segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

LIÇÃO 10- O pecado do homem segundo coração de Deus





I. SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

O Homem segundo o Coração de Deus Saul,  por  não  obedecer  à  Palavra  do  Senhor,  é  deixado  de  lado  e  então Deus  escolhe  Davi,  o  qual  é  declarado  em  1  Samuel  13.14  como  um  homem segundo  o  coração  de  Deus.  Entendemos  que  o  homem  que  assumirá  o  lugar do  rei  Saul  é  descrito  como  aquele  que  iria  agradar  ao  Senhor.  Seria  superior ao rei que estava saindo porque seu coração estaria nas mãos de Deus.

É  dito  em  1  Samuel  16.7  que  Deus  olha  para  o  coração,  ou  seja,  Ele conhece  o  que  realmente  se  passa  no  íntimo  de  cada  um  de  nós.  Enquanto  os seres  humanos  contemplam  apenas  a  exterioridade,  a  casca  humana,  o  olhar divino perscruta o recôndito  da alma humana (1  Cr 28.9; Is  55.8; 2 Co 10.7;  1Rs  8.39;  Jr  11.20;  17.10;  At  1.24).  O  que  foi  supracitado  na  verdade  revela um  dos  aspectos  dos  atributos  divinos,  a  onisciência,  que,  teologicamente,mostra  que  Deus  conhece  tudo.  Para  Ele  não  existe  oculto,  segredo,  surpresa.Ele simplesmente sabe de todas as coisas.

Ao falar  que Davi  seria o homem  segundo o  coração de  Deus, na  verdade é porque  o  Senhor  tinha  conhecimento  do  que  estava    no  seu  íntimo,  no  seu coração,  suas  qualidades  espirituais,  as  quais  eram  melhores  que  as  de  Saul.

No  tocante  à  expressão  “homem  segundo  o  coração  de  Deus”,  isso  não  quer dizer  que  Davi  fosse  perfeito,  um  humano  sem  defeitos,  mas  somente  que  ele faria  cinco  coisas:  (1)  procuraria  cumprir  com  a  Palavra  do  Senhor;  (2)  iria cumprir  bem  o  papel  de  um  rei  de  Israel,  fazendo  a  vontade  divina;  (3)  iria proceder  conforme  as  normas  divinas,  procurando  conduzir  Israel  ao verdadeiro  culto  e  adoração  ao  Senhor;  (4)  seu  trabalho  seria  segundo  as normas  divinas,  ainda  que  houvesse  falhas  particulares  em  sua  vida;  e  (5)ainda  que  houvesse  fracasso  em  sua  vida,  seria  um  exemplo  para  os  demais reis, na questão de procurar sempre proceder conforme o querer de Deus.

O Davi Escolhido, mas Humano

Não  se  pode  negar  o  homem  extraordinário  que  foi  Davi.  Alguns  teólogos e  biblistas  afirmam  que  possivelmente  não  existe  na  Bíblia  um  homem  tão honrado  por  Deus  como  ele.  Por  meio  de  Davi  é  que  o  padrão  para  se mensurar  outros reis  ficou  estabelecido.  Por  meio dele  é  que  a  nação recebe  a instrução de como cultuar e adorar a Deus verdadeiramente.Os  que  se  voltam  para  os  salmos  literários  de  Davi  sentem  alegria,  alívio,gozo.  Ademais,  ele  foi  um  grande  guerreiro,  um  líder  singular.  Assim,  pode-se perguntar por  que Davi se  tornou esse  homem tão estimado nas  Escrituras?Responder  a  essa  pergunta  não  é  difícil,  pois  as  páginas  de  sua  história revelam  os  aspectos  positivos  que  marcaram  sua  vida:  (1)  manifestava  um amor  sincero  para  com  Deus;  (2)  valorizava  a  obra  de  Deus;  (3)  confiava  em Deus  e  não  se  deixava  levar  pelo  povo  ou  pelas  circunstâncias;  (4)  postou-se sempre  como  servo,  ainda  que  fosse  rei;  (5)  esperou  sempre  em  Deus  e  não criou  nenhuma  campanha para  tomar  o  trono  de  Saul;  deixava  a vingança  nas mãos  de  Deus;  e  (6)  Quando  repreendido,  confessava  suas  culpas  e  aceitava as  penalidades  divinas.  Embora  fosse  o  homem  segundo  o  coração  de  Deus,Davi  era  humano.  Por ser  humano,  tinha  falhas.  Era positivo  em  muitas  áreas da  vida,  mas,  em  outras,  fracassava.  Todavia,  em  momento  algum  vemos Davi  se  rebelando  contra  Deus,  agindo  presunçosamente,  como  Saul.  Por mais que  sejamos  perfeitos  em certas  áreas  da  vida, não  o  somos  no  todo, por isso  é  que  Paulo  escreveu  que  nossa  completude  espiritual  ainda  se  dará  no futuro;  enquanto  isso,  devemos  prosseguir  na  nossa  peregrinação  espiritual,progredindo cada vez mais (Fp 3.13; Pv 4.18).Todo  cristão  deve  ser  consciente  de  que,  por  mais  que  um  pastor  ou  líder seja  sincero,  santo,  justo,  bondoso,  em  algumas  áreas  de  sua  vida  espiritual ele  pode,  por  vezes,  falhar  em  outras,  pois  é  um  santo  revestido  do  que  é humano.  Aliás,  o  próprio  salmista  diz  que  Deus  reconhece  que  somos    (Sl103.14).  Saber  isso  é  importante  para  que  não  façamos  injustiça  para  com  os que falham nesta vida.

II. O AMBIENTE EM QUE DAVI PECOU

Criando um Ambiente Propício ao Pecado
 Os capítulos  anteriores destacaram o  Davi triunfante,  em constante  batalha,que  lutava  incansavelmente  para  estabilizar  seu  reinado.  Isso  ele  fez participando  de  oito  guerras,  ao  longo,  aproximadamente,  de  vinte  anos,  mas agora  ele  será  descrito  como  o  Davi  humano  que  peca,  que  se  desvia  dos caminhos  do  Senhor,  como  o  que  desceu  até  o  pó,  por  andar  por  caminhos tortuosos.

A  expressão  “decorrido um  ano”  é  uma  referência  direta  a  1  Samuel 10.14.Já  havia  se  passado  o  período  chuvoso,  então  Davi  manda  que  Joabe  se lance à  batalha  contra  Hadadezer  com  o  propósito  de  que  ele  não  juntasse  forças  e se  fortalecesse.  A  finalidade  dessa  guerra  era  restabelecer  o  controle  da capital,  Rabá,  que  era  a  capital  dos  filhos  de  Amom, chamada  hoje  em  dia  de Amã, localizada a 35 quilômetros do rio Jordão.O  texto  ressalta  que  Davi  ficou  em  Jerusalém.  É  bem  verdade  que  bom seria  se  ele  tivesse  ido,  pois  a  ociosidade  vai  abrindo  caminhos  para  diversas tentações.  Do  seu  palácio,  que  ficava  em  uma  colina,  Davi  podia  enxergar  o quintal  de  outras  pessoas  e  contemplou  Bate-Seba,  mulher  de  Urias,banhando-se  ao  ar  livre.  Por  meio  da  expressão  “passeava”,  possivelmente  às três  horas  da  tarde,  ele  tenha  ido  fazer  uma  caminhada,  um  relaxamento,  ou tirar  uma  sesta,  conforme  o  costume  daquele  tempo,  e,  de  modo  inesperado,contemplou  uma  bela  mulher,  atraente,  tomando  banho.  Ele  não  conseguiu vencer a tentação e pecou.

Que fique claro, passear, fazer  exercício físico, um relaxamento, nada disso é  pecado,  pois  o  próprio  Jesus  passeava  (Jo  10.23);  a  questão  é  quando  a cobiça  ou  a  concupiscência  se  torna  descontrolável,  a  ponto  de  a  pessoa fazer de  tudo  para  que  o  seu  desejo  seja  realizado,  usando  dessas  circunstâncias para  desagradar  ao  Senhor.  Em  tudo  o  que  se  descreve  nos  primeiros versículos  do  capítulo  11,  entende-se  claramente  que  Davi  procurou  preparar o ambiente para o pecado. Isso podemos analisar da seguinte maneira:

  Enquanto  alguns  estavam  arriscando  a  vida  na  batalha,  Davi  passeava no palácio.    falamos  que  ele  fazia sua  sesta, mas  o seu  passear  para  um lado e outro não o levava a lugar algum.

  Contemplando  tudo.  De  onde  estava,  Davi  podia  contemplar  tudo,  mas vale  dizer que  contemplar  não  era pecado,  mas  não  manter controle  sobre o que se vê, sim. Observe que Davi contempla uma linda mulher tomando banho;  começou  com  um  vislumbre,  que  logo  se  tornou  um  olhar  fixo,impuro  e,  conforme  falou  Jesus,  os  que  procedessem  assim    teriam cometido adultério (Mt 5.28)

.• Davi procura se informar sobre  a mulher, o que revela seu  grande desejo pecaminoso.  Através  de  suas  indagações,  ele  toma  conhecimento  da família  e  do  marido  da  mulher:  ela  era  esposa  de  um  de  seus  soldados,Urias,  o  qual  se  destacava  como  grande  soldado,  sendo  um  dos  mais corajosos,  estava  incluso  na  lista  dos  valentes  (2  Sm  23.39)  e  era  fiel  ao rei.  Ele  era  heteu;  todavia,  aceitou  a  religião  de  Davi,  o  que  pode  ser provado pelo seu nome, Luz de Javé.

  Agindo  como  rei  ímpio.  Ao  mandar  buscar  Bate-Seba  para  a  tomar  para si,  Davi  estava  procedendo  como  um  rei  oriental  ímpio,  que  poderia mandar  buscar  a  mulher  que  o  agradasse  para  a  possuir,  mas  isso  jamais deveria fazer  aquele  que  tivesse  conhecimento da  lei  de  Deus. Davi  passa por  cima  de  tudo,  mesmo  tendo  conhecimento  de  que  a  mulher  era casada. Ele não  queria saber.  Antes, seu objetivo  era satisfazer seu  apetite carnal agora desenfreado.

Todos  esses  pontos  deixam  claro  que  Davi  criou  um  ambiente  para  o pecado,  pois  não  foi  cuidadoso  no  seu  dever.  Ele  também  deveria  estar  na guerra,  mas,  em  seu  ócio,  deixou-se  dominar  pelo  que  viu,  tendo  um  olhar descontrolado,  não  procedendo  como    (31.1),  nem  atentando  para  a Palavra,  que  alerta  para  orarmos  a  fim  de  que  o  Senhor  nos  livre  de contemplar  coisas  vaidosas  (Sl  139.37).  Davi  vai  trilhar  o  caminho  do pecado,  da  derrota,  porque  vai  desejar  o  que  viu,  vai  indagar  acerca  do  que viu.  Pareciam coisas  simples,  fáceis,  controláveis,  mas elas  se  tornaram  fatais para  esse  rei.  O  pecado  sempre  parece  vantajoso,  inocente,  sem  complicação,mas  é  bom  lembrar  que  sua  prática  pode  deflagrar  uma  queda  tão  grande  que pode até ser difícil se levantar outra vez, quando não impossível.

III. O ADULTÉRIO E O HOMICÍDIO DE DAVI

Pecado Gera Pecado Como  diz  o  salmista,  pecado  gera  pecado,  um  abismo  chama  outro  abismo(Sl  42.7).  Depois  que  se  deita  com  Bate-Seba,  Davi  trilha  os  mais  baixos caminhos do pecado, que o conduzirão à hipocrisia, mentira, ingratidão.

É  sempre  bom  lembrar  que  um  pecado  leva  a  outro.  Logo  que  toma conhecimento  de  que  a  mulher  engravidou,  Davi  começa  a  fazer  de  tudo para encobrir seu pecado. A primeira coisa que  faz é chamar Urias, com o pretexto de  saber  da  campanha  militar  que  estava  sendo  desenvolvida.  O  propósito dele,  porém,  era  para  que  Urias  fosse  dormir  com  sua  mulher,  para  que ficasse  claro  que  a  gravidez  de  Bate-Seba  era  de  seu  próprio  marido,  o  que não  aconteceu,  pois  Urias  ficou  na  porta  da  casa  real  como  escudeiro  fiel  ao rei.

Para  vergonha  de  Davi  e  também  prova  de  que  sua  consciência  estava morta,  ao  perguntar  para  Urias  por  que  não  havia  ido  dormir em  sua  casa,  ele prontamente  respondeu  que  não  poderia  gozar  dos  prazeres  do  lar,  do  afago da  família  naquele momento,  enquanto  seus  amigos  soldados  e  companheiros de  batalhas  sofriam  as  mais  duras  lutas.  Afinal,  ele  havia  feito  um  juramento no sentido de que lutaria pela vida do rei e de sua alma.

Ainda  tentando  encobrir  seu  pecado,  Davi  vai  praticar  outro  ato  baixo contra  Urias,  procurando  agora  levá-lo  à  embriaguez.  Dessa  maneira  tiraria sua capacidade racional  e o faria  deitar com sua mulher,  o que não  aconteceu,pois  Urias se  recusou  a  ir  para  casa.  Era triste  e  vergonhoso  olhar  para  um  rei como  Davi,  que  fora  escolhido  para  praticar  a  justiça,  defender  os  indefesos,ser  santo  e  sincero,  proceder  dessa  forma,  tendo  moral  tão  baixa.  Certos biblistas  afirmam  que  o  registro  desse  ato  vergonhoso  e  pecaminoso  de  Davi seria  para  mostrar  que  qualquer  homem  de  Deus  pode  pecar;  assim,  fica  um exemplo a não ser praticado e um alerta (1 Co 10.11,12).

No  mais,  o  registro  desse  pecado  imoral  de  Davi  mostra  que  a  Bíblia  não esconde  pecado  de  ninguém,  nem  do  homem  segundo  o  coração  de  Deus,  o que  prova  sua  veracidade,  mas  é  fato  comprovado  que  o  mais  grave  pecado,quando  seguido  de  verdadeiro  arrependimento,  confissão,  pode  receber  o perdão da parte de Deus (Sl 51).

Como  servos  de  Deus  que  somos,  devemos  sempre  lembrar  que  o  inimigo de  nossa  vida  busca  a  todo  momento  nos  tragar  (1  Pe  5.8).  Desse  modo,  não devemos  confiar  nas  vitórias  conquistadas  no  passado,  na  posição  que  temos,pois  somos  sujeitos  a  pecado.  Importante  é  confiar  em  Deus  e  fugir  daquilo que  pode nos  derrotar.  O  procedimento de  José  quando  assediado  pela esposa de  Potifar  foi  fugir,  pois  ele  tinha  consciência  de  que,  caso  cometesse  o pecado,  estaria  ferindo  o  seu  senhor  como  a  Deus  (Gn  39.15).  Paulo  alertou Timóteo  a  fugir  das  paixões  da  mocidade,  que  envolvem  várias  coisas  (2  Tm2.22).  Assim,  o  servo  de  Cristo  deve  fugir  de  tudo  aquilo  que  compromete  e interrompe sua comunhão com Deus.

O Homicídio de Davi

Nos  versículos  14-26,  tem-se  o  grande  desfecho  maléfico  do  pecado  de Davi,  ou  seja,  o  seu  auge.  Ele    ordem  ao  próprio  Urias  para  que  fosse  até Joabe  com  uma  carta  e,  sem  que  soubesse,  ela  continha  sua  sentença  de morte. O  rei  pediu a  Joabe que  observasse  o ponto  mais perigoso  da  batalha e ali  colocasse  Urias.  Assim  iria  morrer  um  grande  soldado,  tudo  por  causa  de um  mero  prazer,  um  pecado  escondido.  Urias  morre  simplesmente  por  causada  luxúria  de  Davi.  Joabe  diz  que  quem  fosse  levar  a  notícia  ao  rei,  se  ele manifestasse,  seria  por  causa  da  morte  de  alguns  na  batalha,  evidenciando assim  um  serviço  militar  não  bem  projetado;  logo,  deveria  anunciar  a  morte de  Urias,  pois  ela  seria  uma  notícia  de  alívio  para  o  rei,  no  plano  de  encobrir todos os seus pecados.

Davi  estava  com  sua  consciência  morta,  apesar  dos  dois  pecados cometidos,  adultério  e  homicídio.  Ele  considerou  normal  tudo  o  que aconteceu,  inclusive  outras  mortes  inocentes  (2  Sm  11.17).  O  que  ele planejou  para  escapar  dos  seus  pecados  foi  feito.  Parecia  até  que  as  coisas iriam  ocorrer  bem, mas  no  texto  de  2  Samuel  11.27  é  dito  que  o  que  Davi  fez foi  mau  diante  dos  olhos  do  Senhor.  Para  Deus,  Davi  procedeu  como  um louco,  um  pecador  desenfreado,  portanto,  não  ficaria  isento  da  ira  divina.  Senão  fosse  pela  onisciência  divina,  a  morte  de  Urias  passaria  simplesmente como  sendo  culpa  dele  mesmo.  Ele  avançou  demais  com  os  outros  homens,não obedecendo às ordens de Joabe, o comandante de Davi.

O  que  Davi  havia  feito  em  silêncio,  oculto,  logo  todo  o  Israel  tomaria conhecimento, pois  Deus  iria agir,  o  que  prova claramente  que  para Deus  não importa  se  a  pessoa  é  rei,  se  tem  grande  capacidade,  se  travou  grandes batalhas.  Na  verdade,  o  que  Ele  deseja  é  que  os  que  fazem  a  sua  obra  vivam segundo a sua Palavra, andem em verdade e em santidade.
Davi e seu Comandante

Esse  comandante  de  Davi,  que  não  valorizava  a  vida  humana  (2  Sm  3.27);vai  atender  a  solicitação  do  seu  soberano,  pois  logo  viu  que  poderia  tirar vantagens  desse  assunto  todo.  Joabe  olhava  para  o  rei  Davi  como  um  grande rei,  um  homem  de  comunhão  com  Deus,  mas,  agora,  frente  ao  seu  pedido,entendia  que  alguma  coisa  estava  errada.  Davi  estava  dando  a  Joabe  um trabalho  sujo,  o  de  tirar  a  vida  de  um  soldado  bom  e  inocente,  porém  ficaria um questionamento  na  mente desse  comandante:  Por  que o  rei  quer matar  um homem  tão  bom?  Procedendo  dessa  maneira,  o  rei  estava  abrindo  as  portas para  que  ficasse  vulnerável  a  qualquer  coisa,  inclusive  uma  blasfêmia  de Joabe.

Sempre  é  bom  o  servo  de  Deus  procurar  proceder  corretamente  para  não contribuir  para  que  outros  blasfemem  sua  fé,  sua  comunhão  com  Deus.  Todo o  procedimento  pecaminoso  de  Davi  deixou  marcas  indeléveis  nele,  no  seu caráter  e  em  outras  pessoas  que  se  inspiravam  nele.  Teve  ainda  que  pagar com sérias consequências, as quais iriam lhe perseguir por toda a vida.

                                                                  O Governo divino em mãos humana 
                                                                         - Osiel Gomes


                                      Lições Bíblicas CPAD - Lição 10 - 4º Trimestre de 2019



II SAMUEL II.

Provavelmente a atual ‘Alma, cerca de 56 quilômetros a leste do mar da Galiléia.
1 O resultado dessa batalha foi tão significativo que Davi comandou pessoalmente o exército, com uma vitória retumbante con­tra os carros e a cavalaria inimigos, a ponto de ferir mortalmente seu comandante. Não apenas os arameus, mas também todos os seus aliados sujeitaram-se a Davi. Isso significava que as tribos israelitas consolidadas tinham subjugado os poderosos estados arameus a leste e ao norte, garantindo o controle das principais rotas comerciais que li­gavam o Egito e a Arábia com a Síria e outras regiões. Como resul­tado, Israel obteve domínio político e vantagens econômicas, ao mesmo tempo em que privava Amom de aliados militares. Os amonitas, que haviam ficado observando os desdobramentos à distância,tiveram oportunidade de recuperar seu poder.

ii. O adultério de Davi (11.1-27).

1. Durante o clima impiedosos meses de inverno, as hostilidades geralmente cessavam, sendo re­tomadas “na primavera seguinte” (BLH), quando as viagens tornavam-se suportáveis. Talvez Davi tivesse enviado seus emissários para transmitir suas condolências a Hanum.2Joabe liderou o total das forças israelitas contra Rabá, tendo derrotado os amonitas no campo. Porém Davi ficou em Jerusalém é a circunstância primordial, antecipando o que segue, incluindo o resultado final da guerra (2 Sm 12.26-31). En­quanto outros se destacavam e arriscavam suas vidas, ele estava “matando o tempo” , agindo como um dos reis das nações vizinhas e exercendo uma espécie de droit du seigneur?
1. O nome “ Helã” possivelmente ocorre numa inscrição egípcia de cerca de 1800 a.C., reproduzida em IBD 2, p. 633, mas não se conhece nenhuma outra menção desse nome.
2. Fokkelman 1981, p. 50-51, destaca que, retirando-se um ’ãlep do TM, geralmente tem-se lido aqui a palavra “ reis” , ao passo que, mantendo-se o texto consonantal e lendo-se “mensageiros”, a passagem faz melhor sentido: “E aconteceu com a vinda (lit., ‘volta’) do ano novo, ao (mesmo) tempo em que os enviados (isto é, diplomatas, conselheiros) tinham partido, que Davi enviou Joabe etc. ” (p. 50).
3. O pretenso direito do senhor feudal de ter relações sexuais com a noiva de um vassalo na noite de núpcias desta. 261

II SAMUEL 11.2-4

 Esse incidente está intimamente ligado ao relato da guerra amonita. No passado, costumava-se dizer que o autor inseriu com muita habilidade o caso de Bate-Seba nos relatos da guerra amonita;contudo, mais recentemente, uma abordagem literária do texto estimu­lou uma reavaliação das pressuposições quanto à história do texto. É verdade que o incidente envolvendo Bate-Seba é omitido totalmente do relato paralelo de Crônicas, mas uma omissão ali não é prova de um acréscimo aqui. De fato, longe de ser um acréscimo, poderia até ser o motivo da inclusão dessas guerras específicas e da narração com tantos detalhes. O escritor bíblico está interessado no caráter do homem que Deus escolheu para dar origem à dinastia em Jerusalém e com amaneira como Deus lidou com ele, mais do que com suas esplêndidas conquistas militares ou com sua riqueza.

2-4. O relato do que aconteceu é breve e objetivo. O rei faz sua sesta da tarde, seguida de uma “caminhada” pelo terraço, o que neces­sariamente requer andar de um lado para o outro, sem ir a lugar ne­nhum, um sentido transmitido pela forma verbal do hebraico.
1 A partir desse ponto de observação, localizado acima das residências de seus cidadãos (observe a dupla menção do terraço; IBB, ARC, BJ), o rei tem controle de tudo o que contempla. Nessa ocasião, ele vê uma mulher, e ela é mui formosa; o hebraico acrescenta uma expressão idiomática:“ de se ver” . O vislumbre transforma-se em olhar fixo. Algumas inda­gações identificam sua família e seu marido. Ignorando o fato de que ela é mulher de um elemento que serve em suas tropas, e consciente apenas de seu próprio desejo (que ele ainda não identifica como con­cupiscência), Davi despreza os sentimentos pessoais dela e manda mensageiros para apanhá-la. A pura verdade é apresentada, incluindo o detalhe de que ela não estava grávida quando foi até Davi. De fato, ela havia se purificado quando ele a tomou: “Defronte do homem que está obcecado por uma paixão cega está Bate-Seba, e, como contraste, sua pureza recebe significado simbólico” .
21. O hithpa e/, em que um dos sentidos é o de expressar uma ação feita por vontade própria, por interesse próprio (E. Kautzsch, Gesenius ’ Hebrew Grammar [Oxford University Press, TI, 21910], seção 54, 3c, p. 150).2. Fokkelman 1981, p. 52-53. Esta narrativa está repleta de insinuações sutis que o enfoque de Fokkelman destaca, do qual faço uso nesta seção. 262

II SAMUEL 11.9-11 5.

 A mulher concebeu', segundo o ponto de vista do narrador, que tem em mente Davi o tempo todo, Bate-Seba não é citada pelo nome.Para Davi, ela fora apenas “ a mulher”, em vez de uma pessoa; além disso, não se menciona em momento algum a agonia da incerteza que ela passou, principalmente porque estava envolvido um filho do rei.Agora, era a vez de Davi ficar perturbado. 6-8. Para Davi, uma dissimulação parece ser o caminho óbvio, de modo que ele manda chamar Urias, o hetew, o leitor observa que ele não é membro da comunidade da aliança de Israel. Que espécie de pes­soa irá se revelar? Ele é recebido na corte, perguntam-lhe sobre o bem-estar (salôm) de Joabe e a respeito do exército e da guerra; contudo,como observa Fokkelman, “ a resposta de Urias não é incluída na narrativa — uma omissão importante, simbolizando que Davi simples­mente o deixa falar, sem prestar nenhuma atenção ao relato que ele apresenta” .
1 Como contraste, o narrador emprega o discurso direto para aquilo que realmente interessa a Davi (v. 8). Um presente real destina-se a incentivar Urias a se considerar especialmente favorecido e, então, descontrair-se e aproveitar a oportunidade para ir para casa e ficar com a esposa.

9-11. Porém Urias se deitou à porta da casa real... e não desceu para sua casa, decidindo, em lugar disso, permanecer com todos os servos do seu senhor. Por três vezes destaca-se que Urias não foi para casa, pois, a despeito do que o rei dissera, ele sabia qual era seu dever,o qual não incluía licença. Davi esperava que Urias demonstrasse ser como ele; ao contrário, porém, ele se revelou um homem de integri­dade, cuja lealdade era antes de mais nada para com os interesses do rei e não para com sua própria satisfação. Arriscando-se a levantar sus­peita em Urias, Davi pergunta por que ele não tinha ido para casa, e ele responde: A arca, Israel e Judá ficam em tendas... Surpreendente­mente, antes de qualquer outra coisa, esse heteu menciona o símbolo da aliança como tendo influenciado seu comportamento. Ele também tem consciência de sua solidariedade com os soldados na frente de batalha, sobre os quais não deseja levar vantagem. Essas duas consi­derações aplicavam-se ainda mais ao rei, que tinha a responsabilidade final pela guerra e dera tanta ênfase à lealdade da aliança; agora,porém, um estrangeiro está lhe mostrando que ele é de uma negligên­cia desprezível.

12-13. Davi permanece demasiadamente ocupado com seu problema para se preocupar com as questões morais. Ele tem mais um estratagema em mente: irá divertir Urias, e existe uma boa chance deque, quando Urias tiver se banqueteado e bebido à mesa do rei, seu firme propósito enfraqueça e ele vá para casa ter relações com sua mulher. Mas não; outra vez ele passa a noite com os servos de seu se­nhor, ainda fiel a seu soberano ( ’ãdôn) e a seu sublime propósito. O preço de tal lealdade demonstrará ser muito alto: ele insiste no que écerto e perde a vida.

14-17. Davi escreveu uma carta a Joabe e fez Urias levar sua própria sentença de morte. Tudo era parte da tentativa de Davi de se proteger da revelação da verdade; no entanto, ironicamente, o inci­dente tomou-se um dos mais conhecidos nas Escrituras. Cita-se apenas a informação essencial da carta: Davi passa para as mãos de Joabe o assassinato de um homem inocente. Isso coloca Joabe na posição nada invejável de conflito entre a lealdade ao rei e a lealdade à sua própria consciência. Mesmo sua competência profissional como general é colocada em risco pela necessidade de ir contra seu próprio julgamento devido ao que o rei ordena. No incidente, houve considerável perda devidas, incluindo alguns do povo, dos servos de Davi, e Urias.

18-21. O mensageiro enviado até o rei leva um registro oral docombate, e o cumprimento de sua tarefa é registrado nos versículos 22­24, mas “as preocupações de Joabe acerca do relato (vv. 19-21) rece­bem muito mais atenção, chegando até a ocupar lugar central” .
1Fundamental para seu argumento era algo que o mensageiro não pre­cisava dizer, mas que Joabe considerava de grande importância: Quemferiu a Abimeleque, filho de Jerubesete? A referência é a Juizes 9.50­57, segundo o qual, no cerco de Tebes, Abimeleque chegou tão perto 
1. Fokkelman 1981, p. 61, onde um a apresentação em forma de diagrama dos versículos de 14 a 25 mostra o hábil emprego de uma estrutura quiástica, um padrão concêntrico. 264

I-e-II-Samuel- Serie
- Joyce-G-Baldwin




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