__/___/____ Lição 12 - A autoridade das Armas Espirituais
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Ef
6.10-17
10 -
No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.
11 -
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as
astutas ciladas do diabo.
12 -
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século,
contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.
13 -
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau
e, havendo feito tudo, ficar firmes.
14 -
Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a
couraça da justiça;
15 -
E calçados os pés na preparação do evangelho da paz;
16 -
Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos
inflamados do maligno.
17 -
Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de
Deus;
TEXTO ÁUREO
"Porque as
armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para
destruição das fortalezas;Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se
levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à
obediência de Cristo." 2
Co 10.4,5
COMENTÁRIO
Palavra
introdutória
Estudaremos, nessa lição, a chave para a
vitória nas batalhas espirituais: as armas que compõem a armadura de Deus. O
cristão deve conhecer e manusear adequadamente essas armas, pois se constituem
em condição imprescindível para a vitória no embate espiritual.
Ao aludir ao legionário do exército romano,
Paulo apresenta as seis poderosas armas que formam uma armadura espiritual para
o soldado cristão enfrentar o império das trevas.
A armadura (Gr. panóplia, o pacote completo
das peças que a compõem) com a qual o cristão deve revestir-se é descrita, pelo
apóstolo Paulo, de forma similar a vestidura bélica de um soldado romano. Da
mesma forma, ao preparar-se para a batalha, os guerreiros do evangelho precisam
equipar-se com as peças de proteção e ataque que compõem seu equipamento.
1. O CINTURÃO DA VERDADE
O primeiro elemento da armadura espiritual
é a verdade (Gr. aletheia, fidelidade, lealdade, integridade). Na figura
militar usada por Paulo, o item correspondente ao cinto (Gr. zoma, cinturão)
que prendia todas as demais peças ao corpo do soldado. É uma citação da
profecia messiânica de Isaías, ao dizer que a verdade será o cinto usado pelo
Salvador (Is 11.5b).
Devem os cristãos, motivados pela verdade
do evangelho, viver de modo autêntico (Ef 4.25). O Espírito de Deus é
responsável por conduzir o rebanho de Cristo pelos caminhos prefeitos de Deus
(Jo 16.13; Sl 119.5).
A verdade é considerada fundamental por
Paulo (Ef 4.15), porque um cristão desonesto não pode esperar resistir ao pai
da mentira, o diabo (Jo 8.44). A verdade em questão aqui também é a
integridade, demonstrada por meio da autenticidade e da honestidade (2 Co 8.21;
Fp 4.8).
2. A COURAÇA DA JUSTIÇA
A couraça e a cota da malha aparecem na
Bíblia como símbolos de proteção, tanto no sentido próprio como no figurado (1
Sm 17.5,38; 2 Cr 26.14). A couraça também é símbolo de justiça e fé (Is 59.17;
1 Ts 5.8; Ap 9.17).
Na armadura, a couraça (Gr. Thoroka,
peitoral) era uma peça de proteção dos órgãos vitais e da parte superior do
abdômen. A aplicação dessa peça à justiça ou retidão aponta para o ato de Deus
em tornar-nos retos, perdoados, em Cristo, por causa da nossa frágil condição
espiritual (Is 64.6; Rm 3.23).
Jesus Cristo é a fonte de toda justiça. Foi
Ele quem, sem jamais ter pecado, fez-se pecado por nós (2 Co 5.21). Essa
justiça revela um aspecto forense, imputada através de um decreto divino,
escrito com o sangue expiatório de Cristo (1 Co 6.11; Tt 3.7).
Essa peça da armadura espiritual compõe a
necessária defesa para proteger o coração do homem contra os ataques de Satanás
na esfera emocional, fragilizando-o com mágoas, ressentimentos, iras rancores.
Quando o emocional encontra-se enfraquecido, também o corpo físico e alma
padecem (Jó 17.7; Gl 5.20).
3. AS SANDÁLIAS DO EVANGELHO DA PAZ
Os soldados romanos calçavam sandálias (Lt.
Caligae, botas) reforçadas para percorrer longas distâncias. No espesso solado,
havia grandes travas que firmavam seus pés no chão. O apóstolo Paulo descreve o
ato de calçar (Gr. Hypodesamenoi) os pés, aplicando-o ao processo
evangelizatório.
Devem portanto, os cristãos calçar as
sandálias do evangelho a fim de cumprir a grande comissão (Mt 28.19,20),
pregando, em todos os lugares, a boa nova da reconciliação, que é Cristo Jesus
(Mq 5.5; Ef 2.14).
Quando os cristãos assumem o compromisso de
avançar, com o propósito firme de realizar missões, promove-se, no mundo, a paz
real (Is 52.7). Lembremo-nos sempre de que anunciar o evangelho não é uma opção
para o cristão, mas uma obrigação! (1 Co 9.16).
A paz de Cristo recoloca o pecador em
comunhão com Deus (Is 53.5; Rm 5.10). promove saúde e bem estar social (2 Jo
1.3; Tg 3.18). Por ter sido justificado, o cristão pode prosseguir rumo à perfeição,
tendo seu alvo definido: a retidão de Cristo" (Mt 5.48; Cl 2.10).
4. O ESCUDO DA FÉ
O escudo (Gr. thyreon, escudo retangular,
feito de madeira e coberto de couro) usado pelo soldado romano consistia em uma
arma de proteção grande o suficiente para proteger todo o corpo do soldado das
flechas incendiárias lançadas pelo arqueiros do exército inimigo. Essa vívida
descrição tem uma relação bem próxima com o papel protetor da fé (Sl 5.12).
Dúvidas e questionamentos sobre a vontade
de Deus deixam o cristão vulnerável aos ataques do inimigo (Mt 14.31; Tg 1.6;
Jd 1.21,22). Satanás aproveita tais brechas para enfraquecer os cristãos e
enredá-los para a apostasia (2 Ts 2.3). O pecado alastra-se como o fogo e, por
isso, resulta em esfriamento espiritual.
Mas, o apóstolo Paulo reafirma o poder do
Senhor em guardar os Seus e edificá-los na fé (Jd 1.20). Além disso, Jesus
também promete galardoar os fieis (Hb 11.6), pois Ele tem prazer quando eles
lhe dirigem a confiança (Jo 5.46; 17.20). Nesse sentido, fé é sinônimo de
entrega total: o coração, pensamento, a vida, enfim, tudo o que somos, temos e
fazemos (Pv 3.5; Mt 10.37,38).
5. O CAPACETE DA SALVAÇÃO
O capacete (Gr. perikephalain, elmo)
constitui-se em uma peça fundamental da armadura, uma vez que protege a cabeça
do soldado durante os combates. Na guerra, golpes na cabeça são, quase sempre,
fatais. Psicologicamente, também, muitas batalhas são ganhas e outras perdidas
na mente. Por isso, tanto a cabeça como o cérebro precisam de proteção.
O capacete da salvação protege o cristão da
degradação do pecado.
A fonte paulina é o profeta Isaías, que
descreve o Messias que traz o elmo da salvação na cabeça (Is 59.17).
Ratifica-se, assim, que a salvação de Deus não depende do ser humano (Ez
22.30), mas ocorre com dádiva graciosa de Deus (Ef 2.8; 4.7).
A Bíblia cito os capacetes quando fala
sobre o exército de Uzias (2 Cr 26..14). O capacete foi chamado de elmo por
Jeremias (Jr 46.4). Os invasores de Jerusalém usariam capacetes (Ez 23.24). Em
sentido figurado, o capacete representa a nossa salvação, visto que protege a
cabeça (mente) (FILLION, Central Gospel, 2008, p. 705).
6. A ESPADA DO ESPÍRITO - A PALAVRA DE DEUS
A espada (Gr. Machairan, espadin, punhal) é
a única arma de ataque na descrição paulina da armadura de Deus. Todas as
demais possuem natureza defensiva.
A Palavra de Deus como a espada do Espírito
significa que a terceira pessoa da trindade:
·
Torna a Palavra eficaz, ativa e vigorosa na vida do
cristão (Jo 6.63);
·
Sonda os pensamentos e propósitos do coração
humano (Hb 4.12);
·
Interpreta
a Palavra de Deus ensinado-nos Seus
estatutos (Jo 14.26);
·
Determina
a conduta ética e moral a ser praticada
pelos homens (Rm 8.5-9).
A cada cristão foi dado o poder de Deus
para lutar e vencer pela observância de Sua Palavra. Na lógica divina,
obediência é sinônimo de vitória (1 Sm 15.22).
Muitas vezes, sabemos de antemão se as
situações em que nos envolvemos resultarão ou não em pecado (Jo 16.8).
Portanto, a maneira óbvia de não ceder à tentação é evitar tais circunstâncias.
Geralmente, corremos o perigo de ceder às tentações de ordem sexual (1 Co 6.18;
2 Tm 2.22), à idolatria (1 Co 10.14) e à cobiça por bens materiais e riquezas
(1 Tm 6.9-11). A Palavra de Deus nos conduz à santificação (Hb 12.14), à
perfeita adoração (Hb 13.15) e a não colocarmos nossa esperança na incerteza
das riquezas (1 Tm 6.17).
CONCLUSÃO
Precisamos revestir-nos com a armadura de
Deus (Ef 6.13-17), pela adesão ao ensino do evangelho. Afinal, somos a Igreja
do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade (1 Tm 3.15). O Senhor tem convocado
cada cristão para defender, como Seus soldados, os valores do Reino (Mc 8.38).
Para isso, não podemos ficar apenas no
conhecimento das armas espirituais. Devemos usá-las, a fim de que possamos
lutar, resistir e, por fim, vencer a guerra contra o diabo, seus demônios e
contra o pecado que tão de perto nos rodeia (Hb 12.1).
Fonte: Revista Lições da Palavra de Deus n° 58
A ARMADURA DE DEUS
Efésios 6:10-20
Quando Paulo
se despede dos seus, pensa na enorme luta que os espera. Sem dúvida na
antigüidade a vida era muito mais terrível que em nossos dias. As pessoas criam
cegamente em demônios, diabos e maus espíritos. Pensavam que o ar estava
infestado desses maus espíritos, todos empenhados em danificar ao homem. Os
termos que Paulo usa — principados, potestades, governadores — são todos nomes
de diferentes classes de espíritos e demônios. Para Paulo o universo inteiro
era um campo de batalha. O cristão não só tinha que lutar nos ataques dos
homens, mas também nos ataques de forças espirituais que lutavam contra Deus.
Nós podemos não interpretar literalmente a linguagem de Paulo; mas sabemos por
experiência que o mal é um poder ativo neste mundo.
Robert Louis
Stevenson disse uma vez: "Conhecem a estação de ferrovia de Caledonia em
Edimburgo? Numa manhã fria quando soprava o vento do Este, encontrei-me ali com
Satanás". Não sabemos qual foi de fato a experiência de Stevenson, mas
admitimos esta experiência; todos temos sentido a força deste mau influxo que
tenta induzir-nos ao pecado. Isto é o que em substância pensa Paulo quando fala
dos demônios.
Assim Paulo
se prepara para a defesa; e de repente adverte que tem diante dos olhos uma
ilustração acabada. Durante todo este tempo Paulo estava encadeado pelo punho a
um soldado romano. O soldado estava ali noite e dia para evitar que escapasse;
o apóstolo era literalmente um embaixador em cadeias. Agora, Paulo era a classe
de homem que podia dar-se bem com qualquer pessoa; sem dúvida tinha falado com
freqüência com os soldados forçados a estar tão perto dele. Quando está
escrevendo levanta o olhar e a contemplação da armadura do soldado lhe sugere
uma imagem. Também o cristão tem sua armadura. Paulo menciona parte por parte a
armadura do soldado romano, traduzindo-a em termos cristãos.
Havia o
cinto da verdade. Era o cinto que rodeava a túnica do soldado e do qual pendia
a espada; o cinto lhe dava liberdade de movimento. Os outros podem conjeturar e
andar tateando; o cristão se move livre e rapidamente porque em qualquer
situação conhece a verdade.
Havia a
couraça de justiça. Quando um homem está revestido da justiça é inexpugnável.
Não são as palavras as que defendem contra a acusação, mas sim a vida boa. Uma
vez alguém acusou a Platão de certos crimes e pecados. "Pois bem",
disse Platão, "devemos viver de tal maneira que demonstremos a mentira
destas acusações". A única maneira de enfrentar as acusações contra o
cristianismo é demonstrar quão bom pode ser um cristão. Havia as sandálias, que
eram o sinal de que alguém estava equipado e preparado para a marcha. O sinal
do cristão é seu afã de estar no caminho para pregar o evangelho e participá-lo
a outros. Ele está sempre disposto a comunicar a boa notícia de Cristo aos que
não a conhecem.
Havia o escudo. A palavra que Paulo usa para
escudo não se aplica ao relativamente pequeno escudo redondo, mas sim ao grande
e oblongo que levava o guerreiro pesadamente armado. Uma das armas mais
perigosas nas guerras da antigüidade era o dardo aceso. Era um dardo que levava
na ponta uma estopa empapada em breu. Esta estopa era acesa ao arrojar o dardo.
Mas o grande escudo oblongo era a arma própria para extingui-lo. O escudo era
feito de duas placas de madeira grudadas. Quando um desses dardos chocava-se
com o escudo cravavase na madeira e a chama se extinguia sozinha. A fé pode
enfrentar os dardos da tentação. Para Paulo a fé é sempre plena e perfeita
confiança em Cristo. Isto significa que a fé é sempre uma estreita relação
pessoal com Cristo; quando partimos estreitamente unidos a Cristo nos vemos
livres da tentação.
A salvação é
simbolizada pelo capacete. Lembremos sempre que a salvação não apenas olha para
trás – não significa apenas o perdão dos pecados passados, mas também a
fortaleza frente a todo futuro ataque do pecado. A salvação que está em Cristo
nos dá o perdão dos pecados passados e a fortaleza para vencer o pecado futuro.
Há uma
espada, que é a palavra de Deus. A palavra de Deus é uma arma que se usa ao
mesmo tempo para a defesa e para o ataque. A palavra de Deus é a arma para nos
defender contra o pecado e para atacar e vencer o pecado do mundo. Os
cavaleiros de Cromwell lutavam com a espada numa mão e a Bíblia na outra.
Jamais poderemos derrotar os inimigos de Deus ou ganhar as batalhas divinas sem
o Livro divino.
Finalmente
Paulo chega à arma mais poderosa — a oração. São três as coisas que devemos
notar aqui com respeito à oração.
(a) Deve ser
constante. Deve-se orar em todos os momentos da vida. Talvez a maior falha da
vida cristã seja que freqüentemente tendemos a orar só nas grandes crises da
vida. Só pela oração diária o cristão torna-se forte cada dia.
(b) Tem que
ser intensa. Não tem que ser sonolenta, mas sim perseverante. Exige
concentração. Uma oração frouxa não leva a parte alguma; exige a concentração
em Deus de todas as faculdades. (c) Não deve ser egoísta; deve abranger a todo
o povo consagrado de Deus. Os judeus diziam: "Que o homem se una em suas
orações com a comunidade". Penso que freqüentemente oramos por nós mesmos
e muito pouco por outros. Devemos aprender a orar tanto e tão intensamente
pelos outros como por nós.
Finalmente
Paulo se encomenda à oração de seus amigos. E não pede o bem-estar e a paz, mas
sim a graça de poder transmitir o mistério do evangelho, que o amor de Deus é
para todos os homens, para todo mundo. É preciso sempre lembrar que nenhum
líder cristão ou pregador cristão podem levar a cabo sua obra se seu povo não
sustentar suas mãos com a oração.
A BÊNÇÃO FINAL
Efésios 6:21-24
Como vimos, a Carta aos Efésios é uma carta
encíclica e aquele que a levou de Igreja em Igreja foi Tíquico. Diferente das
outras Cartas, Efésios não nos dá nenhuma informação pessoal de Paulo, exceto
que estava na prisão; mas Tíquico em seu percurso das Igrejas daria informações
sobre o estado de Paulo e transmitiria uma mensagem pessoal de alento.
Assim, pois,
Paulo termina com uma bênção em que aparecem de novo todos os termos
importantes que conhecemos: a paz que é o bem mais excelente do homem; a fé que
descansa total e confidencialmente em Cristo; a graça que é o dom gratuito do
amor de Deus. Paulo pede que todos estes dons venham sobre seus amigos do alto,
das mãos de Deus. E acima de tudo pede pelo amor: que conheçam o amor de Deus;
que amem os homens como Deus os amou; que amem a Jesus Cristo com um amor
imperecível.
Efésios (William Barclay)
Depois de
mostrar aos efésios o padrão cristão para os vários aspectos da vida cotidiana,
o apóstolo Paulo conduz-nos para dentro de um ambiente de guerra. Não se trata
de uma guerra comum, física ou política, mas de uma guerra espiritual, em que
se luta com armas espirituais. O apóstolo mostra como enfrentar e vencer os
inimigos nessa batalha, apresentando um equipamento individual, com o qual, devidamente preparado, o crente pode lutar.
1 . PREPARAÇÃO PARA A BATALHA — 6.10,11
Toda e qualquer
batalha requer preparação e estratégia. Ninguém se lança numa luta
despreparado. Essa preparação requer cuidados que se tornam indispensáveis para
o sucesso da batalha.
1.1. Fortalecimento — v. 10
"No demais,
irmãos meus" é uma frase própria de um relacionamento bem pessoal do
apóstolo. O uso das palavras "irmãos meus" denota uma linguagem
tipicamente cristã, porque indica uma família, a família de Deus. Essa família
espiritual não conhece diferenças de cor, língua, raça ou sangue, mas reúne
brancos, negros, amarelos e vermelhos, que formam uma só família em Cristo,
tendo como Pai o nosso grande Deus e Senhor.
"... fortalecei-vos" ou "sede
fortalecidos". A palavra no grego é endunamousthe e significa fortaleza,
tornar-se forte. Outra palavra no grego com o mesmo sentido é krataioomai, que
quer dizer "ser fortalecido", "ser corroborado". Ninguém
poderá entrar numa batalha enfraquecido. O convite do apóstolo —
"fortalecei-vos" — implica na busca de poder espiritual que capacita
o crente a enfrentar os inimigos no campo de batalha. Paulo sabia que essa luta
é renhida e requer força espiritual, por isso ele induz os crentes à busca de
poder.
De que tipo de fortalecimento Paulo fala e qual a sua fonte?
Note a continuação da frase: "fortalecei-vos nos Senhor e na força do seu
poder". Observe que o texto deve ser interpretado espiritualmente. Não se
trata de fortalecimento físico, mas espiritual. O crente por si mesmo e com
suas próprias forças jamais poderá suportar uma guerra espiritual. Inimigos
espirituais são enfrentados com armas espirituais.
"Fortalecei-vos no Senhor" implica um
fortalecimento de nossa posição nEIe, isto é, no Senhor. Estamos nEle,
posicionados nEle, como os membros estão no nosso corpo. As mãos e os pés
sustentam o corpo; se uma das mãos ou um dos pés estiver sem força, todo o
corpo sofrerá. As mãos e os pés têm sua posição no corpo, e, para o bem do
corpo, cada mão ou cada pé deve ser fortalecido. Paulo fortalecia sua posição
no Senhor e por isso diz: "Posso todas as coisas naquele que me
fortalece".
Donde procede essa força espiritual que capacita o crente a
lutar contra inimigos espirituais? Tal força procede do poder de Deus, como
afirma o texto: "e na força do seu poder". Esse poder e força se
encontram na fortaleza do Senhor.
1.2. Conhecimento — v. 11
"Revesti-vos de toda a armadura de Deus". Duas coisas que devem ser
conhecidas pelo lutador espiritual se destacam nesse versículo.
Em primeiro lugar, o crente deve conhecer a armadura de Deus,
que é o equipamento pessoal de guerra. O texto inicia com um convite:
"Revesti-vos". A palavra "revestir" dá a idéia de vestir
sobre outra vestimenta, pois o significado da expressão é "vestir de
novo". Entendo que, nessa luta espiritual, é necessário mais que as armas
próprias do crente, que são válidas, mas incapazes de vencer esses inimigos.
Por isso, o convite é: "Revesti-vos" da "armadura de Deus".
Nos versos 14 a 17 temos a especificação das armas defensivas e ofensivas. A
palavra "armadura" está no original grego como panoplia, que inclui
todas as armas; não só um tipo de armamento, mas todas as peças do armamento. A
lição que aprendemos aqui é que o crente, para lutar, precisa estar devidamente
equipado para a luta, isto é, precisa vestir-se com todas as peças
indispensáveis da armadura espiritual — "Revesti-vos de toda a armadura de
Deus". Um equipamento incompleto torna o crente vulnerável aos ataques
satânicos. Em segundo lugar, o lutador precisa conhecer "as astutas
ciladas do diabo". A expressão "astutas ciladas" pode ser
explicada por outros termos que ajudarão na elucidação do texto. A palavra
grega methodia quer dizer métodos, e "astutas ciladas" podem ser
traduzidas por "métodos artificiosos", isto é, meios de engano.
Portanto, para a methodia de Satanás o crente tem aplanopia de Deus. Esses
artifícios são ciladas perigosas que surgem com ares de inocência, mas que são
preparadas para pegar de surpresa o crente desprevenido, tanto na esfera
física, como moral, material e espiritual.
1.3. Capacitação — v. 11
"Para que possais estar firmes". O verbo
"poder" tem uma conotação especial nesse versículo. Ele tem a ver com
a capacitação espiritual para a batalha. Os soldados nas organizações militares
são treinados para a guerra: para a defesa e para o ataque; assim também ocorre
no plano espiritual. A igreja é o quartel general, onde o soldado de Cristo é
preparado e capacitado para a batalha espiritual. Nosso general é Cristo, e o
Espírito Santo é o instrutor que capacita o crente para a batalha. Não se trata
aqui de capacitação intelectual, mas espiritual. Somos capacitados pela
Palavra, isto é, a Palavra é que nos habilita para o combate.
2 .
O CAMPO DE BATALHA — 6.11,12
Toda batalha tem seu campo de ação e envolve todos os
aspectos próprios de uma guerra, como o lugar de combate, os inimigos, a
estratégia, as armas de defesa e de ataque etc. O campo de batalha espiritual
não se limita a alguma área geográfica e terrena, mas abrange todo e qualquer
lugar onde o reino de Deus esteja. Onde estiver um crente fiel sequer, ali se
tornará um campo de batalha.
O apóstolo declara enfaticamente que essa batalha não é
física nem terrena, mas espiritual. Essa declaração está no versículo 12:
"Porque não temos de lutar contra a carne e o sangue". A expressão
"carne e o sangue" denota a espécie da batalha. Não é luta humana de
homens contra homens, mas é luta espiritual contra inimigos espirituais. A
palavra "lugar" aparece no grego como palé e indica o tipo de luta
individual, corpo a corpo. Paulo usou essa palavra baseado no tipo de luta que
havia nos jogos gregos e, posteriormente, nas arenas romanas, onde os lutadores
lutavam corpo a corpo até a morte de um deles. O que Paulo queria dizer com a
expressão "carne e sangue" é que não se tratava de uma luta carnal ou
material.
2.1. O lugar de combate — v. 12
"... nos lugares celestiais". Mais uma vez
fortifica-se o fato de que se trata de uma luta espiritual, não terrena. No
grego, a frase "nos lugares celestiais" aparece como en tois
epouraniois. Algumas versões preferem "regiões celestiais". Onde
acontece essa batalha? É na Terra ou fora da Terra? É uma batalha visível ou
invisível? Claro que não podemos apontar algum ponto no espaço ou na Terra nem
esperar algum tipo de combate material, porque a batalha é espiritual, e só os
espirituais podem lutar e conhecer esses inimigos, que são espirituais (1 Co
2). Diversas vezes encontramos a expressão "regiões [lugares]
celestiais" na carta aos Efésios. Esses "lugares celestiais"
possuem conotações distintas em algumas das vezes citadas na carta. A palavra
"lugares", no plural, indica que há mais de um lugar nas regiões
celestiais. Nas passagens de Efésios 1.3 e 2.6, esses "lugares
celestiais" indicam a posição do crente em Cristo. Uma posição elevada,
isto é, colocada acima da vida do mundo. Entretanto, no texto de 6.12, o
significado da expressão "lugares celestiais" é outro. Indica os
lugares onde Satanás e suas hostes habitam e comandam toda a sua guerra contra
Deus e contra os remidos do Senhor.
O combate do crente contra as forças do mal é nas
"regiões [lugares] celestiais". Como a batalha é espiritual, resta ao
crente lutar com as armas espirituais contra poderes espirituais. O ataque de
Satanás é contra a nossa posição espiritual. Ele quer nos fazer descer para o
plano carnal e material para dominar sobre nós. Nossa luta "nos lugares
celestiais" é para conservar a nossa posição em Cristo.
2.2. Os inimigos nessa batalha — vv. 11,12
Destacam-se alguns inimigos que estão sob o mesmo comando de
Satanás.
2.2.1. O diabo —v. 11 "
... astutas ciladas do diabo". Esse versículo identifica
pessoalmente o diabo como o inimigo número um dos remidos. Quem é ele? O diabo
é um "querubim" caído (Ez 28.12- 17). É o chefe geral de todos os
anjos que o acompanharam na sua rebelião contra Deus. Ele é chamado "o
príncipe deste mundo" (Jo 12.31); "o deus deste século" (2 Co
4.4). "É o grande dragão"; "a antiga serpente" etc. Ele é o
principal inimigo do crente nessa batalha. Ele combate pessoalmente e comanda
seus espíritos maus contra o crente.
2.2.2. hostes espirituais da maldade — v. 12
Essas hostes incluem
várias ordens ou classes de espíritos caídos. O reino de Satanás é organizado
em hostes especiais. O texto apresenta basicamente três categorias de inimigos
que são os escalões de Satanás.
"... contra os
principados, contra as potestades". São dois tipos de ordens angelicais de
Satanás que designam espíritos que exercem atividades de comando sobre outros
demônios contra os remidos. A expressão "príncipes das trevas deste
século" é a mesma coisa que designar, como está em algumas versões:
"governadores das trevas" ou "dominadores mundiais das
trevas". Eles são espíritos que comandam o entenebrecimento espiritual (as
trevas) neste século.
3 .
AS ARMAS ESPIRITUAIS DESSA BATALHA —
6.13-17
3.1.O imperativo da batalha — v. 13
"Portanto, tomai
toda a armadura de Deus". O apóstolo ordena a posse dessas armas com um
imperativo: TOMAI. Ele não ordenou que se fizessem armas, mas que se tomassem
as armas existentes. Não há o que nos possa preocupar. As armas existem e estão
à disposição dos remidos. As armas humanas são frágeis e impróprias para essa
batalha espiritual.
3.2. A resistência no "dia mau" da batalha — v. 13
"... para que
possais resistir no dia mau". O "dia mau" não precisa ser
especificamente um dia de 24 horas, mas pode representar aquele dia, ou hora ou
minuto em que somos surpreendidos com doenças, tentações, circunstâncias
inesperadas etc. Para que possamos resistir nesse "dia mau",
precisamos estar alerta, tomando posse das armas espirituais que nos capacitam
para a resistência. "... e, havendo feito tudo, ficar firmes". Depois
de havermos superado as dificuldades e termos vestido toda a armadura de Deus,
resta apenas estarmos em pé para o combate. Nossa armadura espiritual não é
para ser exibida, mas para ser usada contra o inimigo. Visto que o adversário é
sagaz e cheio de malícia, o soldado de Cristo não pode descuidar-se: ele deve
"estar firme", isto é, estar em pé com o sentido de prontidão para
qualquer eventualidade de ataque do inimigo.
3.3. A designação das armas — vv. 14-17
Notemos que Paulo inspirou-se nas armas militares de seu
tempo, mui especialmente nas armas romanas. E claro que essas armas são uma
figura das armas espirituais. São armas cujas peças formam um "todo"
e envolvem "o corpo total".
a) Armas defensivas para o corpo — "o cinto da
verdade" e a "couraça da justiça" (v. 14).
b) Para os pés — "calçados... na preparação do
evangelho" (v. 15).
c) Para as mãos —
"o escudo da fé" (v. 16).
d) Para a cabeça — "o capacete da salvação" (v.
17).
e) Para a boca — "a espada do Espírito" (v. 17).
3.3.1. O cinto da verdade — v. 14
O texto literal é "cingidos com a verdade". O cinto
é a peça que cinge, isto é, que segura ou prende as roupas à cintura. Significa
que todas as roupagens espirituais que usamos devem estar com a verdade.
Usava-se no armamento romano um cinto para prender a couraça e o resto da
roupa. Esse cinto vinha cheio de pedras semipreciosas e era usado com muito
orgulho pelo soldado. A finalidade do cinto era prender os pontos dos vestidos,
deixando livres as pernas do soldado, que assim podia se movimentar.
3.3.2. A couraça da
justiça — v. 14
A principal finalidade da couraça é defender, isto é,
proteger o peito. A justiça deve permear a vida e os atos do lutador cristão. A
justiça aqui se une com a verdade, e elas podem ser notadas frontalmente pelos
inimigos (Is 59.17; 1 Ts 5.8). A "couraça" protege das setas mortais
do inimigo. Na nossa luta espiritual, a "justiça e a verdade" andam
de mãos dadas.
3.3.3. Calçados... na preparação do evangelho — v. 75
"... e calçados
os pés na preparação do evangelho da paz". Os calçados são importantes
para os pés do lutador na guerra. Nos tempos romanos, em que Paulo se inspirou
para fazer a analogia das armas, o soldado usava um tipo de sandália com cravos
nas solas que ajudavam o soldado a não deslizar, dando-lhe segurança. Portanto,
a significação da expressão paulina para "calçados na preparação do
evangelho da paz" tem a ver com a segurança da mensagem que pregamos. O
Evangelho é poder — dunamis, no grego — contra as forças do mal.
A palavra "preparação" tem o sentido de prontidão.
Os calçados deviam oferecer segurança e capacidade de prontidão em momentos
inesperados, isto é, prontidão sem riscos de quedas ou deslizamentos. Outro
termo que se destaca no versículo é "evangelho", que significa boa
novas, boas notícias ou mensagem. O soldado calçado com o Evangelho exerce
também o papel de mensageiro. Nessa batalha espiritual, nossos inimigos
quererão arrancar nossos calçados para que não levemos a vitória do Evangelho
da paz ao mundo perdido.
3.3.4. Escudo da fé —
v. 16
"... tomando
sobretudo o escudo da fé". O escudo é a arma defensiva contra os ataques
diretos do inimigo. O soldado prendia o escudo num dos braços. Esse escudo
tinha a forma de um prato gigante, que servia para proteger todo o corpo. A fé
diz respeito à nossa confiança e crença doutrinária. Um soldado cristão sem
escudo é soldado vulnerável aos ataques satânicos. O conhecimento da Palavra de
Deus forma o "corpo da fé", ou seja, o escudo da fé que protege o
crente contra as heresias e mentiras satânicas.
"... com o qual podereis apagar todos os dardos
inflamados do maligno". Que são esses dardos inflamados? Eram estopas
embebidas em alguma substância inflamável, que eram acesas e lançadas em
flechas contra o adversário. Havia naquele tempo escudos muito frágeis, feitos
de madeira. Os inimigos lançavam esses "dardos inflamados" para
queimar o escudo e tornar vulnerável o corpo do soldado para ser atingido. No
sentido espiritual, o diabo lança suas flechas com dardos inflamados de
carnalidade e maldade para enfraquecer o crente, mas nosso escudo deve ser o
"escudo da fé", que impede a destruição com fogo. Nossa fé deve ser a
força incontestável que derrota o diabo. A fé aqui tem um sentido
transcendental, não natural. A confiança em Deus deteriora DS poderes malignos.
3.3.5. O capacete da
salvação — v. 17
"Tomai também o
capacete da salvação". No grego, a palavra 'capacete" é
perikephalaia. O capacete servia para proteger a cabeça. Nos tempos antigos, os
capacetes eram feitos com figuras decoradas de animais ou carrancas para
intimidar o adversário ou para representar o usuário do capacete. O apóstolo
usou a figura do capacete para representar a salvação. A cabeça é a parte mais
vulnerável do corpo, por isso o lutador a protegia com um capacete. As figuras
representativas usadas no capacete tinham o objetivo de mostrar a força e a
inteligência do lutador. O crente, por sua vez, toma posse do
"capacete" da salvação, que é a segurança máxima de sua vida, pois se
a cabeça for atingida, ele corre o risco de perder a salvação.
3.3.6. A espada do Espírito — v. 17
"... e a espada do Espírito, que é a Palavra de
Deus". Havia dois tipos de espada usadas numa batalha. Uma era feita de
várias formas e tamanhos, normalmente de bronze. No grego, esse tipo de espada
chamava-se ziphos. O bronze pode representar a presença do Espírito Santo na
vida do crente. O outro tipo, no grego machaira, era um pouco mais curta que a
ziphos e era usada pelos gladiadores. Quanto à dimensão da espada, o texto não
se preocupa; preocupa-se antes com o seu manuseio. A espada era arma de ataque.
O texto diz que a "espada do Espírito é a Palavra de Deus". A Palavra
das Escrituras é a espada do Espírito contra o erro, contra a mentira e a
presunção. Só essa espada pode vencer o diabo e o pecado. É uma arma ofensiva.
A Palavra pregada ou ensinada com autoridade é a espada do Espírito em ação. A
nossa própria palavra é frágil, mas a Palavra de Deus é poderosa. G. H. Lacy,
em seu Comentário da Carta aos Efésios, diz: "Os grandes triunfos dos
evangelistas se devem ao fato de fazerem muito uso da Palavra de Deus em suas
pregações. Os que pregam filosofia ou sutilezas da lógica moderna podem
convencer o intelecto, mas não movem o coração". Portanto, é a Palavra de
Deus a maior arma de defesa e ataque que o crente tem à sua disposição: (Hb
4.12; 2 Pe 1.21). A espada de dois fios corta em dois sentidos. De um lado ela
convence e converte; do outro, condena (SI 45.3,5). É uma espada que sai da
boca de Cristo (Ap 1.16; 19.15). Com a espada nas mãos dos santos (Sl 149.6), o
mundo será convencido do Evangelho pelo poder da Palavra de Deus — "a
espada do Espírito" (2 Tm 3.16; Hb 3.7; 1 Pe 1.11).
4 .
PROVISÃO NA BATALHA — 6.18-20
Qual a maior provisão
do crente na batalha contra o mal? É a oração! Alguns intérpretes têm colocado
a oração conforme está no texto: como uma das armas do crente. Esse ponto de
vista é aceitável, já que não há nenhuma implicação doutrinária e os
intérpretes são livres para apresentar pontos de vista pessoais. Eu,
particularmente, creio que a oração faz parte da batalha como provisão para o
soldado.
4.1. A oração na batalha — vv. 18,19
"Orando
em todo o tempo". A palavra "orando" está no gerúndio, o que dá
a idéia de continuidade da ação. Podemos concluir que a oração faz parte
permanente de todo o equipamento de guerra exposto nos versículos precedentes
(vv. 14-17). Cada uma das armas espirituais, desde o "cinto" até a
"espada", deve ser vestida com a oração. Consideremos as partes para
compreendermos claramente a finalidade do texto.
4.1.1. Em todo o tempo — v.18
Orar
"em todo o tempo" não significa passar o tempo ajoelhado em oração,
mas podemos orar "em todo o tempo" no Espírito, isto é, em comunhão
com Deus. O bom lutador é aquele que atenciosamente está ligado ao seu
comandante para lutar. A oração, na guerra espiritual, tem o sentido de
comunhão com o seu comandante. Não é desligar-se do trabalho que tem a fazer,
mas é o soldado fazer exatamente o que o seu comandante espera que ele faça. Na
batalha espiritual, a carne é o inimigo mais ferrenho, e, para vencê-la, a
melhor arma é a oração. A espada (a Palavra), sem oração, nada pode fazer.
Orar
"em todo o tempo" é orar incessantemente. É estar todo o tempo pronto
para a comunicação com o Senhor. É a via de comunicação sem fios para falar com
Deus (Cl 4.2; 1 Ts 5.17). Podemos orar viajando, andando na rua, trabalhando,
descansando ou em outras circunstâncias quaisquer. Esse tipo de oração envolve,
antes de tudo, a mente. Jesus condenou os fariseus que oravam nas praças,
movendo os lábios para serem vistos pelos homens. Entretanto, posso estar em
qualquer lugar e, sem ser notado, estar orando no meu interior. Como se pode
orar dessa forma? O tópico seguinte explica.
4.1.2. Com súplica no Espírito — v. 18
Existem vários tipos de oração, quais sejam:
a) a oração
de invocação;
b) a oração
de intercessão;
c) a oração
de louvor e adoração;
d) a oração
de súplica; e e. a oração de petição. A expressão "com toda a oração"
está ligada aos vários tipos de oração sugeridas na Bíblia. A continuação do
texto apresenta a oração de "súplica". E a oração humilde que se faz
em grandes necessidades. É a oração que se faz com instância, com rogo. E a
oração feita com a consciência da necessidade e com o reconhecimento da
grandeza do Senhor e da nossa pequenez diante dEle, como fez Jairo diante de
Jesus, quando prostrou-se em terra, e disse: "Rogo-te" (Mc 5.22).
"No
Espírito". Observe a colocação da frase: "Com toda a oração e súplica
no Espírito". Qual é a oração no Espírito? Antes analisemos três tipos de
oração que falam da palavra "espírito". Há a "oração com o
espírito" (1 Co 14.14,15), que é a oração do espírito do crente, não do
Espírito Santo, mas produzida pelo Espírito Santo. Aqui aprendemos que é o
Espírito Santo quem ensina o nosso espírito interior a orar. As línguas
estranhas, que são a evidência inicial do batismo com o Espírito Santo, são
faladas pelo nosso espírito interior através da boca. É a oração sem a
interferência da mente, porque ela surge do espírito do crente. Entretanto,
Paulo orienta para que se ore com o espírito (1 Co 14.15) e, também, com o
entendimento. O segundo tipo de oração é a "oração em espírito", que
é a oração silenciosa, mental, que se faz em qualquer ocasião, trabalhando ou
não, na rua ou em casa. É a oração meditativa que se faz com a Bíblia aberta. É
a oração em momentos difíceis onde não se pode alçar a voz, mas pode-se elevar
o espírito interior à comunhão com Deus e dEle receber a resposta. O terceiro
tipo de oração é "a oração no Espírito" (Ef 6.18). Esse tipo envolve
aquela oração produzida pelo Espírito Santo, isto é, ensinada por Ele.
Portanto, é o Espírito Santo quem nos ensina e habilita a orar a Deus (Rm
8.15,26; Gl 4.6; Jd 20). É a oração que recebe o impulso do Espírito para
interceder, para adorar e louvar a Deus.
4.1.3. Vigiando com perseverança — v. 18
O sentido da palavra "vigiando"
refere-se a não estar dormindo no campo de batalha (Ef 5.14). O lutador tem que
vigiar, isto é, estar de olhos abertos e atentos para os eventuais ataques de
surpresa do inimigo. A frase pode ficar assim: "vigiando com toda a
instância".
4.1.4. Por todos os santos — v. 18
É a
continuação do versículo: "orando em todo o tempo, com toda a oração e
súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por
todos os santos". Entendemos que essa oração tem o sentido de intercessão.
A palavra "santos" diz respeito a todos os remidos por Cristo. Não
são os santos mortos e feitos esculturas. São os santos (os crentes) vivos.
Paulo exortava os efésios a orarem com intercessão por todos os seus irmãos na
fé. A igreja, constituída de pessoas de todas as raças, línguas e nações, forma
uma irmandade mais que humana, pois é também espiritual. Nessa irmandade não há
diferenças. Todos têm os mesmos direitos e bênçãos. Esse espírito fraterno e
cristão deve manifestar-se nas ações de uns para com os outros. Por isso, não
importa se não conhecemos fisicamente nossos irmãos na fé do outro lado do
mundo. O que importa é que eles participam de nossa santificação espiritual e
são chamados "santos" como nós. Por isso oramos "por todos os
santos" em todo o mundo.
G. H. Lacy
escreveu na pág. 184 de seu Comentário da Carta aos Efésios: "Segundo os
ensinos deste versículo (v. 18), o crente: primeiro — deve praticar todas as
classes de oração; segundo — tem que orar em toda a ocasião propícia; terceiro
— tem que orar no Espírito; quarto — tem que estar alerta e perseverar no
desempenho do dever; quinto — tem de orar "por todos os santos".
4.1.5. ...e
por mim — v. 19
Paulo
solicita a intercessão em seu favor. A lição oferecida aqui é que nenhuma
pessoa viva pode dispensar a ajuda intercessória dos santos a seu próprio
favor. Paulo era exemplo em tudo quanto ensinava. Ele orava incessantemente por
todos e carecia da mesma ajuda. Sua batalha era ferrenha contra as forças do
mal, e ele sabia que sozinho não podia vencer. Ele precisava de força
espiritual e sabia que as intercessões a seu favor muito o ajudariam. A
intercessão sincera anula qualquer presunção diante de Deus e nos torna
acessíveis às bênçãos que pedimos.
4.1.6. A palavra com confiança — vv. 19,20
A continuação do verso 19 apresenta a razão do
pedido de intercessão que Paulo faz em seu favor. Primeiro, "para que me
seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança". Paulo não
queria "abrir a boca" para falar de si mesmo ou para falar de vãs
filosofias, como os gregos, senão de Jesus Cristo, o Salvador e Senhor. Ele
precisava de coragem moral e espiritual para que, ao "abrir a boca",
a palavra saísse com segurança e confiança. Nessa batalha espiritual, a espada
do Espírito, que é a Palavra de Deus, precisava movimentar-se com firmeza, e
Paulo deseja usá-la "com confiança" e ter golpes certeiros contra o
pecado. Segundo, "para fazer notório o mistério do evangelho" (v.
19). Esse mistério já foi revelado aos "santos", mas aos que estão em
trevas lhes é desconhecido. Por isso, precisamos notificá-lo a todos os homens.
E o mistério do poder transformador (Rm 1.16) que o Evangelho realiza na vida
dos pecadores. Para "fazer notório" esse mistério é preciso poder
espiritual. Terceiro, "pelo qual sou embaixador" (v. 20), isto é,
representante legal de Cristo. O embaixador é aquele que representa os
interesses de um governo e os do seu dirigente máximo. Paulo era representante
de Cristo "em cadeias" (v. 20). Quando escreveu a sua carta aos
efésios, estava preso em Roma, mas assim mesmo não deixou preso o seu
ministério, nem se calou, antes anunciava o reino de Cristo e o mistério do
Evangelho. A expressão "em cadeias" aparece no grego como en halusei,
que dá a idéia da forma de prisão ou cadeia a que estava preso o apóstolo.
Comentário Bíblico Efésios
- Elienai Cabral
Muito bom estudo. Deus os abençoe e capacite cada vez mais.
ResponderExcluirObrigada, fico feliz e grata a Deus por estar contribuindo ´para o seu Reino, Deus o abençoe !
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