I. DEFININDO
O PROFETISMO EM 1 E 2 SAMUEL 
A Menção de
Profeta no Livro Fazendo alusão ao profetismo presente no livro de 1 e 2
Samuel, pode-se destacar que foi um movimento usado por Deus buscando incentivar,
renovar uma nova comunhão com Ele e o povo. É a partir de Samuel que o
movimento profético terá uma maior airosidade. 
Samuel vai
se destacar como um grande profeta. Isso porque nos seus dias havia quase um
comprometimento de todos com o pecado, razão pela qual a Palavra do Senhor era
rara e não havia visão manifestada (1 Sm 3.1). Não demorará para que todo o
Israel, desde Dã até Berseba, tenha Samuel confirmado como profeta do Senhor (1
Sm 3.1,19,20). 
Pelo exposto
acima, entendemos que com Samuel o movimento profético terá um grande vulto,
pois se caracterizará tanto como resistência como gerando nova esperança. Por
meio do profetismo, aconteceria um despertamento da fé de Israel, um novo ânimo
viria ao povo. 
Os profetas
eram usados por Deus. Viviam controlados pelo sobrenatural divino, tendo visões
e revelações, e por isso às vezes eram chamados de “videntes”, que eram aqueles
que mantinham contato com o mundo superior por meio de visões e posteriormente
transmitiam o que viam. Citamos, por exemplo, o profeta Ezequiel. Ele é
descrito como tendo grandes visões: “E aconteceu, no trigésimo ano, no quarto
mês, no dia quinto do mês, que, estando eu no meio dos cativos, junto ao rio
Quebar, se abriram os céus, e eu vi visões de Deus” (Ez 1.1). 
O profeta
era um homem que mantinha comunicação com Deus, recebendo dEle os oráculos
divinos. Dirigia-se ao Senhor por meio de súplicas, dava ênfase à justiça e ao
direito, realizava milagres, pronunciava julgamentos por meio de atos
simbólicos — tudo isso estava ligado ao movimento profético. 
A comunidade
de Israel via nesses homens enviados por Deus a presença da palavra profeta e
vidente. É isso que se pode notar em 1 Samuel 9.9: “(Antigamente em Israel,
indo qualquer consultar a Deus, dizia assim: Vinde, e vamos ao vidente; porque
ao profeta de hoje antigamente se chamava vidente.)”.
 A palavra vidente no hebraico é ro´eh e hozeh,
que quer dizer “aquele que vê, que percebe, tem visão”. Já profeta estaria mais
ligado à palavra, à oralidade; ele seria o porta-voz do Senhor. 
No ato de
profetizar, o profeta estava comunicando aquilo que Deus realmente desejava que
todos ouvissem, tencionando que cada um passasse a entender o que estava na
mente de Deus, o que Ele queria, que era o retornar de todos para uma vida de
santidade e obediência, que resulta em verdadeira adoração e comprometimento.
 Definição de Profeta 
Nabi provém
da raiz naba do hebraico e seu sentido primário é “alguém que declara ou
anuncia algo”. No contexto bíblico, fala daquele que recebeu por revelação
direta de Deus suas palavras para proclamar ao povo. O nabi aparece mais de
trezentas vezes nas páginas velhotestamentárias, isso dentro de diversos
contextos, o que pode ser visto em passagens como: Gênesis 20.7; Números 12.6;
1 Samuel 3.20; 1 Reis 1.8; Salmos 74.9; Jeremias 1.5. Roy B. Zuck define
profeta seguindo a concepção judaica da seguinte maneira:
A palavra
profeta é tradução do hebraico nabi. A etimologia é incerta. Certos estudiosos
discutem a favor do significado de borbulhar, mais um reflexo da ideia de
profeta do que uma etimologia. Outros argumentam que significa ser chamado. A
palavra significa, mais certamente, portavoz de Deus, mas a etimologia exata
não pode ser determinada. A passagem veterotestamentária clássica sobre profeta
é Deuteronômio 18, quando Moisés estava preparando os israelitas para entrarem
em Canaã, onde eles encontrariam todos os tipos de práticas ocultas.
Ainda que
etimologicamente o termo profeta não possa ser definido por completo em sua
essência, é primordial que se entenda que ele não era visto apenas como um
declarador de algo, mas, sim, como homem de Deus. Essa definição era aplicada
também a nabi, de modo que isso o caracterizava como um escolhido para uma
missão especial ou profética da parte de Deus. 
Na contextura
hebraica, além de homem de Deus, o profeta era visto como um atalaia e pastor
(Jr 6.16; Ez 3.17). Assim, conclusivamente dizemos que a visão que se tinha do
profeta no Antigo Testamento é que ele era um escolhido de Deus para levar a
mensagem divina ao povo. Não tinha nada de si mesmo, mas tudo partido do alto.
Ele não poderia falar no seu nome, mas no nome daquEle que o tinha enviado. 
O Novo
Testamento tem sua definição também para o prophétes, palavra que aparece 159
vezes. O prefixo da palavra pro, antes, phemi, falar, já esclarece em si o
significado: uma pessoa que fala em nome de outra. Portanto, o profeta seria
inspirado por Deus para falar as suas palavras. 
A vida do
profeta era caracterizada pelo sobrenatural. Ele podia predizer coisas futuras,
envolvendo acontecimentos tanto de ordem nacional como das particularidades da
vida de pessoas. Vale dizer que o profeta neotestamentário caracterizava-se
também pelo oficio profético e, nesse particular, podia exortar, ensinar,
orientar, estar à frente de um rebanho. Historicamente, podemos entender que
havia os profetas que se tornaram conhecidos no meio da comunidade do povo de
Deus e outros que eram procurados para dar orientações particulares, todavia,
não eram reconhecidos publicamente. Pode-se dizer que o profeta verdadeiro não
tinha como prioridade revelar algo para vidas isoladas, antes, sua maior missão
era revelar a todos a mensagem de Deus, confrontar quem quer que fosse para
ajustar suas vidas e retornar em quebrantamento ao Senhor. 
Para a distinção
entre aqueles que tinham o ministério profético e os que apenas eram chamados
de profetas, pode-se tomar a pessoa de Abraão, o primeiro a ser chamado de
profeta (Gn 20.7), mas não no sentido de exercer um ministério, posto que o
protótipo maior para a função de profeta nacional será Moisés (Êx 18.15-19).
 Samuel e os demais Profetas 
Antes de
falarmos sobre a escola de profetas nos dias de Samuel, mister se faz que
analisemos com perícia o real preparo desses homens que estariam a serviço de
Deus e de sua obra. À luz do contexto bíblico, o profeta aparecia no cenário
humano de modo repentino, mas não sem preparo. Primeiramente, ele já vinha
capacitado com aquilo que Deus havia posto em seu coração, ou seja, nele estava
a Palavra divina (Êx 3.1.4,17; Jr 1.4-19; Ez 1.3; Jn 1.1). 
As
Escrituras nos falam que às vezes aparecia um profeta que ousadamente falava em
nome do Senhor sem que Ele tivesse mandado, profetizando palavras do seu
próprio coração, mas era punido pela ação divina (Jr 14.14; 23.21). A atividade
profética era algo presente na vida do povo israelita, primeiramente porque se
acreditava que Deus estava agindo na história. Ele intervinha nela de modo
soberano e, nesse particular, entravam em ação os profetas, de modo que, no
geral, inspirados por Deus, eles entregavam a mensagem divina. Por meio deles
veio a Lei de Deus (Êx 2.11; Dt 24.19-22; Is 45.20-22).
Os profetas
passam a ser uma figura central no meio do povo de Deus. Além de receberem
inspiração para revelar a mensagem divina, muitos deles guiavam e orientavam os
reis em suas decisões, os quais passaram a ser cognominados “profetas da corte”
ou “estadistas”, mas pode-se dizer que, devido à sua sinceridade, tinham que
pagar caro. Muitos deles foram perseguidos e mortos; isso pode ser comprovado
nas palavras de Jesus Cristo (Mt 23.37).
 Vale ressaltar que o próprio povo judeu
esperava do sumo sacerdote a capacidade para profetizar também, o que declara
que eles não seriam apenas oficiantes de algo, mas dotados de capacitação
sobrenatural para se comunicarem com Deus. Analisando Êxodo 28.30 e Números
27.21, isso se daria através do Urim e Tumim; por esse meio buscava-se entrar
em contato com Deus e profetizar ou falar algo ao povo. 
Conforme
descrevemos acima, ficará impresso na mente de cada judeu a importância do
ofício profético, o que logo dará início à ordem profética, que resultará da
imagem que o povo passa a ter tanto do profeta como do sacerdote, sendo homens
inspirados por Deus para revelarem a sua vontade. Nesse parâmetro, afirmamos
que a escola ou instituição profética não é algo que surge aleatoriamente, no
querer de qualquer um, mas, sim, pela representação de homens escolhidos por
Deus, que, como figura primordial, se destacam Moisés e Arão dentre outros. 
Isso fala
muito sério a nós, especialmente nos dias que estamos vivendo, em que cada
pessoa busca ser profeta, pastor, bispo, sacerdote, sei lá mais o quê, sem uma
base bíblica e tradicional, querendo cada um se fazer profeta e sacerdote ao
seu bel-prazer, contrariando a normativa divina. Esse procedimento foi adotado
pelo rei Jeroboão, que escolheu dentre o povo pessoas sem qualificação e sem
serem da tribo de Levi para assumirem o sacerdócio, o que foi seriamente
combatido por Deus (1 Rs 12.31). 
O ideal
profético estaria presente no povo devido ao modelo visto na pessoa de Moisés
(Dt 18.9-15). Assim, todos viviam na expectativa de um profeta maior, Jesus
Cristo, mas esse ideal será conspurcado por alguns líderes, que, chegando aos
dias de Eli, estará no mais baixo nível, razão pela qual o profeta Samuel diz
que a Palavra e as visões eram raras (1 Sm 3.1).
É com Samuel
que o ofício profético terá um novo avivamento, sendo ele levita, claro, da
família de Coate (1 Cr 6.28). Será a pessoa certa para promover um grande
impulso no movimento profético e fará isso por meio de sua vida de comunhão com
Deus, vida espiritual e moral equilibrada, como também através de ações sociais
(1 Sm 9.22). Falando dessas escolas proféticas e de sua importância,
especialmente por ser Samuel o seu fundador, o Novo Comentário da Bíblia diz: 
Julgam muitos ser Samuel o fundador
das escolas dos profetas, que durante séculos tão profunda influência exerceu
na vida da nação. À volta destas escolas não só se espiravam o ambiente da vida
espiritual de Israel, mas ainda o de sua vida cultural e educativa. Se Moisés
promulgou a Lei, foi Samuel quem garantiu que ela fosse propagada juntamente
com outras revelações de Deus. 
Note-se que
a escola de profetas tinha como alvo maior preservar a espiritualidade do povo
de Deus, e a cultura visava à preservação da lei e das mensagens que eram
recebidas; não se tratava apenas de uma escola qualquer, que visasse empurrar
cuca adentro velhas tradições, mera intelectualidade, ensinos oriundos de
mestres sem afinidade com o divino, mas, sim, o crescimento na comunhão com
Deus por meio de sua mensagem revelada aos seus servos. 
Com Samuel
vai surgir a escola de profetas, porque nele todos passavam a ver o brilho do
ideal visto em Moisés, e, desse modo, ele será a mola propulsora. Em seus dias,
surgirão homens que desejarão ser profetas também, assim como ele. O movimento
profético não somente ressurgirá, como se desenvolverá grandemente e manterá
sua estrutura (1 Sm 19.18-20; 2 Rs 2.3-5; 6.1). 
O que
distinguia o profeta de fato enviado por Deus daquele que queria ser profeta
por vontade própria era a inspiração. O profeta não inspirado por Deus
inventava coisas de sua mente e coração; é isso o que fala Jeremias e Ezequiel
(Jr 23.16; Ez 13.3). O profeta enviado por Deus era inspirado pelo Espírito
Santo, recebia a mensagem por meio de visões e revelações (Nm 11.17-25; 1 Pe
1.21). 
De diversas
maneiras, Deus se apresentava ou inspirava esses profetas, usando a mente deles
para lhes revelar os seus mistérios. O modo como Deus fazia por vezes parece
estranho para nós, mas é bom lembrar que isso se tratava de algo sobrenatural,
não se daria no campo das explicações humanas. Lendo algumas passagens do
Antigo Testamento, podemos perceber as multiformes maneiras como Deus se
revelava aos profetas (2 Rs 3.15; 1 Sm 10.5; Is 6.1; Ez 1.1). Por meio de
sonhos, visões, palavra direta, “Assim diz o Senhor...”, era como Deus se
revelava e tudo isso pode ser considerado inspiração divina. 
Sendo homens
inspirados por Deus, logo a comunidade de Israel passou a olhar para os
profetas como aqueles que recebiam a Palavra do Senhor, com autoridade para
ensinar, repreender, corrigir, alertar (Is 58.1; Mq 3.8), e convocar todos ao
arrependimento sincero (Is 40.1,2). Os profetas assumiam diversas funções:
poderiam ser embaixadores, estadistas, atalaias e, em casos extremos, até
desempenhar funções sacerdotais, como foi o caso de Samuel (1 Sm 16.6-13). Mas,
na verdade, seu alvo maior era inculcar na mente e no coração de cada judeu que
todos pertenciam a Deus, por isso deveriam ter vida santa, íntegra, e
corresponder ao querer divino, sem jamais perder a identidade como povo
escolhido do Senhor, atentando sempre para os ditames divinos (Êx 2.11; Mq 5.4;
Is 45.20-22).
II. O CHAMADO E O DESENVOLVIMENTO
PROFÉTICO DO MINISTÉRIO DE SAMUEL
 Lendo o capítulo 2.18-21 de 1 Samuel já se
nota o seu comprometimento com as coisas de Deus. Enquanto os filhos de Eli
estavam atolados no pecado, ele, sendo uma mera criança, não imitava seus
procedimentos pecaminosos. Um detalhe importantíssimo que pode ser visto nesse
relato é que se descreve Samuel vestido com uma estola de linho ministrando ao
Senhor; isso porque só quem podia se vestir assim era o sacerdote (Êx 28.4; 2 Sm
6.14). Podemos crer que foi Eli quem deu essa vestimenta para o jovem Samuel,
posto que o que sua mãe lhe fazia era uma túnica, ou seja, um sobretudo. Desse
modo, Eli pôde notar características presentes naquele rapaz que o qualificavam
para estar ali. 
Pela
expressão ministrava perante o Senhor, o que se entende é que o rapaz estava a
serviço de Deus; essa é a ideia do verbo hebraico sharath. No ato de Eli e Ana
se envolverem na providência de um vestuário sacerdotal para Samuel, posto que
o Talmude Babilônico relata que a mãe de um sacerdote poderia fazer a túnica
para ele, prova que os dois viam claramente na vida dessa criança um chamado
especial para a obra de Deus. O que Eli não viu nos seus filhos via tudo agora
na pequena criança que estava diante de seus olhos, Samuel: ele seria um grande
homem para a nação do povo de Deus. 
Há
evidências na vida de alguém que tem o chamado para se envolver na obra de
Deus: desde cedo ele começa a manifestar algum tipo de sinal que declara isso
nitidamente. No tocante ao chamado, podemos fazer uso das palavras do pastor
Warren W. Wiersbe e Howard F. Sugden, os quais apontam algo que prova esse
chamado:
Como podemos
saber se temos um chamado? Para alguns, isso se dá em meio a situações
dramáticas — como as enfrentadas por Moisés com a sarça ardente; Isaías, no
templo; ou Paulo, na estrada para Damasco. Já para a maioria de nós, trata-se
de simplesmente de uma convicção crescente e inegável de que Deus tem sua mão
sobre nós. Paulo expressa esse sentimento da seguinte forma: “se anuncio o
evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai
de mim se não anunciar o evangelho!” (1Co 9.16). Quando se é chamado, há uma
convicção íntima que não lhe permite investir a vida em nenhuma outra vocação.
Pelas
palavras desses dois teólogos, o que se nota é que a prova de um verdadeiro
chamado está no comprometimento. No Antigo e no Novo Testamento, há exemplo
manifesto disso. Eliseu, quando chamado, deixou tudo para fazer a obra de Deus
e isso pode ser comprovado pela ação de sacrificar os bois e a sua carroça,
inclusive pela presença do verbo hebraico quwn, “levantar-se, pôr-se de pé,
erguer-se”, dando sempre ideia de movimento (1 Rs 19.21). 
Paulo reforça a questão do chamado
quando afirma que o obreiro procura agradar aquele que o arregimentou. O verbo
satisfazer ou agradar do grego é aresko, que quer dizer “esforçar-se para
agradar, acomodar-se à opinião do seu superior, de quem o chamou” (2 Tm 2.4).
Assim, quem é chamado não tem outra visão, ou sentimento, outra vontade, a não
ser a de Deus, por isso está sempre pronto a dizer como o profeta Isaías:
“Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de
ir por nós? Então, disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6.8, grifo nosso).
O versículo
21 do capítulo 2 mostra que Samuel tinha mais seis irmãos; a questão de sete é
tão somente um fato exposto nas tradições judaicas pelas palavras citadas por
Ana no seu cântico em 1 Samuel 2.5, falando de perfeição. Cremos que a questão
da citação dos demais irmãos de Samuel não era simplesmente para destacar a
bênção dada a Ana por sua fidelidade a Deus, mas reforçava também um destaque
especial para o jovem Samuel, o qual seria chamado para ser um vaso,
instrumento nas mãos de Deus, por isso é que o texto fala do seu preparo desde
cedo para assumir uma grande missão. Enquanto não chegava o tempo, ele recebia
o treinamento e o ensino necessário.
O Crescimento de Samuel como Profeta
 O capítulo 2.21 de 1 Samuel, tratando sobre o
seu crescimento, diz: “Visitou, pois, o Senhor a Ana, e concebeu e teve três
filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor”. Interessante
que o verbo hebraico gadal, que fala de tornar-se grande, poderoso, realizar
coisas grandes, mostra que primeiramente Samuel cresce de diante do Senhor, que
é o caminho certo, pois nenhum obreiro pode fazer coisas grandes sem o auxílio
divino. O sucesso que Samuel irá obter vem primeiramente de Deus.
 Saber que Deus é quem faz coisas grandes por
nós exclui o orgulho pessoal, o querer gabar-se, como se nós produzíssemos
alguma coisa. Nós, obreiros, por vezes somos assediados pelo sentimento de
querer mostrar que fazemos as coisas, provar que temos capacidade para tal. Em
Paulo, vemos sua humildade e modéstia; nele havia consciência de que sua
capacidade vinha de Deus.
 Em 2 Coríntios 3.5, Paulo sabia que dele mesmo
não havia capacidade para desempenhar a missão na qual estava envolvido, mas
afirma que sua suficiência vinha de Deus. No grego, a palavra suficiência é
hikanotes, que fala de habilidade ou capacidade para fazer algo. Uma prova
clara de que Paulo era conhecedor de que tudo vinha de Deus, ele diz que só era
alguma coisa pela graça de Deus e que seu trabalho era também ação dessa graça
(1 Co 15.10). 
Vamos
analisar exegeticamente esse versículo para entender o que realmente ele quer
dizer. No texto da Vulgata Latina, no latim, essa conjunção é autem — “no
entanto, mas, depois, além disso”, e no grego é de, “mas, e”; pode ser
adversativa e aditiva. Aqui ela está iniciando o versículo e então podemos
entender que esteja funcionando como adversativa, pois o apóstolo entendia que
era o menor dos apóstolos, porém, contava com essa graça para ser alguma coisa.
Na verdade, ele estava relatando o efeito que ela tinha produzido no seu
ministério. 
Em se
tratando da graça, do grego cháris, ela tem diversos significados no texto
grego e o mais comum é “favor”, mas ela aponta também para atratividade
graciosa, capacidade. Observe que o nome de Deus está no caso denominado
genitivo, que pode apontar para origem. A graça aparece aqui no seu aspecto
instrumental, que foi por meio dela ou com ela que ele pôde ser o que foi e
trabalhar como trabalhou (Rm 1.5; 2 Co 8.1; 1 Pe 4.10). 
Leon Morris
afirma que por meio dessas palavras Paulo estava afirmando que tudo o que
realizou na obra de Deus foi pela graça divina. Por meio dela é que ele foi
transformado de perseguidor em pregador das verdades divinas. Ele só pôde ir
longe por causa dessa graça. Só pôde ser apóstolo por causa dessa graça. Ainda
podemos acrescentar mais aos seus dizeres: “Paulo acentua que tinha labutado
arduamente no desempenho do seu apostolado”. Ele não diz que realizou mais
coisas, mas que trabalhou mais arduamente que os demais. Muito mais do que
todos eles poderia significar mais do que todos eles juntos, ou, mais do que
qualquer deles. Como ele está engrandecendo a graça de Deus, talvez seja mais
provável que o primeiro é o seu sentido, e até onde vai a informação de que
dispomos, foi esse na verdade o caso. Conquanto os seus começos não fossem nada
promissores, a graça de Deus possibilitou a realização de um maravilhoso volume
de trabalho.
 Paulo descarta terminantemente o homem e
coloca tudo na graça que vinha de Deus para desenvolver o trabalho para Deus.
Entendemos que o crescimento de Paulo foi atribuído a Deus. 
Está bem
claro o crescimento de Samuel como profeta do Senhor. Atente a estes dois
versículos: “E crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as
suas palavras deixou cair em terra. E todo o Israel, desde Dã até Berseba,
conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do Senhor” (1 Sm 3.19,20). 
Normalmente
Samuel vai crescendo, como aconteceu com Jesus (Lc 2.52), só que seu
crescimento não se dá apenas fisicamente, nas tradições do seu povo, mas no
Senhor. Daí a expressão: “E o Senhor era com Ele”. Ele cresce como profeta,
razão pela qual se diz que nenhuma de suas palavras caiu por terra. Isso
significa que as palavras dele foram honradas por Deus, isto é, cumpridas.
 A credibilidade desse homem como profeta
perante o povo vem de sua comunhão com Deus e da sinceridade no que falava. Ele
será um novo modelo que gerará no povo esperança. Ademais, levantará a classe
de profeta e a valorização ao sacerdócio, pois a casa de Eli a tinha
comprometido, relegado a nada. É bom levar em consideração que a classe de
profetas, que será elevada por Samuel, perdurará até o cativeiro babilônico,
tendo ele como modelo de referência. Samuel não será apenas um conselheiro, um
mestre, mas um profeta de verdade, inspirado pelo Senhor. Tudo o que ele falava
se cumpria. 
Como é
maravilhoso quando o povo crê naquilo que pregamos! Por vezes alguém pode ter
muito conhecimento bíblico, teológico, exegético; seus sermões podem ser
firmados nos mais belos pilares da hermenêutica e da homilética, porém, sem uma
vida que possa gerar credibilidade, o que é falado se torna difícil de ser
ouvido e digerido pelos ouvintes. Para que o povo possa se apetecer daquilo que
pregamos, ensinamos, precisamos ter uma vida de sinceridade. Nossas palavras,
conforme disse Paulo, têm que ser temperadas com sal, ou seja, inspiradas pelo
Senhor, e, desse modo, terão seu total cumprimento (Cl 4.6).
 Samuel crescia como profeta porque
primeiramente se apegou com Deus, procurou não seguir o caminho exposto pelos
filhos de Eli, mas andar na contramão, sendo ele mesmo um protesto, não se
harmonizando com desobediência, imoralidade, iniquidade e avareza. Procedendo
assim, tudo o que ele dizia, falava, se cumpria (1 Sm 9.6). Deus vela pela sua
Palavra (Jr 1.12) e, quando o obreiro procura vivê-la plenamente, honrá-la, seu
crescimento é certo.
 A vida sincera de Samuel começou a ser vista e
divulgada em todos os lugares. Isso pode ser comprovado por meio da expressão
“Todo o Israel [...] conheceu”. A fama desse homem foi nacional. Isso se deve
ao fato de ele agir com verdade e sinceridade; o que pregava, ensinava, falava
era testado pelo povo e comprovado como verdadeiro.
 Pela expressão “desde Dã até Berseba” se pode
dizer que era desde o extremo norte de Israel até o extremo sul, ou seja, em
todos os termos territoriais de Israel. Acredita-se que a distância entre esses
dois pontos fosse de aproximadamente 240 quilômetros. 
Agora o povo
de Deus estava vivendo um novo momento com essa figura importante, que mantinha
comunhão com Deus. Ele seria o modelo para os novos profetas, estimularia o
comportamento necessário para que outros pudessem seguir, daria valor ao
sacerdócio, à classe de profetas, e, no ato da formação da monarquia, sua
pessoa seria um símbolo constante. 
Espiritualmente,
quem sustenta a Igreja é Jesus. É aquEle que tem as estrelas em suas mãos e que
anda em meio aos castiçais (Ap 2.1), ou seja, sustenta e inspeciona, mas,
quando não procuram proceder como padrão, com verdade e sinceridade, os líderes
à frente dessa instituição divina colocam em cheque sua credibilidade. Por isso
que Paulo, em 1 Timóteo 4.12, pediu que Timóteo fosse padrão para os fiéis,
tanto na palavra como no procedimento. Obreiros que agem como os da casa de Eli
podem levar uma instituição a ficar sem moralidade.
 Portanto, queridos obreiros, sejamos homens
sinceros, verdadeiros profetas do Senhor, para não contribuirmos para o
descrédito da instituição Igreja, fazendo com que seja vista de modo negativo,
antes, vivamos como Paulo, que declarou aos irmãos de Éfeso que todos sabiam do
seu comportamento; que ele não havia feito nada que comprometesse o evangelho
de Jesus Cristo (At 20.18), pois aqueles que trazem escândalo para o Reino
sofrerão graves consequências.
A Formação de Samuel como Profeta 
A formação
se trata da maneira como uma pessoa é criada, educada, o que lhe molda o
caráter, a personalidade. Samuel foi o que foi devido à influência do seu lar,
especialmente de sua mãe, e também de seu envolvimento com o sacerdote Eli,
desde cedo. Estando na casa de Eli, podemos dizer que Samuel já era um
adolescente; não se tem uma ideia precisa sobre sua idade, mas o termo hebraico
na´ar trata de moço, menino. O historiador Flávio Josefo opta por informar que
ele tinha 12 anos de idade; pode ser verdade porque a inclusão de um jovem na
vida judaica, ou seja, um filho da lei, se dá nessa idade (Lc 2.39). 
A expressão
“o jovem Samuel servia ao Senhor perante Eli” evidencia duas coisas: em
primeiro lugar, ele servia a Deus; em segundo, servia a Eli. Esse rapaz estava
na condição de discípulo, de um aprendiz; passivamente ele atendia a tudo o que
Eli lhe falava e se submetia a ele em outras atividades que se faziam
necessárias no ofício sacerdotal.
Estar pronto
para ouvir a Deus e àqueles que estão à frente de sua obra é o caminho certo
para o crescimento. Josué veio a ser um grande líder porque primeiramente
aprendeu a servir ao lado de Moisés. No Pentateuco, ele é descrito como
servidor de Moisés (Êx 24.13; Nm 11.28). Eliseu deitava água nas mãos de Elias
(2 Rs 3.11) e, no Novo Testamento, Paulo diz que Timóteo lhe servia como um
filho (Fp 2.22). Procurava aprender de Paulo com muita verdade e sinceridade,
razão pela qual o apóstolo chegou a dizer que ele havia sido inspiração para
ele, tanto na doutrina como no modo de viver e em suas intenções (2 Tm 3.10).
Explicando 2 Timóteo 3.10, J. N. Kelly fala que o relacionamento entre Paulo e
Timóteo era como o de um mestre com um discípulo. Esse jovem obreiro seguia bem
de perto tudo o que Paulo fazia, ensinava, dizia; seguir em espírito, notar
cuidadosamente para reproduzir da mesma maneira é o que compete ao discípulo em
relação a seu mestre. Em seus acréscimos ele cita:
 Este é o
sentido que é apropriado ao presente contexto, pois desde a sua conversão
Timóteo tem sido o associado íntimo ao apóstolo, e como tal deve ter
assimilado, e aprendido a usar como modelo para si mesmo, seu ensino e
procedimento (modo de vida).
 Esses relatos provam para nós que os homens
que se tornaram modelo nas páginas da Bíblia Sagrada não desceram do céu, não
se formaram sozinhos, antes, cresceram ao lado de outros mestres que foram
treinados no serviço divino. Samuel terá uma boa formação porque estará ao lado
do sacerdote Eli. Com ele terá as primeiras orientações de como responder a
Deus e não somente isso, mas noções de como proceder como um sacerdote segundo
o querer de Deus. 
Um obreiro
vocacionado deve se esmerar em pesquisas, estudos; poderá fazer os cursos das
melhores universidades do mundo, seminários evangélicos, porém jamais deve
descartar as experiências daqueles que o antecederam, isso porque eles já
trilharam caminhos que nem sequer um obreiro novato sabe como neles andar. 
No capítulo
3, nada é dito acerca de que Samuel se tornaria o que se tornou, mas o panorama
que se descreve é que ele estava sendo preparado para ser um grande instrumento
nas mãos de Deus, em uma época em que a Palavra do Senhor era rara e quando não
havia visões frequentes, as quais eram vistas e dadas pelos profetas (Is 2.1).
O quadro que se descreve aqui é que o povo não tinha em quem confiar, nem
buscar uma revelação de Deus. 
Pessoas,
lugares, acontecimentos — tudo isso contribui para a formação de um obreiro.
Foi o que aconteceu com Samuel. Sua formação de profeta envolveu a vida
religiosa de seus pais, a conscientização do voto de sua mãe de o dedicar para
ser um nazireu de Deus, e a convivência com Eli. 
O convívio
perante Eli, conforme descrito acima, envolvia também o ambiente sacerdotal.
Pelas palavras em 1 Samuel 3.1-10, podemos entender que Samuel dormia em uma
área do templo bem próxima à Arca e sua chamada se dará já quando o dia está
amanhecendo. Isso pode ser comprovado pelo fato de que a lâmpada de Deus já
estivesse quase se apagando. Lendo Levítico 24.2,3, esse objeto com sete braços
era preenchido com óleo para queimar a noite toda. No tocante à palavra templo,
conforme aparece no texto, do hebraico heykal, pode se tratar do santuário, ou
seja, antes era a tenda, mas agora poderia ter construído algo permanente.
Todavia, o melhor mesmo é entender a citação de templo de modo anacrônico.
Dormindo
próximo a Eli, em uma das áreas do templo, perto da Arca, já envolvido em um
ambiente totalmente espiritual, é que se dá a formação e o chamado profético de
Samuel. A despeito das muitas concepções de que lugares sagrados são propícios
para sonhos, visões, revelações, o que sabemos é que esse jovem obreiro desde
cedo foi envolvido no mundo sacerdotal. Também já tinha conhecimento dos
desmandos da casa de Eli, mas manteve-se fiel a Deus, por isso ouvirá a sua
voz.
O versículo
5 de 1 Samuel trata do primeiro chamado de Deus ao jovem. Ele ainda não tinha
consciência dessa tamanha honra, e esse chamado ainda se repetirá por três
vezes, sem compreensão do que realmente se tratava, pois não tinha experiência
para responder corretamente ao chamado divino.
 O chamado de Samuel da parte de Deus não veio
ao coração ou à sua mente, mas, sim, de fora, externamente. A voz era de tal
forma audível que ele pensava que era Eli chamando. Um chamado poderá ocorrer
de diversas maneiras, por exemplo, a voz no coração, a qual poderá falar à
mente, ou por uma visão, sendo que tudo vem de Deus. Ele pode chamar alguém de
variadas formas, mas caberá a quem Ele chama buscar o discernimento para
entender e compreender o motivo do seu chamado.
A Disciplina de Samuel 
Os
versículos 5-10 de 1 Samuel não somente tratam de sua chamada como provam que
ele era um jovem bem disciplinado, comedido. Crê-se que ele dormia perto de Eli
porque lhe servia de pés e mãos, pois o sacerdote não enxergava bem e tinha
muitas outras dificuldades. Quando Deus chama Samuel, que vai direto a Eli,
porque o velho sacerdote costumeiramente lhe chamava.
 Samuel era um rapaz bem educado, sempre pronto
a servir. Logo que ouviu a voz a chamá-lo pelo nome, supondo ser de Eli, correu
até o sacerdote, mostrando assim que não queria vê-lo insatisfeito com nada.
Sua vida disciplinar envolvia primeiramente a obediência ao sacerdote. Observe
que Eli diz que não o chamou e que o rapaz voltasse a dormir. 
Jamais devemos
pensar que a voz que chamava o jovem rapaz se tratasse de algum tipo de voz no
seu subconsciente, como sugerem alguns especialistas, ou que ele estivesse
sonhando; isso era impossível, posto que ele estava em constante movimentação.
Na verdade, o que de fato estava acontecendo era Deus trabalhando para formar
esse jovem obreiro em um grande homem na história da nação israelita.
 Na segunda chamada, vemos a prontidão de
Samuel em atender Eli ao dizer: “Eis-me aqui”. Podemos pontuar duas coisas: a
primeira é que Deus continua de modo persistente a chamar o jovem e a segunda é
que ele não se incomoda em levantar quantas vezes fossem necessárias para
atender Eli. 
É triste
dizer, mas muitos obreiros não somente deixam de atender a voz de seu superior
como ainda se sentem incomodados em ser orientados, comandados. A causa de
tantas divisões tem sido também esta, a insubordinação, o não querer se
submeter àquele que foi colocado por Deus para estar à frente do trabalho, agir
no espírito de Coré, Datã e Abirão, que, se Moisés manda chamar, eles não
atendem, antes questionam sua autoridade. Fazem isso porque querem a sua
cadeira (Mt 23.2). Esse tipo de procedimento revela falta de temor a Deus e de
disciplina. “E Moisés enviou a chamar a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe;
porém eles disseram: Não subiremos” (Nm 16.12).
 No entendimento de Gordon J. Wenhan, a postura
desses homens, com resposta truculenta, revelava o desprezo que tinham para com
os planos de Deus, apresentado por Moisés, como também revelava a sede que Coré
tinha pelo sacerdócio. 
Sendo ainda
jovem e sem muita experiência no campo religioso, o que é reforçado no
versículo 7, Samuel ainda não conhecia ao Senhor. Na verdade, já adorava a
Deus, porém não tinha a experiência com revelações especiais. Pelos Targuns,
afirma-se que o jovem ainda não tinha aprendido a doutrina da parte de Deus,
que vinha pela direta comunicação divina.
Tudo isso
nos mostra que Samuel precisaria das orientações e das instruções de Eli para
poder desempenhar bem sua missão. No terceiro chamado, logo Eli entendeu que
era o Senhor querendo falar com o menino e, assim, sendo conhecedor profundo
das tradições judaicas, procura ensiná-lo como responder a esse maravilhoso
chamado. Eli diz ao jovem Samuel que Deus falava diretamente com os seus servos
e que ele deveria apenas responder do modo certo para que pudesse receber a
mensagem. 
Eli foi o
orientador, mentor de Samuel. É interessante entender que Deus poderia dizer
“Samuel, sou Eu, o Senhor, que te chamo”, mas não o fez, respeitando Eli, que
deixou que o jovem fosse até ele e dele recebesse a orientação. Eli instruiu
Samuel a tão somente dizer: “Fala, Senhor, porque o teu servo ouve”. Estar
preparado para ouvir e obedecer revela uma boa postura de disciplina.
Existem
muitos que se preparam apenas para falar, ensinar, pregar. É claro, isso deve
ser feito, mas o melhor é estar preparado para obedecer, que é o caminho certo
para que ministério esteja sempre de pé. 
No quarto
chamado de Deus, já instruído por Eli, Samuel respondeu como deveria. Um
detalhe importante: Samuel entendia a voz que o chamava como sendo a voz do
sacerdote Eli, o que denuncia que não havia nada de misterioso na voz. Seu
crescimento para com o Senhor, a partir de então, se dará continuamente. Outro
detalhe muito interessante no texto é que, ao responder o chamado, não se tem a
presença de nuvem ou de fogo, antes, a manifestação foi sem espanto para o
jovem Samuel.
 Depois que Deus relatou tudo a Samuel, o
pecado na casa de Eli, mais uma vez se pode notar o quanto ele era
disciplinado, respeitador, pois temeu contar ao sacerdote o que o Senhor lhe
havia dito. Nota-se que Eli, ao chamar o rapaz, entendia que Deus havia falado
com ele e, nesse sentido, já estava o reconhecendo como um profeta de Deus. Por
sua experiência, o sacerdote entendia que a mensagem divina não seria boa,
razão pela qual fez até ameaças a Samuel para que dissesse tudo; se ele não o
fizesse assim, as coisas ruins ditas por Deus recairiam sobre a sua cabeça.
Samuel não tinha saída. Além da pressão para contar tudo, crê-se, segundo
Flávio Josefo, que ele tenha sido obrigado, por meio de juramento, a dizer o
que o Senhor lhe falara. Atente para o que diz Champlin: 
Eli obrigou Samuel, mediante
juramento, a declarar-lhe o que tinha sido revelado pelo Senhor. Foi um
juramento muito solene. Ele suspeitava que Deus havia ameaçado com juízos
severos, porquanto reconhecia que sua família se tinha tornado muito criminosa.
O que Samuel
falou trouxe tristeza e pesar, mas Eli aceitou com humildade a sentença divina,
por isso declarou: “[Ele] é o Senhor; faça o que bem parecer aos seus olhos”.
Apesar das falhas dos filhos de Eli e de agora Deus procurar uma criança para
lhe entregar a mensagem divina, o que declarava preferência por Samuel e
desprezo por Eli, em nada elevou o coração desse rapaz. Não houve de sua parte
qualquer sentimento de acusação contra o sacerdote; antes, o que se nota é
respeito, consideração pelo ancião, ainda que sua casa estivesse em pecado.
Tudo isso mostra o quanto Samuel era disciplinado e respeitoso.
III. O MINISTÉRIO PROFÉTICO NA
ATUALIDADE 
A Diferença
entre o Ministério Profético e o Dom da Profecia
 Há uma distinção bem clara quanto ao
ministério profético e o dom da profecia. Podemos confirmar isso pela citação
do teólogo Robert Brandt, que diz:
 Qual é a diferença entre o dom de profeta e o
dom de profecia? Primeiro, é um dom para os líderes do corpo, de tempo
integral. Já o dom de profecia é o dom de transmitir uma mensagem, inspirada. O
dom de profeta destina-se a uma parcela muito pequena dos membros do corpo. O
dom de profecia está ao alcance de todos os membros (1Co 14.31). [...] A
diferença entre o ministério de profeta e o dom de profecia é a seguinte: todos
aqueles chamados a exercer o ministério de profeta profetizam. No entanto, nem
todos os que profetizam têm o ministério de profeta. 
Para que não
haja confusão, precisamos distinguir entre os dons ministeriais e os dons
espirituais, conforme dito. O dom de profeta faz parte do grupo dos dons
ministeriais, enquanto que o dom de profecia é destinado a toda a Igreja, o
Corpo de Cristo.
 O profeta do Novo Testamento exercia um
ministério e isso se comprova pelo fato de alguns homens serem dados como dons
à Igreja. A autoridade ministerial do profeta era vista pela Igreja, o que pode
ser comprovado em Atos 13.1-3 e 14.23, mas, é claro, não podemos ligar
ministério profético com o dom da profecia, ainda que ambos venham da mesma
fonte, Deus. Não podemos negar que a profecia como um dom existe, especialmente
no seu aspecto preditivo, o que pode ser comprovado por meio das profecias
faladas por Ágabo (At 11.27,28; 21.10,11). Deus, por seu grande poder soberano
e por amar seus servos, pode, em momentos de necessidade, em extremas
circunstâncias, avisá-los para se colocarem em estado de alerta, vigilância. É
claro, a profecia preditiva deve ser analisada, jamais dogmatizada, e sua
veracidade não se dá no ato de sua verbalização, mas, sim, no seu cumprimento
(Dt 18.22). 
O ministério
profético, à luz do Antigo Testamento, tinha como missão precípua revelar as
verdades divinas, as quais foram depois concluídas, e, desse modo, se finda com
Malaquias o compêndio das profecias, as quais o escritor aos hebreus diz que
“de muitas maneiras Deus falou” (Ml 4.4,5; Hb 1.1). Depois de 400 anos de silêncio
da parte de Deus, aparece o último profeta da era cristã, João Batista, que vai
ajudar na formação do Cânon do Novo Testamento e que se dará por meio de
profetas e apóstolos através das revelações divinas. No término da era cristã,
tem-se então o fechamento das Escrituras. Deus, pelos seus servos, revelou o
mistério que estava oculto. Desse modo, através dos seus servos, deu-nos as
Escrituras, que é a base para a edificação espiritual da Igreja (Ef 2.20;
3.3-6; 4.11,12; Rm 16.25,26). 
Entendemos
que há uma distinção tremenda entre o ministério profético e o dom da profecia.
Observe que em sua profecia preditiva, Ágabo apenas prediz pelo Espírito o que
iria acontecer e os irmãos procuraram providenciar o necessário. Quando falou a
Paulo o que lhe aconteceria, pedindo que não subisse a Jerusalém, ele, que
tinha conhecimento das profecias, a quem o Espírito Santo também falava, ficou
firme no seu propósito, pois entendia que estava nos planos de Deus, razão pela
quais todos disseram: “faça-se então a vontade do Senhor”. 
O dom da
profecia não pode ser normativo, posto que a regra infalível da fé do cristão é
a Santa Palavra de Deus, aliás, o que é usado com o dom da profecia deve se
sujeitar às Escrituras, assim como os que exercem o ministério do ensino e pregação.
Nesse particular, Paulo se via como um profeta (1 Co 14.37).
Onde Estão os Profetas? 
Não há
dúvidas de que o ministério profético exista hoje, pois Deus, através do seu
Espírito Santo, continua a dar homens como dons para atuar na estrutura do
Corpo de Cristo, a Igreja. Também vale dizer que não podemos jamais desprezar o
dom da profecia alegando falhas da parte dos homens, exageros, pois podemos
estar entre dois extremos. Caso fiquemos apenas no formalismo, corremos o risco
de sermos apenas uma instituição social, limitando o agir de Deus. Caso sejamos
demasiados nesse dom, podemos nos tornar fanáticos. O que vale dizer é que o
mais importante é que tanto quem exerce o ministério profético como quem é
usado com o dom da profecia deve evidenciar em sua vida o fruto do Espírito,
pois através dele é que se conhece a árvore (Mt 7.15-23; Gl 5.21,22). 
O ministério
profético se reveste de grande significado pelo fato de que quem fala a Palavra
de Deus está plenamente inspirado, iluminado pelo Espírito Santo de Deus para
expor com fervor e graça sua mensagem divina. O teólogo Ralph M. Riggs, falando
sobre a profecia, diz: “A profecia é a capacidade de falar em nossa própria
língua através do poder do Espírito Santo, ou ter uma habilidade divina para
proclamar, bem como para prever”. Nesse particular, eu pergunto: Onde estão os
profetas?
O GOVERNO DIVINO EM MÃOS HUMANAS:
liderança do povo de Deus em 1º e 2º Samuel

             II- O PROFETA EM O NOVO TESTAMENTO
1. A importância do termo “profeta” em o Novo Testamento.
Em o Novo Testamento, só há um livro profético — O Apocalipse. Nenhum personagem neotestamentário, além de João, o Evangelista, escreveu outro livro com esse caráter. Mas, ao longo dos livros do Novo Testamento encontramos referências a profetas, que tiveram papel relevante. Vamos refletir um pouco sobre eles.
 
UM DOM MINISTERIAL
Em sua carta aos coríntios, o apóstolo Paulo fala da importância do corpo de Cristo, enfatizando que os crentes são “seus membros em particular” (1 Co 12.27). E o faz, depois de demonstrar a necessidade da unidade do corpo de Cristo, fazendo uma analogia com o corpo humano, mostrando que nenhum membro do corpo pode dispensar a função do outro. “Mas, agora, Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, pois, há muitos membros, mas um corpo” (1 Co 12.18-20). Daí, porque nenhum dom ministerial é maior que o outro. A ordem dos dons, no texto, é questão de prioridade.
Com essa visão, da unidade do corpo de Cristo, que é a Igreja, o apóstolo apresenta uma lista de dupla referência. Primeiro, fala de homens a quem Ele põe na igreja, ao que tudo indica, numa ordem de prioridade. São “homens-dons”, por assim dizer. Nessa lista, os “profetas” aparecem em segundo lugar. Sem dúvida, não é por acaso, mas segundo o entendimento do Espírito Santo. Os profetas eram os homens usados por Deus para transmitir mensagens divinas para a comunidade dos que eram ganhos para Cristo. Os doutores eram os que cuidavam do ensino ou do discipulado, estudando, interpretando e ensinando os fundamentos da fé cristã com profundidade.Eram mensagens sobrenaturais.
Na segunda parte do texto, vemos Paulo apresentar uma lista de ministérios, indispensáveis à unidade, a edificação, ao fortalecimento e à própria administração da igreja local: “depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.28 b), e faz indagações que enfatizam o valor do uso dos dons de modo integrado e não fragmentado (1 Co 12.29-31). Se um dom fosse maior que o outro, não promoveria a unidade indispensável do corpo de Cristo.
Escrevendo aos efésios, Paulo é mais didático ou explícito, em relação aos dons ministeriais. “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo ” (Ef 4.11-13 — grifos nossos). Observe que, à semelhança do texto de 1 Coríntios 12.28, os profetas vêm em segundo lugar.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 86-87.
 
No Novo Testamento, a palavra comumente usada é prophétes, que aparece por cento e quarenta e nove vezes, que exemplificamos com Mat. 1:22; 2:5,16; Mar. 8:28; Luc. 1:70,76; 7:16; Joio 1:21,23; 3:18,21; Rom. 1:2; 11:3; I Cor. 12:28,29; 14:29,32,37; Efé. 2:20; Tia. 5:10; I Ped. 1:10; 11 Ped. 2:16; 3:2; Apo. 10:7; 11:10. O substantivo prophetela, «profecia », é usado por dezenove vezes no Novo Testamento: Mat. 13:14; Rom. 12:6; I Cor. 12:10; 13:2,8; 14:6,22; I Tes. 5:20; I Tim. 1:18; 4:14; 11 Ped. 1:20,21; Apo. 1:3; 11:6; 19:10; 22:7.10,18,19. Essas palavras derivam-se do grego pro, «antes.., «em favor de.., e phemi; «falar.., ou seja, «alguém que fala por outrem.., e, por extensão, «intérprete.., especialmente da vontade de Deus. Tais palavras gregas, naturalmente, estão por detrás do termo português «profeta... Os profetas eram tidos como representantes de Deus. Eles serviam de elo vital na questão das revelações, bem como veículos do conhecimento espiritual. As revelações por eles recebidas, por ordem do Senhor em alguns casos tomaram-se concretas nos livros que escreveram. Esses livros, por sua vez, foram canonizados, com a passagem do tempo, sendo então aceitos como Escrituras Sagradas.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 424.
 
Estes versículos expõem quatro aspectos da metáfora. Primeiro, os apóstolos e profetas são as pedras da fundação do templo (20a). Recebem esta designação, porque sua função é proclamar a Palavra do Senhor. Wesley observa que “a palavra do Senhor, declarada pelos apóstolos e profetas, sustenta a fé de todos os crentes”. Certos estudiosos veem uma contradição no pensamento de Paulo ao usar esta metáfora aqui e em 1 Coríntios 3.11. Lá, Cristo é o fundamento. O problema se resolve quando nos damos conta de que ele emprega a metáfora em sentidos diferentes. Na passagem coríntia, o pensamento gira em torno de si mesmo e de outros como construtores. Na relação aqui está claro que Cristo é o fundamento sobre o qual eles constroem. Paulo está enfatizando as pedras usadas na construção. Nesta relação, Cristo é a pedra da esquina. Todos os outros são pedras de menor significação. Mas, mesmo sendo de menor importância, os apóstolos e outros ministros na igreja são pedras de fundação no edifício de Deus.
Nos versículos 4 a 22, temos o assunto: “A Igreja, a Morada de Deus”. A unidade da Igreja Invisível é o tema de fundo. 1) A fundação da Igreja, 20; 2) A construção da Igreja: inclusiva, 11-19; exclusiva, 4-11; de projeto simétrico — bem ajustado; cresce até à conclusão — cresce para templo santo no Senhor, 21; 3)
 “Em Cristo”, a Igreja é a morada de Deus no Espírito, 22 (G. B. Williamson).
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 143-144.
 
A profecia é uma manifestação do Espírito de Deus e não da mente do homem, e é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso: 1 Co 12.7. Embora o dom da profecia nada tenha a ver com os poderes normais do raciocínio humano, pois é algo muito superior, isso não impede que qualquer crente possa exercitá-la: “Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados”, 1 Co 14.31. Ainda que nalguns casos o dom da profecia possa ser exercido simultaneamente com a pregação da Palavra, é evidente que esse dom é dotado de um elemento sobrenatural, não devendo, portanto, ser confundido com a simples habilidade de pregar o Evangelho. Dada a importância desse dom em face dos demais dons espirituais, e dentro do contexto da doutrina pentecostal, necessário se faz uma análise cuidadosa, no sentido de conceituá-lo no seio da Igreja hoje. O apóstolo Paulo adverte os crentes a procurar “com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1 Co 14.1); isto por razões que ele mesmo enumera: a. Porque “o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação... O que profetiza edifica a igreja”, 1 Co 14.3,4. “Edificação”, “exortação” e “consolação” são os três elementos básicos da profecia, são a razão de ser e de existir desse dom. É evidente que isto contraria a crença tão popular entre nós, de que o principal elemento da profecia é o preditivo (predição do futuro). Certamente, que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento contêm numerosas profecias preditivas, muitas das quais já se cumpriram, e outras estão se cumprindo, e outras ainda se hão de cumprir, No entanto, no conteúdo geral das Escrituras, o elemento preditivo da profecia é relativamente o menor. b. Porque ‘‘se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. Os segredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós”, l Co 14.24,25. Há algo mais que precisamos ter em mente quanto ao dom de profecia e o seu uso na Igreja hodiemamente: a) O dom de profecia nunca deve exercer propósitos diretivos ou de governo sobre a Igreja. No Antigo Testamento, Israel era governado por reis e o culto era dirigido pelos sacerdotes, mas nunca por alguém que se tivesse distinguido por um ministério cem por cento profético. Os profetas eram apenas colaboradores na condução do povo. O mesmo aconteceu com a Igreja dc Novo Testamento: o seu governo sempre esteve sob a responsabilidade dos presbíteros ou bispos, ou pastores, mas nunca sob a responsabilidade de profetas. Escreveu o missionário Eurico Bergstén, que “quando alguém, por meio de profecia, penetra na direção da igreja, mostra que é dominado por influências estranhas. Abre-se, então, uma porta para a perturbação... Quando alguém se faz ‘oráculo de profeta’, para responder a perguntas e orientar os crentes, está usando indevidamente o dom de profecia... O dom de profecia não atinge, nesta dispensação, a faixa de consulta, pois tem uma outra finalidade: a edificação da Igreja”. b) Devido a possíveis abusos quanto ao uso do dom da profecia, este dom está sujeito a análise e a consequente julgamento. Recomenda o apóstolo Paulo: “...falem dois ou três profetas, e os outros julguem”, 1 Co 14.29. Paulo arremata suas advertências quanto ao dom de profecia, dizendo: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”, 1 Co 14.37. O dom de profecia não deve ser desprezado (1 Tm 4.14), mas despertado (2 Tm 2.16), a fim de que a Igreja seja enriquecida: 1 Co 1.57.
Raimundo F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora CPAD.
FONTE: apazdosenhor.org

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