segunda-feira, 25 de novembro de 2019

LIÇÃO 9 - O REINADO DE DAVI





                    I.             CONSTITUIÇÃO DE DAVI COMO REI

Três Motivos para sua Escolha Pelo teor bíblico e histórico presente no livro de 2 Samuel, é bem óbvio que o autor destaca com precisão de detalhes a consolidação do reinado de Davi após a morte do rei Saul. Antes de pontuarmos a escolha de Davi como rei por parte do povo, vale dizer que muitas coisas aconteceram. Primeiramente, ele vai para Hebrom e tem uma liderança na parte sul de Judá (2 Sm 2.1-7).

Surge uma guerra civil da parte norte por meio de Abner, o qual queria fazer perdurar a linhagem de Saul e, assim, apoiava Is-Bosete. Abner entendeu, possivelmente por meio das profecias atinentes a Davi, que ele seria o homem que reinaria. No mais, ele não se afinava mais com Is-Bosete e por isso busca apoiar Davi como rei (2 Sm 3.17,18). Logo que deixa de apoiar Is-Bosete, Abner é assassinado (2 Sm 4). Assim se desfazia todo embaraço ao reinado de Davi, de maneira que toda a nação de Israel o busca para ser seu grande líder, o que aconteceu em Hebrom (2 Sm 5.11-14).

Quando Deus tem um plano na vida de um homem, tudo é conduzido na mais perfeita harmonia, sem que seja preciso truque, politicagem, negociatas, acordos ilegítimos. É triste dizer, mas as contendas e brigas no contexto eclesiástico surgem porque muitos querem chegar ao poder de qualquer maneira, sem que sejam escolhidos do Senhor, razão pela qual buscam meios ilegais para sua concretização. Davi chega ao poder com trinta anos de idade, tendo um reinado geral de quarenta anos, tudo porque as coisas aconteceram no tempo e no momento de Deus.

Os anciãos de Israel eram os representantes legais. Daí a expressão “Todo Israel”. Davi tinha o direito de reinar por ser do mesmo sangue e carne que eles, e isso deixava claro que quem iria assumir o reinado não seria um estrangeiro, conforme a própria profecia (Dt 17.15). Podemos então dizer que Davi foi escolhido para ser o grande rei de Israel por três razões: (1) era o escolhido e ungido do Senhor (1 Sm 16; 2 Sm 3.18); (2) era parente deles (Gn 29.14; Jz 9.2); e (3) era um grande soldado e líder (1 Sm 18.7; 21.11; 29.5).

Davi tinha todas as credenciais que o tornavam apto a assumir a liderança do povo de Deus e isso era comprovado por todos. Por vezes, queremos que alguém assuma determinada função simplesmente porque tem inteligência, por ser filho de fulano, beltrano, mas que não foi escolhido por Deus. É bom lembrar que merece o trono aquele que já tem histórico de vida, que o povo tenha conhecimento de algumas batalhas vencidas.

 Davi como Pastor e Chefe

 Antes de ser rei, Davi tinha sido ungido por Samuel. Antes de lutar contra Golias, ele já tinha travado lutas com animais ferozes e vencido por meio da fé em Deus. Antes de chegar ao trono, já fora provado e aprovado pelo povo como um grande guerreiro. Por isso, não foi à toa o que as mulheres cantavam ao seu respeito: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares” (1 Sm 18.7).

 Nos tempos dos reis de Israel, eles eram metaforicamente denominados pastores, pois tinham a missão de proteger, nutrir e lutar pela nação que governavam. No aspecto bíblico, lendo Salmos 78.71,72 e Ezequiel 34.23,24, pode-se compreender perfeitamente a missão de um pastor. A comissão que vai até Davi em Hebrom — a qual representava as tribos do norte, mas, é claro, outros guerreiros, multidões de Judá ali estavam também — afirma para Davi que, antes de ser rei, ele já era considerado chefe, pois entrava e saía com eles nas batalhas militares. No hebraico, a palavra “chefe” é nagid; fala de alguém que é líder, um capitão, um superintendente. Davi como líder sabia atrair as pessoas para perto de si, como também orientá-las. Podemos dizer que, se Davi fosse um homem sem simpatia, sem a capacidade de reunir pessoas, essa multidão jamais teria ido buscá-lo para reinar sobre a nação.

 Deus vai colocar Davi para ser o pastor do seu povo. Observe que pastor, do hebraico, é ra`há, e quer dizer “alimentar, cuidar, apascentar”. Davi não era apenas um chefe mandão, mas um líder amigo, companheiro, que se interessava pelo bem do povo, por isso todos queriam torná-lo rei. Líderes que apenas querem ser chefes, mandar no povo, exigir, cobrar, sem cuidar com verdadeiro amor e carinho, jamais terão o respeito que desejam.

Teologicamente, no aspecto de ser um pastor à frente do rebanho, devemos seguir o modelo de Pedro — ser pastor do rebanho de Deus não por constrangimento, do grego anagskastos, pela força, obrigatoriamente, mas voluntariamente, espontaneamente, do grego hekousios, ou seja, de acordo consigo mesmo, voluntariamente (1 Pe 5.2). Ele diz ainda que não deve ser como tendo domínio sobre ele, do grego katakurieou, colocar sob seu domínio, seu próprio querer, e não o de Cristo (1 Pe 5.3).

Todo obreiro deve ter sempre vivo em mente as palavras de Paulo: quem comprou o rebanho foi Deus com o sangue de seu próprio Filho e, assim, nós somos apenas supervisores, curadores, para verificarmos se as coisas estão sendo feitas como deveriam, e não para impor o nosso querer. Esse é o sentido da palavra bispo, que, do grego, é episkopos (At 20.28).

Precisamos entender que um chefe, na visão atual, é uma pessoa que manda, que deve ser temida, que só aponta erros; toda responsabilidade ele coloca sobre a equipe, se vangloria, comanda, impõe. Nesse aspecto, o pastor jamais pode tomar essa palavra para si, pois sua missão não é mandar, cobrar exigir, mas, sim, supervisionar. Enquanto que o chefe apenas manda, o líder motiva, inspira pessoas, valoriza habilidades, busca benefício para o seu grupo. Um verdadeiro pastor quer sempre o melhor para o rebanho que pastoreia. Isso está bem claro no Salmo 23.

Entrando em Aliança com o Povo

 Todo pastor deve ser consciente de que, sem aliança e apoio do povo, não tem como ter sucesso na liderança. Ainda que esboce as mais brilhantes virtudes, competência, habilidades diversas, sem acordo sincero nada avança. Está claro que Davi era um líder flexível. O texto diz que ele fez um acordo, ou seja, uma aliança, do hebraico berith, acordo, compromisso. É claro, teologicamente esse termo era aplicado para tratar do relacionamento da aliança firmada entre Deus e seu povo, como, por exemplo, no Sinai.

Estudiosos afirmam que se tratava de um contrato institucional, firmado em mútua confiança (1 Sm 10.25). Nessa aliança, a missão do novo rei era proceder conforme havia falado Moisés no tocante aos reis de Israel (Dt 17.14-20). Esse acordo foi firmado primeiramente porque todos tomaram consciência de que Davi era o homem certo para reinar. É interessante analisar que Davi foi ungido três vezes: a primeira por Samuel, outra por Judá (2 Sm 2.4) e a outra pelos anciãos de Israel (2 Sm 5.3).

 É claro que a unção de Samuel era algo divino, separando e capacitando com o poder do Espírito Santo para o desempenho da obra, ao passo que as duas unções mencionadas, realizadas por Judá e Israel, se tratavam de cerimônias religiosas, as quais denunciavam que ele poderia assumir o poder como rei.

 Um pastor pode fazer acordo com a igreja; o líder de uma convenção pode fazer acordo com o colegiado de pastores, mas que fique claro que tais acordos são para que tanto o líder como seus liderados procedam conforme a Palavra de Deus, e não para fins particulares.

 Na atualidade, faz-se necessário o pastor esclarecer aos seus membros, ao assumir uma igreja, que procederá conforme a Santa Palavra de Deus, o Estatuto e o Regimento Interno. Isso é bom para evitar sérios problemas; no mais, é um acordo benéfico para ambos, pastor e igreja.

II.           A CONSOLIDAÇÃO DO REINO DE DAVI
As Edificações

 Logo que é coroado rei, Davi busca um lugar propício para ser a capital, mas deseja um lugar que possa ser aceito por Israel e Judá. Assim, escolhe Jerusalém. Uma construção de destaque é o seu palácio no Monte Sião, que se tratava de uma colina que estava localizada na parte sudoeste, antes capturada pelos jebuseus (2 Sm 5.6,9). Ali pôde fazer alguns edifícios com o objetivo de servir de escritórios governamentais.

 É claro, a conquista de Jerusalém não foi fácil. Foi necessário grande esforço de Davi para tomá-la. Alguns estudiosos do Antigo Testamento afirmam que, devido à sua localização, dispunha de uma defesa natural, o que pode ter contribuído para a unidade entre Judá e Israel. Com Davi em cena, tendo agora um local para estabelecimento da capital e a derrota dos cananeus, a unidade estava nascendo. Todos o viam como um líder forte, um verdadeiro rei.

 Falando ainda das edificações, evidencia-se um grande desejo de Davi em fazer um templo ao Senhor Deus. Essa atitude revelava não apenas um propósito de alguém que queria fazer algo, mas, sim, o quanto ele amava a Deus e queria o melhor para Ele. Na edificação desse grande templo, seu desejo era que houvesse um centro de adoração em que todos pudessem cultuar o Senhor. Deus não permitiu que Davi edificasse esse grande templo. As razões se deviam às grandes confusões geradas por ele e pelos atos brutais de violência, isto é, derramamento de sangue. Ainda que não pudesse construir o grande templo, deu todo o projeto a Salomão e ainda reuniu materiais necessários para que este pudesse continuar a grande obra (2 Sm 7; 1 Cr 17).

As Reformas Religiosas

 Destacamos Davi dando atenção especial ao estabelecimento das cidades dos levitas, que inclui também as cidades de refúgio, conforme Números 35. Agindo assim, estava valorizando aquilo que Moisés havia falado da parte de Deus. É importante falar que nos dias de Davi havia aproximadamente quarenta e oito cidades levíticas, as quais desempenhavam funções especiais. Por meio dessa conquista, estava claro que ele havia conseguido desfazer as querelas, disputas, brigas no meio das tribos, criando uma comunhão entre eles.

Ainda tratando das reformas religiosas, Jerusalém passa a ser o grande centro de louvor e adoração da nação israelita. Ali será colocada a Arca da Aliança, que estava em Quiriate-Jearim. Sua vinda para Jerusalém a consagrava como um centro de fé e autoridade espiritual dos judeus (2 Sm 6.11-15; 1 Cr 4.5,15,19).

A Suprema Aliança Davídica

 Na aliança davídica, o que se pode notar é que Davi tem um lugar especial no projeto divino envolvendo Israel. Por meio dessa aliança, tem-se a base, o alicerce do agir de Deus envolvendo a monarquia, mesmo quando Davi morre. Por meio dessa aliança, Davi passará a ser um tipo do rei ideal e, nesse particular, os reis que procediam com sinceridade, verdade, justiça, eram vistos como um segundo Davi. Entende-se que até Davi não se tinha dinastia em Israel, mas, por meio da aliança suprema com ele, Deus diz que lhe daria tanto uma semente eterna quanto um trono eterno. Deve-se atentar que há aqui uma alusão ao Davi escatológico.

É claro, mesmo estando dentro da aliança davídica, envolvendo o amor divino, o aspecto filial, a disciplina também se faria necessária, pois qual é o pai que ama o filho e não corrige? (Hb 12.7). Quando houvesse desobediência, a correção divina seria certa, mas o concerto em si jamais seria ab-rogado, ou melhor, cairia em desuso, seria suprimido (2 Sm 7.16).

A estrutura da supremacia dessa aliança é que ela é o fundamento para que Mateus prove de fato, conforme consta no capítulo 1, que Jesus tem o direto de ser o rei de Israel, porque, legalmente, sua genealogia através de José remonta ao tempo de Davi e Salomão.

III.         A GRANDEZA POLÍTICA DO REINADO DE DAVI

As Realizações Militares

 Logo que conquista Jerusalém, o povo vai vendo em Davi um homem forte, um rei de fato escolhido pelo Senhor, pois ele não somente inspira o povo, como cria uma unidade grandiosa. Isso prova para nós que, quanto mais o povo de Deus está unido, mais capacidade de crescimento e expansão da obra pode acontecer.

Nas realizações militares, Davi fez muito. Ele começa derrotando filisteus, amonitas, idumeus, moabitas, arameus, amalequitas (2 Sm 5.17-25; 21.15-22; 1 Cr 18.1; 2 Sm 8.10; 12.26-31). Davi criou um grande exército com soldados extremamente profissionais. As conquistas mencionadas acima foram devido às estratégias militares de Davi com a ajuda dos seus soldados. Crê-se que seu exército era composto de quereteus, peleteus (2 Sm 8.18), na liderança estava Benaia, de Cazebel, e mais 600 homens, que estavam sob as ordens de Itai, amigo de Davi.

As Administrações de Davi

 Nos relatos dos livros de Samuel se percebe que Davi era um homem espiritual e que confiava em Deus, mas ele é destacado também como alguém que sabia administrar, por isso seu reino será expansivo, de grande proporção, desde Ezion-Geber, na parte do extremo sul, se aproximando da cidade-estado de Hamate, no extremo norte.

 Estudiosos falam de Davi não apenas como um grande guerreiro, mas também como grande diplomata, um homem de habilidades diversas, na forma de sua organização. Como apontam os arqueólogos, ele fez uso de ideias de outros povos, pessoas, no caso os estrangeiros egípcios e fenícios, para implantar algumas mudanças no aspecto administrativo de seu governo. Isso pode ser comprovado pela presença de cronista e escriba (2 Sm 8.16). Como já citado, ele organizou um grande exército para sua guarda pessoal, denominada guarda real.

O Culto Público

 Fala-se que Davi fez duas coisas importantes para o povo de Deus: (1) uniu-o; e (2) conseguiu fazer de Jerusalém o centro de adoração. Importante dizer que o sistema de culto ou adoração implantado por Davi seguia à risca a conformidade da lei mosaica. No ato de buscar a Arca da Aliança, na segunda vez, ele procurou proceder conforme o escrito de Moisés.

Davi queria ser melhor em tudo no culto para Deus. Ele faz isso não somente tencionando a construção de um templo para Ele e colocar a Arca em Jerusalém, mas fez isso também por meio da música. Em 1 Samuel 16.14- 23, dele é mencionado que já era um grande músico, de modo que contribuirá fortemente para Israel na questão da música judaica.

Dentre os 150 salmos, há diversos autores, mas Davi se sobressai, tendo escrito 73 deles, os quais retratam as inúmeras dificuldades que enfrentou, tanto as experiências vividas como pastor de ovelhas como fugindo de Saul. Muitos estudiosos creem que ele escreveu mais do que isso, porém, nas epígrafes não constam e faltam informações seguras sobre isso.

O Governo divino em mãos humana

- Osiel Gomes


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                                           O REINADO DE DAVI (1.1-20.26)a.
 2 Samuel 

A ascensão de Davi ao poder em Judá (1.1-4.12) i. 
Davi recebe a notícia da morte de Saul (1.1-16).
 A sorte de Davi, numa fase ruim desde que havia sido forçado a se refugiar junto aos filisteus alguns anos antes (1 Sm 29.3), havia melhorado apenas um pouco devido à investida vitoriosa contra os amalequitas. Ele e seus homens ainda estavam se recuperando do combate e precisavam restaurar seus lares incendiados quando, no terceiro dia após a volta,receberam a notícia do combate contra os filisteus. 

1-3. Sem dizer nada, o mensageiro já anunciava, mediante sua aparência desalinhada, que era portador de notícias ruins, pois roupas rasgadas e cabelo endurecido pelo barro já eram sinais de pesar. Ao lançar-se ao chão diante de Davi, ele deixa implícito que reconhece o novo rei e espera uma recompensa por ter ido correndo até Ziclague com as últimas notícias do acampamento de Israel.

 4-5. Uma debandada geral e a morte de muitos homens, incluindo de Saul e de Jônatas, resumia a situação, mas Davi quis se assegurar de que o rei e seu filho realmente haviam morrido. 

6-10. Diante desse pedido, o mensageiro acredita que, entrando em minúcias sobre o relato, conquistará as graças de Davi, mas calcula erroneamente a reação daquele a quem quer impressionar. O leitor sabe que a narrativa não está de acordo com os acontecimentos já registrados: Saul não necessitou de ajuda e morreu por sua própria es­pada . Ironicamente, Davi havia acabado de voltar da luta contra os amalequitas, e aqui estava um amalequita com coragem de admitir que matara o rei. Como prova do que dizia, ele apresentou as insígnias reais distintivas: sua coroa, que o identificava até mesmo em combate,e seu bracelete real, usado acima do cotovelo. 199


                           11 SAMUEL 5 

lenda do Jordão e do mar Morto, para evitar o encontro com outros viajantes. A declaração deles, o Senhor vingou hoje ao rei meu senhor, supunha a aprovação divina para seu feito, como se tivessem agido por ordem expressa do Senhor Eles haviam compreendido totalmente errado a política de Davi, que os repudiou de imediato. Suas primeiras palavras, tão certo como vive o Senhor, afirmam não apenas sua dedicação ao Senhor, mas também sua confiança na participação direta do Senhor no resultado de acontecimentos diários. Davi rejeita implicitamente a hipocrisia de Recabe e Baaná, que afirmam ser os executores divinos; ele declara que o Senhor o salvou de todos os perigos (BLH), pois Davi não havia tomado a iniciativa de se livrar de Saul e não permitira que outros o fizessem. Caso esses dois estivessem atrás de uma recompensa, deviam saber que Davi recompensou com a morte a notícia de que Saul tinha morrido, e o assassinato a sangue frio cometido por eles merecia, no mínimo, a mesma sentença. Ele descreve Is-Bosete como um homem justo, pois, embora fosse filho de Saul, não estava pessoalmente envolvido na culpa do pai, nada tendo feito para merecer a morte. Os dois homens são punidos com morte, mutilação e exposição pública dos cadáveres, como advertência a outros. A cabeça de Is- Bosete recebe um sepultamento adequado no túmulo de seu general Abner. O assassinato de Is-Bosete é mais um exemplo da interferência de oportunistas, que impediram Davi de levar até o fim a política que havia designado em seu coração. No entanto, o resultado foi que se lornou possível a ampliação do reinado de Davi a todo o Israel. Evidentemente, Davi se viu livre de qualquer suspeita de envolvimento com a morte de Is-Bosete e, não havendo na casa de Saul nenhum sobrevivente adequado, Davi era a escolha óbvia para ser rei. />. Davi é rei sobre todo Israel ( ) i. A aliança de Davi com Israel (5.1-5). Abner já havia preparad o caminho para que os anciãos das tribos do norte, incluindo Benjamim, fizessem de Davi seu rei (2 Sm ). Embora Abner não lenha vivido para ver a cerimônia, parece que os representantes das tri- 219

bos de Israel não perderam tempo, e reuniram-se em Hebrom para jurar lealdade a Davi (v. 3). Eles explicam sua decisão com base em três motivos: i. os laços de parentesco são fortes (cf. Dt 17.15); ii. Davi já havia se revelado um líder militar sob as ordens de Saul (1 Sm 18.30) e também sozinho, quando Saul queria matá-lo; iii. acima de tudo, ele contava com a aprovação de Deus. Agora, ele havia conquistado a confiança do povo, e a seqüência providencial de acontecimentos que culminaram nesta ocasião confirmou o oráculo profético que, embora não tenha sido registrado anteriormente no livro, parecia ser muito conhecido (cf. 2 Sm 3.9, 10). Tu apascentarás o meu povo: a figura do pastor foi amplamente utilizada no antigo Oriente Próximo para representar os deveres do governante.1 No Antigo Testamento, a palavra pastor (r õ eh) descreve o cuidado do Senhor para com Seu povo na antiga linguagem poética de Gênesis (cf. Gn 48.15), bem como nos salmos. A consciência de que o Senhor era o pastor de Israel (SI 23; 74.1; 77.20; 78.52; 80.1; 95.7) significava que os pastores humanos existentes em Israel tinham diante de si o mais sublime modelo possível de fidelidade, justiça e bondade amorosa. Eles eram julgados segundo o exercício dessas qualidades. O rei Davi fez com eles aliança... perante o Senhor. O acordo foi estabelecido com base no modelo do pastor, que resguardava contra a opressão comumente associada com a monarquia (1 Sm ), mas da parte do povo assegurava seu apoio leal. As palavras exatas dessa aliança não foram preservadas. Ungiram a Davi rei sobre Israel: o acontecimento logo terá ficado para trás, e ainda mais rapidamente estará na lembrança do povo como história passada, mas isso marcou o fim de uma longa e paciente espera do tempo do Senhor, bem como o início do trabalho que absorveria a vida de Davi e para o qual ele fora ungido em especial mui I. No Oriente antigo, numa data bem remota, pastor tornou-se um título de honra aplicado igualmente a deuses e a governantes. Esse emprego é encontrado em forma estereotipada nas listas de reis sumérios, na maneira de babilônios educados se expressarem e nos textos das pirâmides (os livros dos mortos). O costume foi seguido durante toda a antigüidade ; E. Beyreuther, Pastor, ND ÍTNT3, p

 tos anos antes (1 Sm ). Agora, a unção pública distingue-o como o ungido do Senhor, escolhido e preparado pelo chamado e pelos dons do próprio Senhor Deus para ser rei sobre todo o povo de Israel. Uma nota cronológica oferece uma visão panorâmica do reinado de Davi. Trinta anos era a idade considerada ideal para se assumir uma responsabilidade (cf. Nm 4.3; Lc 3.23), e parece que se esperava normalmente um reinado de quarenta anos (Jz 3.11; 5.31; 8.28; 1 Sm 4.18; 1 Rs 11.42), mas mesmo assim o número pode ser uma descrição exata do reinado de Davi. A distribuição dos anos entre as duas partes de seu reinado mostra que o escritor pretendia que o total fosse interpretado literalmente. Ele ainda não tinha mencionado Jerusalém, mas aproveita a oportunidade para registrar outra ação de grande alcance de Davi: a captura dessa cidade estratégica, que até então havia permanecido independente. ii. Davi faz de Jerusalém sua cidade (5.6-16). Este acontecimento pode ter ocorrido após a derrota dos filisteus, descrita nos versículos 17-25; assim que Davi foi proclamado rei sobre todo Israel, os filisteus deixaram de tolerar suas façanhas e passaram a vê-lo como uma séria ameaça a seu poder. E compreensível que eles atacassem sem demora (v. 17), e, portanto, Davi não teria tido primeiro a oportunidade de tomar a cidadela dos jebuseus.1entretanto, a captura de Jerusalém era tão importante e constituía um acontecimento de tão grande alcance que, na mente do escritor, recebeu lugar de honra, também porque a inversão de fracassos passados (Js 15.63; Jz 1.8, 21) foi como um selo do favor divino sobre Davi. A descrição do método bastante original que Davi utilizou para tomar a cidade é enigmática e difícil de interpretar, embora as escavações no local da cidade dos jebuseus tenham ajudado um pouco (veja a nota adicional: Escavações na Jerusalém antiga, p ). 1. Bright, p. 194, registra as guerras filistéias antes da captura de Jerusalém por Davi. Por outro lado, Y. Aharoni, The Land o f the Bible (Londres: Burns and Oates, 1967), p. 260, mantém a ordem dos acontecimentos em 2 Samuel


O rei com seus homens indica que Davi levou o exército relativamente pequeno que o havia apoiado em seus dias de fuga; leais e cheios de expedientes, eles constituíam um grupo de confiança e competiam entre si para atingir o impossível. Os jebuseus eram um dos povos minoritários de Canaã, freqüentemente mencionados em relação a Jerusalém, também conhecida como Jebus (Jz 19.10). Que habitavam a terra (B J) seria mais bem traduzido por que habitavam a região ; daí que habitavam naquela terra (o hebraico hã*ãres, a terra, pode ter qualquer sentido o local e o planeta Terra, dependendo do contexto). Os jebuseus defensores da cidade consideravam-se invencíveis: Não entrarás aqui. O local em forma de cunha consistia em um penhasco que se dirigia para o norte, com uma encosta a oeste, na direção do vale do Tiropeom, e uma encosta ainda mais íngreme e longa que descia, no lado leste, até o Cedrom. Um muro de pedras pesadas protegia a cidadela, e de cima facilmente podiam ser atiradas pedras sobre invasores; até mesmo os cegos e os coxos poderiam fazê-lo. Como diríamos, era como tirar doce de criança. 7. Davi tomou a fortaleza de Sião, apesar de todas as circunstâncias desfavoráveis, e, em vista do fato de ter planejado aquela operação, era natural que Jerusalém se tornasse sua propriedade, a cidade de Davi. O nome é hoje empregado em relação às escavações arqueológicas na colina sudeste de Jerusalém, ao sul do monte do Templo. Essa região era anteriormente conhecida como a fortaleza de Sião (significado incerto, talvez eminência ), que não se deve confundir com o atual monte Sião, situado mais a oeste. A cidade jebuséia era uma área fortificada em tomo de uma cidadela, cujo fornecimento de água provinha da fonte de Giom, perto da base da encosta oriental.1 1. A área habitada da colina era de aproximadamente 60 dunãs [o dunã é uma medida de área usada no Israel moderno e equivale a mil metros quadrados; nota do tradutor]; Y. Shiloh, Excavations at the City o f David J , Monografia Qedem (Jerusalém: Hebrew University, 1984), 1, p. 3. Contudo, visto que em tempos de paz as habitações espalhavam-se para fora dos muros da cidade, provavelmente a própria cidadela era menor do que isso, tendo não mais do que oito mil metros quadrados. 222

Tendo apresentado o importantíssimo fato de que Davi torno sua aquela cidade, o escritor permite-se um breve relato de como a fortaleza foi capturada. Infelizmente, há dúvidas quanto ao sentido exato do texto aqui. A ARA interpreta o desafio como suba pelo canal subterrâneo [de água] (sinnôr), uma tradução antiga e atraente, fazendo sentido porque havia canais naturais na rocha de calcário pelos quais teria sido possível entrar na cidade; contudo, a palavra é rara e ocorre nas Escrituras só aqui e em Salmos 42.7, onde é traduzida por catadupas. A tradução da PIB, todo aquele que ferir um jebuseu e tocar com sua arma os coxos... (c f NIV, mg., usar grampos de alpinismo ) baseia-se na adaga da LXX. Um estudioso da atualidade afirmou que o sinnôr... deve ser entendido como a fortaleza.1 A versão tradicional, canal de água, continua possível e talvez seja a mais provável. O verbo traduzido por suba (nãga b) geralmente significa tocar ; esta interpretação exige, portanto, o que S. R. Driver chamou de paráfrase questionável.2 Todavia, o verbo tem o sentido de tomar de assalto em 2 Samuel A situação requeria uma atividade incomum, de modo que não nos devemos surpreender com um uso incomum de palavras; o fato é que, no momento, esse verbo não habilita os estudiosos a chegar a alguma convicção quanto à natureza de tal atividade. Após entrarem na cidade sorrateiramente, os homens de Davi tinham de enfrentar seus inimigos, descritos nos termos empregados pelos jebuseus acerca dos defensores de sua cidade. A frase a quem a alma de Davi aborrece precisa ser entendida dentro do contexto, sendo mais bem traduzida por fira aqueles coxos e cegos inimigos de Davi (N IV ). O restante do versículo é um comentário adicional, que poderia muito bem estar entre parênteses, explicando a origem de um ditado comumente aceito. A casa podia ser tanto o templo quanto o 1. Para esta informação, dependo inteiramente de um resumo publicado em OTA 9.1, fev. de 1986, do artigo de V. Scippa, Davide Conquista Gerusalemme, BeO 27 (1985), p Evidentemente, ele encontra apoio para isso na palavra aramaica tinríãr, fortaleza, e em Tg. Ps-J. kerakkã Todo aquele que ferir o jebusita e tocar (;. e., tomar de assalto) a fortaleza Driver 1913, p

palácio, nenhum dos quais existia na época; entretanto, a associação de idéias relacionou o ditado com este incidente. Não se menciona o que aconteceu com os habitantes da cidade Por fim, Davi estava em condições de se instalar definitivamente numa cidade que havia conquistado e que não tinha vínculos estabelecidos com nenhuma das tribos. Na qualidade de cidade de Davi, ela transcendia as rivalidades tribais e, portanto, tomou possível um novo conceito de unidade quando se tomou a capital, servindo de centro para onde convergiam as atenções. Isso continua até hoje, dominando os pensamentos dos descendentes de Abraão. Antes, porém, era preciso firmar os alicerces. Mi lo é uma transliteração da palavra hebraica, cujo significado provavelmente é terraços para arrimo (NIV). Os muros da cidade dos jebuseus foram construídos nas encostas do monte, particularmente íngreme no lado oeste; daí a necessidade de escoras firmes apoiadas em terraços, os quais não deslizariam (até imperceptivelmente) na direção do vale. Mesmo dentro da cidade, houve outras obras de terraplanagem a fim de tomar possível a construção de prédios. Evidentemente, Davi voltou sua atenção para esse aspecto da infra-estrutura logo no início de sua ocupação de Jerusalém. Em última análise, o contínuo progresso de Davi devia ser atribuído não a seus inquestionáveis dons, mas a seus recursos espirituais: o Senhor Deus dos Exércitos era com ele. O nome divino, Javé etõhê fb ã ôt, é uma variação de Javé sebã ôt (cf. o comentário sobre 1 Sm 1.3-8). Davi, sob a influência do Deus de toda autoridade e poder, não podia deixar de crescer em importância, como também aconteceu com sua cidade: Deus está no meio dela: jamais será abalada... O Senhor dos Exércitos está conosco... (SI 46.5, 7, 11). Embora, às vezes, Israel tenha aplicado de forma errada essa verdade e contado excessivamente com ela, a ponto de os profetas ameaçarem com destruição (e.g., Jr 7.1-4, 13-15), ainda assim a verdade permaneceu. Deus está conosco, Emanuel, não era vão triunfalismo (Is 7.14; Mt 1.23; 28.20). Incluem-se no texto dois indicadores das maneiras como Davi, na nova capital, consolidaria sua posição de domínio. Um dizia respeito às relações internacionais, e o outro, a seus filhos e herdeiros. 224

                                                                I-e-II-Samuel- Joyce-G-Baldwin





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