segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Lição 1 - Adão, o Primeiro Homem



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Sumário

Introdução............................................................................... 5
Capítulo 1 - Adão, o Primeiro Homem...................................... 9
Capítulo 2 - A Criação de Eva, a Primeira Mulher ....................23
Capítulo 3 - A Natureza do Ser Humano.................................39
Capítulo 4 - Os Atributos do Ser Humano................................50
Capítulo 5 - A Unidade da Raça Humana ...............................61
Capítulo 6 - A Sexualidade Humana ..................................70
Capítulo 7 - A Queda do Ser Humano....................................81
Capítulo 8 - O Início da Civilização Humana........................92
Capítulo 9 - O Primeiro Projeto de Globalismo..................... 105
Capítulo 10 - Só o Evangelho Muda a Cultura Humana ......... 116
Capítulo 11 - O Homem do Pecado ..................................128
Capítulo 12 - Jesus, o Homem Perfeito............................... 140
Capítulo 13 - O Novo Homem em Jesus Cristo .................... 153

Introdução
Por que a Doutrina do Homem?

A
o iniciar o comentário das Lições Bíblicas de Adultos da Escola
Dominical, cuja temática este livro toma emprestada, defrontei-me com um desafio e, mais adiante, com um prêmio. Um desafio, porque não é fácil dispensar um tratamento adequado à doutrina do homem, conforme a encontramos na Bíblia Sagrada.
Todavia, não deixa de ser um prêmio, pois a antropologia bíblica é apaixonante, instigadora, confiável e verdadeira; descreve fidedignamente a trajetória humana do Éden à Jerusalém Celeste. No escopo desse ensino, há uma nota de inefável consolo: o que perdemos no Gênesis, o Senhor Jesus no-lo restitui no Apocalipse. No Cordeiro
Imaculado, não há perdas, mas ganhos eternos.


Logo nas primeiras linhas deste trabalho, lembrei-me de que o diretor-executivo da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Ronaldo Rodrigues de Souza, nutre um carinho especial por essa doutrina da Sagrada Escritura. E, nesse quesito, também comungo com o irmão Ronaldo, que, aliás, é um dos leitores mais zelosos e persistentes da Palavra de Deus que conheço. Ele não se limita a lê-la; vive-a em seu dia a dia. Além disso, é professor de teologia e sabe escrever com admirável propriedade.


Já imbuído de minha responsabilidade, orei, entreguei-me à meditação, debrucei-me sobre o esboço da revista e comecei a escrevê-la. Passados cinco meses, ei-la pronta. Faltava, agora, o livro que a acompanharia. Apesar de carregar o mesmo tema, este não poderia limitar-se a ser uma mera e descuidada extensão daquela.
Como recurso didático, teria de oferecer ao professor um subsídio bíblico, teológico, exegético, pastoral e histórico, que o ajudasse a lecionar com excelência a matéria proposta.


Como faço em todas as minhas obras, roguei ao Senhor Jesus que me ajudasse a iniciá-la, sequenciá-la e a concluí-la com o amor e a distinção que o povo de Deus requer e merece. Aprendi logo cedo que, na feitura de um livro, não podemos ser remissos nem relapsos; constrange-nos o Senhor a darmos o melhor de nós, a fim de que sua Igreja seja solidamente alicerçada.


Voltemos à questão inicial.
Por que a doutrina do homem constitui um desafio?
Antes de tudo, tenhamos em mente uma premissa áurea: a antropologia tem de ser bíblica e genuinamente teológica; há de repousar em Deus, o
Criador de tudo que existe. Logo, ela jamais poderá usurpar o posto
da teologia propriamente dita, por uma razão bastante simples: o
centro de todas as coisas é Deus, e não o homem. Se invertermos
tais valores, acabaremos por divinizar o homem e humanizar a
Deus; criaremos, enfim, um “deus” que em nada difere de nós.

Na Grécia de Homero, não havia distinção alguma entre teologia e antropologia, pois homens e deuses confundiam-se. As divindades do Olimpo eram meras extensões de seus adoradores.
Como, pois, haveria Zeus de requerer santidade e pureza de seus adoradores? O “pai de todos” não passava de um bufão afamado por seus adultérios, intrigas e excessos.


Em Homero, não sabemos onde começa a teologia e onde termina a antropologia. Nele, homens são divinizados, e deuses, humanizados. Concupiscentes e rancorosos, os divinos eram piores do que os humanos. Por que, então, poetas como Homero e Hesíodo ainda são enaltecidos como teólogos? Tal honraria é-lhes imprópria, pois não passavam de meros santeiros. No amanho da pena, iam rimando soberbas, prostituições, incestos, infanticídios, roubos e assassinatos cometidos diariamente no Olimpo e, diariamente, replicados na Terra por seus tolos e ignorantes devotos.


Depois de Homero, outros poetas foram surgindo no Ocidente.
Vergílio, em Roma, e Camões, em Portugal. Cada um, a seu tempo, continuou a divinizar o homem e a humanar a Deus.


Nos Lusíadas, os descobridores portugueses são apresentados como deuses homéricos, e não como seres humanos. Se o vate maior de nossa língua tivesse mostrado os navegantes de Portugal tais quais eram – homens, e não deuses –, seus feitos nem por isso seriam diminuídos. O que nossos ancestrais fizeram, a partir do diminuto território português, bastaria para imortalizar-lhes as façanhas. Mas, como a mente poética é mais mito do que história, ficamos sem saber o que realmente fizeram aqueles varões tão“valorosos e assinalados”.


Não foram apenas os poetas que se deram ao ofício de divinizar homens e mulheres. Alguns teólogos cristãos também se entregaram a esse mister. Fizeram-se tão santeiros como os esculpidores de imagens que existem nos interiores do Brasil. Este um pouco mais sofisticado; aquele mais tosco; aqueloutro, nem renascentista nem barroco: um misto de tudo. E, assim, da pena desses teólogos e do barro daqueles escultores vão surgindo “santos” e “santas” com a mesma profusão que os poetas antigos plasmavam deuses, semideuses e heróis.


No trabalho dessa gente, até o Menino Jesus foi submetido a uma longa e tediosa santimônia. Em minha viagem ao Egito, ouvi dizer que o Sagrado Bebê, ao entrar nas terras dos faraós, operou alguns sinais para agradar aos seus anfitriões. Aliás, quem já não ouviu alguma estorinha bonita e piedosa do Jesus Criança?

O Filho do Altíssimo, todavia, dispensa mitologizações; suas palavras e obras, registradas nos quatro evangelhos canônicos, são mais do que suficientes para provar que Ele, de fato, é o Unigênito de Deus. Na verdade, Ele só veio a realizar sinais e maravilhas após ter sido ungido pelo Espírito Santo, no batismo de João (Jo1.31-34; 2.11).


A mitografia católica, insaciável como o verso de Homero e a métrica de Vergílio, cobriu de lenda a Maria, mãe de Jesus, colocando-a no nicho de Afrodite. E, hoje, tem a humilde judia de Nazaré um altar em cada recanto católico. Milagres e portentos são-lhe atribuídos. Por que esse folclore todo? Ela dispensa ladainhas e narrativas apócrifas. O fato mais notável de Maria foi o de ela ter aceitado o plano divino para a sua vida. Será que a encarnação do Filho de Deus, em seu ventre, já não basta para honrá-la como o primeiro ser humano a receber a Jesus Cristo como Messias e Redentor? A concepção virginal de Jesus foi o maior milagre já registrado na História Sagrada.


Cabe indagar, aqui, como está a nossa antropologia. Embora tenhamos a Bíblia Sagrada como a inspirada, inerrante e completa Palavra de Deus, nem sempre praticamos a autêntica antropologia do Antigo e do Novo Testamentos. Não pense você, querido leitor, que a antropologia dos santos profetas e apóstolos serve apenas para guarnecer-nos a mente e ilustrar-nos o espírito. Devemos tê-la presente em nosso dia a dia. Aliás, temos de colocá-la em
prática assim como fazemos com os demais ensinos e doutrinas
dos profetas e apóstolos.

Às vezes, esquecemo-nos de praticar a verdadeira antropologia. Segundo o ensino bíblico, sabemos que o homem foi criado à imagem e à semelhança de Deus. Mas, no âmbito eclesiástico, colocamo-nos acima do próprio Deus. Portamo-nos como o rei de Babilônia descrito por Isaías. Queremos refestelarmo-nos acima do trono de Deus. Eis por que, de quando em quando, experimentamos quedas espetaculares e públicas. Já espatifados na presença de homens e anjos, constrangemo-nos a recolher os cacos de nossa carreira ministerial.


Para que isso jamais venha a acontecer foi que resolvi escrever este livro. Nestas páginas, quero mostrar o homem como no-lo apresenta a Bíblia Sagrada. Não quero apresentar o homem como o lobo do homem, nem como o bom selvagem. Desde o primeiro capítulo, farei questão de apresentá-lo como imagem e semelhança de Deus. E que, apesar da Queda, no Éden, pode ser redimido, no Calvário, pelo sacrifício de Jesus Cristo, o Homem Perfeito.


Que Deus nos ajude nesta obra, pois o nosso intuito é o mesmo de Paulo: “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13, ARA). Que tenhamos sempre, em mente, a imagem de Jesus Cristo,
Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.

Pr. Claudionor de Andrade
Rio de Janeiro, outono de 2019.


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Capítulo 1
Adão, o Primeiro Homem

E
m minha peregrinação às terras bíblicas, que teve início em 12
de maio de 2019, não vi fronteira alguma entre o Ocidente e o
Oriente. Apesar dos muitos idiomas que ressoavam aqui e ali, não observei diferenças significativas entre o gargalhar de um americano e o choro de um russo. Vi risos; ouvi soluços. Mas como saber se este riso era brasileiro e se aquele soluço era alemão ou árabe?


Em Jerusalém, deparei-me com um judeuzinho de apenas três anos a choramingar ao pé de uma escada. Todos queriam ajudá-lo, pois todos viam, naquele garoto frágil e desamparado, o filho que não estava ali, o neto que ficara em casa ou o sobrinho querido que, nalgum momento, lhe pedira uma lembrancinha da Cidade Santa.
Numa babel de solicitudes, buscávamos ajudar aquele filhinho de Abraão. Uns acudiam em inglês; outros, em espanhol; ainda outros, em búlgaro. Os membros de minha equipe condoíam-se num português, que lembrava todas as línguas. De repente, aproxima-se uma senhora israelense, num hebraico maternal e decidido, toma o menino nos braços e põe-se a socorrê-lo.


Ali, não muito distante do Muro das Lamentações, constatei não haver diferenças substanciais entre os seres humanos. O Ocidente e o Oriente são meras demarcações geográficas; não são limites psicológicos nem emocionais. Naquele cadinho de culturas, pude comprovar que judeus e árabes são tão irmãos quanto o índio ainda esconso na Amazônia ou o tribal oculto no Congo.

Enfim, para desespero de muitos, somos todos filhos de Adão e Eva. No primeiro Adão, pecamos; no segundo Adão — Jesus Cristo —, somos plenamente redimidos. A salvação veio de Israel, mas não se deteve naquelas fronteiras de arcanos e profecias; incluiu todo o mundo, porquanto o mundo todo sempre foi objeto do amor de Deus.

Dessa reflexão, o que podemos concluir? A doutrina do homem que, a partir de agora, passaremos a estudar, serve para todos os seres humanos. Nesse ensino maravilho e único da Bíblia Sagrada, as indagações espirituais, morais e teológicas da raça são plenamente respondidas. Que Deus nos ajude a compreender os mistérios e a obedecer às demandas de sua Palavra.


I.             A Doutrina Bíblica do Homem

Quando comecei a estudar teologia sistemática, não imaginava que essa ciência pudesse ser tão prática e devocional. Em meus 17 anos, considerava-a uma disciplina, cuja finalidade era apenas periférica: ornar-me o intelecto e a oratória. Decorridos todos esses anos, passei a vê-la não como um lustre, mas como um exercício espiritual.
Quando biblicamente alicerçada, leva-nos a magnificar o nome de
Deus e a exaltá-lo como o Criador e Mantenedor de todas as coisas.


Neste tópico, veremos por que a doutrina do homem constrange-nos a amar a Deus e ao próximo. A fim de a conhecermos  com mais propriedade, teremos de defini-la, estabelecer-lhe o lugar no escorço da teologia sistemática, observar-lhe os fundamentos e delinear-lhe os principais objetivos.

1. Definição. A doutrina bíblica do homem é o ensino sis-
temático das verdades referentes ao ser humano encontradas nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos. Essa disciplina tem como objetivo estabelecer o lugar do homem na criação terrena e no Reino dos Céus.


No âmbito da Teologia Sistemática, a doutrina bíblica do homem é conhecida como antropologia — uma palavra técnica formada por dois vocábulos gregos: antropos, homem e logia, estudo ou discurso racional.


2. O lugar da antropologia na teologia sistemática. O verdadeiro teólogo jamais colocará o homem acima de Deus, pois conhece experimental e pessoalmente o Criador, e não ignora os limites da criatura. Logo, a genuína antropologia bíblica virá sempre depois da teologia em si: a reflexão acerca do Ser de Deus.


Na seara do labor teológico, a antropologia tem de ser bíblica e teológica, porquanto o homem foi criado por Deus e pertence a Deus (Ez 18.4). Todavia, a teologia propriamente dita jamais será antropológica. Os que assim a lavram incorrem na blasfêmia tão comum aos poetas gregos e romanos, que, em seus versos, exaltavam
a criatura em detrimento do Criador (Rm 1.25).


Se a teologia sistemática tiver, como capítulo inicial, a antropologia e fizer da antropologia o fundamento de suas reflexões, na verdade, não será teologia, apesar de seu escopo e aparência. Teremos aí uma mera e blasfema antropologia filosófica, posto que o seu autor, ao elaborá-la, não tinha como foco o Ser de Deus — a Teontologia. Quando isso ocorre, não surge apenas uma antropologia filosófica, mas uma teologia liberalizante e antibíblica, que, canonizando o homem como a medida
de todas as coisas, profana o nome do Deus Único e Verdadeiro.


Atualmente, alguns esquerdistas católicos, a fim de tornar a Teologia da Libertação mais palatável às Américas Central e do Sul, já começam a dar-lhe um nome que não lembra Marx ou Lênin, mas nem por isso deixa de ser marxista e leninista. Refiro-me à Teologia Ecológica. Condoendo-se das matas e dos bichos, esse arremedo teológico ignora, na prática, os órfãos, as viúvas e os desamparados.


A verdadeira teologia bíblica não é apenas sistemática; é imperativamente orgânica: tem de começar com Deus, o Ser Supremo por excelência, e há de encerrar-se com a manifestação do Reino, que o Pai Celeste vem preparando-nos desde a mais remota eternidade. Em seu escorço, o homem é apenas um servo; a primazia é toda de Deus em Jesus Cristo.


3. Fundamentos. O principal fundamento da doutrina bíblica
do homem encontra-se, obviamente, na Bíblia Sagrada. Inspirados pelo Espírito Santo, os profetas e apóstolos apresentam, com autoridade e clareza, a real hierarquia dos seres. Em primeiro lugar, Deus, o Criador e Mantenedor de todas as coisas. Logo em seguida, aparecem os santos anjos e o ser humano — as criaturas racionais, cuja missão é amar e servir ao Senhor com todo o entendimento.


Além da Bíblia Sagrada, temos como fontes auxiliares o nosso Credo, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil e os livros –texto referendados por nossas autoridades eclesiásticas. Não nos esqueçamos de que a teologia, para ser válida, tem de ser trabalhada no âmbito da Igreja de Cristo. Quando urdida nas academias, sem a supervisão do Santo Ministério, corre o risco de fazer-se herege e apóstata. A experiência eclesiástica mostra que os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, constituídos, pelo Espírito Santo, são a garantia da biblicidade e pureza de nossa doutrina (Ef 4.11-14).


4. Objetivos. A teologia sistemática não é um fim em si mesma; não pode limitar-se ao gabinete pastoral, nem deve ser encerrada nos limites estreitos e ditatoriais da academia. A verdadeira teologia bíblica, quer sistematizada, quer por sistematizar-se, há de gerar almas e serviços ao Reino de Deus. Se não o fizer, assemelhar-se-á às múmias que vi no Museu do Cairo. Apesar de encerradas em preciosos sarcófagos, não têm vida; podem ser até admiráveis, como de fato o
são, mas nunca lograrão conduzir o pecador, já arrependido, ao Céu.


A antropologia bíblica mostra a sua real utilidade, ao responder às perguntas que boa parte dos seres humanos ainda faz, por ignorar a Palavra de Deus. Daqui a pouco, trataremos dessas indagações.
Você e eu, querido leitor, mui provavelmente já as fizemos nalgum período de nossa vida. Hoje, na condição de ministros do Senhor, não podemos agir como a Esfinge descrita por Sófocles (497-405 a.C.). Temos de responder, sempre com base na Bíblia Sagrada, as indagações que nos são encaminhadas todos os dias.


Com sua cabeça de mulher e corpo de leão, a Esfinge afligia os moradores de Tebas, propondo-lhes um enigma complicado e mortífero: “Que animal anda pela manhã sobre quatro patas, a tarde sobre duas e a noite sobre três?”. Segundo a lenda, muita gente foi devorada pelo monstro. O quebra-cabeça só viria a ser elucidado por Édipo, filho de Laio, rei de Tebas, que, desafiado pela esfinge, respondeu-lhe que o ser humano era o animal em questão. Afinal, o homem, quando bebê, engatinha; no ápice da força, caminha ereto; mas, ao envelhecer, apoia-se numa bengala para ir e vir. Ao invés de ser devorado, Édipo forçou o monstro a precipitar-se num abismo.


Em minha estada no Egito, já nas bordas de Gizé, deparei-me com uma colossal estátua semelhante à de Sófocles. Esta não tinha cabeça de mulher; trazia a carranca do faraó que lhe custeara o fabrico. Suas feições, conquanto mudas, eram cheias de ruindades e indiferenças; o nariz quebrado aumentava-lhe a ferocidade da catadura. Pelo jeito com que os turistas olhavam-na, tive a impressão de que ela repetia a mesma pergunta de sua congênere de Tebas.



A esfinge de Sófocles, ao propor o enigma aos habitantes de Tebas, era teológica ou antropológica? A questão era, sem dúvida alguma, antropológica: descrevia admiravelmente a peregrinação do ser humano na terra dos viventes. Mas, ao formulá-la, não era nem teológica nem antropológica, mas zoológica, pois não via, na criatura humana, a imagem e a semelhança de Deus. Aos seus olhos, o Criador e o homem não passavam de meros animais — o segundo cópia do primeiro; ambos descartáveis e prontos a ser devorados pela incredulidade. Não foi o que Paulo escreveu aos romanos (Rm 1.20-23)?


A esfinge de Sófocles é o fiel retrato de alguns teólogos que andejam por nossos arraiais. Em seus livros, apostilas e sermões, ao invés de proclamar a mensagem da cruz, arvoram-se como a Esfinge de Tebas. São altivos e soberbos, e propõem os mais loucos enigmas ao povo de Deus. Exibindo um hebraico que não possuem e ostentando um grego que não conhecem, assombram a congregação, alegando que só podem entrar nos arcanos divinos os que conhecem os profetas e os apóstolos no original. Assemelham-se eles aos gnósticos, que, mentindo, ensinavam estar o conhecimento divino limitado a uma elite privilegiada. E, dessa forma, desconstruindo a Palavra de Deus, afastam os santos dos Céus e lançam, no Lago de Fogo, os que anseiam pela salvação em Jesus Cristo. O Filho de Deus, porém, no auge de seu ministério terreno, enalteceu o Pai por revelar os mistérios da salvação aos simples e pequeninos: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11.25).


O objetivo da antropologia, genuinamente bíblica, não é propor enigmas, mas responder às perguntas que o ser humano, desde a sua expulsão do Éden, não cessa de formular: Quem sou eu? De onde vim? O que represento? Qual a minha missão? E para onde vou? Existe realmente um Ser Supremo a quem devo prestar contas de meus atos?

Além disso, a antropologia bíblica mostra a dependência do homem em relação a Deus, o Criador e Mantenedor de todas as coisas. Sempre com base nos profetas e apóstolos, ela testifica que o ser humano jamais foi um fim em si mesmo. Fomos criados por Deus e postos neste mundo, para administrá-lo de conformidade com as leis e diretrizes que o Senhor nos deixou em sua Palavra — a Bíblia Sagrada. Fomos criados por Deus e para Deus.


Quando nos aprofundamos na antropologia Bíblica, conscientizamo-nos de que ela é amorosamente redentora. Seu principal objetivo é conduzir-nos à plena comunhão com o Pai Celeste por intemédio de Jesus Cristo, o Homem Perfeito.


Finalmente, a verdadeira antropologia bíblica apresenta-se como um instrumento didático, por meio do qual o Espírito Santo consola-nos quanto ao nosso destino eterno. Somos redimidos pelo sangue de Jesus Cristo. E, hoje, já na condição de filhos de Deus, temos acesso ao trono da graça. Agora, querido irmão, somos coerdeiros dos santos do Antigo e do Novo Testamentos. Nessa condição, somos vistos por Deus como santos e justos; apesar de sermos ainda imperfeitos, somos recebidos, por Ele, como seus filhos amados.


II. A Criação dos Céus e da Terra

Em 2014, encontrava-me internado num hospital do Rio de Janeiro, quando, numa tarde monótona e já prestes a receber alta, recebi a visita de um enfermeiro. Ele adentrou-me o quarto não para medir-me a pressão ou ver-me o nível glicêmico, mas para relatar-me o seu drama.


Além da enfermagem, ele amava os estudos teológicos. E, para aperfeiçoar-se na ciência divina, aquele meu consulente passou a cursar um tradicional seminário no Rio de Janeiro. Mas, no primeiro dia de aula, um professor cheio de si, mas vazio de Deus, declarou aos alunos: “Os senhores estão aqui, não para estudar a Bíblia, nem para orar. Os senhores estão aqui para estudar teologia.
Então esqueçam, por exemplo, a história da criação como o Gênesis no-la relata. Isso é mito e lenda”.


Depois de ouvir aquele pobre e perturbado enfermeiro, aconselhei-o: “Deixe esse seminário imediatamente, para você não ter o mesmo destino de seu professor: o Lago de Fogo. Espero que o gentil profissional de saúde haja acatado o meu conselho.


Entre Moisés e aquele professor incrédulo e blasfemo, ficarei com o santo profeta. Divinamente inspirado, o profeta hebreu relata-nos como vieram a existir os Céus e o Universo. Trata-se uma narrativa histórica e literal; não é um conto fantástico nem uma parábola mitológica. Quanto àquele professor, o que posso dizer? Infelizmente, tais elementos apoderam-se de nossos púlpitos e cátedras, semeando mentiras, heresias e calúnias contra a Palavra de Deus. A seguir, mostrarei por que acredito na literalidade dos 11 primeiros capítulos de Gênesis. Este livro, para mim, é mais lógico do que a ciência.


1.   A criação da eternidade e do tempo. A fim de tornar possíveis os Céus e a Terra, criou Deus a eternidade; em seguida, chamou o tempo à existência. Não podemos explicar como tudo isso aconteceu, porquanto sempre tivemos a eternidade como uma extensão temporal sem início e sem fim; tal ciência é alta demais para nós (Sl 139.17,18). Afinal, como descrever a criação de algo sem início nem fim?


Neste ponto, devemos ter em mente esta gloriosa premissa: a eternidade só é infinita para nós, seres finitos; para Deus, ela tem limites e fronteiras, pois somente Ele é absolutamente eterno: não teve um dia para existir, nem terá uma noite para inexistir. Deus é absoluta e infinitamente eterno. Eis porque Moisés salmodia esse atributo do Senhor: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2).


Não podemos considerar a eternidade suficiente em si mesma; ela seria impossível sem Deus. A eternidade depende do Eterno. Aliás, até um genitor ela tem. Inspirado pelo Espírito Santo profetizou Isaías que um dos nomes do Filho de Deus seria Pai da Eternidade (Is 9.6).


Após criar a eternidade, o Eterno tornou possível aquilo que chamamos de “tempo”. Mas o que vem a ser essa coisa que tanto nos estressa? Podemos defini-lo como a duração relativa das coisas. E, a partir daí, conceber a ideia de presente, passado e futuro. Enfim, é um período contínuo, no qual se sucedem os eventos da História.

2. A criação dos Céus. A criação dos Céus precedeu a da Terra, pois, na ordem da criação, esta é citada depois daqueles (Gn 1.1). Levemos em conta que, em Gênesis, temos uma descrição pormenorizada sobre a formação de nosso planeta, mas quanto a dos Céus, o texto sagrado cala-se mui sabiamente. Há coisas que não precisamos saber (Dt 29.29).


O amado salmista de Israel deixa-nos entrever como veio a existir a morada divina: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles” (Sl 33.6). Davi, à semelhança de Moisés, nenhum detalhe dá a respeito da formação das mansões celestes. Logo, não podemos assegurar se a dimensão celestial foi criada em um ou três dias. O que sabemos é que os Céus, também, foram criados a partir da Palavra de Deus; não foi necessária qualquer matéria-prima original e eterna, pois tal coisa não existe.
Somente Deus é eterno.


Tendo já criado os Céus, o Senhor chama os anjos à vida. À semelhança do homem, eles também foram criados pelo sopro divino. Mais adiante voltaremos a esse assunto. Como os seres celestiais não se reproduzem sexualmente, seus exércitos mantêm o seu contingente inalterável.


3. A criação do Universo. Deus criou a Terra em seis dias literais de 24 horas cada um (Gn 1). Não sei por que é tão difícil, para alguns teólogos, acreditar na literalidade do primeiro capítulo da Bíblia. Quanto a mim, sempre aceitei a historicidade do relato da criação dos Céus e da Terra com simplicidade e candura de espírito, pois sempre o tive na conta de uma narrativa plausível e lógica. Então, por que iria eu forçar a harmonização do criacionismo bíblico com o evolucionismo das academias seculares, para entender a realidade do Universo?


Já li, nalgum lugar, que o Big Bang, que teria ocorrido há quase 14 bilhões de anos, durou cerca de dois minutos. Sim, apenas dois minutinhos de 60 segundos cada um. Todavia, foi o suficiente para a grande expansão resultar nas galáxias mais longínquas, no Sol e na Lua de nosso sistema solar e, finalmente, na Terra. Ora, se é fácil para essa gente crer nessa teoria, por que não aceitar, de vez, a narrativa bíblica? Em Gênesis, temos seis dias literais, e não dois minutinhos fantásticos. O que mais me entristece é que semelhante teoria é ensinada às nossas crianças como ciência, e não como mera hipótese.


A criação dos Céus e da Terra, para nós cristãos, é mais do que um relato; é uma declaração de fé. Eis porque, no Credo dos Apóstolos, professamos: “Creio em Deus Todo-Poderoso, criador dos Céus e da Terra”. Em minhas orações, quer no recesso de meus aposentos, quer junto à minha congregação, louvo a Deus pela criação de tudo quanto existe.

III. A Criação de Adão, o Primeiro Ser Humano

Depois de haver criado os Céus e a Terra, delibera Deus, no âmbito da Santíssima Trindade, a criação do ser humano. Do pó da Terra, Ele forma Adão; e, de Adão, Eva: a primeira mulher e mãe da espécie humana.

1. A Santíssima Trindade delibera sobre a criação do ser humano.
A Bíblia não diz ter havido qualquer deliberação, no âmbito da Santíssima Trindade, a respeito da criação dos Céus e da Terra.
Nem houve concílio algum entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo quanto à formação dos anjos — criaturas racionais bem superiores ao ser humano. É o que inferimos do texto sagrado, pois nenhum profeta ou apóstolo refere-se a uma reunião das Sagradas Pessoas, a fim de ultimar a criação dos seres celestiais.


 No que tange, porém, à criação do homem, a Santíssima Trindade deliberou e solenemente decreta: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26).


As Três Pessoas Divinas assim deliberam, porque viam, na encarnação do primeiro Adão, a encarnação redentora do Último Adão — Jesus Cristo, o Filho do Altíssimo. Esse mistério foi muito bem compreendido pelo apóstolo Paulo: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (1 Tm 3.16, ACF).


O apóstolo Paulo ainda traça um belíssimo paralelo entre Adão e o Senhor Jesus Cristo: “O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante” (1 Co 15.45).


Observemos que, nas Escrituras, tanto Adão quanto Jesus são citados como filhos de Deus (Lc 1.35; 3.38). O primeiro foi criado a partir do pó da Terra, pelas mãos do Pai: primeira encarnação. Já o segundo, veio a encarnar-se, no ventre da virgem de Nazaré, por obra e graça do Espírito Santo; segunda encarnação. O primeiro foi alma vivente; o segundo, posto que eterno, será alma vivificante para todo o sempre.

2. A criação do homem. No livro de Gênesis, o registro da criação do ser humano ocupa um espaço bem maior do que a narrativa da criação dos Céus e da Terra. No primeiro capítulo, Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, descreve como Deus criou, a partir de sua Palavra, os universos invisível e visível. Já no segundo capítulo desse maravilhoso e imprescindível livro, o autor sagrado particulariza como o Pai Celeste formou, a partir do pó da Terra, o homem e a mulher.


É importante destacar que Deus, ao deliberar a criação do homem, tinha em mente não apenas um indivíduo, mas a humanidade em sua plenitude: Adão e Eva, os filhos advindos deste casal, a família, a sociedade e o Estado. A Igreja de Cristo, também, achava-se nesse maravilhoso contexto. Eis por que a criação do ser humano revestiu-se de tanta solenidade, glória e beleza.


Inspirado vividamente pelo Espírito Santo, o profeta Moisés assim descreve a criação do primeiro ser humano: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7). Concluímos, pois, dessa passagem sagrada, que o aparecimento do homem, no Universo, não se deve a um moroso e ridículo processo evolutivo, mas a um ato criativo e imediato de Deus.


Sim, querido leitor, nós saímos diretamente das mãos de Deus; não procedemos de criaturas inferiores e irracionais como o querem os adversários da Bíblia Sagrada. Também não viemos de uma “sopa” gosmenta e execrável, como ensinam os cientistas pós-modernos; fomos trazidos à vida pelas mãos do Pai Celeste. Logo, a nossa primeira referência é o próprio Deus, porquanto Ele fez-nos e dEle somos. O salmista enaltece o Eterno de Israel, reconhecendo-o como Criador e Pastor: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio” (Sl 100.3).


Quão maravilhosa foi a criação do primeiro homem. Ao formá-lo do pó da Terra, contemplava Deus, naquele indivíduo único e singular, não apenas Adão, mas o seu próprio Filho que, como já vimos, é descrito pelo apóstolo como o Último Adão. E, ao assoprar-lhe o fôlego de vida, nas narinas, o Senhor via não apenas o primeiro ser humano, mas os santos de todas as eras da História Sagrada. Detenhamo-nos nesta cena que o Gênesis permite-nos entrever: o Pai Celeste, após formar o homem do pó da Terra, reclina sobre este e, terna e amorosamente, assopra-lhe, nas narinas, o fôlego da vida. Criador e criatura, face a face; entre ambos, plena comunhão. Ao sentir a vida, provinda do Pai Celeste, o homem estremece, enche os pulmões do mais puro oxigênio e, finalmente, abre os olhos. Ali, diante de si, estava o Autor e Mantenedor da vida (Nm 27.16).


O sopro de Deus trouxe à existência não somente o homem, mas de igual forma a Bíblia Sagrada. Ele assoprou a sua Palavra, inspirada e inerrantemente, e seus queridos servos — profetas e apóstolos — inspiraram-na, trazendo-a para dentro de si com a mesma inerrância e inspiração (2 Tm 3.16; Sl 12.6). Por esse motivo, declaramos ser a Bíblia Sagrada a inspirada, inerrante, infalível, absoluta e completa Palavra de Deus.


Já prestes a encerrar o seu ministério na Terra, o Senhor Jesus assoprou sobre os discípulos, e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.22). E, quando da fundação da Igreja, no Dia de Pentecostes, narra o evangelista Lucas que a chegada do Consolador foi precedida por “um som, como de um vento impetuoso” (At 2.2). Era o sopro de Deus sobre os apóstolos e discípulos, que, reunidos no cenáculo, aguardavam a chegada da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.


Não fosse o sopro divino sobre o homem, teria este permanecido como uma bela estátua de terracota; existiria, mas nenhuma vida teria. Assemelhar-se-ia ao Davi de Michelangelo. Embora talhado no mais fino dos mármores, jamais deixará de ser um monumento; não poderá barrar a soberba de Golias nem derrotar os filisteus, como o fez o real pastorzinho de Belém.


Que o homem veio da Terra, não resta dúvida. Decompondo-o quimicamente, encontraremos, em seu corpo, os seguintes elementos: oxigênio, carbono, cálcio, fósforo, potássio, enxofre, sódio, magnésio, ferro, cloro, etc. Trata-se, pois, de uma composição tão perfeita, que basta faltar um desses itens, em nosso organismo, para desequilibrar-nos física e psicologicamente. Somente o Deus da Bíblia Sagrada, para criar um ser tão perfeito quanto você e eu, querido leitor.


3. A criação da mulher. Ao ler os dois primeiros capítulos de
Gênesis, temos a impressão de que Deus esquecera-se de criar a mulher. E que só veio a atentar a esse pequeno, mas encantador e romântico “detalhe”, depois de observar a solidão e a inquietude de Adão. Mas não foi o que ocorreu. Deus não é um ser reativo, mas excelentemente proativo; nada o surpreende. Por intermédio de Isaías, discorre Ele sobre a sua onisciência: “Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is 46.10).


A essas alturas, constrangemo-nos a perguntar: “Por que então, o Senhor, não criou a mulher de imediato?”. Podemos apontar, pelo menos, três razões: uma física, outra psicológica e ainda outra social.


Não resta dúvida de que Deus, ao criar Adão, fê-lo já com o corpo de um homem adulto, na plenitude de sua força. Todavia, foi necessário que o nosso protogenitor dispusesse de um tempo de adaptação, para alcançar a maturidade física e clínica. Doutra forma, como poderia submeter-se ele àquela cirurgia, por meio da qual Deus extraiu-lhe uma das costelas, para que desta formasse a mulher? Sendo Deus o criador do corpo humano, conhece-nos perfeitamente a estrutura física, psicológica e emocional (Sl 103.14).

Além do aspecto físico, temos de considerar também as implicações psicológicas e emocionais do primeiro homem. Se por um lado, tinha ele como referência o Criador, por outro, ignorava totalmente como seria alguém semelhante a si. Mas, com o amadurecimento de sua constituição psicológica e emocional, começou a sentir falta de um ser, de sua própria espécie, para compartilhar suas horas e dias. Teologicamente sabia como manter a mais estreita comunhão com o Senhor. Doravante, contudo, teria de aprender a relacionar-se, também. Com um ser semelhante a si. Esse foi o momento que Deus escolheu para criar a mulher (Gn 2.21-23).


Em seguida, o Senhor Deus, tendo a criação toda por testemunha, celebra o casamento de Adão e Eva: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois um só carne” (Gn 2.24, ARA).


Tomando essa passagem como norma, e não apenas como narrativa e descrição, afirmamos que o casamento, genuinamente bíblico, é heterossexual, monogâmico e indissolúvel. O matrimônio, assentado nessas bases, é uma benção para os cônjuges, para a sociedade e para o Estado. Mas, acima de tudo, é uma bênção para a Igreja de Cristo. Não podemos conceber uma congregação formada por lares desfeitos, mistos e fora dos parâmetros da Palavra de Deus. Logo, é indispensável lutarmos pela família cristã em todas as instâncias; sem uma família edificada sobre a Bíblia Sagrada, a humanidade jamais alcançará os objetivos que nos propôs o Criador de todas as coisas.
No capítulo seguinte, trataremos com mais vagar a criação da mulher. Constataremos que o Senhor lhe dispensou uma atenção toda especial. Jamais a teve como um ser inferior ou desprovido de alma; é a nossa coerdeira na vida presente e na eterna.


IV. A Missão e a Tarefa do Homem na Terra
Deus criou Adão, para que o homem desempenhasse as seguintes tarefas: glorificar o Criador de todas as coisas, propagar a espécie
e administrar o planeta.

1. Glorificar a Deus. Paulo afirmou que Deus criou o homem, para que este viesse a refletir-lhe a glória (1 Co 11.7). Ao contrário dos animais, o ser humano é o único ser vivo criado à imagem e à semelhança de Deus. Por essa razão, toda vez que alguém, seduzido pelo Diabo, adora a criatura em lugar do Criador, atenta contra a santidade e a glória divina (Rm 1.22,23). Quando cumprimos a vontade de Deus, tornamo-nos instrumentos de sua glória: “E serás uma coroa de glória na mão do Senhor e um diadema real na mão do teu Deus” (Is 62.3). Querido leitor, viva a vontade e o querer do Pai Celeste intensamente; não se desvie de seus caminhos.


2. Propagar a espécie. Deus ordenou também ao homem a deixar a casa dos pais e a unir-se à sua esposa, a fim de multiplicar e preservar a espécie humana (Gn 1.28; 2.24). Propagar a raça adâmica é uma obrigação de todo homem e de toda mulher; a povoação do planeta glorifica o nome de Deus e cumpre o seu propósito quanto à plenitude de seu Reino em todos os âmbitos da criação.


O Senhor tem um forte compromisso com a genuína família bíblica: heterossexual, monogâmica e indissolúvel. Leia, juntamente com a sua esposa e filhos, o Salmo 128. Uma família bem constituída é uma bênção à Igreja e segurança para toda a nação.

3. Governar e administrar o planeta. Deus, em primeiro lugar, criou a Terra e tudo o que nela há (Gn 2.1). Em seguida, criou o homem que, instalado no Jardim do Éden, tinha como missão inicial nomear a todos os animais e guardar o paraíso (Gn 2.15, 19).


A partir dessas tarefas iniciais, Adão haveria de adquirir a experiência necessária para governar e administrar toda a Terra (Gn 1.26). Do solo, extrairia tudo quanto viesse a necessitar, porquanto desse mesmo solo fora tomado. Do planeta que o Senhor nos deu, tiramos o pão que nos mantém vivos e os elementos necessários, a fim de produzirmos as tecnologias mais avançadas e inimagináveis. Que tudo, pois, seja para a glória e honra do nome de Deus.


Conclusão


Neste capítulo, conscientizamo-nos de que tudo quanto existe foi criado por Deus e para Deus. A Ele toda a glória, todo o louvor e todas as ações de graças. Sem o Deus da Bíblia Sagrada, nada do que existe seria real e palpável. Por essa razão, louvemo-lo pela criação de todas as coisas e por nossa própria existência.


Somente Deus torna possível o impossível. Sem Deus, não existiríamos. Desde Adão, o primeiro homem, passou-se aproximadamente, de acordo com algumas cronologias, seis mil anos. E, desde então, vem Deus preservando-nos a vida, segundo declarou o apóstolo Paulo (At 14.15-17).

                  A Raça Humana: Origem, Queda e Redenção




CAPÍTULO 1
NO PRINCÍPIO
A Potestade e Majestade de Deus na Obra da Criação

A Criação do Homem à Imagem de Deus

Vamos considerar agora o lugar do homem, colocado sobre as obras de Deus. Depois de tudo haver sido posto em ordem, era preciso alguém para tomar a direção. "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra".

 O leitor notará a alteração de ele para eles. Não nos é apresentado o fato atual da formação da mulher até o capítulo subsequente; não obstante, encontramos aqui Deus abençoando-os e dando-lhes conjuntamente o lugar do governo universal. Todas as ordens inferiores da criação foram postas sob o seu domínio comum. Eva recebeu todas as suas bênçãos em Adão. Nele recebeu, também, a sua dignidade. Se bem que ainda não tivesse sido chamada à existência, ela era, no desígnio de Deus, vista como parte do homem. "No Teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia" (SI 139:16).

A Posição de Eva com Respeito a Adão

 Assim é com a Igreja — a noiva do Segundo Homem. Ela era vista desde toda a eternidade em Cristo, a sua Cabeça; como lemos no primeiro capítulo de Efésios: "Como também nos elegeu n'Ele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante d'Ele em amor". Antes que um só membro da Igreja tivesse respirado o fôlego da vida, todos eram, na mente eterna de Deus, predestinados para serem conformes à imagem de Seu Filho. Os desígnios de Deus tornam a Igreja necessária para completar o homem místico. Por isso a Igreja é chamada "a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos" (Ef 1:23). Trata-se dum título espantoso, que explica muito da dignidade, importância e glória da Igreja.

Em geral considera-se a redenção como dizendo respeito apenas à bem-aventurança e segurança das almas, individualmente. Isto, porém, é uma opinião muito fraca sobre o assunto. Que tudo que pertence, de algum modo, ao indivíduo está absolutamente seguro, é — bendito seja Deus — um fato verdadeiro. Mas esta é a parte menos importante da redenção. Porém, que a glória de Cristo está incluída na, e ligada com, a existência da Igreja é uma verdade profunda e poderosamente mais importante. Se eu tenho o direito, com base na autoridade das Escrituras Sagradas, de me julgar como uma parte essencial do que é na realidade necessário para Cristo já não posso ter dúvida alguma se há abundância de provisões para as minhas necessidades. E não é a Igreja do mesmo modo necessária para Cristo? E, sem dúvida. "Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma adutora" (Gn 2:18). "Porque o varão não provém da mulher, mas a mulher do varão. Porque também o varão não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do varão... Todavia, nem o varão é sem a mulher, nem a mulher, sem o varão, no Senhor. Porque, como a mulher provém do varão, assim também o varão provém da mulher, mas tudo vem de Deus" (1 Co 11:8-12). Por isso, já não é apenas a questão de saber se Deus pode salvar um pobre pecador perdido, e recebê-lo no poder da justiça divina. Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só". Não deixou "o primeiro homem" sem "uma adutora", nem tão-pouco deixará o "Segundo". Assim como no caso do primeiro haveria um vazio na criação sem Eva, do mesmo modo — que pensamento estupendo! — no caso do último haveria uma falta na nova criação sem a Noiva, a Igreja.

Adão e Eva, Figuras de Cristo e da Igreja

 Vejamos agora a maneira como Eva foi trazida à existência, se bem que, fazendo-o, tenhamos que antecipar parte do capítulo subsequente. De entre todas as ordens da criação não foi encontrada uma adutora para Adão. "Um sono pesado" tinha que cair sobre ele, e uma adutora devia ser formada de si mesmo, para partilhar do seu domínio e da sua bem-aventurança: "Então o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o SENHOR Deus tomou do homem formou (1) uma mulher: e trouxe-a a Adão: E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada" (Gn 2:21-23).
__________ (1)

 Uma consulta em Efésios 2:20.22 mostrará ao leitor que as palavras traduzidas por "edificados" e "juntamente edificados" e a palavra hebraica aqui traduzida por "formou" são inflexões do mesmo verbo.

Contemplando Adão como um símbolo de Cristo, e Eva como figura de Igreja, como a Sagrada Escritura inteiramente nos autoriza, vemos como a morte de Cristo necessitava ser um fato consumado, antes que a Igreja pudesse ser estabelecida, embora, nos desígnios de Deus, ela fosse vista, e escolhida em Cristo, antes da fundação do mundo. Há, no entanto, uma grande diferença entre o secreto propósito de Deus e a revelação e seu cumprimento. Antes que o propósito divino pudesse ser atualizado a respeito das partes constituintes da Igreja, era preciso que o Filho de Deus fosse rejeitado e crucificado — que Ele tomasse o Seu lugar nas alturas —, que mandasse o Espírito Santo para batizar os crentes num corpo. Não é que almas não fossem vivificadas e salvas antes da morte de Cristo. De certo que o foram. Adão foi salvo, e milhares de outros, em todos os séculos, em virtude do sacrifício de Cristo; embora esse sacrifício não tivesse sido ainda consumado. Porém, a salvação individual de almas é uma coisa; e a formação da Igreja, como uma coisa distinta, pelo Espírito Santo, outra completamente diferente.

Esta distinção não é suficientemente compreendida; e, mesmo onde é mantida na teoria, é acompanhada de poucos dos resultados práticos que podem naturalmente ser esperados de uma verdade tão estupenda. O lugar único da Igreja — o seu parentesco especial com "o Segundo Homem, o Senhor do céu" —, os seus privilégios distintos e dignidades, todas estas coisas produziriam, se fossem compreendidas no poder do Espírito Santo, os mais ricos, mais raros e mais fragrantes frutos (veja-se Ef 5:23-32). Quando contemplamos o símbolo que temos perante nós, podemos fazer alguma ideia dos resultados que deveriam seguir-se à compreensão da posição da Igreja e seu parentesco.

Quanto amor não devia Eva a Adão! Que intimidade ela desfrutava! Que intimidade de comunhão! Que parte em todos os seus pensamentos! Em toda a sua dignidade, e em toda a sua glória, ela tinha inteiramente parte. Ele não dominava sobre ela, mas com ela. Ele era senhor de toda a criação, e ela tinha parte com ele. Sim, como já foi observado, ela era olhada e abençoada nele. "O homem" era o objeto; e quanto "à mulher", ela era necessária para ele; e, portanto, foi trazida à existência. Nada pode ser tão interessante como um símbolo. Primeiro o homem é criado, e a mulher vista nele, e então formada dele — tudo isso forma um símbolo do caráter mais notável e instrutivo. Não é que uma doutrina jamais possa ser fundada sobre um símbolo; mas quando achamos a doutrina plena e claramente estabelecida noutras partes da Palavra de Deus, podemos compreender, apreciar e admirar o símbolo.

O Salmo 8 dá-nos uma ideia admirável do homem colocado sobre as obras de Deus. "Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele?- E o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo; as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares". Aqui o homem é tido em conta, sem qualquer menção da mulher; e isto está perfeitamente de conformidade com o seu caráter, porque a mulher é considerada como fazendo parte do homem.

A Igreja não Está Revelada no Antigo Testamento

Não há revelação direta do mistério da Igreja em parte alguma do Velho Testamento. O apóstolo Paulo diz claramente, "o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas (do Novo Testamento)" (Ef 3:1 a 11). Deste modo, no Salmo que acabamos de reproduzir, somente nos é apresentado "o homem"; porém sabemos que o homem e a mulher são encarados debaixo de uma cabeça. Tudo isto terá o seu cumprimento nos séculos vindouros. Então o Verdadeiro Homem, o Senhor do céu, tomará o Seu lugar no trono, e, na companhia da Sua noiva, a Igreja, dominará sobre a criação restaurada. Esta Igreja é vivificada da sepultura de Cristo, é parte "do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos". Ele é a Cabeça e ela o corpo, formando um Homem, como lemos no capítulo quatro de Efésios: "Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo".

A Igreja, sendo assim parte de Cristo, ocupará um lugar na glória completamente único. Não havia criatura alguma que estivesse tão perto de Adão como Eva, porque nenhuma outra criatura era parte dele. Do mesmo modo, com respeito à Igreja, ela terá o lugar mais próximo de Cristo, na Sua glória futura. Nem tão-pouco é apenas o que a Igreja será que desperta a nossa admiração, mas o que a Igreja é. Ela é, agora, o Corpo do qual Cristo é a cabeça; é agora o templo do qual Deus é o Habitante.

Oh! que espécie de pessoas nós devíamos ser! Se este é o presente, e tal será a dignidade futura daquilo que nós, pela graça de Deus, fazemos parte, sem dúvida que nos convém uma conduta santa, consagrada, em separação, e elevada. Que o Espírito Santo possa mostrar estas coisas mais clara e poderosamente aos nossos corações, para que assim possamos ter uma compreensão mais profunda da conduta e do caráter de que é digna a santa devoção com que somos chamados. "Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" (Ef 1:18-23).

Notas sobre o Pentateuco Genesis.





O Repórter Jorge de Andrade do Programa Movimento Pentecostal fez uma entrevista exclusiva com o Comentarista da Revista Lições Bíblicas Jovens do 1º Trimestre de 2019, Pr Claudionor de Andrade. A Raça Humana - Origem, Queda e Redenção Uma obra guiada pelo Santo Espírito que nos esclarece que a antropologia tem que ser bíblica e genuinamente teológica e há de repousar em Deus, o Criador.

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