Sumário
Introdução...............................................................................
5
Capítulo
1 - Adão, o Primeiro Homem...................................... 9
Capítulo
2 - A Criação de Eva, a Primeira Mulher ....................23
Capítulo
3 - A Natureza do Ser Humano.................................39
Capítulo
4 - Os Atributos do Ser Humano................................50
Capítulo
5 - A Unidade da Raça Humana ...............................61
Capítulo
6 - A Sexualidade Humana ..................................70
Capítulo
7 - A Queda do Ser Humano....................................81
Capítulo
8 - O Início da Civilização Humana........................92
Capítulo
9 - O Primeiro Projeto de Globalismo..................... 105
Capítulo
10 - Só o Evangelho Muda a Cultura Humana ......... 116
Capítulo
11 - O Homem do Pecado ..................................128
Capítulo
12 - Jesus, o Homem Perfeito............................... 140
Capítulo
13 - O Novo Homem em Jesus Cristo .................... 153
Introdução
Por que a Doutrina do Homem?
A
|
o
iniciar o comentário das Lições Bíblicas de Adultos da Escola
Dominical,
cuja temática este livro toma emprestada, defrontei-me com um desafio e, mais
adiante, com um prêmio. Um desafio, porque não é fácil dispensar um tratamento
adequado à doutrina do homem, conforme a encontramos na Bíblia Sagrada.
Todavia,
não deixa de ser um prêmio, pois a antropologia bíblica é apaixonante,
instigadora, confiável e verdadeira; descreve fidedignamente a trajetória
humana do Éden à Jerusalém Celeste. No escopo desse ensino, há uma nota de
inefável consolo: o que perdemos no Gênesis, o Senhor Jesus no-lo restitui no
Apocalipse. No Cordeiro
Imaculado,
não há perdas, mas ganhos eternos.
Logo
nas primeiras linhas deste trabalho, lembrei-me de que o diretor-executivo da
Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Ronaldo Rodrigues de Souza, nutre um
carinho especial por essa doutrina da Sagrada Escritura. E, nesse quesito,
também comungo com o irmão Ronaldo, que, aliás, é um dos leitores mais zelosos e
persistentes da Palavra de Deus que conheço. Ele não se limita a lê-la; vive-a
em seu dia a dia. Além disso, é professor de teologia e sabe escrever com
admirável propriedade.
Já
imbuído de minha responsabilidade, orei, entreguei-me à meditação, debrucei-me
sobre o esboço da revista e comecei a escrevê-la. Passados cinco meses, ei-la
pronta. Faltava, agora, o livro que a acompanharia. Apesar de carregar o mesmo
tema, este não poderia limitar-se a ser uma mera e descuidada extensão daquela.
Como
recurso didático, teria de oferecer ao professor um subsídio bíblico,
teológico, exegético, pastoral e histórico, que o ajudasse a lecionar com
excelência a matéria proposta.
Como
faço em todas as minhas obras, roguei ao Senhor Jesus que me ajudasse a
iniciá-la, sequenciá-la e a concluí-la com o amor e a distinção que o povo de
Deus requer e merece. Aprendi logo cedo que, na feitura de um livro, não
podemos ser remissos nem relapsos; constrange-nos o Senhor a darmos o melhor de
nós, a fim de que sua Igreja seja solidamente alicerçada.
Voltemos
à questão inicial.
Por
que a doutrina do homem constitui um desafio?
Antes
de tudo, tenhamos em mente uma premissa áurea: a antropologia tem de ser
bíblica e genuinamente teológica; há de repousar em Deus, o
Criador
de tudo que existe. Logo, ela jamais poderá usurpar o posto
da
teologia propriamente dita, por uma razão bastante simples: o
centro
de todas as coisas é Deus, e não o homem. Se invertermos
tais
valores, acabaremos por divinizar o homem e humanizar a
Deus;
criaremos, enfim, um “deus” que em nada difere de nós.
Na
Grécia de Homero, não havia distinção alguma entre teologia e antropologia,
pois homens e deuses confundiam-se. As divindades do Olimpo eram meras
extensões de seus adoradores.
Como,
pois, haveria Zeus de requerer santidade e pureza de seus adoradores? O “pai de
todos” não passava de um bufão afamado por seus adultérios, intrigas e
excessos.
Em
Homero, não sabemos onde começa a teologia e onde termina a antropologia. Nele,
homens são divinizados, e deuses, humanizados. Concupiscentes e rancorosos, os
divinos eram piores do que os humanos. Por que, então, poetas como Homero e Hesíodo
ainda são enaltecidos como teólogos? Tal honraria é-lhes imprópria, pois não
passavam de meros santeiros. No amanho da pena, iam rimando soberbas,
prostituições, incestos, infanticídios, roubos e assassinatos cometidos
diariamente no Olimpo e, diariamente, replicados na Terra por seus tolos e
ignorantes devotos.
Depois
de Homero, outros poetas foram surgindo no Ocidente.
Vergílio,
em Roma, e Camões, em Portugal. Cada um, a seu tempo, continuou a divinizar o
homem e a humanar a Deus.
Nos
Lusíadas, os descobridores portugueses são apresentados como deuses homéricos,
e não como seres humanos. Se o vate maior de nossa língua tivesse mostrado os
navegantes de Portugal tais quais eram – homens, e não deuses –, seus feitos
nem por isso seriam diminuídos. O que nossos ancestrais fizeram, a partir do diminuto
território português, bastaria para imortalizar-lhes as façanhas. Mas, como a
mente poética é mais mito do que história, ficamos sem saber o que realmente
fizeram aqueles varões tão“valorosos e assinalados”.
Não
foram apenas os poetas que se deram ao ofício de divinizar homens e mulheres.
Alguns teólogos cristãos também se entregaram a esse mister. Fizeram-se tão
santeiros como os esculpidores de imagens que existem nos interiores do Brasil.
Este um pouco mais sofisticado; aquele mais tosco; aqueloutro, nem
renascentista nem barroco: um misto de tudo. E, assim, da pena desses teólogos e
do barro daqueles escultores vão surgindo “santos” e “santas” com a mesma
profusão que os poetas antigos plasmavam deuses, semideuses e heróis.
No
trabalho dessa gente, até o Menino Jesus foi submetido a uma longa e tediosa
santimônia. Em minha viagem ao Egito, ouvi dizer que o Sagrado Bebê, ao entrar
nas terras dos faraós, operou alguns sinais para agradar aos seus anfitriões.
Aliás, quem já não ouviu alguma estorinha bonita e piedosa do Jesus Criança?
O
Filho do Altíssimo, todavia, dispensa mitologizações; suas palavras e obras,
registradas nos quatro evangelhos canônicos, são mais do que suficientes para
provar que Ele, de fato, é o Unigênito de Deus. Na verdade, Ele só veio a
realizar sinais e maravilhas após ter sido ungido pelo Espírito Santo, no
batismo de João (Jo1.31-34; 2.11).
A
mitografia católica, insaciável como o verso de Homero e a métrica de Vergílio,
cobriu de lenda a Maria, mãe de Jesus, colocando-a no nicho de Afrodite. E,
hoje, tem a humilde judia de Nazaré um altar em cada recanto católico. Milagres
e portentos são-lhe atribuídos. Por que esse folclore todo? Ela dispensa
ladainhas e narrativas apócrifas. O fato mais notável de Maria foi o de ela ter
aceitado o plano divino para a sua vida. Será que a encarnação do Filho de
Deus, em seu ventre, já não basta para honrá-la como o primeiro ser humano a
receber a Jesus Cristo como Messias e Redentor? A concepção virginal de Jesus
foi o maior milagre já registrado na História Sagrada.
Cabe
indagar, aqui, como está a nossa antropologia. Embora tenhamos a Bíblia Sagrada
como a inspirada, inerrante e completa Palavra de Deus, nem sempre praticamos a
autêntica antropologia do Antigo e do Novo Testamentos. Não pense você, querido
leitor, que a antropologia dos santos profetas e apóstolos serve apenas para
guarnecer-nos a mente e ilustrar-nos o espírito. Devemos tê-la presente em
nosso dia a dia. Aliás, temos de colocá-la em
prática
assim como fazemos com os demais ensinos e doutrinas
dos
profetas e apóstolos.
Às
vezes, esquecemo-nos de praticar a verdadeira antropologia. Segundo o ensino
bíblico, sabemos que o homem foi criado à imagem e à semelhança de Deus. Mas,
no âmbito eclesiástico, colocamo-nos acima do próprio Deus. Portamo-nos como o
rei de Babilônia descrito por Isaías. Queremos refestelarmo-nos acima do trono
de Deus. Eis por que, de quando em quando, experimentamos quedas espetaculares
e públicas. Já espatifados na presença de homens e anjos, constrangemo-nos a
recolher os cacos de nossa carreira ministerial.
Para
que isso jamais venha a acontecer foi que resolvi escrever este livro. Nestas
páginas, quero mostrar o homem como no-lo apresenta a Bíblia Sagrada. Não quero
apresentar o homem como o lobo do homem, nem como o bom selvagem. Desde o
primeiro capítulo, farei questão de apresentá-lo como imagem e semelhança de
Deus. E que, apesar da Queda, no Éden, pode ser redimido, no Calvário, pelo
sacrifício de Jesus Cristo, o Homem Perfeito.
Que
Deus nos ajude nesta obra, pois o nosso intuito é o mesmo de Paulo: “até que
todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13, ARA). Que
tenhamos sempre, em mente, a imagem de Jesus Cristo,
Verdadeiro
Homem e Verdadeiro Deus.
Pr. Claudionor de Andrade
Rio
de Janeiro, outono de 2019.
Capítulo 1
Adão, o Primeiro Homem
E
|
m
minha peregrinação às terras bíblicas, que teve início em 12
de
maio de 2019, não vi fronteira alguma entre o Ocidente e o
Oriente.
Apesar dos muitos idiomas que ressoavam aqui e ali, não observei diferenças
significativas entre o gargalhar de um americano e o choro de um russo. Vi
risos; ouvi soluços. Mas como saber se este riso era brasileiro e se aquele
soluço era alemão ou árabe?
Em
Jerusalém, deparei-me com um judeuzinho de apenas três anos a choramingar ao pé
de uma escada. Todos queriam ajudá-lo, pois todos viam, naquele garoto frágil e
desamparado, o filho que não estava ali, o neto que ficara em casa ou o
sobrinho querido que, nalgum momento, lhe pedira uma lembrancinha da Cidade Santa.
Numa
babel de solicitudes, buscávamos ajudar aquele filhinho de Abraão. Uns acudiam
em inglês; outros, em espanhol; ainda outros, em búlgaro. Os membros de minha
equipe condoíam-se num português, que lembrava todas as línguas. De repente,
aproxima-se uma senhora israelense, num hebraico maternal e decidido, toma o
menino nos braços e põe-se a socorrê-lo.
Ali,
não muito distante do Muro das Lamentações, constatei não haver diferenças
substanciais entre os seres humanos. O Ocidente e o Oriente são meras demarcações
geográficas; não são limites psicológicos nem emocionais. Naquele cadinho de
culturas, pude comprovar que judeus e árabes são tão irmãos quanto o índio
ainda esconso na Amazônia ou o tribal oculto no Congo.
Enfim,
para desespero de muitos, somos todos filhos de Adão e Eva. No primeiro Adão, pecamos;
no segundo Adão — Jesus Cristo —, somos plenamente redimidos. A salvação veio
de Israel, mas não se deteve naquelas fronteiras de arcanos e profecias; incluiu
todo o mundo, porquanto o mundo todo sempre foi objeto do amor de Deus.
Dessa
reflexão, o que podemos concluir? A doutrina do homem que, a partir de agora,
passaremos a estudar, serve para todos os seres humanos. Nesse ensino maravilho
e único da Bíblia Sagrada, as indagações espirituais, morais e teológicas da
raça são plenamente respondidas. Que Deus nos ajude a compreender os mistérios
e a obedecer às demandas de sua Palavra.
I.
A
Doutrina Bíblica do Homem
Quando
comecei a estudar teologia sistemática, não imaginava que essa ciência pudesse
ser tão prática e devocional. Em meus 17 anos, considerava-a uma disciplina,
cuja finalidade era apenas periférica: ornar-me o intelecto e a oratória.
Decorridos todos esses anos, passei a vê-la não como um lustre, mas como um
exercício espiritual.
Quando
biblicamente alicerçada, leva-nos a magnificar o nome de
Deus
e a exaltá-lo como o Criador e Mantenedor de todas as coisas.
Neste
tópico, veremos por que a doutrina do homem constrange-nos a amar a Deus e ao
próximo. A fim de a conhecermos com mais
propriedade, teremos de defini-la, estabelecer-lhe o lugar no escorço da
teologia sistemática, observar-lhe os fundamentos e delinear-lhe os principais
objetivos.
1. Definição.
A doutrina bíblica do homem é o ensino sis-
temático
das verdades referentes ao ser humano encontradas nas Escrituras do Antigo e do
Novo Testamentos. Essa disciplina tem como objetivo estabelecer o lugar do
homem na criação terrena e no Reino dos Céus.
No
âmbito da Teologia Sistemática, a doutrina bíblica do homem é conhecida como
antropologia — uma palavra técnica formada por dois vocábulos gregos: antropos,
homem e logia, estudo ou discurso racional.
2. O lugar da antropologia na
teologia sistemática. O verdadeiro teólogo jamais colocará
o homem acima de Deus, pois conhece experimental e pessoalmente o Criador, e
não ignora os limites da criatura. Logo, a genuína antropologia bíblica virá
sempre depois da teologia em si: a reflexão acerca do Ser de Deus.
Na
seara do labor teológico, a antropologia tem de ser bíblica e teológica,
porquanto o homem foi criado por Deus e pertence a Deus (Ez 18.4). Todavia, a
teologia propriamente dita jamais será antropológica. Os que assim a lavram
incorrem na blasfêmia tão comum aos poetas gregos e romanos, que, em seus
versos, exaltavam
a
criatura em detrimento do Criador (Rm 1.25).
Se
a teologia sistemática tiver, como capítulo inicial, a antropologia e fizer da
antropologia o fundamento de suas reflexões, na verdade, não será teologia,
apesar de seu escopo e aparência. Teremos aí uma mera e blasfema antropologia
filosófica, posto que o seu autor, ao elaborá-la, não tinha como foco o Ser de
Deus — a Teontologia. Quando isso ocorre, não surge apenas uma antropologia
filosófica, mas uma teologia liberalizante e antibíblica, que, canonizando o
homem como a medida
de
todas as coisas, profana o nome do Deus Único e Verdadeiro.
Atualmente,
alguns esquerdistas católicos, a fim de tornar a Teologia da Libertação mais
palatável às Américas Central e do Sul, já começam a dar-lhe um nome que não
lembra Marx ou Lênin, mas nem por isso deixa de ser marxista e leninista.
Refiro-me à Teologia Ecológica. Condoendo-se das matas e dos bichos, esse
arremedo teológico ignora, na prática, os órfãos, as viúvas e os desamparados.
A
verdadeira teologia bíblica não é apenas sistemática; é imperativamente
orgânica: tem de começar com Deus, o Ser Supremo por excelência, e há de
encerrar-se com a manifestação do Reino, que o Pai Celeste vem preparando-nos
desde a mais remota eternidade. Em seu escorço, o homem é apenas um servo; a
primazia é toda de Deus em Jesus Cristo.
3. Fundamentos.
O principal fundamento da doutrina bíblica
do
homem encontra-se, obviamente, na Bíblia Sagrada. Inspirados pelo Espírito
Santo, os profetas e apóstolos apresentam, com autoridade e clareza, a real
hierarquia dos seres. Em primeiro lugar, Deus, o Criador e Mantenedor de todas
as coisas. Logo em seguida, aparecem os santos anjos e o ser humano — as
criaturas racionais, cuja missão é amar e servir ao Senhor com todo o
entendimento.
Além
da Bíblia Sagrada, temos como fontes auxiliares o nosso Credo, a Declaração de
Fé das Assembleias de Deus no Brasil e os livros –texto referendados por nossas
autoridades eclesiásticas. Não nos esqueçamos de que a teologia, para ser
válida, tem de ser trabalhada no âmbito da Igreja de Cristo. Quando urdida nas academias,
sem a supervisão do Santo Ministério, corre o risco de fazer-se herege e
apóstata. A experiência eclesiástica mostra que os apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres, constituídos, pelo Espírito Santo, são a
garantia da biblicidade e pureza de nossa doutrina (Ef 4.11-14).
4. Objetivos.
A teologia sistemática não é um fim em si mesma; não pode limitar-se ao
gabinete pastoral, nem deve ser encerrada nos limites estreitos e ditatoriais
da academia. A verdadeira teologia bíblica, quer sistematizada, quer por
sistematizar-se, há de gerar almas e serviços ao Reino de Deus. Se não o fizer,
assemelhar-se-á às múmias que vi no Museu do Cairo. Apesar de encerradas em
preciosos sarcófagos, não têm vida; podem ser até admiráveis, como de fato o
são,
mas nunca lograrão conduzir o pecador, já arrependido, ao Céu.
A
antropologia bíblica mostra a sua real utilidade, ao responder às perguntas que
boa parte dos seres humanos ainda faz, por ignorar a Palavra de Deus. Daqui a
pouco, trataremos dessas indagações.
Você
e eu, querido leitor, mui provavelmente já as fizemos nalgum período de nossa
vida. Hoje, na condição de ministros do Senhor, não podemos agir como a Esfinge
descrita por Sófocles (497-405 a.C.). Temos de responder, sempre com base na
Bíblia Sagrada, as indagações que nos são encaminhadas todos os dias.
Com
sua cabeça de mulher e corpo de leão, a Esfinge afligia os moradores de Tebas,
propondo-lhes um enigma complicado e mortífero: “Que animal anda pela manhã
sobre quatro patas, a tarde sobre duas e a noite sobre três?”. Segundo a lenda,
muita gente foi devorada pelo monstro. O quebra-cabeça só viria a ser elucidado
por Édipo, filho de Laio, rei de Tebas, que, desafiado pela esfinge, respondeu-lhe
que o ser humano era o animal em questão. Afinal, o homem, quando bebê,
engatinha; no ápice da força, caminha ereto; mas, ao envelhecer, apoia-se numa
bengala para ir e vir. Ao invés de ser devorado, Édipo forçou o monstro a
precipitar-se num abismo.
Em
minha estada no Egito, já nas bordas de Gizé, deparei-me com uma colossal
estátua semelhante à de Sófocles. Esta não tinha cabeça de mulher; trazia a
carranca do faraó que lhe custeara o fabrico. Suas feições, conquanto mudas,
eram cheias de ruindades e indiferenças; o nariz quebrado aumentava-lhe a
ferocidade da catadura. Pelo jeito com que os turistas olhavam-na, tive a
impressão de que ela repetia a mesma pergunta de sua congênere de Tebas.
A
esfinge de Sófocles, ao propor o enigma aos habitantes de Tebas, era teológica
ou antropológica? A questão era, sem dúvida alguma, antropológica: descrevia
admiravelmente a peregrinação do ser humano na terra dos viventes. Mas, ao
formulá-la, não era nem teológica nem antropológica, mas zoológica, pois não
via, na criatura humana, a imagem e a semelhança de Deus. Aos seus olhos, o
Criador e o homem não passavam de meros animais — o segundo cópia do primeiro;
ambos descartáveis e prontos a ser devorados pela incredulidade. Não foi o que
Paulo escreveu aos romanos (Rm 1.20-23)?
A
esfinge de Sófocles é o fiel retrato de alguns teólogos que andejam por nossos
arraiais. Em seus livros, apostilas e sermões, ao invés de proclamar a mensagem
da cruz, arvoram-se como a Esfinge de Tebas. São altivos e soberbos, e propõem
os mais loucos enigmas ao povo de Deus. Exibindo um hebraico que não possuem e ostentando
um grego que não conhecem, assombram a congregação, alegando que só podem
entrar nos arcanos divinos os que conhecem os profetas e os apóstolos no
original. Assemelham-se eles aos gnósticos, que, mentindo, ensinavam estar o
conhecimento divino limitado a uma elite privilegiada. E, dessa forma,
desconstruindo a Palavra de Deus, afastam os santos dos Céus e lançam, no Lago de
Fogo, os que anseiam pela salvação em Jesus Cristo. O Filho de Deus, porém, no
auge de seu ministério terreno, enalteceu o Pai por revelar os mistérios da
salvação aos simples e pequeninos: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos
pequeninos” (Mt 11.25).
O
objetivo da antropologia, genuinamente bíblica, não é propor enigmas, mas
responder às perguntas que o ser humano, desde a sua expulsão do Éden, não cessa
de formular: Quem sou eu? De onde vim? O que represento? Qual a minha missão? E
para onde vou? Existe realmente um Ser Supremo a quem devo prestar contas de
meus atos?
Além
disso, a antropologia bíblica mostra a dependência do homem em relação a Deus,
o Criador e Mantenedor de todas as coisas. Sempre com base nos profetas e
apóstolos, ela testifica que o ser humano jamais foi um fim em si mesmo. Fomos
criados por Deus e postos neste mundo, para administrá-lo de conformidade com
as leis e diretrizes que o Senhor nos deixou em sua Palavra — a Bíblia Sagrada.
Fomos criados por Deus e para Deus.
Quando
nos aprofundamos na antropologia Bíblica, conscientizamo-nos de que ela é
amorosamente redentora. Seu principal objetivo é conduzir-nos à plena comunhão
com o Pai Celeste por intemédio de Jesus Cristo, o Homem Perfeito.
Finalmente,
a verdadeira antropologia bíblica apresenta-se como um instrumento didático, por
meio do qual o Espírito Santo consola-nos quanto ao nosso destino eterno. Somos
redimidos pelo sangue de Jesus Cristo. E, hoje, já na condição de filhos de
Deus, temos acesso ao trono da graça. Agora, querido irmão, somos coerdeiros
dos santos do Antigo e do Novo Testamentos. Nessa condição, somos vistos por
Deus como santos e justos; apesar de sermos ainda imperfeitos, somos recebidos,
por Ele, como seus filhos amados.
II. A Criação dos Céus e da Terra
Em
2014, encontrava-me internado num hospital do Rio de Janeiro, quando, numa
tarde monótona e já prestes a receber alta, recebi a visita de um enfermeiro.
Ele adentrou-me o quarto não para medir-me a pressão ou ver-me o nível
glicêmico, mas para relatar-me o seu drama.
Além
da enfermagem, ele amava os estudos teológicos. E, para aperfeiçoar-se na
ciência divina, aquele meu consulente passou a cursar um tradicional seminário
no Rio de Janeiro. Mas, no primeiro dia de aula, um professor cheio de si, mas
vazio de Deus, declarou aos alunos: “Os senhores estão aqui, não para estudar a
Bíblia, nem para orar. Os senhores estão aqui para estudar teologia.
Então
esqueçam, por exemplo, a história da criação como o Gênesis no-la relata. Isso
é mito e lenda”.
Depois
de ouvir aquele pobre e perturbado enfermeiro, aconselhei-o: “Deixe esse
seminário imediatamente, para você não ter o mesmo destino de seu professor: o
Lago de Fogo. Espero que o gentil profissional de saúde haja acatado o meu
conselho.
Entre
Moisés e aquele professor incrédulo e blasfemo, ficarei com o santo profeta.
Divinamente inspirado, o profeta hebreu relata-nos como vieram a existir os
Céus e o Universo. Trata-se uma narrativa histórica e literal; não é um conto
fantástico nem uma parábola mitológica. Quanto àquele professor, o que posso
dizer? Infelizmente, tais elementos apoderam-se de nossos púlpitos e cátedras,
semeando mentiras, heresias e calúnias contra a Palavra de Deus. A seguir,
mostrarei por que acredito na literalidade dos 11 primeiros capítulos de Gênesis.
Este livro, para mim, é mais lógico do que a ciência.
1. A criação da eternidade e do
tempo. A fim de tornar possíveis os Céus e a Terra, criou
Deus a eternidade; em seguida, chamou o tempo à existência. Não podemos explicar
como tudo isso aconteceu, porquanto sempre tivemos a eternidade como uma
extensão temporal sem início e sem fim; tal ciência é alta demais para nós (Sl
139.17,18). Afinal, como descrever a criação de algo sem início nem fim?
Neste
ponto, devemos ter em mente esta gloriosa premissa: a eternidade só é infinita
para nós, seres finitos; para Deus, ela tem limites e fronteiras, pois somente Ele
é absolutamente eterno: não teve um dia para existir, nem terá uma noite para
inexistir. Deus é absoluta e infinitamente eterno. Eis porque Moisés salmodia
esse atributo do Senhor: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra
e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2).
Não
podemos considerar a eternidade suficiente em si mesma; ela seria impossível
sem Deus. A eternidade depende do Eterno. Aliás, até um genitor ela tem.
Inspirado pelo Espírito Santo profetizou Isaías que um dos nomes do Filho de
Deus seria Pai da Eternidade (Is 9.6).
Após
criar a eternidade, o Eterno tornou possível aquilo que chamamos de “tempo”.
Mas o que vem a ser essa coisa que tanto nos estressa? Podemos defini-lo como a
duração relativa das coisas. E, a partir daí, conceber a ideia de presente,
passado e futuro. Enfim, é um período contínuo, no qual se sucedem os eventos
da História.
2. A criação dos Céus.
A criação dos Céus precedeu a da Terra, pois, na ordem da criação, esta é
citada depois daqueles (Gn 1.1). Levemos em conta que, em Gênesis, temos uma
descrição pormenorizada sobre a formação de nosso planeta, mas quanto a dos
Céus, o texto sagrado cala-se mui sabiamente. Há coisas que não precisamos
saber (Dt 29.29).
O
amado salmista de Israel deixa-nos entrever como veio a existir a morada
divina: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o
exército deles” (Sl 33.6). Davi, à semelhança de Moisés,
nenhum detalhe dá a respeito da formação das mansões celestes. Logo, não podemos
assegurar se a dimensão celestial foi criada em um ou três dias. O que sabemos
é que os Céus, também, foram criados a partir da Palavra de Deus; não foi
necessária qualquer matéria-prima original e eterna, pois tal coisa não existe.
Somente
Deus é eterno.
Tendo
já criado os Céus, o Senhor chama os anjos à vida. À semelhança do homem, eles também
foram criados pelo sopro divino. Mais adiante voltaremos a esse assunto. Como
os seres celestiais não se reproduzem sexualmente, seus exércitos mantêm o seu contingente
inalterável.
3.
A criação do Universo. Deus criou a Terra em seis dias
literais de 24 horas cada um (Gn 1). Não sei por que é tão difícil, para alguns
teólogos, acreditar na literalidade do primeiro capítulo da Bíblia. Quanto a
mim, sempre aceitei a historicidade do relato da criação dos Céus e da Terra
com simplicidade e candura de espírito, pois sempre o tive na conta de uma
narrativa plausível e lógica. Então, por que iria eu forçar a harmonização do
criacionismo bíblico com o evolucionismo das academias seculares, para entender
a realidade do Universo?
Já
li, nalgum lugar, que o Big Bang, que teria ocorrido há quase 14 bilhões de
anos, durou cerca de dois minutos. Sim, apenas dois minutinhos de 60 segundos cada
um. Todavia, foi o suficiente para a grande expansão resultar nas galáxias mais
longínquas, no Sol e na Lua de nosso sistema solar e, finalmente, na Terra.
Ora, se é fácil para essa gente crer nessa teoria, por que não aceitar, de vez,
a narrativa bíblica? Em Gênesis, temos seis dias literais, e não dois
minutinhos fantásticos. O que mais me entristece é que semelhante teoria é
ensinada às nossas crianças como ciência, e não como mera hipótese.
A
criação dos Céus e da Terra, para nós cristãos, é mais do que um relato; é uma
declaração de fé. Eis porque, no Credo dos Apóstolos, professamos: “Creio em
Deus Todo-Poderoso, criador dos Céus e da Terra”. Em minhas orações, quer no
recesso de meus aposentos, quer junto à minha congregação, louvo a Deus pela
criação de tudo quanto existe.
III. A Criação de Adão, o
Primeiro Ser Humano
Depois
de haver criado os Céus e a Terra, delibera Deus, no âmbito da Santíssima
Trindade, a criação do ser humano. Do pó da Terra, Ele forma Adão; e, de Adão,
Eva: a primeira mulher e mãe da espécie humana.
1. A Santíssima Trindade delibera
sobre a criação do ser humano.
A
Bíblia não diz ter havido qualquer deliberação, no âmbito da Santíssima
Trindade, a respeito da criação dos Céus e da Terra.
Nem
houve concílio algum entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo quanto à formação
dos anjos — criaturas racionais bem superiores ao ser humano. É o que inferimos
do texto sagrado, pois nenhum profeta ou apóstolo refere-se a uma reunião das
Sagradas Pessoas, a fim de ultimar a criação dos seres celestiais.
No que tange, porém, à criação do homem, a
Santíssima Trindade deliberou e solenemente decreta: “Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar,
sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre
todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26).
As
Três Pessoas Divinas assim deliberam, porque viam, na encarnação do primeiro
Adão, a encarnação redentora do Último Adão — Jesus Cristo, o Filho do Altíssimo.
Esse mistério foi muito bem compreendido pelo apóstolo Paulo: “E, sem dúvida
alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado
no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido
acima na glória” (1 Tm 3.16, ACF).
O
apóstolo Paulo ainda traça um belíssimo paralelo entre Adão e o Senhor Jesus
Cristo: “O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém,
é espírito vivificante” (1 Co 15.45).
Observemos
que, nas Escrituras, tanto Adão quanto Jesus são citados como filhos de Deus
(Lc 1.35; 3.38). O primeiro foi criado a partir do pó da Terra, pelas mãos do
Pai: primeira encarnação. Já o segundo, veio a encarnar-se, no ventre da virgem
de Nazaré, por obra e graça do Espírito Santo; segunda encarnação. O primeiro foi
alma vivente; o segundo, posto que eterno, será alma vivificante para todo o
sempre.
2.
A criação do homem. No livro de Gênesis, o registro
da criação do ser humano ocupa um espaço bem maior do que a narrativa da
criação dos Céus e da Terra. No primeiro capítulo, Moisés, inspirado pelo
Espírito Santo, descreve como Deus criou, a partir de sua Palavra, os universos
invisível e visível. Já no segundo capítulo desse maravilhoso e imprescindível
livro, o autor sagrado particulariza como o Pai Celeste formou, a partir do pó
da Terra, o homem e a mulher.
É
importante destacar que Deus, ao deliberar a criação do homem, tinha em mente
não apenas um indivíduo, mas a humanidade em sua plenitude: Adão e Eva, os
filhos advindos deste casal, a família, a sociedade e o Estado. A Igreja de
Cristo, também, achava-se nesse maravilhoso contexto. Eis por que a criação do
ser humano revestiu-se de tanta solenidade, glória e beleza.
Inspirado
vividamente pelo Espírito Santo, o profeta Moisés assim descreve a criação do
primeiro ser humano: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe
soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn
2.7). Concluímos, pois, dessa passagem sagrada, que o aparecimento do homem, no
Universo, não se deve a um moroso e ridículo processo evolutivo, mas a um ato
criativo e imediato de Deus.
Sim,
querido leitor, nós saímos diretamente das mãos de Deus; não procedemos de
criaturas inferiores e irracionais como o querem os adversários da Bíblia
Sagrada. Também não viemos de uma “sopa” gosmenta e execrável, como ensinam os
cientistas pós-modernos; fomos trazidos à vida pelas mãos do Pai Celeste. Logo,
a nossa primeira referência é o próprio Deus, porquanto Ele fez-nos e dEle
somos. O salmista enaltece o Eterno de Israel, reconhecendo-o como Criador e
Pastor: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o
seu povo e rebanho do seu pastoreio” (Sl 100.3).
Quão
maravilhosa foi a criação do primeiro homem. Ao formá-lo do pó da Terra,
contemplava Deus, naquele indivíduo único e singular, não apenas Adão, mas o
seu próprio Filho que, como já vimos, é descrito pelo apóstolo como o Último
Adão. E, ao assoprar-lhe o fôlego de vida, nas narinas, o Senhor via não apenas
o primeiro ser humano, mas os santos de todas as eras da História Sagrada. Detenhamo-nos
nesta cena que o Gênesis permite-nos entrever: o Pai Celeste, após formar o
homem do pó da Terra, reclina sobre este e, terna e amorosamente, assopra-lhe,
nas narinas, o fôlego da vida. Criador e criatura, face a face; entre ambos,
plena comunhão. Ao sentir a vida, provinda do Pai Celeste, o homem estremece,
enche os pulmões do mais puro oxigênio e, finalmente, abre os olhos. Ali,
diante de si, estava o Autor e Mantenedor da vida (Nm 27.16).
O
sopro de Deus trouxe à existência não somente o homem, mas de igual forma a
Bíblia Sagrada. Ele assoprou a sua Palavra, inspirada e inerrantemente, e seus
queridos servos — profetas e apóstolos — inspiraram-na, trazendo-a para dentro
de si com a mesma inerrância e inspiração (2 Tm 3.16; Sl 12.6). Por esse motivo,
declaramos ser a Bíblia Sagrada a inspirada, inerrante, infalível, absoluta e
completa Palavra de Deus.
Já
prestes a encerrar o seu ministério na Terra, o Senhor Jesus assoprou sobre os
discípulos, e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.22). E, quando da
fundação da Igreja, no Dia de Pentecostes, narra o evangelista Lucas que a
chegada do Consolador foi precedida por “um som, como de um vento impetuoso” (At
2.2). Era o sopro de Deus sobre os apóstolos e discípulos, que, reunidos no
cenáculo, aguardavam a chegada da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Não
fosse o sopro divino sobre o homem, teria este permanecido como uma bela
estátua de terracota; existiria, mas nenhuma vida teria. Assemelhar-se-ia ao
Davi de Michelangelo. Embora talhado no mais fino dos mármores, jamais deixará
de ser um monumento; não poderá barrar a soberba de Golias nem derrotar os
filisteus, como o fez o real pastorzinho de Belém.
Que
o homem veio da Terra, não resta dúvida. Decompondo-o quimicamente,
encontraremos, em seu corpo, os seguintes elementos: oxigênio, carbono, cálcio,
fósforo, potássio, enxofre, sódio, magnésio, ferro, cloro, etc. Trata-se, pois,
de uma composição tão perfeita, que basta faltar um desses itens, em nosso
organismo, para desequilibrar-nos física e psicologicamente. Somente o Deus da
Bíblia Sagrada, para criar um ser tão perfeito quanto você e eu, querido
leitor.
3.
A criação da mulher. Ao ler os dois primeiros
capítulos de
Gênesis,
temos a impressão de que Deus esquecera-se de criar a mulher. E que só veio a
atentar a esse pequeno, mas encantador e romântico “detalhe”, depois de observar
a solidão e a inquietude de Adão. Mas não foi o que ocorreu. Deus não é um ser
reativo, mas excelentemente proativo; nada o surpreende. Por intermédio de
Isaías, discorre Ele sobre a sua onisciência: “Que anuncio o fim desde o
princípio, e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo:
O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is 46.10).
A
essas alturas, constrangemo-nos a perguntar: “Por que então, o Senhor, não
criou a mulher de imediato?”. Podemos apontar, pelo menos, três razões: uma
física, outra psicológica e ainda outra social.
Não
resta dúvida de que Deus, ao criar Adão, fê-lo já com o corpo de um homem
adulto, na plenitude de sua força. Todavia, foi necessário que o nosso protogenitor
dispusesse de um tempo de adaptação, para alcançar a maturidade física e
clínica. Doutra forma, como poderia submeter-se ele àquela cirurgia, por meio
da qual Deus extraiu-lhe uma das costelas, para que desta formasse a mulher?
Sendo Deus o criador do corpo humano, conhece-nos perfeitamente a estrutura
física, psicológica e emocional (Sl 103.14).
Além
do aspecto físico, temos de considerar também as implicações psicológicas e
emocionais do primeiro homem. Se por um lado, tinha ele como referência o
Criador, por outro, ignorava totalmente como seria alguém semelhante a si. Mas,
com o amadurecimento de sua constituição psicológica e emocional, começou a
sentir falta de um ser, de sua própria espécie, para compartilhar suas horas e
dias. Teologicamente sabia como manter a mais estreita comunhão com o Senhor.
Doravante, contudo, teria de aprender a relacionar-se, também. Com um ser
semelhante a si. Esse foi o momento que Deus escolheu para criar a mulher (Gn
2.21-23).
Em
seguida, o Senhor Deus, tendo a criação toda por testemunha, celebra o
casamento de Adão e Eva: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua
mulher, tornando-se os dois um só carne” (Gn 2.24, ARA).
Tomando
essa passagem como norma, e não apenas como narrativa e descrição, afirmamos
que o casamento, genuinamente bíblico, é heterossexual, monogâmico e
indissolúvel. O matrimônio, assentado nessas bases, é uma benção para os
cônjuges, para a sociedade e para o Estado. Mas, acima de tudo, é uma bênção
para a Igreja de Cristo. Não podemos conceber uma congregação formada por lares
desfeitos, mistos e fora dos parâmetros da Palavra de Deus. Logo, é indispensável
lutarmos pela família cristã em todas as instâncias; sem uma família edificada
sobre a Bíblia Sagrada, a humanidade jamais alcançará os objetivos que nos
propôs o Criador de todas as coisas.
No
capítulo seguinte, trataremos com mais vagar a criação da mulher. Constataremos
que o Senhor lhe dispensou uma atenção toda especial. Jamais a teve como um ser
inferior ou desprovido de alma; é a nossa coerdeira na vida presente e na
eterna.
IV. A Missão e a Tarefa do Homem
na Terra
Deus
criou Adão, para que o homem desempenhasse as seguintes tarefas: glorificar o
Criador de todas as coisas, propagar a espécie
e
administrar o planeta.
1.
Glorificar a Deus. Paulo afirmou que Deus criou o
homem, para que este viesse a refletir-lhe a glória (1 Co 11.7). Ao contrário dos
animais, o ser humano é o único ser vivo criado à imagem e à semelhança de
Deus. Por essa razão, toda vez que alguém, seduzido pelo Diabo, adora a
criatura em lugar do Criador, atenta contra a santidade e a glória divina (Rm
1.22,23). Quando cumprimos a vontade de Deus, tornamo-nos instrumentos de sua
glória: “E serás uma coroa de glória na mão do Senhor e um diadema real na mão
do teu Deus” (Is 62.3). Querido leitor, viva a vontade e o querer do Pai
Celeste intensamente; não se desvie de seus caminhos.
2.
Propagar a espécie. Deus ordenou também ao homem a deixar
a casa dos pais e a unir-se à sua esposa, a fim de multiplicar e preservar a
espécie humana (Gn 1.28; 2.24). Propagar a raça adâmica é uma obrigação de todo
homem e de toda mulher; a povoação do planeta glorifica o nome de Deus e cumpre
o seu propósito quanto à plenitude de seu Reino em todos os âmbitos da criação.
O
Senhor tem um forte compromisso com a genuína família bíblica: heterossexual,
monogâmica e indissolúvel. Leia, juntamente com a sua esposa e filhos, o Salmo
128. Uma família bem constituída é uma bênção à Igreja e segurança para toda a
nação.
3.
Governar e administrar o planeta. Deus, em primeiro
lugar, criou a Terra e tudo o que nela há (Gn 2.1). Em seguida, criou o homem
que, instalado no Jardim do Éden, tinha como missão inicial nomear a todos os
animais e guardar o paraíso (Gn 2.15, 19).
A
partir dessas tarefas iniciais, Adão haveria de adquirir a experiência
necessária para governar e administrar toda a Terra (Gn 1.26). Do solo,
extrairia tudo quanto viesse a necessitar, porquanto desse mesmo solo fora
tomado. Do planeta que o Senhor nos deu, tiramos o pão que nos mantém vivos e
os elementos necessários, a fim de produzirmos as tecnologias mais avançadas e
inimagináveis. Que tudo, pois, seja para a glória e honra do nome de Deus.
Conclusão
Neste
capítulo, conscientizamo-nos de que tudo quanto existe foi criado por Deus e
para Deus. A Ele toda a glória, todo o louvor e todas as ações de graças. Sem o
Deus da Bíblia Sagrada, nada do que existe seria real e palpável. Por essa
razão, louvemo-lo pela criação de todas as coisas e por nossa própria
existência.
Somente
Deus torna possível o impossível. Sem Deus, não existiríamos. Desde Adão, o
primeiro homem, passou-se aproximadamente, de acordo com algumas cronologias,
seis mil anos. E, desde então, vem Deus preservando-nos a vida, segundo
declarou o apóstolo Paulo (At 14.15-17).
A Raça Humana: Origem, Queda e Redenção
CAPÍTULO
1
NO
PRINCÍPIO
A
Potestade e Majestade de Deus na Obra da Criação
A
Criação do Homem à Imagem de Deus
Vamos considerar agora o lugar do homem,
colocado sobre as obras de Deus. Depois de tudo haver sido posto em ordem, era
preciso alguém para tomar a direção. "E disse Deus: Façamos o homem à
nossa imagem, conforme à nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e
sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo
réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem
de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse:
Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre
os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move
sobre a terra".
O leitor
notará a alteração de ele para eles. Não nos é apresentado o fato atual da
formação da mulher até o capítulo subsequente; não obstante, encontramos aqui
Deus abençoando-os e dando-lhes conjuntamente o lugar do governo universal.
Todas as ordens inferiores da criação foram postas sob o seu domínio comum. Eva
recebeu todas as suas bênçãos em Adão. Nele recebeu, também, a sua dignidade.
Se bem que ainda não tivesse sido chamada à existência, ela era, no desígnio de
Deus, vista como parte do homem. "No Teu livro todas estas coisas foram
escritas; as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas
havia" (SI 139:16).
A
Posição de Eva com Respeito a Adão
Assim é
com a Igreja — a noiva do Segundo Homem. Ela era vista desde toda a eternidade
em Cristo, a sua Cabeça; como lemos no primeiro capítulo de Efésios: "Como
também nos elegeu n'Ele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante d'Ele em amor". Antes que um só membro da Igreja tivesse
respirado o fôlego da vida, todos eram, na mente eterna de Deus, predestinados
para serem conformes à imagem de Seu Filho. Os desígnios de Deus tornam a
Igreja necessária para completar o homem místico. Por isso a Igreja é chamada
"a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos" (Ef 1:23). Trata-se
dum título espantoso, que explica muito da dignidade, importância e glória da
Igreja.
Em geral considera-se a redenção como dizendo
respeito apenas à bem-aventurança e segurança das almas, individualmente. Isto,
porém, é uma opinião muito fraca sobre o assunto. Que tudo que pertence, de
algum modo, ao indivíduo está absolutamente seguro, é — bendito seja Deus — um
fato verdadeiro. Mas esta é a parte menos importante da redenção. Porém, que a
glória de Cristo está incluída na, e ligada com, a existência da Igreja é uma
verdade profunda e poderosamente mais importante. Se eu tenho o direito, com
base na autoridade das Escrituras Sagradas, de me julgar como uma parte
essencial do que é na realidade necessário para Cristo já não posso ter dúvida
alguma se há abundância de provisões para as minhas necessidades. E não é a
Igreja do mesmo modo necessária para Cristo? E, sem dúvida. "Não é bom que
o homem esteja só: far-lhe-ei uma adutora" (Gn 2:18). "Porque o varão
não provém da mulher, mas a mulher do varão. Porque também o varão não foi
criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do varão... Todavia, nem o
varão é sem a mulher, nem a mulher, sem o varão, no Senhor. Porque, como a
mulher provém do varão, assim também o varão provém da mulher, mas tudo vem de
Deus" (1 Co 11:8-12). Por isso, já não é apenas a questão de saber se Deus
pode salvar um pobre pecador perdido, e recebê-lo no poder da justiça divina.
Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só". Não deixou "o
primeiro homem" sem "uma adutora", nem tão-pouco deixará o
"Segundo". Assim como no caso do primeiro haveria um vazio na criação
sem Eva, do mesmo modo — que pensamento estupendo! — no caso do último haveria
uma falta na nova criação sem a Noiva, a Igreja.
Adão
e Eva, Figuras de Cristo e da Igreja
Vejamos
agora a maneira como Eva foi trazida à existência, se bem que, fazendo-o,
tenhamos que antecipar parte do capítulo subsequente. De entre todas as ordens
da criação não foi encontrada uma adutora para Adão. "Um sono pesado"
tinha que cair sobre ele, e uma adutora devia ser formada de si mesmo, para
partilhar do seu domínio e da sua bem-aventurança: "Então o SENHOR Deus
fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas,
e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o SENHOR Deus tomou do homem
formou (1) uma mulher: e trouxe-a a Adão: E disse Adão: Esta é agora osso dos
meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão
foi tomada" (Gn 2:21-23).
__________ (1)
Uma consulta em Efésios 2:20.22 mostrará ao
leitor que as palavras traduzidas por "edificados" e "juntamente
edificados" e a palavra hebraica aqui traduzida por "formou" são
inflexões do mesmo verbo.
Contemplando Adão como um símbolo de Cristo, e
Eva como figura de Igreja, como a Sagrada Escritura inteiramente nos autoriza,
vemos como a morte de Cristo necessitava ser um fato consumado, antes que a
Igreja pudesse ser estabelecida, embora, nos desígnios de Deus, ela fosse vista,
e escolhida em Cristo, antes da fundação do mundo. Há, no entanto, uma grande
diferença entre o secreto propósito de Deus e a revelação e seu cumprimento.
Antes que o propósito divino pudesse ser atualizado a respeito das partes
constituintes da Igreja, era preciso que o Filho de Deus fosse rejeitado e
crucificado — que Ele tomasse o Seu lugar nas alturas —, que mandasse o
Espírito Santo para batizar os crentes num corpo. Não é que almas não fossem
vivificadas e salvas antes da morte de Cristo. De certo que o foram. Adão foi
salvo, e milhares de outros, em todos os séculos, em virtude do sacrifício de
Cristo; embora esse sacrifício não tivesse sido ainda consumado. Porém, a
salvação individual de almas é uma coisa; e a formação da Igreja, como uma
coisa distinta, pelo Espírito Santo, outra completamente diferente.
Esta distinção não é suficientemente
compreendida; e, mesmo onde é mantida na teoria, é acompanhada de poucos dos
resultados práticos que podem naturalmente ser esperados de uma verdade tão
estupenda. O lugar único da Igreja — o seu parentesco especial com "o
Segundo Homem, o Senhor do céu" —, os seus privilégios distintos e
dignidades, todas estas coisas produziriam, se fossem compreendidas no poder do
Espírito Santo, os mais ricos, mais raros e mais fragrantes frutos (veja-se Ef
5:23-32). Quando contemplamos o símbolo que temos perante nós, podemos fazer
alguma ideia dos resultados que deveriam seguir-se à compreensão da posição da
Igreja e seu parentesco.
Quanto amor não devia Eva a Adão! Que intimidade
ela desfrutava! Que intimidade de comunhão! Que parte em todos os seus
pensamentos! Em toda a sua dignidade, e em toda a sua glória, ela tinha
inteiramente parte. Ele não dominava sobre ela, mas com ela. Ele era senhor de
toda a criação, e ela tinha parte com ele. Sim, como já foi observado, ela era
olhada e abençoada nele. "O homem" era o objeto; e quanto "à
mulher", ela era necessária para ele; e, portanto, foi trazida à
existência. Nada pode ser tão interessante como um símbolo. Primeiro o homem é
criado, e a mulher vista nele, e então formada dele — tudo isso forma um
símbolo do caráter mais notável e instrutivo. Não é que uma doutrina jamais
possa ser fundada sobre um símbolo; mas quando achamos a doutrina plena e
claramente estabelecida noutras partes da Palavra de Deus, podemos compreender,
apreciar e admirar o símbolo.
O Salmo 8 dá-nos uma ideia admirável do homem
colocado sobre as obras de Deus. "Quando vejo os teus céus, obra dos teus
dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te
lembres dele?- E o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco menor o
fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele
tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés:
todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo; as aves dos céus, e os
peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares". Aqui o homem é
tido em conta, sem qualquer menção da mulher; e isto está perfeitamente de
conformidade com o seu caráter, porque a mulher é considerada como fazendo
parte do homem.
A
Igreja não Está Revelada no Antigo Testamento
Não há revelação direta do mistério da Igreja em
parte alguma do Velho Testamento. O apóstolo Paulo diz claramente, "o
qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora,
tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas (do Novo
Testamento)" (Ef 3:1 a 11). Deste modo, no Salmo que acabamos de
reproduzir, somente nos é apresentado "o homem"; porém sabemos que o
homem e a mulher são encarados debaixo de uma cabeça. Tudo isto terá o seu
cumprimento nos séculos vindouros. Então o Verdadeiro Homem, o Senhor do céu,
tomará o Seu lugar no trono, e, na companhia da Sua noiva, a Igreja, dominará
sobre a criação restaurada. Esta Igreja é vivificada da sepultura de Cristo, é
parte "do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos". Ele é a Cabeça
e ela o corpo, formando um Homem, como lemos no capítulo quatro de Efésios:
"Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de
Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo".
A Igreja, sendo assim parte de Cristo, ocupará
um lugar na glória completamente único. Não havia criatura alguma que estivesse
tão perto de Adão como Eva, porque nenhuma outra criatura era parte dele. Do
mesmo modo, com respeito à Igreja, ela terá o lugar mais próximo de Cristo, na
Sua glória futura. Nem tão-pouco é apenas o que a Igreja será que desperta a
nossa admiração, mas o que a Igreja é. Ela é, agora, o Corpo do qual Cristo é a
cabeça; é agora o templo do qual Deus é o Habitante.
Oh! que espécie de pessoas nós devíamos ser! Se
este é o presente, e tal será a dignidade futura daquilo que nós, pela graça de
Deus, fazemos parte, sem dúvida que nos convém uma conduta santa, consagrada,
em separação, e elevada. Que o Espírito Santo possa mostrar estas coisas mais
clara e poderosamente aos nossos corações, para que assim possamos ter uma
compreensão mais profunda da conduta e do caráter de que é digna a santa
devoção com que somos chamados. "Tendo iluminados os olhos do vosso
entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as
riquezas da glória da sua herança nos santos e qual a sobreexcelente grandeza
do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu
poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua
direita nos céus, acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e
de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E
sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como
cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em
todos" (Ef 1:18-23).
Notas
sobre o Pentateuco Genesis.
O Repórter Jorge de Andrade do Programa Movimento Pentecostal fez uma entrevista exclusiva com o Comentarista da Revista Lições Bíblicas Jovens do 1º Trimestre de 2019, Pr Claudionor de Andrade. A Raça Humana - Origem, Queda e Redenção Uma obra guiada pelo Santo Espírito que nos esclarece que a antropologia tem que ser bíblica e genuinamente teológica e há de repousar em Deus, o Criador.

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