INTRODUÇÃO
Em
se tratando do Reino de Deus, tudo se estabiliza ou cresce com uma boa
liderança, que tem sua operosidade por meio de homens que Deus usa. A anarquia
visível no livro de Juízes (Jz 21.25) revela a instabilidade e o insucesso por
falta de uma sólida liderança.
O momento áureo que irá despontar na
liderança de Davi e de Salomão, como descrito em 1 e 2 Samuel e 1 Reis 1–11,
contrasta com a conflituosa e instável vivência no livro de Juízes e tonicamente
ressalta a significância de bons e verdadeiros líderes, que tenham compromisso
com Deus e queiram, de fato, fazer a vontade dEle, tendo súditos que se
submetam às normas divinas.
As mudanças implementadas por Davi e
Salomão serão grandiosas no campo político, social e religioso.1Haverá um
crescimento sem precedente. As páginas áridas de Juízes serão pintadas com as
ações enérgicas de Davi, sob a potente mão de Deus, e embelezadas pelo seu
filho Salomão, o que redundará em um panorama florescente.
O limiar da história de Israel, ainda
que apresentado como um povo que confiava em Deus, por vezes revela suas
fragilidades, de modo que, sendo composto por tribos, ligadas por laços
sociais, errava, pecava, daí voltava-se para o Soberano buscando seu auxílio.
Com Davi e Salomão nascerá um reino forte, glorioso, de modo que Israel será a
nação mais expressiva e poderosa na região do Oriente Médio.
A significativa mudança do período dos
juízes para a monarquia é visível. Observe que o capítulo 1 de 1 Samuel
descreve a família de Elcana indo adorar em Siló. Não havia nada de suntuoso
nesse santuário de adoração, ao contrário do Templo feito por Salomão, onde sua
glória pungente é majestosa, cheia de sistemas. Precisava-se de uma arrecadação
grandiosa para a sua manutenção.
Ao estudarmos 1 e 2 Samuel, devemos ter
em mente que são relatos históricos sólidos e reais de personagens importantes;
alguns mantinham relacionamento diretamente com Deus. O que se pretende ao
analisar pedagogicamente a vida desses homens é que a fidelidade deles a Deus
era a chave para o sucesso e que os problemas nascem quando eles quebram essa
aliança.2
Walter A. Henrichsen,3 tratando sobre o
estudo dos personagens bíblicos, denominado biográfico, está certo quando diz:
“Esta espécie de estudo bíblico é divertida, pois você tem a oportunidade de
sondar o caráter das pessoas que o Espírito Santo colocou na Bíblia e de
aprender de suas vidas”.
Os personagens bíblicos não eram
perfeitos, nem etéreos, mas seres humanos como cada um de nós; por isso, nas
páginas das Sagradas Escrituras não se ocultam suas fraquezas, lapsos, pecados,
mas evidenciam-se aqueles que, apesar de tudo, buscavam vencer tais fraquezas
recorrendo ao poder de Deus.
Joyce G. Baldwin (1921–1995), em seu
comentário bíblico sobre 1 e 2 Samuel, percebe na vida desses homens
matéria-prima em grande abundância para estudar-se a condição humana, pois eles
apresentam a vida real com todas as suas ambiguidades, mas sem o tipo de análise
de caráter ou motivação, tal como poderíamos esperar de textos modernos.
Os homens que tinham comunhão com Deus
são descritos como pessoas normais, com erros e acertos; deles podemos
aproveitar aquilo que estava de acordo com a Palavra de Deus e rejeitar os atos
dissonantes, conflituosos, resultantes da quebra da aliança divina.
Paulo está certo quando diz que o que
foi escrito é para nossa advertência (1 Co 10.11). Sendo assim, faremos um
passeio turístico pela Bíblia que compreende 130 ou 140 anos, envolvendo os
seguintes personagens: Samuel, Saul e Davi, cada um apresentando algo positivo
e algo negativo. Nesse caso, devemos seguir a recomendação de Paulo: julgar
todas as coisas e reter o que é bom (1 Ts 5.21).
Pr. Osiel Gomes
I. CONTEXTO
HISTÓRICO DE 1 E 2 SAMUEL
A
Originalidade de Samuel
Para
uma visão panorâmica do conteúdo de 1 e 2 Samuel, faremos um passeio em aspecto
geral, no afã de situar você, leitor, no contexto, a fim de que possa assimilar
bem o que nele está proposto.
Ao abrir a Bíblia Hebraica
Stuttgartensi, logo você lerá Shemoel a b b (a, b) e, na Septuaginta, Basileion
A. B. G. D. O Cânon Hebraico apresenta 1 e 2 Samuel como um só livro, ou seja,
sem a divisão que consta em nossas Bíblias em português. Diversos nomes
aparecem nas páginas desses dois livros, mas o protagonista é Samuel, ainda que
a ênfase sobre ele seja mais forte nos primeiros quinze capítulos do primeiro
livro. Já no segundo, seu nome não aparece, mas ele continua sendo o personagem
influente.1
Particularmente, podemos asseverar que
isso se deve ao fato de ele haver ungido os dois primeiros reis de Israel, Saul
e Davi, o que se tornou algo indelével, mas, talvez, essa ênfase nos dois
livros resulte de sua forte influência como profeta de Deus. No segundo livro
que leva seu nome, Samuel não aparece mais, posto que a última referência a ele
consta em 1 Samuel 28.20.
O nome de Samuel é forte nos dois
livros, sendo que ele é citado 125 vezes só no primeiro livro. Em diversos
outros livros das Escrituras Sagradas, seu nome também aparece, como em
Crônicas, Salmos, Jeremias, Atos e Hebreus. No geral, perfaz um total de 136
vezes que seu nome é citado. Quanto a essa ênfase constante do nome de Samuel,
podemos estar convictos de que não se trata de mera casualidade, mas de dois
fatores preponderantes: a presença do Senhor em sua vida e a sinceridade em suas
palavras.
Em sua origem, como dissemos, no
hebraico, esses livros eram um só. A alteração se dá com o surgimento da
Septuaginta (LXX) e daí surge a divisão em dois — 1 e 2 Samuel —, os quais eram
denominados Livros dos Reinos. Nessa época, também os livros de 1 e 2 Reis,
como aparecem em nossas Bíblias, eram chamados de Livros dos Reinos III e IV.2
Vale ressaltar que é importante que entendamos a citação dos livros dentro do
Cânon Hebraico, também feita por Jesus Cristo (Lc 24.44). Segue então essa
estrutura no hebraico:
•Lei.
Os cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
•Os
profetas. Estão arrolados em oito livros.
-
Os primeiros quatro livros são chamados de profetas anteriores: Josué, Juízes,
Samuel, Reis.
-
Profetas posteriores, mais quatro livros, os quais envolvem os primeiros três
profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel.
-
Profetas menores, um livro, mencionando os outros doze profetas.
•Os
Kethubhim ou Escrituras. Esses são em número de onze livros, os quais podem ser
classificados assim:
-
Os poéticos. São três livros: Salmos, Provérbios, Jó.
-
Os cinco rolos ou Megilloth. Cantares de Salomão, Rute, Lamentações de
Jeremias, Eclesiastes, Ester.
-
Os três livros históricos: Daniel, Esdras (com Neemias), Crônicas.
Esses livros fazem um total de 24 do Antigo
Testamento no Cânon Hebraico, o que, nas nossas Bíblias, corresponde a um total
de 39 livros. Em que se baseia a contagem diferente? Podemos responder a essa
pergunta usando as palavras do Dr. Turner, em sua Introdução ao Velho
Testamento:
Os livros históricos, Reis, Crônicas, e Esdras-Neemias, são por
nós divididos em duas partes ou livros dos profetas menores, que os hebreus
consideravam como um livro só, fazem com que 24 livros mais 11 livros sejam os
mesmos 39 livros que temos em nossas Bíblias. Ocasionalmente os judeus uniam
Rute com Juízes e Lamentações com Jeremias, perfazendo assim um total de
somente 22 livros. (Isso correspondia às letras do alfabeto hebraico).3
É bom levar em consideração que o livro
de Samuel é da categoria dos profetas anteriores, incluindo ainda os livros de
Josué, Juízes, Samuel e Reis. Essa classificação se dá simplesmente pelo fato
de relatarem a história que começa com a morte de Moisés indo até o desfecho do
reino. A inclusão de Daniel como histórico, e não profético, é resultado de
dois fatores: primeiramente, ele não era considerado profeta, ainda que tenha
profetizado; em segundo lugar, a metade do seu livro se enquadra em um conteúdo
histórico.
Os
Personagens Principais do Livro
Diretamente citamos os seguintes nomes:
Samuel, o profeta, e logo em seguida vêm os dois reis que ele ungiu — Saul e
Davi. É bom lembrar que Samuel, sendo filho de Elcana, era um levita. Conforme
descreve o texto, ele nasceu em Ramataim-Zofim, que pertencia ao território de
Efraim.
Stanley A. Ellisen,4 falando de
personagens importantes que se destacaram no Antigo Testamento, salienta três
nomes: Moisés, Samuel e Esdras. Esses três homens tiveram um papel relevante na
formação da Palavra do Senhor. De Moisés veio o Pentateuco, os primeiros cinco
livros da Bíblia. Esdras contribuiu com quatro ou cinco livros e organizou o
cânon. Já o profeta Samuel é apontado como autor de três dos livros do meio
desse período.
É notável que Samuel tem destaque não
somente por ser profeta e escritor, mas, sim, porque através dele foi que se
deu a ação da unção dos primeiros dois reis de Israel por ordem do Senhor, o
que prosseguirá com outros profetas, culminando com o ato solene de João
Batista ungir a Jesus Cristo como uma consequência profética (Mt 3.14-16).
Acreditamos também que não foi por mera
casualidade que os tradutores passaram a usar como título do livro o nome
Samuel. Na verdade, é claro, evidenciava sua humanidade, mas crê-se que essa
reminiscência tinha como propósito egrégio falar de um humano pedido a Deus, ou
ouvido por Deus.
O nome Samuel tem origem no hebraico
Shemu’el, que quer dizer literalmente seu nome é Deus. O primeiro elemento tem
relação com o aramaico shem, shema, shum, que significa nome, e o segundo, El,
quer dizer Deus, Senhor. A Vulgata Latina de Jerônimo conferiu aos dois
primeiros livros, de um total de quatro, o nome de Samuel. Na Bíblia Vulgata
Latina, você encontrará a seguinte expressão: Incipit Liber Samuhelis, O livro
de Samuel começa. Creio, particularmente, que o trabalho de Samuel, na
transição entre teocracia e monarquia, tenha certa ligação com o seu nome, isso
porque na questão teocrática era Deus agindo pelo seu povo por meio de homens, os
quais eram escolhidos, como antes Ele vinha fazendo por meio de Moisés e de
Josué.
O momento teocrático, que se iniciou
ainda no Êxodo, quando Deus agiu selecionando homens para conduzir seu povo à
Terra Prometida, perpassando por Josué, juízes e chegando até Samuel, revela
que, diante da vida marcada de pecado de Israel, de Eli e seus filhos, Deus
estava atento a tudo, por isso escolhe Samuel para ser o seu representante nos
momentos deploráveis.
Samuel vai ser o personagem de um novo
e grande momento na conquista da vida israelita, a monarquia. Aos olhos de cada
judeu será algo maravilhoso, pois representará uma conquista histórica, social
e política no aspecto organizacional; todavia, no quesito espiritual, nascerá
uma crise grandiosa que causará grande recuo, que só será vencida com a segunda
vinda de Cristo à terra.
Não se pode apenas
falar de fracasso no período monárquico, posto que Deus trabalha como Ele quer.
Assim, afirmamos categoricamente que esse momento da monarquia foi usado também
por Deus, pois é de Davi, no sentido de descendência, que Jesus virá. Nesse
particular, são cabíveis as colocações de Roy B. Zuck, que entende a monarquia
como um meio usado por Deus para relacionar o seu povo entre outros povos. O
terceiro ofício usado por Deus para mediar o seu reino entre os povos foi a
monarquia ou a realeza. A mudança na liderança de juízes para reis foi
dramática e traumática. O governo por juízes permitia as tribos manterem maior
independência. Os juízes surgiam espontaneamente e, com raras exceções, não
perpetuavam o governo aos filhos que tiveram. Os reis reinavam sobre o todo o
Israel continuamente e eram sucedidos por filhos quer fossem dignos ou não.
Mesmo assim, o Senhor trataria com o rei no que tange ao merecimento e o
mediria de acordo com o concerto davídico e o ideal davídico. Subsequentemente,
o rei ideal tonar-se-ia o principal tema nos profetas, um rei que julgasse o
povo de forma honesta e com justiça. Nesse grande futuro escatológico, este rei
ideal será chamado de Davi, visto que Ele cumprirá mais do que o ideal davídico
(Ez 34.23,24).5
Entendemos que, a partir desses
personagens bíblicos — Samuel, Saul, Davi —, deve-se levar em consideração o
aspecto humano, de maneira que, ainda que fossem bons ou perfeitos
relativamente, não poderiam ser o modelo ideal para a nação de Israel, de
maneira que ela iria sempre periclitar na sua busca constante por alguém que se
tornasse de fato o rei que os israelitas desejavam, razão pela qual nasce o
ideal davídico.
Precisamos entender, no entanto, que é
por meio das fragilidades de cada um dos personagens elencados acima, de seus
complexos psicológicos, que o Deus transcendente buscou ser imanente em cada
um, tratá-los de modo que pudesse fazê-los viver segundo a sua vontade.
A humanidade de Samuel, Saul e Davi, em
suas complexidades existenciais, emocionais, falhas, jamais foram obstáculo
para que Deus os usasse, porém, a despeito de Saul, sua obstinação, teimosia
contumaz, o levou a ser desprezado por Deus, não por causa de sua humanidade,
mas, sim, por sua vontade deliberada de não se submeter a Deus. Nesses três
personagens, podemos enxergar cada um de nós, com nossas individualidades,
nossos complexos, nossos desejos, aspirações, falhas, pecados, ambições e, por
vezes, as posições que ocupamos nos fazem esquecer de Deus, porém, essa
humanidade frágil, suscetível constantemente de queda, pode ser amalgamada pela
presença do Eterno, o que resultará nas palavras de Paulo: “E disse-me: A minha
graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade,
pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de
Cristo” (2 Co 12.9).
Nossa ínfima humanidade não é razão
para Deus deixar de nos usar. Prova disso é que Ele usou homens normais, com
falhas, mas que se dispuseram a viver segundo a sua Palavra. O senhor quer usar
qualquer pessoa, desde que seja humilde e que renuncie seu egocentrismo,
prepotência humana, diante do poder divino.
Propósito de
1 e 2 Samuel
Transição deve ser a palavra certa para
tratar do propósito dos livros de 1 e 2 Samuel, isso porque eles visam, de modo
conexo, narrar a história pormenorizada dos eventos que se sucederam dos
antigos juízes ao período da monarquia. Não se pode fazer qualquer desconexão
do livro de Samuel com os outros presentes no Antigo Testamento, pois se
harmonizam na contextura histórica de modo geral.
Moisés foi o primeiro juiz de Israel,
uma grande figura para o povo de Deus. O último deles será Samuel, que também
será apresentado como um grande profeta, que ungirá os dois primeiros reis de
Israel. O propósito maior desses dois livros é descrever o papel desse homem
como agindo na difícil transição da teocracia para a monarquia, como também de
seu grande ofício profético nas páginas veterotestamentárias, indo até João
Batista, como é citado: “A lei e os profetas vigoraram até João; desde esse
tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se
esforça por entrar nele” (Lc 16.16, ARA).
O doutor Stanley A. Ellisen nos agracia
com uma maravilhosa e propícia colocação ao tratar sobre o objetivo dos dois
livros de Samuel:
O objetivo dos livros de Samuel é apresentar a história do
desenvolvimento de Israel desde um estado de anarquia até um estado de
monarquia teocrática. Dá uma descrição religiosa do crescimento da nação,
mostrando a futilidade da tentativa de unificação e crescimento nacional por
esforço e liderança humanos, bem como o grande poder e prestígio de uma nação
fundada em princípios teocráticos sob um rei indicado por Deus. Motivo
dominante é a glória e o poder de uma nação que corresponde ao Senhor
Soberano.6
Nessa colocação, percebemos que qualquer
busca por crescimento, unificação por forças humanas, sem a presença de Deus é
inútil. Isso fala fortemente para nós, Igreja do Senhor, que devemos priorizar
o crescimento, o sucesso, pautado nos princípios espirituais, jamais nos
esquecendo de que sem Jesus nada podemos fazer (Jo 15.5).
Há, claro, uma variedade de assuntos
presentes em 1 e 2 Samuel, porém asseguramos que, no tocante aos propósitos,
destaca-se o que foi supracitado. Além disso, há aqueles que podem ser listados
como exemplo para nós no que tange à questão espiritual e moral, os quais são
resultado das experiências vividas pelos três personagens principais dos
livros.
Com Samuel, aprendemos que o crescimento
e a estabilidade do nosso ministério dependem de nosso servir com obediência e
sinceridade, ser verdadeiro no falar (1 Sm 3. 19-21). Com o rei Saul,
aprendemos que podemos estar vulneráveis a forças demoníacas, entre outros
transtornos, quando não confiamos em Deus, quando nos deixamos levar pela sede
de poder. Seu insucesso resultou da não obediência à voz divina (1 Sm 14.26).
Já com Davi, aprendemos que podemos perder grandes privilégios ao nos
envolvermos com o pecado. Esse procedimento quase lhe custou a vida e o trono.
II. AUTORIA
E DATA
Autor
e Título
Trataremos primeiramente do autor do
livro. É variável e questionável essa questão por diversos estudiosos, todavia,
no seu elemento interno, atribui-se a Samuel parte do escrito do livro, dentre
outros nomes que vêm depois dele, como Natã e Gade (1 Sm 10.25; 1 Cr 29.29).
Além desses, não há qualquer menção a outros autores que pudessem ter escrito 1
e 2 Samuel.
Entendemos claramente que no seu todo
Samuel não escreveu os dois livros, pois sua morte se deu quando o rei Saul
ainda vivia. Ademais, o glorioso reinado de Davi não foi presenciado por ele,
mas é forte o argumento do Talmude ao afirmar que boa parte dessa obra tenha
sido escrita por esse profeta.
Podemos dizer que as críticas
volumosas sobre o autor de Samuel se devem a essas duas interfaces — que Samuel
morreu antes de Saul e que o segundo livro reserva seu conteúdo para tratar
especificamente sobre o reinado de Davi. Nesse cenário é que a alta crítica7
irá atuar, assegurando que esses livros tiveram diversas origens, daí o motivo
de se falar em múltipla autoria.
A alta crítica, obviamente, fala das
contradições, relatos que são duplicados, presentes nos dois livros. Sendo
assim, através da múltipla autoria, poderia se resolver certas dificuldades que
foram surgindo no decorrer do tempo, pois os autores se apropriaram de algumas
informações históricas dignas de confiança, como também de informações orais,
tradicionais. A alta crítica argumenta ainda que, de Deuteronômio a Reis,
aconteceu uma reescrita de tudo, o que se deu em 621 e 550 a.C., e que esses
mesmos compiladores foram os responsáveis por escrever os dois livros de 1 e 2
Samuel.
Existe também a teoria das fontes
informativas. Por meio delas se assevera que 1 e 2 Samuel nascem de um misto de
fontes diversas. Fala-se em dois ou três tipos delas. Para Eissfeldt, 1 e 2
Samuel procedem das fontes informativas J, E e L, sendo que as duas primeiras
são oriundas das teorias J. E. D. P. S.
Muitos estudiosos apelam para essas
fontes, afirmando que os livros bíblicos de Gênesis a Reis advieram delas. No
tocante à letra L, ela pode expressar ou tratar de informantes leigos; também
evidencia opiniões vulgares, sem qualquer pretensão teológica, firmadas na Arca
da Aliança. São muitos os que creem nesses tipos de teoria ou fontes, razão
pela qual ratificam que os livros de Gênesis a Reis foram escritos
fundamentados nelas.8
Nesse parâmetro, existem aqueles que
questionam se algumas fontes alcançaram o conteúdo de 1 e 2 Samuel.9 Bentzen
crê que as fontes J e E não fizeram parte do conteúdo de Samuel. Albright
descarta essas duas fontes como sendo recorridas para o conteúdo ora
apresentado. Para Segal, que também dispensa as fontes informativas para
Samuel, houve outras narrativas que se ajustaram, como sendo independentes, no
tocante a Samuel, Davi e Saul: a Arca. Entra em cena também sobre a questão de
1 e 2 Samuel a denominada Escola Tradicional Histórica. Seus idealizadores
propõem que as sagas no tocante à Arca da Aliança, dentre outros assuntos,
foram criadas. Daí se tem diversas crônicas sem uma harmonização plena, mas
desconexas, por isso remetem os escritos de 1 e 2 Samuel a tempos posteriores,
ou seja, o período pós-exílio.
Muitos dos que não creem na inspiração
bíblica, como deveriam, procuram desfazer dos escritos canônicos e, para isso,
apresentam suas evasivas. No tocante a Samuel, afirmam que são meros conteúdos
de tradições orais, ou simples fragmentos de novelas históricas buscando
exaltar certas personagens bíblicas, como, por exemplo, Davi, mas que, na
verdade, ainda que exista algum elemento histórico nesse particular, seria
mutável, variável, flutuante.
Podemos considerar o esforço de muitos
em compreender a autoria real dos livros de 1 e 2 Samuel, todavia, entendemos
que o melhor de tudo é ficar com o que realmente crônicas relata (1 Cr 29.29) e
que um compilador organizou — o que os três autores fizeram, inclusive o ato de
recorrer ao Livro dos Justos (2 Sm 1.18), que se tratava de uma fonte
histórica.
Há grande perigo em seguir as teorias
das fontes. Nesse sentido, Joyce está correto ao encetar em seu livro três
colocações sobre a questão das fontes. Ele é partidário do ponto de vista de
que perguntas quanto à composição dos livros poderiam ser feitas, porém as
fontes apresentadas por esses pesquisadores não se firmaram em dados sólidos.
Podemos dizer que o trabalho de Wellhausen e demais pesquisadores, pelos
métodos de estudos adotados, contribuíram grandemente na pesquisa envolvendo
conhecimento linguístico, literário e histórico, o que levou muitos a terem
interesse por um conhecimento mais profundo do texto das Escrituras Sagradas. O
grande problema nessa questão toda, porém, é que antes os estudiosos eruditos
se rendiam perante o texto, mas, doravante, o texto ficava sob seu controle, de
maneira que faziam o que pretendiam com ele. Assim, a rigor, a autoridade
sobrenatural foi descartada e valorizou-se mais o método científico, buscando
sistematização e crença por meio unicamente da razão.
A essência do que consta nas
Escrituras é que sua mensagem, por si mesma, é vivificante, conforme escreveu o
escritor aos Hebreus, ao afirmar que a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb
4.12), Desse modo, o texto bíblico não pode se restringir ou ser delimitado
pelo seu leitor, antes, deve se render com temor a ele para poder desfrutar das
maravilhas ali presentes, clamando como o salmista: “Desvenda os meus olhos,
para que veja as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18).
Uma
Descrição das Fontes Diversas
Sabe-se que comumente os judeus viam o
Pentateuco como sendo de autoria de Moisés, pensamento que também irá permear o
ambiente cristão. Foi, porém, em 1670, quando um judeu de nome Baruch Spinoza
passou a dizer que na verdade o Pentateuco poderia ter outro autor, no caso
Esdras. Passou a surgir nesse particular teoria diversa sobre esse assunto.
No comentário bíblico editado por F.
Davidson (O Novo Comentário da Bíblia), falando dessas críticas das fontes e
documentos, o autor descreve com precisão os males que tais fontes causam. Por
isso é que precisamos rejeitá-las.
Não
vem a propósito encetar uma discussão acerca dos princípios sobre os quais os
críticos liberais construíram uma teoria que lhes permite dividir o Velho
Testamento por escritores desconhecidos como J, E, P, D, bem assim como por
muitos outros com estes intimamente relacionados. Pensamos que esses críticos e
suas escolas construíram as suas teorias sobre alicerces errados. Muitas das
suas suposições basearam-se em ideias erradas e rejeitou-se sempre o elemento
sobrenatural da revelação. Procurou-se, sobretudo, fixar as fontes de origem
numa data recente, a fim de atribuir as elevadas concepções morais e
espirituais do Velho Testamento a naturais princípios de evolução, eliminado
assim o elemento sobrenatural ou, pelo menos, reduzindo-o ao mínimo. Para os
críticos liberais, os livros de Samuel comprovam, ainda mais que os do
Pentateuco, a existência sobre autores diversos.10
Abaixo apresentaremos alguns
representantes das teorias documentárias, mas atentando para o que foi dito
acima: elas se fundamentam em ideias erradas, não consideram o aspecto
sobrenatural, espiritual, pontuando que as elevações morais e espirituais são
evolutivas.
Essas teorias se originaram devido aos
diversos nomes de Deus, os recursos literários. As fases diversas dos cultos
fizeram com que os críticos passassem a pensar que para tudo isso existiam
inúmeros documentos originais; dentre eles iremos apresentar alguns. O primeiro
a se mencionar é Jean Astruc (1753), que afirmou que era possível haver autoria
dupla para o Pentateuco, posto que ali estivessem presentes dois nomes de Deus:
o primeiro, Elohim, que passa a ter a fonte E.; o segundo, Yahweh, que tem a
fonte J., do nome Javé. Quem anda nessa mesma linha de pensamento é Johann
Eichorn (1780); para ele havia dois escritores para o Pentateuco, posto que os
estilos literários eram diferentes.
Diferentemente dos dois nomes citados
acima, aparece Alexander Geddes, também conhecido como W. M. Wett (1792). Ele
acreditava que no caso do livro de Gênesis não havia apenas um autor, Moisés,
mas que eram diversos, ao passo que alguém reuniu todos esses documentos
partindo dos mais primitivos.
Mais três nomes merecem ser destacados
aqui: Karl Graf, Hermann Hu- pfeld, Abraham Kuenen (1853-69), os quais
trabalharam na divisão de um documento E., buscando separar um código
denominado Sacerdotal P. Eles entenderam que Deuteronômio era o último
documento denominado D. Por fim, vamos citar o nome de Julius Wellhausen
(1876). Por meio dele se deu a clássica organização da teoria documentária em
ordem JEDP. Esse homem apresentou datas tardias para o Pentateuco, afirmando
que fora escrito durante o exílio ou posterior a ele. Para a compreensão dessas
letras, vamos especificar o sentido de cada uma delas:
•Letra
J. Trata de Javé. Nesse caso, os escritos se deram no Reino do Sul
(950
a.C.).
•Letra
E. Corresponde ao nome de Deus — Elohim. Fazia parte do Reino do Norte (850
a.C.).
•Letra
D. Deuteronômio. Sua época é antes de Josias (650 a.C.).
•Letra
P. Código Sacerdotal. Nele constavam as tradições mosaicas, as genealogias
sacerdotais. É pós-exílio, tendo sua data em 525 a.C.
Com a apresentação dessas fontes,
destacamos que duas coisas aconteciam: primeiramente, a inspiração divina é
posta em questionamento, pois cada livro é produto das invenções religiosas, e
não palavras diretas do Senhor. A segunda é que os acontecimentos presentes nos
livros, ou seja, suas narrativas, não são confiáveis, pois alguns
acontecimentos não passam simplesmente de alguma coisa criada por seguidores de
suas próprias crendices ou religiosidade.
Agora trataremos da data do livro, que é
muito discutida, todavia, se levarmos em consideração que quem os escreveu foi
Samuel, Natã e Gade, tais escritos foram feitos no período do reinado de Davi, ou
tempos próximos. Na questão dessas datas, os pesquisadores patinam grandemente.
Eles apontam os capítulos 9–20 de 2 Samuel como tendo sido escritos no século X
a.C.; as demais porções foram escritas em tempos posteriores, chegando até o
período pós-cativeiro babilônico.
Apresentam-se dois fortes argumentos
para se confirmar que esse livro foi escrito em datas anteriores: primeiro, a
questão da promessa davídica, que, nesse caso, Davi a teria imposto para
preservar sua dinastia, o que também preservaria o reinado de Salomão, seu
filho, e que isso teria que ser no limiar do seu reinado, ainda que da parte de
Judá aceitasse Davi como rei, as demais não. O outro argumento está no texto de
1 Samuel 27.6, afirmando que Ziclague pertence ao rei de Judá; assim ficava
prova do que o livro de Samuel fora escrito no período da monarquia dividida,
depois do reinado de Salomão. Para outros, porém, essas palavras foram
colocadas tempos depois. Diante de todos esses pontos discursivos, a datação
apresentada para os livros é a seguinte: 970 a 722 a.C.
A Situação
Espiritual e Política de Israel
O panorama que é descrito logo no
preâmbulo do capítulo 1 de Samuel é um quadro de letargia espiritual grandiosa,
mas não para por aí. Lendo o capítulo 7 de 1 Samuel, a idolatria, que era
proibida terminantemente por Deus, estava sendo praticada pelo povo de Deus de
forma descabida.
Outra coisa forte no meio israelita era
a imoralidade, a qual tinha atingido os dois sacerdotes filhos de Eli, que
serviam no sacerdócio em Siló. O coração deles era dominado pela luxúria,
cobiça, dentre outros pecados. No tocante a Eli, Deus não o repreendeu por
qualquer falha no seu sacerdócio; antes seu pecado era devido à falta de
disciplina para com os seus filhos, razão pela qual sofreria as consequências
divinas, inclusive a perda do sacerdócio (1 Sm 2.29,33).
É preciso entender que não somente Eli
e seus filhos estavam vivendo essa lassidão espiritual e moral, mas também o
povo de Deus estava atolado no lamaçal do pecado e da imoralidade. Muitos
estavam vivendo dissimuladamente uma religião de aparência, pois praticavam os
mais absurdos atos imorais e idolátricos. Por tudo isso, era inevitável o
julgamento da parte divina, que viria através dos filisteus. Por causa desses
pecados, eles perderam a Arca. Eli e seus filhos faleceram de maneira
dramática.
Podemos dizer que o fracasso político de
Israel derivava também de sua situação espiritual, no século 11 a.C.;
percebem-se lideranças fracas, divisões presentes, uma anarquia total, tudo por
causa da falta de um grande líder. Juízes confirma isso quando começa falando
da morte de Josué, que, depois dele, a nação se fragmentou, ficou sem liderança
forte (Jz 1.1), razão pela qual surgiram os líderes emergentes, ou seja, os
juízes, por vezes indicados por Deus, mas, em alguns casos, pelos próprios
sacerdotes.
Vale dizer que, fora esses problemas,
Israel enfrentava as ferrenhas perseguições dos seus opositores, com destaque,
claro, para os filisteus da região sudoeste. Havia também os vizinhos
consanguíneos. Foram os filisteus que os derrotaram e tomaram a Arca da
Aliança, mas eles também dominaram e se apossaram de boa parte da Jordânia
Ocidental.
No tempo do reinado de Davi, a questão
do estado político, especialmente da união, é bem problemática, primeiramente
porque ele terá que enfrentar oposição do lado de dentro e, mais adiante,
também do lado de fora, mas, sendo ele o líder escolhido por Deus, grande
guerreiro, sempre dependendo do auxílio divino, paulatinamente foi lutando e
colocando as coisas no devido lugar. Não demorou para que a nação começasse a
ter grande respeito e crescimento político.
Como um líder nato e selecionado por
Deus, Davi, com sua liderança forte, conseguirá derrotar e expulsar os
filisteus; não somente eles, mas a força de Edom, Moabe, Síria, Amom, dentre
esses muitos se tornaram subservientes a Davi; outros ainda irão fazer com ele
pacto de paz. Mais uma vez destacamos que tudo isso aconteceu porque Davi
sempre buscou o socorro em Deus, pois é Ele quem estabelece reis (Dn 2.21).
III. A
TEOLOGIA NO LIVRO DE SAMUEL
O
Historicismo Profético
Na
questão do historicismo profético, não se atrelando ao lado histórico profético
como fonte, o que se pretende enunciar é que os acontecimentos envolvendo os
três capítulos mais destacados dos livros de Samuel, os quais assinalam a
grande mudança na sua estrutura espiritual e social, não transcorreram por mera
casualidade do destino, mas se desenrolaram sob a égide divina, por meio do
peso das palavras proféticas, as quais são definidas como pressuposições
teológicas.
Em cada momento vivido pelo povo de
Deus, Israel, o Senhor estava no controle de tudo — é isso o que se pode ver na
análise dos três capítulos que revelam esse lado teológico. O conteúdo dos
livros de Samuel é histórico, mas sabe-se que ambos têm um peso teológico muito
forte, que diversos autores salientam como três pontos principais: (1) a
soberania divina; (2) o pecado; e (3) o pacto davídico.
Joyce
G. Baldwin, falando do ponto de vista teológico do livro, assegura:
Nos
livros de Samuel, há três capítulos que se destacam como marcas, caracterizados
por sua interpretação das mudanças históricas que estavam ocorrendo na
estrutura de liderança de Israel. São eles: 1 Samuel 7, 1 Samuel 12 e 2 Samuel
7. Isso não quer dizer que o restante dos livros não seja teológico, pois
pressuposições teológicas permeiam o todo; contudo, nesses capítulos um profeta
expõe a palavra divina para cada etapa da crise que o povo de Deus estava
atravessando.11
No que tange à questão do aspecto
teológico presente nos livros de 1 e 2 Samuel, é preciso entender que existem
elementos nas Escrituras que não podem ser apresentados ou entendidos somente
em um contexto histórico, físico, mas somente em Deus, o autor da Bíblia.12
A teologia desses dois livros, segundo
Roy B. Zuck,13 está em dois níveis: no dos acontecimentos envolvendo a vida de
Samuel, que é um jovem que aprende na casa do Senhor, torna-se um juiz de fé, e
também no de Davi e Saul, revelando o lado humano e o tratamento divino com
cada um, pois ainda que apresentassem pecados, erros, falhas, Deus estava
controlando cada acontecimento para concretizar os seus propósitos.
Primeiramente temos que entender no
texto que é descrito tanto a vontade soberana como a vontade permissiva da
parte do Senhor. É claro que em momento
algum Deus ficou feliz com a atitude do seu povo em querer um rei como as
demais nações, inclusive de ele lutar suas batalhas, posto que desse modo
estavam desprezando a vontade soberana do Senhor (1 Sm 8.7). Deus permitiu que
Israel tivesse um rei, inclusive posteriormente afirma que o abençoaria, mesmo
tendo o povo feito a escolha, no caso Saul (1 Sm 9.16).
Uma leitura precisa do texto mostra que
Deus deu oportunidade a Saul para que tivesse condições de fortalecer o seu
reino, inclusive a ênfase é bem clara: “para sempre” (1 Sm 13.13). O que leva
Saul a ser rejeitado é o seu próprio pecado. Não há qualquer apontamento de
Samuel em afirmar que a perda da dinastia de Saul era porque ele fora
predestinado, mas, sim, porque não procedera como deveria. Desse modo ele é
punido por seus pecados.
Podemos entender que de antemão Deus
sabia e previu tudo o que aconteceria com Saul, mas, como disse, Ele deixou
acontecer para evidenciar ao povo que um rei escolhido apenas pela vontade
humana é muito prejudicial. O que deve se levar em consideração na questão de
Saul é que envolvia também o lado da responsabilidade humana.
Creio que você tenha percebido que o
primeiro aspecto teológico dos livros de 1 e 2 Samuel é em relação à soberania
de Deus. O segundo é quanto ao pecado cometido pelos personagens mais
influentes do livro — Eli, Samuel, Davi, Saul. A princípio são evidenciados os
pecados mais dissolutos e abusivos cometidos pelos filhos de Eli na condição de
sacerdotes (1 Sm 2.13-17; 3.13), os quais não são, em momento algum, penalizados
pelo pai. Em se tratando de Samuel, a causa que levará o povo a pedir um novo
rei deriva de pecados cometidos por seus filhos, o que acontecerá de fato (1 Sm
8.5).
Observe que a ênfase envolvendo cada um
desses personagens destaca o lado humano, como a vulnerabilidade para o pecado,
fosse quem fosse. Saul, por exemplo, sendo escolhido, separado para ser rei,
não demorará para mostrar seu lado pecaminoso. Ele será um rebelde contumaz,
não obedecendo à voz de Deus, indo às mais baixas e miseráveis condições, pois espíritos
malignos o dominam. Ele manifestará uma inveja doentia, que, para alguns, é evidência
de algum tipo de demência precoce, mas que, na verdade, era pecado mesmo, pois
quem peca vive em situações as mais deploráveis.
A condição degradante de Saul é vista
no caso de ele buscar orientação com a feiticeira de En-Dor (1 Sm 28.6). Por
não ter mais resposta de Deus por causa de sua rebeldia, ele apela para esse
vergonhoso recurso. A condição espiritual e moral do rei Saul era a mais triste.
Esse rei teve um fim triste, tudo porque não procurou andar nos caminhos
verdadeiros do Senhor.
É
severa a maneira como as Escrituras Sagradas abordam os degradantes atos
pecaminosos cometidos por Davi, um homem que fora escolhido e que era do
coração de Deus, que tinha uma grande paixão pela presença de Deus, que
realmente expressa grande fé nEle. Não se pode apagar os momentos cintilantes
da vida desse grande rei de Israel, mas não se pode ocultar o seu duplo pecado,
os quais aconteceram de modo covarde: adultério e homicídio — resultado da não
vigilância, do descuido.
Deus usou de misericórdia e graça para
com Davi, perdoando seus pecados quando foram confessados (2 Sm 12.13), porém
as consequências foram sérias e inevitáveis: ele teve que arcar com todas e de
maneira caríssima.
O que aprendemos com os relatos
bíblicos envolvendo esses personagens que foram escolhidos por Deus é que cada
um deles era humano, cometia pecados, falhas, errava, e, como líderes, não eram
perfeitos. Quando, entretanto, procuravam se voltar para Deus com sincero coração,
prontamente eram abençoados. Assim, ainda que venhamos a falhar, podemos nos
voltar para Deus com um coração sincero e quebrantado
—
Ele não nos abandonará.
Frente
a todos os pecados e erros de Davi, Deus o perdoou, e não somente isso, fez com
ele um pacto. Segundo alguns biblistas, esse pacto implementou algo a mais
àquilo que havia sido dito no pacto abraâmico.
Podemos considerar três pontos fortes
nesse pacto davídico: (1) linhagem eterna; (2) firmeza no trono; e (3) um reino
eterno.
É bom levar em consideração que, no
tocante ao governo eterno, mais uma vez dizemos que se tratava de Jesus Cristo,
o qual descenderia da casa de Davi. Por isso, nesse sentido, Champlin escreve:
A Davi foi prometida uma linhagem permanente, um trono firme e um reino
perpétuo. O direito de governar Israel para sempre caberia a um de seus
descendentes, promessa que antecipa e garante o reinado eterno do Senhor Jesus
Cristo, o Filho maior de Davi. A fidelidade e o amor constante de Deus por Seu
servo Davi podem ser vistos no fato de que Ele o perdoou graciosamente de seu
grave pecado duplo: adultério e homicídio.14
O
rei Davi em tudo reconheceu a bondade divina direcionada à sua pessoa, por isso
agradece com louvor ao Deus bendito, entendendo que tudo o que tinha alcançado
vinha dEle. Ademais, ele se sente ainda mais feliz por causa da promessa que
Deus fez para com a sua casa, ou seja, o pacto davídico (2 Sm 23.1).
Em Busca de
um Rei
A busca por um rei não será algo sem
causa. Na verdade, ela é resultado não propriamente da culpa direta de Samuel,
que em todo tempo manteve-se fiel a Deus e ao seu trabalho. Samuel foi um
grande administrador e conservador da Palavra divina, mas erra como Eli, pois
seus filhos eram pecadores e se renderam a práticas de subornos; não eram sinceros
nos julgamentos, antes os pervertiam (1 Sm 8.3).
Podemos dizer que o encetamento pela
busca de um rei nasceu de um quadro geral — primeiramente o fato de Samuel não
ter um sucessor; em segundo lugar, depois que os filisteus levaram a Arca,
ainda que devolvida, ela permaneceu na casa de Abinadabe por 20 anos, sem uso, e,
dessa maneira, os israelitas estavam sem um lugar para a adoração.
Toda essa situação plangente criou
temor no povo, que logo viu a força filisteia voltar com ímpeto contra os israelitas,
assim, eles entenderam que, se não tivessem uma liderança forte, como as demais
nações, ficariam vulneráveis a qualquer ataque dos inimigos. Diante disso,
procuraram imitar as outras nações, querendo ter um rei como todas as outras.
Nessa perspectiva, a da busca por um
rei, os israelitas passaram a caminhar do lado oposto, pois adotar a monarquia
era não exercer em Deus uma verdadeira fé. Ademais, ela tinha seus lados
negativos, conforme escreveu Moisés (Dt 17.14). O ideal proposto por Deus ao
seu povo era a teocracia, o Senhor sempre sendo o seu rei (1 Sm 8.7).
Na busca por um rei ao modelo das
outras nações, com desprezo pela teocracia e também sob uma pressão muito forte
contra Samuel para providenciar esse rei, este, como profeta, alerta a todos
sobre tudo o que estava acontecendo e que iria suceder caso fosse como estavam
querendo. Mesmo assim, seus ouvidos não quiseram apurar nenhuma das palavras de
advertência ditas pelo profeta, razão pela qual viriam a pagar caro por isso (1
Sm 8.9-22).
Como pediram, irão receber um rei.
Observe que o primeiro monarca que Israel receberá é Saul. Sua presença enchia
os olhos. Ele tinha carisma, talento e notabilidade, porém não era o homem
segundo o coração de Deus, mas, sim, apenas segundo o coração dos israelitas, o
que gerará grandes consequências para todos.
Quando Saul ainda reinava, Samuel teve
que ungir Davi, que era o rei segundo o coração de Deus (1 Sm 13.13,14). Assim,
passou-se a ter dois reis ungidos, um no cargo e outro não, de maneira que se
dará uma perseguição acirrada e ciumenta de Saul contra Davi, o que levará à
morte de muitos, inclusive de sacerdotes. Mesmo depois da morte de Saul, com a coroação
de Davi por parte dos de Judá (2 Sm 2.11), do outro lado ficaria a casa de
Saul. Morrendo o herdeiro dela e unificando-se as tribos em Davi, o espírito de
divisão nunca se ausentou da vida do povo de Deus, de modo que, durante toda a
monarquia, a independência entre as duas partes predominou até o ano 586 a.C.,
quando, por fim, Jerusalém foi dominada e destruída pelo poder babilônico.
Toda essa paisagem nos alerta que é
sempre perigoso querer que nossos desejos sejam realizados desprezando a busca
pela orientação divina. Israel sofreu grandes consequências por ter desprezado
o modelo divino de confiar realmente em Deus, de apelar para Ele apenas nos
momentos de crise. Se os israelitas tinham caminhado até aquele momento sob os
cuidados do divino e supremo Pastor, deveriam então entregar tudo em suas mãos,
mas não quiseram. Optaram pelo caminho da imitação, e não da obediência.
Os Alicerces
da Dinastia Davídica
O
que realmente se pode entender bíblica e teologicamente sobre os alicerces da
aliança davídica? Há contorno peculiar em referência à aliança que Deus fez com
o patriarca Abraão. Ela se caracteriza por quatro tipos de bênção: (1)
espiritual; (2) territorial; (3) nacional; e (4) pessoal.
Em referência à aliança davídica, podemos
certificar que seu cunho ou propósito é outro; seu objetivo tinha como função
primordial destacar um panorama nacional ligado ao rei, assim, podemos então
destacar os alicerces dela afirmando que primeiramente o que se nota é que Deus
prometeu que os descendentes de Davi teriam o trono da nação de Israel para sempre;
essa linhagem procederia especificamente de seu filho Salomão.15
É importante destacar o aspecto escatológico
dessa aliança. Ela não se restringira apenas ao tempo de Davi, razão pela qual
logo que se lê o que Mateus escreveu no capítulo primeiro, por causa dessa
aliança ele pôde provar a razão de Jesus poder ser o rei de Israel, isso por
causa da genealogia por meio de José, reportando-se para Davi e Salomão.
Entende-se claramente que logo que
começa seu Evangelho, Mateus não parte tratando da genealogia envolvendo Maria,
isso porque sua linhagem era de Natã, não procedente do rei Salomão. Essa
aliança seria firme, não se quebraria, ainda que houvesse infidelidade da parte
dos homens, posto que ela se estabeleceria na fidelidade divina.
IV. SAMUEL:
O DIVISOR DE ÁGUAS
Antecedentes
Históricos
O
homem Samuel vai se destacar grandemente como sendo uma personagem forte na
liderança do povo de Deus, Israel, o que pode ser comprovado em diversas
passagens das Sagradas Escrituras. Do hebraico, seu nome16 quer dizer ouvir de
Deus ou nome de Deus, descrito nos anais bíblicos como o grande profeta depois de
Moisés e o último dos juízes (Jr 15.1; At 3.24; 13.20; Hb 11.32). Ele é
descrito como sendo aquele que faz o elo entre a teocracia e a monarquia.
O surgimento de Samuel se dá em um
momento sombrio, quando os filisteus dominavam e os sacerdotes estavam
comprometidos com o pecado. O cenário descrito era de palidez espiritual,
todavia, como nunca fica na história alguém sem ser usado por Deus, Ana, uma
mulher de fé, orava pedindo um filho a Deus, prometendo dedicá-lo por completo
à obra, ou seja, ele seria um nazireu de Deus (1 Sm 1.20-28; Nm 6). Então
aparece Samuel, o qual irá ungir reis, e seu destaque será como o primeiro
profeta depois de Moisés e o último maior juiz da nação de Israel.
O que há de relevante nesse homem é que
ele desde criança servirá na casa de Deus (1 Sm 2.18; 3.1). Além disso, em
tenra idade já será um aprendiz de Eli. Enquanto a nação vivia em um declínio
espiritual total, sem compromisso com Deus, sendo sua Palavra rara, Samuel
começou a receber a mensagem divina em Siló e posteriormente começou a falar dela
para todo Israel (1 Sm 3.21; 4.1).
Vale
dizer que, por causa dos pecados de Hofni e Fineias, e da passividade de Eli,
seus filhos foram mortos, a Arca, tomada, o que desde então se entende
claramente que Siló fora abandonado por Deus (Sl 78.60; Jr 7.12).
Na atuação de Samuel, podemos afirmar
que ele desenvolveu seu ministério como juiz em Betel, Gilgal, Mispa (1 Sm
7.16). Atuou como profeta, sendo o primeiro a formar um seminário para profetas
em Ramá (1 Sm 19.18,19), que distava de Jerusalém ao norte 13 quilômetros. Foi também
um governador. Agiu no intento de purificar Israel dos seus pecados, pois
estavam os israelitas comprometidos com a idolatria envolvendo Baal e Astarote
(1 Sm 7.4, 15-17), e lhes conduzirá à vitória.
O Líder
Samuel
O segredo de Samuel tornar-se um grande
líder em meio à nação israelita está no elemento interno da própria Bíblia,
como supracitado — seu nascimento se dá por meio de oração e tudo o que é feito
com oração e sinceridade Deus aprova. Samuel é tanto pedido quanto consagrado a
Deus (1 Sm 1.1-20,28). O livro de 1 Samuel o descreve servindo a Eli e ministrando
perante o Senhor (1 Sm 2.18; 3.1). Desde então se diz que Deus falava com ele
(1 Sm 3.1-14).
Um líder que sempre ouve a voz de Deus e
põe em prática o que Ele fala terá sucesso em tudo. Foram essas as palavras de
Deus para Josué, afirmando que, caso ele atentasse para tudo o que estava
dizendo, então prosperaria (Js 1.5,8). Revelado está que o fracasso de Saul foi
porque ele rejeitou resoluta e rebeldemente a voz de Deus.
Como líder, a Bíblia faz menção a
algumas atividades de Samuel. Ele começa a liderar com aproximadamente trinta
anos de idade, depois da morte de Eli. Não houve da parte desse jovem qualquer
atitude de rebeldia contra o sacerdote. Ele jamais ousou apontar erros do seu
líder, nem desejou seu posto, mas o servia com humildade e sinceridade, razão
pela qual se firmará diante do Senhor.
É lamentável, mas muitos estão
servindo não com bons propósitos, apenas desejando posição, título, fama,
motivos pelos quais sempre que encontram qualquer falha no seu líder expõem-na
a outros, inclusive usando meios eletrônicos, cartas, querendo a posição do
outro. É bom sempre lembrar, porém, que não devemos tomar a capa de Elias. Ela
só pode cair nas mãos daqueles que servem bem, assim serão usados pode- rosamente
nas mãos de Deus (2 Rs 2.9-14).
Depois que Eli morre é que Samuel
começa a desenvolver na prática seu ministério. Julga a Israel (1 Sm 7 e 8);
unge o primeiro rei, Saul (1 Sm 10.1); repreende a nação por causa dos seus
pecados e da quebra da aliança com Deus (1 Sm 12.6-25); fala seriamente contra
Saul, o qual ungira rei sobre a nação de Israel, mas que não estava procedendo
como Deus queria (1 Sm 13.13; 15.16-23); não deixa Agague viver (1 Sm 15.33). Ele
ainda teve o privilégio de ungir o segundo rei de Israel, Davi, o qual iria
substituir Saul (1 Sm 16) e, por fim, morre como um homem de vida limpa e
consagrada a Deus. Foi sepultado em Ramá, terra em que nasceu e viveu (1 Sm
1.19,20; 7.17; 25.1).
Frente ao que apontamos acima,
ressaltamos que a grande missão de Samuel como líder era despertar um povo que
estava em pecado, com vida totalmente contrária aos princípios bíblicos do
Senhor. Nesse caso, só mesmo um homem cheio de Deus e de sua Palavra estaria em
condições plenas de o fazer.
Samuel consegue levar o povo a um
reavivamento espiritual porque primeiramente ele mesmo era dominado pela
Palavra do Senhor, tinha comunhão gloriosa com Ele, pois não pode falar de
poder de Deus, graça, visão, revelação quem nunca teve experiência. Ele leva o
povo à adoração verdadeira porque desde cedo fora ensinado por seus pais sobre
a importância de estar na presença do Senhor. Entendemos então que Samuel não visava
apenas ao crescimento do povo como nação; antes, seu desejo era que
primeiramente os israelitas reatassem a comunhão verdadeira com Deus,
abandonando todo tipo de idolatria, que era a causa do fracasso deles, depois,
procurassem servir ao Senhor com verdade, sinceridade, pois esse seria o
caminho para obterem a vitória.
Líderes de verdade não procuram se
exibir egoisticamente, nem buscam apenas vantagens para os seus liderados,
antes seu grande anelo é que todos tenham verdadeira comunhão com Deus, pois
não adianta ganhar o mundo e perder a vida eterna (Mt 16.26). Um bom líder
aspira boas coisas para os seus servos. Ele pode desejar saúde e prosperidade
para todos, mas seu maior desejo é que todos estejam bem espiritualmente.
O Governo Divino em Mãos Humanas
Pr. Osiel Gomes

1Samuel—2Samuel
Qualificações para um rei e o estabelecimento da linhagem de Davi
TÍTULO
Nos manuscritos hebraicos mais antigos, 1Samuel e 2Samuel
eram considerados um só livro; mais tarde, eles foram divididos em dois pelos
tradutores da versão grega (Septuaginta), e essa divisão foi seguida pela
tradução para o latim (Vulgata) e pelas traduções modernas na nossa língua e no
hebraico. Os primeiros manuscritos hebraicos deram ao primeiro livro o nome de
“Samuel” em homenagem ao homem que Deus usou para estabelecer o reino de
Israel. Os textos hebraicos subsequentes e as versões em português chamaram o
livro dividido de “1Samuel e 2Samuel”. A Septuaginta os designou “O Primeiro e
o Segundo Livros dos Reinos”, e a Vulgata, “Primeiro e Segundo Reis”, sendo que
os nossos 1Reis e 2Reis são chamados de “Terceiro e Quarto Reis”.
AUTOR E DATA
A tradição judaica atribuía a autoria de “Samuel” ao próprio
Samuel ou a Samuel, Natã e Gade (com base em 1Cr 29:29), mas Samuel não pode
ser o autor, já que sua morte foi registrada em 1Samuel 25:1, antes mesmo dos
acontecimentos associados ao reino de Davi. Além disso, Natã e Gade foram
profetas do Senhor durante a vida de Davi e não estariam vivos quando o livro
de Samuel foi escrito. Embora os registros escritos desses três profetas
pudessem ter sido usados como fonte de informação para escrever 1Samuel e 2Samuel,
o autor humano desses livros é desconhecido. Essa obra chega ao leitor como uma
composição anônima, isto é, o autor humano fala em nome do Senhor e dá a
interpretação divina dos acontecimentos narrados.
Os livros de Samuel não contêm qualquer indicação clara da
data de sua composição. Que seu autor os escreveu depois da divisão do reino
entre Israel e Judá em 931 a.C. é evidente por causa das muitas referências
feitas a ambos como entidades distintas (1Sm 11:8; 17:52; 18:16; 2Sm 5:5;
11:11; 12:8; 19:42-43; 24:1,9). Também a declaração de que “Ziclague pertence
aos reis de Judá, até ao dia de hoje” em 1Samuel 27:6 nos apresenta uma clara
evidência de que este foi escrito em data pós-salomônica. Entretanto, não
existe essa clareza sobre qual seja a data mais tardia possível para a
composição. No entanto, no cânone hebraico, 1Samuel e 2Samuel foram incluídos
nos Profetas Anteriores, juntamente com Josué, Juízes e 1Reis e 2Reis. Se os
Profetas Anteriores foram compostos como uma unidade, então Samuel deve ter
sido escrito durante o cativeiro babilônico (por volta de 560- 540 a.C.), já
que 2Reis termina durante o exílio (2Rs 25:27-30). Contudo, como Samuel possui
um estilo literário distinto do de Reis, é muito provável que tenha sido
escrito antes do exílio, durante o período do reino dividido (por volta de
931-722 a.C.), sendo que posteriormente passou a fazer parte dos Profetas
Anteriores.
O REINO DE DAVI
CENÁRIO E CONTEXTO
A maior parte da ação
registrada em 1Samuel e 2Samuel aconteceu na região do planalto central da
terra de Israel e seus arredores. A nação de Israel se concentrava em grande
parte numa área que se estendia por uma área de aproximadamente 144 quilômetros
da região montanhosa de Efraim, ao norte (1Sm 1:1; 9:4) até a região montanhosa
de Judá, ao sul (Js 20:7; 21:11), e entre 24 e 56 quilômetros do leste a oeste.
Essa cadeia de montanhas central eleva-se entre 450 e 1000 metros acima do
nível do mar, e as cidades principais de 1Samuel e 2Samuel estavam localizadas
nesse planalto central: Siló, residência de Eli e do tabernáculo; Ramá, a
cidade natal de Samuel; Gibeá, o quartel-general de Saul; Belém, o local do
nascimento de Davi; Hebrom, a capital de Davi quando ele governou Judá; e
Jerusalém, a “cidade de Davi” definitiva.
Os acontecimentos de 1Samuel e 2Samuel ocorreram entre cerca
de 1105 a.C., o nascimento de Samuel (1Sm 1:1-28), até por volta de 971 a.C.,
as últimas palavras de Davi (2Sm 23:1-7). Portanto, os livros compreendem
aproximadamente 135 anos de história, e, durante esses anos, Israel passou de
um grupo de tribos frouxamente unidas sob “juízes” a uma nação unida, governada
por uma monarquia centralizada. Os livros contemplam Samuel (por volta de
1105-1030 a.C.), Saul, que reinou aproximadamente de 1052- 1011 a.C., e Davi,
que foi rei da monarquia unificada no período de 1011-971 a.C.
PRINCIPAIS
PERSONAGENS
1SAMUEL
Eli — sumo sacerdote e juiz de Israel durante quarenta anos;
treinou Samuel para ser juiz (1:3-28; 2:11—4:18).
Ana — mãe de Samuel;
dedicou seu filho ao Senhor quando ainda bebê (1:2—2:11,21).
Samuel — sacerdote, profeta e o maior juiz de Israel; ungiu
os dois primeiros reis de Israel (1:20; 2:11,18-26; 3:1-21; 7:3—13:15; 15:1—
16:13; 19:18-24; 25:1; 28:3-16).
Saul — primeiro rei de Israel nomeado por Deus; teve inveja
de Davi e tentou matá-lo (9:2—11:15; 13:1—19:24; 20:24-33; 21:10-11; 22:6
—24:22; 25:44—27:4; 28:3—31:12). Jônatas — filho de Saul; tornou-se amigo de
Davi e o protegeu de Saul (13:1—14:49; 18:1—23:18; 31:2).
Davi — o maior rei de Israel; também pastor, músico e poeta;
antepassado direto de Jesus Cristo (16:11—30:27).
2SAMUEL
Davi — (ver anteriormente).
Joabe — comandante
militar do exército de Davi (2:13—3:39; 8:16; 10:7—12:27; 14:1-33; 18:2—24:9).
Bate-Seba — cometeu adultério com Davi; tornou-se rainha de
Israel e mãe de Salomão; antepassada direta de Jesus (11:1-26; 12:24).
Natã — profeta e conselheiro de Davi; persuadiu-o a se
arrepender de seu pecado (7:2-17; 12:1-25).
Absalão — filho de Davi; tentou derrubar o trono de Israel
(3:3; 13:1 —19:10). A VIDA DE DAVI
|
PALAVRAS-CHAVE
EM 1SAMUEL
|
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Ouvir: em
hebraico, shama' — 1:13; 2:23; 4:14; 7:9; 8:18; 17:11; 23:11; 25:24 —, também
significa “obedecer”. Essa importante palavra do AT aparece mais de 1.100
vezes e implica que o ouvinte está dando atenção total ao locutor. Em alguns
casos, seu significado vai além de ouvir e indica obediência ao que foi dito.
Abraão foi abençoado não apenas por ouvir a voz de Deus, mas por obedecer-lhe
(veja Gn 22:18, onde essa palavra é traduzida como “obedeceu”). No terceiro capítulo
de 1Samuel, Samuel está ouvindo a palavra de Deus e está 147 determinado a
obedecer-lhe. Esse jovem é um exemplo do tipo de pessoa que Deus se compraz
em usar — aquela que está sempre pronta para receber a palavra de Deus e a
segui-la.
|
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Rei: em
hebraico, melek — 2:10; 8:6; 10:24; 15:11; 18:22; 21:11,16; 24:20 —, pode
descrever o governante mesquinho de uma pequena cidade (Js 10:3) ou o monarca
de um vasto império (Es 1:1-5). A competência de um rei da antiguidade
incluía a força militar (8:20), a economia (1Rs 10:26-29), a diplomacia
internacional (1Rs 5:1- 11) e o sistema jurídico (2Sm 8:15). Muitas vezes,
atuava como líder espiritual (2Rs 23:1-24), apesar de que os reis de Israel
eram proibidos de desempenhar algumas funções sacerdotais (13:9-14). A Bíblia
apresenta Davi como um exemplo de rei justo determinado a servir fielmente a
Deus (At 13:22). A promessa de Deus de dar a Davi um reino eterno (2Sm 7:16)
foi cumprida em Jesus Cristo, cuja ancestralidade humana se dá por meio da
família real de Davi (Lc 2:4).
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Destruir por
completo, exterminar: em hebraico, charam — 15:3,8,9,15,18,20 —,refere-se
à “separação” de coisas inapropriadas, normalmente por causa de impureza
associada à idolatria. No mundo antigo, qualquer coisa sagrada ou impura era
considerada inapropriada para o uso comum, portanto, estava sujeita à
destruição completa. Segundo Deuteronômio 13:12-15, Israel deveria destruir
todos e tudo que fossem perversos o suficiente para ser considerado
corrompido. A violação desse mandamento custou a vida de Acã (Js 7) e o trono
de Saul (15:9-11). Paulo nos lembra de que somos todos perversos, portanto,
somos impuros e merecemos a destruição. Porém, Deus, em sua misericórdia,
optou por salvar aqueles que depositam sua confiança em Jesus (Rm 3:10-26).
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TEMAS HISTÓRICOS E
TEOLÓGICOS
No início de 1Samuel, Israel estava espiritualmente
deficiente. Os sacerdotes eram corruptos (1Sm 2:12-17,22-26), a arca da aliança
não estava no tabernáculo (1Sm 4:3—7:2), havia prática de idolatria (1Sm 7:3-4)
e os juízes eram desonestos (1Sm 8:2-3). Mediante a influência piedosa de
Samuel (1Sm 12:23) e Davi (1Sm 13:14), essas condições foram revertidas. O
livro de 2Samuel termina com a ira do Senhor sendo afastada de Israel (2Sm
24:25).
Durante os anos narrados em 1Samuel e 2Samuel, os grandes
impérios do mundo antigo estavam enfraquecidos. Nessa época, nem o Egito, nem
as forças da Mesopotâmia, da Babilônia e da Assíria eram consideradas ameaça
para Israel. As duas nações mais hostis, aos israelitas eram a dos filisteus
(1Sm 4; 7; 13—14; 17; 23; 31; 2Sm 5), a oeste, e a dos amonitas (1Sm 11; 2Sm
10—12), a leste. O maior contingente de filisteus havia migrado das ilhas
egeias e da Ásia Menor no século XII a.C. Depois de ter acesso negado ao Egito,
eles foram se estabelecendo entre outros filisteus que já estavam lá ao longo
da costa mediterrânea da Palestina. Os filisteus controlavam o uso do ferro, o
que lhes dava certa vantagem militar e econômica sobre Israel (1Sm 13:19- 22).
Os amonitas eram descendentes de Ló (Gn 19:38) que viviam no planalto
transjordaniano. Davi conquistou os filisteus (2Sm 8:1) e os amonitas (2Sm
12:29-31), juntamente com outras nações ao redor de Israel (2Sm 8:2-14).
Em 1Samuel e 2Samuel há quatro temas teológicos
predominantes. O primeiro é a aliança davídica. Os livros são emoldurados por
duas referências ao rei “ungido”: na oração de Ana (1Sm 2:10) e na canção de
Davi (2Sm 22:51). Essa é uma referência ao Messias, o Rei que triunfará sobre
as nações que se opõem a Deus (veja Gn 49:8-12; Nm 24:7-9,17-19). De acordo com
a promessa do Senhor, esse Messias viria por meio da linhagem de Davi e
estabeleceria o trono de Davi para sempre (2Sm 7:12-16). Os acontecimentos da
vida de Davi registrados em Samuel prenunciam as ações do filho maior de Davi
(isto é, Cristo) no futuro.
O segundo tema é a
soberania de Deus, vista claramente nesses livros. Um exemplo é o nascimento de
Samuel em resposta à oração de Ana (1Sm 9:17; 16:12-13). Também, com relação a
Davi, é bem evidente que nada pode frustrar o plano de Deus de fazê-lo reinar
sobre Israel (1Sm 24:20).
Terceiro, a obra do Espírito Santo na capacitação de homens
para desempenhar tarefas designadas por Deus é evidente. O Espírito do Senhor
veio sobre Saul e Davi após terem sido ungidos como reis (1Sm 10:10; 16:13), e
o poder do Espírito Santo trouxe profecia (1Sm 10:6) e vitória na batalha (1Sm
11:6). Quarto, os livros de Samuel demonstram as consequências pessoais e
nacionais do pecado. Os pecados de Eli e de seus filhos resultaram na morte deles
(1Sm 2:12-17,22-25; 3:10-14; 4:17-18). A falta de reverência pela arca da
aliança levou à morte muitos israelitas (1Sm 6:19; 2Sm 6:6-7), e a
desobediência de Saul resultou em seu julgamento pelo Senhor, que o rejeitou
como rei de Israel (1Sm 13:9,13-14; 15:8-9,20-23). Embora Davi tenha sido
perdoado pelos pecados de adultério e assassinato depois de sua confissão (2Sm
12:13), ainda assim sofreu as inevitáveis e devastadoras consequências deles
(2Sm 12:14).
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PALAVRAS-CHAVE
EM 2SAMUEL
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Arca: em
hebraico, ’aron — 6:2,4,10,12,17; 7:2; 11:11; 15:24 —, pode ser traduzida
como “caixa” (2Rs 12:9) ou “sarcófago” (Gn 50:26), mas com mais frequência
aparece na frase ’aron haberith, que significa “arca da aliança”. A arca era
um baú de madeira revestido de ouro (Êx 25:10-22), onde ficavam guardados os
Dez Mandamentos (Êx 40:20), a vara de Arão e um vaso de ouro contendo o maná
(Hb 9:4). Ficava no Lugar Santíssimo como lembrança da aliança de Israel com
Deus e de sua presença entre eles, e, quando os israelitas se tornaram
descuidados com a arca (1Sm 4:1-11), Deus permitiu que ela fosse capturada
para demonstrar que seu relacionamento com eles transcendia símbolos e
superstições. O que ele exigia era contínua obediência à sua aliança e um
coração contrito entregue a ele (Sl 51:17; Is 57:15).
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Jerusalém:
em hebraico, yerushalaim — 5:5; 8:7; 11:1; 15:8,29; 16:15; 17:20; 19:19;
24:16 —, relacionada à palavra “paz”. Durante o reinado de Davi, Jerusalém se
tornou a capital política e religiosa de Israel e central ao plano redentor
de Deus. Essa cidade é descrita de várias formas no AT como a cidade de Deus
(Sl 87:1-3), o lugar onde Deus colocou seu nome (2Rs 21:4), um lugar de
salvação (Is 46:13), o trono de Deus (Jr 3:17) e uma cidade santa (Is 52:1).
Os profetas anteciparam um período em que Jerusalém seria julgada por causa
de sua iniquidade 148 (Mq 4:10-12), mas, no pronunciamento do julgamento,
eles podiam ver também sua restauração gloriosa (Is 40:2; 44:25-28; Dn 9:2,
Sf 3:16-20). Essa visão de uma Jerusalém restaurada incluía a esperança de
uma Nova Jerusalém em que Deus reuniria seu povo (Is 65:17-19; Ap 21:1-2).
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Guerreiros (também “valentes” ou “poderosos”): em
hebraico, gibbor —, 1:25; 10:7; 16:6; 17:8; 20:7; 23:8,22 — enfatiza
excelência ou qualidade extraordinária. No AT, é usada para denotar a
excelência de um leão (Pv 30:30), a valentia de homens bons ou ruins (Gn
10:9; 1Cr 19:8), de gigantes (Gn 6:4), de anjos (Sl 103:20) ou até mesmo de
Deus (Dt 10:17; Ne 9:32). As Escrituras afirmam que o “guerreiro” não é
vitorioso por causa de sua força (Sl 33:16), mas por causa de seu
entendimento e conhecimento do Senhor (Jr 9:23-24). A expressão “Deus
Poderoso” é usada três vezes no AT, inclusive na profecia messiânica de
Isaías do nascimento de Jesus (Is 9:6; 10:21; Jr 32:18).
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DESAFIOS DE
INTERPRETAÇÃO
Os livros de Samuel contêm algumas questões de interpretação
bastante discutidas: (1) Qual dos manuscritos antigos está mais próximo do
original? O texto padrão hebraico (massorético) foi mal preservado e a
Septuaginta diverge dele com frequência. Assim, a interpretação precisa do
original do texto é, em algumas passagens, difícil de ser determinada (veja
1Samuel 13:1). Essa é a razão de termos tantas discrepâncias numéricas. (2)
Seria Samuel ambivalente em relação ao estabelecimento de um reino humano em Israel?
É dito que, embora 1Samuel 9—11 apresente uma visão positiva do reinado,
1Samuel 8 e 12 são firmemente contra essa questão. É preferível, entretanto,
ver o livro como apresentando uma perspectiva equilibrada do reinado humano.
Conquanto o anseio de Israel por um rei fosse aceitável (Dt 17:15), sua razão
em querer um rei demonstrava falta de fé no Senhor. (3) Como explicar o
comportamento bizarro dos profetas? É comum assumir que 1Samuel e 2Samuel
apresentam os profetas como porta-vozes místicos de comportamento bizarro,
exatamente como os profetas pagãos das outras nações. Porém, no texto não há
nada que seja inconsistente com a visão dos profetas como comunicadores da
revelação divina, algumas vezes profetizando com acompanhamento musical. (4)
Como o Espírito Santo ministrava antes do Pentecoste? O ministério do Espírito
Santo em 1Samuel 10:6,10; 11:16; 16:13-14; 19:10,23; 2Samuel 23:2 não estava
descrevendo a salvação como no sentido do NT, mas como uma capacitação do
Senhor para o seu serviço (veja também Jz 3:10; 6:34; 11:29; 13:25; 14:6,19;
15:14). (5) Qual era a identidade do “espírito maligno do Senhor”? Seria um ser
pessoal, isto é, um demônio, ou um espírito de descontentamento criado por Deus
no coração (cf. Jz 9:23)? Tradicionalmente, esse espírito tem sido visto como
um demônio. (6) Como Samuel apareceu em 1Samuel 28:3-5? Parece melhor entender
essa aparição de Samuel como o Senhor permitindo que o Samuel morto falasse com
Saul. (7) Qual é a identidade da semente de Davi em 2Samuel 7:12-15?
Normalmente, é considerada como sendo de Salomão. Entretanto, o NT refere-se a
essas palavras como sendo Jesus, o Filho de Deus em Hebreus 1:5.
RESPOSTAS PARA PERGUNTAS DIFÍCEIS
1. Se aceitarmos a visão crítica de que os antigos manuscritos
sobreviventes de 1Samuel e 2Samuel foram relativamente mal preservados, qual
deveria ser nossa atitude com relação a esses livros como parte da Palavra de
Deus? Em vista dos desafios envolvidos no processo de cópia à mão e de
preservação dos rolos, é impressionante o fato de termos os documentos antigos
que temos. Nossa atitude deveria estar mais inclinada para o maravilhamento de
que há tão poucas discrepâncias do que para a preocupação com as dificuldades
que possam nos intrigar e desafiar. Muitas descobertas na ciência da análise de
manuscritos antigos envolvem os erros típicos que comumente aparecem quando
documentos escritos à mão são copiados. Por exemplo, quando duas linhas de
texto terminam com a mesma palavra ou com as mesmas palavras, os olhos do
copista tendem a pular a segunda linha, apagando-a completamente. Comparações
cuidadosas entre manuscritos e reconstrução do texto muitas vezes revelam esses
erros simples.
No caso de 1Samuel e 2Samuel, temos duas famílias de textos
antigos: (1) o texto massorético, em hebraico, e (2) a Septuaginta, traduzida
para o grego por estudiosos judeus em torno de 100 a.C. Comparando os dois
textos, é verdade que eles diferem com mais frequência aqui do que em outros
livros do AT. Há discrepâncias frequentes entre os textos com relação aos
números. Na resolução dessas discrepâncias, em virtude da idade e do idioma do
texto massorético, este é geralmente considerado uma versão mais próxima do
manuscrito original, a menos que a gramática e o conteúdo indiquem erro de
cópia.
Um fato essencial a ser lembrado quando pensamos na
possibilidade de erros textuais na Bíblia é o seguinte: as doutrinas
fundamentais da fé cristã jamais se baseiam em um único versículo da Escritura,
tampouco dependem de um trecho controverso da Escritura. O plano de salvação de
Deus e a ideia central dos ensinamentos cristãos podem ser encontrados em toda
a Escritura.
2. Como 1Samuel e 2Samuel nos ajudam a entender o papel do Espírito
Santo nos dias do AT? Os livros 1Samuel e 2Samuel ilustram parte do
papel do Espírito Santo no AT. As ações específicas do Espírito são notadas nas
seguintes passagens: 1Samuel 10:6,10; 11:6; 16:13-14; 19:20,23; 2Samuel 23:2.
Essas referências oferecem várias conclusões a respeito do ministério do
Espírito Santo: (1) era uma “vinda” ocasional sobre certa pessoa escolhida para
uma tarefa ou declaração específica; (2) o ministério do Espírito não era
controlado pela pessoa; (3) a expectativa da ajuda do Espírito podia ser dada e
retirada; e (4) o Espírito Santo inspirava certas pessoas a falarem ou
escreverem a mensagem de Deus. Jesus prometeu a habitação do Espírito Santo, e
não visitas-surpresa. Com certeza, algumas vezes os cristãos podem experimentar
uma capacitação específica do Espírito Santo para determinada tarefa, porém, a
imagem do ministério do Espírito Santo sofre uma mudança: de uma visitação
externa por parte de Deus no AT para uma presença residente por parte Deus na
vida do cristão no NT.
3. O governo dos reis fazia parte do plano de Deus desde o início ou a
reivindicação do povo por um rei trouxe a monarquia como uma forma de
disciplina divina? Ao entrar na Terra Prometida, os israelitas
encontraram cidades-estado cananeias governadas por reis (Js 12:7-14). Mais
tarde, durante os dias dos juízes, Israel foi escravizado e oprimido por nações
lideradas por reis (Jz 3:8,12; 4:2; 8:5; 11:12). O livro de Juízes menciona
repetidamente a falta de um rei (Jz 17:6; 18:1; 19:1; 21:25). A ideia de ter um
rei, como tinham as nações vizinhas, tornou-se uma grande tentação. Segundo
Deuteronômio 17:14, no entanto, Deus sabia que esse seria o desejo deles e ele
mesmo predisse que concederia autorização. Primeiro Samuel 8:4-20 revela que a
motivação dos israelitas era, na verdade, a rejeição de Deus.
Apesar das advertências de Samuel a respeito das
desvantagens da monarquia, o povo ofereceu o que eles achavam que eram três
motivos razoáveis por que precisavam de um rei (1Sm 8:20): (1) ser como as
outras nações; (2) ter um juiz nacional; e (3) ter um campeão de guerra. Cada
um desses motivos contradizia os propósitos específicos de Deus: (1) Israel
deveria ser uma nação santa; (2) Deus era o supremo juiz; (3) Deus havia lutado
as batalhas dos israelitas por eles, enquanto um rei os enviaria para a
batalha. O problema de Israel não consistia em ter um rei, mas substituir Deus
por um governante humano. Eles trocaram um Governante maravilhoso e poderoso
que não podiam ver por um que eles podiam ver, mas estava sujeito ao fracasso.
Manual bíblico MacArthur



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