domingo, 7 de julho de 2019

Lição 2 - A Mordomia do Corpo




O
 ser humano, de acordo com a Palavra de Deus, constitui-se de uma tricotomia: espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23). O corpo não é, como muitos fanáticos entendem, algo que não tem valor e deve ser destruído. Conforme o que a Bíblia revela, o corpo humano é uma maravilha criada por Deus. Na mordomia cristã, o corpo deve ser objeto de muito zelo e cuidado tanto no seu aspecto material quanto no espiritual, e isso por razões muito relevantes.
Primeiro, Deus formou a parte física do homem, o seu corpo, “do pó da terra”. Não com o barro, em estado bruto ou “um boneco de barro”, como ensinam alguns obreiros de modo infantil. Deus manipulou os elementos químicos que se encontram no barro ou na argila, formando, de modo sobrenatural, cada parte do corpo humano, combinando-os de maneira jamais compreendida pela mente humana. Hoje, a embriologia e o estudo da genética têm informações sobre a formação do ser humano no ventre da mãe a partir da união dos gametas masculino e feminino, porém jamais alcançou a formação do primeiro ser humano, que não foi gerado, mas criado por Deus. A forma como o Senhor combinou os aminoácidos, as proteínas, os sais minerais e as demais substâncias para compor o corpo humano é algo que transcende a qualquer especulação científica. Somente após a formação do corpo, Deus infundiu nele o “fôlego da vida”, a alma e o espírito, que constituem sua parte intangível.

Na visão tricotômica do ser humano, o corpo tem papel importantíssimo. É através dele que a alma comunica-se com o mundo exterior. É no rosto que aparecem as expressões de alegria, tristeza, ira, sono, calma, entusiasmo, rancor, mágoa e tantos outros sentimentos próprios da natureza humana. Diz a Bíblia: “[...] o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem” (Pv 27.19). Graças à ciência, hoje podemos conhecer — melhor do que qualquer pessoa em tempos passados, inclusive na esfera do tempo em que a Bíblia foi escrita — a grandeza, a perfeição (relativa) e o maravilhoso funcionamento do corpo humano, como obra-prima das mãos de Deus, o Criador Maravilhoso e Absoluto de todas as coisas. Neste capítulo, estudaremos sobre a mordomia do corpo, destacando o seu valor espiritual, considerando informações sobre o corpo humano, para que sintamos melhor a grandeza da obra criadora de Deus, quando Ele fez o homem das substâncias que há no pó da terra e lhe deu a  vida, tornando-o sua imagem e semelhança, o que nos torna mais responsáveis perante o Criador pelo cuidado e zelo que devemos ter pelo nosso corpo, que é “templo do Espírito Santo” (1 Co 6.19).

I – A DIMENSÃO MATERIAL DO CORPO

A Formação Maravilhosa do Corpo.
 Diante da formação e desenvolvimento do corpo humano, Davi exclamou desde o ventre: “Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado” (Sl 139.14). Que maravilhosa declaração! E quão diferente ela é da teoria da evolução, que ensina que a origem da vida, do corpo, do homem e da inteligência ocorreu pelo “acaso”, cego e sem propósito algum. Neste estudo, resumiremos algumas informações sobre o corpo humano para que sintamos melhor a grandeza da obra criadora de Deus, que fez o homem das substâncias que há no pó da terra e deu vida a ele, tornando-o sua imagem e semelhança. Ao conhecer a grandeza do que Deus fez, o cristão deve valorizar mais seu relacionamento com seu corpo, zelando-o e preservando-o em gratidão ao Criador.

Estrutura do Corpo Humano.
Jamais o acaso poderia idealizar e fazer vir à existência um organismo tão complexo como o corpo humano. O organismo humano constitui-se de 216 tecidos organizados no esqueleto, que possui 206 ossos; “O cérebro tem um trilhão de células nervosas e seus ‘sinais trafegam ao longo dos nervos até um máximo de 360km/h: uma mensagem enviada da cabeça para o pé chega em 1/50 de segundo. [...] o cérebro de um homem pesa 1,4 kg; o cérebro de uma mulher pesa 1,25 kg”.1
A organização do corpo humano é extraordinária e nem sempre é percebida pelo homem comum. O corpo humano tem 70% de água; tem 96.500 km de veias e artérias; tem 10 bilhões de vasos capilares; há 100 trilhões de células no corpo; o DNA é uma fábrica supercomplexa, que contém o código da vida. A evolução ao acaso jamais explicaria a vida. Só uma mente sobrenatural de um Ser Supremo pode explicar a origem da vida e do ser humano. A Bíblia responde: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” [...] “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn 1.1,27).
                    
II – A DIMENSÃO ESPIRITUAL DO CORPO

Como o Corpo É Visto nas Escrituras. Na dimensão espiritual do corpo humano, a Bíblia usa várias metáforas que indicam seu significado para Deus. A seguir, temos algumas dessas interessantes figuras da visão espiritual do corpo humano:

Corpo do pecado (Rm 6.6). Uma vez que somos novas criaturas, devemos saber “que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado” (v. 6). A expressão “corpo do pecado” refere-se ao corpo do “velho homem”, que, antes de ser transformado por Deus pela aceitação de Cristo como Salvador, vivia usando o corpo como instrumento para o pecado (Rm 6.12-14).

Homem exterior (2 Co 4.16). Diz Paulo: “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia”. Aqui, o apóstolo, ensinando sobre a ressurreição (2 Co 4.14), acrescenta que não devemos desfalecer diante das lutas que passamos nesta vida, pois, mesmo que o “homem exterior” — o corpo — se corrompa, ou seja, envelheça e venha até mesmo a morrer, o “homem interior” — o espírito e a alma — é renovado continuamente.

Casa terrestre (2 Co 5.1). Certamente, o apóstolo refere-se à temporalidade do corpo, em sua constituição física, como invólucro do espírito. De acordo com a Palavra de Deus, o destino do salvo é habitar nos céus com Jesus, num corpo espiritual semelhante ao seu quando ressuscitado (cf. Fp 3.21). O corpo espiritual, que nos será dado por Deus, será a “nossa habitação, que é do céu” (2 Co 5.2). No entanto, enquanto estivermos aqui, não poderemos ter essa condição. O “homem interior” não pode apresentar-se diante dos olhos humanos. Assim, precisa dessa “casa terrestre” que é o corpo humano, com seus órgãos, tecidos e seus sentidos físicos. É casa temporária, é morada passageira, visto que somos “peregrinos e forasteiros” na terra (2 Pe 2.11).

Corpo desta morte (Rm 7.22-24). Ensinando sobre a luta entre a carne e o espírito, Paulo, de forma eloquente, diz: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (grifo nosso). O apóstolo referiu-se ao fato de o pecado utilizar-se dos membros do corpo para praticar a iniquidade e a desobediência contra Deus, o que equivale a experimentar a morte espiritual (Ef 2.1).

Corpo abatido (Fp 3.21). Numa visão escatológica, Paulo doutrinava os irmãos filipenses estimulando-os a viver a fé com perseverança e alertando-os contra os “inimigos da cruz de Cristo” (v. 18). E, numa palavra de conforto e esperança, assegura-lhes: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (vv. 20,21, grifo nosso). O corpo abatido é o corpo, em sua condição humana, sujeito às doenças, à fraqueza, ao envelhecimento e à morte. Mas a promessa para os salvos é a de que, se permanecermos fiéis, Deus é aquEle que nos ressuscitará um dia, num corpo glorioso, semelhante ao de Jesus quando de sua ressurreição, que foi capaz de atravessar as paredes e vencer todas as forças da natureza. Assim será o corpo do salvo após a ressurreição ou o arrebatamento da Igreja (ver 1 Co 15.42,43 – grifo nosso).

Templo do Espírito Santo (1 Co 6.19,20). Mais uma vez, mostrando aos crentes que Jesus ressuscitou e que nos ressuscitará, o apóstolo Paulo alerta os cristãos para não darem lugar ao pecado, visto que nossos membros, do corpo físico, são, na verdade, “membros de Cristo”; e indaga de modo incisivo: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (grifo nosso). Essa é uma exortação de alto significado espiritual, pois demonstra que o corpo físico tem elevado valor espiritual para Deus. Não é como alguns pensam, que Deus só se interessa pelo espírito e pela alma (homem interior). Na realidade, Deus quer que a salvação alcance o homem em sua tríplice constituição: espírito, alma e corpo.

Pecados Contra o Corpo. Certamente, na mordomia do corpo, o cristão deve preocupar-se primordialmente com o zelo e a santidade do corpo, visando evitar os pecados que podem ser praticados através dos membros do corpo. Os pecados mais comuns registrados nas escrituras são os listados a seguir:

Prostituição. É a prática sexual promíscua com diferentes pessoas, que vivem da prostituição, usando o seu corpo como objeto de transação monetária ou financeira. É viver ou complementar renda com a prostituição. Quem se prostitui usa o corpo como mercadoria a ser vendida. O que se utiliza da prostituição paga para obter prazer sexual de forma ilícita, sendo casado ou solteiro. Diz a Bíblia (1 Co 6.13b). A prostituição está entre os pecados condenados por Jesus Cristo em seus ensinos: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt 15.19 – grifo acrescentado). Na primeira assembleia da igreja cristã, os apóstolos exortaram aos crentes a absterem-se da prostituição (At 15.20; Rm 1.29). Na mordomia do corpo, Paulo diz que é necessário fugir da prostituição (1 Co 6.18). E que, para evitar a prostituição, cada cristão tenha a sua própria mulher (1 Co 7.2). A prostituição é uma das “obras da carne” (Gl 5.19). “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição” (1 Ts 4.3).

Adultério. É o pecado que se caracteriza pelo relacionamento sexual de um homem ou de uma mulher com pessoa que não é seu cônjuge. A Bíblia tem graves exortações contra o adultério e alerta para as terríveis consequências espirituais, morais e físicas do sexo fora do casamento (Pv 5.1,2).

• O realismo quanto ao relacionamento ilícito: “Porque os lábios da mulher estranha
destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite” (v. 3).
• O resultado espiritual e moral do adultério: “mas o seu fim é amargoso como o
absinto, agudo como a espada de dois fios” (v. 4).
• A caracterização da mulher adúltera: “Os seus pés descem à morte; os seus passos
firmam-se no inferno. Ela não pondera a vereda da vida; as suas carreiras são
variáveis, e não as conhece” (vv. 5,6).
• Advertência da sabedoria de Deus: “Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos e não
vos desvieis das palavras da minha boca. Afasta dela o teu caminho e não te
aproximes da porta da sua casa; para que não dês a outros a tua honra, nem
os teus anos a cruéis. Para que não se fartem os estranhos do teu poder, e todos
os teus trabalhos entrem na casa do estrangeiro; e gemas no teu fim, quando
se consumirem a tua carne e o teu corpo” (vv. 7-11).

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Fornicação. É considerada a prática de relações sexuais entre solteiros. No AT, não há referências bem claras quanto à prática do sexo entre solteiros. Já no Novo Testamento, a condenação é incisiva aos fornicadores:
“Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicador, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus (Ef 5.5a; ver 1 Tm 1.10; Ap 21.8a). Com o excesso de erotização nos meios de comunicação, muitos jovens não conseguem manter-se castos por meio da abstinência na adolescência ou na juventude e, por causa disso, acabam fornicando. Como a relação sexual é privativa dos casados, envolvem-se no sexo ilícito. Muitos sofrem a tremenda culpa pelo pecado, provocando a gravidez indesejada e até praticando o crime hediondo do aborto. A Palavra de Deus tem a orientação segura para a mordomia da sexualidade na juventude (Sl 119.9). José, o filho amado de Jacó, foi terrivelmente tentado em sua juventude pela sedução da esposa do seu patrão. Ele, porém, não cedeu. Manteve-se puro em sua conduta, foi caluniado e injustamente jogado na prisão. Deus, todavia, honrou-o, levando-o ao posto de governador do Egito (Gn 39.7-23).

Homossexualidade. É a prática das relações sexuais com pessoas do mesmo sexo. Pode ser masculino ou feminino. É considerado um pecado muito grave na Lei de Deus. No Antigo Testamento, já havia a condenação explícita da união homossexual (Lv 18.20; 20.13). No Novo Testamento, a reprovação não é menos incisiva do que no Antigo Pacto, como vemos em 1 Coríntios 10,11. Esse texto sagrado mostra que os efeminados, ou seja, os homossexuais passivos, que fazem o papel de “mulher” na relação, e os sodomitas, que fazem o papel de “homem”, não herdarão o Reino de Deus. Significa que estão na prática de um pecado tão grave que os impede de irem aos céus após a morte. As expressões usadas no texto sagrado sobre a prática homossexual são terrivelmente condenatórias (Rm 1.22-28).

Transsexualismo. Também chamado transsexualidade. É um “transtorno de identidade de gênero” ou “disforia de gênero”, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nesse transtorno, a pessoa sente-se desconfortável com o sexo biológico com que nasceu. Um homem “sente-se mulher”, uma mulher “sente-se homem”, e a pessoa deseja “mudar de sexo”. Isso é absolutamente impossível. Jamais alguém poderá mudar de sexo. Essa distorção da identidade humana está associada à falsa e perversa “ideologia de gênero“, que prega que a pessoa não nasce com gênero definido, mas com “gênero neutro”. Quando cresce, depois da puberdade, “escolhe” o gênero com que se identifica. Essa ideologia é, no entanto, falsa, tendenciosa e perversa. É de origem satânica, pois pretende destruir o plano de Deus para a sexualidade e a identidade biológica do homem, além de não ter a mínima base científica. O Colégio Americano de Pediatria desmascarou essa falsa ideologia em 2017 e recomendou a educadores e a legisladores para não ensinarem essa aberração a crianças, pois isso provocará uma tremenda confusão na mente delas. Isso comprova cientificamente que

os seres humanos possuem um sexo biologicamente determinado e diferenças sexuais inatas [...]. A regra é que o organismo humano seja concebido como masculino ou feminino. Os pares de cromossomos sexuais “XY” e “XX”’ são determinantes genéticos do sexo, respectivamente masculino e feminino. Não são marcadores genéticos de um corpo desordenado ou um defeito de nascimento. A sexualidade binária é binária por sua própria concepção, sendo a finalidade a reprodução de nossa espécie. Esse princípio é autoevidente.2

É uma terrível afronta à sacralidade do corpo humano, que foi criado por Deus, com sua identidade binária: “macho e fêmea os criou” (Gn 1.27). A igreja cristã deve rejeitar peremptoriamente toda argumentação a favor da falsa ideologia de gênero e da transsexualidade, ou a falsa “mudança de sexo”. Poligamia. Atualmente, chamada de “poliamor” — um novo termo para a poligamia —, é uma das mais recentes adulterações do relacionamento sexual conforme o plano de Deus. Trata-se do homem que vive com mais de uma mulher ou poliandria, quando uma mulher vive com vários homens. No AT, Deus tolerou a poligamia, mas nunca a aprovou. No Novo Testamento, vemos uma definição quanto ao casamento, consagrando a monogamia como a forma correta e santa de união conjugal (1 Co 7.2). Jesus, o Mestre divino, valorizou a monogamia como plano original de Deus (Mt 19.4-6).
A mordomia cristã do corpo não aceita a poligamia ou o “poliamor”. No Brasil, há um grande interesse por parte de certos grupos na legalização da poligamia. No ano de 2018, foi registrado um caso de união poliafetiva entre um homem (marido) e duas mulheres (esposas), mas o Supremo Tribunal de Justiça anulou com base na Constituição, que define o casamento como sendo entre um homem e uma mulher.

A Santificação do Corpo. É o ponto fundamental na mordomia do corpo. O corpo do cristão, em sua constituição tricotômica, deve glorificar a Deus de forma integral desde o nascimento até à morte. Para que uma pessoa possa ser salva, tem que passar pelo processo de santificação, visto que o homem só pode ser santo somente por esse processo. Sem santidade, é impossível haver justificação e regeneração. A pessoa que aceita a Cristo nasce de novo e é justificada, mas, para ter sua salvação assegurada, é indispensável fazer a sua parte, buscando a santificação diária, ou progressiva até à morte, ou até à vinda de Jesus. A Bíblia diz: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). A santificação é um processo divinamente complexo. Depende de Deus, primeiramente, e também do homem.

Os Meios da Santificação da Parte de Deus. É Deus quem santifica o crente: depende de Deus e depende do homem. Diz a Palavra de Deus: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23). Esse texto não deixa dúvidas quanto ao valor espiritual do homem, incluindo o seu corpo, que também deve ser conservado “irrepreensível” para a “Vinda do Senhor”. São meios usados por Ele para a santificação do crente.

Por meio de Cristo. A Bíblia diz que “[...] Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” (Ef 5.25,26 – grifo nosso). Nessa passagem, vemos que Cristo efetua a santificação da igreja como sua Noiva. Cada crente faz parte desse Corpo santificado.

O Sangue de Cristo. Através do sangue de Cristo, o pecador é purificado de sua imundície e tornado santo (Hb 9.14; 13.12; 1 Jo 1.7; 1 Pe 1.19; Ap 1.5). O sangue de Cristo proporciona a santificação “instantânea” e a “progressiva”.

O Espírito Santo. O Espírito Santo produz a “santificação interna”: “E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.11; 2 Ts 2.13; Rm 15.16 – grifo nosso).

A Palavra de Deus. Em João 17.17, lemos a oração de Jesus por seus discípulos: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). A palavra “gera” a nova criatura (1 Pe 1.23); no processo do novo nascimento, entram em ação: (1) a palavra (a “água”); (2) o Espírito; e (3) o sangue de Jesus. Na santificação progressiva, a palavra limpa o crente (Jo 15.3); como espelho para a alma, a palavra mostra diariamente o estado espiritual do crente (Tg 1.22-25).

Meios da Santificação da Parte do Homem. Deus não entrega ao homem “um pacote” de salvação pronto e acabado. Ele faz a sua parte no lado divino, mas o homem tem que ser participante ativo desse processo maravilhoso. Na santificação, o homem precisa dar lugar à vontade de Deus. Está escrito: “[...] quem é santo seja santificado ainda” (Ap 22.11). O crente pode participar do processo da santificação mediante os seguintes elementos:

Mediante a fé em Cristo. O crente vive da fé (Rm 1.17); anda pela fé (2 Co 5.7); é firmado pela fé (2 Co 1.24) e tem vitória pela fé (1 Jo 5.4). Pela fé, é necessário que aceitemos o que nos concede Deus para a santificação. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6); a vida cristã é uma festa, “um banquete contínuo”, mas também é uma luta sem tréguas contra o pecado, o mundo, a carne e o Diabo. A fé é o escudo da vitória.

Dedicação total a Deus. O cristão precisa colocar-se diante do altar da adoração a Deus, oferecendo-se a si mesmo “em sacrifício vivo, santo e agradável”. Essa deve ser uma atitude pessoal. As expressões “apresenteis”, “não vos conformeis”, “transformai-vos” pressupõem uma ação individual reflexiva na busca da vontade de Deus, e isso faz parte da santificação.

Submissão à disciplina. A disciplina não exige santidade, mas, certamente, a santidade exige disciplina. Santidade é a “qualidade ou estado daquele ou daquilo que é santo” (Dic.). Santificação é o processo pelo qual a pessoa alcança a santidade, tornando-se santo. Podemos dizer que a santificação é a disciplina daquele que é santo. A natureza carnal, contaminada pelo pecado, requer o uso do corpo de modo pecaminoso, contrariando a vontade de Deus, e o cristão não está imune à tentação do uso indevido dos membros do corpo, principalmente na área sexual. Sem a disciplina santificadora, qualquer um pode cair em pecado. O apóstolo Paulo, um gigante na vida ministerial, ficou atordoado diante da luta da carne contra o espírito, incluindo os membros de seu corpo. Em Romanos 7.23,24, lemos: “Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.
Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”. Para vencermos a luta da carne pela posse dos nossos membros como instrumentos do pecado, não devemos pensar que somos “super-homens”. Somos “vasos de barro”. Na mordomia cristã, o caminho para a vitória contra o mau uso do corpo é indicado pela Palavra de Deus:

1. Andar em espírito (Gl 5.16,17).
2. Não deixar o pecado reinar em nosso corpo mortal (Rm 6.12; 1 Ts 4.3).
3. Mortificar as obras do corpo (Rm 8.13).
4. Apresentar o corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12.1).

5. Glorificar a Deus no corpo (1 Co 6.19,20).
6. Conservar o corpo irrepreensível para a vinda do Senhor (1 Ts 5.23).

      O apóstolo Paulo aconselha-nos: “Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação” (Rm 6.19). “Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação” (1 Ts 4.7).
Renúncia ao pecado. Para ser um discípulo (seguidor) de Cristo, o crente precisa renunciar a tudo aquilo que não agrada a Deus, começando pelo seu “eu”, suas inclinações pecaminosas, suas tendências malignas e carnais. Sem isso, é impossível ser santo. Jesus disse: “Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24). Paulo exorta: “E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação” (Rm 6.18,19).

III – O CULTO RACIONAL

O corpo do salvo deve ser parte fundamental do verdadeiro culto a Deus. Quando os judeus adoram a Deus, fazem-no com expressão corporal, balançando o corpo para frente, para baixo e para cima. Ao visitar Israel, indaguei, o porquê daquela atitude. A resposta foi dada pelo guia, que explicou tratar-se de uma expressão de plena adoração com o espírito, a alma e o corpo como elementos de adoração a Deus.

O Corpo na Adoração a Deus. A mordomia cristã deve ter em mente o valor do corpo na adoração a Deus. O apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos de Roma acerca do culto que eles deveriam oferecer a Deus, diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2).

O corpo “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Na Antiga Aliança, os sacrifícios a Deus, em suas diversas categorias, eram constituídos de animais que eram mortos para que seu sangue fosse aceito como substituto pelo pecante para a expiação da culpa. No Novo Testamento, não é necessário derramar sangue de animais, pois Jesus Cristo, “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29), ofereceu um único sacrifício pela redenção do homem perdido. Diz a Bíblia: “Mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus” (Hb 10.12).Diante dessa realidade, no culto do Novo Testamento, pela igreja, a adoração requer que o homem ofereça a si mesmo, por intermédio de seu corpo, como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Trata-se de uma exortação de grande significado. O corpo em si é neutro para a salvação. No entanto, a expressão do “homem interior”, formado de espírito e alma, só se manifesta ou se materializa através do corpo. O crente louva a Deus com os seus lábios; o crente eleva as mãos aos céus em atitude de adoração; dobra os joelhos em sinal de humildade e submissão ao Ser Supremo. Todas essas atitudes só têm valor se forem verdadeiras, partindo de um coração quebrantado e contrito perante Deus, mas a atitude do interior revela-se nas atitudes exteriorizadas através do corpo.

O corpo é para o Senhor. Paulo diz: “Os manjares são para o ventre, e o ventre, para os manjares; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1 Co 6.13). No zelo pela vida de santidade, o apóstolo exorta os crentes de Corinto que a comida tem seu valor para a alimentação humana, mas todo esse processo digestório será aniquilado. No entanto, valorizando o sentido espiritual do corpo, ele diz que “o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo”. Trata-se de uma declaração de elevado significado espiritual. O corpo é “templo do Espírito Santo” (1 Co 6.19). Com tão grande significado, o corpo do salvo não pode ser usado na prática abominável da prostituição carnal entre homens e mulheres, ou na prática da homossexualidade, mas é um elemento que se destina ao Senhor, e o Senhor requer o corpo como meio para o culto racional.

A Dimensão Espiritual do Sexo. A mordomia cristã deve levar em alta conta a vida sexual do crente em Jesus. Em um texto paralelo, Paulo diz:
“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição, que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra, não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus” (1 Ts 4.3-5). Essa é uma exortação quanto à pureza nas relações sexuais entre os cônjuges. Quando um homem, seja ele casado ou não, une-se sexualmente com uma mulher, tornam-se os dois “uma carne” (Gn 2.24c).
     Essa realidade acerca da dimensão espiritual do sexo é tão profunda que transcende a lógica e o raciocínio humano. Paulo diz que o cristão não deve sujeitar-se a “um jugo desigual com os infiéis” (2 Co 6.14), ou seja, um crente em Jesus não deve casar-se com um descrente ou “infiel”. No entanto, referindo-se aos “casais mistos” — ou seja, quando um cônjuge é cristão, e o outro não aceitou a Cristo, mas concorda em conviver com o cônjuge crente —, Paulo exorta o crente, que é salvo, a não se separar do descrente, mostrando o motivo de ordem espiritual para esse aconselhamento em 1 Coríntios 7.12-14.
      Examinando o texto, vemos que “o marido descrente é santificado pela mulher (crente)” e “a mulher descrente é santificada pelo marido” (crente). Não se trata de uma “santificação” para a salvação. De forma alguma, pois o homem precisa aceitar a Cristo como Salvador para ser salvo. Trata-se, porém, de uma “santificação” corporal. O texto esclarece: “Doutra sorte, os [...] filhos seriam imundos; mas, agora, são santos” (grifos nossos). Ou seja: os filhos que foram gerados como resultado da união sexual entre um cônjuge crente e um não crente que vivem em harmonia e em consenso “são santos”. Por quê? A Bíblia responde: porque “serão ambos uma carne” (Gn 2.24). Os membros dos salvos, incluindo os órgãos sexuais, “são membros de Cristo”. Não podem ser usados para a prostituição (1 Co 6.15,16), mas podem ser usados num relacionamento sexual lícito e reconhecido por Deus.

A Morte e Ressurreição do Corpo. A mordomia do corpo deve levar em consideração que a vida humana é passageira. A vida biológica cessa num piscar de olhos e, em seguida, a morte vem de forma inexorável.
A realidade da morte física. A morte é um fato que assusta a maioria das pessoas. Já existem pessoas que esperam reverter a realidade da morte física através da ciência. Em países ricos, como nos EUA, algumas pessoas já contrataram os serviços de uma empresa que se propõe a preservar o corpo, congelando-o a dezenas de graus negativos (-196o) a fim de que, um dia, se a ciência descobrir uma solução para o envelhecimento e para a morte, seus donos possam ser reanimados. É a chamada criobiologia (biologia do congelamento da vida). A técnica utilizada chama-se hibernação. Nesse processo, o sangue do morto é retirado e substituído por um líquido anticongelante e, em seguida, colocado num cilindro de aço, num estado de “suspensão criônica”. Espera-se que, depois de alguns séculos, a ciência tenha descoberto como fazer a “ressurreição tecnológica”.3 É o homem mortal desejando a vida eterna por meios errados. Há cientistas que afirmam ser perda de dinheiro congelar pessoas.  A vida eterna já está à disposição de todos os que creem em Jesus: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” Jo 17.3). De fato, a lei da morte é inexorável. E um a consequência do pecado. Deus disse ao primeiro casal no Éden: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17).


A esperança d a ressurreição .

Todo ser vivo, incluindo o homem, nasce, cresce, desenvolve-se e morre. Essa é uma lei que só admite exceção para aqueles que, na Segunda Vinda de Jesus, estiverem vivos no momento do arrebatamento da Igreja. Afora essa exceção, “aos homens está ordenado morrerem um a vez” (Hb 10.27). Em seu desenvolvimento, o homem passa pela infância, adolescência, juventude e idade adulta. Em cada uma dessas fases, seu desenvolvimento físico depende de alimentação, repouso, movimento, relacionamento humano e espiritual. A velhice é a fase do declínio das energias físicas e mentais. Depois disso, vem a morte. Para os que têm a salvação em Cristo Jesus, a velhice é uma fase de gratidão e esperança quanto ao porvir. Para os que não têm a salvação, a velhice é vista como o fim da vida, sem qualquer esperança de um a vida melhor.
      Porém, para o salvo em Cristo Jesus, há a esperança gloriosa da ressurreição!
Paulo diz: “Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder” (1 Co 6.14). Ressurreição, segundo o Dicionário Aurélio, é o “Ato ou efeito de ressurgir ou ressuscitar; ressurgência (...) Fig. Vida nova; renovação, restabelecimento. Quadro que representa a ressurreição dc Cristo. Na doutrina cristã, o surgir para um a nova e definitiva vida, distinta e, em certa medida, oposta à existência terrestre, e que, a partir da ressurreição de Cristo, aguarda todos os fiéis cristãos”. Essa última definição tem relação com o que as Escrituras Sagradas ensinam. Na mordomia do corpo humano, o cristão tem a esperança de que a morte não prevalecerá sobre o “templo do Espírito Santo”. Assim sendo, vale a pena cuidar do corpo, numa perspectiva espiritual, com santidade e respeito. Após mostrar a vitória de Cristo sobre o império da morte, Paulo esclarece que “Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se 0 corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção . Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual” (1 Co 15.42-44 — grifos acrescentados). Será um corpo com as características grifadas, incorruptível (que não pode mais morrer), um corpo glorioso, cheio de vigor, de natureza espiritual. Serão corpos transformados (1 Co 15.35-38), conforme (semelhantes) o corpo ressurreto de Cristo (Fp 3.21 — parêntese acrescentado).4

CONCLUSÃO

Deus concede ao homem o corpo e a vida ao nascer. No corpo, Ele infunde a alma e o espírito. Ao nascer, o ser hum ano não tem noção sequer de sua existência. Sua mente começa a desenvolver-se durante a infância e vai tom ando consciência da realidade interior e exterior a seu ser. Ao tom ar ciência da realidade do que é certo e do que é errado, ele passa a ser responsável diante de Deus do que faz ou deixa de fazer com os meios colocados a seu dispor, usando a liberdade concedida pelo Criador. Um dia,
Deus pedirá contas do que o homem fez com o seu corpo, com a sua vida e com o seu tempo. Que Deus nos faça mordomos fiéis no cuidado com bens tão preciosos como nosso espírito, nossa alma e nosso corpo.


1 Enciclopédia seleções. Rio de Janeiro: Seleções do Readers Digest, 2004, p. 112.
2 Ideologia de gênero: Estudo do American College of Pediatricians. Disforia de
gênero, condições médicas e protocolos de tratamento. Disponível em: https://especiais.
gazetadopovo.com.br/ideologia-de-genero. Acesso em 17 de Novembro de 2017.
3 Hibernação – A Vida em Suspensão. Disponível em http://orbita.starmedia.
com/~inexp/TempoHibernacao.htm. Acesso em 04 de março de 2006.
4 CABRAL, Elienai. A ressurreição dos mortos, p. 28.

                                                                    Tempo, Bens e Talentos
                           Sendo Mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado.
                                                                Elinaldo Renovato de Lima







NOTA : 📌📙📘

          Quando começa o ser humano?

HERTON ESCOBAR - O ESTADO DE S.PAULO


                                     Quando começa a vida?
Essa é a pergunta que está na base de toda a polêmica em torno das células-tronco embrionárias, e é sobre ela que se sustenta a ação de inconstitucionalidade movida no Supremo Tribunal Federal contra as pesquisas com embriões humanos. Da sua resposta dependem não só o futuro da ciência com células embrionárias, mas questões relacionadas ao aborto e à regulamentação das práticas de reprodução assistida.Mas, afinal, quando começa a vida? Na fecundação, quando o espermatozóide se une ao óvulo ainda na tuba uterina? Ou cinco dias depois, quando o embrião se embrenha na parede do útero, dando início à gravidez de fato? Poderia ser na quarta semana, quando o sistema nervoso começa a estabelecer suas raízes e o coração primitivo dá suas primeira batucadas? Ou ainda, quem sabe, nove meses mais tarde, quando o bebê respira pela primeira vez fora da barriga da mãe? A resposta seria até simples, se a pergunta não estivesse errada. "A pergunta que precisa ser feita não é ?Quando começa a vida??, mas ?Quando começa o indivíduo??", diz o especialista George Daley, pesquisador de células-tronco embrionárias e hematopoéticas do Children?s Hospital de Boston e membro do Instituto de Células-Tronco de Harvard. Em outras palavras: a partir de que momento o embrião deixa der ser um aglomerado de células para se tornar um ser humano distinto, com direito à vida, nome, identidade e passaporte? "Infelizmente, isso é algo que não pode ser respondido pela ciência. É uma questão metafísica", diz o colega Doug Melton, professor de biologia da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas do mundo em células-tronco. Ainda assim, essa é a pergunta com a qual os juízes do STF terão de se digladiar quando retomarem seus trabalhos no Judiciário nesta semana. "Todas as células são formas de vida. 
Mas isso é bem diferente do conceito de vida que aplicamos a um paciente", completa Daley. O Estado conversou com vários especialistas em embriologia, geneticistas, bioeticistas, teólogos e advogados na busca de respostas para algumas das questões mais difíceis desse debate.
FORA DO ÚTERO
Ninguém nega que um embrião dentro do útero materno é uma forma de vida, ainda que no seu estágio mais primordial. Todo ser humano, afinal, começa como uma dessas minúsculas bolinhas de células, menor do que a ponta de um alfinete. O que dizer, porém, de um embrião que está fora do útero, produzido numa clínica de fertilidade e congelado dentro de um botijão de nitrogênio líquido? Teria ele os mesmos direitos que um bebê na barriga da mãe? Se a vida começa na concepção - mesmo que produzida in vitro -, o que fazer com os milhares de embriões congelados em clínicas de todo o País?Para a farmacóloga Ieda Verreschi, professora de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os embriões congelados são o mesmo que crianças. "O potencial humano está lá; foi congelado, mas está lá", defendeu Ieda, em um debate recente sobre células-tronco embrionárias na Câmara Municipal de São Paulo.A advogada Maria Garcia, professora de biodireito constitucional da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, concorda. "São seres humanos, sem dúvida. Se toda vida começa com o óvulo fecundado, como poderiam não ser? É só por cinismo ou arrogância que alguém pode dizer que não sabe onde começa a vida."O Código Civil de 2002 diz que "a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro". Já a Constituição garante a todas as pessoas a "inviolabilidade do direito à vida" - que é o que estaria sendo violado pelas pesquisas com células embrionárias, segundo a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) movida pelo ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles. Para fazer as pesquisas é necessário destruir o embrião, o que seria equivalente a um assassinato nessa interpretação. "A tese central desta petição afirma que a vida humana acontece na, e a partir da, fecundação", diz a Adin.Se um embrião congelado equivale a um nascituro, porém, é questionável. A geneticista Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), costuma argumentar que "sem útero, não há vida". A Lei de Biossegurança, publicada em 2005, autoriza as pesquisas apenas com embriões produzidos in vitro, que estejam congelados há mais de três anos e que sejam doados para a ciência com o consentimento dos "pais". São embriões excedentes que, segundo os cientistas, têm pouquíssimas chances de produzir uma gestação e que, mais cedo ou mais tarde, acabam sendo jogados no lixo - apesar de o descarte ser proibido pelo Conselho Federal de Medicina."Querer estender o conceito de pessoa a um aglomerado de células de cinco dias é um tanto forçado; eu diria até absurdo", diz o geneticista Francisco Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
IMPLANTAÇÃO
Do ponto de vista puramente biológico, a biografia de qualquer ser humano começa pelo zigoto, a célula primordial formada pela fusão do espermatozóide com o óvulo. Cada zigoto é dotado de um conjunto único de DNA, formado por combinações aleatórias do genoma da mãe e do pai. Até que isso possa se transformar em um bebê chorando na sala de parto, porém, há uma série de etapas evolutivas que precisa ser superada.A primeira é a implantação do embrião na parede do útero, cerca de uma semana após a fertilização. É só a partir daí que a mulher pode ser considerada clinicamente grávida. "Se o embrião não implanta, não vira nada, isso é fato. Sem implantação não há placenta, e sem placenta não há pessoa", diz o chefe do setor de Reprodução Humana da Universidade Federal de São Paulo, Agnaldo Cedenho. "Me parece justo pensar nisso como o início da vida."As células-tronco são extraídas de embriões de cinco ou seis dias, na fase de blastocisto. É nesse estágio (pré-implantação) que os embriões excedentes produzidos in vitro são congelados. Depois da implantação vem a gastrulação (formação dos folhetos embrionários) e a organogênese (formação dos órgãos primordiais) - processos supercomplexos que envolvem a migração e diferenciação de células embrionárias em tecidos especializados. "O embrião é vida, mas não é um ser humano. São duas coisas diferentes", diz a cientista Irene Yan, especialista em embriologia do Departamento de Biologia Celular e Desenvolvimento da USP. O ser humano, acredita ela, só poderia ser definido a partir do segundo trimestre de gestação. Antes disso, argumenta Irene, qualquer malformação faz com que o embrião (ou feto) seja rejeitado naturalmente pelo organismo.O especialista em desenvolvimento Jose Garcia Abreu, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), usa um critério morfológico. Para ele, o ser humano só se consolida a partir da 9ª semana, quando tem início o estágio fetal. "É nesse período que a espécie de fato se diferencia", diz. Anatomicamente, até a quarta semana, os embriões de quase todos os vertebrados são praticamente idênticos. No estágio de blastocisto, é impossível distinguir o embrião humano do de um rato, chimpanzé ou elefante. "Se não tiver o nome escrito no tubinho, ninguém vai saber o que é", afirma.
SISTEMA NERVOSO
Outra forma de definir o início da vida seria pelos mesmos critérios que o seu oposto: a morte. Para transplante de órgãos, a legislação brasileira, apoiada em regulamentação do Conselho Federal de Medicina, define o fim da vida pela morte encefálica, ou perda irreversível de atividade cerebral. Para muitos cientistas que defendem as pesquisas com células-tronco embrionárias, o mesmo critério deveria ser aplicado aos embriões. Se um paciente sem atividade cerebral, porém ainda respirando e com o coração batendo, pode ser considerado morto, não haveria por que um blastocisto de cinco dias, ainda sem qualquer vestígio de sistema nervoso, ser considerado vivo. 
ALMA
Para a Igreja Católica, não importa se o embrião já tem cérebro, braços ou cara de gente. Todo embrião possui alma no momento em que o espermatozóide se junta ao óvulo - seja dentro do útero ou numa bancada de laboratório. "A infusão da alma se dá quando há matéria apta para recebê-la, e isso ocorre na concepção", explica Antonio Marcchionni, professor do departamento de Teologia da PUC-SP. "O embrião é um de nós; não é cavalo, nem gato nem cachorro."Outras religiões têm visões diferentes. No judaísmo, a vida só começa de fato no nascimento. "Antes disso, existe apenas o potencial para a vida. O ser está formado no seu aspecto físico, mas ainda não possui história espiritual", diz o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista.
DECISÃO
No final, a maioria dos cientistas, independentemente de suas opiniões pessoais, reconhece que não há resposta objetiva para quando começa o ser humano. 
"A resposta mais adequada é ?não sei?", diz o especialista em bioética e professor aposentado da Faculdade de Medicina da USP Marco Segre. "A vida existe na célula, no embrião, no ser nascido. A ciência descreve, a ciência é objetiva. O resto é cultura, é crença, é tudo que você quiser."Segre acredita que a maneira mais justa de decidir a questão seria um referendo. Diante da Adin, o STF terá de decidir se o embrião é ou não é um ser humano, ainda que não defina exatamente "quando começa a vida".


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