domingo, 9 de fevereiro de 2020

LIÇÃO 7 - A Queda do Ser Humano

                                 

                                              TEXTO ÁUREO

“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12).

                                         VERDADE PRÁTICA


Ao pecar contra Deus, o homem perdeu o completo domínio sobre a criação e tornou-se vulnerável à morte; em Cristo, porém, temos o Reino e a vida eterna.


Capítulo 7

 A Queda do Ser Humano

S
egundo Charles Darwin (1809-1882), o homem é o produto de um lento e tedioso processo de evolução. Aliás, um processo que, desde o aparecimento dos primatas, teria durado três milhões e meio de anos. Mas, se levarmos em conta tal mito, desde o seu mais recuado princípio, de acordo com alguns evolucionistas, toda essa marcha biológica, que resultaria no Homo Sapiens, representaria um total de 530 milhões de anos; uma eternidade para nós, hoje, cuja expectativa de vida não vai além dos 80 anos de idade.

Todavia, ao examinarmos a Bíblia Sagrada, constatamos que, na peregrinação do homem sobre a face da Terra, não houve evolução nem avanço. Mas uma involução contínua que, por diversas vezes, quase nos levou à completa extinção. Haja vista as duas guerras mundiais do século XX. Em ambos os conflitos, foram mortos mais de 80 milhões de pessoas. E, desde então, outro tanto perdeu a vida em conflitos menores e igualmente selvagens.

O homem vem involuindo continuamente não porque lhe faltem cultura, informações e bem-estar, mas por causa do pecado cometido, no Éden, por nossos primeiros genitores: Adão e Eva. Levemos em consideração que ambas as guerras mundiais foram deflagradas por um dos povos mais cultos e adiantados da história — a Alemanha dos Filósofos, dos músicos e dos físicos. No século XIX, esse país era conhecido como a Atenas dos tempos modernos.

 Querido leitor, o pecado transforma o mais civilizado dos homens num animal voraz, ignorante e disposto a canibalizar o próximo. Por outro lado, o Evangelho de Cristo leva o mais bruto dos seres humanos a agir com nobreza, sabedoria e amor. Somente a mensagem do Calvário pode trazer paz e harmonia à semente adâmica.

 Estudaremos, agora, o capítulo mais trágico da História: a Queda do ser humano. No transcorrer de nossa exposição, mostraremos que a narrativa do pecado de Adão e Eva, longe de ser uma parábola, foi um evento real, cuja literalidade não pode ser questionada, pois se acha referendada em toda a Bíblia.

 Inicialmente, examinaremos o livre-arbítrio e as suas implicações na experiência humana. Em seguida, averiguaremos a Queda em si. E, depois, focaremos as consequências da apostasia de Adão. Trata-se, pois, de uma temática imprescindível ao estudo da doutrina do homem, conforme a encontramos na Bíblia Sagrada.

Que o Espírito Santo nos ilumine a compreender essa tão importante doutrina.

I. O Livre-Arbítrio do Ser Humano

 Neste tópico, definiremos o livre-arbítrio. Em seguida, veremos o seu relacionamento com a soberania divina, e, finalmente, trataremos da responsabilidade humana frente às ordenanças divinas.

1. O livre-arbítrio é o dom que recebemos de Deus, por meio do qual podemos, desimpedidamente, escolher entre o bem e o mal (Dt 28.1; Js 24.15; 1 Rs 18.21; Hb 4.7). Sem o livre-arbítrio, não seríamos o que hoje somos: seres autônomos, conscientes da própria existência e de nosso lugar no Universo criado por Deus.

Em termos bíblicos e teológicos, o livre-arbítrio não é algo exclusivo humano. Nós podemos defini-lo, outrossim, como o instituto moral por excelência, que o Pai Celeste concedeu às suas criaturas morais: anjos e homens. Nós e os seres celestes, tanto ontem quanto hoje, jamais deixamos de fazer pleno uso de sua liberdade de escolha Logo, quando o querubim ungido rebelou-se contra o Senhor, fê-lo de forma consciente; ele sabia que pecado estava para cometer. Basta analisar-lhe o discurso registrado no capítulo 14 de Isaías. Já entorpecido pelo orgulho e embriagado pela soberba das soberbas, vociferou: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14.13,14, ARA). Suas palavras não são de um autômato, nem de um ser predestinado a rebelar-se contra Deus, como se tal apostasia fosse inevitável. Ele revoltou-se contra o Todo-Poderoso, porque fez mau uso de sua liberdade, e não soube como lidar com o seu arbítrio, que, desde a sua criação, jamais deixou de ser livre e desimpedido. Alegar, pois, que a queda do mais elevado dos anjos era algo fatalista (e teologicamente necessário) leva-nos a pecar contra a sabedoria e os desígnios divinos. O querubim pecou de forma consciente e deliberada, porque Deus a ninguém tenta nem induz ser algum ao pecado. Ele é santo; tudo o que faz é santo e conduz-nos a atos santos, perfeitos e irrepreensíveis. O Senhor jamais predestinaria qualquer de seus entes morais a errar, porque isso contrariaria frontalmente seus atributos morais — amor, justiça e retidão. Como explica Tiago, em sua epístola, cada qual é tentado de acordo com as suas inclinações (Tg 1.13-15).

Os anjos que não seguiram Lúcifer foram galardoados com dois maravilhosos dons: a santidade e a eleição, pois, ainda que tentados, optaram por continuar a obedecer a Deus. Eis porque são conhecidos, nas páginas da Bíblia, como eleitos e santos (Jó 5.1; Mc 8.38; Ap 14.10; 1 Tm 5.21). Hoje, embora conservem o livre-arbítrio, a sua santidade e eleição os levam a obedecer, amorosa e prontamente, ao Pai Celeste, conforme o Senhor Jesus deixa-nos entrever em sua oração-modelo: “Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). Quando estivermos na Jerusalém Celeste, ao lado do Senhor Jesus, não deixaremos de ser livres em nosso arbítrio. Mas, ali, já revestidos de glória e majestade, o nosso livre-arbítrio levar-nos-á, cada vez mais, a enaltecer, a exaltar e a amar o Cordeiro de Deus.

 2. A soberania divina é o direito absoluto, irrestrito e inquestionável, que possui Deus sobre toda a sua criação (Êx 9.29; Dt 10.14; Sl 135.6). Portanto, o Senhor age como bem lhe aprouver. Em suas mãos, somos o barro; Ele, o soberano oleiro (Jr 18.6). Não nos cabe questionar a soberania do Todo-Poderoso (Rm 9.20). Ele é Deus e Senhor! Enfim, Ele é o É — o Deus Único e Verdadeiro.

 Não devemos, por outro lado, ver a soberania divina como algo despótico e tirânico, porquanto todas as ações de Deus são fundamentadas em seu amor, justiça e sabedoria. O que Ele faz, agora, só viremos a compreender mais à frente (Jo 13.7). Descansemos, pois, na vontade divina (Sl 37.5). Cabe-nos, aqui, formular uma pergunta que, para muita gente, é perturbadora: “Se Deus é soberano, por que não destruiu o querubim rebelde no ato de sua rebelião? Por que esperar para lançá-lo no Lago de Fogo somente após o Milênio, depois de milhares de anos de afrontas, mentiras e blasfêmias?”. A resposta a essa indagação exige sabedoria e prudência, a m de não cairmos em algumas ciladas teológicas.

Antes de tudo, tenhamos em mente que um dos atributos morais de Deus é a justiça. E, na condição de Juiz de toda a Terra, tem Ele alguns processos a dar andamento até a instalação do Juízo Final. Não estou a defender, aqui, querido leitor, a chamada Teologia do Processo, porquanto o nosso Deus quer em sua transcendência, quer em sua imanência, acha-se no controle absoluto de todas as coisas. Nada o surpreende: nem o espaço, nem o presente, nem o porvir. Por essa razão, não posso endossar o ensino de Alfred North Whitehead (1861-1947) a respeito da Teologia do Processo. Aliás, o Deus que Whitehead apresenta não é o mesmo da Bíblia. Mais cientista do que filósofo, o brilhante matemático britânico, pelo que a sua biografia deixa transparecer, jamais teve um encontro pessoal e experimental com o Senhor. Sendo Deus, também, um ser judiciário, submete as suas criaturas morais — anjos e homens — a um criterioso processo, para que toda a sua justiça seja observada e cumprida. Eis porque, nalgumas ocasiões, o seu juízo é sumário, como no caso de Ananias e Sara (At 5.1-9), e, noutras, aguarda vários séculos para castigar povos e nações, como se deu com as etnias cananeias. No que concerne aos amorreus, o Senhor aguardaria mais de 400 anos, antes de expulsá-los de diante dos lhos de Israel (Gn 15.16). Ora, toda essa espera reflete a misericórdia e o amor divinos, porque Deus não deseja a perdição de ninguém, mas que todos se convertam.

Não estou dizendo, com isso, que o Todo-Poderoso não destruiu aquele exaltado querubim, porque esperava a sua conversão. No caso específico desse anjo, não temos um simples pecado, nem uma mera apostasia, mas uma ofensa irredimível contra a Santíssima Trindade. Sendo aquele poderoso ser a sua própria tentação, e atuando como o seu próprio tentador, profanou a unção que havia sobre si, provinda do Espírito Santo, e tentou destruir o Pai e o Filho, pois não admitia a manifestação do Reino dos Céus, na Terra, por intermédio do Cordeiro que, a essas alturas, já estava morto na presciência do amoroso Deus. Insistamos, um pouco mais, nessa questão: “Se o querubim ungido, agora Diabo e Satanás, não tinha perdão nem remissão, por que Deus não o destruiu de vez?”. Mas, se por acaso, querido leitor, o soberano e justo Senhor o tivesse destruído, Adão e Eva estariam para sempre livres da tentação e de um tentador?”.

Não, por uma razão bastantes simples: na qualidade de seres morais e dotados de livre-arbítrio, poderiam eles, também, rebelar-se contra o Criador, fazendo-se tão “diabos” quanto o próprio Diabo. Não podemos esquecer-nos do exemplo emblemático de Judas Iscariotes. Mesmo não estando Satanás, ainda, em seu coração, zera-se ele lho da perdição e Diabo (Jo 6.7; 17.12). Satanás só viria apossar-se do coração daquele apóstolo, agora apóstata, durante a instituição da Santa Ceia, conforme escreve o evangelista João: “E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás” (Jo 13.27, ARA).

Quanto ao arqui-inimigo de Deus, só virá a ser lançado no Lago de Fogo na consumação dos séculos. Que ele já está julgado e condenado, o próprio Senhor o revelou ao discorrer sobre a vinda do Divino Consolador: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado” (Jo 16.8-11). Terminado o Milênio, antes mesmo da instauração do Juízo Final, Satanás será lançado no Lago de Fogo, onde já estarão a Besta e o Falso Profeta, conforme relata o Evangelista (Ap 20.7-10, ARA). Logo, os adeptos do Universalismo laboram em grave erro bíblico e teológico ao imaginar que, na consumação de todas as coisas, o próprio Diabo, arrependido e já purificado, será restaurado por Deus. Que ninguém se engane. A cada dia que passa, o Maligno torna-se mais virulento e destrutivo, por que sabe que lhe resta pouco tempo (Ap 12.12).

O correto entendimento da soberania de Deus, querido leitor, é indispensável para termos uma vida cristã abundante e produtiva. Que essa doutrina jamais seja negligenciada em nossas orações. Se nos sentirmos perseguidos e injustiçados, é compreensível que roguemos ao Pai Celeste por justiça e refrigério. No entanto, não devemos rogar-lhe que nos vingue daqueles que nos buscam o mal, porque Ele não é o nosso executor. Por isso, diligenciemo-nos por oferecer-lhe um culto vivo, racional e verdadeiro; intercedamos, junto ao seu trono, em favor de nossos algozes e detratores. E, assim, transformaremos, por intermédio de nossas petições, os maus em bons e o mal em bem. Se Deus precisa, de fato, castigar alguém que, sem motivo algum, fez-se nosso carrasco, Ele só o fará quando o nosso coração estiver preparado para ajudar essa pessoa, quando ela estiver sob a disciplina divina.

Às vezes, não entendemos por que Deus não revela, de imediato, o mal feitos dos que procuram destruir-lhe a Igreja. Sabemos que aqui e ali e, mais além, há pecados escondidos e iniquidades acobertadas; mas, aparentemente, nada é revelado e ninguém é julgado. Nessas horas, chegamos a pensar que Deus está dormindo. Todavia, o nosso Deus, como o ser judicial por excelência, está apenas dando andamento a alguns processos, a m de que todas as coisas sejam esclarecidas. Aliás, alguns pecados, de tão feios e medonhos, somente virão à tona no Juízo Final, conforme escreve Paulo a Timóteo: “Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo que os de outros só mais tarde se manifestam. Da mesma sorte também as boas obras, antecipadamente, se evidenciam e, quando assim não seja, não podem ocultar-se” (1 Tm 5.24,25, ARA). Por esse motivo, sejamos pacientes, e não deixemos de orar; no momento certo, o soberano e justo Juiz há de manifestar-se para retribuir a cada um segundo as nossas obras.

3. A responsabilidade humana. Entre o livre-arbítrio e a soberania divina encontra-se a nossa responsabilidade (Jr 35.13). Não resta dúvida de que Deus faculta-nos o direito de obedecer-lhe ou não aos mandamentos (Dt 11.13). Todavia, Ele nos chamará, um dia, a prestar contas quanto às nossas escolhas (Ec 11.9; 12.14). O Juízo Final não é cção; é a realidade que aguarda a espécie humana na consumação de todas as coisas (Ap 20.11-15).

Tendo em vista a nossa responsabilidade perante Deus, não podemos descartar a compatibilidade entre o livre-arbítrio e a soberania divina; reside, aqui, uma perfeita dicotomia. Um instituto não elimina o outro. Os que acreditam na dupla predestinação veem-se numa encruzilhada teológica desnecessária, pois a soteriologia bíblica é clara em todos os seus aspectos. Então, raciocinemos em cima dos postulados de Agostinho e Calvino. Se fui predestinado à vida eterna, por que devo preocupar-me com a minha responsabilidade diante de Deus? Pecando ou não, já estou salvo; acho-me livre das penalidades eternas. Quanto aos predestinados ao Lago de Fogo, por que se afligiriam com tal coisa? Já não foram selecionados à eterna perdição, então que vivam hedonicamente. Não foi sem razão que esse capítulo do calvinismo foi denominado de “decreto horrível”. Prefiro a simplicidade do Plano da Salvação, tal qual o encontro nas Sagradas Escrituras, às soteriologias forjadas sem o aval dos santos profetas e dos apóstolos de Nosso Senhor.

Deus jamais predestinou qualquer ser humano ao Lago de Fogo. Sendo Ele amor, predestinou todas as suas criaturas morais à salvação, pois não deseja a perdição de ninguém (Jo 3.16). A verdadeira predestinação bíblica, pois, é uma, e não dupla. Quando Deus predestina alguém, predestina-o à vida eterna, e não à eterna penitência, pois Ele não quer que ninguém se perca (2 Pe 2.9). Aliás, em Jesus Cristo, seu Filho, predestinou toda a humanidade à salvação; muitos, infelizmente, rejeitaram-na, predestinando-se a si próprios à condenação eterna (Mc 16.16). Estes não escaparão ao Juízo Final. Nossa predestinação e eleição vieram como resultado do amor presciente do Pai Celeste (Rm 8.29,30; 1 Pe 1.2).

II. A Queda, um Evento Histórico e Literal

A apostasia de Adão e Eva deu-se em consequência do conflito entre o livre-arbítrio humano e a soberania divina. Nesse episódio, registrado em Gênesis, capítulo três, ressaltam-se a possibilidade da Queda, a realidade da tentação e a historicidade da apostasia de nossos primeiros genitores. Deixamos claro que, embora possa haver confrontos entre o livre-arbítrio humano e a soberania divina, não há incompatibilidade entre ambos. Quando vivemos uma vida direcionada pelo Espírito Santo, nosso arbítrio, apesar de livre e desimpedido, só tem uma tendência: servir, louvar e enaltecer a Deus.

1. A possibilidade da Queda. Em sua inquestionável soberania, Deus criou Adão e Eva livres, facultando-lhes o direito de obedecer-lhe ou não. Todavia, a ordem do Senhor, concernente à árvore da ciência do bem e do mal, era bastante clara (Gn 2.16,17). Se eles optassem por ignorá-la, teriam de arcar com as consequências de seu ato: a morte espiritual seguida da morte física.
Não sabemos por quanto tempo, nossos protogenitores residiram no Jardim do Éden. A esse respeito, a Bíblia cala-se mui sabiamente. Mas acredito que foi o suciente para Adão e Eva conhecerem a Deus e, com Ele, manterem profunda e doce comunhão.

Na viração do dia, o Senhor se lhes aparecia, para conversar e ensinar a cuidar do planeta recém-inaugurado, pois, naqueles idos, tudo era novo: a Terra, as plantas, os animais e o próprio ser humano. E, por ser tudo novo, tudo requeria cuidado e desvelo. Sim, querido leitor, tudo requeria desvelo e cuidado, inclusive o coração de Adão e Eva. Por desconhecerem ainda os efeitos nefastos do pecado, a possibilidade de eles pecarem era ainda maior, pois a tentação era-lhes uma ameaça sempre presente, ainda que não a pressentissem.

 2. A realidade da tentação. Ao ser tentada pela serpente, Eva deixou-se enganar pela velha e bem arquitetada mentira de Satanás — a possibilidade de o homem vir a ser um deus (Gn 3.1-6; 2 Co 11.3). No instante seguinte, a mulher, já instrumentalizada pelo Diabo, levou o esposo a pecar, e este voluntariamente pecou (1 Tm 2.14). Tendo em vista a representatividade de Adão, foi ele responsabilizado pela entrada do pecado no mundo (Rm 5.12).

 Será que, àquelas alturas, Adão e Eva já tinham algum conhecimento acerca do que ocorrera nos Céus — a rebelião do querubim ungido e a sua consequente expulsão das moradas divinas? Sabiam eles, por acaso, que o mais celebrado dos anjos tornara-se um adversário formidável e perigoso, pronto a arruinar toda a criação divina?

Não sabemos até que ponto ia o seu conhecimento angelológico. Todavia, eu não preciso ser especialista em satanologia, afim de precaver-me quanto às astutas ciladas do Inimigo; basta-me esta advertência de Pedro (1 Pe 5.8,9).

Estejamos, pois, alertas quanto às artimanhas de Satanás. Por meio de sua dialética, quer política, quer teológica, vem ele destruindo lares, nações e igrejas. O Inimigo, seja opondo-se sistematicamente aos santos, seja lançando calúnias muito bem urdidas entre os redimidos, é astutíssimo em suas ciladas (Ef 6.11).

Tendo em vista o pecado que tão de perto nos assedia, oremos e vigiemos, para não nos enredarmos nas teias de Satanás. Sim, querido leitor, há a possibilidade de virmos a cair, conforme o apóstolo Paulo alertou os irmãos de Corinto: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Co 11.3, ARA).

Se, por um lado, há a possibilidade de o crente vir a fracassar na vida cristã, por outro, há uma possibilidade, ainda maior, de nos preservarmos, na força do Espírito Santo, até o dia de nossa redenção. Consolemo-nos, pois, nas palavras de Judas 24.

3. A historicidade da Queda. A narrativa da Queda do ser humano tem de ser acolhida de forma literal, pois o livro de Gênesis não é uma coleção de parábolas mitológicas, mas um relato histórico cofinável (2 Co 11.3; Rm 15.4). Aliás, se não aceitarmos a literalidade dos primeiros 11 capítulos de Gênesis, não teremos condições de entender o restante da História Sagrada. Tratemos, com temor e tremor, a Bíblia Sagrada — a inspirada, a inerrante, a infalível e a completa Palavra de Deus. A hermenêutica pós-moderna, manejando ferramentas e armas forjadas no Inferno, ataca impiedosa e malignamente os 11 primeiros capítulos de Gênesis, como se tais passagens fossem meras parábolas morais. E, dessa forma, em repetidos e monótonos golpes, intenta destruir as bases, as colunas e o majestoso edifício da soteriologia bíblica. O que esses pretensos exegetas e hermeneutas não sabem é que a Doutrina da Salvação, qual penha de comprovada solidez, jamais será desgastada por seus martelos. Antes, como já tem ocorrido tantas vezes, são estes a se agastarem, e não aquela, porquanto o Calvário, apesar desses dois milênios já decorridos, continua tão firme hoje quanto na tarde em que o Filho de Deus, entregando o Espírito ao Pai, exclamou: “Está consumado”.

Querido irmão, ao ler o Gênesis, o aceite, desde o primeiro até ao último versículo, exatamente como este livro é: uma narrativa histórica, verídica, el e literal. Caso contrário, todas as nossas doutrinas serão desacreditadas, porquanto todas elas, sem qualquer exceção, têm a sua origem justamente nos primeiros 11 capítulos dessa maravilhosa obra divina. Direta ou indiretamente, todas as verdades concernentes à nossa salvação estão ali: da criação do mundo à dispersão de Babel.

 III. As Consequências da Queda de Adão

Devido à sua rebelião contra o Senhor, a raça humana teve de arcar com pesados encargos: a consciência do pecado, a perda da comunhão com Deus, a transmissão do pecado às gerações subsequentes, a enfermidade da terra e, finalmente, a morte física.

1. A consciência do pecado. Ao tentar a mulher, a antiga serpente prometeu-lhe a onisciência divina, mas o que os nossos pais herdaram foi uma consciência pecaminosa geradora de obras mortas (Gn 3.1-6; Tt 1.15; Hb 9.14). O pecado leva-nos a perder o brilho do rosto e o vigor físico (Sl 31.10; 32.3). Eis porque o homem precisa nascer da água e do Espírito (Jo 3.5). A nossa consciência enfermou-se de tal forma, que somente a ação do Espírito Santo para restaurá-la plenamente. Para que isso ocorra, mantenhamos a constância de nossos exercícios espirituais: leitura da Bíblia Sagrada, oração, jejuns, frequência à igreja, serviço cristão e um testemunho bom e eficaz. Todos, evangélicos ou não, têm de ver, em nós, o rosto de Nosso Senhor. Recomenda-nos Paulo a manter os mistérios da fé numa consciência limpa (1 Tm 3.9).

2. A perda da comunhão com Deus. Em consequência de seu pecado, Adão e Eva foram expulsos da presença de Deus (Gn 3.23,24). Doravante, não poderiam mais viver no Jardim do Éden, onde, diariamente, conversavam com o Senhor (Gn 3.8). Mas, apesar de haverem ofendido a Deus, continuaram a ser alvo de seu imenso, eterno e infinito amor (Jo 3.16). Desde a Queda, o ser humano, para reatar a comunhão com Deus, tem de aproximar-se dEle pela fé (Hb 11.6). Nesse retorno, não estamos sós. Jesus Cristo é o nosso medianeiro eficaz (Rm 5.1). Ele é o Verdadeiro Deus e o Verdadeiro Homem (1 Tm 2.5).

3. A transmissão do pecado à espécie humana. Sendo Adão o pai de toda a raça humana, o seu pecado acabou por alcançar a todos os homens (Rm 3.23; 5.12). Aquilo que chamamos de “pecado original” contaminou universalmente a humanidade. Até mesmo o recém-nascido já traz consigo essa semente (Sl 51.5). Embora a criança, na fase da inocência, não tenha a experiência do pecado, a iniquidade adâmica achas-e impregnada, em seu interior, prestes a ser despertada. Somente em Cristo podemos vencer tanto o pecado original como o experimental (1 Jo 1.7). Muitas crianças são recolhidas por Deus, na fase da inocência, e levadas pelo Pai Celeste para o céu. Haja vista o lho de Jeroboão, rei de Israel (1 Rs 14.12,13).

Entre os que morreram sem a experiência do pecado acham-se os inocentes assassinados por Herodes (Mt 2.16). Os inocentes não perdem a alma. Só é condenado o que, já na fase da consciência, experimenta o pecado .

4. A enfermidade da Terra. Por causa do pecado de Adão, até a própria Terra adoeceu. Expulso do Éden, Adão teria de trabalhar, com redobrado esforço, a m de prover o seu sustento cotidiano (Gn 3.17). Desde então o nosso planeta vem sofrendo com fomes, terremotos e inundações (Mt 24.7). E os conflitos que nos vêm assolando desde o Éden? Em sua epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo descreve a Terra como que gemendo por causa das expectativas quanto às últimas coisas (Rm 8.22). Mas, quando o Reino de Deus manifestar-se, logo após a Grande Tribulação, o planeta será curado de todas as suas enfermidades (Is 35).

5. A morte física. O homem não foi criado para experimentar a morte física. Nesse sentido, podemos dizer que fomos criados imortalizáveis; com a possibilidade de viver indefinidamente (Gn 2.17). Não somente a eternidade, mas de igual modo a imortalidade, achavam-se no ser humano (Ec 3.11). Se Adão e Eva não tivessem pecado, estariam eles conosco até hoje. A morte é a mais triste consequência do pecado (Rm 6.23). Todavia, a pior morte que alguém pode experimentar é a separação eterna de Deus; a segunda morte (Ap 2.11; 20.6). Quanto a nós, os que já recebemos Jesus Cristo como o nosso Senhor e Salvador, a morte não terá efeito sobre nós, porque Ele é a ressurreição e a vida (Jo 11.25).

Conclusão

Dois fatos marcam indelevelmente a doutrina do homem nas Sagradas Escrituras: a criação e a Queda. À primeira vista, o pecado de Adão frustrou irremediavelmente os planos divinos quanto à formação dos Céus e da Terra. No entanto, Deus jamais foi surpreendido por qualquer fato. Ele não é um ser reativo, nem vive de improvisos. Nenhum processo, quer nos Céus, quer na Terra, jamais o surpreendeu, porquanto Ele é o Ser Supremo e Perfeito por excelência. Ele é o que É: o Deus bendito eternamente.

A fim de sanear o pecado do homem, Deus, em sua presciência, já havia separado o Imaculado Cordeiro, desde a fundação do mundo, para redimir-nos de todos os pecados (Ap 13.8). Querido amigo, não que prostrado. Aceite Jesus agora mesmo. Somente Ele é a solução à Queda da humanidade.

                                             A Raça Humana: 
                            Claudionor de Andrade
  

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                                        O QUE É PECADO

A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as quais indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. São vários os termos que amplificam o conceito de pecado nas suas várias manifestações. No Antigo Testamento. Encontramos no Antigo Testamento pelo menos oito palavras básicas que conceituam o pecado; no Novo Testamento, temos, pelo menos, doze outras que descrevem as várias formas de manifestações negativas relacionadas com o termo “pecado”. N o étimo das palavras mencionadas no Antigo Testamento descobrimos a abrangência do pecado em suas manifestações.

 1) Hatta’t. Este vocábulo, que aparece 522 vezes nas páginas veterotestamentárias, e seu termo correlato no Novo Testamento — hamartia — sugerem a idéia de “errar o alvo” ou “desviar-se do rum o”, como o arqueiro antigo que atirava as suas flechas e errava o alvo. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente. N ão se trata de uma idéia passiva de erro, mas implica uma ação proposital. Significa que cada ser humano tem da parte de Deus um alvo definido diante de si para alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de pecar como o ato resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou, foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21; SI I.I; 51.4; 103.10; Is 1. 18; Dn 9.16; Os 12.8).

2) Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”, “rebelar”, “revoltar-se”. Porém, uma variante forte para defini-la implica o ato de invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi além dos limites estabelecidos (Gn 31. 36; I Rs 12.19; 2 Rs 3.5; SI 51.13; 89.32; Is 1.2; Am 4.4).

3) Raa. Outra palavra hebraica que tem seu equivalente no grego — como kakos ou poneros — e traz a idéia básica de romper, quebrar; “aquilo que causa dano, dor ou tristeza”. E um tipo de pecado deliberado, malicioso, planejado, que provoca e enfurece. Dá a idéia de “ser mau” (Gn 8.21; Ex 33.4; Jr I I . I I ; M q 2.1-3). Indica também algo injurioso e moralmente errado. São os pecados expressos por violência (Gn 3.5; 38.7; Jz 11.27). O profeta Isaías profetizou que Deus criou a luz e as trevas, a paz e o raa (Is 4.57). É o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição, infortúnio. Deus não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a responsabilidade pelos pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a criatura rebelde, transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.

 4) Rama quer dizer “enganar”; dá a idéia de prender numa armadilha, num laço. Implica, portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem cair. É uma forma de enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13; 55.11; Jó 13.7; Is 53.9).

5) Pata. E um termo que dá a idéia de seduzir. O sentido literal da palavra é “ser aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter livre curso. N o Éden, Adão e Eva se deixaram seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado (Satanás), personificado numa serpente (Gn 3.4-7).

6) Sbagag. O sentido aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha ou um bêbado (Is 28.7). E um tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável, ante a lei divina que condena o seu erro — pecado (Lv 4.2; N m 15.22).

7) Rasba. Esta palavra aparece especialmente nos Salmos, com a idéia de impiedade ou perversidade. O sentido metafórico é o pecado em oposição à justiça (Êx 2.13; SI 9; SI 16; Pv 15.9; Ez 18.23).

 8) Ta a. Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não se trata de algo acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto negativo gerado pelos seus atos pecaminosos (N m 15.22; SI 58.3; 119.21; Is 53.6; Ez 44.10,15). Existem outras variantes do termo que ensinam sobre o pecado no Antigo Testamento, mas nos detivemos apenas em oito deles que ilustram a diversidade e a perversidade do pecado em suas várias manifestações.

No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado” também tem vários sentidos, e alguns são correlatos com os termos hebraicos. Todos esses vocábulos do grego bíblico descrevem o pecado em seus vários aspectos. Apresentaremos uma lista menos extensa, mas igualmente proveitosa para definir o incisivas das palavras mais incisivas e usadas com mais freqüência no Novo Testamento acerca do pecado.

1) Hamartia. Já citada em correlação com katta’a (hb.), seu sentido é “errar o alvo”, “perder o rum o”, “fracassar”. Indica que o primeiro homem, no princípio, perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não atingir o padrão divino estabelecido para a sua vida. N o Novo Testamento, os escritores usaram o termo hamartia para designar o pecado. Ainda que o sentido equivalente no Antigo Testamento seja o de “errar o alvo”, nas páginas neotestamentárias a palavra em apreço tem uma abrangência bem maior — possui um sentido mais forte que a idéia de fracasso ou transgressão. Ela tem o sentido de “poder de engano do pecado” (Rm 5.12; H b 3.13); é mais que um fracasso. Trata-se de uma condição responsável ou uma característica que implica culpabilidade.

2) Kakía. N o grego, relaciona-se com perversidade ou depravação, como algo oposto à virtude. E um termo que descreve o caráter e a disposição interiores, e não apenas os atos exteriores. Dele deriva-se outra palavra, kakos, cujo sentido transcende a mal-estar físico ou doenças (M c 1.32; M t 21.41; 24.48; At 9.13; Rm 12.17; 13,3,4,10; 16.19; I Tm 6.10).

3) Adikía. Denota injustiça, falta de integridade; como alguém que abandona o caminho original. Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer conduta errada e significa, ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co 12.13; H b 8.12; R m 1.18; 9.14). O texto de Rom anos I .I 8 descreve a injustiça como inimizade para com a verdade. Em I João 5.17, o apóstolo João afirma que toda iniqüidade (gr. adikia) é pecado (gr. hamartia').

4) Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais palavras são traduzidas freqüentemente como “iniqüidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido literal de literal de anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de Deus pratica a iniqüidade (M t 13.41; 24.12; I Tm 1.9). O Anticristo é anomos— “o míquo” (2T s 2.8). 5) Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e significa “infidelidade”, “falta de fé” ou algum tipo de resistência ou vergonha (H b 3.12; I Tm I.I3 ). Em I Timóteo I.1 3 está escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade [gr. apistia]”.

6) Aseheia. Usado por Paulo nas epístolas com o sentido de impiedade (Rm 1. 18; 11.26; 2 Tm 2.16; T t 2.12; Jd vv.I5,I8). Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base da aseheia.

7) Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade ou mesmo sensualidade. Em Judas v.4 encontramos dois termos que explicam essas palavras: “... homens ímpios [aseheis] que convertem em dissolução [aselgeian, libertinagem ’] a graça de Deus”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem restrições à prática do pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito que domina uma pessoa e a torna impudica de tal modo que perde totalmente o senso de vergonha e, por isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu pecado.

O termo em análise significa, por conseguinte, “a pura e auto-satisfação sem o menor pudor”, haja vista o desejo pelos prazeres tornar a sua vítima despudorada, sem restrições. As chamadas taras sexuais, a embriaguez e outras manifestações são típicas de aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma das palavras mais repulsivas do Novo Testamento (M t 7.22; 2 Co 12.21; G1 5.19; E f 4.19; I Pe 4.3; Jd v.4; Rm 13.13; 2 Pe 2.2,7,18). A versão ARC traduz o termo por “libertinagem”, enquanto a ARA prefere “dissolução”.

8) Epithymia. Significa “desejo”. Porém, é o contexto da palavra encontrada no Novo Testamento que pode indicar o caráter moral do desejo, se é bom ou mau. Coisas, como: motivo, intenção, direção e relação, revelarão o caráter moral de epithymia (Mc 4.19; Lc 22.15; Fp 1.23; I Ts 2.17). De modo geral, o vocábulo quase sempre se identifica com algo negativo e pecaminoso. Daí o significado poderá indicar “desejo incontinente”, normalmente traduzido como “concupiscência”, “paixão impura” (G1 5.24; Cl 3.5; I Ts 4.5;Tg 1.14; 2 Pe 2.10).

 9) Parahasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O significado primário do termo é “transgressão”, que dá a idéia de alguém que não respeita as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se esse vocábulo com o sentido de “desvio”, “violação” e “transgressão”. N o texto de Romanos 5.14, Paulo faz uma relação entre hamartia e parahasis, ao afirmar: “N o entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão” (grifos do autor).

O apóstolo Paulo não está dizendo que os que pecaram desde Adão até Moisés estão livres de culpa, e sim que aquelas gerações, não tendo a lei de Moisés, seu pecado era tão real quanto ao dos que tinham a lei. Em I Tim óteo 2.14 está escrito que Eva caiu em transgressão (parahasis), ao ser enganada, porque ela foi rebelde contra a ordem divina. N ão se tratava de reduzir a culpa de Eva, e sim reconhecer que ela podia ter evitado o pecado de desobediência.

10) Paraptoma. Deriva de parapipto e significa “decair ao lado de”, “perder o caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma ofensa pela qual a pessoa é responsável”.1 Vários textos exemplificam o termo paraptoma (M t 6.14; Rm 5.15-20; 2 Co 5.19; G1 6.19; E f 2.1; Tg 5.16).

11) Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado porque se refere àquele que se desgarra culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a ovelha que foge do aprisco (I Pe 2.25); também significa levar, por meio do engano, outras pessoas ao mau caminho (M t 24.5,6; I Jo 1.8).

Todas essas palavras, segundo o seu étimo, descrevem o caráter geral do pecado. Porém, definiremos o pecado, também, em outras perspectivas, para que entendamos toda a sua abrangência na vida humana.

            Teorias filosóficas

Ao longo da História, a preocupação com a existência do mal tem provocado muitas perguntas e respostas. O problema da presença do pecado no Universo é discutido por filósofos, sociólogos, psicólogos e teólogos. Especialmente, no campo da filosofia, há muitas teorias que tentam em vão analisar e definir o que é pecado.

Conceitos antiteístas e anticristãos. H á opiniões extremamente especulativas e arbitrárias sobre esse assunto. Por isso, ao trazê-las à tona neste estudo, queremos destacar dois elementos auxiliares para o estudo do pecado. O primeiro trata da natureza metafísica do pecado, e o segundo, de sua natureza moral. Surgem, então, as questões: O que é aquilo que denominamos pecado? Seria uma substância, um princípio ou um ato? Significaria privação, negação ou defeito? Seria alguma coisa relacionada com sentimento?

Essas perguntas se relacionam com a natureza metafísica do pecado. Mas, e as questões sobre a natureza moral do pecado? Como o pecado se relaciona com a lei de Deus? Que relação tem o pecado com a santidade e com a justiça? Algumas teorias sobre a natureza do pecado são apresentadas ao longo da História, no estudo progressivo das doutrinas cristãs. Algumas dessas teorias são incoerentes com a realidade bíblica do pecado e, por isso, heréticas; mas outras merecem a nossa apreciação.

1     1 )     A primeira teoria filosófica e antibíblica que mencionaremos é a que ensina a existência de um eterno princípio do mal. Ela se difundiu e foi introduzida na igreja nos primeiros séculos da Era Cristã. Para alguns, esse princípio original do mal se identificava como um ser pessoal.

Trata-se do gnosticismo. Para outros, seguidores do gnosticismo, dos marcionistas e dos maniqueus, tal princípio era uma substância, uma matéria eterna. Esses dois princípios não encontram respaldo na Palavra de Deus e, por essa razão, são nulos. Tal teoria vê o pecado como um mal físico que contamina o espírito humano. Por isso, esse mal deve ser vencido por meios físicos.

Trata-se de uma teoria que insinua que o pecado é eterno e independente do Deus Eterno. Sugere que Deus é limitado por um poder co-eterno, que Ele não pode controlar. O u seja, o mal tem o seu próprio poder, assim como Deus possui o seu. A idéia sugerida por essa teoria, de que o mal é um poder independente e sem controle, destrói, por assim dizer, a natureza do pecado como um mal moral, haja vista fazer dele uma substância inseparável da natureza humana. Dessa forma, não admite que o homem possa se livrar do pecado. Essa teoria compromete, ainda, a responsabilidade humana, uma vez que atribui a sua origem a um mal eterno. Claramente, a Bíblia refuta terminantemente essa teoria, pois o pecado não é eterno; e, quando o homem pecou, fez isso por escolha intencional e voluntária.

2    2 )     Outra teoria filosófico-antibíblica é a que apresenta o pecado como um mal necessário. Ela se baseia na lei de que toda a vida implica ação e reação. Argumenta-se que, no Universo material, prevalece a mesma lei pela qual os corpos celestes são conservados em suas órbitas pelo equilíbrio de forças centrífugas e centrípetas. Ensina, ainda, que todas as mudanças químicas são produzidas por atração e repulsão, e que a mesma lei deve prevalecer no mundo moral; e que não pode haver bem sem mal.

Essa teoria ensina, portanto, que, em relação ao homem, a sua vida é equilibrada por forças contrárias e se desenvolve através do antagonismo; ou seja, por princípios opostos, de modo que um mundo moral sem pecado é impossível. A essência dessa teoria é a de que o pecado é a condição necessária para a existência do bem. Defende-se por esse conceito a idéia de que “o pecado é um resultado necessário, e decorrente, da limitação do ser finito do homem”2, “um incidente do desenvolvimento imperfeito, fruto da ignorância e falta de poder; portanto, o pecado não é um mal absoluto, mas relativo”.3 Não obstante, a Palavra de Deus ensina, refutando essa teoria, que se o bem não pode existir sem o mal, o mal deixa de ser algo condenável e repulsivo diante de Deus, e a criatura humana deixa de ser responsável pelo pecado entranhado em sua natureza. Entende-se, então, por essa teoria, que a natureza humana seria um engano, e tudo quanto a Bíblia ensina contra o pecado, uma utopia.

3     3 )     A terceira teoria falsa ensina que a fonte e a sede do pecado estão na natureza sensorial do homem. Essa teoria separa e distingue o corpo do espírito humano. Por ela entende-se que essa distinção especifica o pecado como algo sensorial. Ensina que, mediante o corpo, o homem está ligado ao mundo físico ou à natureza externa; e, por meio da alma, ao mundo espiritual e a Deus.
Essa teoria declara que o homem é governado universalmente, sempre em grau pecaminoso, por sua natureza sensorial. Em síntese, o negativo prevalece sobre o positivo, por isso, o homem é vencido pelo pecado. Biblicamente, essa teoria é falsa e equivocada, porque o pecado não é um ato ou estado sensorial no homem. Essa teoria neutraliza a consciência de pecado e de culpa, porque faz do pecado um mera debilidade.
A doutrina bíblica ensina que a pecaminosidade do homem se identifica, metaforicamente, como “carne”, que refere-se à sua natureza corrompida e pecaminosa, adquirida na Queda. A Bíblia desmente a teoria que faz do corpo ou da natureza sensorial do homem a fonte do pecado. Rejeita a idéia de que os pecados mais degradantes cometidos pelo homem nada tenham a ver com o corpo. Pelo contrário, a Bíblia diz que seremos julgados por aquilo que tivermos feito por meio do corpo, bem ou mal (2 Co 5.10).

4   4 )     Outra teoria filosófica ao tratar do caráter do pecado declara que a essência do pecado é o egoísmo. A Bíblia declara que o homem foi criado com perfeição e, portanto, seu ego correspondia ao ideal divino do “livre-arbítrio”. Ora, pertencente a natureza original do homem, o egoísmo não pode ser confundido com seu instinto de auto-preservação e de buscar as coisas que lhe dão prazer e satisfação.

Naturalmente, isto não se constitui um estado pecaminoso. Buscar com retidão a felicidade e o prazer na vida não significa, essencialmente, angariá-los em detrimento dos demais seres. O que torna essa busca um modo egoístico negativo de se obter felicidade é a força do pecado entranhada na natureza pecaminosa embutida no homem (Rm 5.12).

O egoísmo integra o estado decaído do homem. Alguns teólogos declaram que “o pecado de Adão teve origem no egoísmo, porque ele quis ser igual a Deus”.4 Langston entende que o egoísmo é o coração do pecado e é a origem do pecado. O pecado veio de fora e a Bíblia o declara como transgressão da lei de Deus (I Jo 3.4). Antes da manifestação do pecado na vida do homem havia uma “lei escrita no seu coração” (Rm 2.15).

                                                        Cristologia- Antonio Gilberto

                        Resultado de imagem para Lição 7: A Queda do ser humano


                       7. IMPUTAÇÃO DO PECADO DE ADÃO À POSTERIDADE

7.1.-4 Bíblia ensina que, ao cair Adão, caiu com ele a raça inteira Temos  em  Romanos  5:12  as  seguintes  palavras,  que  confirmam  este  asserto:  «Pelo  que,  como  por  um homem  entrou  o  pecado  no  mundo,  e  pelo  pecado  a  morte,  assim  também  a  morte  passou  a  todos  os homens, por isso que todos pecaram.* 0 que queremos investigar é a maneira por que os pecados de Adão passaram à sua posteridade. Isto é, temos que estudar a conexão entre o pecado de Adão e o pecado da raça.

Esta  é  uma  das  mais  importantes  questões  para  a  teologia;  o  evangelho  tem  perdido  muito  devido  ao fato de nem todos reconhecerem a íntima relação entre o pecado de Adão e a raça. 0 que desejamos fazer aqui é simplesmente notar o que diz a Bíblia sobre a relação do pecado de Adão com a sua posteridade. Ensina-nos a Bíblia que a transgressão de Adão constituiu a todos os seus descendentes em pecadores, ou, ainda melhor, «pecadeiros». Em Romanos 5:19 temos a seguinte expressão, muito apropriada ao nosso assunto:  «Porque,  como,  pela  desobediência  de  um    homem,  muitos  foram  feitos  pecadores,  assim  pela obediência de um muitos serão feitos justos.» No versículo 15 do mesmo capítulo lemos: «Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais, etc.» Na Carta aos Efésios 2:3 diz o apóstolo Paulo: «Entre os quais todos nós também dantes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.» Depreende-se claramente das passagens citadas que há perfeita conexão entre o pecado de Adão  e  o  da  sua  posteridade.  Deus  criou  somente  uma  raça  humana  e  Adão  era  o  primeiro  homem,  e constituía, portanto, a raça naquela ocasião. Por isso, quando ele pecou e caiu, a raça caiu também com ele. Como já tivemos ocasião de observar, a queda consistiu em o homem decidir-se definitivamente pelo lado do  mal,  em  escolher  a  natureza  carnal,  de  maneira  que  a  sua  própria  natureza  ficou  mudada.  Por  isso  a queda começou a fazer parte da sua natureza moral, que passou, certamente, aos seus descendentes.

 Quando se fala da imputação do pecado à sua posteridade, quer-se simplesmente dizer que Deus reconhece-o homem como responsável por uma coisa que realmente lhe cabe. Assim sendo, quando ele declarou que os  homens  estavam  mortos  pelas  ofensas,  não  praticou  uma  arbitrariedade,  mas  simplesmente reconheceu um  destes  fatos,  que  têm  a  sua  razão  de  ser  na  relação  íntima  entre  Adão  e  a  sua  posteridade.    quem interprete  a  imputação  do  pecado  de  Adão  de  maneira  a  insinuar  que  Deus  é  arbitrário  nesta  questão. Indica-se  que  Deus  imputou  o  pecado  de  Adão  sem  que  ele  fosse  culpado.  Mas,  uma  vez  bem compreendido o fato da unidade da raça e a natureza da queda, não restará nenhuma dificuldade a respeito da imputação do pecado de Adão à sua posteridade. Adão tornou-se pecador, e todos os seus descendentes, até  hoje,  nasceram  e  nascem  pecadores.  É  Deus  reconhece  este  fato  é  trata  o  homem  como  «pecadeiro», filho de «pecadeiro». Precisamos, porém, reconhecer a diferença entre o pecado pessoal e o pecado da raça. Podemos distinguir estas duas classes de pecados. A raça pecou uma só vez, isto é, na queda; e o indivíduo, muitas vezes. Pode chamar-se ao primeiro pecado cometido por Adão o pecado da raça. Os demais pecados por ele cometidos são  considerados  pecados  pessoais.  No  primeiro  pecado  Adão  caiu  e  a  raça  caiu  com  ele,  e  os  demais pecados  confirmaram  o  seu  estado  de decaído. 

Como  sabemos,  Adão  era  um  indivíduo e  no princípio  era também raça; e por isso é que fazemos distinção entre o primeiro e os demais pecados cometidos por ele.

O pecado da raça é nosso, mas o pecado pessoal de Adão não nos pertence e não participamos de sua culpa. É por isso que Deus nos imputa o pecado da raça e não os pecados pessoais de Adão.

Passemos agora a examinar algumas teorias a respeito da imputação do pecado de Adão i posteridade.

7.2. A teoria de Arminio

Segundo  esta  teoria,  todas  as  pessoas  nascem  destituídas  de  justiça  original  e,  portanto,  estão  expostas  à morte.  Por  causa  desta  enfermidade  da  alma,  propagada  por  Adão,  ninguém  é  capaz  de  obedecer  a  Deus sem  o  auxílio  seu.  Quando  a  raça  caiu,  todos  cairam  com  ela,  de  maneira  que  não    possibilidade  de  o homem levantar-se, senão com o auxílio divino. Mas, segundo esta teoria, o homem não é responsável por este  estado  mau  de  desobediência  a  Deus,  isto  é,  os  descendentes  de  Adão  não  têm  culpa  na  sua  queda, porém,  mesmo  sem  culpa,  herdaram  esta  incapacidade de  obedecer  a  Deus.  Por  isso  Deus  deve  a  cada indivíduo,  em  nome  da  justiça,  uma  influência  especial  do  Espírito  Santo,  de  modo  que  o  homem  possa vencer  essa  incapacidade  de  obedecer-lhe.  Ensina  esta  teoria  que  o  indivíduo  deve  ter  a  mesma oportunidade que teve Adão, de decidir-se ao lado de Deus. Porém, por causa da queda, o homem não tem a mesma oportunidade que Adão teve. Os seus descendentes têm que lutar com as desvantagens herdadas do  próprio  Adão.

 O  indivíduo  não  tem  culpa  disso,  portanto,  deve  receber  de  Deus  uma  influência  que anule esta desvantagem. Já  se    que,  conforme  os  ensinamentos  desta  teoria,  o  pecado  da  raça  não  envolve  culpa.  Não  há,  pois,razão alguma de o homem estar condenado, antes mesmo de praticar o mal. Assim sendo. Deus imputa o pecado de Adão ao homem só quando ele voluntariamente peca contra a Sua vontade. Apresentaremos aqui algumas considerações no tocante a esta teoria:

7.2.1. Admitimos que há uma dádiva universal do Espírito Santo.

Entendemos que esta dádiva universal é uma luz natural da razão e da consciência dada por Deus a cada indivíduo. Não admitimos, porém, que haja uma divida universal. Há dádiva, mas não há dívida. Deus fez o possível para que a raça não caísse. Deus não  deve  ao  homem  coisa  alguma  neste  sentido.  Diante  da  justiça  pura  e  da  razão    merecemos  a condenação de Deus. Mas, ainda assim. Deus deu aos homens a luz que lhes pode servir de guia na vida. «Este era a luz verdadeira que alumia a todo homem que vem ao  mundo» (João 1:9). Não admitimos que esta  dádiva  remova  as  desvantagens  do  pecado  herdado  de  Adão. 

Não  admitimos  também  que,  sem  esta dádiva, o homem não seria responsável por sua natureza corrompida. Como já observamos, Deus não deve ao  homem  coisa  alguma,  senão  a  condenação,  porque  a  raça  é  condenável c  está  condenada  por  causa  do seu  pecado.

Ademais,  não  admitimos  que  o  indivíduo só  no  princípio  de  sua  vida  moral  se  aproprie voluntariamente  das  tendências  más  da  raça;  ao  revés  disso,  o  homem    nasce  sob  o  domínio  dessas tendências más. 7.2.2. Esta teoria contradiz as Escrituras do seguinte modo:

 a)  Mantendo  que  o  que  a  posteridade  de  Adão  herdou dele  não  envolve  culpa.  No  entanto,  as  Escrituras dizem: «Porque o salário do pecado é a morte» (Romanos 6:23). «Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a  morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram. Porque até a lei estava o pecado no mundo, porém o pecado não é imputado, não havendo lei.  Mas  a  morte  reinou  desde  Adão  até  Moisés,  até sobre  aqueles  que  não  pecaram  à  semelhança  da transgressão de Adão, o qual é a figura dAquele que havia de vir» (Romanos 5:12-14). «Quem crê nele não é condenado, mas quem não crê já está condenado...» (João 3:18).

b) Sustentando que Deus é obrigado a dar uma influência especial do Espírito Santo a fim de que seja ele justo quando julgar o injusto. Mas a Bíblia diz: «Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie» (Efésios 2:8, 9).

 c) Sustentando que o efeito da graça é para restaurar ao homem a capacidade natural de obedecer a Deus. O efeito  da  graça  não  é  colocar  o  homem  nas  condições  de  Adão  antes  de  pecar,  e,  sim,  predispô-lo  a  usar destas capacidades morais depois de tê-las recebido de Deus. Este poder de obedecer a Deus é um dom de Deus.  É  o resultado  da regeneração.  E  a  graça  vem  sobretudo  para  predispor  o homem  a  andar  de  acordo com a nova vida. 0 efeito da graça não 6, então, restaurar no homem a justiça original, porque isto 6 obra do  Espírito  Santo.  A  graça  tem  por  fim  auxiliar-nos  a  andar  como  regenerados,  uma  vez  que  somos regenerados por Deus.

7.2.3.  Esta  teoria  torna  incerta  a  universalidade  do  pecado  e  a  responsabilidade  do  homem  pelos  seus próprios pecados. Se o homem tem o poder de resistir à tentação, então o pecado não tem que ser universal. Pode  haver  pessoas  cuja  vida  seja  pura  e  reta,  e,  diante  disso,  a  universalidade  do  pecado  desaparece,  e desaparece também a necessidade de um Salvador universal, porque, se o pecado não é universal, não o é também a salvação. Por outro lado, se o pecado é universal e o homem não pode resistir à tentação, não é mais responsável pelo seu  próprio  pecado.

 Segundo  esta  teoria,  o  que  se  herda  de  Adão  não  envolve  culpa.  E  ainda  mais,  ela ensina que Deus deve ao homem este poder de resistir ao mal. Se o homem, pois, não pode resistir ao mal, a culpa já não está com ele. Indubitavelmente não podemos aceitar estas duas conclusões, porque a Bíblia ensina  com  clareza  que  o  pecado  é  universal  e  que  cada  indivíduo  é  responsável  pelos  seus  próprios pecados.

7.3. A teoria congregacionalisla

 Esta teoria ensina que os homens nascem naturalmente corrompidos. E a prova disso é que ao chegarem à idade de discernir o bem e o mal, praticam atos contra a vontade de Deus. A esta natureza corrupta, que o homem herdou da raça, pode chamar-se pecado, porque conduz o homem ao pecado, mas realmente não o é. Pecado, segundo esta teoria, está no ato voluntário contra a lei e contra a pessoa de Deus. Segundo esta teoria,  o  que  herdamos  de  Adão  é  apenas  uma  tendência  para  o  pecado,  uma  tendência  para  a  morte.  Por isso  Deus  imputa  ao  homem  somente  os  atos  pecaminosos  que  o  indivíduo  pratique,  e  não  o  pecado  de Adão  quando  este  ainda  representava  a  raça.

 Conforme  acabamos  de  ver  dos  ensinos  desta  teoria,  não herdamos  de  Adão  o  pecado  nem  a  morte,  visto  que  essa  natureza  corrompida  e  a  morte  física  não  são resultado,  pena  ou  conseqüência  do  pecado  de  Adão. Esta  coisas  revelam  apenas  a  ira  de  Deus  contra  a transgressão  de  Adão.  Façamos  as  seguintes  considerações  sobre  esta  teoria: 

7.3.1.  Ela  contradiz  as Escrituras  das  seguintes  maneiras:

  a)  Sustentando  que  o  pecado  consta    do  ato  voluntário,  e  não  dum estado mau da alma. 0 pecado é um ato mau praticado voluntária c conscientemente por uma pessoa, mas ao mesmo tempo é um estado mau da alma, que faz resultar este ato. Falando Jesus sobre este ponto, disse: «Ou  fazei  a  árvore  boa,  e  o  seu  fruto  bom,  ou  fazei  a  árvore  má,  e  o  seu  fruto  mau,  porque  pelo  fruto se conhece a árvore» (Mateus 12:33).

b)  Sustentando  que  esta  natureza  corrompida  faz  parte  da  natureza  humana  como  Deus  a  criou,  fazendo, destarte,  a  Deus  responsável  por  esta  natureza    do  homem  ou  por  esta  sua  tendência  para  o  pecado. Segundo os ensinamentos da Bíblia, Deus criou o homem bom. Depois de caiu, e é natural que tenhamos hoje o resultado dessa queda. Deus, por conseguinte, não tem responsabilidade nenhuma pela natureza máque nos caracteriza.

c)  Sustentando  ainda  que  a  morte  física  do  homem  não  é  conseqüência  do  pecado  de  Adão.  Entretanto, o verso 12 do capitulo 5 de Romanos, já várias vezes citado nos parágrafos anteriores, fala mui claramente a este  respeito,  afirmando  que  a  morte  entrou  no  mundo  pelo  pecado,  e  pelo  pecado  passou  a  todos  os homens. 7.3.2. Esta teoria impugna a justiça de Deus:

a)  Em  considerá-lo  criador  imediato  da  natureza  corrompida  do  homem;  porque,  se  o  homem  não  herdou esta natureza de Adão, logo a recebeu de Deus. E Deus não seria justo em castigar o homem por aquilo que o homem recebeu de Deus mesmo.

Conclui- mos, pois, que esta teoria impugna a justiça de Deus, por isso que sustenta que ele criou o homem pecador.

b)   Em   sustentar   que   Deus   manda   sofrimento   e   morte   sobre   as   criancinhas   que   nunca   pecaram. Naturalmente  quando  se  admite  que  não  herdamos  o  pecado  de  Adão,    não  resta  explicação  para  as conseqüências  naturais  deste  pecado  na  vida  das  criancinhas  que  ainda  não  chegaram  à  idade  de responsabilidade própria.

7.4. A teoria de condenação por contrato Segundo esta teoria, Adão foi constituído por Deus o representante da raça. E este representante da raça fez com  Deus  um  contrato,  nas  seguintes  condições:  Se  o  homem  fizesse  o  bem,  receberia  a  vida  eterna; porém, se fizesse o mal. Deus lhe daria a morte eterna. Sabemos que Adão não fez o bem, e daí Deus fez que cada um dos seus descendentes herdasse a natureza corrompida. Segundo  esta  teoria.  Deus  imputa  imediatamente  a  culpa  de  Adão  à  posteridade.  Esta  teoria  difere  das outras em sustentar este ponto. As nossas objeções a esta teoria são as seguintes:

7.4.1. Deus não fez nenhum contrato com Adio.
As Escrituras não fazem dele menção alguma.

7.4.2. Esta teoria contradiz as Escrituras, sustentando que Deus cria cada alma pecaminosa.

A relação entre Adão  e  a  raça  i  mais  intima  do  que  entre  um  representante  e  o  representado.  A  relação  que  existe  entreAdão e a posteridade é multo intima e vital. A natureza corrompida que o homem tem hoje é uma herança dos seus antepassados, do próprio Adão.

7.5. A teoria de Agostinho

A  teoria  de  Agostinho  ensina  que  Deus  imputa  o  pecado  de  Adão,  imediatamente,  à  sua  posteridade  por causa da relação orgânica e vital entre Adão e os seus descendentes. Por ocasião da queda, a raça era Adão e Adão era a raça. No ato livre de Adão, a vontade da raça revoltou-se contra Deus.

A raça humana pecou e caiu, e o pecado de Adão era o pecado da raça. Deus reconhece-nos «pecadeiros», membros da mesma raça humana decaída, por se haver revoltado contra ele. A raça, que era a unidade no começo da sua existência, pecou e caiu, e, naturalmente, todos quantos dela descendem nascem com uma natureza corrompida, isto é, debaixo  da  condenação  de  Deus,  porque  toda  a  raça  estava  condenada.  E,  não  obstante  estarmos  tão distantes de Adão quanto ao tempo, somos filhos dele tanto quanto o eram os seus primeiros filhos. Não há duas  raças  humanas,  e,  sim,  uma  só,  que  caiu,  e  da qual  fazemos  parte. 

Quando  se  diz,  pois,  que  Deus imputa  a  nós  o  pecado  de  Adão,  afirma-se  que  Deus  reconhece  a  nossa  intima  relação  com  Adão,  assim como  também  reconhece  o  estado  moral  em  que  nos  achamos.  Esta  teoria  baseia-se  nas  Escrituras,  e  é, portanto, aceita pelos batistas. Há, porém, quem faça objeção a ela. Consideremos algumas destas objeções.

7.5.1.  A  primeira  objeção  é  que  não    pecado  antes  da  idade  de  consciência  própria;  a  pessoa  precisa chegar  ao  estado  de  responsabilidade  antes  de  poder  pecar.  A  isto  respondemos:  Pode  não  haver  pecados pessoais  antes  do  estado  de  consciência  própria,  sem  ficar  com  isto  provado  que  não  existe  em  nós  uma natureza corrupta ou o pecado de raça. As Escrituras afirmam que, quem quer que nasça, já nasce com uma natureza  corrupta,  e,  mesmo  antes  de  chegar  ao  estado  de  consciência  própria,  a  criança  revela  esta verdade. «Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe» (Salmos 51:5).

 7.5.2.  Outra  objeção  que  costumam  apresentar  é  que o  homem  não  pode  ser  responsabilizado  por  uma natureza  pecaminosa  a  que  ele  não  deu  origem  por  si  mesmo.  Esta  objeção  despreza  a  unidade  da  raça. Entretanto, ninguém pode fugir à realidade de que faz parte da raça, cuja culpa se distribui entre todos os homens. «Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas: cada um se desviava pelo seu caminho; porém, o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de Iodos nós» (Isaias 53:6).

Ainda mais, estas objeções contradizem as Escrituras, porque estas ensinam claramente a responsabilidade do individuo na queda da raça. A Bíblia reconhece que a raça é uma unidade. O pé não tem de queixar-se da morte se os pulmões são tuberculosos, fazendo eles parte do mesmo corpo; força é morrer com os outros membros.

7.5.3.  A  terceira  objeção  é  que  o  pecado  de  Adão  não  nos  pode  ser  imputado,  porque  não  podemos  nos arrepender  dele.  Parece  plausível  a  objeção,  mas  realmente  não  é.  E,  se  bem  que  nada  tenhamos  com  o pecado pessoal  de  Adão, se  bem  que  em  nada  tenhamos  que  nos  arrepender  dos  seus pecados  pessoais,  o pecado da  raça  é  nosso,  isto  é,  somos  parte  integrante  da  raça  e  podemos  nos  arrepender  daquilo  que  nos toca.  Podemos  e  precisamos  rejeitar,  pelo  arrependimento,  os  pecados  dos  nossos  antepassados.  E  um repúdio necessário.

 7.5.4.  A  quarta  objeção  é a  seguinte:  se os  pecados  de  Adão  nos  podem  ser  imputados,  também  o  pode  a justiça dos nossos pais. Isto é, se herdamos o mal da raça, podemos também herdar o bem dos nossos pais crentes.  Porém  isto  não  é  uma  conclusão  necessária.

  A  salvação  é  uma  dádiva,  é  uma  graça  de  Deus,  e aquele que a recebe não pode transmiti-la a ou irem. E, ainda mais, como a raça ainda se acha no estado em que caiu, como ainda não foi regenerada, todos os que dela descendem nascem com uma natureza corrupta.A  raça  toda  ainda  não  foi  regenerada,  é  ainda  uma  raça  decaída.  Somos  mais  que  filhos  dos  nossos  pais,somos  filhos  da  raça  também  e  herdamos  o  seu  caráter.  Herdamos  dela  o  pecado,  embora  os  nossos  pais sejam crentes regenerados.


TEOLOGIA SISTEMÁTICA   - A. B. LANGSTON




Lição 7 - A Queda do Ser Humano, apresentado pelo Comentarista das Revistas Lições Bíblicas de Adultos da CPAD, pastor Claudionor de Andrade.


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