terça-feira, 8 de outubro de 2019

LIÇÃO 2: O NASCIMENTO DE UM LÍDER PROFÉTICO EM ISRAEL




    
        Para poder entender bem os fatos relacionados à vida do profeta Samuel, especialmente seu grande trabalho, que será desenvolvido como líder de Israel, é imprescindível que se leia os capítulos 1 a 16, os quais ele escreveu. Neles se encontram não somente aspectos relacionados à sua biografia, mas também seus atos.
          Podemos crer que havia uma razão especial para a Septuaginta chamar os livros de I Samuel, II Samuel, I Reis e II Reis de I, II, III, IV Reinos, mudança que se sucedeu por causa da Vulgata Latina de Jerônimo, que passou a chamá-los de Reis. Na verdade, o conteúdo desses dois compartimentos bíblicos, Samuel e Reis, descreve com exatidão a elevação e a queda de Israel como nação, por não priorizar os preceitos divinos. Samuel será o precursor desse momento histórico da nação, posto que é ele quem fará o processo da transição de teocracia para monarquia, ungindo os dois primeiros reis de Israel — Saul e Davi.
      Pelo nascimento de Samuel, um novo momento histórico se dará para a nação israelita, pois ele será um vaso comprometido com Deus para fazer a vontade divina (Ez 22.30).
        O épico narrativo envolvendo a pessoa de Samuel serve como estímulo para os pastores da atualidade no sentido de que o sucesso na liderança depende do compromisso que o líder tem com Deus. É seu trabalho não mudar o povo, mas atiçar a consciência de cada um para que saia do seu estado de apatia espiritual rumo a uma vida cheia de fé. O apóstolo Paulo falou que temos que servir a Deus com fervor (Rm 12.11), do grego zeo, que quer dizer “quente”, “zeloso para o que é bom”, mas isso só acontece se primeiramente aqueles que estão à frente da obra tiverem o coração dominado pelo poder de Deus, estiverem sempre ouvindo a sua voz, como aconteceu com Samuel.

      Para o cenário que se descrevia naquela época, de sucessivas crises espirituais, atolados na fossa do pecado, sem liderança firme, pela quebra da lei divina, Deus vai levantar um homem que é fruto de voto e oração, que desde cedo aprendeu a servir na casa do Senhor, que procurava cumprir com os propósitos divinos, seu nome é Samuel. Esse homem será a voz profética conclamando a todos para um viver santo e sincero com Deus, apresentando o caminho para uma vida vitoriosa. Líderes frios, sem o poder de Deus na vida, não podem levantar um povo morto, pois, para profetizarem, têm que estar abarrotados da presença de Deus (Ez 37.12). 

I. O AMBIENTE FAMILIAR DE SAMUEL

Onde Samuel Vai Nascer

Logo que começamos a ler o primeiro capítulo de 1 Samuel, percebemos que o autor se preocupou em dar pormenores sobre a família de Samuel, que não era perfeita, mas procurava trilhar o caminho da verdade de Deus. O homem que irá atuar na mudança histórica da nação de Israel virá de Elcana, mas quem era esse homem? O texto começa dizendo que ele era de Ramataim-Zofim, palavra que do hebraico é “vigilante em dupla altura” ou então “cumes gêmeos de Zofim”. Esse local é descrito como sendo a terra do nascimento da família de Samuel, e dele mesmo. Um detalhe importante pode ser dito sobre essa localidade: ela será o lugar permanente de Samuel (1 Sm 7.17). Nela ele nasce, morre e é sepultado (1 Sm 25.1). Vale dizer que somente aqui é que aparece a completude dessa localidade, sendo que em outras passagens bíblicas vem apenas o primeiro nome: Ramá. Assim, pode-se crer que Zofim vem primeiro para fazer distinção entre outras regiões que também eram denominadas de Ramá, que quer dizer cume.
       Ramataim-Zofim estava situada na região montanhosa de Efraim, distando ao norte de Jerusalém aproximadamente 24 quilômetros. Para o escritor e historiador Flávio Josefo, esse lugar poderia ser também a cidade em que José de Arimateia nasceu (Jo 19.38). Portanto, podemos dizer que Elcana era da tribo de Levi, porém estava habitando na terra de Efraim. Temos que ter sempre em mente que Elcana era um levita, mas efraimita somente por causa de sua residência. Samuel irá atuar como sacerdote porque era de origem levita também.
        Nesse aspecto da genealogia de Elcana, posto que ele é apresentado como descendente de Coate, surge um pequeno problema, pois Samuel é apresentado como um levita. Particularmente, podemos fazer uso das palavras de Joyce G. Baldwin, que diz:

A genealogia de Elcana, mencionada até a quarta geração passada,
pode ser uma indicação de sua posição na sociedade, embora nada
mais se conheça sobre as pessoas ali citadas. Por outro lado, em
Crônicas, Elcana é um nome recorrente na lista dos descendentes
de Coate (1Cr 6.22-30) E, em 1 Crônicas 6.66,34, apresenta Samuel
como um levita. Mas como um efraimita também pode ser levita?
Vale assinalar o seguinte: [...] Belém é também chamada de Efrata no
Antigo Testamento (Gn 36.15, 19; Rt 4.11; Mq 5.2) e efraimita [...]
pode indicar um membro da tribo de Efraim ou um belemita [...] havia
ligações entre os levitas de Belém e os da região montanhosa de Efraim
(Jz 17.7-12; 19.1-21). Se Elcana teve algum vínculo de parentesco
com pessoas de Belém, seria natural que seu filho Samuel voltasse
ali para oferecer sacrifício (1Sm 16.2,5), embora a família tivesse se
reunido mais frequentemente em Siló, o santuário de Efraim.1

      Há necessidade dessa explicação pelas seguintes razões: se Samuel não era descendente da tribo de Levi, então como ele poderia ser sacerdote? Grandes eruditos da Bíblia falam de Samuel como profeta. Podemos citar William S. Lasor, Davíd A. Hubbard, Frederic W. Bush, Roy B. Zuck; em suas obras há um destaque especial a Samuel como exercendo os três ofícios: rei, profeta e sacerdote. Note o que diz Boy Zuck:

Samuel atuou em três ofícios. Era profeta acima de tudo; o homem por
quem a Palavra de Deus veio. Nessa função, deu a sentença para a casa
de Eli (1Sm 3.1-18), ungiu Saul e Davi (1Sm 10.1; 16.13), reprovou
Saul por desobediência (13.13; 15.22,23) e encorajou a Davi (19.18).
“O ofício profético foi exercido até mesmo depois da morte, quando
Saul encontrou-se com ele através da bruxa de En-Dor” (1Sm 28). Na
função de profeta, também estava envolvido ao escrever a história dos
atos de Deus em Israel (1Cr 29.29). Samuel também era sacerdote.

Quando era menino, ele usava o éfode feito de linho, o sinal de sacerdócio. Liderou na adoração do Senhor no lugar alto em uma das cidades benjaminitas (1Sm 9.11-24). Samuel praticou o papel sacerdotal de ensinar, quando discursou para as pessoas em 1 Samuel 10.17-27 e 12.1-25. O cronista declarou em nota curta que Samuel participou no processo de estabelecimento original de porteiro (1Cr 9.22). Samuel se tornou, no sentido exato do termo, o último juiz de Israel. Como os juízes de outrora, ele conduziu o povo na batalha contra os filisteus.2
       Ainda podemos fazer uso da citação que Champlin, que escreve, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, quanto a esse assunto o seguinte:

Em seu ministério, Samuel atuou como juiz, como sacerdote e como
profeta. O primeiro livro de Samuel fornece-nos os dados básicos de
sua vida. Os pais de Samuel foram Elcana e Ana. Elcana era levita,
descendente de Coate, mas não da linhagem aarônica (1Cr 6.26,33).
Ele vivia no território de Efraim, visto que Ramá, onde residia, ficava
no distrito montanhoso da tribo de Efraim [...].3

            Falando de Elcana como sendo um levita, vale recorrer ao Comentário Bíblico Beacon, que nos dá um bom e preciso entendimento nesse sentido:

O pai de Samuel era Elcana (criado ou adquirido de Deus), cuja as-
cendência vai até Levi em 1 Crônicas 6.33-38, mas que não estava na
família araônica ou sacerdotal. Sua casa estava no território de Efraim;
consequentemente, ele era conhecido como efrateu.4

         Frente a todas as colocações mencionadas acima, podemos dizer que o que o Comentário Beacon diz está certo quando fala que a descendência dos coatitas vai até Levi, isso porque, no seu aspecto histórico, Coate era um dos três filhos de Levi que desceram ao Egito com Israel (Nm 26.57). O Dicionário Wycliffe5 afirma que os descendentes de Coate eram Anrão, Isar, Hebrom e Uziel. Anrão, que se casou com a irmã de seu pai, Joquebede, foi o pai de Moisés e Arão, assim a linhagem sacerdotal posterior de Israel vem de Coate através de Arão (Êx 6.1-18). Os demais descendentes de Coate foram numerados entre os outros levitas e lhes foi concedido o mais alto privilégio, o de cuidar dos utensílios sagrados do santuário (Nm 3.27,31; 4.2; 7.9).
       A família dos coatitas estava sempre ligada às questões sacerdotais, além de serem seus integrantes os responsáveis pelo transportar dos mais altos objetos sagrados, como altares, candelabros e demais utensílios do Tabernáculo. Também a eles foram dadas, na terra de Canaã, treze cidades sacerdotais em Judá, Simeão e Benjamim, e dez cidades levíticas em Efraim, Dã e Manassés (Js 21.4,5,10,20; 1 Cr 6.54). Davi determinou que os coatitas levassem a Arca para Jerusalém (1 Cr 15.4,5). Eram eles também que desempenhavam o ministério da música (1 Cr 6.33; 2 Cr 20.19). Também estavam junto com outros levitas na purificação do templo nas reformas empreendidas por Ezequias e Josias (2 Cr 29.12; 34.12). Depois do exílio, alguns desempenharam o trabalho da preparação dos pães da proposição (1 Cr 9.32). Os pensamentos expostos acima esclarecem que havia, sim, ligação dos coatitas com a família levítica, o que permitia Samuel atuar como um sacerdote. Ademais, frente à situação na qual a nação se encontrava, pelo aspecto histórico, ele poderia desenvolver a função que desempenhou: profeta, juiz, sacerdote.

        Para alguns pode parecer um pouco estranho Elcana habitar em território efraimita, porém isso não era algo anormal, incomum, porque os levitas não tinham as tribos locais definidas, de maneira que podiam habitar nas cidades que pertenciam às tribos, pois fora dito pelo Senhor que eles não teriam herança (Dt 18.1.2).
        Se relacionarmos o nome dessa localidade com Samuel, vemos que ele estava em dupla altura para ser o protagonista, pois tinha comunhão com Deus e só quem está no alto é que pode enxergar mais longe, para- fraseando Isaac Newton,6 que afirmou: “Só cheguei até aqui porque me apoiei nos ombros dos gigantes”.
      O estar no alto, no aspecto bíblico e teológico, quer dizer ter uma vida na total dependência divina, posto que é a lei do Espírito que coloca qualquer um acima da lei do pecado e da morte, como disse Paulo: “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.2). No livro de Samuel, quem procurou viver na lei divina pôde sempre vencer, superar, como Davi, mas os que se colocaram na lei do pecado, como os filhos de Eli, foram sentenciados à morte.
       Alguém pode perguntar: por que o livro de Samuel começa com tantas riquezas de detalhes biográficos sobre sua família? Isso é feito para que os leitores possam entender a veracidade dos fatos históricos registrados na Bíblia. Há que se dizer que o Antigo Testamento é digno de confiança por sua precisão em detalhes históricos, não sendo uma lenda, contos de fadas, mito. Nesse ponto, podemos fazer alusão ao que escreveu Champlin:
       O juiz-profeta Samuel, figura-chave da história de Israel, merece assim
cuidadosa introdução biográfica no livro. As minúcias naturalmente
confirmam a historicidade do relato. De fato, os eruditos opinam que
o Antigo Testamento mostra-se historicamente exato a partir da época
de Samuel, se não mesmo antes, desde os tempos mais remotos, um
fenômeno nunca igualado no caso da história das demais nações antigas
do mundo, cujos primórdios perdem-se nas brumas de lendas e mitos.7

        Geograficamente, situar Samuel dentro de uma localidade, especificando a residência de seus pais, é evidenciar para nós, leitores, que esse homem não vai aparecer nas páginas da Bíblia como uma pessoa qualquer, mas que tem uma família, um local certo de nascimento. Nesse particular, vemos que Jesus é apresentado como tendo uma residência (Jo 1.39), por diversas vezes, pregando. Paulo procurou com denodo esclarecer sua origem familiar, localidade de seu nascimento e formação, uma prova de que ele não era um intruso, alguém sem princípio, sem origem (At 22.3, ARA).
        O homem que vai fazer a diferença na história de Israel não é somente um profeta, mas alguém que tem origem, boa formação familiar e espiritual, que desde cedo aprendeu a estar na casa do Senhor, por incentivo de seus pais, e, sob a tutela de Eli, aprendeu a servir como servo de Deus. Vale salientar que é fundamental um líder ter histórico e história, pois isso irá contribuir grandemente para sua formação pastoral. Grandes líderes não surgem em seminários de renome, em grandes universidades, como Harvard, Cambridge, que têm seus valores, mas no lar, essa ideia é paulina (1 Tm 3.4).

        Eugene Peterson está certo quando, em suas experiências pastorais, na obra que escreveu, Memória de um Pastor, destaca a importância da participação de sua família e do local onde viveu para sua formação pastoral. Há um capítulo que ele destaca sobre o açougue do seu pai, afirmando que aquele lugar foi a sua introdução para o mundo da igreja, que, poucos anos mais tarde, seria o seu local de trabalho de pastor. Falando do seu local de nascimento, em Montana, que seu pai adquiriu em 1946, visibiliza-se sua nostalgia, mas afirmando o quanto tudo pôde contribuir para sua formação pastoral. Por isso relata:

É aí que boa parte do processo de formação da minha vocação pastoral começou, ganhou clareza ou se completou. As escolas me deram uma boa bagagem, mas nunca a coisa mais importante. Os professores tiveram sua importância, mas não foram centrais. Amigos e livros deixaram sua marca, mas apenas como vozes de um diálogo mais amplo. Este lugar é o solo santo — minha sarça ardente, minha caverna de Horebe, minha ilha de Patmos — que me mantém alicerçado e para onde sempre volto. 27

       Na verdade, o que compreendo pelo sentimento de Eugene Peterson é que ele busca destacar que o local onde nasceu, a influência que teve dos seus pais, sobretudo sua mãe, foram elementos impulsionadores para o seu grande crescimento pastoral. Por vezes, um líder pode ter boa desenvoltura, retórica, uma erudição teológica grandiosa, mas não é um grande profeta de Deus para as nações, pois lhe faltou uma boa formação espiritual oriunda de seus pais, do seu ambiente familiar, de sua igreja local.

      Samuel teve todos esses privilégios — uma mãe piedosa, que procurava criar em sua mente e coração o desejo de ser um instrumento nas mãos de Deus, um sacerdote para lhe ensinar como se dirigir perante Deus quando Ele chamar. Tudo isso esteve presente na sua vida, razão pela qual veio a ser tudo o que foi para Israel e para o Reino de Deus.

       Não há como negar a influência do meio na nossa construção humana. Nesse particular, existem elementos de verdade nas frases filosóficas apontadas por Jean Jacques Rousseau: o homem nasce bom, mas a civilização o corrompe. 28 Ou na afirmativa de Karl Marx de que o homem é produto do meio. Sendo assim, para não deixarmos nossos filhos e filhas serem dominados por um sistema mundano, devemos criá-los em um ambiente espiritual forte, ensinando com veemência a Palavra de Deus a todo momento (Dt 6.1-6), de modo que, ao serem colocados no contexto social, no mundo universitário, serão como Moisés, Daniel e seus companheiros, que jamais se deixaram deslustrar pelos desejos pecaminosos deste mundo vil.

      A Bigamia Presente
      Num primeiro momento, temos que entender que o padrão estabelecido para a constituição da família é a monogamia (Gn 2.24). Paulo deixa claro que cada homem tenha sua própria mulher e cada mulher seu próprio marido (1 Co 7.2). Na verdade, o modelo da poligamia e da bigamia não é divino, antes revela a iniquidade seguida à época e usar a esterilidade de uma mulher para ter outra como escape também não era bíblico. Em sua obra Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos, Halph Gower aborda o assunto da seguinte maneira:

A poligamia não era comum nos tempos bíblicos, embora fosse permitido o casamento com mais de uma mulher ao mesmo tempo, como quando Jacó causou-se com Lia e Raquel e teve relações sexuais com as servas delas. Uma razão era que o marido tinha de ser muito rico para sustentar mais de uma mulher. Portanto, a realeza é que tendia a ter várias esposas. Davi tinha muitas, inclusive Mical, Abigail e Bate-Seba, e Salomão teve um número ainda maior durante o período mais próspero de seu reinado. O Sumo Sacerdote só podia ter uma esposa (Lv 21.13,14) e outras figuras importantes do Antigo Testamento eram monógamos — Noé, José e Moisés. Os rabinos afirmavam frequentemente que mais de uma esposa criava problemas (Lia e Raquel, Gn 30; Ana e Penina, 1Sm 1). 29

        Não há aprovação divina para a poligamia; sua prática era apenas tolerada, não que fosse de fato permitida por Deus. A esterilidade jamais foi a base para que o homem tomasse outra mulher para gerar com ela, biblicamente falando. Sabemos que Rebeca era estéril, mas Isaque não trilhou o caminho de tomar outra mulher para si; antes, colocou-se em oração e obteve resposta. Isaque orou ao Senhor por sua mulher porque ela era estéril e o Senhor lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, então concebeu (Gn 25.21).
      Ao falarmos que o problema da poligamia estava ligado à iniquidade, isso fica claro porque, no seu desespero, mesmo aqueles que diziam confiar em Deus, não esperavam de fato nEle, antes se entregavam ao modelo de outros povos, os quais viviam nessas práticas, sem atentar para o modelo divino. Nas áureas páginas do Antigo Testamento, a obviedade de que proceder adotando a poligamia não era correto se evidencia nos problemas que ela gerava, como competitividade, desrespeito para com a mulher e, sobretudo, transformando-a em simples objeto.

      Biblicamente falando, homens santos de Deus trilharam o caminho da poligamia, todavia, jamais se deve pensar que tal procedimento tivesse a ratificação divina. O modelo da poligamia vai se estendendo até chegar aos tempos de Davi e Salomão. Existem alguns textos que vão estabelecer algumas regulamentações sobre essa prática, mas deve-se entender que em momento algum consta na Palavra de Deus esse tipo de relacionamento como aprovado.      
        William L. Coleman, falando sobre essa suposta legalidade, escreve:
A Lei Mosaica contém dispositivos para a proteção das concubinas. Isso talvez não seja uma indicação de que se aprovava essa relação, mas, sim, uma orientação com o objetivo de manter a ordem. Os textos de Êxodo 21.7-11 e Deuteronômio 21.10-14 estabelecem o direito da concubina. 30

         Podemos dizer que, assim como Deus não é o criador do divórcio, nem em momento algum o autorizou, apenas tolerou, posto que ele se dá no nível do pecado, o mesmo se pode dizer da poligamia, que é um procedimento que fere seriamente os ditames bíblicos e firmado na esteira da iniquidade humana.

       Devemos ter todo o cuidado ao falarmos sobre a poligamia e entender que naquela época existiam costumes que eram permitidos pela Lei Mosaica, como o caso do levirato, que, ainda que estivesse em outro campo de atuação, era dever do irmão do falecido contrair casamento com a cunhada (Dt 25.5- 10). A situação era complicada, pois nesse caso não era levada em conta a questão do estado do casado, mas, dentro desse padrão, o objetivo era tão somente perpetuar o nome do falecido; não era uma atitude firmada no interesse de um desejo pecaminoso, de orgulho próprio ou de machismo, nem se estava adotando o estilo de vida de outras nações sem Deus.

     Podemos dizer que a prática da poligamia resultou de alguns fatores, dentre eles pontuamos alguns. No desejo de ter vários filhos e querendo se assemelhar a outros povos por questões culturais, alguns homens passavam a ter outras mulheres para com ela gerar filhos, o que aconteceu com Abraão e Agar (Gn 16.3). Alguns documentos de Nuzi descrevem que era comum naquela época esse tipo de procedimento.

      Ainda podia acontecer de o homem ter duas mulheres por questões pessoais e amorosas. Foi assim que aconteceu com Jacó. O sogro o enganou, entregando uma mulher que ele não amava. Ele, porém, trabalhou incansavelmente pelo amor da outra, a quem amava (Gn 29.18). Mais um motivo para esse modelo está firmado no fato puramente político, pois, querendo estabelecer alianças e ganhar vantagens financeiras, razão pela qual alguns supõem que Davi e seu filho Salomão assim procederam (2 Sm 5.13- 16; 1 Rs 11.1-3). Não se pode, porém, afirmar que era apenas questão política, pois, no caso de Bate-Seba, foi o coração pecaminoso de Davi, que a todo custo queria dormir com ela, o que revela seu lado iníquo.

     A prática da poligamia vai diminuindo cada vez mais. Não se tem no Novo Testamento um homem de Deus que esteve assim procedendo nesse modelo. É claro, fala-se que Herodes, o grande, tinha nove mulheres. João Batista foi incisivo contra Herodes por causa de Herodias, que era mulher de Felipe, seu irmão, afirmando que não era lícito ele a possuir (Mt 14.1-4).

      Sumariamente, para os reis Deus deixou claro que eles não deveriam seguir o caminho da poligamia (Dt 17.17), mas a base geral para o modelo ideal da constituição da família não está nos padrões sociais e culturais de outras nações, fossem elas avançadas como fossem, mas, sim, naquilo que Ele falou em Gênesis 2.24, que a união certa é um homem e uma mulher, para serem os dois uma só carne .

     O texto diz que Elcana tinha duas mulheres, possivelmente por causa da esterilidade de Ana, mas tal desculpa não convence, pois ele deveria ter entregue tudo ao Senhor, como fez Ana, e logo depois o problema estaria resolvido, como foi. Ela passou a ter filhos, com destaque para Samuel. O Comentário Bíblico Beacon, nesse particular, diz:
A poligamia (várias esposas) era permitida pela Lei de Moisés (Dt 21.15). Jesus deixou claro que o plano original de Deus era o casamento de um homem com uma mulher para toda a vida (Mt 19.8). O registro do Antigo Testamento mostra que a prática do casamento poligâmico sempre foi seguida de problema. Penina, que teve filhos, importunava a vida de Ana (graça ou presente gracioso), que era estéril. O favoritismo também era uma fonte de atrito (5.8). 31

       Jamais devemos pensar que a Bíblia aprovasse o homem ter várias mulheres. A lei surgiu apenas para proteção dessas mulheres, aliás, o próprio comentário acima citado descreve os inúmeros problemas que surgiam desse tipo de relacionamento. Pela poligamia, as mulheres tomadas não passavam simplesmente de amantes, o que é chamado de concubinato; elas serviam apenas como objeto para o sexo e a procriação.

      Deus, ao criar a mulher, lhe deu dignidade e honra, e não a fez menor que o homem (Gn 1.28), tendo cada um seu papel a desempenhar na vida a dois. Paulo diz que nem o homem é sem a mulher nem a mulher é sem o homem (1 Co 11.11). Ainda acrescenta que, no campo dos direitos espirituais, os dois são iguais, pois Cristo desfez todo e qualquer tipo de aviltamento contra a mulher e a colocou em uma posição de brio (Gl 3.28).

      Elcana seguiu um modelo que não era aprovado por Deus, nos quais andaram Jacó, Gideão, Saul, Davi, Salomão, Roboão, porém, Jesus Cristo aprovou o que Deus havia dito lá no princípio sobre a vida a dois, que uma só carne se forma com o marido e a esposa (Gn 2.24; Mt 19.6; Mc 10.8). Portanto, jamais devemos pensar que a Bíblia aprova a poligamia, mas, sim, a monogamia.

Uma Família Piedosa

     Apesar das pendências presentes na casa de Elcana, há um destaque típico: ele subia para adorar e sacrificar ao Senhor em Siló (1 Sm 1.3), onde estava o centro de adoração, pois ainda não existia o Templo. Piedade era vista nessa família por meio da oração e do sacrifício que prestava a Deus. Isso pode ser visto pela presença do ato de adoração, que no hebraico é shachah, que quer dizer “inclinar-se diante de um superior em sua deferência”. Sacrificar no hebraico é zabach, e dá a ideia de imolar para o sacrifício.

         O dicionário Houaiss define a piedade como atos religiosos, que é o que se notabiliza na família de Elcana. Ele estava possivelmente cumprindo uma das três festividades exigidas na lei: Páscoa, Pentecostes, Tabernáculos (Êx 34.26; Dt 16.16), as quais eram praticadas por judeus piedosos. Pelo menos três vezes ao ano Elcana se dirigia a Siló para adorar ao Senhor.

        A ação de Elcana em se dirigir a Siló descreve com limpidez o homem piedoso que era. Na verdade, podemos crer que ele era bem disciplinado e diligente nos seus compromissos espirituais. Algo interessante pode se notar na postura de Elcana e Ana: ambos tinham conhecimento dos seus pecados e do procedimento descabido de Hofni e Fineias, e da complacência do sumo sacerdote Eli, de maneira que o sacerdócio estava todo enodado.

        Nos dias de Eli, além dos pecados de seus filhos, muitos já não subiam a Siló para adorar ao Deus verdadeiro, mas adoravam e praticavam sacrifícios ao ídolo de Mica (Jz 12.17). Porém, Elcana e sua casa continuavam servindo ao Senhor com verdade e sinceridade.

       Com essa ação, eles faziam oposição ao sistema idolátrico que estava estabilizado naquela época. Note que a inclusão de Yahweh Sabaoth era para declarar a Deus como sendo o Comandante, ao passo que a referência a exército aludia ao aspecto militar. O profeta Jeremias fez muito uso desse título divino; no seu livro constam aproximadamente 80 vezes.

       Vale dizer que Yahweh Sabaoth é um nome que aponta também para consolo, pois o Senhor é aquele que luta as nossas batalhas e nos concede vitórias nos momentos de crises, pois, conforme registra Lucas, nada é impossível para Ele (Lc 1.37). Recorrendo ao texto da Septuaginta, a expressão grega é Kurios pantokrator, que quer dizer “o Deus Todo Poderoso”.

        Frente a toda a crise que se apresentava nos dias de Eli, Elcana e Ana acreditavam que eram servos do Senhor dos exércitos, isto é, seus soldados, e que podiam fazer alguma coisa para Deus reverter o quadro, por isso eram frequentes à adoração em Siló, procurando evidenciar sua confiança em Deus e no seu poder. Com tal atitude, esse casal acreditava que Ele poderia reverter o quadro. Entende-se nesse contexto que o motivo de ela pedir um filho e lhe dedicar completamente na obra é porque sabia da necessidade de alguém que fosse comprometido verdadeiramente com Deus.

      Estamos vivenciando um mundo cada vez mais comprometido com o pecado, famílias sendo atacadas pelos modismos e ensinos pós-modernos pouco edificantes. Todavia, aquelas que são verdadeiramente firmadas na aliança com o Senhor não serão abaladas e, ainda que tenham as imperfeições humanas, poderão fomentar o poder do Senhor dos exércitos nesta terra, pois, como falou Paulo, somos seus soldados, e nenhum soldado em combate se envolve com negócios desta vida (2 Tm 2.4).

 II. SAMUEL: FRUTO DE ORAÇÃO
A Humildade de Ana

       No sacrifício oferecido por Elcana havia um envolvimento de toda a família. Isso porque, além dos oito tipos de porções a que tinham direito os sacerdotes, na ocasião do oferecimento do sacrifício (Lv 6.26; Nm 18.8), de tais porções podiam os membros da família fazer parte. É preciso entender que o momento do sacrifício não era apenas um sentimento de tristeza, mas de alegria, uma festividade da qual todos os familiares participavam.

       Durante essa festa, no envolvimento de toda a família, estavam Ana e Penina. Não se pode ratificar com segurança, mas alguns supõem, baseados em 1 Samuel 1.8, que possivelmente Penina dera a Elcana dez filhos e, assim sendo, ela tinha uma posição merecida na ocasião da festividade, ao passo que Ana, ainda que fosse bem tratada por Elcana, recebendo dele atenção especial, ela mesma se sentia humilhada, pois naquela época uma mulher não ser mãe era algo estarrecedor, uma vergonha (Dt 12.5-7).

       Diante de toda essa situação, Ana não deixava de ir à Siló festejar e adorar ao Senhor. Ainda que carregasse o estigma de estéril, ela estava ali. O versículo 6 mostra a provocação de Penina contra ela, detratando-a negativamente por não ter tido filhos. Observe que a palavra rival do hebraico é tsarah, que quer dizer “importunado, problema”. Nesse sentido, essa mulher era um grande problema para Ana. O doutor Fred E. Young, falando dessa provocação de Penina, diz:
 A sua rival a provocava. Ka´as, a palavra traduzida para provocar, indica o sentimento despertado por causa de tratamento não merecido. Usa-se em relação ao sentimento divino de triunfo sobre os inimigos de Israel (Dt 32.27). Para a irritar. Literalmente, para fazê-la trovejar. A palavra ra ´am significa provocar intimamente, perturbar, despertar comoção íntima. 32

        Nas duas palavras hebraicas, podemos atentar para a ação maléfica de Penina; na primeira, que em nossas Bíblias é provocar, essa mulher agia querendo que Ana ficasse indignada, cheia de ira, e, na segunda, que fala de trovejar, ela buscava fazer com que Ana se enfurecesse, tremesse de ódio. Não era fácil para Ana, pois, não gerando filhos, dela não poderia haver um substituto para Elcana; através dela seu nome não seria perpetuado. Outro agravante é que, naquela época, uma mulher não ter filho era como se fosse amaldiçoada por Deus.

      Pelo texto se nota que Penina era declarada uma opositora de Ana em alto nível, isso porque, mesmo ela não dando filhos a Elcana, ele a amava grandemente e a tratava de modo lhano. Isso nos leva a pensar que Ana correspondia ao amor do seu marido. Mesmo sendo estéril, não deixava de fazer seu marido feliz como homem.

      As mulheres cristãs que são casadas não devem deixar que coisas não resolvidas sejam empecilho para a sua felicidade. Ana era consciente de que seu marido a amava e que ele confiava nela plenamente, mas ela queria pelo menos um filho para não perder para sua rival, que a provocava afirmando que ela era amaldiçoada, que Deus era contra ela, fechando sua madre. No viver diário, Ana sempre era atacada por Penina, rival que fazia de tudo no intento de a provocar; criava ciúme, gerava tristeza, queria tornar sua vida infeliz, por saber do grande amor do marido para com ela. No tocante a Penina, vale a pena fazer uso da citação de Champlin:
Penina nos faz lembrar de Xantipa, a esposa do filósofo Sócrates. Sócrates disse que primeiramente ela trovejava e então chovia. Ela gritava, ralhava e então chorava. E quase sempre conseguia impor a sua vontade. Por outro lado, Sócrates dizia: Seja como for, casa-te. Se obtiveres uma boa mulher, então isso será muito bom. Se obtiveres uma mulher ruim, isso fará de ti um filósofo, e isso será bom. 33

       Ana não se exasperava. Apesar da provocação de Penina, ela não batia boca, antes se dirigia a Deus solicitando que aquele quadro fosse mudado. Na perspectiva teológica dos hebreus, em alguns pontos ela era fraca, posto que uma mulher estéril era resultado não de problemas biológicos, mas, sim, de algum tipo de punição, possivelmente por conta de pecados ocultos, dentre outras causas, o que fazia de Ana objeto de maldição.

       Podemos dizer que Ana sofria muito, pois, além de ter que lidar com a situação de não ser mãe, sofria com as afrontas de sua rival. Ademais, podese afirmar que Ana desejava ter um filho para corresponder mais ao amor do seu marido e lhe dar uma geração. Naquela época, era muito importante ter filhos, não somente por causa da mão de obra que eles fariam, mas porque eram considerados presentes vindos de Deus (Sl 127.3).

       Buscando alcançar o favor do Senhor, Ana ia à casa de Deus em Siló. Não era exigido que as mulheres fizessem peregrinações, mas Ana ia porque ali queria fazer um voto ao Senhor e solicitar um filho, retirando dela aquele opróbrio. O texto diz que Penina também ia e, certo dia, provocou intensamente a Ana, em especial exibindo seus filhos, o que fez com que ela não tivesse apetite para comer, resultando em prantos e lágrimas. Elcana tenta consolar Ana, pensando que suas lágrimas eram apenas por causa de sua esterilidade, o que a fazia sofrer. É bem verdade que esse marido era tudo para Ana, mas ele não podia tirar o peso que essa mulher carregava na mente, de que não era de toda aprovada por Deus. O cuidado, amor e carinho de
        Elcana não eram suficientes nem capazes de acalentar de vez o coração sofrido de sua esposa. Estando todos eles em um sentimento de alegria e prazer por estarem na presença de Deus, diz o texto: tendo comido e bebido, Ana se sentia derrotada, sem felicidade completa, fato que foi notado pelo sacerdote Eli, que pensava que ela estava embriagada, não sabendo ele que ela estava dominada pela tristeza.

      Apesar de toda essa situação, Ana jamais atacou sua rival, seu marido, ou até mesmo o sacerdote, e isso prova o quanto ela era humilde, pois procurou enclausurar-se naquele momento de dor indo direto aos pés do Senhor. Tanto Tiago como Pedro falaram da importância de nos humilharmos na presença do Senhor, para que, no tempo certo, sejamos exaltados (Tg 4.10; 1 Pe 5.6). Nossos rivais estão aí, sempre procurando nos atacar, fazer com que percamos o equilíbrio, o controle, que pratiquemos ações que evidenciem atos de carnalidade, mas tudo isso pode ser vencido quando nos humilhamos perante o Senhor. O segredo para a vitória é nos rendermos aos pés de Deus (2 Cr 7.14).

Ana e sua Amargura de Alma

      Uma análise meticulosa do texto no hebraico nos dá uma concepção melhor sobre essa amargura de alma. É claro, o ambiente e a situação que envolviam Ana, como, por exemplo, as provocações de Penina, o peso da teologia judaica, que colocava uma maldição em uma mulher que era estéril, estavam a conduzindo à neurose. Observe que amargura no original é marah e pode ser uma referência a comida amarga, mas a ênfase aqui é sobre a dor de Ana frente a tudo o que estava enfrentando.
       Em 1 Samuel 1.10, o texto está no construto marat naphesh (amargura de alma), e no Léxico de Hebraico e Aramaico de William L. Holladay, 34 ele assim o descreve: amargura, aflição. O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, falando de “mara”, diz:
O verbo marar é usado 15 vezes, sempre tendo um homem e jamais Deus como sujeito, a menos que o verbo descreva uma interpretação que o homem dê acerca das ações e vontade de Deus. Por exemplo, Jó (e esta raiz e seus vários derivados aparecem um maior número de vezes em Jó do que em qualquer outro livro do AT [10 vezes]) assim se queixa: “O todo poderoso, que amargou a minha vida” [...] Semelhantemente, Noemi diz: “Não me chameis Noemi, chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso” (Rt 1.20). [...]. Mar, amargo, forte. Este vocábulo aparece 37 vezes no AT. Na maioria das vezes usa-se o adjetivo num sentido figurado, como acontece com o verbo, para descrever uma emoção, embora se achem uns poucos exemplos de mar num sentido literal. As Escrituras falam de cachos de uvas amargas (Dt 32.32), águas amargas (Êx 15.23), alimentos (Pv 27.7), que, embora amargos, são saborosos para os famintos (Is 5.20). 35

       Segundo o que foi dito acima, ainda percorrendo o mesmo dicionário, a ideia geral, no seu aspecto figurativo, é evidenciar uma reação emocional a algo que pode ser destrutivo, que inclui uma situação: problemas familiares (Gn 27.34), algumas dificuldades pessoais (Jó 7.11), situação precária (Sl 64.3), mágoa com apostasia (Jr 2.19), descontentamento com a liderança (1 Sm 2.22), frustrações em termos de sonhos e aspirações (Ez 27.30,31). No caso de Ana, seria sua esterilidade (1 Sm 1.10).

      No sentido bíblico, a amargura é descrita como um sentimento de tristeza (Jó 10.1), um tipo de ressentimento (Rm 3.14), mas ela envolve padecimento moral, tristeza, azedume. A amargura, caso não seja logo tratada, pode representar um risco fatal, pois, quando alguém é dominado por ela, os resultados são desastrosos, já que passa a estar contaminada pelo sentimento de rancor, ódio; seu coração fica envenenado, de modo que não pode produzir nada de bom.

      Uma pessoa amargurada jamais olha para os outros com bons olhos, antes, na sua visão, nada presta, seu emocional é estressante, suas memórias são sempre pungentes. Em resumo, dizemos que uma pessoa amargurada não tem prazer com a vida e busca estragar a vida dos outros.

     A Bíblia fala de duas noras que tornaram a vida de Isaque e Rebeca uma amargura: “E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito” (Gn 26.35), sem brilho, sem vida, sem alegria, sem encanto, pois pessoas amarguradas são como vírus letais, que saem disseminando sua doença. Paulo diz que devemos manter longe de nós toda amargura (Ef 4.31), inclusive afirma que os maridos não devem tratar suas esposas com amargura (Cl 3.19).

       Quando o escritor aos Hebreus diz que em nós não deve haver raiz de amargura (Hb 12.15), possivelmente ele tinha consciência do que esse mal pode causar, pois pessoas amarguradas são como viventes mortos, como soda cáustica; têm no seu interior feridas incuráveis, as quais resultaram de traumas da vida, de amor não correspondido, de tratamento ignorante, de abusos, de violência.

      Nós, cristãos, devemos tratar a todos com amor, evitando assim gerar sentimentos de amargura, pois um coração ferido é a porta aberta para todo tipo de sentimento ruim. Salomão falou da importância de guardamos bem o nosso coração, pois dele é que procedem as fontes da vida. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23, ARA). Se a fonte da vida está ferida, as águas que procederão dela serão contaminadas.

     Temos que ter em mente que Ana era como todo humano: tinha suas vulnerabilidades, porém, sabia onde deveria colocar seus ressentimentos, suas amarguras — perante o Senhor. Ele não deixou que esse sentimento a corroesse por dentro. Ela sabia que tudo poderia ser resolvido através dEle, por isso o texto diz: “[...] orou ao Senhor e chorou abundantemente” (1 Sm 1.10).

      O endereço certo para derramarmos nossas lágrimas, nossos gemidos e gritos é aos pés de Deus, pois somente Ele entende o que é de fato a amargura de alma. Todos nós podemos correr o risco de estar amargurados, mas não podemos deixar que isso nos domine, pois o que deve permear o nosso ser é o fruto do Espírito (Gl 5.22).

        Na situação que vivia Ana, fazendo uma paráfrase, ela não podia recorrer aos médicos ou psicólogos, visto que os judeus entendiam que somente Deus era que tinha o poder de curar e consultar médico era negar o poder divino, inclusive considerado como buscar um médium. Já dissemos que havia fragilidade na teologia judaica. Essa teologia irá avançar mais adiante, de maneira que logo Lucas será considerado como um dos servos de Deus na companhia de apóstolo (Cl 4.14).

O Pedido de Ana

      Ana tinha consciência de que seu problema só quem poderia resolver era o Senhor. Era costume nos cultos os judeus fazerem votos, promessas, desejando assim uma bênção da parte de Deus. Ela fez um voto a Deus, afirmando que, caso Ele lhe desse um filho, iria dedicá-lo completamente à sua obra.

      Ana queria que seu filho fosse plenamente envolvido nas coisas de Deus desde cedo, e que fosse criado no Tabernáculo. Também seria um nazireu, isto é, na sua cabeça não passaria navalha nem ele beberia vinho. Vale dizer que Samuel não seria um nazireu por um tempo, como era de costume, mas, sim, por toda sua vida. A questão do voto seguia algumas normas judaicas, inclusive teria que ser aprovado pelo marido (Nm 30.8), mas creio que, frente à sua aflição, ela já tivesse conversado com o marido, recebendo dele aprovação para tal.

      Diante de sua amargura de alma, essa mulher fez duas coisas importantes. Demorou-se em sua oração e só movimentava os lábios, orando com o coração, razão pela qual Eli a teve como embriagada. Eli era um homem experiente e, através do tempo de ministério, pôde contemplar todo tipo de pessoa fazendo oração no Tabernáculo. Como de praxe, alguns judeus oram em alta voz, mas aqui duas coisas o incomodavam: a oração silenciosa e sua demora no pedido. Não sabia ele que essa mulher estava clamando pela vinda do homem que iria fazer toda a diferença em Israel, o seu filho Samuel.

        É bom entendermos a questão da oração em voz alta e a oração silenciosa. Para os judeus, a oração em voz alta, além de espantar o sono, dá maior concentração, porém, a oração silenciosa pode expressar duas coisas: segredos que não se quer que sejam conhecidos de todos e dor profunda na alma. Existe oração que só pode ser feita dentro do nosso quarto, por isso precisamos seguir a recomendação de Cristo Jesus: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mt 6.6, ARA).

       Sem entender o que se passava com Ana, julgando-a como embriagada, pensando na honra do Tabernáculo, Eli a repreende. No Targum, que são traduções ou paráfrases do Antigo Testamento feitas em aramaico, afirma-se que Ana se conduzia como uma louca. Ana, com respeito, esclarece sua situação ao sacerdote e diz que estava ali derramando tudo o que estava no seu interior, no coração — seus ressentimentos e dores —, ao Senhor, pois somente Ele poderia reverter a situação.

      Ana diz para Eli não a ter como filha de Belial, ou seja, de Satanás, que tem o sentido de vil, isto é, uma alcoólatra no santuário, pois somente pessoas que estão cheias do inimigo é que podem querer fazer isso na casa de Deus. Veja o contrassenso. Os filhos de Eli, que eram beliais, que exerciam o sacerdócio (1 Sm 2.22), não foram severamente repreendidos pelo pai, mas uma mulher, que era piedosa, foi.

      Depois que Ana explica toda a situação, Eli então age como deveria, compartilhando com ela de sua dor. Daí pede a Elohim, o Deus Poderoso, que atenda e confirme seu pedido. Logo em seguida, essa mulher agradece a Eli por seu apoio concedido, ademais, ela entendeu que havia achado graça perante os olhos de Eli, assim entendeu prontamente que seu pedido havia sido atendido, por isso de imediato faz três coisas: (1) segue o seu caminho; (2) alimenta-se; e (3) manifesta grande júbilo.

        Essa nova postura de Ana declara sua confiança plena em Deus e a certeza de que a bênção era certa, pois Ele tinha ouvido suas orações. Sobre o pedido de Ana, não se deve considerar uma troca, ou algo egoísta. Ela queria ser mãe e pede um filho para o consagrar inteiramente à obra de Deus. No Comentário Bíblico Beacon, esclarece-se muito bem o propósito do pedido de Ana, que não deixa dúvida de que ela não queria algo apenas para si, mas para Deus.

     A oração de Ana por um filho incluía o voto de que (a) ele seria entregue ao Senhor por todos os dias da sua vida e (b) sobre sua cabeça não passará navalha. Este último detalhe era a característica provincial dos nazireus (Nm 6.5), homens ou mulheres que eram especialmente consagrados a Deus. Os votos dos nazireus deveriam ser seguidos por um período de tempo limitado, mas o propósito de Ana era a dedicação de seu filho para toda a vida. 36

       O pedido de Ana estava dentro dos propósitos divinos, em momento algum ela pediu algo para contrapor com sua rival, para ter um menino apenas para ela, mas dedicaria a Deus. Para um entendimento mais claro desse pedido de Ana recorremos às palavras de McNair, que diz:

 É bom lembrar que Ana vivia sob a Lei. Isto é evidente pelo caráter da sua oração. Essa oração parecia uma troca de favores com Deus: caso Deus lhe desse um filho, ela prometia dedicá-lo a Ele. Tem-se dito que não devemos pedir nada ao Senhor a não ser a dádiva de Sua graça. Jacó prometeu a Deus o dízimo de tudo em troca de ser alimentado, vestido e protegido (Gn 28.20-22), uma boa troca de favores. Mas os que conhecem o Deus da graça sabem que não é necessário fazer isso. Não podemos enriquecer a Deus pelas nossas dádivas e Ele não vende os seus favores. Sua Palavra é: “Pedis e recebereis, para que o vosso gozo seja completo” (Jo 16.24). 37

         Jamais devemos ter em mente que Ana estivesse barganhando com Deus ou, como se diz, “uma santa barganha”. Antes, seu desejo era puro, verdadeiro e visava à glória de Deus.

      No livro O Espírito nos Ajuda a Orar, 38 seus autores afirmam que é possível que a oração de Ana tenha sido registrada na Bíblia mais por questão de consequências do que por outra razão. Sua oração gerou um dos mais influentes profetas de Israel, Samuel, que se tornou o agente de Deus na seleção e unção do incomparável rei Davi. Note que nesse caso aqui a ênfase está sendo dada mais a Samuel, mas é bom lembrar que Deus leva em conta um pedido sincero e verdadeiro. Tiago diz que alguns não têm nada porque não sabem pedir (Tg 4.2). Ana soube pedir bem, Jacó soube pedir bem. Eles não estavam querendo barganhar com Deus, mas glorificá-lo mediante as bênçãos dEle recebidas.

       Com essa bênção recebida ficava provado que ela não era uma mulher amaldiçoada, como muitos diziam, mas que apenas Deus havia cerrado sua madre por um propósito. Nossos pedidos a Deus não podem estar firmados em trocas, desejos egoístas, mas devem, sim, sempre corresponder ao querer de Deus, por isso é que João dá ênfase à necessidade de orar segundo a sua vontade (1 Jo 5.14).

III. A DEDICAÇÃO DE SAMUEL

 O Nascimento de Samuel

       Retornando da peregrinação em Siló, logo pela manhã, bem cedo, Elcana toma suas duas mulheres e os demais que estavam com ele e retornam a Belém. Estando já em casa, Elcana tem relação sexual com sua esposa Ana, que a versão Almeida Revista e Corrigida está certíssima quando faz uso do verbo hebraico yada, “conhecer”.

      Entendemos então que Ana fez sua parte como serva de Deus ao orar e votar a Ele, mas está claro no texto que, pelo relacionamento sexual, uma ação humana, é que se dá a concepção, do hebraico harah, que quer dizer “estar grávida”. O nascimento de Samuel segue o tempo normal de uma gravidez. Esses detalhes esclarecem que Deus agiu em favor de Ana pelos meios naturais.

     O nome que Ana dá ao seu filho é Samuel, o que corresponde à narrativa textual: pedido ao Senhor. O comentarista bíblico R. N. Champlin, 39 falando do nome de Samuel, escreve: nas palavras de Hillerus, ele dá a seguinte definição: Saul-mul-el, pedido aos olhos de Deus, isso porque Ana fez tal pedido e o voto no Tabernáculo do Senhor, mas o nome certo, conforme diz Gesênio, o sentido certo do nome de Samuel é o nome de Deus, apelar para Saul é querer fazer corresponder ao acontecimento envolvendo as questões circunstanciais. O Comentário Bíblico Beacon, falando sobre o nome de Samuel, pontua:

Quando a criança nasceu, Ana chamou o seu nome de Samuel (20 shemuel em 1Cr 6.33), que literalmente significa nome de Deus ou um nome piedoso. Como recebera a criança em resposta à sua oração, Ana procura por um nome e um caráter divino. Os nomes do Antigo Testamento compostos por “el” são derivados de Elohim ou El, os termos hebraicos genéricos para Deus. 40

       O nascimento foi humano, mas tudo se processou pela ação divina, assim, sendo um homem, Ana queria dar a seu filho um nome que fizesse jus a todo o acontecimento, que apresentasse um menino que veio de Deus por meio da oração, que ele se revelaria como piedoso. Na obra Estudos Bíblicos Expositivos em 1 Samuel, de Richard D. Phillips, ele nos agracia com uma boa explicação sobre o nome de Samuel. Veja:

Ana pediu um filho, e sabia que Deus a havia ouvido assim que orou porque ela conhecia Deus. Então, quando o filho nasceu, ela quis louvar a fidelidade de Deus ao atender a sua oração. Aonde quer que Samuel fosse e o que quer que ele fizesse, seu nome dava testemunho de uma grande e importante verdade sobre Deus. Ele seria um exemplo vivo de que quando o povo de Deus pede humildemente, o Senhor ouve e responde com misericórdia e graça. 41

        Entendemos que o nome que a mãe põe no filho não é algo ocasional, sem sentido, antes, havia um propósito especial, que era testemunhar da fidelidade do Senhor, que respondeu à sua oração. Caso semelhante se nota no nome que é dado a Isaque. Devido à idade de Abraão e Sara, o acontecimento iria servir de deboche, mas Sara deseja que todos se juntem a ela para sorrir por causa da bênção recebida da parte de Deus, mesmo contrariando toda e qualquer lei da lógica humana.

          O cristão, ao olhar para o nascimento de Samuel, entende claramente que, quando alguém entrega a Deus os seus problemas, tendo ciência de que Ele é o Senhor dos exércitos, que ouve as orações, agirá primeiramente tratando com nós mesmos, como fez com Ana, fazendo com que seu semblante não fosse mais o mesmo e gerando a certeza de que todos quantos se entregam confiantemente nas mãos de Deus, milagres acontecem.

      Com Ana aprendemos que orar vale a pena em qualquer situação e que não  podemos nos deixar levar pelas críticas, rivalidades, pelas más interpretações que alguém possa fazer de nós, pois, ao orarmos, os céus vêm a nosso favor.

O Cumprimento do Voto
         O voto se trata de uma promessa solene, através da qual uma pessoa que tem fé se compromete com Deus. Nas páginas do Antigo Testamento, muitas pessoas fizeram votos a Deus, os quais eram regulamentados pela lei (Lv 27; Nm 6.2,30; Dt 23.21), mas a prática dos votos vem mesmo antes da implantação da lei. Por isso que se vê Jacó fazendo voto a Deus (Gn 28.20). Deus não obriga ninguém a votar, mas quem o fizer deverá cumprir cabalmente (Sl 50.14; 56.12; 65.1; Ec 5.4).

        Por um tempo, Ana não subiu com o esposo a Siló, ficando em casa com o pequeno Samuel, o que revela a mãe cuidadosa que era. Gosto muito da colocação que Matthew Henry faz sobre o lado de Ana como mãe:

 Ana, apesar de sentir um caloroso afeto pelos átrios da Casa de Deus, rogou para permanecer em casa. Deus quer misericórdia, e não sacrifícios. Os que por vezes veem-se impedidos de servir a Deus publicamente, por criarem e cuidarem de suas crianças pequenas, podem consolar-se com este caso e crer que, se cumprirem este dever com o espírito de justo, Deus os aceitará afavelmente. 42

        É dever dos pais levar os filhos à casa de Deus, mas existem alguns momentos que isso pode se tornar inviável, mas não é desculpa para que eles não sejam ensinados, orientados, e nem para as mães se tornarem relapsas nesse particular.

        O marido de Ana, Elcana, logo iria com os demais para cumprir com suas responsabilidades religiosas. Na opinião de diversos comentaristas bíblicos, ele estava indo agradecer possivelmente pela festa da Páscoa ou dos Tabernáculos, sendo que a última era um tipo de agradecimento pela colheita abundante (Dt 16.10).

      O texto diz que ele subiu para cumprir o seu voto e, nesse particular, alguns tendem a afirmar que Elcana juntou-se a Ana no propósito feito por ela, de ter um filho e dedicar a Deus. É claro, o texto não alude a isso, mas, pelo grande amor que ele tinha por ela, isso não pode ser descartado.

       Posteriormente, Ana iria ao Tabernáculo em Siló para cumprir o voto que havia feito e, enquanto esse momento chegava, ela aproveitava o tempo que tinha para ficar pertinho do seu filho, o qual logo seria dedicado a Deus e se tornaria juiz, profeta, um homem especial nas mãos de Deus. Não foi fácil para Ana cumprir o voto, pois ela passou algum tempo olhando para o filhinho que tanto desejava, amamentou-o por aproximadamente três anos, o que intensificava o amor ainda mais, porém, mesmo assim, ela estava consciente do seu compromisso e não demoraria a entregá-lo por toda a vida ao Senhor Jeová. Por isso, as palavras sentimentais do comentário de Champlin são louváveis:

 Ana ainda dispunha de poucos meses preciosos para desfrutar da presença do filho. O voto que ela havia feito era difícil de cumprir. Nesse cumprimento, grande foi o sacrifício pessoal de Ana. Samuel precisava ser primeiramente desmamado, para que o voto fosse cumprido. Este versículo é comovente. Poucos meses agora restavam para que mãe e filho continuassem juntos. Depois disso, Yahwe tonar-se-ia o companheiro especial de Samuel. 43

        Uma coisa é clara: na dedicação completa de Samuel a Deus, Ana não perdeu nada. Ainda que ficasse longe do filho, logo ele seria um grande instrumento para abençoar todo o povo de Deus. Seria o divisor de águas, um novo vulto. Com ele, uma nova história iria começar. Como é bênção para os pais saber que colocaram no mundo filhos que procuram servir, que são úteis à nação, quer seja na política, quer no judiciário, na educação, na engenharia, ou onde for. Mais especial ainda é quando esses filhos são instrumentos de Deus a favor da salvação dos pecadores.

       Ana diz que, no momento em o menino for desmamado, ela irá cumprir o seu voto e entregá-lo ao Senhor. Na questão do desmame, os costumes são diversificados. Alguns povos o faziam aos dois anos de vida para meninos e aos três para meninas. Na leitura do apócrifo de Macabeus 7.27, os meninos eram desmamados com a idade de três anos. Podemos crer que o costume de Israel era mesmo de três anos. Elcana vai cumprir o voto que havia feito e, depois, será a vez de Ana.

       No versículo 24, é dito claramente que Ana cumpriu o seu voto, acompanhado do rito que era exigido. Note que, pelo texto hebraico, fala-se em três novilhos, o que, para alguns críticos, na verdade foi um descuido do autor, posto que a Septuaginta menciona apenas um novilho de três anos de idade, mas em nada isso afeta a autoridade do texto bíblico, pois não se trata de questão doutrinária. Os 28 litros de farinha, que eram o efa, e o odre de vinho eram elementos necessários ao rito da consagração, que, por fim, davase o holocausto do animal.

      Agora se dará o momento mais difícil para Ana. Ela teria que deixar o menino Samuel com Eli. O texto diz que ele era muito criança, no hebraico na`ar, que quer dizer “menino, moço, jovem”, mas crê-se que ele teria aproximadamente três anos de idade. Ana era consciente de seu voto e tinha no seu coração a certeza do que Samuel iria ser na obra de Deus. Por isso, o deixa ali e, é claro, como mãe teve o seu coração partido de dor. Ana fez um grande sacrifício, mas logo iria louvar a Deus pelas grandes bênçãos que aconteceriam por intermédio do seu filho.

Dedicação de Samuel

       Depois da realização dos sacríficos, segundo as exigências divinas, Samuel foi conduzido e apresentado à presença de Eli, o sacerdote, o que doravante estará com ele para ensinar a atuar como profeta e sacerdote do povo de Deus. Foi servindo no Tabernáculo que Samuel aprendeu a desenvolver as atividades atinentes ao culto levítico, dentre outras responsabilidades.

       Ana relembra a Eli que três anos atrás estivera ali e fizera um voto, então agora estava pronta para cumpri-lo (1 Sm 1.10-18). Relata o teor do seu voto e agora quer que ele aceite a criança para cumprir o compromisso feito com Deus, isso porque não era permitido uma criança de três anos estar no Tabernáculo, a não ser que o sacerdote permitisse. Ela, então, esclarece que seu voto era o de dedicar aquela criança ao trabalho do Senhor por toda a vida. Seu voto era de nazireu. Eli entendeu que Deus estava trabalhando e, por isso, prontamente aceita cuidar da criança. Ana entrega Samuel a Eli, que aparece na expressão bíblica “devolvido ao Senhor”. Ela tinha consciência de que Samuel tinha uma missão grandiosa a cumprir e, caso ficasse somente em casa, isso jamais iria acontecer. Se quisermos ver Deus agir grandiosamente, precisamos fazer grandes sacríficos também, por isso é que Paulo fala da importância de entregar os nossos corpos como sacrifícios vivos para Deus usar (Rm 12.1).

       Depois de tudo, Elcana louva a Deus, ou, possivelmente, todos da família, e deixa Samuel com Eli, voltando para Ramá. É claro, o texto não diz, mas não podemos jamais deixar de falar do sentimento profundo de mãe, o qual com certeza fizeram lágrimas rolar nos olhos de Ana, mas ela parte com o sentimento de dever cumprido e alegria de saber que estava deixando seu filho no lugar certo, e que ele se tornaria um grande homem de Deus.


                                           Osiel Gomes - O Governo divino em mãos humanas


                                             



COMENTÁRIO I. 


A Vida e Ministério de Samuel. 1:1 - 7:17.

 A. O Nascimento e a Infância de Samuel. 1:1 - 4:1a.

 1 Samuel 1 1:

1. Um homem de Ramataim-Zofim. A LXX diz: um homem de Arimatéia (cons. Mt. 27:57), um zufita. Ramataim, Elevação Dupla, é a forma dupla de Ramá, "elevação". De acordo com este livro, Ramá foi o lugar do nascimento (1:19), residência (7:17) e sepultamento (25:1) do profeta Samuel. Costuma ser identificado com Beit Rima, uma aldeia na orla ocidental dos planaltos centrais da Palestina, 19,3kms a noroeste de Betel e 19,3 kms a oeste de Silo. Zufe era um antepassado de Elcana (v. 1) e Ramá, o lar de Samuel (1:19), ficava na terra de Zufe (9: 5). Portanto, Ramá pode ser o nome abreviado de Ramataim-Zofim. Um efraimita. Elcana (e portanto Samuel) era um levita (veja I Cr. 6:33) morando em território efraimita. Isto não era coisa fora do comum, uma vez que os levitas não tinham território tribal mas habitavam entre as tribos em cidades específicas. 

2. Duas mulheres. A poligamia, em desacordo com o ideal para o casamento (Gn. 2:24), foi praticada por Abrão, Jacó, Gideão, Davi e Salomão. Este casamento bígamo (provavelmente de acordo com Dt. 21:15-17), foi sem dúvida causado por causa de um primeiro casamento sem filhos. Nenhuma acusação moral está sendo feita aos casamentos de Elcana. Ana, ou Graça, também era o nome da profetiza Ana (Lc. 2:36) e a mãe da Virgem Maria (de acordo com uma tradição), e da irmã da Rainha Dido de Cartago, sobrinha da Rainha Jezabel. Penina, "Coral" ou "Pérola", pode ser comparado à Margarida, que significa "pérola". 

3. Senhor dos Exércitos. Um título para Deus, o líder dos exércitos da terra de Israel (Êx. 7:4; Sl. 44:9), e o comandante dos exércitos celestiais, tanto dos a) corpos celestiais, tais como o sol, a lua e as estrelas, como dos b) seres celestiais. Este título aplicado ao nome divino de Jeová, aparecendo pela primeira vez no V.T. em Samuel, proclama Sua soberania universal. Em Silo. Silo continuava sendo o centro religioso da nação até depois da perda da arca da aliança na desastrosa batalha de Ebenézer. Nobe então substituiu Silo como centro religioso. Jeremias destaca a desolação de Silo como testemunha constante do juízo divino: "Ide agora ao meu lugar, que estava em Silo, no princípio, fiz habitar o meu nome, e vede o que lhe fiz, por causa da maldade do meu povo de Israel" (Jr. 7:12, 14). Os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias. Os dois nomes são egípcios. Hofni, significa girino, e Finéias - o negro. 

4. Oferecia. Seu sacrifício foi uma oferta de gratidão, pois os adoradores só participavam das ofertas de gratidão (Lv. 7:11-18). Parte do animal era oferecido em sacrifício a Deus, e o restante era consumido pelos adoradores em um despretensioso culto de comunhão.

 5. A Ana, porém, dava porção dupla. Muitos comentários acusam Elcana de favoritismo para com Ana. Esta falsa interpretação surgiu na tradução da Bíblia de Genebra de 1560, que diz: uma porção digna, com base na tradução do Targum da difícil palavra hebraica ‘apayim ("de duas faces"?) para excelente. A LXX diz ‘epes-ki, "mas", dando a entender que Elcana dava a Ana apenas uma porção, embora a amasse. O favoritismo de Elcana consistia não em sua discriminação na mesa da refeição, mas em amar Ana mais do que amava Penina. 

6. A sua rival a provocava. Ka'as, a palavra traduzida para "provocar", indica o sentimento despertado por causa de tratamento não merecido. Usa-se em relação ao sentimento divino de triunfo sobre os inimigos de Israel (Dt. 32:27). Para a irritar. Literalmente, para fazê-la trovejar. A palavra ra'am significa provocar intimamente, perturbar, despertar comoção íntima. Mais tarde, a Versão Siríaca traduziu esta palavra para "lamento, queixa, murmuração". 

8. Melhor do que dez filhos. Dez é um número redondo usado para expressar um grande número. "Não te sou melhor que uma grande família?" é o significado.

 9. Eli, o sacerdote pertencia à família de Itamar, o quarto filho de Arão. A obrigação dos membros desta família era cuidar da propriedade material do Tabernáculo. Exatamente quando o sumo sacerdócio passou para a família de Eli não se sabe. Alguns mestres acham que o templo de Silo era uma tentativa fracassada da família de Itamar de usurpar o controle do sumo sacerdócio. Outros acham que a linhagem do sumo sacerdócio de Eleazar ficou decadente ou talvez até se extinguisse e por isso este ofício foi transferido para a seção mais promissora da família. Templo do Senhor. Literalmente, palácio do Senhor. Hekal é uma palavra emprestada do sumeriano É-gal, "casa grande". Originalmente era usada para indicar o palácio do rei, enquanto que mais tarde foi usada significando o templo da divindade. O Tabernáculo era chamado de "palácio de Jeová", não por causa da magnificência e esplendor do edifício, mas por ser o lugar da habitação de Jeová dos Exércitos, o Deus-Rei de Israel (cons. Sl. 5:7). 

10. Amargura de alma. Eliseu usa a expressão, "a sua alma está em amargura", descrevendo a seu servo Geazi o desespero da rica mulher sunamita diante da morte do seu jovem filho (II Reis 4:27). A frase usada com referência a Ana transmite a idéia de amargura mental, profundo desapontamento. 

11. E fez um voto. Seu voto foi duplo: a) serviço de levita para toda a vida; b) voto de nazireu para toda vida. Nenhuma dessas posições era necessariamente permanente entre os hebreus. Um levita servia até a idade de cinqüenta anos; o voto de nazireu era tomado por período de tempo específico (veja Nm. 6:2 e segs. com referência à Lei dos nazireus). Sansão, Samuel e João Batista foram dedicados a um nazireado perpétuo desde o nascimento. 

13. Seus lábios se moviam, porém não se lhe ouvia voz nenhuma. Oração silenciosa não era característica dos antigos hebreus. A oração fora do comum de Ana levou Eli a pensar que estivesse embriagada. 16. Filha de Belial. Belial foi usado em literatura pós-bíblica como substituto para Satanás. Aqui significa "mulher indigna". 

17. O Deus de Israel te conceda a petição. Comentadores judeus oferecem uma alternativa de tradução que faz Eli predizer que Deus daria a Ana um filho. O texto hebraico implica em desejo piedoso, não em predição profética. 

18. A mulher se foi seu caminho. A LXII diz: voltou ao seu alojamento e comeu. Ambas as traduções, a E.R.A. e a LXX, dão a entender que Ana interrompeu sua rejeição para orar pedindo um filho. 

19. Levantaram-se de madrugada, e adoraram. Este costume de se levantarem cedo para orar é comprovado pelos essênios de Qumran. Lembrando-se dela o Senhor. A sugestão aqui é que a ação direta do Senhor foi necessária para a concepção. A partir desta idéia só há um passo para a crença que uma grande família era recompensa da virtude e que a esterilidade era sinal de conduta pecaminosa. 

20. Passado o devido tempo. Explicado por Kimchi (falecido em 1235), o comentador judeu, como "no fim do período da gestação". É melhor entender como "ao começar do novo ano", isto é, na próxima peregrinação anual de Elcana. Samuel. Uns fazem este nome derivar de shemu'a-'el, "ouvido de Deus"; outros, de shemu-'el, "seu nome é poderoso". No entanto, a derivação de "o nome de Deus", conforme apresentado por Gesenius, é a explicação preferida. Duas outras pessoas do V.T. têm o nome de Samuel (Nm. 34:20; 1 Cr. 7:2). 

21. A cumprir o seu voto. Talvez Elcana se unisse a Ana na apresentação dos votos diante do Senhor. A LXX traduz votos e acrescenta que nesta ocasião ele pagou "todos os dízimos de sua terra" (cons. Dt. 12 : 26, 27). Segundo Josefo, já se ventilou que o copista hebreu omitiu o que a LXX registrou por causa da improbabilidade de um levita pagar dízimos. Contudo, Josefo descreve Elcana como sendo um levita e de acordo com Nm. 18:26 e segs. e Ne. 10:38, os levitas pagavam dízimos. 

22. Quando for o menino desmamado. De acordo com II Mac. 7:27, as mulheres hebréias amamentavam seus filhos até os três anos de idade. 23. Confirme o Senhor a tua palavra. Deus ainda não se revelara a Ana. Talvez as palavras de Eli (v. 17) levaram-no a pensar que Deus tinha falado por meio do nascimento, e assim eles antecipavam alguma palavra subseqüente. A siríaca e a LXX dizem: tua palavra, como expressão de Elcana dizendo que Ana cumpriria o seu voto no devido tempo. 

24. Três novilhos. Dois novilhos, de acordo com Ehrlich, eram presentes para Eli, e um foi sacrificado (v. 25). Keil sugere que todos os três foram sacrificados, um pelo voto do menino, um pela oferta queimada anual e um pela oferta anual de graças. A LXX diz: um novilho de três anos. 26. Que aqui esteve contigo. Orava-se a) de pé, como Ana e Abraão (Gn. 18:22); b ) ajoelhando-se, como Salomão (I Reis 8:54) e Daniel (Dn. 6:10); ou c) prostrando-se, como Moisés e Arão (Núm. 16:22) e Jesus (Mt. 26:39).


28. Como devolvido ao Senhor. Devolver é uma palavra inexpressiva para descrever o presente que Ana fazia de Samuel para o serviço do Senhor, no templo de Suo. Aqui a dedicação é completa e irrevogável.

 1 Samuel 2 2:1.

 Minha força está exaltada no Senhor é a figura de um boi selvagem com a cabeça levantada confiando em sua força. Minha boca se ri dos meus inimigos refere-se a um gesto ainda usado no Oriente Médio para mostrar escárnio e desprezo. 

2. Não há santo como o Senhor. É a santidade do Senhor que o torna diferente dos homens, transcendente. Esta transcendência é mais em termos de intensidade que de distância. Rocha . . . como o nosso Deus. Rocha é uma metáfora freqüente que expressa a força e a permanência do Senhor. As rochas, passíveis de fácil defesa, eram freqüentemente usadas como lugares de refúgio. A força de Deus é um lugar de refúgio (Sl. 91:1, 2).

 3. Pesa todos os feitos. Com a figura da balança provando o valor humano (Pv. 16:2; Dn. 5:27 ), podemos comparar a familiar ilustração do Livro dos Mortos dos egípcios, onde o coração do falecido é representado sendo pesado em uma balança com o símbolo da Verdade e da Justiça, antes que o morto seja admitido no reino de Osíris. O texto ao qual a parte hebraica se refere, contudo, aplica-se a esta vida. 

4. O arco dos fortes é quebrado. Fora de Is. 51:56, hatat não é usado para indicar a quebra de coisas externas, mas o quebrantamento humano.

 6. Faz descer à sepultura, e faz subir. Embora isto possa se referir à ressurreição dos mortos, geralmente se entende que os assuntos da vida e morte estão nas mãos de Deus; e pode se referir ao homem que Deus conduz até as portas da morte, mas poupa. 

8. Levanta. .. do pó, e desde o monturo. O monte de lixo da cidade era o lugar onde os mendigos dormiam de noite e pediam esmolas durante o dia. Este versículo mostra como Deus cuida dos fracos e dos  necessitados. Assim como o juiz humano tem o dever de julgar a favor da viúva, do órfão, do estrangeiro e do pobre (Isa. 1:17; Jr. 5:28), assim Deus, o Juiz divino, julga a favor do desamparado (Sl. 43:1; Is. 11:3, 4). Assim, sua justiça torna-se o sinônimo da salvação (Is. 46:13; 51:4 -8). Do Senhor são as colunas. Isto é, os príncipes e os governadores. O Senhor colocou os homens nos lugares de autoridade e assentou sobre elas (eles) o mundo, isto é, colocou o governo dos reinos sobre os seus ombros (cons. Gl. 2:9, onde os homens são chamados de "colunas").

 9. Seus santos (hasidim). A palavra hebraica hasidaw fica melhor traduzida para "lealdade no amor". Transmite a idéia de lealdade a um acordo. O melhor exemplo nos negócios humanos é a fidelidade aos votos matrimoniais – lealdade e amor. Hasidaw é geralmente traduzido para "misericórdia", "bondade", "benevolência". É a raiz de Hasidim "os piedosos". 

10. Seu rei . . . seu ungido. Esta é a primeira referência nu VT. ao rei como ungido do Senhor. Mais tarde, no pensamento escatológico do Judaísmo, esta expressão tornou-se característica do esperado Libertador, o Messias ou o Cristo, que aliviaria os sofrimentos do mundo em uma era messiânica.

 11. Servindo o Senhor. Servir na presença do Senhor indica a realização das obrigações dos sacerdotes ou levitas em conexão com a adoração de Deus. Em tal serviço Samuel participava enquanto crescia, sob a superintendência de Eli e de acordo com suas instruções. 13-17. Costume daqueles sacerdotes. Aquilo que se justifica pelo precedente De fato, o precedente se encontra na lei de Dt. 18:3 e Lv. 7:31-34. Os filhos de Eli eram culpados de duplo pecado: a) em vez de tornar apenas a porção que lhes era devida, tiraram tudo o que o garfo apanhasse, e b) tomavam a sua parte antes que a gordura e o sangue fossem oferecidos ao Senhor. Ao que parece, os sacerdotes não aceitavam convites para as refeições familiares, mas queriam que os pedaços escolhidos fossem enviados aos seus lares. Para se certificarem de que receberiam esses pedaços melhores, insistiam em que seus servos fossem buscá-los antes das ofertas serem feitas. 

18. Vestido de uma estola sacerdotal de linho. A estola sacerdotal era uma vestimenta leve (II Sm 6:14) usada pelos sacerdotes menos graduados, os levitas juízes e pessoas importantes, corri propósitos religiosos. Não deve ser confundido com o éfode usado na profecia. Embora os sacerdotes egípcios também usassem roupas de linho (ipd), não podemos ter certeza se suas vestes influenciaram ás dos sacerdotes hebreus.

 19. Uma túnica pequena. O hebraico me'îl indica uma espécie de manto longo e solto usado pelos reis (I Cr. 15:27), profetas (I Sm. 15:27), homens de posição (Jó 2:12) e mulheres da sociedade (II Sm. 13:18). Tinha uma abertura para passar a cabeça e cortes dos lados para os braços, mas não mangas. Era usada por cima das roupas de baixo. 

21. Cresceu. O mesmo verbo foi usado para com Moisés (Êx. 2:10 e segs.). Pode indicar desenvolvimento mental e moral, além de crescimento físico. 22. As mulheres que serviam à porta. Êxodo 38:8 menciona estas mulheres "que se reuniam para ministrar". Há quem pense que os dois filhos de Eli introduziram a prostituição religiosa de Canaã no templo de Silo. Outros acham que estas mulheres eram aquelas que cuidavam de crianças pequenas como Samuel.

 24. Fazendo transgredir o povo. A LXX diz: de modo que o povo do Senhor não adora, isto é, recusa-se a assistir aos cultos por causa da imoralidade dos líderes. 

25. Pecando o homem contra o próximo. Quando um homem tem uma queixa contra o outro, o assunto pode ser resolvido por Deus através do seu representante, o juiz (Sl. 82:3), ou por meio da sorte sagrada lançada pelas mãos do sacerdote. Mas no caso em que Deus é o queixoso, não pode haver referência a uma parte desinteressada e o crime incorre em vingança direta do céu. Porque o Senhor os queria matar. Cons. a linguagem de Êx. 4:21 e Js. 11:20, onde lemos que o Senhor endureceu os corações de Faraó e dos cananeus; e I Sm. 16:14, onde se diz que um espírito maligno "da parte do Senhor" atormentava Saul. Contudo, temos certeza de que "o senhor se deleita na misericórdia" (Mq. 7:18), e "não tem prazer na morte dos ímpios" (Ez. 18: 32). Esta coexistência da misericórdia com o juízo na vontade divina (Êx. 34:6,7) é um mistério que transcende a nossa compreensão. Mas é preciso tomar o cuidado de observar que só depois que Faraó fez-se surdo diante das repetidas advertências, só depois que os cananeus se contaminaram com intoleráveis abominações é que Deus endureceu os seus corações. Só quando os filhos de Eli ignoraram e desafiaram Suas leis, é que Ele tomou a decisão de matá-los.

 27. Um homem de Deus. O cântico de Ana e a profecia do homem de Deus são os únicos exemplos registrados de profecia desde os dias de Débora no começo do período dos Juízes. À casa de teu pai. Isto é, Arão. Embora a genealogia de Eli não se encontre em parte alguma do V.T., o escritor das Crônicas declara (I Cr. 24: 3) que um dos descendentes de Eli era um "dos filhos de Itamar", o quarto filho de Arão. Também, o nome de Finéias, outro filho de Eli, é outro elo de ligação entre ele e a família de Arão (Êx. 6:23, 25). 28. Para queimar o incenso era aspergir um pó sobre brasas vivas e assim criar um aroma. Cananeus, hebreus, gregos e romanos, todos usaram isto no culto ás divindades. 

29. Por que pisas aos pés. A figura é de um animal mimado e intratável (Dt. 32:15). 

31-35. O versículo 31 refere-se ao massacre dos sacerdotes em Nobe; os versículos 32, 33, da deposição e conseqüente pobreza de Abiatar; o versículo 35, da ascensão de Zadoque ao sumo-sacerdócio. Ezequiel, em sua visão do novo templo, viu os filhos de Zadoque como sacerdotes verdadeiros.

36. Alguns mestres modernos acham neste versículo uma figura das dificuldades a que os sacerdotes dos santuários locais foram levados quando estes últimos foram abolidos pela reforma de Josias. 

                                          1 Samuel (Comentário Bíblico Moody) 


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