terça-feira, 8 de outubro de 2019

Lição 2 - A Natureza Humana







TEXTO ÁUREO


Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente.
 Que todo o espírito, 
alma e corpo de vocês
 seja conservado irrepreensível
 na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

                                                                 1 Tessalonicenses 5:23


COMENTÁRIO

Palavra introdutória
Somos obra de Deus; fomos criados com uma natureza tridimensional; portanto, somos plenamente capazes de cumprir nosso propósito aqui na Terra (1 Pe 2.9,10).
Nesta lição, analisaremos o que a antropologia judaico-cristã tem a dizer a respeito da natureza e da criação do homem (Ef 2.10).

1. CONCEITOS ACERCA DO HOMEM

No estudo acerca da natureza humana, encontramos três principais correntes de pensamento: o monismo, a dicotomia e a tricotomia. Vejamos a seguir.

1.1 Monismo

Na contramão do que apregoam outras doutrinas, que admitem duas espécie de realidade (dualismo), ou várias (pluralismo), o monismo - enquanto sistema filosófico - defende a existência de apenas uma espécie de realidade: a matéria.

1.2. Dicotomia
A expressão dicotomia indica uma divisão em duas partes (gr. dikhotomía = a divisão em dois). Tal termo a plica-se à Teologia, baseando-se no conceito de que o homem possui duas partes fundamentais: o corpo e a alma.

1.3. Tricotomia
A expressão tricotomia indica uma divisão em três partes; cada qual com sua função específica. O termo também se aplica à Teologia para designar a interpretação de que o homem compõe-se de três partes distintas: o espírito, a alma e o corpo (1 Ts 5.23).

2. NATUREZA BIOLÓGICA: O CORPO

2.1. Casa terrestre versus edifício celeste
Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. (2 Co 5.1). Nesse texto, empregamos figuras de conhecimento geral, o apóstolo Paulo doutrina a igreja com firmeza e convicção, mencionando os termos "casa" e "edifício" em referência ao corpo do homem e da mulher salvos em Cristo, nos estados presente e futuro. O Senhor Jesus ao ser interrogado pelos fariseus reafirma esta verdade bíblica: Vocês não leram que no princípio o Criador os fez homem e mulher (...) (Mt 19.4 NVI).Vejamos, no quadro a seguir, algumas diferenças entre casa terrestre e edifício celeste:


3. NATUREZA PSICOLÓGICA

3.1. Definição de alma 
A alma:
  • é a identidade do indivíduo;
  • é o princípio inteligente que anima o corpo;
  • utiliza dos órgãos e sentidos para comunicar-se com o mundo exterior;
  • é a sede da nossa personalidade;
  • é o resultado da criação imediata de Deus;
  • suspira pela proteção, comunhão e provisão do Senhor.

3.2. As faculdades da alma
A Palavra de Deus aponta-nos a alma como sendo composta de três partes: emoção, vontade e razão. Observe:
  • a emoção é parte da alma onde se abrigam os sentimentos, como o amor (1 Sm 18.1) e a angústia  (1 Rs 1.29), por exemplo;
  • a vontade é a sede dos desejos da alma (Ec 6.2; Is 26.9);
  • a razão é também conhecida como mente ou intelecto. 

3.3. Como lidar com as emoções da alma
A palavra emoção tem origem no latim (ex-movere) e significa mover para fora. As emoções exercem influência direta sobre os pensamentos e as ações do indivíduo (de forma negativa e/ou positiva); por esta razão, precisam ser controladas.
Deus registra nas páginas do Seu Livro como o ser humano deve proceder diante dos desafios emocionais para um viver saudável; observe: ansiedade (1 Pe 1.3-5;5.7); desânimo (1 Co 15.58); medo (Sl 91); impaciência (Tg 5.7-11); ódio e ira (Pv 15.1); depressão (Is 61.1-4); frustração e engano (Jr 20.7-18); solidão (Sl 42.5); inveja (Pv 23.17).

4. NATUREZA TEOLÓGICA: ESPÍRITO

4.1. Definição de espírito

Tendo criado o ser humano à sua imagem e semelhança (Gn 1.26,27), pode-se dizer que o homem é um espírito, que possui uma alma e habita um corpo físico (Jo 4.24).
O espírito é a parte superior da natureza humana e a sede da inteligência. Por meio dele conhecemos e raciocinamos; através dele, recebemos instrução de Deus e a comunicação da verdade e vontade divinas.

4.2. Funções essenciais do espírito

4.2.1. Receber iluminação e revelações diretamente de Deus

A iluminação e as revelações divinas começam a ocorrer unicamente no espírito do homem. Ele é a lâmpada do Senhor; nele está o lugar mais profundo onde nenhuma ciência alcança; ali, Deus brilha a Sua luz e a essência da Sua glória e poder. É no espírito humano que Deus ilumina o caminho da vida e contempla o entendimento das revelações divinas (Pv 20.27).

4.2.2. Reverenciar Deus

Reverenciar é uma atitude de profundo respeito, submissão, amor e obediência ao Senhor. O espírito humano reverencia o Altíssimo por quem Ele é; por Sua santidade e presença constante (Ap 15.4).

4.2.3. Adorar a Deus
Adorar implica honrar a Deus com expressões de gratidão. Em outras palavras, significa dizer que, na adoração, o espírito humano reconhece, de forma grata, a sua origem e o propósito da sua existência. Os verdadeiros adoradores exercem em seu espírito a adoração autêntica que agrada ao Senhor (Jo 4.24).

4.2.4. Percepção espiritual
Parte da natureza divina foi soprada no homem, formando, assim, o seu espírito. A percepção espiritual é, portanto, um atributo do espírito regenerado por Deus.

4.2.5. Refletir Deus

Deus revela-se no espírito do homem, precisamente no lugar mais íntimo, santo e divino, onde a imagem do Senhor foi estabelecida. 

CONCLUSÃO

Ao fim desta lição, alguns ponto precisam ser destacados e por nós acolhidos, a saber: (1) necessitamos apresentar o nosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12.1,2); amar a Deus de todo nosso coração, alma e entendimento (Mt 22.37) e purificarmos de toda impureza, da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus (2 Co 7.1).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. A Palavra de Deus aponta-nos a alma como sendo composta de três partes.
Quais são elas?

                                                                  Fonte: Revista Lições da Palavra de Deus n° 59




                                 15 Os Elementos Constitutivos da Natureza Humana


As diferentes opiniões que foram comuns na história: dicotomia e tricotomia É  costume,  especialmente  nos  círculos  cristãos,  entender  que  o  homem  consiste  de duas  partes  distintas,  e  de  duas  somente,  a  saber, corpo  e  alma.

 Esta  concepção  é tecnicamente denominada dicotomia. Ao lado dela, porém, apareceu outra, segundo a qual  a  natureza  humana  consiste  de  três  partes,  corpo,  alma  e  espírito.  É  designada pelo  termo tricotomia.

O  conceito  do  homem  tripartido  originou-se  na  filosofia  grega, que entendia a relação mútua entre o corpo e o espírito do homem segundo a analogia da mútua relação entre o universo material de Deus. Pensava-se que, justamente como estes  só  podiam  ter  comunhão  um  com  o  outro  por  meio  de  uma  terceira  substância ou de um ser intermediário, assim aqueles só podiam entrar em relações mútuas vitais por meio de um terceiro elemento, ou de um elemento intermediário, a saber, a alma. Por  um  lado,  a  alma  era  considerada  como  imaterial e,  por outro, como  adaptada  ao corpo. Na medida em que se adapta ao nous ou ao pneuma, era tida como imortal, mas na medida em que se relaciona com o corpo, como carnal e mortal.

 A  mais  conhecida,  e  também  a  mais  crua  forma  de  tricotomia,  é  a  que  toma  o corpo  como  a  parte  material  da  natureza  humana,  a  alma  como  o  princípio  da  vida animal,  e  o  espírito  como  o  elemento  humano  racional,  imortal  e  relacionado  com Deus. 

A  concepção  tricotômica  do  homem  recebeu  considerável  apoio  dos  “pais”  da igreja grega ou Alexandrina dos primeiros séculos da era cristã. Encontra-se, embora nem  sempre  exatamente  da  mesma  forma,  em  Clemente  de  Alexandria,  Orígenes  e Gregório  de  Nissa.  Mas,  depois  que  Apolinário  a  empregou  de  maneira  ofensiva  à perfeita humanidade de Jesus, foi ficando gradativamente desacreditada. Alguns dos “pais” gregos ainda aderiam a ela, apesar de explicitamente repudiada pro Atanásio e Teodoreto. 

Na  igreja  latina,  os  principais  teólogos  apoiavam,  diversamente,  a  dupla divisão  da  natureza  humana.  Foi  especificamente  a  psicologia  de Agostinho  que  deu proeminência a este modo de ver. Durante a Idade Média, tornou-se objeto de crença comum. 

A  Reforma  não  trouxe  mudança  alguma,  quanto a  isso,  conquanto  uns poucos  luminares  menores  defendessem  a  teoria  tricotômica.

 A  Igreja  Católica Romana  aderiu  ao  veredicto  do  escolasticismo,  mas  nos  círculos  do  protestantismo ouviram-se  outras  vozes.  Durante  o  século  dezenove a  tricotomia  foi  revivida  numa ou noutra forma por certos teólogos alemães e ingleses, como Roos, Olshausen, Beck, Delitzsch,  Auberlen,  Oehler,  White  e  Heard;  mas  não  encontrou  muito  apoio  no mundo  teológico. 

Os  recentes  advogados  dessa  teoria  não  concordam  quanto  à natureza  da psyque,  nem  quanto  à  sua  relação  com  os  outros  elementos  da  natureza humana.  Delitzsch  a  concebe  como  uma  exaltação  do pneuma,  enquanto  que  Beck, Oehler  e  Heard  a  consideram  como  o  ponto  de  união  entre  o  corpo  e  o  espírito. Delitzsch  não  é  bem  coerente  e  ocasionalmente  parece  oscilar,  e  Beck  e  Oehler admitem   que   a   descrição   bíblica   do   homem   é   fundamentalmente   dicotômica. Dificilmente se pode dizer que a sua defesa de uma tricotomia implica a existência de três  elementos  distintos  no  homem.  Além  dessas  duas  concepções  teológicas,  houve também,   principalmente   no   último   século   e   meio,   os conceitos   filosóficos   do materialismo  absoluto  e  do  idealismo  absoluto,  aquele  sacrificando  a  alma  em  favor do corpo, e este, o corpo em favor da alma.


Um dos aspectos mais importantes da visão cristã do homem é a de que devemos vê-lo em  sua  unidade,  como  uma  pessoa  total. 

Os  seres  humanos  têm  sido  imaginados  como consistindo  de  partes  separadas  e,  algumas  vezes,  de  partes  distintas,  que  são,  dessa forma, abstraídas da totalidade. Assim, nos círculos cristãos, tem sido falado do homem como se constituindo tanto de “corpo” e  “alma” como de “corpo”, “alma” e “espírito”. Os    cientistas    seculares    e    os    teólogos    cristãos,    contudo,    estão    reconhecendo gradativamente  que  tal  entendimento  dos  seres  humanos  está  errado,  e  que  o  homem deve  ser  visto  como  uma  unidade.  Visto  que  nosso  objeto  de  estudo  é  a  doutrina  cristã do  homem,  devemos  nos  voltar  para  o  ensino  bíblico a  respeito  da  constituição  do homem.  

O  que  devemos  observar  em  primeiro  lugar  é  que  a Bíblia  não  descreve  o  homem cientificamente;  na  verdade,  o  julgamento  (dos  teólogos)  é  que  a  Bíblia  não  nos  dá nenhum ensino científico a respeito do homem, nenhuma “antropologia” que deveria ou poderia  estar  em  competição  com  uma  investigação  científica  do  homem  nos  vários aspectos de sua existência ou com a antropologia filosófica.Além disso, a Bíblia não usa uma linguagem científica exata. Ela usa termos como alma, espírito e coração mais ou menos indistintamente. Isto é por causadas partes do corpo que são tidas, não primariamente do ponto de vista de suas diferenças ou de suas inter-relações com outras partes, mas como significando ou enfatizando os diferentes aspectos do homem total em relação a Deus.  Embora  não  derivemos  uma  antropologia  ou  psicologia  científica  exata  da  Bíblia, podemos aprender da Escritura muitas verdades importantes a respeito do homem.  Deveríamos  nos  lembrar  novamente  que  a  coisa  mais  importante  que  a  Bíblia  diz  a respeito do homem é que ele está inescapavelmente relacionado a Deus.  Berkouwer  coloca  este  assunto  da  seguinte  maneira: “Podemos  dizer  sem  medo  de contradição que a coisa mais notável no retrato bíblico do homem repousa nisto: que nunca chama a atenção para o homem em si mesmo, mas exige a nossa atenção mais plena para o homem em sua relação com Deus”. Podemos acrescentar que a Bíblia também dirige nossa atenção para o homem à medida em que ele se relaciona com os outros seres humanos e com a criação. Em  outras  palavras,  as  Escrituras  não  estão  primariamente  interessadas  nas  “partes” constituintes  do  homem  ou  na  sua  estrutura  psicológica,  mas  nos  relacionamentos  que ele mantém seja com seu semelhante ou com Deus

                                  A Pessoa Total, Tricotomia ou Dicotomia?

Tricotomia 

 Vez por outra, tem sido sugerido que o homem deveria ser entendido como consistindo de certas “partes” especificamente distintas. Um desses entendimentos é usualmente conhecido como tricotomia — a idéia que, segundo a Bíblia, o homem consiste de corpo, alma e espírito. Um  dos  proponentes  mais  antigos  da  tricotomia,  como  vimos,  é  Irineu,  que  ensinava  que enquanto  os  incrédulos  possuíam  somente  almas  e  corpos,  os  crentes  adquiriam  espíritos adicionais, que eram criados pelo Espírito Santo. A tricotomia foi ensinada no século XIX por Franz Delitzsch,J. B. Heard,J. T. Beck,e G. F. Oehler.Mais recentemente tem sido defendido por escritores como Watchman Nee,Charles R.  Solomon  (que  afirma  que  através  do  seu  corpo,  o homem  relaciona-se  com  o  ambiente, através  de  sua  alma  com  os  outros,  e  do  seu  espírito  com  Deus),e  Bill  Gothard.É interessante  observar  que  a  tricotomia  é  também  defendida  na  antiga  e  na  nova Scofield Reference  Bible.A  despeito  deste  apoio,  devemos  rejeitar  a  visão  tricotomista  da  natureza humana. Para  alguns,  ela  deveria  ser  rejeitada porque ela parece fazer violência à unidade do homem.

 A palavra  em  si  mesma  sugere  que  o  homem  pode  ser  separado  em  três  “partes”:  a  palavra tricotomia é formada de duas palavras gregas, tricha, “tríplice” e temnein, “cortar.  Alguns  tricotomistas,  incluindo  Irineu,  até  sugeriram  que  certas  pessoas  tinham  os  seus espíritos cortados, enquanto que outras não. Herman  Bavinck  levanta  uma  discussão  útil  deste  assunto  no  seu  livro Biblical Psychology. Ele assinala que em Platão e em outros filósofos gregos havia uma aguçada antítese entre as coisas visíveis e as invisíveis. O mundo como substância  material não teria sido criado por Deus,  diziam  os  gregos,  mas  sempre  esteve  contra  ele.  Um  poder  intermediário  se  fazia necessário para que pudesse haver ligação entre o mundo e Deus, e, assim, haver harmonia entre eles — neste caso a alma.  Segundo  os  opositores  da  tricotomia  deveríamos  também  rejeita-la porque ela faz uma aguda distinção entre o espírito e a alma que segundo eles não encontraria suporte algum nas Escrituras.

 Segundo essa idéia, quando observamos que as palavras hebraica e grega traduzidas como alma  e espírito,  se  constata  que  elas  são  freqüentemente  usadas  indistintamente  nas Escrituras. O  homem  seria  então  descrito  na  Bíblia  tanto  como  alguém  que é  corpo  e alma como alguém que é corpo e espírito:  “Não  temais  aqueles  que  matam  o  corpo  mas  não  podem matar a alma” (Mt 10.28); “Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do  Senhor,  de  como  agradar  ao  Senhor,  assim  no  corpo  como  no  espírito”  (1  Co  7.34); “Como o corpo sem o espírito está morto, assim a fé sem as obras é morta” (Tg 2.25). A dor seria atribuída tanto à alma como ao espírito: “Levantou-se Ana e, com amargura de espírito,  orou  ao  Senhor,  e  chorou  abundantemente”   (1  Sm  1.10);  “Porque  o  Senhor  te chamou  como  a  mulher  desamparada  e  de  espírito  abatido;  como  a  mulher  da  mocidade, que  fora  repudiada,  diz  o  teu  Deus”  (Is  54.6);  “Agora  está  angustiada  a  minha  alma”  (Jo 12.27);  “Ditas  estas  cousas,  angustiou-se  Jesus  em espírito”  (Jo  13.21);  “Enquanto  Paulo  os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava, em face da idolatria dominante na cidade” (At  17.16);  “(Porque  este  justo  [Ló],  pelo  que  via e  ouvia  quando  habitava  entre  eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles)” (1 Pe 2.8).

O louvor e o amor a Deus seriam atribuídos tanto a alma como ao espírito: “A minha alma engrandece  ao  Senhor  e  o  meu  espírito  se  alegra  em Deus  meu  Salvador”  (lc  1.46-47); “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.30). A  salvação  seria  associada  tanto  à alma  como  ao espírito:   “Acolhei  com  mansidão  a palavra  implantada  em  vós,  a  qual  é  poderosa  para  salvar  as  vossas  almas”  (Tg  1.21); “...entregue a Satanás, para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo, no dia do Senhor” (1 Co 5.5). O morrer seria descritivo tanto como uma partida daalma como do espírito: “Ao sair-lhe a alma (porque morreu), deu-lhe o nome de Benoni” (Gn 35.18); “E  estendendo-se três vezes sobre  o  menino,  clamou  ao  Senhor,  e  disse:  Ó  Senhor  meu  Deus,  que  faças  a  alma  deste menino tornar a entrar nele” (1 Rs 17.21); “Não temais os que matam o corpo e não podem matar  alma;  temei  antes  aquele  que  pode  fazer  perecer  no  inferno  tanto  a  alma  como  o corpo” (Mt 10.28); “Nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Sl 31.5); “E Jesus clamando outra vez   com   grande   voz,   entregou   o   espírito”   (Mt   27.50); 
 “Voltou-lhe   o   espírito,   ela imediatamente  se  levantou”(Lc  8.55);  “Então  Jesus  clamou  em  alta  voz:  Pai,  nas  tuas  mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23.46);
“E apedrejavam a Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!” (At 7.59). Aqueles que já haviam morrido eram algumas vezes chamados tanto de almas e outras vezes de espíritos:  Mt  10.28,  citado  acima; 
“Quando  ele  abriu  o  quinto  selo,  vi  debaixo  do altar  as  almas  daqueles  que  tinham  sido  mortos  por causa  da  palavra  de  Deus  e  por  causa do  testemunho  que  sustentavam”  (Ap  6.9);
 “e  a  Deus,  o  juíz  de  todos,  e  aos  espíritos  dos justos aperfeiçoados “  (Hb 12.23);
“Pois também Cristo morreu...para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado em espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em  prisão,  os  quais  noutro  tempo  foram  desobedientes  quando  a  longanimidade  de  Deus aguardava nos dias de Noé” (1 Pe 3.18-20).


Dicotomia

A  outra  idéia  usualmente  sustentada  a  respeito  da  constituição  do  homem  é  a  chamada dicotomia  —  a  idéia  de  que  o  homem  consiste  de  corpo  e  alma.  Esta  visão  tem  sido  mais largamente  sustentada  do  que  a  tricotomia.  Nossa  rejeição  de  tricotomia  significa  que devemos optar pela dicotomia? Um número  de teólogos afirma esta crença. Louis Berkhof, por  exemplo,  crê  que  “a  representação  dominante  da natureza  do  homem  na  Escritura  é claramente dicotômica”.É  de  convicção  de Anthony  Hoekema,  contudo,  que  nós  deveríamos  rejeitar  tanto  a dicotomia como a tricotomia.  Como  cristãos  deveríamos  certamente  repudiar  a  dicotomia  no  sentido  em  que  os  antigos gregos a ensinaram. Platão, por exemplo, formulou a idéia de que o corpo e a alma devem ser  tidos  como  duas  substâncias  distintas:  a  alma  pensante,  que  é  divina,  e  o  corpo.  Visto que o corpo é composto de substância inferior chamada matéria, ele é de um valor inferior à da  alma.  Na  morte  simplesmente  o  corpo  se  desintegra,  mas  a  alma  racional  (ou nous) retorna  “aos  ceús”,  se  o  seu  curso  de  ação  foi  justo  e  honrado,  e  continua  a  existir  para sempre. 

A  alma  é  considerada  uma  substância  superior,  inerentemente  indestrutível, enquanto  que  o  corpo  é  inferior  à  alma,  mortal,  e  condenado  à  destruição  total.  Não  há  no pensamento grego, portanto, lugar algum para a ressurreição do corpo.

Mas  mesmo  à  parte  do  entendimento  grego  da  dicotomia,  que  é  claramente  contrário  à Escritura,  devemos  rejeitar  o  termo dicotomia  como  tal,  visto  que  ele  não  é  uma  descrição exata da visão bíblica do homem. A palavra em si mesma é objetável. Ela vem de duas raízes gregas: diche,  significando  “dupla”  ou  “em  duas”;  e temnein,  significando  “cortar”.  Ela, portanto,  sugere  que  a  pessoa  humana  pode  ser  cortada  em  duas  “partes”.  Mas  o  homem nesta presente vida não pode ser separado dessa maneira. Como veremos, a Bíblia descreve a pessoa humana como uma totalidade, um todo. O melhor modo de determinar a visão bíblica do homem como uma pessoa total é examinar os termos usados para descrever os vários aspectos do homem. 


Antes de fazer isso, contudo, duas observações devem ser feitas: 
1)  Como  foi  dito,  a  preocupação  primária  da  Bíblia não  é  a  constituição  psicológica  ou antropológica do homem mas a sua capacidade inescapável de relacionar-se com Deus; 
2) devemos sempre Ter em mente que J. A. T. Robinson diz a respeito do uso que o Antigo Testamento  faz  destes  termos:  “Qualquer  parte  pode ser  tomada  pelo  todo”,e  o  que  G.  E. Ladd  afirma  a  respeito  do  uso  que  o  Novo  Testamento  faz  dessas  palavras:
 “A  recente erudição  tem  reconhecido  que  termos  como  corpo,  alma  e  espírito  não  são  diferentes, faculdades separadas do homem mas diferentes modos de ver a totalidade do homem.”

As palavras do Antigo Testamento  
        
Começamos com a palavra hebraica nephesh, mais comumente traduzida como “alma”. O léxico Hebraico de Brown, Driver e Briggs dá dez significados para essa palavra, da qual os  mais  importantes  para  o  nosso  propósito  são:  “o ser  mais  interior  do  homem”,  “o  ser vivo”  (usado  a  respeito  de  homens  e  animais)  “o  homem  em  si  mesmo”  “o  lugar  dos apetites”, “o assento das emoções”. A palavra pode, algumas vezes, se referir a uma pessoa falecida, com ou sem meth (“morta”). É algumas vezes dito que a nephesh morre.   Está claro, portanto, que a palavra nephesh pode significar a pessoa total. Edmond Jacob diz o seguinte: “Nephesh é o termo usual para a natureza total do homem, para o que ele é e não apenas pelo que tem. Por isso a melhor tradução para nephesh em muitos casos é ‘pessoa’”.A palavra hebraica seguinte é ruach, usualmente traduzida como “espírito”.

O significado da raíz desta palavra é “ar em movimento”; ela é freqüentemente usada para descrever o vento. Brown-Driver-Briggs    listam    nove    significados,    incluindo    os    seguintes:    “espírito”, “animação”, “disposição”, “espírito de vida e ser que respira morando na carne de homens e animais”  (somente  um  exemplo  deste  último:  Ec  3.21),  “assento  das  emoções”,  “órgão  de atos mentais”, “órgão da vontade”. Ruach, portanto, sobrepõe-se em significado a nephesh.  W. D. Stacey diz: “Quando a referência é feita ao homem em sua relação com Deus, ruach é o termo mais provável para ser usado. mas quando referência é feita ao homem em relação a outros homens, ou o homem vivendo a vida comum dos homens, então nephesh é mais provável, se um termo psíquico é exigido”.

 Em ambos os casos a totalidade do homem está envolvida.Portanto, não deve ser pensado de ruach como um aspecto separado do homem, mas como a pessoa total vista de determinada perspectiva.  Olhamos  a  seguir  para  as  palavras  do  Antigo  Testamento  usualmente  traduzidas  como “coração”: lebh e lebhabh.

Brown-Driver-Briggs  dá  dez  significados  para  estas duas  palavras,  incluindo  os  seguintes: “o  homem  mais  interior  ou  alma”,  “mente”,  “resoluções  da  vontade”,  “consciência”, “caráter moral”, “o homem em si mesmo”, “o lugar dos apetites”, “o assento das emoções”, “o assento da coragem”.

 F.  H.  Von  Meyenfeldt,  em  seu  estudo  final  da  palavra,  conclui  que lebh  ou lebhabhusualmente representa a pessoa total e tem uma significação predominantemente religiosa.A  palavra coração  não  somente  é  usada  no  Antigo  Testamento  para  descrever  o  assento  do pensamento, do sentimento e da vontade; é também a sede do pecado (Gn 6.5; Sl 95.8, 10; Jr 17.9), a sede da renovação espiritual (Dt 30.6; Sl 51.10; Jr 31.33; Ez 36.26), e o lugar da fé (Sl 28.7; 112.7; Pv 3.5). Mais  do  que  qualquer  outro  termo  do  Antigo  Testamento,  a  palavra coração  significa  o homem  no  mais  profundo  centro  de  sua  existência,  e como  ele  é  no  mais  profundo  do  seu ser.

 A  filosofia  que  o  filósofo  holandês  Herman  Dooyeweerd  desenvolveu,  enfatiza  que  o coração é o centro e a fonte de toda a atividade religiosa, filosófica e moral do homem.  Ray Anderson chama o coração de “o centro do eu subjetivo”. Ele é “a unidade do corpo e da alma na verdadeira ordem deles — ele é a pessoa”.Todos esses três termos examinados do Antigo Testamento, portanto, descrevem o homem em sua unidade e totalidade, embora olhando-o de aspectos ligeiramente diferentes.  H. Wheeler Robinson comenta:  “Não  é  possível  fazer  uma  diferenciação  exata  das  províncias  cobertas  pelo  ‘coração’  (lebhabh), nephesh e ruach, pela simples razão de que tal diferenciação exata nunca foi feita”.A  próxima  palavra  é basar,  usualmente  traduzida  como  “carne”.  Brown-Driver-Briggs  lista seis  significados,  incluindo  os  seguintes:  “”carne”  (para  o  corpo),  “parentesco  de  sangue”, “homem contra Deus como fraco e errante”, “raça humana”.

 N.  P.  Bratsiotis  diz  que basar  é  mais  freqüentemente  usado  no  Antigo  Testamento  para  “o aspecto  externo  e  carnal  da  natureza  humana”.Ele  continua  a  dizer  que  quando basar  é distinto do aspecto externo do homem e nephesh é entendido como sendo o aspecto interno, mesmo  assim  nunca  devemos  pensar  destas  palavras  como  descrevendo  um  dualismo  de alma e corpo no sentido platônico. Ao  contrário, basar  e nephesh  devem  ser  entendidos  como  aspectos  diferentes  da  existência do homem como uma entidade dual.  A  palavra basar  é  freqüentemente  usada  para  descrever  o  homem  em  sua  fraqueza.  H.  W. Wolff observa que freqüentemente basar descreve a vida humana como débil e fraca, dando como  exemplo  deste  uso  Jeremias  17.5  –  “Maldito  o  homem  que  confia  no  homem,  faz  da carne mortal o seu braço”.Basar pode algumas vezes denotar a pessoa total, não apenas o aspecto físico.Mas ela pode também ser juntada com nephesh em maneiras que referem ao homem total.  Basar,  portanto,  também  é  freqüentemente  usado  no  Antigo  Testamento  para  denotar  a pessoa total, embora com ênfase no lado exterior. Assim, o  mundo do pensamento do Antigo Testamento exclui totalmente qualquer espécie de dicotomia ou dualismo que pinte o homem como feito de duas substâncias distintas.  Como H. Wheeler Robinson diz:

“A  ênfase  final  deve  cair  sobre  o  fato  de  que  os  quatro  termos:  nephesh,  ruach,lebh  e  basar), simplesmente apresentam aspectos diferentes da unidade da personalidade.”As palavras do Novo Testamento  A  primeira  palavra  do  Novo  Testamento  que  examinaremos  é psyche,  a  palavra  grega equivalente  a nephesh,  usualmente  traduzida  como  “alma”.

 O  léxico  do  Novo  Testamento Grego  de  Arndt-Gingrich  lista  um  número  de  significados  para  esta  palavra,  alguns  dos quais  são:  “princípio  de  vida”,  “vida  terreal”,  “assento  da  vida  mais  interior  do  homem” (incluindo  sentimentos  e  emoções),  “a  sede  e  o  centro  da  vida  que  transcende  o  que  é terreno”, “aquilo que possui vida: uma criatura viva”. Eduard Schweizer afirma que psyche é usado freqüentemente nos Evangelhos para descrever o homem total,para representar a verdadeira vida em distinção da  vida puramente física,e para referir-se à existência dada por Deus que sobrevive à morte.Schweizer diz que Paulo usa psyche quando se refere à vida natural e à vida verdadeira; ele freqüentemente usa a palavra para descrever a pessoa.No Livro do Apocalipse psyche pode ser usada para denotar a vida após a morte (como em 6.9).Está claro, portanto, que psyche, como nephesh, freqüentemente significa a pessoa total. Agora nos voltamos para a palavra pneuma, o equivalente do Novo Testamento a ruach, que quando  se  refere  ao  homem  é  mais  usualmente  traduzida  como  “espírito”. 

O  léxico  de Arndt-Gingrich  dá  oito  significados,  incluindo  os  seguintes:  “o  espírito  como  parte  da personalidade humana”, “o ego de uma pessoa”, “uma disposição ou estado de mente”.  Schweizer  diz  que  Paulo  usa pneuma  para  as  funções  físicas  do  homem,  que  ele  é freqüentemente  um  paralelo  de psyche,  e  que  pode  denotar  o  homem  como  um  todo,  com ênfase mais forte sobre o seu psíquico do que sobre a sua natureza física. George Ladd, numa discussão da psicologia paulina, diz-nos que no pensamento de Paulo o homem serve a Deus  com o espírito e experimenta a renovação no espírito. Paulo algumas vezes contrasta o pneuma com o corpo como a dimensão mais interior em contraste com lado exterior do homem (2 Co 7.1; Rm 8.10).  Pneuma pode descrever a autoconsciência do homem (1 Co 2.11). W.  D.  Stacey  argumenta  que  Paulo  não  vê  o pneuma  como  algo  que  somente  o  regenerado tem:  “Todos  os  homens  têm  pneuma  desde  o  nascimento,  mas  o pneuma  cristão,  na comunhão  com  o  Espírito  de  Deus,  assume  um  novo  caráter  e  uma  nova  dignidade”  (Rm 8.10).É  interessante  observar  que pneuma  pode  se  referir  à  vida  após  a  morte.  Como  já  vimos, Hebreus  12.23  descreve  santos  mortos  como  “os  espíritos  dos  justos  aperfeiçoados”,  e ambos, Cristo (Lc 23.46) e Estevão (At 7.59), como moribundos encomendando seus espíritos a Deus o Pai ou Deus o Filho.  Pneuma  também  é  em  grande  parte  sinônimo  de psyche,  as  duas  palavras  freqüentemente usadas  indistintamente  no  Novo  Testamento.  Ladd,  contudo,  sugere  uma  distinção  entre elas:  “O  espírito  é  freqüentemente  usado  a  respeito  de  Deus;  a  alma  nunca  é  usada  dessa forma.  Isto  sugere  que pneuma  representa  o  homem  em  seu  lado  voltado  para  Deus, enquanto que psyche representa o homem em seu lado humano.”

A próxima palavra que olharemos é kardia, a palavra do Novo Testamento equivalente a lebhe lebhabh, usualmente traduzida como “coração”.  Arndt-Gingrich dá o seguinte sentido principal da palavra: “a sede da vida física, espiritual e mental”. Ele é também descrito como o centro e a fonte da totalidade da vida mais interior do  homem,  com  seu  pensamento,  sentimento  e  vontade. 

O  coração  é  também  dito  ser  o lugar de morada do Espírito Santo. Johannes Behm semelhantemente descreve o coração no Novo Testamento como o principal órgão  da vida  psíquica  e  espiritual, o  lugar no  ser  humano  no  qual  Deus  testemunha  de  si mesmo.  O  coração  é  o  centro  da  vida  mais  interior  de  uma  pessoa:  de  seus  sentimentos, entendimento, e vontade. O coração significa a totalidade do ser interior do homem, a parte mais  profunda  dele;  ele  é  sinônimo  de ego,  a  pessoa. Kardia  é  supremamente  o  centro  no homem para o qual Deus se volta, no qual a vida religiosa está enraizada, e que determina a conduta moral. Anteriormente já observamos que lebh no Antigo Testamento é também usado para indicar o coração como a sede do pecado, a sede da renovação espiritual e o lugar da fé. Isto também se aplica a kardia. Além disso, podemos observar que as outras virtudes cristãs são descritas como kardia. O amor é associado  com o coração em 2  Tessalonicenses 3.5 e 1  Pedro 1.22.  A obediência  é  ligada  ao  coração  em  Romanos  6.17  e  em  Colossenses  3.22.  O  perdão  é associado ao coração em Mateus 18.35. O coração é ligado com humildade em Mateus 11.29, e é descrito como o assento da pureza em Mateus 5.8 e Tiago 4.8. A gratidão é associada com o coração em Colossenses 3.16. Em uma seção de sua Dogmatics na qual ele trata com “o homem como alma e corpo”, Karl Barth, falando do coração no Novo e no Antigo Testamento, diz: Assim,  novamente  aqui  vemos  a  ênfase  bíblica  na  totalidade  do  homem. Kardia  significa  a pessoa total em sua essência mais interior. No coração a atitude básica do homem para com Deus é determinada, seja de fé ou de incredulidade, de obediência ou de rebelião. Embora  estritamente  falando,  o  Antigo  Testamento  não  tenha  uma  palavra  para corpo,  ele usa basar para descrever o aspecto físico do homem, sua carne. No Novo Testamento há duas palavras para corpo: sarx e soma.  Arndt-Gringrich  lista  oito  significados  para  sarx, usualmente  traduzidos  como  “carne”; entre outros significados estão: “corpo”, “um ser humano”, “natureza humana”, “limitação física”,  “o  lado  exterior  da  vida”,  e  “o  instrumento  desejoso  do  pecado”  (particularmente nos escritos de Paulo). Sarx no Novo Testamento, então possui dois significados principais: 

1) O aspecto externo, físico da existência do homem — neste sentido ele pode ser usado do homem como um todo; 
 2)  Carne  como  a  tendência  dentro  do  homem  caído  para  desobedecer  a  Deus  em  todas  as áreas da vida.Neste  segundo  sentido,  encontrado  principalmente  nas  epístolas  de  Paulo,  não  devemos restringir  o  sentido  de sarx  como  se  referindo  somente  ao  que  usualmente  chamamos  de “pecados   da   carne”   (pecados   do   corpo);   ao   contrário,   deveríamos   entendê-lo   como referindo-se aos pecados cometidos pela pessoa total. Na lista das “obras da carne” (ta erga tes sarkos) encontrada em Gálatas 5.19-21, onde cinco de quinze dizem respeito aos pecados do  corpo; o  restante  diz  respeito  ao  que  chamamos  de  “pecados  do  espírito”—  como  ódio, discórdia e ciúme. Assim, mesmo quando a palavra sarks é usada neste segundo sentido, ela diz respeito à pessoa total, e não apenas a uma parte dela. Agora nos voltamos para a palavra soma, usualmente traduzida como “corpo”.  Arndt-Gingrich  dá  cinco  significados,  incluindo  os seguintes:  “o  corpo  vivo”,  “o  corpo  da ressurreição”, e “a comunidade cristã ou igreja”. Clarence B. Bass, num artigo sobre o corpo nas  Escrituras,  também  lista  cinco  definições  da  palavra soma:  “a  pessoa  total  como  uma entidade  diante  de  Deus”,  “o locus  do  espiritual  no  homem”,  “o  homem  total  como destinado para a membrezia no reino de Deus”, “o veículo para a ressurreição”, e “o lugar do  teste  espiritual  em  termos  do  qual  o  julgamento acontecerá”.Ele  chega  à  seguinte conclusão:

  “Assim,  está  claro  que  o  corpo  é  usado  para  representar  a  totalidade  do  homem,  e  milita contra  qualquer  idéia  da  visão  bíblica  do  homem  como  existindo  à  parte  da  manifestação corporal”. Podemos  resumir  nossa  discussão  das  palavras  bíblicas  usadas  para  descrever  os  vários aspectos  do  homem,  como  segue:  o  homem  deve  ser  entendido  como  um  ser  unitário.  Ele tem um lado físico e um lado mental ou espiritual, mas não devemos separar esses dois. A pessoa   humana   deve   ser   entendida   como   uma   alma   corporificada   ou   um   corpo “espiritualizado”  (“animado”).

A  pessoa  humana  deve  ser  vista  em  sua  totalidade,  não como   uma   composição   de   diferentes   “partes”.   Este   é o   ensino   claro   de   ambos   os Testamentos. O homem como uma unidade psicossomática  Embora  a  Bíblia  veja  o  homem  como  uma  totalidade,  ela  também  reconhece  que  o  ser humano  possui  dois  lados:  o  físico  e  o  não-físico. Ele  possui  um  corpo  físico,  mas  ele também  é  uma  personalidade.  Ele  tem  uma  mente  com  a  qual  ele  pensa,  mas  também  um cérebro  que  é  parte  do  seu  corpo,  e  sem  o  qual  ele não  pode  pensar.  Quando  as  coisas andam erradas com ele, é necessária uma cirurgia, mas outras vezes ele pode precisar de um aconselhamento. O homem é uma pessoa que pode, contudo, ser vista de dois ângulos. Como,  então,  haveremos  de  expressar  esses  “dois  lados”  do  homem?

 Já  observamos  as dificuldades  relacionadas  com  o  termo dicotomia.  Alguns  têm  falado  de  um dualismo,enquanto outros preferem o termo dualidade, fazendo maior justiça à unidade do homem.  A  preferência  de  alguns  teólogos,  contudo,  é  falar do  homem  como  uma unidade  psico-somática.

 A  vantagem  desta  expressão  é  que  ela  faz  plena  justiça  aos  dois  aspectos  do homem, ao mesmo tempo em que enfatiza a sua unidade. O homem, então, existe num estado de unidade psico-somática. Assim, fomos criados, assim somos agora, e assim seremos após a ressurreição do corpo. Porque a redenção plena inclui a  redenção  do  corpo  (Rm  8.23;  1  Co  15.12-57),  visto  que  o  homem  não  é  completo  sem  o corpo. O futuro glorioso dos seres humanos em Cristo inclui ambos, a ressurreição do corpo e uma nova terra purificada e aperfeiçoada.

                                                                                                             ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES   






                        II. A natureza do homem

Meyer Pearlman

1. A tri-unidade humana.

Segundo Gên. 2:7, o homem se compõe de duas substâncias — a substância material, chamada corpo, e a substância imaterial, chamada alma. A alma é a vida do corpo e quando a alma se retira o corpo morre. Mas, segundo 1 Tess. 5:23 e Heb. 4:12, o homem se compõe de três substâncias — espírito, alma e corpo; alguns estudantes da bíblia defendem essa opinião de três partes da constituição humana versus doutrina de duas partes apenas, adotada por outros. Ambas as opiniões são corretas quando bem compreendidas. O espírito e a alma representam os dois lados da substância não-física do homem; ou, em outras palavras, o espírito e a alma representam os dois lados da natureza espiritual. Embora distintos, o espírito e a alma são inseparáveis, são entrosados um no outro. Por estarem tão interligados, as palavras "espírito" e "alma" muitas vezes se confundem (Ecl. 12:7; Apoc. 6:9); de maneira que em um trecho a substância espiritual do homem se descreve como a alma (Mat. 10:28), e em outra passagem como espírito (Tia. 2:26). Embora muitas vezes os termos sejam usados alternativamente, têm significados distintos. Por exemplo: "A alma" é o homem como o vemos em relação a esta vida atual. As pessoas falecidas descrevem-se como "almas" quando o escritor se refere à sua vida anterior. (Apoc. 6:9, 10; 20:4.) "O espírito" é a descrição comum daqueles que passaram para a outra vida. (Atos 23:9; 7:59; Heb. 12:23; Luc. 23:46; 1 Ped. 3:19.) Quando alguém for "arrebatado" temporariamente fora do corpo (2 Cor. 12:2) se descreve como "estando no espírito".(Apoc. 4:2; 17:3.) Sendo o homem "espírito", é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele; sendo "alma", ele tem conhecimento de si próprio; sendo "corpo", tem, através dos sentidos, conhecimento do mundo. — Scofield.

2. O espírito humano.

Habitando a carne humana, existe o espírito dado por Deus em forma individual. (Num. 16:22; 27:16.) O Espírito foi formado pelo Criador na parte interna da natureza do homem, capaz de renovação e desenvolvimento. (Sal. 51:10.) Esse espírito é o centro e a fonte da vida humana; a alma possui e usa essa vida e lhe dá expressão por meio do corpo.

No princípio Deus soprou o espírito de vida no corpo inanimado e o homem "foi feito alma vivente". Assim a alma é um espírito encarnado, ou um espírito humano que recebe expressão mediante o corpo. A combinação desses dois elementos constitui o homem em "alma". A alma sobrevive à morte porque o espírito a dota de energia; no entanto, a alma e o espírito são inseparáveis porque o espírito está entrosado e confunde-se com a substância da alma. O espírito é aquilo que faz o homem diferente de todas as demais coisas criadas. é dotado de vida humana (e inteligência, Prov. 20:27; Jo 32:8) que se distingue da vida dos irracionais. Os irracionais têm alma (Gên. 1:20, no original) mas não têm espírito. Em Ecl. 3:21 a referência trata aparentemente do princípio de vida, tanto no homem como no irracional. Salomão registrou uma pergunta que fez quando se afastou de Deus. Assim, dessemelhante dos homens, os irracionais não podem conhecer as coisas de Deus (1 Cor. 2:11; 14:2; Efés. 1:17;4:23) e não podem ter relações pessoais e responsáveis com ele. (João 4:24.) O espírito do homem, quando se torna morada do Espírito de Deus (Rom. 8:16), é centro de adoração (João 4:23,24); de oração, cântico, bênção (1 Cor. 14:15), e de serviço (Rom. 1:9; Fil. 1:27).

O espírito humano, representando a natureza suprema do homem, rege a qualidade de seu caráter. Aquilo que domina o espírito toma-se atributo de seu caráter. Por exemplo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem um "espírito altivo". (Prov. 16:18.) Conforme as influências respectivas que o dominem, um homem pode ter um espírito perverso (Isa. 19:14); um espírito rebelde (Sal. 106:33); um espírito impaciente (Prov. 14:29); um espírito perturbado (Gên.41:18); um espírito contrito e humilde (Isa. 57:15; Mat. 5:3). Pode estar sob um espírito de servidão (Rom. 8:15), ou ser impelido pelo espírito de inveja (Num.5:14). Assim é que o homem deve guardar o seu espírito (Mal. 2:15), dominar o seu espírito (Prov. 16:32), pelo arrependimento tornar-se um novo espírito (Ezeq. 18:31) e confiar em Deus para transformar o seu espírito (Ezeq. 11:19). Quando as paixões vis exercerem o domínio e a pessoa manifestar um espírito perverso, significa que a alma (a vida egocêntrica ou vida natural) destronizou o espírito.

O espírito lutou e perdeu. O homem é vitima de seus sentimentos e apetites naturais; e é "carnal". O espírito já não domina mais, e essa impotência se descreve como um estado de morte. Dessa maneira há necessidade de receber um espírito novo (Ezeq. 18:31; Sal. 51:10); e somente aquele que originalmente soprou no corpo do homem o fôlego da vida poder soprar na alma do homem uma nova vida espiritual — isto é, regenerá-lo. (João 3:8; 20:22; Gal. 3:10.) Quando assim sucede, o espírito do homem novamente ocupa lugar de ascendência, e chega a ser homem "espiritual". Entretanto, o espírito não pode viver de si mesmo, mas deve buscar a renovação constante mediante o Espírito de Deus.


                        III. A imagem de Deus no homem

"Façamos o homem … nossa imagem, conforme a nossa semelhança." (Vide Gên. 5:1; 9:6; Ecl. 7:29; Atos 17:26,28,29; 1 Cor. 11:7; 2 Cor. 3:18; 4:4; Efés. 4:24; Col. 1:15; 3:10; Tia. 3:9; Isa. 43:7; Efés. 2:10.) O homem foi criado à semelhança de Deus, foi feito como Deus em caráter e personalidade. E em todas as Escrituras o ideal e alvo exposto diante do homem é o de ser semelhante a Deus. (Lev. 19:2; Mat. 5:45-48; Efés. 5:1.) E ser como Deus significa ser como Cristo, que é a imagem do Deus invisível.
Consideremos alguns dos elementos que constituem a imagem divina no homem:

1. Parentesco com Deus.

A relação de Deus com as primeiras criaturas viventes consistia em essas, de maneira inflexível, obedecerem aos instintos implantados pelo Criador; mas a vida que inspirou ao homem foi resultado verdadeiro da personalidade de Deus. O homem, na verdade, tem um corpo feito do pó da terra, mas Deus soprou nas narinas o sopro da vida (Gên. 2:7); dessa maneira dotou-o de uma natureza capaz de conhecer, amar e servir a Deus. Por causa dessa imagem divina todos os homens são, por criação, filhos de Deus. Mas, desde que essa imagem foi manchada pelo pecado, os homens devem ser recriados ou nascidos de novo (Efés. 4:24) para que sejam em realidade filhos de Deus.Um erudito da língua grega aponta o fato de uma das palavras gregas traduzidas por "homem" (anthropos) ser uma combinação de palavras significando literalmente "aquele que olha para cima". O homem é criatura de oração, e há ocasião na vida dos mais perversos quando eles invocam a algum Poder Supremo para socorrê-los. O homem pode não entender a grandeza da sua dignidade, e assim se tornar semelhante aos irracionais que perecem (Sal. 49:20), mas ele não é irracional. Mesmo na sua degradação, o homem é testemunha da sua origem nobre, pois o animal não pode degradar-se. Por exemplo, ninguém pensaria em ordenar a um tigre dizendo: "Sê tigre!" Ele sempre foi e sempre ser tigre! Mas a ordem, "Sê homem", leva um verdadeiro significado àquele que se degradou. Por mais que se tenha o homem degradado, ainda ele reconhece que deveria estar em plano mais elevado.

2. Caráter moral.

O reconhecimento do bem e do mal pertence somente ao homem. A um animal pode-se ensinar a não fazer certas coisas, mas é porque essas coisas são contrárias à vontade do dono e não porque o animal saiba que estas coisas são sempre corretas e outras sempre erradas. Em outras palavras, os animais não possuem natureza religiosa ou moral; não são capazes de ser instruídos nas verdades concernentes a Deus e à moralidade. Assim escreve um grande naturalista: Concordo plenamente com a opinião dos escritores que asseguram ser o sentido moral, ou seja, a consciência, a mais importante de todas as diferenças entre o homem e os animais inferiores. Esse sentido está resumido naquele curto mas imperioso "deve", tão cheio de significação. É o mais nobre de todos os atributos do homem.

3. Razão.

O animal é meramente uma criatura da natureza; o homem é senhor da natureza. Ele é capaz de refletir sobre si próprio e arrazoar a respeito das causas das coisas. Pensem nas invenções maravilhosas que surgiram da mente do homem — o relógio, o microscópio, o vapor, o telégrafo, o rádio, a máquina de somar, e outras numerosas demais para se mencionar. Olhem a civilização construída pelas diversas artes. Considerem os livros que foram escritos, a poesia e a música que foram compostas. E então adorem ao Criador por esse dom maravilhoso da razão! A tragédia da história é esta: que o homem tem usado esse dom para propósitos destrutivos, até mesmo para negar o Criador que o fez uma criatura pensante.

4. Capacidade para a imortalidade.

A existência da árvore da vida no Jardim do Éden indica que o homem nunca teria morrido se não tivesse desobedecido a Deus. Cristo veio ao mundo para colocar a Alimento da Vida ao nosso alcance, para que não pereçamos, mas vivamos para sempre.

5. Domínio sobre a terra.

O homem foi designado para ser a imagem de Deus com respeito à soberania; e como ninguém pode ser monarca sem súditos e sem reino, Deus deu-lhe tanto um "império" como um "povo". Deus os abençoou, e lhes disse: "Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra" (Gên. 2:28.Vide Sal. 8:5-8.) Em virtude dos poderes implícitos em ser o homem formado à imagem de Deus, todos os seres viventes sobre a terra estavam entregues na sua mão. Ele devia ser o representante visível de Deus em relação às criaturas que o rodeavam. O homem tem enchido a terra com as suas produções. É um privilégio especial do homem subjugar o poder da natureza à sua própria vontade. Ele, o homem, obrigou o relâmpago a ser o seu mensageiro, tem circundado o globo, subido até às nuvens e penetrado as profundezas do mar. Ele tem jogado as forças da natureza umas contra as outras, mandando os ventos ajudá-lo em enfrentar o mar. Se é tão maravilhoso o domínio do homem sobre a natureza externa e inanimada, mais maravilhoso ainda é o seu domínio sobre a natureza animada. Vejam o falcão treinado derribar a presa aos pés do seu dono e voltar quando os grandes espaços o convidam à liberdade; vejam o cão usar a sua velocidade a serviço do dono, tomar a presa que não será sua; vejam o camelo transportar o homem através do deserto, sua própria habitação. Todos eles mostram a capacidade criadora do homem e a sua semelhança com Deus o Criador.

 A queda do homem resultou na perda e no desfiguramento da imagem divina. Isto não quer dizer que os poderes mentais e psíquicos (a alma) foram perdidos; mas que a inocência original e a integridade moral, nas quais foi criado, foram perdidas por sua desobediência. Portanto, o homem é absolutamente incapaz de salvar-se a si mesmo e está sem esperança, a não ser por um ato de graça que lhe restaure a imagem divina.Este assunto será tratado mais detalhadamente no capítulo seguinte.

                                                       CONHECENDO AS DOUTRINAS DA BÍBLIA





                                                      B. Quem é o homem?
Responder a essa pergunta é, de fato, muito mais simples, pois trata de nós mesmo. É válido
lembrar que o homem foi criado por Deus de maneira especial, como já foi estudado. Entretanto, este
estado original já foi corrompido. Por isso, três conclusões podem ser lançadas:

O homem é totalmente depravado

“O homem, devido à sua queda num estado de pecado, perdeu completamente toda capacidade para querer algum bem espiritual que acompanhe a salvação. É assim que, como homem natural que está inteiramente oposto ao bem e morto no pecado, não pode, por sua própria força converter-se ou preparar-se para isso”. Sobre isso, a confissão de Westminster é clara, não existe mérito ou dignidade no homem que o faça merecer a salvação. O homem por si só está perdido, morto em seus delitos e pecados. E nada pode fazer, por suas próprias forças, para sair dessa situação. (Ef.4.17-19).

O homem é totalmente incapaz de agradar a Deus

Além de totalmente corrompido, o homem natural, não regenerado, é incapaz de agradar a
Deus. Nada que, porventura, ele venha a fazer seja suficiente para conseguir a aprovação de Deus. A
inconformidade do homem com as exigências morais da Lei de Deus faz com que ele seja impossibilitado de agradar a Deus (Rm.8.8; Hb.11.6).

O homem não é livre, é escravo do pecado

Se absolutamente todos os homens estão corrompidos, e essa corrupção atinge cada aspecto
do seu ser, é impossível que o homem seja livre. Enquanto o homem está debaixo do pecado, sujeito a
ele, escravizado por ele, não pode ser livre. Apenas quando este conhece a verdade, ele é retirado, pela verdade, da escravidão para a liberdade (Jo.8.32; cf. 14.6; 17.17). Paulo diz que na salvação o homem muda de senhorio: do pecado  para Deus (Rm.6.18, 22). Contudo, a submissão a Deus não aprisiona ninguém, muito pelo contrário, abre portas para a liberdade (Gl.5.1, 13).

O homem é totalmente responsável por sua condição

A Bíblia nunca coloca sobre Deus a responsabilidade da prática ou da culpa do pecado, mas
antes, sobre aqueles que praticam o mal é que sobrevém a culpa, a punição e o peso dessa infração da lei moral de Deus. Isso se chama responsabilidade. Assim, o homem natural, não regenerado, além de
desprovido da Graça, de ser incapaz de agradar a Deus, escravo do pecado, é responsável por cada uma de suas ofensas a Deus. Nunca uma ação individual pecaminosa pode ter sua culpa ou responsabilidade lançada sobre outro dentro da perspectiva bíblica. Isso pode ser claramente observado no Texto de Rm.1.18-32, onde todos os verbos relacionados às práticas dos homens são ativos.

                                                                         Teologandomarceloberti


DEUS OS ABENÇOE !

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