INTRODUÇÃO
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eremos
advertidos, agora, a ser mais reverentes com as coisas de Deus. Na tragédia de
Nadabe e Abiú, talvez estejamos a ver o destino que nos aguarda, caso não nos
arrependamos de nossos pecados, insolências e descasos quanto ao ministério que
o Senhor Jesus nos confiou.
Embora Nadabe e Abiú fossem candidatos
naturais ao sumo sacerdócio de Israel, corrompendo-se em seus privilégios,
relaxaram em relação às suas responsabilidades perante Deus e diante do povo de
Israel. A pergunta não deve ser evitada: Será que não estamos a agir de igual
maneira? Ter privilégios não constitui pecado algum. Mas fazer deles o fim de
nosso ministério pode levar-nos à perdição eterna. Zelemos, pois, pelo ofício
com que Jesus, por intermédio do Espírito Santo, agraciou-nos.
Não há dúvida de que a desgraça de Nadabe e
Abiú poderia ser evitada. A desventura que nos espreita também pode ser
evitada; arrependamo-nos. É chegado o momento de os obreiros de Deus julgarmos
a nós mesmos para não sermos condenados com o mundo.
Acompanhemos a biografia tristemente
interrompida de Nadabe e Abiú
I. NADABE E ABIÚ, OS FILHOS DO
SACERDÓCIO
Na sociedade
israelita, a nobreza era constituída não apenas pelos descendentes reais,
ministros de Estado e chefes militares, mas igualmente pela classe sacerdotal.
Aliás, os ministros do altar eram considerados, em virtude de seu ofício, mais
nobres do que os próprios nobres. Nesse contexto, Nadabe e Abiú, por serem
filhos do sumo sacerdote Arão, encontravam-se na cimeira social de Israel.
1.
Um nascimento nobre.
Nadabe e
Abiú pertenciam à tribo de Levi, distinguida com o sacerdócio divino (Nm 3.12).
Os homens desse clã eram contados entre as primícias do Senhor, conforme o
próprio Deus havia declarado: “Os levitas serão meus” (Nm 3.1-12). Pode haver
maior nobreza do que essa?
Os levitas eram benquistos em todo Israel. Nem
mesmo a tribo de Judá, designada a reinar sobre a herança divina, desfrutava de
semelhante deferência. Os seus privilégios não se limitavam à esfera social;
economicamente, também, achavam-se bem-apanhados.
2.
Ascendência araônica.
Além de
pertencerem à tribo de Levi, Nadabe e Abíu provinham da família de Arão,
escolhida por Deus para exercer o sumo sacerdócio (Êx 6.23; 28.1). Era o ofício
mais honroso de todo o Israel. Nem mesmo os reis podiam exercê-lo (2 Cr 26.18).
De acordo com a genealogia de Arão, eram Nadabe e Abíú os seus sucessores
naturais e imediatos nesse glorioso ministério.
Naquele período, por não haver ainda rei
em Israel, os sacerdotes eram vistos como a única classe nobre dos hebreus. No
caso de Nadabe e Abiú tal honra era centuplicada. Afinal, eram filhos de Arão;
os próximos sumos sacerdotes. Às vezes, pergunto-me se tantos privilégios não
poderão arruinarnos eventualmente.
Que honrarias e privilégios são uma bênção,
ninguém o nega. Mas, como administrar elogios, louvores, comendas, mimos e
presentes? Se nos virmos afogados em tais “bênçãos”, fujamos delas enquanto
estamos inteiros. Doutra forma, pereceremos. Certa feita, declarou Agostinho:
“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, pois
sempre acabam por me corromper”.
Não sabemos se Nadabe e Abiú foram
instruídos por Arão a resistir às glórias profanas que, sem o percebermos, vão
nos cercando o ofício divino. Portanto, se o nosso filho tiver um chamado
ministerial, preparemo-lo não apenas acadêmica, mas principalmente quanto à
espiritualidade, boa conduta e ética. Caso contrário, ele virá a perecer como
desgraçadamente pereceram os filhos de Arão.
Não faz muito tempo, o atual presidente
da Convenção Geral das Assembleias de Deus, pastor José Wellington da Costa
Júnior, realizou um encontro para filhos de pastores, em São Paulo. As
palestras ficaram a cargo de três jovens obreiros: José Wellington Costa Neto,
filho de nosso presidente; Ailton José Alves Júnior, filho do pastor da
Assembleia de Deus, no Recife; e Gunar Berg Doreto de Andrade, responsável pelo
núcleo de educação superior da FAETAD, em campinas. Emocionei-me ao ver o meu
filho num grupo tão seleto. Mas, ao mesmo tempo, senti um peso muito grande:
“Tenho eu, realmente, preparado meu filho ao santo ministério?”. Sempre que
posso, aconselho-o a portar-se como autêntico homem de Deus. Todavia, sei que
eu mesmo tenho de comportar-me como seu maior referencial.
Espero que outras reuniões semelhantes a essa
sejam realizadas noutras convenções e ministérios. Saibamos como preparar a
próxima geração de obreiros da Obra Pentecostal.
3.
A subsistência do altar.
Tendo vista
sua ascendência levítica e sacerdotal, Nadabe e Abiú não tinham por que se
preocupar com a própria subsistência. Por serem filhos de Arão, sua manutenção
era tida como sagrada em Israel: “Isto será a obrigação perpétua dos filhos de
Israel, devida a Arão e seus filhos, por ser a porção do sacerdote, oferecida,
da parte dos filhos de Israel, dos sacrifícios pacíficos; é a sua oferta ao
SENHOR” (Êx 29.28, ARA).
Noutras palavras, Nadabe e Abiú já
haviam nascido aposentados. Quer viessem a assumir quer não o sumo sacerdócio,
não precisariam se preocupar com o pão cotidiano. Nem todos, porém, estão aptos
a receber semelhante privilégio. Alguns lançar-se-ão no ócio; logo perecerão.
Outros, entretanto, negando o ócio, buscarão aprimorar seus talentos e dons
para melhor servir ao Senhor.
Ainda que tenhamos recursos para
sustentar nossos filhos, preparemo-los sabiamente para que garantam o próprio
sustento. E mesmo que estejamos convictos de que este ou aquele filho
suceder-nos-á à frente do rebanho, não deixemos de formá-los profissionalmente.
Já imaginou um pastor que não saiba fazer tendas? O que fará num tempo de
crise?
Quanto a mim, comecei a trabalhar aos
doze anos. Ali, naquele depósito de madeiras recicladas, na cidade paulista de
São Bernardo do Campo, empenhava-me a bater a quota diária. Depois, fui
trabalhar como gráfico na Imprensa Metodista. Dois anos depois, fui admitido no
Banco Sul Brasileiro. Seguindo minha vocação inicial, passei nove anos na Rádio
Diário do Grande ABC. E, ao deixá-la, fui chamado a trabalhar, em 1984, na Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, onde, pela graça divina, encontro-me até
hoje.
Minha experiência profissional
enriqueceu-me ministerialmente. Hoje, agradeço aos meus pais por me ensinarem a
ganhar o pão cotidiano. O mesmo fiz em relação aos meus filhos, e quero que
eles ajam de igual maneira em relação aos seus filhos.
II. NADABE E ABIÚ, TEÓLOGOS SOBERBOS
Nadabe e
Abiú não eram desinformados nem ignorantes com respeito às coisas de Deus.
Àquela altura, já podiam ser considerados teólogos maduros e experimentados.
Infelizmente, tamanha instrução não foi suficiente para livrá-los do inferno.
1.
Nadabe e Abiú eram letrados. A alfabetização, naquele tempo,
ainda não era universal nem mesmo em Israel, que já era louvado como o povo do Livro.
Todavia, a classe sacerdotal, pelo que inferimos do texto sagrado, era letrada,
culta e capaz de fazer exegeses de excelência na Lei de Moisés até então
lavrada.
Se os sacerdotes tinham a obrigação de
saber ler e escrever, o que não esperar do sumo sacerdote e de seus filhos?
Levemos em conta a cultura da família de Anrão e Joquebede; dela saíram três
grandes sábios: Miriã, Arão e Moisés.
Quando lemos o cântico de Miriã,
deparamo-nos com uma estrofe muito bem redigida: “Cantai ao SENHOR, porque
gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro” (Êx
15.21, ARA). O que evidenciam tais palavras? A expressão de alguém finamente
culto. Hoje, ela é louvada como profetisa e poetisa.
À semelhança da irmã, Moisés e Arão
possuíam admirável cultura. O primeiro fora instruído em toda a ciência do Egito
(At 7.22). Quanto ao segundo, já era uma lenda como orador; expressava-se
fluentemente (Êx 4.14).
Depreende-se, pois, que Nadabe e Abiú
eram também letrados e instruídos. Nos dias de hoje, estariam metidos nalguma
academia. Todavia, a ilustração meramente terrena é insuficiente para levar-nos
ao Deus Único e Verdadeiro: fonte de saber.
Como temos lidado com a nossa erudição? Antes
de tudo, compreendamos que erudição não é sinônimo de sabedoria. Há muitos
eruditos incapazes de diferençar a destra da sinistra. Já me defrontei com
acadêmicos que, conquanto cultíssimos, não possuíam a sabedoria mínima para
administrar o seu dia a dia. Por isso, ao orar pelos meus descendentes, rogo ao
Senhor que, antes da erudição, lhes dê a verdadeira sabedoria. Se nos for possível
reunir tanto esta quanto aquela, muito poderemos fazer pela Obra de Deus. O
apóstolo Paulo é um perfeito exemplo de sabedoria e erudição. Ele reunia as
condições necessárias para transitar desenvoltamente em três culturas
distintas: a hebreia, a helena e a latina.
Que Deus auxilie nossos acadêmicos a não
se perderem nos labirintos e escaninhos da cultura pós-moderna.
2.
Nadabe e Abiú eram teólogos. Na religião do Antigo Testamento,
os três ministros divinos, encarregados pela condução da comunidade de Israel,
eram, via de regra, bons teólogos: o profeta, o sacerdote e o rei. Porque
lidavam, diariamente, com as coisas de Deus. Até mesmo reis perversos, como
Jeroboão e Manassés, não ignoravam a intervenção de Jeová no cotidiano hebreu.
Sendo assim, vejamos Nadabe e Abiú, candidatos ao sumo sacerdócio, como
excelentes teólogos. E de fato o eram.
Quando o Senhor outorgou a Lei a
Israel, no Sinai, por intermédio de Moisés, ali estavam eles juntamente com os
mais destacados anciãos de Israel (Êx 24.1). E, lá, no monte sagrado,
presenciaram a manifestação da glória divina (Êx 24.9,10). Ocularmente,
testemunharam a aliança que o Senhor firmara com os filhos de Israel (Êx 24.8).
Apesar de sua juventude, Nadabe e Abiú tiveram o privilégio de ver o
estabelecimento do pacto entre Deus e o seu povo.
Tais experiências são suficientes
para fazer do obreiro um teólogo de verdade. Erradamente, consideramos a
academia superior ao nosso quarto de oração. Se ali desperdiçamos preciosas
semanas, meses e anos em discussões muitas vezes fúteis e tolas, aqui não
queremos dedicar uma hora sequer a falar com o Senhor.
A verdadeira teologia só é possível a
partir de encontros pessoais e experimentais com Deus. A academia ajuda, sim,
mas se estiver submissa à Bíblia Sagrada. Caso contrário, será uma tragédia
para o Reino de Deus.
3. Nadabe e Abiú conheciam
experimentalmente a Deus. Em termos experimentais, Nadabe e Abiú encontravam-se num patamar
superior ao de Jó, antes de o paciente homem de Uz ter sido esmagado por todas
aquelas provações. O patriarca mesmo confessa sua inexperiência: “Eu te
conhecia só
de ouvir,
mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5, ARA). Todavia, o que podemos dizer
de Nadabe e Abiú? Estiveram pessoalmente no monte sagrado, viram o resplendor
da glória divina e não ignoraram a presença do Senhor. Então, como explicar a
sua apostasia? Talvez essa pergunta deva ser endereçada ao querubim ungido que,
apesar de toda a sua teologia e experiência junto à presença divina, rebelou-se
contra o Todo-Poderoso.
Sejamos cuidadosos. Nossa salvação não
se encontra numa teologia bem estruturada, num ministério sólido e elogiável ou
em profundas experiências com o Senhor. Se não lhe formos obedientes, corremos
o risco de perder a alma. A situação de Nadabe, Abiú e de muitos crentes
rebeldes e apóstatas é descrita com fortes e decisivas cores pelo autor da
Epístola aos Hebreus:
Porque, se
vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário,
certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os
adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas
quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós
será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o
sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?
Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu
retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair
nas mãos do Deus vivo. (Hb 10.26-31, ARA)
Quem assim peca, não peca somente
contra o Pai nem apenas contra o Filho, mas contra o Espírito Santa peca.
Nessas condições, que esperança haverá para o pecador? Queridos obreiros,
teólogo também vai para o inferno. Jesus, tem misericórdia de nossas almas.
III. A INSOLÊNCIA DE NADABE E ABIÚ
Três
atitudes marcaram o ato leviano e inconsequente de Nadabe e Abíu: ignoraram a
Deus, impacientaram-se e, sem qualquer temor, apresentaram fogo estranho no
altar sagrado.
1.
Ignoraram a Deus. Ao adentrarem o lugar santo, Nadabe
e Abiú ignoraram a presença de Deus, pois o Senhor encontrava-se não somente no
Tabernáculo como em todo o arraial de Israel (Êx 25.8; Nm 14.14). O Deus
onipresente não se limita ao Santo dos santos, mas se deleita na companhia de
seus queridos e amados santos.
Na atitude inconsequência de Nadabe e
Abiú, vejo a profissionalização do ministério sagrado. No trato com as coisas
santas, enfadamo-nos. Consideramo-las profanas e comuns. E, assim, já não vemos
a primeira ordenança como o símbolo da morte e da ressurreição do Senhor, mas
como um trabalho enfadonho a ser feito. Quanto à segunda ordenança, o que
fazer? Se tiver de ser realizada, que o seja. Nesse descaso, já não
distinguimos nem o corpo, nem o sangue de Jesus.
Não agiam assim os sacerdotes no tempo
de Malaquias? Na liturgia diária, aborreciam-se. Eis como eles tratavam as
coisas de Deus: “Que canseira! E me desprezais, diz o SENHOR dos Exércitos; vós
ofereceis o dilacerado, e o coxo, e o enfermo; assim fazeis a oferta. Aceitaria
eu isso da vossa mão? — diz o SENHOR” (Ml 1.13, ARA).
Aos olhos de Nadabe e Abiú, o Tabernáculo nada
era. Então, que seja tido como um afazer qualquer; uma rotina profissional. Já
não sentiam comoção alguma entre aquelas colunas, estacas, cortinados e móveis.
Lidar com a Casa de Deus ocasionava-lhes enfado, estresse, canseira. Não
serviam ao Senhor com alegria.
2.
Impaciência profana. De acordo com as instruções que o
Senhor transmitira aos filhos de Israel, somente o sumo sacerdote estava
autorizado a oferecer o incenso no altar de ouro (Êx 30.7-9). Todavia,
observa-se que ambos, desafiando o Senhor, entraram no lugar sagrado como se
este não passasse de um mero feudo doméstico. As coisas de Deus não podem ser
tratadas como propriedade particular.
Nadabe e Abiú, além de impacientes,
revelaram-se profanos e blasfemos. Precipitaram-se na condenação do Diabo; não
souberam esperar a sua hora (1 Tm 3.6).
Que eles se achavam geneticamente
predestinados a assumir o sumo sacerdócio, todos o sabiam. Na falta de Arão,
ascenderia Nadabe. E se este viesse a falecer precocemente, Abiú seria
requisitado. Ambos, porém, devido ao seu descaso com a obra de Deus, não se
achavam dispostos a aguardar pela morte do pai? Então, por que não variar as
lides sacerdotais?
Eles estavam cientes de que apenas o
velho Arão estava autorizado a oferecer o incenso no altar de ouro, mas
ignoraram a regra sacerdotal. Julgavam-se acima das ordenanças e estatutos do
Senhor.
O pecado de ambos não pode ser visto
como algo acidental. Não foi um incidente isolado. Nesse gesto, temos a súmula
de pequenas e grandes transgressões. Todas estas, já bem racionalizadas,
redundaram em sua punição no limiar do lugar santíssimo. Façamos, pois, uma
pausa, e indaguemos de nós mesmos: “Como temos nos portado no ministério
sagrado?”. Enquanto respondemos a essa pergunta, lembremo-nos de que o Deus que
puniu Nadabe e Abiú não mudou; sua justiça continua inalterável.
3. Apresentaram fogo estranho ao
Senhor. Não bastava
ter o incenso prescrito pelo Senhor; era imperioso ter igualmente a brasa
certa, para que Deus fosse dignamente honrado (Êx 30.9; Lv 16.12). Se o incenso
era exclusivo, a brasa também o era (Êx 30.37). Mas, pelo contexto da narrativa
sagrada, Nadabe e Abiú não estavam preocupados nem com o incenso, nem com o
fogo. Por isso, o Senhor fulminou-os diante do altar. Sim, eles foram mortos
devido à sua insolência, blasfêmia e sacrilégio.
Qualquer sacerdote iniciante sabia que o
fogo do altar do incenso só poderia ser atiçado com as brasas do altar de
bronze. A simbologia era claríssima: antes da adoração, que a expiação fosse
observada. Não temos, aqui, nenhum enigma teológico. Um leitor da Bíblia,
razoavelmente atento, há de atinar com esse princípio soteriológico. Então, por
que ambos os filhos de Arão vieram a desprezar uma recomendação tão comezinha?
Não tinham eles teologia suficientes? Talvez nós também estejamos afrontando
algum princípio básico do ministério cristão; examinemos o nosso coração.
Senhor, ajuda-nos.
Que o incenso e o fogo de nossa
adoração sejam os prescritos pelos santos profetas e apóstolos do Senhor.
O que vemos, hoje, nas redes sociais é
um festival pirotécnico; fogo estranho aqui, e, ali, fogo estrangeiro. Não me
lembro de a Obra Pentecostal ter enfrentado tantas bizarrices como hoje. O
espetáculo é deprimente. Nessa postagem, imita-se o batismo com o Espírito
Santo. Naquela, arremedam-se os dons espirituais. Nesse frenesi, não aparece um
homem de Deus sequer para colocar ordem no arraial dos santos.
Como sobreviver nesse mundo estranho? É
chegada a hora de resgatar a Obra Pentecostal conforme no-la transmitiram os
pais-fundadores das Assembleias de Deus. Chega de fogo estranho no altar
sagrado. Busquemos o cristianismo bíblico, apostólico e autenticamente avivado
pelo Espírito Santo.
IV. O LUTO PROIBIDO
A morte de
Nadabe e Abiú abalou profundamente a casa de Arão. Apesar de haver perdido, num
único dia, dois de seus filhos, ele é proibido, pelo Senhor, de observar
qualquer luto; nem tristeza podia demonstrar. Se, por um lado, não havia motivo
para alegrias e folguedos; por outro, não havia espaço para lágrimas e
desesperações.
1.
A morte de Nadabe e Abiú. Ao se apresentarem com fogo
estranho diante do Senhor, os filhos de Arão, que também eram ministros do
altar, foram imediatamente fulminados no lugar sagrado (Lv 10.2). Pelo que
observamos do texto sagrado, Deus os matou, porque eles não consideraram as
demandas da santidade divina (Lv 10.3). A obrigação de Nadabe e Abiú era
glorificar o nome do Senhor, mas preferiram buscar a própria glória. Diante do
fato, o sumo sacerdote de Israel calou-se. Não poderia haver momento mais
trágico para a sua família.
No ministério sagrado, trabalhamos
entre a glória divina e a glória humana. Se não formos vigilantes,
esquecer-nos-emos de nossas obrigações como servo, e arvorar-nos-emos como
senhores. A partir daí, ignoraremos os princípios mais elementares do serviço
cristão; agiremos como se tudo fosse permitido. Nessa trilha de iniquidade,
porfiaremos até que o Senhor nos fulmine no lugar sagrado.
2.
A remoção dos cadáveres. Moisés, então, ordena a dois primos
de Arão, Misael e Elzafã, a removerem os cadáveres da casa de Deus (Lv 10.4).
Como precisamos de pessoas santas e corajosas que nos removam os cadáveres que
jazem entre os santos. No episódio de Ananias e Safira, os corpos de ambos
foram levados para fora por alguns jovens da igreja recém-inaugurada pelo
Espírito Santo (At 5.1-11).
Em algumas igrejas, temos a impressão de estar
em Sardes. A essa congregação, que se batia entre a vida e a morte, o Senhor
enviou esta seriíssima advertência: “Estas cousas diz aquele que tem os sete
espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de
que vives e estás morto” (Ap 3.1, ARA). Por intermédio dessa pequenina
epístola, é possível ver, naquele redil, os cadáveres se acumularem; defuntos
aqui; ali, moribundos. Alguns poderiam ser salvos; outros já estavam em óbito.
Por isso, o Senhor Jesus recomenda àquele pastor, ele mesmo um morto-vivo, a
socorrer os que já exalavam o último suspiro:
Sê vigilante e
consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as
tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e
ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão,
e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti. (Ap 3.2,3, ARA)
O que fazer,
porém, quando os cadáveres acumulam-se no ministério sagrado? Senhor, socorre
os teus obreiros. Precisamos de ti. Não nos deixes morrer. Aviva-nos.
3.
O luto é proibido. Apesar da tragédia que se abateu
sobre a sua família, Arão deveria suportar com discrição aquela hora tão
difícil (Lv 10.6,7). Afinal, era seu dever zelar pela santidade e pela glória
do nome do Senhor dos Exércitos. Ele estava ciente de que a alma que pecar essa
morrerá (Ez 18.4,20).
Certos tipos de luto servem apenas para
enfraquecer o povo de Deus e leválo à dispersão (2 Sm 19.1-7). Às vezes, temos
de suportar o insuportável, a fim de preservar a Igreja de Cristo. Ela está
acima de nossa dor.
Não é fácil deparar-se com uma
experiência terminal. Se acompanhar o cortejo de um estranho leva-nos,
ocasionalmente, a uma lágrima furtiva, o que não ocorre quando nos deparamos
com o desaparecimento, precoce e repentino, de um ente querido? Em ocasiões
normais, é-nos permitido chorar e até gritar. Ao sumo sacerdote Arão, todavia,
foi vedado tanto o choro quanto o grito. Que o luto havia se instalado em sua
casa, ninguém o podia negar; estampava-se em toda a família. Mas, por ser ele o
intercessor-mor de Israel, teria de arcar, silentemente, com todo aquele peso.
Às
vezes, temos de suportar o insuportável, a fim de preservar a Igreja de Cristo.
Ela está acima de nossa dor.
CONCLUSÃO
Até quando
apresentaremos fogo estranho ao Senhor? Chega de liturgias bizarras, cultos
mundanos, teologias permissivas e costumes que ferem a Palavra de Deus. Se não
atentarmos à santidade e à glória divina, não subsistiremos. Deus, embora seja
conhecido pelo amor, é também um fogo devorador (Is 30.27). Portanto, sejamos
puros e santos em toda a nossa maneira de ser: o Senhor não se deixa
escarnecer.
Ao invés de fogo estranho, busquemos o
verdadeiro avivamento espiritual. E, dessa forma, ousemos proclamar com toda a
ousadia:
“Jesus
Cristo salva, batiza com o Espírito Santo, cura as enfermidades, opera sinais e
maravilhas e, em breve, haverá de arrebatar-nos às regiões celestiais”.
Misericórdia, Jesus. Amém.
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