sabemos que Adão
com 130 anos teve o terceiro filho. Partindo desta declaração, contando as
idades de cada personagem, segundo verificamos, o dilúvio teve lugar 1.650 anos
depois de Adão. Entretanto discute-se muito os dados oferecidos neste capítulo.
Por outro lado, crê-se que a declaração de que Adão tinha 130 anos quando
nasceu Sete deve referir-se à idade depois de cair no pecado. Pensa-se que
teriam decorrido muitos anos, centenas mesmo, antes da queda, e talvez Moisés
se louvasse na vida de Adão, como um de nós, e não antes, quando ele era como
os anjos em sua inocência.
Qual
será a verdade?
A
nossa curiosidade e o nosso desejo de saber nos impelem para o desconhecido, e
ficamos impacientes porque não podemos resolver os nossos problemas. Os que
aceitam como razoável a cronologia de Gênesis louvam-se no fato de os 1.650
anos, de Adão ao dilúvio, eram o suficiente para que a terra se povoasse numa
boa extensão e para que o gênero humano atingisse o desenvolvimento creditado
no livro de Gênesis. Comparando algumas épocas entre si, chegamos à conclusão
de que a idade antediluviana do mundo, nos tempos de Cristo, não oferecia
qualquer semelhança com o nosso mundo. Da civilização européia nada existia;
dos atuais conhecimentos científicos também nada existia; Entretanto, são
apenas 1.950 anos. O mundo se transformou completamente durante estes séculos.
Portanto, a mesma idade para o mundo antediluviano não parece de todo fora de
propósito.
Os
evolucionistas necessitam de muitos milhões de séculos para a espécie humana se
desenvolver ou evoluir, até atingir a humanidade que nós conhecemos; mas o
evolucionismo é uma especulação sem qualquer base científica, e os seus
cálculos devem ficar fora de cogitações. Os que entendem que a humanidade se
desenvolvia mais lentamente nos tempos antigos admitem 10.000 anos para a idade
do homem, e alguns documentos caldaicos, sem qualquer valor científico,
favorecem esta crença. A história do Egito deve estender-se quanto muito, a
5.000 anos a.C., incluindo o período pré-histórico. Os egípcios vieram da
Caldéia, devendo, portanto, esta região ser bem mais velha. A primeira onda
humana, que teria atingido ali em 4500 a.C. ou 5000, o que faz coincidir com o
estabelecimento desta gente no Egito, visto que os primeiros seres humanos que
chegaram à Europa eram do mesmo estoque hamítico. Talvez a mesma onda se
dividisse, seguindo uma parte para o sul, estabelecendo-se no Egito, e a outra
dirigindo-se para o norte, atingindo a Germânia. Se estes cálculos puderam ser
positivados, o homem deve agora ter chegado a 6.900 anos depois do dilúvio.
Então 1650 anos seriam suficientes para o estabelecimento e desenvolvimento da
espécie antes do dilúvio.
A
ciência tem feito grandes progressos, mas há ainda muito a investigar. Talvez a
nossa raça não seja tão velha como se julga. Mil anos bastam para que o gênero
humano produza grandes civilizações. As investigações continuam e ninguém deve
desanimar de poder obter maiores conhecimentos através destas investigações. Os
últimos dois séculos trouxeram mais conhecimentos da história antiga do que
todos os milênios que os precederam. Se um historiador do princípio do século
18 ressuscitasse agora, ficaria envergonhado de tanta ignorância reinante nos
seus dias. Os últimos 50 anos deram ao mundo um desenvolvimento maior do que
2.000 anos anteriores. Portanto, 1600 anos seriam suficientes para desenvolver
uma população que não iria muito além dos limites que nós hoje conhecemos como
Oriente Médio”. (Mesquita, Antônio Neves. Povos e Nações do Mundo Antigo. Pág.
30).
1.3. Pré-história
Entende-se
por pré-história, nos esquemas cronológicos tradicionais, todo o período que
abrange a atividade humana desde suas origens até o aparecimento da escrita.
Primeiramente, a atividade humana insere-se numa conformação social e
tecnológica orientada pela economia predatória, e em seguida pela economia de
subsistência agrícola não-urbana (isto é, sem distinção cidade-campo). Chama-se
em geral de proto-história a época de transição que se segue, quando as
sociedades agrárias começam a reunir os primeiros elementos para a posterior
aplicação da escrita. Caracteriza-se pelo começo da substituição da tecnologia
da pedra pela do metal, em decorrência de maior necessidade produtiva e do
aumento do consumo no interior das vilas. Nessa perspectiva, o advento da
escrita constitui o marco convencional do princípio dos tempos históricos.
1.4. História
Disciplina
que se ocupa do estudo dos fatos relativos ao homem ao longo do tempo, a
história se baseia na análise crítica de testemunhos concretos e verídicos. O
vocábulo grego historía, que significa “conhecimento por meio de uma
indagação”, deriva de hístor: “sábio” ou “conhecedor”. O termo latino história
foi adotado por quase todos os idiomas ocidentais, com exceções como o alemão
(Geschichte). São muitas as definições que se fizeram dessa disciplina. Para
Johann Gottfried von Herder, é “o estudo do passado”, conceito que os gregos
não haviam especificado. Marc Bloch definiu a história como a ciência dos
homens no transcurso do tempo. Lucien Febvre destacou o processo de mudança
contínua da sociedade humana como a base da história. Para Benedetto Croce, a
história pode adotar elementos filosóficos em seu processo de conhecimento.
1.5. Classificação
Devido
à amplitude do objeto da história, foi preciso dividir seu campo de estudo em
vários segmentos. Considerando-se o meio geográfico a ser estudado, a história
é universal quando se refere a todas as sociedades humanas no mundo; é nacional
no caso de se limitar à de um único país; é regional ou local para áreas
geográficas definidas mas não nacionais. Assim, a história propriamente dita
parte dos testemunhos escritos e foi, por sua vez, dividida em períodos que,
embora de certo modo arbitrários, refletem grandes blocos bem definidos entre
si: idade antiga, medieval, moderna e contemporânea. Pode-se falar também de
história recente, no caso do estudo das últimas décadas, e de história geral
para os panoramas históricos que abarcam todos os períodos. A história da arte
ou da cultura ocupa espaço próprio. Cada uma dessas grandes seções em que se
divide a história como disciplina acadêmica pode, por sua vez, ramificar-se em
diversos temas específicos, centrados em áreas geográficas ou períodos
delimitados.
1.6. Antigas Civilizações
As mais antigas civilizações da História
surgem entre 4.000 a.C. e 2.000 a.C., às margens dos rios Tigre e Eufrates
(Mesopotâmia), Jordão (Palestina), Nilo (Egito), Amarelo (China), Indo e Ganges
(atuais Paquistão e Índia). A maioria desenvolve-se na região do chamado
Crescente Fértil. Têm características comuns, como a escrita, a arquitetura
monumental, a agricultura extensiva, a domesticação de animais, a metalurgia, a
escultura, a pintura em cerâmica, a divisão da sociedade em classes e a
religião organizada. As principais civilizações são a suméria, a acadiana, a
babilônica, a assíria, a egípcia, a hebraica, a fenícia, a hitita, a cretense,
a persa, a chinesa e a hindu. Apesar de estarem no Ocidente, os cretenses têm
características comuns aos outros povos da Antiguidade oriental.
Povos e Nações do Mundo
Bíblico Antigo
Introdução
Não
é possível determinar os anos que escoaram entre a criação e o dilúvio. Toda a
cronologia bíblica é insuficiente para nos aproximar da verdade. Nem isso
importa ao historiador. De qualquer modo, parece que entre a criação e o
dilúvio mediaram alguns séculos, vividos à margem do Éden pelos antediluvianos,
dos quais Moisés dá uma boa lista. Não se tem idéia de grande povos e muito
menos de impérios. Talvez pequenos grupos esparso pelos vales da Armênia e
planícies da Mesopotâmia, atingindo o Golfo Pérsico, as planuras da pérsia e os
altos do Líbano. Tudo pura conjectura, visto que nada de positivo se pode
oferecer ao estudante. O mundo de nosso estudo é o pós-diluviano, visto que a
arqueologia não tem podido ajudar a resolver o mistério do mundo primitivo, e a
geologia ou paleontologia, não dispõe de dados seguros. Depois do dilúvio,
segundo a narrativa bíblica, a família de Noé estabeleceu-se na Armênia, pois
que a viagem descrita em Gênesis 11.2 indica o rumo do Ocidente, para a terra
Sinear, ou seja, a terra de Sumer, das antigas narrativas. Estabelecidos aqui,
fundaram diversas cidades mencionadas em Gênesis, muitas das quais estão
atualmente identificadas como Acade, Babel, Ereque, Ur, e outras (Gn 10.10).
2.1. Noé
Escolhido
por Deus para perpetuar a humanidade após o dilúvio, Noé aparece na Bíblia como
fundador da genealogia semítica e origem das raças do mundo. De acordo com o
Gênesis, Noé era filho de Lamec e pertencia à nona geração depois de Adão. Era
um patriarca nobre e piedoso e, por isso, quando Deus decidiu eliminar a
corrupção dos homens com o dilúvio, escolheu-o para preservar a raça humana.
Advertiu-o do que iria ocorrer e ordenou que construísse uma grande arca capaz
de flutuar e nela guardasse um par de cada espécie animal. Tudo pronto, Noé,
sua mulher, seus três filhos Sem, Cam e Jafé e as esposas destes embarcaram e
sobreveio o dilúvio, que durou quarenta dias. Quando parou de chover, Deus estabeleceu
com Noé e seus filhos uma aliança, pela qual não haveria mais dilúvio para
devastar a terra, e renovou os preceitos firmados por ocasião da criação, com
duas variações: os homens poderiam matar e comer animais; e o homem que matasse
outro seria castigado por seus semelhantes. Mais tarde, Noé dedicou-se à
agricultura e descobriu o vinho. Ao prová-lo, embriagou-se e ficou nu em sua
tenda. Cam viu a nudez do pai e zombou dele. Sem e Jafé, porém, tomaram um
manto e o cobriram respeitosamente. Ao saber do comportamento de Cam, Noé
condenou o filho dele, Canaã, a ser escravo da estirpe de Sem, os semitas,
tronco do qual surgiu o povo de Israel.
2.2. Semitas
O critério lingüístico é o único que permite
definir inequivocamente uma família de povos semitas e postular para eles uma
unidade pré-histórica. Provêm da cultura desses povos a escrita alfabética e as
três grandes religiões monoteístas do mundo -- judaísmo, cristianismo e
islamismo. Semitas é o termo utilizado para designar um grupo de povos, entre
os quais se destacam os árabes e os hebreus, que falam ou falaram línguas
semíticas. A designação provém do livro bíblico do Gênesis, que menciona povos
descendentes dos filhos de Sem. O texto bíblico arrola entre os semitas, no
entanto, os elamitas e os lídios, cujas línguas têm outra raiz lingüística, e
separa desse grupo os cananeus, “filhos de Cam”, povo de língua semítica.
Modernamente, as línguas semíticas estão incluídas na família camitosemítica. O
território ocupado originalmente pelos povos semitas era uma extensão contínua
que compreendia boa parte do Oriente Médio, limitada ao norte pelas
cordilheiras Taurus e Antitauro, a leste pelo planalto iraniano, e a oeste e ao
sul pela costa árabe do mar Vermelho e do oceano Índico.
2.2.1. Características dos
povos semitas
Na
família camito-semítica, ou afro-asiática, incluem-se as seguintes línguas:
acadiano, ugarítico, fenício, hebraico, aramaico, árabe, etíope, egípcio
antigo, copta, líbico, berbere, guanche, somali, gala, afar-saho e haúça. Em
conseqüência das migrações, não se pode falar de um grupo étnico semita
homogêneo, pois a diversidade de tipos raciais é muito grande. Ainda que todos
sejam de raça branca, predominam as variedades armenóide, braquicéfala (crânios
redondos), e mediterrânea-oriental, dolicocéfala (crânio alongado), além de
inúmeros tipos mistos. Outros traços físicos são estatura mediana, olhos e
cabelos escuros e nariz adunco. A miscigenação com outros povos modificou em
muitos casos esses traços. Originalmente, os semitas habitaram regiões áridas
ou desérticas, de clima extremamente seco, salvo nos cursos de rios como o
Eufrates e o Tigre, no litoral mediterrâneo e nos oásis. Em conseqüência,
predominou entre eles o nomadismo, associado ao pastoreio e à agricultura
irrigada e intensiva. O cristianismo, uma das três grandes religiões de origem
semita, tornou-se universal. O judaísmo, pelo contrário, permaneceu restrito aos
descendentes do povo de Israel.
2.2.2. Evolução das culturas
semitas
A revolução neolítica, registrada a partir do
ano 9000 a.C., período em que o homem conquistou as primeiras vitórias sobre a
natureza mediante a domesticação de animais e a agricultura, ocorreu
supostamente na antiga Mesopotâmia -- região povoada pelos semitas -- e no
Egito. Na mesma área, por volta do ano 5500 a.C., surgiram sociedades
organizadas, com estrutura estatal e diversificação das atividades econômicas,
no que se conhece como a primeira revolução urbana, à qual se seguiu o
surgimento dos grandes impérios da Assíria e da Babilônia.
2.2.3. Povos semitas na
antiguidade
Na parte baixa da Mesopotâmia, entre o rio
Tigre, o golfo Pérsico, o deserto da Arábia e as colinas que marcam o limite
com a alta Mesopotâmia, os assírios e os caldeus, em luta pelo domínio
territorial, criaram grande número de cidades e se distinguiram pela capacidade
guerreira e espírito expansionista, desenvolvendo uma das primeiras
civilizações da antiguidade. Enquanto no interior se estendiam os grandes
impérios, na região de Canaã, estreita faixa do litoral ocupada posteriormente
pelos estados da Jordânia e Israel, desenvolveu-se a primeira civilização
marítima e comercial, a dos fenícios. Estabelecidos antes da chegada dos
filisteus e dos hebreus, que terminaram por expulsá-los, dominaram as margens
do Mediterrâneo mais pelo intercâmbio comercial do que pelas armas. Por terem
se fixado ao longo da seção média da costa, pouco atraente para os invasores,
sobreviveram ao extermínio total. As cidades fenícias (Tiro, Sidon, Biblos
etc.) não tinham boa comunicação por terra e várias expedições lançaram-se à
conquista do mar, alcançaram o Atlântico e fundaram, em centros como Cartago
(África) e Nova Cartago (Cartagena, Espanha), uma nova civilização semítica. Os
gregos, em seus lugares de origem, e os romanos, na África e na Espanha, mais
tarde dominariam esses povos.
Outros
povos semitas foram os amonitas, os moabitas e os edomitas, habitantes da
antiga Palestina que sofreram os ataques dos filisteus (“povos do mar”
procedentes da Grécia, não-semíticos) e dos hebreus, que finalmente os
subjugaram. Nas colinas interiores próximas à costa do Mediterrâneo, os
hebreus, em luta com cananeus e moabitas, criaram o judaísmo, primeira religião
monoteísta. A grande expansão dos semitas ocorreu logo depois da fundação da
religião islâmica pelos árabes, no século VII da era cristã. Os árabes
pré-islâmicos foram os semitas de menor vocação religiosa. A assimilação
progressiva da religiosidade se efetuou entre eles graças à convivência com os
judeus, sobretudo depois da primeira diáspora babilônica, no século VI a.C.,
embora os cristãos (ortodoxos, jacobitas, monofisistas etc.) também os tenham
influenciado. O islamismo se propagou rapidamente por meio da guerra santa
prescrita pelo Alcorão e em pouco tempo foi levado da Espanha ao oceano
Pacífico.
2.2.4. Povos semitas atuais
Os dois grandes grupos semitas remanescentes
são o árabe e o hebreu. Os judeus, israelitas ou hebreus eram integrantes de
tribos semitas nômades que percorriam a área de terras férteis da Mesopotâmia
até o Egito, através da Síria e da Palestina. Seu primeiro assentamento na
Palestina, depois da longa permanência no Egito, deve ter ocorrido por volta do
século XIII a.C.
Os
hebreus não formam uma raça homogênea, pois passaram por diferentes
transformações étnicas nos muitos países a que foram levados pela dispersão
ordenada pelos romanos. Depois da diáspora, no século I da era cristã, os
grupos hebreus que ficaram na Ásia conservaram melhor suas características do
que os que migraram para a África e a Europa. Os europeus formaram dois grandes
subgrupos: sefarditas e asquenazitas. Estes últimos se estabeleceram na Europa
central e nos países eslavos e, além da língua do país que os acolheu,
mantiveram o iídiche (judeu-alemão). Os sefarditas migraram para a Espanha
(Sefarad é o nome da Espanha em língua hebraica) e, ao serem expulsos em 1492,
passaram à Itália, Europa central, império turco e Marrocos. Falam também a
língua dos países em que residem, mas muito deles conservam ainda o castelhano
tal como era falado no século XV.
A
habilidade dos judeus para o comércio e as finanças os levou a adquirir grande
poder econômico nos países em que se fixaram, o que, somado à fidelidade à
religião e à intolerância dos povos nativos, conduziu com freqüência a cruentas
perseguições. No entanto, o genocídio mais brutal foi cometido pelo regime
nazista na Alemanha, cuja perseguição sistemática levou ao extermínio de mais
de seis milhões de judeus.
O
século XX assistiu ainda a dois acontecimentos que afetaram os semitas e
alcançaram grande repercussão mundial, um de natureza política e outro,
econômica. Por um lado, as nações semitas do Oriente Médio, submetidas aos europeus
no século XIX, conquistaram a independência no processo de descolonização
iniciado após a segunda guerra mundial; por outro, o aumento do preço
internacional do petróleo, produto do qual se encontram grandes reservas nos
países árabes, forneceu os meios econômicos para que o Oriente Médio começasse
a se desenvolver.
A
partir da criação do Estado de Israel, em 1948, em território palestino,
intensificou-se a cisão entre árabes e judeus, o que levou a guerras e a uma
situação de permanente conflito. As colônias judaicas mais importantes
encontram-se nos Estados Unidos, na Rússia e nos demais países da Comunidade de
Estados Independentes (CEI), no Reino Unido e na França. Os grupos judeus nos
países árabes, numerosos antes das guerras entre eles, diminuíram
sensivelmente.
Os
árabes constituem na atualidade um grupo muito mais numeroso que o dos judeus.
Originários da península arábica formaram o grande núcleo semita que, a partir
do quarto milênio anterior à era cristã, emigrou para o Oriente Médio. Em seu
êxodo, seguiram duas direções principais: contornaram o golfo Pérsico e se
estabeleceram na antiga Caldéia e, através da península do Sinai, chegaram ao
litoral do Mediterrâneo. Os que permaneceram nos imensos desertos foram
convertidos ao islamismo por Maomé e se lançaram à conquista do mundo a partir
do século VII da era cristã. Posteriormente, o vasto império que formaram
dividiu-se em numerosos estados. Em conseqüência dos ataques dos cristãos
europeus, pelo Ocidente, e dos turcos, pelo leste, foram submetidos a
diferentes poderes até o século XX, mas conseguiram converter ao islamismo
outros povos, como os turcos e os persas.
Os
árabes têm a integração política dificultada pela diversidade de regimes
políticos e pelas grandes diferenças econômicas, pois a riqueza dos países
produtores de petróleo contrasta com a pobreza dos que carecem desse recurso. O
território habitado pelos árabes, que não constitui um contínuo geográfico bem
definido, compreende regiões da Ásia e da África e se estende do planalto do
Irã até o oceano Atlântico, tendo como limite meridional o oceano Índico e as
regiões orientais e ocidentais do deserto do Saara. Convivem com eles alguns
povos de língua não árabe, como os berberes que, no entanto, costumam ser
bilíngües. Alguns poucos grupos de língua árabe encontram-se fora desses
limites, no Irã e no Sudão.
2.3. Acádios
O
primeiro império da Mesopotâmia foi estabelecido por um povo semita conhecido
pelo nome de sua capital, Acad, situada em algum ponto da região entre os rios
Tigre e Eufrates, próxima à Babilônia. A língua acádia é o elemento mais
conhecido desse povo, que foi assimilado pela população suméria, dominante na
região.
2.3.1. História
Por
volta do ano 2300 a.C., o chefe semita Sargão I, cujo nome significa “rei
justo” ou “rei verdadeiro”, fundou a cidade de Acad e empreendeu bemsucedidas
campanhas bélicas, que estenderam seu domínio a toda a região mesopotâmica
limitada ao sul pelo golfo Pérsico e ao norte pelo litoral mediterrâneo da
Síria.
Após a morte do fundador da dinastia acádia,
nenhum dos herdeiros -- Rimush e Manishtusu -- mostrou-se capaz de controlar o
vasto império. O poder militar acádio foi temporariamente restabelecido por
Naram-Sin, que combateu os bárbaros das zonas montanhosas do norte (montes
Zagros, alto Tigre e alto Eufrates), dominou o país de Mogan e sufocou uma
revolta das cidades mesopotâmicas. Seu sucessor, Sharkali-sharri, continuou a
luta contra os guti e os amorritas, povos montanheses dos Zagros e do
Curdistão.
Entre
os anos de 2217 e 2139 a.C., aproximadamente, o poder da cidade e sua dinastia
entrou em decadência até a completa desaparição. As cidades mesopotâmicas,
dominadas pelos povos invasores, uniram-se novamente sob o domínio da dinastia
de Ur.
2.3.2. Organização política e
econômica
A
dinastia acádia uniu numa organização estatal comum as diversas cidades
independentes que existiam na Mesopotâmia. O império sediado em Acad, onde
residia o monarca, compunha-se de diversas províncias. As diferentes
comunidades conservaram suas principais instituições sob a supervisão dos
funcionários reais que constituíam uma poderosa máquina administrativa. A época
foi de grande prosperidade econômica, baseada na agricultura, no artesanato e
no comércio. As relações comerciais com a Síria, o golfo Pérsico e com o vale
do Indo, que forneciam à Mesopotâmia matérias-primas como madeira, couro e
pedras, estão descritas em diversos documentos.
2.4. Cananeus
Na
região de Canaã, situada no cruzamento de importantes civilizações antigas,
mesclaram-se elementos culturais de diversas origens: egípcios, micênicos,
cretenses, hurrianos e mesopotâmicos. O nome Canaã aparece em inscrições
cuneiformes, egípcias e fenícias. No Antigo Testamento, a região é identificada
com a Terra Prometida dos israelitas. A variação entre as diversas fontes
históricas não permite estabelecer precisamente os limites da região.
Arqueólogos e historiadores costumam chamar de Canaã a área correspondente, nos
tempos préhistóricos e pré-bíblicos, à Cisjordânia, com eventual inclusão da
Fenícia e, por vezes, da Síria. A palavra viria de um vocábulo semítico
referente à “púrpura avermelhada” de uma lã produzida na região.
Os
vestígios da ocupação humana em Canaã remontam aos períodos paleolíticos e
mesolíticos, mas as primeiras cidades e aldeias fixas datam do neolítico. Na
idade do bronze, durante a primeira metade do segundo milênio a.C., povos
semitas começaram a aparecer na região; os amorritas, vindos do nordeste,
tornaram-se então predominantes, e egípcios, hicsos e hurrianos também ali se
estabeleceram. São dessa época os primeiros registros históricos.
Entre
os séculos XVI e XIII a.C., o domínio sobre Canaã era principalmente egípcio,
ameaçado pelas investidas hititas. Ocorreram então incursões guerreiras de
grupos nômades multiétnicos semitas, conhecidos como habirus, que os
historiadores geralmente identificam como os primeiros hebreus. O declínio da
dominação egípcia e hitita, ao final do século XII a.C., coincidiu com o
estabelecimento dos israelitas, que ocuparam inicialmente as colinas e a área
meridional, lutando contra clãs e povos locais. No século seguinte, os filisteus,
aparentemente vindos de Creta, ocuparam a faixa litorânea meridional e fundaram
uma aliança de cinco cidades-estados. No século X a.C., os israelitas, sob a
liderança do rei Davi, derrotaram os filisteus e consolidaram sua vitória sobre
o povo local, os cananeus, que terminaram por se extinguir. A partir de então,
a região de Canaã tornou-se, na prática, a terra de Israel.
As
informações a respeito da religião seguida em Canaã antes da presença israelita
provêm de achados arqueológicos ugaríticos, no litoral norte da Síria. O deus
principal era El; as chuvas e a fertilidade constituíam o domínio de Baal.
Outros deuses eram Reshef (da peste e do mundo inferior), Ashera (esposa de El)
e Astartéia (deusa da fertilidade).
A
língua cananéia pertencia ao grupo semita e era próxima do hebreu arcaico.
Foram os cananeus, ao que tudo indica, o primeiro povo a empregar o alfabeto:
inscrições do fim da idade do bronze, encontradas na região, são tidas como a
origem do alfabeto fenício. Além de tal alfabeto arcaico, empregava-se
corretamente a escrita cuneiforme silábica da Mesopotâmia. Outro tipo, muito
peculiar, de escrita cuneiforme foi descoberto no norte da Síria.
2.5. Suméria
Com
as escavações iniciadas em 1877 nas ruínas de Lagash, na Mesopotâmia, ao sul da
Babilônia, Ernest de Sarzec descobriu os vestígios da mais antiga civilização
humana, a da Suméria. Os sumérios inventaram a escrita cuneiforme -- mais
antiga forma grafada para representar sons da língua, ao invés dos próprios
objetos --, os primeiros veículos sobre rodas e os primeiros tornos de
cerâmica. O território da Suméria localizava-se no extremo sul da Mesopotâmia,
entre os rios Tigre e Eufrates, na área onde posteriormente se desenvolveu a
Babilônia e que modernamente corresponde ao sul do Iraque, entre Bagdá e o
golfo Pérsico. Nessa região desenvolveu-se a civilização dos sumérios, povo de
origem desconhecida que, já no quarto milênio antes da era cristã, agrupava-se
em cidades-estados.
2.5.1. História
Antes
da chegada dos sumérios, a baixa Mesopotâmia fora ocupada por um povo não
pertencente ao grupo semita, modernamente conhecido como ubaida, termo derivado
da cidade e al-Ubaid, onde foram encontrados seus primeiros vestígios. Primeira
força civilizatória presente na área, os ubaidas estabeleceram-se no território
entre 4500 e 4000 a.C. Drenaram os pântanos para a agricultura, desenvolveram o
comércio e estabeleceram indústrias, entre as quais manufaturas de couro,
metal, cerâmica, alvenaria e tecelagem. Mais tarde, vários povos semitas
infiltraram-se no território dos ubaidas e formaram uma grande civilização
pré-suméria.
O
povo conhecido como sumério, cuja língua predominou no território, veio
provavelmente da Anatólia e chegou à Mesopotâmia por volta de 3300 a.C. No
terceiro milênio, haviam criado pelo menos 12 cidades-estados: Ur, Eridu,
Lagash, Uma, Adab, Kish, Sipar, Larak, Akshak, Nipur, Larsa e Bad-tibira. Cada
uma compreendia uma cidade murada, além das terras e povoados que a
circundavam, e tinha divindade própria, cujo templo era a estrutura central da
urbe. Com a crescente rivalidade entre as cidades, cada uma instituiu também um
rei.
O
primeiro rei a unir as diferentes cidades, por volta de 2800 a.C., foi o rei de
Kish, Etana. Por muitos séculos, a liderança foi disputada por Lagash, Ur,
Eridu e a própria Kish, o que enfraqueceu os sumérios e os tornou extremamente
vulneráveis a invasores. Entre 2530 e 2450 a.C., a região foi dominada pelos
elamitas procedentes do leste. Teve maiores conseqüências a invasão, pelo
norte, dos acadianos, cujo rei Sargão de Acad integrou a Suméria a seu império.
Sargão conseguiu ainda submeter os elamitas, antes de lançar-se à conquista das
terras ocidentais, até a costa síria do Mediterrâneo. Criou assim um modelo
unificado de governo que influenciou todas as civilizações posteriores do
Oriente Médio. Sua dinastia governou aproximadamente entre 2350 e 2250 a.C.
Após
o declínio da dinastia acadiana, por volta do ano 2150 a.C. o território foi
invadido e devastado pelos gútios, povo semibárbaro originário dos montes
Zagros, a leste da Mesopotâmia. Graças à reação do rei de Uruk, que expulsou os
invasores, as cidades ficaram novamente independentes. O ponto alto dessa era
final da civilização suméria foi o reinado da terceira dinastia de Ur, cujo
primeiro rei, Ur-Nammu, publicou o mais antigo código legal encontrado na
Mesopotâmia. Depois de 1900 a.C., quando os amorritas conquistaram todo o
território mesopotâmico, os sumérios perderam sua identidade como povo, mas a
cultura suméria foi assimilada pelos sucessores semitas.
15 História
do Mundo Bíblico Antigo
(Org.) Profº. Pr. VICENTE PAULA LEITE
No programa Evidências de hoje vamos procurar conhecer um pouco os mais remotos traços arqueológicos que nos permitem ir o mais próximo possível do início daquilo que hoje chamamos civilização humana. Toda sociedade é composta por uma relação nem sempre equilibrada de produção e consumo regida pela administração governamental de algum tipo de regime democrático, totalitarista, competitivo etc. Essas sociedades em conjunto vão dar forma a um sistema organizado tão vigente, quanto invisível conhecido desde a antiguidade como CIVILIZAÇÃO.
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