segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Lição 05 - Corpo, Morada do Espírito




Central Gospel - Lição 5 

__/___/____ Corpo, Morada do Espírito

COMENTÁRIO

Palavra introdutória

O Espírito Santo não é simplesmente uma emanação ou energia cósmica; Ele é a terceira pessoa da Trindade e possui os mesmos atributos e faculdades do Deus-Pai e do Deus-Filho (o Deus Uno) (2 Co 13.13). No primeiro capítulo da Bíblia, o divino Consolador aparece movendo-se sobre as águas (Gn 1.2); e, no último, oferecendo gratuitamente a água da vida (Ap 22.17).
Nesta lição, procuraremos responder a algumas perguntas: Como podemos ser santuário do Espírito Santo? O que significa ser cheio do Espírito? As manifestações sobrenaturais do Espírito na Igreja primitiva são para os nossos dias? Podemos esperar um avivamento universal do Espírito Santo nos dias atuais? Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 2.29).

1. QUEM É O ESPÍRITO SANTO
Comentaristas bíblicos de várias orientações doutrinárias afirmam que o Espírito Santo é apenas a força ativa de Deus; por essa razão, não teria vontade própria. Esta afirmação, no entanto, não encontra qualquer embasamento bíblico.


1.1. O Espírito Santo é uma pessoa
O divino Consolador (Jo 16.7) é, sim, uma pessoa, não uma coisa, força, influência ou energia.
Qualquer indivíduo para ser reconhecido como pessoa precisa possuir três faculdades essenciais.
É importante notar que o ato de comunicar implica:
  • Inteligência - capacitação para conhecer e discernir (1 Co 2.10; Rm 8.27);
  • Vontade - capacitação para desejar ou rejeitar (1 Co 12.11);
  • Emoções - capacitação para sentir (Ef 4.30).
Tudo isto se aplica, biblicamente, ao Espírito Santo. A Ele são atribuídos não apenas características humanas - Ele testifica  (Rm 8.16); lembra (Jo 14.26); convence (Jo 16.8); ouve (Jo 16.13); ama (Rm 15.30); e convida (Ap 22.17) -, mas, também, divinas - Ele é eterno (Hb 9.14); onipresente (Sl 139.7-10); onipotente (Lc 1.37); e onisciente (1 Co 2.10).
O Espírito Santo é Deus. Ele é uma pessoa. Ele é uma pessoa divina!

1.2. Nomes, títulos e símbolos atribuídos à terceira pessoa da Trindade

O Espírito Santo aparece no texto bíblico com nomes, títulos e símbolos relacionados à Sua obra e caráter. Observe:
  • Espírito da Verdade (Jo 14.17) - Aquele que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8);
  • Fogo (Lc 3.16) - elemento purificador através do batismo com o Espírito Santo;
  • Água (Jo 7.37,38) - símbolo da obra de regeneração espiritual;
  • Óleo precioso derramado sobre a cabeça (Sl 133.2) - representação da unção sobre profetas, sacerdotes e reis para o serviço do Senhor;
  • Penhor (2 Co 5.5) - pagamento de parte do preço da compra.

2. AÇÕES DO ESPÍRITO SANTO NO HOMEM

2.1. Torna real a presença divina

A presença constante do Salvador na vida dos Seus discípulos faz-se possível por intermédio do Espírito Santo (Rm 8.26). A mente humana é o instrumento responsável por conservar vivo tudo aquilo que Jesus ensinou aos Seus primeiros seguidores (Jo 14.26).
Se entregarmos a direção da nossa vida ao Espírito Santo de Deus, nosso corpo jamais será escravizado pelas paixões da carne (Gl 5.16).

2.2. Santifica o cristão
O processo santificante, operado pelo Espírito Santo em nossa natureza, manifesta-se em três aspectos, observe.
  • Posicional - O que foi regenerado é visto por Deus como santificado em Cristo. Neste sentido, os cristãos são descritos na Bíblia como santos. Não significa que eles estejam imunes ao pecado, pois a santificação é um processo longo e inacabado nesta vida (Rm 6.22).
  • Experimental - A santificação começa com a regeneração, baseia-se judicialmente na justificação e desenvolve-se durante toda a vida do cristão (2 Co 7.1).
  • Final - A santificação só alcançará seu estado pleno e perfeito quando a velha natureza dos redimidos for finalmente removida. Isto acontecerá na glorificação, quando recebermos nossos corpos glorificados, semelhante ao de Cristo (Fp 3.21).
2.3. Reveste o salvo de poder
Quando o Espírito Santo habita o cristão, traz virtude e autoridade espiritual, tornando-o uma testemunha do Senhor, até que o Reino de Deus seja estabelecido neste mundo.
  • A promessa do Pai ao Filho cumpriu-se plenamente no dia de Pentecostes. Os seguidores de Cristo receberam o Espírito Santo e foram revestidos de poder (At 1.8; 2.1-4). Resultado prático: testemunhos públicos e conversos por onde quer que fossem e onde quer que estivessem.
  • Os apóstolos passaram a liderar a Igreja e a dar, com poder, testemunho da ressurreição de Cristo (At 2.47).

2.4. Ilumina e revela Sua vontade

2.4.1. Iluminação

O Espírito ilumina-nos e conduz-nos para a mais perfeita comunhão com o Pai (1 Jo 1.6). Precisamos, portanto, cotidianamente, deste luzeiro para que a esperança permaneça ativa e a visão da glória futura continue (Ef 1.19).

2.4.2. Revelação 
A revelação é o processo por meio do qual Deus torna Sua vontade conhecida diante dos homens. Somos limitados no entendimento de Deus; por isso somos exortados a conhecê-lo dia a dia (Os  6.3).
A revelação ilumina nossa mente de forma sobrenatural; ela é, em última instância, a manifestação dos pensamentos do Pai para dirigir a nossa vida.

2.5. Sela o redimido

Um selo transmite a noção de autenticidade conferida a um documento ou declaração. Ao fazer morada no homem, o Espírito Santo sela-o, dando-lhe garantia de herança eterna, prometida ao verdadeiro cristão.
Quando Deus nos sela, não andamos mais segundo a carne, mas, sim, em obediência aos Seus mandamentos (Dt 5.29). Em Cristo, autor e consumador da nossa fé, tudo se faz novo: pensamentos, sentimentos e comportamentos e comportamentos (Rm 8.1; 2 Co 5.17).

2.6. Possibilita a frutificação
Quando recebemos o Espírito Santo como hóspede divino, tornamo-nos plantas frutíferas nas mãos do Eterno lavrador (Jo 15.1). O fruto do Espírito fluirá em nossa vida, aprimorando o nosso caráter e a nossa fé.

3. TEMPLOS DE DEUS
Deus criou o homem para ser tabernáculo do Espírito Santo. Os dois Testamentos afirmam que o homem está destinado a ser um santuário para habitação do Altíssimo (Ez 36.27; 1 Co 6.19).

3.1. Espírito Santo: o Deus que habita em nós

Quando o Espírito Santo vive em nós: somos ensinados por Ele (Jo 14.26); vivemos em santidade, porque Ele é santo (1 Pe 1.14-16); buscamos os dons espirituais (1 Co 12.31); produzimos frutos para a glória de Deus (Gl 5.22); somos inabaláveis na obra do Senhor (1 Co 15.58); temos a virtude para testemunhar (At 1.8); somos objetos de Sua intercessão (Rm 8.26); somos consolados durante as crises (Jo 14.16). 

CONCLUSÃO

O Espírito Santo, mediante a Palavra de Deus, capacita-nos a atingirmos a glória eterna, transformando-nos de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor (2 Co 3.18).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com o que foi exposto nesta lição, responda: O processo santificante, operado pelo Espírito Santo em nossa natureza, manifesta-se sob quais aspectos?

                                                Fonte: Revista Lições da Palavra de Deus n° 60




                                    6
O ESPÍRITO


Joá Caitano
O homem (físico, emocional, espiritual) aparece nas Escrituras Sagradas de Gênesis ao
Apocalipse.
O tempo espiritual destaca-se por sua originalidade, unicidade, especificidade e
singularidade. O homem tem um componente espiritual em sua estrutura:
Há um espírito no homem (Jó 32.8). A verdade bíblica afirma que Deus formou o
espírito do homem dentro dele (Zc 12.1).
A iluminação dos nossos corações nos possibilita alcançar entendimento
e revelação (1 Co 2.14). Paulo destacou:


Porque qual dos homens
 sabe as coisas do 
homem, senão o espírito
 do homem, que nele
 está?
1 Coríntios 2.11


      Saber a importância e o significado deste tempo é fundamental para o
crescimento em conhecimento, sabedoria e maturidade.
O espírito é a parte superior mais relevante, suprema e importante na natureza humana.
O homem, a despeito de gênero, é um ser tridimensional: biológico, psicológico e
teológico (espiritual). Na dimensão biológica o homem fisicamente é composto de pó,
matéria e carne (corpo). No aspecto psicológico ele tem emoções, sentimentos,
vontade e intelecto (alma). Na terceira parte, a mais importante, os termos sopro divino,
Espírito divino e imagem divina significam o homem (espírito) mencionado na Bíblia
como o homem interior. O espírito, portanto, a parte não material, é a dimensão sobrenatural
do homem colocada por Deus no corpo. Com seu espírito o ser humano tem o
privilégio de comunicar-se com Deus (1 Co 14.14).


   A palavra espírito vem da raiz hebraica, ruach, da qual se deriva o vocábulo
grego pneuma, e do latim, spiritus, onde, respectivamente,
ocorrem 389 e 385 vezes, aproximadamente, nas Escrituras.
O significado primário desta palavra é uma força invisível, um elemento não material,
o conjunto das faculdades espirituais que estão dentro do homem e o fazem entrar
em contato com o mundo espiritual. É a sua verdadeira identidade pessoal,
o seu homem interior:


Por isso, não 
desfalecemos; mas,
 ainda que o nosso
 homem exterior (corpo)
 se corrompa, o interior 
(espírito), contudo, ser 
renova de dia em dia.
2 Coríntios 4.16


      Nas três línguas clássicas, o termo espírito significa “sopro, hálito,
vento e princípio de vida”. Porém, o significado teológico vai além.
Espírito é a parte imaterial que Deus insuflou no ser humano, dando-lhe vida e
semelhança com a divindade. O espírito é o âmago e a fonte da vida.
É a sede das qualidades espirituais, e os traços de personalidade habitam na alma.
O cântico de Maria estabeleceu diferença entre espírito e alma (Lc 1.46,47).


O espírito humano


     Neste estudo precisamos deixar claro que o espírito humano não é a alma nem o
Espírito Santo. A falta do conhecimento da verdade bíblica vem gerando confusão acerca
dos conceitos sobre o espírito do homem. O espírito não é o corpo feito de material visível,
mas, sim, é a parte mais importante do ser humano. Ele é a vida imortal, inteligente
e invisível que procedeu de Deus.
A vertente teológica denominada dicotomia afirma que o homem
é constituído apenas de corpo e alma. Outros grupos mencionam o termo alma-espírito.
Eles dizem que os dois termos se misturam nas Escrituras; e,
tendo como base este ponto de vista, utilizam as duas designações sempre associadas.
Entretanto, a verdade bíblica menciona que a natureza humana é constituída de corpo,
alma e espírito. Tricotomia é o estudo teológico desta matéria.


       Cada parte na composição humana, corpo, alma e espírito, cumpre funções específicas
estabelecidas pelo Senhor. Quando alguém descarta a revelação bíblica procurando
negar uma dessas partes, ou associar uma a outra na constituição do homem,
a confusão é estabelecida. Devemos aceitar sem questionar a natureza tríplice
do ser humano segundo as Escrituras:


E o mesmo Deus de paz 
vos santifique em tudo; e
 todo o vosso espírito, e 
alma, e corpo sejam 
plenamente conservados
 irrepreensíveis para a
 vinda de nosso Senhor 
Jesus Cristo.
1 Tessalonicenses 5.23


Porque a palavra de
 Deus é viva, e eficaz, e
 mais penetrante do que 
qualquer espada de dois 
gumes, e penetra até à
 divisão da alma, e do
 espírito, e das juntas e
 medulas, e é apta para
 discernir os pensamentos 
e intenções do coração.
Hebreus 4.12


O homem espiritual


Ser espiritual é priorizar as coisas espirituais, olhar para o que é de cima e entender que,
vivendo um relacionamento espiritual, a vida material é alcançada automaticamente.
O homem espiritual tem discernimento de coisas que o homem carnal jamais entenderá.
Ele entende que os ensinamentos bíblicos vêm de Deus e, por isso, os pratica.


Medite, reflita e aplique
Mateus 5.3; 26.41
Marcos 2.8
Lucas 1. 17
1 Coríntios 2.15; 6,17; 14.37 
Efésios 5.18
Colossenses 1.9
1 Pedro 2.2,5



     E todos foram cheios do Espírito Santo (At 2.4a). A experiência sobrenatural vivida pela
Igreja primitiva, no Dia de Pentecostes, inaugurou uma nova etapa na história dos cristãos.
Um período de quase 500 anos, conhecido nos círculos teológicos como “túnel”,
uma ausência de revelação divina, terminou com a chegada de Jesus ( Is 9.9) e
com o derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja.

Trechos do livro : CORPO ALMA E ESPÍRITO 

JOA CAITANO 




30
A Obra do Espírito Santo
Quais são as atividades distintas do Espírito Santo na história da Bíblia?

Explicação e base bíblica

       Nos capítulos anteriores discutimos de forma razoavelmente minuciosa a pessoa e a obra de Deus Pai e, mais recentemente, a pessoa e a obra de Deus Filho, Jesus Cristo. Examinamos também as provas bíblicas da divindade e da personalidade distinta do Espírito Santo (associada à doutrina da Trindade). Penso ser oportuno agora neste capítulo focalizar a obra distintiva do Espírito Santo. Entre as diferentes atividades dos membros da Trindade, quais são apresentadas especialmente como obras de Deus Espírito Santo?

Devemos primeiramente nos conscientizar de que outros capítulos neste livro lidam mais ou menos diretamente com alguns aspectos da obra do Espírito Santo. Os capítulos sobre o batismo a e plenitude do Espírito Santo (39) e sobre os dons espirituais (52-53) lidam quase inteiramente com obras específicas do Espírito Santo. Além disso, os capítulos sobre autoridade das Escrituras (4), oração (18), chamado do evangelho (33), regeneração (34), santificação (38), perseverança (40), glorificação (42), disciplina da igreja (46), meios da graça dentro da igreja (48) e adoração (51) tratam todos dos vários aspectos da obra do Espírito Santo no mundo e em especial na vida dos crentes. Entretanto, neste capítulo tentaremos obter uma visão geral do ensino das Escrituras como um todo sobre a obra do Espírito Santo, a fim de entender de maneira mais plena que espécies de atividade têm sido delegadas particularmente ao Espírito Santo por Deus Pai e por Deus Filho.

Podemos definir a obra do Espírito Santo como segue: a obra do Espírito Santo consiste em manifestar a presença ativa de Deus no mundo e em especial na igreja. Essa definição indica que o Espírito Santo é o membro da Trindade que as Escrituras com mais freqüência representam como aquele que está presente para fazer a obra de Deus no mundo. Embora isso seja real até certo ponto através de toda a Bíblia, é particularmente verdadeiro na era da nova aliança. No Antigo Testamento, a presença de Deus muitas vezes foi manifestada na glória de Deus e nas teofanias; nos evangelhos o próprio Jesus manifestou a presença de Deus entre os homens. Mas depois que Jesus subiu ao céu, e de contínuo através de toda a era da igreja, o Espírito Santo é agora a principal manifestação da presença da Trindade entre nós. Ele é o que está presente de modo mais proeminente entre nós agora.1

Desde o princípio da criação, temos indícios de que a obra do Espírito Santo consiste em completar e sustentar o que Deus Pai planejou e o que Deus Filho começou, pois em Gênesis 1.2, “o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. E no Pentecostes, com o início da nova criação em Cristo, é o Espírito Santo quem vem conceder poder à igreja (At 1.8; 2.4, 17-18). Como o Espírito Santo é a pessoa da Trindade por meio de quem Deus manifesta de modo particular sua presença na era da nova aliança, Paulo emprega uma expressão adequada ao referir-se a ele como “primeiros frutos” (Rm 8.23, n vi) e “garantia” (ou “penhor”, 2Co 1.22; 5.5) da plena manifestação da presença de Deus que conheceremos no novo céu e na nova terra (cf. Ap 21.3-4).

Mesmo no Antigo Testamento, foi previsto que a presença do Espírito Santo traria bênçãos abundantes da parte de Deus: Isaías predisse um tempo em que o Espírito traria grande renovação.

 O palácio será abandonado, a cidade populosa ficará deserta [...] até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto\ então, o deserto se tomará em pomar, e o pomar será tido por bosque ; o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no pomar. O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre. O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranqüilos (Is 32.14-18).

De modo semelhante, Deus profetizou por meio de Isaías a jacó: “Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito, sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes” (Is 44.3).

 Em contraste, o afastamento do Espírito Santo retirou a bênção de Deus do povo: “Mas eles foram rebeldes e entristeceram o seu Espírito Santo, pelo que se lhes tomou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles” (Is 63.10). No entanto, várias profecias no Antigo Testamento predisseram um tempo em que o Espírito Santo viria de modo mais pleno, um tempo em que Deus faria uma nova aliança com o seu povo (Ez 36.26-27; 37.14; 39.29; J1 2.28-29).

 De que maneiras específicas o Espírito Santo traz a bênção de Deus? Podemos distinguir quatro aspectos da obra do Espírito Santo para fornecer evidências da presença de Deus e abençoar: (1) o Espírito Santo dá poder, (2) o Espírito Santo purifica\ (3) o Espírito Santo revela\ (4) o Espírito Santo unifica. Vamos examinar abaixo cada uma dessas quatro atividades. Finalmente, devemos reconhecer que essas atividades do Espírito Santo não devem ser pressupostas e não acontecem automaticamente no meio do povo de Deus. Antes, o Espírito Santo reflete o prazer ou o desprazer de Deus com a fé e a obediência - ou com a incredulidade e a desobediência - do povo de Deus. Por causa disso, precisamos examinar um quinto aspecto da atividade do Espírito Santo: (5) o Espírito Santo dá evidência mais forte ou mais fraca da presença e bênção de Deus, de acordo com nossa resposta a ele.

A . O Espírito Santo dá poder
1.       Ele dá vida . No domínio da natureza, é papel do Espírito Santo dar vida a todas as criaturas animadas na terra, no céu ou no mar, como está escrito: “Envias o teu Espírito, eles são criados” (SI 104.30). E no sentido inverso, se Deus “para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó” (Jó 34.14- 15). Vemos aqui o papel do Espírito Santo dando e sustentando a vida humana e animal.

Paralelamente a isso, é papel do Espírito Santo dar-nos vida nova na regeneração.2 Jesus disse a Nicodemos: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.6-7; cf. v. 5, 8; 6.63; 2Co 3.6). Ele disse também: “ O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita” (Jo 6.63; 2Co 3.6; At 10.44-47; Tt 3.5).3 Coerente com essa função do Espírito Santo de dar vida é o fato de que foi o Espírito Santo quem concebeu Jesus no ventre de Maria, sua mãe (Mt 1.18, 20; Lc 1.35). E no dia em que Cristo voltar, é o mesmo Espírito Santo quem irá completar essa obra de dar vida concedendo a nova vida ressurreta ao nosso corpo mortal: “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitoujesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita” (Rm 8.11).

2. Ele dá poder para o serviço

a.       Antigo Testamento. No Antigo Testamento, o Espírito Santo muitas vezes capacita pessoas para serviço especial. Ele capacitou Josué com habilidades de liderança e sabedoria (Nm 27.18; Dt 34.9), e deu poder aos juizes para libertar Israel de seus opressores (observe como o Espírito do Senhor “veio sobre” Otoniel e m jz 3.10, Gideão em 6.34, Jefté em 11.29 e Sansão em 13.25; 14.6, 19; 15.14). O Espírito Santo veio poderosamente sobre Saul a fim de levantá-lo para a batalha contra os inimigos de Israel (ISm 11.6), e quando Davi foi ungido rei, “o Espírito do Senhor se apossou” dele daquele dia em diante (ISm 16.13), capacitando-o para cumprir a tarefa de realeza para a qual Deus o havia chamado.4 Numa espécie só um pouco diferente de capacitação, o Espírito Santo dotou Bezalel com talentos artísticos para a construção do tabemáculo e de seu equipamento (Êx 31.3; 35.31) e com capacidade para ensinar essas técnicas para os outros (Êx 35.34).5 O Espírito Santo também protegeu o povo de Deus e capacitou-o para vencer seus inimigos. Por exemplo, Deus colocou seu Espírito no meio deles à época do êxodo (Is 63.11- 12) e, mais tarde, após seu retomo do exílio, pôs seu Espírito no meio deles para protegêlos e guardá-los do medo (Ag 2.5). Quando Saul estava tentando capturar Davi à força, o Espírito Santo veio sobre os mensageiros de Saul (ISm 19.20) e por fim sobre o próprio Saul (v. 23), levando-os a involuntariamente cair no chão e profetizar durante horas, frustrando dessa forma o propósito de Saul e humilhando-o em resposta à sua demonstração maligna de força contra Davi e Samuel. De modo semelhante, enquanto Ezequiel profetizava julgamento pelo poder do Espírito Santo contra alguns líderes de Israel (Ez 11.5), um dos líderes chamado Pelatias morreu (Ez 11.13). Dessa forma, o Espírito Santo trouxe julgamento imediato sobre ele.

 Por fim, o Antigo Testamento predisse o tempo em que o Espírito Santo ungiria um Messias-Servo em grande plenitude e poder:

Repousará sobre ele o Espírito do Sen h o r, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senho r. Deleitar-se-á no temor do Senhor... (Is 11.2-3)

Isaías profetizou que Deus diria o seguinte sobre esse Servo que estava para chegar: pus sobre ele o meu Espírito” (Is 42.1), e que ele mesmo diria: “O Espírito do Se n h o r Deus está sobre mim, porque o Sen h o r me ungiu” (Is 61.1; cf. Lc 4.18).

Antes de encerrar esta discussão sobre a capacitação pelo Espírito Santo no Antigo Testamento, devemos observar que às vezes se diz que não havia nenhum a obra do Espírito Santo dentro das pessoas no Antigo Testamento. Essa idéia tem sido inferida principalmente das palavras dejesus aos discípulos em João 14.17: "... ele habita convosco e estará em vós”. Mas não devemos concluir desse versículo que não havia nenhuma obra do Espírito Santo no interior das pessoas antes do Pentecostes. Em bora o Antigo Testamento não fale com freqüência de pessoas que tinham dentro de si o Espírito Santo ou que dele tinham a plenitude, existem uns poucos exemplos: Josué é descrito como homem que tem o Espírito (Nm 27.18; Dt 34.9), assim como Ezequiel (Ez 2.2; 3.24), Daniel (Dn 4.8-9, 18; 5.11) e Miquéias (Mq 3.8).(i Isso significa que quandojesus diz aos seus discípulos “ele habita convosco e estará em vós” (Jo 14.17), não pode estar dizendo que havia uma diferença absoluta “dentro/fora” entre a obra do Espírito Santo na antiga aliança e na nova. Nem pode João 7.39 (“pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado”) significar que não havia nenhuma atividade do Espírito Santo na vida das pessoas antes do Pentecostes. Ambas as passagens devem ser maneiras diferentes de dizer que a obra mais poderosa, mais plena do Espírito Santo, característica da vida após o Pentecostes, ainda não havia começado na vida dos discípulos. O Espírito Santo ainda não tinha chegado dentro deles do modo pelo qual Deus havia prometido colocá-lo dentro do seu povo quando viesse a nova aliança (Ez 36.26, 27; 37.14), nem o Espírito Santo havia sido derramado com grande abundância e plenitude que caracterizaria a era da nova aliança (J1 2.28-29). Nesse sentido poderoso da nova aliança, o Espírito Santo ainda não estava operando dentro dos discípulos.7

b.       Novo Testamento. A obra capacitadora do Espírito Santo no Novo Testamento é vista primeiro e de modo pleno na unção e capacitação de jesus como o Messias. O Espírito Santo desceu sobre Jesus por ocasião do seu batismo (Mt 3.16; Mc 1.11; Lc 3.22). João Batista disse: “Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele” (Jo 1.32). Portanto, Jesus foi para a tentação no deserto “cheio do Espírito Santo” (Lc 4.1); e depois de sua tentação, no início de seu ministério, “Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia” (Lc 4.14). Quando jesus foi pregar na sinagoga em Nazaré, declarou que a profecia de Isaías fora cumprida nele: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade aos oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18-19). O poder do Espírito Santo na vida de jesus foi visto depois em seus milagres subseqüentes, à medida que ele expulsava demônios com uma palavra e curava todos os que vinham a ele (Lc 4.36, 40-41). O Espírito Santo se agradou em habitar em Jesus e dar-lhe poder, pois ele se deleitava plenamente com a pureza moral absoluta da vida de jesus. No contexto de conversa a respeito de seu próprio ministério e da bênção do Pai sobre esse trabalho, Jesus diz: “Deus não dá o Espírito por medida. O Pai ama ao Filho, e todas as cousas tem confiado às suas mãos” (Jo 3.34-35).Jesus tinha uma unção do Espírito Santo sem medida, e essa unção permanecia sobre ele (Jo 1.32, nvi; cf. At 10.38).

O Espírito Santo também capacitou os discípulos de jesus para vários tipos de ministério. Jesus lhes tinha prometido: “... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a judéia e Samaria e até os confins da terra” (At 1.8).8 Há vários exemplos específicos da atividade do Espírito Santo concedendo poder aos primeiros cristãos para operar milagres à medida que eles proclamavam o evangelho (note Estêvão em At 6.5, 8; e Paulo em Rm 15.19; ICo 2.4). Mas o Espírito Santo deu também grande poder à pregação da igreja primitiva de modo que, quando os discípulos eram cheios do Espírito Santo, proclamavam a Palavra com coragem e grande poder (At 4.8,31; 6.10; lTs 1.5; IPe 1.12). Em geral, podemos dizer que o Espírito Santo fala por meio da mensagem do evangelho à medida que ela é proclamada de maneira eficaz ao coração das pessoas. O Novo Testamento termina com um convite do Espírito Santo e da igreja, que juntos chamam as pessoas à salvação: “O Espírito e á noiva dizem: Vem! E aquele que ouve, diga: Vem!” (Ap 22.17). Na realidade, não só na pregação da mensagem do evangelho, como também na leitura e no ensino das Escrituras, o Espírito Santo continua a falar ao coração das pessoas a cada dia (veja Hb 3.7 e 10.15, onde o autor cita uma passagem do Antigo Testamento e diz que o Espírito Santo está agora falando aquela palavra aos leitores).

 Outro exemplo da capacitação dos cristãos para o serviço é a atividade do Espírito Santo que consiste em conceder dons espirituais para equipar os crentes para o ministério. Após alistar uma variedade de dons espirituais, Paulo diz: “Mas um só e o mesmo Espírito realizfl todas estas cousas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (ICo 12.11). Uma vez que o Espírito Santo é quem mostra ou manifesta a presença de Deus no mundo, não surpreende que Paulo possa chamar os dons espirituais de “manifestações” do Espírito Santo (ICo 12.7).9 Os dons espirituais em atuação representam um sinal da presença de Deus Espírito Santo na igreja.10

 Na vida de oração dos indivíduos crentes, verificamos que o Espírito Santo concede poder para a oração e a tom a eficaz. “... não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós em gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26).11 E Paulo diz que “temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef 2.18). Um tipo específico de oração para a qual o Novo Testamento diz que o Espírito Santo dá poder é o dom de orar em línguas (ICo 12.10-11; 14.2, 14-17).12

 Outro aspecto da obra do Espírito Santo em que ele concede aos cristãos o poder para serviço é a capacitação do povo para vencer a oposição espiritual à pregação do evangelho e à obra de Deus na vida das pessoas. Esse poder na guerra espiritual foi visto primeiro na vida dejesus, que disse: “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28). Quando Paulo chegou a Chipre, enfrentou a oposição de Elimas, o mágico, mas ele, “cheio do Espírito Santo, fixando nele os olhos, disse: O filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor? Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão” (At 13.9-11). O dom de “discernimento de espíritos” (ICo 12.10), dado pelo Espírito Santo, é também uma ferramenta nessa guerra contra as forças das trevas, assim como a Palavra de Deus, que funciona como “a espada do Espírito” (Ef 6.17) na batalha espiritual.

B . O Espírito Santo purifica

 Uma vez que esse membro da Trindade é chamado Espírito Santo, não surpreende que uma de suas principais atividades seja purificar-nos do pecado e “santificar-nos” ou tomar-nos mais santos na conduta prática. Mesmo na vida de incrédulos há alguma influência restritiva do Espírito Santo uma vez que ele convence o mundo do pecado (Jo 16.8-11; At 7.51). Mas quando as pessoas se tomam cristãs, o Espírito Santo realiza nelas uma obra inicial de purificação, efetuando um decisivo rompimento com os padrões do pecado que havia na vida delas antes.13 Paulo fala dos coríntios: “... mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (ICo 6.11; veja também Tt 3.5). Aparentemente, é essa obra de lavagem e purificação realizada pelo Espírito Santo que é simbolizada pela metáfora do fogo quando joão Batista diz que jesus batizaria as pessoas “com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11; Lc 3.16).

Após o rompimento inicial com o pecado que o Espírito Santo efetua em nossa vida na conversão, ele produz também em nós o crescimento em santidade da vida. Produz o “fruto do Espírito” em nós (“amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”, G1 5.22-23), aquelas qualidades que refletem o caráter de Deus. A medida que vamos continuamente “sendo transformados com glória cada vez maior”, devemos nos lembrar de que isso “vem do Senhor, que é o Espírito” (2Co 3.18, n vi). A santificação vem pelo poder do Espírito Santo (2Ts 2.13; IPe 1.2; cf. Rm 8.4, 15-16), e por isso é “pelo Espírito” que somos capazes de fazer morrer “os feitos do corpo” e crescer em santidade pessoal (Rm 8.13; veja 7.6; Fp 1.19).14

Algumas pessoas hoje dizem que uma obra de purificação (ou de cura) pelo Espírito Santo ocorre quando “caem no Espírito”, uma experiência em que elas de repente vão ao chão em estado de semiconsciência e ali permanecem por alguns minutos ou horas. Embora a frase “cair no Espírito” não esteja em nenhum lugar das Escrituras, há casos em que pessoas caíram ao chão ou entraram em transe na presença de Deus.15 Experiências contemporâneas devem ser avaliadas de acordo com os resultados duradouros (“fruto”) que produzem na vida das pessoas (veja Mt 7.15-20; ICo 14.12, 26c).

C . O Espírito Santo revela

1.       Revelação aos profetas e apóstolos. No capítulo 4 discutimos de modo bem detalhado a obra do Espírito Santo revelando as palavras de Deus aos profetas do Antigo Testamento e aos apóstolos do Novo Testamento, em muitos casos de tal maneira que elas podiam ser colocadas literalmente nas Escrituras (veja, por exemplo, Nm 24.2; Ez 11.5; Zc 7.12; et al.). A totalidade das Escrituras do Antigo Testamento veio à lume porque “homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21, nvi). Várias passagens mencionam essa obra do Espírito Santo nos profetas do Antigo Testamento (veja Mt 22.43; At 1.16; 4.25; 28.25; IPe 1.21). Os apóstolos e outros que escreveram as palavras das Escrituras do Novo Testamento foram igualmente guiados “a toda a verdade” pelo Espírito Santo (Jo 16.13), que também falou aos apóstolos o que tinha ouvido do Pai e do Filho e declarou-lhes “as coisas que hão de vir” (Jo 16.13; cf. Ef 3.5). Outros que foram cheios do Espírito Santo também falaram ou cantaram palavras que se tomaram parte das Escrituras, tais como Isabel (Lc 1.41), Zacarias (Lc 1.67) e Simeão (Lc 2.25).

2.       Ele dá evidências da presença de Deus. Às vezes se afirma que a obra do Espírito Santo não é chamar atenção para si mesmo, mas antes dar glória a jesus e a Deus Pai. Porém isso parece uma falsa dicotomia, não sustentada pelas Escrituras. E evidente que o Espírito Santo glorifica a jesus (Jo 16.14) e dá testemunho dele (Jo 15.26; At 5.32; ljo 2.3; ljo 4.2). Mas isso não significa que ele não tome conhecidas suas próprias ações e palavras! A Bíblia tem centenas de versículos que falam sobre a obra do Espírito Santo, tornando-a conhecida, e a própria Bíblia foi falada ou inspirada pelo Espírito Santo!

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Além disso, o Espírito Santo com freqüência fez-se conhecido por meio de fenômenos que indicavam sua atividade, tanto no período do Antigo Testamento como na época do Novo. Isso foi verdade quando o Espírito Santo veio sobre os setenta anciãos escolhidos para trabalhar com Moisés e eles profetizaram (Nm 11.25-26), e também quando o Espírito Santo veio sobre os juizes para capacitá-los a realizar grandes obras de poder (Jz 14.6, 19; 15.14, et al.). Nesses casos, as pessoas podiam ver o efeito do Espírito Santo vindo sobre os servos do Senhor. Isso foi verdade também quando o Espírito Santo veio poderosamente sobre Saul, e este profetizou com um grupo de profetas (ISm 10.6, 10), e ocorria com freqüência quando concedia poder aos profetas do Antigo Testamento para que fizessem profecias públicas.

O Espírito Santo também tornou sua presença evidente de modo visível quando desceu como pomba sobre Jesus (Jo 1.32), ou veio sobre os discípulos no Pentecostes como som de um vento impetuoso e com línguas visíveis de fogo (At 2.2-3). Além disso, quando o Espírito Santo foi derramado sobre as pessoas, e estas começaram a falar em línguas ou a louvar a Deus de modo extraordinário e espontâneo (veja At 2.4; 10.44-46; 19.6), o Espírito Santo com certeza tornou conhecida a sua presença. E Jesus prometeu que o Espírito Santo em nós seria tão poderoso a ponto de parecer um rio de água viva fluindo do mais profundo do nosso interior (vejajo 7.38) - símile que dá a entender que as pessoas estariam conscientes de uma presença que seria percebida de alguma maneira.

Na vida pessoal dos crentes, o Espírito Santo não esconde totalmente sua obra, mas, sim, faz-se conhecido de diversas maneiras. Ele dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rm 8.16), e clama: “Aba, Pai!” (G1 4.6). Provê uma garantia ou um pagamento inicial de nossa futura comunhão com ele no céu (2Co 1.22; 5.5) e revela seus desejos para nós de modo que possamos ser guiados por eles e segui-los (Rm 8.4-16; G1 5.16-25). Concede dons que manifestam sua presença (ICo 12.7-11). E de tempos em tempos opera sinais miraculosos e prodígios que atestam de maneira poderosa a presença de Deus na pregação do evangelho (Hb 2.4; cf. ICo 2.4; Rm 15.19).

 Parece mais exato, portanto, dizer que embora o Espírito Santo glorifique Jesus, ele também muitas vezes chama atenção para sua obra e dá evidências reconhecíveis que manifestam sua presença. De fato, parece que um de seus propósitos principais na era da nova aliança é manifestar a presença de Deus, dar indicações que tomam clara a presença de Deus. E quando o Espírito Santo opera em várias maneiras que possam ser percebidas por crentes e incrédulos, isso encoraja as pessoas a crer que Deus está perto, trabalhando para cumprir seus propósitos na igreja e para abençoar o seu povo.

3.       Ele guia e dirige o povo de Deus. A Bíblia dá muitos exemplos de direção direta do Espírito Santo para várias pessoas. De fato, no Antigo Testamento, Deus disse que era pecado o povo entrar em aliança com outros quando esta, segundo o Senhor, era aliança “não pelo meu Espírito” (Is 30.1, ibb). Aparentemente, as pessoas estavam decidindo com base em sua própria sabedoria e senso comum em vez de buscar a direção do Espírito Santo de Deus antes de fazer essas alianças. No Novo Testamento, o Espírito Santo guiou Jesus ao deserto para o seu período de tentação (Mt 4.1; Lc 4.1); na verdade, essa direção do Espírito Santo era tão forte que Marcos chega a dizer: “E logo o Espírito o impeliu para o deserto” (Mc 1.12).16

Em outros contextos o Espírito Santo deu palavras diretas de direção ao povo, dizendo a Filipe, por exemplo, “Aproxima-te desse carro e acompanha-o” (At 8.29), ou dizendo a Pedro que fosse com os três homens que chegaram até ele da casa de Cornélio (At 10.19-20; 11.12), ou dirigindo os cristãos de Antioquia: “Separai-me, agora, Bamabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2).

Também na categoria de “direção”, mas de natureza muito mais direta e impositiva, há os vários exemplos em que o Espírito Santo transportou de fato uma pessoa de um lugar para outro. Isso se deu quando “o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, não o vendo mais o eunuco [...] Mas Filipe veio a achar-se em Azoto” (At 8.39-40) - a direção nesse caso dificilmente poderia ter sido mais clara! Todavia, coisas semelhantes aconteceram a alguns profetas do Antigo Testamento, pois aqueles que conheciam Elias pareciam esperar que o Espírito de Deus o arrebatasse e o transportasse para algum lugar (lRs 18.12; 2Rs 2.16: “... pode ser que o Espírito do Sen h o r o tenha levado e lançado nalgum dos montes ou nalgum dos vales”). O Espírito do Senhor várias vezes, diz Ezequiel, o “levantou” e o levou para um lugar ou outro (Ez 11.1; 37.1; 43.5), uma experiência que também era parte das últimas visões de João em Apocalipse (Ap 17.3; 21.10).17

 Mas na grande maioria dos casos a direção e a orientação pelo Espírito Santo não são nem de longe tão dramáticas. As Escrituras falam antes de uma orientação pelo Espírito Santo no dia-a-dia - os cristãos “são guiados” pelo Espírito Santo (Rm 8.14; G1 5.18) e andam segundo o Espírito (Rm 8.4; G1 5.16). Ora, é possível entender que Paulo está se referindo aqui somente à obediência às ordens morais das Escrituras, mas essa interpretação parece bem improvável, especialmente porque todo o contexto trata de emoções e desejos que percebemos de modo mais subjetivo e porque Paulo contrasta aqui o ser guiado pelo Espírito com o seguir os desejos da carne ou da natureza pecaminosa:

Por isso vos digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. [...] Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e lascívia; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira [...] Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. [...] Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. Não sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros (G1 5.16-26, n v i).

O contraste entre “desejos da carne” e “desejos do Espírito” implica que nossa vida deve ser uma resposta a cada momento aos desejos do Espírito Santo, não aos desejos da carne. Agora, pode ser que grande parte da resposta a esses desejos consista no processo intelectual de entender o que são amor, alegria, paz (e assim por diante), e então agir de modo amoroso, alegre ou pacífico. Mas isso dificilmente constitui a totalidade da direção pelo Espírito, pois essas emoções não são meramente coisas em que pensamos; são coisas que também sentimos e experimentamos num nível mais profundo. Na realidade, a palavra traduzida por “desejos” (epithymia) é um termo que se refere a desejos fortes, não meramente a decisões intelectuais. Paulo quer dizer com isso que devemos seguir esses desejos à medida que são produzidos em nós pelo Espírito Santo. Além disso, a idéia de ser “guiado” pelo Espírito Santo (G15.18) implica uma participação pessoal ativa do Espírito Santo na tarefa de nos guiar. Isso é algo mais do que nossa reflexão sobre padrões morais da Bíblia e inclui o envolvimento do Espírito Santo que se relaciona conosco como pessoas para nos orientar e dirigir.

 No livro de Atos há exemplos específicos do Espírito Santo guiando diretamente as pessoas. Após a decisão do concilio de Jerusalém, os líderes escreveram em sua carta às igrejas: “... pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais” (At 15.28). Esse versículo dá a entender que o concilio deve ter tido consciência da vontade do Espírito Santo nessas áreas: sabiam o que “pareceu bem ao Espírito Santo”. Na segunda viagem missionária de Paulo, Lucas escreve que foram “impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia” e depois “tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu” (At 16.6-7). Obviamente, nenhum princípio registrado nas Escrituras do Antigo Testamento tê-los-ia levado a concluir que não podiam pregar na Ásia ou na Bitínia. Antes, o Espírito Santo deve ter comunicado sua orientação direta a eles de algum modo específico, por meio de palavras pronunciadas de maneira audível ou dentro da mente, ou por meio de fortes impressões subjetivas da falta de presença ou de bênção do Espírito Santo à medida que tentavam viajar para essas áreas difíceis. Mais tarde, quando Paulo estava a caminho de Jerusalém, diz: “Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para Jerusalém, sem saber o que me acontecerá ali, senão que, em todas as cidades, o Espírito Santo me avisa que prisões e sofrimentos me esperam” (At 20.22-23, n v i). Paulo não pensava que tivesse outra escolha - o Espírito Santo manifestou-lhe sua presença e desejo de modo tão forte que Paulo podia falar que tinha sido “compelido” pelo Espírito.18

Em outros casos, o Espírito Santo deu orientações para estabelecer pessoas em vários ministérios ou funções da igreja. Assim, o Espírito Santo disse a alguns na igreja de Antioquia: “Separai-me, agora, Bamabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2). E Paulo podia afirmar que o Espírito Santo tinha estabelecido os presbíteros da igreja de Éfeso em sua função porque disse: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos” (At 20.28). Por fim, o Espírito Santo proporcionava alguma direção por intermédio de dons espirituais como profecia (1 Co 14.29-33).19

 4. Ele proporciona uma atmosfera digna de Deus quando manifesta sua presença. Como o Espírito Santo é plenamente Deus e com partilha todos os seus atributos, sua influência deverá trazer caráter ou atmosfera próprios de Deus a situações em que ele está ativo. Uma vez que ele é o Espírito Santo, produzirá às vezes uma convicção de pecado, de justiça e de juízo (Jo 16.8-11). Como Deus é amor, o Espírito Santo derrama o amor de Deus em nosso coração (Rm 5.5; 15.30; Cl 1.8) e muitas vezes a sua presença manifestada de maneira poderosa criará um a atmosfera de amor. E “porque Deus não é de confusão e sim de paz” (ICo 14.33), o Espírito Santo traz uma atmosfera de paz às diversas situações: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17; cf. G15.22). Este último versículo também ensina que o Espírito Santo comunica uma atmosfera de alegria (veja At 13.52; ITs 1.6). Embora a lista não seja exaustiva, Paulo sintetiza muitas dessas qualidades divinas produzidas pelo Espírito Santo ao alistar os vários elementos do fruto do Espírito em Gálatas 5.22-23.
Outros elementos da atmosfera que o Espírito Santo pode transmitir são verdade (Jo 14.17; 15.26; 16.13; IJo 5.7), sabedoria (Dt34.9; Is 11.2), conforto (At 9.31), liberdade (2Co 3.17), justiça (Rm 14.17), esperança (Rm 15.13; cf. G15.5), consciência de filiação ou adoção (Rm 8.15-16; G1 4.5-6) e até glória (2Co 3.8). O Espírito Santo traz também unidade (Ef 4.3) e poder (At 1.18; ICo 2.4; 2Tm 1.7; cf. At 1.8). Todos esses elementos da atividade do Espírito Santo indicam os vários aspectos de uma atmosfera em que ele dá às pessoas a consciência de sua presença — e, desse modo, do seu caráter.

5. Ele nos dá segurança. O Espírito Santo “testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16) e fornece evidências da obra de Deus em nós: “E nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que ele nos deu” (IJo 3.24). “Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito” (IJo 4.13). O Espírito Santo não só testemunha a nós que somos filhos de Deus, mas também testifica que Deus permanece em nós e que estamos permanecendo nele. De novo, o que está envolvido é mais do que o nosso intelecto: o Espírito trabalha para nos dar segurança no nível subjetivo da percepção espiritual e emocional.

6. Ele ensina e ilumina. Outro aspecto da obra reveladora do Espírito Santo é o ensino de certas coisas ao povo de Deus e a iluminação desse povo para que possa entendê-las. Jesus prometeu essa função pedagógica especialmente aos seus discípulos quando lhes disse: “o Espírito Santo [...] vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26); e também: “ele vos guiará a toda a verdade” (Jo 16.13). Além disso, ele prometeu que quando seus discípulos fossem levados a julgamento por causa da perseguição, o Espírito Santo lhes ensinaria naquela hora o que dizer (Lc 12.12; cf. Mt 10.20; Mc 13.11). Em outras ocasiões, o Espírito Santo revelou informações específicas para as pessoas - por exemplo, mostrando a Simeão que ele não morreria antes de ver o Messias (Lc 2.26), ou revelando a Ágabo que ocorreria uma fome (At 11.28) ou que Paulo seria preso em Jerusalém (At 21.11). Em outros casos, o Espírito Santo revelou a Paulo que ele sofreria em Jerusalém (At 20.23; 21.4), disse-lhe expressamente coisas que aconteceriam nos últimos dias (ITm 4.1) e revelou-lhe o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (ICo 2.10).

A obra iluminadora do Espírito Santo é vista no fato de que ele nos capacita a entender: “Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente” (ICo 2.12, n v i). Por isso, “o homem que não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus”, mas “o homem espiritual discerne todas as coisas” ( ICo 2. 14-15, n vi). Devemos orar para que o Espírito Santo nos dê sua iluminação e, desse modo, nos ajude a entender corretamente quando estudamos as Escrituras ou quando avaliamos situações em nossa vida. Embora não mencione especificamente o Espírito Santo, o salmista orou por tal iluminação quando pediu a Deus: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (SI 119.18). De modo semelhante, Paulo orou pelos cristãos de Efeso e arredores:

 ... para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito [ou: “o Espírito”, nvi mg] de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder” (Ef 1.17-19).

D. O Espírito Santo unifica

 Quando o Espírito Santo foi derramado sobre a igreja no Pentecostes, Pedro proclamou que a profecia de Joel 2.28-32 fora cumprida:

 Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão (At 2.16-18).

Há uma ênfase na vinda do Espírito Santo sobre a comunidade de crentes — não apenas sobre um líder como Moisés ou Josué, mas filhos e filhas, velhos e jovens, servos e servas — todos receberão o derramamento do Espírito Santo nesse tempo.20

 No evento do Pentecostes, o Espírito Santo criou uma nova comunidade que era a igreja. A comunidade foi caracterizada por uma unidade sem precedentes, como Lucas nos lembra:

Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo (At 2.44-47).

 Paulo abençoa a igreja de Corinto com um a bênção que busca a com unhão unificadora do Espírito Santo para todos eles quando diz: “A graça do Senhorjesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo21 sejam com todos vós” (2Co 13.13). E significativo que nesse versículo trinitário ele atribua especialmente o aprofundamento da com unhão entre os crentes não ao Pai ou ao Filho, mas ao Espírito Santo, uma declaração coerente com a obra geral de unificação da igreja desenvolvida pelo Espírito Santo.

Essa função unificadora do Espírito Santo é evidente também quando Paulo diz aos filipenses: “Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, [...] completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento” (Fp 2.1-2).22 De modo semelhante, quando enfatiza a nova unidade entre judeus e gentios na igreja, ele diz que “por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef 2.18), e que no Senhor eles são edificados juntamente para se tomarem nova casa de Deus “no Espírito” (Ef 2.22). Quando ele quer lembrar-lhes da unidade que devem ter como cristãos, exorta-os a se esforçarem “diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).

Ao discutir sobre dons espirituais Paulo também repete esse tema da obra de unificação pelo Espírito Santo. Enquanto pensamos que pessoas com dons diferentes não estariam prontas a se dar bem umas com outras, a conclusão de Paulo é exatamente oposta: dons diferentes nos aproximam, porque somos forçados a depender um do outro. “Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não preciso de vós” (ICo 12.21). Esses diferentes dons, Paulo nos diz, são concedidos por “um só e o mesmo Espírito”, que os distribui “como lhe apraz, a cada um, individualmente” (ICo 12.11), de tal modo que na igreja “a manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (ICo 12.7). Na verdade, “em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo - judeus ou gregos, escravos ou livres - e todos nós fomos levados a beber de um só Espírito” (ICo 12.13, tradução do autor).23

 A idéia de que o Espírito Santo unifica a igreja também é evidente no fato de que “porfias, [...] discórdias, dissensões, facções” (G15.20) são desejos da carne que se opõem a um tipo de vida em que somos “guiados pelo Espírito” (G1 5.18; cf. v. 25). O Espírito Santo é o que produz amor em nosso coração (Rm 5.5; G1 5.22; Cl 1.8), e seu amor “une perfeitamente todas as coisas” (Cl 3.14, blh). Portanto, quando o Espírito Santo está operando de maneira poderosa numa igreja para manifestar a presença de Deus, isso se evidenciará numa bela harmonia na comunidade dos cristãos e no amor transbordante de uns pelos outros.

E . O Espírito Santo dá sinais mais fortes ou mais fracos da
PRESENÇA E BÊNÇÃO DE D EU S, SEGUNDO NOSSA RESPOSTA A ELE

 Muitos exemplos no Antigo e no Novo Testamento indicam que o Espírito Santo irá conceder ou retirar bênção dependendo de estar satisfeito ou não com a situação que vê. E digno de nota que jesus era completamente sem pecado e o Espírito Santo pousou sobre ele (Jo 1.32), não sendo dado ao Filho por medida (Jo 3.34). No Antigo Testamento o Espírito Santo veio poderosamente sobre Sansão várias vezes (Jz 13.25; 14.6, 19; 15.14), mas por fim o abandonou quando ele persistiu no pecado (Jz 16.20). De modo semelhante, quando Saul persistiu na desobediência, o Espírito Santo se retirou dele (ISm 16.14). E quando o povo de Israel se rebelou e entristeceu o Espírito Santo, este se voltou contra os israelitas (Is 63.10).

Também no Novo Testamento o Espírito Santo pode ser entristecido e deixar de trazer bênçãos para determinadas situações. Estêvão repreendeu os líderes judeus, dizendo: “vós sempre resistis ao Espírito Santo” (At 7.51). Paulo adverte os cristãos efésios: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Ef 4.30); e exorta a igreja de Tessalônica: “Não apagueis o Espírito” (lTs 5.19; cf. a metáfora da moça que se demora para abrir a porta e desse modo desaponta o amado, em Ct 5.3, 6). Num estado de espírito semelhante, Paulo adverte seriamente os cristãos a não contaminar seu corpo, juntando-o a uma prostituta, porque o Espírito Santo vive dentro desse corpo: “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (ICo 6.19-20).

 Mais sério ainda que entristecer e apagar o Espírito Santo é uma desobediência mais profunda, mais em pedernida a ele que traz severo julgamento. Ananias caiu morto quando Pedro o repreendeu: “... por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?” (At 5.3). De modo semelhante, quando Pedro disse a Safira, esposa de Ananias: “Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor?” (At 5.9), ela imediatamente caiu morta. O livro de Hebreus adverte aqueles que correm o risco de cair de que merece severa punição o homem “que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça n (Hb 10.29). Para uma pessoa como essa resta apenas “certa expectação horrível de juízo” (Hb 10.27).24

Finalmente, resta mais um nível de ofensa contra o Espírito Santo. Essa espécie de ofensa é ainda mais séria que entristecê-lo ou agir contra ele em desobediência empedernida que atrai disciplina ou julgamento. E possível uma pessoa ofender o Espírito Santo de tal maneira que sua obra de convencimento não seja mais aplicada novamente na vida dela.

Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo, nem no porvir (Mt 12.31-32; cf. Mc 3.29; Lc 12.10).

 Essas declarações são feitas num contexto em que os fariseus, de maneira deliberada e maldosa, atribuíram a Satanás a poderosa obra do Espírito Santo, evidente no ministério de Jesus. Uma vez que o Espírito Santo manifestava de maneira tão clara a presença de Deus, aqueles que falavam contra ele de modo deliberado e maldoso e atribuíam sua atividade ao poder de Satanás eram culpados, Jesus disse, “de pecado eterno” (Mc 3.29).25

Todas essas passagens indicam que devemos tomar muito cuidado para não entristecer ou ofender o Espírito Santo. Ele não irá se impor a nós contra nossa vontade (veja ICo 14.32), mas se resistirmos e nos opusermos a ele e o apagarmos, então seu poder nos será retirado e ele removerá de nossa vida grande parte da bênção de Deus.

 Por outro lado, na vida dos cristãos cuja conduta é agradável a Deus, o Espírito Santo estará presente para trazer grandes bênçãos. O Espírito Santo foi “derramado” em plenitude no Pentecostes (veja At 2.17-18) e agora habita dentro dos verdadeiros crentes, fazendo deles templos do Deus vivo (ICo 3.16; 6.19-20). Podemos conhecer comunhão íntima e parceria com o Espírito Santo em nossa vida (2Co 3.14; Fp 2.1). Ele nos confia dons (ICo 12.11), verdade (2Tm 1.14) e ministérios (At 20.28). De fato, tão plena e abundante será sua presença que Jesus pôde prometer que ele fluiria do nosso mais profundo interior como “rios de água viva” (Jo 7.38-39). Pedro promete que sua presença permanece especialmente sobre aqueles que sofrem por causa de Cristo: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (IPe 4.14).

Portanto, é importante que todo nosso ministério seja feito no Espírito Santo, isto é, que conscientemente habitemos na atmosfera digna de Deus, criada pelo Espírito Santo - a atmosfera de poder, amor, alegria, verdade, santidade, justiça e paz. Mas maior ainda que essas características da atmosfera criada pelo Espírito Santo é a consciência da presença do próprio Espírito Santo - estar no Espírito Santo é estar realmente num ambiente da presença manifesta de Deus. E por isso que no Novo Testamento as pessoas podem andar no conforto do Espírito Santo (At 9.31) e é possível estar “em Espírito” tal como João no dia do Senhor (Ap 1.10; cf. 4.2).

E surpreendente ver quantas atividades específicas o Novo Testamento diz serem feitas “no” Espírito Santo: é possível exultar no Espírito Santo (Lc 10.21), resolver ou decidir algo no Espírito Santo (At 19.21), ter a própria consciência testemunhando no Espírito Santo (Rm 9.1), ter acesso a Deus no Espírito Santo (Ef 2.18), orar no Espírito Santo (Ef 6.18; Jd 20) e amar no Espírito Santo (Cl 1.8). Sob a perspectiva desses textos, podemos perguntar a nós mesmos em quantas dessas atividades, a cada dia, estamos conscientes da presença e bênção do Espírito Santo. Também é possível ser cheio do Espírito Santo (Ef 5.18; cf. Lc 1.15, 41, 67; 4.1; At 2.4; 4.8; 6.3, 5; 7.55; 9.17; 11.24; 13.9). Ser cheio do Espírito é ser cheio da presença imediata do próprio Deus, e isso portanto resultará em sentir o que Deus sente, desejar o que Deus deseja, fazer o que Deus quer, falar no poder de Deus, orar e ministrar na força que Deus concede e conhecer com o conhecimento que o próprio Deus dá.26 Nos períodos em que a igreja experimenta avivamento, o Espírito Santo produz esses resultados na vida das pessoas de modo especialmente poderoso.

 Portanto, na vida cristã é importante depender do poder do Espírito Santo, reconhecendo que qualquer obra mais expressiva é feita “não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Paulo é enfático ao dizer aos gálatas que o Espírito Santo foi recebido pela fé no início da vida cristã deles (G1 3.2) e continuaria a operar de acordo com sua fé na vida posterior à conversão: “Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? [...] Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (G1 3.3, 5). Por essa razão, devemos andar segundo a direção do Espírito Santo (Rm 8.12-16; G1 5.16-26) e concentrar nossa mente nas coisas do Espírito (Rm 8.4-6).

Todo o nosso ministério, qualquer que seja a forma que ele assuma, deve ser desenvolvido no poder do Espírito Santo.

                                                             As Doutrinas de Cristo e do Espírito Santo
                                                          Wayne Grudem Título do original: Systematic Theology




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