domingo, 23 de junho de 2019

Lição 13 - O Sacerdócio Celestial










Lição 13 - O Sacerdócio Celestial 

2º Trimestre de 2019
ESBOÇO 
I – O SACERDÓCIO CELESTIAL TEM UM ÚNICO SUMO SACERDOTE 
II – O SACERDÓCIO UNIVERSAL DA IGREJA 
III – O MAIOR E MAIS PERFEITO TABERNÁCULO
Elienai Cabral
O Tabernáculo Era o Verbo que se Fez Carne (Jo 1.14)
A primeira coisa que temos de entender nesta escritura é a revelação da Deidade do Verbo: “No princípio era o Verbo, [...] e o Verbo era Deus”, ou seja, o unigênito Filho, isto é, “o Unigênito de Deus” (Jo 1.1,14,18).  
Na língua grega do NT, a palavra “verbo” é “Logos”, e isso indica que só o “Deus-Homem” (Jesus, que se fez carne) pôde revelar plenamente a Deus na forma de homem para poder ser compreendido. O texto diz literalmente: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). 
A palavra “carne” significa tão somente a natureza humana assumida por Jesus. A expressão “o Verbo se fez carne” traduz-se como eskenosen, no grego bíblico, e significa “habitou num tabernáculo”, ou seja, “o verbo se fez homem”. Paulo emprega a expressão “tenda” para referir-se ao corpo como “morada terrena”. Do mesmo modo, Cristo foi a manifestação visível de Deus em carne para habitar entre o seu povo. Ele foi a plena manifestação da presença divina no meio do seu povo. Paulo escreveu a Timóteo, dizendo: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido acima, na glória” (1 Tm 3.16). O Filho de Deus fez-se homem sem deixar de ser Deus. Assim como a Palavra de Deus vive e permanece para sempre (ver 1 Pe 1.23), assim também o Verbo de Deus, uma vez feito homem, permanecerá para sempre “Deus-Homem”.      
Entendemos, portanto, sem sombra de dúvida, que a igualdade de natureza divina entre Deus Pai e Deus Filho foi possível porque Jesus foi gerado pelo Espírito Santo. A palavra “unigênito”, em relação ao Filho de Deus, aparece na língua grega do NT como monogenes, que significa que vem de mono, ou seja, único, singular, e genes, que advém de ginomai, que significa “ser, existente”. Subentende-se que monogenes significa: único de sua classe, único em seu gênero, único em sua espécie e diferente a toda coisa criada. Portanto, o Verbo, sendo Deus, tem a mesma natureza de Deus e a “expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). 
O Tabernáculo de Deus na Terra É a Igreja de Cristo
Se nem o Tabernáculo de Moisés, nem o Templo de Salomão e nem os outros templos reconstruídos em Israel não existem mais, onde Deus habita agora? Os mais lindos santuários foram construídos ao longo da historia. Desde os tempos do AT até os nossos tempos, podemos entender por que a Escritura em Atos 17.24 declara que Deus “não habita em templos feitos por mãos de homens”. Portanto, não são os templos materiais que tem a Deus como morador permanente. Tem-se a presença imanente de Deus nos nossos templos, mas sua habitação não é em lugares físicos, como foi em Israel. 
No Tabernáculo do deserto, a presença de Deus era sentida na simbologia dos mobiliários existentes, especialmente a “Arca da Aliança”. Deus vê a igreja local como casa espiritual, isto é, Ele está presente na vida da igreja através do Espírito Santo. Esta casa espiritual (a Igreja) é construída com pedras espirituais que são os remidos pelo sangue de Cristo. Esta é a morada de Deus na terra (ver 1 Pe 2.4-9). Ele, Jesus, é o Tabernáculo de Deus com os homens, porque Ele morará com eles, e eles serão seu povo (ver Ap 21.3).     
O Tabernáculo de Deus É, particularmente, o Crente
Aprendemos que o Tabernáculo é uma antecipação do Cristo de Deus e do deleite que Ele tem em seu povo redimido. Visto que todo crente é identificado na Bíblia como “pedra viva” edificada como casa espiritual e sacerdócio santo, o Tabernáculo é símbolo de todo crente. A presença de Cristo é sentida com a vinda do Espírito Santo, que o Filho enviou para viver e morar no crente. Jesus disse aos seus discípulos: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós” (Jo 14.16,17). Outra verdade acerca da morada do Espírito Santo no crente é o selo da promessa que se refere à garantia dessa morada do Espírito Santo no crente e da obra expiatória efetuada por Cristo. O texto de Paulo diz: “[...] fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória” (Ef 1.13,14). Não há, portanto, o que duvidar: nosso corpo é, particularmente, o Tabernáculo do Espírito Santo (ver 1 Co 6.19).  
Texto extraído da obra “O TABERNÁCULO”, editada pela CPAD.




                                   O SUMO SACERDOTE QUE NECESSITAMOS

Hebreus 7:26-28

O autor abunda ainda no pensamento de Jesus como sacerdote. Começa esta passagem usando uma série de grandes palavras e frases para descrever a Jesus.

(1) Jesus é santo. Usa a palavra hosios que no Novo Testamento aplica a Jesus em Atos 2:27 e 13:35 e ao Senhor em Apocalipse 15:4 e 16:5. Usa-se do bispo cristão em Tito 1:18. Aplica-se às mãos que o homem deve apresentar a Deus em oração emf1 Timóteo 2:18. Atrás deste termo esconde-se sempre uma idéia particular. Descreve ao homem que fiel e meticulosamente realiza sempre sua obrigação para com Deus; o homem não tanto como aparece perante seus semelhantes mas sim como aparece perante Deus. Hosios é o termo que expressa a maior das bondades: a que é pura à vista de Deus.

 (2) Jesus é inocente. Em grego usa-se o adjetivo akakos. Kakia é a palavra grega para mal; o termo descreve ao homem limpo de todo mal e cheio de todo bem; o homem em sua influência sobre seus semelhantes. Sir Walter Scott reclamava para si mesmo como escritor o não ter jamais corrompido a moral do homem ou minado sua fé. O homem akakos é aquele que está tão purificado que sua presença serve de antiséptico e que em seu coração não abriga mais que a amante bondade de Deus.

 (3) Jesus é sem mancha. A palavra grega amiantos descreve o homem que está absolutamente livre de qualquer mancha ou contaminação que pudesse incapacitá-lo para apresentar-se perante Deus. A vítima impura não pode ser oferecida a Deus; o homem desonrado não pode aproximar-se a Ele. Mas aquele que é amiantos está capacitado para entrar na presença de Deus.

(4) Jesus é afastado dos pecadores. Esta frase deve ser entendida em seu significado próprio. Não se diz que Jesus não foi realmente homem; de maneira nenhuma trata-se de privar Jesus de sua humanidade plena. Jesus estava afastado dos pecadores porque apesar de ser inteiramente homem e de confrontar todas as tentações humanas, jamais caiu em tentação alguma, mas ao contrario, superou-as e saiu delas sem pecado. A diferença entre Ele e outros homens não está em que não fora inteiramente humano, mas no fato de que Ele era a verdadeira humanidade no sentido mais alto e sublime, o homem sem pecado.

(5) Finalmente diz que Jesus foi feito mais sublime que os céus. Nesta frase pensa na ascensão e exaltação de Jesus. Se a última frase sublinha a perfeição da humanidade de Jesus esta sublinha a perfeição de sua divindade. Aquele que era homem entre os homens é também aquele que foi exaltado à mão direita de Deus. O autor ainda introduz aqui outro aspecto pelo qual o sacerdócio de Jesus Cristo era muito superior ao levítico. Antes que o sumo sacerdote pudesse oferecer sacrifícios pelos pecados do povo devia fazê-lo primeiro por seus próprios pecados porque era um homem pecador.

O autor pensa particularmente no dia da expiação. Este era um dia solene em que se fazia a expiação por todos os pecados do povo, o dia em que o sumo sacerdote desempenhava sua função suprema. Ordinariamente era o único dia do ano em que pessoalmente oferecia sacrifícios. Outros dias os sacrifícios estavam em mãos dos sacerdotes subordinados, mas no dia da expiação oficiava o próprio sumo sacerdote.

Agora, o primeiro ato no ritual desse dia era um sacrifício pelos pecados do próprio sumo sacerdote. Lavava as mãos e os pés; depunha suas vestimentas suntuosas; revestia-se de imaculado linho branco; eralhe trazido um novilho que tinha adquirido com seu próprio dinheiro e ele colocava as mãos sobre a cabeça para transferir ao animal seus próprios pecados, fazendo a confissão: "Oh meu Senhor e meu Deus!, cometi iniqüidade; transpassei a Lei, pequei; eu e a minha casa. Oh Senhor!, vou a ti, cobre os pecados e as transgressões que cometi, as transgressões e os pecados em tua presença tanto de minha parte como de minha casa.

" O maior de todos os sacrifícios levíticos começava com um sacrifício pelo pecado do próprio sumo sacerdote. Este é um sacrifício que Jesus jamais precisou fazer porque Ele não tinha pecado. O sumo sacerdote levítico era um homem pecador que oferecia o sacrifício de animais por outros pecadores; Jesus era o filho de Deus, sem pecado, que se oferecia a si mesmo pelo pecado de todos os homens. O sumo sacerdócio levítico tinha sido estabelecido pela Lei, mas o próprio juramento de Deus tinha dado a Jesus seu cargo. E porque era o que era — o Filho de Deus sem pecado — estava em perfeitas condições para seu ofício, como nenhum sumo sacerdote humano poderia jamais estar.

E agora o autor faz o que costuma fazer com freqüência nesta carta. Dá um sinal para indicar a direção que empreenderá. Diz de Jesus que se ofereceu a si mesmo. Para um sacrifício era preciso duas coisas. O sacerdote que oferecesse o sacrifício e o próprio sacrifício. Com uma longa e intrincada argumentação, o autor demonstrou que Jesus é o perfeito sumo sacerdote; agora se encaminha para outro pensamento: Jesus não só é o perfeito sumo sacerdote mas também a perfeita oferta. O autor vai continuar mostrando que só Jesus pode abrir o caminho para Deus porque é o perfeito sumo sacerdote e ofereceu um sacrifício perfeito: justamente o sacrifício de si mesmo.

Nesta argumentação há muito que para nós é difícil de entender. Fala-se e se pensa em termos de ritos e cerimônias já esquecidos há muito tempo; mas há algo eterno que permanece. O homem busca a presença de Deus; seu pecado erigiu uma barreira entre ele e Deus; o homem não tem descanso até descansar em Deus; e só Jesus é o sacerdote que pode oferecer a única oferta capaz de abrir de novo aos homens o caminho a Deus.

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O SACRIFÍCIO QUE ABRE O CAMINHO A DEUS

 Hebreus 9:11-14

Quando buscamos entender o significado desta passagem, devemos começar lembrando três coisas que são básicas e fundamentais no pensamento do autor de Hebreus, e que não se apartam jamais de sua mente e seu pensamento. As três coisas são:

(1) A religião é o acesso a Deus. A função de toda religião é levar o homem à presença de Deus.

 (2) Este mundo é um mundo de pálidas sombras e cópias imperfeitas; para além deste mundo está o mundo das realidades. A função de todo culto é pôr o homem em contato com as realidades eternas. 
Para isso que estava destinado o culto e o ritual do tabernáculo; mas o tabernáculo terreno era uma pálida cópia do verdadeiro tabernáculo, o celestial; o culto terrestre é um reflexo remoto do verdadeiro culto; e só o verdadeiro tabernáculo e o verdadeiro culto podem dar acesso à realidade.

 (3) Não pode haver religião sem sacrifício. A pureza é algo custoso; o acesso a Deus exige pureza; de algum modo deve ser expiado o pecado do homem; sua impureza deve ser limpeza de algum modo. E até que isto aconteça não pode haver acesso dos homens a Deus. Com estas idéias em mente, o autor de Hebreus passa a mostrar que Jesus é o único sumo sacerdote que pode levar os homens a Deus; e que só ele traz um sacrifício que pode abrir o caminho para Deus; e que esse sacrifício é Ele próprio.

Assim, pois, para começar, o autor refere-se a alguns dos grandes sacrifícios que os judeus costumavam fazer sob a antiga aliança com Deus.

(1) Figurava o sacrifício de bodes. Com isto ele se refere-se a dois dos grandes sacrifícios do Dia da Expiação — o sacrifício do bezerro que o sumo sacerdote oferecia por seus próprios pecados, e o sacrifício do "bode expiatório" que era conduzido ao deserto levando sobre si os pecados do povo (Levítico 16:15,2, 22). Já vimos o papel que desempenhavam estes sacrifícios no ritual do Dia da Expiação.

(2) Figurava o sacrifício da novilha vermelha, cujo estranho ritual se descreve em Números 19. Segundo a Lei cerimonial judia, se alguém tocava um cadáver ficava poluído. Ficava separado do culto de Deus e tudo o que tocasse – pessoas ou coisas – ficava poluído. Havia para isto um método de purificação, cujo ritual era o seguinte. matava-se uma novilha vermelha fora do acampamento. O sacerdote aspergia o sangue da novilha sete vezes diante do tabernáculo. Logo queimava-se o corpo do animal junto com madeira de cedro e hissopo e uma parte de pano vermelho. As cinzas resultantes eram colocadas fora do acampamento em lugar limpo, e constituíam uma purificação do pecado. Tanto a origem como o significado deste ritual são totalmente desconhecidos. Deve ter sido muito antigo, tão antigo que estava envolto na escuridão.

Os judeus diziam que uma vez um gentio interrogou o rabino Jocanan Ben Zaceo sobre o significado deste rito, e comentou que lhe parecia pura superstição e magia; a resposta do rabino foi que tinha sido ordenado pelo Santo e que os homens não deviam inquirir sua razões, e que o assunto devia ficar sem explicação. Em todo caso, ainda que o significado e a origem estejam mais além de toda explicação, o certo é que constituía um dos grandes ritos sagrados dos judeus.

O autor fala destes sacrifícios e declara que o sacrifício que Jesus ofereceu é muito maior e mais eficaz. Em primeiro termo devemos perguntar o que entende por o maior e mais perfeito tabernáculo, o tabernáculo não feito de mãos e que realmente leva os homens perante a presença de Deus. Trata-se de uma questão difícil para a qual ninguém pode dar uma resposta indiscutível. Mas os antigos investigadores a respondiam em geral de uma maneira: diziam que o novo tabernáculo que conduz os homens à própria presença de Deus não era outro senão corpo de Jesus. Jesus veio à Terra num corpo, num tabernáculo. E ao vir assim trouxe Deus aos homens e levou os homens à presença de Deus. É outra maneira de expressar o que afirmava João: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14:9). O culto do tabernáculo antigo estava destinado a levar os homens perante a presença de Deus. Isto podia realizá-lo só da maneira mais imperfeita e pálida. O advento de Jesus leva real e verdadeiramente os homens perante a presença de Deus porque nele Deus veio a este mundo do tempo e do espaço em forma humana. Ver Jesus é ver como é Deus.

Agora devemos perguntar no que radica a enorme superioridade do sacrifício que Jesus ofereceu. Em três pontos.

(1) Os antigos sacrifícios purificavam o corpo do homem de impurezas rituais; o sacrifício de Jesus purifica as almas dos homens. Devemos lembrar sempre que em teoria todo sacrifício purificava dos pecados contra a Lei ritual e contra os requerimentos da Lei; não purificava dos pecados de presunção que provêm do coração arrogante. Por exemplo o caso da novilha vermelha. Não era a impureza moral a que este sacrifício podia eliminar; não havia purificação do pecado; o que podia purificar provinha da impureza cerimonial e corporal como conseqüência de ter tocado um corpo morto. O corpo do homem podia ser purificado no sentido ritual, mas seu coração estar atormentado pelo remorso, angustiado pela compunção. Podia sentir que lhe estava aberto o ingresso ao tabernáculo e, entretanto, encontrar-se longe da presença de Deus. Podia sentir que a barreira ao culto ritual estava removida, enquanto seguia fechada a porta à presença de Deus. O sacrifício de Jesus tira da consciência do homem a carga de culpa. Jesus por sua vida e sua morte trouxe aos homens a imagem do amor de Deus para que saibam que o caminho a um Deus que ama desta maneira está sempre totalmente aberto. Os sacrifícios de animais da antiga aliança podiam deixar o homem afastado de Deus; o sacrifício de Jesus mostra a um Deus cujos braços estão sempre estendidos para conosco e cujo coração é só amor.

 (2) O sacrifício de Jesus brinda uma redenção eterna. A idéia é que os homens estavam sob o domínio do pecado; baixo sua escravidão. E assim como deve pagar um preço para libertar um homem da escravidão, assim também deve-se pagar o preço para libertar o homem do pecado. O homem está tão envolto no pecado que não pode por si mesmo libertar-se dele. Para ter liberdade requer-se o poder de Cristo.

(3) O sacrifício de Cristo capacita o homem a deixar as obras de morte e converter-se em servo do Deus vivo. Quer dizer, que Jesus não só ganha o perdão para o estado pecaminoso do homem, mas também o capacita para que sua vida futura seja uma vida santa e boa. O sacrifício de Jesus não olha só ao passado, mas também ao futuro. Não só faz com que o homem esteja perdoado, mas também que seja bom. Não só paga uma dívida, mas também concede uma vitória. Jesus pôs o homem em boas relações com Deus e o que faz o capacita a manter essas relações. O fato da cruz oferece aos homens o amor de Deus eliminando o terror; a presença do Cristo vivo brinda aos homens o poder de Deus para ganhar diariamente uma vitória sobre o pecado.

 Westcott estabelece quatro modos nos quais o sacrifício de Jesus difere dos sacrifícios de animais do antigo pacto.

(1) O sacrifício de Jesus é voluntário. Um animal morre porque tem que morrer; Jesus escolheu a morte. O animal é-lhe tirado a vida; Jesus deu sua vida. O sacrifício de Jesus não foi uma exigência forçada mas sim entregou voluntariamente a vida por seus amigos.

 (2) O sacrifício de Jesus foi espontâneo. O sacrifício de um animal fazia-se de acordo com as prescrições e ordenanças da Lei, era inteiramente produto da Lei; o sacrifício de Jesus é inteiramente produto do amor. Pagamos a dívida a um comerciante porque devemos fazê-lo mas damos um presente aos que amamos porque desejamos fazê-lo. Não é a Lei mas sim o amor o que está por trás do sacrifício de Jesus. (3) O sacrifício de Jesus foi racional. A vítima animal não sabia o que sucedia ou o que se fazia, não pensava nem raciocinava. Jesus sabia todo o tempo o que estava fazendo. Morreu não como vítima ignorante apanhada por circunstâncias que não controla nem entende, mas com os olhos abertos sabendo de onde vinha, aonde ia e o que estava fazendo.

(4) O sacrifício de Jesus foi moral. O sacrifício de animais era mecânico: o ritual era levado a cabo de acordo com a norma estabelecida. As engrenagens das prescrições moíam sua rotina. O sacrifício de Jesus se fez, como o expressa o autor, mediante o espírito eterno. Não foi um mecanismo legal o que operou no sacrifício de Jesus mas sim o Espírito de Deus. O que aconteceu no Calvário não foi o cumprimento automático de algum ritual, mas sim porque a vontade de Jesus obedecia à vontade divina em favor dos homens, atrás dEle não estava o mecanismo da Lei, mas sim a decisão do amor.

A ÚNICA MANEIRA PELA QUAL OS PECADOS PODEM SER PERDOADOS

Hebreus 9:15-22

Esta é uma das passagens mais difíceis de toda a carta. Não terá sido difícil para os que a leram pela primeira vez, porque estavam familiarizados com seu método de argumentação e expressão e suas categorias de pensamento, que para nós são totalmente estranhos.
Como vimos, a idéia de aliança é básica no pensamento do autor da Carta; com aliança queria indicar uma relação entre Deus e o homem. Agora, a primeira aliança dependia da observância da Lei. Tão logo o homem quebrantou a Lei, a aliança se tornou ineficaz. Lembremos a idéia básica de nosso autor sobre o significado e a função da religião. A religião significa o acesso a Deus. Por esta razão o significado básico da nova aliança que Jesus Cristo trouxe e inaugurou, é que os homens tenham acesso a Deus, que — para dizê-lo de outra maneira — possam ter comunhão com Deus. Mas aqui está a dificuldade. Os homens vêm à nova aliança já manchados com os pecados e as desobediências cometidas sob a antiga aliança; vivem com a culpa de ter transgredido a Lei com pecados que o antigo sistema sacrificial era impotente para expiar. Assim, pois, o autor tem um pensamento tremendo — diz que o sacrifício de Jesus Cristo é retroativo. Quer dizer, que o sacrifício de Cristo é capaz de eliminar as conseqüências dos pecados cometidos sob a antiga aliança e de inaugurar a comunhão que se promete para a nova aliança.

Agora, tudo isto parece muito difícil e complicado mas no coração de tudo há duas grandes verdades eternas. Em primeiro lugar o sacrifício de Jesus obtém o perdão de nosso passado pecaminoso. Teríamos que ser castigados pelo que fizemos, deveríamos ser lançados longe de Deus por todos os nossos pecados e desobediências. Mas em razão do que Jesus fez o passado está apagado, a dívida fica cancelada, Deus pôs atrás de si nossos pecados, a transgressão é perdoada e são eliminadas as barreiras. Em segundo lugar, o sacrifício de Jesus nos abre uma nova vida futura. Abre-nos o caminho da comunhão com Deus. O Deus de quem nossos pecados tinham feito um estranho fez-se amigo pelo sacrifício de Cristo. Por meio de Jesus Cristo nos abre novamente a possibilidade de viver uma vida diária de amizade e comunhão com Deus. Pelo que Jesus fez e pelo que é, o peso do passado desaba e a vida futura se torna uma vida com Deus.

 Mas este é o próximo passo no argumento que nos parece construído em forma fantástica. A pergunta que está na mente do autor é a seguinte: Por que esta nova relação com Deus inclui a morte de Cristo? Por que Ele teve que morrer antes que a nova relação se tornasse efetiva e operante? O autor de Hebreus responde a esta questão de duas maneiras.

(1) Sua primeira resposta se baseia — algo incrível para nós — nada menos que num trocadilho. Já vimos que aliança corresponde a diatheke. Mas também que o uso de diatheke no sentido de aliança é caracteristicamente cristão, enquanto que o significado secular era testamento. Agora, antes do versículo 16 o autor tinha usado diatheke no sentido normal cristão de aliança; e de repente, sem aviso nem explicação, passa ao sentido de testamento. Agora, um testamento não se torna efetivo e operante enquanto não morre o testador; a morte do testador é um pré-requisito sem o qual o testamento não é efetivo.
Assim, pois, o autor diz que nenhuma diatheke, testamento, pode ser efetivo enquanto não intervenha a morte do testador. Por isso a nova aliança, a nova diatheke, aliança, não pode fazer-se efetiva sem a morte de Jesus Cristo.

Evidentemente trata-se de um argumento meramente verbal e que de maneira nenhuma convence a mentalidade moderna. Mas deve-se lembrar que a fundamentação de um argumento no jogo de significados de uma mesma palavra era de fato um método favorito entre os investigadores alexandrinos da época em que se teria escrito a Carta. De fato este mesmo argumento, para nós tão fantástico e pouco convincente teria sido considerado nos dias do autor da Carta uma peça mestra e de extrema penetração. Tal argumentação teria sido saudada com um respeito cheio de admiração e não com uma surpresa incrédula.

(2) Sua segunda resposta retrocede ao sistema sacrificial hebreu. Dá até o mesmo versículo fundamental de Levítico 17:11: “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida.” "Sem efusão de sangue não pode haver expiação do pecado", era de fato um princípio hebraico bem conhecido e estabelecido definitivamente. Assim, pois, o autor retrocede na inauguração da primeira aliança sob Moisés na ocasião em que o povo tinha aceito a Lei como condição de sua especial relação com Deus. Ali nos diz como se fez o sacrifício e como Moisés “tomou metade do sangue e o pôs em bacias; e a outra metade aspergiu sobre o altar”. E depois que leu o livro da Lei e o povo deu a entender sua aceitação “tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o SENHOR fez convosco a respeito de todas estas palavras” (Êxodo 24:1-8).

É muito certo que a memória do autor não foi inteiramente fiel nesta evocação. Introduz bezerros, bodes, escarlate e hissopo que provêm do ritual do dia da expiação porque este dia estava tão gravado em sua mente. Fala da aspersão de um tabernáculo que naquela época ainda não tinha sido construído; mas novamente é o tabernáculo aquele que está tão gravado em sua mente. A idéia básica sublinha que não pode ocorrer purificação alguma, que não se pode ratificar uma aliança sem aspersão de sangue. Por que deve ser assim, não sabe e não lhe é perguntado. A Escritura diz que é assim e isto lhe basta para sua argumentação. A razão provável é que na estimativa do hebreu o sangue é a vida e esta é a coisa mais preciosa do mundo. O homem deve oferecer a Deus a coisa mais preciosa da vida.

Agora, tudo isto retrocede a um ritual que só possui um interesse de museu. Mas no fundo há um princípio eterno que será válido enquanto o mundo perdure. Este princípio é: O perdão é algo custoso; o perdão humano é custoso. Um filho ou uma filha podem ter-se equivocado e um pai ou uma mãe ter perdoado; mas esse perdão produziu lágrimas, tirou cãs, deixou sulcos no rosto, uma aguda angústia e logo uma dor surda no coração. Não é que não custou nada. É preciso pagar o preço de um coração destroçado. O perdão divino é custoso. Deus é amor mas é também santidade. Deus é o último de todos em poder quebrantar as grandes leis morais sobre as quais está edificado o mundo. O pecado deve ter seu castigo para que não se desintegre a própria estrutura da vida. E somente Deus pode pagar o preço terrível e necessário antes que o homem seja perdoado. O perdão nunca consiste em dizer: "Está bem; não aconteceu nada." O perdão é a coisa mais custosa do mundo. Sem aspersão do sangue do coração não pode haver remissão nem perdão de tão surpreendente violência como o contemplar o efeito de seu pecado. Não há nada que faça repensar o homem com pecado numa pessoa que o ame, ou em Deus que o ama para sempre, e dizer-se a si mesmo: "Isto é o que custou o perdão de meu pecado." Quando há perdão alguém deve ter sido crucificado.


                                                                                                      Hebreus (William Barclay)



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