TEXTO ÁUREO
“Pelo que, como por um
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12).
VERDADE
PRÁTICA
Ao pecar contra Deus, o
homem perdeu o completo domínio sobre a criação e tornou-se vulnerável à morte;
em Cristo, porém, temos o Reino e a vida eterna.
Capítulo
7
A Queda do Ser Humano
S
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egundo Charles Darwin (1809-1882), o homem é o
produto de um lento e tedioso processo de evolução. Aliás, um processo que,
desde o aparecimento dos primatas, teria durado três milhões e meio de anos.
Mas, se levarmos em conta tal mito, desde o seu mais recuado princípio, de
acordo com alguns evolucionistas, toda essa marcha biológica, que resultaria no
Homo Sapiens, representaria um total de 530 milhões de anos; uma eternidade
para nós, hoje, cuja expectativa de vida não vai além dos 80 anos de idade.
Todavia, ao examinarmos a Bíblia Sagrada,
constatamos que, na peregrinação do homem sobre a face da Terra, não houve
evolução nem avanço. Mas uma involução contínua que, por diversas vezes, quase
nos levou à completa extinção. Haja vista as duas guerras mundiais do século
XX. Em ambos os conflitos, foram mortos mais de 80 milhões de pessoas. E, desde
então, outro tanto perdeu a vida em conflitos menores e igualmente selvagens.
O homem vem involuindo continuamente não porque
lhe faltem cultura, informações e bem-estar, mas por causa do pecado cometido,
no Éden, por nossos primeiros genitores: Adão e Eva. Levemos em consideração
que ambas as guerras mundiais foram deflagradas por um dos povos mais cultos e
adiantados da história — a Alemanha dos Filósofos, dos músicos e dos físicos.
No século XIX, esse país era conhecido como a Atenas dos tempos modernos.
Querido
leitor, o pecado transforma o mais civilizado dos homens num animal voraz,
ignorante e disposto a canibalizar o próximo. Por outro lado, o Evangelho de
Cristo leva o mais bruto dos seres humanos a agir com nobreza, sabedoria e
amor. Somente a mensagem do Calvário pode trazer paz e harmonia à semente
adâmica.
Estudaremos, agora, o capítulo mais trágico da
História: a Queda do ser humano. No transcorrer de nossa exposição, mostraremos
que a narrativa do pecado de Adão e Eva, longe de ser uma parábola, foi um
evento real, cuja literalidade não pode ser questionada, pois se acha
referendada em toda a Bíblia.
Inicialmente,
examinaremos o livre-arbítrio e as suas implicações na experiência humana. Em
seguida, averiguaremos a Queda em si. E, depois, focaremos as consequências da
apostasia de Adão. Trata-se, pois, de uma temática imprescindível ao estudo da
doutrina do homem, conforme a encontramos na Bíblia Sagrada.
Que o Espírito Santo nos ilumine a compreender
essa tão importante doutrina.
I.
O Livre-Arbítrio do Ser Humano
Neste
tópico, definiremos o livre-arbítrio. Em seguida, veremos o seu relacionamento
com a soberania divina, e, finalmente, trataremos da responsabilidade humana
frente às ordenanças divinas.
1.
O livre-arbítrio é o dom que recebemos de Deus, por
meio do qual podemos, desimpedidamente, escolher entre o bem e o mal (Dt 28.1;
Js 24.15; 1 Rs 18.21; Hb 4.7). Sem o livre-arbítrio, não seríamos o que hoje
somos: seres autônomos, conscientes da própria existência e de nosso lugar no
Universo criado por Deus.
Em termos bíblicos e teológicos, o
livre-arbítrio não é algo exclusivo humano. Nós podemos defini-lo, outrossim,
como o instituto moral por excelência, que o Pai Celeste concedeu às suas
criaturas morais: anjos e homens. Nós e os seres celestes, tanto ontem quanto
hoje, jamais deixamos de fazer pleno uso de sua liberdade de escolha Logo,
quando o querubim ungido rebelou-se contra o Senhor, fê-lo de forma consciente;
ele sabia que pecado estava para cometer. Basta analisar-lhe o discurso
registrado no capítulo 14 de Isaías. Já entorpecido pelo orgulho e embriagado
pela soberba das soberbas, vociferou: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas de
Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas
extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante
ao Altíssimo” (Is 14.13,14, ARA). Suas palavras não são de um autômato, nem de
um ser predestinado a rebelar-se contra Deus, como se tal apostasia fosse
inevitável. Ele revoltou-se contra o Todo-Poderoso, porque fez mau uso de sua
liberdade, e não soube como lidar com o seu arbítrio, que, desde a sua criação,
jamais deixou de ser livre e desimpedido. Alegar, pois, que a queda do mais
elevado dos anjos era algo fatalista (e teologicamente necessário) leva-nos a
pecar contra a sabedoria e os desígnios divinos. O querubim pecou de forma
consciente e deliberada, porque Deus a ninguém tenta nem induz ser algum ao
pecado. Ele é santo; tudo o que faz é santo e conduz-nos a atos santos,
perfeitos e irrepreensíveis. O Senhor jamais predestinaria qualquer de seus
entes morais a errar, porque isso contrariaria frontalmente seus atributos
morais — amor, justiça e retidão. Como explica Tiago, em sua epístola, cada
qual é tentado de acordo com as suas inclinações (Tg 1.13-15).
Os anjos que não seguiram Lúcifer foram
galardoados com dois maravilhosos dons: a santidade e a eleição, pois, ainda
que tentados, optaram por continuar a obedecer a Deus. Eis porque são
conhecidos, nas páginas da Bíblia, como eleitos e santos (Jó 5.1; Mc 8.38; Ap
14.10; 1 Tm 5.21). Hoje, embora conservem o livre-arbítrio, a sua santidade e
eleição os levam a obedecer, amorosa e prontamente, ao Pai Celeste, conforme o
Senhor Jesus deixa-nos entrever em sua oração-modelo: “Venha o teu reino;
faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). Quando estivermos
na Jerusalém Celeste, ao lado do Senhor Jesus, não deixaremos de ser livres em
nosso arbítrio. Mas, ali, já revestidos de glória e majestade, o nosso
livre-arbítrio levar-nos-á, cada vez mais, a enaltecer, a exaltar e a amar o
Cordeiro de Deus.
2. A soberania divina é o direito absoluto,
irrestrito e inquestionável, que possui Deus sobre toda a sua criação (Êx 9.29;
Dt 10.14; Sl 135.6). Portanto, o Senhor age como bem lhe aprouver. Em suas
mãos, somos o barro; Ele, o soberano oleiro (Jr 18.6). Não nos cabe questionar
a soberania do Todo-Poderoso (Rm 9.20). Ele é Deus e Senhor! Enfim, Ele é o É —
o Deus Único e Verdadeiro.
Não
devemos, por outro lado, ver a soberania divina como algo despótico e tirânico,
porquanto todas as ações de Deus são fundamentadas em seu amor, justiça e
sabedoria. O que Ele faz, agora, só viremos a compreender mais à frente (Jo
13.7). Descansemos, pois, na vontade divina (Sl 37.5). Cabe-nos, aqui, formular
uma pergunta que, para muita gente, é perturbadora: “Se Deus é soberano, por
que não destruiu o querubim rebelde no ato de sua rebelião? Por que esperar
para lançá-lo no Lago de Fogo somente após o Milênio, depois de milhares de
anos de afrontas, mentiras e blasfêmias?”. A resposta a essa indagação exige
sabedoria e prudência, a m de não cairmos em algumas ciladas teológicas.
Antes de tudo, tenhamos em mente que um dos
atributos morais de Deus é a justiça. E, na condição de Juiz de toda a Terra,
tem Ele alguns processos a dar andamento até a instalação do Juízo Final. Não
estou a defender, aqui, querido leitor, a chamada Teologia do Processo,
porquanto o nosso Deus quer em sua transcendência, quer em sua imanência,
acha-se no controle absoluto de todas as coisas. Nada o surpreende: nem o
espaço, nem o presente, nem o porvir. Por essa razão, não posso endossar o
ensino de Alfred North Whitehead (1861-1947) a respeito da Teologia do
Processo. Aliás, o Deus que Whitehead apresenta não é o mesmo da Bíblia. Mais
cientista do que filósofo, o brilhante matemático britânico, pelo que a sua
biografia deixa transparecer, jamais teve um encontro pessoal e experimental
com o Senhor. Sendo Deus, também, um ser judiciário, submete as suas criaturas
morais — anjos e homens — a um criterioso processo, para que toda a sua justiça
seja observada e cumprida. Eis porque, nalgumas ocasiões, o seu juízo é
sumário, como no caso de Ananias e Sara (At 5.1-9), e, noutras, aguarda vários
séculos para castigar povos e nações, como se deu com as etnias cananeias. No
que concerne aos amorreus, o Senhor aguardaria mais de 400 anos, antes de
expulsá-los de diante dos lhos de Israel (Gn 15.16). Ora, toda essa espera reflete
a misericórdia e o amor divinos, porque Deus não deseja a perdição de ninguém,
mas que todos se convertam.
Não estou dizendo, com isso, que o Todo-Poderoso
não destruiu aquele exaltado querubim, porque esperava a sua conversão. No caso
específico desse anjo, não temos um simples pecado, nem uma mera apostasia, mas
uma ofensa irredimível contra a Santíssima Trindade. Sendo aquele poderoso ser
a sua própria tentação, e atuando como o seu próprio tentador, profanou a unção
que havia sobre si, provinda do Espírito Santo, e tentou destruir o Pai e o
Filho, pois não admitia a manifestação do Reino dos Céus, na Terra, por
intermédio do Cordeiro que, a essas alturas, já estava morto na presciência do
amoroso Deus. Insistamos, um pouco mais, nessa questão: “Se o querubim ungido,
agora Diabo e Satanás, não tinha perdão nem remissão, por que Deus não o
destruiu de vez?”. Mas, se por acaso, querido leitor, o soberano e justo Senhor
o tivesse destruído, Adão e Eva estariam para sempre livres da tentação e de um
tentador?”.
Não, por uma razão bastantes simples: na
qualidade de seres morais e dotados de livre-arbítrio, poderiam eles, também,
rebelar-se contra o Criador, fazendo-se tão “diabos” quanto o próprio Diabo.
Não podemos esquecer-nos do exemplo emblemático de Judas Iscariotes. Mesmo não
estando Satanás, ainda, em seu coração, zera-se ele lho da perdição e Diabo (Jo
6.7; 17.12). Satanás só viria apossar-se do coração daquele apóstolo, agora
apóstata, durante a instituição da Santa Ceia, conforme escreve o evangelista
João: “E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás” (Jo 13.27, ARA).
Quanto ao arqui-inimigo de Deus, só virá a ser
lançado no Lago de Fogo na consumação dos séculos. Que ele já está julgado e
condenado, o próprio Senhor o revelou ao discorrer sobre a vinda do Divino
Consolador: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do
juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e
não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado”
(Jo 16.8-11). Terminado o Milênio, antes mesmo da instauração do Juízo Final,
Satanás será lançado no Lago de Fogo, onde já estarão a Besta e o Falso
Profeta, conforme relata o Evangelista (Ap 20.7-10, ARA). Logo, os adeptos do
Universalismo laboram em grave erro bíblico e teológico ao imaginar que, na
consumação de todas as coisas, o próprio Diabo, arrependido e já purificado,
será restaurado por Deus. Que ninguém se engane. A cada dia que passa, o
Maligno torna-se mais virulento e destrutivo, por que sabe que lhe resta pouco
tempo (Ap 12.12).
O correto entendimento da soberania de Deus,
querido leitor, é indispensável para termos uma vida cristã abundante e
produtiva. Que essa doutrina jamais seja negligenciada em nossas orações. Se
nos sentirmos perseguidos e injustiçados, é compreensível que roguemos ao Pai
Celeste por justiça e refrigério. No entanto, não devemos rogar-lhe que nos
vingue daqueles que nos buscam o mal, porque Ele não é o nosso executor. Por
isso, diligenciemo-nos por oferecer-lhe um culto vivo, racional e verdadeiro;
intercedamos, junto ao seu trono, em favor de nossos algozes e detratores. E,
assim, transformaremos, por intermédio de nossas petições, os maus em bons e o
mal em bem. Se Deus precisa, de fato, castigar alguém que, sem motivo algum,
fez-se nosso carrasco, Ele só o fará quando o nosso coração estiver preparado
para ajudar essa pessoa, quando ela estiver sob a disciplina divina.
Às vezes, não entendemos por que Deus não
revela, de imediato, o mal feitos dos que procuram destruir-lhe a Igreja.
Sabemos que aqui e ali e, mais além, há pecados escondidos e iniquidades
acobertadas; mas, aparentemente, nada é revelado e ninguém é julgado. Nessas
horas, chegamos a pensar que Deus está dormindo. Todavia, o nosso Deus, como o
ser judicial por excelência, está apenas dando andamento a alguns processos, a
m de que todas as coisas sejam esclarecidas. Aliás, alguns pecados, de tão
feios e medonhos, somente virão à tona no Juízo Final, conforme escreve Paulo a
Timóteo: “Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo
que os de outros só mais tarde se manifestam. Da mesma sorte também as boas
obras, antecipadamente, se evidenciam e, quando assim não seja, não podem
ocultar-se” (1 Tm 5.24,25, ARA). Por esse motivo, sejamos pacientes, e não
deixemos de orar; no momento certo, o soberano e justo Juiz há de manifestar-se
para retribuir a cada um segundo as nossas obras.
3.
A responsabilidade humana. Entre o
livre-arbítrio e a soberania divina encontra-se a nossa responsabilidade (Jr
35.13). Não resta dúvida de que Deus faculta-nos o direito de obedecer-lhe ou
não aos mandamentos (Dt 11.13). Todavia, Ele nos chamará, um dia, a prestar
contas quanto às nossas escolhas (Ec 11.9; 12.14). O Juízo Final não é cção; é
a realidade que aguarda a espécie humana na consumação de todas as coisas (Ap
20.11-15).
Tendo em vista a nossa responsabilidade perante
Deus, não podemos descartar a compatibilidade entre o livre-arbítrio e a
soberania divina; reside, aqui, uma perfeita dicotomia. Um instituto não
elimina o outro. Os que acreditam na dupla predestinação veem-se numa
encruzilhada teológica desnecessária, pois a soteriologia bíblica é clara em
todos os seus aspectos. Então, raciocinemos em cima dos postulados de Agostinho
e Calvino. Se fui predestinado à vida eterna, por que devo preocupar-me com a
minha responsabilidade diante de Deus? Pecando ou não, já estou salvo; acho-me
livre das penalidades eternas. Quanto aos predestinados ao Lago de Fogo, por
que se afligiriam com tal coisa? Já não foram selecionados à eterna perdição,
então que vivam hedonicamente. Não foi sem razão que esse capítulo do
calvinismo foi denominado de “decreto horrível”. Prefiro a simplicidade do
Plano da Salvação, tal qual o encontro nas Sagradas Escrituras, às
soteriologias forjadas sem o aval dos santos profetas e dos apóstolos de Nosso
Senhor.
Deus jamais predestinou qualquer ser humano ao
Lago de Fogo. Sendo Ele amor, predestinou todas as suas criaturas morais à
salvação, pois não deseja a perdição de ninguém (Jo 3.16). A verdadeira
predestinação bíblica, pois, é uma, e não dupla. Quando Deus predestina alguém,
predestina-o à vida eterna, e não à eterna penitência, pois Ele não quer que ninguém
se perca (2 Pe 2.9). Aliás, em Jesus Cristo, seu Filho, predestinou toda a
humanidade à salvação; muitos, infelizmente, rejeitaram-na, predestinando-se a
si próprios à condenação eterna (Mc 16.16). Estes não escaparão ao Juízo Final.
Nossa predestinação e eleição vieram como resultado do amor presciente do Pai
Celeste (Rm 8.29,30; 1 Pe 1.2).
II.
A Queda, um Evento Histórico e Literal
A apostasia de Adão e Eva deu-se em consequência
do conflito entre o livre-arbítrio humano e a soberania divina. Nesse episódio,
registrado em Gênesis, capítulo três, ressaltam-se a possibilidade da Queda, a
realidade da tentação e a historicidade da apostasia de nossos primeiros
genitores. Deixamos claro que, embora possa haver confrontos entre o
livre-arbítrio humano e a soberania divina, não há incompatibilidade entre
ambos. Quando vivemos uma vida direcionada pelo Espírito Santo, nosso arbítrio,
apesar de livre e desimpedido, só tem uma tendência: servir, louvar e enaltecer
a Deus.
1.
A possibilidade da Queda. Em sua
inquestionável soberania, Deus criou Adão e Eva livres, facultando-lhes o
direito de obedecer-lhe ou não. Todavia, a ordem do Senhor, concernente à
árvore da ciência do bem e do mal, era bastante clara (Gn 2.16,17). Se eles
optassem por ignorá-la, teriam de arcar com as consequências de seu ato: a
morte espiritual seguida da morte física.
Não sabemos por quanto tempo, nossos
protogenitores residiram no Jardim do Éden. A esse respeito, a Bíblia cala-se
mui sabiamente. Mas acredito que foi o suciente para Adão e Eva conhecerem a
Deus e, com Ele, manterem profunda e doce comunhão.
Na viração do dia, o Senhor se lhes aparecia,
para conversar e ensinar a cuidar do planeta recém-inaugurado, pois, naqueles
idos, tudo era novo: a Terra, as plantas, os animais e o próprio ser humano. E,
por ser tudo novo, tudo requeria cuidado e desvelo. Sim, querido leitor, tudo
requeria desvelo e cuidado, inclusive o coração de Adão e Eva. Por
desconhecerem ainda os efeitos nefastos do pecado, a possibilidade de eles
pecarem era ainda maior, pois a tentação era-lhes uma ameaça sempre presente,
ainda que não a pressentissem.
2. A realidade da tentação.
Ao ser tentada pela serpente, Eva deixou-se enganar pela velha e bem
arquitetada mentira de Satanás — a possibilidade de o homem vir a ser um deus
(Gn 3.1-6; 2 Co 11.3). No instante seguinte, a mulher, já instrumentalizada
pelo Diabo, levou o esposo a pecar, e este voluntariamente pecou (1 Tm 2.14).
Tendo em vista a representatividade de Adão, foi ele responsabilizado pela entrada
do pecado no mundo (Rm 5.12).
Será que,
àquelas alturas, Adão e Eva já tinham algum conhecimento acerca do que ocorrera
nos Céus — a rebelião do querubim ungido e a sua consequente expulsão das
moradas divinas? Sabiam eles, por acaso, que o mais celebrado dos anjos
tornara-se um adversário formidável e perigoso, pronto a arruinar toda a
criação divina?
Não sabemos até que ponto ia o seu conhecimento
angelológico. Todavia, eu não preciso ser especialista em satanologia, afim de
precaver-me quanto às astutas ciladas do Inimigo; basta-me esta advertência de
Pedro (1 Pe 5.8,9).
Estejamos, pois, alertas quanto às artimanhas de
Satanás. Por meio de sua dialética, quer política, quer teológica, vem ele
destruindo lares, nações e igrejas. O Inimigo, seja opondo-se sistematicamente
aos santos, seja lançando calúnias muito bem urdidas entre os redimidos, é
astutíssimo em suas ciladas (Ef 6.11).
Tendo em vista o pecado que tão de perto nos
assedia, oremos e vigiemos, para não nos enredarmos nas teias de Satanás. Sim,
querido leitor, há a possibilidade de virmos a cair, conforme o apóstolo Paulo
alertou os irmãos de Corinto: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a
Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte
da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Co 11.3, ARA).
Se, por um lado, há a possibilidade de o crente
vir a fracassar na vida cristã, por outro, há uma possibilidade, ainda maior,
de nos preservarmos, na força do Espírito Santo, até o dia de nossa redenção. Consolemo-nos,
pois, nas palavras de Judas 24.
3.
A historicidade da Queda. A narrativa da
Queda do ser humano tem de ser acolhida de forma literal, pois o livro de
Gênesis não é uma coleção de parábolas mitológicas, mas um relato histórico cofinável
(2 Co 11.3; Rm 15.4). Aliás, se não aceitarmos a literalidade dos primeiros 11
capítulos de Gênesis, não teremos condições de entender o restante da História
Sagrada. Tratemos, com temor e tremor, a Bíblia Sagrada — a inspirada, a
inerrante, a infalível e a completa Palavra de Deus. A hermenêutica
pós-moderna, manejando ferramentas e armas forjadas no Inferno, ataca impiedosa
e malignamente os 11 primeiros capítulos de Gênesis, como se tais passagens
fossem meras parábolas morais. E, dessa forma, em repetidos e monótonos golpes,
intenta destruir as bases, as colunas e o majestoso edifício da soteriologia
bíblica. O que esses pretensos exegetas e hermeneutas não sabem é que a
Doutrina da Salvação, qual penha de comprovada solidez, jamais será desgastada
por seus martelos. Antes, como já tem ocorrido tantas vezes, são estes a se
agastarem, e não aquela, porquanto o Calvário, apesar desses dois milênios já
decorridos, continua tão firme hoje quanto na tarde em que o Filho de Deus,
entregando o Espírito ao Pai, exclamou: “Está consumado”.
Querido irmão, ao ler o Gênesis, o aceite, desde
o primeiro até ao último versículo, exatamente como este livro é: uma narrativa
histórica, verídica, el e literal. Caso contrário, todas as nossas doutrinas
serão desacreditadas, porquanto todas elas, sem qualquer exceção, têm a sua
origem justamente nos primeiros 11 capítulos dessa maravilhosa obra divina.
Direta ou indiretamente, todas as verdades concernentes à nossa salvação estão
ali: da criação do mundo à dispersão de Babel.
III. As
Consequências da Queda de Adão
Devido à sua rebelião contra o Senhor, a raça
humana teve de arcar com pesados encargos: a consciência do pecado, a perda da
comunhão com Deus, a transmissão do pecado às gerações subsequentes, a
enfermidade da terra e, finalmente, a morte física.
1.
A consciência do pecado. Ao tentar a
mulher, a antiga serpente prometeu-lhe a onisciência divina, mas o que os
nossos pais herdaram foi uma consciência pecaminosa geradora de obras mortas
(Gn 3.1-6; Tt 1.15; Hb 9.14). O pecado leva-nos a perder o brilho do rosto e o
vigor físico (Sl 31.10; 32.3). Eis porque o homem precisa nascer da água e do
Espírito (Jo 3.5). A nossa consciência enfermou-se de tal forma, que somente a
ação do Espírito Santo para restaurá-la plenamente. Para que isso ocorra,
mantenhamos a constância de nossos exercícios espirituais: leitura da Bíblia
Sagrada, oração, jejuns, frequência à igreja, serviço cristão e um testemunho
bom e eficaz. Todos, evangélicos ou não, têm de ver, em nós, o rosto de Nosso Senhor.
Recomenda-nos Paulo a manter os mistérios da fé numa consciência limpa (1 Tm
3.9).
2.
A perda da comunhão com Deus. Em consequência de
seu pecado, Adão e Eva foram expulsos da presença de Deus (Gn 3.23,24).
Doravante, não poderiam mais viver no Jardim do Éden, onde, diariamente,
conversavam com o Senhor (Gn 3.8). Mas, apesar de haverem ofendido a Deus,
continuaram a ser alvo de seu imenso, eterno e infinito amor (Jo 3.16). Desde a
Queda, o ser humano, para reatar a comunhão com Deus, tem de aproximar-se dEle
pela fé (Hb 11.6). Nesse retorno, não estamos sós. Jesus Cristo é o nosso
medianeiro eficaz (Rm 5.1). Ele é o Verdadeiro Deus e o Verdadeiro Homem (1 Tm
2.5).
3.
A transmissão do pecado à espécie humana. Sendo
Adão o pai de toda a raça humana, o seu pecado acabou por alcançar a todos os
homens (Rm 3.23; 5.12). Aquilo que chamamos de “pecado original” contaminou
universalmente a humanidade. Até mesmo o recém-nascido já traz consigo essa
semente (Sl 51.5). Embora a criança, na fase da inocência, não tenha a
experiência do pecado, a iniquidade adâmica achas-e impregnada, em seu
interior, prestes a ser despertada. Somente em Cristo podemos vencer tanto o
pecado original como o experimental (1 Jo 1.7). Muitas crianças são recolhidas
por Deus, na fase da inocência, e levadas pelo Pai Celeste para o céu. Haja
vista o lho de Jeroboão, rei de Israel (1 Rs 14.12,13).
Entre os que morreram sem a experiência do
pecado acham-se os inocentes assassinados por Herodes (Mt 2.16). Os inocentes
não perdem a alma. Só é condenado o que, já na fase da consciência, experimenta
o pecado .
4.
A enfermidade da Terra. Por causa do pecado de Adão,
até a própria Terra adoeceu. Expulso do Éden, Adão teria de trabalhar, com
redobrado esforço, a m de prover o seu sustento cotidiano (Gn 3.17). Desde
então o nosso planeta vem sofrendo com fomes, terremotos e inundações (Mt
24.7). E os conflitos que nos vêm assolando desde o Éden? Em sua epístola aos
Romanos, o apóstolo Paulo descreve a Terra como que gemendo por causa das expectativas
quanto às últimas coisas (Rm 8.22). Mas, quando o Reino de Deus manifestar-se,
logo após a Grande Tribulação, o planeta será curado de todas as suas
enfermidades (Is 35).
5.
A morte física. O homem não foi criado para
experimentar a morte física. Nesse sentido, podemos dizer que fomos criados
imortalizáveis; com a possibilidade de viver indefinidamente (Gn 2.17). Não
somente a eternidade, mas de igual modo a imortalidade, achavam-se no ser
humano (Ec 3.11). Se Adão e Eva não tivessem pecado, estariam eles conosco até
hoje. A morte é a mais triste consequência do pecado (Rm 6.23). Todavia, a pior
morte que alguém pode experimentar é a separação eterna de Deus; a segunda
morte (Ap 2.11; 20.6). Quanto a nós, os que já recebemos Jesus Cristo como o nosso
Senhor e Salvador, a morte não terá efeito sobre nós, porque Ele é a
ressurreição e a vida (Jo 11.25).
Conclusão
Dois fatos marcam indelevelmente a doutrina do
homem nas Sagradas Escrituras: a criação e a Queda. À primeira vista, o pecado
de Adão frustrou irremediavelmente os planos divinos quanto à formação dos Céus
e da Terra. No entanto, Deus jamais foi surpreendido por qualquer fato. Ele não
é um ser reativo, nem vive de improvisos. Nenhum processo, quer nos Céus, quer
na Terra, jamais o surpreendeu, porquanto Ele é o Ser Supremo e Perfeito por
excelência. Ele é o que É: o Deus bendito eternamente.
A fim de sanear o pecado do homem, Deus, em sua
presciência, já havia separado o Imaculado Cordeiro, desde a fundação do mundo,
para redimir-nos de todos os pecados (Ap 13.8). Querido amigo, não que
prostrado. Aceite Jesus agora mesmo. Somente Ele é a solução à Queda da
humanidade.
A Raça Humana:
Claudionor de Andrade
O QUE É PECADO
A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras
usadas na Bíblia, as quais indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado.
São vários os termos que amplificam o conceito de pecado nas suas várias
manifestações. No Antigo Testamento. Encontramos no Antigo Testamento pelo
menos oito palavras básicas que conceituam o pecado; no Novo Testamento, temos,
pelo menos, doze outras que descrevem as várias formas de manifestações
negativas relacionadas com o termo “pecado”. N o étimo das palavras mencionadas
no Antigo Testamento descobrimos a abrangência do pecado em suas manifestações.
1)
Hatta’t. Este vocábulo, que aparece 522 vezes nas páginas veterotestamentárias,
e seu termo correlato no Novo Testamento — hamartia — sugerem a idéia de “errar
o alvo” ou “desviar-se do rum o”, como o arqueiro antigo que atirava as suas
flechas e errava o alvo. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo
propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente. N ão se
trata de uma idéia passiva de erro, mas implica uma ação proposital. Significa
que cada ser humano tem da parte de Deus um alvo definido diante de si para
alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de pecar como o ato
resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou,
foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21; SI I.I; 51.4; 103.10;
Is 1. 18; Dn 9.16; Os 12.8).
2) Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é
“transgredir”, “rebelar”, “revoltar-se”. Porém, uma variante forte para
defini-la implica o ato de invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta
para alguém que foi além dos limites estabelecidos (Gn 31. 36; I Rs 12.19; 2 Rs
3.5; SI 51.13; 89.32; Is 1.2; Am 4.4).
3) Raa. Outra palavra hebraica que tem seu
equivalente no grego — como kakos ou poneros — e traz a idéia básica de romper,
quebrar; “aquilo que causa dano, dor ou tristeza”. E um tipo de pecado
deliberado, malicioso, planejado, que provoca e enfurece. Dá a idéia de “ser
mau” (Gn 8.21; Ex 33.4; Jr I I . I I ; M q 2.1-3). Indica também algo injurioso
e moralmente errado. São os pecados expressos por violência (Gn 3.5; 38.7; Jz
11.27). O profeta Isaías profetizou que Deus criou a luz e as trevas, a paz e o
raa (Is 4.57). É o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição,
infortúnio. Deus não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a
responsabilidade pelos pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a
criatura rebelde, transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.
4) Rama
quer dizer “enganar”; dá a idéia de prender numa armadilha, num laço. Implica,
portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem cair. É uma forma de
enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13; 55.11; Jó 13.7; Is 53.9).
5) Pata. E um termo que dá a idéia de seduzir. O
sentido literal da palavra é “ser aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter
livre curso. N o Éden, Adão e Eva se deixaram seduzir pelo engano do pecado e
pelo pai do pecado (Satanás), personificado numa serpente (Gn 3.4-7).
6) Sbagag. O sentido aqui é “errar” ou
“extraviar-se”, como uma ovelha ou um bêbado (Is 28.7). E um tipo de erro pelo
qual o transgressor torna-se responsável, ante a lei divina que condena o seu
erro — pecado (Lv 4.2; N m 15.22).
7) Rasba. Esta palavra aparece especialmente nos
Salmos, com a idéia de impiedade ou perversidade. O sentido metafórico é o
pecado em oposição à justiça (Êx 2.13; SI 9; SI 16; Pv 15.9; Ez 18.23).
8) Ta a.
Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não se trata de algo
acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto negativo
gerado pelos seus atos pecaminosos (N m 15.22; SI 58.3; 119.21; Is 53.6; Ez
44.10,15). Existem outras variantes do termo que ensinam sobre o pecado no
Antigo Testamento, mas nos detivemos apenas em oito deles que ilustram a
diversidade e a perversidade do pecado em suas várias manifestações.
No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado”
também tem vários sentidos, e alguns são correlatos com os termos hebraicos.
Todos esses vocábulos do grego bíblico descrevem o pecado em seus vários
aspectos. Apresentaremos uma lista menos extensa, mas igualmente proveitosa
para definir o incisivas das palavras mais incisivas e usadas com mais
freqüência no Novo Testamento acerca do pecado.
1) Hamartia. Já citada em correlação com katta’a
(hb.), seu sentido é “errar o alvo”, “perder o rum o”, “fracassar”. Indica que
o primeiro homem, no princípio, perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não
atingir o padrão divino estabelecido para a sua vida. N o Novo Testamento, os
escritores usaram o termo hamartia para designar o pecado. Ainda que o sentido
equivalente no Antigo Testamento seja o de “errar o alvo”, nas páginas
neotestamentárias a palavra em apreço tem uma abrangência bem maior — possui um
sentido mais forte que a idéia de fracasso ou transgressão. Ela tem o sentido
de “poder de engano do pecado” (Rm 5.12; H b 3.13); é mais que um fracasso.
Trata-se de uma condição responsável ou uma característica que implica
culpabilidade.
2) Kakía. N o grego, relaciona-se com
perversidade ou depravação, como algo oposto à virtude. E um termo que descreve
o caráter e a disposição interiores, e não apenas os atos exteriores. Dele
deriva-se outra palavra, kakos, cujo sentido transcende a mal-estar físico ou
doenças (M c 1.32; M t 21.41; 24.48; At 9.13; Rm 12.17; 13,3,4,10; 16.19; I Tm
6.10).
3) Adikía. Denota injustiça, falta de
integridade; como alguém que abandona o caminho original. Em sentido amplo,
esse termo refere-se a qualquer conduta errada e significa, ainda, “agravo”,
“ofensa feita a alguém” (2 Co 12.13; H b 8.12; R m 1.18; 9.14). O texto de Rom
anos I .I 8 descreve a injustiça como inimizade para com a verdade. Em I João
5.17, o apóstolo João afirma que toda iniqüidade (gr. adikia) é pecado (gr.
hamartia').
4) Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais
palavras são traduzidas freqüentemente como “iniqüidade” ou “transgressão”. Porém,
o sentido literal de literal de anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de
Deus pratica a iniqüidade (M t 13.41; 24.12; I Tm 1.9). O Anticristo é anomos—
“o míquo” (2T s 2.8). 5) Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e
significa “infidelidade”, “falta de fé” ou algum tipo de resistência ou
vergonha (H b 3.12; I Tm I.I3 ). Em I Timóteo I.1 3 está escrito: “... alcancei
misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade [gr. apistia]”.
6) Aseheia. Usado por Paulo nas epístolas com o
sentido de impiedade (Rm 1. 18; 11.26; 2 Tm 2.16; T t 2.12; Jd vv.I5,I8).
Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base da aseheia.
7) Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade
ou mesmo sensualidade. Em Judas v.4 encontramos dois termos que explicam essas
palavras: “... homens ímpios [aseheis] que convertem em dissolução [aselgeian,
libertinagem ’] a graça de Deus”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem
restrições à prática do pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito
que domina uma pessoa e a torna impudica de tal modo que perde totalmente o
senso de vergonha e, por isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu
pecado.
O termo em análise significa, por conseguinte,
“a pura e auto-satisfação sem o menor pudor”, haja vista o desejo pelos
prazeres tornar a sua vítima despudorada, sem restrições. As chamadas taras
sexuais, a embriaguez e outras manifestações são típicas de aselgeia. Sem
dúvidas, trata-se de uma das palavras mais repulsivas do Novo Testamento (M t
7.22; 2 Co 12.21; G1 5.19; E f 4.19; I Pe 4.3; Jd v.4; Rm 13.13; 2 Pe
2.2,7,18). A versão ARC traduz o termo por “libertinagem”, enquanto a ARA
prefere “dissolução”.
8) Epithymia. Significa “desejo”. Porém, é o
contexto da palavra encontrada no Novo Testamento que pode indicar o caráter
moral do desejo, se é bom ou mau. Coisas, como: motivo, intenção, direção e
relação, revelarão o caráter moral de epithymia (Mc 4.19; Lc 22.15; Fp 1.23; I
Ts 2.17). De modo geral, o vocábulo quase sempre se identifica com algo negativo
e pecaminoso. Daí o significado poderá indicar “desejo incontinente”,
normalmente traduzido como “concupiscência”, “paixão impura” (G1 5.24; Cl 3.5;
I Ts 4.5;Tg 1.14; 2 Pe 2.10).
9)
Parahasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O significado
primário do termo é “transgressão”, que dá a idéia de alguém que não respeita
as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se esse vocábulo com o
sentido de “desvio”, “violação” e “transgressão”. N o texto de Romanos 5.14,
Paulo faz uma relação entre hamartia e parahasis, ao afirmar: “N o entanto, a
morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à
semelhança da transgressão de Adão” (grifos do autor).
O apóstolo Paulo não está dizendo que os que
pecaram desde Adão até Moisés estão livres de culpa, e sim que aquelas
gerações, não tendo a lei de Moisés, seu pecado era tão real quanto ao dos que
tinham a lei. Em I Tim óteo 2.14 está escrito que Eva caiu em transgressão
(parahasis), ao ser enganada, porque ela foi rebelde contra a ordem divina. N
ão se tratava de reduzir a culpa de Eva, e sim reconhecer que ela podia ter
evitado o pecado de desobediência.
10) Paraptoma. Deriva de parapipto e significa
“decair ao lado de”, “perder o caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa
“lapso moral” ou “uma ofensa pela qual a pessoa é responsável”.1 Vários textos
exemplificam o termo paraptoma (M t 6.14; Rm 5.15-20; 2 Co 5.19; G1 6.19; E f
2.1; Tg 5.16).
11) Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado
porque se refere àquele que se desgarra culposamente. A palavra “desgarrar”
relaciona-se com a ovelha que foge do aprisco (I Pe 2.25); também significa
levar, por meio do engano, outras pessoas ao mau caminho (M t 24.5,6; I Jo
1.8).
Todas essas palavras, segundo o seu étimo, descrevem
o caráter geral do pecado. Porém, definiremos o pecado, também, em outras
perspectivas, para que entendamos toda a sua abrangência na vida humana.
Teorias filosóficas
Ao longo da História, a preocupação com a
existência do mal tem provocado muitas perguntas e respostas. O problema da
presença do pecado no Universo é discutido por filósofos, sociólogos,
psicólogos e teólogos. Especialmente, no campo da filosofia, há muitas teorias
que tentam em vão analisar e definir o que é pecado.
Conceitos antiteístas e anticristãos. H á
opiniões extremamente especulativas e arbitrárias sobre esse assunto. Por isso,
ao trazê-las à tona neste estudo, queremos destacar dois elementos auxiliares
para o estudo do pecado. O primeiro trata da natureza metafísica do pecado, e o
segundo, de sua natureza moral. Surgem, então, as questões: O que é aquilo que
denominamos pecado? Seria uma substância, um princípio ou um ato? Significaria
privação, negação ou defeito? Seria alguma coisa relacionada com sentimento?
Essas perguntas se relacionam com a natureza
metafísica do pecado. Mas, e as questões sobre a natureza moral do pecado? Como
o pecado se relaciona com a lei de Deus? Que relação tem o pecado com a
santidade e com a justiça? Algumas teorias sobre a natureza do pecado são
apresentadas ao longo da História, no estudo progressivo das doutrinas cristãs.
Algumas dessas teorias são incoerentes com a realidade bíblica do pecado e, por
isso, heréticas; mas outras merecem a nossa apreciação.
1 1 )
A primeira teoria filosófica e
antibíblica que mencionaremos é a que ensina a existência de um eterno
princípio do mal. Ela se difundiu e foi introduzida na igreja nos primeiros
séculos da Era Cristã. Para alguns, esse princípio original do mal se
identificava como um ser pessoal.
Trata-se do gnosticismo. Para outros, seguidores
do gnosticismo, dos marcionistas e dos maniqueus, tal princípio era uma
substância, uma matéria eterna. Esses dois princípios não encontram respaldo na
Palavra de Deus e, por essa razão, são nulos. Tal teoria vê o pecado como um
mal físico que contamina o espírito humano. Por isso, esse mal deve ser vencido
por meios físicos.
Trata-se de uma teoria que insinua que o pecado
é eterno e independente do Deus Eterno. Sugere que Deus é limitado por um poder
co-eterno, que Ele não pode controlar. O u seja, o mal tem o seu próprio poder,
assim como Deus possui o seu. A idéia sugerida por essa teoria, de que o mal é
um poder independente e sem controle, destrói, por assim dizer, a natureza do
pecado como um mal moral, haja vista fazer dele uma substância inseparável da
natureza humana. Dessa forma, não admite que o homem possa se livrar do pecado.
Essa teoria compromete, ainda, a responsabilidade humana, uma vez que atribui a
sua origem a um mal eterno. Claramente, a Bíblia refuta terminantemente essa
teoria, pois o pecado não é eterno; e, quando o homem pecou, fez isso por
escolha intencional e voluntária.
2 2 )
Outra teoria filosófico-antibíblica
é a que apresenta o pecado como um mal necessário. Ela se baseia na lei de que
toda a vida implica ação e reação. Argumenta-se que, no Universo material,
prevalece a mesma lei pela qual os corpos celestes são conservados em suas
órbitas pelo equilíbrio de forças centrífugas e centrípetas. Ensina, ainda, que
todas as mudanças químicas são produzidas por atração e repulsão, e que a mesma
lei deve prevalecer no mundo moral; e que não pode haver bem sem mal.
Essa teoria ensina, portanto, que, em relação ao
homem, a sua vida é equilibrada por forças contrárias e se desenvolve através
do antagonismo; ou seja, por princípios opostos, de modo que um mundo moral sem
pecado é impossível. A essência dessa teoria é a de que o pecado é a condição
necessária para a existência do bem. Defende-se por esse conceito a idéia de
que “o pecado é um resultado necessário, e decorrente, da limitação do ser
finito do homem”2, “um incidente do desenvolvimento imperfeito, fruto da
ignorância e falta de poder; portanto, o pecado não é um mal absoluto, mas
relativo”.3 Não obstante, a Palavra de Deus ensina, refutando essa teoria, que
se o bem não pode existir sem o mal, o mal deixa de ser algo condenável e
repulsivo diante de Deus, e a criatura humana deixa de ser responsável pelo
pecado entranhado em sua natureza. Entende-se, então, por essa teoria, que a natureza
humana seria um engano, e tudo quanto a Bíblia ensina contra o pecado, uma
utopia.
3 3 )
A terceira teoria falsa ensina que a
fonte e a sede do pecado estão na natureza sensorial do homem. Essa teoria
separa e distingue o corpo do espírito humano. Por ela entende-se que essa
distinção especifica o pecado como algo sensorial. Ensina que, mediante o
corpo, o homem está ligado ao mundo físico ou à natureza externa; e, por meio
da alma, ao mundo espiritual e a Deus.
Essa teoria declara que o homem é governado
universalmente, sempre em grau pecaminoso, por sua natureza sensorial. Em
síntese, o negativo prevalece sobre o positivo, por isso, o homem é vencido
pelo pecado. Biblicamente, essa teoria é falsa e equivocada, porque o pecado
não é um ato ou estado sensorial no homem. Essa teoria neutraliza a consciência
de pecado e de culpa, porque faz do pecado um mera debilidade.
A doutrina bíblica ensina que a pecaminosidade
do homem se identifica, metaforicamente, como “carne”, que refere-se à sua
natureza corrompida e pecaminosa, adquirida na Queda. A Bíblia desmente a
teoria que faz do corpo ou da natureza sensorial do homem a fonte do pecado.
Rejeita a idéia de que os pecados mais degradantes cometidos pelo homem nada
tenham a ver com o corpo. Pelo contrário, a Bíblia diz que seremos julgados por
aquilo que tivermos feito por meio do corpo, bem ou mal (2 Co 5.10).
4 4 )
Outra teoria filosófica ao tratar do
caráter do pecado declara que a essência do pecado é o egoísmo. A Bíblia
declara que o homem foi criado com perfeição e, portanto, seu ego correspondia
ao ideal divino do “livre-arbítrio”. Ora, pertencente a natureza original do
homem, o egoísmo não pode ser confundido com seu instinto de auto-preservação e
de buscar as coisas que lhe dão prazer e satisfação.
Naturalmente, isto não se constitui um estado
pecaminoso. Buscar com retidão a felicidade e o prazer na vida não significa,
essencialmente, angariá-los em detrimento dos demais seres. O que torna essa
busca um modo egoístico negativo de se obter felicidade é a força do pecado
entranhada na natureza pecaminosa embutida no homem (Rm 5.12).
O egoísmo integra o estado decaído do homem.
Alguns teólogos declaram que “o pecado de Adão teve origem no egoísmo, porque
ele quis ser igual a Deus”.4 Langston entende que o egoísmo é o coração do
pecado e é a origem do pecado. O pecado veio de fora e a Bíblia o declara como
transgressão da lei de Deus (I Jo 3.4). Antes da manifestação do pecado na vida
do homem havia uma “lei escrita no seu coração” (Rm 2.15).
Cristologia- Antonio Gilberto
7. IMPUTAÇÃO DO PECADO DE ADÃO À POSTERIDADE
7.1.-4 Bíblia ensina que, ao cair Adão, caiu com
ele a raça inteira Temos em Romanos
5:12 as seguintes
palavras, que confirmam
este asserto: «Pelo
que, como por um
homem entrou o
pecado no mundo,
e pelo pecado
a morte, assim
também a morte
passou a todos
os homens, por isso que todos pecaram.* 0 que queremos investigar é a
maneira por que os pecados de Adão passaram à sua posteridade. Isto é, temos
que estudar a conexão entre o pecado de Adão e o pecado da raça.
Esta
é uma das
mais importantes questões
para a teologia;
o evangelho tem
perdido muito devido
ao fato de nem todos reconhecerem a íntima relação entre o pecado de
Adão e a raça. 0 que desejamos fazer aqui é simplesmente notar o que diz a
Bíblia sobre a relação do pecado de Adão com a sua posteridade. Ensina-nos a
Bíblia que a transgressão de Adão constituiu a todos os seus descendentes em
pecadores, ou, ainda melhor, «pecadeiros». Em Romanos 5:19 temos a seguinte
expressão, muito apropriada ao nosso assunto:
«Porque, como, pela
desobediência de um
só homem, muitos
foram feitos pecadores,
assim pela obediência de um
muitos serão feitos justos.» No versículo 15 do mesmo capítulo lemos: «Mas não
é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um, morreram
muitos, muito mais, etc.» Na Carta aos Efésios 2:3 diz o apóstolo Paulo: «Entre
os quais todos nós também dantes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo
a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como
os outros também.» Depreende-se claramente das passagens citadas que há
perfeita conexão entre o pecado de Adão
e o da
sua posteridade. Deus
criou somente uma
raça humana e
Adão era o
primeiro homem, e constituía, portanto, a raça naquela
ocasião. Por isso, quando ele pecou e caiu, a raça caiu também com ele. Como já
tivemos ocasião de observar, a queda consistiu em o homem decidir-se
definitivamente pelo lado do mal, em
escolher a natureza
carnal, de maneira
que a sua
própria natureza ficou
mudada. Por isso a
queda começou a fazer parte da sua natureza moral, que passou, certamente, aos
seus descendentes.
Quando se
fala da imputação do pecado à sua posteridade, quer-se simplesmente dizer que
Deus reconhece-o homem como responsável por uma coisa que realmente lhe cabe.
Assim sendo, quando ele declarou que os
homens estavam mortos
pelas ofensas, não
praticou uma arbitrariedade, mas
simplesmente reconheceu um
destes fatos, que
têm a sua
razão de ser
na relação íntima
entre Adão e a sua
posteridade. Há quem interprete a
imputação do pecado
de Adão de
maneira a insinuar
que Deus é
arbitrário nesta questão. Indica-se que
Deus imputou o
pecado de Adão
sem que ele
fosse culpado. Mas,
uma vez bem compreendido o fato da unidade da raça e
a natureza da queda, não restará nenhuma dificuldade a respeito da imputação do
pecado de Adão à sua posteridade. Adão tornou-se pecador, e todos os seus
descendentes, até hoje, nasceram
e nascem pecadores.
É Deus reconhece
este fato é
trata o homem
como «pecadeiro», filho de
«pecadeiro». Precisamos, porém, reconhecer a diferença entre o pecado pessoal e
o pecado da raça. Podemos distinguir estas duas classes de pecados. A raça
pecou uma só vez, isto é, na queda; e o indivíduo, muitas vezes. Pode chamar-se
ao primeiro pecado cometido por Adão o pecado da raça. Os demais pecados por
ele cometidos são considerados pecados
pessoais. No primeiro
pecado Adão caiu
e a raça
caiu com ele,
e os demais pecados confirmaram
o seu estado
de decaído.
Como
sabemos, Adão era
um indivíduo e no princípio
era também raça; e por isso é que fazemos distinção entre o primeiro e
os demais pecados cometidos por ele.
O pecado da raça é nosso, mas o pecado pessoal
de Adão não nos pertence e não participamos de sua culpa. É por isso que Deus
nos imputa o pecado da raça e não os pecados pessoais de Adão.
Passemos agora a examinar algumas teorias a
respeito da imputação do pecado de Adão i posteridade.
7.2.
A teoria de Arminio
Segundo
esta teoria, todas
as pessoas nascem
destituídas de justiça
original e, portanto,
estão expostas à morte.
Por causa desta
enfermidade da alma,
propagada por Adão,
ninguém é capaz
de obedecer a Deus
sem o
auxílio seu. Quando
a raça caiu,
todos cairam com
ela, de maneira
que não há
possibilidade de o homem levantar-se, senão com o auxílio
divino. Mas, segundo esta teoria, o homem não é responsável por este estado
mau de desobediência
a Deus, isto
é, os descendentes
de Adão não
têm culpa na
sua queda, porém, mesmo
sem culpa, herdaram
esta incapacidade de obedecer
a Deus. Por
isso Deus deve
a cada indivíduo, em
nome da justiça,
uma influência especial
do Espírito Santo,
de modo que
o homem possa vencer
essa incapacidade de
obedecer-lhe. Ensina esta
teoria que o
indivíduo deve ter
a mesma oportunidade que teve
Adão, de decidir-se ao lado de Deus. Porém, por causa da queda, o homem não tem
a mesma oportunidade que Adão teve. Os seus descendentes têm que lutar com as
desvantagens herdadas do próprio Adão.
O indivíduo
não tem culpa
disso, portanto, deve
receber de Deus
uma influência que anule esta desvantagem. Já se vê que,
conforme os ensinamentos
desta teoria, o
pecado da raça
não envolve culpa.
Não há, pois,razão alguma de o homem estar condenado,
antes mesmo de praticar o mal. Assim sendo. Deus imputa o pecado de Adão ao
homem só quando ele voluntariamente peca contra a Sua vontade. Apresentaremos
aqui algumas considerações no tocante a esta teoria:
7.2.1.
Admitimos que há uma dádiva universal do Espírito Santo.
Entendemos que esta dádiva universal é uma luz
natural da razão e da consciência dada por Deus a cada indivíduo. Não
admitimos, porém, que haja uma divida universal. Há dádiva, mas não há dívida.
Deus fez o possível para que a raça não caísse. Deus não deve
ao homem coisa
alguma neste sentido.
Diante da justiça
pura e da
razão só merecemos
a condenação de Deus. Mas, ainda assim. Deus deu aos homens a luz que
lhes pode servir de guia na vida. «Este era a luz verdadeira que alumia a todo
homem que vem ao mundo» (João 1:9). Não
admitimos que esta dádiva remova
as desvantagens do
pecado herdado de
Adão.
Não
admitimos também que,
sem esta dádiva, o homem não seria
responsável por sua natureza corrompida. Como já observamos, Deus não deve
ao homem
coisa alguma, senão
a condenação, porque
a raça é
condenável c está condenada
por causa do seu
pecado.
Ademais,
não admitimos que
o indivíduo só no
princípio de sua
vida moral se
aproprie voluntariamente das tendências
más da raça;
ao revés disso,
o homem já
nasce sob o
domínio dessas tendências más.
7.2.2. Esta teoria contradiz as Escrituras do seguinte modo:
a) Mantendo
que o que
a posteridade de
Adão herdou dele não
envolve culpa. No
entanto, as Escrituras dizem: «Porque o salário do pecado
é a morte» (Romanos 6:23). «Pelo que, como por um homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram. Porque até a
lei estava o pecado no mundo, porém o pecado não é imputado, não havendo
lei. Mas
a morte reinou
desde Adão até
Moisés, até sobre aqueles
que não pecaram
à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura
dAquele que havia de vir» (Romanos 5:12-14). «Quem crê nele não é condenado,
mas quem não crê já está condenado...» (João 3:18).
b) Sustentando que Deus é obrigado a dar uma
influência especial do Espírito Santo a fim de que seja ele justo quando julgar
o injusto. Mas a Bíblia diz: «Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e
isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie» (Efésios 2:8, 9).
c)
Sustentando que o efeito da graça é para restaurar ao homem a capacidade
natural de obedecer a Deus. O efeito
da graça não é colocar
o homem nas
condições de Adão
antes de pecar,
e, sim, predispô-lo
a usar destas capacidades morais
depois de tê-las recebido de Deus. Este poder de obedecer a Deus é um dom de Deus. É o
resultado da regeneração. E a graça
vem sobretudo para
predispor o homem a
andar de acordo com a nova vida. 0 efeito da graça não
6, então, restaurar no homem a justiça original, porque isto 6 obra do Espírito
Santo. A graça
tem por fim
auxiliar-nos a andar
como regenerados, uma
vez que somos regenerados por Deus.
7.2.3.
Esta teoria torna
incerta a universalidade do
pecado e a
responsabilidade do homem
pelos seus próprios pecados. Se o
homem tem o poder de resistir à tentação, então o pecado não tem que ser
universal. Pode haver pessoas
cuja vida seja
pura e reta,
e, diante disso,
a universalidade do
pecado desaparece, e desaparece também a necessidade de um Salvador
universal, porque, se o pecado não é universal, não o é também a salvação. Por
outro lado, se o pecado é universal e o homem não pode resistir à tentação, não
é mais responsável pelo seu próprio pecado.
Segundo
esta teoria, o
que se herda
de Adão não
envolve culpa. E
ainda mais, ela ensina que Deus deve ao homem este poder
de resistir ao mal. Se o homem, pois, não pode resistir ao mal, a culpa já não
está com ele. Indubitavelmente não podemos aceitar estas duas conclusões, porque
a Bíblia ensina com clareza
que o pecado
é universal e
que cada indivíduo
é responsável pelos
seus próprios pecados.
7.3.
A teoria congregacionalisla
Esta
teoria ensina que os homens nascem naturalmente corrompidos. E a prova disso é que
ao chegarem à idade de discernir o bem e o mal, praticam atos contra a vontade
de Deus. A esta natureza corrupta, que o homem herdou da raça, pode chamar-se
pecado, porque conduz o homem ao pecado, mas realmente não o é. Pecado, segundo
esta teoria, está no ato voluntário contra a lei e contra a pessoa de Deus.
Segundo esta teoria, o que
herdamos de Adão
é apenas uma
tendência para o
pecado, uma tendência
para a morte.
Por isso Deus imputa
ao homem somente
os atos pecaminosos
que o indivíduo
pratique, e não
o pecado de Adão
quando este ainda
representava a raça.
Conforme
acabamos de ver
dos ensinos desta
teoria, não herdamos de
Adão o pecado
nem a morte,
visto que essa
natureza corrompida e
a morte física
não são resultado, pena
ou conseqüência do
pecado de Adão. Esta
coisas revelam apenas
a ira de
Deus contra a transgressão de
Adão. Façamos as
seguintes considerações sobre
esta teoria:
7.3.1. Ela
contradiz as Escrituras das
seguintes maneiras:
a) Sustentando
que o pecado
consta só do
ato voluntário, e
não dum estado mau da alma. 0
pecado é um ato mau praticado voluntária c conscientemente por uma pessoa, mas
ao mesmo tempo é um estado mau da alma, que faz resultar este ato. Falando
Jesus sobre este ponto, disse: «Ou
fazei a árvore
boa, e o
seu fruto bom,
ou fazei a
árvore má, e
o seu fruto
mau, porque pelo
fruto se conhece a árvore» (Mateus 12:33).
b)
Sustentando que esta
natureza corrompida faz
parte da natureza
humana como Deus
a criou, fazendo, destarte, a Deus responsável
por esta natureza
má do homem
ou por esta
sua tendência para
o pecado. Segundo os ensinamentos
da Bíblia, Deus criou o homem bom. Depois de caiu, e é natural que tenhamos
hoje o resultado dessa queda. Deus, por conseguinte, não tem responsabilidade
nenhuma pela natureza máque nos caracteriza.
c)
Sustentando ainda que
a morte física
do homem não
é conseqüência do
pecado de Adão.
Entretanto, o verso 12 do capitulo 5 de Romanos, já várias vezes citado
nos parágrafos anteriores, fala mui claramente a este respeito,
afirmando que a
morte entrou no
mundo pelo pecado,
e pelo pecado
passou a todos
os homens. 7.3.2. Esta teoria impugna a justiça de Deus:
a)
Em considerá-lo criador
imediato da natureza
corrompida do homem;
porque, se o
homem não herdou esta natureza de Adão, logo a recebeu
de Deus. E Deus não seria justo em castigar o homem por aquilo que o homem
recebeu de Deus mesmo.
Conclui- mos, pois, que esta teoria impugna a
justiça de Deus, por isso que sustenta que ele criou o homem pecador.
b)
Em sustentar que
Deus manda sofrimento
e morte sobre as
criancinhas que nunca
pecaram. Naturalmente quando se
admite que não
herdamos o pecado
de Adão, já
não resta explicação
para as conseqüências naturais
deste pecado na
vida das criancinhas
que ainda não
chegaram à idade
de responsabilidade própria.
7.4.
A teoria de condenação por contrato Segundo esta teoria, Adão
foi constituído por Deus o representante da raça. E este representante da raça
fez com Deus um
contrato, nas seguintes
condições: Se o
homem fizesse o
bem, receberia a vida eterna; porém, se fizesse o mal. Deus lhe
daria a morte eterna. Sabemos que Adão não fez o bem, e daí Deus fez que cada
um dos seus descendentes herdasse a natureza corrompida. Segundo esta
teoria. Deus imputa
imediatamente a culpa
de Adão à
posteridade. Esta teoria
difere das outras em sustentar
este ponto. As nossas objeções a esta teoria são as seguintes:
7.4.1.
Deus não fez nenhum contrato com Adio.
As Escrituras não fazem dele menção alguma.
7.4.2.
Esta teoria contradiz as Escrituras, sustentando que Deus cria cada
alma pecaminosa.
A relação entre Adão e
a raça i mais intima
do que entre
um representante e
o representado. A
relação que existe
entreAdão e a posteridade é multo intima e vital. A natureza corrompida
que o homem tem hoje é uma herança dos seus antepassados, do próprio Adão.
7.5.
A teoria de Agostinho
A
teoria de Agostinho
ensina que Deus
imputa o pecado
de Adão, imediatamente, à
sua posteridade por causa da relação orgânica e vital entre
Adão e os seus descendentes. Por ocasião da queda, a raça era Adão e Adão era a
raça. No ato livre de Adão, a vontade da raça revoltou-se contra Deus.
A raça humana pecou e caiu, e o pecado de Adão
era o pecado da raça. Deus reconhece-nos «pecadeiros», membros da mesma raça
humana decaída, por se haver revoltado contra ele. A raça, que era a unidade no
começo da sua existência, pecou e caiu, e, naturalmente, todos quantos dela
descendem nascem com uma natureza corrompida, isto é, debaixo da
condenação de Deus,
porque toda a
raça estava condenada.
E, não obstante
estarmos tão distantes de Adão
quanto ao tempo, somos filhos dele tanto quanto o eram os seus primeiros
filhos. Não há duas raças humanas,
e, sim, uma
só, que caiu,
e da qual fazemos
parte.
Quando
se diz, pois,
que Deus imputa a
nós o pecado
de Adão, afirma-se
que Deus reconhece
a nossa intima
relação com Adão,
assim como também reconhece
o estado moral
em que nos
achamos. Esta teoria
baseia-se nas Escrituras,
e é, portanto, aceita pelos
batistas. Há, porém, quem faça objeção a ela. Consideremos algumas destas
objeções.
7.5.1. A
primeira objeção é que não
há pecado antes
da idade de
consciência própria; a
pessoa precisa chegar ao
estado de responsabilidade antes
de poder pecar.
A isto respondemos:
Pode não haver
pecados pessoais antes do
estado de consciência
própria, sem ficar
com isto provado
que não existe
em nós uma natureza corrupta ou o pecado de raça. As
Escrituras afirmam que, quem quer que nasça, já nasce com uma natureza corrupta,
e, mesmo antes
de chegar ao
estado de consciência
própria, a criança
revela esta verdade. «Eis que em
iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe» (Salmos 51:5).
7.5.2.
Outra objeção que
costumam apresentar é que
o homem não
pode ser responsabilizado por
uma natureza pecaminosa a
que ele não
deu origem por si
mesmo. Esta objeção
despreza a unidade
da raça. Entretanto, ninguém pode
fugir à realidade de que faz parte da raça, cuja culpa se distribui entre todos
os homens. «Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas: cada um se desviava
pelo seu caminho; porém, o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de Iodos nós»
(Isaias 53:6).
Ainda mais, estas objeções contradizem as
Escrituras, porque estas ensinam claramente a responsabilidade do individuo na
queda da raça. A Bíblia reconhece que a raça é uma unidade. O pé não tem de
queixar-se da morte se os pulmões são tuberculosos, fazendo eles parte do mesmo
corpo; força é morrer com os outros membros.
7.5.3. A
terceira objeção é que o
pecado de Adão
não nos pode
ser imputado, porque
não podemos nos arrepender dele.
Parece plausível a
objeção, mas realmente
não é. E,
se bem que
nada tenhamos com o
pecado pessoal de Adão, se
bem que em
nada tenhamos que
nos arrepender dos
seus pecados pessoais, o pecado da
raça é nosso,
isto é, somos
parte integrante da
raça e podemos
nos arrepender daquilo
que nos toca. Podemos
e precisamos rejeitar,
pelo arrependimento, os
pecados dos nossos
antepassados. E um repúdio necessário.
7.5.4.
A quarta objeção
é a seguinte: se os
pecados de Adão
nos
podem ser imputados,
também o pode a
justiça dos nossos pais. Isto é, se herdamos o mal da raça, podemos também
herdar o bem dos nossos pais crentes.
Porém isto não
é uma conclusão
necessária.
A salvação
é uma dádiva,
é uma graça
de Deus, e aquele que a recebe não pode transmiti-la a
ou irem. E, ainda mais, como a raça ainda se acha no estado em que caiu, como
ainda não foi regenerada, todos os que dela descendem nascem com uma natureza
corrupta.A raça toda
ainda não foi
regenerada, é ainda
uma raça decaída.
Somos mais que
filhos dos nossos
pais,somos filhos da
raça também e
herdamos o seu
caráter. Herdamos dela
o pecado, embora
os nossos pais sejam crentes regenerados.
Lição 7 - A Queda do Ser Humano, apresentado pelo Comentarista das Revistas Lições Bíblicas de Adultos da CPAD, pastor Claudionor de Andrade.
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