sábado, 13 de julho de 2019

Lição 3 - A Mordomia da Alma e do Espírito





O

materialista, enganado pela falsa “Teoria da Evolução”, acredita que o homem surgiu “por acaso” e “evoluiu por acaso” e admite que o ser humano apenas tem um corpo com um a mente inteligente, mas não tem alma nem espírito. Para o materialista, a única coisa que se pode provar existente é a matéria, energias físicas e processos físicos. Os materialistas veem a Bíblia como um livro cheio de mitos, estórias e invencionices religiosas. Não acreditam em nada de ordem espiritual. Enquadram-se na categoria de “ímpios” a que se referiu o salmista em sua soberba perante o transcendente. “Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus” (SI 10.4; 53.1).
        Ao negar a existência de Deus, o Criador, o materialista nega a existência da alma e do espírito humano. Como só acredita na existência da matéria, para ele o corpo é matéria, o único elemento da constituição do homem. Certamente, quando estiverem diante de Deus no Juízo Final, todos terão a mais terrível decepção e o mais cruel dos arrependimentos, pois não terão mais oportunidade de reconhecer sua soberba. Imaginemos os médicos, os biólogos, os químicos, que estudam a vida e os seres vivos e admitem que o corpo, com sua organização e complexidade, pode ser resultado de um processo aleatório. Preferem ignorar que o acaso nunca produziu nem produz nada que seja organizado e complexo. No entanto, para nós, os crentes em Deus, sua Palavra revela-nos a origem de todas as coisas, do Universo, dos seres vivos, da vida e do homem. De acordo com a Palavra de Deus, o ser humano é formado de três partes: “espírito, e alma, e corpo” (1 Ts 5.23). Nessa tricotomia, a parte material, tangível, é o corpo, com sua estrutura extraordinária e complexa chamado de “homem exterior” (ver 2 Co 4.16). A parte interior, intangível, é form ada do espírito e da alma, que integram o homem juntam ente com o corpo (1 Ts 5.23).
     Assim como vimos no capítulo anterior, no qual falamos sobre a mordomia do corpo, estudaremos a mordomia da alma e do espírito hum ano neste capítulo, buscando entender o que nos ensina e exorta a Palavra de Deus sobre como tratar do “homem interior” (Rm 7.22; Ef 3.16). Veremos que, se cuidar da mordomia do corpo é difícil em termos espirituais, desenvolver a mordomia da alma e do espírito hum ano é algo muito mais complexo, pois envolve a fonte dos pensamentos e ideias humanas, que influem e têm reflexos diretos na vida espiritual. U m problema no corpo, de ordem natural ou orgânica, pode ser resolvido com terapias humanas, mas os problemas da alma e do espírito humano exigem soluções de ordem espiritual, que transcendem à visão natural do homem. A formação da parte interior do ser, da alma e do espírito foi feita por Deus. Diz a Bíblia: “ [...] e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Como foi esse processo? Q ue fôlego foi esse? De que se constituiu em sua plenitude? Dali surgiu a alma somente ou a alma e o espírito? São a mesma coisa ou são entes distintos? E mais que isso: como se propaga a alma? Não é difícil entender como o corpo humano é gerado no ventre da mãe, sobretudo hoje com os recursos da ultrassonografia moderna. Mas como a alma é “gerada”? Como se multiplica? E o espírito? Ele difere da alma ou é sinônimo dela? Como a alma “entra” no embrião?
      0 cristão não é obrigado a conhecer todos os detalhes acerca da alma, sua origem, formação e natureza, mas a mordomia da alma e do espírito do homem necessita, antes de tudo, da fé em Deus e da presença dEle em sua vida, de sua entrega incondicional a Cristo Jesus como seu Salvador, bem como a ação poderosa do Espírito Santo agindo na sua mente e pensamentos. São soluções sobrenaturais, que dependem da fé em Deus e em sua Palavra. Meditaremos, assim, nesse importante tema de natureza bíblica e espiritual.

1 - A ALMA HUMANA

O seu Significado. A palavra “Alma” no AT vem do hebraico nephesh. No NT, é psique, na língua grega, tendo o sentido de “alma” e de “vida”; está ligada ao term o psíquicos, que tem o sentido de “pertencente a esta vida”. E “a base [...] das experiências conscientes”. A alma pode ter três áreas de significados:
1. Psyché, no sentido da base impessoal da vida, a própria vida;
2. A parte interior do homem;
3. Uma alma independente em contraste com o corpo.1

    No sentido impessoal, eqüivale à própria vida. No sentido de ser “parte interior do homem ”, refere-se à sua personalidade ou à pessoa (cf. 2 Co 1.23). O texto de Levítico 17.10-15 dá um a diversidade de sentidos para a palavra “alma”:

• “[...] contra aquela alma que comer sangue eu porei a minha face e a extir-
parei do seu povo” (v. 10); aqui, “alma” significa a própria pessoa;
• “Porque a alma da carne está no sangue [...]” (v. 11); neste sentido, “alma”
significa a vida do corpo, dos tecidos, que são alimentados pelo sangue;
• “[...] Nenhuma alma dentre vós comerá sangue [...]” (v. 12), em que alma
refere-se à pessoa;
• “a alma de toda a carne; o seu sangue é pela sua alma” (v. 14); nessa passagem, vemos referência à vida de toda a carne e que o sangue seria derramado pela vida do transgressor.
      Tanto nephesh como psique indicam o princípio vital da vida humana, física ou animal. Quando Deus disse que o homem fora feito “alma vivente”, nephesh chayyah, no hebraico, e quando Ele disse que a terra produzisse “alma vivente” em relação aos animais, o termo “alma vivente” também foi nephesh chayyah.
      No entanto, como vimos em um item anterior, o homem é distinto do animal por várias razões, entre as quais estão o autoconhecimento e a autodeterminação. Assim, a alma (nephesh) do homem é profundamente diferente da alma (:nephesh) do animal.
      Vemos várias referências sobre o significado de alma no ΝΤ. Jesus disse: “Qualquer que quiser salvar a sua vida \psiquê\ perdê-la-á [...]” (Mc 8.35; ver Mc 10.45; M t 20.28). “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida [...]” (Mt 6.25). Nesse sentido, “alma” refere-se à vida.
     Em sentido teológico, a alma é a sede das emoções e dos sentimentos. Jesus disse: “ [...] A minha alma está profundamente triste até a morte” (Mc 14.34). A alma fica triste. “É a parte sensível da vida do ego, a sede das emoções do amor (Gt 1.7), do anseio (SI 36.62) e da alegria (SI 86.4).”2. 0 texto que distingue “alma” de espírito é o de 1 Tessalonicenses 5.23: “ [...] e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (grifo nosso); nessa passagem, temos “alma” significando a parte interior do ser, distinta do espírito, porém intrinsecamente ligada a ele, formando o “homem interior” (Rm 7.22). A alma comunica-se com o exterior do ser através do corpo e comunica-se com Deus através do espírito. Horton acentua: “A alma sobrevive à morte porque é energizada pelo espírito, mas alma e espírito são inseparáveis porque o espírito está entretecido na própria textura da alma. São fundidos e caldeados numa só substância”.3


    Origem da Alma.

      Como vimos, a alma faz parte do “homem interior” e está unida ao espírito. Intrigantes questões têm sido formuladas sobre a origem da alma, como, por exemplo: “A alma é introduzida no corpo?”, “Ela é formada durante a concepção?”, “A alma é preexistente?”. Há, basicamente, três teorias acerca da origem da alma; todas elas evocando fundamento bíblico. Esboçamos um resumo delas a seguir:

Teoria da preexistência .
É um dos fundamentos da doutrina espírita. Segundo essa ideia, as almas existem em esferas diversas do mundo espiritual e entram no corpo gerado no processo chamado reencarnação. Segundo os defensores dessa doutrina, a alma peca na vida presente e, para redimir-se, precisa purificar-se, voltando a integrar-se num outro corpo humano durante inumeráveis existências sucessivamente. Antes mesmo de ser um a doutrina codificada por Allan Kardec (1804-69),4 expoente da doutrina espírita, a teoria da preexistência da alma tivera o apoio de filósofos, como Platão e Filo, e de Teólogos cristãos, tais como Orígenes de Alexandria (185-253 d.C.).
       Essa teoria tem base no maniqueísmo, que ensinava que o espírito era puro, ao lado da alma, que já preexistia, e o corpo era intrinsecamente mau, bem como a matéria em sua volta. Esse ensino não tem qualquer fundamento bíblico pelas seguintes razões:
a. O homem foi feito “alma vivente” somente após o sopro de Deus, no momento inicial da criação do primeiro ser humano na face da terra. Antes de Adão, não há qualquer indicação nas Escrituras da existência de almas, guardadas num “celeiro de almas”, num lugar, ou nos planetas, como entendem os espíritas;
b. Os maus atos e a depravação do homem são conseqüências primárias do pecado de Adão, que foram passadas a todos os homens (Rm 5.12), e consequências pessoais, individuais e responsáveis de cada pessoa que peca em sua existência atual, e não de pretensas existências anteriores ao seu nascimento;
c. Deus fez o Homem, incluindo sua parte imaterial (alma/espírito): “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom [...]” (Gn 1.31).

    Teoria criacionista .
 ’ Trata-se de uma teoria segundo a qual Deus “faz as almas diariamente”, conforme ensinava Aristóteles. Polano dizia que “Deus sopra a alma nos meninos quarenta dias após a concepção, e nas meninas oitenta” (sic); Jerônimo (347-420 d.C.) e Pelágio da Bretanha (360-420 d.G.) também acatavam esse entendimento, bem como a igreja católica e os teólogos reformados, a exemplo de João Calvino (1509-64). Segundo Strong, Martinho Lutero (1483—1546) inclinava-se para o traducionismo (veremos a seguir).
      Segundo Strong, os criacionistas baseiam-se nos seguintes textos bíblicos:
“ [...] e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12.7); “ [...] palavra do S e n h o r [...] e que forma o espírito do homem dentro dele” (Zc 12.1); “ [...] e as almas que eu fiz” (Is 57.16). A Bíblia, entretanto, não dá respaldo a essa teoria.

      Teoria participativa .
Leite Filho entende que quando se afirma que a alma é criada, é necessário fazer algumas distinções: a criação é uma produção do nada; a alma é produzida na matéria e não da matéria; a produção da alma necessita de uma realidade criada já existente; a ação divina não tem como objetivo uma alma separada e sim o homem completo.6
      De fato, o homem, desde a fecundação, não é “um aglomerado de células”, como dizem os cientistas ateus e materialistas. É um ser completo, composto de espírito, alma e corpo.
      Toda nova pessoa humana é fruto da ação imediata de Deus e da dos pais:  Deus e os pais produzem o sujeito inteiro, mas os pais podem produzi-lo somente enquanto é um ser material vivo, isto é, tem um corpo, e Deus o produz imediatamente enquanto é um ser pessoal, isto é, tem uma alma.7
       Assim, podemos concluir que a alma humana é formada e, segundo as leis da procriação, deixada por Deus, numa cooperação entre os pais biológicos e “o pai dos espíritos”. Cada vez que um gameta masculino funde-se com um gameta feminino, seja no casamento ou fora dele, pela lei do Criador, forma-se um conjunto alma-espírito dentro do homem. Diz a Bíblia: “ [...] Fala o Senhor , o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele” (Zc 12. lb). A maneira como Deus atua na formação da alma é um mistério ao qual devemos curvar-nos por causa de nosso conhecimento limitado.


II. A MORDOMIA  DA  ALMA

     Significado. Podemos dizer que, ao criar o ser humano, Deus dotou-o do corpo e de sua parte interior chamada de 0 homem interior, que é o conjunto espiritual formado pela alma e pelo espírito (cf. 1 Ts 5.23). Ao soprar no homem o “fôlego de vida”, Deus fez dele “alma vivente”, ou um ser que tem vida. Nesse sopro, o Criador infundiu no interior do homem sua parte espiritual. Por esse fôlego, ele adquiriu o princípio vital (lat. Animei), que o anima. O espírito é a parte imaterial do homem, que, juntam ente com a alma, forma “o homem interior”. Diz Paulo: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus” (Rm 7.22). O apóstolo ensinava sobre a luta entre a carne, ou a natureza carnal do homem, e o espírito, que provém de Deus, e acentuava que o “homem interior” tinha prazer na lei de Deus. Em outro versículo, lemos: “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, 0 interior, contudo, se renova de dia em dia” (2 Co 4.16). Nesse texto, vemos o “homem exterior”, que é o corpo, e “o interior”, que é a parte imaterial do homem.


       Os Cuidados com a Alma.
Já vimos que o ser humano é formado de três partes, como ensinou o apóstolo Paulo: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23, grifo nosso). A alma do homem, assim como o espírito e o corpo, deve ser conservada irrepreensível para a vinda do Senhor Jesus Cristo. Essa é a essência da mordomia da alma. Cada um deve mantê-la com irrepreensibilidade ou integridade. Alguns aspectos devem ser considerados na mordomia da alma.
O Cuidado com as Emoções. Como a alma é a sede das emoções e dos sentimentos, o cristão deve ter muito cuidado com seus pensamentos e atitudes mentais. Todo ser humano tem vários tipos de necessidade. Existem as necessidades do espírito: salvação, adoração, graça, conhecimento de Deus, amor de Deus, paz com Deus (Rm 5.1), alegria espiritual (Lc 1.47). Elas podem ser satisfeitas por Deus, por Cristo, pelo Espírito Santo. Ao lado dessas necessidades do espírito, há as necessidades emocionais, que podem ser vistas como necessidades da alma: alegria, amor, paz interior, saúde emocional, motivação, afeto, reconhecimento, companheirismo, lazer.
    Essas necessidades da alma, que incluem as emoções, podem ser satisfeitas no relacionamento com Deus: o salmista disse: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome” (SI 23.1-3 - grifos acrescentados). Davi tinha consciência de que o Pastor Divino, além de prover-lhe todas as coisas (hb. Jeovah Raa), proporcionava-lhe tranqüilidade e refrigério para sua alma. Q uando o salmo 42 foi escrito, os filhos de Corá expressaram sentimentos profundos das necessidades de sua alma: “Gomo o cervo bram a pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Sl 42.1,2). A presença de Deus promove a satisfação das necessidades interiores do ser humano. O salmista enfatizou isso ao dizer: “A minha alma suspira por ti, ó Deus”. Esse suspiro é demonstrado e verbalizado quando o crente ora a Deus com sua alma. “A minha alma tem sede de Deus” é um a expressão que revela o desejo de ter comunhão profunda com Deus. Quando a pessoa entra em contato e comunhão com Deus, suas emoções são equilibradas. O Espírito Santo preenche as necessidades espirituais do crente em Deus. Paulo escreve sobre “o Fruto do Espírito”, que demonstra essa realidade: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei. E ós que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (G1 5.22-24). Analisando esse maravilhoso texto, vemos como o Espírito Santo promove uma extraordinária bênção no interior do ser humano. O fruto do Espírito é demonstrado em vários aspectos: Em am or (ou caridade): ele preenche a necessidade interior de am ar e ser amado; gozo (ou alegria): toda pessoa precisa experimentar alegria. E indispensável sentir a alegria. Diz a Bíblia:
“[...] porque a alegria do S e n h o r é a vossa força” (Ne 8.10). Depois da alegria interior, o Espírito Santo promove a paz. Todas as pessoas precisam de paz. Para a maioria, paz é a ausência de conflitos internos e externos, mas a “paz interior”, que é provocada pelo Espírito Santo, transcende à ausência de problemas e conflitos. No texto do fruto do Espírito, vemos que o amor é expresso em “longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança”. Todas essas virtudes devem ser cultivadas na mordomia cristã.

    A Santificação da Alma.

     Ninguém pode ser salvo se não vivenciar o processo da santificação (Hb 12.14). A alma integra o “homem integral”, ou seja, o ser humano em sua plenitude, constituído da tricotomia “espírito, alma e corpo”. Diz Paulo: “Abstende-vos de toda aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo 0 vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.22,23 - grifo acrescentado). Como a alma pode ser entendida como “a sede das emoções, dos sentimentos e dos pensamentos”, a mordomia cristã deve zelar por tudo o que enche a mente do crente. Diz a Palavra de Deus: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4.8). Jesus advertiu que é do coração do homem (do seu interior) que “procedem os maus pensamentos” (Mt 15.19). E importante não apenas cuidar do “fazer”, mas, antes de tudo, daquilo em que pensar. Toda ação ou reação é precedida de pensamentos, sentimentos e emoções.

III - A MORDOMIA DO ESPÍRITO

Em termos espirituais, só há dois tipos de crentes: os espirituais e os carnais. Os crentes espirituais caracterizam-se pela vida de comunhão com o Espírito
Santo. Os carnais vivem de acordo com as concupiscências da carne, ou da natureza carnal, não transformada por Cristo.

Andando em Espírito . Na mordomia do espírito, o crente deve procurar andar em Espírito, ou seja, na direção e submissão ao Espírito Santo. O texto bíblico diz: “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (G1 5.16-18). “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (G1 5.25). Andar em Espírito é viver obedecendo à direção do Espírito Santo em todas as áreas da vida.

Frutificando no Espírito. Quando o crente produz frutos dignos da vida cristã, glorifica a Deus. Jesus disse: “Nisto é glorificado m eu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos [...]. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda” (Jo 15.8,16). Os “frutos” na vida cristã significam um testemunho de vida que demonstra que o crente é um a nova criatura em Cristo Jesus (2 Co 5.17). Esses “frutos” de um a nova vida, de conversão genuína, podem ser reunidos no “fruto do Espírito”. Diz a Bíblia: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei” (G1 5.22,23).

Santificando o Espírito. A santificação do espírito ocorre no mesmo processo da santificação da alma e do corpo, ou seja, do homem integral. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23). Quando o cristão busca a santificação do seu ser no seu interior, ele alcança a santificação do espírito e da alma. Como o espírito está intimamente ligado à alma, a santificação dela santifica o espírito e vice-versa. O espírito, porém, precisa ter sua santificação própria. Paulo diz: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2 Co 7.1). Essa santificação plena do ser humano, do “espírito, e alma, e corpo”, é indispensável para a sua salvação: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

     CONCLUSÃO
Alma e espírito, os entes distintos que constituem “o homem interior” do ser humano, são, na verdade, a essência de cada pessoa que vem ao mundo. O corpo é o seu invólucro, a sua “casa terrestre”, igualmente importante, porém sujeita às limitações físicas e materiais, com suas necessidades orgânicas, que demandam estruturas das mais diversas. N a realidade, face à visão distorcida que domina a maioria dos homens, é dado muito mais atenção e assistência ao corpo do que à alma e ao espírito. O salmista escreveu o que poderia ser chamado de “um cântico dos anseios da alma” quando declarou num monólogo de grande significado espiritual:
Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, porquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus? Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma; pois eu havia ido com a multidão; fui com eles à Casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava. Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua presença. 0 meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida; portanto, lembro-me de ti desde a terra do Jordão, e desde o Hermom, e desde o pequeno monte (SI 42.1-6).


1 Lothar C O H EN & Colin BROWN. Dicionário internacional de teologia do
Antigo Testamento, p. 69.
3 Stanley M. HORTON. Teologia sistemática, p. 248.
4 N. do E.: Foi o pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail. Além de expoente
da doutrina espírita (espiritismo), foi também um influente educador, além de autor
e tradutor francês.
5 Não se deve confundir com o Criacionismo científico, que defende a ideia da criação
do homem de modo sobrenatural.
6 Tácito d a G am a Leite Filho. O homem em três tempos, p. 55.
7 Ibid., p. 55.

Elinaldo Renovato
TEMPO, BENS
E TALENTOS



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                                     A Liberação do Espírito


Para   o   leitor   apreciar   devidamente   estas   lições,   talvez   sejam   úteis  algumas declarações preparatórias:Primeiramente,   devemos   ficar   acostumados   com   a   terminologia   que   o  Irmão   Nee   emprega.   Escolheu   chamar   o   espírito   do   homem   de   "homem  interior";   à   alma   do   homem,   chama   de   "homem   exterior"   e   para   o   cor po  emprega   o   termo   "homem   periférico."   No   diagrama   re traíamos   este   fato.   Será  útil,   também,   reconhecer   que   Deus,   ao   planejar   o   homem   originalmente,  pretendeu   que   o   espírito   do   homem   fosse   Seu   lar   ou   Sua   residência.   Assim,   o  Espírito Santo,  formando  uma união com o  espírito humano, deveria  governar  a  alma, e o espírito e a alma, usariam o corpo  como meio de expressão

                                    Diagrama


              corpo                                                                                                     Homem         
Periférico

             alma                                                                                                          Homem    
  Exterior

              espírito                                                                                                    Homem
 Interior




T.   Austin-Sparks indicou com sabedoria:

"Devemos   tomar   cuidado   para   que,   ao   reconhecermos   o   fato   de   que   a  alma   tem   sido   seduzida,   levada   ao   cativeiro,   escurecida   e   envenenada   com  seus   próprios   interesses,   não   a   consideremos   como   algo   a   ser   exterminado   e  destruído   nesta   vida.   Isto   seria   o   asceticismo,   uma   forma   de   budismo.   O  resultado   de   qualquer   comportamento   deste   tipo   usualmente   não   passa   de  outra   forma   de   uma   doutrina   da   alma   em   grau   exagerado;   talvez   o   ocultismo.  A   totalidade   da   nossa   natureza   humana   está   em   nossa   alma,   e   se   a   natureza  for   suprimida   numa   direção,   tomará   vingança   numa   outra   direção.   É  exatamente  o  problema  de  muitas  pessoas,   se  somente  o  soubessem.  Há  uma  diferença   entre   uma   vida   de   supressão  e  uma   vida   de   serviço.  A   submissão,   a  sujeição   e   a   posição   de   Servo   no   caso   de   Cristo,   diante   do   Pai,   não   era   uma  vida  de   destruição   da  alma,   mas,  sim,   de  descanso   e   de  deleite.   A  escravidão,  no   mau   sentido,   é   o   destino   dos   que   vivem   inteiramente   na   sua   própria   alma.  Precisamos   revisar   nossas   ideias   acerca   do  serviço,  pois   está   ficando  cada   vez  mais   comum   pensar   que   o   serviço   é   cativeiro   e   escravidão,   quando,   na  realidade,   é   uma   coisa   divina.   A   espiritualidade  não   é   uma   vida   de   supressão.  Esta   é  negativa.   A   espiritualidade  é   positiva;   é   uma  vida   nova   e  adicional,   não  a vida antiga, lutando para obter o domínio de s i mesma."

"É na vossa perseverança que ganhareis as vossas almas."Lucas21:19

"Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade." 1 Pedro 1:22

"O fim da vossa fé, a salvação das vossas  almas."1 Pedro 1:9

Finalmente,   nestas   lições,   devemos   ver   por   que   Watchman   Nee   insiste  que   a   alma   (o   homem   exterior)   seja   quebrantada,   dominada,   e   renovada   para  o espírito usá-lo. T. Austin-Sparks disse:

"Quer   já   tenhamos   a   capacidade   de   aceitá-lo,   quer   não,   o   fato   é   que   se  vamos   avançar   com   Deus   de   modo   integral,   todas   as   capacidades   e   energias  da   alma   para   saber,   compreender,   sentir   e   fazer,   chegarão   ao   fim,   e   nós   —  naquele  lado —  ficaremos  desnorteados, estonteados, paralisados  e  incapazes.  Somente   então,   a   compreensão,   o   constrangimento   e   a   energia,   novos,  diferentes   e   divinos,   nos   impulsionarão   para   a   frente   ou   manter-nos -ão   em  andamento.   Em   tais   tempos,   teremos   de   dizer   a   nossa   alma:   "Somente   em  Deus, ó  minha  alma, espera  silenciosa  (SI 62:5);  e "Ó  minha alma, vem  comigo  seguir   ao   Senhor."   Mas   quanta   alegria   e   fortaleza,   é   quando,   depois   da   alma  ter   s ido   constrangida   para   entregar-se   ao   espírito,   a   sabedoria   e   glória   mais  sublimes   são   percebidas   na   sua   vindicação.   É   então   que   "A   minha   alma  engrandece   ao   Senhor,   e   o   meu   espírito   s e   alegrou   em   Deus,   meu   Salvador"  (Lucas   1:   46).  O   espírito  fêz  alguma   coisa,  a   alma   a  faz  —  note   os  tempos   dos  verbos.Deste   modo,   a   alma   é   essencial   para   a   plenitude   da   alegria,   e   DEVE   ser  trazida   através   da   escuridão   e   da   morte   da   sua   própria   capacidade   a   fim   de  aprender   as   realidades   mais   altas   e   profundas   para   as   quais   o   espírito   é   o  primeiro  órgão e faculdade." *

CAPÍTULO 1
A IMPORTÂNCIA DO QUEBRANTAMENTO

Qualquer   pessoa   que   serve   a   Deus   descobrirá,   mais   cedo   ou   mais   tarde,  que   o   grande   impedimento   para   a   sua   obra   não   são   outras   pessoas   mas,   sim,  ela   mesma.   Descobrirá   que   seu   homem   exterior   e   seu   homem   interior   não  estão   em   harmonia,   pois   os   dois   tendem   para   direções   opostas.   Sentirá,  também,   a   incapacidade   do   seu   homem   exterior   submeter-se   ao   controle   do  espírito,   tornando- o,   assim,   incapaz   de   obedecer   a os   mandamentos   mais  sublimes   de   Deus.   Perceberá   rapidamente   que   a   maior   dificuldade   acha-se   no  seu homem exterior, pois este o impede de fazer uso  do seu espírito.
Muitos   dos   servos   de   Deus   nem   sequer   conseguem   fazer   as   obras   mais  elementares.   Normalmente,   devem   ser   capacitados   pelo   exercício   do   seu  espírito   a   conhecer   a   palavra   de   Deus,   a   discernir   a   condição   espiritual   doutra  pessoa, entregar as mensagens de  Deus com  unção e receber as revelações de  Deus.   Mesmo   assim,   devido   às   distrações   do   homem   exterior,   parece   que   seu  espírito   não   funciona   apropriadamente.   É   basicamente   porque   seu   homem  exterior   nunca  foi   tratado.  Por   esta   razão,  o   reavivamento,  o   zelo,  o   implorar   e  as  atividades  não  passam  de  um  desperdício  de  tempo.  Conforme  veremos,  há  apenas   um   só   tratamento   que   pode   capacitar   o   homem   a   ser   útil   diante   de  Deus: o quebrantamento.

O Homem Interior e o Homem Exterior

Note  como  a  Bíblia   divide  o  homem  em  duas   partes:  "Porque,  no  tocante  ao   homem   interior,   tenho   praze r   na   lei   de   Deus"  (Rm   7:   22).   Nosso   homem interior   deleita- se   na   Lei   de   Deus.  ".   .   .   que   sejais   fortalecidos   com   poder,  mediante   o   seu   Espírito   no   homem   interior"  (Ef   3:16).   E   Paulo   também   nos  informa:  "Mesmo   que   o   nosso   homem   exterior   se   corrompa,   contudo   o   nosso  homem interior se renova de dia em dia" (2 Co 4:16).Quando Deus vem habitar em nós mediante o Seu Espirito, a Sua vida e o  Seu   poder,   entra   em   nosso   espírito,   que   estamos   chamando   de   "homem  interior."   Fora   deste   homem   interior   há   a   alma,   na   qual   funcionam   nossos  pensamentos,   nossas   emoções   e   nossa   vontade.   O   homem   periférico  é  nosso corpo   físico.   Assim,   falaremos   do   homem   interior   como   sendo   o   espírito,   do  homem   exterior   como   sendo   a   alma,   e   do   homem   periférico   como   sendo   o  corpo.  Nunca   devemos  nos   esquecer   de  que   nosso  homem   interior  é   o  espírito  humano   onde   Deus   habita,   onde   Seu   Espírito   Se   combina   com   nosso   espírito.  Assim como  nós vestimos roupas, assim  também nosso  homem interior  "veste"  um   homem   exterior:   o   espírito   "veste"   a   alma.   E,   de   modo   semelhante,   o  espírito   e   a   alma   "vestem"   o   corpo.   Está   bem   evidente   que   os   homens  geralmente   estão   mais   conscientes   do   homem   exterior   e   do   periférico,   e  dificilmente rec onhecem ou entendem seu espírito, de modo algum.
Devemos   saber   que  aquele  que   pode   trabalhar   para   Deus,   é   aquele  cujo  homem   interior   pode   ser   liberado.   A   dificuldade   básica   de   um   servo   de   Deus  acha-se  no fracasso  do  homem interior  de  irromper  pelo homem  exterior.  Logo,  devemos   reconhecer   diante   de   Deus   que   a   primeira   dificuldade   que  enfrenta mos   na   obra   não   está   nos   outros   mas,   sim,   em   nós   mesmos.   Nosso  espírito   parece   estar   embrulhado   num   invólucro   de   modo   que   não   pode  facilmente   irromper   de   lá.   Se   nunca   aprendemos   como   liberar   nosso   homem  interior   por   meio   de   irromper   pelo   homem   exterior,   não   temos   capacidade   de  servir.   Na da   pode   estorvar-nos   tanto   quanto   este   homem   exterior.   Se   nossas  obras   sã o   frutíferas   ou   não,   depende   de   se   nosso   homem   exterior   foi  quebrantado   pelo   Senhor   de   modo   que   o   homem   interior   possa   passar   pelo  quebrantamento   e   s e   manifestar.   Este   é   o   problema   básico.   O   Senhor   deseja  quebrar   nosso   homem   exterior   a   fim   de   que   o   homem   interior   possa   ter   uma  via de saída.  Quando o homem interior for liberado, tanto  os descrentes  quanto  os cristãos serão abençoados.

A Natureza Tem Sua Maneira de Quebrar

O   Senhor   Jesus   conta-nos   em   João   12:  "Se   o   grão   de   trigo,   ca indo   na  terra,   não   morrer,   fica   ele   só;   mas   se   morrer ,   produz   muito   fruto."  A   vida   está no   grão   de   trigo,   mas   há   uma   casca,   uma   casca   muito   dura,   no   lado   de   fora.  Enquanto   aquela   casca   não   for   rachada   e   aberta,   o   trigo   não   pode   brotar   nem  crescer.   "Se   o   grão   de   trigo,   caindo   na   terra,   não   morrer   .   .   ."  Que   morte   é essa?   É   o   arrombar   da   casca   mediante   a   cooperação   da   temperatura   e   da  umidade   no   solo.   Uma   vez   que   a   casca   é   fendida   e   aberta,   o   trigo   começa   a  crescer.   Então,   a   questão   aqui   não   é   se   há   vida   dentro,   mas,   sim,   se   a   casca  externa foi rachada.

A   Escritura   continua,   dizendo:   "Quem   ama   a   sua   vida   (Grego,  alma)  perde-a;   mas   aquele   que   odeia   a   sua   vida   (Grego,  alma)  neste   mundo, preservá-la-á para a vida eterna" (v. 25). O Senhor nos mostra aqui que a casca  externa   é   nossa   própria   vida   (a   vida   da   nossa   alma),   ao   passo   que   a   vida  interior   é   a   vida   eterna   que   Ele   nos   deu.   Para   permitir   que   a   vida   interior   se  manifeste,   é   imperativo   que   a   vida   exterior   seja   substituída.   Se   o   exterior  permanecer intato, o interior nunca poderá  aparecer.

É   necessário   (neste   escrito)   que   dirijamos   estas   palavras   para   aquele  grupo de pessoas que possuem a vida do Senhor. Entre  aqueles que possuem a  vida   do   Senhor   podem   ser   achadas   duas   condições   distintas:   uma   inclui  aqueles   em   que   a   vida   é   confinada,   restringida,   aprisionada   e   incapaz   de   se  manifestar; a outra inclui aqueles em que o Senhor forjou  um caminho, e a vida  deles, portanto, é liberada.A   pergunta,   pois,   não   é   como   obter   a   vida,   mas,   sim,   como   permitir   que  esta   vida   apareça.   Quando   dizemos   que   temos   necessidade   de   que   o   Senhor  nos   quebrante,   não   é   meramente   um   modo   de   falar,   nem   é   apenas   uma  doutrina.   É   vital   que   sejamos   quebrantados   pelo   Senhor.   Não   é   que   a   vida   do  Senhor não possa cobrir  a terra,  mas, sim, que Sua vida está sendo aprisionada  por  nós. Não  é  que o  Senhor  não possa  abençoar  a ig reja,  mas, sim, que  a  vida  do Senhor está tão  confinada dentro  de nós que não se manifesta. Se  o homem  exterior   permanecer   intato,   nunca   poderemos   s er   uma   bênção   para   a   Sua  igreja,   e   não   podemos   esperar   que   a   palavra   de   Deus   seja   abençoada   através  de nós!

O Vaso de Alabastro Deve Ser Quebrado

A   Bíblia   conta   acerca   do   nardo   puro.   Deus,   deliberadamente   usou   este  termo   "puro"   na   Sua   palavra   para   mostrar   que   é   verdadeiramente   espiritual.  Mas   se   o   vaso   de   alabastro   não   for   quebrado,   o   nardo   puro   não   fluirá.   Por  estranho   que   pareça,   muitos   ainda   estão   valorizando   demasiadamente   o   vaso  de   alabastro,   pensando   que   seu   valor   excede   o   do   unguento.   Muitos   pensam  que   seu   homem   exterior   é   mais   precioso  do   que   seu   homem   interior.   Este   fica  sendo   o   problema   na   igreja.   Uma   pessoa   tem   e m   grande   estima   sua  habilidade,   pensando   que   é   bem   importante;   outra   valoriza   suas   próprias  emoções,   e   se   estima   como   pessoa   importante;   outras   têm   alta   consideração  por   si   mesmas,   e   sentem   que   são   melhores   do   que   as   demais,   que   sua  eloquência   ultrapassa   a   das   demais,   que   sua   rapidez   de   ação   e   exatidão   de  julgamento   são   superiores,   e   assim   por   diante .   Nós,   porém,   não   somos  colecionadores   de   antiguidades;   somos   aqueles   que   desejamos   cheirar  somente   a   fragrância   d o   unguento.   Sem   quebrar   o   exterior,   o   interior   não  surgirá.   Deste   modo,   individualmente   não   temos   qualquer   fluir,   como   também  a   igreja   não   tem   um   caminho   vivo.   Por   que,   pois,   devemos   considerar-nos   tão  preciosos, se nosso interior retém a fragrância, ao invés de liberá-la?

O  Espírito   Santo  não  cessou   de  operar.   Um  evento   após  outro ,  uma  coisa  após outra, vem a nós.  Cada operação disciplinar tem um só  propósito: quebrar  nosso  homem exterior  a  fim de  que  nosso  homem  interior  possa se  manifestar.  Aqui,   porém,   está   nossa   dificuldade:   ficamos   impacientes   por   causa   de  ninharias,   murmuramos   diante   de   perdas   de   pequena   monta.   O   Senhor   está  preparando   um   modo   de   usar-nos,   mas,   mal   Sua   mão   nos   tocou ,   sentimo-nos  infelizes,   até   ao   ponto   de   contendermos   com   Deus   e   de   nos   tornarmos  negativos   em   nossas   atitudes.   Desde   que   fomos   salvos,   fomos   tocados   várias  vezes   e   de   várias   maneiras   pelo   Senhor,   e   tudo   com   o   propósito   de   quebrar  nosso   homem   exterior.   Quer   tenhamos   consciência   disto,   quer   não,   o   alvo   do  Senhor é quebrar este homem exterior.Desta   maneira,   o   Tesouro   está   no  vaso   de   barro,   mas   se   o   vaso   de  barro  não   for   quebrado,   quem   poderá   ver   o   Tesouro   que   está   dentro?   Qual   é   o  objetivo  final   da  operação  do   Senhor  em   nossas  vidas?   É  quebrar  este   vaso  de  barro,   é   quebrar   nosso   vaso   de   alabastro,   é   arrombar   nossa   casca.   O   Senhor  anseia   por   achar   um   meio   de   abençoar   o   mundo   através   daqueles   que  pertencem   a   Ele.   O   quebrantamento   é   o   caminho   da   benção,   o   caminho   da  fragrância,  o  caminho da  frutificação,  mas  também  é um  caminho  salpicado  de  sangue.   Sim,   há   sangue   de   muitas   feridas.   Quando   nos   oferecemos   ao   Senhor  para   fazer   a   Sua   obra   não   podemos   nos   dar   ao   luxo   da   morosidade   de   nos  pouparmos.   Devemos   deixar   que   o   Senhor   rache   totalmente   nosso   homem  exterior, de modo que Ele possa achar um caminho para Suas operações.

Cada um  de nós  deve descobrir  para si  mesmo qual  é a mente  do Senhor  para  sua   vida.  É   um  fato  muitíssimo   lamentável,  que   muitos  não  sabem  qual  é  a  mente  ou  intenção   do  Senhor  para  suas  vidas.  Quanto  ma is  precisam   de  que  Ele  abra  os seus  olhos,  para  ver que  tudo  quanto  entra  nas  suas  vidas pode  ler  significado.   Entender   o   propósito   do   Senhor   é   ver   muito   claramente   que   Ele  visa um único objetivo: o quebrantamento do homem exterior.11
Muitas pessoas , no  entanto,  antes mesmo que  o Senhor  erga Sua  mão, já  estão  aflitas.   Oh!  devemos   reconhecer   que  todas  a s  experiências,  problemas   e  provações que  o  Senhor nos  envia sã o para  nosso bem  supremo. Não podemos  esperar   que   o   Senhor   nos   dê   coisas   melhores,   pois   estas   são   as   melhores.   Se  alguém   se   aproximasse   do   Senhor,   e   orasse,   dizendo:   "Ó   Senhor,   por   favor,  deixa-me   escolher   o   melhor,"   creio   que   Ele   lhe   diria:   "Aquilo   que   Eu   te   dei   é   o  melhor; tuas  provações  diárias são para teu  máximo proveito." Assim,  o motivo  por   detrás   de  toda   a   providência   de   Deus  é   quebrantar   nosso  homem   exterior.  Uma vez que isto ocorre e o espírito p ode fluir, então, começamos a exercitá-lo

A Cronologia em Nosso Quebrantamento

O   Senhor   emprega   dois   meios   diferentes   para   quebrar   nosso   homem  exterior;   um   é   paulatino,   o   outro   é   repentino.   Para   alguns,   o   Senhor   dá   um  quebrantamento súbito  seguido por um paulatino. Com outros, o Senhor  dispõe  para   que   tenham   provações   diárias   constantes,   até   que,   um   dia,   leva   a   efeito  um   quebrantamento   em   grande   escala.   Se   não   for   o   repentino   primeiro,   e  depois   o   paulatino,   então,   é   o   paulatino   seguido   pelo   repentino.   Parece   que   o  Senhor   normalmente   trabalha   conosco   durante   vá rios   anos   antes   de   poder  realizar esta obra de quebrantamento.

A   cronologia   está   na   mão   dEle.   Não   podemos   encurtar   o   tempo,   embora  certamente   o   possamos   prolongar.   Em   algumas   vidas,   o   Senhor   pode   realizar  esta   obra   depois   de   uns   poucos   anos   de   trato;   noutras,   é   evidente   que   depois  de   dez   ou   vinte   anos   a   obra   ainda   está   incompleta.   Isto   é   muito   sério!   Nada   é  mais   lastimável   do  que   desperdiçar  o   tempo   de   Deus.   Quão   frequentemente   a  igreja   é   atrapalhada!   Podemos   pregar   com   o   uso   da   nossa   mente,   podemos  comover   os   outros   com   o   uso   das   nossas   emoções;   mas   se   não   sabemos   usar  nosso  espírito,   o  Espírito   de  Deus  não  poderá  tocar   as  pessoas  a través  de  nós.  A perda será grande, se prolongarmos desnecessariamente o tempo.Logo,   se   nunca   antes   nos   consagramos   de   modo   total   e   inteligente   ao  Senhor,   façamo -lo   agora,   dizendo:   "Senhor,   para   o   futuro   da   igreja,   para   o  futuro   do   evangelho,   para   o   Teu   caminho,   e   também   para   minha   própria   vida,  ofereço-me   sem   condições,   sem   reservas,   nas   Tuas   mãos.   Senhor,   deleito-me  em   oferecer-me   a   Ti   e   estou   disposto   a   deixar-Te   fazer   toda   a   Tua   vontade  através de mim."

O Significado da Cruz

Ouvimos   falar   frequentemente   acerca   da   cruz.   Talvez   estejamos   por  demais   familiarizado   com   o   termo.   Mas   o   que   é   a   cruz,   afinal   das   contas?  Quando   realmente   compreendermos   a   cruz,   veremos   que   significa   o  quebrantamento   do   homem   exterior.   A   cruz   reduz   o   homem   exterior   à   morte;  racha  a   casca   humana  e   a   abre.   A  cruz   deve   quebrar   tudo  quanto   pertence  ao  nosso   homem   exterior   —   nossas   opiniões,   nossos   modos,   nossa   habilidade,  nosso   amor-próprio,   nosso   tudo.   O   caminho   está   claro,   claro   mesmo   como   o  cristal.

Tão   logo   que   nosso   homem  exterior  é   destruído,   nosso   espírito  pode  sair  facilmente   para   fora.   Considere   certo   irmão,   como   exemplo.   Todos   quantos   o  conhecem   reconhecem   que   tem   uma   mente   aguçada,   uma   vontade   dinâmica,  e   profundas   emoções.   M as,   ao   invés   de   ficarem   impressionados   por   estas  características naturais  da sua  alma, reconhecem que  se encontraram  com seu  espírito.   Sempre   que   as   pessoas   estão   tendo   comunhão   com   ele,   encontram  um   espírito,   um   espírito   limpo.   Por  que?   Porque   tudo   quanto   é   da   sua   alma   foi  destruído.

Tomemos como  outro  exemplo certa irmã. Todos aqueles que a conhecem  reconhecem   que   ela   tem   uma   disposição   pronta   —   rápida   para   pensar,   rápida  para   falar,   rápida   para   confessar,   rápida   para   escrever   cartas,   e   rápida   para  rasgar   o   que   escreveu.   Apesar   disto,   os   que   se   encontram   com   ela   não   se  encontram  com   sua  rapidez,   mas  sim,  com   seu  espírito.  Ela   é  uma   pessoa  que  foi totalmente destruída e que se tornou transparente.Esta   destruição   do   homem   exterior   é   uma   questão   fundamental.   Não  devemos   apegar-nos   às  fracas   características  da   nossa   alma,  ainda   emitindo   a  mesma   fragrância,   mesmo   depois   de   o   Senhor   lidar   conosco   durante   cinco   ou  dez anos. Não: devemos deixar o Senhor forjar um caminho em nossas vidas .

Duas Razões para Não Ser Quebrantado

Por   que   é   que,   depois   de   muitos   anos   de   trato,   algumas   pessoas  permanecem   inalteradas?   Alguns   indivíduos   têm   uma   vontade   forte;   alguns  têm   emoções   fortes;   e   outros   têm   uma   mente   forte.   Visto   que   o   Senhor   pode  quebrantá-los,   por   que   depois   de   muitos   anos,   alguns   ficam   sem  transformação? Cremos que há duas razões principais.

A  primeira é  que  muitos que  vivem  nas  trevas  não  estão vendo  a  mão de  Deus.   Enquanto   Deus   está   operando,   enquanto   Deus   está   destruindo,   não  reconhecem   que   é   da   parte   dEle.   Estão   destituídos   de   luz,   e,   somente   veem  homens   que   se   opõem   a   eles.   Imaginam   que   se   o   meio-ambiente   é   realmente  difícil   demais,   que   as   circunstâncias   são   as   culpadas.   Assim,   continua m   nas  trevas  e no desespero.

Que   Deus   nos  dê   uma   revelação   para   ver   o  que   é   da   mão  dEle,   a   fim  de  que   nos   ajoelhemos  e  Lhe  digamos:   "És   Tu;   visto   que   és   Tu,   eu   aceitarei."   Pelo  menos,   devemos   reconhecer  de   Quem   é  a   mão   que   trata   conosco.   Não   é   mão  humana,   nem   a   mão   da   nossa   família,   nem   a   dos   irmãos   e   irmãs   na   igreja,  mas,   sim,   a   de   Deus.   Precisamos   aprender   como   nos   ajoelhar   e   beijar   a   mão,  amar   a  mão  que   lida   conosco,   assim   como   fazia   Madame   Guyon.   Precisamos  ter   esta   luz   para   ver,   seja   o   que   o   Senhor   fez,   aceitamos   e   cremos;   o   Senhor  nada pode fazer de errado.

A  segunda razão,  outro grande  impedimento à  obra  de  quebrar o  homem  exterior é  o amor-próprio. Devemos pedir  que Deus  remova  o coração  do amor-próprio.   À   medida   em   que   Ele   lida   conosco   em   reposta   à   nossa   oração,  devemos  adorar   e  dizer:  "Ó   Senhor,  s e  isto  for  da  Tua   mão,  que   eu  o   aceite  do  meu   coração."   Lembremo -nos   de   que   a   única   razão   para   todo   mal   entendido,  toda   a  irritação,  todo   o  descontentamento,   é  que   secretamente   amamos  a   nós  mesmos.   Assim,   planejamos   um   modo   mediante   o   qual   podemos   livrar   a   nós  mesmos.   Muitas   vezes,   os   problemas   surgem   porque   procuramos   uma   via   de  escape — uma fuga da operação da cruz.

Aquele que subiu à cruz e que s e recusa  a beber o vinho com fel é aquele  que   conhece   o   Senhor.   Muitos   sobem   à   cruz   com   certa   relutância,   ainda  pensando  em  beber  o   vinho  com  fel  para  aliviar  suas  dores.  Todos  aqueles  que  dizem:   "Não   beberei,   porventura,   o   cálice   que   o   Pai   me   deu?"   não   beberá   do  cálice   do   vinho   com   fel.   Somente   podem   beber   um   cálice,   não   dois.   Estas  pessoas   não   têm   qualquer   amor-próprio.   O   a mor-próprio   é   uma   dificuldade  básica.   Que  o   Senhor  nos   fale   hoje  de   tal   maneira  que   possamos   orar:   "Ó   meu  Deus,   vi   que   todas   as   coisas   vêm   de   Ti.   Todos   os   meus   caminhos   estes   cinco  anos,   dez   anos,   ou   vinte   anos,   são   de   Ti.   Operastes   de   tal   maneira   que  atingistes   Teu   propósito,   que   não   é   outro   senão   que   Tua   vida   seja   vivida  através de mim. Mas eu  fui tolo. Não vi. Fiz muitas coisas para escapar, e a ssim  adiei  o   Teu   tempo.   Hoje,   vejo  Tua   mão.  Estou   disposto  a  me   oferecer  a   Ti.   Mais  uma vez coloco- me nas Tuas mãos."

Espere que Verá Feridas

Ninguém  é  mais  belo  do  que  alguém  que está  quebrantado!  A  teimosia  e  o  amor- próprio  cedem  lugar  à  beleza   na  pessoa  que  f oi  quebrantada  por  Deus.  Vemos   Jacó  no   Antigo   Testamento,   como   mesmo  no  ventre  da   sua   mãe,   lutava  com   seu   irmão.   Era   sutil,   enganoso,   traiçoeiro.   Por   isso,   sua   vida   estava   cheia  de   tristezas   e   mágoas.   Ainda   jovem,   fugiu   do   seu   lar.   Durante   vinte   anos   foi  logrado   por   Labão.   A   esposa   do   amor   de   seu   coração,   Raquel,   morreu  prematuramente.   O   filho   do   seu   a mor,   José,   foi   vendido.   Anos   mais   tarde,  Benjamin   foi   preso   no   Egito.   Deus   tratou   com   ele   sucessivamente,   e   Jacó  encontrou   infortúnio   a pós   infortúnio.   Deus   o   feriu   uma   vez,   duas   vezes;   na  realidade, sua história inteira pode ser  descrita como sendo  uma história de ser  ferido   por   Deus.   Finalmente,   depois   de   muitos   tratamentos   deste   tipo,   o  homem   Jacó   foi   transformado.   Durante   seus   últimos   poucos   anos,   era   bem  transparente .   Quão   nobre   era   sua   resposta   a   Faraó!   Quão   belo   foi   seu   fim,  quando   adorou   a   Deus,   apoiado   no   seu   bordão!   Quão   claras   eram   suas  bênçãos  pronunciadas  sobre  seus  descendentes!  Depois   de  ler  a  última  página  da sua história,  queremos  curvar a cabeça e  adorar a Deus. Aqui temos alguém  que   está   a madurecido,   que   conhece   a   Deus.   Várias   décadas   de   tratos   tiveram  como  resultado  que  o  homem  exterior  de  Jacó  foi  quebrantado.  Na sua  velhice,  o quadro é belo

Cada   um   de   nós   tem   boa   parte   da   mesma   natureza   de   Jacó   em   nós.  Nossa   única   esperança   é   que   o   Senhor   marque   um   caminho   para   fora,  quebrando o  homem exterior de  tal maneira  que o  homem interior possa  surgir  e   ser   visto.   Isto   é   precioso,   e   é   o   caminho   daqueles   que   servem   ao   Senhor.  Somente   assim   podemos   servir;   somente   assim   podemos   leva r   os   homens   ao  Senhor.   Tudo   o   mais   está   limita do   quanto   ao   seu   valor.   A   doutrina   não   tem  muita   utilidade,   nem   a   teologia.   Qual   é   a   utilidade   do   mero   conhecimento  teórico   da   Bíblia   se   o   homem   exterior   permanecer   sem   ser   quebrantado?  Somente a pessoa através de quem Deus pode aparecer, é útil.Depois   de   nosso   homem   exterior   ter   sido   ferido,   tratado,   e   levado   por  várias   provas,   temos   feridas   em   nós,   e   assim   deixamos   o   espírito   emergir-  Temos   receio   de   encontrar   alguns   irmãos   e   irmãs   cujo   ser   total   permanece  intato,   nunca   tendo   sido   tratado   e   transformado.   Que   Deus   tenha   misericórdia  de   nós,   mostrando -nos   claramente   este   caminho,   e   revelando-nos   que   é   o  único   caminho.   Que   Ele   também   nos   mostre   que   nisto   é   visto   o   propósito   de  todos   os   Seus   tratos   durante   estes   poucos   anos,   sejam   dez   ou   vinte.   Que  ninguém  menospreze  os  tratos  do  Senhor.  Que  Ele  nos revele  verdadeiramente  o   que   significa   o   quebrantamento   do   homem   exterior.   Se   o   homem   exterior  permanecesse   integral,   tudo   estaria   meramente   em   nossa   mente,   totalmente  inútil.   Tenhamos   esperança   de   que   o   Senhor   venha   a   tratar   de   nós   de   modo  completo.14

                                                                     Watchman Nee - A Liberação do Espírito


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