I.
SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS
O Homem segundo o Coração de Deus Saul, por
não obedecer à
Palavra do Senhor,
é deixado de
lado e então Deus
escolhe Davi, o qual é
declarado em 1
Samuel 13.14 como
um homem segundo o
coração de Deus.
Entendemos que o
homem que assumirá
o lugar do rei
Saul é descrito
como aquele que
iria agradar ao
Senhor. Seria superior ao rei que estava saindo porque seu
coração estaria nas mãos de Deus.
É
dito em 1
Samuel 16.7 que
Deus olha para
o coração, ou
seja, Ele conhece o
que realmente se
passa no íntimo
de cada um
de nós. Enquanto
os seres humanos contemplam
apenas a exterioridade, a
casca humana, o
olhar divino perscruta o recôndito
da alma humana (1 Cr 28.9;
Is 55.8; 2 Co 10.7; 1Rs
8.39; Jr 11.20;
17.10; At 1.24).
O que foi
supracitado na verdade
revela um dos aspectos
dos atributos divinos,
a onisciência, que,
teologicamente,mostra que Deus
conhece tudo. Para
Ele não existe
oculto, segredo, surpresa.Ele simplesmente sabe de todas as
coisas.
Ao falar
que Davi seria o homem segundo o
coração de Deus, na verdade é porque o
Senhor tinha conhecimento
do que estava
lá no seu
íntimo, no seu coração,
suas qualidades espirituais,
as quais eram
melhores que as
de Saul.
No
tocante à expressão
“homem segundo o
coração de Deus”,
isso não quer dizer
que Davi fosse
perfeito, um humano
sem defeitos, mas
somente que ele faria
cinco coisas: (1)
procuraria cumprir com
a Palavra do
Senhor; (2) iria cumprir
bem o papel
de um rei
de Israel, fazendo
a vontade divina;
(3) iria proceder conforme
as normas divinas,
procurando conduzir Israel
ao verdadeiro culto e
adoração ao Senhor;
(4) seu trabalho
seria segundo as normas
divinas, ainda que
houvesse falhas particulares
em sua vida;
e (5)ainda que
houvesse fracasso em
sua vida, seria
um exemplo para
os demais reis, na questão de
procurar sempre proceder conforme o querer de Deus.
O
Davi Escolhido, mas Humano
Não
se pode negar
o homem extraordinário que
foi Davi. Alguns
teólogos e biblistas afirmam
que possivelmente não
existe na Bíblia
um homem tão honrado
por Deus como
ele. Por meio
de Davi é
que o padrão
para se mensurar outros reis
ficou estabelecido. Por
meio dele é que
a nação recebe a instrução de como cultuar e adorar a Deus
verdadeiramente.Os que se
voltam para os
salmos literários de
Davi sentem alegria,
alívio,gozo. Ademais, ele
foi um grande
guerreiro, um líder
singular. Assim, pode-se perguntar por que Davi se
tornou esse homem tão estimado
nas Escrituras?Responder a
essa pergunta não
é difícil, pois
as páginas de
sua história revelam os
aspectos positivos que
marcaram sua vida:
(1) manifestava um amor
sincero para com
Deus; (2) valorizava
a obra de
Deus; (3) confiava
em Deus e não
se deixava levar
pelo povo ou
pelas circunstâncias; (4)
postou-se sempre como servo,
ainda que fosse
rei; (5) esperou
sempre em Deus
e não criou nenhuma
campanha para tomar o
trono de Saul;
deixava a vingança nas mãos
de Deus; e
(6) Quando repreendido,
confessava suas culpas
e aceitava as penalidades
divinas. Embora fosse
o homem segundo
o coração de
Deus,Davi era humano.
Por ser humano, tinha
falhas. Era positivo em
muitas áreas da vida,
mas, em outras,
fracassava. Todavia, em
momento algum vemos Davi
se rebelando contra
Deus, agindo presunçosamente, como
Saul. Por mais que sejamos
perfeitos em certas áreas
da vida, não o
somos no todo, por isso é
que Paulo escreveu
que nossa completude
espiritual ainda se
dará no futuro; enquanto
isso, devemos prosseguir
na nossa peregrinação
espiritual,progredindo cada vez mais (Fp 3.13; Pv 4.18).Todo cristão
deve ser consciente
de que, por
mais que um
pastor ou líder seja
sincero, santo, justo,
bondoso, em algumas
áreas de sua
vida espiritual ele pode,
por vezes, falhar
em outras, pois
é um santo
revestido do que é humano. Aliás,
o próprio salmista
diz que Deus
reconhece que somos
pó (Sl103.14). Saber
isso é importante
para que não
façamos injustiça para
com os que falham nesta vida.
II. O AMBIENTE EM QUE DAVI PECOU
Criando
um Ambiente Propício ao Pecado
Os
capítulos anteriores destacaram o Davi triunfante, em constante
batalha,que lutava incansavelmente para
estabilizar seu reinado.
Isso ele fez participando de
oito guerras, ao
longo, aproximadamente, de
vinte anos, mas agora
ele será descrito
como o Davi
humano que peca,
que se desvia
dos caminhos do Senhor,
como o que
desceu até o
pó, por andar
por caminhos tortuosos.
A
expressão “decorrido um ano”
é uma referência
direta a 1
Samuel 10.14.Já havia se
passado o período
chuvoso, então Davi
manda que Joabe
se lance à batalha contra
Hadadezer com o
propósito de que
ele não juntasse
forças e se fortalecesse.
A finalidade dessa
guerra era restabelecer
o controle da capital,
Rabá, que era
a capital dos
filhos de Amom, chamada
hoje em dia de
Amã, localizada a 35 quilômetros do rio Jordão.O texto
ressalta que Davi
ficou em Jerusalém.
É bem verdade
que bom seria se
ele tivesse ido,
pois a ociosidade
vai abrindo caminhos
para diversas tentações. Do
seu palácio, que
ficava em uma
colina, Davi podia
enxergar o quintal de
outras pessoas e
contemplou Bate-Seba, mulher
de Urias,banhando-se ao
ar livre. Por
meio da expressão
“passeava”, possivelmente às três
horas da tarde,
ele tenha ido
fazer uma caminhada,
um relaxamento, ou tirar
uma sesta, conforme
o costume daquele
tempo, e, de
modo inesperado,contemplou uma
bela mulher, atraente,
tomando banho. Ele
não conseguiu vencer a tentação e
pecou.
Que fique claro, passear, fazer exercício físico, um relaxamento, nada disso é pecado,
pois o próprio
Jesus passeava (Jo
10.23); a questão
é quando a cobiça
ou a concupiscência se
torna descontrolável, a
ponto de a pessoa fazer de tudo
para que o
seu desejo seja
realizado, usando dessas
circunstâncias para
desagradar ao Senhor.
Em tudo o
que se descreve
nos primeiros versículos do
capítulo 11, entende-se
claramente que Davi
procurou preparar o ambiente para
o pecado. Isso podemos analisar da seguinte maneira:
•
Enquanto alguns estavam
arriscando a vida
na batalha, Davi
passeava no palácio. Já falamos
que ele fazia sua
sesta, mas o seu passear
para um lado e outro não o levava
a lugar algum.
•
Contemplando tudo. De
onde estava, Davi
podia contemplar tudo,
mas vale dizer que contemplar
não era pecado, mas
não manter controle sobre o que se vê, sim. Observe que Davi
contempla uma linda mulher tomando banho;
começou com um
vislumbre, que logo
se tornou um
olhar fixo,impuro e,
conforme falou Jesus,
os que procedessem
assim já teriam cometido adultério (Mt 5.28)
.• Davi procura se informar sobre a mulher, o que revela seu grande desejo pecaminoso. Através
de suas indagações,
ele toma conhecimento
da família e do
marido da mulher:
ela era esposa
de um de
seus soldados,Urias, o
qual se destacava
como grande soldado,
sendo um dos
mais corajosos, estava incluso
na lista dos
valentes (2 Sm
23.39) e era
fiel ao rei. Ele
era heteu; todavia,
aceitou a religião
de Davi, o
que pode ser provado pelo seu nome, Luz de Javé.
•
Agindo como rei
ímpio. Ao mandar
buscar Bate-Seba para
a tomar para si,
Davi estava procedendo
como um rei
oriental ímpio, que
poderia mandar buscar a
mulher que o
agradasse para a
possuir, mas isso
jamais deveria fazer aquele que
tivesse conhecimento da lei
de Deus. Davi passa por
cima de tudo,
mesmo tendo conhecimento
de que a
mulher era casada. Ele não queria saber.
Antes, seu objetivo era
satisfazer seu apetite carnal agora
desenfreado.
Todos
esses pontos deixam
claro que Davi
criou um ambiente
para o pecado, pois
não foi cuidadoso
no seu dever.
Ele também deveria
estar na guerra, mas,
em seu ócio,
deixou-se dominar pelo
que viu, tendo
um olhar descontrolado, não
procedendo como Jó
(31.1), nem atentando
para a Palavra, que
alerta para orarmos
a fim de
que o Senhor
nos livre de contemplar
coisas vaidosas (Sl
139.37). Davi vai
trilhar o caminho
do pecado, da derrota,
porque vai desejar
o que viu,
vai indagar acerca
do que viu. Pareciam coisas simples,
fáceis, controláveis, mas elas
se tornaram fatais para
esse rei. O
pecado sempre parece
vantajoso, inocente, sem
complicação,mas é bom
lembrar que sua
prática pode deflagrar
uma queda tão
grande que pode até ser difícil
se levantar outra vez, quando não impossível.
III. O ADULTÉRIO E O HOMICÍDIO DE DAVI
Pecado Gera Pecado Como diz
o salmista, pecado
gera pecado, um
abismo chama outro
abismo(Sl 42.7). Depois
que se deita
com Bate-Seba, Davi
trilha os mais
baixos caminhos do pecado, que o conduzirão à hipocrisia, mentira,
ingratidão.
É
sempre bom lembrar
que um pecado
leva a outro.
Logo que toma conhecimento de
que a mulher
engravidou, Davi começa
a fazer de
tudo para encobrir seu pecado. A primeira coisa que faz é chamar Urias, com o pretexto de saber
da campanha militar
que estava sendo
desenvolvida. O propósito dele, porém,
era para que
Urias fosse dormir
com sua mulher,
para que ficasse claro
que a gravidez
de Bate-Seba era
de seu próprio
marido, o que não
aconteceu, pois Urias
ficou na porta
da casa real
como escudeiro fiel
ao rei.
Para
vergonha de Davi
e também prova
de que sua
consciência estava morta, ao
perguntar para Urias
por que não
havia ido dormir em
sua casa, ele prontamente respondeu
que não poderia
gozar dos prazeres
do lar, do
afago da família naquele momento, enquanto
seus amigos soldados
e companheiros de batalhas
sofriam as mais
duras lutas. Afinal,
ele havia feito
um juramento no sentido de que
lutaria pela vida do rei e de sua alma.
Ainda
tentando encobrir seu
pecado, Davi vai
praticar outro ato
baixo contra Urias, procurando
agora levá-lo à
embriaguez. Dessa maneira
tiraria sua capacidade racional e
o faria deitar com sua mulher, o que não
aconteceu,pois Urias se recusou
a ir para
casa. Era triste e
vergonhoso olhar para
um rei como Davi,
que fora escolhido
para praticar a
justiça, defender os
indefesos,ser santo e
sincero, proceder dessa
forma, tendo moral
tão baixa. Certos biblistas afirmam
que o registro
desse ato vergonhoso
e pecaminoso de
Davi seria para mostrar
que qualquer homem
de Deus pode
pecar; assim, fica
um exemplo a não ser praticado e um alerta (1 Co 10.11,12).
No
mais, o registro
desse pecado imoral
de Davi mostra
que a Bíblia
não esconde pecado de
ninguém, nem do
homem segundo o
coração de Deus,
o que prova sua
veracidade, mas é
fato comprovado que
o mais grave
pecado,quando seguido de
verdadeiro arrependimento, confissão,
pode receber o perdão da parte de Deus (Sl 51).
Como
servos de Deus
que somos, devemos
sempre lembrar que
o inimigo de nossa
vida busca a
todo momento nos
tragar (1 Pe
5.8). Desse modo,
não devemos confiar nas
vitórias conquistadas no
passado, na posição
que temos,pois somos
sujeitos a pecado.
Importante é confiar
em Deus e
fugir daquilo que pode nos
derrotar. O procedimento de José
quando assediado pela esposa de Potifar
foi fugir, pois
ele tinha consciência
de que, caso
cometesse o pecado, estaria
ferindo o seu
senhor como a
Deus (Gn 39.15).
Paulo alertou Timóteo a
fugir das paixões
da mocidade, que
envolvem várias coisas
(2 Tm2.22). Assim,
o servo de
Cristo deve fugir
de tudo aquilo
que compromete e interrompe sua comunhão com Deus.
O Homicídio de Davi
Nos
versículos 14-26, tem-se
o grande desfecho
maléfico do pecado
de Davi, ou seja,
o seu auge.
Ele dá ordem
ao próprio Urias
para que fosse
até Joabe com uma
carta e, sem
que soubesse, ela
continha sua sentença
de morte. O rei pediu a
Joabe que observasse o ponto
mais perigoso da batalha e ali
colocasse Urias. Assim
iria morrer um
grande soldado, tudo
por causa de um
mero prazer, um
pecado escondido. Urias
morre simplesmente por
causada luxúria de
Davi. Joabe diz
que quem fosse
levar a notícia
ao rei, se ele
manifestasse, seria por
causa da morte
de alguns na
batalha, evidenciando assim um
serviço militar não
bem projetado; logo,
deveria anunciar a
morte de Urias, pois
ela seria uma
notícia de alívio
para o rei,
no plano de
encobrir todos os seus pecados.
Davi
estava com sua
consciência morta, apesar
dos dois pecados cometidos, adultério
e homicídio. Ele
considerou normal tudo o que aconteceu, inclusive
outras mortes inocentes
(2 Sm 11.17).
O que ele planejou
para escapar dos
seus pecados foi
feito. Parecia até
que as coisas iriam
ocorrer bem, mas no
texto de 2
Samuel 11.27 é
dito que o
que Davi fez foi
mau diante dos
olhos do Senhor.
Para Deus, Davi
procedeu como um louco,
um pecador desenfreado,
portanto, não ficaria
isento da ira
divina. Senão fosse
pela onisciência divina,
a morte de
Urias passaria simplesmente como sendo
culpa dele mesmo.
Ele avançou demais
com os outros
homens,não obedecendo às ordens de Joabe, o comandante de Davi.
O
que Davi havia
feito em silêncio,
oculto, logo todo
o Israel tomaria conhecimento, pois Deus
iria agir, o que
prova claramente que para Deus
não importa se a
pessoa é rei,
se tem grande
capacidade, se travou
grandes batalhas. Na verdade,
o que Ele
deseja é que
os que fazem
a sua obra
vivam segundo a sua Palavra, andem em verdade e em santidade.
Davi
e seu Comandante
Esse
comandante de Davi,
que não valorizava
a vida humana
(2 Sm 3.27);vai
atender a solicitação
do seu soberano,
pois logo viu
que poderia tirar vantagens desse
assunto todo. Joabe
olhava para o
rei Davi como
um grande rei, um
homem de comunhão
com Deus, mas,
agora, frente ao seu pedido,entendia que
alguma coisa estava
errada. Davi estava
dando a Joabe
um trabalho sujo, o
de tirar a
vida de um
soldado bom e
inocente, porém ficaria um questionamento na
mente desse comandante: Por
que o rei quer matar
um homem tão bom?
Procedendo dessa maneira,
o rei estava
abrindo as portas para
que ficasse vulnerável
a qualquer coisa,
inclusive uma blasfêmia
de Joabe.
Sempre
é bom o
servo de Deus
procurar proceder corretamente
para não contribuir para
que outros blasfemem
sua fé, sua
comunhão com Deus.
Todo o procedimento pecaminoso
de Davi deixou
marcas indeléveis nele,
no seu caráter e
em outras pessoas
que se inspiravam
nele. Teve ainda
que pagar com sérias
consequências, as quais iriam lhe perseguir por toda a vida.
O Governo divino em mãos humana
- Osiel Gomes

II SAMUEL II.
Provavelmente a atual
‘Alma, cerca de 56 quilômetros a leste do mar da Galiléia.
1 O resultado dessa
batalha foi tão significativo que Davi comandou pessoalmente o exército, com
uma vitória retumbante contra os carros e a cavalaria inimigos, a ponto de
ferir mortalmente seu comandante. Não apenas os arameus, mas também todos os
seus aliados sujeitaram-se a Davi. Isso significava que as tribos israelitas consolidadas
tinham subjugado os poderosos estados arameus a leste e ao norte, garantindo o
controle das principais rotas comerciais que ligavam o Egito e a Arábia com a
Síria e outras regiões. Como resultado, Israel obteve domínio político e
vantagens econômicas, ao mesmo tempo em que privava Amom de aliados militares.
Os amonitas, que haviam ficado observando os desdobramentos à distância,tiveram
oportunidade de recuperar seu poder.
ii. O adultério de Davi (11.1-27).
1. Durante o clima
impiedosos meses de inverno, as hostilidades geralmente cessavam, sendo retomadas
“na primavera seguinte” (BLH), quando as viagens tornavam-se suportáveis.
Talvez Davi tivesse enviado seus emissários para transmitir suas condolências a
Hanum.2Joabe liderou o total das forças israelitas contra Rabá, tendo derrotado
os amonitas no campo. Porém Davi ficou em Jerusalém é a circunstância
primordial, antecipando o que segue, incluindo o resultado final da guerra (2
Sm 12.26-31). Enquanto outros se destacavam e arriscavam suas vidas, ele
estava “matando o tempo” , agindo como um dos reis das nações vizinhas e exercendo
uma espécie de droit du seigneur?
1. O nome “ Helã”
possivelmente ocorre numa inscrição egípcia de cerca de 1800 a.C., reproduzida
em IBD 2, p. 633, mas não se conhece nenhuma outra menção desse nome.
2. Fokkelman 1981, p.
50-51, destaca que, retirando-se um ’ãlep do TM, geralmente tem-se lido aqui a
palavra “ reis” , ao passo que, mantendo-se o texto consonantal e lendo-se
“mensageiros”, a passagem faz melhor sentido: “E aconteceu com a vinda (lit.,
‘volta’) do ano novo, ao (mesmo) tempo em que os enviados (isto é, diplomatas,
conselheiros) tinham partido, que Davi enviou Joabe etc. ” (p. 50).
3. O pretenso direito
do senhor feudal de ter relações sexuais com a noiva de um vassalo na noite de
núpcias desta. 261
II
SAMUEL 11.2-4
Esse
incidente está intimamente ligado ao relato da guerra amonita. No passado,
costumava-se dizer que o autor inseriu com muita habilidade o caso de Bate-Seba
nos relatos da guerra amonita;contudo, mais recentemente, uma abordagem
literária do texto estimulou uma reavaliação das pressuposições quanto à
história do texto. É verdade que o incidente envolvendo Bate-Seba é omitido
totalmente do relato paralelo de Crônicas, mas uma omissão ali não é prova de
um acréscimo aqui. De fato, longe de ser um acréscimo, poderia até ser o motivo
da inclusão dessas guerras específicas e da narração com tantos detalhes. O
escritor bíblico está interessado no caráter do homem que Deus escolheu para
dar origem à dinastia em Jerusalém e com amaneira como Deus lidou com ele, mais
do que com suas esplêndidas conquistas militares ou com sua riqueza.
2-4. O relato do que aconteceu é breve e objetivo.
O rei faz sua sesta da tarde, seguida de uma “caminhada” pelo terraço, o que
necessariamente requer andar de um lado para o outro, sem ir a lugar nenhum,
um sentido transmitido pela forma verbal do hebraico.
1 A partir desse ponto de
observação, localizado acima das residências de seus cidadãos (observe a dupla
menção do terraço; IBB, ARC, BJ), o rei tem controle de tudo o que contempla.
Nessa ocasião, ele vê uma mulher, e ela é mui formosa; o hebraico acrescenta
uma expressão idiomática:“ de se ver” . O vislumbre transforma-se em olhar
fixo. Algumas indagações identificam sua família e seu marido. Ignorando o
fato de que ela é mulher de um elemento que serve em suas tropas, e consciente apenas
de seu próprio desejo (que ele ainda não identifica como concupiscência), Davi
despreza os sentimentos pessoais dela e manda mensageiros para apanhá-la. A
pura verdade é apresentada, incluindo o detalhe de que ela não estava grávida
quando foi até Davi. De fato, ela havia se purificado quando ele a tomou:
“Defronte do homem que está obcecado por uma paixão cega está Bate-Seba, e,
como contraste, sua pureza recebe significado simbólico” .
21. O hithpa e/, em
que um dos sentidos é o de expressar uma ação feita por vontade própria, por
interesse próprio (E. Kautzsch, Gesenius ’ Hebrew Grammar [Oxford University
Press, TI, 21910], seção 54, 3c, p. 150).2. Fokkelman 1981, p. 52-53. Esta
narrativa está repleta de insinuações sutis que o enfoque de Fokkelman destaca,
do qual faço uso nesta seção. 262
II
SAMUEL 11.9-11 5.
A mulher
concebeu', segundo o ponto de vista do narrador, que tem em mente Davi o tempo
todo, Bate-Seba não é citada pelo nome.Para Davi, ela fora apenas “ a mulher”,
em vez de uma pessoa; além disso, não se menciona em momento algum a agonia da
incerteza que ela passou, principalmente porque estava envolvido um filho do
rei.Agora, era a vez de Davi ficar perturbado. 6-8. Para Davi, uma dissimulação
parece ser o caminho óbvio, de modo que ele manda chamar Urias, o hetew, o
leitor observa que ele não é membro da comunidade da aliança de Israel. Que
espécie de pessoa irá se revelar? Ele é recebido na corte, perguntam-lhe sobre
o bem-estar (salôm) de Joabe e a respeito do exército e da guerra; contudo,como
observa Fokkelman, “ a resposta de Urias não é incluída na narrativa — uma
omissão importante, simbolizando que Davi simplesmente o deixa falar, sem
prestar nenhuma atenção ao relato que ele apresenta” .
1 Como contraste, o narrador emprega o discurso
direto para aquilo que realmente interessa a Davi (v. 8). Um presente
real destina-se a incentivar Urias a se considerar especialmente favorecido e,
então, descontrair-se e aproveitar a oportunidade para ir para casa e ficar com
a esposa.
9-11. Porém Urias se deitou à porta da casa real...
e não desceu para sua casa, decidindo, em lugar disso, permanecer com todos os servos
do seu senhor. Por três vezes destaca-se que Urias não foi para casa, pois, a
despeito do que o rei dissera, ele sabia qual era seu dever,o qual não incluía
licença. Davi esperava que Urias demonstrasse ser como ele; ao contrário,
porém, ele se revelou um homem de integridade, cuja lealdade era antes de mais
nada para com os interesses do rei e não para com sua própria satisfação.
Arriscando-se a levantar suspeita em Urias, Davi pergunta por que ele não
tinha ido para casa, e ele responde: A arca, Israel e Judá ficam em tendas...
Surpreendentemente, antes de qualquer outra coisa, esse heteu menciona o
símbolo da aliança como tendo influenciado seu comportamento. Ele também tem
consciência de sua solidariedade com os soldados na frente de batalha, sobre os
quais não deseja levar vantagem. Essas duas considerações aplicavam-se ainda
mais ao rei, que tinha a responsabilidade final pela guerra e dera tanta ênfase
à lealdade da aliança; agora,porém, um estrangeiro está lhe mostrando que ele é
de uma negligência desprezível.
12-13. Davi permanece demasiadamente ocupado com
seu problema para se preocupar com as questões morais. Ele tem mais um estratagema
em mente: irá divertir Urias, e existe uma boa chance deque, quando Urias tiver
se banqueteado e bebido à mesa do rei, seu firme propósito enfraqueça e ele vá
para casa ter relações com sua mulher. Mas não; outra vez ele passa a noite com
os servos de seu senhor, ainda fiel a seu soberano ( ’ãdôn) e a seu sublime
propósito. O preço de tal lealdade demonstrará ser muito alto: ele insiste no
que écerto e perde a vida.
14-17. Davi escreveu uma carta a Joabe e fez Urias
levar sua própria sentença de morte. Tudo era parte da tentativa de Davi de se proteger
da revelação da verdade; no entanto, ironicamente, o incidente tomou-se um dos
mais conhecidos nas Escrituras. Cita-se apenas a informação essencial da carta:
Davi passa para as mãos de Joabe o assassinato de um homem inocente. Isso
coloca Joabe na posição nada invejável de conflito entre a lealdade ao rei e a
lealdade à sua própria consciência. Mesmo sua competência profissional como
general é colocada em risco pela necessidade de ir contra seu próprio
julgamento devido ao que o rei ordena. No incidente, houve considerável perda
devidas, incluindo alguns do povo, dos servos de Davi, e Urias.
18-21. O mensageiro enviado até o rei leva um
registro oral docombate, e o cumprimento de sua tarefa é registrado nos
versículos 2224, mas “as preocupações de Joabe acerca do relato (vv. 19-21)
recebem muito mais atenção, chegando até a ocupar lugar central” .
1Fundamental
para seu argumento era algo que o mensageiro não precisava dizer, mas que
Joabe considerava de grande importância: Quemferiu a Abimeleque, filho de
Jerubesete? A referência é a Juizes 9.5057, segundo o qual, no cerco de Tebes,
Abimeleque chegou tão perto
1. Fokkelman 1981, p. 61, onde um a apresentação em
forma de diagrama dos versículos de 14 a 25 mostra o hábil emprego de uma
estrutura quiástica, um padrão concêntrico. 264
I-e-II-Samuel- Serie
- Joyce-G-Baldwin

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